cartas ao senhor diretor

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lias Sobre os desastres e as multas, «que como uma autêntica praga proliferam nas estradas portugue- sas", João Risuefio Cruz, de Torres Vedras, escreve:«No passado dia 5 de Janeiro fui autuado em Ourique por dois polícias que surgiram subita- mente no final de uma curva, os quais, para meu espanto, me comunicaram que tinha pisado o traço contínuo ao ultrapassar outro carro. Resultado: autuado na estrada significa ir a julga- mento com um auto em que já consta uma multa de 7.500$00 com inibição de conduzir. O julgamento foi marcado para o Tribunal de Ourique, no dia 28 de Abril, pelas 15 horas. Se não comparecesse seria logo marcada segunda data, sendo que nesta o julgamento se faria sempre, eseriaà revelia, se não comparecesse. Na segunda data, o Tribunal nomeia um advogado de defesa, só para aumentar as custas. Resumo: não levei testemunhas porque não as tinha, os polícias não compareceram no julgamento, porque ninguém os chamou, como é devido, e o dia ficou-me em 13.500$00, ou seja, 7.500$00 mais seis mil escudos de custas, e mais 15 dias de inibição de conduzir a cumprir num prazo de 60 dias. Entrega-se a carta de condução na Direcção de Viação mais próxima, sendo que algumas passam uma guia para se circular em alguns dias, possibili- tando aos mais necessitados continuarem a ganhar o seu pãozinho. Note-se que estavam para julga- Correio da Manhã mento do mesmo tipo 80 condutores, que se des- locaram dos mais remotos pontos do País, haven- do entre eles muitops condutores profissionais que não escaparam à ratoeira da estrada." Trata depois de outras questões também relaci- onadas com o trânsito nas estradas portuguesas: «1 - Por que razão as bermas foram alargadas e o espaço de trânsito é limitado por majestosos riscos brancos. Neste caso, o Governo não o teve o cuidado de, como fez na Ponte 25 de Abril, gerar q espaço resultante do alargamento das bermas? E que' há pesoas a morrer na estrada pelo simples motivo desta má gestão do espaço de circulação. 2- Paor que razão se faz um investimento tão grande em auto-estradas, desprezando-se um traba- lho aprofundado de alargamento ou construção de zonas de ultrqpasagem nas vias de comunicação secundárias? E que andar na estrada não tem só uma dimensão estética, tem essencialmente uma dimen- são humana e de real serviço ao cidadão médio com, evidentemenmte, o menor custo para o Estado. 3-- Convém também salientar que tenho a carta de condução há cinco anos e nunca me mandaram parar em qualquer operação stop, o que desde logo mostra uma falta de diálogo entre a autoridade e os condutores, e, quando existe, esse diálogo deve ser tão traumatizante que se avalia pelo constante sinal de luzes a anunciar a presença da autoridade". '·7/5/92

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cartas ao diretor publicadas nos jornais

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Page 1: Cartas ao Senhor Diretor

liasSobre os desastres e as multas, «que como uma

autêntica praga proliferam nas estradas portugue­sas", João Risuefio Cruz, de Torres Vedras,escreve:«No passado dia 5 de Janeiro fui autuadoem Ourique por dois polícias que surgiram subita­mente no final de uma curva, os quais, para meuespanto, me comunicaram que tinha pisado o traçocontínuo ao ultrapassar outro carro.

Resultado: autuado na estrada significa ir a julga­mento com um auto em que já consta uma multa de7.500$00 com inibição de conduzir. O julgamento foimarcado para o Tribunal de Ourique, no dia 28 de Abril,pelas 15 horas. Se não comparecesse seria logomarcada segunda data, sendo que nesta o julgamentose faria sempre, eseriaà revelia, se não comparecesse.Na segunda data, o Tribunal nomeia um advogado dedefesa, só para aumentar as custas.

Resumo: não levei testemunhas porque não astinha, os polícias não compareceram no julgamento,porque ninguém os chamou, como é devido, e o diaficou-me em 13.500$00, ou seja, 7.500$00 maisseis mil escudos de custas, e mais 15 dias deinibição de conduzir a cumprir num prazo de 60 dias.Entrega-se a carta de condução na Direcção deViação mais próxima, sendo que algumas passamuma guia para se circular em alguns dias, possibili­tando aos mais necessitados continuarem a ganharo seu pãozinho. Note-se que estavam para julga-

Correio da Manhã

mento do mesmo tipo 80 condutores, que se des­locaram dos mais remotos pontos do País, haven­do entre eles muitops condutores profissionais quenão escaparam à ratoeira da estrada."

Trata depois de outras questões também relaci­onadas com o trânsito nas estradas portuguesas:

«1 - Por que razão as bermas foram alargadase o espaço de trânsito é limitado por majestososriscos brancos. Neste caso, o Governo não o teveo cuidado de, como fez na Ponte 25 de Abril, gerarq espaço resultante do alargamento das bermas?E que' há pesoas a morrer na estrada pelo simplesmotivo desta má gestão do espaço de circulação.

2 - Paor que razão se faz um investimento tãogrande em auto-estradas, desprezando-se um traba­lho aprofundado de alargamento ou construção dezonas de ultrqpasagem nas vias de comunicaçãosecundárias? E que andar na estrada não tem só umadimensão estética, tem essencialmente uma dimen­são humana e de real serviço ao cidadão médio com,evidentemenmte, o menor custo para o Estado.

3-- Convém também salientar que tenho a cartade condução há cinco anos e nunca me mandaramparar em qualquer operação stop, o que desde logomostra uma falta de diálogo entre a autoridade e oscondutores, e, quando existe, esse diálogo deveser tão traumatizante que se avalia pelo constantesinal de luzes a anunciar a presença da autoridade".

'·7/5/92

Page 2: Cartas ao Senhor Diretor

--------------------------------------_ ......•.•..--_.----

Um/R questão de ética"o assunto que me leva a escrever a V. Exª. é

relativamente sério; permita-me pois que adopteuma forma de raciocínio de sofisma, para tambémevidenciar o sentido crítico e o espírito da razão.

Façamos então um raciocínio por dedução aoabsurdo, apenas, em termos de retórica. ImagineV. Exª. que era nomeado primeiro-ministro de umpaís. Imagine que o seu governo (imaginário) co­meçava a produzir legislação: leis, decretos-leis,despachos, etc. Imagine que parte dessa legisla­ção era classificada de ilegal pelas autoridadesfiscalizadoras.lmagine que V. Exª. (chefe desse gover­no imaginário) retirava a legislação considerada ilegalaté que ficasse legal. E assim sucessivamente.

Em termos éticos, será que V. Exª. se sentiriauma pessoa competente? Será que a legislação

estaria tão correctamente elaborada que não pre­via qualquer norma inibitória para comportamentosdesleais para com a legalidade vigente? Ou seráque estariamos numa forma de governo pós-mo­dernista, forma que futuramente seria assimiladapor todos os códigos legislativos?

Evidentemente que a negação da consequênciateria que levar à negação de alguma das premis­sas, se o raciocínio estivesse correcto. Então te­rTJos: premissas correctas (eleitas pelo povo) econclusões erradas (fiscalizadas pelas autorida­des competentes).

Será de facto um sofisma retórico?».

João Ricardo Risueíio Barroso da Cruz

(Torres Vedras)

Correio da Manhã 24/11/92

Page 3: Cartas ao Senhor Diretor

A matemática_/ :'~.'.-

das notaSdo secundárioSEGUNDO números recentemen­te publicados pela revista da So­ciedade Portuguesa de Matemáti­ca, existem alunos com acesso àUniversidade, para frequência decursos com a única vocação deensinar Matemática, com médiasespecíficas de cerca de 6 valores(numa cotação até 20). Natural­mente, estes alunos obtiveramaprovação nas disciplinas respec­tivas do ensino secundário.

Se estes alunos obtiverem di-Iplomas universitários serão mausprofessores futuramente? Se a res­posta for não, é sensato pedir aosprofessores de Matemática quepensem antes de reprovar os alu­nos nas disciplinas do ensino se­cundário.

Outro motivo dereflexão subja­cente é o quadro de professoresexistente no ensino da Matemáti­ca e os necessários círculos vicio­sos secularizados.

1. Primeiro círculo vicioso: a

'ANEIRO DE 1993

formação dos professores de Ma­temática.

a) centros urbanos com cursosuniversitários directamente voca­cionados para o ensino da Mate­mática; b) centros urbanos quepermanentemente vivem da vo­cação de alguns dos seus conter~râneos provindos de um dessescentros universitários: ou habili­tam pessoas,deslocadas das suasformações específicas, em regi­me de formação em exercício, fa­cultando-lhes a possibilidade desuprirem as dificuldades de or­dem económica pelas seguintesrazões: fracasso na anterior voca­ção, acumulação de empregos,descoberta de uma verdadeira'vocação.

Evidentemente que todas estassituações arrastaril problemas denível pedagógico, como sejam asdesistências e reprovações emmassa, por razão única de insu­cesso escolar dos alunos.

2. Segundo círculo vicioso: aimportância do dinheiro.

As pessoas utentes do ensinopúblico sabem que em certas re­giões, facilmente identificáveisnas listas de vagas para professo­res, os seus filhos só terão hipóte­se de aprovação nas disciplinas doensino secundário sedespenderemdinheiro em lições particulares.

Trata-se de um próblema gra­ve principalmente porque atrofiao desenvolvimento cultural e de­finha a formação de quadros qua­lificados de certas regiões.

Por mim, sei como se sai destacrise: basta que se espante algumapreguiça. E dou uma sugestão:identificação das regiões comdéfice de professores de Matemá­tica; abertura de centros de está­gio universitário nessas regiões.

No núnimo, melhoraria o sen­timento de justiça social ao níveldas classes com menos poder eco­nómico, para além de criar pólosde inovação ao nível da imagem

,"do professor de Matemática do

ensino secundário.João Rlcardo Cruz

Torres Vedras

Expresso 16/1/93

Page 4: Cartas ao Senhor Diretor

Contexto miserabilista«O assunto que me leva a escrever é de

natureza económica, tendo em conta aincomunicabilidade do nosso País de poetas,que obscurece o verdadeiro sentimentosobre a dimensão económica de Portugal.

Proponho a seguinte metodologia: trêsfactores essenciais recentes e aindaenunciados por ordem de cronologia;seguidamente, notas pessoais sobre cadaum desses factores.

1. Reforma fiscal1.1 evolução: nº. de contribuinte,

informática, retenção na fonte, inteligênciafiscal.

2. Massa monetária (um bilião de contos)de fundos estruturais

2.1 modemização da rede rodoviária2.2 distribuição monetária para os

agricultores (exemplos: arranque da vinha,empréstimos a fundo perdido)

2.3 distribuição monetária para formaçãoprofissional (destinatários: sindicatos,empresas, professores, desempregados,jovens à procura de 1º. emprego,alargamento da rede escolar).

3. Desnacionalização de empresas3.1 actualização da forma de gestão3.2 resolução do défice do Estado11. Da reforma fiscal resultaram vantagens

para os titulares de cargos do Estado.2. A modemização da rede rodoviária em

oposição à modemização da rede ferroviáriaindicia a opção contra a produção industrial.

A falta de projectos no âmbito dahabitação social, política estabelecida pelospaíses da CEE em décadas anteriores.

Desertificão do interior do País efenómeno demográfico de decréscimo dataxa de natalidade.

A produção industrial e as metropolesportuguesas (Usboa e Porto) não justificam acriação de uma central nuclear, comosucedeu em todos os países industrializados.

. Não se pensou numa futura colaboraçãocom os países africanos, em contradição

•..Correio da Manha

com a política externa portuguesa defomento da pacificação desses países.

Total aniquilamento da frota marítimaportuguesa.

Desrespeito pela defesa nacional e pelosinteresses estratégicos 'portugueses(nomeadamente com a modernização darede rodoviária).

Não foram implernentadas redes deinforrnática a nível de toda a administração(em particular nas escolas ou nasbibliotecas).

Ineficácia na rede do saneamento básico,com a total destruição dos rios portugueses.

Desordenamento total na exploração dezonas turísticas e atropelo de critérios dequalidade e de futuro.

Ignorância em relação à qualidade de vidadas populações, nomeadamente daqualidade da água distribuída na redepública, serviços de transporte público,estruturas de distribuição de conteúdoscu~urais.

3. Desrespeito pelo interese estratégicoportuguês quanto ao nível de independêncianacional.

Existe uma melhoria de todos os índicesmacroeconómicos: PNS, PIS, Taxa deDesemprego, Dívida Extema, Dívida Pública,Taxa de cobertura importações-exportaçães.

No entanto, os números PNS e PIS sãopequenos. Próprios de um país pequeno(melhoram em função da inteligência eracionalidade implementadas pelaadministração e pelo acompanhamento dosvalores acrescentados ou dosreajustamentos de negócios com o exterior).

Neste contexto miserabilista, podemos teresperança que os nossos irmãos emigranteshão-de continuar etemamente sem convitepor parte das autoridades, para queregressém à sua terra. Situação ao nível deum país em paz: Cabo V~rde».

João Ricardo Risueiío Barroco Cruz(Torres Vedras)

16/1/93

Page 5: Cartas ao Senhor Diretor

'Dedinhos de pé sem amor«Quero manifestar o meu sentimento de repúdio pelos valores

inseridos no filme, pretensamente português, designado por 'Amore Dedinhos de Pé', do realizador Luis Filipe Rocha; vivamente lou­vado por sua excelência o actual senhor Primeiro Ministro.

De minha parte, não é qualquer sentimento moralista ou atitudefecj1ada em relação a uma obra de arte.

E, tão somente, o facto de os valores culturais portugueses seapresentarem, neste filme, esquecidos (refiro-me à cena em que ocidadão português aprova e aconselha a baixa do preço da vendade uma virgem de 15 anos, pelo pai desta, para cura de doençavenérea do patrão. chinês deste cidadão português). Com a agra­vante de o cidadão português receber percentagem por este fami­gerado negócio. Se o reforço destes sentimentos, contrários, repi­to, aos valores culturais difundidos por Portugal, é valorizado,então respeitaríamos, também, as opções, em Macau e no nossoterritório, pela pena de morte ou pela manutenção da exploraçãodo trabalho infantil.

São valores culturais portugueses que qualquer português, emqualquer parte do mundo, faz respeitar ou, pelo menos, critica semambiguidades.

Mais queria esclarecer que o amor português não se retrata napiedade. O amor português não é um amor missionário. Queria,portanto, que, predominantemente, estes valores enunciados nãoficassem por esclarecer, ou seja, em águas de bacalhau".

João Ricardo Risueno Barroco da Cruz(Torres Vedras)

...

Correig da Manha 28/1/93

Page 6: Cartas ao Senhor Diretor

Atitudes chocantes•

João Ricardo RisuefioBarroco da Cruz, de TorresVedras:

«Venho, por este meio,enunciar uma situação lastimá­vel do ponto de vista de formajurídica e em termos de estrutu­ra do Estado.

Para tal, proponho umaestratégia de enunciação donivel ficcional e, para que nãorestem quaisquer dúvidas, aojeito de um filme de JohnCarpenter.

Comecemos então: imagine­se que, numa bela manhã deinverno, o sr. Presidente daRepública francesa mandavachamar uma camioneta'expresso' (evidentemente depassageiros) e dava uma volta,com o melhor do seu 'staff',pelos nós rodoviários limítrofesde Paris (...). Pensemos agoraque uma escolta policial, moto­rizada, acompanhava estacamioneta. A meio do caminho,o sr. Presidente mandava ele­mentos do seu 'staff' dizer àescolta policial que se retiras­se. Os polícias, espantadospelo contra-senso em relaçãoàs funções para que estavamdestacados aquela manhã, evi-

dentemente continuavam a res­peitar as suas ordens de servi­ço.

'(...) quero dizer aqueles polí­cias que se vão embora, quedesapareçam. Ouviram?Desapareçam; que nós aquinão queremos polícias', repetiuo presidente.

Os polícias (... ) contaramtudo ao capitão. O capitão con­tou tudo ao sr. general e, no diaseguinte, o sr. Presidente daRepública já sabia que o sr.general não tinha ficado nadacontente com o sucedido.

O sr. Presidente da Re­pública mandou então emitiruma nota oficiosa esclarecendoo povo e os pol ícias que aintenção da viagem da camio­neta não podia cumprir-se porforça da presença daquelaescolta policial. Mais esclare­ceu que era seu intuito, comaquela viagem de camioneta,demonstrar aos jornalistas queos automobilistas perdem muitotempo nos acessos à cidade deParis. '

E pronto. Ficou tudo esclare­cido.

Afinal nerp é ficção de JohnCarpenter. E uma nota de via­gem do escritor Gabriet GarciaMarquez".

fW

Correio da Manha 22/2/93

Page 7: Cartas ao Senhor Diretor

camente irreversível, de desem­prego.

Este tipo de atitude ao nívelcientífico é a grande moda, tam­bém, na Europa, e com conse­quências iguais nos grandes cen­tros urbanos: Ph.D.s desempre­gados.

A rebelião das massas aconte­ceu há muito. Agora é a moda dospequenos livros de poesia cientí­fica (normalmente monos edito­riais) também designados por«teses». Anda aí, claro, muitodinheiro dos orçamentos de to­dos os estados.

Jollo Rlsuefto da CruzTorres Vedras

provenientes, evidentemente, devárias fontes (com característi­cas mais ou menos demagógicas)- um eqlÜvalente, em Portugal,aos fundos comunitários para pr0­jectos no mesmo âmbito. Desli­gados da função de centros deaprendizagem, as universidadesamericanas são potenciais fontesde receita com a exploração donegócio dos cursos de pós-gra­duação ..

Consequências imediatas paraesta nova realidade ao nível cien­

tífico: pessoas com Ph.D. apósanos de preparação da tese (note­se que são pessoas na casa dos 30anos de idade) na situação, prati-

balho mais vocacionado para aorientação de teses.

Diz-se depois que, se !,S pro­fessores ensinassem mais e in­vestigassem menos, a invasão deestudantes (com bolsas de estu­dos governamentais), estrangei­ros (iranianos, indianos, africa­nos) seria muito atenuada, o quepermitiria a existência de empre­gos (pois estes estrangeiros aca­bam por ficar a trabalhar nosEUA) para os PH.D. americanosde origem.

Adianta-se depois que o siste­ma de pós-graduação dos EUAestá absolutamente corrompidopelos dólares norte-americanos

Pós-graduações:problema queafecta PortugalNA «NEWSWEEK» de 22/2/93

aparece um artigo de Jahala II IMoulin intitulado «My son thePh.D.lWhy can't a U. S. - bomengineer find a job?». É um tra­balho deveras interessante, umaQueixa sobre os caminhos erra­dos em que o ensino superior aonível da pós-graduação pareceestar a mover-se e na formaeconomicista que o ensino adop­tou.

Resume-se em poucas pala­vras: desde que a investigação émais lucrativa (milhões de dóla­res envolvidos) e dá mais prestí­gio do que ensinar, os professo­res universitários fabricam umpainel de estudantes graduadose, reduzindo assim as horas lecti­vas, passam a um regime de tra-

Expresso 27/2/93

Page 8: Cartas ao Senhor Diretor

Comboios surrealistas« Q::: desloc;l(de

Lisboa para Torres Vedras, emqualquer transporte, imediata­mente se apercepe da primeirae única dificuldade que definhaesta região, bonita, rica, sir;npá­tica e de futuro valoroso. E umcaso evidente de história decinderela: um concelho a 47km de '..isboa, um dos que temmais perspectivas de desenvol­vimento, simplesmente subva­lorizado, por motivo das surre­alísticas ligações ferroviária erodoviária. (Não quero aquireferir a displicente - digo, umaautêntica dor de alma - formade defesa da região vitivinícolade Torres Vedras, por partedas autoridades portuguesasjunto çlas entidades comunitári­as). E um assunto sobre ospergaminhos do saborosovinho torreense, barbaramentearredado das mesas reais

europeias por incompetência eincomunicabilidade dos negoci­adores portugueses.

A situação rodoviária norma­lizar-se-á dentro de dois ou trêsanos, com o completamento daauto-estrada, que, agora, uneLisboa à Malveira. Embora, eum tanto inexplicavelmente ­dados os apoios dos fundosestruturais europeus - comagravamento de custo para asgentes torreenses (a Auto­Estrada Lisboa-Loures é gratu­ita, enquanto os 16 km de liga­ção por auto-estrada Loures­Malveira custam 110$00, nãose sabendo quanto custará cir­cular nos restantes 22 km dafutura ligação Malveira-TorresVedras). A alternativa - queexiste, por exemplo, na linha doEstoril com a avenida marginal- é sem qualquer dúvida o aci­dente mais provável, quantomais se circular na actual estra­da.

Algumas pessoas minhasamigas morreram nesta estra-

da, por se deslocarem, ao fimde semana, para estudar naUniversidade. Mais tarde oumais cedo todos caem numaultrapassagem necessária - epronto, acabou-se outra pessoade valor para esta terra.

Mas perfeitamente surrealis­ta é a viagem de Lisboa paraTorres Vedras de comboio. Nalinha do Oeste, melhor doCacém para Torres Vedras. É amiséria total.

É assim: tanto se anda numaautomotora parecida com as dalinha de Cascais como numaautomotora vermelha - as pré­históricas 'ratas'. Claro, é sóuma linha férrea, o que querdizer; chegando ao Sabugo,Mafra, Malveira ou Dois Portos(estações com telefone), se fornecessário cruzar os comboios,pode demorar 15 minutos emcada uma delas.

Os fregueses da linha são osseguintes: estudante liceais euniversitários, turistas de pé­delcalço das praias de S.

Martinho, Nazaré e Figueira daFoz, feirantes da Malveira, tra­balhadores das fábricas doSabugo, professores - os quenão conseguem ficar nas linhasde Vila Franca ou Estoril - qua­dros superiores, militares, ciga­nos, todo o pessoal com desti­no a Caldas da Rainha, etc.

Eu só pergunto a mim mes­mo: como é possível, durantedezenas de anos, funcionar umsistema à revelia de todos osfactores de qualidade, seguran­ça !3 desenvolvimento?

E uma questão de consciên­cia: quem anda na linha doOeste tem que pendurar-se nasportas fechadas dos comboiossuperlotados - na hora de pon­ta da linha de Sintra. E tem queresignar-se às lotações pormotivo dos destinos e circuns­tâncias mais remotos destalinha».

João Ricardo RisueiioBarroso da Cruz(Torres Vedras)

As dificulda­des nos

transportesestão a preju­

dicaro desenvolvi­

mento deTorres

Vedras (fotode arquivo)

Correio da Manhã 4/3/93

Page 9: Cartas ao Senhor Diretor

. Homenagemesquecida

Senhor Director

Desta vez, infelizmente,recorro de V. Exa., e do es­paço que o seu jornal garante

-aos leitores, para reclamarda grave discriminação que

, atingiu a nossa família, napessoa de um membro muitoimportante e representativonos nossos laços familiares- pelo exemplo de perseve-

rança e honradez (que parasempre perdurará na nossa

cult~ra familiar).Meu tio Manuel Augusto

da Costa Couto era um gran­de homem desta terra. Viveuno concelho de Torres Vedrascerca de meio século, comoforça viva, que facilmente po­de testemunhar quem per­gunta à pessoa mais humildede um qualquer recondito lu­gar deste concelho. Foi en­genheiro técnico-agrícola doserviço do Ministério da Agri­cultura em Torres Vedras, di-

. rigente da Caixa Agrícola eimpulsionador da expansãodesta Caixa, nomeadamenteem cinco delegações, nosprincipais centros agrícolasdo concelho.

Conhecia in loco das ne­

cessidades dos agriculto­res, das características dossolos, da qualidade das árvo­res e frutos, e esperto na ca­racterização das doenças dasárvores e solos. Uma pessoaque os agricultores adora­vam, confiavam, porgue irra­diava amizade e dedicação­sem outro interesse por va­lores materiais. Foi fundador

da Escola Agrícola de Runa,dirigente do Sport ClubeUnião Torreense, da "Física"de Torres Vedras.

