casa de oswaldo cruz – fiocruz
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Casa de Oswaldo Cruz FIOCRUZ
Programa de Ps-Graduao em Histria das Cincias e da Sade
RACHEL MOTTA CARDOSO
A HIGIENE MILITAR: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE O
SERVIO DE SADE DO EXRCITO BRASILEIRO E O CUERPO
DE SANIDAD DO EXRCITO ARGENTINO (1888-1930)
Rio de Janeiro
2013
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RACHEL MOTTA CARDOSO
A HIGIENE MILITAR: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE O
SERVIO DE SADE DO EXRCITO BRASILEIRO E O CUERPO
DE SANIDAD DO EXRCITO ARGENTINO (1888-1930)
Tese de Doutorado apresentada ao
Curso de Ps-Graduao em Histria
das Cincias e da Sade da Casa de
Oswaldo Cruz-Fiocruz, como requisito
parcial para obteno do Grau de
Doutor. rea de Concentrao: Histria
das Cincias.
Orientador: Prof. Dr. Magali Romero S
Coorientador: Prof. Dr. Renato Lus do Couto Neto e Lemos
Rio de Janeiro
2013
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Ficha catalogrfica
C268dh Cardoso, Rachel Motta
.. .... A higiene militar: um estudo comparado entre o Servio de
Sade do Exrcito Brasileiro e o Cuerpo de Sanidad do Exrcito
Argentino (1888-1930) / Rachel Cardoso Rio de Janeiro:
[s.n.], 2013.
455 f .
Tese (Doutorado em Histria das Cincias e da Sade) -
Fundao Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, 2013.
Bibliografia: xxx-xxx f.
1. Servios de sade. 2. Histria da medicina. 3. Medicina
militar. 4. Higiene militar. 5. Militares. 6. Histria. 7. Brasil. 8.
Argentina.
CDD 355.345
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RACHEL MOTTA CARDOSO
A HIGIENE MILITAR: UM ESTUDO COMPARADO ENTRE O
SERVIO DE SADE DO EXRCITO BRASILEIRO E O CUERPO
DE SANIDAD DO EXRCITO ARGENTINO (1888-1930)
Tese de doutorado apresentada ao Curso
de Ps-Graduao em Histria das
Cincias e da Sade da Casa de
Oswaldo Cruz-FIOCRUZ, como
requisito parcial para obteno do Grau
de Doutor. rea de Concentrao:
Histria das Cincias.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Magali Romero S (COC/FIOCRUZ) Orientadora
____________________________________________________________ Prof. Dr. Renato Lus do Couto Neto e Lemos (IH/UFRJ) Coorientador
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Jaime Larry Benchimol (COC/FIOCRUZ)
____________________________________________________________ Prof. Dr. Simone Petraglia Kropf (COC/FIOCRUZ)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Felipe Abranches Demier (UNIFOA)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Andr Felipe Cndido da Silva (USP)
Suplentes:
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Dominichi Miranda de S (COC/FIOCRUZ)
_________________________________________________________________
Prof. Dr. Claudio Beserra de Vasconcelos (UNIRIO)
Rio de Janeiro
2013
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Dedicatria
Ao meu amor
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Agradecimentos
O processo de escrita de uma tese significa o convvio constante com livros,
documentos e computadores. Ao longo do tempo, somos obrigados a nos afastar da
presena daqueles que so fundamentais em nossas vidas, mas por conta da realizao
de um objetivo, da busca incessante de um eterno querer saber. Mesmo nestes
momentos, em que nossa nica companhia aquele livro antigo, de pginas amareladas
e cheiro caracterstico, lembramos daqueles que so to queridos e dos quais
momentaneamente tivemos que nos despedir. A alegria de ver o seu trabalho concludo
faz perceber que tudo isto valeu a pena e com os que outrora estivemos distantes que
agora queremos correr para compartilhar tamanha felicidade.
Toda esta dedicao no seria possvel sem a bolsa de doutorado que me foi
ofertada pelo Programa de Ps-Graduao em Histria das Cincias e da Sade
(PPGHCS) da Casa de Oswaldo Cruz (COC) do Instituto Oswaldo Cruz. Desde meu
ingresso no curso pude contar com esta importante fonte de recursos que me
possibilitou destinar meu tempo de forma exclusiva s atividades de minha pesquisa, de
acompanhamento de disciplinas e da aquisio da bibliografia fundamental para o
desenvolvimento de estudos do meu objeto.
No poderia deixar de agradecer aos meus orientadores, Magali Romero S
e Renato Lus do Couto Neto e Lemos (ou simplesmente Renato Lemos).
Magali agradeo pela confiana no meu trabalho, pelo incentivo para me
candidatar a uma bolsa de estudos para a realizao de minha pesquisa na Argentina e,
principalmente, por ter aceitado de braos abertos esta aluna e pesquisadora naquela
instituio. As orientaes, os conselhos dados sempre nas horas mais adequadas, as
advertncias bem colocadas, o carinho nas reunies e nos telefonemas mesmo quando
eu estava a quilmetros de distncia, morando em outro pas. Como sempre lhe chamo,
querida orientadora, obrigada por tudo.
Ao Renato Lemos tenho at dificuldades em dimensionar o tamanho da
minha gratido. So anos (na verdade mais de uma dcada) de trabalho, de orientao,
de dicas preciosas de pesquisa e de leituras. O melhor que pude ter ganho ao longo de
todo este tempo de convvio foi a amizade de uma das figuras que mais respeito no
apenas como historiador, mas como pessoa. Poder ter ainda a honra de cham-lo de
amigo um dos melhores presentes que j pude ganhar ao longo de toda esta vida, ainda
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que curta, acadmica. No h palavras suficientes para demonstrar o quanto lhe sou
grata.
Ao corpo docente do Programa de Ps-Graduao em Histria das Cincias
e da Sade por tudo o que aprendi com as disciplinas cursadas ao longo do curso.
Especialmente professora Simone Kropf que me ajudou a perceber um novo e ainda
inexplorado campo de pesquisa na rea de histria militar durante as aulas de Histria
das Cincias no Brasil. Os encontros pelos corredores, o incentivo para a pesquisa e o
entusiasmo que sempre a acompanha. Obrigada.
A todos os professores que estiveram desde o incio na minha formao.
Dedico especialmente a uma professora muito querida e que sempre foi um exemplo de
profissional que eu gostaria de ser. Angela Malizia, professora super querida, esta tese
tambm uma conquista sua. Obrigada por ter me proporcionado momentos de tanta
alegria na escola. Muito obrigada por ter me ensinado lies para toda uma vida.
Os sempre prestativos e atenciosos funcionrios da secretaria do PPGHCS,
Paulo Chagas e Maria Claudia, deixo aqui registrado minha gratido por todo o tempo
que era dedicado s minhas dvidas quanto ao funcionamento do PPGHCS e afins, ao
cumprimento sempre bem humorado e a simpatia de todos os dias.
Nelson Nascimento, o Nelsinho, que sempre atento e prestativo atendia aos
desesperados apelos textos para as prximas leituras. Ao papo descontrado nas pausas
entre uma aula e outra. torcida pelo rubro-negro.
Ao longo destes quatro anos, tive a felicidade de ser contemplada com uma
bolsa para estudos no exterior a partir do Programa de Doutorado Sanduche no Exterior
(PDSE), financiado pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel
Superior (CAPES). Em funo da natureza do estudo comparado de meu objeto de
pesquisa, se mostrava necessrio o trabalho nos arquivos e bibliotecas em territrio
argentino. Durante os quatro meses em que dediquei meus trabalhos naquele pas, contei
com o apoio e acompanhamento da CAPES para o bom desenvolvimento de minha tese
e, tambm, para o meu bem-estar em terras estrangeiras. Graas ao PDSE, tive a
oportunidade de viver outra cultura, de conhecer o modus operandi de outros arquivos e
de enriquecer pessoal e profissionalmente. Este tipo de retorno no pode ser mensurado
em valores e muito menos em agradecimentos. A concluso de minha tese apenas uma
pequena parte deste eterno reconhecimento.
No perodo em que morei na Argentina fui orientada pelo professor Andrs
Reggiani, da Universidad Torcuato Di Tella. A recepo amistosa, seu entusiasmo e
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suas preciosas dicas foram fundamentais para o desenvolvimento de meu trabalho e para
a ambientao em uma nova realidade que me esperava.
Nos arquivos e bibliotecas argentinos contei com a simpatia e a agilidade
dos servios de seus funcionrios. Desenvolvi minha pesquisa no Archivo General Del
Ejrcito Argentino, Archivo General de la Nacin, Biblioteca Nacional Militar (a do
Crculo Militar), Archivo Histrico de Chancilleria (Ministerio de Relaciones
Exteriores), Biblioteca Nacional Argentina e a Biblioteca del Estado Mayor del
Ejrcito. Nestes, passei a maior parte do tempo no Archivo General Del Ejrcito e na
Biblioteca Nacional.
No Archivo General Del Ejrcito Argentino (AGEA) pude contar com a
ajuda do bibliotecrio Pedro, que foi fundamental para o desenvolvimento de minha
pesquisa ali, alm de trocar informaes acerca de bibliografias e acervos que eu
deveria acrescentar em meu curto perodo de tempo que teria ali. Neste mesmo local,
tambm contm o auxlio do oficial (cuja patente no me recordo agora e infelizmente
no registrei) Mariano e da senhora Olga, a atendente que registra nossos primeiros
pedidos.
Alm do AGEA, um dos locais que mais gostei de pesquisar foi a Biblioteca
Nacional Argentina. Logo na recepo era sempre cumprimentada com o bom dia
sorridente dos seguranas que precisavam registrar meus aparelhos eletrnicos antes da
entrada na sala de leituras e consulta. J no interior da biblioteca, a busca no catlogo, a
minha credencial de Investigador e, graas a ela, o acesso a todo acervo ali
disponvel. Com o passar dos tempos, os livros que havia pedido para consultar e que
estavam desaparecidos no dia seguinte, quando encontrados eram guardados e o
funcionrio gentilmente me avisava que o havia localizado. O setor destinado aos
peridicos, a Hemeroteca, tem uma construo interessantssima e muitas vezes eu me
sentia a bordo de um navio em funo do formato das janelas e da disposio das mesas
para consulta. Ali, contei com a ajuda dos bibliotecrios dos horrios da manh, tarde e
noite. O mistrio dos livros desaparecidos tambm ocorria por ali, mas contava com a
sorte e com o empenho daqueles profissionais de sempre ter o material solicitado
localizado em algum momento futuro.
Na Biblioteca Nacional Militar fui recebida com o mesmo carinho e
ateno. Ali, agradeo especialmente ao Coronel Ozarn Carlos, o seu diretor, a Maria
Rosa e ao Julio, os atendentes que disponibilizaram meu acesso a obras raras e s
encontradas naquela instituio.
