casamento, divorcio e novo casamento em egw-elbio pereyra

17
83 RESUMO: A discussão entre adventistas quanto ao divórcio e novas núpcias remonta ao início da história da IASD, por ocasião da organização de sua primeira associação. No entanto, uma posição da instituição sobre o assunto só definiu-se em tempos mais recen- tes. Diante disso, vê-se como pertinente uma compreensão da postura da IASD sobre a questão em suas primeiras décadas, por meio do posicionamento de Ellen G. White expresso em seus escritos. Este artigo discorre sobre a posição de Ellen G. White a respeito de casa- mento, divórcio e novo casamento. Descreve sucintamente sua visão sobre a natureza e pre- paro para o matrimônio e procura sistematizar os conselhos dados por ela às famílias que se depararam com essas situações. ABSTRACT: The discussion regarding to divorce and remarriage among Seventh-day Adventists Christians can be traced back to the historical beginnings of the denomina- tion, in fact, by the time of the organization of its first Conference. However, the official position of the SDA Church about the topic was taken only in relatively recent times. It is considered important to understand the position of the Adventist Church in the first decades of its existence, through the position expressed in the writings of Ellen G. White, one of the leading pioneers of the movement. This article describes the un- derstanding of Mrs. White about marriage, divorce and remarriage. It summarizes also her vision on the nature and preparation for marriage and provides her counsels to families facing those situations. INTRODUÇÃO De acordo com o relato bíblico foi o próprio Criador que formou Eva e então a conduziu a Adão para ser sua mulher. Ellen G. White declara que, no desígnio de Deus, o casamento é “uma das maiores bênçãos para a família humana” (Ms 16, 1899). O matrimônio proveria as necessidades sociais do homem, preservaria a pureza da raça e elevaria a natureza física, mental e moral, trazendo felicidade e contentamento (PP, 46). Cristo sancionou o casamento ao realizar seu primeiro milagre em uma festa de bodas e Ele ainda se rejubila com aqueles que se alegram em uma festividade nupcial (LA, 100). Ele se deleita com “casamentos felizes, felizes lares” (99). “O Céu contempla com prazer um casamento formado com um sincero desejo de seguir a direção dada nas Escrituras” (Carta 17, 1896). Os conselhos de Ellen G. White incluem muitas condições que, se forem seguidas, resultarão em casamentos felizes. Uma delas é: Cristo deve ser o centro tanto na vida do marido como na vida da mulher (CBV, 358). Ellen White escreveu para a irmã L: Que a mulher se entregue a Cristo antes de se entregar a qualquer amigo terreno, e não assuma nenhuma relação que entre em atrito com isto. [...] Minha irmã, a menos que desejes ter um lar de onde nunca se levantem as sombras, não CASAMENTO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO NOS ESCRITOS DE ELLEN G. WHITE ELBIO PEREYRA, DOUTOR EM TEOLOGIA Pastor jubilado, reside em Bella Vista, Corrientes, Argentina Tradução: Sonia Maria M. Gazeta

Upload: shoro1

Post on 09-Nov-2015

24 views

Category:

Documents


11 download

DESCRIPTION

Estudo sobre os temas de divorcio e novo casamento nos escritos de Ellen White

TRANSCRIPT

  • 83

    Resumo: A discusso entre adventistas quanto ao divrcio e novas npcias remonta ao incio da histria da IASD, por ocasio da organizao de sua primeira associao. No entanto, uma posio da instituio sobre o assunto s definiu-se em tempos mais recen-tes. Diante disso, v-se como pertinente uma compreenso da postura da IASD sobre a questo em suas primeiras dcadas, por meio do posicionamento de Ellen G. White expresso em seus escritos. Este artigo discorre sobre a posio de Ellen G. White a respeito de casa-mento, divrcio e novo casamento. Descreve sucintamente sua viso sobre a natureza e pre-paro para o matrimnio e procura sistematizar os conselhos dados por ela s famlias que se depararam com essas situaes.

    AbstRAct: The discussion regarding to divorce and remarriage among Seventh-day Adventists Christians can be traced back to the historical beginnings of the denomina-tion, in fact, by the time of the organization of its first Conference. However, the official position of the SDA Church about the topic was taken only in relatively recent times. It is considered important to understand the position of the Adventist Church in the first decades of its existence, through the position expressed in the writings of Ellen G. White, one of the leading pioneers of the movement. This article describes the un-derstanding of Mrs. White about marriage, divorce and remarriage. It summarizes also her vision on the nature and preparation for marriage and provides her counsels to families facing those situations.

    IntRoduo

    De acordo com o relato bblico foi o prprio Criador que formou Eva e ento a conduziu a Ado para ser sua mulher. Ellen G. White declara que, no desgnio de Deus, o casamento uma das maiores bnos para a famlia humana (Ms 16, 1899). O matrimnio proveria as necessidades sociais do homem, preservaria a pureza da raa e elevaria a natureza fsica, mental e moral, trazendo felicidade e contentamento (PP, 46).

    Cristo sancionou o casamento ao realizar seu primeiro milagre em uma festa de bodas e Ele ainda se rejubila com aqueles que se alegram em uma festividade nupcial (LA, 100). Ele se deleita com casamentos felizes, felizes lares (99). O Cu contempla com prazer um casamento formado com um sincero desejo de seguir a direo dada nas Escrituras (Carta 17, 1896).

    Os conselhos de Ellen G. White incluem muitas condies que, se forem seguidas, resultaro em casamentos felizes. Uma delas : Cristo deve ser o centro tanto na vida do marido como na vida da mulher (CBV, 358).

    Ellen White escreveu para a irm L:

    Que a mulher se entregue a Cristo antes de se entregar a qualquer amigo terreno, e no assuma nenhuma relao que entre em atrito com isto. [...] Minha irm, a menos que desejes ter um lar de onde nunca se levantem as sombras, no

    cAsAmento, dIvRcIo e novo cAsAmento nos escRItos de ellen G. WhIte

    elbIo PeReyRA, doutoR em teoloGIAPastor jubilado, reside em Bella Vista, Corrientes, ArgentinaTraduo: Sonia Maria M. Gazeta

  • 84 / Parousia - 2 semestre de 2007

    te unas com um homem que inimigo de Deus (TS, vol. 2, 120).

    Ela ainda argumenta que seria melhor permanecer solteiro do que se unir a uma pessoa mundana (LA, 68). Os adventistas deveriam se casar com adventistas, e no simplesmente com crentes em Cristo. Ellen G. White escreveu posteriormente a irm L: Mesmo que o companheiro de tua escolha fosse em todos os outros respeitos digno (o que, porm, ele no ), no entanto ele no aceitou a verdade para este tempo; um descrente, e s pelo Cu proibida de unir-te a ele (TS, vol. 2, 121, grifo meu).

    Ambos, noivo e noiva, deveriam ser adultos e maduros o suficiente para pesar cuidadosamente todas as suas chances para a felicidade. Casamentos precoces no devem ser encorajados (LA, 79). Um jovem adolescente no possui critrio para julgar a convenincia de ter como companheiro para a vida outro jovem to imaturo como ele mesmo (Ibidem). Os casamentos precipitados devem ser evitados, pois freqentemente levam separao, ao divrcio e confuso na igreja (MJ, 458).

    Os atributos pessoais do esposo e da esposa devem ser compatveis, escolhei vossa esposa de uma classe que esteja mais de acordo com a vossa, Ellen G. White escreveu para um homem que estava planejando se casar. Ele era rude e a mulher delicada e refinada; nela as qualidades intelectuais predominavam (Carta 21, 1860).

    As caractersticas raciais devem tambm ser semelhantes. Ellen G. White no afirma que uma raa superior a outra. Todos os homens, ela diz, brancos e negros, so iguais (ME, vol. 2, 341 e 342). Seu conselho, contra casamentos inter-raciais baseado primeiramente nos problemas e conseqncias que deles resultam. Os filhos se amarguram pelos seus pais, cria-se controvrsia e a obra de Deus se retrai ao invs de avanar. Em virtude dessas consideraes prticas, no

    se devem encorajar tais unies. O conselho inequvoco oferecido: Esse passo no deve ser dado.

