carta aberta aos educadores do cariri

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CARTA ABERTA AOS EDUCADORES DO CARIRI Aldo Luna Tenho um pouco mais de vinte anos que trabalho como educador. Tive experiências valiosas em todos os módulos de ensino. Fui secretário de educação de Barbalha. Fiz parte do staff de universidade e de escola públicas. Há quase dez, respiro o ar de coordenador pedagógico de escola particular. Tenho dois filhos: um pré- adolescente e uma adolescente. Sou casado com uma professora. Tenho outros irmãos que também lidam, de alguma forma, com a educação. Todos educados sob a égide da leitura, do diálogo e dos bons valores. Inicialmente, isso pode parecer um marketing pessoal. Peço desculpas se me faço entender assim... Porém digo isso para evidenciar uma preocupação de alguém que entende saber dimensionar o verdadeiro valor da educação e que ama o que faz. Digo isso para expressar a real e dura dimensão de quem está preocupado com a formação de nossa gente. Digo isso para evidenciar que assisto, estupefato, os comportamentos inaceitáveis de uma sociedade cujos sintomas de descivilização são evidentes. Os que ouvem, lêem jornais ou vêem noticiários na TV devem estar informados sobre os altos índices de violência em nossa região. As estatísticas são alarmantes. O número de assassinatos, de adolescentes grávidas, de assaltos, de estupros, de traficantes de drogas, de usurários de alucinógenos cresce ininterruptamente. Por outro lado, facilmente, percebe- se a violência ao meio ambiente, as incorreções ecológicas mais absurdas, como por exemplo, jogar uma simples latinha de refrigerante para fora de um carro em movimento. Ou quem ainda não viu um simples jumentinho mexendo nos depósitos de lixo das ruas de nosso Cariri? O que falta dizer mais? Estamos retornando ao período pré- histórico exatamente na era da tecnologia, da informação rápida, da internet, do ipod, dos celulares... Que mundo paradoxal é esse? O que está acontecendo com o nosso povo? Por que só buscamos a culpa nos outros ou nas instituições? E nós, o que temos feito para frear esse processo de degradação da família? Poderia ir mais além para evidenciar a complexidade do tempo em que estamos vivendo. Pais que estimulam seus filhos menores a dirigir motos e automóveis. Pais que incentivam seus filhos a um gosto musical que jogam ao lixo todos os valores morais. Pais que financiam a instalação de sons nos carros cujos decibéis ultrapassam em muito o permitido para o bem-estar da saúde humana. E onde está a tolerância? A paciência e a compreensão parecem em extinção. Cadê a evolução espiritual e intelectual de nossa gente? Pitágoras, um grande filósofo e matemático grego, nascido no ano de 570 a.C, já dizia: Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos. Não parece um absurdo que depois de tanto tempo precisemos chamar atenção para tal?

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Page 1: CARTA ABERTA AOS EDUCADORES DO CARIRI

CARTA ABERTA AOS EDUCADORES DO CARIRIAldo Luna

Tenho um pouco mais de vinte anos que trabalho como

educador. Tive experiências valiosas em todos os módulos de

ensino. Fui secretário de educação de Barbalha. Fiz parte do staff

de universidade e de escola públicas. Há quase dez, respiro o ar

de coordenador pedagógico de escola particular. Tenho dois

filhos: um pré-adolescente e uma adolescente. Sou casado com

uma professora. Tenho outros irmãos que também lidam, de

alguma forma, com a educação. Todos educados sob a égide da

leitura, do diálogo e dos bons valores.

Inicialmente, isso pode parecer um marketing pessoal.

Peço desculpas se me faço entender assim... Porém digo isso

para evidenciar uma preocupação de alguém que entende saber

dimensionar o verdadeiro valor da educação e que ama o que faz.

Digo isso para expressar a real e dura dimensão de quem está

preocupado com a formação de nossa gente. Digo isso para

evidenciar que assisto, estupefato, os comportamentos

inaceitáveis de uma sociedade cujos sintomas de descivilização

são evidentes.