Faleceu no dia 31 de Mar­

ço de 1991, um mês depoisde se aposentar por atingir olimite de idade, e uma semana

depois de ser agraciado porcolegas e amigos num honro­so almoço de despedida. Te­ve um funeral digno dos gran­des da terra. Uma manifesta­

ção de pesar que se via norosto de pessoas de trabalho- as que erguem o país no du­ro trabalho do dia-a-dia. To­

dos os jornais regionais des­tacaram a gratitude de que

.este cidadão torreense era

particularmente merecedor.

Mas parece que algunsficaram no seu habitual can­to de cinismo, evidenciandopéssima memória para osfeitos dos cidadãos torreen­ses. Refiro-me aos invento-

res da atribuição de meda­Ihadascondecorativas da par­te da Câmara Municipal deTorres Vedras. Este ano, atri­buindo medalha a um cida­

dão, a título póstumo, que fa­·Ieceu no mesmo dia de meu

tio, mostraram uma atitudeestranha e em princípio pou­co digna para com a memóriados cidadãos, principalmentepara com os falecidos .

Esta atitude de lamentável

esquecimento por ser contrá­ria aos sentimentos das pes­soas deve ser esclarecida. Es­

pero que seja esclarecida.João Ricardo R.Barroco da Cruz

Badaladas

Page 10: Cartas ao Senhor Diretor

~~ ,/7

Istorcões•"O assunto que passo a enurrciar tem reminis-

cências políticas e não é susceptível, até agora,de discussão aberta ou críticas. No entanto, evi­dencia graves distorções ao nivel de injustiçasocial e desajustamento de comportamentos doscidadãos e governos em comparação com outrospaíses, por isso mesmo, talvez se persista consi­derar como matéria dogmática, de regime políti­co com bastantes amarras anacrónicas.

Para poupar espaço, propnho a seguintemetodologia: um parágrafo de análise geral noque se refere a injustiça social e um segundoparágrafo de circunstância de prova para o blo­queio mental.

O nosso País, presumo, tem uns potenciaisseis milhões de pagadores de impostos. Metadedestes residem nos grandes centros urbanos deLisboa ou Porto. Naturalmente, por motivo depressões sociais (com motivação política) e por­que, também, o Estado não consegue libertar-seda herança de ideias preconcebidas - seria umaforma bem salutar que os ministérios se instalas­sem noutras capitais de distrito, o que desdelogo diminuiria despesas com pessoas e obriga­ria muitas pessoas a rever os seus comporta­mentos passivos -, os lisboeftl.se portuenses têmpasses sociais para ricos e pobres, cantinas,museus, estádios de futebol, estações de televi­são, aeroportos internacionais, pontes monu-

NCo~reio da Manha

mentais, piscinas olímpicas, complexos desporti­vos, residências universitárias, etc.

Especifico, agora, algo sobre o serviço nacio­nal de transporte de cidadãos nas cinturas indus­triais de Lisboa e Porto. O anti!}o serviço detransporte de trabalhadores albanes é, de facto,uma analogia razoável.

Em Sevilha ou Salamanca compra-se um tic­ket com fita magnética, em qualquer tabacaria oucafé; dá direito a viagens, com transbordo deuma 1 hora para cada viagem. Os autocar-rostêm leitor que possibilita também recolha dedados para estudo da eficiência das carreiras.Nomeadamente, indicam a necessidade de car­reiras circulares para descongestionamento dasoutras carreiras com destino às zonas Iimítrofesda cidade.

Contar as viagens do mês e comprá-Ias portickets de 10 viagens na tabacaria ou café maispróximo é o mais vulgar em países mais civiliza­dos, em vez do tradicional imposto fixo de trans­porte subsidiado (para baixar artificialmente ainflação), mensal, e designado por passe social.

A racionalidade é a racionalidade de cada ummais modernamente falando. Hábitos de raciocí­nio contabilístico são um bom antídoto para atitu­des indelicadas».

José Ricardo Risuefio Barroco da Cruz(Torres Vedras)

6/4193

Page 11: Cartas ao Senhor Diretor

Mo-çambique,1974Em 1974, freql>efltavaeu o Liceu SaJazar

em Lourenço Marques. Estava no 5'ano. Morava na baixa, mais precisamen·te no Hotel Tamariz, devido à previsaoque meus pais faziam dos dramáticos

acontecimentos, que vieram a suceder.As aulas eram de manha, porcausado

calor de África, logo às 7. O machim­

bambo era às 6.40 e tinha paragem emfrente ao BCCI, ia pela rua do RádioClube, pelo hotel Cardoso e parava aopé da escola. A viagem custava umescudo. Era um passeio matinal for­midável. Muitas vezes regressávamos a

pé, depois das aulas, eu o Mergulhao daSilva - rapaz indiano que deve estar emBombaim - e a Paula que morava numprédio em frente ao Rádio Clúbe e quevive em Lisboa agora. Os meus diver­timentos eram pescar na marginal, verfilmes no Estúdio e no Dicca, ou, quandoeram em cinemaescope. no ManuelRodrigues. O meu lanche preferido eracoca-cola e sandes de carne assada noContinental. Ou um falhado delicioso doScala. Ou um bife com todos na Fábrica

de Celveja. Nos fins-de-semana lanchá­vamos na Princesa e depois comíamostravessas de gelados na leitaria da Co­operativa.

Abastecia-me de livros ali mesmo ao

lado na Livraria Minerva. Em LourençoMarque li tudo de Júlio Verne. Só estive

um ano em Lourenço Marques e ante­riormente, em Nannpula e em OJelimaM- onde nasci. Em Nampula e<a fanté.stco,morava ao pé do cinema no Prédio JcaoFerreira dos Santos e almoçávamossempre no Hotel Portugal. Mais a maistínhamos famitiares no Mossuril e íamos

sempre para a Praia das Chocas. Tam­

bém íamos muito para uma praia mara­vilhosa em Nacala-Velha e à ilha de

Moçambique andar de riquexó, comerlagosla no Sporting, comprar búzios eartesanato. Uma vez que (amos de auto­

matara lembro-me de perguntar ao meupai: qual é a diferença entre um combcio

e uma automotora?, é que as automo·taras, lá, tinham rodas cem borracha.

Voltemos entao a Lourenço Marquesjá sob administraç~o final de Vitor Cres­

po. Vítor -Copos- em gíria.De um momento para outro ccmeçaram

a circular caravanas de carros a apitar.N? 2venida Pinheiro Chagas. Na avenida24 de Julho. Avenidas cem uns 10

quilómetros de ponta a ponta em linharecta e com largura de uns 400 metros.Era a festa total. Os brancos íam formar

um governo. Os ácontecimentos de 7 deSetembro com toda a gente a conren­trar-se ao pé do Rádio Clube onde S<lpernoitava.

Uma bela manha estava eu senta­

do na esplanada do ScaJa a ler o Noti-

cias quando se dirige a mim uma rapa­riga e diz: - Tens que ir embora porqueeles ameaçam mandar toda a gente paraa Caia-. Os massacres tinham começa­do no aeroporto, no Cairro de Malhan­gaJene, no Alto Maé. Uma mortandadeque se aproximava a cada momento.Aos treze anos eu estava consciente

do que é sentir aproximar-se um mas­sacre.

Lá passámos aquela noite à espera.

Parece que os tanques portuguesessairam finalmente dos quartéis e dis­pararam sobre aquela irracional idadeandante. Os militares tomaram de as­

saHo o Rad'o Clube, e o Vitor Crespogarantiu aos frelimos que os brancosn~o formariam o govemo.

A paror desse dia o sonho africano es­

tav", terminado para mim. Ainda pre­senciei em 21 de Outubro, da parte datarde, o tiroteio dos cem andas com os

frelimos que guardavam a redacçao dojornal Tribuna. Foi a minha oportunidadeúnica De ver ao vivo uma emboscada em

pleno centro da cidade. Rajadas decomandos escandalizados por verem osmaltrapilhos frelimos. Morreram quatrotrelimos. O Vitor •.Copos- mandou umacompanhia faz/?r render os revoltosos.que tinham ido ao quartel buscar o anna­mento.

Bom, depois foram as bandeiras da

Frelimo por toda a cidade, os discursoshistéricos do Samora, os cemités, os

contentores, as marcaçoos de viagemna ponte aérea, os depósitos do dinheirono consulado, os metros cúbicos para ocarro no barco. Para nao deitar o di­

nheiro fora comprava-se o último relógio,as últimas calças La finesse do Jonor.

Venha o táxi. Na noite anterior eu e

meus pais fomos ver O último filme. Noestúdio estava um reaJnte, de IgmarBergman. Dei a minha pressao-de-ar,comprada em Saiam anca no ano ante­rior, à primeira pessoa que com ela quisficar.

Agora é mesmo o fim. Adeus parasempre Moçambique. Nunca mais nosvoltaremos a ver. No avi~o enfeitiçadopela provável queda - morreriam 400

pessoas - comprei uns auscultadores eouvindo Rod Stwart pensei que nuncamais iria comer camarOes fritos para apraia da Polana, nem comer panquecaspara a Costa do Sol, nem ver o Ferro­

viário ganhar o campeonato.Em Luanda apagaram as luzes do ~o

para que nao fOSS<lmos apanhados emalvo. Andavam para lá já todos aos tiros.Mas para a frente é que é o caminho. Ecá estamos: portugueses e vivos.

Joao Barroco da CruzTorres Vedras

o Dia 15/4/94

Page 12: Cartas ao Senhor Diretor

o meu voto no CDSfoi usurpado"Um princípio básico de bom relacionamento

familiar costuma ser o respeito pelo ambientepróprio, inerente a essa grande força oculta quese chama amor da família. A família é um localprivado e naturalmente compreensivo, privilegia­do para todas as discussões, conversas ouopiniões.

No entanto, e desde tempos remotos, contam­se histórias de rebelião dos filhos, nomea­damente os filhos pródigos, que sempre regres­savam a casa e sempre se esperava pelo seuregresso. Com a evolução dos tempos, o orgulhoe a arrogância, progressivamente, anularam ahumildade e o arrependimento, fazendo dessasseparações caminhos sem retorno.

Vem tudo isto a propósito dos filhos do partidoCOS que resolveram sair de casa levando con­sigo o cartão de crédito, andando por aí a falarmal e a atraiçoar tudo e todos os que ousem per­manecer fiéis.

Eu sempre votei COSo(Quando acabe - paralonge vá o agoiro - o COS, a nova democraciaportuguesa não terá referência política para mim,pelo simples facto de que em tal circunstâncianão vejo razão para votar num mal menor).

Eu voto COS por ser um partido de direita ­predominância ao indivíduo em vez do indivíduocolectivo e abstracto. Lembro ainda que a minhasituação pessoal é de respeito pelas leis da gra­vidade, ou seja, sem qualquer levitação.

Acho-me, portanto. no direito de perguntarpelos votos que fui pôr nas urnas para oCOS(Parlamento Europeu e Assembleia da Repú­blica). Para o Parlamento Europeu, segundoconsta, o meu voto foi simplesmente usurpadopelos deputados que abandonaram o partido.Também para a Assembleia da República ocabeça de lista pelo distrito de Lisboa arrecadouos "primeiros votos" do partido, usufruindo, ago­ra, dos benefícios monetários desses votos.

Julgo que o sentido da democracia portuguesasão os partidos e não um pretexto para algumaspessoas se auto-considerarem».

João Ricardo Risueiío Barroco da Cruz(Torres Vedras)

• HCorre10 da Manha 30/4/93

Page 13: Cartas ao Senhor Diretor

«A Serra da Estrela, com grandes potencialidades turísticas deInverno, permanece ao abandono» (foto enviada pelo leitor)

'Jackpots' desperdi,a os«Lembro-me que a minha professora de

Introdução à Política, do liceu, referia o almiranteAmérico Tomaz como sendo um Presidente da

República que, quando foi deposto, se encontra­va no seu terceiro mandato, eleito sempre por80% dos votos. Recordava ainda que era umultra do regime político vigente, impedindo, quan­to podia, as aventuras megalómanas doGoverno, como eram a barragem de CaboraBassa, a refinartia de Sines, a barragem doAlqueva, etc.

Um Presidente que obstruía em nome do adia­mento da perda da ideologia; e um Chefe deGoverno fora da realidade dos anseias do Povo.

Assim se esbanjam os "jackpots" que saem aonosso País. Em nome de ideologias, obstinaçõ­es, à revelia das ambições do Povo. (...)

Portugal continua pobre, mais pobre do queantes: com uma extensão territorial diminuta,grande densidade populacional concentrada nolitoral e, evidentemente, rendimento per capita aonivel dos ex-países de Leste.

Lembramo-nos das políticas dos pacotes,quando toda a política económica se limitava auma secretária de primeiro-ministro. A Bolsafechada, os bancos nacionalizados, agitaçãosocial, doses maciças de mentalização política.Vendiam-se as reservas de ouro (fruto do traba­lho que os africanos recrut?dos em Moçambiqueprestavam nas minas da Africa do Sul), faziam-

.•. -Correio da Manhã

se apelos à remessa de divisas dos emigrantes.Tudo a aguentar para quando saísse o "jackpot"dos fundos estruturais da Comunidade Europeia.(Por pouco não foi o partido de então a perpetu­ar-se no poder até agora).

Os pacotes voltaram. Para a indústria, porexemplo, 250 milhões de contos, embora os mei­os de financiamento normal para a indústriasejam a Bolsa e os bancos próprios.

O turismo - e este é o principal motivo porqueescrevo esta carta - continua circunscrito ao lito­ral do nosso País, e ainda assim com sinais deavançada degradação.

Por exemplo, a Serra da Estrela, com grandespotencialidades turísticas de inverno, permaneceao abandono, sem estruturas hoteleiras, compéssimas estradas de acesso, e atrofiadamentevocacionada para uma estada de fim de semanapara famílias da classe média baixa - uma imita­ção muito distante e de mau gosto do que se vênas reais estâncias de inverno europeias.

Nas cidades da Guarda e da Covilhã, apesarde próximas da fronteira espanhola, não existemespeciais atractivos, que permitam um circuitoturístico estruturado. Os casinos e as grandesdiversões estão proibidas num raio de 300 km doEstoril, Algarve e Espinho».

João Ricardo Risueno Barroco da Cruz(Praia de Santa Cruz)

8/5/93

Page 14: Cartas ao Senhor Diretor

/ Perfil da Guarda« ( ... ) A situação geográfica da cidade da Guarda não podia ser

melhor: acesso por via rápida (IPS) a Fuentes de Onoro - uma dis­tância de 50 kms, e a partir de Fuentes são mais 25 kms atéCiudad Rodrigo, e depois mais 100 kms até Salamanca, sempreem belíssima estrada.

Quero só recordar que a juventude do concelho da Guarda sediverte à brava nas noitadas de Ciudad Rodrigo. Eu, por exemplo,abasteço-me de livros para o verão na livraria Cervantes deSalamanca. Cinemas, touros, sessões de esplanada, futebol, bibli­otecas, cursos universitários e cursos de pós-graduação são ter­minologia vulgar para a intelectualidade da Guarda que conheceSalamanca como a palma da mão ..

Uma característica essencial da Guarda é o relacionamento

com o clima. Neve, frio com temperaturas negativas fazem comque as roupas sejam diferentes - desde logo os cobertores eléctri­cos.

O mercado tipo centro comercial e o museu municipal funcio­nam com muito primor, a fazer inveja dos congéneres da capital.Outra característica importante é a arquitectura da cidade, comruas e largos concentrados, acolhedores no seu granito secular. Aproximidade da Serra da Estrela possibilita fins de semana deopção, e há também fácil acesso à Covilhã e a Viseu.

A cultura espanhola está sempre presente por meio da fácilcaptação das estações de televisão do país vizinho, o que faz comque não proliferem as antenas parabólicas. Também as estaçõesde rádio (Rádio F, Rádio 3 espanhola) são de nivel superior às dacapital.

Há falta de infraestruturas desportivas: futebol é de 3ª. divisãoNão há pavilhão de desportos nem basquetebol, assim como nãohá centro hípíco, campo de golfe, pista de atletismo e piscina olím­pica, embora exista piscina municipal. Um cinema único tipo estú­dio inserido na estrutura do Hotel Turismo e que apresenta filmesdiferentes apenas de semana a semana, dá-me a ideia de que aCinemateca deveria estender-se a outras regiões do País. O anti­go cine-teatro, no Largo S. João ou Praça Augusto Gil, encontra­se há muito em ruínas, embora o grandioso edifício mUnicipal,recentemente inaugurado, talvez contenha um auditório.

É evidente que um grande centro comercial seria um chama­douro para o pessoal de Espanha e porporcionaria tardes maravi­lhosas. Também falta um casino e melhores estradas concelhias».

João Ricardo Risuefio Barroco da Cruz

(Praia de Santa Cruz - Torres Vedras)

-Correio da Manha 14/6/93

Page 15: Cartas ao Senhor Diretor

-COM SANFINS

--O CORACAO•

ceu um presunto que depois elemesmo arrematou por 10 con­tos. Uma cervejita que oferece­ram ao locutor, leiloou-se portrês contos. Depois era nova­mente o baila rico, com músicamuito envolvente, e letras sobreo cortejar das moças.

Ao fim da tarde já todosestavam com uma pinga amais. Mas melhor para a corri­da dos sacos. O Presidente daJunta, que tomou conta daempreitada da festa, fez umabonita alocução. Era ver comose contavam as histórias deenganar os polícias de Lisboa,fazendo-se pseudo saloios donordeste. Parece que uns con­seguiram safar uma multa.

Cantou-se o fado mesmo nofinal. Arranjaram-se boleias e opessoal lá se instalou emLisboa, por uma noite, em casados seus conterrâneos, ou naspensões, a ver, também, ossantos populares de Lisboa.Porque sempre se aprendealguma coisita para a verdadei­ra festa: a Romaria de NossaSenhora da Piedade.

E lá se ouviu o apelo doregresso à terra. Uma Vila ple­na de progresso, de gente rica,com boas estradas, escola pre­paratória novinha, quartel dosbombeiros de envaidecer ­com ambulâncias oferecidas (eclaro com a placa a dizer quemfoi a madrinha), discotecas,lojas, a estátua do PadreManuel da Nóbrega fundadorda cidade de S. Paulo, noBrasil, e natural de Sanfins doDouro; a recordação do primei­ro-ministro Teixeira de Sousa,da 1ª. República, no tempo doPresidente Afonso Costa, queera também natural de Sanfins,desta terra de lavoura com ohistórico Santuário, bem assimcomo o não menos importantevinho do Porto. No dia 8 de

Agosto continua a festa».João Ricardo Risueno

Barroco da Cruz(Praia de Santa Cruz)

cem melhor pelas alcunhas quelhes puseram na escola.

Fala-se de tudo e de todos deSanfins; três gerações emmemória viva. Nas árvores cola­ram-se os dizeres de Sanfins;veio o pessoal que faz a músicados bailes de Sanfins, Favaios eAgrelos. Nos intervalos dasmúsicas, com as fífias própriasde uma instalação sonoraimprovisaçla, fazia-se o leilãodas ofertas que as pessoas iamfazendo. Um conterrâneo ofere-

o DOURO'1

que ofereceu dois mil e qui­nhentos contos só para levar oandor de Nossa Senhora daPiedade na procissão pelaencosta até ao Santuário).

Lá estavam os nossos pri­mos, com quem compartilha­mos festas e amarguras, aquiem Portugal e nos lugares maisrecônditos de Moçambique;com o pensamento no dia 8 deAgosto, à espera de uma cartade Sanfins, com notícias dosconterrâneos, que todos conhe-

/~

"De co:as bonitas e saudá­veis se faz a boa disposição ­fora dos maquiavelismos, dosintelectualismos editoriais; fan­tásticos malabarismos, afinalpuros exercícios de elaboradaneurose e propagações dedesconfiança mesquinha.

Refiro-me, evidentemente, auma bonita festa popular, noseu todo de bairrismo, naessência mais delicada da fra"ternidade secular da família edas raízes mais profundas daterra, da nossa terra, simples,sem perfeições, mas com obrazão do sangue familiar.Uma festa muito quente dereencontro em Lisboa. Estou,naturalmente, a falar do 1º.encontro dos naturais deSanfins do Douro. Meio milharde gente boa, a melhor genteque tem este País. Realizou-sena Quinta de Nossa Senhorada Paz, no Paço do Lumiar, nodomingo dia 13 de Junho. Umdia inteiro de festas e confrater­nização. Duas camionetascheiinhas vieram de Sanfins,para a pândega de ficar emLisboa. E, claro, na bagageiradas camionetas veio o que ossanfinenses de Lisboa espera­vam: bola de carne - que este­ve toda a noite a fazer-se emSanfins -, vinho da' adega, lin­guiças, chouriços, pão - só fal­taram as maravilhosas uvasmoscatel, por estarmos fora daépoca. Belas moças, coradi­nhas, a fazerem aguar os bonsares, as correrias e o baile dafesta da Nossa Senhora daPiedade, que todos anseiam,no dia 8 de Agosto. (No anopassado houve um emigrante

Correio da Manhã 27/7/93

Page 16: Cartas ao Senhor Diretor

Expo-98à sevilhanal U

NA REVISTA «Fortune» datadade 9/8/93 diz-se algo de impor­tante que decerto nos permite al­guma lucidez sobre a decisão, daparte do govemo de um qualquerpaís, de garantir a realização deempreendimentos megalóma­nos.

Refiro-me às consequênciasdesastrosas que o Govemo espa- I

0001 enfrenta por se ter lançadona organização dos Jogos Olím­picos [JO] e da Expo-92, o que,segundo a revista, aumentou odéfice público para 45 por centodo PIB. A «Fortune» adianta nú­meros ainda mais aterradores: 30por cento de desemprego em Se­vilha, sendo que no ano passado115 mil pessoas trabalhavam naExpo-92 e neste momento o nú­mero de postos de trabalho para amanutenção do mesmo espaço edos equipamentos é de 800. Masa calamidade não fica pelos nú­meros porque o ambiente de quese faz o retrato evidencia bem adimensão do «estampanço»: aExpo-92 e os JO marcaram o fimdo «boom» que a EspaOOa viveudesde a adesão à CE em 1986.

Ninguém se propõe fazer umtrabalho sem avaliar convenien­temente o que foi anteriormenterealizado por outros no mesmoâmbito, a menos que delibera­damente queira ter uma atitudeirracional ou queira deixar-seembalar pelo deslumbramento,ou opte por uma imitação pateta.

O Governo de Madrid igno-,rou as consequências do próprio'excesso de generosidade e deuao mundo uma imagem de gran­diosidade: mas quem se abalan­çar a projecto idêntico, que se«avie» em terra - porque destavez não existe a América depoisde tanto mar.

J. R. R. Barroco da CruzTorres Vedras

Expresso 7/8/93

Page 17: Cartas ao Senhor Diretor

Diário de Noticias 28/8/93

Tempode mudança

DE UMA maneira ge­ral, a geração de esta­distas que se encontraactualmente no Poder,particularmente nonosso país, tem a ideia

de que nada mudou a ocidente e nosencontramos numa situação de vitóriaclara da guerra fria. Pressupõe-se quetudo ficará como antes, a ocidente,acreditando que estes estadistas fazemfé na cultura, que crêem mesmo noprincípio da termodinâmica que esta­belece a passagem do calor sempre deuma fonte quente para uma fonte fria.Estes estadistas julgam, talvez, encon­trarem-se num sistema isotérmico. Ab­solutamente ideal, portanto. Duvidoque os actuais estadistas europeus pos­sam permanecer no Poder para além deuma década.( ...)Vou lançar algumasideias, porventura chocantes para (...)os que pensam que o ideal portuguêscabe num saco de plástico de comprasde um hipermercado.