    A mulher deve saber como educar seus filhos nos aspectos prticos da vida, tais como os cuidados do lar, com os doentes, alm de princpios de higiene, etc. (CBV, 302; LA, 90 e FEC, 75).

    Marido e mulher devem manter sua prpria individualidade (CBV, 361). A esposa no deve subjugar sua prpria identidade e se tornar, simplesmente, uma mquina dirigida pela vontade de seu cnjuge (Carta 25, 1885).

    J quanto a poligamia, embora praticada nos tempos do Antigo Testamento, nunca foi uma opo legtima para os seguidores de Deus, em qualquer pas ou poca. Deus no sancionou a poligamia em um nico caso (SG, vol. 3, 100).

    Por fim, ambos, marido e mulher, devem reconhecer os privilgios do relacionamento conjugal que inclui o amor sexual praticado sem excesso (LA, 121-128).

    dIvRcIo

    um antigo Problema da igreja

    Como devemos tratar casamentos divorciados? Este era o primeiro item da agenda da delegao, de nove ministros adventistas do stimo dia, que se encontrou em Monterey, Michigan, de 4 a 6 de outubro de 1862, para a organizao da primeira associao da Igreja Adventista do Stimo Dia (IASD), naquele estado. O problema que estava afetando alguns irmos em Illinois e Wisconsin foi apresentado pelo irmo Sanborn. Quando Tiago White solicitou uma explicao para a expresso casamentos divorciados, Sanborn disse que se referia s pessoas divorciadas que se casaram novamente, sem as bases para a separao, mencionadas em Mateus 19. A pergunta

  • Casamento, divrCio e novo Casamento nos esCritos de ellen g. White/ 85

    dele era: esses indivduos poderiam ser aceitos como membros da igreja?1

    Deste modo, casamento, divrcio e novo casamento so problemas muito antigos na IASD, como a organizao de sua primeira sede administrativa, a Associao de Michigan. O problema continua a ser um tema em discusso, demandando ateno de comisses de igrejas locais e comits especiais representados por associaes e unies.

    a viso doCumentada da igreja sobre o Problema

    Nesse breve documento no possvel considerar a atmosfera social semipuritana que caracterizava os dias de Ellen G. White, nem mesmo comentar suas atitudes crists gerais em relao ao divrcio e novo casamento. Estamos lidando simplesmente com Ellen White e seus escritos. Para tanto, a posio de um documento geral da IASD atravs desses anos se mostra de grande utilidade.

    A Review and Herald publicou, de 1862 a 1900, 15 artigos, comentrios, respostas a perguntas e rplicas de leitores a respeito do assunto do divrcio e novo casamento. A posio adotada pela revista foi consistente no decorrer desses anos. Adultrio era a nica razo para o divrcio, e novo casamento s seria admissvel apenas para a parte inocente.

    A opinio do peridico aparece bem definida, todavia, um tanto rgida. Se isto representa a posio oficial da IASD, no podemos afirmar. Pelo menos, representa o ponto de vista de Uriah Smith, quando foi redator da revista. Duas notas publicadas por ele em 1887 (11 de janeiro e 8 de fevereiro) so de particular interesse. A primeira, mostra um caso especfico de um novo casamento, que no foi por razo de adultrio. A segunda, trata de outros casos citados por leitores e suas respostas, bem como a posio do redator.

    A posio de Ellen G. White parece ser menos rgida, pelo menos quando trata de

    alguns casos especficos, em particular, por meio de sua correspondncia. Esse material ser mostrado posteriormente nesse estudo. Tais casos representam excees e no a regra, mas isso tambm evidenciado na Bblia algumas vezes.

    a niCa razo Para a dissoluo do voto Conjugal: adultrio

    O casamento deve ser cuidadosamente considerado, pois um passo tomado para a vida toda (LA, 34). uma instituio sagrada (Nos Lugares Celestiais, MM, 202) semelhante unio de Cristo e sua igreja (TS, vol. 7, 46).

    Nos tempos de Jesus, os judeus repudiavam as mulheres pelas ofensas mais triviais (MDC, 63), porm, Cristo rejeitou aquela prtica. O padro moral no deveria se basear em legislaes ou inclinaes humanas, mas na lei de Deus, na elevada norma moral de justia divina (LA, 342). Se a esposa incrdula e opositora, o marido no pode, em face da lei de Deus, abandon-la s por isto (Ibid, 344). Nem os cnjuges podem se separar por incompatibilidade de gnios; mas sim, devem procurar mudar a prpria disposio (Carta 168, 1901).

    No se deve considerar a falta de amor como uma razo suficiente para o divrcio aps o voto solene feito, na presena de Deus e dos santos anjos, ainda que por um cnjuge imperfeito. Quando conduzirdes mais a vontade em vosso auxlio e conscienciosamente andardes no temor do Senhor, ento o amor que agora supondes estar morto ressuscitar. [...] A fonte do amor aumentar dia a dia e toda a amargura e decepes sero excludas a seu tempo (Carta 57, 1888).

    Quanto a essa questo ainda, Ellen G. White comenta: Digo-vos que no podeis quebrar vosso voto conjugal e permanecerdes sem culpa diante de Deus. [...] Apegai-vos a vossos votos conjugais

  • 86 / Parousia - 2 semestre de 2007

    porque sois reta de corao e sentireis arrependimento quando fordes vestida com as vestes da justia de Cristo (Ibidem).

    Em contraste s ofensas triviais, Ellen G. White deu a nica razo para o divrcio: Nada seno a violao do leito conjugal pode quebrar ou anular o voto conjugal (LA, 341). S h uma razo pela qual o marido pode legitimamente separar-se de sua esposa ou a esposa de seu marido: o adultrio (Ibid, 345).

    Ela salientou que Jesus aprovou a dissoluo do casamento apenas em caso de adultrio (Ibid., 340). Em seu Sermo do Monte, Cristo declarou plenamente que havia uma nica razo para o fim do casamento: infidelidade ao voto conjugal (MDC, 63). Em resumo, Ellen G. White declarou que Jesus permite um novo casamento apenas quando o direito ao divrcio existe.

    A um certo mdico casado com uma incrdula, o qual possua algumas idias errneas a respeito do casamento e queria repudiar sua mulher, ela disse: Deus reconhece apenas um motivo para o divrcio: o adultrio. Ela convidou esse obreiro a trazer sua esposa de volta ao seu lado, quando j haviam se separado (Ibid, 342-343).

    O divrcio uma eterna e sincera mgoa. O casamento deveria ser muito bem considerado antes de ser contrado, escreveram Tiago e Ellen G. White em 1868, referindo-se a uma mulher que tinha que viver com um adltero (RH, 24/03/1868, 236). Ela ainda acrescenta que os casados deveriam possuir a tmpera do ao em relao a seus votos conjugais (Carta 321, 1903).

    Em 1863, Ellen G. White escreveu:

    Uma mulher pode estar legalmente divorciada do marido pelas leis do pas, mas no divorciada vista de Deus e de acordo com a lei mais alta. [...] Embora as leis do pas possam permitir o divrcio luz da Bblia, continuam como marido e esposa, segundo as leis de Deus.

    E acrescentou: Vi que a irm A, por ora, no tem direito de desposar outro homem; mas se ela, ou qualquer outra mulher, obtiver um divrcio legal na base de adultrio por parte do marido, ento est livre para casar com quem quiser (LA, 344).

    Em 1888, ao lidar com uma situao muito delicada envolvendo dois colportores, ela registrou o seguinte em seu dirio: Tive uma longa conversa com a irm B mostrando-lhe que o voto conjugal um vnculo e que nenhuma das partes pode abdicar de seus direitos, salvo em caso de adultrio, a violao do leito conjugal (Ms 22, 1888).

    novo cAsAmento

    trs Casos de novo Casamento

    Em seus escritos, Ellen G. White apresenta, pelo menos, trs situaes envolvendo novo casamento: aps a morte do cnjuge, aps o divrcio baseado em adultrio e aps divrcio permitido por outras causas que no o adultrio. O problema da separao tambm merece uma considerao aqui.

