carregando o elefante

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CARREGANDO O ELEFANTE Como transformar o Brasil no país mais rico do mundo

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Livro Carregando o Elefante

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Page 1: Carregando o Elefante

CARREGANDO O

ELEFANTEComo transformar o Brasil no

país mais rico do mundo

Page 2: Carregando o Elefante

Agradecimentos

“Muitas pessoas ajudaram na realização deste livro, contri-

buindo com idéias, sugestões, correções e divulgação. Gosta-

ríamos de agradecer ao publicitário Fernando Teixeira da

Agência Sioux e ao designer Ophir Ribeiro de Sá pela contri-

buição nas pesquisas mercadológicas. Temos também um

agradecimento especial à desenhista industrial Gabriela

Feder pelo desenho definitivo de nossa capa e título. Nosso

obrigado ao cartunista Leandro Spett pelas inteligentes ilus-

trações. Agradecemos aos caros Maria Kohan e Maxim

Behar pelo ótimo apoio editorial. Também agradecemos a

contribuição da GAK Associados pelas idéias e pesquisas

sugeridas. Agradecemos a nossa assessora de imprensa

Cecília Schonenberg. Durante todo o processo tivemos o

apoio de nossas famílias e aqui registramos nossa gratidão

a Julia, Gabriela, Rafael, Tatiana, Susan, Denise e Roberto.

Por fim, o agradecimento mais especial às nossas esposas,

Priscila e Tally, por todo carinho, compreensão, dedicação e

amor que nos deram.”.

Page 3: Carregando o Elefante

ALEXANDRE OSTROWIECKI

RENATO FEDER

CARREGANDO O

ELEFANTEComo transformar o Brasil

no país mais rico do mundo

Page 4: Carregando o Elefante

Produção Gráfica: MCT BOOKS

Capa: Gabriela Feder

Revisão: Renata Del Nero

Ilustrações: Leandro Spett

© Copyright 2007-2008 by Alexandre Ostrowiecki e Renato Feder

© Copyright 2007-2008 by Hemus

Mediante Contrato firmado com os Autores.

Todos os direitos adquiridos

e reservada a propriedade literária desta publicação pela

HEMUS LIVRARIA, DISTRIBUIDORA E EDITORA

Visite nosso site: www.hemus.com.br

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Page 5: Carregando o Elefante

DEDICATÓRIA

Vá até a cozinha e pegue um pedaço de pão. Colo-que-o sobre a mesa e fique observando-o. Como ésimples, aparentemente! O pão é um bem que podeser adquirido por qualquer pessoa. Mesmo o mise-rável dos miseráveis pode esmolar no farol umamoedinha e, por trinta centavos, comprar umpedaço de pão numa das dezenas de milhares depadarias do País.

Ao mesmo tempo, como é precioso! Se o leitor fossecolocado no meio da floresta e recebesse a ordemde produzir pão, quem seria capaz de fazê-lo?Quem saberia, dentre a vegetação silvestre, encon-trar os pés de trigo selvagem? Quem saberia prepa-rar o solo e plantar a quantidade necessária? Quemsaberia colher, secar e triturar os grãos, preparar amassa, arranjar fermento e acender o fogo? Omáximo que a maioria de nós conseguiria fazerseria gastar energia e permanecer de barriga vazia.Mesmo com cinco, dez ou trinta pessoas ajudando,o resultado seria o mesmo. Nós sabemos fazer pro-jeções em uma planilha de Excel, dirigir veículos oufazer pagamentos via Internet. No entanto, nãosabemos produzir o pão que nos manterá vivosamanhã.

Todos os bens e serviços do planeta contém algumtrabalho. O trabalho é um dos componentes dariqueza. No entanto, seriam ingênuos aqueles que

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afirmam ser a riqueza fruto exclusivo do trabalhobraçal. Afirmariam que trabalho, por conta própria,gera as riquezas da humanidade e que o resto éapropriação indébita do esforço do trabalho.

Na verdade só existe riqueza quando existe inova-ção. Mesmo no caso de um simples pedaço de pão,ele só pode existir devido às invenções de pessoasao longo de milhares de anos. Se não houvesseaquele que descobriu a semente, aquele que apren-deu a lidar com o solo ou que conseguisse, pela pri-meira vez, realizar os processos descritos acima,hoje não haveria pão. Se isso é verdade para aquelesimples alimento, o que dizer de um computadorde última geração? Dentre os milhares de dólaresque se paga por um computador avançado, quantodisso é necessário para custear o trabalho braçal demontagem? Por que o computador avançado valealguns milhares de dólares enquanto o modelo decinco anos atrás não vale mais nada? Ambos usama mesma quantidade de mão-de-obra e materiaispara serem produzidos...

A verdade é que a riqueza nada mais é do que ofruto da genialidade humana e da insistência dehomens e mulheres em fazer coisas melhores. Averdadeira riqueza está em criar coisas, é isso quenos distingue dos animais. Os seres humanos sósão completos quando eles são capazes de criar. Ocomputador avançado vale mais porque nele seagregaram as criações mais recentes permitidaspela inesgotável criatividade humana.

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Produzir é diferente de consumir. É impossível umapessoa produzir todos os bens de que necessitapara levar uma boa vida. Para suprir a diferença,cada pessoa tem de obter externamente os bens quenão consegue criar por conta própria. Para essefim, existem duas e apenas duas formas possíveisde se obter bens materiais.

A primeira é a troca, a entrega de valor pelo valor.Se uma pessoa tem pão e outra tem peixe, elaspodem trocar, usando a taxa de conversão que foraceitável para ambas. A troca só existe se for boapara ambas as partes porque, do contrário, umlado se recusará a trocar. Uma característica intrín-seca da troca legítima é que duas pessoas sempresaem dela mais satisfeitas do que entraram. A trocaé fundamentada em valor, não em lamentos. Ela éfundamentada em respeito, não em intimidação. Asúnicas limitações à troca são práticas. Se você quertrocar pão pelo peixe de seu vizinho, não haveráproblemas. No entanto, se você quiser trocar com-putadores avançados alemães por serviços de tele-fonia do Vietnã, isso não será nada fácil de trocar...

O que seria o dinheiro, nesse contexto? De que valeum punhado de papel velho, cortado em tiras eescrito na frente e no verso? Concretamente odinheiro não vale nada. Quanto vale uma pilha dejornais usados? Nada. O mesmo ocorreria com odinheiro. Ele não pode ser comido, nem bebido,nem satisfaz qualquer outra necessidade humana.

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O dinheiro só tem valor por intermédio da confi-ança que se deposita nele. Em uma nação com con-fiança, as pessoas acreditam que pessoas produti-vas aceitarão o seu dinheiro e entregarão em trocadele o melhor de seu trabalho e inteligência. Odinheiro é um direito que se obtém, por meio dacriação de valor, sobre o valor dos outros. O dinhe-iro só tem valor quando pessoas produtivas dão aele significado e endosso. O dinheiro é a forma deviabilizarem-se trocas.

Em uma nação com confiança, todos sabem o valordo dinheiro e o respeitam. O dinheiro vale exata-mente o mesmo que a produção de bens reais sobrea qual o dinheiro se apóia. As pessoas sabem dissoe o governo sabe disso. Sabem que não podem gas-tar mais do que arrecadam, pois estarão apenasgerando inflação e destruindo o valor do dinheiro.

Se a primeira forma de se obter bens é a troca, asegunda forma é a violência. Só se pode receberalgo de alguém ou pela troca ou pela extorsão. Nãoexiste nenhum outro meio. Usando-se violência,pode-se saquear em um minuto a riqueza acumu-lada durante toda uma vida. Às vezes a violência épraticada pelo bandido da esquina, às vezes porquadrilhas organizadas e às vezes pelo Estado,tomando bens que não lhe pertencem para suprirsuas necessidades infinitas. Ao longo da históriahumana, a violência sempre foi a forma maiscomum de se obter bens. Conquistadores, reis,imperadores e outros utilizaram-se da violênciapara se apropriar da riqueza de quem estava inven-

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tando e trabalhando. No entanto, a violência só con-segue tomar, nunca consegue produzir. Nenhumaviolência no mundo, aplicada sobre milhares depessoas ignorantes, seria capaz de fazê-los produzirum simples pedaço de pão caso não saibam fazê-lo.

Mais recentemente, ao caminhar na direção dademocracia liberal, a humanidade finalmente pas-sou a dar à troca seu devido valor e criou modelosde nação em que as pessoas se submetem à lei e osdireitos individuais estão no topo das prioridades.Pela primeira vez, em alguns países, o incentivomaior às pessoas foi para a criação e para a troca,não para a conquista violenta da riqueza alheia. Oresultado foi uma criação de riqueza sem preceden-tes na história humana. A enorme riqueza que onosso mundo moderno gerou, essa riqueza que, nospaíses desenvolvidos, praticamente eliminou a mor-talidade infantil, permitiu às pessoas viverem quaseum século e fez com que as famílias tivessem far-tura digna de realeza, só foi possível em virtude datroca e de seu mensageiro, o dinheiro.

Este livro é dedicado ao dinheiro, símbolo da criati-vidade humana. Símbolo da vontade de homens emulheres de melhorar de vida. A criação humanamais sublime e, ao mesmo tempo, maisdemonizada.

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ÍNDICE

PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

PARTE I — O PROBLEMA . . . . . . . . . . . 15

Teu Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Impostos suecos e serviços públicos nigerianos . 19

Saindo da esteira . . . . . . . . . . . . . . . . 21

O público na privada . . . . . . . . . . . . . . 24

Pagando a conta . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Drenando o pântano. . . . . . . . . . . . . . . 32

Desconstrução . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Os frutos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Além do que existe. . . . . . . . . . . . . . . . 38

PARTE II — A SOLUÇÃO . . . . . . . . . . . 41

De elefante para pomba . . . . . . . . . . . . . 43

Como escolher? . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

A cabeça da pomba . . . . . . . . . . . . . . . 61

O menor sim, o médio não. . . . . . . . . . . . 76

Exército . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

Insegurança pública . . . . . . . . . . . . . . . 86

Polícia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

Judiciário criminal . . . . . . . . . . . . . . . 96

Cadeias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

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Se quiser comprar, compre. . . . . . . . . . . 108

Rumo à paz . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

Perdendo mais alguns quilos . . . . . . . . . . 114

Vigiando os musculosos . . . . . . . . . . . . 118

A raposa e o galinheiro . . . . . . . . . . . . . 120

A escada no fundo do poço . . . . . . . . . . . 124

A cura para todos os males? . . . . . . . . . . 130

Cheque em branco sem fundos . . . . . . . . . 142

O cofre enferrujado . . . . . . . . . . . . . . 147

Rompendo os grilhões . . . . . . . . . . . . . 153

Dispensando a babá . . . . . . . . . . . . . . 166

CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . 181

A direção da estrada . . . . . . . . . . . . . . 183

A turma no restaurante. . . . . . . . . . . . . 186

O que fazer? . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191

Conscientização . . . . . . . . . . . . . . . . 193

Mobilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200

Qual João? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203

Resumo das principais propostas . . . . . . . 208

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PREFÁCIO

Aldous Huxley em “O admirável mundo novo” jádescreveu o Estado onipotente onde até os óvulosfemininos eram propriedade do Estado e os fetos,gerados em provetas e desenvolvidos em incubado-ras, eram depois “amestrados”, segundo suas parti-culares biológicas, para exercerem as mais variadasatividades: desde garis a cientistas. George Orwell,em “1984" expôs o Estado do ”big brother" ondecada cômodo de cada residência era devassado poruma câmara digital até que o herói da história foiflagrado, em pleno bosque, em ação “ anti-social”,por uma câmara oculta em frondosa árvore. Kafka,em “O Processo”, relata outro Estado discricionárioonde o acusado era interrogado sobre coisas e atosque ele absolutamente ignora e nem sabia do que oacusavam. A arte imita a vida, ou vice-versa!

O Estado imaginado em “Carregando o elefante" é aantítese de tudo isto.

O indivíduo, mesmo sem condições, é desafiado aandar com as próprias pernas. Talvez, sem mule-tas, as potencialidades passam aflorar e as estataisinviáveis desapareçam sem causar maiores danos,simplesmente, O que é certo é que os Estados imis-cuidores e onipotentes nunca tiveram êxito. Nem naficção nem na realidade. O modelo de gestão dacoisa pública ali sugerido está fadado a provocaracalorados debates pois o que ali se propõe é um

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desmonte significativo do arcabouço do Estado oque tem conseqüências positivas e negativas.

Antonio Ermírio de MoraesPresidente do Conselho de Administração do

Grupo Votorantim

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PARTE IO PROBLEMA

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Teu Brasil

Como seria o País de seus sonhos? Como seria oBrasil caso você de repente desenvolvesse o poderde mudá-lo a seu bel prazer? Você preferiria quehouvesse educação de graça para todos ou cada umdeveria poupar para pagar a escola que quiser?Você pagaria mais impostos para o Estado cuidardos pobres ou pagaria menos, para gerar empre-gos? Você preferiria ter aposentadoria obrigatóriaou arcaria com suas próprias decisões durante ajuventude, poupando quanto você quisesse se vocêquisesse? A polícia seria mais dura com o crime ecorreria o risco de avançar sobre algumas liberda-des individuais? Mais igualdade ou mais liberdade?

Cada povo deve fazer esses questionamentos e deci-dir como construirá seu futuro. Diferentes respos-tas para as perguntas acima fizeram surgir diferen-tes modelos de nação, alguns implantados commais sucesso e outros com menos. Nós, autoresdesse texto, fizemos o mesmo e criamos a nossaprópria visão do que seria o Brasil ideal para nós.Algumas das idéias aqui expostas são bastante ino-vadoras, outras fazem parte do dia-a-dia das socie-dades dos países que chamamos de desenvolvidos.Para muita gente, este texto parecerá um tanto radi-cal, outros acharão que as propostas aqui contidassão meras fantasias impraticáveis.

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No entanto, o que podemos garantir é que as análi-ses aqui realizadas são honestas e coerentes com osnossos princípios. Garantimos também que esta-mos oferecendo uma visão bastante concreta para oPaís. Não somos ligados a nenhum partido ou movi-mento político; não temos receio de pisar nos calosde ninguém. Tampouco pretendemos deixar o leitorao final do texto com uma coletânea de chavões semutilidade. Nossa única ideologia é o que a nossainteligência e o nosso bom senso nos dizem ser ocerto. Concordando ou não o leitor com a nossaforma de ver o Mundo, esperamos pelo menos queas idéias aqui colocadas provoquem a sua reflexãosobre o assunto.

