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CARTILHA DA NATUREZA FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER Ditado pelo Espíritos Casemiro Cunha INDICE

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CARTILHA

DA NATUREZA

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIERDitado pelo Espíritos

Casemiro Cunha

INDICE

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CARTILHA DA NATUREZA

A Grande FazendaA ÁguaA AranhaA Boa ÁrvoreA BonecaA BússolaA CaçarolaA CachoeiraA CandeiaA CangaA CangalhaA CapaA CapinaA CarpintariaA CercaA ChuvaA ConstruçãoA CovaA DerrubadaA EnchenteA EnxadaA ErosãoA FaxinaA FazendaA FerramentaA LãA FacaA FlorA LagartaA LâmpadaA LavouraA LenhaA Mesa

A MinaA MontanhaA MudaA NoiteA NuvemA PedraA Perola A PicaretaA Plantação

A PodaA PombaA PonteA PorteiraA PraiaA RefeiçãoA SementeA Terra E O LavradorA TempestadeA UsinaA VidraçaA VisitaO AçudeO AguilhãoO AndaimeO BanhoO BarricachoO Barro E O OleiroO BotãoO CajadoO Campo E O JardimO CarroO CemitérioO CipóO CupimO DespertadorO DiaO DiamanteO EstercoO FaroleiroO FioO Grande RioO IncêndioO LixoO Luar O Malhadouro O Mapa O Mar O Mármore O Milharal O Oásis O Orvalho

O Pântano O PãoO PoçoO PosteO PratoO RegadorO RemédioO RibeiroO SilêncioO SolO TijoloO Tronco E A FonteO VauO VentoO VôoOs AnimaisOs Caminhos

A GRANDE FAZENDA

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Emmanuel

“E ele repartiu por eles a fazenda.”JESUS-LUCAS, 15:12

A natureza é a fazenda vasta que o Pai entregou a todas as criaturas.Cada

pormenor do valioso patrimônio apresenta significação particular.A árvore,o caminho,a nuvem,o pó,o rio,revelam mensagens silenciosas e especiais.

É preciso,contudo,que o homem aprenda a recolher-se para escutar as grandes vozes que lhe falam ao coração.

A Natureza é sempre o celeiro abençoado de lições maternais.Em seus círculos de serviço,coisa alguma permanece sem propósito,sem finalidade justa.

Eis a razão pela qual o trabalho de Casimiro Cunha se evidência com singular importância.O coração vibrátil e a sensibilidade apurada conchegaram-se a Jesus,para trazer aos ouvidos dos companheiros encarnados algumas notas da universal sinfonia.

Esta cartilha amorosa relaciona,em rimas singelas,alguns cânticos da fazenda divina que o Pai nos confiou.Envolvendo expressões na luz infinita do Mestre,Casimiro dá notícias das coisas simples,cheias de ensino transcendental.No relatório musicado de sua alma sensível,o milharal,o pântano,a árvore,o ribeiro,o malhadouro,dizem alguma coisa de sua maravilhosa destinação,revelando sugestões de beleza sublime.É o ensino espontâneo dos elementos,o alvitre das paisagens que o hábito vulgarizou,mas se conservam repletas de lições sempre novas.

O trabalho valioso do poeta cristão dispensa comentários e considerações.Entregando-o,pois,ao leitor amigo,não temos outro objetivo senão lembrar a

fazenda preciosa que se encontra em nossas mãos.A Natureza é o livro de páginas vivas e eternas.Em abrindo a cartilha afetuosa de Casimiro,recordemos Aquele que veio a

Terra,começando pela manjedoura;que recebeu pastores e animais como visita primeira;que foi anunciado por uma estrela brilhante;que ensinou sobre as águas,orou sobre os montes,escreveu na terra,transformou a água simples em vinho do júbilo familiar;que aceitou a cooperação de um burrico para receber homenagens do mundo;que meditou num horto,agonizou numa colina pedregosa,partiu em busca do Pai através dos braços de um lenho ríspido e ressuscitou num jardim.

Relembremos semelhantes ensinos e recebamos a fazenda do Senhor,não como o filho pródigo que lhe desbaratou os bens,mas como filhos previdentes que procuram aprender sempre,enriquecendo-se de tesouros imortais.

Pedro Leopoldo, 20 de Maio de 1943.

A ÁGUA

Casimiro Cunha

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Água santa, benção puraDas bênçãos celestiais,Que o Senhor te multipliqueOs doces mananciais. Água que lavas o corpoDe todas as criaturas,És a fonte de bondadeQue dimana das alturas. Sangue vivo do planeta,Na forma que aperfeiçoa,Nos campos do mundo inteiroToda a terra te abençoa. O teu impulso amorosoÉ vida, perfume, essência,És em todos os recantos,Mãe das forças da existência. Por ti, há pomares fartos,Doçuras no lar que abriga,Ventos frescos no deserto,Orvalho na noite amiga. Água tranqüila e bondosaQue acaricia o sedento,Lavas manchas, lavas sombras, Desde o solo ao firmamento. Aclaras a imensidade,Na borrasca, no escarcéu,Circulas em toda a terra,Depois de voltar ao céu. Água santa, irmã da paz,Da abundância, da limpeza,Garantes o dom da vidaNas luzes da Natureza. Doce bem da DivindadeQue envolve os lares e os ninhos,És a terna mensageiraDo amor de Deus nos caminhos. Em todo o lugar do mundo,Haja paz, haja discórdia,És a benção paternalDa Eterna Misericórdia.

A ARANHA

Casimiro CunhaGeralmente, em toda parte,

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No ângulo mais sombrioDos recantos desprezados,Vem a aranha e tece o fio. Escura, silenciosa,Atendendo ao próprio instinto,Seja dia, seja noite,Vai fazendo o labirinto. Por manter o enorme enredo,Insiste e nunca esmorece,Condenar-se por si mesmaÉ seu único interesse. Desdobrando movimentosNos impulsos insensatos,Pratica perseguições,Multiplica assassinatos. Insetos despreocupados,Na ilusão cariciosa,Transformam-se em prisioneirosDa pequena criminosa. Satisfeita, a aranha escura.Prossegue na horrenda lida,Nos venenos que segregaTraz a morte e suga a vida. Mas um dia, o espanador,Na luta material,Vem e arranca essa infeliz Das teias de horror do mal. A aranha, porém, não cede,Com teimosia e com arte,Foge ao bem que se lhe fez,E vai tecer noutra parte. Quem medita na condutaDessa aranha renitente,Encontra a cópia fielDa vida de muita gente. A muitos presos do engano,Deus envia a dor e as provas;Mas, depois de liberdade,Vão prender-se em redes novas.

A BOA ÁRVORE

Casimiro Cunha

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Nos quadros vivos da Terra,Desde a sua formação,A árvore generosaÉ imagem da Criação. É a vida em Deus que nos ama,Que nos protege e nos cria,Que fez a bênção da noite,E a bênção da luz do dia. Seus ramos são como a infância,As flores, a adolescência,Seu fruto, a velhice amigaRepleta de experiência. Seu trono transforma sempreToda a lama da raiz,No pomo caricioso,Alegre, doce e feliz. As sementes que renascem, Com método e perfeição,São nossas almas na leiDe vida e reencarnação. Silenciosa na estrada,Seu exemplo nos ensinaA refletir sobre a TerraNa Providência Divina. Se a poda foi rude e forteAo rigor do braço humano,Sua resposta mais belaÉ mais frutos no outro ano. Se tomba desamparadaAo pulso do lenhador,Faz-lhe a casa, dá-lhe a mesa,Aquece-o com mais amor. Dá sombra a todos que passam,Sem jamais saber a quem,Colocada no caminho,Seu programa é sempre o bem. * É santa irmã de JesusEssa árvore estremecida:Se vive, palpita em Deus,Se morre, transmite a vida.

A BONECA

Casimiro CunhaQuase em todos os lugares,

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Vencendo tempo e distância,A boneca sempre atraiA grande atenção da infância. Em torno dela palpitamMil castelos pequeninos;É a doce futilidadeDo coração dos meninos. Nesses campos infantisHá luta, rixa, esperança. . .É tão frívola a boneca!Mas faz feliz a criança. Sabem disso os pais bondososE, notando a experiência,Atendem aos pequeninosSem recursos à violência. Não dilatam fantasias,Não mentem por enganar,Mas se valem da bonecaNo intuito de ensinar. Cada coisa, cada gesto,Da mais ínfima expressão,São vistos e aproveitadosNa esfera da educação. A boneca inanimadaConstitui sempre o motivo,De lições maravilhosas,De trabalho evolutivo. Há no mundo muitos homens,Sem propósitos do mal,Que guardam muitas bonecasDa infância espiritual. Junto deles, não condenes,Não tenhas reprovação,Não te faças de menino,Jamais lhes negues a mão.

A BÚSSOLA

Casemiro Cunha

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Na viagem rude e longaEm região solitária,A todos os viajoresA bússola é necessária. Quando a jornada é difícil,Aquele que a tem, de perto,Vai seguindo confortadoNa bênção do rumo certo. Sofrem ventos formidandosE a sombra prometa a morte,A bússola honesta e firmeNão perde a visão do Norte. Muita vez, em mar revolto,Nas zonas desconhecidas,Atende, silenciosa,Dando fé, salvando vidas. Tudo angústia da borrascaE trevas de nevoeiro,Mas a bússola respondeAos olhos do timoneiro. De outras vezes, no deserto,Se palpita a inquietação,Traduz generosamenteO conforto e a direção. Em meio a vacilações,Significa o resumoDe grandes consolaçõesA quem ame o próprio rumo. Tanto em água revoltada,Como em areia, em espinho,A bússola generosaJamais esconde o caminho. Nas rudes experiênciasDa romagem terrenal,Não se pode prescindirDo rumo espiritual. *Se caminhas neste mundo,Sejas moço, sejas velho,Não esqueças, meu amigo,A bússola do Evangelho.

A CAÇAROLA

Casimiro Cunha Dos serviços da cozinha

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Onde há sempre grande escola,Lembremos o ensinamentoDa obscura caçarola. Ao receber substânciaIndispensável à mesa,Requisita vigilânciaNo que concerne à limpeza. Utilizada em serviço,Embora pobre e singela,Pede todos os desvelosDas mãos que se servem dela. Por limpá-la, muitas vezesÉ justa a grande atenção;Largos banhos d’água pura,Doses fortes de sabão. Se não bastam tais processos,Um esforço mais ativo:Recursos d’água ferventeMisturada a corrosivo. De outra forma é descuidarDa pureza do alimento,Entregar o pão do corpoAo lixo e ao relaxamento. A erva mais saborosa,O leite nevado puro,Na panela descuidadaSão coisas para o monturo. Caçarola maltratada,Sem o concurso do asseio,Faz o pão envenenado,Escuro, amargoso e feio. Vendo o quadro, não te esqueçasQue os nobres ensinamentosSão substâncias que nutremA fonte dos pensamentos. Receber lições divinasSem limpar o coração,É transformar dons de vidaEm sombras de confusão.

A CACHOEIRA

Casemiro de Abreu

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Quando passes meditandoNo cimo da ribanceira,Repara na majestadeQue esplende na cachoeira. É bom pensar na grandezaQue a sua potencia encerra;Na entrosagem dos elementosDas forças de toda a Terra. No lugar mais solitário,É cântico de alegria,Derramando em derredorA abundancia de energia. Para dar-se em benefícios,A sua maior ciênciaNão quer admiração,Pede esforço e inteligência. Mesmo longe das cidades,Depois de compreendida,A cachoeira renovaA expressão dos bens da vida. Retamente aproveitada,É fonte de evolução,Movendo milhões de braçosNas lutas do ganha-pão. É mãe generosa e augustadas fábricas de trabalho,Que distribui, no caminho,A luz, o pão, o agasalho. E aprendemos na lição,Quando a vemos, face a face,Que a água buscou um abismoPor onde se despenhasse. Nesse símbolo profundo,De grandeza e dinamismo,Vemos nós o amor de DeusE a extensão do nosso abismo. Nós somos o sorvedouroDe misérias e discórdia;Deus é a eterna cachoeiraDe luz e misericórdia.

A CANDEIA

Casimiro Cunha

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A sombra desce de manso,O silêncio volve aos ninhos,É a noite cariciosaQue se estende nos caminhos. Na casa pequena e simplesQue é refúgio da pobreza,É mais densa a escuridãoQue amortalha a Natureza Mas no quadro desoladoPerpassa a bênção do amor,A candeia humilde e rudeClareia do velador. Na sala desguarnecidaDa morada carinhosa,Sua luz mostra a belezaDe uma estrela generosa. Aproveita-se-lhe o encantoNa esfera da utilidade,Mas quase ninguém lhe vêO espírito de humildade. Seu processo de ajudarNas sombras da noite escura,Revela lição sublimeAo plano da criatura. Por servir de fonte calmaAo clarão bondoso e amigo,Ela queima a provisãoDe tudo que tem consigo. Consome o óleo, a torcida,Perde o brilho, perde a graça,Suporta o calor do fogo,Sofre o assédio da fumaça. E Guarda, com Deus, a glóriaDe haver produzido o bem,Sem ferir qualquer pessoa,Sem prejuízo a ninguém. Quem deseje iluminar,Proceda como a candeia:A si mesmo se ilumineSem reclamar luz alheia.

A CANGA

Casimiro Cunha Pleno campo, céu de anil,

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Que o sol dourado ilumina,A primavera traz floresDe fragrância peregrina. Em tudo palpita o beloNa sublime transcendência,Das dádivas generosasNa Divina Providência. Os bons, porém, desconhecemSe há mistérios da belezaE gastam no atrito longoAs forças da Natureza. Acende-se a luta enorme,Chifradas, golpes violentos,Ruído ensurdecedor,Pêlos rotos, pés sangrentos. Há flores espatifadasNos caminhos da abundância,É cegueira, dor e morteEm males da ignorância. Mas, um dia, o lavrador,Notando a exigência ativa,Vendo a zona perturbada,Traz a canga educativa. Os brigões acham de novoA paz, a harmonia, o bem.O sofrimento em conjuntoÉ o campo que lhes convém. Toleram-se mutuamenteSem rixas nem desatinos,E aprendem a trabalharSem desprezo aos dons divinos. Muitas vezes também, no mundo,Parentesco e obrigação,São recursos necessáriosÀs luzes da educação. * Amigo, se estás na cangaDe lutas indefinidas,Não fujas, atende a Deus,Cura os males de outras vidas.

A CANGALHA

Casemiro Cunha Nos círculos de serviço,

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Toda a gente que trabalhaNem sempre sabe entenderA nobreza da cangalha. Não fosse ela, entretanto,Que atende, promete e faz,E talvez o campo inteiroViveria estranho à paz. Convenhamos na prudênciaQue vem do rifão de antanho –Basta, às vezes, uma ovelhaPara perder o rebanho. O muar deseducado,Que a força brutal anime,Nunca perde ensejo ao coiceE está sempre pronto ao crime. Viveu ao léu, ameaçandoA golpes de grosseria;Aparentando brandura,Transborda selvageria. Transforma-se, comumente,No animal rude e vilão,Que se esquiva do trabalho,Por preguiçoso e ladrão. Todavia, chega o instanteEm que a cangalha, bondosa,Comparece orientando,Honesta, laboriosa. Ligada por laço forteAo amigo da indolência,Dá-lhe os bens da utilidadeEm luzes de experiência. Perguntemos a nós mesmos,Notando-a, modesta e bela,Quais os homens deste mundoQue podem viver sem ela. *O dever, como a cangalha,Que tanta grandeza encerra,E’ a balança de equilíbrioNas vidas de toda a Terra.

