cartilha do bem-estar animal · as chamadas “rinhas” ou “brigas de galo”. (stf - adi...

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CARTILHA DO BEM-ESTAR ANIMAL ATUAÇÃO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA NAS ÁREAS DE MANEJO POPULACIONAL DE ANIMAIS DOMÉSTICOS E DE BEM-ESTAR ANIMAL¹

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Page 1: CARTILHA DO BEM-ESTAR ANIMAL · as chamadas “rinhas” ou “brigas de galo”. (STF - ADI 3776/RN, Rel. Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 14/6/2007). ³ Para mais informações

CARTILHA DO

BEM-ESTAR ANIMALATUAÇÃO DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA NAS ÁREAS DE MANEJO POPULACIONAL DE ANIMAIS DOMÉSTICOS E DE BEM-ESTAR ANIMAL¹

Page 2: CARTILHA DO BEM-ESTAR ANIMAL · as chamadas “rinhas” ou “brigas de galo”. (STF - ADI 3776/RN, Rel. Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 14/6/2007). ³ Para mais informações

4 Principais Políticas Públicas Página 24 - 34

3 CompetênciasPágina 14 - 23

2 Principais ConceitosPágina 8 - 13

1 Objetivo da CartilhaPágina 2 - 07

5 Materiais RelacionadosPágina 35

6 Referências LegislativasPágina 36 - 37

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A presente cartilha objetiva estabelecer parâmetros para a avaliação das políticas públicas municipais existentes ou em implementação nas áre-as de manejo populacional de animais domésticos e de bem-estar animal, fornecendo subsídios para a Atuação Ministerial estruturante (art. 129, II, da Constituição da República Federativa do Brasil).

O art. 225, § 1°, VII, da Constituição da República Federativa do Bra-sil (CRFB) estabelece ser dever do Poder Público proteger a fauna, sendo “vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”. O art. 225, § 3°, da Constituição da República Federativa do Brasil garante, ainda, a responsabilização daqueles que cometerem condu-tas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente².

A Lei n. 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais³), no art. 32, tipifica a conduta de crueldade a qualquer espécie animal: “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domestica-dos, nativos ou exóticos”. Por seu turno, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais enuncia, em seu art. 2°, que “todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem”.

¹ Fonte: Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal.2 COSTUME. MANIFESTAÇÃO CULTURAL. ESTÍMULO. RAZOABILIDADE. PRESERVAÇÃO DA FAUNA E DA FLORA. ANIMAIS. CRUELDADE. A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância da norma do inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal, no que veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento discrepan-te da norma constitucional denominado “farra do boi”. (STF, RE 153531, Segunda Turma, Rel. p/ ac. Min. Marco Auré-lio, DJ de 13/03/1998).INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Lei nº 7.380/98, do Estado do Rio Grande do Norte. Ativi-dades esportivas com aves das raças combatentes. “Rinhas” ou “Brigas de galo”. Regulamentação. Inadmissibilidade. Meio Ambiente. Animais. Submissão a tratamento cruel. Ofensa ao art. 225, § 1º, VII, da CF. Ação julgada procedente. Precedentes. É inconstitucional a lei estadual que autorize e regulamente, sob título de práticas ou atividades esportivas com aves de raças ditas combatentes, as chamadas “rinhas” ou “brigas de galo”. (STF - ADI 3776/RN, Rel. Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 14/6/2007).³ Para mais informações sobre crimes contra a fauna, vide Guia de Atuação em Delitos e Danos Ambientais do Ministério Público do Estado de Santa Catarina. p. 79-97. 2014.4 UNESCO, Declaração Universal dos Direitos dos Animais, documento do qual o Brasil é signatário. 1978. Disponível em: http://www.suipa.org.br/index.asp?pg=leis.asp.

Objetivo da Cartilha | 3

Objetivoda Cartilha

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Agredir fisicamente os animais silvestres, domésticos ou do-mesticados, nativos ou exóticos, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar-lhes sofrimento ou dano, ou que, de alguma forma, provoque condições inaceitáveis para sua existência;

1

Manter animais em local desprovido de asseio, ou que os prive de espaço, ar e luminosidade suficientes;

Obrigar animais a trabalhos extenuantes ou para cuja execução seja necessária uma força superior à que possuem;

Exercer a venda ambulante de animais para menores desacom-panhados por responsável legal;

4 | Objetivo da Cartilha

Lei n. 12.854/2003No âmbito estadual, por sua vez, a Lei n. 12.854/2003 (Código Estadual de Proteção aos Animais) estabelece, no art. 2º, as seguintes vedações:

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Expor animais para qualquer finalidade em quaisquer eventos agropecuários não autorizados previamente pela Secretaria de Estado da Agricultura e Política Rural;

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Criar animais em lixeiras, lixões e aterros sanitários públicos ou privados;

Enclausurar animais com outros que os molestem ou aterrori-zem; e (Redação acrescida pela Lei nº 17.541/2018);

Eutanasiar animais com substâncias venenosas ou outros mé-todos não preconizados pela Organização Mundial de Saúde Animal, pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. (Redação acrescida pela Lei nº 17.541/2018).

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Objetivo da Cartilha | 5

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De acordo com Luís Paulo Sirvinskas5, o Ministério Público deve exercer as suas funções institucionais e constitucionais na qualidade de protetor da fauna, propondo ações para garantir a não ocorrência de omis-sões do Poder Público e a efetiva responsabilização dos infratores. A esse mesmo respeito, preleciona o Promotor de Justiça Laerte Fernando Levai6:

Possui o Ministério Público plenas condições para assumir a tutela jurídica da fauna, no afã de livrá--la das maldades, dos padecimentos e das tortu-ras que a humanidade lhe impinge. Nenhum outro órgão estatal possui à sua disposição tantos ins-trumentos administrativos e processuais hábeis a impedir situações de maus tratos a animais. Se os promotores de justiça e os procuradores da re-pública utilizassem todas as armas que a lei põe a seu alcance, em prol dos verdadeiros ideais de justiça, talvez um mundo menos violento pudes-se amanhecer, sem cabrestos, sem correntes, sem chibatas, sem degolas, sem incisões, sem exter-mínios, sem jaulas, sem arpões e sem gaiolas, em que se garantisse o respeito pela vida, a integri-dade física e a liberdade.