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Impostos suecos e serviçospúblicos nigerianos

Pouca gente em sã consciência diria que a situaçãoatual do Brasil é perfeita. Alunos das escolas públi-cas estudam com professores semi-analfabetos,tirando as piores notas de Matemática do mundo.Hospitais apodrecem sem dinheiro nem médicos,enquanto filas de doentes esperam do lado de fora,alguns morrendo e outros voltando para casa sematendimento. Aposentados da iniciativa privadarecebem uma pensão que não compra nem um cafe-zinho por refeição, enquanto alguns juízes aposen-tados recebem fortunas maiores que a renda de umpresidente de multinacional. Nas ruas, a populaçãosobrevive apavorada vinte e quatro horas por diaporque os bandidos contam com a impunidade quereina no País e com o despreparo da polícia. Asestradas em frangalhos, aeroportos em estado caó-tico, a justiça que leva uma década para julgar umadisputa comercial, enfim, serviços públicos que nãofazem jus a esse nome.

Na outra ponta dessa equação está o leão tributáriomais voraz do planeta. Um governo que devora umadas proporções mais altas da riqueza do País que jáse viu. Esses recursos todos são cobrados por meiode dezenas de tipos de impostos, taxas e contribui-ções. As regras mudam tão rápido e a cobrança étão complicada que ninguém sabe realmente se estáagindo de acordo com a lei ou não. O que quer que

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a pessoa faça, ela sempre estará infringindo algumaminúcia da extensa e contraditória legislação,abrindo espaço para os vendedores de facilidades.É uma montanha de dinheiro saqueada das empre-sas e dos trabalhadores e que, após trafegar pelasesquinas da corrupção, transforma-se em... absolu-tamente nada. Os desvios são tão grandes que, ape-sar de o Estado saquear tanta riqueza e não entre-gar quase nada em troca, a dívida continua cres-cendo, ou seja, o problema só tende a acentuar-se.Assoladas por impostos pesados, juros estratosféri-cos e regras que mudam do dia para a noite, asempresas brasileiras acabam ficando com altos cus-tos, tornando os produtos e serviços muito maiscaros e o desemprego muito maior.

Ou seja, uma pessoa comum que trabalha com car-teira assinada entrega um terço do seu salário dire-tamente ao governo, sob a forma de impostos dire-tos. Outro terço vai embora em forma de impostossobre os produtos que ele compra, como arroz ouTV. O restante ele gasta com serviços privados, osmesmos que o governo deveria entregar gratuita-mente a ele em troca dos dois terços do seu dinhe-iro que foram previamente saqueados.

É esse o Brasil dos seus sonhos?

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Saindo da esteira

Assim como numa esteira de corrida, na qual segasta tempo e energia sem sair do lugar, escapardesse círculo vicioso não é fácil, mas tampouco éimpossível. Caso o Brasil queira realmente sair daarmadilha em que se meteu, precisa mudar profun-damente. Mas se conseguirmos fazer o que é pre-ciso, as vantagens serão enormes.

Imagine o potencial de um país com um clima igualao nosso, onde os produtos agrícolas crescem duasvezes mais rapidamente do que no hemisférionorte. Um lugar com belezas naturais incontestáveise infindável potencial turístico. Um país em que opovo é alegre e criativo, com uma cultura aberta ecalorosa. Um lugar cuja última guerra ocorreu háum século e meio atrás e onde as grandes catásfro-fes naturais são conhecidas apenas pelas fotos dejornais. Uma mudança profunda na direção certa,mental e estrutural, pode levar o Brasil a um verda-deiro círculo virtuoso. Estamos falando de um paísde crescimento econômico rápido, de melhoria deindicadores sociais, de uma educação que nosimpulsione à frente de qualquer outro lugar. De umBrasil onde as regras do jogo estão claras e as opor-tunidades são imensas para qualquer um atingir omáximo que a sua própria capacidade permitir.

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Esse país pode ser daqui a vinte anos o melhorlugar do planeta para se viver. É querer demais?

Nós, autores deste texto, achamos que não. Esse é oBrasil dos nossos sonhos.

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O público na privada

O papel do Estado

As coisas quase sempre andam pior numa institui-ção pública do que numa privada basicamente porquatro motivos: pouca competição, garantia de per-petuação, pouco foco no resultado e baixo nível decontrole dos processos. Esses motivos serão anali-sados a seguir:

COMPETIÇÃO: A competição é o principal fator deevolução das empresas. Em uma sociedade livre, ascompanhias lutam entre si para conquistar e man-ter seus clientes. Isso só pode ser feito por meio deinvestimentos em melhor qualidade dos processos,dos produtos, das pessoas, o que leva à redução decustos e possibilita à empresa oferecer produtoscom menores preços tornando-a mais competitiva.Nessa corrida, a sociedade ganha como um todo, jáque a economia agita-se gerando resultados efeti-vos, como laboratórios criando mais remédios,empresas de construção civil erguendo cada vezmais edifícios de modo cada vez mais eficiente ebarato. Tudo para ganhar mais mercado, pois seuma empresa ficar parada, será engolida por suasconcorrentes. Nessa luta, só há uma vencedora: asociedade, que recebe os frutos de toda essa evolu-ção. Para se atingir esse círculo virtuoso só é neces-sário que existam regras claras e liberdade paracompetir.

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No caso das atividades públicas, muitas vezes existeum monopólio controlando o setor, ou seja, não hácompetidores. Prestando bom ou mau serviço, apopulação é obrigada a usar os serviços públicos,por falta de opções. Se você precisa, por exemplo,tirar um passaporte, é obrigado a usar a mesmarepartição pública, quer lhe atenda em cinco minu-tos ou em cinco horas. Não é possível escolher umaoutra opção, como uma empresa privada, paraobter esse documento.

Se tal escolha fosse possível, uma empresa privadarapidamente perderia os clientes se os fizessemesperar cinco horas por um documento. Certa-mente essa empresa iria à falência, na medida emque seus clientes (os cidadãos) teriam outrasopções e, com certeza, passariam a escolher compa-nhias mais ágeis.

GARANTIA DE SOBREVIVÊNCIA: Empresas públi-cas não vão à falência. Mesmo que os serviçossejam péssimos, mesmo que haja competição comempresas da iniciativa privada (como o setor petro-químico — petróleo) e as estatais sofram prejuízosatrás de prejuízos, ainda assim a empresa públicapode contar com o socorro do Estado para tapar osrombos e manter a atividade. Efeito disso é a redu-ção cada vez maior da presença do espírito demelhoria e do senso de urgência de mudança. Asensação de imortalidade reforça a baixa qualidadee a ineficiência dos órgãos públicos. Essa sensaçãoestende-se aos funcionários públicos que lá traba-lham, uma vez que a Constituição os protege contra

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a demissão. Enquanto nos Estados Unidos ou naInglaterra, por exemplo, os servidores públicospodem ser demitidos a qualquer momento casoapresentem baixo desempenho, no Brasil eles nãotêm esse risco.

MERITOCRACIA: Em qualquer empresa existembons e maus funcionários. Nas empresas privadastudo ocorre de forma bastante simples. Geralmenteos bons, que se dedicam mais e trabalham melhor,são promovidos quando surgem as oportunidades.Isso funciona como estímulo para todos, eles sabemque se forem dedicados, chegarem no horário, reali-zarem seu trabalho direito, terão mais chances deserem reconhecidos por seu mérito e, assim, serempromovidos.

Já nos órgãos públicos, a situação é diferente. Umainfinidade de regras rígidas define as promoções,baseando-se em fatores como tempo de serviço erealização de cursos. Pouco valor se dá à competên-cia e à dedicação, uma vez que esses são fatoressubjetivos e que, portanto, não podem ser levadosem conta dentro das regras de impessoalidade dosórgãos públicos.

Além disso, não há um dono, em muitos casos opresidente da empresa está lá não porque galgou aocargo, mas porque foi nomeado, porque é próximoao político que está no poder. O mesmo ocorre comos cargos de confiança à sua volta. Ele próprionomeia amigos, parentes, pessoas para as quaisdeve favores, ou das quais já projeta receber favores

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no futuro. O Brasil possui atualmente 25 mil “car-gos de confiança”, ou seja, posições de trabalho pre-enchidas por mera indicação política. Na Inglaterraexistem apenas cem. Se essas pessoas foremincompetentes, não tem problema, a populaçãocobrirá sua ineficiência, pois continuará usando osserviços prestados por não dispor de alternativas.

Num ambiente onde o corporativismo vale mais queo mérito, em que o parentesco vale mais que a com-petência e onde as regras rígidas de promoçãovalem mais do que a capacidade, qual o estímuloexistente para todos os outros funcionários? Paraque irão dedicar-se, se isso não fará muita diferençaem seus salários e seus cargos no futuro? Pior:quanto melhor desempenharem suas funções, maisos políticos incompetentes que foram nomeados sebeneficiarão do seu trabalho, justificando que per-maneçam por mais tempo no topo das empresas.Assim, é muito mais difícil que um funcionáriopúblico produza para a sociedade o mesmo que umtrabalhador da iniciativa privada.

CORRUPÇÃO: Além da falta de competição, da des-preocupação em introduzir inovações para sobrevi-ver e da cultura de valorização dos colaboradorespelo apadrinhamento e não pela competência dosórgãos públicos, há ainda outro agravante que ostornam um perigo para a sociedade:o enormepotencial para roubo e desonestidade. Nas empre-sas privadas, existem duas partes que podem rou-bar: o dono ou os funcionários. Imaginar o donoroubando, com raras exceções, não faz sentido, pois

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ele estaria tirando algo que já lhe pertence. Alémdisso, ele dedica boa parte de sua energia para queos funcionários não roubem sua empresa. Mesmono caso de grandes corporações, os acionistas cos-tumam ter um conselho vigilante para impedir frau-des e desvios por parte dos executivos. Claro queexistem casos, como Enron e WorldCom, empresasamericanas que foram à falência por causa de des-vios. Mas esses exemplos tornaram-se notórios jus-tamente por serem exceções, na medida em que osistema costuma manter um rígido controle sobreas corporações.

Nos órgãos públicos a situação é bem pior. Caso opresidente seja desonesto, ele pode desviar recur-sos da empresa para seu patrimônio pessoal e, nãosendo pego, terá ganhos nada modestos com isso.Mesmo sendo honesto, ainda restam todos osoutros funcionários, dentre os quais encontra-seuma parcela disposta a roubar. O presidente temmuito menor estímulo para vigiá-los, pois caso des-viem recursos da empresa, esses prejuízos nãoserão seus e sim da sociedade como um todo. Issofaz com que, de modo geral, as empresas públicassejam muito mais corruptas do que as privadas.

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Pagando a conta

Como vimos, a baixa competitividade do setorpúblico, a despreocupação com a sobrevivência, odesestímulo à cultura da premiação com base emmérito e desempenho individual e a corrupção queimperam no setor público fazem com que o níveldos serviços oferecidos pelo estado seja inaceitável.O problema não seria tão grande se os brasileirostivessem, hipoteticamente, custo zero com ogoverno.

Se um marciano descesse à Terra todos os meses epagasse as contas do governo brasileiro, a situaçãonão seria tão ruim, uma vez que, nesse caso fantasi-oso, o governo nada entregaria, porém nada custa-ria também. Se este fosse o caso e a economia nãoestivesse sendo prejudicada, o problema seriamuito menor. As pessoas iriam simplesmente igno-rar o poder público, pagar seus hospitais, escolas,transportes e seguranças particulares, utilizando,para isso, a totalidade da riqueza que nessa hipó-tese, cada um conseguiu produzir.

No entanto, obviamente sabemos que isso não érealidade. Essa máquina pública está sendo financi-ada pelo do saque da maior parte dos recursos doPaís.

O setor público absorveu, nos últimos 15 anos,66,8%da riqueza produzida pelo País. Estudo

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recente desenvolvido pelo professor Renato Fragelli,da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresenta esti-mativas que demonstram que o setor público brasi-leiro ficou com dois terços de todo o aumento deprodução de 1991 até 2006, enquanto o setor pri-vado ficou com apenas 33,2%.

O mesmo estudo demonstrou que enquanto o pro-duto interno bruto (PIB) brasileiro nesse períodoavançou 44,7%, a carga tributária sobre essa por-centagem ampliou-se de 24,4% para 37,5%. Comexceção de Itália e França, duas nações com exce-lente histórico de serviços públicos, nenhum outropaís no mundo cobra tantos impostos.

Todo esse avanço demonstra um fôlego sem tama-nho de absorção dos recursos da sociedade. Édinheiro arrancado de quem produz e que fazenorme falta na hora de investir, produzir mais,gerar empregos e competir internacionalmente. OBrasil hoje possui uma das mais altas cargas tribu-tárias do planeta, como demonstrou-se acima —pelo estudo de Franglli —, e ela só vem seampliando.

Além da cobrança de tributos, a sensação que setem ao observar o sistema legal brasileiro é de quetodas as regras estão voltadas para atrapalharaqueles que geram riqueza e para favorecer aquelesque vivem de saquear a riqueza alheia. Mais adianteveremos como o sistema previdenciário, a legislaçãopenal, a legislação trabalhista e praticamente todasas demais manifestações do Estado têm sistemati-

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camente punido os que produzem e protegido osdemais.

Esse sistema suicida traz como resultado uma eco-nomia fraca, aumento do desemprego, da pobreza eenorme desperdício das oportunidades existentespara o País.

Resolver esse problema é o maior desafio do Brasil.

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Drenando o pântano

Se tivermos de definir qual é o maior problemaatual do Brasil este seria certamente o excesso deEstado (sendo a impunidade o segundo). Hoje oEstado brasileiro tornou-se tão obeso e ineficiente,que qualquer tentativa de decolagem por parte doPaís é logo emperrada pelas centenas de pesos queo setor público amarra às pernas do Brasil. Issonem sempre foi assim, claro. Até meados da décadade 1970, o governo brasileiro teve papel fundamen-tal na formação da então incipiente indústria nacio-nal. Sem os investimentos estatais, dificilmenteteríamos hoje a infra-estrutura de base existente,como as estradas, siderúrgicas e hidrelétricas. Noentanto, essa atuação benéfica já é coisa do pas-sado. Hoje o setor privado é extremamente dinâ-mico e moderno e não mais depende do Estadopara crescer. De fomentador econômico, o governotornou-se um peso morto.