A CAPA

Casimiro CunhaEnquanto vibra o calorDo verão, em luz florida,A capa confortadora

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Permanece recolhida. Em tudo há sol claro e quente,Após a bênção do orvalho. . .Oculta-se a capa amigaNas reservas de agasalhos. Entretanto, chega um dia,Que surge na imensidão,Envolto de sombras friasE sopros de tempestade. Rajadas dilacerantesInvadem a atmosfera,Não mais a carícia doceDas tardes de primavera. De outras vezes, muito emboraCesse a grande ventania,Continua o inverno forte,Torturando noite e dia. Ar gelado, névoas densasAo longo de toda a estrada,Se a neve não cai do céu,A terra sofre a geada. É quando a capa bondosaAparece no caminho,Como a terna mensageiraDo consolo e do carinho. Requestada em toda parte,No tempo frio e brumoso,Trabalha, conforta e ajuda,Sem as pausas do repouso. Assim, no inverno das doresQue trazem desolação,A crença é a capa celesteQue agasalha o coração. Mas no mundo há muito crente,Que quando padece e chora,Desatende a ProvidênciaE atira com a capa fora.

A CAPINA

Casimiro CunhaNos serviços de defesaDa semente que germina,Não se pode descuidar

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Dos trabalhos da capina. Em torno à planta que nasceNo escuro lençol do chão,Surgem ervas venenosasFormando comprida esteiraTentando a sufocação Crescem fortes, espontâneas,Nocivas e desiguais,Formando comprida esteiraDe grosseiras ervaçais. Alastram-se em toda parte...São verduras traiçoeirasE, se vivem conformadas,Dominam a roça inteira. Que o lavrador cuidadosoJamais se esquive à atenção,Trazendo-lhe, decidido,A justa eliminação. Ainda que mostrem floresEntre os ramos de alegria,Que todas sejam tratadasA lâmina da energia. Enquanto o grão não se formePara a colheita madura,Capine a enxada ao redor,Tão atenta, quão segura. De outro modo, o mato inútil,Vadio, cruel, sem nome,Rouba grelos promissores,Deixando ruína e fome Cartilha Da Natureza Assim no mundo, igualmente,Quem deseje o nobre dom,Destrua dentro de si mesmoTodo impulso menos bom. Cultiva diariamenteA vida elevada e sã:Não te esqueças da capinaSe queres fruto amanhã

A CARPINTARIA

Casimiro Cunha Nem todos identificam,No curso de todo o dia,

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A lição maravilhosaQue vem da carpintaria Madeira escura e selvagem,Do seio da natureza,Vem de longe por buscarA forma e a delicadeza. Ao rumor do maquinismoQue se agrupa na oficina,O artífice representaA Inteligência Divina A serra corta vibrando,A enxó elimina a aresta,O torno canta a harmonia,Tudo em júbilos de festa. O esforço de seleçãoEfetua-se a capricho;Sujidades, excrescências,São matérias para o lixo. A simples madeira bruta,Na grande transformaçãoBrilha agora na obra primaDe serviço e perfeição. Todavia, para isto,As peças e os elementosSubmeteram-se humildesÀ pressão dos instrumentos. Assim também a alma humana,Na oficina da existênciaPrecisa submeter-seÀs plainas da experiência. Recordemos, sobretudo,Com humildade e com fé,O Divino CarpinteiroQue passou por Nazaré. * Busquemo-Lo nos caminhos,E atende, meu caro irmão:Se queres a Luz da VidaEntrega-lhe o coração.

A CERCA

Casemiro de Abreu

Contempla a cerca da estrada,Que te serve sem jactância.

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A sua atitude humildeÉ um ato de vigilância. Seja feita de cimentoOu de estacadas singelas,Ela esclarece que a vidaPrecisa de sentinelas. Sua lição excelenteNão cessa de proclamar:Cada terreno a seu dono,Cada coisa em seu lugar. É cuidadosa, é sincera,Dá combate à confusão,Fornece norma aos serviços,Faz contas de divisão. E, desse modo trabalha,Tecendo a paz do teu ninho.É a cerca que te garanteTanto o lar, como o caminho. Repara que a tua vidaÉ um mundo de ocupações:Ai de ti se desordenasAs tuas obrigações. Através da luta enormeDas dores e do destino,tua alma tem de passar Em busca do bem divino. Certamente encontrarásCalúnias e tentações,Brutalidades, malicias,Serpentes, feras, ladrões. Recorda a lição da cerca:A cada coisa o seu custo.E abre a porteira amiga,A tudo que seja justo. * Sem isso, não é possívelO bem de qualquer missão.Sem clareza na tarefa,Tudo é sombra e confusão.

A CHUVA

Casimiro Cunha Folhas secas. Terra ardente.

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Calores. Desolação.Mas a chuva vem do céuTrazendo consolação. Toda semente que é boa,Entre júbilos germina, É a bela fecundaçãoDa natureza divina. As árvores ganham forças,Alimpa-se a atmosfera,A verdura em toda parteTem cantos da primavera. Às cidades, como aos campos,Aos ninhos, à sementeira,O pombo níveo da pazTraz o ramo da oliveira. Sopra o vento brando e amigo,Em vagas cariciosas,Levando a mensagem doceQue nasce do odor das rosas. A chuva que cai do altoÉ benção que se derrama...Na flor é orvalho celeste,No pó do chão faz a lama. Assim, também, os ensinos,Que nos dão verdade e luz,São a chuva generosaDa inspiração de Jesus. Cai sobre todos. No amorÉ raio de perfeição,Mas no pó da ignorânciaÉ falsa compreensão. Deus, porém, que é Pai BondosoEntre as leis universais,Faz com que a lama produzaSementes, flores, trigais. * Eis a razão pela qualNossa indigência produz:Inda mesmo em nossas sombras,O evangelho é sempre luz.

A CONSTRUÇÃO

Casemiro Cunha

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O homem sensato e nobre,Quando faz a moradia,Toma alvitres à prudência,Conselho à sabedoria. Primeiramente examinaO local, a posição,E edifica os alicercesDevidos à construção. Não se cansa de escutarAs vozes da sensatez,Que sugerem vigilânciaE induzem à solidez. Muito antes da parede, Da janela, do portal,Reflete fazendo contasE escolhe o material. Raciocina por si mesmo,Não perde ponderações,E estuda todo problemaDas suas aquisições. Não se atira a preço baixo,De matéria condenada;A sucata não lhe serve,Nem madeira carunchada. Acima de toda idéia.Vibra a idéia de seu lar,Seleciona a caráterCada coisa em seu lugar. Impõe-se nos seus desejos,Sereno, prudente, ativo;O senso da qualidadeGarante-lhe o objetivo. Esse homem previdenteDá lições a cada qual,Na construção do edifícioDa vida espiritual. *Escolhe teus pensamentosNo dever que te governa.Idéias, palavras, atos,Constroem-te a casa eterna.

Raro é aquele que meditaContemplando a terra impura,No trabalho peregrinoDa cova pequena e escura.

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Assemelha-se à feridaSobre a leira dadivosa,Indicio de golpes fundosDa enxada laboriosa. Mas, na essência, a cova simples,Singela, desconhecida,É o altar da Natureza,Celebrando a luz da vida. É seio aberto à beleza,Ao bem que se perpetua,A existência renovadaQue se eleva e continua. É o sepulcro onde a semente,Em sombra e separação,Vai, morrendo, reviverNas bênçãos da Criação. E eis que a vida se elaboraNessa doce intimidade,Renovando-se aos impulsosDe força e imortalidade. Depois do apodrecimento,Germinação e esplendores,Verdes galhos de esperança,Tenros ninhos promissores. Mais tarde, o tronco, a colheitaNa fartura indefinida...Tudo, a obra generosaDa cova humilde e esquecida. Esse símbolo expressivoVem lembrar, à criatura,O campo do cemitérioE o quadro da sepultura. * Inda aí, a cova amigaÉ sempre o sublime umbral,Porta aberta ao crescimentoNo plano espiritual.

COVA

Casimiro Cunha

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Raro é aquele que meditaContemplando a terra impura,No trabalho peregrinoDa cova pequena e escura. Assemelha-se à feridaSobre a leira dadivosa,Indicio de golpes fundosDa enxada laboriosa. Mas, na essência, a cova simples,Singela, desconhecida,É o altar da Natureza,Celebrando a luz da vida. É seio aberto à beleza,Ao bem que se perpetua,A existência renovadaQue se eleva e continua. É o sepulcro onde a semente,Em sombra e separação,Vai, morrendo, reviverNas bênçãos da Criação. E eis que a vida se elaboraNessa doce intimidade,Renovando-se aos impulsosDe força e imortalidade. Depois do apodrecimento,Germinação e esplendores,Verdes galhos de esperança,Tenros ninhos promissores. Mais tarde, o tronco, a colheitaNa fartura indefinida...Tudo, a obra generosaDa cova humilde e esquecida. Esse símbolo expressivoVem lembrar, à criatura,O campo do cemitérioE o quadro da sepultura. * Inda aí, a cova amigaÉ sempre o sublime umbral,Porta aberta ao crescimentoNo plano espiritual.

A DERRUBADA

Casemiro Cunha

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Rangem troncos secularesAos golpes do lenhador.E’ o machado formidandoNo impulso renovador. Toda a floresta se agitaEm terríveis convulsões,Continua a derrubadaQue precede as plantações. Sol quente. Suor. Serviço.E as árvores vigorosasEstraçalham com fragorAs frondes cariciosas. Após o trabalho ingente,A invasão do fogaréu;Fumo espesso devorandoA doce amplidão do céu. Gritam aves assustadas,Sem ninho, sem paz, sem guia,Animais inferioresVão fugindo em correria. A seguir vem a coivaraCompletando a grande prova,E’ o termo da derrubadaA favor da vida nova. Somente aí são possíveis,Pasto verde e espiga loura,Pomares e sementeiras,Celeiro, casa e lavoura. Já observastes que o homem,Ao longo de toda a estrada,Precisa também, por vezes,Das foices da derrubada? E’ a dor proveitosa e rude,Surgindo em golpes violentos,A força que retificaA mata dos sentimentos. *Sem trabalho não teremos,No caminho universal,Nem casa com Jesus-CristoNem pão espiritual.

A ENCHENTE

Casimiro Cunha

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O quadro é lindo e imponenteNa calma da natureza,A massa dágua é mais bela,Mais suave a correnteza. O rio enorme extravasa,Conquistando as cercanias,Encaminha-se às baixadas,Desce às furnas mais sombrias. A torrente dilatadaEstende a dominação,Refresca e fecunda o soloNas zonas de plantação. Mas, em haurir-lhe a grandeza,Os bens, a virtude, a essência,Precisa-se em toda parteMuita luta e previdência. Aterros, diques, cuidados,Trabalhos e sacrifícios,Todo esforço é necessárioPor colher-lhes os benefícios. Sem isso reduz-se a enchenteÀs grandes devastações,Ameaças, lodo e vermes,Mosquitos, flagelações. A abundância generosaFoi vista e considerada;Entretanto, a imprevidênciaGuarda a lama envenenada. Reconhecendo a belezaDeste símbolo profundo,Podemos ver no seu quadroMuita gente deste mundo. O poder, a autoridade,A fortuna, a inteligência,São enchentes dadivosasDa Divina Providência. * Mas, se o homem não vigia,É várzea que inspira dó.A abundância não lhe deixaMais que lodo, lixo e pó.

A ENXADA

Casemiro Cunha

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No conjunto dos trabalhos,A enxada pobre e esquecidaE’ uma agulha generosaQue borda o lençol da vida. Com desvelos carinhosos,Faz o berço às sementeiras,Protege os rebentos frágeis,Traçando caminho às leiras. Essa agulha delicada,Vibrando de pólo a pólo,Aperfeiçoa a paisagem,Lançando mais vida ao solo. Obediente e bondosa,Coopera com o lavrador,E onde passa costurando,Eis que o chão transborda em flor. Devem-lhe muito os celeirosNa colheita farta, imensa,Mas a enxada dadivosaNunca pede recompensa. Sem prazer está nas lutas,Nos trabalhos naturais;Alguém lucra em seus esforços?Mais serviço e terás mais. Não sabe se há chuvas fortes,Se há calor de requeimar,Disposta sempre ao possível,Tem gosto de trabalhar. Modesta, criteriosa,Atende ao labor que a chama,Fiel ao bom lavrador,Executa o seu programa. Instrumento valoroso,Que não trai nem esmorece,Exemplifica no mundoA humildade que obedece. *Imagina a tua glória,Teu triunfo jamais visto,Quando fores boa enxadaNas divinas mãos do Cristo.

A EROSÃO

Casemiro de Abreu

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Quem busca na paz do campoOs bens da contemplação,Costuma encontrar, por vezes,As surpresas da erosão. Dos cumes da paisagem,Eis que a visão descortinaHorizontes luminososNa vastidão peregrina! Em torno rebentam floresNas folhagens perfumosas,Entre as árvores e os ninhosSopram brisas buliçosas. Misturando-se , à verdura,Há caminhos de enxurrada,Formando abismos escurosNa terra dilacerada. Em derredor, tudo é glóriaDo campo verde e florido;Céu de anil, promessa e luz,Mas o solo está ferido. Somente à custa de esforço,De luta excessiva e estranha,É possível repararAs ulceras da montanha. É um quadro que faz lembrarAs almas de grande altura,Que, embora a ciência e o brilho,Tem abismos de amargura. São montes iluminadosDe sonho e conhecimento,Mas, degradados por vezes,Nos planos do pensamento. Recebem, da luz de Deus,Dons sublimes e infinitos,Mas se deixam avassalarDe enxurradas e detritos. * Quem guarde na intimidadeTais feridas de erosão,É que vive sem defesaNos campos do coração.

A FAXINA

Casemiro Cunha

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De manhã, em toda casa,Ar puro, janela aberta,A higiene determinaO movimento de alerta. E’ o asseio proveitosoQue começa com presteza, Expulsando o pó de ontemNos serviços da limpeza. A vassoura range, range,No polimento ao soalho,Sem desprezar coisa algumaNa expressão do seu trabalho. Vêm escovas cuidadosasAo lado de espanadoresE renova-se a paisagemDos quadros interiores. A água cariciosaQue se mistura ao sabão,Carreia o lixo, a excrescência,Enche baldes, lava o chão. Os livros desafogadosMostram ordem nas fileiras,Convidando ao pensamentoDo cinco das prateleiras. Os móveis descansam calmos,De novo brilho o verniz.Toda a casa fica leve,Mais confortada e feliz. A limpeza efetuadaE’ novo impulso à energia,Multiplicando as estradasDe esforço e sabedoria. A faxina, qual se chama,Na linguagem da caserna,Tem seu símbolo profundoNos campos de vida eterna. *Muita gente sofre e chora,Na dor e na inquietação,Por nunca fazer faxinaNas salas do coração.