    (1) novo Casamento aPs a morte de um Cnjuge

    (A) CAsAmento de um vivo

    Em 1890, um vivo idoso escreveu a Ellen White solicitando orientao em relao a um novo casamento. Ela respondeu-lhe:

    Eu sei, conforme dizeis, que deveis ser muito s em vossa idade e no vejo objeo se h algum a quem possais amar e retribuir vosso amor. Porm, como no conheo a senhora que tendes em mente, no posso aconselhar como algum que conhece ambas as partes (Carta 70, 1898).

  • Casamento, divrCio e novo Casamento nos esCritos de ellen g. White/ 87

    O segundo casamento do irmo Haskell tambm outro que pode ser citado. A esposa dele faleceu em 1894. Trs anos depois, aos 64 anos de idade, ele se casou novamente. Ellen G. White escreveu ao casal: Alegramo-nos ao ouvir de vs que vossos interesses esto unidos como se fossem um. Que o Senhor abene essa unio. [...] Estou feliz, irmo Haskell, porque tendes uma ajudadora. Isto o que tenho desejado por algum tempo (Carta 74a, 1897).

    (B) o segundo CAsAmento do irmo Butler

    A primeira esposa do irmo G. I. Butler morreu aps 42 anos de unio conjugal. Quando ele tinha 68 anos, teve oportunidade de se casar com uma mulher de 35 anos em cuja converso verdade ele fra um instrumento (Carta 117, cc 1902). Porm, ele encontrou forte oposio por parte da irm e cunhado da mulher. O prprio filho de Butler se ops tambm ao plano. Ellen G. White enviou trs cartas aos familiares endereadas a irm e ao cunhado da mulher e uma ao filho de Butler, desaprovando tal oposio (Cartas 77, 78, 117 e 118, 1902).

    Ela assim os aconselhou:

    Eu vos suplico que no repreendais vosso pai. No deveis sentir o que sentis, pois vosso pai no est fazendo nada que Deus condena. A condenao existe apenas na mente dos homens. Em nada ele tem desonrado seus filhos e tem se mantido no caminho do Senhor. [...] Esta mulher jovem, mas est em uma idade em que pode ajud-lo em seu trabalho. A idade de vosso pai no deve ser uma barreira para sua felicidade? (Carta 117, 1902).2

    Ademais, quando ele completou 73 anos de idade tornou a se casar com outra mulher. Ellen G. White se sentiu feliz por eles. (Carta 390, 1907).

    (C) Conselho A um vivo

    Aps a morte de sua esposa, J. N. Andrews decidiu permanecer vivo, uma

    posio que Ellen G. White no apoiou. Ela julgava que um novo casamento traria equilbrio sua vida.

    Ela expressou:

    Tendes tido idias errneas em relao a vos manterdes vivo, porm nada mais falarei sobre este assunto. A influncia de uma nobre mulher crist de habilidades distintas serviria para neutralizar as tendncias de vossa mente. A habilidade de concentrao, a intensa luz com que considerais todas as coisas de carter religioso ligadas a causa e obra de Deus tm trazido depresso em vosso esprito, um peso de ansiedade que vos tem enfraquecido fsica e mentalmente. Se estivsseis ligado a algum com sentimentos opostos, tereis fora para descartar pensamentos melanclicos. A individualidade dela no seria subjugada, mas sua identidade preservada e sua influncia seria modeladora sobre vossa mente. Se assim fosse, hoje tereis fora fsica e poder para resistir a doena.

    Em outro momento ela tambm disse:

    Eu vos aconselhei a casardes antes de retornardes a ltima vez Europa por estas razes. Primeiro, precisveis de uma esposa para cuidar de vs e no deveis ter levado vossa famlia Europa sem uma boa companhia para ser uma me para vossos filhos. [...] Precisais de outro elemento em vossos labores que no possus e que no compreendeis ser realmente essencial (Carta 9, 1883).

    (2) novo Casamento de uma Parte inoCente

    Segundo Ellen G. White, a parte injuriada tem trs possibilidades em face de um divrcio: (A) Permanecer com a parte culpada. O inocente no se torna culpado por manter o casamento com o cnjuge infrator (LA, 346); (B) Novo casamento. Um segundo matrimnio justificvel para a parte inocente,3 em um divrcio permitido por adultrio (ME, vol. 2, 339-349) e; (C) Permanecer s. Em

  • 88 / Parousia - 2 semestre de 2007

    resposta a um colportor que foi abandonado pela esposa por outros motivos que no o adultrio, Ellen G. White escreveu:

    No vejo que mais se pode fazer neste caso, e penso que a nica coisa que podeis fazer abandonar vossa esposa. Se ela est assim determinada a no viver em vossa companhia, sereis ambos muito infelizes se o tentardes. Visto que ela inteira e determinadamente escolheu sua sorte, a nica coisa que podeis fazer tomar vossa cruz e proceder como homem. [...] Vs me perguntastes se podereis casar outra vez visto que vossa esposa vos deixou. Eu diria que se algum compreendesse todas as circunstncias, poderia escolher casar-se convosco. Se no tivsseis sido casado, no veria objees. [...] Espero que procedais como homem. Ponde de lado este assunto, voltai ao trabalho, cumpri vossos deveres independente de qualquer pessoa na Terra, abnegando-vos, sacrificando-vos, esquecendo-vos. [...] Entregai vosso caso a Deus. [...] No deixeis que o desapontamento vos arrune. Expulsai a melancolia. [...] Desviai-vos das coisas terrenas, dolos terrenos, e louvai o Senhor Deus, servindo-o de todo o vosso corao e toda a vossa alma, ento consagrar-vos-ei totalmente ao Senhor (Carta 40, 1888 e LA, 344).

    Aps certo tempo, a mulher se divorciou e se casou novamente, e o colportor fez o mesmo. Sua nova sogra escreveu a Ellen G. White pedindo-lhe que ela intervisse para separ-los, pois o homem havia se mutilado. Ela recebeu essa resposta:

    J no repudiou sua esposa. Ela o deixou e casou-se com outro homem. Nada vejo nas Escrituras que o proba de casar-se no Senhor. Ele tem direito ao afeto de uma mulher. [...] No vejo porque essa nova unio deve ser perturbada. [...] Nada vejo na Palavra de Deus que poderia exigir a separao de ambos. Como pedistes meu conselho, dou-o francamente (ME, vol. 2, 339 e 340).4

    Referindo-se a um membro de igreja cujo marido quebrou o voto conjugal por adultrio, Ellen G. White disse que aps o

    divrcio por motivo de adultrio, ela ou outra mulher nas mesmas circunstncias poderia casar-se outra vez (344).

    (3) novo Casamento aPs o divrCio Por outra Causa que no o adultrio

    Uma das secretrias da senhora White se apaixonou por um homem, que um ano ou dois antes havia abandonado sua esposa e filhos. Deixando-os com seu sogro, viajou para outro continente. A esposa dele buscou o divrcio por motivo de abandono. Antes que o divrcio fosse concedido, esse homem comeou a cortejar a secretria. A senhora White insistiu em que nenhum dos dois tinha o direito de se casar. O homem ainda estava legalmente Iigado a sua esposa, e a secretria no tinha o direito de se casar com ele, mesmo aps a concesso do divrcio (ME, vol. 2, 340 e 341). Ela escreveu: Quero que ambos compreendam mediante a luz que Deus deu considerando o passado e o presente, no poderia pensar em empregar a ambos se derdes este passo (Carta 14, 1895).

    Escrevendo ao homem, ela disse que ele estava tentando sacrificar a verdade para obter uma esposa, obter uma esposa por deslealdade a Deus. E ainda acrescentou: Aquele que no sincero para com Deus no pode ser sincero para com sua esposa (Carta 17, 1896). Em outra ocasio, ela disse: Haveis, ambos, violado a lei s com o pensar que vs podeis unir em matrimnio. Deveis haver repelido o pensamento sua primeira sugesto (Carta 14, 1893). Deste modo, fica claro que Ellen G. White via o adultrio como a nica base para o divrcio e novo casamento, para a parte inocente, enquanto o cnjuge ainda vive.