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Nestes trs locais de pesquisa pude contar com a alegria destes funcionrios
e com as brincadeiras que me ajudavam a passar o tempo no longo caminho que seria
percorrido naqueles quatro meses de trabalho. A todos eles, os meus mais sinceros
agradecimentos.
No Brasil, minha pesquisa se desenvolveu principalmente no Arquivo
Histrico do Exrcito (AHEx), no Centro Histrico de Documentao Diplomtica
(CHDD) do Arquivo Histrico do Itamaraty (AHI) e na Biblioteca de Cincias
Biomdicas da FIOCRUZ.
Minhas pesquisas no Arquivo Histrico do Exrcito contaram sempre com a
ajuda do Capito Ferreira; dos Tenentes Mauro, Rita Paula, Solange e Ellen; e do
Sargento lvaro. Agradeo ao capito, tambm historiador, por todas as dicas que me
foram dadas ao longo de todos estes anos de pesquisa. Rita Paula, Ellen e Solange me
remetem aos meus primeiros dias de pesquisa ali naquele arquivo. A simpatia e a
gentileza com que me atendiam e atendem sempre me deixaram com a certeza de
que meu cotidiano de pesquisa certamente seria alegre e proveitoso. Estes profissionais
no foram apenas funcionrios de arquivo, se tornaram, ao longo do tempo, colegas de
pesquisa e pessoas queridas.
Em outra seo do AHEx tive contato com outra turma de profissionais. Em
certa etapa de meu trabalho precisei trabalhar com microfilmes e pude conhecer o
Tenente Coronel Murta ( poca Major); os primeiros sargentos Wanderson e
Anderson; os terceiros sargentos Corra, Jolne, Cruz e Sardagna (que era mais
conhecido por mim e pelos demais simplesmente como palmeirense); e com o
soldado Branco. O contato dirio com essa turma, a alegria de todas as manhs, as
discusses futebolsticas em que havia sempre a clssica diviso entre vascanos e
flamenguistas tornavam meu trabalho com microfilmes menos rduo. O convvio por
meses a fio me fez sentir saudades quando terminei por ali a minha consulta ao acervo.
Rapazes, obrigada por toda a camaradagem com a qual pude contar por todo aquele
perodo.
Na pesquisa na Biblioteca de Cincias Biomdicas da FIOCRUZ contei com
o apoio de todos os profissionais, especialmente do Joo Paulo, da Priscila e do Ricardo.
A forma sempre to receptiva e gentil com que fui tratada foram fundamentais para o
bom andamento do meu trabalho por ali.
No Arquivo Histrico do Itamaraty, contei com o auxlio do Seu Miranda,
da Rosiane Rigas, da Paula Valle e dos diversos estagirios, em especial Edilmar
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Alcantara (ou Ed), Carla Surcin e Pedro Novaes. Aqueles tomos pesados e antigos da
documentao diplomtica trocada entre Brasil, Alemanha e Frana me ajudaram a
encontrar nestes funcionrios verdadeiros parceiros. O Senhor Miranda estava sempre
me dando informaes acerca do acervo e me ajudando a encontrar documentao que
eu sequer conhecia. O contato com o ndice decimal mudou minha vida! Paula Valle
tambm teve importncia neste processo, ao me ajudar com os pesados tomos e,
principalmente, pelos curtos papos, muitas vezes salvadores, quando o cansao
parecia querer me dominar. Rosiane Rigas se tornou uma eterna querida, com quem
compartilho histrias acadmicas e historinhas do cotidiano e papos salvadores por
uma longa estrada.
Foi graas a Rosi e ao Seu Miranda que pude conhecer uma pessoa que hoje
um querido amigo. Eu estava na correria para viajar, buscava informaes sobre
Argentina, melhor local para moradia em funo da proximidade com arquivos e
bibliotecas... Um turbilho de coisas que apenas quem conhecia muito bem a regio ou
fosse de l poderia me ajudar. Foi ento que conheci meu querido argentino Diego
Galeano. De um simples papo na sala de pesquisa, troca de telefones e e-mails encontrei
uma das pessoas mais legais que algum pode conhecer. Sabe aquela pessoa que
parecemos conhecer h anos, mesmo tendo conversado por to pouco tempo? o
Diego! Seu carinho e amizade, ainda que infelizmente menos corriqueira do que
desejado, foram fundamentais para o desenvolvimento e concluso deste trabalho.
Gracias, cario!
No poderia deixar de agradecer aos meus colegas de turma na FIOCRUZ e
que lembrarei sempre com muito carinho. Agostinho, Andr, Ivone, Ivoneide, Juliana e
Rodrigo, agradeo a todos os momentos que compartilhamos nossas dvidas, nossos
conhecimentos, nossos cotidianos de pesquisa e nossa vida acadmica. Essa conquista
tambm de vocs! Obrigada a todos!
A Charles Klajman agradeo por toda a ajuda com a revista Medicina
Militar e por ter gentilmente me cedido seu material de pesquisa.
A Taisa Falco pela troca de ideias em funo da proximidade de nossos
temas e, principalmente, por observaes preciosas acerca de temas sobre os quais
sequer havia me atentado ao longo de minha pesquisa e anlise das revistas de medicina
militar brasileiras.
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Glaucia, querida amiga, seus telefonemas sempre me salvavam nos
momentos de angstia e estresse provocados pelo rduo processo de confeco de tese.
As conversas a respeito de tudo, o carinho ainda que de longe... Obrigada!
Paula e Iris, amigas de longa data e que acompanharam de perto todo o
processo at aqui. As risadas, os choros, as alegrias... Toda uma histria que temos para
contar! Vocs so parte desta vitria! Obrigada pela amizade de todos estes anos.
A vida acadmica tem me proporcionado muitas alegrias. Uma delas foi ter
conhecido o meu Quase-irmo. Do cotidiano de estudos do LEMP pesquisa para a
ABL encontrei no Claudio Beserra mais que um amigo com quem contar. Descobri que
tenho realmente mais um irmo. difcil expressar por aqui tudo o que tenho a
agradecer, mas acho que o maior agradecimento simplesmente reconhecer o lugar que
j ocupa no apenas na minha vida acadmica. Quase-irmo a gente pode escolher e
ainda bem que a vida acadmica nos ajudou no processo! Obrigada por tudo, quase-
irmo!
Muito do que consegui at aqui no teria sido possvel sem a ajuda dos
meus pais. Agradeo ao meu pai, Waldir, tambm conhecido como nojento, todo o
apoio, amor, carinho e afeto por toda esta longa estrada da vida. Por sempre acreditar
em mim, desde quando eu no sabia o que o mundo estava reservando para mim.
Obrigada por sempre ter sido o meu porto seguro. Obrigada por ter sido sempre o meu
melhor amigo. Obrigada por tudo, pai.
minha me agradeo este lugar especial que agora ocupa em minha vida,
a presena, o carinho que se faz presente e a confiana que sempre depositou em mim.
Por me lembrar que me cobro demais e que s vezes necessrio se desligar um pouco
do estresse que nos cerca. Obrigada pela confiana que deposita em mim. Obrigada por
tudo, me.
Maninha, Ferdinanda, no teria chegado at aqui se no fosse pelas nossas
brincadeiras na infncia, nosso tininaninum, o amor ao mesmo tempo incondicional e
to implicante que s os irmos sabem ter. Obrigada por me ensinar a dividir, a
compartilhar tudo, por ser sempre to presente e por ser simplesmente minha irmzinha.
Este ano ainda veio com um brinde! Emmanuel, o fofinho, chega para alegrar as nossas
vidas! Obrigada por estar sempre por perto e por ser minha melhor amiga e confidente.
Eduardo, estrupcio, agora oficialmente da famlia. Querido amigo, que
esteve presente em horas difceis e que sempre se mostrou presente em todas as
situaes. Obrigada por estar sempre por perto.
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O prazer pelos livros me foi dado pela minha tia. Tia Wanilda, agradeo
todos os dias por voc ter me mostrado este mundo fantstico que mudaria a minha vida
e, quem diria, seria a fonte da minha profisso. Obrigada por ter me ajudado a ser quem
eu sou hoje. Obrigada por ter me ensinado as lies que eu deveria ter aprendido.
minha irm mais velha que veio como minha prima, Luciana. Agradeo
por todos os momentos em que esteve presente na minha infncia e por ter sido meu
exemplo no incio da minha vida escolar. Alm do fato de ter me dados meus primeiros
sobrinhos, Isadora e Danilo.
Tia Valria, bela senhora, seu carinho e ateno sempre significaram muito
para mim. A alegria de nossas brincadeiras, nosso papo descontrado e as conversas
srias quando era preciso desabafar. Obrigada por estar sempre por perto.
Bicho, o que seria dos encontros da famlia sem a alegria que vem com
voc? Obrigada por todo o carinho e ateno que tem comigo.
Meus primos queridos, Vanessa, Vivian, Tas e Iuri. A vida seria muito, mas
muito sem graa, sem a alegria de vocs por perto!
No h como no agradecer trupe Cobayashi e Souza. Dona Nery, Seu
Osvaldo, Karin, Denilson, Erick, Arthur e dona Katue.
Dona Nery, o carinho e o amor que sempre recebi foram muito importantes
nessa nova etapa que se iniciava. As conversas, as brincadeiras, as vontades feitas...
Uma extensa lista de todos os mimos que eu nem sei se merecia. Obrigada por se
mostrar to presente na minha vida.
Seu Osvaldo, agradeo por ter me deixado fazer parte da sua famlia e por
me ensinar tantas coisas. A aprender sobre as coisas simples da vida, a se fazer presente
de um jeito nico e a encontrar na natureza a essncia daquilo que somos.
Karin, cunhada favorita, agradeo pela amizade, pelo carinho, pelo convvio
que sempre to bom quando estamos juntas.
Denilson, obrigada pelos papos futebolsticos, pelas brincadeiras, pela
alegria sempre demonstrada quando todos esto reunidos.
Por fim, o reconhecimento de que nada disso teria sido possvel se no fosse
por voc, meu amor. difcil escrever em algumas palavras como agradecer por tudo o
que voc me proporciona. Por ser o porto seguro quando pareo estar perdida. Pelo
carinho que recebo quando o cansao e a tristeza me tomam. Por compartilhar todos os
momentos, sejam eles alegres ou tristes. Por me proporcionar tanta alegria, quando
posso encontrar voc ao final do meu dia... Obrigada por ser to especial na minha vida!