A FAZENDA

Casemiro Cunha

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O dia vem longe ainda,Fulgura o brilho estelar...Mas nos campos da fazendaE’ hora de trabalhar. O dever chama aos serviçosDa luta risonha e sã,Na divina voz das avesQue cantam pela manhã. A tarefa atinge a todosNos roçados, no paiol,Tudo expressa movimentoPrecedendo a luz do sol. Ali, corta-se, acoláDispõe-se de novo a leira,Aqui, combate-se os vermesQue atacam a sementeira. Ninguém pára. Todos lutam.Há cantares da moenda,Contando a história do açúcarNos caminhos da fazenda. Entretanto,se o programaE’ repouso,calma e sono,Em breve,a propriedadeVive em trevas do abandono. Serpentes invadem campos,Há cipó destruidor,O mato chega às janelas,Procurando o lavrador. Enquanto a enxada descansaEsquecida e enferrujada,A casa desprotegidaProssegue em derrocada. Quem não vê na experiênciaTão simples, tão conhecida,A zona particularNos quadros da própria vida? *Rico ou pobre, fraco ou forte,Não te entregues à inação,Que a vida é a fazenda augustaGuardada na tua mão.

A FERRAMENTA

Casemiro Cunha

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O êxito no trabalho,Com que o homem se apresenta,Depende da vigilânciaQue se deve à ferramenta. A enxada laboriosa,Que coopera e não se cansa,Pede zelo no serviço,Para agir com segurança. A agulha por ministrarBenefícios e atenções,Não dispensa tratamentos,Desvelos e condições. Nos trabalhos do tecido,Em tudo que atinja o assunto,O tear pede harmoniaNas peças do seu conjunto. A própria cozinha humilde,No que diz respeito a ela,Reclama copo asseadoE limpeza na panela. No círculo das tarefas,Da mais simples à maior,Descuidada a ferramenta,Tudo vai pelo pior. Sem isto, qualquer serviçoInclina-se à negaçãoE tende com rapidezÀs sombras da confusão. Instrumento corrompidoMarca início de insucesso.Sem lutas de vigilância,Não há bênçãos de progresso. O problema do utensílio, E’ tão belo quão profundo...Lembra sempre que teu corpoAtende essa lei no mundo. *Viveres de corpo ao léu,Estranho aos cuidados teus,E’ injúria feita ao trabalho,Menosprezo aos dons de Deus.

A LÃ

Casimiro CunhaEm todas as latitudes

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Da terra que aperfeiçoa,É sempre meiga e benvindaA lã carinhosa e boa. Conserva a saúde e a vida,Nos invernos, nos trabalhos,É mãe delicada e nobreDos mais puros agasalhos. Faz frio? Desceu a noiteEm borrascas escarninhas?A lã protetora e santaVai vestir as criancinhas. Há velhice amarguradaMovendo-se quase morta?A divina benfeitoraVem de leve e reconforta. Enfermos entristecidosAtados a grandes dores?Recolhe-os bondosamenteEm ninhos de cobertores. Presta aos homens neste mundoAuxílio amoroso e forte,Desde o berço da chegada,Ao leito de dor na morte. Heroína afetuosaDe serviço e de bondade,Preserva no mundo inteiroO corpo da Humanidade. Quem a veste, conservando-a,Encontra incessantementeA couraça que resisteAo frio mais inclemente. Lembremos, vendo-a servirSem recompensa e sem palmas,O Cordeiro que dá lãNecessária a nossas almas. Não te doa nos caminhosO inverno de angústia e pranto:Vistamos os sentimentosEm lã do Cordeiro Santo.

A FACA

Casemiro de Abreu

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A faca, inegavelmente,Embora não acerada,Oferece algum perigoÀ pessoa descuidada. Entretanto, muitas vezes,No serviço rude e forte,Não se pode prescindirDo concurso do seu corte, Pleno campo. Plantações.Verdura a perder de vista.A faca auxilia sempreNo trabalho ruralista. Nas fábricas operosas,Onde a prudência a conserva,Está pronta e decididaNo serviço ou na reserva. No esforço de cooperar,Permanece dia inteiroAtendendo eficazmenteAo lado do sapateiro. Contribui nas selarias,Onde o trabalho é uma escola,Obedecendo ao seleiro,Dando o bem, cortando a sola. Em casa, está sempre firme,Excelente companheira,Respondendo a muito casoQue concerne à cozinheira. Depois de formar, atenta,No preparo à refeição,Segue, humilde, para a mesaE ajuda a partir o pão. Mas a faca que é tão útil,Tão valorosa e singela,É muito desagradável No pulmão ou na costela. * Forçoso é reconhecerQue a faca vive a ensinarQue cada coisa no mundoTem seu tempo e seu lugar.

A FLOR

Casemiro de Abreu

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Olhai os lírios do campoVestidos de aroma e luz!...Este apelo vem do ensinoDo Evangelho de Jesus. O Mestre ensinou que a flor,Sem qualquer preocupação,É mais rica e mais formosaQue a pompa de Salomão. Diversos homens sem Cristo,De mente pobre e enfermiça,Supuseram nesse apeloA exaltação da preguiça. A lição, porém é outra:A força de sua essênciaLouva em tudo, antes de tudo,O trabalho e a obediência. Bem poucos homens reparam Que na selva, ou no jardim,Toda flor revela e guardaHarmonia até o fim. Sua doce formosuraÉ bem que nunca se esvai,Enfeitando os aposentosda Casa de Nosso Pai. Se alguém a separa da haste,Quando nada mais lhe resta,completa com a sua dor,Os júbilos de uma festa. No lamaçal, nas estufas,Na miséria ou na opulência,A alegria harmoniosaÉ a vida de sua essência. A flor pequenina e frágil,Que nasce e perfuma à-toa,Revela que em toda a parteA vida é formosa e boa. * O que é preciso é guardar,Na aspereza mais sombria,A fé no Pai de BondadeAo ritmo da alegria.

A LAGARTA

Casimiro Cunha

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A árvore é grande e bela,Mas, na copa que se alteia,Intromete-se a lagartaEscura, disforme e feia. No troco maravilhoso,Folhas verdes, flores mil. . .O traço predominanteÉ a nota primaveril. E basta uma só lagartaDe minúscula expressão,Por fazer, na árvore toda,Estrago e devastação. De fato, o conjunto verdeÉ nobre, forte e preciso;Mas, em todos os detalhes,Há sinais de prejuízo. A lagarta rastejante,Mostrengo em miniatura,Vai de uma folha a outra,Dilacerando a verdura. As flores, embora belas,Perfumosas e garridas,Aparecem deformadas,Nas corolas carcomidas. O passeio da lagarta,Que demora e persevera,Perturba toda expressãoDa filha da primavera. Por mais que enflore e se esforce,A árvore peregrinaTrai, aos olhos, a existênciaDo verme que a contamina. Encontramos na lição,Desse pobre vegetal,O homem culto e bondosoCom o melindre pessoal. Há muitas almas na Terra,De feição nobre e segura,Mas o melindre é a lagartaQue as persegue e desfigura.

A LÂMPADA

Casimiro Cunha

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Em casa, a lâmpada acesa,Singela e despercebida,Constitui lição patenteDas mais nobres que há na vida. Contra a noite escura e espessa,Que se espalha e reproduz,Envolve-se de energia,Resplandece e traz a luz. Seu trabalho é grande e simples,Difundindo o sol do bem.Não discute, não pergunta,Dá sempre, não olha a quem. Ilumina o gabineteDe pesquisa ou leitura,Como aclara a agulha humildeDa máquina de costura. Envolve com a mesma luzA velhice, a enfermidadeA infância, a alegria, a dor,E os sonhos da mocidade. Há tumultos, há prazeres?Amarguras, agonia?Se não sofre violência,Eis que a lâmpada irradia. Serena, silenciosa,Não se aflige, não consulta,Nada pede, além da forçaQue lhe vem da usina oculta. Revela todo detalha,Sem contendas, sem perigo.A sua demonstraçãoÉ o foco que traz consigo. Não exige condiçõesPor servir e iluminar,E define seu ruídoCada coisa em seu lugar. Pensemos em nossa glóriaQuando formos, irmãos meus,Como lâmpadas do CristoNa usina do amor de Deus.

A LAVOURA

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Casemiro de Abreu

Pelo bem da roupa limpaNão se esqueça a criaturaDos serviços que custou O esforço da lavadura. Raramente se recorda,Na tarefa rotineira,O trabalho, o sacrifícioDo campo da lavadeira. Porque, em verdade, a tarefa,Inclui disciplina e dores,Não se lava roupa suja,Usando perfume e flores. Por limpar-se no caminhoNecessário à experiência,Não foge à imersão completa Nas águas da Providência. Não dispensa o gosto amargoDo concurso do sabão,Alijando-se a bagagem De sujidade ou carvão. Passado o atrito da esfrega,Que impõe cansaço e aspereza,Transporta-se ao coradouro,Apurando-se a limpeza. Depois, é a volta bendita,à água cariciosa,Que atende à saúde humana,Com bênçãos de mãe bondosa. Qualquer recurso ao lavar,Com sabão ou corrosivo,Requisita paciência,Vigilância e esforço ativo. O serviço dessa ordemFaz lembrar ao pensamentoA lavadura precisa Às roupas do sentimento. * Vivamos tranqüilamente,Sem olvidar, entretanto,Que nossa alma necessitaLavar-se em suor e pranto.

A LENHA

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Casimiro Cunha Essa lenha pobre e seca,Que se entrega com bondade,É sugestão do caminhoE exemplifica a humildade. Já pensaste em seu passado?Um lenho seco... que era?Talvez o galho mais lindoDos dias da primavera. Quem sabe? talvez um tronco,Terno abrigo nos caminhos,Um palácio nobre e verdeDe flores e passarinhos. No entanto, em missão de auxílio,Com santa resignação,Não se nega a cooperarNas máquinas de carvão. Em noite chuvosa e fria,Ela é a doce companheiraQue aquece as recordações,Crepitando na lareira. Ao seu calor, os mais velhosAcham prazer na lembrança;Os mais moços a alegriaDe comentar a esperança. Morrendo animosamente,Em chamas de luz e graça,Ela sabe que é de Deus,Por isso trabalha e passa. Se viveu rindo e cantando,Entre seivas e prazeres,Com os mesmos encantamentos,Cumpre os últimos deveres. Ah! quão poucos na jornadaConvertem reminiscênciasEm calor, vida e perfumeDe novas experiências!... * Mas chega o dia em que o homem, Sem combater, sem negar-se,Precisa, como essa lenha,Da coragem de apagar-se.

A MESA

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Casimiro Cunha Quando o homem precisouAmor e delicadeza,Concedeu-lhe a ProvidênciaA benção de paz da mesa. Desde então, em toda parte,Na esfera em que a luta brilha,A mesa assinala o passoDa tribo para a família. Quer Deus que ela seja em tudoBondade, ternura, altar,Seja em tábua, seja em ouro,- Outro lar dentro do lar. Decidem-se, à frente dela,Os destinos das nações;É mãe civilizadoraDe todas as gerações. Ajuda, em missões do ensino,Aos professores e aos pais,Serve ao campo das igrejas,Das escolas e hospitais. Revelando caridadeQue a palavra não traduz,Oferece o pão do corpo,Como oferta o pão da luz. A Providência Divina,Procurando auxiliar,Deu-a ao campo evolutivoPara o homem conversar. Junto dela, o Cristo Amado,No socorro aos nossos planos,Deu a ceia aos companheirosE o banquete aos publicanos. Em torno à mesa, cultivaRespeito, verdade, amor;Ela é dádiva perfeitaDa esfera superior. Nos serviços rotineiros,Não olvides, meu irmão,Que a mesa de tua casaÉ o lar da conservação.

A MINA

Casimiro Cunha

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É o poço escuro e enormeQue a mãe Natureza ensina,Entre exemplos de trabalho,A grande lição da mina. Picaretas formidandas,Batendo a terra escabrosa,Procuram localizarA matéria preciosa. Sob rudes ameaças,Constroem-se galerias,O filão exige sempreSofrimentos e agonias. Aqui, maquinismo imenso,Acolá, perfuradores,Na conquista do metalDas zonas inferiores. Milhares de braços fortes,Calejados na aspereza,Afrontam a treva e a morteNas sombras da Natureza. Depois de suor intenso,Nas câmaras do trabalho,Retira-se para exameGrande acervo de cascalho. Mas o ouro em toda parteTem problemas e programas,Em toneladas de pedra,Dá somente poucos gramas. De muita luta e serviço,Em provações da coragem,A mina fornece o ouroEm pequena porcentagem. Repara que a vida humana,Doente, pobre ou faustosa,Em todo lugar da TerraÉ mina laboriosa. * De muito cascalho inútil,Nas labutas da existência,Aprende a extrair na vidaO ouro da experiência.

A MONTANHA

Casemiro de Abreu

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Dentre todas as paisagens,Talvez a mais bela e estranha,É aquela que se observaNa solidão da montanha. Dura e estéril muitas vezes,Deserta, triste, empedrada,A montanha nos pareceA terra amaldiçoada. Entre as rochas do seu corpo,Florescem cardos somente,Flores rudes e espinhosasDa soledade inclemente. Seus píncaros elevados,Na figura da paisagem,Chamam somente a atençãoDo espírito de coragem. Comparada ao movimentoDo vale em relva macia,Fornece a impressão penosaDa aridez e da agonia. Entretanto, em todo tempo,É a sua força que encerraO amparo cariciosa Aos vales de toda a Terra. Sem sua dureza agreste,Repleta de solidão,As planícies morreriam Por falta de proteção. É ela a mão silenciosaDa energia que produz;No seu cume nunca há sombras,Seu dia inteiro é de luz. No mundo, as almas do amor,Mais sábias, mais elevadas,São montanhas que parecemestéreis e desprezadas. * Todavia, é o sacrifício,De sua desolação,Que sustenta em toda a vidaOs vales da evolução.

A MUDA

Casimiro Cunha

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Quem penetre no jardim,Quando em plena floração,Não pode dissimularSincera admiração. Açucenas desabrochamDesdobrando-se em beleza,Mostrando a maternidadeDas forças da Natureza. Além do jardim florido,Quem se dirija ao pomar,Experimenta emoçãoQue não pode disfarçar. As árvores generosas,Sob auréolas de verdura,Servem pomos de bondade Às mesas da criatura. Flores ricas, frutos nobres,Na abundância indefinível,Demonstram a ProvidênciaNa bondade inexaurível. Observe-se, porém,Como quem cumpre o dever,Que o nosso primeiro impulsoVem da idéia de colher. As flores são decepadas,Esmaga-se o fruto a esmo,Em tudo o egoísmo extremo,Dando conta de si mesmo. São raros os previdentesQue guardam consigo a muda,Por plantá-la com desveloNa terra que sempre ajuda. Em nossa vida, igualmente,Se vamos à luz dos bons,Refletimos tão somenteNa colheita de seus dons. * Não basta, porém, ganhar,Por deixarmos de ser pobre:Plantemos em nossa vidaA muda do exemplo nobre.