6 | Objetivo da Cartilha

Nesse viés, revela-se importante, ainda, o fomento às atividades e aos programas voltados à educação ambiental, nos termos da Lei n. 9.795/99 (Política Nacional de Educação Ambiental) e da Carta de Belo Horizonte⁷ , elaborada no 1º Encontro do Ministério Público em Proteção à Fauna, realizado em 2013, que diz: “cabe ao Ministério Público buscar a implementação de educação ambiental que promova a formação de um novo ser social, capaz de compreender a importância do tratamento ético a todas as formas de vida”.

A Educação Ambiental, além de ser dever do Poder Público⁸, é uma forma eficaz de disseminar o conhecimento, de conscientizar a população sobre a importância da proteção à fauna, dos direitos dos animais e do meio ambiente, contribuindo para a construção do senso de participação, de responsabilização, de troca de informações e de comprometimento das pessoas com a defesa dos direitos dos animais.

Assim, a presente cartilha visa a subsidiar a atuação dos Promotores de Justiça no combate à omissão do poder público na implementação de políticas de controle do aumento populacional de cães e gatos, bem como de bem-estar animal. Cumpre destacar que a ausência de políticas públicas eficientes resulta em graves problemas, como, por exemplo, a ofensa aos direitos dos animais, à saúde pública e à própria segurança da população.

Objetivo da Cartilha | 7

5 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manuel de Direito Ambiental. p. 624. 11. ed. São Paulo: Saraiva. 2013.6 LEVAI, Laerte Fernando. Proteção Jurídica da Fauna. Disponível em: http://www.mpambiental.org/arquivos/artigos/Manual________Protecao_Juridica_da_Fauna_MP_SP.pdf.⁷ I Encontro do Ministério Público em Proteção à Fauna. Carta de Belo Horizonte. 2013. Disponível em: http://www.mpma.mp.br/arquivos/CAUMA/CARTA_DE_BELO_HORIZONTE.pdf.⁸ Art. 9o, LC n. 140/2011. São ações administrativas dos Municípios: XI - promover e orientar a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente.

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A) BEM-ESTAR ANIMAL

"Condição fisiológica e psicológica em que o animal se adapta como-damente ao entorno, satisfazendo as suas necessidades e desenvol-vendo as suas capacidades conforme a sua natureza biológica”.– Prof. Nestor Calderón, 2009, ITEC

"Estado de harmonia entre o animal e o seu ambiente, caracteriza-do por condições físicas, fisiológicas e psicológicas ótimas”.– Prof. Frank Hurnik, 1992, Univ. de Gelph-Canadá

O Conselho do Bem-Estar dos Animais de Fazenda (Farm Animal Welfare Council – FAWC) instituiu as cinco liberdades, aceitas como uma descrição geral de bem-estar dos animais, os quais devem estar: • livres de fome e de sede; • livres de dor, de lesões e de doenças; • livres de desconforto; • livres para expressar o seu comportamento; • livres de medo e de estresse⁹.

Principais Conceitos | 9

⁹ Disponível em: http://www.fawc.org.uk/freedoms.htm. Acesso em 13 nov. 2019.

PrincipaisConceitos

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B) ZOONOSES

Doenças transmitidas de animais para humanos, ou de humanos para animais¹⁰. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), zoonoses são “doenças ou infecções naturalmente trans-missíveis entre animais vertebrados e seres humanos”¹¹. Consti-tuem relevante ameaça à saúde pública, em razão do frequente contato entre o ser humano e os animais. A raiva é uma das zoo-noses mais importantes para a saúde pública, por ser letal e trans-missível entre mamíferos¹².

C) CONTROLE DE ZOONOSES

Ações e serviços públicos de saúde voltados para a vigilância de zoonoses. A Portaria n. 1.138/GM/MS, de 23 de maio de 2014, define as ações e os serviços de saúde voltados para a vigilância, a prevenção e o controle de zoonoses e de acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos, de relevância para a saú-de pública¹³. São exemplos: controle das populações de animais domésticos (cães e gatos) e controle de animais da fauna sinan-trópica (morcegos, pombos, roedores, caramujos, carrapatos, pul-gas, entre outros).

10 | Principais Conceitos

¹⁰ Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/ccz/apresentacao-2/o-que-sao-zoonoses/. Acesso em 13 nov. 2019.¹¹ Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/ccz/apresentacao-2/o-que-sao-zoonoses/. Acesso em 4 de março de 2020.¹² Disponível em: https://www.infoescola.com/doencas/zoonoses/. Acesso em 13 nov. 2019.¹³ Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt1138_23_05_2014.html. Acesso em 13 nov. 2019.

D) CCZ - CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES

Órgão responsável pelo desenvolvimento de serviços públicos de saúde voltados para a vigilância de zoonoses. O CCZ é comumente confundido, de forma errônea, com canil/gatil ou órgão de bem-estar animal. De fato, os CCZs são obrigados a respeitar o bem-estar dos animais com os quais lida, mas a sua função prioritária é a saúde pública por meio do controle dos animais¹⁵. – Prof. Nestor Calderón, 2009, ITEC

Dentre as principais atribuições do CCZ, verifica-se o controle da raiva, o controle de animais daninhos (vetores, roedores, animais incômodos), o controle de animais peçonhentos, o controle dos fa-tores ambientais e biológicos, a vacinação de animais, a vigilância e a investigação epidemiológica, bem como a educação em saúde.

