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Programa Recomeço PANORAMA DAS POLÍTICAS SOBRE DROGAS NO ESTADO DE SÃO PAULO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL

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Cartilha recomeço

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Page 1: Cartilha recomeço

Programa Recomeço

PANORAMA DAS POLÍTICASSOBRE DROGAS NO ESTADO

DE SÃO PAULO

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULOSECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Page 2: Cartilha recomeço

Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds)

SecretárioFloriano Pesaro

Secretário AdjuntoFelipe Sartori Sigollo

Chefe de GabineteMendy Tal

Coordenadora da CoedGleuda Apolinário

Programa Estadual de Políticas sobre Drogas Programa Recomeço — Uma Vida Sem Drogas

Coordenação GeralRonaldo Laranjeira

Grupo Gestor

Representantes das Secretarias:

- Desenvolvimento Social Gleuda Apolinário (função executiva)

- Saúde Rosangela Elias

- Justiça e Defesa da Cidadania Luiz Orsatti

- Segurança Pública Júlio Botelho

- Educação Edison de Almeida

Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap)

Diretor ExecutivoWanderley Messias da Costa

Diretor TécnicoMarcos Camargo Campagnone

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

GovernadorGeraldo Alckmin

Page 3: Cartilha recomeço

» prefácio do secretário

Assim que assumiu o novo mandato, o gover-nador Geraldo Alckmin tomou uma importante decisão para início de um novo governo: decre-tou a transferência da Coordenação de Políti-cas sobre Drogas do Estado de São Paulo para a Secretaria de Desenvolvimento Social.

Na prática, a mudança promove um novo pa-radigma na execução da política pública sobre drogas em nosso Estado. Supera-se, portanto, a compreensão de que o consumo abusivo de drogas deva ser enfrentado apenas como uma questão de cuidados de saúde ou de po-liciamento ostensivo. O Programa Recomeço entende o uso abusivo de drogas como um fenômeno biopsicossocial, cuja superação de-pende da garantia de uma rede de serviços que incluem proteção social.

Compreendemos que as políticas sociais pos-suem um protagonismo ímpar na recuperação e reinserção social dos usuários de substâncias psicoativas, bem como no fortalecimento dos vínculos familiares fragilizados ou rompidos pelo agravo da dependência química.

Neste ano, comemoramos dois anos do Pro-grama Recomeço — "Uma vida sem drogas" e

percebemos a importância de fortalecer a in-tegração social, pois, por muitas vezes, o fenô-meno da droga aparece como um subproduto da exclusão social.

A superação da exclusão social depende do fortalecimento de uma rede social protetiva, que garanta oportunidades, ferramentas efi-cientes e adequadas.

A Rede Recomeço conta, hoje, com o total de 2.906 vagas distribuídas em hospitais, comu-nidades terapêuticas, casas de passagem e re-públicas em diversos municípios do Estado de São Paulo.

Estamos convencidos de que o tratamento é fortalecido quando as necessidades sociais são atendidas. Empregabilidade, formação profissional, habitação e acesso à educação são fatores de integração social que garantem o sucesso da recuperação e do retorno a uma vida social plena.

Tenho certeza de que esta apostila traz impor-tantes reflexões para o enfrentamento do uso de drogas no Estado de São Paulo.

Boa Leitura!

Floriano Pesaro Secretário de Estado de Desenvolvimento Social

Page 4: Cartilha recomeço

Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap)

Coordenadora Fátima Justo Cortella

Equipe Técnica Andréa Correa Silva Odair Stephano Sant’Ana

Coordenação Editorial Flávio Ricci Arantes

Projeto Gráfico e Capa Américo Cardoso dos Santos Neto

Edição de Texto Eloisa Pires Vera Zangari

Editoração Eletrônica Helenice Alberto

Normalização Bibliográfica Ana Cristina de Souza Leão Norma Batista Nórcia

Catalogação na Fonte Elena Yukie Harada

PANORAMA DAS POLÍTICAS SOBRE DROGAS NO ESTADO DE SÃO PAULO

Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds)

Coordenação de Políticas sobre Drogas do Estado de São Paulo (Coed)

Equipe Técnica Claudemir Lucio Moraes dos Santos Márcia Francine de Vasconcelos Santos Márcia de Paiva Magalhães Gouvêa Maria Shyrabaiashi de Castro Porto Pamela Leonardo Roma Pitombo Di Monaco Silvana Maiéski

Especialistas em Políticas PúblicasBernadete Martinson Souza Pereira Gian Fabricio Martins Silva Leonardo Rossatto Queiroz

Escola de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo (Edesp)

Diretora Executiva Maria Isabel Lopes da Cunha Soares

Diretores Técnicos Centro de Planejamento:André Luiz Machado de Lima Cláudia Barone Diniz

Agente de Desenvolvimento SocialMarina Marinho de Azevedo

Comunicação Renata Colombini Puosso

Administrativo Marcia Rodrigues da Silva

Fundação do Desenvolvimento Administrativo – FundapRua Cristiano Viana, 428 – 05411-902 – São Paulo – SP

Telefone (11) 3066-5660 – www.fundap.sp.gov.br

Page 5: Cartilha recomeço

» sumário

Prefácio do Secretário 3Introdução 7

1 » Entendendo as Políticas sobre Drogas 10Marco legal 11

Política Nacional de Controle do Tabaco 12Plano integrado de enfrentamento ao crack e a outras drogas 12

Legislações específicas do Programa Nacional de Enfrentamento ao Crack e a Outras Drogas 13Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad) 13

Marco legal do Sisnad 13Legislações diversas sobre o tema 13

De âmbito nacional 13Conceitos gerais 14

2 » Prevenção 18Cursos e capacitações 19

Projetos, programas e campanhas 19Coalizões comunitárias 19

Rede estadual de prevenção 20Estudos e pesquisas 20

3 » Tratamento 21Cursos e capacitações 22

Equipamentos de saúde 22Vagas de tratamento 22

Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod) 224 » Reinserção Social e Recuperação 23

Cursos e capacitações 24Projeto de vida 24

Abordagem social especializada 24Casa de passagem 25

República 25Moradia assistida 25

Qualificação profissional 26Selo Parceiros do Recomeço 26

Ingresso no mercado de trabalho 26Recomeço Família 26

5 » Controle e Requalificação dos Territórios Degradados 28Controle e Requalificação 28

6 » Acesso à Justiça e à Cidadania 30Plantão Jurídico 30

7 » Sistema de monitoramento do Programa Recomeço 31Referências bibliográficas 32

Page 6: Cartilha recomeço

Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Page 7: Cartilha recomeço

7Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

» Introdução

A região da cidade de São Paulo que fi cou co-nhecida pela triste alcunha de Cracolândia, na Luz, concentra centenas de pessoas que usam crack, álcool e outras drogas de forma com-pulsiva. Na maioria dos casos, o alto grau de dependência os impede de ter consciência so-bre sua real condição. São doentes graves, que precisam de ajuda médica e psicológica. Mui-tos possuem comorbidades, como Aids, sífi lis, tuberculose e hepatites virais, dentre outras doenças associadas.

A dependência química é uma doença crônica, tal como câncer, diabetes e hipertensão. Em estágios avançados de qualquer outro pro-blema de saúde, ou quando o quadro torna-se agudo, indica-se internação hospitalar de curta ou média duração, visando à estabilização do quadro. Por que então deve ser diferente com quem é usuário de drogas? Não há espaço para discutir ideologias. A luta antimanicomial foi muito importante, mas hoje, passados 15 anos da reforma psiquiátrica, é preciso reconhecer que a rede pública deixou de criar soluções efetivas para os casos de saúde mental mais graves e extremos, que por sua natureza preci-sam de internação e tratamento intensivo, com medicamentos e equipe multidisciplinar.

O Programa Recomeço, do governo do Estado de São Paulo, lançado em 2013, não preconi-za internações indiscriminadas de dependen-tes químicos, mas as indica quando o caso é realmente grave, colocando em risco, inclu-sive, as vidas dos pacientes. Na Cracolândia, mais de 80% dos dependentes que são enca-minhados ao Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod) são classifi -cados como doentes graves e que precisam de internação em serviços especializados. Necessitam de um período de abstinência mí-nimo, de desintoxicação, para depois segui-rem o tratamento em nível ambulatorial ou, em alguns casos, em comunidades terapêuti-cas que irão ajudá-los a voltar à rotina do dia

a dia, reinseridos na sociedade. Esse índice, altíssimo, decorre da condição gravíssima de debilidade psíquica e física dos usuários que frequentam a região. O mesmo percentual de internações recomendadas para depen-dentes químicos não se observa em relação a pacientes que chegam por demanda espon-tânea ao Cratod, via Disk-Recomeço ou mes-mo aqueles encaminhados pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).

