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Mulheres camponesas rompendo o silêncio e lutando pela não violência

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Cartilha que propoe debate sobre a violência contra as mulheres do Movimento de Mulheres Camponesas

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Page 1: cartilha_violencia - MMC Brasil

1Movimento de Mulheres Camponesas

Mulheres camponesasrompendo o silêncio

e lutando pela não violência

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Rompendo o silêncio e lutando pela não violência2

Publicação doMovimento de Mulheres Camponesas - MMC Brasil

Janeiro de 2004

Elaboração:Sirlei Antoninha Kroth GasparetoJustina Inês CimaZenaide ColletVanderléia L. P. Daron

Desenhos:Márcia Aliprandini

Diagramação:MDA Comunicação

Apoio Financeiro:SPM/PR - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheresda Presidência da República

Impressão:Gráfica Coringa

Secretaria Nacional do Movimento de Mulheres CamponesasRua dos Andradas, 2832 - Bairro Boqueirão - 99010–035 Passo Fundo/RSFone/Fax: (54) 312 9683E-mail: [email protected]

Page 3: cartilha_violencia - MMC Brasil

3Movimento de Mulheres Camponesas

Amigas e companheirasO Movimento de Mulheres Camponesas – MMC está apre-

sentando a cartilha Mulheres camponesas rompendo o si-lêncio e lutando pela não violência. Este material tem oobjetivo de contribuir nos grupos de base do MMC e outrasorganizações no debate das raízes da violência praticada contraas mulheres.

Entendemos que para superar a violência é necessário com-preender suas causas, romper com o silêncio e nos organizar-mos para combatê-la de forma coletiva buscando construir umanova sociedade com igualdade de direitos.

A cartilha esta organizada em três encontros:

1º Encontro: A sociedade capitalista e patriarcalaprofunda a violência

2º Encontro: A violência é uma construção social

3º Encontro: O sonho do ser humano viver bem efeliz é possível

É importante que as dirigentes convidem todas as mulhe-res da comunidade, prepararem com antecedência os encon-tros a partir da realidade de cada grupo de base, organizem umlocal bem acolhedor e providenciem os materiais e símbolos.

Desejamos um bom estudo e com isto estaremosfortalecendo a luta em defesa da vida, todos os dias!

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5Movimento de Mulheres Camponesas

Ambiente: Escrever em um cartaz a frase: A sociedade capi-talista e patriarcal aprofunda a violência. Utilizar comosímbolo a bandeira do MMC.

Coordenadora: Com muita alegria quero desejar as boas vin-das a todas vocês que aceitaram o convite para participar denossos encontros, que irão tratar sobre as causas da violênciacontra a mulher camponesa. Sejam bem vindas e muito obri-gada pela presença. Vamos iniciar cantando.

Canto: Sem medo de ser mulher

Coordenadora: Vamos ler juntas a frase deste cartaz:

A sociedade capitalista e patriarcal aprofunda a violência.

A violência contra as mulheres é uma prática muito antiga nahumanidade. Contudo, as diferentes formas de violência quesão praticadas contra as mulheres não podem ser vistas comosimples atos culturais. São crimes que precisam ser denuncia-dos, condenados e combatidos com urgência.Para iniciar nossa conversa sobre as causas da violência con-tra a mulher camponesa, precisamos compreender que a for-ma como se organiza a sociedade capitalista e patriarcal

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aprofunda a violência. O que vocês pensam dessa forma, decomo a sociedade capitalista está organizada?

(Deixar falar e depois pedir para olhar os desenhos)

Coordenadora: Agora vamos olhar os desenhos e cada umapode dizer o que está vendo.Os desenhos mostram que nós vivemos numa sociedade di-vidida em classes sociais. Mesmo com todo o avanço damodernidade, das técnicas, dos meios de produção, da co-municação entre outros, a vida da população em geral, émuito desigual.Como podemos observar nos desenhos acima, de um lado,temos um pequeno grupo - os poderosos que são donos econtrolam as riquezas, como: a terra, os bancos, os meios decomunicação social, as indústrias, as máquinas, enfim os meiosde produção. Por outro lado, temos a grande maioria da po-pulação – os trabalhadores e trabalhadoras que vendem aforça de trabalho e vivem em condições desumanas porqueaquilo que eles recebem é injusto diante daquilo que elesproduzem com o seu trabalho.