A NOITE

Casimiro Cunha

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Crepúsculo. E, após o dia De esforços laboriosos,Eis que surge a noite cheiaDe apelos maravilhosos. Deus desdobrou sobre a TerraSeu manto misterioso,Como pausa necessáriaDe pensamento e repouso. As estrelas que se acendem,Com ternura e rutilância,Parecem luzes que acenamDe uma cidade a distância. A luz ditosa convidaÀ paz e à meditação.A noite é a parada amigaDe calma renovação. Se o dia pertence à lutaDa construção terrenal,A noite é o sagrado ensejoDa vida espiritual. Os homens ignorantesAbusam do seu valor,Dando vida a todo impulsoDe natureza inferior. Mas quem sabe ser do CristoEncontra nela a harmoniaDa fonte de vibraçõesDo amor, da paz, da alegria. Palpita em seu manto a bênçãoDo Pai Amado que aprova.É a ilha rica e encantada,Repleta de força nova. Alegra-te em cada noite,E, tomando o bem por guia,Entrega a Deus o inventárioDas lutas de cada dia. Não te enerves no repouso,Renova teu compromisso.Quem não sabe descansar,Mentiroso é o serviço.

A NUVEM

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Casimiro Cunha Céu sereno luminoso,Entretanto, avulta em cimaUm ponto sombrio e triste – É a nuvem que se aproxima. Quem mirar o firmamento,Descansando a luz do olhar,De súbito, experimentaDoloroso mal-estar. Dilata-se o ponto negro,Em todo o céu que se altera,O calor é intolerávelNa pressão da atmosfera. A planta parece aflita, Mergulhada em solo ardente.O vento para. O caminhoSufoca penosamente. Vem a nuvem divididaEm vastíssimos pedaços,Atritam-se os elementosEm confusão nos espaços. Em breve, porém a chuva,Em gotas cariciosas,Mata a sede das raízes,Lava as pétalas das rosas. As folhas ganham verdura,A estrada se modifica,É a seiva do céu que cai,Profusa, bondosa e rica. Aí, reconhecem todosQue a nuvem, como ninguém,Sabia trazer consigo,A paz, a alegria, o bem. Assim, a nuvem da vidaDo infortúnio e da desgraça,Vem sombria e dolorosa, Chove lágrimas e passa. * Um homem, depois das dores,É mais lúcido e melhor.Toda sombra de amarguraTraz consigo um bem maior.

A PEDRA

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Casimiro Cunha Entre as coisas mais singelasDos planos da Natureza,Destaca-se a pedra humilde,Como símbolo de dureza. Se alguém requisita imagemPara a dor de nossa luta,Em todas as circunstânciasLembremos da pedra bruta. Entretanto, quase sempre,Em nossa definição,Há doses de fantasiaE gestos de ingratidão. A pedra é santa operária,Exemplo de intrepidez,No campo materialÉ base de solidez. No plano geral do mundo,Ela humilde é que suportaO peso da casa amiga,Do lar que nos reconforta. Além disso, se apresentaA luta e a dificuldade,Coopera na educaçãoDas forças da humanidade. Nem sempre a pedra da estradaConstitui espinho e dor,Que obstáculo vencidoÉ posse demais valor. É certo que a pedra esmagaSe há preguiça e invigilância;Mas, muitas vezes, é uma luzNas trevas da ignorância. Olhando-a, nunca te esqueçasQue mesmo a dor da pedradaPode ser a grande bênçãoDe uma vida renovada. * Ouçamos a grande vozDa cátedra de Jesus,Que colheu as nossas pedrasE nos deu a Eterna Luz.

A PÉROLA

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Casimiro Cunha Dos trabalhos de conquistaDa fortuna dadivosa,Destaca-se a pescariaDa pérola preciosa. Nem todo mar serve à pesca,Há nas ostras exceção,Em verdade, muito poucasAtendem na seleção. Extremas vicissitudes,Trabalhos, perigos, dores,Tudo isso desafiaO esforço dos pescadores. Não se pode prescindirDe serviços sobre-humanos,Com cuidado e intrepidez,No fundo dos oceanos. É preciso haver coragemEstranha a qualquer temores,No justo desprezo aos monstrosDas zonas inferiores. A descida no mergulho,Ao longo do enorme abismo,Traduz um ato de féQue descende do heroísmo. Mas, depois do sacrifício,A que o homem se conduz,Vem a pérola mostrandoUm sonho formado em luz. Todo o ouro amoedado,Nos arquivos da avareza,Não cria esse dom de DeusQue surge da Natureza. No esforço do pensamento,Imita essa pescaria:No oceano do EvangelhoHá paz e sabedoria. * Trabalha, despreza os monstros,Esquece a dificuldadeE acharás com Jesus-CristoAs pérolas da Verdade

A PICARETA

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Casemiro Cunha No serviço inicialDas construções no planeta,Aparece, indispensável,O esforço da picareta. E’ quase desconhecidaNa casa elegante e bela;Pouca gente se recordaQue não se abrigou com ela. E’ que a nobre picaretaAtende à primeira faseDe cada edificaçãoQue precise erguer a base. No trabalho do princípio,Vencendo a pedra, a rudeza,Revela ao trabalhadorObediência e presteza. Do serviço eficienteFornece as maiores provas,Quebra espinhos, vara outeiros,Desdobrando estradas novas. Traça e atende com firmeza,No início das construções,Dando forma aos alicerces,Prezando as obrigações. Escava terrenos duros,Humilde, criteriosa,Por trazer à superfícieA bênção da água bondosa. Obstáculo? Empecilho?Oposições de rochedo?A picareta resolveTotalmente estranha ao medo. Na esfera espiritualOnde o bem pede cuidados,Há construções igualmenteCom serviços bem pesados. *Lembra sempre, meu irmão,Se queres a Luz Divina,Que a vontade é piaretaNas terras da disciplina.

A PLANTAÇÃO

Casemiro Cunha

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E’ muito grande o trabalho,Enorme a preparação,Na terra que se destinaÀs fainas da plantação. E’ preciso desprezarCertas plantas, certas floresRetirar os espinheirosE arbustos inferiores. Depois da foice aguçada,Que opera o desbravamento,Vêm, a golpes de enxadão,Limpeza e destocamento. No corpo da terra nua,Em lutas laboriosas,Há frondes e flores murchas,Cicatrizes escabrosas. Logo após, o arado amigo,Cuidadoso, traça a leira,Completando atividades,Devidas à sementeira. O solo dilaceradoDá conta do esforço ingente,A terra aberta e feridaE’ o berço justo à semente. A zona que se consagra,Às tarefas de cultura,Fornece lições diversasAo campo da criatura. Muita gente julga, a esmo,Que as lutas da educaçãoSe resumem a teoria,Discurso e doutrinação. Mas o problema é bem outro:Não se dispensa a harmoniaEntre ação e ensinamento,Nos quadros de cada dia. *Dores, lutas, sofrimentos,São bênçãos de formaçãoDa Divina SementeiraNas zonas do coração.

A PODA

Casimiro CunhaQuando é necessário ao campo

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Produção forte e fiel,Não se pode prescindirDa poda quase cruel. É dolorosa a tarefaQue se comete ao podão,Não só nos tempos de inverno,Como em tempo de verão No pomar esperançoso,Na vinha feita em verdura,Há dores indefiníveisQue nascem da podadura. Velhos ramos opulentos,Dilacerados ao corte,Despenham-se amargurados,Vencidos de angústia e morte. Esforça-se a podadeiraNo galho que cede a custo,E as frondes carinhosasParecem tremer de susto. Muita vez, toda folhagemSucumbe, desaparece,Nobres hastes mutiladasDão mostras de mãos em prece. Mas, depois, findo o tormento,Passada a grande agonia,Vem a luz da primaveraNas colheitas de alegria. Tudo é festa de beleza,Abundância, fruto e flor,Devendo-se tudo a bênçãoDa poda que trouxe a dor. Necessita-se igualmente,No campo das criaturas,Das podas em tempo calmo,Em tempos de desventuras. Nas fainas da luta humana,O sofrimento é o podão:Não te furtes à grandezaDas leis de renovação.

A POMBA

Casimiro CunhaA pomba bondosa e terna

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Sobe, sobe, além dos montes,E presta serviços nobresDevorando os horizontes. Entre os homens, vê-se o mesmo,Nos caminhos da existência;A ninguém falta na terraAs asas da inteligência. Há, porém muita avestruz,Muitos corvos e galinhas,E em todo o lugar são rarasAs pombas e as andorinhas.

A PONTE

Casemiro de Abreu

Onde a estrada se biparte,

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Parando sem que prossiga,Manda o Pai que se construaA ponte bondosa e amiga. Consagrada ao bem dos outros,Todo instante atenta a isso,Dom dos céus a revelarO espírito de serviço. Suspensa sobre as alturas,Onde uma queda ameaça,Sem privilégio a ninguém,A ponte serve a quem passa. Sempre pronta no caminho,No seu esforço incessante,Todo o tempo, dia e noite,É bondade vigilante. Sanando dificuldades,Dá-se ao que vai e ao que vem,Pratica com todo o mundo A divina lei do bem. Por gozar-lhe toda hora,Seu constante e terno amor,Os homens nunca refletemNa extensão do seu valor. Muita vez é necessário,Para que homem possa sentir,Que em meio da tempestade,A ponte venha a cair. No instante em que cada qualVê que o bem próprio periga,Já ninguém mais desconhece,Quem era essa grande amiga. A ponte silenciosa,No esforço fiel e ativo,É um apelo à lei do amor,Sempre novo, sempre vivo. * Vendo-a nobre e generosa,Servindo sem altivez,Convém saber se já fomosComo a ponte alguma vez.

A PORTEIRA

Casemiro de Abreu

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Enquanto a cerca trabalha,Organizando a divida,A porteira se encarregaDa tolerância precisa. O caminho generoso,Defendido em cada lado,Não pode ser confundido,Nem deve ser perturbado. Quem organiza, porém,O esforço de vigilância,Pode, às vezes, ser levadoA gestos de intolerância A rigidez na fronteira,Tendendo para o egoísmo,Encontra a porteira sábia,Que opera contra o extremismo. Nas praças como nos campos,Ela ensina, com carinho,Que a propósitos sagrados,Não se nega o bom caminho. A cerca defende a ordemDominando o que é contrário,Mas a porteira bondosaAtende ao que é necessário. Há pessoa aflita e tristeQue precise providência?Ei-la pronta a qualquer hora,E atende com diligência. Animais ao abandono?Necessidades de alguém?Expõe com simplicidadeA sua missão no bem. E com calma superior,Humilde e silenciosa,Completa o serviço amigoDa cerca criteriosa. * Vivem no mundo almas nobres,Torturadas de aflição,Porque lhes faltam porteiras Nos campos do coração.

A PRAIA

Casimiro Cunha

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Mar revolto. Sombra densa,Ao longo da vastidão.Vibra a angústia em cada rostoNa frágil embarcação. O vento sopra de rijoEspalhando a tempestade,As ondas são monstros verdesNo dorso da imensidade. Dolorosas inquietudes,Amarguras, nervosismos...Céu e mar desesperados –É o choque de dois abismos. Não mais bússolas, nem velas,Tudo horror, trovões e vento,Só resta, entre vagalhões,O esforço do salvamento. Ninguém define a distânciaE o mais lúcido, o mais forte,Mergulha-se em pensamentoNos caminhos para a morte. É quando a costa aparece,Trazendo nova esperança.É a mensagem carinhosaDos planos de segurança. Que alívio dos viajores,Cansados de sofrimento!...Eis que a praia simbolizaA luz dum renascimento. Ao seu lado, volta a calma,Extinguem-se a sombra e a dor,Renova-se a confiançaNa esfera superior. Esse quadro nos recordaO mundo desesperado,Que parece muitas vezes,Grande mar encapelado. * Mas todo cristão sinceroÉ uma praia apetecida,Onde há paz e segurança,Caminho, verdade e vida.

A REFEIÇÃO

Casimiro Cunha

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Das horas do lar terrestre,Que falam ao coração,Destacamos com justiçaA hora da refeição. Há muita gente no mundoQue se assenta junto à mesaE recebe o bem divinoSem ponderar-lhe a grandeza. Supõem muitos, mostrandoJuízo ao sabor do vento,Que a refeição se resumeA despesa e pagamento. Raros pensam no trabalhoDa Eterna SabedoriaQue espalha, por toda a terra,Esse pão de cada dia. A maior parte dos homens,Estranha à luz da oferenda,Aproveita a refeiçãoPor dar pasto à gula horrenda. Muitos outros, igualmente,Dominados de cegueira,A transformam em campo largoDe excessos de bebedeira. Não poucos, menosprezandoO corpo sadio e forte,Em vez de atender a vida,Procuram moléstia e morte. Finalmente, em toda a parte,Pelo método confuso,O dom do Senhor se tornaEm pastagem para o abuso. Cartilha Da Natureza Ouve amigo: não te esqueças,Nas mais ínfimas estradas,Que o prato das refeiçõesÉ bênção das mais sagradas. Não olvides que o “pão nosso”É dom sublime e perfeito;Se não tens a luz da fé,Não te esquives ao respeito. Cartilha Da Natureza A Visita

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Quando Deus criou a TerraA visita de amizade,Permitiu-a, incentivandoA paz e a fraternidade. Antes, contudo, o Senhor,Que preserva nossa vida, Deu a norma generosaQue, em tudo, lhe é devida. No silêncio venerandoCom que falta das Alturas,Nosso Pai ensina issoVisitando as criaturas. Vem com o sol de maravilhasQue não olvida ninguém,Aquece as coisas e os seres,Amando, fazendo o bem. Vem junto à chuva bondosaE atende à fecundação,Traz flores, verdura e seivaE espalha as bênçãos do pão. A Visita PaternalNunca falta nem demora,O Senhor vem ver-nos sempre,Cada dia, cada hora. Entretanto, não comentaNossas grandes cicatrizes,Apenas procura meiosDe tornar-nos mais felizes. De mil modos auxiliaCom bondade sempre igual,Buscando estabelecerO olvido de todo mal. Nos tempos de riso e flores,Nos dias de dor e abrolhos,Ao lado de seus amigos,Não visites com maus olhos. Maledicência é venenoQue traz angústias de inferno;Ganhar visita ou fazê-la,É divino dom do Eterno.

A SEMENTE

Casemiro Cunha

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Nos quadros vivos da roça,A semente pequeninaE’ página aberta aos homens,Mostrando lição divina. E’ minúscula, e somenteÀ luz de grande atençãoPode ser reconhecidaNo campo de plantação. Quanto pesa? Quase nada:Coisa muito inferior,Calcada aos pés, sem cuidado,Nas lutas do lavrador. No entanto, grãozinho humilde,Que pouca gente repara,Tem tarefas e caminhos,Lições de beleza rara. Humilde, pequena e pobre,Abandonada ao monturo,A semente é a garantiaDo edifício do futuro. Coisa mínima lançadaAo vasto lençol do chão,Vai ser árvore, celeiro,Remédio, alimentação. Mas é justo ponderar,Ao senso da criatura,Que a espécie de produçãoResponde à semeadura. Laranjeira dá laranja,Macieira dá maçã,Planta rude do espinheiroE’ mais espinho amanhã. As sementes ignoradas,Da roça desconhecida,São iguais às bagatelasDo quadro de nossa vida. *Uma palavra, um conselho,Um gesto, uma vibração,Vão crescer e produzirConforme nossa intenção.