1. Se o sistema monetário europeu·continuar sem definição e não se con­solidar a moeda única europeia, seráviável para a estratégia económica por­tuguesa manter a moeda escudo? 2. Seo sistema ocidental actual entrar em

ruptura, como aconteceu com o deLeste, e, ainda por causa desse mesmoLeste, o desenvolvimento do nossopaís é o mais adequado para preservar­mos a nossa independência?, atapetar onosso território com vias de acesso

rodoviário não parece uma estratégiaque salvaguarde algumas fronteiraseconómicas nem que futuramente nospossa defender no campo militar. Otransporte ferroviário tem mais vanta­gens em todos esses aspectos essen­ciais. (Nunca um automóvel chegará aLisboa, vindo de Bragança, em menosde quatro horas, a menos que sejatransportado por um comboio rápi­do.) 3. A unidade do País faz-se comestabilidade social, só possível comuma política de habitação e de empre­go. De política de emprego leia-sepolítica de comércio e indústria. Have­ria que investir, pois, em indústria detransformação, na rota das matérias­-primas baratas.

Muitas vezes parece que um coelhocorre mais do que uma tartaruga, mas épreciso que esse coelho não adormeçaacordado, para que mais tarde não seriam de um coelho tão ridiculamenteveloz.João Ricardo Barroco da Cruz

Torres Vedras

Page 18: Cartas ao Senhor Diretor

ncias em Santa CruzliAgora na Praia de SantaCruz não há cinema", lamentaJoão Ricardo Risueíio Barro­co da Cruz, acrescentando:«Talvez que a Câmara Munici­pal nunca exigisse, ao\ aprovaros lotes para o centro da locali­dade, a construção de um cine­ma. No entanto, exigiu que oconstrutor do meu prédio depo­sitasse uma quantia df') 500contos na Câmara, sob pretex­to de não passar a licença dehabitâ~o, para a posteriorconstrução de um passeio :empedra em vez de cimento, deacordo com o qlj6- éonstavi'lA ..lOprojecto. Até hoje, a C"..•maranunca construiu o p?..•.sseio em

pedra, alegandç' -,'ImplicitaVien­te, que o d<-, cimento s~rvemuitobp.r>:':;'. I

Ref ere depois que a Praia de

Sar',ra Cruz tem muitas pote~ci­?~lldades, embora nem seqt,ler, seja freguesia, sublinhando a

existência de um aeródromo ­ainda que a Câmara Municipalnunca tenha tentado obviar oóbice que representa o facto deos aviões terem de passar poruma estrada para atravessar apista - e de uma extensa emagnífica praia, que já deveriater merecido a colocação dêpontões, a fim de se aumentara extensão da área destinada abanhos em segurança.

"Outra potencialidade infeliz.

mente desperdiçada (...) tem aver com o esquecimento a quese votou a construção de estra­das de marginal", afirmadepois, adiantando que "fariamaqui uma lindíssima estradadesde Peniche à Praia Azul".

E depois de acentúar as van­tagens que adviriam da cons­trução de uma estrada compouco mais de 7 km, desdeTorres Vedras, a sair em Valede Janelas, encurtando distân­cias, queixa-se ainda de que naPraia de Santa Cruz não sepode levantar dinheiro, devidoa não haver qualquer agênciabancária nem caixa de Multi­banco, e critica também adegradação da estação dosCorreios, a falta de instalaçõespoliciais e o facto de ~ presen­ça de agentes da GNR seregistar apenas no Verão.

Lamenta ainda que a Igrejafuncione em missa campal,"embora haja projecto aprova­do e terreno oferecido, mastotalmente irrealizável por faltade dinheiro".

Escreve ainda:"Esquecia-me da Rodoviária.

Com um barracão em que hámuitos anos se guardavamduas camionetas, agora já nemos utentes permanecem nessebarracão enquanto esperam.Todos esperam na rua. O mer­cado novo - tem um ano -, asua concepção foi de poucorasgo, já que os vendedores sequeixam de falta de espaço, eé de ver a multiplicação de ven­dedores ambulantes precisa-

o bom aproveitamento de uma estada na Praia de Santa Cruz éprejudicado pela tal ta de algumas das estruturas de bem-estarque ali deveriam existir (toto de arquivo)

mente na rua do mercado no- de 20 mil no verão. Nem umavoo ambulância aqui permanece.

Posto médico oficial nunca Já vi pessoas afogarem-seaqui existiu, mesmo tendo em enquanto passavam helicópte-atenção a população de 500 ros em treino militar intensivohabitantes no inverno e mais de pilotos angolanos".

Correio da Manhã 9/9/93

Page 19: Cartas ao Senhor Diretor

Gestão das estradasUMA situação mal

, pensada decorre dadeficiente gestão

das estradas do municípiode Torres Vedras. A inven­tariação das eStradas ­como meios alternativos deviagem e a necessária infor­mação ao automobilistas; amanutenção no âmbito daconservação e imprescindí­veis melhoramentos - estra­das municipais projectadasque não mais saíram da pra­teleira -, constituem umaatitude de atrofia por partedos mais directamente res­ponsáveis.

Concretamente: quemvai a Lisboa opta, já em

grande percentagen, pelaestrada municipal 553­pela Serra da Vila -, até aoTurcifal. Mas esta estradamunicipal cumpre com aevolução social da cidade deTorres? Com a construçãoda nova escola, as autorida­des atabalhoaram-se na ins­talação das lombas, frente àescola que ninguém respeita- porque não cobrem todaa largura da estrada e, paramais, têm dimensões e sãoem quantidade exagerada ­, e evidentemente que nin­guém é tonto ao ponto deandar com 'O carro sujeito a

Frenteoeste

danificar-se. Ninguém res­peita as lombas estupida­mente colocadas pelas nos­sas autoridades camarárias,ao mesmo tempo que seteme pela primeira criança aser atropelada naquele local.

Vou dar outro exemplo:a ligação Praia Formosa­Praia Azul-Praia da Foz.Uma extensão de 5 \an, ver­dadeiro paraíso escondidonum abandono surrealista.E assim por diante: o cadavez mais importante cruza­mento da Silveira, o esque­cido cruzamento na locali­dade de Formigal, que

16/9/93

descongestionariam o tráfe­go das praias no sentido deLisboa.

Faltam semáforos, pas­sagem superiores para peõ­es, falta alguém competenteem estradas que, de umavez por todas, faça a «revo­lução da rede rodoviária domunicípio de TorresVedras». Um trabalho boni­to que até daria imortalida­de. E todos ficaríamosorgulhosos de tal dinamis­mo.

• João Ricardo B. da Cruz

Torres Vedras

Page 20: Cartas ao Senhor Diretor

"No passado dia 30 de Maio, pelastrês da madrugada, uma brigada detrânsito da GNR autuou-me, por mano­bra perigosa, ao desviar-me um poucodas lombas que a Câmara Municipalinstalou na estrada municipal, a fim dereduzir a velocidade dos automobilistas,frente à escola - uma escola nova comaulas até ao 9º. ano de escolaridade.

Evidentemente, no próximo dia 30 deSetembro terei que responder em tribu­nal por esta infracção.

Vejamos porque razão todos os auto­mobilistas transgridem neste local, aqualquer hora do dia, pondo em risco deatropelamento, em tempo de escola, ascrianças que circulam naquele local:

a) como se vê na fotografia, pela altu­ra'da lomba em primeiro plano, as lom­bas, de dimensões invulgares, provo­cam, de imediato, uma reacção de des­vio, devido ao receio de que o carropossa ser danificado ao embater nelas;

b) por este motivo, os automobilistasdefendem-se, instintivamente, guinandopara a outra faixa de rodagem, a daesquerda, continuando a circular nessafaixa, de sentido contrário, até que ter­minem as lombas na faixa da direita; eretomam o sentido correcto quandocomeçam as lombas na faixa daesquerda (e este procedimento estágeneralizado, conforme a fotografia

Confusão emTorres Vedras

também documenta, provando quetodos os condutores, ou quase todos,fazem o mesmo);

c) por vezes, devido a que as lombasnão cobrem a totalidade da largura daestrada, acontece que naquele focalparece estarmos a circular num paísafricano - pela confusão inerente - e bri­tânico, mas com volante à esquerda.

Ninguém respeita aquelas lombasporque são perigosas e se encontraminstaladas de forma desconexa. O peri­go de uma criança cair atropeladanaquele local é assustador. (Eu própriojá passei pelo drama do atropelamento,quando me dirigia para o ex-liceu nacio­nal de Torres Vedras; e posso testemu­nhar que é precisa muita coragem paraenfrentar a dor e as dificuldades ­

nomeadamente porque tive que fazerexame das disciplinas do curso comple­mentar com os apontamentos dos meuscolegas - que marcam pela injustiça).

No entanto, ainda há, no meio destaconfusão, senhores guardas que, àstrês da madrugada, se lembram deautuar um automobilista. Justiça, sim,quando é respeitada pelos cidadãos ese aplica, por isso mesmo, a todos oscidadãos".

João Ricardo Risueno Barroco daCruz

(Torres Vedras)

Eloquente­mente docu­mentada aaltura daslombas (ver aque está emprimeiro pIa­no) e a circu­laçãoemsentido con­trário (fotoenviada peloleitor)

Correio da Manhã 28/9/93

Page 21: Cartas ao Senhor Diretor

Zonas verdesSenhor Director:Queria expressar a minha

antipatia pelo raquitiquismo aque os responsáveis camaráriosvotaram as principais avenidasda nossa cidade. Refiro-me aosobsoletos canteiros para todasas novas avenidas, que, infe­lizmente, começaram, em jeitode padrão, na avenida 5 deOutubro. Estes canteiros alas­

traram na avenida que liga ohospital ao bairro Vila Morenae em toda a avenida da Vár­zea.

O "Canteirozito" obrigatórioesteticamente, na mentalidadedos responsáveis camarários,é, no minimo, piroso e, natural­mente, ineficiente para toda agente. O primeiro obstáculo dizrespeito à estreiteza a que con­diciona:

- Mau piso de alcatrão; impos­sibilidade do aproveitamentode toda a largura da avenida,em caso de necessidade - por

Badaladas

exemplo, pelo corso de Carna­vaiou em caso de incêndio -;dificuldade acrescida de visão

para automobilistas e peões.A única vantagem evidente

seria de natureza ecológica, seesses canteiros servissem real­

mente para plantar árvores degrande porte. Mas diz-me a ex­periência que todas as árvoresplantadas pelos responsáveiscamarários nunca cresceram.(Além disso estes canteiros nãoparecem esconder uma certanostalgia - um pouco apateta­da - das antigas auto-estradascom divisão de matagal emcanteiro).

Sou pois de opinião de que,quanto antes, os responsáveiscamarários acabem com esta

irracionalidade no aproveita­mento da área das avenidas danossa cidade e discordo nemmais nem menos com a estéticaimposta.

João Ricardo Risueno

Barroco da Cruz.

8/10/93

Page 22: Cartas ao Senhor Diretor

Q~ándo os professores mentem"Na revista L'Express nº

96623,com data de 30/9/93, napágina 64, a propósito delivros, fala-se de duas obrassaídas, recentemente, emFrança, com os seguintes títu­los: 'O Caos Pedagógico' e'Quando os Professores Men­tem...', cujos autores são, res­pectivamente, Philippe Nemo eMaurice Maschino.

Philipe Nemo acusa os soci­ais-comunistas de terem orga­nizado uma educação nacionalrígida e sovietiforme. Acrescen­ta-se, a este respeito, na revis­ta, que se instalou um caospedagógico, resultado de umconstante choque no seio daescola, de duas forças opostas:

de um lado os pedagogos revo­lucionários, partidários demétodos activos adaptados àscrianças dos meios popularese, de outro lado, os conserva­dores, professores e inspecto­res agarrados a um ensinosecundário tradicional, entendi­do sem ruptura desde o cicloaté ao complementar.

A nostalgia das aulas dosanos 50, quando os alunos da4º classe, bem comportados eatentos, recitavam versos deLucrécio e de Homero, teste­munhavam uma boa aprendiza­gem.

De Nemo, diz L'Express quecompara os sindicatos de pro­fessores de esquerda a quadri-

lhas de bárbaros do século VI.De Maschip diz que acusa o

corpo professoral de incompe­tência. Os bons professoresque cumprem os programasserão não mais do que umamão cheia. Os outros, aperta­dos entre uma administraçãoescolar desprezadora e mes­quinha, uns alunos indiferentesou violentos e pais agressivos,perdem, rapidamente, as ilusõ­es.

Parece uma visão poéticasurrealista mas a realidade doensino francês sempre se mos­trou precursora da mudança".

João Barroco da Cruz(Torres Vedras)

Correio da Manhã 17/10/93

Page 23: Cartas ao Senhor Diretor

s lutas perdidasda Câmara de Torre's

GOSTARIA de recordar asequência de lutas perdi­das na vigência do actual

elenco camarário. (O esquecimentoé a misericórdia dos polfticos,enquanto exercem o poder na basede uma memória de recalcamento

sobre os que impossibilitam, aindaque por dever democrático, a faltade transparência. ) Vejamos pois:

1. O pagamento da portagemno troço de auto-estradaMalveira-Loures. Afinal o alarido

no dia da inauguração do troço arespeito do pagamento da referidaportagem - hoje no valor de220$00 ida-volta para automóveisligeiros - não passou da habitualreacção de imaturidade saloia emvista de coisa nova. E é vermos em

1995 o pagamento de 600$00 ida­volta para Lisboa, com mais1500$00 de gasolina. Nessa altura,por causa dos empregos que have­rão nas portagens em TorresVedras, não mais se lembrará quealgum dia se defendesse o nãopagamento da portagem.

2. O Rio Sizandro. Continuapoluído, muito embora as autori­dades ameacem os poluidores,particularmente quando acontecealguma explosão mortal em algu­ma dessas fábrícas poluídoras.(Os prímeíros a sacudir o capotedas responsabilidades não consta

que sejam os primeiros a entrarno céu - e no entanto é ver o

corropio das autoridades socialis­tas locais quando das visit~s deentidades eclesiásticas.)

3. A ridícula contagem donúmero de curvas. Aparece sem­pre que é preciso fazer carnavalcontra o Governo. E no entanto as

estradas municipais permanecemesburacadas, com cortes a toda alargura que demoram anos a arran­jar, apesar das queixas insistentesnos jornais locais e das reclamaçõesnos serviços camarários.

4. A linha do Oeste. Que con­tinua a ser a vergonha que semprefoi, testemunhada por gerações deestudantes que nela circulam parafrequentarem o ensino secundário ouo ensino universitário. Quem quiserver a força de vontade dos que sãocondenados ao infortúnio de circularna linha do Oeste é levantar-se às 5

da madrugada e viajar numa auto­motora pré-histórica até ao Cacém- se não ficar retido uma hora

numa estação à espera que cruze umcomboio-mercadorias - e depoisuma correria para o comboio doCacém, em viagem, quantas vezes,na parte exterior, sujeito a esborra­char-se contra um poste.

5. A étíca. Não se pode esque­cer o aumento de casos de fraude,envolvendo enormes quantias em

dinheiro e que atiram instituiçõesdo concelho para as páginas dosjornais e até para o plenário daAssembleia da República. (A velhamentalidade de que cá dentro doconcelho a justiça é utopia.)Também as contas apresentadaspela Cãmara Municipal começarama ser contestadas com os precipita­dos pedidos de autorização paracontrair empréstimos, a fim decobrir o pagamento de salários dosfuncionários. Ou os mais que expli­cados «deficites». Ou a gestão demilhões de contas por pessoas com«deficit» de formação para tal.

6. A cultura. Deve ser a únicacidade do País com sala de cinemados anos 50. Já houve um estúdio.

Chamava-se Optimus. Faliu. Jáhouve um cinema em Santa Cruz.Demoliram-no. Pavilhão de despor­tos é impensáve!. Concertos, s6 osque a Orquestra Gulbenkian apre­senta na Igreja do Turcifa!. Jazz erock é coisa raríssima - por alturasdo castelo de música. Castelo queem obras continuará por muitosanos. Campo de futebol pagando-semuitas vezes preço de central paraDivisão de Honra e dando direito a

peão norte à chuva.7. A segurança nas ruas. É

preciso lembrar que como intitulamos jornais locais e violência desceuà cidade. Um facto recente comcasos ao nível de bairro de lata.

8. As zonas verdes.Pretendendo-se atabalhoadamente

fazer coisas que saem o completoridículo, igual ao que existe nochoupal com um canil, um pombal,um lago de patos, dois veados, ummacaco, um coreto, e todas as fes­tas comunistas.

9. A invenção dasgemínações. Para além de umaspasseatas intercâmbio pouco maistrouxeram de dignificante. Lembroque os ingleses ainda foram a dizerque se calhar estavam arrependidosde se geminarem com o mau aspec­to que por cá encontraram, e repro­duziram tudo na Assembleia

Municipal deles.

10. O destino turístico torre­

ense. Injustificada insistentementepelo facto da falta de instalaçõeshoteleiras e por falta intrínseca decondições, nomeadamente no quediz respeito a Santa Cruz. Mas talqual Descartes, inventou-se as pala­vras certas: estância balnear versusdestino turístico. A inventar é que agente se entende.

U. A luta contra os empresá­rios locais. Apesar das hostilidadesainda arranjam coragem para levara sua avante, construindo, porexemplo, a única piscina do c.once­lho com características olímpicas.

12. A antena parabólica doVaratojo. Para o povo. A melhorsemelhança com as forças extrater­restres. Deixou de emitir por consti­tuir ilegalidade, muito embora ativessem propagandeado e fizessemgastar imenso dinheiro na compraou arranjo das antenas dirigidaspara a Varatojo.

13. A cidade chinesa.

(Entramos agora no campo maispsicadélico da govemação carnará­ria.) A insólita «chinatown» torre­ense que tanta celeuma fez fantasiaras almas mais loucas, derivando-serealidade em sonho esotérico.

14. O supercomplexo turísti­co da Póvoa de Penafirme. Outrarealidade determinada em discussõ­

es acesas, com base na imaginaçãoum pouco psicótica da luta peladefesa da Natureza; que afinal s6chegou a estar ameaçada como nasguerras de brincadeira das crianças.

Gostaria a terminar de recordar

que melhor fariam dedicarem-se emregime de exclusividade às suasnobres profissões de professores doensino secundário - de que fogema sete pés - do que andarem por aía fazer tristes figuras por embarca­rem na sua inaptidão de gestoresautárquicos.

Com os meus mais respeitososcumprimentos.

• João Ricardo RisueãoBarroco da Cruz

(T. Vedras)

Frenteoeste 11/11/93

__ o - _

Page 24: Cartas ao Senhor Diretor

Campanha eleitoralSenhor Director:

Fui à tradicional reunião fa­miliar, por altura dos fiéis de-

I funtoc-;--naaldeia de Escarigo,concelho de Figueira de Cas­telo Rodrigo, onde se encontraa memóriade honradez de meusfamiliaresda linhagem barroca.

Opinião de um, opinião deoutro, veio à baila as eleiçõesautárquicas, que se realizamno próximo mês de Dezembro.

Claro está que em Figueirade Castelo Rodrigo anda todaa gente em alvoroço, tambémporque as palavras dos preten­dentes ao trono da Câmarasão bastante azedas.

No entanto, no meio de todoo vinagre, que corre em comu­nicados e contra-comunicados,dos ilustres da linda terra deFigueira, encontrei algumaspassagens, que vou citar, pelasua pertinência e invulgaridade.

São palavras de sua exce­lência o senhor Presidente daCâmara Municipal de Figueira

- eleito na lista do partidosocialista, nas últimas eleiçõesautárquicas.

Diz o Presidente da Câmaraa dado passo do texto que inti­tula, por resposta IV: U( ... ) Ecre­mos haverá poucos exemplospor todo o País e por todos osserviços em que os funcioná­rios recebam, integralmente daCâmara, as ajudas de custo,sendo, no entanto, todas assuas próprias despesas supor­tadas pes-soalmente e do bol­so do actual Presidente daCâmara (... l". De facto aquitemos um caso de abnegação'total (altruísmo mesmo). É umexemplo que se deve desdelogo registar.

Mas há mais a este propó­sito na respostá VI. O senhorPresidente da Câmara de Fi­gueira diz o seguinte: U( ... )

nunca fui Presidente da Câ­mara à procura de honras e dedinheiro ...

E todos sabem que nunca

enriqueci, nem à custa de polí­tica nem da Câmara.

Tenho posto o meu dinhei­ro pessoal e da minha famíliaao serviço de obras e institui­ções que serviram o concelho.

E, na Câmara, para alémde suportar sozinho grandeparte das despesas eleitorais,tenho pago com o meu dinhei­ro as despesas de deslocaçãodos funcionários que me acom­panham, bem como dos Presi­dentes das Juntas, que assimficam com as suas ajudas decusto totalmente intocadas.

Isso sabem-no todos, no­meadamente o actual Presiden­tedaJuntade FreguesiadeCas­telo Rodrigo, pelo qual suporteidespesas no valor de mais deduas centenas de contos, in­cluindo uma viagem à Madeira.

Também a visita de muitase ilustres personalidades quese deslocaram ao concelho,para bem e prestígio deste, fo­ram custeados parcialmenteem dinheiro próprio do Presi­dente da Câmarau•

Um caso invulgar do exer­cício da presidência de câmara.Quando falta dinheiro este Pre­sidente não sai para a rua espa­vorido a acusar quem faltoucom o dinheiro. Simplesmentelevanta dinheiro da sua contaparticular e remedeia assim oque falta. Com os seus própriosmeios, como fazem os valen­tes. Assim, sim. É um grandemotivo de orgulho ver assimum Presidente.

João Ricardo RisuenoBarroco da Cruz

Badaladas 12/11/93

Page 25: Cartas ao Senhor Diretor

Quem querser presidente?

Nãoé tão simplista ­como pretendem asmáquinas partidárias

-. a decisão de votar nesteou naquele candidato;requer uma estratégia deorganização pessoal, basea­da, em grande parte, numnível de pensamento econó­mico.

As circunstâncias dasgrandes motivações políti­cas estão hoje ultrapassadasporque o primeiro racioCÍ­nio do eleitor é se o candi­dato deste ou daquele parti­do merece, de facto, ospri vilégios que o cargocomporta.

Estes pri vilégios são,aliás, mais propensos a ati­tudes caricatas dos candida­tos, em função das esperte­zas que vão adquirindo.(Refira-se a propósito quetouro lidado é manhoso e,

portanto, é impensável quenão vá para o talho).Geralmente um candidatonovato - que se candidatapela 1.ª vez - escreve noscartazes, por exemplo:«Honestidade», ou também,«Vamos mudar de política».Enquanto um candidatomais velho - já com asmanhas todas de 4 ou 8anos de exercício do cargo- diz nos cartazes de cam­panha: «Competência», ou,«Experiência», ou «Já MeConhecem» ou, nos casosde menor reaccionarismo,«Mudar de Política SemSobressaltos».

As manhas dos velhoscandidatos são de naturezadiversificada. Um presiden­te de Câmara deve ganharuns 400 contos por mês ilí­quidos. 400 contos por mêssão 4.800 contos por ano, o

que dá um escalão máximode 40 por cento de retençãona fonte para o IRS. Deordenado líquido ficarão àvolta de 250 contos men­sais. 3.000 contos por ano- um ordenadozito, já aonível de classe média altanos Estados Unidos.Naturalmente que há outrasbenesses a acrescentar: aju­das de custo - uns 2 a 3contos por dia de desloca­ção; gasolina - uma vezque o direito a gasolina parao carro de serviço possibili­ta, em situações de necessi­dade, a extensão deste pri­vilégio para os carrosparticulares; telefone; masprincipalmente as prendazi­tas, por causa do licencia­mento de obras; e quantasvezes os fundos comunitári­os são superiores ao previs­to.