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7Movimento de Mulheres Camponesas

Leitora 1: Este jeito de organizar a sociedade onde uns possu-em os meios de produção e ganham muito dinheiro e outrosvendem a força de trabalho e são explorados, se chama soci-edade capitalista. Por que é uma sociedade que explora aforça de trabalho, esse modelo de sociedade domina, explorae aliena a classe trabalhadora, criando dependência das pes-soas aos poderosos, principalmente através do patrão.E mais que isso, a grande maioria das pessoas pensam quetudo isso é normal, que sempre foi assim e que não existeoutras formas das pessoas se organizarem para viver numasociedade diferente, igualitária e justa. Muitas pessoas traba-lhadoras se contentam com migalhas que lhes são oferecidasem forma de emprego, integrações das famílias agricultorasàs agroindústrias, salário, preços injustos dos produtos, altosimpostos, que por vezes origina as brigas criando inimizadesentre vizinhos e divisões entre os pobres.

A terra dos homens pensada em pirâmideOs poucos de cima esmagam a baseOs poucos de cima esmagam a base

Ó povo dos pobres,povo dominado que fazes aíCom ar tão parado.O mundo dos homenstem que ser mudadolevanta-te povoNão fiques parado.

PirâmidePirâmideMusica Angolana

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Leitora 2: Outra questão importante que devemos pensar éque nós vivemos numa sociedade patriarcal, aonde a visão demundo criada é de que “o homem tem mais valor que a mu-lher”. O homem recebe mais que a mulher por trabalho igual.O homem manda e a mulher obedece. Os trabalhos da casa, ocuidado dos filhos, idosos, doentes, portadores de deficiênciassão, na maioria das vezes, tarefas de mulher. Além disso, entrea mulher branca e a mulher negra há discriminação e racismo.Esta sociedade onde o homem é mais valorizado que a mu-lher, chamamos de sociedade patriarcal. Nesta forma patriarcalda sociedade ser também a grande maioria das pessoas aca-bam pensando que tudo isso é normal, que sempre foi assim eque não existe outras formas das pessoas se organizarem paraviver numa sociedade diferente, igualitária e justa.

Leitora 1: Este modelo de sociedade capitalista e patriarcalaprofunda a violência. Dados mostram que 23% das mulhe-res brasileiras sofrem a violência doméstica. Em se tratandodas mulheres camponesas a violência se manifesta de váriasformas, como: 32,18% dasentrevistadas revelaram quejá sentiram-se humilhada porexercer a profissão de traba-lhadora rural, chamando-asde burra, relachada, colonagrossa, entre outros. 44%das entrevistadas disseramque já foram enganadas nosdireitos. A pesquisa da contade que em Santa Catarina nomeio rural, 48% das entrevis-tadas conhecem amigas quesão espancadas.

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9Movimento de Mulheres Camponesas

Leitora 2: Pois é companheira! Tudo isto que conversamos éviolência. Recebemos uma educação, um modo de ser, umacultura de violência que reforça o capitalismo. Assim a socie-dade passa a legitimar, consentir e transmitir violência comoatitudes comuns, isto quer dizer, como algo normal, entre osseres humanos. Desta forma, a sociedade capitalista se repro-duz e se fortalece.

Leitora 1: Nós do Movimento de Mulheres Camponesas con-denamos o sistema capitalista patriarcal porque é um sistemabaseado na desigualdade, na exploração, nos privilégios depoucos, nas leis, nas normas e nas políticas sociais que fun-damentam a inferioridade da mulher e a superioridade doshomens. Este jeito de organizar e educar a sociedade é a raizda violência. E nós condenamos esta sociedade capitalista epatriarcal porque estamos convencidas de que, como sereshumanos dotados de capacidade criadora podemos criar ou-tros modos de vida onde as relações sociais são baseadas naigualdade, no direito e na justiça.