A TERRA E O LAVRADOR

Casemiro Cunha

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Nos quadros da Natureza,A terra e o cultivadorSão personagens sublimesDo livro do Pai de Amor. A terra mais seca e duraConserva, no coração,As bênçãos da Luz DivinaQue fornece o nosso pão. E o lavrador é o amado,A mão simples, meiga e boa,Que regenera e semeia,Que cultiva e aperfeiçoa. Pesados desbravamentos,Arado rude a ferir...Humilde, dilacerada,Toca a terra a produzir. Quanto mais a enxada vibreNo sulco forte e profundo,Mais a flor promete fruto, Mais o celeiro é fecundo Muita vez, o solo agresteE’ lama desamparada,Mas a mão do lavradorTraz a vida renovada. Onde queimava o desertoE o calor não tinha fim,Brincam asas buliçosas,Cantam flores de jardim. Quem não viu da própria estradaO esforço do lavradorE a terra aberta em feridasDando a riqueza interior? Assim, no mundo, a alma pobre,Inda vil, inda assassina,Oculta a fagulha excelsaDa Consciência Divina. *E a dor, nossa grande amiga,Na terra do coração,E’ o lavrador bem-amadoDa vida e da perfeição.

A TEMPESTADE

Casimiro CunhaQuando o ar sufocante,Quando a sombra tudo invade,

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Eis que chegam de repenteOs carros da tempestade. Trovões, coriscos, estalos,Granizos, treva. Aspereza;São convulsões dolorosasDas forças da Natureza. Velhas copas opulentas,Antigas frondes em festa,Tombam gritando assustadasNa escuridão da floresta. Os furações implacáveisMatam flores, levam ninhos;A corrente do aguaceiroMuda a face dos caminhos. Mas no dia que sucedeÁs sombras da convulsão,A terra é limpa e tranqüila. O céu é claro-azulado,O dia é de linda cor,Tudo chama novamenteA nova expressão de amor. Quem não teve em sua vidaA tempestade também?Depois de tudo arrasado,Floresceu, de novo, o bem. Aflições e desencanto,Renovação de ideais,Desilusões dolorosas,Desabamentos fatais. Deus, porém, jamais esqueceDe atender e renovar;Apenas pede aos seus filhosA energia de esperar.Cartilha Da Natureza Caso venha a tempestade,Guarda a força calma e sã.Deus é Pai. Ora e confia.A vida volta amanhã.

A USINA

Casimiro Cunha Ao lado da queda d‘água,

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Se existe o rumor da usina,É justo considerarA lição que o quadro ensina. Da corrente que despenha,Aumentando atividade,Parte o fluido vigorosoQue vibra eletricidade. Transforma-se a cachoeiraEm gerador de energia,Que a usina prestigiosaTraduz com sabedoria. A primeira exprime forçaSuscetível de criar,A segunda é o vaso amigoQue procura aproveitar. Uma dá, outra recebeCom bondade e diligência;Semelham-se a ordem calmaAo lado da obediência. Desse acordo delicadoNasce o gérmen do processo,Em que se organiza o bemDo conforto e do progresso. Desde então, vencida a sombra,Há luzes pelos espaços,Alimento à grande indústria,Serviço a milhões de braços. Por servir e obedecer,Bondosa, confortadora,Vem a usina a converter-seNa sublime benfeitora. O quadro revela os olhos,Em nobres clarões sem véus,A cachoeira incessante,Desgraças que vêm dos céus. * Quando houver em cada homemA obediência da usina,Toda a Terra brilharáNo trono da Luz Divina.

A VIDRAÇA

Casimiro Cunha Quem saiba ver nos caminhos

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A luz, a beleza, a graça,Não foge à contemplaçãoDo símbolo da vidraça. Existe em tamanhos váriosMostrando serviços e arte,Satisfazendo ao confortoQuase sempre, em toda parte. Prestativa, atenciosa,O homem não lhe traduzA função maravilhosaDe abrir novo campo à luz. Espelho cariciosoDe muita delicadeza,Seu esforço no trabalhoTem enorme sutileza. E que em todos os lugares,Frente ao mesmo sol de amor,Dá caminho à claridade,Mas, conforme a própria cor. Se vermelha, o apartamentoGuarda-lhe em tudo o matiz,Parecendo cada coisaEngrinaldada a rubis. Se verde, a casa pareceDe verdura peregrina;Se azulada, é a cor do céuQue se dilata e domina. Na expressão do colorido,Tem seu símbolo de escol,Pois se o vidro é multicor,Todo o sol é o mesmo sol. Quem não percebe aí dentro,Sem grandes indagações,O Divino Amor de DeusE as várias religiões?!. . . Deus é sempre o mesmo PaiQue ilumina, cria e sente:Mas o homem o recebeDe acordo com a própria mente.

A VISITA

Casimiro Cunha

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Quando Deus criou a TerraA visita de amizade,Permitiu-a, incentivandoA paz e a fraternidade. Antes, contudo, o Senhor,Que preserva nossa vida, Deu a norma generosaQue, em tudo, lhe é devida. No silêncio venerandoCom que falta das Alturas,Nosso Pai ensina issoVisitando as criaturas. Vem com o sol de maravilhasQue não olvida ninguém,Aquece as coisas e os seres,Amando, fazendo o bem. Vem junto à chuva bondosaE atende à fecundação,Traz flores, verdura e seivaE espalha as bênçãos do pão. A Visita PaternalNunca falta nem demora,O Senhor vem ver-nos sempre,Cada dia, cada hora. Entretanto, não comentaNossas grandes cicatrizes,Apenas procura meiosDe tornar-nos mais felizes. De mil modos auxiliaCom bondade sempre igual,Buscando estabelecerO olvido de todo mal. Nos tempos de riso e flores,Nos dias de dor e abrolhos,Ao lado de seus amigos,Não visites com maus olhos. Maledicência é venenoQue traz angústias de inferno;Ganhar visita ou fazê-la,É divino dom do Eterno.

O AÇUDE

Casemiro de Abreu

Vai-se o inverno frio e longo,

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Volta o tempo desejável,O açude prossegue sempreNa harmonia inalterável. Espelho cariciosoRefletindo o céu de anil,É lençol de luz e ouro,Na tarde primaveril. Durante o dia sem sombras,Retrata o Sol a brilhar,Quando a noite vem descendoGuarda os raios de luar. Tudo isso é um quadro lindo,Mas não é só. A represaÉ a mensagem da prudênciaNo apelo da Natureza. O açude não priva as águasDe manter seus bons ofícios,Mas sabe guardar as sobras,Evitando os desperdícios. No organismo inteligenteDe suas disposições,Fornece canais amigosEm todas as direções. E surgem forças cantando,No pão, na luz, no agasalho.É a vitória da alegria,Na abundancia do trabalho. Se a represa não guardasseCom prudência e com carinho,Faltaria o necessárioNos celeiros do caminho. Se o perdulário entendesseO ensinamento do açude,Jamais choraria a faltaDo sossego e da saúde. * Guardar o que seja justo,Sem torturas de avareza,É da prudência divinaNo livro da Natureza.

O AGUILHÃO

Casemiro Cunha

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Na esteira da confusão,Há perigo, o carro empina.São golpes de bois madraçosEm horas de indisciplina. Avançam, rumo ao barranco,Atiram-se à revelia,São cegos à estrada enormeE surdos à voz do guia. O carreiro vigilanteAtende à situação:Na canícula douradaVibram golpes de aguilhão. A custa de esforço ingente,A poder de ferroada,A ordem volta ao serviço,A harmonia volta à estrada. Há revolta momentâneaNos bois rudes, a tremer,Mas, a bem da paz de todos,Cada qual cumpre o dever. E o carro prossegue firme,Sem desvios, sem parar,Buscando os objetivosQue, por fim, deve alcançar. Na Terra, também é assim:Nas sendas de redenção,Todo homem necessitaEstimulo à própria ação. No lar, como no trabalho,Desde o berço até a morteA criatura precisaAguilhões de toda sorte. Muita gente fala delesCom desespero e com asco;Mas, Jesus santificou-osNo caminho de Damasco. * Obedece a Deus e passa,Vive sempre atento a isto:Todo aguilhão que te fereE’ bênção de Jesus-Cristo.

O ANDAIME

Casemiro de Abreu

Quando o esforço principia

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Em toda edificação,Não se pode prescindirDa alheia cooperação. Precisa-se apoio forte,De base através da qual Se distribua ao serviçoConcurso e material. Vem o andaime prestimoso,É o seguro companheiro,Que atende às obrigações,Noite toda, dia inteiro. De pé vivendo o dever,Serve a todos com bondade,É um exemplo de serviço,E um símbolo de humildade. Muita vez, pisado a esmo,Escuro, banhado em lama,Permanece em seu lugar,Não se irrita, não reclama. Findo o esforço rude e longo,Ao rebrilhar do edifício,Pouca gente lhe recordaO trabalho e o beneficio. O quadro é singelo e pobre,Mas rara é a lição assim -O benfeitor olvidado,Que é fiel até o fim. Além disso, o ensinamento,Em suas exposições,Apresenta aos aprendizes,Duas belas sugestões. Diz a primeira que um diaDeveremos esperar,Agir sem qualquer andaime,Na vida particular... * Indaga-nos a segunda,Se já fomos para alguém,O andaime silenciosoQue ajuda a fazer o bem.

O BANHO

Casimiro Cunha

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Dos preceitos da higiene,Fonte clara do vigor,Destaca-se, em qualquer tempo,O banho confortador. Depois da viagem longa,Findo o esforço, cada dia,Renovam-se, ao banho calmo,A paz, a força, a alegria. A própria vida aconselha,Por vibrar, forte e louçã,O contacto da água pura,Ao começar da manhã. No trato vulgar do mundo,À frente da humanidade,O corpo mais nobre e beloNão se esquiva à sujidade. Mais além há fumo e lama;Mais aquém, há lixo e poeira;Todo o corpo participaDo suor e da canseira. As células esgotadas,Em ânsias de dor e morte,Requerem alguma coisaQue as ajude e reconforte. Eis que surge o banho amigo,Com recursos sempre iguais,A água cariciosaTem carinhos maternais. Depois dele o alívio santo,A bênção ditosa e pura,A paz regeneradoraAo corpo da criatura. Assim também, nossas almas,Em serviços contra o mal,Nunca podem prescindirDo banho espiritual. Luta a luta, dia a dia,Levemos o coraçãoÀs águas do PensamentoPara o banho na Oração.

O BARRICACHO

Casimiro Cunha

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Por vezes, na atividadeDas viagens, do transporte,O animal em disparadaPromete desastre e morte. Por mais que sustenha a rédeaE colabore o cocheiro,Em tudo, paira a ameaçaDe rumo ao despenhadeiro. Trabalhos imprescindíveisSofreriam dilação,Se o condutor não agisseCom firmeza e precisão. Antecipando o terrorDa descida, abismo abaixo,O montador ou o cocheiroRecorrem ao barbicacho. Reage o animal teimoso,Rebela-se e pinoteia,Mas tudo cessa de pronto,Na apertura da correia. Se busca saltar de novoSob fúria mais violenta,Eis que lhe vaza a bocaEspuma sanguinolenta. De queixo posto no entrave,Qualquer coice dado a esmo,Se pode ofender os outros,Dói muito mais nele mesmo. Em pouco tempo o rebelde,Agora sem mais descanso,Trabalha tranqüilamenteHumilde, bondoso e manso. Assim, também muita genteEm falsa compreensão,Ao invés de trabalhar,Faz queixa e reclamação. * Contudo, à beira do abismo,Antes da queda ao mais baixo,Recebem os linguarudosAs bênçãos de um barbicacho.

O BARRO E O OLEIRO

Casimiro Cunha

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É um exemplo de bondadeO esforço nobre do oleiro,Cuja grande atividadeTem a base no lameiro Muitos sentem aversãoPor sua tarefa hostil,Dedicada, dia e noite,Ao barro nojento e vil. Seu trabalho é quadro rudeQue a lama invade e não poupa,É barro, por toda a parteNo rosto, nas mãos, na roupa. Seu serviço é tão ingratoJunto à massa indefinível,Que a tarefa mais pareceUm sofrimento invencível. Mas todo barro mais pobre,Ao toque do seu amor,Fornece os vasos divinosDe formosura e valor. Quanto mais tempo e trabalho,Mais triunfa, mais se ufana...E vemos a lama escuraTransformada em porcelana. Além dessas jóias rarasDe sublimes expressões,É o oleiro quem dá corpoÁs vossas habitações. O tijolo faz a casa,A telha cobre a mansão,O homem ganha o seu larQue é templo do coração. Nas estradas de miséria,Não mais éramos que lama,E eis que o Mestre no EvangelhoNos esclarece e nos chama. * O Cristo é o Divino OleiroQue opera com perfeição;Somos nós o barro vil,Guardado na sua mão.

O BOTÃO

Casimiro Cunha

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Na extrema delicadezaDa verdura perfumosa,Destaca-se pequeninoO tenro botão de rosa. Não há sinal de corola,Vê-se apenas que começaA surgir a flor divinaNum cálice de promessa. E às vezes, nas alegriasDe doce festividade,Espera-se pela rosaNo caminho da ansiedade. Deseja-se a flor robustaCom que se adorne a beleza,Mas não há lei que perturbeOs passos da Natureza. É certo que toda rosa,Como jóia de paisagem,Nunca pode prescindirDo zelo da jardinagem. Precisa tempo, entretanto,Na sombra e na claridade,Requerendo orvalho e sol,Noites, chuva, tempestade. Por crescer, pede cuidadoNos inícios da existência,Mas, morrerá com certezaA golpes de violência. Assim, também, quase sempre,A muita crença em botãoTentamos impor, à força,A nossa compreensão. Toda crença é patrimônioQue não surge improvisado;É a rosa da experiência,Em terras do aprendizado. * Se tua alma vive em festa,Na fé que pratica o bem,Ajuda, coopera e passa...Não busques torcer ninguém.

O CAJADO

Casemiro Cunha

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Quem faça viagem longa,Se é prudente e ponderado,Jamais pode prescindirDo concurso de um cajado. Conduzir arma de fogoUltrapassa a obrigação,Evite-se a qualquer preçoA morte e a destruição. Entretanto, é indispensável,Nas surpresas do caminho,Que se guarde alguma coisaContra a pedra, contra o espinho. O bordão é companheiro,Não se aflige, não se assusta;Permanece na defesaDo esforço da causa justa. Pode agir sem destruir,Cede apoio com proveito,Prestativo, atencioso,Infunde calma e respeito. Desvia o curso à serpente,Traça rotas, vence o mato,Em todas as latitudes,O bordão é herói no tato. Sonda o leito do caminho,Pratica a verdade e o bem,Onde há fogos e perigos,Informa como ninguém. Com seu auxílio é possívelProsseguir e caminhar,O próprio cego dos olhosNão precisa estacionar. Reparando-se, porém,No ensino a que o quadro alude,A jornada é nossa vida,O bordão, nossa atitude. *Segue honesto, a passo firme,De espírito sossegado,Não sofras pelo dinheiro,Mas conserva o teu cajado.