À primeira vista, a ação correta a ser tomada seriaaumentar a eficiência do Estado. Ora, se o governoé corrupto, vamos punir os que estão agindoerrado. Se o dinheiro está sendo mal gasto, vamosdar um jeito de usá-lo corretamente. Com certezaessas ações teriam efeito benéfico. No entanto, reco-mendar exclusivamente esse caminho, que tem sidotentado seguidamente sem sucesso, é incorrer emboa dose de ingenuidade.

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Imagine duas fazendas vizinhas, ambas situadas emregião pantanosa. Como esses pântanos são infesta-dos pelo mosquito da malária, têm causado grandesprejuízos e sofrimento aos moradores da região.Para resolver o problema, o proprietário da prime-ira fazenda decretou guerra total ao mosquito: orga-nizou mutirões para caçar os ninhos dos insetos,comprou redes especiais e pulverizou toneladas deinseticida sobre a área afetada. Após anos deesforço, enormes gastos e alguns pequenos suces-sos iniciais, as tentativas foram interrompidas ao seconstatar que os mosquitos voltavam a semultiplicar.

Observando de longe todo esse acontecimento, osegundo fazendeiro tomou uma decisão simplesque, de forma muitas vezes mais barata, conseguiueliminar completamente o problema: drenar o pân-tano. Uma vez privado do seu habitat natural, omosquito da malária teve de ir embora ou acaboumorrendo.

Esse exemplo também pode ser usado para analisara situação do Brasil. O governo é como um imensopântano sobre o qual não temos mais controle.Nesse território vivem os mosquitos da corrupção,da ineficiência e do descaso. Nenhuma arma é maiseficiente nesse momento do que o dreno.

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Desconstrução

No caso do Brasil, esse dreno seria a desconstruçãodo Estado. É preciso iniciar um processo profundode eliminação do Estado em todas as atividades quehoje ele faz mas que poderiam ser repassadas à ini-ciativa privada. Se esse processo for bem-feito, oBrasil estará na prática drenando o pântano atual,reduzindo o espaço para o desperdício e para a cor-rupção e substituindo a ação ineficiente governa-mental pela competição inerente ao setor privado.

Um projeto como esse não deve ser feito, obvia-mente, da noite para o dia. Acelerar tais ações alémdo que a realidade atual aceita implicaria certa-mente caos social e econômico. A desconstrução doEstado deve ser feita de forma gradual e planejada,ao longo de muitos anos. É preciso concentrar aatenção nas atividades públicas mais fáceis deserem eliminadas, como as empresas estatais rema-nescentes, por exemplo, e deixar os serviços básicosessenciais para depois. O período de 10 a 15 anos,para se realizar a mudança completa, é o prazomais otimista a que se pode chegar. Tampouco deveesse projeto ser estendido a toda e qualquer ativi-dade pública. Não faz sentido falar em privatizaçãoda polícia, por exemplo. Essa é uma atividadeintrínseca do poder público.

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Os frutos

À medida que o Estado seria desconstruído, dentrode prazos e condições razoáveis, as contrapartidasseriam as reduções de impostos e o afrouxamentodo laço que hoje sufoca a geração de riqueza noPaís. A cada atividade pública privatizada (ou emalguns casos extinta), a contrapartida seria a elimi-nação de alguma taxa, imposto, contribuição ouregulamentação que hoje atrapalham a geração deriqueza.

Quando um imposto é reduzido ou eliminado, cai ocusto das empresas. Num sistema de competição,os preços caem e as pessoas passam a comprarmais, aumentando as vendas e gerando emprego.Isso forma um círculo virtuoso, em que maisemprego gera mais consumo e, as empresas, tendosua riqueza liberada para investir (em vez de finan-ciar o governo) conseguem acompanhar a demandaaumentando sua produção.

Se esse modelo for seguido com responsabilidade alongo prazo, sendo mantido de governo a governo esem aventuras populistas pelo caminho, um longoperíodo de crescimento estará à espera do Brasil.Um período de taxas sólidas de crescimento susten-tável, acerto de contas públicas, mais estabilidade econfiança das pessoas que investem.

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Parece ingênuo e sonhador? Esse resultado benéficoque mencionamos não é nada além do que já estáocorrendo hoje em países que seguiram essa linhaeconômica, como Chile e Irlanda. Este último país,por exemplo, era um dos mais pobres da Europa há20 anos. Após profundas reformas econômicas,redução do tamanho do Estado e dos impostos, é aeconomia que mais cresce no velho continente eestá rapidamente se tornando uma das mais ricas.Apesar de a população do país estar estagnada, oque normalmente dificulta o crescimento, a Irlandatem apresentado índice de expansão econômicaacima de 6% ao ano, mais do que o triplo da médiada Europa Ocidental. O imposto de renda naIrlanda é de apenas 15%, contra 40% nos paísesestagnados da Europa.

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Além do que existe

Aplicar moderadamente a desconstrução do Estadoé prática comum nos países que mais crescem nomundo hoje em dia. No entanto, copiar o que se fazno exterior não é suficiente. É possível ir muitoalém do que já se fez em qualquer lugar, bastandopara isso realizar a desconstrução e depois areconstrução nos moldes que serão citados adiante.

A partir desse ponto, vamos considerar que o leitorou aceitou a idéia de que diminuir o estado brasile-iro é bom ou então pelo menos está se sentindointrigado sobre o assunto. As reformas podem sermuito mais profundas do que já se fez em qualquerlugar do mundo. No entanto, existe um preço a serpago por isso e é preciso que tenhamos consciênciadesse preço.

Peguemos, por exemplo, a história de duas cidadesimportantes, ligadas por uma estrada. Em determi-nado trecho, um largo e volumoso rio cortava aestrada. Lá, para completar a ligação de comércio,uma serie de barcos de transporte de carga transi-tavam de uma margem à outra. Além dos barquei-ros e sua tripulação, empresas de manutenção deembarcações, vendedores de combustível naval euma infinidade de barracas de comércio vendiamartigos diversos para os viajantes que precisavam irde um lado ao outro do rio. O transporte era lento,caro e sujeito aos caprichos e greves dos tripulan-

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tes. Muitas mercadorias eram perdidas, outras rou-badas. As cargas precisavam ser desembarcadas eembarcadas diversas vezes para irem de umacidade à outra.

Eventualmente, foi proposto que se construísseuma ponte sobre o rio. Os benefícios econômicos detal empreitada eram óbvios, mas o projeto recebeu,desde a concepção, oposição feroz por parte daspessoas que viviam do transporte fluvial. Argumen-tavam que, caso a ponte fosse construída, não have-ria mais sentido existir barcos na região e milharesde pessoas perderiam os empregos. Políticos seapressaram a defender o status quo e a discussãose prolongou por anos.

Finalmente, após a fase de resistência, o projeto foiaprovado e a ponte foi construída. Realmente, apósser completada, os empregos que lá existiam foramembora. No entanto, outros benefícios apareceramcompensando as perdas iniciais. O custo do trans-porte entre as cidades ficou muito mais baixo, oque possibilitou o comércio finalmente decolar.Cada cidade passou a vender muito mais de suasespecialidades à outra, aumentando a demanda egerando novos empregos em ambas. Com a novafacilidade de transporte, muito mais gente se enco-rajou a viajar de um lado para o outro, gerandonovos postos de gasolina no caminho e turismo nasduas cidades. Após alguns anos, praticamentetodos concordavam que a vida tinha melhorado.

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O preço que mencionamos é que, em todamudança, as coisas costumam piorar antes demelhorarem. Quando se implanta soluções arroja-das como as aqui expostas, é inevitável que ocorramuito deslocamento e uma boa dose de descon-forto. Sempre existem aparentes ganhadores e per-dedores. Mesmo assim, quando uma proposta éboa para o coletivo, é preciso implantá-la com ener-gia. Nesses casos, os benefícios rapidamente supe-ram as aparentes adversidades, na medida em queas pessoas que inicialmente saíram perdendo aca-bam encontrando novas e melhores oportunidades.

Dito isso, e dado o tempo necessário para que asmudanças sejam implantadas, o resultado de secolocar em prática as sugestões contidas nesse livroserá algo jamais visto: uma sociedade baseada naliberdade e no mérito individual. Um lugar onde aspessoas estão protegidas contra a miséria por umarede invisível básica e, ao mesmo tempo, as pessoasestão com o caminho desimpedido para alcançar omáximo que a capacidade permitir. Um sistema emque o talento individual não está amarrado por nin-guém e em que todos os incentivos são a favor darealização, não contra.

É um País com o qual vale a pena sonhar.

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PARTE IIA SOLUÇÃO

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De elefante para pomba

Um Estado eficiente deve fazer quatro coisas ape-nas, nada mais nada menos:

1. Garantir as liberdades individuais

2. Manter a ordem

3. Proteger as pessoas contra a miséria absoluta

4. Garantir que as crianças estudem

O ideal é que todo governo cumpra as funções quelhe cabem da forma mais eficiente possível, poisquanto maior for tamanho do Estado, mais eleatrapalhará a vida das pessoas. Assim, todas asações de desconstrução devem seguir o princípio dediminuir ao máximo o tamanho do Estado, preser-vando as funções essenciais que garantam o cum-primento das atividades citadas acima. Mas mesmopara essas atividades, deve-se manter o princípiode governo pequeno. No caso da proteção às pes-soas contra miséria absoluta, por exemplo, prote-ção das pessoas contra miséria absoluta, o ideal épassar o máximo dessa tarefa para organizaçõesnão governamentais e entidades e deixar para ogoverno apenas os casos emergenciais.

Segue abaixo uma breve descrição de cada uma dasquatro atividades públicas essenciais:

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Garantir as liberdades individuais

A partir do Iluminismo, a maior parte da civilizaçãoocidental aderiu às chamadas liberdades essenciais.Elas correspondem à idéia de que cada pessoanasce com certos direitos inalienáveis e que nin-guém, nem o governante mais poderoso, tem direitode interferir nelas. A liberdade de cada cidadãodeve ser sempre a maior possível, desde que elanão interfira na liberdade de outras pessoas.

Uma dessas liberdades é a econômica, o direito deuma pessoa perseguir prosperidade e riqueza.Qualquer um tem o direito de enriquecer até olimite de sua capacidade individual, as pessoasmais competentes e trabalhadoras têm o direito deficarem mais ricas do que as incompetentes e pre-guiçosas. Não há nada de errado com o fato dealguém ficar rico, desde que isso não tenha sidoconseguido desonestamente ou à custa das liberda-des dos demais.

A cultura brasileira, fortemente influenciada porvalores católicos e sustentada ainda por uma cul-tura de povo conquistado, com resquícios da escra-vidão, além da influência de um segmento da inte-lectualidade de esquerda, tem tradicionalmentevisto com desconfiança o ato de enriquecer. Poralguma lógica perversa, assume-se que aqueles queenriquecem no Brasil o fazem ou por trapaça ouexplorando os pobres.

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É muito comum algumas pessoas ricas terem vergo-nha de seu patrimônio. Esse traço da nossa culturaé uma das causas da situação atual do Brasil. Emvez de se preocuparem em acabar com os ricos, cer-tos intelectuais deviam estar se preocupando emacabar com os miseráveis. Uma mudança de pensa-mento nesse sentido seria bastante desejável. É pre-ciso que a sociedade brasileira comece a ver positi-vamente a riqueza, admirando e tendo comomodelo de referência aqueles que conseguiram enri-quecer por mérito próprio.

Outra liberdade é o direito à livre expressão. Qual-quer pessoa pode dizer o que quiser a qualquerhora, sem ser importunada ou prejudicada pordizer isso. Essa liberdade, quando garantida de ver-dade a todos os cidadãos, é a mais poderosa armacontra a tirania. No momento em que a liberdadede expressão é ameaçada, seja por violência físicaseja por pressão financeira, começam a ruir asestruturas democráticas do País. As duas únicasexceções a esse princípio são a incitação direta àviolência e a difamação. Um líder religioso nãopode, por exemplo, convencer os fiéis a se explodi-rem em um ponto de ônibus, matando pessoas ino-centes e depois esse líder se refugiar na liberdadede expressão para escapar do processo criminal.Tampouco pode uma pessoa espalhar boatos mal-dosos sobre um banco, levá-lo à falência e alegar amesma defesa. Exceto nesses dois casos e em situa-ções semelhantes, qualquer opinião deve estar livrepara ser defendida, por mais politicamente incor-reta que ela possa soar.

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A liberdade de ir e vir é também, um princípio fun-damental da civilização contemporânea. Ninguémpode ser mantido em lugar algum à força. Issoinclui o direito de emigrar ou de transitar livre-mente nos locais públicos. O mesmo ocorre comoutras liberdades importantes, como a liberdadereligiosa e de consciência.

Ou seja, o primeiro e mais importante papel doEstado é garantir que todos os cidadãos possamgozar das liberdades fundamentais. Para isso ele seutiliza de leis e dos órgãos estatais. É uma pena quemuitas vezes ocorre o inverso, quando o Estado uti-liza seu poder físico e financeiro para suprimir asliberdades.

Manter a ordem

A segunda atribuição do Estado: manter a ordem ea segurança pública. Quando há pânico coletivo,catástrofe natural, guerra ou qualquer outra condi-ção emergencial, normalmente nenhuma força pri-vada é capaz de controlar a situação. Para cuidardesses casos, os cidadãos de um País escolhem pro-ver o Estado de alguns recursos básicos para solu-cionar os problemas. Setores como exército, políciae bombeiros são os responsáveis para enfrentaressas situações. A única violência legítima dentro deum País é a violência praticada pelo Estado nashoras de emergência, dentro dos termos da lei. Seuma onda de crimes ataca uma determinadacidade, por exemplo, a polícia tem direito de usar

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violência para suprimi-la. Numa situação ideal, apolícia usa violência apenas em casos excepcionaisquando a ordem pública ou as liberdades estãosendo ameaçadas. Na realidade, muitas polícias sãocorruptas e extremamente violentas, sendo às vezesmais temidas do que os próprios bandidos.

Proteger as pessoas contra miséria absoluta

Um sistema deve permitir às pessoas ficarem muitoricas, mas deve também oferecer uma rede mínimade proteção social contra a miséria. O objetivo daproteção social é evitar que as diferenças sociaisque historicamente ocorrem no Brasil impeçam aspessoas de entrar num ciclo de produção. Uma pes-soa que não tem como comer, ou não tem acesso àeducação básica não terá condições de explorartodo seu potencial criativo e passará o resto da vidasem criar valor. Assim, um governo deve garantirque todos tenham suas necessidades básicas preen-chidas para que possam ter condições de competire crescer no mercado. Além disso, é imoral haveralguém passando fome ao lado de outro comendocaviar. Por fim, a desigualdade social é um fortefator de desestabilização e desagregação social e eladeve ser aliviada sempre que possível.