Há, no Cratod, uma Unidade de Acolhimento e um serviço judicial – constituídos por médicos e representantes do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – que visam a dar maior celeridade às internações involuntárias ou compulsórias, indicadas pela própria Reforma Psiquiátrica para os casos gra-víssimos. Desde 21 de janeiro de 2013, quan-do o serviço começou, foram realizados mais de 16 mil acolhimentos e 8,6 mil encaminha-mentos de dependentes para internação, 87% dos quais de forma voluntária, ou seja, com o consentimento do paciente.

Para atender à demanda, o governo do Estado precisou trabalhar para expandir rapidamente o número de leitos destinado ao atendimen-to dos dependentes químicos. Hoje, existem aproximadamente 3 mil vagas exclusivas, seis vezes mais do que havia em janeiro de 2011, em serviços próprios ou contratados, que são fi nanciados exclusivamente pelo tesouro es-tadual. Em Botucatu, interior de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin inaugurou a pri-meira clínica pública do Brasil destinada ex-clusivamente ao tratamento e à recuperação de dependentes químicos. Na capital paulista, um prédio na esquina da Rua Helvétia com a Rua Dino Bueno, no coração da Cracolândia, vem sendo transformado gradativamente em um serviço integrado de atendimento aos usu-ários de drogas, com diferentes linhas de cui-dados, a começar por um centro de convivên-cia em funcionamento desde o ano passado.

Page 8: Cartilha recomeço

8 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Uma das ações do Programa Recomeço é o Recomeço Família, cujo objetivo é acolher, orientar e apoiar os familiares de dependentes químicos, oferecendo acesso a informações so-bre tratamento, palestras, atendimentos indi-viduais e terapia em grupo. Com essa iniciativa, busca-se oferecer recursos para que os fami-liares do dependente possam obter qualidade de vida e minimizar as chances do desenvol-vimento de doenças e transtornos emocionais, decorrentes do impacto da convivência com o familiar dependente químico. Em 2014, o

Recomeço Família realizou 7,1 mil atendimen-tos, em 13 unidades.

O conjunto de iniciativas do Programa Reco-meço, que conta com a participação das se-cretarias da Saúde, Desenvolvimento Social, Justiça e Trabalho, oferece oportunidades para que o dependente químico deixe essa condi-ção, por meio de desintoxicação para os casos mais agudos, recuperação e reinserção na so-ciedade e no mercado de trabalho. Uma etapa de cada vez, sem atropelos, como deve ser.

Ronaldo Laranjeira Coordenador Geral do Programa Estadual de

Políticas sobre Drogas Programa Recomeço Uma Vida Sem Drogas

É notório o fato de que o consumo de substân-cias psicoativas é um dos maiores problemas da sociedade contemporânea. A United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) estima que cerca de 246 milhões de pessoas, ou um pou-co mais de 5% da população mundial entre 15 e 64 anos de idade, usaram drogas ilícitas em 2013. O Diretor Executivo do UNODC, Yury Fedotov, destacou que é necessário trabalhar mais para promover a importância de entender e abordar a dependência como uma condição crônica de saúde, a qual, assim como diabetes ou hipertensão, requer tratamento e cuidados sustentados em longo prazo.

Além do incalculável prejuízo à saúde pública, o impacto do consumo e tráfico de drogas se desdobra amplamente por diversas camadas da sociedade, perpassando as áreas social, eco-nômica, de justiça, de segurança, de educação etc. Não é nova a conclusão sobre a profunda necessidade da união entre o Poder Público e a Sociedade Civil para o enfrentamento eficaz dos problemas relacionados ao consumo e trá-fico de drogas.

A política sobre drogas no Estado de São Paulo orienta-se pelo princípio da responsabilidade compartilhada e adota como estratégia a coo-peração mútua e a articulação de esforços en-tre governo, iniciativa privada, terceiro setor e cidadãos, no sentido de ampliar a consciência para a importância da intersetorialidade e des-centralização das ações sobre drogas.

Instituído pelo Decreto n° 59.164, de 9 de maio de 2013, o Programa Recomeço é uma inicia-tiva do governo do Estado de São Paulo que promove ações preventivas de uso indevido de substâncias psicoativas, controle e requalifica-ção de territórios degradados em virtude das atividades nas cenas de uso, assim como poli-ciamento preventivo e repressivo. Além disso, oferece acesso à justiça e à cidadania, apoio socioassistencial e tratamento de saúde aos dependentes químicos, visando a proporcio-nar condições para uma vida saudável e digna à população do Estado de São Paulo e a auxiliar os dependentes de substâncias psicoativas, seus familiares e comunidade a trilharem, da melhor maneira possível, o caminho para a re-cuperação e o retorno a uma vida plena.

O slogan “Programa Recomeço – UMA VIDA SEM DROGAS” explana bem o compromisso do Poder Público estadual de promover na so-ciedade paulista comunidades seguras e livres das consequências dos problemas relaciona-dos ao uso das drogas. As ações do Programa Recomeço começaram em janeiro de 2013, com o início do plantão judiciário no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), local que oferece serviços de saúde especificamente a dependentes químicos. A iniciativa naquele momento visou a reunir Saúde e Justiça no mesmo espaço, para agilizar a oferta de tratamento para dependentes de drogas e seus familiares. O foco inicial da ação foi a região da Nova Luz, no centro de São Paulo,

Page 9: Cartilha recomeço

9Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

que ficou conhecida como Cracolândia. O Cra-tod fica bem próximo a essa área e funciona 24 horas. Lá, as pessoas expostas ao risco, uso, abuso ou dependência de substâncias psicoa-tivas podem encontrar a oferta de acolhimento de saúde e o encaminhamento para clínicas ou comunidades terapêuticas.

A estratégia de atuação utilizada é promover, articular e executar ações nos seguintes eixos temáticos: 1) Prevenção; 2) Tratamento; 3) Reinserção Social e Recuperação, abrangen-do Atenção Familiar e Comunitária e Inclusão Produtiva; 4) Controle e Requalificação dos Territórios Degradados em Virtude das Ativi-

dades nas Cenas de Uso e Policiamento Pre-ventivo e Repressivo; e 5) Acesso à Justiça e à Cidadania.

O Programa Recomeço pauta-se em ações inte-gradas das diferentes secretarias, órgãos e en-tidades da administração direta e indireta do Estado e dos Municípios, bem como de outras entidades nacionais ou internacionais fora da esfera pública, com interesses convergentes aos objetivos do Programa, em conformidade com as políticas setoriais afins, das esferas na-cional, estadual e municipal, respeitando-se o âmbito de ação, a natureza e as peculiaridades de cada uma.

Gleuda Simone Teixeira Apolinário Coordenadora da Coed

Page 10: Cartilha recomeço

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10 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

» Entendendo as Políticas sobre Drogas

Para início de conversa

Para Rua (1998), a política pública consiste no conjunto de procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto aos bens públicos. Inicialmente, deve-se ter em mente que política pública é um conjunto de decisões e não uma decisão isolada.

As políticas públicas podem ser formuladas principalmente por iniciativa dos Poderes Executivo ou Legislativo, separada ou conjuntamente, com base em demandas e propostas da sociedade, em seus diversos seguimentos.

A participação da sociedade na formulação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas é assegurada, em alguns casos, na própria lei que as institui. Assim, também nas políticas pú-blicas sobre drogas, a sociedade pode participar ativamente, por meio dos Conselhos, em nível municipal, estadual e nacional. Audiências públicas, encontros e conferências setoriais são tam-bém instrumentos que se vêm afirmando nos últimos anos como forma de envolver os diversos seguimentos da sociedade em processo de participação e controle social.

A Lei Complementar n° 131 (Lei da Transparência), de 27 de maio de 2009, quanto à participação da sociedade, assim determina:

I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamen-tárias e orçamentos;

II – liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tem-po real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e fi-nanceira, em meios eletrônicos de acesso público.

Assim, de acordo com essa lei, todos os poderes públicos, em todas as esferas e níveis da adminis-tração pública, estão obrigados a assegurar a participação popular. Essa, portanto, não é mais uma

Page 11: Cartilha recomeço

11Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

preferência política do gestor, mas uma obriga-ção do Estado e um direito da população.