    Entretanto, h casos em que ela faz uma exceo a essa posio, conforme os exemplos que se seguem:

  • Casamento, divrCio e novo Casamento nos esCritos de ellen g. White/ 89

    (A) Professor g

    O irmo G foi um educador, administrador, diretor de colgio e secretrio da Associao Geral. Aps aproximadamente 12 anos de vida conjugal, ele no ofereceu resistncia quando sua esposa obteve divrcio devido a problemas de personalidade (Carta 12, 1884).5 Em 1887, ele se casou outra vez, resultando em sua renncia como obreiro.

    Em 1892, cinco anos mais tarde, Ellen G. White, escrevendo para um lder, mencionou que estava procura de um professor de gramtica para turmas avanadas na Austrlia. Eis o que ela disse:

    Se to somente G tivesse se mantido em retido, no haveria outra opo melhor do que ele para vir. Mas o problema se o seu passado no ir segui-lo. Mal ousamos nos aventurar e correr o risco. No tenho dvidas de que ele se arrependeu sinceramente e creio que o Senhor o perdoou (Carta 13, 1892).

    Em outra citao, ela parece, claramente, buscar a melhor soluo para o caso:

    Ento, o que podemos fazer com G? Deix-lo onde est, presa do remorso e ser intil o resto de sua vida? No consigo ver o que pode ser. Oh, quem nos dera ter sabedoria do alto! Oh, se tivssemos o conselho dAquele que l o corao como um livro aberto! (Ibidem).

    Quase dois anos mais tarde, Ellen White enviou uma carta ao professor G, convidando-o a vender tudo o que possua e ir a Austrlia. A carta Ihe causou uma alegre surpresa. Abaixo, um trecho da correspondncia:

    Querido irmo G: Minha mente tem se detido em vossa pessoa repetidas vezes. Senti-me na liberdade de exercer meu prprio julgamento. Eu vos aconselhei h muito tempo atrs a mudardes de cidade. Tive esperana de que meus irmos pudessem ter

    sabedoria do alto para aconselhar-vos a no permanecerdes onde estais hoje. Se tendes algo a fazer, fazei-o depressa. Se estivsseis neste pas, creio plenamente que vereis portas se abrindo onde podereis trabalhar para ser um portador de luz queles que esto nas trevas do erro.

    Como seria se visseis para este pas? Como Abrao, no sabendo para onde ia e buscando humildemente orientao. Eu vos peo que mudeis. Vinde para a Austrlia enquanto estivermos aqui. Vinde sob nossa prpria responsabilidade. Tereis recursos para a mudana se venderdes vossa fazenda. Ento creio que o caminho se abrir para trabalhardes e que o Senhor possa dirigir-vos o meu sincero desejo e sincera orao.

    H abundncia de trabalho para fazerdes na grande colheita. Aqui h campos totalmente maduros para a seara; o trabalho est prestes a ser iniciado em Sidney, cuja populao cerca de um milho de habitantes; em Melbourne o nmero ainda maior. Em Queensland o trabalho precisa comear. H 30 guardadores do sbado em uma localidade em Queensland que nunca viram ou ouviram um pregador e outros esto espalhados por toda a regio, aguardando pela mensagem da verdade.

    Por favor, considerai este assunto e escrevei-nos a respeito de vossa idia. Quais so vossos recursos? O que estais pensando em fazer? Como esto vossas finanas? Como o Senhor est dirigindo vossa mente? Por favor, considerai o assunto, e que o Senhor vos d sabedoria para mover algum mais imediatamente. Com muito amor (Carta 7, 1894).

    O professor G se sentiu muito feliz pela confiana depositada nele, mas argumentou que lhe era impossvel vender a fazenda, algo que ele estava tentando fazer por dois anos. Aqui esto alguns trechos de sua resposta:

    Temos pensado demasiadamente em vs, suponho que do mesmo modo que os filhos

  • 90 / Parousia - 2 semestre de 2007

    desobedientes pensam em suas queridas mes que magoaram e decepcionaram. [...] Parece que Satans me amarrou mos e ps quase literalmente. [...] vossos filhos errantes, mas arrependidos.6

    De Michigan, ele se mudou para os estados sulinos, onde em 1909 estabeleceu uma escola normal e agrcola autnoma. Ellen G. White e seu filho William o ajudaram em seus empreendimentos, com cartas encorajadoras e apoio financeiro.7 H pelo menos 14 cartas escritas por William C. White ao professor G em 1911, e dez dele para William, alm de uma endereada diretamente a Ellen G. White solicitando um conselho particular. H, ainda quatro cartas de Ellen G. White para o professor G.

    Pode-se ver o apoio de Ellen G. White a ele na seguinte declarao:

    Sinto-me mais do que satisfeita pelo fato de que podeis vos engajar no trabalho educacional e unir vossa influncia de outros obreiros, abrindo as Escrituras queles que no compreendem a Palavra de Deus (Carta 56, 1910).8

    Quando analisamos a atitude de Ellen G. White em relao ao caso do professor G, podemos fazer algumas consideraes. A primeira, que a utilidade de um indivduo na causa de Deus no necessariamente destruda para sempre por seus erros passados, mesmo em caso de adultrio, caso verdadeiro arrependimento seja manifestado. Em segundo lugar, em alguns casos bblicos (Davi, a mulher flagrada em adultrio, a samaritana junto ao poo, e o membro que cometeu incesto na igreja de Corinto) a aplicao da lei parece ser menos rgida, mais paciente e compassiva do que a letra da lei parece exigir. O mesmo pode ser dito de Ellen G. White ao lidar com o professor G.

    (B) A histriA de W

    O caso de W no causou perplexidade apenas para a igreja, mas tambm para

    Ellen G. White, que escreveu: O caso do irmo W tem-me atribulado (Carta 41,1902). Aps apresentar um resumo do problema, consideraremos o conselho de Ellen G. White para esse caso. No entanto, conveniente lembrar a assertiva de W. C. White em casos semelhantes: No era inteno da irm White que sasse algo de sua pena que pudesse ser utilizado como lei ou regra ao lidar com estas questes de casamento, divrcio, novo casamento e adultrio.9

    O irmo W recebeu credencial de ministro durante 1890 e 1891. Em 1892, aos 29 anos, casou-se com sua primeira mulher e trabalhou em Michigan, Illinois e Indiana, alm de construir as igrejas de Alabama, Birmingham e Tennessee. Depois de muitos conflitos com sua esposa, ela o abandonou. Enquanto colportava, muito provavelmente aps sua separao, W teve um caso com uma de suas conversas e com ela teve uma filha. Suas credenciais foram retiradas. A esposa obteve o divrcio e casou-se outra vez. Depois disso, W casou-se com a segunda esposa com quem mantivera relaes ilcitas por algum tempo (DF, 294).

    A essa altura, o pai e um irmo de W comearam a criar srios problemas para ele. Ambos o criticavam severamente por viver com outra mulher e queriam que ele voltasse para sua primeira esposa (Ibidem). Em uma carta a sua me, Edson White perguntou: Ele poderia resolver os problemas, repudiando esta moa cuja vida foi arruinada por ele? (Ibidem). Em resposta ao filho, Ellen G. White escreveu:

    Eu considero o problema do mesmo modo que voc. No seria o melhor voltar para a outra mulher. [...] Deixe W com o Senhor. [...] Deus compreende a situao e se W busc-lo de todo o seu corao ele o encontrar. [...] Deus o perdoar e o receber. [...] W pode esperar em Deus e fazer o melhor que pode para servi-Lo em humildade. Compreendo perfeitamente a situao entre W e sua primeira esposa e eu sabia que o caso terminaria em

  • Casamento, divrCio e novo Casamento nos esCritos de ellen g. White/ 91

    separao pois W no pode suportar viver como escravo e ter sua identidade perdida em uma esposa que se tornou sua juza e conscincia, em seus deveres e em seu trabalho de modo geral (Carta 175,1901).