Na realidade, um presi­dente de Câmara com orde­nado líquido de 250 contosmensais junta ao fim de umano de mandato 3.000 con­tos e no final do mandato,ou seja 4 anos, cerca de12.000 contos, naturalmen­te, vivendo a custas doordenado da esposa ( ... )Mas as malandrices quevão aprendendo, e que jádescrevi, dá para quealguns deles evidenciemsinais exteriores de riquezaduas ou três vezes superio~res aos tais 12.000 contos.Mas ninguém costuma ter aousadia de fazer perguntasindiscretas. Era jásó o quefaltava.

.João Ricardo RisueõoBarroco da Cruz

t

Ir.

Frenteoeste 25/11/93

Page 26: Cartas ao Senhor Diretor

AutareasSenhor Director:

Um caso deveras estra­

nho na realidade dos políti­cos autárquicos é quandoestes se advogam o direito auma imagem - televisiva efantasiosa - com fundamen­

to em cartazes de propagan­da, entrevistas de monólogomonocórdico às rádios, maisentrevistas com reservas pes­soais aos jornais, panfletosmediáticos, burocracia, actossolenes, almoçaradas caci­queiras - sem o pudor delevarem os restos para casa,em vez de os distribuirem pe­los mendigos - pagas a 3contos por pessoa pelos co­fres do Estado.

É muito fácil falar com

estas autoridades: à quinta­feira recebem o Povo, confor­me o edital. Segue-se a re­presentação e os restos docaviar.

Em Figueira de CasteloRodrigo é fácil encontrar oPresidente no tradicional café

Dom Rodrigo, ou na Trans­montana. O Presidente soci­

alista aprendeu, talvez, a po­pularidade desassombradaquando presidiu à Câmaraantes do 25 de Abril. Ou quemsabe nos quadros da ex-uniãonacional. (Segundo VascoPulido Valente a ex-mocida­

de portuguesa era mais umaorganização escutista). EmFaro também é facílimo en­contrar o actual Presidente, oex-Presidente, ou o futuroPresidente, na Gardi, na Ruade Santo António.

Mas alguns presidentesreservam-se o direito a uma

privacidadeconventual, mais

Badaladas

ou menos igual à de FilipeGonzalez. Nunca vão ao ci­

nema da terra, aos poucosconcertos que organizam, aofutebol - nem que excepcio­nalmente joguem o BenficaouoSpo~ngouoPortoouoReal Madrid. Nunca consul­

tam bibliotecas como, porexemplo, o estudioso Presi­dente de Almeida. Não prati­cam desporto. Não têm cãonem gato, Não sabem nadar- logo não têm responsabili­dades quando alguém é su­gado pelo mar.

Refugiam-se num para­doxal pudor do espectáculo­apesar das máquinas de co­municação à distância quesustentam a sua imagemmística. Na Guarda é fácilencontrar um desses mon­

ges socialistas. E até nem édos mais fechados.

(André Gromiko ministrodos negócios estrangei ros daex-URSS, durante 25 anos, vi­veu todo o tempo em aviões ehotéis. Nunca saía à rua parafazer compras. Dizia a revis­ta Time que não sabia quantocustava um kilo de bife).

Em Nampula o governa­dor não saía à rua. A não ser

por actos solenes de repre­sentação. O mesmo aconte­cia com alguns administrado­res de circunscrição - pareceque o curso colonial do conti­nente prevenia para os peri­gos de algumas populaçõesautóctones. Vicissitudes do

ex-curso de antropologia paraadministrar populações con­celhias.

João Rlcardo RisuenoBarroco da Cruz

26/11/93

Page 27: Cartas ao Senhor Diretor

O"'maná~comunitárioNA REVISTA «L 'Express» de 251111/93, num artigo intitulado«Grécia: a criança estragada daEuropa», explica-se, num gráficode barras, a distribuição do manácomunitário pelos 12 países.

Estranho (ou talvez não) é verque a Irlanda aparece em primeirolugar, com o triplo dos dinheiroscomunitários recebidos por Portu­gal; em segundo lugar surge aGrécia com mais do dobro do di­nheiro recebido por Portugal.

Na mesma página do gráficoestá uma tradução explicativa pou- .co dignificante para os países en­volvidos, das palavras escritas porMargaret Thatcher no séil recentelivro de memórias. Diz o seguinte:

«As duas questões problemáticasrelativamente à admissão daEspanha e de Portugal atingiramuma conclusão mutuamente con­veniente, enquanto Papandreou,primeiro-ministro grego, nosmirnoseava com uma çena dignade teatro clássico.» Thatcher avan-

1 ça um pouco mais neste enigma::> «Este homem educado e de bom

II trato pessoal em privado muda com- I ilT pletamente de atitude quando pre- I

r- tende mais dinheiro para o seu país.Ameaçou com o seu direito de veto

ao alargamento da Comunidade, amenos .que_a Grécia beneficiassede enormes somas nos seis anosseguintes.»

Evidentemente, com o dobro dodinheiro comunitário, as fraudestambém se multiplicaram. As sub­venções agrícolas são um exem­plo. Ou quando os gregos vende­ram à Bélgica 200 mil toneladas demilho jugoslavocomo produto gre­go.

Com um crescimento económi­co de 1 por cento para 1993, umainflação estimada em 13,7 por cen­to, uma taxa de desemprego de13,7 por cento e em expansão ecom uma dívida pública superiorao Pffi, a Grécia caminha nestafragilidade e avança na construçãodo metropolitano de Atenas, fman­ciado em 80 por cento pela Comu­nidade, de um gasoduto que ligaráa Rússia à Grécia via Bulgária, nãoesquecendo as ajudas aos campo­neses, aos criadores de gado, aosprodutores de vinho e de azeite.

E acrescenta-se, na página 24:«Enquanto Portugal aperta o cintoe administra emjeito de formiga osfundos de coesão, a Grécia brincaàs cigarras.»

Apesar das cartas e das ameaçascom o tribunal europeu que Delorsfaz a este país «sozinho em casa»,a Grécia continua a portar-se o piorpossível. E promete tenebrosasmaldades gastadoras.

João Barroco da Cruz

Torres Vedras

Expresso 17/12/93

Page 28: Cartas ao Senhor Diretor

Quanto custair apoiar o Torreense

QUERIA manifestar o

meu desagradocom as condiçõesdegradantes a que

os espl'-ctadores dos jogos doTorreense, no campo ManuelMarques, tem de sujeitar-sepelo simples motivo de apoia­rem o seu clube.

De há uns tempos a estaparte as situações são decaracterísticas que se asseme­lham com condições sub­humanas, absolutamente des­necessárias se, porventura,houvesse a devida atenção nosentido do respeito pelos apoi­antes do clube.

E vou enumerar os casosmais desagradáveis:

1.2 Os bilhetes não têmpreço previsível de semana

para semana. (Eu, esta épo­ca, já paguei 1200$00 poruma bancada central, já vinoutros jogos pedirem2500$00 pela central).

2.2 A bancada central,que pressupõe a cobertura pelapala, desde há uns anos quereduz os lugares, limitando-se,agora, a dois degraus, geral­mente à chuva Enquanto exis­tem lugares cativos que per­manecem vagos todo o jogo.

3.2 A bancada lateral quecusta praticamente o mesmoque a bancada central, nuncateve qualquer beneficiação: ­lugares individualizados,cobertura em lusalite, porexemplo.

4.2 Os sócios, desde queme lembro - e já lá vão mais

de 20 anos - nunca estiveramnem melhor nem pior instala­dos do que agora; atrás da bali­za sul, sempre com o chapéude chuva para o que der e vier.

(Mas todo o pessoal ante­rior tem uma pequena vanta­gem em relação aos que vouenumerar a seguir: não fazem 'uma caminhada pela lamapara entrarem no estádio).

5.2 A superior centraltem bilhetes que podem custarentre 900$00 e 1200$00, con­forme o placard afixado nabilheteira. A bilheteira, desdeque a Câmara Muncipal ence­tou as demoradas e dispendio­sas obras da passagem deautomóveis, funciona numlugar de acesso difícil, porqueainda ninguém pensou que aspessoas são ebrigadas a transi­tar por ali. Só se pensou emvender bilhetes.

Neste caso pode pagar-se opreço de uma bancada central(1200$00) e ficar de pé todo ojogo. E com o inconvenientede o bar que vende refrigeran­tes, deste lado do estádio,sofrer uma verdadeira avalan­che no intervalo do jogo.

Os preços dos artigosvendidos são um pouco exa­gerados, tendo em conta acircunstância de serem con­sumidos a molhada;120$00, um copo plásticode cerveja ou refrigeranteou água, 150$00 uma dúzia

-- ..!-_- - -

de castanhas quentes,100$00 uma dose de pevi­des ou tremoços).

6.2 A condição sub·humana que se passa com osdesgraçados que pagam até900$00 por um bilhete na ban­cada superior norte e fazemuma caminhada de 300 metrospor um caminho ermo, enla­meado, escorregadio e perma­necem de pé naquele ambientede frigorífico todo o desafio.

(No último jogo compreium bilhete superior norte eno dia seguinte tinha 40graus de febre e quase quetive uma pneumonia).Enquanto que as condições,para os espectadores do está­dio - para além dos degrausem cimento do peão central enorte -, pouco melhorarammais do que os sinais de umagrande carneirada, que aindapor cima paga mau por boma preços perfeitamente arbi­trários, os camarotes quenti­nhos dos borlistas - aquelesque há mais de 15 anos nãopagam um bilhete - conti­nuam cada jogo com maisrequintes de conforto ..

É tudo uma questão deprincípios: respeite-se osespectadores pagantes dosjogos do Torreense, pois sãoeles o único fundamento doTorreense .

• João R. R. Barrocoda Cruz (T. Vedras)

Frenteoeste 6/1/94

Page 29: Cartas ao Senhor Diretor

Contra as·propinas.--'

Q . .------>~" ueria manife~t<wá minhatotal solidariedade para com osestudantes universitários quecombatem o pagamento depropinas. Quero salientar quesou de direita, costumo votarCOS, quando voto, portanto, aminha opinião é absolutamenteindependente de qualquermotivação de instrumentaliza­ção. Sou professor de matemá­tica e fui dos primeiros a pagaruma propina de 150.000$00,que não pagaria, evidentemen­te, caso não fosse o fundocomunitário de formação cobrirtal despesa, inerente a umcurso de mestrado na Faculda­de de Ciências da Universida­de de Lisboa.

Sou, portanto, favorável aocusto zero do ensino universi­tário público, para os estudan­tes que trabalharam para fre­quentarem o ensino universitá­rio público. Porque os outros,devido ao seu insucesso noacesso a estas universidadespúblicas, tiveram o que mere­ceram e o que as regras do jo­go determinaram: pagarem 20

ou mais contos na Universida­de Católica, Universidade Lusí­ada, etc., por mês.

Um estudante destes fica aoorçamento familiar por 100contos. E têm o que merecem,ditado pelas regras do jogodemocrático. Os que não po­dem pagar mas têm as mes­mas ou melhores capacidades,têm direito a ensino gratuito.Os que podem pagar e simulta­neamente são mais capazesque todos os outros que járeferi, ainda por maior razãoganharam o jogo pré-estabele­cido da poupança do pagamen­to das propinas.

Eu acho que todos os paralí­ticos mentais que não conse­guem entrar na universidadepública, apesar de médias deentrada de 8 e 9 valores,devem pagar e bem pelo canu­do particular.

E tenho moral para o dizer.Eu entrei para a universidadefazendo o ano propedêuticopela televisão, portanto comregras bem definidas: ou pas­sava nos exames, ou o meupai seria obrigado a pagar pro-

pinas na Universidade Católica.Em Espanha paga-se propi­

nas e os estudantes andamsempre na rua por causa dosaumentos socialistas. Mascomo dizem os espanhóis: «enPortugal no pasa nada». Nãotemos cinema., teatro, nãotemos 'movida'. Como elesfazem ideia de Portugal. Àsvezes, como na entrevista re­cente a Aznar na televisão,costumam os jornalistas per­guntar pelos países fronteiras aEspanha e enunciam: Franciae Marruecos.

As únicas elites existentesem Portugal, portanto os úni­cos pontos de modelo sociais,são os licenciados. Eu até achoque o ensino universitáriopúblico deveria ser directamen­te pago por um ministério daCultura. Não fossem os licenci­ados, e Portugal, devido à suanulidade em actividade cultural,seria um país de invertebrados,pessoas capazes de trabalharmas totalmente alheias à formade pensar -- e ao ridículo".

José Ricardo RisueíioBarroco da Cruz

Correio da Manhã 20/1/94

Page 30: Cartas ao Senhor Diretor

do regressaram e estiveram àespera da burocracia da equi­valência. Hoje já devem serespecialistas, catedráticos, edesempenham importantes pa­péis nos congressos em repre­sentação de Portugal.

Gostaria ainda de referir as«exorbitantes» reformas quedão aos professores, ao pontode, depois de fazerem grevespara obterem essas «chorudas»reformas, os encontrarmos narua e dizerem-nos: nem sei oque fazer a tanto dinheiro ...

João R. Barroso da CruzTorres Vedras

/

Os saláriosdos docentes ...VI há dias na «TIme» uma tabe­la de salários de professores doensino secundário em início decarreira .. Do nosso país, comosempre, a revista não tem da­dos estatísticos; costumam fa­zer, no caso excepcional dePortugal (onde nunca há dadosestatísticos), extrapolações combase na média por milhar dehabitantes nas regiões vizinhas.No caso desta tabela, nem essaprevisão fizeram.

Fiz então eu a previsão, combase no meu ordenado actual,que difere em oito anos de umordenado de professor em iní­cio de carreira. De qualquerforma, mesmo puxando oscordelinhos à estatística, fica­mos ao nível dos países do ter­ceiro mundo. Seja como for,um rendimento «per capita» de7 mil dólares para professoresdo liceu en início de carrreirarepresenta uma grande evolu­ção, uma grande reforma. lem­bro que em 1985, quando co­mecei a trabalhar como profes­sor de Matemática, tinha umhorário de 22 horas semanais(por sorte nunca tive aulas aosábado), mas com as aulas ex­traordinárias de apoio a alunoscom dificuldades perfazia 24horas, e ganhava 60 contos pormês. Leccionava cinco turmasde 25-30 alunos cada na faixaetária dos 14-16 anos. Possodizer hoje que foi a maior es­cravatura a que alguma vezpoderia estar sujeito. Porque asaulas de Matemática são 4-5vezes por semana para os alu­nos, o que desde logo dá umadependência de convivência euma extensa e rápida populari­dade, o que, tal "çomo as vede­tas da televisão em Lisboa, con­fere ao professor" da provínciauma profissão sem horas de ser­viço e sem férias. Note-se queagora tenho 18 horas lectivassemanais, o que me dá um diade folga, que, contudo, aindanunca foi a uma sexta ou se­gunda-feira. Mas há colegascom 16 horas lectivas semanais

e redução de 6 horas pelo cargode delegado de disciplina queconseguem horários com doisdias de folga. Portanto, traba­lham à terça, quarta e quinta.

Esta reforma dos níveis sa­lariais, com base na indexaçãoao salário mínimo, é um factorecente, data de 1989, e consti­tui uma grande vitória dos sin­dicatos dos professores. O Go­verno lavou a imágem de ter ossalários dos professores iguaisaos da Índia, ganhou votos, eficou com um buraco orçamen­tal no Ministério da Educaçãode 200 milhões de contos. Oministro demitiu-se. E os ana­listas económicos acusam oGoverno de aumentos salariaisentre 20 e 30 por cento próximodas eleições legislativas. Nossindicatos ninguém se demitiunão sei porquê. Os professoresficaram com mais 40 contospor mês, compraram as melho­res «bombas» dos «stands» aprestações, mas ficaram comas carreiras dependentes daconcretização de cursos de for­mação, subsidiados pelos fun­dos comunitários (de cinco emcinco anos, para mudarem deescalão de vencimento, os pro­fessores, agora, e por causa dospacóvios -deslumbrados des­de a infância com o carro doricaço lá do burgo - dirigentessindicais, têm de apresentar re­latórios com unidades de crédi­to dos cursos de formação).Cursos de formação que proli­feram principalmente nos fi­nais do ano lectivo. Caso não seseja admitido em qualquer des­ses cursos, melhor ainda, por­que passam o documento emcomo não se teve entrada nocurso e conta na mesma, comoas unidades de crédito.

Lembro que o ensino portu­guês nem sempre foi assim esujeito ao novo-riquismo doscursos de formação, em que osprimeiros facturadores são ospróprios sindicatos.

Os meus colegas de liceuque foram estudar para Sevi- "lha, Badajoz ou para os EstadosUnidos fizeram um figurão nosexames de aptidão e nos res­pectivos cursos de medicina.Só tiveram dificuldades quan-

• •

Expresso 29/1/94

Page 31: Cartas ao Senhor Diretor

uem partee reparte ... ·,

Emuito vulgar. agora.ouvir-se dizer o ditado:quem parte e reparte e

não fica com a melhor parte,ou é burro ou não tem arte.Talvez seja um fenómeno denovo-riquismo; ou talvez umsinal exterior de fome secular.ou melhor dito: se me coube amim este naco de bolo - quejá meus antepassados cobiça­vam com o olhar - vou defen­dê-lo com unhas e dentes.igualzinho a um lobo recém­faminto.

Chapéus há muitos - naboa tradição da paródia portu­guesa. Bolos também os há detodas as qualidades e feitios.Não compreendo. pois. tantaganância ou deslumbramentosaloio.

Os ansiosos reaccionárioscostumam pensar: mais valeum pássaro na mão que doisa voar. E assim se ficam pelamediocridade da sorte malva­da. numa pseudo-segurança­muito pessoal; sempre que ofantasma de que: quem tudoquer tudo perde. Tivessemum pouco de calma e de raci­onalidade que logo vislum­brariam o comportamento

Frenteoste

digno e altruísta. próprio dahonestidade intelectual.

Vem tudo isto a propósitodas palhaçadas que os vence­dores (em psicose) das últimaseleições autárquicas. no conce­lho de Torres. andam por aí aexibir. particularmente nos jor­nais da terra. Tudo no génerode mau gosto próprio. de quemperdeu credibilidade democrá­tica e fôlego para mandarquanto já mandou. E aí seinventa o novo verbalismo pró­socrático: se ficas tu com aságuas é porque as águas é queé bom. logo as águas vão parao Lucas. que se esforçou mui­to. para ganhar as árvores eperdeu por um negrinho deuma unha. (Assim como oministro da Saúde que viu dozea morrer em Évora e. coitado.por causa do seu esforço. lá foipara a distrital.)

O surrealismo. ou - passoa expressão - falta de clarivi­dência. tem distorções que opróprio coração não entende:quem perde ganha e quemganha não perde.Antagonismos. lugares-comuns. irracionalidades paté­ticas. paradoxos; na linha mais

3/2/94

evidente de cansaço mental ounecessidade imperiosa de pararo esgotamento.

Lamentavelmente. o surre­alismo não se circunscreve aopensamento já se si esgotado; ovirtual deste «déjà vu» projec­ta-se na rua, no quotidiano. nosjornais. São as notícias fantas­magóricas do tráfico de crian­ças no aerociube; as vacasmortas na lixeira de FonteGrada; os acidentes ridicula­mente mortais nas esburacadasestradas municipais; a bagunçada falta de policiamento nacada vez mais concorridaSanta Cruz; a guerra das crian­ças pobres. crianças ricas naEscola Primária n.!! 2; oTorreense ganhador em sonhosde noite de Verão; etc.•etc.

É oportuno dizer: não sedeixem cegar pelo autismo ...não arrastem outros numadecadência projectada em vidareal. Os Heroes dei Silencio(grupo «rock» muito popularem Espanha) é que cantamtambém: «que yo no tengo laculpa de verte caer».

José Ricardo PimelÍoBarroco da Cruz

(T. Vedras)-----.----

Page 32: Cartas ao Senhor Diretor

-:- PSeUdO.SUperauto.est~Lõures·Malveira

Quero chamar a atenção para um facto que sevive na auto-estrada A8, na ligação Loures-Mal­veira. Em primeiro lugar há que referir o não pa- I-­

o I g-am--en-to-d~e-p-o-rta-g-e-m-n-o-tr-o-ço-=-L-'-is~b-o-a--::L-oures,en-r quanto que na ligação Loures-Malveira, a empre­sa Brisa cobra a importância de 110$00 (na classeque me diz respeito, de automóveis ligeiros). Estadeterminação do pagamento da portagem saiudois dias antes da inauguração do troço, em "Diá­rio da República". A auto-estrada - neste troçoLoures-Malveira - não é obra da empresa Brisa, .mas foi-lhe dada a administração depois de con­cluída. A responsabilidade pela execução da obra éda Junta Autónoma de Estradas que adjudicouempreitadas, responsabilizando-se, naturalmen­te, pelo projecto, fiscalização e aprovação da obra.

O que se passa agora é algo de muito grave, seconsiderarmos o estado lastimoso do piso, a situa­ção ruinosa que alguns aluimentos ao nível dosubsolo provocaram, as ameaças constantes dederrocadas de pedras, etc, etc. Tudo isto em nomede um piso classificado de "superespecial", aten­dendo ao facto da sua construção em betão pré-re-forçado. t..) ,

Recentemente, um aluimento de grandes pro­porções fez com que a Brisa interditasse a circula­ção ao km 15, em duas faixas, quebrando-se assimo conceito de auto-estrada t ..).Continua-se a pa­gar portagem, embora o serviço de auto-estradaesteja impedido a meio do troço e por tempo inde­terminado. Ou seja, a auto-estrada magnífica daengenharia portuguesa, cuja construção é fiscali­zada pelos competentes directores da JAE, ao fimde dois anos, revela gravíssimos erros de constru­ção, não cumpre a função da auto-estrada paraque se destinou ... mas continua a funcionar comosaco de esmolas do pessoal dos conselhos de Mafrae Torres Vedras.

E estranho é também que a portagem se insta­lasse em Loures em vez de na Malveira - Lourestem auto-estrada gratuita e cobra a portagemàqueles que têm uma pseudo-superauto-estrada?!Parece esquisito mas não é: a auto-estrada estáem piores circunstãncias que as do terramoto deLos Angeles e os directores da JAE não são res­ponsabilizados por esta negligência. t..)

João Ricardo Barroco da CruzTorres Vedras

públieo 27/2/94

Page 33: Cartas ao Senhor Diretor

o oásis cheçoA REVISTA «L'Express» [24/2194] publica (em oito páginasde informação paga pelo gover­no checo) matéria que dá quepensar a qualquer português. SePortugal é um oásis na Europa,então a República Checa é decerteza o céu - do ponto devista moral.

Sujeita à angustiante opres­são comunista, pátria de figurashistóricas irf\>ejáveis,a Repúbli­ca Checa nunca teve fundos co­munitários da União Europeia eno entanto é bonito ver comodeu a volta ao seu destino comdignidade ..

Para o actual primeiro-minis­tro, Vaclav Klaus [VK], oschecos retomaram o caminho deacreditar. Diz o primeiro-minis­tro que a economia checa pro­vou a capacidade própria de re­sistir aos rudes choques exter­nos, à divisão e ao afundamentodo Comecon; e adianta que oobjectivo é tornar-se igual à Su­íça ou à Áustria.

VK explica a sua terapia dechoque, que baixou a inflação de50 para 10 por cento em apenastrês anos: política monetária pru­dente, liberalização dos preços edos câmbios e cortes nos subsí­dios. E privatizações: as maismaciças dos países de Leste. Asegunda vaga de privatizaçõeslevará a que seis milhões de pes­soas passem a proprietárias dedez acções de cerca de 878 em­presas, pelo valor de aproxima­damente seis contos (o saláriomédio mensal é de 40 contos), aprivatizar na Primavera. Já em

1992 quase 6 milhões de checostinham comprado também des-·tas acções. «Pedra angular datransição económica», segundoVK, esta operação (realizada avelocidade estonteante) modifi­cou a imagem do país: «metadeda actividade económica estáagora e no futuro em mãos pri­vadas», como afirma o ministroda economia, Karel Dyba. Opro­cesso provocou a activação deum sector financeiro que, graçasàs bolsas francesas, reconverteuem cinco meses, desde Abril de1993, a Bolsa de Praga: de ape­nas sete sociedades cotadas pas­sou a mais de 350.