Cada país deve decidir que nível de proteção socialele vai oferecer à população. Em alguns países euro-peus, por exemplo, os benefícios concedidos aosdesprivilegiados são tão grandes que eles funcio-nam na prática como um desestimulador ao traba-

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lho. Um alemão que perde o emprego, por exemplo,passa a receber 70% de seu último salário duranteum ano sem fazer nada. Com as pessoas saindo domercado e dependendo cada vez mais de gordosbenefícios do governo, os sistemas europeus estãocada vez mais sobrecarregados e sofrem risco decolapso.

Na outra ponta do problema estão alguns paísesafricanos, que não têm nenhuma rede de proteção.Se alguém ficar paralítico, por exemplo, é obrigadoa contar com a família ou morrer de fome. No Bra-sil a Constituição oferece amplos benefícios. Emtese, as pessoas têm saúde e educação gratuitas,além de previdência social, seguro desemprego eoutros. Na prática, como vimos nos capítulos ante-riores, a rede de serviços sociais acaba sendo depéssima qualidade ou inexistente.

O ideal é que essa rede de proteção social se utilizeamplamente das organizações não-governamentaise dependa o mínimo possível dos recursos públi-cos. Somente nos casos não cobertos pelas institui-ções não-governamentais, em que a pessoa real-mente não tenha a mínima condição de subsistên-cia, aí, sim, o governo deveria ser o provedor daajuda. Mesmo assim, essa ajuda deveria ser feita deforma que estimule a pessoa ajudada a sair dessasituação o mais rápido possível e não continuardependendo dela indefinidamente. Essa ajuda deveser no sentido de “ensinar a pessoa a pescar” e nãoreceber os peixes pelo resto da vida. Ou seja, deveestar voltada sempre à capacitação do indivíduo e

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não ao assistencialismo. Além disso, os serviçosdevem ser prestados pela iniciativa privada, nuncaexecutados pelo próprio governo. Falaremos desseassunto com mais detalhes adiante.

Garantir que as crianças estudem

Em tese, pais e mães costumam querer o melhorpara seus filhos e procuram proporcionar a melhoreducação possível. Na realidade, quando se leva emconta os diversos fatores desagregadores das famí-lias, como álcool, drogas, problemas financeiros epouco preparo dos pais, isso nem sempre é ver-dade. Em muitos casos, os pais não querem ou nãotêm condições de garantir que seus filhos estudem.Quando isso ocorre, eles estão na prática destru-indo um dos princípios mais importantes de qual-quer democracia, que é a igualdade de oportunida-des. Ao tomar a decisão de não colocar os filhos naescola, mais do que uma opção individual, os paisestão destruindo o futuro de seus filhos. Alémdisso, como sabemos, a educação é elemento chavede competitividade das sociedades modernas, quedemandam mão-de-obra cada vez mais qualificada.Pelos motivos aqui expostos, acreditamos que adecisão de mandar uma criança estudar ou nãoindepende da vontade dos pais. É tarefa do Estadogarantir que todas as crianças em idade escolartenham acesso à educação básica. Nem é necessárioafirmar que essa educação deve ser da melhor qua-lidade que for possível obter.

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Ao executar as quatro atividades básicas citadasacima, defesa das liberdades, manutenção daordem pública, proteção social contra a miséria egarantia de educação, é recomendável que todas asdemais atividades públicas sejam desmanteladas.

No Brasil, a Constituição de 1988 foi muito alémdas atividades básicas e designou ao Estado umainfinidade de tarefas. A revisão constitucional de1988 prevê em seus quatro princípios fundamen-tais que o Estado é responsável por manter a sobe-rania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana,os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa eo pluralismo político. Em seguida, a nova versão daConstituição ampliou-se de tal forma que de lá paracá se exigiu a incorporação de quase cem novasemendas. Ela foi elaborada com tal complexidadeque possibilita interpretações dúbias por meio deseus mais de 980 itens e 90 artigos, quando compa-rada à Constituição dos Estados Unidos, com nãomais de 7 artigos e 30 emendas, conseguimos ima-ginar a forma que tomou a lei que rege as ações dogoverno brasileiro. Todas as ações, controle social,econômico, financeiro e do próprio desenvolvimentodo país ficou a cargo do Estado. Além de não dizerclaramente de onde deveriam vir os recursos paraassumir tão hercúlea tarefa, a Constituição detalhoutão extensamente tudo que o Governo deveria fazerque o Brasil ficou engessado. Temos hoje um para-íso previsto no papel e um inferno na realidade.

A Constituição atual brasileira deve ser jogada nalata de lixo. Deve-se escrever uma nova, com uma

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ou duas páginas de extensão, fáceis para qualquerbrasileiro memorizar, descrevendo as quatro ativi-dades básicas aqui citadas. Quaisquer outrosassuntos devem ser tratados como leis ordinárias enão como questões constitucionais. Além disso, osassuntos devem ser descritos de forma ampla, dei-xando a interpretação detalhada a cargo do poderjudiciário.

Nos capítulos a seguir, descreveremos brevementecomo seria estruturado um governo focado nas qua-tro atividades básicas e como isso impactaria nodia-a-dia do Brasil.

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Propostas para a constituição: Documentocurto que determine as quatro tarefas funda-mentais do Estado

1. Garantir as liberdades individuais

2. Manter a ordem

3. Proteger as pessoas contra a misériaabsoluta

4. Garantir que as crianças estudem

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Como escolher?

O princípio das eleições livres

Existem diversos elementos políticos que caracteri-zam uma democracia, tais como o respeito aos dire-itos individuais, o império da lei e a tolerância àsminorias. No entanto, se tivermos de buscar um ele-mento básico que difere os regimes democráticosdos regimes autoritários esse elemento certamenteserá a prática de eleições livres. Realmente, noslugares onde o poder político é disputado por meiode eleições livres existe democracia. Nos lugaresonde isso não acontece, ou porque não há eleições(como na Coréia do Norte) ou porque as eleiçõessão teatros de cartas marcadas onde presidentessão reeleitos ad eternum com mais de 95% dosvotos (como no Egito), então não há democracia.

A grande questão que deve ser resolvida numademocracia é a qualidade da escolha. Quando oconselho de administração de uma grande empresaescolhe seu presidente, por exemplo, trata-se deuma decisão altamente qualificada, realizada porpessoas com anos de preparo (os conselheiros) eque conhecem muito bem os candidatos, ou pesso-almente ou porque analisaram profundamente acarreira de cada um. No caso das eleições como asconhecemos hoje, infelizmente, isso não ocorre damesma forma. Em primeiro lugar, o nível cultural eeducacional da população é muito menor. Muita

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gente faz a sua escolha política com base na entregade pequenos presentes, como cesta básica ouBolsa-Família. Em segundo lugar, existe uma grandedistância entre o eleitorado e os candidatos. Em ter-ceiro, uma série de preconceitos e distorções fazemcom que os eleitores sistematicamente apóiem can-didatos com propostas ruins para a população.

Um desses preconceitos vem da dificuldade que aspessoas têm em entender que o lucro individualgeralmente é bom para a sociedade, uma vez que olucro é o motor do investimento e, portanto, cresci-mento. O economista Bryan Caplan, da GeorgeMason University School of Law, cita como exemploas ocasiões em que o preço da gasolina sobe. Per-guntadas sobre as razões de tal aumento, a maiorparte das pessoas costuma apontar a ganância dasempresas. Por outro lado, a quase totalidade doseconomistas aponta as leis de oferta e demandacomo causa; ou faltou petróleo ou aumentou o con-sumo ou ambos ao mesmo tempo. Claro que nemsempre os especialistas têm razão em tudo. Noentanto, nesse caso, a visão do público é absurda.Se o preço da gasolina sobe porque as companhiasquerem mais lucros, por que, em outras ocasiões,esse preço haveria de cair? As pesquisas indicamque quanto maior o nível educacional de determi-nada pessoa, maior a chance da sua opinião sobre oassunto acompanhar a dos economistas. Noentanto, como cada voto conta igualmente, os políti-cos alegremente culpam a Shell em público peloaumento da gasolina e colhem os votos.

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Outro preconceito muito comum é a idéia do “criartrabalho”. Caplan demonstra como as pessoas têma expectativa, equivocada, de que é tarefa dogoverno criar empregos. Para ilustrar esse ponto,Caplan conta o caso de um economista que visitou aChina da época de Mao-Tse-Tung. Ele viu centenasde trabalhadores construindo uma represa usandosomente pás e perguntou: “Vocês têm um tratormecânico aqui perto. Porque não o usam?” O capa-taz disse que isso deixaria muita gente sememprego. “Oh” disse o economista, “eu estavaachando que vocês queriam construir uma represa.Se o que você quer são empregos, porque não dácolheres ao trabalhadores?”. No plano individual aidéia do “criar trabalho” faz sentido. Se uma pessoaperder o emprego, passará dificuldades e perderábenefícios. No entanto, quando se fala de toda umasociedade, o que importa não é quantos empregosexistem e sim a qualidade e produção total. Quantomais produtivo for o trabalho, maior será obem-estar geral. É bom para uma sociedade elimi-nar trabalhos improdutivos. O Japão feudal, porexemplo, era quase 100% agrícola e pobre. Atual-mente, mesmo com um dos maiores índices deinformatização e robotização do mundo, o Japãoainda possui alto nível de emprego e é uma naçãomuito rica. Isso ocorre porque a eliminação deempregos simples permite aumento da produtivi-dade e geração de empregos mais complexos emelhor pagos. Como a maior parte das pessoas nãoentende esse fenômeno, elas tendem a votar empolíticos que prometem bobagens como proibir o

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auto-serviço em postos de gasolina para evitar aperda de empregos, por exemplo.1

Todos esses fatores citados fazem com que a idéiade que o eleitorado naturalmente escolhe os melho-res candidatos vá por água abaixo. São distorçõesque só podem ser corrigidas com o aumento donível educacional, regras mais simples para eleiçãoe uma maior divulgação dos históricos dos candida-tos. Mesmo com todas essas modificações, aindaassim as dificuldades persistirão.

O antigo primeiro-ministro britânico Winston Chur-chill observou que “a democracia é a pior forma degoverno que existe, com exceção de todas asdemais”. Realmente, se compararmos o modelodemocrático com as demais experiências políticasdos últimos cem anos — fascismo, nazismo, comu-nismo e fundamentalismo islâmico — veremos quea democracia vence de longe. Ou seja, apesar dasfraquezas do sistema democrático como o conhece-mos, ele ainda é a melhor opção na prateleira.

Isso não significa que inexistem falhas, é claro. Atu-almente, o sistema eleitoral brasileiros apresentaprofundas distorções cuja resolução é requisitobásico para haver um sistema justo e eficiente.

Sobre a eleição desses dos parlamentares, é precisofazer algumas modificações importantes na formacomo são escolhidos. Atualmente, uma grande dis-

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1 Todo esse trecho foi escrito com base no artigo Lexington, TheEconomist 16 de junho de 2007

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torção de nosso sistema faz com que a escolha eatuação dos deputados sejam prejudicadas: geral-mente um número enorme de candidatos concorrea muitas vagas por intermédio do voto de amplasmassas da população. Por exemplo, no caso dosdeputados estaduais de São Paulo, mais de 28milhões de eleitores precisam escolher entre 801candidatos para preencherem 70 vagas no Con-gresso Nacional. Dada a magnitude do eleitorado edo grande número de candidatos, a relação do elei-tor com o deputado fica cada vez mais distante. Amaioria dos brasileiros se esquece rapidamente emquem votou na eleição anterior e a cobrança do elei-torado sobre os políticos locais é praticamente nula.

Na prática, isso faz com que o processo político nãoseja nada além de um teatro, em que a cada quatroanos toda uma classe política composta por milha-res de pessoas “desça” do seu Olimpo público parase apresentar aos eleitores em dispendiosas e vagascampanhas afim de “coletar” votos, tal como secolhe milho numa plantação. Uma vez colhidos osvotos, — numa eleição em que geralmente quemcolar mais cartazes ganha e é logo esquecido -, taispolíticos decolam novamente rumo ao seu lugar emBrasília e qualquer conexão com a vida real dapopulação é rompida.

Nesse contexto, o ponto-chave para a vitória políticadificilmente está ancorado nas realizações do polí-tico, em suas idéias ou na competência. Ganhaquem estiver presente nas propagandas, nos jinglesda rádio e nos postes espalhados por todo um

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Estado, e isso tudo custa muito dinheiro, milharesde vezes mais do que o futuro salário a ser auferidopelo deputado em questão. Como esse pessoal todoprecisa de dinheiro para se eleger, está montado ocenário para uma incestuosa relação com interesseseconômicos privados. Os alicerces dos futurosescândalos de corrupção na maior parte das vezessão colocados durante o período eleitoral. Nas elei-ções maranhenses de 2006, por exemplo, mais deum terço das verbas vieram de empreiteiras. Porque, nos perguntamos, as empreiteiras têm tantointeresse em política nesse Estado?

Duas ações devem ser tomadas para resolver esseproblema. A primeira é reduzir drasticamente otamanho da área dentro da qual o deputado farácampanha. Em vez de concorrer em todo o Estadode Minas Gerais, por exemplo, cada um dos cemdeputados remanescentes (lembremos que a pro-posta aqui é reduzir o tamanho do Congresso Naci-onal, como falaremos adiante) deverá disputar seucargo numa área correspondente a um centésimodo Brasil, ou seja, cerca de dois milhões de pes-soas. Em vez do político em questão precisar serconhecido superficialmente por, digamos, 30milhões de paulistas, e disputar uma das 70 vagascom mais 800 candidatos, ele precisará ser profun-damente conhecido por, digamos, dois milhões dehabitantes do Vale do Paraíba. Lá, haverá apenasum candidato por partido disputando uma únicavaga. Isso aumentará o grau de controle e proximi-dade com a base eleitoral e tornará o processo elei-toral tão compreensível como a escolha do prefeito.

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Nesse cenário, a cada cinco ou seis municípios emmédia (conforme veremos adiante), haverá umcargo de deputado disponível. Tal político concen-trará a sua campanha nesses cinco ou seis Municí-pios e será mais fácil controlá-lo. Esse sistema pro-posto é conhecido mundo afora como sistema devoto distrital e existe em países como Alemanha,Itália e Reino Unido. Seus principais benefícios sãoaumentar a proximidade do político com o eleitor ereduzir o custo de campanha.