Seguindo a mesma lógica, quando se fala em POLÍTICAS SOBRE DROGAS, remete-se aos conjuntos de programas, ações e atividades

desenvolvidas pelo Estado diretamente ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que visam a assegurar, sobretudo, os direitos de cidadania afetados pelos problemas relacionados ao consumo e ao tráfico de drogas.

Marco legal

19/12

1986 Lei n° 7.560Cria o Fundo de Prevenção e de Combate às Drogas de Abuso (Funcab).

20/12

1993 Lei n° 8.764Cria a Secretaria Nacional de Entorpecentes e altera a re-dação dos arts. 2º e 5º da Lei n° 7.560/86.

31/8

2001Medida Provisória n° 2.216-37

Trata da organização da Presidência da República e dos Ministérios e altera a denominação do Funcab para Funad.

27/10

2005O Senado Federal ratificada formalmente a adesão do Brasil à Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (CQCT) da Organização Mundial da Saúde. A CQCT é o primeiro tratado internacional de saúde pública da história da Organização Mundial da Saúde.

27/10

2005Resolução n° 03/GSIPR/CH/Conad Trata da Política Nacional sobre Drogas.

23/8

2006 Lei n° 11.343

Cria o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad) e estabelece crimes e penas, normas e diretrizes da política sobre drogas.

22/5

2007 Decreto n° 6.117 Estabelece a Política Nacional sobre o Álcool.

19/6

2008 Lei n° 11.705 Restringe o uso e a propaganda de substâncias psicoativas.

19/6

2008 Decreto n° 6.488Disciplina a margem de tolerância de álcool no sangue para conduzir veículos.

19/6

2008 Decreto n° 6.489Restringe a comercialização de bebidas alcoólicas em ro-dovias federais.

7/5

2009 Lei estadual n° 13.541 Lei Antifumo.

19/10

2011 Lei estadual n° 14.592 Proíbe o consumo de álcool para menores.

9/5

2013 Decreto n° 59.164 Institui o Programa Recomeço.

Page 12: Cartilha recomeço

12 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Política nacional de controle do tabaco

O objetivo da Convenção-Quadro, previsto em seu artigo 3º, é:

“Proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela ex-posição à fumaça do tabaco, proporcionando uma referência para as medidas de controle do tabaco, a serem implementadas pelas Partes nos níveis nacio-nal, regional e internacional, a fim de reduzir de maneira contínua e substan-cial a prevalência do consumo e a exposição à fumaça do tabaco”.

As medidas adotadas pela Convenção têm como base princípios norteadores, expressos em seu artigo 4º, que reforçam: o direito das pessoas à informação sobre a gravidade dos riscos de-correntes do consumo de tabaco; o direito de acesso aos mecanismos de prevenção à inicia-ção e de apoio para cessação de fumar; além da proteção de toda pessoa contra a exposição in-voluntária à fumaça do tabaco.

De forma geral, as medidas centrais estabele-cidas pela Convenção têm dois enfoques: as voltadas a reduzir a demanda e as voltadas a reduzir a oferta. As medidas de redução de de-manda estão contidas nos artigos 6 a 14 e são:

Medidas relacionadas a preços e impostos para reduzir a demanda de tabaco (artigo 6º);

Medidas não relacionadas a preços para re-duzir a demanda de tabaco (artigo 7º):

> proteção contra a exposição à fumaça do tabaco (artigo 8º);

> regulamentação do conteúdo dos produ-tos de tabaco (artigo 9º);

> regulamentação da divulgação das infor-mações sobre os produtos de tabaco (ar-tigo 10);

> embalagem e etiquetagem de produtos de tabaco (artigo 11);

> educação, comunicação, treinamento e conscientização do público (artigo 12);

> publicidade, promoção e patrocínio do tabaco (artigo 13);

Medidas de redução de demanda relativas à dependência e ao abandono do tabaco (ar-tigo 14).

Já as medidas de redução da oferta na CQCT estão contidas nos artigos 15 a 17 e são:

Comércio ilícito de produtos de tabaco (ar-tigo 15);

Venda a menores de idade ou por eles (ar-tigo 16);

Apoio a atividades alternativas economica-mente viáveis (artigo 17).

A Convenção também dispõe sobre: ques-tões de proteção ao meio ambiente relacio-nadas à produção de fumo (artigo 18); res-ponsabilidade penal e civil da indústria do tabaco (artigo 19); cooperação científica e técnica, e o intercâmbio de informação en-tre os países (artigos 20 a 22); e mecanismos institucionais e recursos financeiros para sua implementação.

Plano integrado de enfrentamento ao crack e a outras drogas

O governo federal lançou formalmente, no fi-nal de 2011 (com a alteração de uma lei origi-nal sobre o tema, de 2010), o programa “Crack, é Possível Vencer”, prevendo o aumento da oferta de serviços de tratamento e atenção aos usuários de crack, o enfrentamento do tráfico de drogas ilícitas e ações de prevenção, que envolvem educação, capacitação e informação. O programa tem caráter multissetorial e foi di-vidido em três eixos:

Cuidado: ampliação da capacidade de atendi-mento e atenção ao usuário e aos familiares;

Prevenção: fortalecimento da rede de prote-ção contra o uso de drogas; e

Autoridade: enfrentamento ao tráfico de drogas e policiamento ostensivo de proxi-midade.

Page 13: Cartilha recomeço

13Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Legislações específicas do programa nacional de enfrentamento ao crack e a outras drogas

Decreto n° 7.179, de 20 de maio de 2010 – ins-titui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, cria seu Comitê Gestor e dá outras providências.

Decreto n° 7.637, de 8 de dezembro de 2011 – altera o Decreto n° 7.179, de 20 de maio de 2010, que institui o Plano Integrado de Enfren-tamento ao Crack e outras Drogas.

Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad)

O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad) tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com a prevenção do uso indevido de drogas, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes e com a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas. O Sistema ampara as políticas públicas referentes à temática das drogas em território nacional, emanando diretrizes que são segui-das em programas federais, estaduais e muni-cipais a respeito do tema.

Marco legal do Sisnad

Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006 – ins-titui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad); prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e rein-serção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências.

Uma das principais mudanças introduzidas pela lei refere-se à supressão da restrição da liber-dade para o usuário, além de tipificar a conduta daquele que, para consumo pessoal, semeia, cultiva e colhe plantas destinadas à prepara-ção de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Por fim, a lei criou duas novas figuras típicas: transportar e ter em depósito.

Legislações diversas sobre o tema

Esta cartilha apresenta, a seguir, o levantamento das políticas e marcos legislativos referentes ao tema, dentro das diversas esferas federativas. O levantamento se faz necessário, pois as legisla-ções mencionadas impactam, de forma direta ou tangencial, as ações do Programa Recomeço.

De âmbito nacional

Constituição Federal de 1988, art. 227: “É de-ver da família, da sociedade e do Estado asse-gurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta-ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligên-cia, discriminação, exploração, violência, cruel-dade e opressão. (...) §3º – O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: (...) VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente de-pendente de entorpecentes e drogas afins”.

Medida Provisória n° 1.669, de 19 de junho de 1998 – cria a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas.

Lei n° 10.216, de 6 de abril de 2001 – marco legal da reforma psiquiátrica brasileira, que reafirmou os princípios e as diretrizes do SUS, prevendo a garantia aos usuários de serviços de saúde mental, incluindo as pessoas que so-frem por transtornos decorrentes do consumo de álcool e outras substâncias psicoativas, da universalidade do direito à assistência, bem como à sua integralidade.

Portaria GM n° 336, de 19 de fevereiro de 2002 – cria a possibilidade de existência dos Centros de Atenção Psicossocial – álcool/ drogas (Caps ad) no SUS.

Portaria SAS n° 189, de 20 de março de 2002 – inclui na tabela de serviços do SIA/SUS os procedimentos referentes à atenção a pessoas dependentes ou em uso prejudicial de álcool e outras drogas nos Caps ad.

Portaria GM n° 816/2002 – institui, no âmbito do SUS, o “Programa Nacional de Atenção Co-munitária Integrada a Usuários de Álcool e Ou-tras Drogas”.