Principais Conceitos | 11

¹⁴ O termo Unidade de Vigilância e Zoonoses (UVZ) é atualmente mais adequado, nos termos da Portaria MS n. 758/14 (BRASIL, 2014).¹⁵ Comumente, na organização dos Municípios, o CCZs estão vinculados à secretaria municipal de saúde, enquanto o órgão de bem-estar animal do município está vinculado ao órgão de meio ambiente.

UVZ - UNIDADE DE VIGILÂNCIA E ZOONOSES¹⁴ou

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E) MAUS-TRATOS¹⁶

Qualquer ato, direto ou indireto, comissivo ou omissivo, que – in-tencionalmente ou por negligência, imperícia ou imprudência – provoque dor ou sofrimento desnecessário aos animais¹⁷.

F) ABUSO

Qualquer ato intencional, comissivo ou omissivo, que importe no uso despropositado, indevido, excessivo, demasiado, incorreto de animais, causando-lhes prejuízos de ordem física e/ou psicológica, aí incluídos os atos caracterizados como abuso sexual¹⁸.

12 | Principais Conceitos

¹⁶ Há diversos conceitos de maus-tratos, abuso e crueldade. Na presente cartilha, apresentam-se as definições do Conselho Federal de Medicina Veterinária.¹⁷ Art. 2º, II, da Resolução n. 1236/2018, do Conselho Federal de Medicina Veterinária.¹⁸ Art. 2º, IV, da Resolução 1236/2018, do Conselho Federal de Medicina Veterinária.¹⁹ Art. 2º, III, da Resolução 1236/2018, do Conselho Federal de Medicina Veterinária.

Qualquer ato intencional que provoque dor ou sofrimento des-necessário nos animais, bem como lhes cause maus-tratos de forma continuada¹⁹.

G) CRUELDADE

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Competências

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Competências | 15

²⁰ Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências.²¹ OJN n. 52/2015/PFE/IBAMA: O IBAMA possui uma grande quantidade de atribuições legais em todo o território nacional, cuja execução demanda um complexo planejamento estratégico, mormente em virtude da limitação de recursos financeiros. As ações fiscalizatórias da Autarquia não são decididas aleatoriamente, ou realizadas a partir do impulso de órgãos ou pessoas interessadas. Pauta-se, sim, por política traçada em lei e por diretrizes emanadas do Poder Executivo Federal, as quais se materializam no Plano Anual de Proteção Ambiental – PNAPA. Assim, a escolha por atuações prioritárias, em detrimento de outras menos estratégicas, faz parte do dia-a-dia do IBAMA. Tal forma de gestão é o único modo de que dispõe a Autarquia para operar em todo o território nacional, executando atividades compreendidas em suas atribuições institucionais com eficácia e eficiência e nos limites das suas possibilidades. A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, traça os princípios e as finalidades da Polícia Nacional do Meio Ambiente, direcionando sua atuação para atividades que visam conferir uma maior eficácia à prevenção e repressão das infrações ambientais mais relevantes. As suas diretrizes serão formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União. Assim sendo, se é certo que o IBAMA deve laborar para executar todas as suas competências estatuídas pelo legislador, também é certo que suas atividades devem ser orientadas por diretrizes, planos e planejamento.

A) IBAMA

Linha Verde 0800-618080

Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), como aos demais órgãos ambientais, aplicar as penalidades de acordo com o Decreto n. 6.514/2008²⁰.

O IBAMA poderá ser acionado por meio de denúncias via:

Formulário online ou chatwww.ibama.gov.br/fale-com-o-ibama

A Orientação Jurídica Normativa n. 52/2015/PFE/IBAMA²¹ expli-ca que, apesar da relevância das denúncias referentes à fauna doméstica, elas devem ser prioritariamente direcionadas a outros entes, como a Polícia Ambiental e a Polícia Civil, por se tratar de infração penal (art. 32 da Lei n. 9.605/98, Lei dos Crimes Ambientais).

A Ouvidoria do IBAMA em Brasília/DF faz o encaminhamento das denúncias aos Estados.

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16 | Competências

²² O Estado também é o responsável pela gestão e pelo manejo da fauna silvestre (art. 8º, XVIII e XIX, da Lei Complementar n. 140/11).²³ Art. 3º, Lei Estadual n. 12.854/03. Os assuntos e a fiscalização das ações concernentes à proteção aos animais regidos por esta Lei competem à Secretaria de Estado da Agricultura e Política Rural, Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão e Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, Urbano e Meio Ambiente, e Secretaria de Estado da Saúde. Parágrafo único. A execução da fiscalização das ações concernentes à proteção aos animais poderá ser delegada a órgãos públicos ou vinculados à administração estadual, bem como ser firmado convênio com entidades privadas para o fiel cumprimento desta Lei.

B) ESTADO DE SANTA CATARINA²²

A Lei Estadual de Proteção aos Animais (Lei Estadual n. 12.854/03) determina, em seu art. 3°²³, que, em relação à fiscalização e aos demais assuntos correlatos à proteção dos animais, a competência é de responsabi-lidade da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimen-to Rural, da Secretaria do Estado de Segurança Pública e da Secretaria de Estado da Saúde, podendo haver a delegação de ações de fiscalização para outros órgãos ou entidades privadas.

Secretaria de Estado e Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural(48) 3664-4400

Secretaria do Estado de Segurança Pública(48) 3665-8100

Secretaria de Estado da Saúde(48) 3664-9000

C) MUNICÍPIO

Acerca da responsabilidade dos Municípios, cumpre registrar que os animais domésticos em situação de abandono estão incluídos na tutela ma-terial do meio ambiente e, ainda, nas questões afetas à saúde pública (art. 23, II, da Constituição da República Federativa do Brasil).