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Leitora 2: O capitalismo e o patriarcado só se mantém usandoda exploração e da violência contra os mais fracos. Entre elesas mulheres são as que mais sofrem, pois são herdeiras evítimas de uma cultura milenar de violência e dominação.Entretanto, quando estudamos, quando nós nos organizamose debatemos nossa vida em grupos como este encontro dehoje, quando lutamos pelos direitos já estamos construindooutras possibilidades de vida digna.

Para conversar:

1. O que você pensa sobre a seguinte afirmação: “a violênciaé conseqüência desta sociedade patriarcal e capitalista”?

2. Como nós agimos diante da violência?

3. O que queremos para nós e nossas filhas?

Coordenadora: O que você achou do conteúdo desta nossareunião?

Vamos pegar a bandeira e cada uma vai dizer através de umapalavra, como gostaria que fosse a vida das mulheres e comogostaria de ver a sociedade.

Canto: Axé

Encaminhamentos: Marcar o próximo encontro. Que horasinicia? Quem vai coordenar? Quem vai fazer as leituras? Quetal trazer um lanche ou frutas, para partilhar?

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11Movimento de Mulheres Camponesas

Ambiente: Organizar o ambiente com flores e escrever emtarjetas as palavras: valores, imposições.

Coordenadora: Sejam todas bem vindas ao nosso 2o. Encon-tro do Movimento de Mulheres Camponesas que tem comotema: A violência é uma construção social. Para iniciarvamos ouvir uma estória.

Leitora 1: Certa lenda conta que estavam duas crianças pati-nando em cima de um lago congelado. Era uma tarde nubla-da e fria. As crianças brincavam sem preocupação. De repen-te, o gelo se quebrou e uma das crianças caiu na água. Aoutra criança, vendo que seu amiguinho se afogava de baixodo gelo, pegou uma pedra e começou a golpeá-la com todasas forças, conseguindo salvar seu amiguinho.

Quando os bombeiros chegaram e viram, o que havia acon-tecido, perguntaram ao menino:

- Como você conseguiu fazer isso? É impossível que vocêtenha quebrado o gelo com essa pedra e suas mãos são tãopequenas!

Nesse instante apareceu uma anciã e disse:

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- Eu sei como ele conseguiu.

Todos perguntaram: como? E então a mulher respondeu:

- Não havia ninguém ao seu redor para dizer-lhe queele não seria capaz.”

(Albert Einstein)

Coordenadora: O que chamou mais atenção nesta história?(Deixar o grupo falar)

Leitora 2: Pois é, sempre disseram que nós mulheres somosinferiores, que não temos capacidade, que o estudo não épara nós. Esse tipo de violência gera dentro de nós sentimen-to de inferioridade, passividade e acomodação. Devemos lem-brar, como disse o poeta que: “cada uma de nós carrega emsi o dom de ser capaz e de ser feliz”!

Canto: Entrei na luta (ou outra música conhecida do grupo).

Coordenadora: Quem lembra o que conversamos na últimareunião? (deixar falar)

Vimos que a sociedade capitalista e patriarcal que vivemosreproduz a violência sobre a classe trabalhadora e sobre asmulheres. Muitas se submetem, acham que é normal, pen-sam que é a única alternativa que existe. Outras reagem,questionam os hábitos, costumes dos antepassados e pro-põem novas práticas, novas relações. Nós já sabemos, tudoestá para ser construído e reconstruído.

Vamos formar os grupos para conversar sobre valores e im-posições que aprendemos e herdamos de nossa cultura,seja relacionado à religião, cuidado com a saúde, vida afetiva:namoro, casamento, educação dos filhos, vida sexual, mens-truação, gravidez, etc: Vamos responder duas perguntas:

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13Movimento de Mulheres Camponesas

(Dar tempo para as mulheres conversarem e depois ouvir cada grupo)

Leitora 1: Em todas as culturas, classes e religiões as mulheressofrem violência.

Leitora 2: A cada minuto que passa, muitas mulheres são abu-sadas, humilhadas, agredidas, violentadas, espancadas, ex-ploradas, mortas na maioria das vezes por homens próximosa elas.