    Depois de algum tempo, ele retornou ao trabalho da colportagem encorajado pelos irmos Palmer e Edson White e foi enviado as ndias Ocidentais, onde realizou excelente trabalho. Retornou a Memphis, aps algum tempo, onde trabalhou com os negros, auxiliando no trabalho da colportagem e no treinamento de obreiros durante os anos de 1902 e 1903. Ele obteve credencial contra a vontade de G. I. Butler, ento presidente da Unio Associao do Sul. Devido a insistncia de alguns amigos, o irmo Butler, relutante, finalmente participou da ordenao de W.10 Em Memphis, W fez um excelente trabalho e trabalhou arduamente, de acordo com Edson White, em favor dos adventistas do stimo dia negros. Ellen G. White tambm avaliou positivamente o trabalho dele:

    No vejo razo por que no devemos encorajar W a ser um obreiro na vinha do Senhor.11 A purificao da alma do pecado inclui os dons de perdo, justificao e santificao. E a purificao interior do corao evidenciada pela purificao exterior da vida. A misericrdia de Deus para com aqueles que sinceramente se arrependem e chegam-se a Ele, atravs de Cristo, no conhece limite. Ele perdoar o mais culpado e purificar o mais poludo. O caso do irmo W tem-me atribulado, mas agora tenho uma luz mais distinta sobre isto; e agora direi que se o irmo W permanecer ligado a Jesus, ele estar seguro, pois Cristo tem assegurado seu poder infinito, fidelidade e amor para salvar at o ltimo. Que o irmo W saiba que eu escrevi isto (Carta 41, 1902).

    Em 1911, o irmo McVaugh, presidente da Unio Associao do Sul, escreveu a W. C. White relatando a situao que havia surgido na Associao

    de Alabama devido a W. O irmo White respondeu ao McVaugh, afirmando que sua me no queria assumir uma pesada responsabilidade no caso. Ele declarou:

    Em relao ao irmo W, ela diz o que tem dito sobre outros homens em posio de certa forma semelhante dele. Se eles, de fato, se arrependeram completa e sinceramente, no devem ser proibidos de trabalhar para Cristo em um cargo humilde, mas no devem ser elevados a posies de responsabilidade.12

    Ellen White endossou a carta de W.C. White, acrescentando o seguinte de prprio punho: Este o conselho correto em tais casos. Que ele ande humildemente diante de Deus. No vejo luz em atribuir-lhe responsabilidades.

    Em 1913, A. L. Miller, ento presidente da Associao de Alabama e ancio da igreja de Birmingham, escreveu a Ellen G. White a respeito do caso. Como a maioria da igreja queria W para ancio da igreja e pastor atuante, uma posio no acatada pela Associao Unio do Sul, Miller decidiu apresentar o caso diante da serva do Senhor, para uma deciso final.

    O irmo W decidiu ir ao encontro de Ellen G. White e discutir o caso com ela pessoalmente. Ele viajou Califrnia, mas no foi bem sucedido, pois Ellen G. White no quis discutir o assunto. Nessa ocasio, ela tinha 85 anos. Ele ento optou por deixar seu caso, por escrito, com ela. Quando as cartas do irmo Miller e de W foram apresentadas diante dela, sua resposta foi: No julgo ser meu trabalho tratar de tais assuntos a menos que o caso seja totalmente claro diante de mim. Ela prosseguiu: No posso assumir a responsabilidade em tais problemas. [...] Que aqueles que foram designados por Deus para assumirem tais responsabilidades o faam de acordo com os princpios cristos (Ms 2, 1913). O irmo W morreu no hospital e sanatrio de Washington, em 24 de julho de 1934,

  • 92 / Parousia - 2 semestre de 2007

    aos 78 anos de idade. Ele morreu antes da sua esposa, a qual cuidou dele em seus ltimos dias.13

    seParao de Pessoas CulPadas que Contraram novo Casamento

    Ellen G. White admite a possibilidade de separao de pessoas casadas por outras razes que no o adultrio. Em certa ocasio, ela aconselhou um casal a no se separar, porm, em outros casos ela optou pelo oposto. Parece que em seus conselhos ela ponderava sobre a particularidade de cada caso e circunstncia.

    A um casal j separado por algum tempo por outro motivo que no o adultrio de uma das partes, ela aconselhou um dos cnjuges a ir a Cristo e submeter-se ao controle de Deus (Carta 47, 1902), ao invs de procurar outra esposa.

    Uma esposa maltratada, aps um longo perodo de separao de seu marido, escreveu a Ellen G. White pedindo conselho. No aconselho o seu retorno a D., a menos que veja nele decidida mudana (LA, 343).

    A certo homem, abandonado por sua mulher, ela disse: No vejo que mais se pode fazer neste caso, e penso que a nica coisa que podeis fazer abandonar vossa esposa. Se ela est assim determinada a no viver em vossa companhia, sereis muito infelizes se o tentardes (Ibid, 344).

    Na Carta 34, datada de 1890, Ellen G. White aconselha um homem a separar-se de sua esposa e devolv-la a sua me que fez dela o que ela . Ela declara que neste caso no com a mulher que o irmo A est lidando, mas um esprito desesperado e satnico. Ellen G. White acrescenta que aquele casamento foi um ardil de Satans. A mulher era controlada por demnios que tentavam incapacit-lo para o trabalho do Senhor. No final da carta, ela diz que o voto conjugal que une a esposa ao marido no deve ser quebrado. Isto quer dizer que

    deveria haver separao, mas no divrcio. Em um caso em que a parte culpada se casou outra vez, o conselho de Ellen G. White foi que a situao no melhoraria se a segunda esposa fosse abandonada (ME, vol. 2, 341 e 342).

    Lidando com um caso particular, Ellen G. White menciona que geralmente aps terem tumultuado as coisas fazendo-as em pedaos, no tinham sabedoria para recomp-las tornando a situao melhor. Quando referiu-se queles que estavam lidando com o caso, disse que se eles houvessem estudado cuidadosamente uma soluo melhor e pudessem encontrar lugares para estes onde pudessem se sentir confortveis, melhor seria no executar a idia de separao (Carta 5, 1891). Sobre esse caso ainda, ela conclui:

    Escrevo isto porque tenho visto muitos casos dessa natureza e as pessoas tm grande preocupao at que tudo esteja desordenado e desarraigado e ento seu interesse e preocupao no vo muito longe. Devemos saber que temos um zelo de acordo com o nosso conhecimento. No devemos nos posicionar precipitadamente em tais assuntos, mas considerar os dois lados da questo; devemos agir cautelosamente e com ternura piedosa, porque no conhecemos todas as circunstncias que levaram a esse tipo de procedimento. Aconselho que estes infelizes sejam deixados a cargo de Deus e de suas prprias conscincias, e que a igreja no os trate como pecadores at terem evidncias de que eles so assim considerados a vista de um Deus Santo (Ibidem).

    a situao deixai-os em Paz

    Ellen G. White usou trs expresses semelhantes em trs casos distintos: deixai-os em paz, deixai W com o Senhor e deixai-os com Deus e com suas prprias conscincias.

    A primeira expresso foi usada quando se referiu a um de seus cunhados, marido

  • Casamento, divrCio e novo Casamento nos esCritos de ellen g. White/ 93

    de Sarah Harmon, a qual morreu e deixou o esposo com cinco filhos para cuidar. Ele se casou ento com uma mulher que havia sido uma fieI serva da casa durante anos. Um ataque de sarampo a deixou insana, e ela teve que ser internada em um hospcio. Quando seu marido se casou pela terceira vez, algumas pessoas tentaram obter sua excluso da igreja sob a alegao de adultrio. Outros apelaram para Ellen G. White resolver o problema. Em resposta, ela disse: Deixai-os em paz.14

    O irmo W se casou duas vezes, embora, sua primeira mulher no tenha se casado aps o divrcio. queles que desejavam romper o segundo casamento, Ellen G. White escreveu: O caso no pode ser melhorado por deixar a segunda esposa. Deixai W com o Senhor (Carta 175, 1901).

    Quando o irmo C. H. Bliss escreveu a Ellen G. White pedindo conselho em relao ao caso, ela se referiu a muitos casos dessa natureza e concluiu:

    Aconselho que estes infelizes sejam deixados a cargo de Deus e de suas prprias conscincias, e que a igreja no os trate como pecadores at terem evidncia de que eles so assim considerados a vista de um Deus Santo. Ele I os coraes como um livro aberto. Ele no julga como o homem julga (Carta 5,1891).