Sobre a atuação dos Municípios, Paulo de Bessa Antunes²⁴ explica:

O meio ambiente está incluído entre o conjunto de atribuições legislativas e administrativas mu-nicipais, e, em realidade, os Municípios formam um elo fundamental na complexa cadeia de pro-teção ambiental. A importância dos Municípios é evidente por si mesma, pois as populações e as autoridades locais reúnem amplas condições de bem conhecer os problemas e as mazelas ambien-tais de cada localidade, sendo certo que são as primeiras a localizar e a identificar o problema.

Competências | 17

²⁴ ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p. 64.

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Inexistindo, no Município, órgão competente, é fundamental assegu-rar os meios necessários para a efetiva estruturação das políticas públicas. Deve-se atentar, nesse aspecto, para o art. 23, VI e VII da Constituição da República Federativa do Brasil, que estabelece a competência comum para a proteção do meio ambiente e a preservação da fauna. In verbis:

ART. 23, VI e VII

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-nicípios: […]VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

A par disso, cumpre destacar que a Lei Complementar n. 140/2011 – que regulamenta a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Fede-ral e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção do meio ambiente – estabelece ins-trumentos dos quais os entes federativos podem se valer a fim de garantir a atuação administrativa eficiente, vale dizer: convênios, acordos de coope-ração técnica com órgãos e entidades do Poder Público, fundos públicos e privados, delegação de atribuições de um ente federativo a outro (art. 4º, II, IV e V e VI, da Lei Complementar n. 140/2011).

18 | Competências

D) CPMA - COMANDO DE POLICIAMENTO

MILITAR AMBIENTAL

O art. 107, I, g, da Constituição do Estado de Santa Catarina²⁵ esta-belece a competência da polícia militar ambiental, e o Código Estadual do Meio Ambiente (Lei Estadual n. 14.675/2009, em seu art. 15, dispõe sobre as atribuições do Comando de Policiamento Militar Ambiental (CPMA)²⁶.

A Portaria Conjunta IMA/CPMA n. 143, de 4 de junho de 2019, dis-ciplina os procedimentos para a apuração de infrações ambientais por con-dutas e atividades lesivas ao meio ambiente no âmbito do Instituto do Meio Ambiente (IMA) e do Batalhão da Polícia Militar Ambiental.

Competências | 19

²⁵ Art. 107, Constituição do Estado de Santa Catarina. À Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do Exército, organizada com base na hierarquia e na disciplina, subordinada ao Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de outras atribuições estabelecidas em Lei: I - exercer a polícia ostensiva relacionada com: g) a proteção do meio ambiente.²⁶ Art. 15, Código Ambiental Catarinense. A Polícia Militar Ambiental - PMA, além de executar as competências estabelecidas na Cons-tituição do Estado, tem as seguintes atribuições: I - exercer o policiamento do meio ambiente e atividades na área de inteligência ambien-tal, utilizando-se de armamento apenas em situações de comprovada necessidade; II - estabelecer ações de policiamento ambiental nas unidades de conservação estaduais, de guarda de florestas e outros ecossistemas; III - lavrar auto de infração em formulário único do Estado e encaminhá-lo a FATMA, para a instrução do correspondente processo administrativo; IV - apoiar os órgãos envolvidos com a defesa e preservação do meio ambiente, garantindo-lhes o exercício do poder de polícia de que são detentores; V - articular-se com a FATMA no planejamento de ações de fiscalização e no atendimento de denúncias; VI - realizar educação ambiental não formal; VII - estimular condutas ambientalmente adequadas para a população; VIII - estabelecer diretrizes de ação e atuação das unidades de policia-mento ambiental; IX - estabelecer, em conjunto com os órgãos de meio ambiente do Estado, os locais de atuação das unidades de polici-amento ambiental; X - propor a criação ou a ampliação de unidades de policiamento ambiental; XI - estabelecer a subordinação das unidades de policiamento ambiental; XII - desenvolver a modernização administrativa e operacional das unidades de policiamento ambi-ental; e XIII - viabilizar cursos de aperfeiçoamento técnico, na área de policiamento ambiental, dentro e fora da corporação.

IMA (48) 3665-4190

Batalhão da Polícia Militar Ambiental(48) 3665-4770

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Em relação a delitos que envolvam animais domésticos, a Polícia Mi-litar Ambiental poderá ser acionada, sem prejuízo da possibilidade de cha-mamento de outros órgãos, tais como a própria Polícia Militar e a Polícia Civil.

E) CRMV - CONSELHO REGIONAL DE

MEDICINA VETERINÁRIA

A Lei n. 5.517/68 dispõe sobre o exercício da profissão de médico--veterinário e cria os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária:

ART. 8

Art 8º O Conselho Federal de Medicina Ve-terinária (CFMV) tem por finalidade, além da fiscalização do exercício profissional, orientar, supervisionar e disciplinar as ati-vidades relativas à profissão de médico--veterinário em todo o território nacional, diretamente ou através dos Conselhos Re-gionais de Medicina Veterinária (CRMV).

20 | Competências

ART. 9

Art 9º O Conselho Federal assim como os Conselhos Regionais de Medicina Vete-rinária servirão de órgão de consulta dos governos da União, dos Estados, dos Muni-cípios e dos Territórios, em todos os assun-tos relativos à profissão de médico-veteri-nário ou ligados, direta ou indiretamente, à produção ou à indústria animal.