Leitora 1: A violência aparece naesfera privada, quer dizer nomeio da família, no casamento,no relacionamento pais e mães,filhos e filhas. Essa violência seexpressa de muitas maneiras,como: estupro conjugal, contro-le psicológico, crime de honra,assassinato de esposa, namora-da, difamação, humilhação.

Leitora 2: Além da violência co-tidiana no mundo privado, navida pública a violência é reproduzida através da pornografiaem revistas, jornais, propaganda, músicas. Acontece tambémde outras maneiras como a esterilização em massa, assédiosexual e moral no trabalho, nos espaços de lazer e diversões,entre outras.

1. Que valores herdamos e aprendemos denossa cultura?

2. Que imposições herdamos e aprendemosde nossa cultura?

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Coordenadora: Quem lucra com o uso e abuso do corpo damulher? A quem beneficiam? Pensemos um pouco...

Leitora 1: Precisamos pensar também como os valores da socie-dade capitalista estão dentro de nós. A raiz da dominação dasmulheres está em acreditar que o homem é maior e melhor,sabe e é mais inteligente que a mulher.

Leitora 2: A sociedade capitalista se mantém pelo viés do pa-triarcado combinada com a exploração das trabalhadoras(es).Quem de nós já ouviu de sua mãe ou conhecida contar quenão teve oportunidade de escolher seu parceiro? Ou então,foram obrigadas a casar com um homem de “bem”, traba-lhador, que tinha terra, dinheiro para preservar a honra e onome da família, normalmente escolhido pelo pai. Em todosos tempos sempre existiu mulheres corajosas que reagiramcontra todo e qualquer tipo de violência, se organizaram elutaram por relações de respeito e igualdade entre as pessoase por condições dignas de trabalho. Por isso nossa luta é degênero e classe, ou seja, nossa luta é enquanto mulher e en-quanto trabalhadora.

Leitora 1: Outra questão séria é o trabalho da mulher campo-nesa, além de ser pouco valorizado, é um trabalho penoso edifícil. Por exemplo: quando a produção de leite é pequena efeita de forma manual é tarefa da mulher. Pois o que sobrapara a venda é pouca coisa. Já quando a produção de leiteaumenta é feita com ordenhadeira, a maioria das vezes ohomem assume este trabalho e a comercialização do leite. Aomesmo tempo ele recebe e controla o dinheiro. Mais uma vezprevalece a cultura de que a mulher fica com as coisas pe-quenas. A partir do momento em que a atividade cresce ohomem passa a coordenar.

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15Movimento de Mulheres Camponesas

Leitora 2: O uso de agrotóxicos,que vem envenenando gente,animais, água, terra e todo oambiente é uma grande violên-cia. Estamos ficando doentes,morrendo e destruindo abiodiversidade. Esta prática éuma violência contra nós mes-mas e contra a vida. Este mo-delo agrário e agrícola que veiocom o pacote da revolução ver-de é fruto do modelo capitalis-ta por isso violenta as mulhe-res e suas famílias tornado-asvitimas e dependentes dasmultinacionais. Através da venda de sementes híbridas,agrotóxicos, transgênicos, medicamentos, garantem o lucropara um pequeno grupo de empresários. Este tipo de violên-cia precisa acabar.

Leitora 1: As conseqüências da violência para a nossa vida sãograves e se manifestam na:

Vergonha porque somos agredidas na intimidade e inte-gridade física e psicológica.

Culpa de não ter resistido diante das formas de violência.

Agressão física sendo a primeira conseqüência na saú-de, lesões, hemorragias, hematomas, morte... e conseqü-ências psicológicas: medos, depressão, desânimo, incapa-cidade etc.

Medo de reagir e de se colocar como mulher capaz detransformar essa situação e construir um outro mundo.

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Leitora 2: Esses sentimentos negativos que vão se constituin-do na vida das mulheres vão deixando marcas de medo, deimpotência e colocando a mulher cada vez mais em situaçãode submissão, reproduzindo essa cultura com seus filhos efilhas. A violência é uma das formas de controle da sociedadesobre a vida das mulheres.