A segunda recomendação seria limitar fortemente ofinanciamento de campanhas eleitorais. É precisoestabelecer um valor razoável padrão, com o qualseja possível um político divulgar suas idéias e sernotado. Essa verba deve vir do governo e ser distri-buída conforme a representatividade de cada par-tido, sendo vedado ao candidato gastar qualquerquantia adicional. Ou seja, partidos grandes recebe-rão volume de recursos maior, compatível com omaior número de candidatos que tal partido podecolocar em campo. Partidos menores receberãomenos. Esse sistema já existe na Alemanha e é amelhor forma de evitar a futura corrupção dos polí-ticos. Ao verem-se livres das dívidas de campanhaque poderão atuar com a isenção necessária aocargo.

Além disso, é preciso acabar com o sistema desuplentes. Por lei, cada candidato tem o direito deescolher o suplente que quiser e assume o cargo naausência do titular. Na pratica, é um sistema caro,onde pessoas que não receberam sequer um voto

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assumem os cargos políticos. Muitas vezes, osuplente financia a campanha de algum políticomais conhecido do que ele justamente para, umavez ganha a eleição, esse possa assumir o cargo egozar dos benefícios de ser deputado.

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Propostas para as eleições: Implantar votodistrital, dividindo o Brasil em cem distritos.Cada candidato concorre somente no seu dis-trito. Implantar financiamento público de cam-panha. Eliminar a figura do suplente.

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A cabeça da pomba

Estrutura do governo

Um dos princípios políticos mais felizes que foramcriados no século XVIII foi o da divisão dos pode-res. Os filósofos franceses que criaram essa idéiaconcluíram que a melhor forma de evitar a tirania eproteger as liberdades individuais seria repartindoo poder público em três partes similares: executivo,legislativo e judiciário. Cada um dos poderes teriaatribuições distintas e serviria como contrapeso aosdemais poderes, trazendo equilíbrio e estabilidade.

O princípio da divisão dos poderes deve ser rigoro-samente mantido. No entanto, cabem algumas alte-rações no tamanho e forma de trabalho de cada umdos poderes.

Poder executivo

É o que faz cumprir as leis. O presidente da repú-blica é eleito por voto direto. Além de ser o símbolodo governo e do país, o presidente toma algumasdecisões importantes sobre o dia-a-dia, usandopara isso o Ministério e toda a estrutura doexecutivo.

Atualmente, um dos maiores problemas com rela-ção ao poder executivo é que o número de assuntos

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tratados pelo executivo é grande demais para havero devido foco no que é importante. Tendo comobase as quatro atividades fundamentais que vimosanteriormente, deve haver uma grande alteração noMinistério.

A primeira recomendação é que a estrutura do exe-cutivo deve ser reduzida fortemente dos 33 ministé-rios atuais para no máximo oito. É um princípioelementar de gestão que ninguém é capaz de super-visionar adequadamente 33 pessoas. Em vez dehaver, por exemplo, quatro ministérios separadospara Defesa, Exército, Marinha e Aeronáutica, bastaum único ministro da defesa para realizar o traba-lho com muito mais eficiência.

Na prática muitos ministros acabam não conse-guindo nem falar com o presidente e assumempapel decorativo. Cargos como ministro dos espor-tes e ministro da cultura devem ser extintos: essessão assuntos que não dizem respeito ao governo.Outros Ministérios a ser extintos deverão ser aque-les ligados a setores específicos da economia, comoTelecomunicações e Minas e Energia. Devem-se eli-minar também os Ministérios da Saúde e Educação.No modelo proposto mais adiante, veremos que nãofará mais sentido manter Ministérios destinados aesses assuntos. Tal papel deverá ser realizado pelasagências reguladoras. Quem deverá gerir os assun-tos desses setores serão as agências reguladorasespecializadas, como a Agência Nacional de Teleco-municações (Anatel) e a Agência Nacional de Ener-gia Elétrica (Aneel), respectivamente. Existe até um

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Ministério das mulheres e outro da IgualdadeRacial, assuntos que não demandam toda uma caraestrutura governamental.

É opinião dos autores que os Ministérios a seremmantidos seriam:

• Casa Civil — responsável pelas relações com opoder legislativo

• Justiça — responsável pelas relações com opoder judiciário

• Cidades — responsável pelas relações com osmunicípios

• Defesa — responsável por comandar os três bra-ços das forças armadas, bem como as forçaspoliciais

• Fazenda — responsável pela arrecadação deimpostos, tarefa essencial do governo

• Meio Ambiente — responsável pela preservaçãodo meio ambiente e uso de recursos naturais.Assume a tarefa de vigiar o setor privado paraconciliar os interesses do crescimento econômicocom a sustentabilidade ambiental

• Social — responsável por chefiar a assistênciasocial federal, bem como fiscalizar as agênciassociais municipais

• Relações Exteriores — responsável pelo corpodiplomático e contatos com outros países

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Os Ministérios a serem eliminados deveriam ser:

• Controladoria

• Ciência

• Trabalho

• Mulheres

• Portos

• Desenvolvimento

• Integração

• Aeronáutica

• Exército

• Comunicações

• Minas e Energia

• Esporte

• Saúde

• Educação

• Relações Institucionais

• Transportes

• Marinha

• Turismo

• Cultura

• Secretaria Geral

• Igualdade Racial

• Advocacia Geral da União

• Imprensa

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• Agricultura

• Planejamento

Após a extinção da maioria dos Ministérios dopoder executivo, os que restarem devem ter seusquadros fortemente enxugados e novos patamaresde remuneração definidos. Atualmente mais dametade dos gastos do governo vão direto para paga-mento de pessoal. É muito. A média de salário nosetor público é mais que o dobro do setor privadopara a mesma função, enquanto a carga de trabalhoé menor. Nos últimos anos esse quadro só tem pio-rado. Entre 1992 e 2005, segundo a AssociaçãoBrasileira de Educação e Cultura (ABEC), a médiade salário no Governo Federal aumentou 235%.

Quem transitar hoje em dia pela Esplanada dosMinistérios em Brasília poderá testemunhar otamanho da burocracia pública. No prédio doMinistério do Desenvolvimento, por exemplo, exis-tem seis elevadores, cada um dos quais com ascen-sorista. Cinco deles servem aos funcionários e visi-tantes, enquanto um sexto elevador possui umaplaca escrito “somente para autoridades” enquantoum funcionário fica o dia todo postado na porta.Seu trabalho: impedir que “pessoas comuns” utili-zem o elevador reservado para os cargos mais ele-vados. Mesmo se esquecermos por um instante aimoralidade de haver tal discriminação e estupidezdentro de um órgão público, esse desperdício demão-de-obra é um sinal claro de como as coisasfuncionam dentro das repartições do governo. Secada Ministério ocupa um palácio de oito andares,

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abrigando uma infinidade de burocratas queganham muito e trabalham pouco, por onde circu-lam centenas de copeiros e secretárias, imagine-se ocusto de 33 Ministérios para a sociedade.

Segundo Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Var-gas, mais de 30% do quadro de funcionários públi-cos poderiam ser imediata e facilmente cortado semprejuízo da qualidade dos serviços públicos. Issoocorre porque a quase totalidade dos órgãos públi-cos estão inchados com muito mais pessoas do queseriam necessárias para realizar os objetivos doórgão em questão e também porque os processossão muito burocráticos. No Brasil, 22% da popula-ção economicamente ativa trabalha para o governo,um exército de 9 milhões de servidores públicos nototal. Nos Estados Unidos, esse índice é de 14%enquanto no Chile é de apenas 10%, segundo aFGV-RJ.

Reduzir o tamanho da burocracia brasileira é umatarefa dura, porém essencial para que o País sejaaliviado do enorme peso que atualmente carrega.

Poder legislativo

É o que cria e aprova as leis. Hoje no Brasil o legis-lativo é composto pela Câmara dos Deputados epelo Senado, representando respectivamente o povoe as unidades federais. Na prática são dois órgãoscaros e pesados, em que a corrupção e a criminali-dade correm soltas. Quase um terço dos deputados

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brasileiros, por exemplo, respondem por processoscriminais. Outros tantos são frequentemente envol-vidos em escândalos políticos como o mensalão.Além disso, muitos deles concorrem à reeleiçãocom campanhas fraudulentas, usando verbas públi-cas desviadas, e nesse processo vão se perpetuandono poder.

A primeira recomendação para o legislativo seriaabolir o Senado. Como o Senado representa as uni-dades federais e estas devem sofrer forte mudança(veremos adiante), não haverá mais sentido emmantê-lo. A abolição do Senado tornaria o processode aprovação de leis pelo menos duas vezes maisrápido do que o atual, além de economizar muitodinheiro e eliminar a necessidade de 81 políticos(três para cada uma das 27 unidades federais).

A segunda recomendação é reduzir a Câmara dosDeputados dos 513 parlamentares atuais para nomáximo cem pessoas. Essa medida provavelmentenão acabará completamente com a corrupção, masela será bastante reduzida, uma vez que cem pes-soas roubam menos que 513. A redução do númerode pessoas terá como efeito também o aumento docontrole dos parlamentares por parte da sociedade,pois haverá menos gente para vigiar. Isso tambémdeverá reduzir bastante o custo do Congresso Naci-onal para o País. Atualmente, o custo por habitantedo Congresso Nacional brasileiro é um dos maioresdo mundo. Proporcionalmente, cada brasileirogasta com o Legislativo 3 vezes mais do que os chi-

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lenos, 5 vezes mais do que os americanos e 11vezes mais do que os ingleses.

Em terceiro lugar, juntamente com a redução nonúmero de parlamentares, deve-se diminuir signifi-cativamente o número de funcionários por parla-mentar. Hoje em dia, enquanto países como Françae Inglaterra têm, respectivamente cinco e três funci-onários por parlamentar, no Brasil para cada depu-tado existem 32 funcionários no congresso2,recorde mundial nesse aspecto! O mesmo se aplicaàs chamadas verbas de gabinete, que são despesasde naturezas diversas às quais os deputados podempedir reembolso. Segundo dados da AssembléiaLegislativa do Estado de São Paulo, alguns deputa-dos gastam mais de R$ 20 mil por mês com taisverbas, o dobro do salário. Somente em combustí-veis, um deputado do PSDB gastou R$ 6242 em umúnico mês. Na esfera federal esses gastos são aindamaiores. É preciso reduzir o limite de gasto pordeputado.

Por fim, o número reduzido de parlamentares écompatível com a definição mais estreita de governoque está sendo defendida. Se a abrangência das ati-vidades públicas será reduzida, se o número de leise regras deverá ser mantido sempre no mínimo, porque manter tantas pessoas no legislativo, quando oideal é ter o mínimo possível de geração de novasleis?

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2 VEJA “empreguismo e trambicagens, 20 de setembro de 2006”

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Quanto à forma de trabalho do legislativo, essadeveria continuar nos moldes atuais. O poder legis-lativo deve receber leis propostas pelo executivo epela própria Câmara, avaliar se a lei é compatívelcom as limitações constitucionais, se é boa para oPaís e votar pela aprovação ou não da lei. Acima detudo, o legislativo deve vigiar a Presidência da Repú-blica, impedindo aventuras populistas ou flertesrumo ao autoritarismo.

Poder judiciário

É o que interpreta e julga disputas a respeito dasleis. O poder judiciário é extremamente importantepara qualquer país, pois representa o fórum deresolução de conflitos dentro do sistema democrá-tico. Em um cenário ideal, o judiciário é enxuto eeficiente, sendo que as instâncias mais baixas jul-gam rapidamente processos baseando-se na lei, nocumprimento dos contratos e especialmente nosprocessos similares já julgados pelas instânciassuperiores.

Infelizmente, em nosso país, a legislação brasileira éuma das mais extensas e confusas do mundo. Issofaz com que os casos de dúvida sejam muito fre-qüentes e a demanda sobre o poder judiciário sejaenorme, tornando esse ineficiente braço do Estadoextremamente lento. Processos que poderiam serresolvidos em poucos meses levam anos para termi-nar, aumentando os custos para as partes litigantese para o governo. Apesar de o Brasil contar com

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40% a mais de funcionários por vara que a médiamundial (14 versus 10) e gastar com esse setorquatro vezes mais que países semelhantes (3,7% doorçamento público versus 1% no caso do México),nosso judiciário não dá conta do volume de traba-lho. Hoje existem mais de 50 milhões de processosem tramitação na Justiça, sendo que esse númerodeve dobrar na próxima década. As conseqüênciasdessa situação para quem produz são desastrosas.

Se um cliente deixar de pagar, por exemplo, R$ 50mil de uma determinada dívida, o custo judicialpara recuperar esse valor será de cerca de R$ 37mil, quase 75% do valor do crédito. O prazo pararecuperar judicialmente um imóvel pode chegar a12 anos! Isso aumenta os juros cobrados por ban-cos e empresas, como forma de se protegerem, emachuca a economia. Segundo o Instituto de Pes-quisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de cresci-mento do PIB poderia ser 25% maior caso o sis-tema judiciário funcionasse corretamente.

Os problemas começam no Supremo Tribunal Fede-ral. Nos Estados Unidos, a Suprema Corte julgaapenas 200 casos por ano, restringindo-se a casosextremamente complexos ou de forte impacto parao país. Cada decisão da Suprema Corte costumaorientar milhares de decisões nas instâncias inferio-res, de modo que um mesmo problema não tenhaque tramitar diversas vezes pelos tribunais. OSupremo Tribunal Federal é o equivalente brasile-iro. No entanto, passam anualmente por ele mais decem mil processos, a maior parte dos quais exata-

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mente iguais a processos anteriores já decididos.Isso torna muito difícil para esse órgão avaliar comcalma as questões realmente importantes e contri-bui para sua própria inoperância.

O sistema judiciário trabalhista também apresentasérios problemas. Nos últimos anos, segundo dadosdo sociólogo José Pastore, o judiciário vem rece-bendo uma média de dois milhões de novas açõestrabalhistas por ano. Esse é disparado o maiornúmero em todo o planeta. Para fins de compara-ção, nos Estados Unidos, a média é de 75 mil, naFrança, 70 mil, 30 vezes menos. Para cada R$1.000 julgados, a Justiça do Trabalho gasta cercade R$ 1.300. Isso é o resultado do baixo nível deeficiência do judiciário e também é causado peloanacronismo da legislação brasileira sobre oassunto. Veremos mais detalhes sobre isso no capí-tulo sobre a reforma trabalhista.