Os que ouvem, lêem jornais ou vêem noticiários na TV

devem estar informados sobre os altos índices de violência em

nossa região. As estatísticas são alarmantes. O número de

assassinatos, de adolescentes grávidas, de assaltos, de estupros,

de traficantes de drogas, de usurários de alucinógenos cresce

ininterruptamente.

Por outro lado, facilmente, percebe-se a violência ao

meio ambiente, as incorreções ecológicas mais absurdas, como

por exemplo, jogar uma simples latinha de refrigerante para fora

de um carro em movimento. Ou quem ainda não viu um simples

jumentinho mexendo nos depósitos de lixo das ruas de nosso

Cariri? O que falta dizer mais? Estamos retornando ao período

pré-histórico exatamente na era da tecnologia, da informação

rápida, da internet, do ipod, dos celulares... Que mundo

paradoxal é esse? O que está acontecendo com o nosso povo?

Por que só buscamos a culpa nos outros ou nas instituições? E

nós, o que temos feito para frear esse processo de degradação da

família?

Poderia ir mais além para evidenciar a complexidade do

tempo em que estamos vivendo. Pais que estimulam seus filhos

menores a dirigir motos e automóveis. Pais que incentivam seus

filhos a um gosto musical que jogam ao lixo todos os valores

morais. Pais que financiam a instalação de sons nos carros cujos

decibéis ultrapassam em muito o permitido para o bem-estar da

saúde humana. E onde está a tolerância? A paciência e a

compreensão parecem em extinção. Cadê a evolução espiritual e

intelectual de nossa gente? Pitágoras, um grande filósofo e

matemático grego, nascido no ano de 570 a.C, já dizia: Educai as

crianças, para que não seja necessário punir os adultos. Não

parece um absurdo que depois de tanto tempo precisemos

chamar atenção para tal?

Nas escolas, tristemente, temos percebido uma

verdadeira entrega de bastão. Muitos em prioridade ao ter,

entregam às escolas uma responsabilidade que não pode ser só

dela. Outros, pela desinformação, por não saber como lidar com

os filhos pensam que é na escola onde os filhos devem ser

educados. Ledo engano! A responsabilidade de educar, de dar

limites sempre foi e sempre será dos pais.

Diversas vezes, em conversas com colegas de outros

unidades nos pegamos discutindo sobre realidades parelhas. O

que está sendo ensinado hoje precisa de uma nova revolução.

Precisamos inovar em vários aspectos. As crianças e

adolescentes de hoje têm experiências fantásticas no mundo da

tecnologia e aprender apenas porque o conteúdo está imposto no

livro já não é tudo. O professor precisa ser muito mais criativo e

acompanhar essa evolução. Mas o acompanhamento dos estudos

dos filhos têm de ser dos seus responsáveis. É indispensável que

os pais perguntem como eles estão se saindo nas avaliações,

como foi o dia, como ele está. Os filhos precisam ser cuidados.

Pai que é pai de verdade, sente a profunda necessidade de ser

exemplo. Que tipo de exemplos temos sido?

A questão de um filho sair-se bem numa série e na outra

não, por outro lado, têm vários aspectos, um deles é o simples

fato de não estudar para aprender, com prazer, com

responsabilidade, com idealismo, mas preocupado,

momentaneamente , em ganhar um playstation. É o que

chamamos aprendizagem descartável. Outras vezes, acontece que

a imaturidade do estudante não acompanha a insensibilidade

docente. Afinal, o vestibular passou a ser mais importante do que

a formação humana. O que fazer? Juntar forças, perceber que

sempre podemos melhorar e agir para o bem de nossa gente

Cariri. De fato, precisamos formar cidadãos. Caso contrário,

continuaremos lendo, vendo e ouvindo as mais tristes notícias de

uma sociedade que ora vive numa involução comportamental

progressiva.

MARÇO DE 2009

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