Page 14: Cartilha recomeço

14 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Conceitos gerais

O consumo de substâncias que podem produ-zir alterações mentais acompanha a humani-dade há milênios. Durante esse longo tempo, diferentes grupos de pessoas passaram a as-sociar essas substâncias a contextos variados, tais como rituais religiosos, festas e comemo-rações, tratamentos de doenças etc. No entan-to, várias substâncias psicoativas têm o poten-cial de induzir, em algumas pessoas, um padrão de consumo problemático e com perda de con-trole, denominado dependência. A dependên-cia não acontece com todos os usuários, mas quando ocorre pode ser entendida como uma doença.

As drogas são substâncias interessantes: algu-mas podem ser úteis no tratamento de doen-ças, mas também podem gerar doenças. Des-sa perspectiva, os conceitos a respeito dessas substâncias podem ser muito diferentes, por exemplo, para um profissional de saúde, que tem um familiar ou amigo com consumo pro-blemático de drogas, ou para um jovem consu-midor que observa várias pessoas de seu gru-po experimentando substâncias sem aparentar problemas.

Diante desse cenário, entende-se como mui-tas vezes é difícil que se estabeleça um diá-logo produtivo entre diferentes interessados no tema álcool e outras drogas. Por exemplo, a própria palavra “droga” pode assumir significa-

dos diversos para as pessoas: “medicamento”; “substância usada para diversão”; “veneno”; “algo que vicia”. Às vezes, ao denominar de “drogas” algumas substâncias que, do ponto de vista técnico, poderiam perfeitamente ser entendidas como tal, gera-se discordância e até protestos. Mas não é de estranhar que haja esse tipo de desentendimentos, se as pessoas usam a mesma palavra para significados tão di-versos.

Para melhor esclarecer os conceitos e, portan-to, facilitar a comunicação, há importantes tra-balhos, como o Glossário de Álcool e Drogas, elaborado por um grupo de pesquisadores in-ternacionalmente reconhecidos por suas con-tribuições na área, com apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e dos Institutos Na-cionais de Saúde dos EUA, editado pela Senad.

O consumo de substâncias psicoativas é con-siderado uma questão de saúde pública ex-tremamente relevante em praticamente todo o mundo. Nenhuma abordagem isolada tem qualquer chance de sucesso no manejo dessa situação. Dessa forma, é fundamental que ges-tores, pesquisadores, envolvidos em preven-ção, tratamento e redução de danos, bem como outros interessados em temas relacionados a álcool, tabaco e outras drogas, possam ter uma linguagem comum que facilite uma discussão frutífera. Assim, tem-se a possibilidade de avançar na busca de soluções mais efetivas para os problemas associados ao consumo de substâncias psicoativas.

Abuso de drogas O abuso de substância “psicoativa” é definido como “padrão desajustado de uso indicado pela continuação desse uso ape-sar do reconhecimento da existência de um problema social, ocupacional, psicológico ou físico, persistente ou recorrente, que é causado ou exacerbado pelo uso recorrente em situa-ções nas quais ele é fisicamente arriscado”.

Adicção a droga ou a álcool

A adicção é o uso repetido de uma ou mais substâncias psi-coativas, a tal ponto que o usuário (designado como um adic-to) fica periódica ou permanentemente intoxicado, apresenta compulsão para consumir a substância preferida (ou as subs-tâncias preferidas), tem grande dificuldade para interromper ou modificar voluntariamente o uso da substância e demons-tra uma determinação de obter substâncias psicoativas por quaisquer meios.

Page 15: Cartilha recomeço

15Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Alcoolista Indivíduo que sofre de alcoolismo. Cabe notar que o substan-tivo alcoolismo tem um significado diferente daquele dos ad-jetivos alcoolista e alcoólica; este último utilizado para qua-lificar, por exemplo, substantivos como bebida (alcoólica) ou dependência (alcoólica). Sinonímia: alcoólatra; alcoólico.

Alcoolismo Termo antigo e de significado variável; em geral, refere-se a um padrão crônico e continuado de ingestão de álcool, ou mesmo periódico, caracterizado pelo comprometimento do controle sobre a ingestão, frequentes episódios de intoxica-ção e preocupação com o álcool e seu uso, apesar das conse-quências adversas.

Ansiolíticos Drogas contra a ansiedade.

Codependente Um parente, amigo próximo ou colega de uma pessoa alco-olista ou dependente de droga, cujas reações são definidas por esse termo como tendência a perpetuar a dependência daquela pessoa e daí retardar o processo de recuperação.

Compulsão Quando aplicado ao uso de substâncias psicoativas, o termo se refere a uma necessidade poderosa de consumir a substân-cia (ou substâncias) em questão, necessidade essa atribuída mais a sentimentos internos do que a influências externas. Também: controle prejudicado; craving (desejo, ânsia); neces-sidade imperiosa.

Dependência Um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e psi-cológicos que indicam que uma pessoa tem o controle do uso da substância psicoativa prejudicado e persiste nesse uso a despeito de consequências adversas.

Droga Atualmente, a definição sobre drogas promovida pela Orga-nização Mundial de Saúde (OMS) é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, provocando alterações em seu funcionamento.

Intoxicação Situação consequente à administração de uma substância psicoativa e que resulta em perturbações do nível da cons-ciência, da cognição, da percepção, do juízo crítico, do afeto, do comportamento ou de outras funções e reações psicofisio-lógicas.

Narcótico Agente químico que induz estupor, coma ou insensibilidade à dor. O termo refere-se, em geral, a opiáceos ou opioides cha-mados analgésicos narcóticos. Na linguagem comum ou na terminologia legal é muitas vezes usado com pouco rigor para significar drogas ilegais, independentemente de sua farmaco-logia. Por exemplo, a legislação que controla os narcóticos no Canadá, nos Estados Unidos e em alguns outros países inclui a cocaína e a maconha, além dos opioides (veja também con-venções internacionais sobre drogas). Devido a esses vários significados, é preferível usar termos de conteúdo mais espe-cífico (por exemplo, opioide).

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16 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Psicotrópico No seu sentido mais geral, é um termo com o mesmo significado de “psicoativo”, ou seja, que afeta processos mentais. Em ter-mos estritos, droga psicotrópica é qualquer agente químico com ação primária ou mais significativa no sistema nervoso central.

Redução da oferta Expressão de uso variado, em geral utilizada para se referir a políticas ou programas que visam a interditar a produção e a distribuição de drogas e, mais particularmente, para se re-portar a estratégias de aplicação de leis para reduzir o supri-mento de drogas ilícitas. Veja também: redução da procura, redução de danos.

Redução da procura ou demanda

Expressão genérica usada para descrever políticas ou progra-mas destinados a reduzir a procura ou demanda de drogas psicoativas por parte de seus consumidores. É aplicada prima-riamente para drogas ilícitas, particularmente com referência a estratégias educacionais de tratamento e de reabilitação, ao contrário de estratégias de aplicação de leis que visam a proi-bir a produção e a distribuição de drogas (redução da oferta). Compare com: redução de danos.

Redução de danos No contexto de álcool ou outras drogas, o termo é usado parti-cularmente em políticas ou programas que buscam reduzir os danos sem necessariamente afetar o uso subjacente da droga; como exemplos, podem ser citadas a troca de agulhas/serin-gas para evitar a partilha de agulhas entre usuários de heroína e a inclusão de bolsas de ar autoinfláveis em automóveis para reduzir os danos em acidentes (sobretudo como resultado de dirigir alcoolizado). As estratégias de redução de danos, por-tanto, abrangem um espectro mais amplo do que a simples dicotomia redução da oferta / redução da procura. Sinonímia: minimização de danos.

Substância ou droga

psicoativa

Substância que, quando ingerida, afeta os processos men-tais, por exemplo, cognição ou humor. Essa expressão e seu equivalente, droga psicoativa, são os termos mais descritivos e neutros para todas as classes de substâncias, lícitas e ilíci-tas, que interessam à política sobre drogas. “Psicoativa” não implica necessariamente produção de dependência e, no lin-guajar comum, é frequentemente omitida, como em “uso de drogas ou “abuso de substâncias”.

(Veja também droga).

Tolerância Diminuição de resposta a uma dose de determinada substân-cia que ocorre com o seu uso continuado. No consumidor fre-quente – seja de grandes quantidades de bebidas alcoólicas, seja de outras drogas, por exemplo –, são necessárias doses mais elevadas dessas substâncias para alcançar os efeitos ori-ginalmente produzidos por doses mais baixas.