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SUMRIO
Introduo 18
Captulo 1 Sobre a higiene militar: seus aspectos e suas estratgias de
sobrevivncia 49
1.1. Alguns conceitos da higiene e sua aplicabilidade no meio militar 50
1.2. A higiene militar e sua relao com o meio civil 76
1.2.1. A vivncia nos trpicos 78
1.2.2. A higiene militar como estratgia 81
1.3. A Organizao dos Servios de Sade dos Exrcitos da Alemanha e da Frana
86
1.3.1. O Servio de Sade do Exrcito Francs 97
1.3.2. O Servio de Sade do Exrcito Prussiano 97
1.4. O Servio de Sade do Exrcito no Brasil 106
1.4.1. Hospital Real Militar e Ultramar, a origem do Hospital Central do Exrcito
107
1.4.2. Botica Real Militar 109
1.4.3. A organizao do Servio de Sade 111
1.5. O Cuerpo de Sanidad do Exrcito Argentino 115
Captulo2 As misses militares e suas implicaes nos Servios de Sade dos
Exrcitos da Argentina e do Brasil 122
2.1. Um breve histrico da sade dos Exrcitos brasileiro e argentino na Guerra do
Paraguai (1864-1870) 123
2.1.1. A experincia do Servio de Sade do Exrcito brasileiro 125
2.1.2. A experincia do Cuerpo de Sanidad do Exrcito argentino 144
2.2. Misses militares e relaes diplomticas: Argentina e Brasil e a busca pela
modernizao de seus exrcitos 155
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2.2.1. As Comisses Militares ao Estrangeiro 158
2.2.1.1.A Organizao do Cuerpo de Sanidad e a Comisin de Sanidad del
Ejrcito Argentino 165
2.2.1.1.1. Comisin de Sanidad del Ejrcito Argentino 170
2.2.1.2.Ismael da Rocha e A Comisso Militar ao Estrangeiro 178
2.2.1.2.1. O Laboratrio de Microscopia Clnica e Bacteriologia 182
2.2.2. As misses militares e suas implicaes 188
2.2.2.1.A Argentina e sua misso alem 192
2.2.2.1.1. Escuela de Aplicacin de Sanidad Militar 203
2.2.2.2.O Brasil e as misses militares 205
2.2.2.2.1. A Misso Francesa na Fora Pblica de So Paulo (1906) 207
2.2.2.2.2. A Misso Francesa na Escola de Veterinria do Exrcito (1908-
1914) 210
2.2.2.2.3. Os jovens turcos 215
2.2.2.2.4. O Brasil na Primeira Guerra: a Misso Mdica Militar (1918-
1919) 227
2.2.2.2.5. A Misso Militar Francesa (1919-1924) 233
Captulo 3 As revistas militares de sade e seus cenrios cientficos no Cuerpo de
Sanidad do exrcito argentino (1891-1931) 241
3.1. Boletn de Sanidad Militar (1891-1914) 244
3.2. Anales de Sanidad Militar (1899-1905) 263
3.3. Revista de La Sanidad Militar (1914-1931) 283
Captulo 4 As revistas militares de sade e seu cenrio cientfico no Servio de
Sade do exrcito brasileiro (1910-1931) 299
4.1. Medicina Militar (1910-1923) 300
4.2. Boletim da Sociedade Mdico-Cirurgica Militar (1915-1920) 323
4.3. Revista de Medicina e Higiene Militar (1921-1931) 344
Concluso 363
Bibliografia 371
Anexos 395
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LISTA DE ANEXOS
Anexo 1: Decretos e Regulamentos do Servio de Sade do Exrcito Brasileiro 396
Decreto n 601, de 19 de Abril de 1849 398
Decreto n 763, de 22 de Fevereiro de 1851 400
Decreto n 1.900, de 7 de Maro de 1857 405
Decreto n 2.715, de 26 de Dezembro de 1860 435
Anexo 2: Decretos e Regulamentos do Cuerpo de Sanidad do Exrcito Argentino 438
Registro Nacional 1814, N.712 Creacin de un Cuerpo Mdico Militar
440
Decreto de Organizacin del Cuerpo Mdico del Ejrcito 443
Anexo 3: Tabelas dos temas norteadores para peridicos argentinos de medicina e
higiene militar 444
Boletn de Sanidad Militar 446
Anales de Sanidad Militar 447
Revista de La Sanidad Militar 449
Anexo 4: Tabelas dos temas norteadores para peridicos brasileiros de medicina e
higiene militar 451
Medicina Militar 453
Boletim da Sociedade Mdico-Cirrgica 454
Revista de Medicina e Higiene Militar 455
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Resumo
Nosso objetivo com o presente trabalho compreender as influncias dos
exrcitos da Alemanha e da Frana no processo de modernizao dos Servios de Sade
dos exrcitos de dois pases da Amrica Latina: Argentina e Brasil. Alm disso,
procuramos entender como as influncias de saberes mdicos daquelas escolas
europeias estiveram presentes no cenrio mdico militar dos servios de sade destes
pases sul americanos. Para tal, temos a higiene militar e o desenvolvimento tcnico-
cientfico das Foras Armadas como eixo de nossos estudos para identificarmos as
principais mudanas sofridas no Servio de Sade, do Brasil, e no Cuerpo de Sanidad
da Argentina, bem como suas relaes/implicaes polticas poca.
Nosso recorte temporal est relacionado com o surgimento do Cuerpo de
Sanidad, bem como o processo de modernizao deste e do Servio de Sade do
exrcito brasileiro. J o ano de 1930 foi escolhido em funo do seu significado na
historiografia destes dois pases e, principalmente, por um novo quadro poltico,
econmico, social e militar em funo de seus movimentos revolucionrios.
Quanto nossa abordagem terico-metodolgica, alm do estudo comparado,
partimos da noo de desenvolvimento desigual e combinado desenvolvido por Trotsky.
Entendemos que a busca pela adequao ao processo evolutivo dos exrcitos dos pases
centrais se deu em diversos pases da Amrica Latina a partir da contratao de misses
estrangeiras para modernizarem seus exrcitos. Ao utilizar as experincias da Argentina
e do Brasil na contratao de misses deste tipo, podemos generalizar o tema, ou seja,
generalizar a forma como o processo de modernizao e do desenvolvimento tcnico-
cientfico implica mudanas nos Corpos de Sade destes exrcitos.
Palavras-chave: Higiene militar, medicina militar, Servio de Sade do Exrcito,
Cuerpo de Sanidad.
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Abstract
This work intends to comprehend the influences of the French and Germany
armies in the process of modernization of the Armies Health Services of two countries
of Latin America: Argentina e Brazil. Besides, we trying to understand how such
influences were incorporated in the medical military scenery of these South American
countries. For such, we had the military hygiene and the technical-scientific
development of the Army Forces as axis of this study, in order to identify the main
changes that occurred in the Army Services of Brazil and the Cuerpo de Sanidad of
Argentina, as well as the political implications of the time.
The time frame is related to the emergence and modernization of the Cuerpo de
Sanidad in Argentina and the modernization of the Brazilian Health Service Army. It
ends in the year 1930 because of its significance in the historiography of these two
countries mainly due to the "revolutionary" movements and its implications of a new
political, economic, social and military order.
As for the theoretical-methodological approach, the work based in the
comparative method study and also, in the notion of uneven and combined development
developed by Trotsky. We understand that hiring foreign military missions by Latin
American countries in order to modernize their armies, were a way of adapting in these
countries the evolutionary process occurred in the armies of developed countries. By
utilizing the experiences of Argentina and Brazil in hiring military missions, we can
imply that in the process of modernization and technical-scientific development
significant changes occurs in the armies Bodies Health.
Keywords: Military Hygiene, Military Medicine, Army Health Service, Cuerpo de
Sanidad.
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INTRODUO
Ao tratar das correntes no Exrcito a partir do conceito de partidos militares
em minha dissertao de mestrado,1 verifiquei a importncia da discusso sobre a
influncia de potncias estrangeiras no desenvolvimento nacional. Tais correntes
demonstravam as divises existentes nas Foras Armadas e tinham sua origem em
questes ligadas influncia de participao externa em questes consideradas
estratgicas. Diante deste cenrio, somemos ainda as dificuldades encaradas pelos
exrcitos e servios de sade da Argentina, do Brasil e do Uruguai ao longo da Guerra
do Paraguai (1864-1870). Finda a guerra, ficava claro para os governos que seus
exrcitos precisavam ser reestruturados, nos interessando particularmente como se deu
este processo com os chamados corpos (ou foras) auxiliares: o Cuerpo de Sanidad
do exrcito argentino criado oficialmente em 1888 e o Servio de Sade do exrcito
brasileiro. As comisses militares de sade e de estudos, enviadas ao exterior pela
Argentina a partir de 1888 e pelo Brasil em 1892, a participao do Brasil na 1 Guerra
Mundial (1914-1918) e as misses militares que foram contratadas visando a
modernizao2 dos exrcitos destes pases esto diretamente ligadas a este pensamento.
A preocupao com a higiene da tropa, a questo da higiene militar, deve
ser apontada como um processo de modernizao dos exrcitos nacionais pautado em
um projeto de acordo com uma perspectiva voltada para pr-franceses e pr-
germnicos. Neste ponto, questionaremos sobre o grau de influncia destas potncias
estrangeiras no processo de organizao e reestruturao dos servios de sade dos
exrcitos brasileiro e argentino, visando a construo de um exrcito moderno
pautado nos padres tcnicos dos exrcitos europeus.3
O incio do sculo XX marcado pelas disputas por territrios e,
consequentemente, mercados de escoamento de material blico entre as principais
potncias capitalistas em destaque as europeias: Alemanha, Frana e Inglaterra. A
1 CARDOSO, Rachel Motta. Depois, o Golpe: as eleies de 1962 no Clube Militar. Dissertao
(mestrado), Rio de Janeiro: UFRJ/IFCS/Programa de Ps-Graduao em Histria Social, 2008. 2 Chamamos aqui de modernizao a reforma nas Foras Armadas como resultado das experincias de oficiais argentinos e brasileiros que estagiaram no Exrcito alemo e, tambm, da atuao da Misso
Militar Francesa no Brasil. Pontos como o reexame de ideias e conceitos, reformulao de manuais,
criao de regimentos e, principalmente, as mudanas de critrio de promoo no Exrcito so
identificados neste processo. 3 Entendemos padres tcnicos as prticas utilizadas pelos exrcitos alemo e francs visando a
construo e manuteno de uma tropa saudvel a partir da higiene militar.