Destacam-se, ainda, as seguintes Resoluções do Conselho Federal de Medicina:

Resolução n. 962, de 26 de agosto de 2010, que normatiza os Procedimentos de Contracepção de Cães e Gatos em Programas de Educação em Saúde, Guarda Responsável e Esterilização Ci-rúrgica com a Finalidade de Controle Populacional (DOU 1/9/2010 – http://www2.cfmv.gov.br/manual/arquivos/resolucao/962.pdf);

I

Resolução n. 1.000, de 11 de maio de 2012, que dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais e dá outras providências (DOU 17/5/2012 – http://portal.cfmv.gov.br/lei/in-dex/id/326);

II

Competências | 21

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Resolução n. 1.069, de 26 de outubro de 2014, que dispõe so-bre Diretrizes Gerais de Responsabilidade Técnica em estabele-cimentos comerciais de exposição, manutenção, higiene estética e venda ou doação de animais, e dá outras providências (DOU 11/1/2015 – http://www2.cfmv.gov.br/manual/arquivos/resolu-cao/1069.pdf);

III

Resolução n. 1.275, de 24 de junho de 2019, que conceitua e estabelece condições para o funcionamento de Estabele-cimentos Médico-Veterinários de atendimento a animais de estimação de pequeno porte e dá outras providências (DOU 23/7/2019 – http://www2.cfmv.gov.br/manual/arquivos/reso-lucao/1275.pdf).

V

Resolução n. 1.236, de 25 de outubro de 2018, que define e carac-teriza crueldade, abuso, maus-tratos contra animais vertebrados, dispõe sobre a conduta de médicos veterinários e zootecnistas e dá outras providências (DOU 28/10/2018 –http://www2.cfmv.gov.br/manual/arquivos/resolucao/1236.pdf);

IV

22 | Competências

No âmbito do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Santa Catarina (CRMV/SC), merece registro o teor da Recomendação Técnica n. 1, de 13 de janeiro de 2014, que estabelece conceitos e conjun-to de ações mínimas efetivas dirigidas a todos os médicos veterinários e zootecnistas na orientação dos debates, dos planos e das plataformas de gestão para proteção animal nos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário dos Municípios do Estado de Santa Catarina.

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Santa Catarina (CRMV-SC) também disponibiliza canal direto de comunicação

com os Municípios para auxiliar na elaboração desses programas, o qual também pode ser utilizado pelos Promotores de Justiça para sanar dúvidas em relação aos aspectos técnicos e profissionais envolvidos no assunto. O canal é o e-mail [email protected].

Ademais, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Santa Catarina (CRMV/SC) pode auxiliar na elaboração de laudos técnicos e vistorias em canis, abrigos, feiras, eventos ou instalações que utilizem animais, a pedido da Promotoria de Justiça, em ações individuais ou con-juntas, verificando as condições de saúde, de higiene e de bem-estar, bem como apurando a responsabilidade ética dos profissionais médicos veteri-nários e zootecnistas envolvidos nos procedimentos.

Por fim, cumpre registrar a possibilidade de o Promotor de Justiça acionar o veterinário do Município, que poderá prestar auxílio a depender do caso concreto, já que a sua atuação está vinculada ao serviço contratado pelo Município.

Competências | 23

F) VIGILÂNCIA SANITÁRIA

A Portaria n. 1.565, de 26 de agosto de 1994, do Ministério da Saúde, dispõe, em seu art. 3º, I e III, que vigilância sanitária consiste no conjunto de ações capazes de “eliminar, diminuir ou prevenir riscos e agravos à saúde do indivíduo e da coletividade” e de “exercer fiscalização e controle sobre o meio ambiente e os fatores que interferem na sua qualidade, abrangendo os processos e ambientes de trabalho, a habitação e o lazer”.

Por sua vez, a Portaria n. 1.138, de 23 de maio de 2014, do Ministé-rio da Saúde, define as ações e os serviços de saúde voltados para vigilân-cia, prevenção e controle de zoonoses e de acidentes causados por animais peçonhentos, de relevância para a saúde pública.

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para a efetividade do bem-estar animal

PrincipaisPolíticas Públicas

Principais Políticas Públicas | 25

No Brasil, as Secretarias Municipais de Saúde (SMS) são responsá-veis pela implementação das atividades de monitoramento de zoonoses, agravos e situações de risco à saúde²⁷. A Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), por sua vez, é responsável pelo gerenciamento das atividades de monitoramento, proteção e controle ambiental voltadas aos animais ²⁸. Des-sa forma, ambas as Secretarias têm atribuições que se relacionam quanto ao manejo e proteção da população canina.

Feitas essas considerações, registra-se que a estruturação de política pública local de manejo populacional de animais domésticos e de bem-estar animal deve ser elaborada pelo Município²⁹ preferencial-mente com o acompanhamento das Promotorias de Justiça, da Classe Veterinária e das ONGs, levando-se em conta as peculiaridades regio-nais (população humana, quantidade estimada de animais domésticos, recursos humanos e econômicos disponíveis, existência de ONG e/ou ativistas independentes de proteção aos animais, disponibilidade de profissionais de medicina veterinária).

Para tanto, em âmbito municipal, afigura-se fundamental a estru-turação, ainda que mínima, de órgão/setor voltado ao bem-estar animal, preferencialmente relacionado ao sistema de proteção ambiental. Por me-nor que seja a respectiva estrutura, é importante haver a centralização das ações e dos programas respectivos.

4.1 ESTRUTURAÇÃO DE POLÍTICA E

ÓRGÃO DE BEM-ESTAR ANIMAL

²⁷ Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de vigilância, prevenção e controle de zoonoses: normas técnicas e operacionais [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília : Ministério da Saúde, 2016.²⁸ Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Legislação Ambiental Básica / Ministério do Meio Ambiente. Consultoria Jurídica. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, UNESCO, 2008.²⁹ Art. 30, Constituição da República Federativa do Brasil. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local.

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Dessa forma, revela-se possível a implantação de fiscalização pre-ventiva pelo Município, mediante contínua capacitação de seus fiscais (o que pode ocorrer mediante auxílio da Polícia Militar Ambiental, do Minis-tério Público, de ONGs e de outras entidades) e visitas domiciliares para orientações acerca do bem-estar animal.