Uso experimental Usualmente, os primeiros poucos episódios de uso de uma droga específica (algumas vezes incluindo tabaco ou álcool). A expressão refere-se algumas vezes ao uso extremamente raro ou não persistente.

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17Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Uso indevido de álcool ou droga

(em inglês, misuse)

Utilização de uma substância com um propósito incompatí-vel com as normas legais ou médicas, como acontece com o uso não médico de medicamentos que requerem receita. Há quem prefira essa designação a abuso, na crença de que não envolve juízo de valor.

Uso recreativo O uso de uma droga, em geral ilícita, em circunstâncias sociais ou relaxantes, sem implicação com dependência ou outros problemas. Essa expressão não é aceita pelos que definem o uso de qualquer droga ilícita como um problema.

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18 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

» PREVENÇÃOÉ melhor prevenir do que remediar

O governo do Estado de São Paulo entende e reconhece a necessidade de valorizar a PREVENÇÃO como eixo fundamental na redução do uso indevido do álcool, tabaco e outras drogas. Desse modo, tem trabalhado arduamente para estabelecer políticas públicas eficazes.

Desde 2011, conta com a Coordenação de Políticas sobre Drogas (Coed), órgão atualmente vin-culado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds), que tem dentre suas funções promover, elaborar, coordenar e acompanhar programas, projetos e atividades de prevenção ao uso indevido de drogas. A Coed trabalha em parceria com o Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (Coned) do Estado de São Paulo, bem como com outras entidades públicas e da sociedade civil, sempre considerando a promoção da responsabilidade compartilhada nas atividades de prevenção.

Sabe-se que o objetivo primeiro da prevenção é auxiliar as pessoas, notadamente crianças, ado-lescentes e jovens, a evitar ou retardar o início do uso de álcool, tabaco e outras drogas e, tam-bém, contribuir para que cada indivíduo busque meios para evitar e enfrentar suas vulnerabili-dades. Pensando nisso, em 2013 o governo do Estado criou o Programa Recomeço, por meio do qual se tem adotado uma estratégia de prevenção baseada em quatro eixos fundamentais: 1) capacitação continuada; 2) projetos, programas e campanhas; 3) rede estadual de prevenção; e 4) estudos e pesquisas.

A oferta de capacitações e cursos de qualidade sobre programas, projetos, metodologias, ações e ferramentas de prevenção é um componente essencial para a formação de profissionais capazes de gerar resultados satisfatórios.

Por meio da promoção de programas, projetos e campanhas, em parceria com municípios, o go-verno do Estado tem multiplicado os esforços de prevenção.

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19Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

O fortalecimento e a construção de uma ampla rede estadual e intersetorial de prevenção ao uso de drogas têm-se mostrado como a forma de intervenção eficaz.

Além disso, as articulações para o desenvolvi-mento de estudos, pesquisas e avaliações de ações de prevenção têm avançado, fato que visa a garantir políticas públicas baseadas em evidências científicas.

A política estadual de prevenção tem como base, dentre outros, os seguintes princípios:

I – O estabelecimento de políticas perma-nentes de prevenção que atendam às pessoas em diferentes idades, etapas e circunstâncias de suas vidas;

II – O reconhecimento de que o objetivo pri-meiro da prevenção é auxiliar as pesso-as, notadamente crianças, adolescentes e jovens, a evitar ou retardar o início do uso do álcool, tabaco e outras drogas;

III – O enfrentamento das vulnerabilidades como pressuposto da prevenção;

IV – A corresponsabilidade do Estado e dos Municípios na execução das políticas de prevenção;

V – O reconhecimento da importância da so-ciedade civil nas ações de prevenção;

VI – Fortalecimento dos fatores de proteção e redução dos fatores de risco para o uso de drogas, com serviços de ações conti-nuadas, considerando os programas es-taduais e municipais já existentes, com os pressupostos da comunidade escolar e do fortalecimento dos vínculos fami-liares e comunitários;

VII – O reconhecimento da maior vulnerabili-dade de crianças, adolescentes e jovens;

VIII – A capacitação de agentes multiplicado-res de prevenção nas comunidades, prio-ritariamente as que se encontram em si-tuações de agravos sociais e de risco;

IX – Parcerias com as universidades públicas e privadas, organizações nacionais e in-ternacionais para realização de ações de prevenção.

Tendo essas diretrizes em mente, as seguintes ações foram idealizadas para executar a preven-ção do uso de drogas no Estado de São Paulo:

Cursos e capacitações

Realizar capacitações e cursos sobre progra-mas, projetos, metodologias, ações e ferramen-tas de prevenção, para públicos que já atuam ou pretendem atuar em prevenção, por meio de parcerias com a Escola de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo (Edesp), Centros Regionais de Referência e outras instituições. Essas ações formativas serão feitas nas modali-dades a distância, semipresencial e presencial.

Projetos, programas e campanhas

Realizar o monitoramento de programas, pro-jetos, campanhas e ações de prevenção nos municípios e governo do Estado, a fim de pro-mover as ações mais eficazes, demonstradas por evidências científicas e indicadores de resultados. Apresentar avaliação de progra-mas e projetos para nortear ações corretivas e desenvolver estratégias mais eficientes de prevenção.

Fortalecer e apoiar equipes municipais de pre-venção, divulgando e reconhecendo publica-mente projetos exitosos por meio da Conces-são do Selo Parceiros do Recomeço para ações de prevenção do uso de drogas.

Coalizões comunitárias

Implantar, fortalecer e avaliar coalizões co-munitárias de prevenção nos municípios pau-listas, mediante a realização de consultoria e assessoria em ações de prevenção. A coalizão comunitária é fruto da iniciativa dos membros da sociedade civil organizada, com o objetivo de transformar suas próprias comunidades em um espaço seguro, saudável e livre de drogas. É uma organização formalmente constituída com representação intersetorial e segue ME-TODOLOGIA própria de trabalho em rede com foco na PREVENÇÃO ao uso de drogas. A estra-tégia do Estado é viabilizar essa iniciativa por meio de parceria com a Community Anti-drug Coalition of America (Cadca), ONG internacio-nal com sede nos Estados Unidos da América, ligada ao Departamento de Estado Americano. A Cadca existe desde 1992 e conta com cer-ca de 5 mil coalizões distribuídas por todos

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20 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

os estados americanos e em mais 18 países. Trata-se de uma comunidade global que com-partilha do mesmo objetivo: “Gerar mudanças para obter Comunidades Saudáveis e Livres de Drogas”. Para alcançar essa finalidade, a Cadca presta serviços de treinamento e assistência técnica para criar e organizar coalizões comu-nitárias de prevenção. Essa comunidade glo-bal troca experiências exitosas de prevenção, ajudando, assim, umas às outras nesse objeti-vo comum.

Rede estadual de prevenção

Construir e fortalecer uma ampla rede estadual e intersetorial de prevenção ao uso de drogas, por meio da realização de encontros regulares e da viabilização de um canal de comunicação para todos os atores da rede de prevenção do Estado.

A rede é fundamental para uma política públi-ca eficaz. A problemática das drogas é total-mente multidisciplinar e não se consegue um trabalho eficaz sem a articulação entre saúde, esporte, educação, conselhos, Poder Jurídico, segurança, Ministério Público, Cras, ONGs, so-ciedade civil etc. A importância do trabalho em

rede nas ações de prevenção tem como obje-tivo ampliar a participação da sociedade na efetivação das políticas públicas para o aten-dimento dos diversos públicos-alvo da preven-ção, identificando estratégias de intervenção capazes de promover mudanças significativas no projeto de vida desses indivíduos. Tanto a família como a comunidade escolar, o mundo do trabalho, os órgãos de atendimento à saúde e a assistência social, todos devem estar en-volvidos na execução das ações de prevenção, pois a participação da comunidade aumenta a sustentabilidade de programas, projetos e ações.

Estudos e pesquisas

Fomentar e articular o desenvolvimento de estudos, pesquisas e avaliações de programas, projetos e ações de prevenção, mediante par-ceria com universidades e centros regionais de referência sobre drogas. A adoção de estraté-gias de prevenção, baseadas no conhecimen-to do cenário epidemiológico e em evidên-cias científicas, é essencial para a eficácia de qualquer intervenção de prevenção e, por isso, deve ser prática constante no processo de im-plementação das políticas públicas.