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histria de modernizao dos principais exrcitos da Amrica do Sul (Brasil, Argentina
e Chile) no se distancia daquela realidade e a Alemanha e a Frana destacaram-se neste
processo. O envio de oficiais do Cuerpo de Sanidad Europa em 1888 e a viagem de
Ismael da Rocha Europa em 1892, bem como as viagens de turmas de oficiais para
realizao de estgios nos regimentos alemes, principalmente na primeira dcada do
XX,4 apontam para este quadro. Os militares brasileiros que retornaram da Alemanha
estavam determinados a contratar alemes e, logo, publicariam artigos traduzidos do
alemo enaltecendo a importncia daquele Exrcito.5 Foi no ano da primeira viagem dos
oficiais do exrcito brasileiro para o estgio na Alemanha, 1906, que o coronel francs
Paul Balagny chegou ao Brasil. O objetivo, naquele momento, era instruir a Fora
Pblica de So Paulo aps rpida negociao realizada por Gabriel Toledo de Piza,
embaixador do Brasil na Frana, e o Ministro da Guerra francs, Eugne tienne.6 O
contrato com os franceses foi renovado em 1913, sendo dispensada em 1914 em funo
dos acontecimentos da 1 Guerra. Em 1908, conseguiriam a primeira brecha no Exrcito
do Brasil: uma misso de veterinrios militares, que teria como papel estudar a cavalaria
do Exrcito estabelecendo os fundamentos do ensino da medicina veterinria.7
No caso argentino, oficiais alems e franceses figuraram na formao dos
militares do exrcito. At 1904, as Foras Armadas francesas serviram de espelho para a
configurao de seu exrcito, mas este utilizava armamento alemo canhes Krupp e
fuzis Mauser. O prestgio das foras francesas comea a perder fora em 1900, com a
contratao de uma misso militar alem em 1899 durante a presidncia de Julio Roca
comandada pelo coronel alemo Alfred Arent. No ano seguinte, dando continuidade a
este processo, a Escuela Superior de Guerra criada com patrocnio da Alemanha e seu
4 Os futuros oficiais do exrcito argentino teriam uma experincia por um perodo maior. No caso do
Brasil as viagens se deram em 1906, 1908 e 1910. Trata-se dos chamados jovens turcos. Passaram a ser
assim chamados em funo das turmas de jovens oficiais turcos que estagiaram no Exrcito alemo e
reorganizaram o Exrcito da Turquia. Este ser um dos temas abordados no nosso segundo captulo. Mais
informaes sobre este tema: NETO, Manuel Domingos. A disputa pela misso que mudou o Exrcito.
Estudos de Histria, UNESP, So Paulo, v.8, p. 197-215, 2001; ____. Influncia estrangeira e luta interna no Exrcito, 1889-1930. In: ROUQUI, Alain (org.). Os Partidos Militares no Brasil. Rio de
Janeiro: Editora Record, 1980, p. 43-70; e, LUNA, Cristina. Os jovens turcos na disputa pela
implementao da misso militar estrangeira no Brasil. In: I Encontro Nacional da Associao
Brasileira de Estudos de Defesa, 2007, So Carlos SP. Textos do Primeiro Encontro Nacional da
ABED, 2007. 5 Em 1913 os jovens turcos criam uma revista, A Defesa Nacional, em que publicavam estes artigos. LUNA, C. Op. cit. 6 Ministro da Guerra (Ministre de La Dfense) da Frana no perodo de 12 de novembro de 1905 a 25 de
outubro de 1906 e de 21 de janeiro a 9 de dezembro de 1913. 7 NETO, Manuel Domingos. A disputa pela misso que mudou o Exrcito. Op. cit.; MALAN, Alfredo
Souto. Misso Militar Francesa de Instruo Junto ao Exrcito Brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca
do Exrcito, 1988.
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corpo docente formado por oficiais oriundos deste pas. O processo de germanizao
se completaria a partir de 1904, quando h um envio macio de oficiais argentinos para
estgios em regimentos das foras armadas imperiais. De acordo com Alain Rouqui, a
incorporao exclusiva em unidades alems no atingiria apenas um pequeno nmero
de oficiais. De acordo com a fala, em 1920, de um adido militar brasileiro, a metade
dos oficiais argentinos passou pelas escolas ou tropas alems.8 Assim como se deu no
Chile,9 em que um oficial alemo foi incorporado ao Exrcito nacional, no caso
argentino, tivemos trs oficiais alemes incorporados ao Exrcito argentino: Albert Von
Sydow, Rudolf Von Colditz e Georg Ruhde.10
At o incio da 1 Guerra Mundial (1914-1918), Alemanha e Frana
buscavam cativar polticos e oficiais brasileiros a partir de convites para visitas aos seus
pases, como, por exemplo, a realizada pelo presidente Roca da Argentina em 1897 e
pelo Marechal Hermes da Fonseca em 1910, ambos Alemanha. Com o incio dos
conflitos e a formao das alianas,11
a Argentina se declarou um pas neutro e o Brasil
faria o mesmo.12
Entretanto, em funo de ataques alemes a navios comerciais
brasileiros em abril de 1917, o pas rompeu as relaes diplomticas com os
germnicos. Em outubro daquele mesmo ano era proclamado estado de guerra, aps o
torpedeamento do mercante brasileiro Macau e o fato do comandante desta embarcao
ter sido feito prisioneiro dos alemes.
O Brasil atuaria naquele conflito atravs da Diviso Naval de Operaes de
Guerra, a DNOG. Criada em uma conferncia entre os pases aliados em novembro de
8 ROUQUI, 1980, p.99. 9 Em 1885 o governo do Chile contratou uma misso alem para profissionalizar o seu Exrcito. A misso
teve como chefe de 1886 a 1910 o coronel Emilio Krner Henze, que poca era capito. Este oficial criou uma Escola de Guerra baseada no modelo da kriegsakademie (a Academia de Guerra Germnica) e
com um programa de estudos de trs anos. Os melhores alunos eram enviados para regimentos alemes e
para a guarda imperial. O programa tem seu fim em 1906, no sem antes ter incorporado o coronel
Krner, que naquele momento alcanara a patente de general, ao Exrcito nacional e nome-lo chefe do
Estado-Maior, em 1891. Ver: LUNA, Cristina. Os jovens turcos na disputa pela implementao da
misso militar estrangeira no Brasil. In: I Encontro Nacional da Associao Brasileira de Estudos de
Defesa, 2007, So Carlos SP. Textos do Primeiro Encontro Nacional da ABED, 2007, verso eletrnica. 10 LUNA, C. Op. cit., cf. p.1. 11 Na 1 Guerra Mundial, a formao de alianas configurou dois blocos. Um foi chamado de Trplice
Entente e era composto pela Inglaterra, Frana e Rssia. O outro, a Trplice Aliana, integrado pela Itlia,
Alemanha e Imprio Austro-Hngaro. 12 A Argentina declarou sua neutralidade em 4 de agosto de 1914 e no mudou este quadro, mesmo depois de ter um cnsul fuzilado em setembro de 1914 na cidade belga de Dinant pelas tropas alems de
ocupao e a captura do navio argentino Presidente Mitre em novembro de 1915. Mais detalhes, ver:
CISNEROS, Andrs e ESCUD, Carlos. Historia General de las Relaciones Exteriores de la Repblica
Argentina. Buenos Aires: Consejo Argentino para las Relaciones Internacionales (CARI) / Grupo Editor
Latinoamericano, 1999, Parte II, Tomo VIII: Las Relaciones con Europa y los Estados Unidos, 1881-
1930, Las relaciones polticas con Alemania (1880-1930), p.33-47.
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1917, ela seria comandada pelo Contra-Almirante Pedro Max Fernando de Frontin, que
fora nomeado em 30 janeiro de 1918, totalizando aproximadamente 1.515 homens entre
oficiais e praas. Seus trabalhos se iniciaram em 7 de maio, quando os navios da DNOG
seguiram rumo ao litoral nordeste para, em seguida, se dirigirem para Gibraltar. Seu
objetivo, naquele momento, era varrer os mares dos submarinos inimigos. Em funo
disso, a frota que a compunha deveria patrulhar a rea norte do continente africano,
especificamente as regies de Dakar, Cabo Verde e Gibraltar.13
Posteriormente, o
presidente da repblica na poca, Wenceslau Braz,14
pelo Decreto n 13.092 de 10 de
Julho de 1918, criaria a Misso Mdica Militar Especial em Frana comandada pelo
coronel Nabuco de Gouva, que tambm participaria da organizao da mesma, em 28
daquele mesmo ms, em conjunto com o Ministro da Guerra, marechal Jos Caetano de
Faria.
O objetivo da Misso Mdica era organizar, em territrio francs, um
hospital brasileiro em um ponto qualquer a ser designado pelo Quartel-General aliado e
auxiliar no combate gripe espanhola que assolava a populao francesa. Partindo da
Praa Mau no dia 18 de agosto de 1918 bordo do navio La Plata e rumo Europa, os
membros da Misso Mdica Militar enfrentariam o risco de serem bombardeados pelos
submarinos alemes que se encontravam pela costa africana. Aps aportarem na maior
cidade de Serra Leoa, Freetown, se iniciava o incomodo convvio com a molstia contra
qual estavam indo lutar: a gripe espanhola. A caminho de Dakar, os sintomas
comearam a aparecer em boa parte daqueles que se encontravam embarcados. A
DNOG teria 464 homens mortos pela doena. A Misso Mdica chegaria em solo
francs somente em 24 de setembro, aportando em Marselha, e seria extinta em
fevereiro de 1919.
A Misso Mdica Militar em Frana fora concluda, mas uma nova fase nas
relaes entre este pas e o Brasil teria incio. Em abril de 1920, chegou o general
Gamelin, responsvel pela Misso de Instruo das Foras Armadas Brasileiras.
A historiografia voltada para os estudos da Misso Militar Francesa no
Brasil, como os trabalhos de Nelson Werneck Sodr, Alfredo Souto Malan, Manoel
Domingos Neto, etc. buscam compreender e relatar as principais mudanas realizadas
no exrcito, mas se concentram na anlise exclusiva das armas. Ainda no contamos
13 FROTA, Guilherme de Andrea. Quinhentos Anos de Histria do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do
Exrcito Editora, 2000, cf.p.564-565. 14 Presidente do Brasil de 15/11/1914 a 15/11/1918.
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com trabalhos que tenham no servio de sade dos exrcitos o seu objeto de estudos ao
trabalharem com suas fontes.
A questo relativa a esta fora auxiliar, o da sade nas Foras Armadas, no
tem sido tema dos trabalhos acerca do desenvolvimento, reestruturao e modernizao
dos exrcitos que tiveram em sua histria a contratao de misses militares
estrangeiras. Quanto a estas, a Misso Militar Francesa no Brasil reestruturou uma
importante instituio de ensino voltada para a medicina militar, a Escola de Sade do
Exrcito, que fora criada em 1910. E o que diz respeito ao perodo anterior? Aquele que
compreende o incio das comisses de mdicos militares enviadas ao exterior para
estudos e aquisio de equipamentos? Como se encontravam estruturadas na Argentina
e no Brasil as suas foras auxiliares, ou seja, seus servios de sade?
na tentativa de responder a estas questes que nosso trabalho se insere. No
ltimo quarto do XIX, a situao do Cuerpo de Sanidad e do Servio de Sade do
Exrcito brasileiro apresentam suas similaridades e diferenas. Enquanto o primeiro
havia sido criado oficialmente apenas em 1888 o segundo j possua uma pequena
estruturao desde o perodo colonial. Naquele perodo, os exrcitos destes dois pases
estariam vivenciando as consequncias imediatas aps a Guerra do Paraguai (1864-
1870) e o panorama de um dos conflitos mais importantes da poca, na perspectiva
militar, a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871).