    A histria do irmo J a nica do gnero na correspondncia de Ellen G. White que se encontra no caixa-forte do Patrimnio Literrio White. O caso envolve um colportor bem sucedido que escolheu se tornar estril (no foi possvel determinar as circunstncias), muito provavelmente enquanto ainda casado. Ele se divorciou de sua primeira esposa, casou-se novamente e acabou se separando da segunda tambm.

    Em relao a esse caso particular interessante destacar dois pontos. O primeiro, a aprovao de Ellen G. White para um segundo casamento da parte inocente aps o divrcio e novo

    casamento da parte culpada. O segundo, o consentimento dela quanto ao casa-mento de um indivduo mutilado, bem como em relao a sua idia de vantagem da condio estril de J sobre o cnjuge dele, o crescimento familiar e o servio.

    As informaes disponveis sobre o primeiro casamento de J no so suficientes para fornecer um quadro completo do caso. H referncias a vrios problemas relacionados ao casal, baseadas em uma visita de Ellen G. White mulher, suas cartas ao marido e esposa, anotaes em seu dirio e uma referncia de duas pginas do Arquivo de Documentos.15

    Algumas pessoas estavam incentivando a senhora K (primeira esposa de J) a divorciar-se dele. De fato, alguns a estavam ridicularizando por causa de sua situao como esposa. Ellen G. White visitou a mulher a fim de ajud-la a erguer a sua cruz (Carta 6, 1888). Ela foi bem sucedida momentaneamente, aps conversar temporariamente com a irm K, ela fez as seguintes observaes:

    O voto conjugal um vnculo e no pode abrir mo de suas exigncias a qualquer uma das partes que o assume, salvo em caso de adultrio, a violao do leito conjugal. [...] A irm K foi abenoada, abrandou-se e submeteu-se ao Esprito Santo e sua mente moveu-se de acordo com a vontade de Deus. [...] Uma importante vitria foi conquistada (Ms 22, 1888).

    Ellen G. White considerou errado a senhora K ter se divorciado, mesmo que J fosse um homem mutilado (Carta 6, 1888). As razes por que ele assim agiu so desconhecidas. Ellen G. White usa trs expresses ao se referir a esse problema: mutilado, condio fsica e condio estril (ver Carta 6, 1888; Carta 50, 1895).

    Em 1894, o irmo J escreveu a Ellen G. White contando-lhe que a senhora K casou-se com um desconhecido de Topeka e agora ela mama. Ela deve

  • 94 / Parousia - 2 semestre de 2007

    estar feliz.16 Ele enviou uma outra carta a Ellen G. White no ano seguinte. Suponho que a senhora saiba a respeito de meu casamento dia 6 de maro com a senhora L de Pensilvnia. Referncias foram feitas das excelentes qualificaes e capacidades da ento futura noiva.17

    Em relao situao, a me de L enviou uma carta a Ellen G. White pedindo conselho e solicitando ajuda para separar o casal (parte desta carta aparece em ME, vol. 2, 339 e 340). Ao aprovar a unio, Ellen G. White teceu vrias consideraes: (a) J no repudiou sua mulher. Ele amava sua primeira esposa e fez tudo o que podia para ajud-la e procurou todos os meios para conserv-la. [...] e implorou-lhe para que no pedisse divrcio (Ibidem); (b) Ela o abandonou; (c) desprezou-o e; (d) casou-se com outro homem; (e) o segundo casamento dele bblico; (f) no h razo para perturbar o casal porque se casaram depois de K se divorciar dele; (g) alm disso, L sabia da condio fsica de J ou de sua mutilao. O irmo J foi informado a respeito do conselho dado por Ellen G. White me de L (Ela diz em sua carta que est enviando uma cpia para ele). Em uma carta escrita em 9 de novembro de 1895, o irmo J agradece a Ellen G. White ter-lhe enviado uma cpia.

    Ellen G. White no censurou o irmo J por sua mutilao. No censuro ou condeno o irmo J em sua posio. Ela ento fornece as razes para sua aprovao: (a) ele est em condies melhores para ser vencedor do que muitos outros homens jovens; (b) o caso de sua esposa no o pior que pode acontecer a uma mulher. Chegou o tempo em que a condio estril no a pior condio que existe (Carta 50, 1895).

    Em sua carta, Ellen G. White menciona alguns textos bblicos que fazem referncias a eunucos, alm de citar alguns problemas de famlia, tais como missionrios que encontram dificuldades em seu trabalho porque tm muitos filhos. Ellen G. White refere-se ao novo casamento de J da seguinte forma:

    Nada vejo nas Escrituras que proba J de se casar outra vez no Senhor. [...] Pode ser que este casamento esteja de acordo com a vontade de Deus a fim de que tanto J como sua filha possam ter uma experincia mais rica e sejam aperfeioados onde possuem falhas (Ibidem).

    O irmo J observa, em duas cartas diferentes Ellen G. White, que sua nova esposa uma jia e que quando minha esposa e eu podemos ficar a ss somos felizes como os pssaros.18 Porm, apesar do casal ter gozado de um comeo feliz de vida conjugal, a unio terminou em separao. Em 1910, W. C. White enviou uma carta a um parente, pedindo-lhe que ele e sua mulher fossem como pai e me para L, que estava morando ento em Colorado.

    W. C. White comentou que L havia se separado de seu marido e estava agora tentando comear uma nova vida por si mesma, no desejando permanecer sob seu controle. Foi melhor para ela trabalhar arduamente e sofrer algumas privaes do que pedir ajuda financeira a algum que foi to ditador e dominador. Ela tambm se convenceu de que foi melhor para ela tanto quanto possvel estar separada de J.19

    comPReenso dAs declARAes de ellen G. WhIte em cAsos de dIvRcIo e novo cAsAmento

    A fim de que possamos melhor compreender os escritos de Ellen G. White que abordam certos casos de adultrio, divrcio e novo casamento, convm considerarmos as diferentes formas de leis do Antigo Testamento: (a) Lei categrica ou apodctica e (b) Formas casusticas da lei, e tambm o que chamaremos de aplicao evanglica da lei.

    A lei apodctica ou categrica consiste, geralmente, em proibies, proscries e que probem certas atividades sem atribuir uma penalidade. Tais leis so expressas de modo absoluto, categrico, que parecem

  • Casamento, divrCio e novo Casamento nos esCritos de ellen g. White/ 95

    inflexveis, concisas e speras. Por exemplo, xodo 20:14: No adulterars. Aparentemente no h lugar para excees de qualquer espcie.20

    J a lei casustica, que compreende a maioria das leis do Antigo Testamento, formulada na forma de casos, e consiste em instrues para juristas e juzes na aplicao da justia (Dt 22:13-29). Esses casos de lei so, geralmente, precedidos em sua formulao por um se; aps a descrio do caso, segue-se um ento (Ibid., 23).

    Por sua vez, vemos a aplicao evanglica da lei em Joo 8:1-11. Nesse relato, Jesus admitiu que a forma apodctica ou absoluta da lei fra violada, quando Ele reconheceu que a mulher era uma pecadora (Vai e no peques mais). Ele tambm expressou, tacitamente, que a forma casustica da lei fora infringida (v. 5), quando no contradisse os acusadores dela (Dt 22:22; Lv 20:10).

    Ao julgar o caso, Jesus no aplicou a letra da lei (apodctica ou casustica), mas o que podemos chamar de lei do evangelho. Obviamente, Cristo discerniu a atitude da mulher de verdadeiro arrependimento e contrio, que deve preceder a aplicao da lei do evangelho. Essa postura caracterizada por piedade, perdo e restaurao. A diferena da atitude aqui est entre a letra da lei, que os acusadores da mulher reivindicavam, e o esprito e o intento da mesma, que eles no compreenderam por causa de sua compreenso legalista do problema. Passaram por alto a graa de Deus conforme foi revelada em Cristo e no evangelho.