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21Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

3 » TRATAMENTO

Cuidar para um Recomeço

A dependência química na atualidade corresponde a um fenômeno amplamente divulgado e discutido, uma vez que o uso abusivo de substâncias psicoativas tornou-se um grave problema social e de saúde pública em nossa realidade. Entretanto, falar a respeito do uso de drogas, par-ticularmente sobre a dependência química, traz à tona questões relacionadas diretamente ao campo da saúde, as quais implicam a necessidade de realizar reflexões sobre esse fenômeno no âmbito das concepções de saúde e doença, vigentes ao longo da história da humanidade, bem como no momento atual. Além disso, deve-se considerar que cada época apresenta uma maneira particular de encarar e lidar com os temas saúde, doença e drogas, de acordo com os conheci-mentos e interesses de cada período, tal como assinalam Pratta e Santos (2009).

Cada vez mais, em todo o mundo, conclui-se que a prioridade é desintoxicar, tratar e auxiliar os dependentes químicos a voltarem ao convívio social.

A dependência química é uma doença crônica, grave e incurável. Tratar a dependência química não é apenas curar os efeitos que as drogas causam no indivíduo, é reorganizar o indivíduo por completo.

O presente eixo, denominado Tratamento, tem as seguintes diretrizes:

I – Apoio às ações de cuidado integral, em parceria com os municípios, e aos dependentes de substâncias psicoativas, sobretudo o crack, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS);

II – Tratamento, de forma descentralizada, dos dependentes de substâncias psicoativas, em instituições públicas ou por meio de parcerias com municípios, organizações não gover-namentais e entidades privadas;

III – Articulação e integração, na esfera do Sistema Único de Saúde (SUS), com os demais equi-pamentos de saúde voltados ao tratamento e à recuperação de dependentes de substân-cias psicoativas;

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22 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

IV – Qualificação das equipes para o desen-volvimento de projetos terapêuticos in-dividualizados;

V – Promoção do tratamento e da recupera-ção como etapas fundamentais no pro-cesso de fortalecimento familiar, comu-nitário e de reinserção social.

Com base nos fundamentos acima elencados, as seguintes ações e estratégias foram desen-volvidas, visando ao cuidado e à atenção para os dependentes químicos do Estado:

Cursos e capacitações

Oferta de cursos e capacitações com patamar formativo de nivelamento e atualização dos en-volvidos nos serviços de atenção e cuidados à saúde de dependentes químicos, por meio de parcerias com a Escola de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo (Edesp), Centros Regionais de Referência e outras instituições. Esses treinamentos foram realizados nas moda-lidades a distância, semipresencial e presencial.

Equipamentos de saúde

Aperfeiçoamento e multiplicação, em parceria com os municípios, dos equipamentos de saú-de especializados em dependência química, em âmbito estadual, prioritariamente o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Dro-gas (Cratod), hospitais, clínicas e Centros de Apoio Psicossocial, Álcool e Drogas (Caps ad).

Vagas de tratamento

Oferta integral do tratamento ambulatorial, para dependentes químicos, nos equipamen-tos de saúde do Estado de São Paulo. Custeio de internação em comunidades terapêuticas por seis meses, prorrogáveis por mais três me-ses, se necessário.

O Estado celebrou convênio com 41 comunida-des terapêuticas (CT), por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds), proporcionando 983 camas (vagas) para de-pendentes de substâncias psicoativas, além de mais 14 CTs conveniadas com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), que oferta 730 camas (vagas).

A oferta geral totaliza 2.906 vagas, englobando camas e leitos e 88 entidades (comunidades terapêuticas, hospitais e casas de passagem).

Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod)

O Centro de Referência de Álcool, Tabaco e ou-tras Drogas (Cratod), localizado na Rua Prates, 165, em São Paulo, oferece pronto atendimen-to 24 horas: Urgência Recomeço, com serviços de desintoxicação, avaliação médica e encami-nhamentos a demais serviços, além de orien-tação aos usuários e suas famílias, presencial-mente e por telefone, pelo Disque-Recomeço (0800-2272863), efetuando busca ativa ou abordagem na rua, com tratamento ambulato-rial intensivo, semi-intensivo e não intensivo.

O Cratod também oferece atendimento ambu-latorial intensivo e regular – 24 horas por dia – para dependentes químicos. Como se trata de um centro de referência, proporciona capa-citação profissional para agentes das áreas da saúde e social.

Na Rua Helvétia, região da Luz em São Paulo, no quadrilátero da Cracolândia, foram instaladas tendas que servem de abrigo para os agentes da saúde e da área social, que fazem plantão di-ário, abordando os usuários de drogas das ime-diações com o objetivo de oferecer cuidados e convencê-los a aderir ao tratamento de saúde. Os agentes sociais focam suas abordagens no atendimento de outras demandas, tais como o resgate da identidade pessoal e dos vínculos fa-miliares, a qualificação profissional e a reinser-ção social. Além disso, nessas tendas são ofere-cidas diversas oficinas, culturais e de lazer, tais como: grafite, música, rap e poesia, visando a melhorar a qualidade de vida dos participantes.

Também na mesma rua está sendo criada a Unidade Helvétia, que oferece um centro de convivência humanizado, com serviços de corte de cabelo, banho, academia e outros. O edifício está sendo reformado para oferecer serviços de desintoxicação e internação para dependentes de substâncias psicoativas, com os mesmos serviços do Cratod, porém com mais leitos de internação.

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23Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

4 » REINSERÇÃO SOCIAL

E RECUPERAÇÃOApoio para dependentes e seus familiares

O presente eixo, denominado Reinserção Social e Recuperação, Abrangendo Atenção Familiar e Comunitária e Inclusão Produtiva, tem as seguintes diretrizes:

I – Realização de parcerias públicas e privadas com a rede de serviços, para atendimento aos usuários de substâncias psicoativas e suas famílias;

II – Integração do usuário à vida comunitária, para fortalecimento e resgate de vínculos fami-liares e comunitários;

III – Realização das ações de proteção social básica e especial de média e alta complexidade, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (Suas), com ações preventivas de proteção e acolhimento institucional, para a recuperação e reinserção social dos usuários de subs-tâncias psicoativas e seus familiares que se encontram em situação de vulnerabilidade e agravos sociais;

IV – Acesso das famílias e dos usuários de substâncias psicoativas à superação dos seus agra-vos sociais de situação de risco e de vulnerabilidades relacionadas à questão de direitos civis, programas de transferência de renda, emprego, trabalho, qualificação e formação profissional, de moradia e ingresso na rede do sistema de ensino, por meio de ações con-jugadas das demais secretarias de Estado em seus respectivos campos funcionais;

V – Geração de renda e inserção no mercado de trabalho dos dependentes químicos em recu-peração atendidos pelo Programa Recomeço;

VI – Parcerias com a iniciativa privada e organizações da sociedade civil para a contratação de usuários atendidos pelo Programa Recomeço, com vistas a gerar vagas de empregos.

Baseando-se nos pressupostos acima, são desenvolvidas as atividades descritas a seguir.

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24 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Cursos e capacitações

Assim como nos outros eixos, serão ofereci-dos cursos, treinamentos e capacitações para profissionais das redes estaduais e municipais para nivelamento e atualização dos envolvi-dos nos serviços de reinserção social e aten-ção às famílias.

Projeto de vida

Os profissionais envolvidos na reinserção so-cial e recuperação ajudarão os dependentes químicos a construir um projeto terapêutico singular para manter a recuperação por meio da prevenção de recaídas.

Abordagem social especializada

O serviço de abordagem social especializa-da é focado em pessoas em situação de rua e com histórico de uso indevido de substân-cias psicoativas na região central do municí-pio de São Paulo, com vistas a desenvolver o processo de saída dessas pessoas das ruas e promover o retorno familiar e/ou comunitário, com base na construção de processos de ade-são ao tratamento de saúde e de minimização dos impactos relacionados ao uso indevido de substâncias psicoativas. Como resultado desse trabalho, realizado em São Paulo no período de 2014 e 2015, na região da Cracolândia, foram encaminhadas 2.333 pessoas para os serviços de saúde.

Em 2012, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou uma pesquisa e estimou que o núme-ro de usuários de crack e drogas similares no Brasil é da ordem de 370 mil pessoas. O con-sumo de crack tem sido uma prática comum nos grandes centros urbanos brasileiros, prin-cipalmente na cidade de São Paulo. O crack é uma droga que possui efeito bastante rápido e estimulante, além de ser muito danoso para o organismo, pois mascara algumas necessi-dades básicas do usuário, a exemplo de suprir a fome e o sono. Daí ocorrer uma grande inci-dência de usuários entre as pessoas em situ-ação de vulnerabilidade social. Sua lógica de comercialização, com valor relativamente bai-xo em comparação com outras drogas ilícitas, também facilita o uso. Por isso, o crack acaba

sendo a substância mais usada por indivíduos em situação de rua.