O CAMPO E O JARDIM

Casemiro Cunha

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Nas lutas de cada dia,Nas estradas da existência,Lembra que o campo e o jardimSão pontos de referência. Um é a esfera de trabalhoQue fica estranha ao teu lar,O outro é a intimidadeDa vida particular. No primeiro é a mão de DeusQue decide com grandeza,Na harmonia inescrutávelDas forças da Natureza. No segundo é a criatura,Que, usando elementos seus,Ganha a vida, usufruindoOs opimos bens de Deus. O campo eterno, infinito,Vai de um mundo a outros mundos,E’ a vibração do universo,Em seus problemas profundos. O jardim é a casa amiga,Pobre ou rica, sempre boa,E’ a bela oportunidadeDa luta que aperfeiçoa. As penas, as amarguras,De um lar de trabalho e dor,São trilhas que dão acessoAo bem santificador. Quem não zele seu jardim,Com sacrifício e bondade,Mui longe está de atenderNo campo da humanidade. Entretanto, vemos homens,Herdeiros dos fariseus,Que já pretendem ser anjos,Sem serem bons para os seus. *Se queres segar o campoDa luz e do amor sem fim,Não descuides um minuto,Das coisas do teu jardim.

O CARRO

Casemiro Cunha

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Nos problemas de viagemPor vencer qualquer distância,Todo carro requisitaEsforços de vigilância. Antes de tudo, atendendoAs lições da Natureza,Não se pode prescindirDos detalhes da limpeza. O carro é prestigioso, Mas, no longo das estradas,Pede amparo da prudência,Nos serviços, nas paradas. Aqui, reclama remendo,Mais além um parafuso,Todo o zelo é necessárioPreservando-se do abuso. De quando em quando, é precisoExame calmo e acurado,Cada peça solicitaCarinho, atenção, cuidado. Ferramentas, graxa e óleoRequisitam provisões;Somente o bem da reservaRemedeia inquietações. Sem isto, qualquer jornadaVale por louca aventura,Que termina comumenteNo desastre da loucura. O carro mais reforçado,À desídia do cocheiro,Abandona o rumo certo,Resvala ao despenhadeiro. No mundo assim também é:O homem, na humanidade,E’ o viajor desmandandoAs luzes da eternidade. *A experiência é a viagem,O carro é teu organismo:Quem descuide o próprio corpoPrecipita-se no abismo.

O CEMITÉRIO

Casimiro CunhaTristeza, luto e silêncio,Desolação e amargor.

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O quadro de um cemitérioInspira saudade e dor. Aqui, lápides custosas,Ali, raros mausoléus,Anjos de pedra apontandoA cúpula azul dos céus. Além sepulturas pobres,Sem o mármore das lousas,Que se confundem sem palmasNo seio comum das coisas. Em uns, a ambição pomposaQue se estende à própria morte;Em outros, o esquecimento,Contrastes das mãos da sorte. Mas em todos os recantos,A realidade é a liçãoDo túmulo: o estojo tristeDe sombras e podridão E o cemitério descansaEm triste serenidade,Assinalando em silêncioO fim de toda a vaidade. No entanto, entre as cruzes mortas,Sobre corpos verminados,A primavera traz líriosRisonhos e perfumados. Cantam rosas de alegriaSobre as dores da tristeza;O cipreste enfeita os diasE as noites da Natureza. Cartilha Da Natureza Já observaste? No mundo,Nos trilhos mais viciados,Temos sido muitas vezesComo “túmulos caiados”. Mas Jesus que é o JardineiroDa paz, do amor, da bonança,Faz florir em nossas trevasSeus caminhos de esperança.

O CIPÓ

Casimiro Cunha Sobre a árvore frondosaQue mostra calma infinita,

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Abraçada ao tronco forteLá se vai o parasita. Não atinge o cerne, a seiva,Mas buscando a copa, as flores,Enrodilha-se, teimoso,Nas cascas exteriores. Agarrado tenazmente,Vai subindo vagaroso,Alcançando o cume verdeDo arbusto generoso. Aboletados nos cimosDo castelo de verdura,O cipó audaciosoAparenta grande altura. Deita flores opulentasDe expressão parasitária,Avassalando a nobrezaDa árvore centenária. Recebe os beijos do sol, Embala-se na ternuraDa carícia perfumosa,Da brisa mais alta e pura. Mas, vem o dia em que o Pai,Na lei de renovação,Chama o tronco nobre e velhoAs bênçãos da mutação. É aí que o cipó vaidosoDemonstra o que não parace,Voltando ao pó do chão duro,Para as zonas que merece. Quanta gente brilha ao alto,E, no fundo, inspira dó?Há milhões de criaturasVivendo como o cipó. * Jamais olvides a leiDe trabalho e obrigação,Não queira mostrar-te ao altoÀ custa do teu irmão.

O CUPIM

Casemiro de Abreu

Causa pena olhar o campo

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Quando pobre de verdura,Sofre a terra a intromissãoDo cupim que a desfigura. Debalde a vegetaçãoSe estende em ramaria,O solo não apresentaA mesma fisionomia. O cupim obstinadoMultiplica-se em rebentos,Parece que o chão se cobreDe tumores pustulentos. Em vão, a chuva convida Às forças de produção,Debalde o Sol traz a luzDe paz e renovação. Não faltam bênçãos do CéuQue atendam aos dons da vida,Mas a terra permaneceDesolada e ressequida. O cupim vai provocandoEstrago, calamidade,E o campo mostra ruínas,Miséria, esterilidade. Às vezes são necessários Muito esforço, muitas dores,Por expulsar a família Dos insetos invasores. Sem trabalhos decididosPor parte da agricultura,O cupim transforma a terraNuma extensa sepultura. Lembremos, vendo esse quadroDa esfera dos lavradores,As almas avassaladasDe idéias inferiores. * Sê forte em qualquer trabalho,Cada luta é uma lição.Tristezas e desalentosSão cupins no coração.

O DESPERTADOR

Casimiro Cunha

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O relógio é o grande amigoNa vida da criatura;Acompanha-lhe a viagemDesde o berço à sepultura. Metódico, dedicado,Movimentando os ponteiros,Marca os risos infantisE os gemidos derradeiros. Revela oportunidades,Mostra a bênção do minuto,Indica tempo à semente,Como indica tempo ao fruto. Mas de todos os relógiosQue atendem cheios de amorÉ justo salientarO amigo despertador. Quando alguém dorme ao cansaço,Ele vibra, ajuda e vela,Ritmando o tique-taque,Tem coisas de sentinela. Na hora esperada e justa,Pontual, invariável,Chama à luta o companheiroEm bulha desagradável. O seu barulho interrompeO repouso desejado,Acorda-se quase à força,Levanta-se estremunhado. Mas, somente ao seu apelo,Há lembrança dos serviços,Buscando-se incontinentiA zona dos compromissos. Assim, na vida comum,Nas lutas de redenção,Todo o tempo é preciosoEm qualquer situação. Mas o tempo que nos fere,Em provas, serviço e dor,É o melhor de todos eles,É o nosso despertador.

O DIA

Casemiro Cunha O dia é o bom companheiroQue, enquanto a sombra se esvai,

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Cada manhã, abre as portasDas bênçãos de Nosso Pai... Haja guerras entre os homensDe sentimentos mesquinhos,O dia chega espalhandoLuz e vida nos caminhos. Começa o rumor amigoDa enxada, dos bois, do malho:E’ a casa de Deus vibrandoEm cânticos de trabalho. Generoso, claro e alegreVem do céu e atento a isso,Fornece a todos os ensejoDo espírito de serviço. Que vale um dia? InterrogaQuem não sabe ter vontade;Mas, cada dia é caminhoNa esfera da eternidade. Quem não saiba aproveita-lo,Entregue à preguiça vã,Cria espinhos escabrososPara a estrada de amanhã. O dia é o mestre do esforço,Que, com carinho e com arte,Atende bondoso a tudo,Trabalhando em toda a parte. Feliz quem lhe segue a rotaDesde a luz do amanhecer,Fazendo quanto possívelNos quadros do seu dever. Ai da preguiça que dorme,Que se esconde de mansinho!Deixemo-la sepultadaNas penumbras do caminho. *Se queres felicidadeEm paz e sabedoria,Evita as indecisões,Trabalha, seguindo o dia!

O DIAMANTE

Casimiro Cunha No serro desamparadoQue chama ao suor e à luta,O diamante luminoso

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Descansa na pedra bruta. Por conquistá-lo é precisoVencer enorme aspereza,Eliminando os percalçosQue surgem da Natureza. Sobretudo, é imprescindívelEstudar todo o cascalho,Sem desprezar-lhe a durezaNo espírito do trabalho. Longo esforço, longa espera,Serviço e compreensão,Tudo isso é indispensávelAo bem da lapidação. Ao preço de luta ingente,A pedra sonha e rebrilha.É a divina descobertaDa gota de maravilha. Pouca gente lembraráQue a jóia de perfeiçãoConstitui a experiênciaDos átomos de carvão. A princípio, não passavaDe míseros fragmentosDe carbono desprezívelNa força dos elementos. Nas grandes transformações,Viveu obscura e ao léu,Mas, agora, é flor de luz,Refletindo a luz do céu. Quem não vê na jóia rara,Sublimada e soberana,A história maravilhosaDos caminhos da alma humana? * Nos serros da HumanidadeQue a ignorância domina,Cada ser guarda o diamanteDa Consciência Divina.

O ESTERCO

Casimiro Cunha O esterco que espalha o bem,Vive em luta meritória;Se é pobre, tem seu proveito,

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Seu caminho, sua história. Quase sempre, chega aos motnesDos redis e dos currais,Escuros remanescentesDa esfera dos animais. De outras vezes, vem das zonasDe imundície e esquecimento,Onde a vida se transformaEm triste apodrecimento. Em outras ocasiões,É detrito das estradas,Lixo estranho e nauseabundoDas taperas desprezadas. É a decadência das coisas,No resumo do imprestável,Fase rude e dolorosaDa matéria transformável. Em síntese, todo estercoÉ derrocada ou monturo,Que das sombras do passadoLança forças ao futuro. Analisando esse quadro,Veremos que a podridãoVai ser cor, perfume, fruto,Doçura e renovação. Notemos, porém, que a florVibra ao alto, linda e santa,Enquanto o adubo não passaDo solo, dos pés da planta. Na vida também é assim:O erro, a miséria, o malPodem ser algumas vezes,Esterco espiritual. * Todavia, é necessárioQue das lutas, através,Aproveitemos o adubo,Esmagando-o sob os pés.

O FAROLEIRO

Casimiro CunhaEnquanto o leque da noiteAgrava a sombra e o perigo,A distância, eis que se acendeO farol bondoso e amigo.

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A luz define os caminhos,Mostra o vulto dos rochedos,Pode o barco prosseguir,A treva não tem segredos. Tudo é noite sobre o abismo,Mas na torre existe alguém,Atento em manter a luz,Disposto a fazer o bem. É o faroleiro. Em silêncioClareia a amplidão do mar,Determina o rumo certoE atende sem perguntar. Navios maravilhosos,Em prodígios de conforto,Recebem-lhe o benefícioE seguem, de porto a porto. Passam barcos de descanso,Jangadas laboriosas. . .O farol ajuda sempreSem perguntas ociosas. Todos devem ao farol,Do comando ao marinheiro,Mas quase ninguém conheceAs dores do faroleiro. Por servir e auxiliar,Aceita uma condição:A vida de insulamentoMuita vez em privação. Se ouvirmos as grandes vozesDa verdade soberana,Na terra acontece o mesmoNos mares da luta humana. Quem possa trazer mais luzVive em campo solitário,Tal qual o Mestre AmorosoDa torre em cruz do Calvário.

O FIO

Casemiro Cunha Nos movimentos da agulha,Nas tarefas do tear,O fio é muito importante

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Na base de todo lar. Pouca gente lhe observaOs valores, vida em fora;Na verdade, é companheiroNas lutas de cada hora. Humilde, tênue, singelo,Às vezes quase impalpável,Para o pobre, para o rico,É matéria indispensável. Existe em padrões diversos,No algodão, em seda, em lã,E entre as dádivas do mundoE’ sublime talismã. E’ bênção do amor de Deus,Que acompanha a criaturaNos campos do mundo inteiro,Desde o berço à sepultura. Entretanto, é alguma coisaMuito frágil, muito leve,Cuja trama delicadaNosso lápis não descreve. Por ele, milhões de seres,No espírito do trabalho,Encontram caminho e vida,Luz e paz, força e agasalho. Olha o fio pobre e simples!Que lição útil e bela!...E’ tesouro do caminho,Mas parece bagatela. Observando-o, recordoAs glórias e fins supremos,Do tempo que é luz divina,Neste instante que vivemos. *O segundo é gota humilde,O século é vasto rio ...Vive em Deus cada momentoQue o minuto é nosso fio.

O GRANDE RIO

Casemiro de Abreu

Em marcha laboriosa,No sulco amplo e sombrio,Profundo e silenciosoEis que passa o grande rio.

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Ao seu seio dadivoso,Afluem fontes da serra,Ribeiros de níveis altos,Detritos de toda terra. O rio mais elevadoDesce os montes à procuraDe sua paz generosaNa marcha calma e segura. Por saber harmonizar-se Nos bens do mais baixo nível,Conserva toda a imponênciaDa grandeza indefinível. Faz caminhos gigantescos, Cria povos eminentes,`É ele quem leva ao marAs águas dos continentes. É pai das economiasDe todo o humano labor,Mas quase ninguém se lembraDessa dívida de amor. Que importa, porém? O mundoÉ o homem que esquece e cai,Sem ver a missão do bem,Nas bênçãos do próprio Pai. O grande rio conheceA luz desse imenso arcanoSobre o nível mais humildeBusca a força do oceano. Assim também a alma grande,Nas últimas posições,Recebe as ânsias de pazDe todos os corações. * Em dores silenciosas,É o grande rio que vai,Dando o bem a todo o mundo,Em busca do amor do Pai.

O INCÊNDIO

Casimiro CunhaElevam-se labaredas. . .O fogo ameaçadorFoi centelha, mas agoraÉ incêndio devorador.