Por fim, pesquisas recentes com juízes demonstra-ram que o respeito às leis e aos contratos não é pri-oridade para os magistrados. Quase dois terços dosentrevistados afirmaram que atender às necessida-des sociais é mais importante do que respeitar asregras de um contrato. Apesar disso soar bonito nateoria, essa absoluta distorção do papel do judiciá-rio causa insegurança e perda de investimentos,uma vez que toda empresa instalada ou não no Paíssabe que seus planos de negócio, mesmo assinadose confirmados pelo governo, estão sujeitos às incli-nações sociais e às preferências dos juízes.

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Existem diversas ações que precisam ser tomadaspara melhorar esse quadro. A primeira delas é asimplificação da estrutura judiciária. Hoje existemdiversos braços desse poder: os tribunais dealçada, os tribunais de justiça, os juizados especi-ais, as varas criminais, os tribunais de júri, os tri-bunais eleitorais, os tribunais do trabalho, os tribu-nais federais, os tribunais militares, o Supremo Tri-bunal de Justiça, o Supremo Tribunal Federal eoutros. O ideal seria enxugar fortemente o poderjudiciário, consolidando os diversos braços em ape-nas três, sendo a divisão feita por nível. Dentro decada nível, haveria cortes especializadas nos diver-sos assuntos a serem tratados. Essas cortes usa-riam as referências do Supremo Tribunal Federalcomo guia para julgar casos similares. Ou seja, éimprescindível que haja juízes especializados emsuas determinadas áreas jurídicas, como o direitodo trabalho, o direito rural etc. O que não é neces-sário é haver complexas estruturas burocráticasindependentes para apoiar cada tribunal.

Além disso, é preciso melhorar as práticas de ges-tão, informatizando os tribunais, contratando admi-nistradores para gerenciar os tribunais e deixandoos juízes com 100% de seu tempo voltado a julgarcasos. Hoje a maior parte do expediente dos magis-trados é consumida em tarefas administrativas eburocráticas.

Sempre que possível, o trabalho deve ser realizadopela iniciativa privada, que é mais eficiente. Aogoverno cabe julgar os conflitos entre as partes. O

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Estado deve contratar, avaliar, manter e remuneraros juizes, garantindo a imparcialidade das decisões,mas não precisa manter a estrutura responsávelpela burocracia jurídica.

Todas as varas e os tribunais judiciários deveriamter sua parte burocrática privatizada. Ao Estadocaberia somente a manutenção dos juizes e talvezalguns assistentes. O papel do juiz é escutar as par-tes, ter acesso a todas informações possíveis etomar uma decisão imparcial com base na lei. Asempresas privadas responsáveis pelo trâmite dasburocracias jurídicas podem ser remuneradas porseu desempenho e punidas caso se constate algumairregularidade em seu trabalho. Desta maneira, otempo de demora dos processos diminuiriaconsideravelmente.

Outra ação importante a ser tomada é reduzir otempo de processo valorizando cada vez mais osacordos extrajudiciais e usando intensivamente ajurisprudência para evitar julgar diversas vezes amesma questão. Assuntos já decididos peloSupremo Tribunal Federal devem ter seu desfechoresolvido instantaneamente.

É fundamental também que o poder judiciário per-mita uma ágil cobrança judicial e execução de bens.Economias modernas são fundamentadas na con-cessão de crédito. Se o recebimento de créditos nãofor uma atividade protegida pela lei, todo o sistemasofre, uma vez que bancos e emprestadores dedinheiro tendem a embutir nos juros o custo espe-

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rado com a burocracia de recebimento das dívidas.Isso aumenta o custo do dinheiro e prejudica todos,exceto os caloteiros. Existe uma lei no Brasil queimpede que a casa própria de determinada famíliaseja tomada como forma de pagamento de dívidas.Essa medida aparentemente humanitária teve comoobjetivo proteger as pessoas contra o despejo. Noentanto, a realidade é que a tal lei é uma bobagemque impede as famílias de utilizar seu ativo maisvalioso como colateral para obter empréstimos einvestir. O México, por exemplo, constrói seis vezesmais metros quadrados por habitante do que o Bra-sil. Parte da explicação é que lá o acesso ao créditoimobiliário é muito maior, uma vez que o judiciárioe a legislação não protegem os caloteiros comoocorre no Brasil.

Por fim, uma grande medida que se faz necessáriaestá fora do âmbito judiciário. Grande parte do acú-mulo de processos ocorre em virtude da confusãocausada pela legislação brasileira, longa, complexa,contraditória e em constante mudança. Como fala-remos adiante, somente na área tributária, ogoverno cria oito mil regras por ano. As dúvidas eos conflitos causados por essa monstruosidade sãoa causa de grande parte dos processos tributários.

Neste livro, é proposta uma forte redução no tama-nho da Constituição Brasileira, fazendo com que aversão gerada em 1988 seja substituída por uma ouduas páginas. O mesmo deve ocorrer com as leisordinárias. É preciso enxugar o volume de leis no

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Brasil. A simplificação das leis deve reduzir a cargade trabalho do judiciário.

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Propostas para a Estrutura do poderpúblico: Continua dividida em três poderes,executivo, legislativo e judiciário.

Poder executivo: Deve ser enxugado, perma-necendo os Ministérios da Casa Civil, Justiça,Cidades, Defesa, Fazenda, Meio Ambiente,Social e Relações Exteriores. Reduzir o quadrode funcionários de cada um desses ministériose reajustar salários aos níveis da iniciativa pri-vada. Eliminar a estabilidade de emprego.

Poder legislativo: Abolir o Senado. Câmarados Deputados deve ter seu número reduzidoem 80%. Eliminar a maior parte dos assesso-res parlamentares e das verbas de gabinete

Poder judiciário: Privatizar as áreas adminis-trativas e consolidar os diversos tribunais emapenas três. Simplificar a legislação. Conscien-tizar os juízes a decidir com base na lei e nãoem questões sociais

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O menor sim, o médio não

Os três níveis de governo

Além dos três poderes, o Estado brasileiro está divi-dido em três níveis: o federal, o estadual e o munici-pal. Na teoria, cada um dos níveis cuida de um con-junto de assuntos públicos: o municipal das ques-tões locais, o estadual acompanha as regionais e ofederal as nacionais. Na prática, os três níveis aca-bam se confundindo e gerando confusões sobre opapel de cada um. Existem escolas federais, estadu-ais e municipais e o mesmo ocorre com a polícia,hospitais e outros. Além dos custos de duplicar ser-viços públicos, ocorrem muitos conflitos de ego edesorganização com a falta de definição.

Municipal

O pior caso é o do nível municipal. Existem milha-res de povoados com status de município compopulação minúscula e pobre. Muitas vezes, agru-pamentos de 10 mil cidadãos pobres e sem recur-sos são chamados de município e ainda têm de sus-tentar uma prefeitura, câmara dos vereadores eoutras estruturas básicas municipais. Segundo asecretária nacional das cidades, Raquel Rolnik,mais da metade dos municípios brasileiros depen-dem de transferências dos governos federal e esta-

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dual para o grosso das receitas. Tudo isso geramuita ineficiência e drena os poucos recursos parainvestimento do setor público. Há alguns anos foiinstituída a transferência mínima do governo fede-ral que cada município deve receber. Isso encorajoucentenas deles a se fragmentar e criar novos (e inefi-cientes) municípios. Hoje os mais de cinco milmunicípios brasileiros custam caro demais.

A primeira recomendação seria reduzir drastica-mente o número de municípios. As pequenas cida-des deveriam ser aglomeradas em áreas com nomínimo 300 mil habitantes, fazendo com que o Paíspasse a ser composto por 300 a 500 municípios.Em alguns casos, como a cidade de São Paulo, commais de dez milhões de habitantes, seria interes-sante dividi-la em pelo menos cinco municípios dis-tintos, de forma que cada parte seja mais facilmenteadministrada. Em outros casos, como o interior doPará, será preciso reunir diversos vilarejos atuaispara formar um único município de 300 mil habi-tantes. O importante é manter dentro de cada muni-cípio uma massa crítica de pessoas e dinheiro quetorne essa unidade administrativa governável eauto-sustentável.

Com esse número o custo de prefeitos e vereadoresserá muito menor e os municípios terão maismassa crítica para realizar projetos essenciais. Hojeo País sustenta dezenas de milhares de vereadores,pessoas que poderiam estar realizando trabalhomais produtivo do que definir nomes de ruas eescolher o animal símbolo da cidade. A câmara do

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vereadores de Brasília, por exemplo, passou mesesnessa discussão.

Além do enxugamento no número de municípios, épreciso redefinir claramente quais atividades fica-rão a cargo do município e quais não. Os municí-pios devem ser responsáveis por apenas quatrotarefas locais: policial, assistência social, planeja-mento urbano e manutenção das ruas municipais.Essas quatro tarefas devem ser deixadas a cargo domunicípio porque são trabalhos que não podem serrealizados pela iniciativa privada.

No caso da polícia, obviamente não se pode deixarisso por conta de alguma empresa. É interessantedeixar esse braço do poder público sob a responsa-bilidade da prefeitura, pois um município conhecemelhor os habitantes locais do que a polícia federal.Sob o olhar do prefeito e não de Brasília, é maisfácil construir as polícias de bairro e aumentar oenvolvimento da comunidade na força policial,pré-requisitos para uma polícia local eficiente. Esta-mos aqui nos referindo tanto às atividades de com-bate ao crime, quanto o controle de trânsito quantoao combate aos incêndios (bombeiros). Para oscasos de crimes mais graves, que fujam do controledo prefeito ou que envolvam uma ação regional, apolícia federal deverá ser acionada.

O caso da assistência social fundamenta-se nomesmo princípio. Ninguém é melhor do que o assis-tente social local para determinar quem está maisnecessitado de ajuda e detectar as tentativas de fra-

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ude ao sistema. Cada município deve ser dotado deuma unidade de assistência social. Essa unidadetem como tarefa manter um relacionamento pró-ximo com as famílias mais carentes da sua cidade eacompanhar o progresso de cada uma das famíliaspara longe da miséria. É importante ter alguémlocal por perto para avaliar com conhecimento decausa os esforço de cada família para cumprir a suaparte no sistema de assistência social. Esse órgãodeve identificar e alertar aquelas pessoas que entra-rem em um ciclo de dependência dos recursos daassistência social.

O planejamento urbano também é função essencialdo município. Se a construção urbana for deixadaabsolutamente livre, o resultado será o mau aprove-itamento de espaços, a construção desenfreada e aperda de beleza das cidades. É tarefa do municípiodesignar as áreas de parques e especificar ondepode haver residências, comércio e indústria. Cabeà prefeitura defender um plano urbano consistentepara cada cidade, conciliando os diversos interessesno uso do espaço.

Por fim, as ruas internas da cidade devem perten-cer ao município. É responsabilidade da prefeituramanter as ruas em bom estado de conservação. Noentanto, ela não deve fazer isso sozinha. As verbasdevem ser municipais porém o trabalho efetivo demanutenção deve ser licitado às empresas.

Com exceção da polícia, da assistência social, dourbanismo e das ruas, as demais atividades deve-

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rão ser repassadas às mãos da iniciativa privadasendo proibido à Prefeitura interferir.

Federal

O governo federal deve assumir as demais tarefaspúblicas que não forem cobertas pelo município.Isso inclui a polícia federal, o exército e a regula-mentação dos setores econômicos.

Estadual

Com a divisão clara das responsabilidades entre ogoverno federal e o municipal, a importância dosgovernos estaduais ficará esvaziada. Realmente, selevarmos em conta que o objetivo da desconstruçãodo Estado brasileiro é tornar o governo o mais levee enxuto possível, é difícil justificar a existência de27 governos estaduais, cada um com governador,câmara dos deputados, assessores, secretários etc.

Obviamente, existe uma forte identificação culturalde cada brasileiro ao estado onde vive. Dizer a umbaiano que a Bahia deixou de existir, ou dizer a umgaúcho que o Rio Grande do Sul desapareceu, seriaum sacrilégio inaceitável. Felizmente, não é precisochegar tão longe. É preciso abolir tão somente aestrutura dos governos estaduais, ainda que a iden-tificação geográfica de cada unidade federal perma-neça intocada. Ou seja, é preciso desmantelar a

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administração pública de nível estadual, passandosuas atividades ou para o município, ou para ogoverno federal, ou eliminando-a completamente.Manter duas dúzias de governadores, com seussecretários e suas câmaras estaduais seria um luxoincompatível com o novo tamanho de governo quese está propondo. A economia proporcionada poressa redução será muito bem vinda para reduzirmais os impostos e dinamizar a geração de riqueza.Nesse contexto, o Estado da Bahia, em sua defini-ção territorial, continuaria exatamente como é hoje.No entanto, não haveria mais um Governo daBahia, por exemplo.

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Propostas para os níveis do poder público:Manter níveis federal e municipal; abolir os go-vernos estaduais

Prefeituras municipais: Consolidar pequenosmunicípios para que tenham no mínimo300.000 habitantes. Dividir o Brasil em 100Municípios. Município ficará responsável pelasseguintes atividades: polícia, assistência social,planejamento urbano e manutenção das ruasmunicipais

Governos estaduais: Abolir todos

Governo federal: Cuidará dos seguintesassuntos: Exército, polícia federal e regula-mentação dos setores econômicos

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Exército

A história humana sempre foi permeada por guer-ras. É possível que nunca se tenha registrado umano, desde o desenvolvimento da agricultura hámilênios, sem matança entre grupos humanos. Como passar do tempo e o desenvolvimento da tecnolo-gia, as guerras tornaram-se cada vez mais mortais,culminando na destruição de 50 milhões de vidasdurante a Segunda Guerra Mundial. Com o desen-volvimento de armas atômicas, essa equaçãomudou, pelo menos até agora, uma vez que seupoder de destruição é tão maciço que qualquerguerra em larga escala envolvendo bombas atômi-cas teria o potencial de transformar o mundo emescombros. Hoje em dia o risco de guerras abertasentre potências é muito baixo. As ameaças maispreocupantes estão no campo dos grupos terroris-tas e organizações clandestinas. A Guerra do séculoXXI é pela informação e tecnologia, não maisterritorial.