Esta ltima guerra foi marcada pela discrepncia entre os nmeros de
mortos e feridos dos exrcitos da Prssia e da Frana. Era a primeira vez que se via uma
inverso de nmero em uma guerra: o nmero de mortos por enfermidades era inferior
quele oriundo das baixas no combate. Tal quadro se deu dentre as tropas prussianas. O
que teria levado a esta nova realidade? A atuao do servio de sade prussiano e a
poltica de vacinao em seus homens. O exrcito francs aprenderia sua lio e
buscaria na reestruturao e reorganizao de seu Service de Sant uma forma de
manter seu contingente em futuros confrontos.
E quanto Argentina e ao Brasil? A experincia na Guerra do Paraguai
traria implicaes para os seus servios de sade? De que forma se encontrava
estruturada?
Um dos pontos para entendermos a situao do servio de sade brasileiro
est na presena de instituies voltadas para a sade de suas tropas e que tem uma
relao direta com a higiene militar, na medida em que so responsveis por pesquisas
na rea da sade militar. Com o final do conflito, o que teramos de mas significativo
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23
para o Servio de Sade do Exrcito brasileiro seria o envio do capito primeiro-
cirurgio Ismael da Rocha em 1890. Retornando em 1892, este oficial mdico havia
frequentado os dois principais institutos de pesquisa na rea mdica na poca: O
Instituto Pasteur e o Instituto Koch. O objetivo do Ministrio da Guerra, logo do Estado,
naquele momento, era estudar tudo o que fosse relativo medicina militar, bem como
os meios curativos de Koch. Esta viagem implicou na criao de uma comisso que
seria responsvel pela organizao e fundao de um laboratrio de microscopia e
bacteriologia no meio militar.
Criado em 1894 com o nome de Laboratrio de Microscopia Clnica e
Bacteriologia, o Laboratrio Militar de Bacteriologia surgiu sob influncia da escola
francesa de Louis Pasteur e foi um dos primeiros15
no mbito da bacteriologia no Brasil.
A finalidade deste laboratrio era propiciar aos mdicos militares as investigaes
microscpicas relativas s necessidades dos servios clnicos hospitalares,
bacteriologia e ao parasitismo 16
. O laboratrio seria ainda responsvel pela pesquisa
sobre a origem, natureza, patogenia, tratamento e profilaxia de doenas endmicas,
epidmicas e infecto-contagiosas, observadas no pas 17
.
Trabalhando em conjunto com o Laboratrio Militar de Bacteriologia
tnhamos o Laboratrio Qumico Farmacutico Militar 18
, que teve sua origem em 1808
sob o nome de Botica Real Militar. Conforme o Decreto n 9.717, de 5 de fevereiro de
1887, sujeito ao Cirurgio-Mr do Exrcito, este laboratrio destinava-se a preparar os
compostos qumicos e farmacuticos necessrios ao Servio de Sade do Exrcito e
fornecer s farmcias militares, ambulncias de foras expedicionrias,
estabelecimentos militares em geral e a outros destinos que forem determinados pelo
15 Os primeiros laboratrios bacteriolgicos instalados no Brasil foram os criados por Domingos Freire no
Rio de Janeiro em 1890 e o Instituto Bacteriolgico de So Paulo em 1892. BENCHIMOL, Jaime Larry.
Domingos Jos Freire e os primrdios da bacteriologia no Brasil. Histria, Cincias, Sade
Manguinhos, Rio de Janeiro, v. II, n.1, p.67-98, mar./jun. 1995; BENCHIMOL, Jaime Larry. Dos
micrbios aos mosquitos. Febre amarela e a revoluo pasteuriana no Brasil. Rio de Janeiro: Ed.
FIOCRUZ/Ed. UFRJ, 1999. 16 MELLO, Luis Eduardo Lethier de; FONSECA, Maria Rachel Fres da. Laboratrio de Microscopia
Clnica e Bacteriologia. In: Dicionrio Histrico Biogrfico das Cincias da Sade no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / FIOCRUZ (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br). Acesso em
setembro de 2008. 17 Idem. 18 Utilizamos o nome utilizado no perodo referente ao recorte cronolgico de nossos estudos. O
Laboratrio Qumico Farmacutico Militar, a partir de 1943 seria denominado de Laboratrio Qumico
Farmacutico do Exrcito.
http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/
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Ministrio da Guerra 19
. Com o fim do Imprio e o advento da Repblica, o
Laboratrio teria que se submeter a outras funes alm das que nos referimos
anteriormente. Conforme Decreto n 7.454 de 8 de julho de 1909, o Laboratrio tinha
como fim proceder a todos os exames e anlises de qumica geral ou aplicada higiene
militar. Este Decreto possibilitava ainda que o Diretor fizesse pedido, s autoridades,
de artigos necessrios ao laboratrio e quais destes artigos na Europa. No ano seguinte,
1910, o Decreto n 2.232 determinou que, em conjunto com o Hospital Central do
Exrcito e Laboratrio Militar de Bacteriologia e Microscopia Clnica, funcionaria
como locais em que seriam realizados os cursos da Escola de Aplicao Mdico Militar.
O Cuerpo de Sanidad Del Ejrcito argentino no apresentaria instituies
deste tipo. Talvez por se tratar de uma fora auxiliar nova no contexto das demais armas
do exrcito, o exrcito argentino naquele perodo ainda discutia a construo de seu
hospital central e, em funo disso, a necessidade de enviar o seu oficial mdico, o
Cirurgio-mor Alberto Costa, Europa para adquirir os instrumentos mais recentes no
campo da cirurgia militar. Se dava ento a Comisin de Saniad. Alm ser responsvel
pela aquisio do instrumental que seria levado para o Hospital Militar Central, Costa e
os demais membros da comisso deveriam estudar os servios sanitrios dos principais
exrcitos europeus Alemanha, Frana, Inglaterra, Itlia, etc.
O que notamos nestes Servios de Sade no perodo delimitado por nossa
pesquisa?
Na virada do sculo, a Argentina recebia uma misso alem para a
modernizao de seus exrcitos. O Brasil, por outro lado, iniciava o sculo XX sem ter
contratado ainda uma misso militar ao contrrio de seus vizinhos Chile e Argentina
e enviando vrias turmas de oficiais para prestarem estgios junto ao exrcito alemo
em 1906, 1908 e 1910. Ao mesmo tempo, os franceses j se encontravam realizando
misses no pas, atravs da Fora Pblica de So Paulo e do Servio de Veterinria do
Exrcito. Apesar da ligao com os alemes em perodo anterior, seria ao lado dos
franceses que nosso exrcito lutaria na 1 Guerra Mundial e junto dos quais teramos
uma misso mdica para auxiliar no atendimento populao civil que era atacada pela
epidemia de gripe espanhola. Na dcada de 1920 os franceses finalmente conquistariam
19 VELLOSO, VernicaPimenta, BRAGA, Joo reas. Botica Real Militar. In: Dicionrio Histrico
Biogrfico das Cincias da Sade no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / FIOCRUZ
(http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br). Acesso em setembro de 2008.
http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/
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sua influncia no exrcito brasileiro e seriam contratados para uma Misso Militar de
instruo. Portanto, a influncia alem e francesa se fez presente durante todo o perodo.
Desta forma, como ressaltamos no incio deste texto, a disputa entre Frana
e Alemanha no se daria apenas no campo das armas militares. Entendemos que o
mesmo se dava nos seus servios de sade. Se estes serviam de modelo para o que
deveria ser um exrcito, na perspectiva dos governos brasileiro e argentino, ento seus
servios de sade no estariam desligados desta lgica. a partir da noo de higiene
militar que trabalharemos para a compreenso e aplicabilidade destes modelos pelos
exrcitos argentino e brasileiro.
O objeto da higiene a proteo e o desenvolvimento da sade. Para a
realidade dos militares, o estudo de higiene da tropa levava em considerao aspectos
como educao fsica militar; exerccios militares e os acidentes provocados em sua
execuo; asseio, fardamento e equipamento do soldado; habitaes; profilaxia de
doenas comuns no exrcito; etc. Nosso objetivo, aqui, no fazer um tratado sobre
higiene, mas perceber o papel desta na reestruturao dos exrcitos da Alemanha e da
Frana e a sua relao com a busca de um modelo de servio de sade para a Argentina
e no Brasil baseados nestes pases. No entanto, ao encontrarmos na higiene militar o
nosso ponto em comum de pesquisa, no podemos deixar de trabalhar com as
influncias que a medicina, fosse ela geral ou militar, daqueles dois pases europeus
tiveram sob os mdicos militares de nossos estudos.
A criao de laboratrios civis e militares voltados para pesquisa de doenas
e desenvolvimento de soros e vacinas estaria, tambm, relacionado com esse processo
de modernizao pautado no modelo dos exrcitos europeus. Neste caso, apontamos o
Instituto Koch fundado em 1891 , como fundamental, na medida em que, ao
contrrio do Instituto Pasteur fundado em 1888 , estava diretamente ligado s
questes de Estado e. 20
Um exemplo de tal afirmativa a criao do Laboratrio de
Higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Vernica Pimenta Velloso, ao
tratar da origem deste laboratrio, percebe que ele resultado das reformas do ensino
mdico na dcada de 1880, inspiradas no modelo germnico de instituies de ensino e
pesquisa. O ensino prtico e livre seria o pilar deste modelo que contrastava com o
20WEINDLING, Paul. Scientific elites and laboratory organisation in fin de
sicle Paris and Berlin. In: Cunningham, A. & Williams, P. (eds.). The
laboratory revolution in medicine. Cambridge University Press., 1992, p. 170-188.
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modelo centralizador francs.21
Sabemos que este instituto passou por vrias
modificaes em sua estrutura e sua nomenclatura at ser dirigido em 1897, j sob a
denominao de Instituto Sanitrio Federal, pela Diretoria Geral de Sade dos Portos.
Contudo, ressaltamos a importncia dos laboratrios nacionais pautados nos modelos de
institutos europeus.