    Em alguns casos bblicos, por exemplo, o pecado de Davi, a mulher samaritana junto ao poo, a mulher apanhada em pecado e o caso do membro que cometeu incesto na igreja de Corinto (ver 2Sm 12 e 13; Jo 4: 5-8; 8: 1-11; 1Co 5: 1-13; 2Co 2: 5-10) a aplicao da lei menos rgida, mais compassiva e piedosa do que a letra da lei.21

    Ao estudar casos semelhantes aos do professor G, J, W e outros, logo percebe-se que Ellen G. White aconselhou com base nesses mesmos princpios. Alguns de seus escritos revelam aspectos apodcticos e casusticos da lei, enquanto outros mostram o princpio da aplicao da lei do evangelho, demonstrando compaixo, perdo, encorajamento e restaurao. Certa vez, ela escreveu: Se errarmos que seja pelo lado da misericrdia mais do que do lado da condenao e procedimento spero (Carta 16, 1887).

    Alguns podem ressaltar que no caso da mulher apanhada em adultrio, o prprio Cristo foi o legislador, e que, portanto, Ellen G. White no poderia fazer tal declarao. Entretanto, como um instrumento de Deus inspirado pelo divino Esprito, ela, em certo sentido, poderia agir desse modo (2Sm 12:13; 1Co 5:1-5; 2Co 2:4-10).

    A sItuAo vIvendo em AdultRIo

    Ellen G. White faz uso das expresses vivendo em pecado e vivendo em pecado franco ou aberto. No primeiro caso, ela se refere a casamentos mistos de judeus no perodo do ps-exlio. Prncipes, sacerdotes, levitas e muitos outros se casaram com os pagos circunvizinhos (ver Ed 9:1,12;10:2,3,10,14,18; Ne 13:23-25). At mesmo alguns dos homens revestidos de responsabilidade estavam vivendo em franco pecado (PR, 589). Pecado franco, aqui, uma referncia a flagrantes violaes da lei que incluem casamentos mistos com as naes circunvizinhas. A apostasia de Israel devia-se em grande parte sua mistura com naes pags (Ibid, 590).

    O segundo caso se refere relao de Herodes com a mulher de seu irmo. Por que ele no poderia ter prosseguido sem incorrer no desprazer daqueles que estavam vivendo em pecado? (PR, 138). A expresso vivendo em pecado identificada nessa citao como adultrio.

  • 96 / Parousia - 2 semestre de 2007

    O terceiro caso faz aluso mulher samaritana junto ao poo. Ela estava vivendo abertamente em pecado (DTN, 173). Referindo-se ao ltimo dos seis homens com quem ela vivia, Jesus disse, o que agora tens no teu marido. Viver abertamente em pecado tambm uma referncia ao adultrio.

    O trecho seguinte, relatado por W.C. White como incesto, apresenta um exemplo de pecado aberto:

    Ele tomou sua posio mesmo em face da luz e da verdade. Escolheu obstinadamente sua prpria conduta e recusou-se ouvir a reprovao. Ele tem seguido as inclinaes de seu corao corrupto, violou a santa lei de Deus e lanou oprbrio sobre a causa da verdade presente. Mesmo que ele se arrependa sinceramente, a igreja deve abandonar seu caso. Se ele for para o Cu, dever ir sozinho, sem a companhia da igreja. Uma firme reprovao de Deus e da igreja devem permanecer sobre ele para que o padro de moralidade no seja rebaixado ao p (Ts, vol. 1, 215).

    A expresso pecado aberto tambm usada por Ellen G. White de um modo mais geral, no relacionado somente ao contexto de sexo (ver DTN, 633). evidente que ela considerava o pecado como uma situao contnua, mais do que uma queda pontual relatada em um texto, em determinado tempo e caso. Falando de modo geral, ela menciona cinco passos que o pecador deve dar para ser restaurado comunho da igreja (ver OE, 50; LA, 346): (a) arrependimento, por meio da submisso ao trabalho do Esprito Santo, por mais grave que possa ter sido a ofensa; (b) submisso disciplina de Cristo; (c) confisso; (d) perdo do pecado e; (e) dar evidncias de arrependimento.

    cARtAs de ellen G. WhIte contendo oRIentAes sobRe dIvRcIo e novo cAsAmento

    interessante que Ellen G. White escrevesse sobre o tema divrcio e novo

    casamento para a Igreja Adventista. Porm, aps a publicao de O Lar Adventista, Mensagens Escolhidas volume 2 e algumas compilaes de materiais no-publicados, a Igreja tomou conhecimento de algumas cartas e manuscritos que tratavam do problema. A interpretao de parte desses materiais tem levado alguns a adotar uma viso mais liberal sobre o divrcio e novo casamento.

    Parece que Ellen G. White no lidou com o problema, exceto por meio de correspondncia, quando abordada para dar conselhos pessoais, direta ou indiretamente, por obreiros envolvidos em problemas de terceiros. Escrevendo em 1902, ela disse: Deveria aparecer muito mais sobre o assunto do casamento em nossas publicaes. [...] Embora eu no tenha escrito muito sobre o tema, tenho feito muito trabalho pessoal nesta linha (Carta 110, 1902).

    O fato de Ellen G. White ter trabalhado com casos individuais, deveria nos advertir a no generalizarmos mais do que as experincias bblicas que temos no caso de Davi e da mulher apanhada em adultrio. Nesse sentido, seria bom lembrar o que W. C. White escreveu em 1931: No era inteno da irm White que sasse algo de sua pena que pudesse ser utilizado como lei ou regra ao lidar com estas questes de casamento, divrcio, novo casamento e adultrio.22

    Quanto a outros materiais que Ellen G. White escreveu, h algumas poucas pginas em O Maior Discurso de Cristo. Com exceo de um comentrio em relao ao caso de uma irm ofendida, relatado na Review and Herald de 24 de maro de 1868, seu silncio na revista oficial da igreja notvel. A resposta no peridico, escrita conjuntamente por Tiago e Ellen G. White, foi publicada quase na ntegra em O Lar Adventista, pginas 346 e 347. Abaixo, reproduzo o texto na ntegra:

  • Casamento, divrCio e novo Casamento nos esCritos de ellen g. White/ 97

    a ofendida irm a

    Com respeito ao casamento da ofendida irm A. G., diramos em resposta s perguntas de J. H. W., que uma caracterstica comum nos casos da maioria dos que tm sido apanhados em pecado, como o foi o seu marido, no terem eles o real senso de sua vilania. Alguns, entretanto, o sentem, e tm sido restaurados comunho da igreja, mas no antes que tenham merecido a confiana do povo de Deus, em virtude de confisso incondicional e um perodo de sincero arrependimento. Este caso apresenta dificuldades no encontradas em alguns, e poderamos acrescentar apenas o seguinte:

    (1) Nos casos de violao do stimo mandamento onde a parte culpada no manifesta verdadeiro arrependimento, se a parte ofendida pode obter o divrcio sem tornar pior a situao de ambos e dos filhos, se os tem, devem separar-se.

    (2) Se h possibilidades de ficarem eles prprios e os filhos em situao pior pelo divrcio, no conhecemos nenhum texto escriturstico que declarem culpada a parte inocente por no se separarem.

    (3) Tempo, trabalho, orao, pacincia, f e uma vida piedosa podem operar uma reforma. Viver com algum que tenha quebrado o voto matrimonial coberto por toda parte com a desgraa e a vergonha do amor culpado, e no o sente, um cancro devorador para a alma; e contudo o divrcio uma eterna e sincera mgoa. Deus se apiedada parte inocente! O casamento deve ser considerado muito antes de contrado.

    (4) Por qu! Oh, por qu! Homens e mulheres que podiam ser respeitveis e bons a alcanar o Cu vendem-se afinal ao diabo por baixo preo, ferindo o corao de seus amigos, desgraando suas famlias, acarretando a reproche sobre a causa e indo afinal para o inferno! Por que os que so apanhados no crime no manifestam arrependimento

    proporcional enormidade do crime e no escapam para Cristo em busca de misericrdia, a fim de curar, tanto quanto possvel, as feridas que fizeram?

    (5) Mas se fizeram como deve ser feito e se a parte inocente no quiser obter o divrcio por direito, continuando com o culpado depois que sua culpa for conhecida, no consideramos a parte inocente pecadora por permanecer no convvio e seu direito moral ao partir, parea questionvel se sua vida e sade no correram grande perigo por ficar com o culpado.