Para conversar

1. Podemos reagir diante da violência?

2. O que podemos sugerir?

Leitora 1: Temos muitos caminhos para reagir diante das situ-ações de violência. Com o modelo de sociedade patriarcal ecapitalista a violência continuará. A primeira atitude que de-vemos tomar é entender que a violência não é algo normal,não é natural. A violência é produzida por esta sociedadecapitalista e patriarcal, que se reproduz através das relaçõesdesiguais e desumanas entre as pessoas. Tudo em nome doLUCRO que fica para um pequeno grupo. Ninguém gosta deapanhar, ninguém quer passar fome,nenhum ser humano deseja viverhumilhado. Nós precisamos lutarpor uma sociedade, onde a vidado ser humano esteja acima detudo.

Leitora 2: As mulheres oprimi-das vão superando a violênciana medida em que vão toman-do consciência das situações de vi-olência e do direito de viver bem efeliz.

A violêncianão é algo normal,

não é natural. Aviolência é produzida

por esta sociedadecapitalista epatriarcal

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17Movimento de Mulheres Camponesas

Leitora 1: Precisamos nos organizar exigindo programaseducativos que promovam a igualdade nas relações de gêne-ro, nas relações entre as pessoas, com a natureza construindoa dignidade humana.

Leitora 2: Precisamos denunciar todo o tipo de violência. To-mar posição frente as diferentes situações de violência e lutarcontra a impunidade dos agressores.

Leitora 1: Precisamos conversar e construir uma cultura deigualdade, fraternidade, respeito às diferenças e justiça emnossas práticas individuais e coletivas

Leitora 2: Sabemos que para construir uma nova sociedade sóserá possível se tivermos as mulheres e o povo organizado.Para nós mulheres camponesas, é fundamental fortalecer onosso Movimento, pois através de nossos grupos de base cons-truímos as raízes de uma nova sociedade.

Encerramento: Convidar as mulheres para partilharem as flo-res e as frutas que cada uma trouxe como um sinal de fortale-cimento para que juntas se possa enfrentar a violência. Tam-bém é importante marcar nosso próximo encontro e tarefas.

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Coordenadora: Sejam todas bem vindas ao nosso terceiroencontro. Hoje vamos continuar a conversa sobre as situa-ções de violência que enfrentamos. Sintam-se todas acolhi-das através desta mensagem.

O que espera aquela mulher,que saiu bem cedo,com vontade de viver...

E a vida lhe responde: injustiça, preconceito,discriminação, sonhos negociados.

Mas ela não desiste, pois tem vontade de viver.Não espera. Levanta-se. Caminha. Luta. Resiste.E está aqui buscando um outro jeito de viver.

Canto: Mulher Agricultora.

Coordenadora: A sociedade capitalista prega e valoriza o indi-vidualismo como uma forma de explorar o mais fraco. E dizque para a pessoa viver bem e ser feliz precisa ser esperta,trabalhar bastante, saber fazer as coisas e obedecer. Essa pes-soa é que se dá bem na vida e será feliz. (Achamos estetrecho um pouco esquisito!)

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19Movimento de Mulheres Camponesas

Leitora 1: Nós vimos nas outras reuniões que não é bem as-sim. O individualismo é mais uma forma de violência queescraviza o homem e a mulher. Queremos ser respeitadasindividualmente e coletivamente. Paulo Freire dizia: “Ninguémse educa sozinho, ninguém educa ninguém, a gente se educaem comunidade”. Portanto, para as mulheres e nossas famíli-as viverem bem, precisamos ter organização. Quanto maisnós nos organizarmos, maior será nossa força para conquis-tar uma vida melhor.

Leitora 2: A mulher vítima da violência passa ser a culpada daviolência. Existe uma idéia de que “quando um não quer doisnão brigam”. A mulher deve ser obediente, submissa, dócil, sevestir decentemente, entender que o homem é diferente e podefazer o que quer. Se a mulher reagir e não aceitar essa situaçãoe for violentada, é a responsável pela violência.

