carta ao movimento estudantil...

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Carta ao Movimento Estudantil Brasileiro Jornada Nacional em Defesa da Educação Pública Os últimos anos foram uma enorme experiência da juventude brasileira. Em junho de 2013, extrapolamos os limites das escolas e universidades e tomamos as ruas em busca dos nossos sonhos, mostrando em cada manifestação que estamos cansados das condições de vida precárias, dos serviços públicos sucateados, do preconceito e a violência contra as mulheres, LGBTs e negros. A juventude deixou um recado: é preciso voltar a ocupar as ruas. Já no início desse ano, 2014, vimos os trabalhadores e o movimento popular entrarem em campo com a mesma indignação demonstrada pelos jovens. Uma série de greves ecoaram em todo o país e alcançaram vitórias, tanto econômicas quanto políticas. Foi a vez dos garis, operários da construção civil, metroviários e muitas outras categorias mostrarem o caminho das lutas para transformar o país. Por outro lado, o movimento estudantil também vem enfrentando, ao longo desses anos, uma política neoliberal de privatização e precarização da educação, desde o ensino básico ao universitário. Programas como o PROUNI, REUNI, PRONATEC dialogam com uma demanda existente, mas não caminham na consolidação do projeto de educação pública e de qualidade, com estrutura, assistência estudantil e financiamento adequado. Houve um crescente de políticas educacionais que concretizam o projeto de favorecimento do ensino privado. Apenas cerca de 15% da juventude está matriculada no ensino superior, sendo que mais de 70% deste número estuda nas faculdades privadas, pagando extorsivas mensalidades por um ensino de baixa qualidade e sem incentivo à pesquisa. No Brasil, infelizmente, a educação ainda é tratada como mercadoria, precisamos reverter essa lógica, e dar prioridade de investimento para o ensino público. No ensino superior público, apesar da ampliação do acesso, convivemos com salas de aulas lotadas, cortes de bolsas, como na UFRJ e na USP, e com uma grande carência de moradias e restaurantes, além da privatização dos hospitais universitários, a partir da EBSERH.Os setores oprimidos da juventude sofrem mais com a falta de assistência estudantil. Nas universidades públicas, privadas e nos Institutos Federais quase não existem políticas voltadas à permanência de mulheres, negros e negras e dos LGBTs.Por exemplo, há somente dezessete universidades que proporcionam creches (unidades de educação infantil) em todo o país. As cotas raciais são uma vitória do movimento negro, mas são ainda muito insuficientes e, onde existem, não vem acompanhadas de programas de permanência que garantam a juventude negra no ensino superior. Sem falar que nas universidades estaduais, a exemplo da USP, não possuem uma política de cotas que democratize o acesso. Por isso, em todos esses anos houve uma série de enfrentamentos nas universidades e escolas, desde greves, ocupações, debates e mobilizações em torno dos temas do acesso e da permanência. Os governos do PT não consolidaram uma política que mudasse significativamente a estrutura educacional brasileira, não ouviram as vozes das lutas e não atenderam nossas reivindicações. Ao mesmo tempo, sabemos que o PSDB não é, nem de longe, uma alternativa para a educação. Pelo contrário, o período FHC teve uma política desastrosa para a educação. Por exemplo, as condições da educação básica de SP, onde o PSDB governa há 20 anos, o piso salarial dos professores não é respeitado, negam as cotas nas universidades estaduais e promovem uma política financeira que levou essas universidades à falência cortando bolsas e reajustes de salários, desvinculando os Hospitais Universitários da USP entre outros graves ataques à educação na tentativa de privatizar as

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Page 1: Carta ao Movimento Estudantil Brasileiroportal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-ult-1350215015.pdfCarta ao Movimento Estudantil Brasileiro Jornada Nacional em Defesa da Educação

Carta ao Movimento Estudantil Brasileiro

Jornada Nacional em Defesa da Educação Pública

Os últimos anos foram uma enorme experiência da juventude brasileira. Em junho de 2013,

extrapolamos os limites das escolas e universidades e tomamos as ruas em busca dos nossos

sonhos, mostrando em cada manifestação que estamos cansados das condições de vida

precárias, dos serviços públicos sucateados, do preconceito e a violência contra as mulheres,

LGBTs e negros. A juventude deixou um recado: é preciso voltar a ocupar as ruas.

Já no início desse ano, 2014, vimos os trabalhadores e o movimento popular entrarem em

campo com a mesma indignação demonstrada pelos jovens. Uma série de greves ecoaram em

todo o país e alcançaram vitórias, tanto econômicas quanto políticas. Foi a vez dos garis,

operários da construção civil, metroviários e muitas outras categorias mostrarem o caminho das

lutas para transformar o país.