O turismo é naturalmente flo­rescente: 70 milhões de visitan­tes, sendo 12 milhões turistascom vários dias de permanên­cia. Os atractivos são a diversida­de das paisagens, a riqueza artís­tica, o termalismo, o turismo decompras com centros comerci­ais internacionais em Praga eBrno, estações de fim de séculona verdura das colinas da Boé­mia, os palácios e a ex-Checos­lováquia que em 1938 era a 6!potência industrial do mundo.

De facto, há quem na Europase levante do chão apenas e sópelos próprios meios. A Repú­blica «Tcheque» não é um país«handicapé» .João R. Rlsuello Barroco da Cruz

Torres Vedras.•..•. ' ...

Expresso 12/3/94

Page 34: Cartas ao Senhor Diretor

Vocacão/ .béín definida

"V enho responder a trêsilustres leitores que em,M3 res­ponderam à minhà carta de10/2, intitulada «Contra as pro­pinas».

Eu sou contra o pagamentode propinas no ensino público,pelas razões lógicas que enun­ciei no conteúdo da minha car­ta ..E não sou o único cidadãoportuguês, a pensar destamaneira, e com forma idêntica.

Em segundo lugar esclal1!çoque a minha vocação profissio­nal foi sempre de professor dematemática. Fiz exames públi­cos no 112. ano, antigo 22. anodo curso complementar, fican­do com as melhores classifica-

ções, mesmo superior às dosmeus colegas dispensadosdesses exames.

Fiz exame de acesso aoensino superior, em duasfases, no extinto ano propedêu­tico - invenção do socialismovigente -, portanto em ensino adistância, com apenas 18 anos,obtendo a classificação dedezanove valores em cadauma das provas de matemáti­ca.

Naturalmente que me inscre­vi para um único curso e parauma única faculdade e entrei,em primeira fase, com médiade 16 valores.

No que diz respeito àsminhas qualificações pedagógi-

cas elas foram bem avaliadasno estágio pedagógico que rea­lizei, com 32 aulas assistidas,num liceu de Lisboa.

No ano transacto apresenteium relatório onde consta toda aminha actividade profissionalnos últimos 5 anos e que éobrigatório, agora, para se tran­sitar de escalão.

Portanto, a minha atitudeprofissional está bem definida,corresponde a uma opçãovocacional e para além do maisestá quantificada em termos dequalidade. (...)

João RicardoRisueíio Barroco da Cruz

(Torres Vedras)

Correio da Manhã 18/3/94

Page 35: Cartas ao Senhor Diretor

/~v- A taxa/

/de saneamentoESTIVE na semana pas­

sada na cidade daGuarda e fiz empenho

de verificar a cobrança dataxa de «Saneamento», porparte da Câmara Municipal daGuarda; no caso específico demeu familiar - residente noLargo S. João, tambémconhecida por Praça AugustoGil, no centro da cidade.

O recibo assinado peloPresidente da Câmara e peloTesoureiro da Câmara faz acobrança, em 1994, da l.ªprestação de 635$00 e a 2.!prestação também, evidente­mente, de 635$00; para umapartamento de 1986, com 4assoalhadas, situado - comojá referi - no centro da cida­de.

(Tudo bem na cidade daGuarda. Parabéns SenhorPresidente Abílio Curto).

O mesmo já não se diráda nossa cidade de Torres.

Os serviços municipali­zados da Câmara Municipalde Torres Vedras, no casoespecífico do meu aparta­mento de S~mtaCruz - sitono largo do cinema, tambémno centro da localidade -,de 1987,rendeu, em 1993­o ano passado -, aos servi­ços municipalizados, uma I.!prestação de 1033$00e uma2.ª prestação de 1034$00(imagino que o computadordaqueles serviços esteja comalgum erro digital). Este

apartamento é de duas assoa­Ihadas.

Mas o mais escandaloso éa cobrança de 8 contos presta­ção (ou seja, 16 contos ano)aos apartamentos compradosem 1994. Na mesma rua umapartamento de 1987paga 3contos ano e um apartamentode 1994paga 16contos ano.Sendo a mesma rede de esgo­to.

O pior é ainda o descon­trolo da cobrança da taxa.

Pois, se o administrador dosserviços entender cobrar taxasde 50 contos ano, aos aparta­mentos de 1995, ninguémcontestará.

Tudo depende do big­bang.

Os mais reaccionários jápodem comprar, um aparta­mento antigo, com a única eexclusiva razão de que pagamenos taxa de esgoto.

João Ricardo da Cruz

Frenteoste 21/4/94

Page 36: Cartas ao Senhor Diretor

Democracia "'\iersus"Estado de Direito

Não há atitude mais, detestável do que gritaraos quatros ventos, a culpabilidade de outrém. E

preciso consiâerarque-só-há demOOl'acia-Se.existixum estado de direito. Portanto para se acusar al­guém é preciso recorrer às instâncias respectivas,normalmente os tribunais. Os tribunais, num es­tado de direito, são absolutamente respeitáveis erepresentam, naturalmente a racionalidade o ci­vismo e a calma própria do normal comportamen­to humano.

Quantos malfeitores não estarão ~m liberdadepor mero erro for mal de acusação? E assim a de­mocracia. Ou se fazem os processos segundo a le­gislação o então ajustiça não aceita, as exaltações,as bocas, as ansiedades, os fanatismos, as para­nóias, as bagunças gestuais são atitudes fora doâmbito de um estado de direito, ou seja são sim­plesmente excessos de álcool.

No filme "Em Nome do Pai" vê-se a que pontoa justiça inglesa é respeitada. Os acusados, incri­minados pela polícia do estado - apesar de osagentes saberem da inocência - para contrapor àmortandade de cidadãos ingleses por causa dasbombas do IRA, em 1974, estiveram 17 anos nacadeia, :gorque não conseguiram provar essa ino­cência. E assim, os indiciados, por parte dajusti­ça, de alguma falta têm que provar a sua inocên­cia.

É absolutamente lamentável assistir a verbor­reias de fanáticos a mandarem bocas por contaprópria. RefIro-me, por exemplo, aos tontos quevão assistir a jogos de volei):)OI,basquetebol, hó­quei, em recintos fechados. E frequentemente emjogos ofIciais ouvirem-se bocas ao árbitro do tipomais moderno: ó palhaço vê lá se abres os olhos,vai-te embora ó meIga, etc. Nunca ouvi bocas des­tas em jogos de ténis, porque o público é mais se­lecto. Casca grossa é casca grossa C .. )

Se alguém tem provas contra alguém que acu­se no tribunal. Se o árbitro de um desafIo não foijusto acho muito bem que se filme o caso e se apre­sente a queixa fundamentada na respectiva fede~ração.

Agora justiças populares de nervos à flor dapele é que não se compadecem com um país da co~

munidade europeia. É uma atitude que choca aspessoas educadas, responsáveis e capazes de secomportarem decentemente.

João Ricardo Rusueiío Barroco da CruzTorres Vedras

Público 2/5/94

Page 37: Cartas ao Senhor Diretor

Sp ra tudo"De há alguns anos a esta parte,

surgiram em todos os estratos soci­ais portugueses, os iluminados pela«postura» do IRS.

Já vi altos dirigentes políticos afir­marem que só haveria ética na polí­tica se todos os políticos mostras­sem publicamente a declaração doiRS. Pasme-se que, no dia seguinte,muitos políticos mostraram a suadeclaração, mas quem atirou a pri­meira pedra não a mostrou. Chegouà legalidade que, afinal, não eraobrigado a mostrar.

Já vi distribuir refeições a criançasda escola primária, em função dadeclaração do IRS.

Já vi cobrar propinas, no ensinouniversitário público, de acordo coma declaração do IRS do «encarrega­do de educação». Pasme-se que amaioridade está consagrada na leiportuguesa como «cidadão portu-

guês com 18 anos de idade». Logo,nenhum estudante universitário tem,de facto, rendimentos.

Suponhamos que aparece umdaqueles muito zelosos defensoresda seriação do IRS que diz: «Poisbem, se é assim, muito bem, quemrecebe abono de família tem deapresentar a declaração do IRS doagregado familiar». Pois bem, queapresente. Mas a ver se não énenhum estudante de Vila Real deSanto António, que não foi estudarmedicina para Sevilha; ou seja, estu­da Farmácia em Lisboa.

Que eu saiba, o IRS não traduzas despesas de transporte, em via­gem expresso -- que é a mais bara­tinha --, nomeadamente neste caso,em que ver a família custa, no míni­mo, três contos por fim-de-semana.Portanto, temos um IRS - Pinóquio.Talvez melhor, um IRS - PP, que-

rendo dizer IRS - Pinóquio e Pregui­çoso.

Mas, para os apanhadinhos peloIRS, eu até sugiro a feitura de umnovo organigrama. Com este é quetoda a gente vai ficar completamen­te ...

Porque não subsidiar a troca deautomóveis com mais de 10 anos deuso, à nova fábrica de Setúbal?Tudo conforme a declaração do IRS.Por exemplo: quem ganha 1.500contos anuais tem direito a um des­conto de 100 contos na compra deum carro Ford-Volkswagen; quemganha 2.000 contos, tem direito a 85contos, e assim sucessivamente. (Opróprio Governo francês já está aaplicar uma fórmula semelhante)".

João RicardoRisueíio Barroco da Cruz

(Torres Vedras)

Correio da Manhã 5/5/94

Page 38: Cartas ao Senhor Diretor

Taxas de esgotosSenhor Director:

, No dia 28/3 recebi o

aviso n,o 3548 dos serviçosmunicipalizados da CâmaraMunicipal de Torres Vedras(com data de emissão, ­pasme:se! -, de 1I4), parapagamento da taxa anual deconservação de esgotos. Eque taxa!!! Pois não é que ovalor da 1." prestação é de8.414$00 e o valor da 2."

prestação, igualmente, de8.414$00, totalizando o valora pagar, naturalmente, de16.828$00!

Pergunta-se: é muito oupouco? Comparemos com oano transacto, ou seja 1993.

Em 1993 recebi o avison.o 3595 emitido, também, ­em 1/4 com as seguintesprestações a pagar: 1."presta­ção 1.033$00, 2." prestação1.034$00.

Portanto aumentou de

1993 para 1994 de um totalde 2.067$00 Para um total de16.828$00.

Os recibos têm a assina­

tura do admínistrador respon­sável pela gestão económica­-financeira Francisco ManuelCosta Fernandes.

Não é brincadeira nenhu­ma. Em face do 'buraco'

orçamental camarário opta-sepelo aumento desenfreadodas taxas dos serviços muni­cipalizados. À revelia dainflação nacional. Portantoficamos desde já a perceber,perfeitamente, que quando acabeça não regula, os torrien­ses é que p~gam.

O mesmo acontece com asisa, nomeada'mente com asespantosas reavaliações dascasas dos outros.

Costuma dizer-se quecada um tem aquilo quemerece. Parece-me que os

torrienses mereciam, pelomenos, mais respeito e maisesclarecimento sobre os gas­tos e os aumentos camará­rios .•

José Ricardo Risuefio Barroco da Cruz

Badaladas 6/5/94

Page 39: Cartas ao Senhor Diretor

A crise do socialismoo outro dia li no jornal El

País um artigo de opinião deum catedrático em sociologia

da Universidade Compluten­se de Madrid, que reflectia aduplicidade da linguagemactual dos políticos espanhóis,particularmÉmt<>..,nodiscursode Felipe González.

Parece-me, aliás, um fenó­

meno evidente de parlamen­tos sem maiorias absolutas, ofacto de o primeiro-ministro,pendurado no caso concretode Espanha, González de­pender dos votos do PartidoNacionalista Basco e do CiU,Partido Nacionalista Catalão;resiste quanto pode, antes quevenha a maioria do PartidoPopular - até ao ano 2000 etal-, com base essencial noverbalismo. Ou seja, FelipeGonzález aguenta-se, porenquanto, no Poder, apenassustentado em palavras, poisque o seu Governo há muitoque se esgotou em ambição eem normalidade, simples­mente porque perdeu a confi­ança das maiorias absolutas.

Mas a própria crise do soci­alismo europeu tem raízesque têm mais a ver com anatureza humana, propria­mente dita, doque como pseu-

dodiscurso (reaccionário) da per­qa dos valores de solidariedade.E evidente que quem se afogaagarra-se obstinadamente aopescoço de quem oquiser salvar,Mas o socialismo tal como eranão tem salvação. E parece-medemagógico comparar o ódio dosnacionalismos, xenofobismos, ra­cismos, ou a guerra civil da Ju­goslávia, actuais, com a dimen­são da guerra fria, quando todosos cidadãos do mundo pensa­vam, pelo menos uma vez porsemana, que poderia haver umaguerra nuclear. Além disso oódio da luta de classes dos regi­mes marxistas é dos piores ódiosda história da humanidade.

DizNietzsche emParaAlém

do Bem e do Mal que «a degene­rescência global do homem atéàquilo que é considerado peloscretinos e boçais socialistas comoo seu homem de futuro - seuideal! -, essa degenerescência eamesquinhamento do homematé ao perfeito animal de reba­nho (ou como eles diriam, até aohomem da sociedade livre), essabestialização do homem até con­verter-se ao animúnculo dos di­reitos iguais e reivindicaçõesigualitárias (...)". -

Mas Nietzsche dizia bastan­te mais sobre este tema das

ideias socialistas,«a quem odeioeu mais entre a chusma destasfezes? À canalha socialista, aosapóstolos de Chandala, queminam no instinto o prazer, ocontentamento do operário demodesta existência, que tornaminvejoso o operário, que lhe en­

sinam a vingança ... A injustiçanão se encontra nunca nos di­reitos desiguais; encontra-se napretensão aos direitos iguais ...O que é mau? Tudo o que temorigem na fraqueza, na inveja,na vingança.,.

Actualmente o socialismo émuito mais malicioso do queaquele que Nietzsche tantodesprezava, agora o socialismoinventa os pobres! Para conti­nuar a luta antiga, os socialis­tas actuais inventam os pobrese os proletários, que só se en­contram realmente numa ima­ginação psicótica. A vertigemdestes socialistas leva-os a ig­norar os «pobres» que não vãovotar para passarem uns diasde férias no Algarve e a confun­di-los com o pobre que pedeesmola na praça e deve ganharuns doi~ contos por dia em es­molas. E mais malicioso o soci­alismo agora, porque defende ocínico. Tudo o que vem à rede épeixe. A distribuição da riqueza

do Estado confunde-se cadavez mais em Portugal com ascorrupções dos sindicatos dosEstados Unidos dos anos 60,quando Kennedy pergunta­va aos grevistas: o que é quederam vocês à América parapedirem tanto à América?

Já toda a gente ouviu dizer:mas quem é rico agora? Asempresas com muitos operá­rios estão falidas por causa dotudo o que vem,à rede ... dostrabalhadores. E ver as tris­tes figuras dos gestores des­tas empresas obrigados a em­

penharem o seu prestígio pro­fissional e tradição familiar,para tentarem ostentar onome das empresas e qual­quer funcionariozeco bancá­rio dizer: olha aquele que erarico está cheio de cheques semcobertura, e toda a gente mur­mura já: ricos ricos, isso já

ninguém sabe quem é que érico! O socialismo actual temesta terrível duplicidade, porum lado vê pobres por todo olado, mas é dificil encontra­rem efectivamente tantos po­bres. Algo não bate certo nes­ta contabilidade dos pobres .•

João R. R. Barroco da CruzTorres Vedras

o Diabo 19/6/94

Page 40: Cartas ao Senhor Diretor

B•

a para glncanas'

"A fotografia mostra bem aspotencial idades e característi­cas turísticas do concelho deTorres Vedras. Nem mais nem

menos, aquele prédio é ore'quintado Hotel Golf-Mar,que, como o nome indica, tempara o lado de cá um bonitocampo de golfe, nas margensda foz de um rio calmo, ondese passeia de «gaivota» nosgrandes dias de calor.

Ao pé do hotel, vemos aspiscinas aquecidas, e maisabaixo encontramos o picadei­ro e, claro, um pouco para adireita, na estrada particular,para aí a um quilómetro, está aestância termal do Vimeiro,com fontes de água de trata­mento. Como se vê, para ondequer que se olhe, encontramosbeleza, saúde, campo, rio,turismo, praia ...

No lado esquerdo da foto­grafia, vemos as dunas da Iin­díssima Praia de Santa Rita,pois aquelas casinhas, ao pédas dunas, são os balneários eo restaurante da praia. Bom,para aí a uns 500 metros parao lado direito, de onde vêm oscarros, há uma ponte; para olado esquerdo da ponte, há

uma ruazinha de restaurantes há uma duna onde o pessoal«que nem o Bairro Alto de Lis- do motocross se diverte e trei-

~_ boa», com vista para a foz do na. Do lado direito há agricultu-. rio e para o mar. ra moderna, com estufas último

Esta estradita que liga a modelo. A seguir às dunas, doPraia de Santa Rita à Praia de lado direito, há uma urbaniza-Santa Cruz, numa distância de ção muito bonita.uns quatro quilómetros, está Só falta explicar as gincanasum pouco esburãcada:(E-u--aaq'ueles três carros. De facto,costumo andar de motorizada a Câmara de Torres não arran-

neste trajecto). Aqui mesmo, ja este troço, parece-me - jáem primeiro plano, onde estaci- ouvi umas bocas - por causaonei a mota, do lado esquerdo, deste espaço constituir alterna-

tiva de aterragem às avionetasdo Aero Clube de Santa Cruz.

De qualquer modo, não estácerto, as condições em que sefaz aquela «travessia do deser­to». Por mim, nem me afecta,porque como costumo andar alide motorizada, até parecemotocross.- Mas os carros

fazem ali cada pirueta!".João Ricardo Risueíio

Barroco da Cruz

(Praia de Santa Cruz)

Correio da Manhã 7/7/94

Page 41: Cartas ao Senhor Diretor

Qúase o paraíso

Uma paisagem idílica que esconde alguns pontos fracos (foto enviada pelo leitor)

"Esta fotografia descreve o panorama do rio doVimeiro. Claro está que foi tirada de uma ponte,de cimento por onde passam os carros. A ponte"índia» que se vê dá travessia ao pessoal do"green» de golfe.

A paisagem é geologicamente granítica, commontanhas de calhaus rolados. O rio é calminho,apesar de se tratar já da sua foz. Evidenciam-setambém os postes de electricidade, uma casaisoladíssima, mesmo ao fundo e ao alto, algumassombras e outros pontos cinzentos ou brancos.Esta descrição pictórica vem a propósito do con­seguido enquadramento arquitectónico da urba­nização. De facto, o contraste de branco negro, aestrutura de fachada em cascata, as chaminéscondizentes, a área, a altura e, principalmente, ovolume, proporcionam uma visão agradável enatural da paisagem.

Bom, enquanto me limitei a descrever, pareceque temos ali o paraíso; não é bem, mas quase.Em narrativa, os protagonistas desta paisagem,ou seja, os moradores daqueles apartamentos,ou os transeuntes, têm alguns pontos fracos aapontar, quais sejam: os acessos à urbaniniza-

Correio da Manhã

ção, a completa falta de policiamento, a poluiçãodo rio e algum cheiro etílico da poluição.

Eu, por exemplo, já tive apalavrada uma canoapara passear no rio, só que ninguém utiliza umacanoa em água poluída, por isso lá estão, paracá da ponte, as gaivotas, que se alugam a 300escudos a hora e que permanecem estacionadasna margem, todo o verão.

Aliás, na região Oeste há situações vulgaresde rios poluídos; estou-me a lembrar do rioSizandro, onde os mais velhos dizem que játomaram bons banhos, quer nas termas dosCucos quer na sua foz, ali para a praia deCambelas.

Mas resta ainda uma réstea desses temposáureos dos nossos rios, a praia do rio Lizandro,mesmo lá em baixo da discoteca S.A., um poucopara lá da Ericeira. O outro dia, no inverno, apa­receram, no entanto, já, uns peixes mortos, o queaugura um futuro parecido com estes rios conde­nados às descargas das fábricas".

João Ricardo Risueíío Barroco da Cruz(Torres Vedras)

23/7/94

Page 42: Cartas ao Senhor Diretor

Loures

não se importaliA .políticafiscal no nosso País ga­nhacontomosde retomoao séc. XVI.·

Antigamente, os governos auto­financiavam-se com os impostos uni­versais - e para isso se criou a gran­de máquina computorizada decobrança de impostos - ou com aemissão de títulos de dívida pública.Agora descobriu-se uma nova manei­ra, que deixa muito a desejar a éticada autoridade, de licenciar impostos:aplica-se uma taxa de passagemnuma ponte ou numa estrada pseu­do-renovada.

Por exemplo, a Ponte Salazar datrês milhões de contos por ano, masbem conversadinha pode dar mais,até ao infinito. Claro que os (...) de

Almada refílam imediatamente ...Pronto, não se paga em Julho e ficatudo em meias tintas.

Mas nem é a situação mais grave;por exemplo, a maior incompetênciada engenharia de estradas portugue­sa, a auto-estrada Malveira-Loures(A8) tornou-se num autêntico caça-

. níqueis, mesmo na sua situação ver­gonhosa de inoperacionalidade parci­al, ha meses, bem assim como defonte de acidentes devido às saliênci­as do betão alcatroado.

A situação aqui é muitíssimo maisinjusta,porquese paga 110$00para láe 110$00 para cá, portanto uma porta­gem de 220$00, agravando-se para odobro quando, em 1995, estiver con­cluído o troçoTorresVedras-Malveira.

Só que o caricato da situação éque ninguém refila, nem ninguém fazdesobediência civil, nem há palhaça­das televisivas, nem se forma a gran­de frente partidária dos motards, por­que simplesmente o troço de auto­estrada Loures-Lisboa nunca pagoutaxa de portagem, e mais a maisLoures beneficia dos empregos dacobrança de taxa de portagem aopessoal de Mafra (Câmara PSD) eao pessoal de Torres (Câmara PS).

Portanto, Loures (Câmara APU)pode, neste caso, muito bem com omal do pagamento de portagem dosconcelhos vizinhos".

João Ricardo RisueíioBarroco da Cruz(Torres Vedras)

Correio da Manhã 4/8/94

Page 43: Cartas ao Senhor Diretor

Pescar polvosAlgumas pessoas, para passar o tem­

po, dedicam-se a pescar. Acho um desportobonito, saudável; eu próprio passava horasna marginal de Lourenço Marques a pes­car, mas os peixes que pescava dava-os aocontínuo do serviço do meu pai. Pescar éum desporto, caçar também é um desporto.Na caça os ambientalistas conseguiram:reservas de caça, períodos de caça a deter­minadas espécies, proibições de caçar ou­tras espécies, concessão, por parte das câ­maras, de licenças de caça, etc. A pesca

parece e está ao livre arbítrio de qualquerautodenominado pescador. Ninguém vêgrande mal nos pescadores da marginal nalinha de Cascais.( ...)

Conta-se entre pescadores uma históriaalegórica do ambiente saudável que predo­mina entre alguns desportistas da modali­dade: um pescador ia todos os dias à pescanum rio perto de casa e nunca pescouqualquer peixe. Um dia pôs o isco no anzol,lançou o peso para o meio do rio, prendeu ocarreto, pousou a cana com o fio esticado e,como sempre, esperou que nenhum peixemordesse aquele anzol. Qual não foi o seuespanto, a extremidade da cana deu três

fortes abanões. Pegou rapidamente a cana,

puxou-a e esperou ansiosamente que apa­recesse o peixe que nunca na sua vida tinhapescado. Finalmente surgiu o peixe ver­gando completamente a extremidade dacana. Era um peixe de um quilo. Despren­deu-o, guardou as coisas e foi a correr paracasa mostrar o seu troféu. Grelharam o

peixe, comeram-no, mas ... aquele pescadornunca mais foi visto a pescar, talvez porquefinalmente quebrou o enguiço de apanharum peixe. Esta história diz bem da ética dopescador desportista.