Em cada nação, o exército tem papel diferente. Demodo geral, países ditatoriais populosos e instáveistendem a desenvolver grandes exércitos ofensivos.Isso ocorre porque o ditador de plantão percebe asvantagens de se apontar um inimigo externo paradesviar a atenção da população. No Iraque deSadam Hussein, por exemplo, o exército foi usadoem pelo menos duas ocasiões para atacar os vizi-nhos (Irã e Kuwait). Isso permitiu à população

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esquecer temporariamente os problemas da misériae concentração da renda do petróleo.

No caso de pequenas ditaduras com vizinhos pode-rosos, o exército é usado mais para defesa e con-trole da população. Em caso de insurreição, o dita-dor pode usar suas forças armadas para reprimiros rebeldes. Esse é o caso de diversas nações cen-tro-africanas e asiáticas.

Nas democracias cercadas de ditaduras, a tendên-cia é o desenvolvimento de um forte exército voltadopara defesa de território e dissuasão dos inimigos.Para garantir a integridade territorial, esse tipo dePaís precisa investir pesadamente no exército demodo a manter uma constante superioridade mili-tar sobre os vizinhos. O expoente mais claro dessaestratégia é o Estado de Israel.

Há também o caso das democracias com atuação einfluência global, como os Estados Unidos. Sãoinvestidas grandes somas na construção de umpoder a nível mundial que possa apoiar os interes-ses estratégicos do País. Como sabemos, as forçasarmadas norte americanas têm desempenhadodiversas funções de proteção dos cidadãos, bens einteresses dos EUA no mundo.

Por fim, existem os casos das democracias emregiões pacíficas. Dentre as milhares de guerrasregistradas pela história, nunca houve, até omomento, uma única guerra travada entre duasdemocracias. Por diversas vezes um campo de bata-

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lha assistiu o embate de forças ditatoriais contraoutras forças ditatoriais ou de forças democráticascontra forças ditatoriais. No entanto, entre duasdemocracias ainda não houve. Esse intrigante fenô-meno, identificado pelos cientistas políticos, foi ape-lidado de paz democrática. Para os Países que seencontram nesta situação, o exército não pode pas-sar de instituição simbólica e ser usado exclusiva-mente para fins humanitários. Suíça e Noruega sãoexemplos desse tipo de sistema.

O mesmo deveria ocorrer no caso do Brasil. Excetu-ando-se as forças expedicionárias, nossa últimaguerra, a do Paraguai, ocorreu a mais de 140 anosatrás, quando nos aliamos a Argentina e Uruguaipara combater uma nação dezenas de vezes menor.Desde aquela época, o exército brasileiro nuncamais se viu numa situação em que o território esti-vesse realmente ameaçado. Mesmo com umpequeno exército, o risco de o Brasil ser invadidopelos vizinhos é desprezível. Como não temosnenhuma ambição territorial nem força econômicapara investir em algo parecido com o que os Esta-dos Unidos fazem, fica clara a opção para um exér-cito simbólico.

Acreditamos que o exército brasileiro deve ser man-tido no menor tamanho possível, de modo que ocusto total seja baixo e os recursos possam ser con-centrados no que realmente importa: vigiar as fron-teiras. Para essa função, o ideal é ter cada vezmenos gente e cada vez mais tecnologia de vigilân-cia. É preciso reduzir bastante o tamanho e o con-

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tingente das forças armada e eliminar equipamen-tos caros como tanques, aviões de combate e naviospesados. Com essas mudanças será possível inves-tir mais em tecnologia de comunicação, comprarequipamentos de vigilância, veículos e embarcaçõesleves e pagar melhor os profissionais remanescen-tes. Mesmo assim, ainda será possível economizarrecursos dos cofres públicos.

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Propostas para as forças armadas: Reduzirfortemente o contingente. Concentrar recursosem vigilância eletrônica de fronteiras

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Insegurança pública

Crime e violência são elementos que fazem parte detoda e qualquer sociedade humana. No entanto, aintensidade do crime e da violência varia de País aPaís. Em uma ponta desse espectro encontram-selugares como Finlândia e Canadá, onde os crimessão raros e a população leva uma vida relativamentedespreocupada.

No caso do Brasil, como sabemos, ocorre o exatooposto. Bandidos perigosos lideram rebeliões dedentro das cadeias, guerras entre quadrilhas parali-sam metrópoles inteiras, marginais queimam ôni-bus públicos com pessoas dentro, criminosos rou-bam e matam às vezes apenas pelo prazer defazê-lo. Atualmente, o Brasil é palco de cenas cujacrueldade só se via nas telas de filmes de terror.

Se o excesso de Estado é o maior problema econô-mico do Brasil, o maior problema social certamenteé a Impunidade. Nenhum fator se compara à Impu-nidade na hora de se entender as razões por trás daviolência, criminalidade e corrupção que reinamhoje no País.

Existem pensadores que atribuem a violência doBrasil à desigualdade social. Segundo eles, estamosentre os campeões mundiais em estupros e assassi-nados porque uns são muito mais ricos que osoutros. Realmente a desigualdade social é proble-

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mática. No entanto, isto tem pouca relação com acriminalidade. A Índia, assim como o Brasil, temmiseráveis e bilionários. No entanto, lá o índice decriminalidade é baixo. A média anual de assassina-tos na Índia é de apenas 3 por 100 mil, enquanto oíndice brasileiro é de 27 assassinatos por 100 milhabitantes, ou seja 9 vezes maior3.

Tampouco a ignorância e o desemprego constituemfatores convincentes para a criminalidade. Estudosda Universidade de São Paulo mostram que, apesardos jovens brasileiros terem muito mais acesso àescola e ao emprego, a criminalidade só aumentou.Entre 1960 e 2002, a taxa de analfabetismo entreos criminosos caiu de 17% para 1,5%. Apesar dessamelhoria educacional, a criminalidade explodiu nes-se período. Em relação ao nível de emprego o mes-mo fenômeno intrigante ocorreu. Em 1960 apenas9% dos delinqüentes estavam empregados. Já em2002 esse índice subiu para 30%. Ou seja, a crimi-nalidade vem aumentando mesmo dentro da popu-lação com emprego e educação.

A respeito do impulso para o crime, a Psicologianos fornece um ferramental importante. Freud fala-va em duas e apenas duas fontes de motivação: apulsão de vida e a pulsão de morte, o amor e a dor.Em linguagem prática, a pulsão de vida é a recom-pensa esperada por adotar determinado comporta-mento. Já a pulsão de morte é a punição esperadapor se fazer algo de errado. Quando um bandido

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3 Fontes: Indian review e UNESCO Brasil referência dados 2003

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analisa se irá ou não roubar um Banco, essas duaspulsões entram em cena. A recompensa seria o di-nheiro e os prazeres que esse oferece. A possívelpunição seria o risco de ir para a cadeia.

Estabelecer a certeza da punição é uma tarefa fun-damental para se combater a criminalidade e a cor-rupção. O caso de Hong Kong é emblemático. Essaantiga colônia britânica sofria de notória corrupçãoaté o final dos anos 70. Como as ramificações dosdesvios de dinheiro iam longe na hierarquia gover-namental, parecia que a situação era incorrigível,uma vez que até o judiciário estava contaminado.Para resolver o problema, foi criada uma comissãoespecial de combate à corrupção. Ligada direta-mente a coroa britânica, essa comissão gozava daindependência necessária para investigar e punir oscriminosos.

Com as primeiras punições exemplares, tornou-seevidente que o reinado da impunidade tinha che-gado ao fim. Mais investigações levaram a maispunições e, pouco a pouco, começou a haver umalimpeza na condução pública de Hong Kong. Com otempo e o fim da impunidade, começou-se a criaruma cultura de honestidade nesse território e, hojeem dia, Hong Kong é uma cidade reconhecida pelaTransparência Internacional (TI) como um dos luga-res menos corruptos do mundo para se fazer negó-cios. A lição de Hong Kong nos ensina que, em umambiente corrupto, não adianta nada fazer campa-

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nhas de conscientização e educação enquanto hou-ver impunidade.

Se um homem vai a um banheiro público e o encon-tra em estado de absoluta sujeira e desrespeito, difi-cilmente esse homem contribuirá com a limpeza dolocal, por mais bem-educado que ele seja. Por outrolado, se ele for uma pessoa consciente, e o banheiroestiver impecável, provavelmente ele irá mantê-loconservado. Ou seja, educação é fundamental paramanter qualquer coisa que está funcionando bem.No caso de um país corrupto e violento, a puniçãodos criminosos é sempre a primeira etapa a serperseguida.

O grande problema no Brasil é que, em virtude deuma série de distorções e ineficiências, o risco depunição é baixo. A chance de alguém ser capturadopor um crime é bastante reduzida. Mesmo se forcapturado, a chance de ir a julgamento é pequena e,mesmo em caso de condenação, não ficará na ca-deia por muito tempo. Na primeira fuga ou cumpri-mento de parte da pena o criminoso já estará devolta às ruas. O resultado disso é que, ao calcularsuas chances de pulsão de castigo e recompensa, adecisão fica amplamente favorável ao bandidocometer o crime. É preciso consertar as três pernasdo sistema de punição brasileiro, polícia, judiciárioe cadeias, para se inibir verdadeiramente o crime. Aprimeira delas é a polícia. Então, vejamos!

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Polícia

Cuidar da polícia é uma atividade governamentalpor natureza. Não existe nenhuma fórmula ade-quada para passar essa função ao setor privado.Em uma situação ideal, a polícia funciona bem, e oscidadãos sentem-se seguros. No entanto, comosabemos, a realidade brasileira é bem diferente. Apolícia está dividida em diversos departamentosrivais, como polícia civil, polícia militar, políciafederal, polícia rodoviária, bombeiros, cada umacom seu território estadual, federal, ou municipal.Existe muito pouca cooperação. Com salários bai-xos, pouco treinamento e poucos recursos tecnoló-gicos, a polícia acaba ficando para trás e falhandoem seu dever de proteger a população. Problemasde corrupção e de violência policial também nãodevem ser ignorados.

O resultado é o vácuo de segurança pública e a sen-sação de pavor diário que assola a maioria da popu-lação. Sem alternativa, a população mais pobre con-vive diariamente com o crime, às vezes com maismedo da polícia do que dos bandidos. No Estado deMinas Gerais, segundo a Secretaria Nacional deSegurança Pública, menos de 30% das vítimas deroubo prestam queixa formal. O restante simples-mente fica em silêncio, com medo e desconfiança.Mesmo quando se sabe quem foi o autor de umcrime, muitas vezes a polícia não consegue efetuar aprisão. Estima-se que mais de meio milhão de pes-

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soas com mandado de prisão expedido encon-tram-se em liberdade por falta de capacidade dapolícia em efetuar prisões. Enquanto essa massa detraficantes, assaltantes e assassinos circula pelarua, os ricos se fecham em bunkers privados e con-tratam uma legião de seguranças particulares.Segundo dados da Polícia Federal, existem hoje noBrasil cerca de 1,2 milhão de seguranças particula-res. Se contarmos o número estimado de seguran-ças sem registro legal, esse número ultrapassa doismilhões de pessoas. Isso significa quase quatrovezes mais do que os cerca de meio milhão de poli-ciais civis e militares na ativa.

Não é fácil solucionar a questão de segurançapública, mas algumas medidas eficazes podem sertomadas. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer aimportância da polícia e realizar o devido investi-mento nela. Os contingentes devem ser ajustados àdemanda de cada lugar, os equipamentos devem sermodernizados e deve-se investir pesadamente emtreinamento, inteligência e intercâmbio com outrospaíses. É preciso melhorar as condições de trabalhopara os policiais e a atratividade da carreira. Hojeem dia, os salários costumam ser tão baixos, che-gando-se a estimar que 90% dos soldados adotem aprática de ter um segundo emprego, algo não per-mitido por lei. Trabalhando demais, ganhandopouco e correndo risco de vida diariamente, os poli-ciais são a categoria profissional com maior nível deestresse no Brasil, segundo o Internacional StressManagement.

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Modificar a jornada de trabalho seria uma boaidéia. Hoje os policiais fazem turnos de 12 a 24horas seguidas, folgando de 36 a 72 horas. Issoabre espaço para os empregos paralelos. O idealseria encurtar esses intervalos e reajustar os salá-rios para níveis condizentes com a importância dotrabalho.

Também é importante valorizar os profissionaishonestos para remover parte da vergonha e estigmadas instituições de segurança. Premiar os policiaisde destaque e valoriza-los publicamente é umgrande passo para aumentar a atratividade da car-reira. Pouca gente sonha com um emprego que asdemais pessoas encaram com nojo, o que acontececom frequência hoje em dia.

Por fim, é preciso unificar todas as polícias atuaisem apenas três grupos: a polícia federal, a políciamunicipal e a corregedoria. Essa unificação temcomo objetivo otimizar o uso dos recursos, evitandoa rivalidade e facilitando a troca de informações.Hoje em dia, as polícias militar, civil e o ministériopúblico não compartilham seus bancos de dados.

A polícia federal terá como função cuidar dos gran-des casos, que envolvam assuntos internacionais ouque exijam recursos policiais além da capacidadedas polícias locais. Nesse caso, a polícia municipalsempre pode requerer a ajuda de seus colegas ereceber reforços. A polícia federal também deve seracionada nos casos de crimes cometidos por qua-

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drilhas, tendo como amplitude um conjunto demunicípios.

A polícia municipal será responsável pela soluçãoda maioria dos crimes. Ela é a mais indicada paraatuar nas ocorrências do dia-a-dia porque é a quemelhor conhece sua região e comunidade. Ideal-mente, o grosso das forças policiais do País deveestar atrelado diretamente ao Município e trabalharfortemente nos campos da informação e prevençãodo crime.

A corregedoria será uma unidade policial indepen-dente destinada exclusivamente a investigar acusa-ções contra outros membros da polícia. Esse braçoda polícia é extremamente importante para evitarcrimes como abusos de autoridade e extorção,muito comuns atualmente. A carreira na corregedo-ria deve ser independente dos demais departamen-tos. Hoje existem diversos casos de policiais quesão transferidos de volta para unidades comuns eforçados a trabalhar com profissionais que já inves-tigaram por corrupção. Nesse cenário, a isençãonecessária para esse tipo de trabalho dá lugar aocorporativismo.

São inúmeras as ações que podem ser tomadaspara aumentar a qualidade e a eficiência da polícia.Construir uma polícia que respeite os direitos fun-damentais dos cidadãos e, ao mesmo tempo, conse-guir realmente investigar e prender é o primeiropasso para se acabar com o reinado da impunidade

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que se instalou no Brasil. O segundo passo é julgar,como veremos a seguir.