Observou-se também que a necessidade do uso do crack leva os dependentes a realizarem atividades ilícitas, como roubos, furtos e pros-tituição, o que tem causado grandes prejuízos à segurança pública, visto que o desespero pela droga pode causar diversas situações de risco para a população em geral, assim como para os dependentes de crack.

A disseminação de doenças sexualmente transmissíveis também é um problema grave gerado pela dependência de crack, pois gera um aumento nos gastos públicos com saúde.

A região da Luz em São Paulo, mundialmente conhecida pela grande concentração de usuá-rios de drogas e por ser um problema de gran-des proporções sociais, foi escolhida como alvo das intervenções do Estado. De acordo com a estimativa do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), cerca de 2 mil usu-ários de drogas circulam diariamente pela Cra-colândia, visando ao uso indevido de substân-cias psicoativas, especialmente o crack.

Compreendendo a situação crítica e de alto ris-co em que se encontram determinados casos de usuários na Cracolândia, que não aderem ao tratamento pela sua própria situação de desor-ganização biopsicossocial, essa ação justifica-se pela necessidade do atendimento intensivo ao público mencionado.

As ações estaduais de enfrentamento ao uso indevido de crack e outras drogas foram enfa-tizadas a partir do ano de 2012, por meio de diferentes ações e serviços articulados pelo Programa Recomeço. No último ano, a priori-dade das ações circunscritas na assistência so-cial focou a abordagem social de pessoas em situação de rua e que fazem uso indevido de substâncias psicoativas na região central do município de São Paulo, com vistas ao desen-volvimento do processo de saída das ruas e promoção ao retorno familiar e/ou comunitá-rio, a partir da construção de processos de ade-são ao tratamento de saúde e de minimização dos impactos relacionados ao uso indevido de substâncias psicoativas.

Dentre as dificuldades enfrentadas destacam-se: a periculosidade do local de abordagem, que oferece risco de roubos, furtos e agressões

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25Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

aos abordadores; a resistência dos usuários às abordagens e sua constante situação de des-controle emocional, o que dificulta uma abor-dagem, conversa e construção de vínculos; a hostilidade presente no ambiente e a grande rotatividade das pessoas no local. Todos esses desafios foram enfrentados com treinamen-to especializado da equipe de abordadores para capacitá-los a lidar com essas situações adversas.

O sucesso dessa iniciativa deve-se aos seguin-tes fatores:

busca ativa e abordagem no território de abrangência onde se verifica a incidência de usuários de substâncias psicoativas;

construção de vínculo de confiança, que se dá com uma escuta qualificada e realmente interessada em ajudar o usuário. Essa ação visa a buscar identificar as origens da mo-radia, natureza dos riscos, causas de sua permanência, estratégias de sobrevivência, procedências, aspirações e desejos;

encaminhamento desde o momento da abordagem, priorizando a reinserção co-munitária e familiar ou inserção no serviço de saúde (Cratod).

Casa de passagem

A Casa de Passagem atende a usuários de subs-tâncias psicoativas, oferecendo acolhimen-to social por um período máximo de 30 dias. Trata-se de um serviço de retaguarda visando a desencadear o processo de sensibilização para a importância de inserção no mundo do trabalho, geração de renda e construção de au-tonomia, facilitando, assim, o retorno à vida fa-miliar e/ou comunitária. Entre fevereiro e julho de 2015, a Casa de Passagem atendeu 265 pes-soas encaminhadas pelo Programa Recomeço.

A Casa de Passagem é um serviço de proteção social de alta complexidade, transitório e de curta duração, ofertado para pessoas em situa-ção de rua e vulnerabilidade, com histórico de uso indevido de substâncias psicoativas, em especial o crack, e que estejam vinculadas ao Programa Recomeço e às ações estaduais de enfrentamento ao uso de crack.

O equipamento é um serviço de retaguarda e oferece um acolhimento social por perío-do máximo de 30 dias para 20 pessoas ao dia por 24 horas ininterruptas, tendo por objetivo sensibilizar o indivíduo para a importância da reinserção no mundo do trabalho, geração de renda, construção de autonomia, facilitando o retorno à vida familiar e comunitária.

A Casa de Passagem é referência e contrarre-ferência com a rede de serviços socioassisten-ciais da Proteção Básica e Especial, com o Po-der Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, outras organizações de defesa de di-reitos e demais políticas públicas, no intuito de estruturar uma rede efetiva de proteção social.

Os encaminhamentos são feitos pelos equipa-mentos de saúde, pelo Centro de Referência Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod), pelo Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental e Hospital Pinel (Caism) e pelas comunidades terapêuticas.

República

O Estado, em parceria com municípios, tam-bém visando à recuperação, ofertará serviços de proteção, apoio e moradia subsidiada a gru-pos de pessoas maiores de 18 anos em estado de abandono, situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados, sem condições de moradia e autossustento. Deno-minados República, esses espaços oferecerão prioridade de vagas de acolhimento para de-pendentes químicos em recuperação no âmbi-to do Programa Recomeço.

Moradia assistida

A Moradia assistida será outro importante re-curso disponibilizado para o apoio às pessoas em recuperação no Estado de São Paulo, pois se trata de uma residencia terapêutica, onde o acolhido pelo Programa receberá cuidados de enfermeiros, psicólogos, terapeutas e cuidado-res, que se revezam 24 horas no local. Nessas circunstâncias, podem desenvolver convívio social e atividades de lazer, aprender um ofício e ter uma chance de integração no mercado de trabalho.

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26 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

Qualificação profissional

Os cursos de qualificação profissional têm como objetivo a capacitação laboral dos usuários de substância psicoativa em tratamento e seus fa-miliares, visando à autonomia dos indivíduos, bem como à redução da vulnerabilidade social.

Em 2014, a parceria entre o Programa Reco-meço e o Programa Via Rápida ofereceu aos usuários de substâncias psicoativas em trata-mento 1.400 vagas em cursos de qualificação profissional, divididas entre as comunidades te-rapêuticas e o Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod). Destas, foram utilizadas 690 vagas, sendo 345 pelas comuni-dades terapêuticas e 345 pelo Cratod.

Selo Parceiros do Recomeço

O Selo Parceiros do Recomeço é uma iniciativa do governo do Estado junto às Secretarias de Desenvolvimento Social, da Saúde, do Emprego e Relações do Trabalho, de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e Inovação, da Justiça e da Defesa da Cidadania, em que esta-belecem parcerias com a iniciativa privada para o desenvolvimento de projetos para tratamento, prevenção e reinserção social e no mercado de trabalho, dos dependentes químicos em reabi-litação no Programa Recomeço.

O Selo Recomeço é concedido a organizações públicas, privadas e da sociedade civil que desenvolvam programas, projetos e ações de prevenção, tratamento e reinserção social e laboral.

Com foco na reinserção social, o objetivo do “Selo Parceiros do Recomeço” é dar continui-dade ao acolhimento oferecido pelo Programa Recomeço, por meio da parceria com empresas privadas e públicas que possam receber os aco-lhidos do programa e, através do trabalho, dar continuidade ao tratamento, visando ao retorno desse individuo à sociedade, tendo subsídios para se manter financeiramente e fora do uso das substâncias psicoativas.

Ingresso no mercado de trabalho

O encaminhamento e a recolocação de bene-ficiários do Programa Recomeço em postos de trabalho são ações fundamentais para a rein-serção social e a recuperação de dependentes químicos. No entanto, para que essas ações tenham eficácia, o Estado promoverá a capa-citação de profissionais das empresas empre-gadoras para atuarem como facilitadores no processo de reinserção social. Além disso, será realizado acompanhamento individualizado por profissionais da própria empresa empre-gadora e por tutores de caso (profissionais de referência para as pessoas em recuperação).

Recomeço Família

O Programa Recomeço Família tem como obje-tivo atender às famílias dos usuários de subs- tâncias psicoativas, mediante acolhimento, ori-entação e encaminhamento, pautados no forta-lecimento do convívio familiar e comunitário.