Na praia de Santa Cruz, este ano, não seise será um ano de fome, vê-se um aglome-

rado de pessoas, com varas de picar asrochas, na baixa da maré, a dizimar os

polvos que vêm para os rochedos. Nenhu­ma organização ambientalista do concelhoainda se referiu a esta corrida desalmada

aos polvos. Eu, em Santa Cruz, como pelomenos uma refeição de polvo. Mas, evi­dentemente, compro-o; nunca fiz a triste

figura de ir com um pau picar um polvo norochedo. Até porque é perigoso caminharnos rochedos na baixa-mar.

Conclusão: espero continuar a poder

comprar o delicioso polvo da praia deSanta Cruz por muito mais tempo.

João Ricardo R. Barroco da Cruz

D·'· d ~T t~ .~arl0 e ~O ~c~as 14/8/94

Page 44: Cartas ao Senhor Diretor

nado, o seu filho Príncipe D.Luis Filipe foi igualmenteassassinado. Passados doisanos e meio, o Rei D. Manuele toda a Monarquia Portugue­sa foram enviados para Gibral­tar e nunca mais ninguém lhespassou cartão.

Bom, mas como ia dizendo,aEriceira orgulha-se do seurequinte aristocrático, pois queos banhos que ali tomaram tan­tos reis e rainhaslhe deram essetom, que se vê ser muito próprioe impermeávelàs massificaçães.A Ericeiradá lições de aristocra­cia a toda a gente.É por isso queeu gostotantoda Ericeira".

João Ricardo RisueiíoBarroco da Cruz(Torres Vedras)1-

am rumar a Espanha, mas tal,de facto, nunca foi hipótese).

O embarque fez-se no dia 5,pelas três horas, nas Ribas,com um «au revoir» da maiscorajosa dos três, a Rainha D.Amélia, e parece que acres­centou: «Nous reviendrons».De facto, a Monarquia Portu­guesa viveu, depois desta rup­tura à francesa, no exílio, priva­da essencialmente de umadigna liberdade de expressão,apesar da sua correcção deactos, da sua compostura, doseu respeito pela vontadeexpressa unicamente nas ruas(pois que o Partido Republica­no era à altura minoritário), eenfim do seu comedimento abem única e exclusivamente davontade do povo português.

O Rei D. Carlos foi assassi-

m .Iouvor da Ericeira

A Ericeira nãoesqueceu o

embarque dosreis, momento

culminante dosseus encontroscom a História

Particularmente, dois dos livrosque comprei (no total para ostrês livros gastei à volta de4.500 escudos) referem-se aosacontecimentos de 3, 4 e 5 deoutubro de 1910, a quando daimplantação da República,especificamente focam a ida doiate real de Lisboa para a Eri­ceira, a fim de embarcar a Rai­nha D. Amélia (mulher do fale­cido Rei D. Carlos), a RainhaD. Maria Pia (mulher do Rei D.Manuel 11,último Rei de Portu­gal), e o próprio Rei D. Manuel,para o Porto, o que não veio aacontecer, pois o desenrolardesta tragédia grega determi­nou que o iate seguisse o rumode Gibraltar, ainda assim pelomotivo de tratar-se de umacolónia inglesa (note-se que osmonarcas portugueses poderi-

"Para mim, não há ninguémque não conheça a Eriçeira.Aos meus olhos, a Ericélra é aterra mél.$ simpática, bonita,discreta, com vida própria, chi­que, com os melhores quequesdo mundo, o mais saborosoarroz de marisco do planeta, asruas mais cosmopolitas, asesplanadas mais poéticas, aarte (aguarela) mais naif, comas prainhas mais acolhedoras(nunca ouvi dizer que alguémse afogasse na Ericeira), é sim­plesmente tudo em dimensõesapropriadas e sem repetições.

Só faltava, para ainda maiordeslumbramento, que houves­se a primeira Feira do Livro daVila da Ericeira. Eu estou per­feitamente maravilhado com oslivros que comprei. Foram trêslivros (lembro .que a Feira sótem duas lindíssimas barraqui­nhas): «Da Ericeira a Gibraltarvai um Rei», de Femando Hon­rado; «Anais da Vila da Ericeira(Registo cronológico de acon­tecimentos referentes desde1229 até 1943}», de J. O'Olivei­ra Lobo e Silva, e «Embarque(Um Dia na História de Portu­gal)>>colectânea de documen­tos com prefácio do'Sucessorao Trono de Portugal) D. Duar­te.

Evidentemente que a Feirado Livro da Ericeira tem quever de alguma forma comacontecimentos da própria Vila.

Correio da Manhã 16/8/94

Page 45: Cartas ao Senhor Diretor

o inimigo mais fácil \ ._"É contraditório o sentimento, um

pouco fanático, anti-espanhol de algu-, mas mentes portuguesas mais esclero­

sadas. De facto, se D. João IV, Rei de

Portugal, restaurou a independêncianacional da ocupação espanhola, noséculo XVII, não é menos verdade que ojovem D. Manuel 11, infante feito rei porassassinato do Rei D. Carlos e de seu

filho, o Príncipe Herdeiro Luis Filipe, foiafugentado de Portugal pelos republica­nos minoritários, vivendo exilado o resto

da sua vida em Inglaterra, às esmolas damonarquia britânica, na companhia desua mãe, a Rainha D. Amélia, e de suaavó, Rainha D. Maria Pia.

Portanto, em Portugal, falar de legitimi­dade é o mesmo que dar legitimidade aoúltimo gang que assalta o poder e aí con­segue permanecer por longa data.

Mas se a legitimidade do poder portu­guês tem os seus quês de rebeldiasconspirativas, as mentes anacrónicasparadas na revolução de 1385, na ima­gem da padeira a bater com a pá de tiraros pães nos afugentados espanhóis,essas reclamam um inimigo. Portugalnecessita de um inimigo. E o único inimi­go, o mais fácil de encontrar, é o vizinho.Então inventa-se o inimigo espanhol paradefender as ainda não desmobilizadas

forças armadas da guerra colonial, paracoçar o umbigo na praia quando não setêm hábitos de leitura, ou simplesmenteporque'o Real Madrid perdeu com o Ben­fica há 20 anos.

Apesar das viagens a Badajoz paracomprar rebuçados e bonecas, a Ceutapara COmprar os casaquinhos de pele,alguns teimam em hablar un castelhanomacarrónico e debitar baboseiras da

anexação da Galiza, ou do interesse des­mesurado de Espanha pela ocupação dePortugal por meio do mercado financeiro.

Eduardo LQurenço, único intelectualvivo português, além de Miguel EstevesCardoso, diz no seu livro "A EuropaDesencantada», ed. Visão, de 1994:"Preso por ter cão e preso por não o ter.Durante anos foi uma lamúria permanen­te, um queixume pelo desconhecimentomais ou menos voluntário a que a nobreEspanha nos votava. Ago'ra que os nos­sos autores começam a circular na casavizinha como se fosse própria e às vezescom mais sucesso (Pessoa tem hojemais leitura em Espanha que em Portu­gal), surge o temor diante de tão ecumé­nica capacidade de nos amar em exces­so para nos devorar. Na verdade, o quedevíamos lamentar é o facto de que oconhecimento de Portugal por Espanha,hoje em fase realmente nova e não ape­nas retórica, deixe ainda a desejar".

Até o Eduardo Lourenço, intelectual deesquerda, acha pateta a reserva mentalde alguns portugueses relativamente aEspanha".

João Ricardo RisueíioBarroco da Cruz

(Praia de Santa Cruz)

Correio da Manhã 29/8/94

Page 46: Cartas ao Senhor Diretor

Hábitos negrosNuma das últimas edições

O Independente titulava deforma crítica a segurança deSua Excelência O Primeiro

Ministro, quando se desloca àpraia.

Vai para dois anos vi OSenhor Primeiro Ministro na

inauguração do auditório Be­atriz Costa em Mafra e parti­cularmente fiquei impressio­nado com a displicência outotal ausência de segurançaquando estacionei o carrofrente ao Convento de Mafra

ou acompanhei a pé o cortejo,desde o auditório até ao Con­

vento. Estive mesmo para es­crever ao Senhor Ministro da

Administração Interna aler­tando-o para a ingenuidadecom que"me pareceu situar-seo sistema de segurança parauma alta individualidade doEstado em visita oficial.

Parece-me que o SenhorDirector terá analisado mal a

questão da segurança do Se­nhor Primeiro Ministro. Efec­

tivamente quando se deslocaà praia O Senhor PrimeiroMinistro não pode (e assim sevê quem tem realmente almade nobreza) sujeitar banhistasindefesos a eventuais ataquesterroristas. Pode por momen­tos dar uma imagem menosboa de «falta de humildade»

mas eu, por exemplo, não fi­caria bem de consciência, se

não analisasse pela positiva aatitude do Nosso Primeiro

Ministro. Há já tão poucosgestos nobres de se pensarprimeiro nos outros antes dese pensar em nós própriosque não devia deixar de rele­var a perfeita dignidade.

A não ser que o SenhorDirector, de facto, tenha aideia do Padre Gregório deque não há pessoas más e porisso, a partir de hoje, por cau­sa de um milagre de NossaSenhora, todos os terroristasnão mais conseguirão fazerqualquer tipo de maldade.Nesse caso beatífico e só nes­

se caso poderá V. Ex". garan­tir que O Senhor PrimeiroMinistro não corre perigo deatentados nem, evidentemen­te, os banhistas que queremcumprimentar o seu Chefe deGoverno.

Por hipótese e filosofiatambém pode ser que aconte­ça o que Umberto Eco relatanas págs. 49, 50 da 3" ed. Di­fel de Viagem na IrrealidadeQuotidiana: «Uma das rapari­gas explica que os animais,tradicionalmente ferocíssi­

mos, são, pelo contrário, mui­to dóceis quando encontramum ambiente agradável eamigo, e convida as criançasa virem ao palco fazer-lhesfestas. A emoção de fazer fes­tas a um tigre-de-bengala nãoé de todos os dias, e o públicorespira bondade ecológica por

todos os poros ... De formaque a essência final desteapólogo sobre a bondade daNatureza é o AmestramentoUni versa!» ..

Claro está que quem ga­rantir finalmente o amestra­mento dos terroristas interna­cionais à causa da bondadehumana deve merecer desde

já o Prémio Nobel da Paz.João Ricardo Risueiío

Barroco da Cruz

o Independente 2/9/94

Page 47: Cartas ao Senhor Diretor

Estrada de Sta.'

Cruz noPDMSenhor Director:

Venho por seu intermédiofelicitar o nosso Presidente da

Câmara pelo facto de incluir no

PDM a construção da nova es­trada Torres Vedras-Santa Cruz.

Evidentemente que sofrerápressões de jornalistas, de cole-

- gas de partido, de autarcas, deamigos, para que a estrada passeperto da casa deles, ou para quenão tire o movimento ao restau­

rante ou à localidade, ou quedesfavoreça a importância políti­ca de um lugar, etc.

O Senhw Presidente terá

bem presente que são precisaspelo menos duas estradas, quan­do, já para o ano que vem, com anova auto-estrada, Loures eOdivelas fizerem de Santa Cruz

a sua Costa da Caparica. Torresvai mudar com a auto-estrada e

as mesquinhezas do passado nãoterão mais lugar quando chegar aavalanche do pessoal da zonasuburbana norte de Lisboa. É oúnico desenvolvimento natural

para Torres, 'tudo o resto é lutar

contra o progresso, próprio dosreaccionários....ou dos que têmmedo do novo. Quem não dá·

cabo dos medos acaba por mor­rerde medo.

Claro está que faltam infra­estruturas na Praia de Santa

Cruz, mas o próprio progresso,que vem aí dentro de dois anosarrastará inevitavelmente os res­

ponsáveis para a construção deinfra-estruturas.

Eu não li o PDM mas, espe­ro sinceramente que não privile­gie a construção de clube deempresários em vez de piscinascamarárias ou da construção de

um pavilhão gimnodesportivomunicipal. Ou que continue osilêncio cultural da cidade com a

falta de dinamização do auditó­rio municipal e da biblioteca,sabendo-se dos exemplos daCâmara do Seixal neste campoespecífico ou da Câmara deOeiras ou Sintra no campo musi­cal. (O Senhor Presidente deviater ido ver o concerto dos

Madredeus na Praça Bocage, emSetúbal e noutros locais por todoo País e veria que Torres Vedrasestá à margem destes aconteci­

mentos não se sabe porquê).. Para não falar no apagamento do

comércio torriense, em relação aum Jumbo de Setúbal (com qua­tro salas de cinema) com conces­sionários Mac Donald's, Levis,BenettOn (felizmente já em Tor­res), ou seja com a juventudeigual à dos países comunitáriosou dos Estados Unidos.

Bom esta carta destina-se a

cumprimentar o Senhor Pre­sidente pela medida de mandarconstruir a estrada.

João Ricardo RisueiíoBarroco da Cruz

Badaladas 6/9/94

Page 48: Cartas ao Senhor Diretor

Correio da Manhã 11/9/94

Edifício malaDroveitado

"A freguesia da Silveira per­tence ao concelho de TorresVedras e tem na sua área limítro­fe os lugarés das Praias d\3Santa Cruz e da Praia Azul. Amesma rede escolar pertence olugar de Póvoa de Penafirme,onde foi ampliado o antigo Semi­nário de Penafirme (agora emregime de ensino sem i-oficial)

com a execução de um projectoPEDIP. A Escola de Penafirmetem os niveis 7º., 8º. e 9º. anosde escolaridade. Os alunosdesta Escola, frequentam,depois, o ensino secundário.numa das duas escolas de Tor­res Vedras, consoante a suaárea vocacional.

O transporte destes alunosfaz-se na Rodoviária Nacional,com despesa, na maioria doscasos, por conta do SASE. Con­venhamos que a oferta de trans­porte, por parte da Rodoviária,no invemo, é limitada e condicio­nadora do quotidiano dos estu­dantes, nomeadamente no quediz respeito aos casos imprevis­tos: faltas dos professores, avari­as das camionetas, horários noc­turnos (numa zona em que aescola nocturna tem grandedimensão, devido à grande ofer­ta de emprego).

Eu resido ao lado da Rodoviá­ria, na Praia de Santa Cruz, e .costumo passear de motorizadana estrada, ainda por asfaltar,que liga a Praia Formosa, emSanta Cruz, à Praia Azul. Nessecaminho, causa-me espécie umedifício pré-fabricado, que temuma placa em que se pode ler"Secretaria de Estado da Segu­rança Social, Centro Regional deSegurança Social, Colónia deFérias da Praia Azul.

Vou agora direito ao objectivodesta carta: este edifício comcaracterísticas escolares está,em meu entender, sub-aproveita­do no inverno. Além disso, o ser­viço da colónia pode muito bemtransferir-se para a Colónia deFérias da Física de Santa Cruz.

A senhora ministra da Educa­ção requisitava este edifício parao seu Ministério e fazia funcionaraqui o 10º., 11º. e 12º. anos deescolaridade, libertando, assim,a lotação das escolas de Torrese facilitando a vida escolar dosestudantes destes nivéis deescolaridade, da freguesia da SiI­veira".

João Carlos Risuei'ioBarroco da Cruz(Torres Vedras)

Page 49: Cartas ao Senhor Diretor

Torrense, que futuro?o cenário mais negroque possa suceder esteano ao nosso clube o

Torreense, ou seja, achicotada psicológica da saídado treinador, por maus resulta­dos da equipa e má classifica­ção na 2" divisão de Honra,cedo ou tarde, queria deixar,desde já, antecipado ou sugeri­do um caminho bastante certo:

a contratação do treinador defutebol torriense licenciado em

educação física e actualmentea fazer um figurão no Ponter­rolense, competindo palmo apalmo, por exemplo, com aequipa do Loures, que é cidadee fica aqui a dois passos, porautoestrada. Contratem o prof.

João Gonçalves, nosso conter­râneo, antes de procurarem umqualquer treinador, desta vezpara os lados da ilha do Faial(é capaz de haver por lá algumtreinador a querer fazer estágiono continente), ou na zona dasfábricas, na região do grandePorto.

O Torreense pode penila­necer na 2" divisão de honra

com os jogadores do Lourinha­nense e com um treinador, li­cenciado, torriense. Se tiverque descer pois então que seja,mas que a fatalidade pertença aum treinador da nossa terra. É

que vir a Torres estagiar, ga­nhar umas boas massas sem

qualquer responsabilidade para

o ano seguinte e ljinda por ci­ma levar os jogadores da terraé mais ou menos como ver

passar o comboio.Vendam-se os terrenos do

Sarge, desça de divisão, fujamtodos os jogadores com ummínimo de qualidade, mas pelomenos façam com que os trei­nadores que contratem não fi­quem a rir-se de nós por daremo golpe do baú.

Aliás nem é sensato ir con­tratar um treinador mais caro

podendo contratar um conter­râneo até com mais formação eclaro com um contrato mone­

tário compatível com as possi­bilidades fmanceiras do clube .

Por incrível que pareça o

ano passado o Torreense tinhatrês estrangeiros: o Jovanovic(que até deu uns franguitos) oOmer (que se incompatibilizoucom a direcção e desapareceudo mapa) e o Vitomir que oslocutores da rádio diziam quejogava pela equipa adversária.

Se a política de contrataçõ­es deste ano ainda não foi aos

saldos da Jugoslávia, vamos láver para onde se dirigirá; maisa mais deve haver muitos em­

presários futebolísticos interes­sados no dinheiro (último) davenda dos terrenos do futuro

campo do Torreense.

• João Ricardo RisuefioBarroco da Cruz

Frenteoeste 15/9/94

Page 50: Cartas ao Senhor Diretor

- Estradade_Sta.

Cruz no PDMSenhor Director:

Venho por seu intermédiofelicitar o nosso Presidente da

Câmara pelo facto de incluir noPDM a construção da nova es­trada Torres Vedras-Santa Cruz.

Evidentemente que sofrerá

pressões de jornalistas, de cole­gas de partido, de autarcas, de i

amigos, para que a estrada passe

perto da casa deles, ou para quenão tire o movimento ao restau­rante ou à localidade, ou que

desfavoreça a importância políti­ca de um lugar, etc.

O Senhor Presidente terá

bem presente que são precisas

pelo menos duas estradas, quan­do, já para o ano que vem, com anova auto-estrada, Loures eOdivelas fizerem de Santa Cruza sua Costa da Caparica. Torresvai mudar com a auto-estrada e

as mesquinhezas do passado nãoterão mais lugar quando chegar aavalanche do pessoal da zonasuburbana norte de Lisboa. É oúnico desenvolvimento natural

para Torres, tudo o resto é lutar

contra o progresso, próprio dosreaccionários ou dos que têmmedo do novo. Quem não dácabo dos medos acaba por mor­rerde medo.

Claro está que faltam infra­estruturas na Praia de Santa

Cruz, mas o próprio progresso,que vem aí dentro de dois anosarrastará inevitavelmente os res­

ponsáveis para a construção deinfra-estruturas.

Eu não li o PDM mas, espe­

ro sinceramente que não privile­gie a construção de clube deempresários em vez de piscinascamarárias ou da construção deum pavilhão gimnodesportivomunicipal. Ou que continue osilêncio cultural da cidade com a

falta de dinamização do auditó­rio municipal e da biblioteca,

sabendo-se dos exemplos daCâmara do Seixal neste campoespecífico ou da Câmara deOeiras ou Sintra no campo musi­cal. (O Senhor Presidente deviater ido ver o concerto dos

Madredeus na Praça Bocage, emSetúbal e noutros locais por todoo País e veria que Torres Vedrasestá à margem destes aconteci­mentos não se sabe porquê).Para não falar no apagamento docomércio torriense, em relação aum Jumbo de Setúbal (com qua­tro salas de cinema) com conces­sionários Mac Donald's, Levis,

Benetton (felizmente já em Tor­

re_s), ou seja com a juventudeigual à dos países comunitáriosou dos Estados Unidos.

Bom esta carta destina-se a

cumprimentar C! Senhor Pre­sidente pela medida de mandarconstruir a estrada.

João Ricardo RisueiíoBarroco da Cruz

Badaladas 16/9/94

Page 51: Cartas ao Senhor Diretor

"E m edição de 20/9 do«Correio da Manhã» vem refe­renciado o meu nome comotendo sido acusado, por umsenhor Nuno Massano deAmorim, de falta de patriotis­mo. Vistas curtas deve ter estesenhor (... ) para ver padeci­mentos inexistentes no meuartigo. Estará no seu direito,como leitor, de fazer as inter­pretações que bem entender,mas não desate para aí comlições de moral (...).

Quanto à falta de patriotis­mo da minha parte, acho sim­plesmente ridículo da suaparte e absolutamente de maugosto, para não dizer de des­conhecimento total da realida­de portuguesa. Não fui eu quefugi com a bandeira debaixodo braço, não fui eu que meti amonarquia portuguesa numbarco e ala antes que morram,não fui eu que mandei o injus-

Respostatiçado prof. Marcelo Caetanopara as esmolas brasileiras,não fui eu que me meti numbarco para pôr um ramo de flo­res em Timor e sai de lá des­pachado com um grito, não fuieu que invadi a embaixadaespanhola em Lisboa numabsurdo acto de vandalismopara depois pagar uma indem­nização pelos estragos, nãosou eu que ando por aí a pro­clamar que é preciso umapátria galaico-portuguesa, não ,fui eu que fugi de participar na2ª. Guerra Mundial, não fui euque fugi de participar na Guer­ra do Golfo, não fui eu quemanchei as páginas da históriaportuguesa com maluqueiraspatrioteiras como anacronica­mente ainda quer proclamar osenhor.

Venha para a rua dizer: «Épreciso conquistar Olivença,sem arriscar vidas e mantendoaos que lá estão os ordenadose assistência sociais espa­n~óis»; venha para a rua dizer:»E preciso lutar, sem risco devida para os militares, contra oplano hidrológico espanhol».

Mas depois deste patrioteiris­mo suicidário, cobarde esemântico, não venha dizerpara o cidadão que trabalhaque acha que os espanhóissão nossos irmãos e que ofuturo está no boa convivênciacom os nossos vizinhos, quenão gosta de revoltas franco­patéticas de bluffs de meiadúzia de amotinados mais oumenos invejosos, dizia eu, nãovenha com os pesos de cons­ciência ~os actos irresponsá­veis. (...) .

João Ricardo RisueiíoBarroco da Cruz(Torres Vedras)

Correio da Manhã 6/10/94

Page 52: Cartas ao Senhor Diretor

Quem pretenda visitar a Ilha Berlenga está muito limitadopelo horário do barco que efectua o transporte

ele/ ...

sugesloesparaa Berlenga

tual espera desde as cinco da madrugada,para quem consiga um bilhete, no mês deAgosto.

Em terceiro lugar, seria necessária umacarreira normal de transporte quebrandocom o desactualizado esquema de ir às 10e regressar, obrigatoriamente, às 17. Alémde que, também, aos fins-de-semana forada época de veraneio, o passeio é bemagradável. Em quarto lugar, um concessi­onário MacDonald's que abrisse lá umestabelecimento, porque as caldeiradasde peixe são negociáveis nas tasquinhasde Peniche, mas muito caras na Berlenga.

Em quinto lugar, era preciso um barcoque fizesse um trajecto circular pela ilha,permanentemente, para as pessoas nãosubirem ou descerem o penhasco a pé,perturbando as zonas de reserva total,perto das instalações militares.