Referindo-se a estes institutos estrangeiros e sua influncia sobre institutos e
laboratrios nacionais, profcuo fazermos algumas observaes acerca dos mais
importantes existentes no momento de criao do Laboratrio de Higiene da Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro (1882), civil, e do Laboratrio de Microscopia Clnica e
Bacteriologia (1894), militar. No final do sculo XIX, especificamente nas dcadas de
1880 e 1890, surgia uma nova forma de laboratrio de pesquisa mdica. Fora do
contexto das universidades, destinavam-se principalmente sade pblica e terapia
hospitalar.22
A fundao destes institutos foram encorajados pela esperana de que a bacteriologia poderia providenciar solues aos
aparentemente intratveis problemas de sade das cidades em
desenvolvimento (burgeoning cities).23
Alm disto, havia tambm uma questo da competio internacional em
funo do surgimento do imperialismo. O prestgio internacional viria na mesma
proporo em que novas descobertas no campo bacteriolgico eram feitas. neste
ambiente competitivo que os Institutos Pasteur e Koch so fundados. O Instituto
Pasteur, fundado em 1888, era uma fundao privada, mas com facilidades e suporte do
Estado e do municpio. Outro ponto o significado do Instituto no momento histrico
de seu pas. O Instituto Pasteur era o smbolo da terceira Repblica, pois combinava
a multiplicidade de interesses pessoais com um ethos nacional.24
Assim, o suporte
21 VELLOSO, Vernica Pimenta. Laboratrio de Higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
In: Dicionrio Histrico Biogrfico das Cincias da Sade no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo
Cruz / FIOCRUZ (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br). Acesso em setembro de 2008. 22 WEINDLING, Paul. Op. Cit. 23 Idem, p. 170. 24 Idem, p. 174. Sobre ethos, O ethos de um povo o tom, o carter e a qualidade de sua vida, seu estilo moral e esttico,
e sua disposio a atitude subjacente em relao a ele mesmo e ao seu mundo que a vida reflete. A viso
de mundo que esse povo tem o quadro que elabora das coisas como elas so na simples realidade, seu
conceito da natureza, de si mesmo, da sociedade. Esse quadro contm suas ideias mais abrangentes sobre
a ordem (GEERTZ, Clifford. A Interpretao das Culturas. Rio de Janeiro: LTC Livros Tcnicos e
Cientficos Editora S.A., 1989, p. 93.
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poltico dado ao instituto demonstra como a higiene era entendida como uma forma
segura de progresso.
Como Pasteur enfatizou, enquanto seus esforos somente
convertiam uma elite para trabalho mdico e cientfico, esta elite podia mudar o destino da nao em seus resultados na economia da nao e
na populao. Ainda que sempre precrio financeiramente, uma
multiplicidade de fontes de renda significavam que os cientistas permaneciam mestres de seus destinos.
25
Enquanto o Instituto Pasteur obtinha seus fundos pautado em pesquisas em
torno da raiva, o Instituto Koch, fundado na Alemanha em 1891, obteve apoio de uma
terapia inovadora para importante doena na poca: a tuberculose. Weindling chama
nossa ateno para o fato de que, em termos cientficos, Pasteur e Koch eram muito
diferentes. Enquanto Pasteur havia realizado seus experimentos em tcnicas de
fermentao e anlises qumicas, Koch trabalhou com material mais sofisticado para a
cultura de bactrias. Um outro ponto a observar que a escola de bacteriologia de
Koch pode ser vista como uma consequncia de uma gerao anterior de pesquisadores
(...). A maior parte das descobertas em bacteriologia entre 1876 e 1900 eram de alemes
ou treinados por pesquisadores alemes.26
Os institutos Pasteur e Koch tiveram contato com setores militares, mas
estes desempenharam papis diferenciados em seus quadros. Enquanto o instituto
francs apresentava um potencial para desenvolver contato com autoridades militares
em funo de sua localizao Paris , o Instituto Koch, por manter sua rgida estrutura
hierrquica, apresentava como membros de sua equipe vrios oficiais-mdicos militares.
Segundo Weindling, Havia uma maior hierarquia, uniformidade e orientao do Estado
e envolvimento militar que o Instituto Pasteur.27
Por fim, no que diz respeito ao
perodo entreguerras, o autor afirma que mesmo o Instituto Koch crescendo enquanto
centro nacional de pesquisas, este acabou sucumbindo ao nazismo.
Em um artigo intitulado Higiene Militar e Medicina Militar, Monteiro
Sampaio Capito-mdico instrutor da Escola de Sade do Exrcito publicado em
1942, inicia seu texto se referindo a uma conferncia sobre medicina militar proferida
na Universidade de Viena, 1938, por um general mdico, Dr. Handloser. Na
comunicao deste mdico, agradeceu a presena de mdicos civis que atenderam ao
25 WEINDLING, Paul. Op. cit, p.174. 26 WEINDLING, Paul. Op. cit, p. 176. 27 Idem, p. 184.
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chamado da medicina militar e que esta [a medicina militar] representava para eles, de
um modo geral, uma terra virgem e que lhe era uma honra e um prazer gui-los atravs
deste novo territrio, apoiado pelos conhecimentos e resultados das pesquisas e
experincias dos antigos e modernos tempos, bem como sua experincia prpria de
trinta anos de mdico militar 28
. H duas observaes pertinentes a fazermos neste
documento. A primeira diz respeito ao lugar em que ocorreu esta Conferncia. Em
1938, no havia se iniciado a 2 Guerra Mundial, mas Viena era capital de um pas que,
naquele momento vivia sob um regime fascista: ustria. Um segundo aspecto a
considerarmos o mdico responsvel por esta conferncia. Dr. Handloser era general
mdico do Exrcito alemo e sob as ordens de seu Fhrer, Hitler, no ano da
Conferncia, Generaloberstabsarzt Dr. Handloser era chefe das Foras Armadas do
Servio Mdico alemo 29
. Ao longo do artigo, o Capito-mdico Monteiro Sampaio faz
referncias a proposies deste mdico e forma como este define a medicina militar.
Cabe destacar:
As exigncias do servio militar (exerccios fatigantes,
marcha, emprego das armas, acampamento, etc.) pem prova de sua resistncia orgnica que deve ser objeto de meticulosa observao por
parte do mdico de tropa. Essa observao meticulosa, esse estudo por
assim dizer experimental do prprio cerne da raa, um dos grandes benefcios feitos nacionalidade pelo Exrcito, que o caminho onde
os seus filhos se enrijam e enobrecem.
Tudo o que mediata ou imediatamente leve a este fim, higiene, inspeo mdica, profilaxia e tratamento das doenas,
educao fsica e educao mora, do domnio da medicina militar.
Incumbe-lhe, diz o Dr. Handloser (...), especialmente, participar de
todas as medidas sociais e poltico-demogrficas que elevam o poder defensivo, pesquisar as causas das incapacidades para o servio
militar, contribuindo para afast-las , e finalmente colaborar em todas
as medidas de educao fsica que desenvolvem e fortificam a juventude, que o Exrcito de amanh.
[...]
Se assim , porm, se a medicina militar no seu mais amplo
conceito de conservao, desenvolvimento e aperfeioamento da raa tarefa honrosa de todos os mdicos, h contudo, um setor especial
que constitui por excelncia a esfera de ao do mdico militar. E
neste setor ocupa o primeiro lugar a higiene militar. Ela foi em todos os tempos, escreve Handloser, e tambm ainda hoje, um domnio
especial do mdico militar. Dela no se ocupam apenas os
especialistas, mas normalmente o mdico de tropa e mesmo o mdico militar, em geral deve dar-lhe o maior apreo.
28 SAMPAIO, Monteiro. Higiene Militar e Medicina Militar. Revista Mdico-Cirrgica do Brasil, Ano
L, n 5, Maio-1942, p. 385-397. 29 Nazi Conspiracy and Aggression. Volume VIII. USGPO, Washington, 1946/p.672-678
(http://www.ess.uwe.ac.uk/genocide/keitel4.htm). Acesso em outubro de 2008.
http://www.ess.uwe.ac.uk/genocide/keitel4.htm
-
29
[...]
Na higiene militar resumem-se os deveres mais
fundamentais e mais elevados da medicina militar. Por isso o nosso Regulamento para o Servio de Sade em tempo de paz (Bol. Do Ex.
n. 42, 31-7-36) prescreve em primeiro lugar: o Servio de Sade do
Exrcito tem por objeto: a) aplicao dos preceitos de higiene conservao da sade da tropa...
Dever-se-ia completar este mandamento com a noo do
desenvolvimento e aperfeioamento da raa, que , sem dvida, a
misso social do Exrcito e que no se pode realizar sem o concurso da medicina militar.
30
O documento acima, ainda que de um perodo posterior ao de nosso recorte,
apenas uma amostra do que entendemos por influncia de correntes cientficas de
potncias europeias, no nosso caso alemes e franceses, no nosso Servio de Sade.
HISTORIOGRAFIA
Sobre a bibliografia pertinente ao nosso tema, nos deparamos com grandes
lacunas. A histria do servio de sade e o papel das correntes cientficas internacionais
devem ser analisados de acordo com obras especficas de temas que se relacionam para
a elaborao de nosso trabalho.
A histria do Servio de Sade do Exrcito trabalhada especificamente por
dois autores: Gilberto de Medeiros Mitchell e Arthur Lobo da Silva. Gilberto Mitchell,
mdico das Foras Armadas, ao escrever sobre Histria do Servio de Sade do
Exrcito produziu uma obra de dois volumes em que identificamos as origens do
Servio de Sade, seu histrico, sua experincia em conflitos e, alm disso, a biografia
de figuras importantes para a histria da medicina militar. Por ser praticamente um
manual de referncias do Servio de Sade, esta produo de Mitchell no nos permite
espaos para crticas quanto a formulaes tericas. Trata-se de um bom trabalho de
referncia voltado para esclarecimentos de pequenas dvidas acerca das aes do nosso
Servio de Sade Militar.
Arthur Lobo da Silva, com O Servio de Sade do Exrcito Brasileiro,
preocupa-se com, conforme dito em seu subttulo, uma histria evolutiva desde os seus
primrdios at os tempos atuais. Basicamente no mesmo modelo do trabalho de
30 SAMPAIO, Monteiro. Op. cit., p. 386.
-
30
Mitchell, a obra de Lobo mais concisa, sendo apresentada em apenas um volume. O
que destacamos como ponto interessante em seu trabalho o captulo terceiro destinado
aos livros, jornais e revistas e a influncia das suas publicaes no meio militar. Um dos
pontos importantes para nosso trabalho, nesse ponto da obra de Arthur Lobo, a
importncia atribuda aos peridicos mdicos destinados aos militares e um histrico
resumido das principais publicaes mdicas voltadas para o meio militar e, em alguns
casos, como A Medicina Militar, a mudana de nomes pela qual passou a revista.