4.2 IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICA PERMANEN-

TE DE CASTRAÇÃO, ADOÇÃO, CONTROLE E

EDUCAÇÃO PARA A GUARDA RESPONSÁVEL

A) CASTRAÇÃO

A castração de animais objetiva não somente o controle popula-cional, mas, também, a prevenção de zoonoses e de outras doenças, a redução de acidentes, de abandonos e de maus-tratos de animais, além de outros benefícios voltados não apenas aos animais, mas à popula-ção em geral, inclusive no tocante à saúde pública.

O programa de controle populacional de cães e gatos deve ser im-plementado da forma mais conveniente ao Município, podendo ser realiza-do mediante a contratação de clínicas veterinárias ou de unidades móveis (castramóveis), ou, ainda, por meio de serviço próprio, devidamente regis-trado no CRMV/SC, com médico-veterinário como responsável técnico. É fundamental, contudo, que o programa seja contínuo, permanente e apro-vado pelo CRMV/SC (Resolução CFMV n. 962/2010), bem como tenha a amplitude e a velocidade necessárias, pois que estudos apontam que o equilíbrio entre mortes e nascimentos somente é atingido quando 70% da população de cães e de gatos de uma região é castrada³⁰.

³⁰ MACKIE, W. Marvin.  Pet Overpopulation and the 70% Rule.  2003. Disponível em: <https://www.animals24-7.org/2003/03/07/pet-overpopulation-and-the-70-rule/>. Acesso em: 17 jan. 2020.

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É importante ressaltar, ademais, que a qualidade do serviço presta-do por meio das castrações não deverá ser prejudicada pela necessidade de potencialização do número de cirurgias, ressaltando, nesse particular, a importância da aprovação do projeto pelo CRMV/SC.

Por fim, registra-se que a castração dos animais é, ainda, fator de incentivo à adoção e ao acolhimento temporário de cães e gatos (famílias acolhedoras e/ou casas de passagem).

B) IDENTIFICAÇÃO E REGISTRO

(MICROCHIPAGEM)

O sistema de identificação e de registro de animais domésticos por microchipagem, principalmente em cães, gatos e cavalos, também deve fa-zer parte da política pública de manejo populacional de animais domésti-cos, com inserção dos dados do tutor e do animal em um cadastro geral no órgão responsável.

Dentre os objetivos da microchipagem, destacam-se: conhecimento das populações de cães e gatos, supervisão do bem-estar animal, respon-sabilização dos proprietários, subsídio do censo de animais domésticos e planejamento das políticas de saúde coletiva e de bem-estar animal.

C) ADOÇÃO

A recolocação de animais em novos lares por meio da realização de feiras periódicas de adoção e a constante divulgação pelos meios de co-municação, inclusive em redes sociais (com a criação de perfis específicos para adoção consciente e a guarda responsável), em parceria com ONGs e/ou ativistas independentes de proteção aos animais, deve fazer parte do programa de controle populacional.

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Os animais devem permanecer o menor tempo possível nas casas de passagem (famílias acolhedoras ou abrigo). Antes do encaminhamen-to do animal para a adoção, deve-se providenciar a sua castração, a sua vacinação, a sua desverminação e o seu registro. Também é de grande re-levância que o adotante receba o histórico completo do animal, inclusive a respectiva carteira de vacinação.

Ademais, o planejamento da política de recolocação de animais deve adotar critérios mínimos estabelecidos e verificados a partir de questionário e entrevista, além de visita pré e pós-adoção.

Toda adoção de animal deve ser registrada e feita com o uso de Termo de Compromisso de Adoção, assinado pelo adotante.

D) EDUCAÇÃO E GUARDA RESPONSÁVEL

A promoção de palestras e a divulgação de materiais educativos a respeito da guarda responsável são essenciais para o funcionamento das políticas que visam ao controle de zoonoses e ao bem-estar animal.

Nesse sentido, o Conselho Federal de Medicina Veterinária edi-tou a Resolução CFMV n. 962/2010, que vincula os programas de con-trole populacional de cães e gatos às ações de educação em saúde e de guarda responsável, ratificando, dessa forma, a importância da atuação em variadas frentes, com a finalidade de concretização de um controle populacional efetivo desses animais e das zoonoses correspondentes.

Além disso, o Instituto Ambiental Ecosul, com o apoio do Mi-nistério Público do Estado de Santa Catarina, por meio do Centro de Apoio Operacional de Meio Ambiente, desenvolveu cartilha destina-da ao público em geral.

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4.3 INSTITUIÇÃO DE PROGRAMA DE FAMÍLIAS

ACOLHEDORAS DE ANIMAIS (CASAS DE APOIO)

COMO ALTERNATIVA AO ABRIGAMENTO

A) CONSIDERAÇÕES SOBRE O RECOLHIMENTO

INDISCRIMINADO DE CÃES E GATOS A ABRIGO

O recolhimento indiscriminado de cães e gatos para abrigo jamais deve ser considerado uma política pública. Com efeito, o recolhimento deve ser seletivo, identificando-se os animais com sinais ou sintomas de doen-ça, promovedores de agravos físicos, em situação de risco e/ou sofrimento (atropelados, acidentados, com fraturas ou impossibilitados de locomoção), localizados em áreas de foco ou de risco de zoonoses, bem como filhotes sem as respectivas mães.

A construção de abrigo não é solução para o problema dos animais de rua, pois os custos de manutenção são contínuos, e a insuficiência de recursos poderá comprometer o bem-estar animal.

Ademais, os abrigos podem ficar rapidamente superlotados, o que torna as acomodações inadequadas e importa no aumento de doenças e de conflitos entre os animais, entre diversas outras dificuldades contrárias à legislação de proteção aos animais.

O abrigo deve ser considerado, portanto, apenas um local de passagem (recolhimento seletivo). Para tanto, dentre os seus principais objetivos, destaca-se o planejamento de programas de adoção perma-nente, a fim de que os animais sejam recolocados em novos lares de forma rápida, consciente e segura.