Em sexto lugar, uma colaboração entreos ministros do Ambiente e do Turismo nointuito da dinamização tuística e culturalda ilha que traria benefícios para Peniche,que tem valiosos recursos turísticos porexplorar".João Ricardo Risueiío Barroco da Cruz

(Praia de Santa Cruz)

"Desde o'ano passado, quandocomeçaram os actos de vandalis­mo ostensivos na Praia de SantaCruz (divulgados quer pelo «Cor­reio da Manhã» quer pelo verea­dor da Câmara de Torres Vedrascom o pelouro da Cultura) que, emboraresidindo dentro da localidade, não vou àPraia de Santa Cruz, A minha praia éPorto Novo - a praia dos pescadores e dosturistas do Hotel Golf Mar, ou, então, àmagl)ífica praia do cais da Ilha da Berlen­ga. E precisamente para a Berlenga queeu quero pedir a atenção de algum res­ponsável, leitor assíduo do «Correio daManhã», talvez o director da EmpresaViamar, proprietária do lindo barco "CaboAvelar Pessoa", ou a srª. ministra doAmbiente, para beneficiações para o pes­soal que adora as Berlengas. (A Ilha Ber­lenga tem uma associação de amigos,que faz gestão do Hotel do Forte e, melhordo que eu, sabe o favorecimento necessá­rio a esta ilha. Escrevo, pois, apenas comoutente do barco de transporte e comoadmirador incondicional da praia do cais edas passeatas, em barco artesanal, àvolta da ilha).

Em primeiro lugar, há o problema dafalta de água doce - o hotel tem um avisode um gasto permitido de apenas 15 litrosde água.

Em segundo lugar, o aumento do preçoda viagem, por pessoa, para dois contos,mesmo sendo ida evolta e com as crianças,até aos 12 anos, apagarem metade, tornamuito dispendiosa a idafrequente à ilha, parafazer praia. O barco fun­ciona todo o mês deJulho, todo o mês deAgosto e pára a 20 deSetembro, ficando guar­dado o resto do ano,Um passe para umasdez viagens em toda atemporada, não só mefacilitaria na despesadas passagens (turísti­cas), como permitiria irapenas à hora do em­barque, em vez da ac-

NCorreio da Manha. 8/10/94

Page 53: Cartas ao Senhor Diretor

·

-A propósito.de Popper

Para além de formulações evidentes dasociedade moderna que têm a ver com a---verdade sociológica, também Popper de­terminou a aceitação das normas da lógicamatemática às reacções humanas, o quecontribuiu para o comportamento civiliza­do do autocontrolo, em vez da submissãoao mais forte ou à ideologia dominante. Eunão conhecia a literatura de Popper até háuns três anos. Foi um meu amigo doentemental, com mais sabedoria do que eu, queme propôs a troca: eu dou-te a SociedadeAberta e os Seus Inimigos e tu dás-me ARebelião da Massas, de Ortega y Gasset.Não sei se ele aprendeu mais com o meulivro do que eu aprendi com Popper. Claro,os livros da minha biblioteca têm uma

história própria; Popper também tem a sua.João R. Risueiío Barroco da Cruz

Torres Vedras

Diário de NotIcias 9/10/94

Page 54: Cartas ao Senhor Diretor

Diário de NotIcias10/10/94

ICivismo

AOS 15 ANOS de

idade aprendi por mimmesmo o conceito deautoridade desautori­zada. Parece um con­ceito novo para uma

situação vulgar. (Quem não viu jánuma cidade de província os loucosserem gozados nas ruas, como normaisbombos de festa para a expiação decomplexos sociais, e ao mesmo tempomerecerem o máximo de respeito emfunção da solidariedade?) Pois eu iadizendo que a autoridade em minhacasa foi sempre da responsabilizaçãoprópria. Os meus pais diziam: cada umtem de se responsabilizar pelos seuspróprios actos, sem protecções. NaPraia de Santa Cruz, na minha adoles­cência, todos os jovens diziam: emSetembro é que é bom porque a políciavai embora e nós já não temos derespeitar os sinais de trânsito com asmotos. A autoridade desautorizada

provém de os sinais de trânsito conti­nuarem lá em Setembro mas poucos osrespeitarem por falta da presença poli­cial. Claro está que esta mentalidaderevela menoridade cívica, porque ossinais e o seu simbolismo constituem

por si a autoridade dependente da res­ponsabilização de cada um. A velhahistória de não haver lei sem castigo. Oque é verdade é que a polícia está trêsmeses em Santa Cruz e depois os sinaisde trânsito e as casas vazias perdem orespeito cívico. Assim como os loucosprecisam de protecção policial comono tempo medieval para não serviremde espectáculo, os símbolos de autori­dade passam a fantasmas logo quedesaparece o castigo pela infracção.Claro está que esta mentalidade não sefica pelo desrespeito dos símbolos deautoridade. As pessoas que não respei­tam têm o vício ou o complexo da faltade respeito quando não estão vigiadasou quando sentem que podem passarsem castigo.

Pata mim,· só há uma autoridadepossível e económica: é a elevação donível cultural dos cidadãos. Dizem os

reaccionários de todos os quadrantespolíticos que quanto mais espertos setomam os cidadãos mais malandros sefazem. E assim lá se vão fazendo as

selecções de alunos nas escolas impe­dindo-os de frequentar os anos termi­nais do ensino secundário, que pelaconvivência ou qualidade de inserçãosocial baixaram imediatamente a falta

de civismo. No estrangeiro há o dobroou o triplo de cidadãos com a frequên­cia do ensino secundário por completo.Também há violência nas ruas mas nãohá falta de civismo.

Quem não está preparado civica­mente obedece a todo o tipo de aliena­ções mais ou menos estúpidas.

João B. da Cruz

Page 55: Cartas ao Senhor Diretor

Diana

Para aí aos 14 anos comprei em Sala­manca uma caçadeira pressão de ar Diana27. Depois fui passar uns dias a casa domeu tio, na casa de campo perto de Ciudad

Rodrigo. O meu tio, quando viu a espingar­da, disse-me: «Vai ao pombal e mata apomba que quiseres.» Dito e feito, fizpontaria com a caçadeira para uma pombi­nha toda branquinha empoleirada dentrodo pombal e disparei sem apelo nem agra­vo. A pomba voou pela janela, a sangrar, eeu tive de lhe dar caça na eira. Cheguei aopé dela e disparei novo tiro, ao que sucum­biu. Peguei-lhe pelas asas e levei-a ao meutio, que logo pensou: «Este vai ser umgrande caçador, vai sair ao avô.» Juro quenunca mais matei um passarinho que fosse.Vem tudo isto a propósito de, há uns 11anos, terem dito ao príncipe Carlos deInglaterra que dissesse uma moça de que

gostasse. Ele olhou à sua volta e atirounuma mocita chamada Diana. Qual senhorde um harém indiano, a moça caiu-lhe aospés morta pelo tiro da escolha. O povo teveo seu conto de fadas actualizado, que, noconceito de Bruno Bettelheim, fez a reci­c1agem indirecta da conduta humana infan­til, ou infantilizada. A coroa britânica teveenfim a descendência necessária (...).

Mas coitada da princesa de Gales, que,depois de assumir o papel de fêmea proge­nitora do Reino Unido, ainda se tem desujeitar ao papel de bode expiatório doamor encantado, como num tradicionalconto de fadas.

J. R. R. Barroso da Cruz

Diàrio de NotIcias 17/10/94

Page 56: Cartas ao Senhor Diretor

Forças Armadas para quê?

c..) Em Portugal, a política de pseudo-integri­dade nacional baseia-se, essencialmente, nos se­guintes pressupostos: unidade nacional, com basenum Portugal uno e indivisível (o que não aconte­ce com a Espanha, a Alemanha, a Bélgica, a Suíça,etc.), portanto sem regionalizações ou alteraçõesna divisão administrativa; a garantia da unidade

nacional com uma força de reserva militar mini­mamente habilitada para salvaguardar essa inte­gridade territorial.

A Espanha não é um potencial inimigo de Portu­gal porque a sua política não é expansionista, antes éde gestão das suas autonomias bem vivas. Se a Espa­nha alguma vez, nos próximos séculos, adoptasseuma política expansionista, a melhor defesa de Por­tugal não seria, agora, a que adoptou em Aljubarrota.A melhor defesa para Portugal não é o investimentoem Forças Armadas, mas sim a inteligência

Em vez de pontes construam-se túneis, em vezde auto-estradas estradas sinuosas, em vez de aero­portos transporte ferroviário, etc. Claro está que apolítica de defesa nacional portuguesa tem mais quever com o bom relacionamento com os outros países,que nos possam ajudar e em quem nós confiemos, doque o pensamento cretino de "em caso de necessida­de só podemos contar connosco". Quem se fecha éporque de facto não acredita em ninguém senão comreservas.

Nesta linha de pensamento, toda a política ec0­nómica de um governo português tem uma dimensãode defesa nacional. O bem-estar dos portugueses éimportante para que eles próprios não se sintammarginaliz~dos e desejosos, por exemplo, de seremespanhóis. E um fenómeno bem mais provável numacentena de anos do que qualquer intenção expansio­nista espanhola Acredito mais que, devido ao atrasono desenvolvimento económico, dentro de uma cen­tena de anos Portugal se transforme numa RDA dosegundo milénio do que, por exemplo, a Espanha setransforme numa Jugoslávia

Portanto, a afectação de dinheiros para qualquertipo de planeamento estritamente militar é fugir àrealidade e define desde logo os velhos dos novos empolítica Confesso que, seeu fosse primeiro-ministro,a primeira medida que tomaria seria a criação deuma comissão nacional de extinção das Forças Arma­das, com integração das respectivas estruturas na s0­ciedade civil. C .. )

João Ricardo Risueiío Barroco 00CruzTorre:; Vedras

Público 20/10/94

Page 57: Cartas ao Senhor Diretor

Viver o presenteParece-me que é no filme O grande

Conquistador, de Woody Allen, que apare­ce um miúdo completamente paralisadoporque a professora lhe falou na grandeteoria do universo em expansão. O miúdocomeçou a funcionar cerebralmente da se­guinte maneira: se o universo está emexpansão, então isto vai explodir dentro depouco tempo. Evidente, se vai explodir,nem vale a pena estudar, nem almoçar,nem sair de casa. O miúdo ficou a pairar naabstracção. Claro está que a mãe levou omiúdo a uma consulta de Bruno Bette-

lheim, que lhe deve ter mostrado a história(conto de fadas) da Branca de Neve. Omiúdo identificou-se com o príncipe dor­minhoco e desbloqueou, convencido deque uma bela moça lhe daria um beijinho eadeus universo em expansão. Ou seja: quese lixe o universo em expansão, porquecom uma princesinha tão gira como a doconto de fadas nem dá tempo para pensarnoutra parvoíce qualquer. Vem tudo isto apropósito da oportuna observação do reali­zador Mike Leigh a respeito da necessida­de de viver o presente, em vez de se entrarem doenças psíquicas, quer do anacronis­

mo quer da psicose. O passado já foi, o \futuro será o que Deus quiser, então o

melhor será viver agora, porque agora nãoé ontem nem é amanhã, é simplesmentehoje. Vê-se alguns articulistas notarem afalta de determinação, o bloqueio ou aatitude do não vale a pena, ou é deixarandar. Naturalmente que o bloqueio não émais que uma derivação do funcionamentocerebral paralisado daquele miúdo. Eu vejoanciãos com 90 anos arrastarem-se parafazer compras no supermercado e transpor­tarem em sacos de plástico os mantimentosque vão cozinhar. Por sua vez, outros dei­xam-se abandonar na inércia, sujeitos auma morte estúpida antecipada, geralmen­te por queda da cadeira de rodas, quandolhe estão a dar a sopa no lar. O mesmo se

passa com os pobres que mantêm a atitudeda degradação, ou 90S gordos que não sãocapazes de abandonar o vício de comer, oudas fábricas poluentes que não escolhemoutro caminho que não seja o de lançaremos detritos nos rios, ou alguns dramáticostrabalhadores, que, embora aptos para fa­zerem outro trabalho mais adequado, conti­nuam na neurose da perda do pãozinho,que faz vítimas ou mutilações sociais atéagora sem uma avaliação bem definida dosestragos. Afinal, é tão simples viver agora,e anda toda a gente a viver noutro tempo e afazer de Deus na Terra.

J.R.R. Barroco da CruzTorres Vedras

Diário de Not!cias 8/11/94

Page 58: Cartas ao Senhor Diretor

Exmo Sr. Director

Recentemente um editorialdo jornal Badaladas queixava-seda recepção de inúmeras cartasanónimas, dirigidas ao Director,porventura difamando algum oualguns inimigos pessoais, porvia ditatorial, ou seja escapando­se aos atropelos que se façam àjustiça

Seria, aliás, uma boa manei­ra de uma pessoa se transformarnum deus terreno: difamava tu­do e todos em nome de todos ede ninguém, sem qualquer tipode responsabiliadade cívil oucriminal. Parece esperteza saloiae se calhar não passa mesmodessa categoria de comporta­mento.

Vulgarmente designa-se estaatitude por: atirar a pedra e es­conder a mão. Quase todos os

que vi praticar estas maquiavéli­cas maldades, ou levaram com asua própria pedra (virou-se o fei­tiço contra o feiticeiro) ou deixa­ram cair a pedra da mão em ple­no acto maldoso ..

As vítimas são geralmente

os presumivelmente fracos: os<. malucos, os bem vestidos, osque têm o seu pé de meia, ossensatos, os que compraram car­ro novo, os que arranjaram umamulher jeitosa, os que se sentamna primeira fila de missa, ou osque não têm medo da nada por­que a sua conduta é transparen­te.

Evidentemente que as armasse assemelham a pedras mas têmmanifestações diversas: o insultoem voz alta no meio da multi­dão, as cartas anónimas, as cali­nadas em conversas paralelas ouos telefonemas em forma de cor­rente contínua

Frenteoeste

Claro que a ética é um com­portamento com (egras e enga­nem-se os que julgam que po­dem fazer mal sem que nmguémos veja Nunca vi um crime quenão tivesse castigo, ou seja, asorte não protege os maus emais tarde ou mais cedo vê-sedeitarem tudo a perder, não seise por força do hábito ou, comose costuma dizer, que Deus nãodorme.

A liberdade de expressãodiz do direito que cada um temde dizer o que bem entenda e daforma que muito bem entenda,mas este direito é apenas paracidadãos que se responsabilizampelos seus actos, ou seja, que as­sumem o que escrevem ou di­zem. Os cobardes não têm umalinha digna de registo no hinonacional e a sua sorte dependeda sua destreza em fugir ..

Torres Vedras, 2 de Novem­brode 1994

Com os melhores cumpri­mentos

• João Ricardo RisueõoBarroco da Cruz

17/11/94

Page 59: Cartas ao Senhor Diretor

I'niciativa precisa-se"Já outro dia falei no sub-aproveitamento do edifício em pré­

faQricado da Colónia de Férias da Segurança Social da PraiaAzul, na Praia de Santa Cruz. Eu ando sempre por ali de motori­zada e julguei durante muito tempo que aquele edifício fosse umaEscola C+S. Quando li a placa e observei mais atentamente a suainutilidade fora da época balnear, comecei a pensar na quantidadede situações idênticas a esta.

Entretanto descobri um passeio muito agradável de motorizadano concelho da Lourinhã. Parte-se da Praia de Santa Cruz, atra­vessa-se aquela zona desértica, ainda por asfaltar, da Praia deSanta Rita, passa-se em Porto Novo, em Ribamar corta-se àesquerda para Porto Dinheiro e depois há uma estradinha na mar­ginal, muito improvisada, até Porto das Barcas (para quem tenhajipe ou mota é simplesmente maravilhoso, embora no Inverno,com as marés vivas, a estradinha esteja um pouco enlameadacom água do mar, aliás como sucede com a marginal Lisboa-Cas­cais), passa-se depois em Atalaia e em Montoito até se chegar aoSeixal, na localidade da Areia Branca, que dá o nome à Praia daAreia Branca.

No Seixal encontramos um edifício de três andares pertença daAssembleia Municipal de Castelo Branco, recente, parecendo uma

1 boa residência universitária. O edifício, no Inverno, também meparece sub-aproveitado, embora tendo um aspecto magestosopara o restaurante Foz da Praia da Areia Branca, conjuntamentecom o já tradicional barco de madeira em ruínas.

Mesmo ao lado deste edifício para colónia de férias, existem asinstalações da Colónia da Casa Pia de Lisboa que não dão tanto oaspecto de inutilidade no Inverno, por causa da sua dimensão edo seu aspecto arquitectónico.

Ao pé destes edifícios, há uma garagem de avionetas, parecen­do uma fotografia dos anos 20, por acaso bem agradável de sever.

As estradas estão todás bastante más e o rio que separa aAreia Branca da Praia da Areia Branca está um esgoto.

Claro está que na Praia da Areia Branca (simplesmente deregalar os olhos) há outra colónia de férias: a Pousada da Juven­tude, que é também um hotel internacional da juventude.

Esquecia-me de dizer que entre a Praia de Sant'a Cruz e aPraia de Santa Rita há a Colónia de Férias do Padre Gregório,mesmo ao pé de onde o pessoal do parapente organiza as larga­das. Ah, .eque na Praia de Santa Cruz há a Colónia de Férias daFísica, com ins.talaçõesmuito bonitas com vista para a Praia doNorte.

Deve haver algum leitor assíduo do "Correio da Manhã» comimportância no planeamento de recursos humanos e materiaisque possa talvez meditar sobre a programação de tempos livresdos jovens fóra da época balnear, já que edifícios para os conce­lhos de Torres Vedras, Lourinhã ou Peniche não vão faltando,segundo me parece".

João Ricardo Risueíio Barroco da Cruz(Torres Vedras)

Correio da Ma.nhã 17/11/94

Page 60: Cartas ao Senhor Diretor

o negócio da matemática

Existe um negócio próprio da matemática.Qual é e em que consiste? Assim como as lojas de"hamburgers" que proliferam pela cidade de Lis­

. boa e pelas "roulottes" à volta dos estádios ou dosgrandes espectáculos, a matemática também tem,

agora, um "show" que dá boas coroas.Antes de explicar o que é que dá bom dinhei­

ro na feira da matemática, gostaria de elogiar oprof. Jaime Carvalho da Silva por tão frontal­mente clarificar a política do Ministério da Edu­cação português, relativamente à sua grande op­ção: quem não tem cão caça com gato. Em ter­mos reais, quer dizer: quem não tem matemáticoensina com engenheiro ou economista. Melhordizendo, ensina com bacharel em engenharia,porque é a forma mais sossegada de se chegar aprofessor de matemática. Tira-se um bacharelatoem engenharia num Instituto Superior de Enge­nharia, dá-se aulas durante uns anitos reclaman­do da situação de precariedade do emprego, faz­se depois o estágio pela televisão, sem aulas as­sistidas, ao abrigo da experiência adquirida e aíestá: assume-se o papel de professor efectivo comgrande quantidade de tempo de serviço.

Claro está que os Institutos Poli técnicos deBeja ou de Leiria recebem alunos para o curso deprofessor de matemática e ciências da natureza doensino básico com média de seis valores e ainda fi­cam vagas por preencher. C .. )

O principal são as explicações em grupo ouporta a porta. Ganha-se cinco contos à hora. Re­centemente, retirando a sobriedade da SociedadePortuguesa de Matemática, surgiu a AssociaçãoPortuguesa de Matemática com quotizaçõesanuais de dez mil contos e volume de negócios demais de 40 mil contos anuais. O principal do bolosão precisamente as quotizações (repare-se que aSPM só faz dois mil contos em quotas) e o gran­de negócio da venda de calculadoras. Porque coma passagem, pelo ministério, do programa de Es­tatística para primeiro lugar no livro escolar, oaluno, até ao 9º ano, tem que comprar o livro e acalculadora. Imagine-se só a venda, logo de iníciode um milhão de calculadoras, e a venda perma-

. nente de um "stock" acima de 100 mil unidades.Tudo por causa da reforma educativa. (oo.)

João Ricardo Risueiío da CruzTorres Vedras

Público 2/12/94

Page 61: Cartas ao Senhor Diretor

Me-m-6rÍase modernismos

Ainda m: lembro de em 1976 ir para osnack do Café Império aqui em TorresVedras e pedir uma coca-cola americana,que era o mais chique que havia na altura.

Em Lourenço Marques bebia sempre co­ca-cola no Café Continental, mas aqui em

. Portugal era coisa nova: a coca-cola emPortugal significava antipatriotismo, pois obom português do Continente bebia vinho.

Claro está que quando vim de LourençoMarques parecia um marciano quando di­zia aos meus familiares que nunca tinhavisto televisão, mas sabia o que era umacoca-cola. Como se vê, o reaccionarismosaloio português fez com que se chegasse a1977 sem que um português continentaltivesse alguma vez bebido uma coca-cola.(A não ser os que iam de excursão aBadajoz ou a Fuentes de afioro.) Pronto,passou 1977 e acabou o reaccionarismo

bacoco. Nem pensar. a reaccionarismosocialista e bacoco continuou, por exem­plo, até 1994, quando abriu o primeirorestaurante McDonald's na Baixa pombali­na. Em 1991 almocei em Sevilha numrestaurante McDonald's. Foi a primeira vezque vi um hamburger com rótulo dos Sta­teso Em 1992 abriu, finalmente, o primeiroMcDonald's no Saldanha, embora com al­gumas reservas mentais antropológicas.Comer de pé era uma raridade. Levar acomida num pacote para comer no carroera de loucos. Mas agora não há nada disso.É à descarada. Pede-se uma Fanta, umMcmenu, come-se sem talher, à mão, comoos primtivos, cada coisa de cada vez, pri­meiro as batatas fritas, depois a Fanta efinalmente o hamburger, de pé, de prefe­rência voltado para a parede que tem umaspinturas em arte rupestre, e vejam só até jáhá gelados de máquina sem sabor afrance­sado, como os que eu comia em Nampulano Monteiro & Giro, há 20 anos.

a regresso ao homem primitivo semsaloieiras das imitações afrancesadas dos

séculos XVIII e XIX chegou à Baixa pom­balina. Mesmo ao lado há uma loja Levi'scom os famosos jeans 501 que eu tantoquis ter na minha juventude, porque os viaaos estrangeiros. Claro que eu sempre tiveuns vaqueros espanhóis, que nestas coisasde cowboiadas os Espanhóis têm mais tra­dições do que os Americanos, mas osjeans501, dos alemães e ingleses, nunca conse­gui comprá-los para ir à discoteca Túnel, amelhor de Torres Vedras. Só de pensar queem 1981 se passava na Baixa e se via umadata de bancas partidárias e o mais chiqueque havia era comer umas sandes de gali­nha e um chocolate quente em copo aobalcão da Suíça ... Só de pensar nisso até seencontra uma razão saudável para irmos aoMcDonald's da Baixa em 1994, juro quepor vezes até me dá vontade, quando pegono tabuleiro, de dar um grito de índio,como quem diz: finalmente o ambiente énormal e até parece que as palhaçadaspsicopolíticas acabaram por enquanto.

João R. Risueõo B. da Cruz

Diário de Notfcias 10/12/94

Page 62: Cartas ao Senhor Diretor

MonarquiaEm 1 de Dezembro publicou o DN

uma entrevista com D. Duarte Pio, presu­

mo que a propósito do Dia da Restauração.Sendo eu monárquico e lutando pela res­tauração da monarquia o mais breve possí­vel, tenho dois reparos a fazer na estratégiade imagem de S. M. Em primeiro lugar, aatitude da insistente e única comemoraçãoda restauração relativamente à anexação

espanhola não traduz o verdadeiro senti- !

mento da portugalidade: a que obtivemos !

do nosso primeiro rei, D. Afonso Henri­ques, num contexto de afirmação das ca­racterísticas próprias do povo da PenínsulaIbérica que povoa a costa ocidental. Tal .luta é de natureza antropológica e temraízes !la luta do guerreiro (chefe) Viriato,tão bem retratadas no livro de João AguiarAs Vozes dos Deuses. Reduzir a luta dosmonárquicos a umas conjuntura~ políticasnão tem em conta a confiança intemporal

da identidade portuguesa, independente­mente das anexações ou das ditaduras(sempre efémeras). Em segundo lugar, aestratégia de S. M., relativamente à suainvestidura, confiando num possível refe­rendo feito pelos republicanos e que da­riam a vitória à monarquia, apresenta-se

. ingénua e principalmente mostra-se comfalta de iniciativa e alguma falta de cora­gem. Se S. M. julga que o seu reinado lhevai cair nas mãos como dádiva dos seusinimigos, os tais que assassinaram o rei D.