    (6) Assim como foi nos dias de No, um dos sinais deste tempo a paixo por casamentos precipitados e imprudentes. Satans est nisto. Se Paulo podia permanecer sozinho e recomendou o mesmo a outros, para que ele e outros pudessem consagrar-se totalmente a Deus por que no fazem o mesmo, permanecendo s, aqueles que deveriam ser totalmente do Senhor, evitando os cuidados, provaes e amarga angstia, to freqentes nas experincias daqueles que escolhem a vida conjugal? E mais, se ele escolheu permanecer s e podia recomend-lo aos outros, dezoito sculos atrs, no seria de fato louvvel para aqueles que esto esperando a volta do Filho do Homem agir do mesmo modo, a menos que as evidncias sejam questionveis de que eles esto melhorando sua condio, tornando o cu mais seguro por assim agirem? Quando tantos esto em perigo, por que no ficar do lado seguro de uma vez?23

    sumRIo dos conceItos de ellen G. WhIte

    Os pontos seguintes sintetizam os conceitos de Ellen G. White sobre casamento, divrcio e novo casamento:

    (1) O conceito de Ellen G. White sobre o casamento bblico e conservador. Ela o considera como uma instituio sagrada, criada pelo prprio Deus e, mais tarde,

  • 98 / Parousia - 2 semestre de 2007

    honrada por Jesus quando esteve aqui na Terra. O casamento uma bno se os princpios divinos forem seguidos.

    (2) A monogamia o ideal de Deus para a humanidade. Deus no sancionou a poligamia em um nico caso (SG, vol. 3, 100).

    (3) Ellen G. White desaprova, decididamente, casamentos incompatveis, precipitados e com incrdulos.

    (4) Ainda que no deva existir racismo entre o povo de Deus, ela no incentivou casamentos inter-raciais.

    (5) Ela defende firmemente a idia de que o casamento para a vida toda.

    (6) Ellen G. White segue a Bblia (Rm 7:1-3) em relao ao direito de se casar novamente aps a morte de um dos cnjuges.

    (7) William C. White declarou que sua me no desejava estabelecer regras ou leis para casos que envolviam problemas.

    (8) Conselhos a casos, situaes e indivduos especficos no deveriam ser generalizados. As circunstncias e situaes variam. A igreja e seus Ideres trataram de casos especficos em cada situao.

    (9) Algumas vezes, quando solicitavam a Ellen G. White conselhos em casos difceis, ela dava sugestes. Porm, em outros exemplos, quando no tinha luz em relao ao problema, entregava o caso aos irmos para ser considerado de acordo com os princpios bblicos.

    (10) Deve-se permitir a separao de cnjuges incompatveis para o bem-estar espiritual dos indivduos envolvidos. Todavia, somente a morte ou o adultrio podem anular os votos que foram registrados no Cu.

    (11) Uma pessoa que segue a Bblia no pode entrar em um relacionamento extraconjugal, exceto aps a morte de seu cnjuge ou se esse cometer

    adultrio. Contudo, a parte inocente pode permanecer com a culpada se assim o desejar. O adultrio coloca a parte inocente em uma situao que lhe permite um novo casamento ou a permanncia com a parte culpada.

    (12) Uma pessoa pode estar legalmente divorciada de acordo com as leis do pas, mas no est vista de Deus, se o divrcio foi obtido por outros motivos que no o adultrio.

    (13) O direito a um novo casamento existe apenas quando o direito para o divrcio bblico existe. Entretanto, h novos casamentos com direitos ou sem direitos. Esse princpio foi estabelecido pelo prprio Cristo no Evangelho.

    (14) Algumas das formulaes e declaraes de Ellen G. White concernentes ao divrcio e novo casamento tendem a ser rgidas, definidas e absolutas (lei na forma apodctica). Porm, em certos exemplos ao lidar com casos e circunstncias particulares, ela revela grande pacincia, clemncia e compreenso em sua aplicao (a forma da lei do evangelho).

    (15) No h nenhum caso conhecido em que Ellen White tenha aconselhado o rompimento de um segundo casamento de uma parte culpada.

    (16) Em certos casos de novo casamento no por adultrio, ela aconselhou: deixai-os em paz ou deixai-os com Deus e com suas conscincias.

    (17) Em relao ao casamento de um homem mutilado, cuja esposa conhecia a situao antes do casamento, ela disse que tal homem estaria em melhores condies para ser um vencedor do que muitos outros homens. Em relao a esposa, ela disse que h situaes piores que podem ocorrer a uma mulher.

    (18) Ela tratou do assunto do divrcio e novo casamento quase que exclusivamente por meio de suas correspondncias. Parece

  • Casamento, divrCio e novo Casamento nos esCritos de ellen g. White/ 99

    que o nico artigo que ela escreveu sobre o tema um que apareceu na Review and Herald, em 24 de maro de 1868, em co-autoria com Tiago White. As declaraes contidas em O Lar Adventista e Mensagens Escolhidas volume 2, extradas em sua maioria das cartas, formam uma base

    para uma posio mais recente e menos rgida, adotada por muitos na igreja e pela prpria organizao. Entretanto, deve-se ter em mente a declarao de W. C. White que Ellen G. White no desejava que seus escritos fossem usados como uma lei ou regra.

    RefeRncIAs

    1 Ver Review and Herald, 14 de outubro de 1862, 151.

    2 Ver tambm Review and Herald, 29 de agosto de 1918, obiturio de G. I. Butler.

    3 Ver pginas 43 e 44 das declaraes feitas por Tiago e Ellen G. White em relao aos termos e expresses usadas. Em alguns casos a chamada parte inocente , de fato, culpada em certo grau por haver contribudo para as condies e circunstncias que levaram o cnjuge culpado a infidelidade. No caso comentado acima por Tiago e Ellen G. White, parece que uma parte era inocente enquanto que a outra, culpada.

    4 Ver Histria do caso de J, nas pginas 34 a 37 deste documento, para obter mais informaes sobre o caso.

    5 Sra. G a Ellen G. White, 7 de maro, 1884; 21 de agosto, 1884.

    6 Carta escrita em 16 de julho de 1894. 7 William C. White ao professor G, 26 de fever-

    eiro de 1911. 8 parte da carta, relacionada ao trabalho nas ci-

    dades, aparece em Medicina e Salvao, 303 e 304.9 W. C. White, 6 de janeiro de 1931. 10 Ver G. I. Butler a W. C. White, 3 de julho

    de 1906. 11 De acordo com uma declarao de W. C. White,

    datada de 15 de setembro de 1911, este termo refere-se a trabalhar como um leigo.

    12 W. C. White a Mc Vaugh, 15 de setembro de 1911.

    13 O nome de W no est registrado no YearBook da IASD de 1909-1914 em nenhum cargo como obreiro denominacional.

    14 W. C. White, 21 de fevereiro de 1927. 15 W. C. White, DF, 1002. 16 Ver cartas de 1 de novembro de 1892 e 10

    e 14 de agosto de 1893 sabre o divrcio e novo casamento de K.

    17 Cartas de 23 de abril de 1895 a 17 de setembro de 1895.

    18 ver as cartas de 9 e 23 de abril de 1895. 19 DF, 1002. 20 Ver The Zondervan - Pictorial Encyclopedia

    of the Bible, 884 e 885. 21 No caso das referncias do Novo Testa-

    mento precisamos lembrar que as leis romanas e no as judaicas estavam em vigor. No h nenhuma evidncia de que o homem envolvido no caso da mulher apanhada em adultrio fosse casado. Qualquer que seja a situao, a graa de Cristo alcanou a mulher e conduziu-a ao arre-pendimento genuno! Arrependimento genuno o alvo a ser alcanado em todos os casos onde adultrio e fornicao estiverem envolvidos. Todas as atitudes subseqentes da igreja devem ser construdas sobre uma plataforma de arrepen-dimento genuno.

    22 6 de janeiro de 1931. 23 Artigo conjunto por Tiago e Ellen G. White,

    Review and Herald, 24 de maro de 1968.