Leitora 1: Além disso, quando sofre violência na sociedade éporque não sabe ficar no seu lugar, se meteu aonde não foichamada, etc. Quando a violência acontece contra uma cri-ança, adolescente, filha, filho é porque a mãe não soube edu-car, deu mau exemplo.

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Leitora 2: Talvez seja por isso que é tão difícil falar sobre otema da violência de forma madura, séria, com espírito desolidariedade e de perceber o quanto é doloroso para quemestá com o problema.

Leitora 1: E para falar da violência que está acontecendo coma gente, é mais difícil ainda porque a cultura que herdamosde sermos a “rainha do lar”, esteio da casa e de que se estamosvivendo algum tipo de violência é porque somos culpadas.Mas o grande causador de tudo isto é o modelo de sociedadeque estamos vivendo. Muitas vezes as situações de violênciaem casa é provocada pelas injustiças. Por exemplo: Na vendados produtos o preço baixo e falta as coisas em casa, para asfilhas e filhos, daí o pai desanima, bebe, briga em casa com amulher, com os filhos e o relacionamento fica muito difícil. Aspessoas não se sentem bem, destrói o diálogo, rompe com aamizade, machuca o coração da mulher, das crianças, jovensenfim de todos em casa.

Leitora 2: Então na maioria das vezes nos calamos e muitasvezes fazemos de conta que não percebemos. Por isso, umadas primeiras medidas para superar a violência é conse-guir perceber e começar falar sobre isso, pois o silêncioé cúmplice da violência. É claro que não podemos fazer istocom qualquer pessoa, mas é muito importante ter alguémpara partilhar e quem sabe para ajudar pensar formas de aospoucos ir mudando esta situação.

Leitora 1: Neste sentido, nosso grupo de base precisa estudar, epensar para enfrentar este grande problema que é a violênciapraticada contra a mulher. Com certeza é uma grande luta.

Leitora 2: Nós já vimos que violência é crime. A causa, a raizda violência está na sociedade capitalista e patriarcal.

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Então para avançar na construção de uma sociedade maishumana, fraterna, com igualdade de direitos precisamos demuito dialogo, organização e pensar juntas saídas para mu-dar as situações de violência seja na casa, na produção, notrabalho, na escola em todo o lugar. Porque o sonho do serhumano viver bem e feliz é possível.

Para conversar:

1. Que atitudes podemos tomar para enfrentar a violência?

2. Que proposta podemos sugerir para o MMC avançar naluta contra a violência?

É importante que o grupo envie para a Secretaria Nacionaldo MMC, no endereço a baixo, sua contribuição, encami-nhando sujestões e propostas do que podemos fazer parasuperar a violência.

Endereço:Secretaria Nacional do

Movimento de Mulheres CamponesasFone/Fax: (54) 312 9683

E-mail: [email protected] dos Andradas, 2832 - Bairro Boqueirão

99010–035 Passo Fundo/RS

Coordenadora: Vamos ficar de pé e todas segurar a bandeirado MMC, para ouvirmos a mensagem final.

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Mulher

A libertação há de chegar pela luta.Pela nossa esperança.Esta esperança que é partilhadaQuando nos reunimos.Quando conversamos e vemosQue os problemas são os mesmos.As saídas devem ser buscadasEm conjunto e em harmonia.Esta harmonia que reconstruirá o mundoE apontará uma nova mulher.

Mulher(Autor desconhecido)

Canto: Sem medo de ser mulher.

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1. Mulher agricultoraLetra e música: Antonio Gringo

Mulher Agricultora, mostra a tua cara.Entra nessa luta, com a tua garra.Vamos construindo a nova sociedadeBrigando por direitos, justiça e igualdade.

Busquemos com coragem e com muita paixão,ternura e esperança em nosso coração,exigindo respeito e participaçãoDeclarando guerra aos que nos dizem não.

É o novo jeito de parir a vida.Trabalhar a terra, produzir comida.Homens e Mulheres, nesta relação,é a sociedade em transformação.

Mulher agricultora, desperta vem lutarUnidas e conscientes iremos caminhar.Sabemos que o futuro está em nossa mãos,Mostramos nossa força e organização.