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Ninguém lhe conhece a origemObscura, nebulosa,Ninguém sabe onde se ocultaA mão rude e criminosa. A fogueira continuaBuscando mais alto nível,Aumentando de extensãoQuando ganha em combustível. Estalam antigos móveis,Prosseguem a destruição;Em torno anseio infinito,Amarga desolação. Língua rubra, formidanda ,Varre agora a cumieira.Toda a casa se esboroa. . .Sob a ação dessa fogueira. Desdobra-se o nobre esforçoDe amparar e socorrer,A bondade põe-se em campo,Ciosa do seu dever. Entretanto, embora o auxílioDos trabalhos de emergência,A nota predominanteÉ o carvão da experiência. Assim é o mal neste mundo:A princípio, sem que doa,Envolve a perversidadeEm forma de coisa a toa. Depois, é o braseiro extenso,O furor incendiário,Que atinge distância enormeCom a lenha do comentário. Vigia-te a cada instante,Atende, pensa, examina!Todo incêndio começouNa fagulha pequenina.

O LIXO

Casemiro Cunha Cada dia, a residênciaQue a higiene ensine e ajude,Lança fora todo o lixo

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Na defesa da saúde. Grandes cestos, grandes latas,Guardando detrito escuro,Enchem grandes carroçadasQue seguem para o monturo. Contemplando o movimento,Lembremos que a sujidade,Muita vez foi qualquer coisaEm plano de utilidade. Roupa usada, vestes rotas,Velhas peças carunchosas,Em outros tempos já foramQueridas e preciosas. Ornatos apodrecidos,Tristes relâmpagos sem lume,Conheceram muitas vezesFesta e luz, vida e perfume. Resumem, contudo, agora,O lixo que não convém,Escuro e pernicioso,Contrário à saúde e ao bem. Para ele, em todo o mundo,A casa nobre e educadaReserva, cada manhã,A bênção da vassourada. Se não tem função de esterco,Junto à terra menos rica,Vai ao fogo generoso,Que renova e purifica. Na esfera de ensinamentoDa verdade sempre igual,O lixo personificaA estranha expressão do mal. *Escuta! Se o bem de ontemHoje é mal e sofrimento,Não deixes de procurarOs cestos do esquecimento.

O LUAR

Casimiro Cunha Nas bênçãos de paz da noite,Talvez a maior belezaSeja o luar que se espalhaNa vida da Natureza

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O campo dorme em silêncio,E o luar na estrada em florDistribui com toda a plantaO orvalho confortador. Do céu alto manda brisasAlegres e perfumadasBeijar as folhas mais pobres,Tristonhas e abandonadas. Por todo o lugar desdobraSua luz aberta em palmas,Afagando as esperançasDo divino amor das almas. Em toda parte onde existaO anseio de um coração,Ensina o carinho amigoDo alfabeto da afeição. Desde os tempos mais remotos,O luar, pelas estradas,Foi tido como padrinhoDas almas enamoradas. Ao nosso ver, todavia,Nas grandes lições do mundo,Sua imagem representaSimbolismo mais profundo. Sua luz mantém na noiteA mais nobre das disputas,Não cedendo à treva espessaAs posses absolutas. Entre os homens deste mundo,O mal, o crime e o ateísmoTudo ensombram provocandoA noite de um grande abismo. Mas a esperança resisteE acende na noite imensa.A luz clara e generosaDo eterno luar da crença.

O MALHADOURO

Casimiro CunhaNa época dadivosaDa colheita cor-de-ouro,É tempo de conduzir Cereais ao malhadouro

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Espigas maravilhosasVêm às mãos do tarefeiro,Aglomerando-se em buscaDa secagem no terreiro Antigamente eram floresMostrando verdura e viço;Agora, a compensaçãoQue se reserva ao serviço. Mas por ser o resultado,A garantia, o futuro,O grão rico e generosoPrecisa ser nobre e puro. O lavrador cuidadosoOrganiza providências,É necessário excluirAs últimas excrescências. Inicia-se a limpeza,Servidores a malhar,No espaço o longo assobioDe varas cortando o ar. São precisos golpes rudes,Bordoadas no bom grão,Por conferir-lhe a grandezaDe servir, além chão. Depois disso, alcança a glóriaDe amparar o lavrador,A alegria de proverEm nome do criador. Se ao longo de tua vidaSentes choques mangual,É que estás em madurezaNo campo espiritual. Não fujas ao malhadouro,Guarda paz e vigilância:Que a luta nos roube agoraOs restos da ignorância.

O MAPA

Casemiro Cunha Nos serviços necessáriosA qualquer expedição,O mapa é bondoso guia,

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Servindo à orientação. E’ sempre o mentor fiel,Evitando o erro, a fossa,E’ a força da experiênciaQue passou antes da nossa. Por obter-lhe o concurso,Houve lágrimas, suor,Sofrimentos, sacrifícios,Misérias, ruínas, dor. Por traça-lo, muitas almasGemeram desconhecidas...Certos mapas representamMuitas mortes, muitas vidas. O espírito estacionário,Paralítico, inferior,Embora lhe guarde o ensino,Desconhece-lhe o valor. Mas aquele que aproveitaO ensejo de cada dia,Consulta e atende ao roteiroEm paz e sabedoria. Sabendo-se viajorNos caminhos da existência,A carta de indicaçõesDirige-lhe a experiência. Estudando-a, com razão,Vê-se intrépido e seguro,Quem vigia no presenteTem reservas no futuro. No Mapa dos Corações,Jamais esqueçamos disto:O roteiro do EvangelhoCustou muito esforço ao Cristo. *Sigamo-lo com carinhoEm nossa oportunidade.Estamos a percorrerAs sendas da eternidade.

O MAR

Casimiro Cunha Na expressão profunda e vivaDas forças da NaturezaEis que o mar a tudo excedeEm formosura e grandeza.

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Nos seus abismos trabalhamMilhões de laboratórios,De onde nascem para a vidaAs larvas e os infusórios. As almas se modificam,Renova-se o esforço humano,Mas é sempre inalteradaA oficina do oceano. Desde os primórdios do tempoDe sua edificação,A sua finalidadeÉ a força da criação. Foi nas águas generosasDe seu seio almo e fecundo,Que alcançaram nascimentoAs formas de todo o mundo. Depois de sagrar a vida,Eis que opera em todo o dia,Fazendo as nuvens da chuva,Que alenta, renova e cria. Deus concedeu-lhe a grandezaDe ser profundo e inviolável,Protegendo-lhe a missãoDo equilíbrio inalterável. Com a sua dominaçãoEsplêndida e solitária,É fator de ordem perfeitaDe toda a lei planetária. É o testemunho fiel,De Deus em nossa existência,Dando o ensino da equidadeQue nasce da providência. * Mas se pode demonstrarTão grande revelação,É que o lugar onde os homensNão podem meter a mão.

O MÁRMORE

Casimiro Cunha No gabinete isoladoDos serviços de escultura,Há muita coisa que verCom a vida da criatura.

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O mármore chega em blocoDos centros da Natureza,Em trânsito para o campoDo espírito e da beleza. É pedra, vai ser tesouro;É rude, vai ser divino;Todavia, não se sabeQuando chega ao seu destino. Golpe aqui, golpe acolá,O artista começa a luta,É o sonho maravilhosoAmando a matéria bruta. As arestas vão caindo...É a carícia do martelo,Desponta o primeiro traçoVigoroso, firme e belo. O cinzel fere e desbasta,E, às vezes, pede o formão.O artista prossegue atentoDando vida à criação. Golpes fundos, ferimentos...Mas, eis quando se aproximaO termo do esforço longoNa aquisição da obra prima. Depois, é a jóia formosa,De valor alto e profundo,Que as fortunas de milhõesNão podem fazer no mundo. Esse mármore da Terra,No fundo, é qualquer pessoa,O artista, é o tempo, e o cinzel,A luta que aperfeiçoa. * Quando os golpes de amarguraTe cortarem o coração,Recorda o cinzel divinoQue dá forma e perfeição.

O MILHARAL

Casemiro Cunha O milharal nos parece,Do caminho que o sol doura,Uma esperança de DeusSobre as bênçãos da lavoura.

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Além disso, representaUma elevada oficina,Da nobre lei do trabalhoQue o Pai de Amor nos ensina. Deus dá tudo: a terra, o ar,As chuvas e os instrumentos,Indicando o tempo próprioCom a força dos elementos. Manda o homem, que é seu filho,Cuidar da terra que é suaE esse filho convocadoGuia o traço da charrua. Germina a semente amiga,Mas até que dê seus frutos,Exige muitos cuidados,Constantes e absolutos. Em seguida, o céu concedeA espiga amada e perfeita,Pedindo as dedicaçõesNas tarefas da colheita. Vem logo a descascadura,Depois o debulhador,E o moinho em movimentoNas lides do lavrador. Somente agora o celeiroGuarda as forças do bom grão,A esperança carinhosaDa véspera de seu pão. E’ um ensino generosoQue a leira de milho encerra,Um quadro de exemplo amigo,Das lutas de toda a Terra. *Deus palpita em toda a parte,Nada faz ou cria a esmo,Mas pede em tudo a seu filhoA elevação de si mesmo.

O OÁSIS

Casimiro Cunha Em torno, o despovoado,Os lençóis de areia ardente...O viajor vive o seu drama

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Doloroso e comovente. Nenhuma vegetação,Nem a benção de uma fonte,O quadro é desolador,Embora a luz do horizonte. Cansado de sede e fome,Sofre e sua, sonha e chora,Desde a aurora rutilanteÀs promessas de outra outrora. Pede em vão, suplica a esmo,No auge das aflições,Guardando nalma ansiedades,Angústias, recordações. O vento levanta a areia, Desfigurando as paisagens,E o pobre sorri chorandoNa carícia das miragens. Concentra-se, avança mais,Quase morto de alegria;Contudo, desfaz-se a telaDos planos da fantasia. Arrasta-se amargamente,Ralado de desventura,Mas, na última esperança,Surge um canto de verdura. É o oásis que o Senhor,Atento à nossa viagem,Mandou para os caminheirosQue persistam na coragem. Nos trabalhos deste mundo,Em rumo obscuro, incerto,Muita vez encontrarásInclemências do deserto. * Deus vela. Prossegue a luta,Sem lamento, sem gemido...Atingirá, talvez hoje,O oásis desconhecido.

O ORVALHO

Casimiro CunhaSe a chuva pode tardar,Há sempre a bênção do orvalho,Sustentando a Natureza

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No campo do seu trabalho. Ao termo de cada noite,Nas auroras coloridas,Podemos felicitá-loNas ervas agradecidas. A planta nunca descrê;Espera, trabalha e dá.Na luta jamais se esqueceQue o Pai não a esquecerá. Se o ano é de chuva escassaPara o bem das produções,Muitas vezes basta o orvalhoNa força das estações. Ao seu beijo a terra espera,A folha volta ao verdor,A flor ostenta-se em festa,O dia é renovador. Nas forças da Natureza,O orvalho é como o sorrisoQue desce diariamenteDas bênçãos do paraíso. Seu hálito carinhosoAmeniza a atmosfera;No verão mais sufocanteÉ filho da primavera. É sempre um fraterno amigo,Um símbolo de defesa,Do bem entre as forças váriasQue oprimem a Natureza. A nós outros, ele ensina,No efeito de sua ação,Quanto pode conseguirA boa disposição. Sorrisos, calma, bondade,Prudência, paz, bom humor,São em tudo o brando orvalhoDa altura do nosso amor

O PÂNTANO

Casemiro de Abreu

É um quadro sempre inquietanteQue inspira pena e cuidado

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Quando vemos no caminhoO pântano abandonado. Enquanto, em redor de si,Há cantos que a vida entoa,Ele espera ansiosamenteO esforço que aperfeiçoa. Todo o ar é pestilentoEm sua fisionomia,Nos seus bancos lamacentos,Ninguém descansa ou confia. Muitos poucos se aproximamDo barro de sua imagem;É ferida cancerosaNo organismo da paisagem. Mas, um dia, o lavradorDá-lhe atenção, dá-lhe drenos,E o pântano desoladoÉ o melhor dos seus terrenos. Onde havia lodo e lama,Águas sujas e amargosas,Os legumes são mais ricos,As flores mais perfumosas. Essas terras desprezadas,Tão pobres e desiguais,Ensinam, em toda parte,Que Deus é o melhor dos pais. Entre as quedas dolorosas,Nos erros e nos desvios,Nós somos, na Criação,Pontos tristes e sombrios. Nossa idéia de virtude,A mais bela em sentimento,É a que nasce nos monturosDa lama do sofrimento. * Deus, porém, que é o Pai Amigo,Jamais nos deixou a sós,Jesus é o bom lavrador,E o pântano somos nós.

O PÃO

Casimiro Cunha Em casa, chega o momento

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Destinado à refeição. . .Raro aquele que recordaA história de luz do pão Quase sempre, vem de longe,Das zonas do campo em florOferecer-se à criaturaEm nome do Pai de Amor. Foi semente sepultadaNa terra ferida e escura,Ressuscitando em seguidaNas belezas da verdura. Suportou lutas amargas,Noites ásperas, sombrias,Recebendo chuva e sol,Tempestades, ventanias. Adornou-se em primavera,Risonha, sublime, eleita,E entregou-se alegrementeAo segador na colheita. Padeceu processos vários,Viveu peregrinações,Desde a ceifa rude e longa,Ao prato das refeições. Conforme reconhecemos,Esse pão, quase sem nome,É dádiva do Criador,Que vem mitigar a fome. Mensageiro humilde e santoDe carinho e de bondade,É o laço entre a ProvidênciaE a nossa necessidade O amor e a abnegaçãoResumem-lhe a bela história;O espírito de serviçoÉ a vida de sua glória. Coração que sofre amandoNa fé sublime e sem jaça,Vai ser pão na Mesa AugustaDos Bens da Divina Graça.

O POÇO

Casemiro de Abreu

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Quem segue ao sol calcinante,Com sede desesperada,Rende graças ao Senhor,Achando um poço na estrada. O quadro agreste, por vezes,Não tem abrigo nem fonte,Raras árvores se alinham,Perdendo-se no horizonte. Em meio à desolação,Entre o calor e a secura,A cisterna dadivosa,Guarda a bênção da água pura. Há poços de toda idade,Bem calçados, mal assentes,Mais rasos e mais profundos,Em dimensões diferentes. No seu intimo, entretanto,Trazem todos a água amiga,Que socorre aos que sucumbemDe desânimo e fadiga. Quem tem sede se aproximaCom cuidado e gratidão,E dispensa ao poço humilde,Sempre a máxima atenção. Lançando o copo ansioso,Sem notar os sacrifícios,Evita a poeira ou o lodo,Que anulem os benefícios. E sorve esse orvalho santoQue vem da terra imperfeita,Com o júbilo generosoDe uma oração satisfeita. * No mundo, o mesmo acontece:Nas agruras do caminho,Cada qual pode apelar Às posses do seu vizinho. Mas, se agita a lama em torno,Como quem fere e escabuja,O poço apesar de bom,Só pode dar-lhe água suja.