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Faz-se necessária, portanto, a avaliação da conveniência na criação de abrigos, sugerindo-se a observância das orientações do Fórum Nacio-nal de Proteção e Defesa Animal (Bem-Estar Animal em Abrigos de Cães e Gatos) e do CRMV/SC, atentando-se para a necessidade de responsável técnico médico-veterinário, ao qual caberá a orientação dos gestores em relação às exigências técnicas e legais.

B) SUGESTÃO DE ESTRUTURAÇÃO DE FAMÍLIAS

ACOLHEDORAS (CASAS DE APOIO) COMO

A estruturação de programa de famílias acolhedoras (casas de apoio) pelo Poder Público Municipal, mediante regulamentação específica, com re-alização de cadastro de voluntários, fornecimento de insumos (por exemplo, ração) e prestação de assistência (atendimento médico-veterinário e vaci-nas), apresenta inúmeras vantagens na efetividade do bem-estar animal.

Da mesma forma que os abrigos, as casas de apoio funcionam como locais de passagem, proporcionando, todavia, melhores condições para a socialização e a preparação dos animais para a adoção, além de significar uma redução dos custos fixos para o Poder Público. A par disso, nas casas de apoio, os animais têm maior nível de bem-estar e de atenção individual.

Como alternativa, há, ainda, exemplos bem-sucedidos de acolhi-mento de animais por unidades prisionais, também como casas de passa-gem, oportunizando, nesse particular, uma “via de mão dupla”, já que os presos podem auxiliar nos cuidados dos animais, e os bichos, por sua vez, certamente contribuem com a ressocialização dos segregados³¹.

ALTERNATIVA

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³¹ Disponível em: https://www.ovale.com.br/_conteudo/_conteudo/nossa_regiao/2019/09/88003-ideia-pioneira-em-taubate-poe-presos-em-ressocializacao-cuidando-de-animais-abandonados.html . Acesso em 21 fev. 2020.

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4.4 ENCAMINHAMENTO DA SITUAÇÃO DE

ACUMULADORES

Inicialmente, cumpre registrar que não se pode confundir os chama-dos acumuladores com os protetores de animais.

Com efeito, “os acumuladores de animais representam um proble-ma de saúde pública, pois trazem prejuízos para a família, os vizinhos, a comunidade e os próprios animais”³². O Médico Veterinário americano Gary Patronek, Diretor do Centro para Animais e Políticas Públicas da Universidade de Tufts, e o seu grupo chamado The Hoarding of Animals Research Consortium, criado em 1997, definiu acumulador de animais como a pessoa que concentra grande número de animais sem garantia de cobertura das respectivas necessidades básicas (comida, cuidados de saúde e de higiene), e não tem a capacidade de entender a deterioração progressiva da saúde e higiene de seus animais (não reconhece a doença, a morte ou a fome) e do meio onde se encontram (superlotação e más condições higiênicas)³³.

De acordo com a Médica Veterinária Psicóloga Mariângela Freitas, Presidente da ONG Defensores dos Animais do Rio de Janeiro, não se pode avaliar a questão pelo número de animais concentrados, já que exis-te a possibilidade de existirem 5 (cinco) animais em péssimas condições e, em outro caso, 300 (trezentos) animais em ótimas condições. Trata-se, assim, de avaliação que deverá ser analisada caso a caso³⁴.

Se cuidador e animais estão bem, saudáveis e satisfeitos, está--se diante de um trabalho útil e bem dirigido. Por outro lado, estando

³² Disponível em: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/seda/default.php reg=630&p_secao=32. Acesso em 13 fev. 2020.³³ FOLLAIN, Martha. [Jun., 2006].³⁴ Disponível em: https://defensoresdosanimais.wordpress.com/. Acesso em 26 fev. de 2020.

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eles doentes, estressados e infelizes, está-se diante de alguém que ul-trapassou os seus limites e possivelmente caminha para a degradação, sendo necessária a uma intervenção³⁵.

Nesses casos, “estudos internacionais demonstram que a solução reside na abordagem multidisciplinar, desde a investigação até a reso-lução, e no monitoramento a longo prazo, para prevenir a reincidência, muito comum nesses casos” (SEDA, Porto Alegre)³⁶.

Desse modo, é sempre recomendável que a legislação municipal sobre controle de zoonoses e de populações de animais estabeleça o li-mite numérico de animais, condicionado à autorização da Vigilância Sa-nitária, o prazo para a adequação às exigências, bem como as previsões de multa administrativa e de recolhimento do animal (pela Vigilância Sa-nitária) para os casos de abandono, de maus-tratos e de descumprimento da legislação vigente, sem prejuízo da responsabilização civil e criminal.

Nesse particular, registra-se a importância do estabelecimento de situações excepcionais para o caso de protetores que:

1. já possuam animais em número excedente ao determinado;

2. possuam condições e estrutura para mantê-los e preservar-lhes o bem-estar;

3. já tenham tentado adoções inexitosas dos animais e, especialmente, já tenham com eles estabelecido vínculo.

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³⁵ Disponível em: https://defensoresdosanimais.wordpress.com/. Acesso em 26 fev. de 2020.³⁶ Disponível em: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/seda/default.php reg=630&p_secao=32. Acesso em 13 fev. 2020.

4.5 ANIMAIS COMUNITÁRIOS

Animais comunitários são aqueles saudáveis, sem domicílio único (animais de vizinhança ou comunidade), habitantes de áreas que não sejam de foco de zoonoses, e que sejam aceitos e cuidados pela população local. Recebem, portanto, da comunidade o atendimento de suas necessidades básicas, mantendo com ela vínculos.