A Misso Militar Francesa trabalhada de forma detalhada por Alfredo
Souto Malan. Segundo Misso Militar Francesa de Instruo junto ao Exrcito
Brasileiro, o general apresenta de forma didtica como se deu a negociao entre Brasil
e Frana visando a formao de uma Misso. Alfredo Souto Malan afirma que h vrios
tipos de misso e que, tratando-se da Misso Militar Francesa que veio ao Brasil, ela
classificada como uma misso de instruo:
A MISSO DE INSTRUO organizada num pas, por solicitao de outro para neste ltimo e mediante um acordo ou
contrato firmado entre os dois governos, prestar assistncia e
transmitir ensinamentos visando, atravs de organizao adequada, doutrina conveniente e eficiente preparo, tudo devidamente adaptado
s finalidades conjunturais e aos recursos disponveis, a tornar o mais
objetivo possvel, o organismo blico do pas assistido. 31
Malan aponta para quatro fases da Misso Francesa: 1920-1924; 1925-1930,
1930-1933 e 1934-1940. Contudo, devemos lembrar que outras misses francesas se
deram no Brasil, como destacam Pays e Saliou, e estavam voltadas para outras questes:
Do final do final do sculo XIX at a Segunda Guerra Mundial, as misses francesas no Brasil embora tenham sido misses
especficas de cooperao em um pas independente j emergindo e
com importantes meios financeiros.
[...]
Estas misses foram realmente misses de cooperao no sentido completo da palavra em que cada parte trouxe para a outra o
que eles no dominavam.32
31 MALAN, Alfredo Souto. Misso Militar Francesa de Instruo Junto ao Exrcito Brasileiro. Rio de
Janeiro: Biblioteca do Exrcito, 1988, p. 10. 32 PAYS, J. F., SALIOU, P. "A comparative approach to the French medical missions in Brazil and in
sub-Saharian Africa before the Second World War. Parassitologia 47, 2005, p.366.
-
31
O que se nota nestes estudos que os pesquisadores franceses vinham ao
Brasil e estudavam doenas endo-epidmicas que, ao mesmo tempo, eram notadas nas
colnias africanas sob o julgo francs. A misso Marchoux33
de 1903 ao Rio de Janeiro,
por exemplo, resultou em tentativas para implementar as tcnicas de combate febre
amarela desenvolvidas naquela cidade em Dakar e Senegal. Assim, Salyou e Pays
concluem que estas misses ao Brasil foram parte da batalha francesa contra as doenas
tropicais existentes ou vivenciadas em suas colnias.
A Misso Militar alem na Argentina tem no trabalho de Fernando Garca
Molina a sua produo mais recente e mais completa. Em seu La Prehistoria del Poder
Militar en La Argentina. La profesionalizacin, el modelo alemn y la decadencia
del rgimen oligrquico, Molina se pautou nas seguintes questes para o
desenvolvimento de sua anlise: que funo desempenhou o modelo militar alemo no
processo de profissionalizao iniciado pelo presidente Julio A Roca no final do sculo
XX? Qual a intensidade daquela influncia que permita concluir que
profissionalizao e germanizao terminaram por significar o mesmo? Que
impacto produziram ambas na conformao do poder militar da Argentina?34
Esta discusso em torno da profissionalizao se mostra muito profcua para
a compreenso do que se busca quanto ao uso deste termo e, principalmente, sua relao
ou no com um processo de modernizao. Molina compartilha do mesmo ponto de
vista de Huntington quanto definio de profissionalizao das Foras Armadas, ou
seja, sua compreenso sobre o termo profissionalismo. Enquanto o primeiro define a
profissionalizao como uma aquisio de uma capacidade especfica ou, dentre outros,
a formao de um esprito de corpo, Huntington se volta para este processo de
profissionalizao e a relao direta deste que vir a ser um profissional militar com a
sociedade. De acordo com Samuel Huntington,
As instituies militares de qualquer sociedade so moldadas por duas foras: um imperativo funcional, que se origina das
ameaas segurana da sociedade, e um imperativo societrio,
proveniente das foras sociais, das ideologias e das instituies dominantes dentro dessa mesma sociedade. Instituies militares que
s refletem valores sociais podem ser incapazes de desempenhar com
33 Sobre a Misso Marchoux, ver BENCHIMOL, Jaime & S, Magali Romero. Insetos, humanos e
doenas: Adolpho Lutz e a medicina tropical. In: BENCHIMOL, J. & S, M.R. Adolpho Lutz. Obra
Completa. Febre Amarela, Malria e Protozoologia, volume 2, nmero 1, 2005, p. 43-245. 34 MOLINA, Fernando Garca. La Prehistoria del Poder Militar en La Argentina. La
profesionalizacin, el modelo alemn y la decadencia del rgimen oligrquico. Buenos Aires:
EUDEBA, 2010.
-
32
eficincia sua funo especfica. Por outro lado, poder ser impossvel
conter dentro de uma sociedade instituies militares moldadas
exclusivamente por imperativos funcionais. na interao dessas duas foras que est o n do problema das relaes entre civis e militares.
O grau em que elas entram em conflito depende da intensidade das
exigncias de segurana e da natureza e fora do padro de valores da sociedade.
35
No que diz respeito higiene militar, tratada de forma sucinta em nossa
apresentao, o trabalho de Murillo de Campos fundamental. Mdico do Servio de
Sade do Exrcito, em Elementos de Hygiene Militar o autor procura deixar claro que a
questo da higiene militar um campo de estudos da higiene voltado para o cotidiano
da caserna. Tratando de elementos como raa e a importncia do servio militar, ao
considerar que A caserna para o soldado uma escola de asseio e de hygiene 36
. Os
modelos franceses e alemes de elementos de higiene (profilaxia, asseio da tropa,
fardamento, educao fsica, etc) so vistos a todo instante. A leitura atenta nos leva a
perceber que, segundo o autor, a cultura fsica, ou seja, a educao fsica do Exrcito
Nacional era feito pautado no modelo francs, j que seguia o modelo da escola de
Educao Fsica de Joinville-le-Pont37
. importante tratarmos de questes como essa,
na medida em que a instruo fsica militar compreende parte educativa e adaptao s
diversas especialidades.
Sob a perspectiva de uma anlise comparada entre as misses militares que
se fizeram presentes na Amrica do Sul, temos os trabalhos de Alain Rouqui e seu
livro O Estado Militar na Amrica Latina,38
e Frederick Nunn com Yesterdays
Soldiers.39
Na obra citada, Rouqui tem seu estudo baseado na fisiologia do poder
militar, atravs de seus mecanismos, de seu funcionamento e de suas funes40
e tem
como proposta de anlise uma leitura do que seria este poder militar e sua diversidade.
Sua abordagem comparativa se d como uma proposta de construo da problemtica,
35 HUNTINGTON, Samuel P. O Soldado e o Estado. Teoria Poltica e das Relaes entre Civis e
Militares. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito Editora, 1996, p. 20-21. 36 CAMPOS, Murillo de. Elementos de Higiene Militar. Rio de Janeiro: Empreza Graphica Editora
Paulo, Pongeti & Cia, 1927, p. 160. 37 Escola de Educao Fsica que ficou conhecida com a chegada da Misso Militar Francesa. Mais
detalhes, ver: CORRA, Denise A. Ensinar e aprender educao fsica na era Vargas: lembranas de velhos professores. In: VI EDUCERE - CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAO - PUCPR -
PRAXIS, 2006, Curitiba.
Anais... Curitiba: PUCPR, 2006. v. 1. (ISBN 85-7292-166-4). 38 ROUQUI, Alain. O Estado Militar na Amrica Latina. So Paulo: Editora Alfa-Omega, 1984. 39 NUNN, Frederick. Yesterdays Soldiers. Lincoln: University of Nebraska Press, 1983. 40 ROUQUI, 1984, cf.p.XXII-XXIII.
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33
que entende no Exrcito e no Estado da Amrica Latina duas realidades
consubstanciadas. Do ponto de vista do autor, a nica perspectiva realmente adaptada
s realidades latino-americanas.41
Frederick Nunn, antes de realizar este trabalho, publicou duas obras acerca
das relaes entre civis e militares no Chile. Enquanto a primeira destinava-se poltica
chilena entre 1920-1931 e a discusso em torno de uma ao poltico-militar baseada no
ethos profissional, a segunda tambm tratava das relaes entre civis e militares, mas
com um intervalo de tempo maior, entre 1810 e 1973. Neste, Nunn percebeu que o
pensamento militar chileno entre 1920 e 1970 pouco havia mudado, permanecendo o
mesmo. Foi ento que algumas questes surgiram para o autor e todas elas relacionadas
com as experincias militares vividas por suas irms, no caso: Argentina, Brasil e
Peru. Era iniciado o trabalho do livro em questo, Yesterdays Soldiers.
Como o autor ressalta, meio sculo no representou praticamente mudanas
no pensamento militar, mas o perodo em questo em seu Yesterdays Soldiers aquele
compreendido entre 1890 e 1940. Embora ele esteja convencido de que a essncia do
pensamento militar de 1920 no seja to diferente daquele de 1970.
Entendemos que, talvez, esta essncia do pensamento exista mesmo no caso
dos demais pases Argentina, Peru e Chile , mas o Brasil no se enquadraria nesta
afirmao. Isso tudo em funo da forte influncia do pensamento norte-americano aps
a participao do Brasil na 2 Guerra mundial e a criao da ESG nos modelos da
National War College dos EUA. Talvez, tal afirmao possa se dar na mesma
perspeciva adotada por Edmundo Campos Coelho e sua teorizao em torno da
Doutrina de Segurana Nacional.
O autor pretende demonstrar que o pensamento e a autopercepo militares
pouco mudaram. Para Nunn, Estes so a prpria essncia do profissionalismo militar, o
estado ou condio de ser profissional no sentido do dicionrio. Ao debruar-se sobre
as literaturas francesa e alem sobre o tema, tirou suas primeiras concluses. Uma delas
a de que os sul americanos copiavam os europeus de diversas formas. Alm disso,
Nunn afirma que eles passaram a pensar como franceses e alemes e a se perceberem da
mesma forma. Nesta empreitada, a figura dos missionrios militares seria
fundamental. Ao longo de seus captulos, Nunn identifica a precariedade dos exrcitos
sul americanos e como estes missionrios, ou seja, aqueles instrutores militares alemes
41 Ibidem, p.XXIV.
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34
e franceses que eram enviados para a Amrica do Sul, eram responsveis pelo
desenvolvimento da influncia de seus exrcitos na regio.
A questo da higiene nos remete s discusses em torno dos estudos sobre
guerra, medicina, as relaes entre estas duas e, alm disso, sade. Roger Cooter, em
seu artigo War and Modern Medicine42
, relaciona o cotidiano de guerra com suas
implicaes no campo mdico e aponta para o descaso na histria de medicina quanto
relao da medicina com a guerra. Segundo Cooter, h trs geraes de historiadores
voltados para a histria da medicina:
1. Primeira gerao preocupada com aspectos biogrficos de grandes
personalidades mdicas;
2. Segunda gerao, em que o autor inclui Rosen, tambm no se preocupa
com o estudo da importncia da guerra para a medicina.