O POSTE

Casemiro de Abreu

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No quadro que te rodeia,Em pleno bem destacado,Hás de ver no poste humildeUm servidor devotado. Encontra-se em toda parte,Com a decisão de quem zela,Na cidade mais formosa,Na lavoura mais singela. Conhece o rumo acertadoDas fábricas, das usinas,Coopera nos resultadosDo esforço das oficinas. Ao calor do sol a pino,Como à frescura do orvalho,Sempre firme no seu posto,Exemplifica o trabalho. Atende aos bens do serviço,Noite toda, dia inteiro,Ampara a luz da avenida,Como escura um chuchuzeiro. Se há lugarejo às escuras,Em justa necessidade,O poste vence as distancias,Em busca da claridade. Operários sem recursos,Para o pão de cada dia?Vai direto às quedas dágua,À procura da energia. Auxilia nos transportes,Coopera nas ligações,Segura avisos na estrada,Fornecendo informações. Não cobra, por seus trabalhos,Nem ordenados, nem multa,Na sua doce humildadeÉ um benfeitor que se oculta. * O poste compele o homem,Sem vaidade, sem cobiça,A fugir, em qualquer parteDos venenos da preguiça.

O PRATO

Casimiro Cunha

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Dentre as coisas mais singelasDo lar carinhoso e grato,É justo reconhecerA doce lição do prato. Esperando calmamenteComensais, em torno à mesa,Exemplifica, bondoso,A ternura e a gentileza. Primoroso companheiroDe humilde e de atenção,Por servir a quem tem fomeAguarda o partir do pão. Satisfaz a toda gente,Sem sombras de vaidade,Não olha conveniência,Atende à necessidade. Por vezes, o comensal,A quem o vinho estimula,Entrega-se à embriaguez,À licença, ao crime, à gula. Mas o prato está sereno,Por fazer e obedecer,Permanece em seu lugar,Submisso ao seu dever. Em geral, servem-se dele,Sem qualquer preocupação;Pouca gente lhe dedicaO amparo da gratidão. E se o prato, certo dia,Conhece o aniquilamento,Não é por ele, é por nós,No campo do esquecimento. Neste símbolo singeloDe obediência e bondade,Sentimos a lei que regeO espírito da amizade. Conserva teu amigo,Guarda a luz que recebeste.Não desrespeites na vidaO prato onde comeste.

O REGADOR

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Casimiro Cunha No trabalho generosoQue se impõe ao lavrador,Destaca-se a parte ativaQue compete ao regador. Modesto, pronto ao serviço,Que se deve à horticultura,Atende bondosamenteA toda semeadura. Se tarda a chuva amorosaPara a leiva ressequida,Vem ele silenciosoE espalha as águas da vida. É o sublime protetorDos germes por excelência,E no esforço que desdobraNão conhece preferência. Não separa ao benefícioOs lírios da couve-flor,Disposto à fraternidade,Obedece ao Pai de Amor. Também não pede à batataQue amadureça num dia,E exemplifica a esperançaEm paz e sabedoria. Amigo da sementeira,Espalha a bondade imensa,Servindo sem afliçõesE dando sem recompensa. Esforça-se o ano inteiro,Muitas vezes sem intervalo,Por cuidar de flores ricas,Que nunca virão cuidá-lo. * No campo de ajuda aos outros,Atenta no regador,Onde o Cristo te conduzaPrestando assistência e amor. Não procures resultados,Não vivas de inquietação,Faze o bem, atenta a vida,E espera da evolução.

O REMÉDIO

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Casimiro CunhaO doente neste mundo,Que deseje melhorar,Jamais encontra remédioSaboroso ao paladar. Por ministrar reconforto,Fazendo caminho à cura,O melhor medicamentoTem ressaibos de amargura. Todo enfermo esclarecido,De senso nobre e louvável,Já sabe que seu remédioTem gosto desagradável. Se a memória é renitente,Mais áspera e mais revel,A justa medicaçãoAmarga, sabendo a fel. Por vezes, a beberagemNão basta à restauração,É preciso o bisturiNa zona de intervenção. Contra o campo infeccioso,Providência compulsória,Angústias do pensamentoSobre a mesa operatória. Há remédios variados:Purgante, choque, sangria,Compressas e pedilúvios,Recursos de cirurgia. Sempre o fel do sofrimentoAmigo, reparador,Tortura que retificaA dor que remove a dor. Se é grande o sacrifícioNo campo da cura externa,Pondera sobre o equilíbrioNecessário à vida eterna. Nos dias de grandes dores,Vive a fé, guarda-te em calma.Grandes males no teu corpoSão remédios na tua alma.

O RIBEIRO

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Casemiro de Abreu

Entre os bens da Natureza,Tem o homem, cada dia,No ribeiro claro e mansoLições de sabedoria. Ei-lo que passa sereno,Em doce fidelidade,Dá vida aos paióis do campo,Conforta e limpa a cidade. Busca as terras desprezadasQue nunca tiveram dono,Atende as raízes tristes,Deixadas ao abandono. Converte toda tarefaNum dom gratuito e suave,Mata a sede da serpente,Como o faz à flor e à ave. Cumprindo o labor de sempre,Nunca cessa de correr,Ensina a perseverança,Exemplifica o dever. Se a chuva lhe traz a enchente,Vai além da obrigação,Busca a terra deserdadaE lhe ensina a dar mais pão. É tão sereno e bondoso,Tão amigo e tão perfeito,Que não se nega a ajudarA mão que lhe muda o leito. O ribeiro carinhosoNão cessa de trabalhar,Parece o semeadorQue saiu a semear. E vendo que Deus é o donoDas sementes multifárias,Nunca volta no caminhoAs contas desnecessárias. * Ao homem do mundo inquieto,O ribeiro calmo ensinaComo agir e confiarNa Providência Divina.

O SILÊNCIO

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Casimiro CunhaQuem procura no silêncioA inspiração e a beleza,Penetra o templo invisívelDas forças da Natureza. Jamais sentiste o cansaçoNo excesso de burburinho?O silêncio é o companheiroQue conhece o bom caminho. Em seu campo generoso,Há tréguas ao pensamento,Recebe-se luz sublimeDe verdade e entendimento. O homem que se mergulhaNas vozes do turbilhão,Condena-se, muita vez,Aos cárceres da aflição. É preciso, quase sempre,Procurar na soledadeA solução dos problemasÀ luz da serenidade. Se possível, vai ao planoDas árvores carinhosas,Onde as coisas falam sempreEm notas harmoniosas. Mas se não podes fugirÀs zonas de inquietação,Procura o silêncio amigoNa paz da meditação. Todos temos em nós mesmosOs vales da experiênciaE as montanhas solitáriasNos cimos da consciência. Não te dês todo aos rumoresDas lutas de cada hora;Que a palavra seja em tudoTua serva e não senhora. Quando achares no silêncioOs segredos da energia,Terás penetrado a esferaDe paz e sabedoria.

O SOL

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Casemiro Cunha Se queres tranqüilidade,Bem estar, humor de escol,Não deixes de ponderarNo esforço da luz do sol. Contra os males do caminho,Contra a doença e a tristeza,Convém a observaçãoDas forças da Natureza. Esse sol bondoso e franco,Que brilha através do abismo,E bem a fonte amorosaDo trabalho e do otimismo. Não vacila em seus deveres,Tudo chama ao seu calor,Derrama por toda a parteOs raios de vivo amor. Há ruínas entre os homens,Guerra e sombra entre os ateus?Acima de tudo, entendeO bem do serviço a Deus. Milênios sobre milênios ...E amando os lares e os ninhos,Vem o sol diariamenteDar vida nova aos caminhos. Jamais se desesperouAnte os pântanos do caos,Abraçando o mundo inteiro,Ilumina bons e maus. Aquecendo a casa nobreDa metrópole mais bela,Não esquece a folha tenraQue surge pobre e singela. Brilha em tudo para todos,Sem privilégio a ninguém,Encontrando o homem do malSó sabe fazer-lhe o bem. *Esse sol amigo e farto,Que revigora e ilumina,Retrata em toda a expressãoA Providência Divina.

O TIJOLO

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Dos serviços da olaria,Onde há lama em desconsolo,É justo aqui salientarAs sugestões do tijolo. Barro pobre e ignorado,Extraído em baixo nível,A princípio não pareceMais que lama desprezível. Batido, dilacerado,Ao peso do amassador,É pasta lodosa e humildeDo subsolo inferior. Após o rigor imensoDe luta grande e escabrosa,Levado ao forno candente,Sofre a queima dolorosa. Apagado o fogo rude,O tijolo pequenino,Embora a modéstia enorme,É retângulo divino. Saiu da lama humilhada,Foi pisado de aspereza,Foi queimado, mas agoraÉ base de fortaleza. Apesar da pequenez,É a nota amiga e segura,Que constrói bondosamenteA casa da criatura. É a bênção, filha do pó,Que as fornalhas não consomem,É terra purificada,Servindo de abrigo ao homem. Procura, amigo, entenderEste símbolo profundo:Não te esqueças do trabalhoNa olaria deste mundo. * Tão logo purificaresO barro inferior do mal,A experiência é o tijoloEm tua casa imortal.

O TRONCO E A FONTE

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Um tronco frondoso e verdeErguia-se além da fonte.Perto, o solo pobre e seco,Longe, as luzes do horizonte. Certo dia, disse a fonte:- Dá-me a sombra de teu galho,O duro chão me consome,Dá-me teu brando agasalho!... Respondeu-lhe o tronco antigo:- Vem a mim! Serei feliz!...Serás a seiva da seivaQue me alimenta a raiz. Desde então, o tronco e a fonteUniram-se a plena luzDa grandeza que dimanaDa bondade de Jesus. O tronco reconheceu,Vibrando de terno amor,Que a fonte era a mãe bondosaDe sua seiva interior. E a fonte viu nele o paiDe sua imensa alegria,Repousando em sua pazNas lutas de cada dia. Desde então, cantaram hinosDe hosanas ao criador,Entre frutos dadivososNa estrada cheirando à flor. À raiz, a água da vidaLevava consolação;E o tronco elevou-se ao CéuCom a fonte no coração. Houve sol e sombra amiga,Flor e frutos na ramagem;Cantigas de passarinho,Harmonizando a paisagem. * Duas almas que se irmanamNa luz dos afetos seus,São esse tronco e essa fonteGuardados no amor de Deus.

O VAU

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Por benfeitor venerável,No seio da natureza,Rola o rio caudalosoEscondendo a profundeza. Enquanto busca reserva,Guardando seu próprio leito,Ninguém se arrisca à passagemSem cuidado e sem respeito. O rio jamais se negaA ceder na travessia,Mas todos se acercam deleCom a máxima cortesia. Socorrem-se os viajantesDo auxílio de embarcação,E espera-se a ponte amigaComo justa construção. Mas, se um dia, por descuido,O rio apresenta o vau,Ai dele! O destino agoraÉ triste, amargoso e mau. Ninguém lhe receia as águasNoutro tempo respeitadas;Invadem-nas cavaleiros,Carros, toras e boiadas. As correntes que eram puras, E amadas por justa fama,Rolam sujas e insultadasDe lodo, de lixo e de lama. A ponte dorme em projetoE o rio, embora a beleza,Depois que exibiu o vau,Nunca mais teve defesa. As nossas almas tambémSão como o rio profundo...A zona de intimidadePrecisa ocultar-se ao mundo. * O mal quer turvar-nos sempre.Vigia, resiste e vence-o.Se queres respeito e paz,Não te esqueças do silêncio.

O VENTO

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Quando passes no meu caminhoDando luz ao pensamento,Não deixes de meditarNa doce missão do vento. Quem lhe imprimiu tanta força?Donde vem? De que maneira?Parece o sopro do céuAlentando a sementeira. Une as frondes amorosas,Acaricia a ramagem,É um fluido cariciosoAmenizando a paisagem. É o mensageiro bondosoDa alegria e da abundância,Trocando os germes da vida,Vencendo a noite e a distância. De outras vezes é um amigoCom fraternas exigências,Que pratica nos caminhosProfundas experiências. Se a flor é infiel à seivaQue lhe deu força e guarida,O vento condu-la ao chão,Só deixando a flor da vida. Seu papel na naturezaVai da vida à seleção,Permutando os germes purosDas sementes de eleição. Também, na vida da Terra,A função do sofrimentoParece identificar-seCom os fins da missão do vento. Troca ele as nossas almas,Mata as flores da ilusão,Refunde os nossos valoresEm nova fecundação. * O turbilhão de amargoresÉ mais vida envolta em véusPovoando a nossa estradaCom os germens da luz dos céus.

O VÔO

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Aos que aprendem no silêncio,Sem sombras e sem entraves,Há sempre grandes liçõesNo vôo comum das aves. Todas elas têm nas asasUm dom formoso e excelente,Mas cada grupo utiliza-oDe maneira diferente. Recordemos que a avestruz,Exemplo que mais destoa,É a maior das grandes aves,Muito bela, mas não voa. As galinhas igualmente,Queridas e admiradas,Se voam alguns segundos,Caem trêmulas, cansadas. Os patos, perus e gansos,De grande conformação,Toleram somente os vôosQue as arrastem junto ao chão. Os corvos pairam no alto,Mas o abutre da preguiçaAproveita a elevaçãoPara a busca de carniça. As andorinhas, porém,Librando no azul da esfera,Esquecem o inverno e a lama,Procurando a primavera.

OS ANIMAIS

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Na casa da Natureza,O Pai espalhou com arteAs bênçãos de luz da vida,Que brilham em toda a parte. Essas bênçãos generosas,Tão ricas, tão naturais,São notas de amor divinoNa esfera dos animais. Não te esqueças: no caminho,Praticando o bem que adores,Busca ver em todos elesOs nossos irmãos menores. A Providência dos CéusJamais esquece a ninguém;Deus que é Pai dos homens sábios,É Pai do animal também. A única diferença,Em nossa situação,É que o animal não chegouÀs vitórias da Razão. Entretanto, observamosEm toda a sua existênciaOs princípios sacrossantosDe amor e de inteligência. Vejamos a abelha amigaNo grande armazém do mel,A galinha afetuosa,O esforço do cão fiel. O boi tão útil a todos,É bondade e temperança;O muar de força hercúleaObedece a uma criança. Ampara-os, sempre que possas,Nas horas de tua lida.O animal de tua casaTem laços com tua vida. * A lei é conjunto eternoDe deveres fraternais:Os anjos cuidam dos homens,Os homens dos animais.

OS CAMINHOS

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O caminho mais humilde,Seja na vila ou na serra,E’ convite carinhosoQue o Pai traçou sobre a Terra. Qualquer estrada do mundoE’ sugestão de bondade,Por trazer às criaturasOs bens da fraternidade. E’ a chave silenciosaDas mais belas ligações,Que aproxima os interessesNo elo dos corações. A avenida na cidade,Em luz quente, clara e viva,E’ chamamento mais fortePara a união coletiva. Se o caminho é do trabalhoNo labor do ganha-pão,E’ trilho amado e benditoDe muita satisfação. Se é traço rude e singelo,Aberto no campo em flor,Abre acesso à Natureza –A eterna mestra do amor. Há caminhos para o templo,Para o lar, para a oficina,Todos eles são recursosDa Providência Divina. A excelsa sabedoriaJamais esqueceu ninguém,Dispondo todas as sendasPara a luz e para o bem. Somente o homem da Terra,Na ambição negra e fatal,Abusa dos dons do Céu,Caminhando para o mal. *Ditoso quem reconheçaEm toda estrada uma luz,Quem conduz à claridadeDo Caminho, que é Jesus.