Por outro lado, o movimento estudantil também vem enfrentando, ao longo desses anos, uma

política neoliberal de privatização e precarização da educação, desde o ensino básico ao

universitário. Programas como o PROUNI, REUNI, PRONATEC dialogam com uma demanda

existente, mas não caminham na consolidação do projeto de educação pública e de qualidade,

com estrutura, assistência estudantil e financiamento adequado.

Houve um crescente de políticas educacionais que concretizam o projeto de favorecimento do

ensino privado. Apenas cerca de 15% da juventude está matriculada no ensino superior, sendo

que mais de 70% deste número estuda nas faculdades privadas, pagando extorsivas

mensalidades por um ensino de baixa qualidade e sem incentivo à pesquisa.

No Brasil, infelizmente, a educação ainda é tratada como mercadoria, precisamos reverter essa

lógica, e dar prioridade de investimento para o ensino público.

No ensino superior público, apesar da ampliação do acesso, convivemos com salas de aulas

lotadas, cortes de bolsas, como na UFRJ e na USP, e com uma grande carência de moradias e

restaurantes, além da privatização dos hospitais universitários, a partir da EBSERH.Os setores

oprimidos da juventude sofrem mais com a falta de assistência estudantil. Nas universidades

públicas, privadas e nos Institutos Federais quase não existem políticas voltadas à

permanência de mulheres, negros e negras e dos LGBTs.Por exemplo, há somente dezessete

universidades que proporcionam creches (unidades de educação infantil) em todo o país.

As cotas raciais são uma vitória do movimento negro, mas são ainda muito insuficientes e,

onde existem, não vem acompanhadas de programas de permanência que garantam a

juventude negra no ensino superior. Sem falar que nas universidades estaduais, a exemplo da

USP, não possuem uma política de cotas que democratize o acesso.

Por isso, em todos esses anos houve uma série de enfrentamentos nas universidades e

escolas, desde greves, ocupações, debates e mobilizações em torno dos temas do acesso e

da permanência. Os governos do PT não consolidaram uma política que mudasse

significativamente a estrutura educacional brasileira, não ouviram as vozes das lutas e não

atenderam nossas reivindicações. Ao mesmo tempo, sabemos que o PSDB não é, nem de

longe, uma alternativa para a educação. Pelo contrário, o período FHC teve uma política

desastrosa para a educação. Por exemplo, as condições da educação básica de SP, onde o

PSDB governa há 20 anos, o piso salarial dos professores não é respeitado, negam as cotas

nas universidades estaduais e promovem uma política financeira que levou essas

universidades à falência cortando bolsas e reajustes de salários, desvinculando os Hospitais

Universitários da USP entre outros graves ataques à educação na tentativa de privatizar as

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universidades públicas, provocando a maior greve da história da USP.

Diante de tudo isso o recém aprovado PNE do governo federal transforma as políticas

educacionais implementadas no último período em políticas de Estado, deixando o legado de

precarização aos próximos governos. Além disso, o novo PNE amplia o investimento público na

educação privada e adia a promessa de destinar 10% do PIB à educação pública por mais dez

anos.

Diante dessa conjuntura, pela primeira vez desde a década de 90, o movimento unificado da

educação, incluindo professores, funcionários e estudantes, se reuniu no Encontro Nacional de

Educação. O ENE foi construído por fora das estruturas do governo e foi uma vitória que

demonstra a necessidade e a possibilidade de nossa unidade.

O ENE unificou todo o movimento em torno de bandeiras comuns em defesa da educação

pública de qualidade, universal e gratuita e rechaçou o novo PNE. O encontro reafirmou,

especialmente, a necessidade de rearticulação de um movimento nacional em torno das lutas,

dando como primeiro passo a construção de uma verdadeira jornada de lutas em defesa da

educação pública na segunda quinzena de Outubro.

Nesse sentido, queremos convidar todos os estudantes brasileiros para a mobilização unitária

nesta segunda quinzena de outubro. Já temos atividades marcadas em SP, RJ, PE, PB, RN,

PA e outros lugares já estão fechando suas atividades.

Achamos que é fundamental a unidade dos diversos setores do movimento estudantil que não

se renderam aos governos, mantendo sua autonomia em defesa dos direitos

dos estudantes.Com essa carta, convocamos o conjunto da juventude estudantil para se

mobilizar em defesa da educação pública brasileira.

Nesses dias ocorrerão atos de rua, panfletagens, debates, exposição de vídeos e muito mais.

O certo é que a juventude não se rende. Queremos colocar em marcha todo o potencial que a

unidade dos lutadores da educação tem de mobilizar esse país.

Assinam esta carta:

Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre

Campo da Oposição de Esquerda na UNE