A presença e o apoio de familiares tornam o período de tratamento e internação, quando necessário, menos solitário, auxiliando na re-construção de um novo projeto de vida do de-pendente químico.

O trabalho é desenvolvido por meio de ações relativas a acolhida, informação e orientação sobre a dependência e codependência, além de inserção em serviços da rede socioassistencial, saúde, educação, justiça e cidadania, a fim de fortalecer a função protetiva das famílias, pre-venir a ruptura de seus vínculos, acesso e uso dos direitos, e as vulnerabilidades do território que impactam no convívio familiar e comuni-tário, melhorando sua qualidade de vida.

O trabalho inicia com atendimento individual do familiar para orientação e fortalecimento dos vínculos familiares e posterior encaminhamen-to aos grupos terapêuticos, com acompanha-mento dos técnicos do Programa Recomeço e do grupo de autoajuda Amor Exigente.

O serviço de acolhimento às famílias de depen-dentes de substâncias psicoativas conta com uma equipe de 27 pessoas, sendo uma coorde-nadora, 13 psicólogos e 13 assistentes sociais ou conselheiros especialistas em dependência

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27Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

química. Essas equipes estão distribuídas em 11 Centros de Integração da Cidadania (CICs), uma equipe no Centro de Referência de Álcool Tabaco e Drogas (Cratod) e outra na Unidade Helvétia.

Os Centros de Integração da Cidadania estão localizados nas regiões sul (CIC Feitiço da Vila,

CIC São Luiz e CIC Casa da Cidadania), norte (CIC Jaçanã), oeste (CIC Oeste), leste (CIC Itaim Paulista), além das cidades da Grande São Paulo (Guarulhos, Ferraz de Vasconcelos e Francisco Morato) e do interior (Campinas e Jundiaí). Todos estão localizados em áreas de alta vul-nerabilidade social.

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28 Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

» CONTROLE E REQUALIFICAÇÃO DOS TERRITÓRIOS DEGRADADOS

Por uma comunidade segura e revitalizada

O presente eixo, denominado Controle e Requalificação dos Territórios Degradados, em Virtude das Atividades nas Cenas de Uso e Policiamento Preventivo e Repressivo, tem como diretrizes:

I – Requalificação dos territórios degradados em virtude das atividades realizadas nas cenas de uso;

II – Apoio a organismos públicos e à sociedade civil, por meio de diagnóstico e orientações voltadas ao enfrentamento da drogadição local;

III – Parcerias com ações locais de gestão, cuidado e proteção aos usuários dependentes quí-micos e suas famílias;

IV – Recuperação urbanística nos locais identificados de risco e de situações de agravos so-ciais, favorecendo seu pleno uso pela comunidade local;

V – Garantia da mobilidade urbana;

VI – Repressão ao tráfico de drogas.

Controle e Requalificação

Território define-se como o espaço apropriado e transformado pela atividade humana. Dado esse conceito, a compreensão do território como soma entre o lugar e a intencionalidade serve para entender porque a parte de enfrentamento ao tráfico de drogas, controle e requalificação terri-torial, no caso de Estado, está sob comando da Secretaria de Segurança Pública. O uso do poder coercitivo para auxiliar os gestores públicos a promoverem mudanças em locais degradados acaba sendo fundamental para que essas mudanças efetivamente aconteçam, mas só se acom-panhado do trabalho dos demais eixos, especialmente o de reinserção social, que visa não só a combater o uso de droga, mas também a tirar o usuário da condição de vulnerabilidade que

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contribuiu para o quadro de dependência química.

A cena de uso, em sentido amplo, é o lugar onde um grupo de pessoas se reúne para usar drogas, com determinada frequência. No caso específico do uso do crack, há um agravante: seu uso costuma se associar com outras ques-tões sociais, como a das pessoas em situação de rua, mais do que ocorre com outras drogas. São locais eleitos pelos usuários, onde per-manecem sem se comunicar com ninguém, mantendo-se isolados ou em grupos para fa-zer uso da substância. A escolha pelo local se dá por diversas razões, tais como, localização geográfica, acessibilidade, proteção do tráfico, falta de policiamento ostensivo e carências de ações da prefeitura, com maior concentração em certos dias da semana e turnos específicos.

Em sentido mais específico, consideramos as cenas de uso como locais onde o usuário de

crack realiza o consumo de forma compulsiva, sem se ausentar para realizar as demais ativi-dades da sua vida, ou seja, o espaço acaba sen-do uma referência onde o usuário permanece boa parte do seu cotidiano experimentando os efeitos da substância.

O Programa Recomeço tem apoiado a recupe-ração urbanística nos locais identificados de risco e de situações de agravos sociais, favo-recendo seu pleno uso pela comunidade local, por meio de estudos, avaliações e intervenções nos territórios degradados, e em suas cenas de uso, em parceria com os diversos entes gover-namentais e da sociedade civil.

O monitoramento e as intervenções estratégi-cas na cena de uso denominada “Cracolândia”, região da Nova Luz/SP, são realizados de for-ma sistemática, identificando as situações de intercorrências e conflitos, e garantindo assim a mobilidade urbana e de proteção.

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» ACESSO À JUSTIÇA E À CIDADANIAIgualdade, cidadania e justiça para todos

O presente eixo é norteado pelas seguintes diretrizes:

I – Acesso permanente aos serviços de promoção da justiça;

II – Ações intersetoriais articuladas para atendimento das necessidades prioritárias do depen-dente de substâncias psicoativas e seus familiares;

III – Implantação e manutenção dos plantões jurídicos para atendimento específico do público afim.

Visando a garantir ao público-alvo do Programa Recomeço acesso à justiça e à cidadania, foram planejadas e executadas as seguintes funções:

Plantão Jurídico

Por meio de parcerias com outros órgãos públicos, foi implementada no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod) uma iniciativa pioneira intitulada Plantão Jurídico, que conta com profissionais do Tribunal de Justiça, Ministério Público Estadual, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Defensoria Pública. O objetivo desse serviço é garantir com cele-ridade o acesso à justiça e à cidadania aos dependentes químicos e seus familiares. Os pacientes do Cratod e seus familiares podem contar com os serviços oferecidos por esses órgãos públicos, bem como com advogados da OAB, que acompanham os trabalhos e os casos que precisam de apoio ou interveniência desses organismos. Além disso, há no Cratod servidores da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania que atendem usuários do serviço e seus familiares, viabilizando a emissão de documentos pessoais como carteira de identidade, carteira de trabalho, segundas vias de certidões de nascimento, casamento e óbito.

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31Panorama das Políticas sobre Drogas no Estado de São Paulo

O Programa Recomeço é uma iniciativa de proporções gigantescas, já que é direcionado a aten-der às demandas de um Estado com mais de 40 milhões de pessoas, com enorme dimensão geográfica e variáveis praticamente incontáveis, quando se refere aos problemas relacionados ao uso de drogas.

Tem como objetivos:

1. Centralizar todas as informações geradas pelas ações do Programa Recomeço;

2. Proporcionar a todos os atores da Rede Recomeço, a qualquer tempo, o acesso remoto a in-formações atualizadas do Programa, de modo restrito e de acordo com suas competências e responsabilidades;

3. Possibilitar o monitoramento das ações do Programa Recomeço em todos seus eixos, a fim de analisar os resultados e indicadores que nortearão ações corretivas e de aperfeiçoamento. O Estado também tem-se empenhado para o desenvolvimento de um sistema de monitoramento e de informações completo e integrado com toda a Rede Recomeço, o que tornará possível a análise e avaliação sistemática dessa política pública, para garantir a eficácia do serviço público.

7 » Sistema de monitoramento do

Programa RecomeçoAcesso e controle das ações

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» Referências Bibliográficas

GLOSSÁRIO de álcool e drogas. Brasília, DF, 2006. Tradução da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD. Brasília, DF: Organização Mundial de Saúde, 1994. Título original: Lexi-con of Alcohol and Drug Terms.

PRATTA, Elisângela Maria Machado; SANTOS, Manoel Antonio dos. O processo saúde-doença e a dependência química: interfaces e evolução. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, DF, v.25, n.2 , p. 203-211, abr./jun. 2009.

RUA, Maria das Graças. Análise de políticas públicas: conceitos básicos. In: RUA, Maria das Graças; VALADÃO, Maria Izabel. O estudo da política: temas selecionados. Brasília, DF: Paralelo 15, 1998.

______. Políticas públicas. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2009.

UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. World Drug Report 2015. New York: United Na-tions, 2015.

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