É recomendável que tais animais sejam recolhidos, esterilizados, re-gistrados, desverminados, vacinados e devolvidos ao local de recolhimento, com a identificação de seu responsável na comunidade, a fim de que não representem riscos para outros animais, para seres humanos ou para o meio ambiente, bem como não sofram agravos decorrentes da falta de supervisão.

Registra-se, ainda, a importância psicossocial da manutenção desses vínculos como elemento de interação social, de comportamento cooperativo, de cidadania e de respeito humano para com as demais formas de vida.

Os animais comunitários funcionam, também, como barreira social para cães estranhos, como barreira sanitária por serem vacinados e como barreira reprodutiva por serem castrados.

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4.6 EDUCAÇÃO HUMANITÁRIA AMBIEN-

Por fim, a implementação de Programa de Educação Humanitária Ambiental em Bem-Estar Animal voltado para a Formação de Valores para o Respeito a Todas as Formas de Vida – por meio de palestras, projeções de vídeos, atividades lúdicas, peças teatrais, concursos de desenho e de redação, exposição de cartazes, distribuição de folders e de cartilhas, assim

TAL EM BEM-ESTAR ANIMAL

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como de eventos em datas comemorativas³⁷ – poderão auxiliar na cons-cientização da responsabilidade pelo bem-estar dos animais e da necessi-dade de preservá-los e de respeitá-los para que seja preservada, também, a saúde e o bem-estar dos seres humanos.

Para a sua viabilização, os Municípios podem celebrar parcerias com entidades de proteção aos animais e entidades de classe vete-rinária, bem como solicitar apoio ao Instituto Ambiental Ecosul, que, inclusive, vem implementado programa dessa natureza em alguns Mu-nicípios do Estado de Santa Catarina.

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³⁷ 14 de março (Dia Nacional do Animal); 17 de agosto (Dia da Adoção Animal); 4 de Outubro (Dia Mundial do Animal).

MATERIAIS RELACIONADOS

Recomendação GEDDA

Bem-Estar Animal em Abrigos de Cães e Gatos – FNPDA.

Grupo de trabalho para atender acumuladores de animais de Porto Alegre/RS.

Acúmulo de Animais: Um Transtorno Invisível – Curitiba.

Criando Um Amigo – Instituto Ambiental Ecosul.

Leis de Controle e Proteção de Populações Animais, bem como de Pre-venção de Zoonoses no Município.

Decreto Sobre Animal Comunitário.

Sugestão de Instalação Econômica para Núcleo Municipal de Bem-Es-tar Animal (UBSA-Vet Container).

Materiais Relacionados | 355

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REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS

Constituição da República Federativa do Brasil;

Constituição Estadual de Santa Catarina;

Lei Complementar n. 140/2011 (Ações Administrativas Decorrentes da Competência Comum);

Lei n. 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais);

Lei n. 13.426/2017 (Política de Controle de Natalidade de Cães e Gatos);

Decreto n. 6.514/2008 (Infrações e Sanções Administrativas ao Meio Ambiente);

Lei Estadual n. 14.675/2009 (Código Estadual do Meio Ambiente);

Lei Estadual n. 12.854/03 (Lei Estadual de Proteção aos Animais);

Lei Estadual n. 14.204/2007 (Lei dos Pit Bulls);

Lei Estadual n. 13.918/06 (Lei Estadual de Campanha de Controle Po-pulacional de Cães e Gatos);

Enunciados da Comissão Permanente do Meio Ambiente, da Habita-ção, do Urbanismo e do Patrimônio Cultural (COPEMA)³⁸;

36 | Referências Legislativas

³⁸ Enunciado n. 7/2018: Os Ministérios Públicos devem atuar para buscar a implementação do controle populacional de cães e gatos pelos Municípios, em cumprimento à Lei Federal 13.426/2017 Enunciado n. 8/2018: Os Ministérios públicos devem atuar para buscar a implementação de políticas públicas em favor dos animais, notadamente a criação de unidades de controle de zoonoses e centros de bem-estar animal.Enunciado n. 9/2018: Os Ministérios Públicos devem adotar medidas para coibir a prática de crueldade aos animais em eventos, notadamente rodeios e vaquejadas.

Resolução CFMV n. 962, de 26 de agosto de 2010 (Procedimentos de Contracepção de Cães e Gatos em Programas de Educação em Saú-de, Guarda Responsável e Esterilização Cirúrgica com a Finalidade de Controle Populacional);

Resolução CFMV n. 1.000, de 11 de maio de 2012 (Procedimentos e métodos de eutanásia em animais e dá outras providências);

Resolução CFMV n. 1.069, de 26 de outubro de 2014 (Diretrizes Gerais de Responsabilidade Técnica em Estabelecimentos Comerciais de Ex-posição, Manutenção, Higiene Estética e Venda ou Doação de Animais;

Resolução CFMV n. 1.236, de 25 de outubro de 2018 (Caracteriza) crueldade, abuso, maus-tratos contra animais vertebrados, dispõe sobre a conduta de médicos veterinários e zootecnistas e dá outras providências);Resolução CFMV n. 962, de 26 de agosto de 2010 (Pro-cedimentos de Contracepção de Cães e Gatos em Programas de Edu-cação em Saúde, Guarda Responsável e Esterilização Cirúrgica com a Finalidade de Controle Populacional);

Resolução CFMV n. 1.275, de 24 de junho de 2019 (Condições para o funcionamento de Estabelecimentos Médico-Veterinários de atendimen-to a animais de estimação de pequeno porte e dá outras providências);

Recomendação Técnica CRMV/SC n. 1, de 13 de janeiro de 2014;

Portaria n. 1.138, de 23 de maio de 2014, do Ministério da Saúde (Ações e serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses e de acidentes causados por animais peçonhentos, de rele-vância para a saúde pública);

Portaria Conjunta IMA/CPMA n. 143/2019

Referências Legislativas | 37

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