Carlo& e o pIÚlcipe herdeiro e mandarampara o e2Ç.ílioa família real, bem podepensar nas contas da probabilidade de sairo Totoloto. S. M. apresenta, no entanto,uma boa análise da situação da possívelrestauração da monarquia: a monarquiatem que provar que tem o apoio popular .Mas, atenção, esta prova é delicada, por­que, se for dada às mãos dos inimigos, elesprovarão por meio da redução à pateticeque a monarquia morreu (... ).João Ricardo Risueõo Barroco da Cruz

.' • fDlarlO de Notlcias 13/12/94

Page 63: Cartas ao Senhor Diretor

Basquetebolna "Física"

Senhor Director

É caso para perguntar: por­que perde a equipa de senioresda Física de basquetebol com oFarense em casa?

Parece uma pergunta inte­lectual e é mesmo. É uma per­gunta intelectual. Porque nãoperguntar o porquê de a Físicaperder com o Farense em casa?

Na última vez, na épocapassada, jogava-se o play-off,

. toda a gente ficou danada como árbitro porque marcou oitofaltas à Física, oito faltas aoatacante, por "passos". Claroestá que em basquete perderoito ataques significa, teorica­mente, perder os, pelo menos,

16 pontos possíveis e, ainda,deixar marcar 16 pontos porinesperada posse de bola doadversário. (Lembro que aFísica perdeu este jogo poruma margem, se não estouerrado, de 3 ou quatro pontos).

No passado domingo, dia20, aconteceu um paradoxoainda mais surrealista: o Faren­se marcou 16 pontos sem que abola entrasse no cesto. Claro

que se pode dizer que a Físicaandou um pouco a apanharbonés e foi assim que a equipaperdeu por um ponto.

Eu sou absolutamente con­

tra atirar as culpas para o árbi­tro. De facto em minha opiniãoa Física não ganha estes jogosporque não rectifica comporta­mentos de "embriaguez". Osjogadores são bons mas entramem campo nervosos, desgarra­dos e já se sabe, deitam tudo aperder, em segundos.

Eu que nunca perco umjogo da Física em casa já estoua ficar com um sentimento de

frustração no final dos jogos. Ésempre a mesma treta no final:quase que ganhávamos. E de­pois há sempre os bodes expia­tórios do costume: ao árbitro, oazar (refira-se a quantidade decestos falhados em lançamentosde dois pontos) ou, o que é pior,a fatalidade - afinal nós nem

merecemos mais do que perder.De facto uma forma essen­

cial de aprender é analisar o quese fez mal. Por isso o Farensefaz sempre a fIlmagem do jogopara depois fazer a estatísticadescritiva do jogo e falar emconcreto sobre o jogo. Nãobasta suar em treinos - e desde

já noto que a Física é uma equi­pa de lançamentos de meia elonga distância, pois apresentaalguma descoordenação emjogadas estudadas nos treinos -,é preciso que os jogadoresentrem em campo com umamentalidade ao mesmo tempodesinibida mas também com a

saúde do não desperdício .Afinal se podemos ganhar por­que teimamos em deitar tudo aperder?

Os meus melhores cumpri­mentos.

João Ricardo RislteiioBa"oco da Cruz

22/12/94

Page 64: Cartas ao Senhor Diretor

o negócio da matemática

Em resposta ao que o senhor António Fer­napdes, de Lisboa, escreveu a meu respeito noPUBLICO do dia 12 tenho a dizer o seguinte: oleitor delirou com a minha carta publicada e eunem sabia da minha aptidão para a literatura.(Por acaso tenho trabalhos literários em concur­sos de câmaras, portanto o deslumbramento dosenhor António até seria de esperar, atendendo ànatural riqueza literária do conteúdo) ..

Só que o texto não pretendia ser literário eportanto a análise deste leitor não tem uma res­posta concreta, a não ser quando diz qúe a Asso­ciação não tem o nome de Associação Portuguesa,mas de Associação de Professores. De facto, pen­so que não desprestigiei a Associação quando lhechamei Portuguesa.

A única frase digna de registo no sep.hor An­tónio seria esta: "Não podendo, pois, ser-lhe atri­buída a tarefa de montar feiras, independente­mente da sua natureza." De facto interessa-sebastante este senhor pela minha natureza, o quepressupõe desde já alguma reserva mental pre­conceituosa. De facto eu não sou gordo, como fazentender em outra referência à minha natureza.Além disso, nem sou daqueles que luta pela comi­dinha à mesa. Não é o meu género. Não sou ciga­no, por isso não sou especialista em feiras, e tal­vez por isso não seja nunca convidado para orga­nizá-las, na terminologia do senhor António Fer­nandes. (oo.)

O senhor António Fernandes diz que me vaiesclarecer, mas não percebo a respeito de quê eem que qualidade, pois ela não é especificada nes­ta carta. De facto, não fui eu que fiquei perturba­do com o negócio da matemática, porque eu nãopertenço ao negócio, eu pertenço à matemática.

João Ricardo R. Barroco da CruzTorres Vedras

N.R. - Dado ~s termos inaceitáveis da polé­mica em causa, oPUBLICO dá-a por encerrada.

úblico 28/12/94

Page 65: Cartas ao Senhor Diretor

A violência

implícitade um filmePRESUMO que Teresa Villa­verde leia o EXPRESSO e porisso aproveito o espaço para lhedar os parabéns pelo belíssimofilme «Três irmãos»: estive parao ver no festival de Valladolid,mas acabei por me socorrer daexibição no «King», de Lisboa ...

Gostaria, no entanto, de re­flectir sobre a violência implíci­ta que um filme pode acarretar.Este filme tem apenas uma mor­te, um assassínio por meio de

uma faca espetada no pescoço.Portanto, em termos relativoscom um filme como «Mad Max»,este pode considerar-se um«santinho». Mas não é.

A categoria da violência des­te filme situa-se ao nível, porexemplo, de «O Caçador», emque a violência que induz não éimediata mas funciona como umveneno ingerido.

Enquanto uma banda dese­nhada ou um filme de cinemafantástico fantasiam sobre armase outras violências gratuitas, nogénero do boxe americano, e oefeito da violência apenas induzas pessoas que se identificamcom a personalidade sádica, fil­mes que colocam em metafísicaa justiça provocam uma nostal­gia numa mais vasta camada dapopulação: a que se identificacom sentimentos masoquistas.

Quero dizer frontalmente quefilmes sem demasiada violênciaexplícita mas com grande cargaemocional ao nível de suicídiosbaratos produzem muita maisviolência, principalmente para amaioria da população natural­mente masoquista, do que osdesgarrados desfechos sádicosprovenientes do visionamento defilmes de acção que se vêem natelevisão ou se alugam nos clu­bes de vídeo.

O 605 Forte, o tal herbicidaque anda a matar as miudinhasaté aos dezassete anos, é ummeio demasiado ao alcance detoda a gente para não constituiruma forma realista para a classemédia portuguesa. Em Portugalninguém matou ninguém depoisde ver «Assassinos natos» deOliver Stone, mas em Françahouve uns jovens sádicos quemataram. Mas a história do 605Forte da miúda de Vila Franca jáserviu porventura de mote àmorte de duas rapariguinhas deum colégio religioso de Leiria.

Em Portugal não há o hábitode ter uma arma em casa e porisso os filmes americanos paraos portugueses são uma fanta­sia. Mas em Portugal toda a gen­te vai à drogaria comprar «vene­no» para as ervas daninhas eportanto filmes em que os perso­nagens tomam veneno são maissusceptíveis de ser interiorizadoscomo reais e não mera ficção.

Só queria alertar pois, paraesta particularidade que tem aver com os usos e costumes de

cada popula~ão.Jollo Barroco da CruzTorres Vedras

31/12/94

Page 66: Cartas ao Senhor Diretor

SuscitemosNa entrevista à Prova Oral (programa re­

cente do Canal! daRTP), Sua Excelência oSenhor Presidente da República repetiu mais~ 20 vezesa palavra suscitar. E empregandoverbos auxiliares (como meu devido respeito)do tipo: deve suscitar, tem o direito de susci­tar, é bom que suscite, tem que suscitar, etc.

Consultando o dicionário da Porto Editorade Língua Portuguesa, dos autores J. Almei­da Costa e A. Sampaio e Meio, na 5;ª edi­ção, tem os seguintes significados para a pala­vra suscitar: fazer nascer ou aparecer; provo­car; originar; sugerir; lembrar; revoltar. Paraa palavra suscitador, o dicionário tem os se­guintes significados: que ou aquele que susci­ta; instigador.

Claro está que a figura de amotinar asso­ciada ao verbo suscitar pode também identifi­car-se em algumas categorias exercidas pelosverbos auxiliares aplicados, mas estou certosem qualquer motivação ilegal de provocarmotim.

As variantes mais pacíficas para o suscitarsão o sugerir, lembrar; porque o originar ou ofazer náscer já tem a ver comum certo preten­siosismo referente a ideias originais próximasde uma certa genialidade pessoal. Evident~-

Diabo 3/1/95

mente que restam os significados mais agres­sivos, como sejam provocar ou revoltar quebasicamente dão otom amotinador à constru­ção verbal com o suscitar.

Também na palavra suscitador existe umaarmadilha própria de guerrilha propositada,quando significa instigador. Que se saiba, oinstigador está sujeito à incriminação judicialconsoante as proporções dos danos causadosnos actos públicos insurreccionais.

De qualquer modo, suscitar não é um verbodo agrado de um poeta, porque quer dizer três

categorias de sentimentos: exibição de genia­lidade, exibição de competência ou jogo derevoltas. Só de facto um poeta revolucionáriocom grande motivação de agressividade dogénero de Zeca Monso agarraria em pala­vras com uma certa dose de malícia.

Quer-me parecer, aliás, que há uma associa­ção entre o conteúdo verbal do nosso Presi­dente e a tremura que por vezes se nota nassuas mãos, que sobreleva contradições ouhiper-realismo entre forma verbal e senti­mento .•

. João Ricardo RisuelÍo Barroco da CruzTorres Vedras

Page 67: Cartas ao Senhor Diretor

Queria manifestar a minhaprofunda indignação pela con­tratação, por parte da recicladadirecção do Sport Club UniãoTorreense, do treinador-salva­dor Romeu, ex-treinador ad­junto do Belenenses.

Evidentemente que já esta­va à espera de uma "escolha"surrealista deste género. Presu­mo que Romeu na sua boa fépensará que pode remediar amanta de retalhos em que setransformou o Torreense, de·

pois das desatradas contrataçõ­es de jogadores e do treinador,no início da época. Não seiquantos jogadores já foramdespedidos, por incapacidade.Mas dois treinadores já se des­pediram, um contratado à reve­lia de tudo e de todos, o outro,torriense, deitado para a fo­gueira.

Já vai em três treinadores e

nós vemos que o Torreenseainda não levantou voo estaépoca. Em trinta pontos possí­veis fez 5. Já sofreu quarentagolos e nem dez deve ter mar­cado. As únicas vitórias claras

que conseguiu foi com clubesdo meio da tabela da terceiradivisão.

É tempo de dizer basta.Não estarão algumas pessoasda direcção do clube a pensarque depois de fazerem esta ba­gunça ninguém lhes vai pedirresponsabilidades. Esse tempo .já acabou. Agora toda a gente éresponsável pelos seus bons oumaus actos. E neste caso oTorreense está a ser vítima de

actos absolutamente reprová­veis, uma vez que é motivo desituação ridícula em toda a im­prensa nacional. (Eu li no Jor­nal de Notícias do Porto, nocafé Aliança na cidade daGuarda: "Torreense saloios a

sério", fiquei bastante enver­gonhado, mas se se pegar naBola, no Correio da Manhã, ogénero de críticas é o mesmo, aequipa desta época já nasceuderrotada para toda a época).

Eu já disse no início daépoca que temos no concelhode Torres Vedras uma pessoaqualificada, o Prof. João Lou­renço treinador do Ponterrolen­se, que apenas não é contratadopor ser torriense e por sofrer dofogo cruzado entre tribos da ci­dade. Eu disse que o prof. é apessoa indicada para treinar oTorreense. Mas agora não valea pena chamarem-no, quandoprecisarem de um quarto trei-o

nador, e de facto o prof.JoãoLourenço é mal empregue paratrabalhar com certas pessoasque não deviam estar no fute­bol.

Agora é a valer. Agora as­sumam as responsabilidades daasneirada que construiram. Pa­ra o ano a ver vamos.

• João Ricardo RisueiíoBarroco da Cruz

NR: A redacção do FREN­TEOESTE reservou-se ao di­

reito de cortar pequenas passa­gens desta carta queconsiderou entrarem no âmbito

das ofensas pessoais, pelasquais não nos poderiamos res­ponsabilizar ..

Pensamos no entanto que amissiva não perdeu o seu senti­do e a sua mensagem crítica.

Frenteoeste 5/1/95

Page 68: Cartas ao Senhor Diretor

Prova dos -nove

Os portugueses têm no cinismo umagrande dor de alma. Essa dor de alma cha­ma-se ironia. (...) Nos políticos, diz respeitoà sua capacidade de criar boa imagem e umambiente ficcional que lidere como objecti­vo a vida dos cidadãos. (...) Foi por isso quegostaria de ter convidado o Presidente daRepública a ter a seu lado na última con­soada um vagabundo dos que estão juntoao Teatro D. Maria 11, em Lisboa. Era sópara tirar a prova dos nove, ou seja, para sa­ber se teria a coragem de sentar à mesa osmalcheirosos com os netinhos muito apru­mados. Se calhar, até nem lhes estragaria afesta, porque os vagabundos têm a filosofiamais radical da fOlmade ser português.

JOÃO BARROCO DA CRUZTORRES VEDRAS-

Visão 12/1/95

Page 69: Cartas ao Senhor Diretor

1"'[-~~~~wPi!~c!or ]«A novaCâmara»

Senhor Director:

Numa última edição do Jor­nal Badaladas li um artigo defundo da autoria do dr. Carlos

Miguel, sob o título: «Umanova Câmara Municipal». Defacto a Câmara Municipal vaiser a mesma, parece é que osenhor deputado da nossaAssembleia Municipal se bateconvictamente por um novoedifício camarário.

O edifício custaria 200 milcontos e situar-se-ia em redor

da actual biblioteca, galeria eantiga Escola Preparatória.Presumo que a bibliotecamunicipal faria novamentemudança de instalações, assimcomo a galeria municipal. Emcompensação teríamos os vere­adores socialistas, sociaisdemocratas e comunistas todos

juntinhos no mesmo edifício ecom vistas para as avenidaspor onde passa o corso carna­valesco.

O maior empregador doconcelho de Torres Vedrasdaria assim melhores condi­

ções de trabalho aos seus tra­balhadores e a população teriaa sua Câmara Municipal numúnico edifício e mesmo àmão.

O financiamento seria feito

com subsídio de projectoapoiado pelo governo e a ren­tabilidade comercial do edifí­

cio camarário, penso que abiblioteca passaria a centrocomercial e a galeria a cabelei­reiro moderno, seria pordemais evidente. Os antigosedifícios camarários destinar­

-se-iam a agrupar as diversasorganizações de carácter cultu­ral existente na região, sob aégide de um futuro Forum Tor­reense, a funcionar predomi­nantemente na Praça do Muni­cípio, não se sabendo o queseria feito do edifício da Rua

Serpa Pinto nem da delegaçãode turismo, ou dos restantes

Badaladas

edifícios, porventura entreguesaos seus senhorios.

Fala o senhor deputado Car­los Miguel num projecto paraas gerações vindouras, pois asgerações vindouras quererãoum único edifício camarário

para desfrutarem plenamenteda sua cidade.

A mim parece-me que ageração vindoura não seráburocrática e que a maior partedos jovens torrienses nãoestará à espera de se empregarna Câmara Municipal ou depassar muito tempo a preen­cher papelada e a pagar contasnas tesourarias. A geração vin­doura já tem cartão de créditono bolso e já sabe fazer umatransferência bancária. Quantoaos empregos a inovação ine­rente à instalação na cidade decursos universitários fará com

que os jovens prefiram empre­gos no campo do ensino, dotrabalho por conta própria ouem gabinetes particulares deprojectos. (A mentalidade doantigo jovem a portar-se muitobem para o pai meter umacunha para entrar como escri­turário na Câmara já passou).Os horizontes dos novos

jovens são mais no âmbito dainiciativa privada.

Eu até acho que o projectodo novo edifício camarárionem é muito mau e até está

apresentado com competênciapelo senhor deputado. Só que éum projecto em circuitofechado. Ou seja, não haveráoutros projectos em que inves­tir a competência? Por exem­plo: uma rede de transportesurbanos que possibilitaria auma pessoa que mora na Con­quinha ir até ao MercadoMunicipal. Nada de exagerosde comprar uma frota de auto­carros como se fosse para umacapital de distrito. Mas parece­-me que os 200 mil contosseriam muito melhor empre­gues numa pequena rede detransportes urbanos. A menosque a Câmara Municipal tenhadinheiro a dar com potes .•

João Ricardo RisueiioBarroco da Cruz

13/1/95

Page 70: Cartas ao Senhor Diretor

Opiniõesque fazemreflectir

"Não sei porquê, as bibliote­cas públicas nacionais não têmjornais estrangeiros, nomeada­mente os jornais dos paísesafricanos de expressão portu­guesa. Excepção feita ao bardo Centro Cultural de Belém,que tem jornais ingleses, espa­nhóis, alemães, italianos; masnão é uma biblioteca pública etambém não tem jornais deAngola, Moçambique, CaboVerde, Macau, S. Tomé, Guiné,Goa, ou outros jornais dascomunidades portuguesas, porexemplo, «O Século», de Joa­nesburgo.

As Câmaras argumentam quenão têm dinheiro para comprarjornais, mas se fizessem comoos jardins zoológicos, que entresi trocam animais, também alihaveria jornais de consulta de

A leiturados jornaisé essencial .-

todo o mundo.

A consulta desses jornais éessencial para uma cultura queexiste mas não é acessível aos

portugueses, principalmentepor inoperância dos serviçosrespectivos.

No sábado (dia 24/12), com­prei em Ciudad Rodrigo o diá­rio «EI Pais», por 100 pesetas,aproximadamente 130 escu­dos. Lembremo-nos que estejornal é vendido em Portugal a220 escudos e, na maioria dasbancas, é do dia anterior.Como ia dizendo, este jornalque comprei trazia várias notí­cias de Portugal, de fazer pen­sar os portugueses sobre asituação política actual do país.

Não vou tocar nenhuma des­

sas notícias, porque penso nãoestarmos na figura do antes 25

de Abril, em que toda a gentesintonizava, às 11 da noite, aBBC, para ouvir as realidadesmais escondidas.

Limito-me a enunciar um arti­

go intitulado «EI fundamentalis­mo Liberal», que nada tem aver com Portugal e é da autoriade Ignacio Sotelo, catedráticode Ciências Políticas da Uni­versidade Livre de Berlim. Diz

este artigo, a certo passo: «Sidejamos sin proteccion ai tra­bajo y bajan con ello sensible­mente los salarios, hasta lasclasse medias podrian volver'adisfrutar dei servicio domestico.Mas de dos tercios de la mano

de obra colocada en el siglo 18eran criados».

Passagens como esta, ditaspor pessoas desta categoriaintelectual, deveriam merecer

mais importância por parte daopinião pública portuguesa,uma vez que o engº. AntónioGuterres já uma vez se aproxi­mou desta ideia histórica,

quando deu a ideia de empre­gar os desempregados dos têx­teis do Vale do Ave, temporari­amente, como empregadosdomésticos. E apresentou aideia, numa entrevista, comouma ideia inovadora.

O jornal «EI Pais», geral­mente tido, e pode-se verificarnas notícias que dizem respeitoa Portugal, como excepcional­mente informado, diz que asituação política do nosso paísé «gravíssima», na pág. 6".

João Ricardo Risueí'íoBarroco da Cruz

(Torres Vedras)

..•Correio da Manha 18/1/95

Page 71: Cartas ao Senhor Diretor

As finanças do SCUTNuma das últimas edições do

FrenteOeste dizia o jornalista queo orçamento do Spon Clube Uni­ão Torreense para a presente épo­ca de 94/95 era de 60 mil contos e

que essse seria o handicap do clu­be para a sua ridícula prestação nadivisão de honrn.

Imaginemos que os 60 milcontos são 50 mil contos. Ou seja,que apenas 50 mil contos são afe­ridos aos salários dós jogadores doplantei principal e ao salário dotreinador. Imaginemos tambémque só houve, esta época, um trei­nador e que as rescisões de contra­to e as novas aquisições são partede uma equipa equilibrada, compés e cabeça. de dezasseis jogado­res. Dividindo 50 mil por dezasse­te dá aproxilIladamente 2 mil tre­zentos e 40 contos para cadapessoa, 16 jogadores e um treina­dor. Dividindo por 12 meses dá osalário de 135 contos por mês acada um. Se recordarmos que aépoca de futebol tem apenas 10meses, dá bem a ideia de que o or­denado do ponta-pé na bola estáao nivel de um quadro da funçãopública, mas na versão do ridículofutebolístico. Lembremo-nos queo Torreense já somou 13 derrotasem 16 possíveis, só marcou 9 go­los e já sofreu 40 golos, tudo por­que o orçamento de 60 mil contosé pouco para uma equipa da divi­são de honrn. Lembremo-nos queos jogadores treinam uma vez por .dia e ao fim de semana estilo ins­talados em unidades hoteleiras

(para estágio), contando estas des­pesas, presumo, dos 10 mil contos

Frente dos Leitoresque eu reparti, tendo ainda ematenção as outras secções de fute­bol Guniorese infantis).

Presumo também que 60 milcontos sejam contabilizados dasreceitas previstas para os jogos emcasa, dos patrocínios, e das contri­buições das entidades respectivas.

Claro que toda a gente fala davenda dos terrenos do ex-futuro­

campo de futebol do Torreense noSarge. Diz-se que o valor dos ter­renos a urbanizar rondará os 300mil contos.

Como se vê no Torreense, não

há fome. Toda a gente tem salári­os actualizados e a equipa estábem orlentadinha financeirammte.

Só que não ganha um jogo. O quedesde logo faz paraoxo. Há equi­pas que não pagam aos jogadorese até conseguem bons resultados,por causa do brio profissional dosjogadores. No Torreense os joga­dores têm brio profissional, têmum salariozinho de subsídio de de­

semprego do futebol, só que aequipa simplesmente não funcio­na. E se não funciona azar dos

azares, paciência, para o ano con-

tinua o subsídio de desemprego,para aqueles que a direcção con­tratar para o novíssimo plantei aser anunciado em todos os jornaisdesportivos na época balnear.

Eu aprendi com um professordo Liceu que não há pouco dinhei­ro. Há simplesmente dinheiro bemou mal gasto. Neste caso os 60mil, contidos, digo 50 mil, são malgastos porque apenas promovem odescrédito do Torreense a nível

nacional. Era preferível não gastarum único tostão em ordenados econtratar voluntários de Torres pa­ra jogar semana a semana do quedistribuir estas notinhas pelos de­sempregados do futebol, nem aomenos se dizendo explicitamenteque se trabalha çm favor da lutacontra o desemprego no nossopaís. Diga-se país porque os joga­dores nem são os juniores do nos­so concelho. Ao menos tinha umcerto altruísmo se dissessem umexotismo, mais ou menos, dessegénero.

• João Ricardo RisueiíoBarroso da Cruz

Frentoeste 18/1/95