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2. Como águia que voaLetra: Reneu Zortea / Música: José Corso

Como águia que voa que voa,No mais alto do céu pra encontrar,Um tesouro escondido do além,Pra poder todas águias voar.Nós também buscamos um tesouro,Escondido nas lutas por vida.Na mais linda vitória da águia.Na linda vitória da águia,Que aprendeu não viver oprimida.

Como águia na vida aprendemos.A voar com as asas que temos.Bem mais longe do nosso terreiro.Sei que posso deixar o poleiro.Pois na vida o bem se alcança,Se voarmos com muita esperança,sem temer ameaças que vem,se é na praça gritamos também,como águia que voa, que voa.

Como posso ficar sem voar!Se aprendemos ser livres e amar.Como águias que fortes voaram,e pra morte nunca mais voltaram.Vamos lá de bandeira na mão.Punho erguido e cantando a canção,que já vem a vitória sonhada.Na história das lutas travadas,como águia que voa que voa.

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3. Entrei na lutaLetra e música: MMA/SC

Entrei na luta, da luta eu não fujo.Pelos direitos, da eu não fujoPela igualdade, da luta eu não fujo.Prá construir uma nova sociedade.

A flor na terra desabrocha e floresce.O sol aquece com seu brilho e esplendor.Chegou o tempo de colher, nossos frutos,que juntos plantamos regando com amor.

A mulher explorada, da cidade e da roça,acredita sempre na sua força de união.Se organiza reclamando seus direitos,perde a vergonha, luta com fé e decisão.

4. Pra mudar a sociedadePra mudar a sociedade do jeito que a gente quer,Participando sem medo de ser mulher.

Porque a luta não é só dos companheirosParticipando sem medo de ser mulherPisando firme sem medir nenhum segredoParticipando sem medo de ser mulher

Pois sem mulher a luta vai pela metadeParticipando sem medo de ser mulherFortalecendo os movimento popularesParticipando sem medo de ser mulher

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Na aliança operária e camponesaParticipando sem medo de ser mulherPois a vitória vai ser nossa com certezaParticipando sem medo de ser mulher

5. AxéIrá chegar um novo dia, um novo céu,uma nova terra, um novo mar.E neste dia os oprimidos numa só voza liberdade irão cantar.

Na nova terra a mulher terá direitosnão sofrerá humilhação e preconceitos.O seu trabalho todos vão valorizar,nas decisões ela irá participar.

Na nova terra o negro não vai ter corrente, e oNosso índio vai ser visto como gente. Na novaTerra o negro, o índio e o mulato, o branco todosVão comer do mesmo prato.

Na nova terra o fraco, o pobre e o injustiçado,serão juízes deste mundo de pecado.Na nova terra o forte, o grande e o prepotente,irão chorar e até ranger os dentes.

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27Movimento de Mulheres Camponesas

6. Mulher rendeira

Olê mulher rendeira,olê mulher rendaSe a mulher ficar em casa,nunca vai se libertar

Em qualquer parte do mundoSe trabalha pra viverTem mulher no meio da roçaDando duro pra valerCom força e dignidade, sempre acham o que fazer

Minha mãe teve três filhasCom o nome de MariaTrabalhava sempre em casaE o meu pai é que saiaHoje tenho orgulho delas, que criaram autonomia

As mulheres do nordesteCriam fama de valenteMesmo as semi-analfabetasNo trabalho é competentePor justiça e liberdade, brigam até com o presidente

Quando quis fazer um versoE as mulheres exaltarMe lembrei de MargaridaQue era muito popularE deixou uma semente, para a gente cultivar.

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7. Apelo de mulher

Não sou escrava, nem sou objetoPara fazer de mim o que bem querNão tenho dono, não sou propriedadeEu quero liberdade, me deixa ser mulher!

Eu quero ser, me deixa ser o que mereçoEu quero ser o que souEu tenho meu valor e este não tem preço

Eu quero ser amiga e companheiraQuero mostrar a força do amorQuero viver como tenho direito,Não quero preconceito, me deixa ser quem sou.