3. A gerao atual, que evita tocar na questo em funo de um assunto que
gostariam de evitar: Vietn.43
Esta classificao do autor a respeito de uma historiografia voltada para a
histria da medicina aponta para os vazios a serem preenchidos por trabalhos voltados
para a relao entre as guerras e o desenvolvimento, ou no, da medicina. Um dos
autores mais importantes da histria da medicina, George Rosen, sequer toca na relao
entre guerra e medicina, chegando ao ponto de nem mencionar o termo guerra em
suas obras. Quanto questo de desenvolvimento/modernizao, devemos lembrar o
que destaca Cooter, ao afirmar que com a primeira "Grande Guerra, as prticas de
combate passaram por um processo tecnologicamente revolucionrio e que neste mesmo
perodo a organizao da medicina militar foi significativamente reformada.44
Contudo, devemos ressaltar que esse desenvolvimento, esse processo de modernizao e
de reforma devem ser vistos a partir da perspectiva da medicina militar como produto e
agente da poltica e da economia de seu tempo.
Finalmente, no que diz respeito s doenas, destacamos o trabalho de dois
importantes autores: George Rosen e Mark Harrison.
42 COOTER, Roger. War and modern medicine. In: BYNUM, W.F. and PORTER, Roy. Companion
Encyclopedia of the History of Medicine. 2vols, Routledge, London, 1993, p. 1536-1573 43 COOTER, Roger. Op. cit., cf. p. 1537-1538. 44 Idem, cf. p. 1540.
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35
George Rosen, que fora criticado por Cooter por no trabalhar as relaes
entre guerra e histria da medicina, em seu Histria da Sade Pblica, tem como
objeto de estudos a sade pblica e utiliza em seus escritos a noo de que a natureza
dos problemas de sade e do modo de enfrent-los em cada sociedade decorrem de
condies polticas, econmicas e sociais, assim como dos conhecimentos disponveis e
das concepes de sade e doena nela prevalentes. da interpretao dos problemas de
sade luz destas condies objetivas de vida que, segundo o autor, surge a teoria capaz
de dar inteligibilidade e significado aos fatos de que se ocupa a histria da medicina.45
Uma das alternativas metodolgicas em que o autor se baseia a histria da doena:
Na condio de objeto das prticas de sade (...) a doena configura a base sobre a qual se estruturam as relaes entre, de um
lado, necessidades socialmente postas e, de outro lado, instrumentos
para sua satisfao. A doena permite, dessa forma, distinguir com mais acurcia que a tcnica, isoladamente, os determinantes e os
valores que explicam as diferentes conformaes dessas prticas ao
longo da histria.
[...]
... a histria da doena pode ser vista como mais do que o estudo de entidades particulares, independentes; ela se torna o
delineamento de padres de adoecimento caractersticos de certas
pocas e sociedades assim como dos fatores e processos que conduzem s suas transformaes no tempo e no espao.
46
Mark Harrison, com seu trabalho Disease and the Modern World, apresenta
um captulo que nos interessa de forma especial. Trata-se do captulo sete, sob o ttulo
Disease, War and Modernity. Assim como Cooter j havia demonstrado no texto
citado por ns anteriormente, Harrison volta a afirmar que o nmero de mortos por
doena na 1 Guerra Mundial em relao ao de mortos por ferimentos em combate
apresentou uma funo inversa. Isto se daria em parte porque as armas utilizadas nos
confrontos tm um poder destrutivo maior do que aquelas usadas em outras guerras. Isto
um fator que no deve ser esquecido, mas o controle de doenas, a partir de medidas
sanitrias, se deu de forma mais efetiva nos teatros de operaes da 1 Guerra Mundial.
45 ROSEN, George. Uma Histria da Sade Pblica. So Paulo: Hucitec: Editora da Universidade
Estadual Paulista; Rio de Janeiro: Associao Brasileira de Ps-Graduao em Sade Coletiva, 1994, p.
20. 46 ROSEN apud AYRES, Jos Ricardo de C. M. Ibidem, p.20.
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36
OBJETIVOS, METODOLOGIA E FONTES
Temos na higiene militar o nosso principal eixo norteador, no entanto, no
nos limitamos apenas anlise de elementos da higiene. Nossa proposta de trabalho de
pesquisa e confeco de tese diz respeito ao exame conjunto dos seguintes eixos
temticos:
I. Modernizao: a partir do desenvolvimento tcnico e cientfico dos
exrcitos dos chamados pases centrais, no nosso caso especfico
os exrcitos da Frana e da Alemanha, os exrcitos dos pases
perifricos buscam a modernizao de sua estrutura militar. Tal
processo apresenta implicaes na estruturao do Servio de Sade,
nosso objeto de pesquisa.
II. Comparao: a importao de tecnologias dos exrcitos europeus
no se deu apenas no Brasil, sendo uma caracterstica do mesmo
processo pelos demais pases perifricos da Amrica Latina. Por
razes histricas, trabalharemos com o Cuerpo de Sanidad do
exrcito argentino.
I. Modernizao
Nossa pesquisa ter como foco o carter modernizador das reformas
empreendidas pelos oficiais oriundos das comisses militares enviadas ao estrangeiro
as de Alberto da Costa e Ismael da Rocha e por aquelas que estiveram em territrio
nacional como misses de instruo tais quais as misses de mdicos veterinrios
franceses na Escola de Veterinria do Exrcito e a misso de instruo para a Fora
Pblica do Estado de So Paulo, hoje Polcia Militar do Estado de So Paulo. Estas
misses militares sero entendidas a partir das necessidades colocadas pelo Ministro da
Guerra do perodo, o marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, bem como pelas relaes
estabelecidas pelo diplomata brasileiro responsvel pela visibilidade do Brasil no
exterior, o Baro do Rio Branco.
Se a modernizao vista como um ponto fundamental para a concepo de
nossa tese, no processo de desenvolvimento tcnico e cientfico que teremos a espinha
dorsal de nosso texto. No nos deteremos apenas nos aspectos relativos higiene
-
37
militar, visto que a relativa falta de pesquisa no campo de estudos da medicina militar e
do seu processo de desenvolvimento devem ser abordados em nosso trabalho. Assim,
no podemos desligar o processo de desenvolvimento tcnico-cientfico do Exrcito do
seu Servio de Sade, uma vez que, na concepo de determinadas correntes, o
contingente de suma importncia para a construo de um Exrcito forte.
Para muitos dos oficiais que estiveram presentes nas misses estrangeiras de
instruo, um dos aspectos mais significativos desta modernizao das Foras Armadas
dizia respeito profissionalizao dos militares. Assim, a necessidade de
reestruturao/reforma do Servio de Sade e a criao dos diversos institutos e
laboratrios no est desconectada deste processo modernizador do Exrcito nacional.
Portanto, estudar a modernizao deste setor entender tambm o seu papel, sua
importncia, na gnese do processo e entender a mesma como parte da
institucionalizao cientfica do pas.47
Sendo assim, a partir do desenvolvimento tcnico-cientfico dos exrcitos
alemes e franceses, da necessidade de criar zonas de influncia e da busca dos
exrcitos perifricos de acompanharem tal processo evolutivo que construiremos
nosso trabalho. O autor Alain Rouqui48
corrobora este ponto ao afirmar que atravs de
servios de reorganizao do aparelho defensivo, Frana e Alemanha conseguiram
aumentar sua influncia diplomtica e comercial. De forma mais objetiva, os saberes
mdicos e suas prticas estaro ligados lgica de tal desenvolvimento e seus reflexos
no Servio de Sade sero analisados em nossa pesquisa.
II. Comparao
Como destacado no item anterior, a busca pela adequao ao processo
evolutivo dos exrcitos dos pases centrais, ou europeus, se deu em diversos pases da
periferia, ou seja, no europeus. Na Amrica Latina, vrios pases tambm contrataram
misses estrangeiras para modernizarem seus exrcitos, mas destacamos em especial
dois pases: Argentina e Brasil.49
Nossa proposta entender as influncias dos exrcitos
47 No trataremos aqui do processo de institucionalizao da cincia, mas acreditamos que este pode ser
um dos vrios caminhos que se abriro para pesquisas futuras. 48 ROUQUI, Alain. O Estado Militar na Amrica Latina. So Paulo: Editora Alfa-Omega, 1984. 49 O estudo do servio de sade do exrcito chileno completaria o ABC da Amrica do Sul, mas
infelizmente no tivemos tempo para promover um projeto desta dimenso.
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38
franceses e alemes no processo de modernizao do Exrcito nacional. Desta forma,
no deixaremos de abordar as diferentes misses militares oriundas destes dois centros.
Neste contexto que temos a importncia destes outros pases da Amrica
do Sul. Assim, notamos que, para compreender o processo em curso no exrcito
brasileiros, devemos nos ocupar das preocupaes que cercavam os militares quanto ao
desenvolvimento das Foras Armadas de seus vizinhos fala marcada no destaque do
adido militar brasileiro se referindo aos oficiais argentinos formados sob influncia
alem. Alm disso, devemos atentar para as caractersticas comuns s misses
empreendidas nestes pases. Desta forma, poderemos formular generalizaes que
demonstrar-se-o fecundas para o campo historiogrfico. Partimos do pressuposto de
que uma tese de doutoramento deve ser composta contedos significativos e que
permitam desdobramentos futuros. Consequentemente, o que pretendemos aqui dar
incio a um tipo de trabalho que, como vimos em nossos estudos, ainda carece de
ateno na historiografia.
* * *
O nosso recorte cronolgico diz respeito a dois momentos: a formao do
Cuerpo de Sanidad do Exrcito argentino em 1888 e a mudana no cenrio poltico e
militar de Argentina e Brasil, ou seja, suas sociedades aps os movimentos de 1930.
Metodologia
Ao trabalharmos com as misses militares e a busca por parte dos pases
perifricos para se adequarem ao processo evolutivo das Foras Armadas dos pases
centrais percebemos a necessidade de um mtodo que contemplasse as diferenas e
semelhanas destas realidades. Desta forma, notamos a aplicao do mtodo
comparativo a configurao mais adequada para nossa tarefa de pesquisa e busca de
fontes, bem como no processo de construo de nossos argumentos.
Segundo Ciro Flamarion Cardoso50
e Hctor Prez Brignoli,
50 CARDOSO, Ciro Flamarion e BRIGNOLI, Hctor Prez. O mtodo comparativo na Histria. In:
______. Os Mtodos da Histria. Rio de Janeiro: Editora Graal, 1979, p. 409-420.
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39
aplicar o mtodo comparativo no quadro das cincias humanas consiste (...)
em buscar, para explic-las, as semelhanas e as diferenas que apresentam
duas sries de natureza anloga, tomadas de meios sociais distintos.51
Pelo exposto nesta citao, concordamos que as experincias militares
compem as sries de natureza anloga, sendo possvel ento o estudo comparativo
destes pases e a aplicao deste mtodo para a anlise de nossas fo