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Propostas para a polícia: Unificar todas aspolícias em três grupos: municipal, federal ecorregedoria. Aumentar os salários dos profis-sionais, alterar a jornada de trabalho para quese assemelhe à jornada comum e realizar cam-panha de valorização dos bons policiais

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Judiciário criminal

De nada adianta uma excelente força policial sem aexistência de um sistema judiciário eficiente. Depoisque a polícia fez sua parte, é preciso que o judiciá-rio criminal também faça a sua. Se isso não ocorrer,a polícia se sentirá desmotivada, pois todo seu tra-balho irá por água abaixo, e o criminoso voltará àsruas.

Infelizmente hoje, mesmo nos casos em que a polí-cia junta provas conclusivas a respeito de umcrime, os processos ficam entalados nos corredoresdas centenas de fóruns brasileiros. Calcula-se queexistam no País mais de 35 milhões de processosaguardando julgamento. Isso equivale a um prazomédio de sete anos para que uma sentença chegueao final. A lentidão do julgamento só reforça a sen-sação de impunidade.

Além da demora, existe outro grave problema nosistema judiciário: a frouxidão da lei penal. A leibrasileira prevê uma quantidade tão impressio-nante de atenuantes e brechas que é difícil crer queela foi criada para punir os criminosos. O Brasilpossui uma bizarra lei que permite aos presos sairda cadeia em certas datas especiais, o chamadoindulto. Liberados para visitar a família em certasdatas especiais, até 30% dos presos não voltam,fazendo cair ainda mais a taxa de permanência nacadeia. Além do indulto, existe o sistema de pro-

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gressão de pena. Atualmente, quem cumprir apenasum sexto da pena já pode ser admitido em regimesemi-aberto. Assim, assassinos condenados a 20anos de prisão muitas vezes são colocados em liber-dade depois de três a quatro anos, freqüentementevoltando a matar.

Por fim, a questão da maioridade penal é assuntopolêmico que vem sendo debatido. Hoje em dia,indivíduos com menos de 18 anos não podem irpara a cadeia, sendo levados a uma unidade daFundação Estadual do Bem-Estar do Menor(Febem). Lá, eles permanecem por um prazomáximo de 3 anos. Hoje em dia, assassinos e estu-pradores de 17 anos acabam indo para essa enti-dade e são colocados na rua novamente aos 20 anosde idade. Muita gente defende a redução da maiori-dade penal para 16, 14 ou até 12 anos. Acreditamosque 16 anos é a idade ideal para um jovem começara responder criminalmente por seus atos. Nessemomento, ele já está próximo ao ápice da forçafísica e tem discernimento para distinguir o certo eo errado. Mesmo assim, na realidade, a maioridadepenal é uma questão secundária. Não importa se ocriminoso está na cadeia ou na Febem. O queimporta é que ele fique detido por um período com-patível com o crime cometido e não seja devolvidoàs ruas rapidamente.

Existem duas ações principais a respeito do sistemajudiciário criminal. Em primeiro lugar, é precisorever o código penal, estabelecendo prazos maislongos para revisão da pena e extinguindo os indul-

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tos. É preciso garantir que as penas sejam cumpri-das e que elas tenham relação de proporcionalidadecom os crimes cometidos. Devolver às ruas um ban-dido é não apenas um perigo à sociedade, mas tam-bém confissão de falência por parte do sistema econfirmação da impunidade.

Em segundo lugar, conforme afirmado anterior-mente a respeito do judiciário, em geral, é precisoinformatizar os tribunais e terceirizar as tarefasburocráticas, de modo a acelerar a velocidade dosprocessos. Isso é especialmente importante no sis-tema atual brasileiro, em que grande parte dos acu-sados responde ao processo em liberdade. Um sis-tema que leva dez anos para finalmente colocar umcorrupto na cadeia, por exemplo, é um sistemaindigno de qualquer crédito.

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Propostas para a legislação penal: Restringiros regimes de progressão de pena. Eliminar osindultos. Contornar a questão da maioridadepenal, fazendo com que criminosos perigososfiquem presos por um longo período, indepen-dentemente da idade

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Cadeias

Quando finalmente o crime é julgado em definitivopelo sistema judiciário e o bandido é condenado,ele deve seguir para a cadeia. Em tese, as funçõesdo sistema prisional são primordialmente protegera sociedade contra indivíduos perigosos e dissuadirpotenciais marginais de praticar o crime. Se a esta-dia na cadeia contribuir para a reabilitação de cri-minosos, tanto melhor. No entanto, essa função dosistema não deve estar subordinada às duas anteri-ores. Infelizmente, hoje as cadeias brasileiras nãocumprem nenhuma dessas funções.

Em primeiro lugar, por causa de fugas e de rebe-liões freqüentes, a chance de alguém permanecer nacadeia é bastante baixa. Como vimos, a lei permiteinclusive aos presos sair da cadeia em certas datasespeciais, o chamado indulto. Caso a família dopreso viva em outra cidade, o Estado é obrigado aarcar com os custos de viagem. Ou seja, enquantocidadãos honestos, mas pobres, têm de passar oNatal longe da família, assassinos cruéis obtêm esseprivilégio de graça. Como grande parte dos presosque recebem permissão para sair não voltam, caiainda mais a taxa de permanência na cadeia.

Além disso, ao contrário de reabilitar o criminosopara que tenha condições de voltar à vida normal,as cadeias se transformaram em verdadeiras uni-versidades do crime, onde cada criminoso aprende

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uma série de outras “especialidades” com osdemais, geralmente aumentando seu grau de peri-culosidade. Recentemente, os pesquisadores KeithChen, da Universidade de Yale, e Jesse Shapiro, dauniversidade de Chicago, fizeram um estudo com-parando presidiários com perfil semelhante queestiveram presos em cadeias diferentes. Realmente,eles observaram que os prisioneiros que estiveramem cadeias piores têm chance 15% maior de come-terem novos crimes do que aqueles presos em cade-ias com condições de vida mais humanas.

Sujas e lotadas, as cadeias são foco de proliferaçãode doenças e oferecem condições de vida subuma-nas aos que nela residem. A falta de controle sobreos presos e as regras relaxadas permitem que osgrandes criminosos, mesmo de dentro da cadeia,continuem a comandar as operações de crime dolado de fora. Por fim, temos o paradoxo de um sis-tema ao mesmo tempo frouxo em termos de segu-rança e desumano em termos de condições de vida.Tudo isso gastando mais de R$ 18 mil anuais porpreso, seis vezes mais do que o custo de educar umestudante de Direito4 em universidade pública.

O primeiro passo a ser dado para solucionar o pro-blema é aumentar drasticamente a capacidade dosistema presidiário. Existe um mito no Brasil deque há gente demais presa por delitos leves, o queestaria causando a aparente lotação nas cadeias.Nada mais distante da realidade. Existem hoje

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4 Fonte: Contas Abertas UOL e ADUNICAMP, referência customensal operacional de R$ 279 por estudante

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cerca de 400.000 presos no Brasil, para um sis-tema com capacidade oficial de apenas 250.000vagas. Desse número, a Secretaria Nacional deSegurança Pública estima que existam pouco maisde 5.000 presos por delitos leves, os quais pode-riam estar em regime semi-aberto. Ao mesmotempo, existe mais de meio milhão de pessoas quejá tem o mandado de prisão expedido, mas queainda encontra-se em liberdade. Ou seja, para cadapresidiário que poderia estar fora da cadeia, exis-tem cem outras pessoas que deveriam estar dentrodela. Se a polícia conseguisse prender toda essagente, a população carcerária do Brasil quase tripli-caria. Existe um alto custo de se manter alguém nacadeia. No entanto, a punição é a melhor e maisrápida forma de se combater o crime, e o custo adi-cional das prisões é muitas vezes menor do que osestragos causados por meio milhão de bandidossoltos pelo País.

Além do aumento da capacidade prisional, melho-rar a segurança e a eficiência das cadeias também éessencial. Isso só pode ser feito pela iniciativa pri-vada. Como tem sido afirmado ao longo deste livro,deve-se sempre dar preferência à iniciativa privadana realização das atividades que hoje são realizadaspelo Estado. Com as cadeias, não precisa ser dife-rente. Essas deveriam ser privatizadas, sendo que oEstado continuaria com a responsabilidade de ban-car o sistema e fiscalizar as cadeias. Deve ser cri-ada uma agência reguladora, a exemplo da Anatel,especificamente voltada para controlar as atividadesdos presídios. É preciso estabelecer metas claras,

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como taxa de fuga dos presos, limpeza, manutençãopredial, índice de reclamação de abusos de presos eoutras, e fechar contratos para que empresas assu-mam o controle sobre os presídios.

O modelo ideal seria um sistema em que o Estadopaga um valor pré-determinado por preso, depen-dendo do grau de periculosidade à sociedade. Líde-res de gangue e presos com grande influência polí-tica, por exemplo, teriam um preço compatível coma estrutura exigida para mantê-los na cadeia. Naoutra ponta, criminosos leves gerariam um valormenor para as empresas responsáveis pela segu-rança. Esses valores deveriam ser condicionados aalguns indicadores de desempenho. As cadeiasdevem, por exemplo, estar sempre limpas e oferecercondições decentes de vida, e o percentual de fugadeve ficar abaixo de uma meta estipulada. Asempresas que mantiverem esses padrões recebe-riam o valor integral devido, enquanto erros deve-riam trazer punições financeiras.

As empresas seriam muito mais eficientes do que oEstado na administração das prisões assim como osão em qualquer outro setor. A meritocracia, a con-corrência e a menor tendência à corrupção (explica-das anteriormente) fariam nascer um número deempresas que atuariam no setor de prisões, sempreinteressadas em manter um número maior de pre-sos, para aumentar sua receita e ao mesmo tempoem atender a legislação, para não sofrer com asmultas que seriam impostas quando ocorressemfalhas.

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Presídio privatizado não é fato inédito no mundo.Hoje em dia, países como França e Estados Unidosjá praticam amplamente a privatização de parte dastarefas dos presídios, como a limpeza e manuten-ção. Em alguns casos, já se experimentou comsucesso a privatização completa de presídios. Umdesses casos é a empresa Correctional Corporationof America (CCA), localizada no estado do Missis-sippi, que administra presídios e cobra um valormensal do estado. Uma das maiores prisões dosEstados Unidos, tal unidade possui ar condicio-nado, é menos lotada e possui muitas atividadesesportivas para os presos. Prisioneiros que passa-ram pela CCA e pelo sistema público notoriamentepreferem a primeira alternativa. Segundo os direto-res da CCA, o foco nos esportes tem uma razãomuito distante da vontade de criar um resort vol-tado à diversão. Robert Adams, diretor da CCA,afirma que “nossa estratégia é deixá-los cansadoscom os esportes, de modo que eles terminem o diaexaustos e durmam como bebês”. Além de oferecerinfra-estrutura muito mais digna e ter baixo índicede fugas e rebeliões, o custo por preso cobrado pelaCCA é 15% menor do que o valor gasto pelo governoamericano com o sistema público, segundo TonyGrade, vice presidente da CCA.

Um aspecto importante a ser ressaltado é o traba-lho na prisão. Hoje em dia, os presos passam seutempo de cadeia no ócio. O tempo livre é preen-chido com temas como brigas, rebeliões e fugas.Quando o preso finalmente sai, ele estará desacos-

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tumado ao trabalho e sem nenhuma reserva finan-ceira. Isso incentiva ainda mais o retorno ao crime.

Os presos deveriam trabalhar sempre, de preferên-cia aprendendo algum ofício técnico durante o cum-primento da pena. Isso pode ocorrer se a empresaadministradora da cadeia terceirizar mão-de-obrapara alguma indústria local que precise dela. Nessecaso, seriam montadas linhas de produção dentrodo próprio presídio, onde os criminosos poderiamrealizar tarefas industriais. A renda obtida com essetrabalho deverá ser dividida em duas partes iguais.Metade iria para a empresa administradora da pri-são. Isso tornará mais atraente esse tipo de ativi-dade e teria como efeito reduzir um pouco o valorque o Estado terá de pagar às empresas para admi-nistrarem os presídios.

A segunda metade seria depositada em uma contabancária do próprio preso, a ser sacada nomomento da saída da cadeia. O fato de o preso tertrabalhado e juntado alguma economia terá grandevalor no futuro e reduzirá as chances de ele voltar àcriminalidade. Para muitos cidadãos honestos, gas-tar dinheiro educando presos pode soar como umdesperdício que deve ser deixado de lado frente àsdemais necessidades de investimento. No entanto,tais pessoas devem se lembrar do fato de que 95%dos presos eventualmente voltam às ruas algumdia. Você prefere que o ex-presidiário na casa vizi-nha tenha poupança e qualificação profissional ouque ele esteja desempregado e sem perspectivas?

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Outra vantagem oriunda da privatização dos presí-dios é a melhoria no aproveitamento dos presídios.Atualmente, como cada unidade federal paga oscustos das prisões em seu território, praticamentenão existem criminosos presos fora da sua regiãode origem. Isso ocorre porque nenhuma unidadefederal aceitaria receber presos de fora e aindaarcar com o alto custo. O resultado disso é queexistem áreas com superlotação enquanto outrastêm capacidade ociosa. Com a privatização, nãoimporta onde o preso será mantido, pois quempagará o custo é o município onde ele foi captu-rado. Um criminoso preso em Recife pode perfeita-mente ser enviado ao presídio de Salvador, porexemplo, pois a prefeitura de Recife que será res-ponsável por pagar as taxas cobradas pela empresade presídios de Salvador. Um sistema de concorrên-cia surgirá, em que diversas empresas espalhadaspelo País competirão pelos prisioneiros gerados emcada cidade, oferecendo condições compatíveis coma regulamentação da agência reguladora e cobrandocustos cada vez menores. Nesse cenário, a popula-ção carcerária ficará distribuída onde os custosforem menores e onde houver mais vagas, aumen-tando a taxa de utilização, a eficiência e reduzindo asuperlotação.

Por fim, não devemos nos esquecer que manter umpreso na cadeia é inevitavelmente custoso ao País. Épreciso rever as penas para crimes leves, tornan-do-as mais curtas e, sempre que possível, substitu-indo-as por serviços à comunidade.

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Propostas para as cadeias: Privatizar todas ascadeias atuais, sendo que o Estado paga umvalor por preso à empresa proprietária. Licitarimediatamente mais 400.000 vagas. Criar umaagência para fiscalizar e regular os presídios.Implantar um sistema de trabalho remuneradona prisão, em que os presos recebem 50% dosalário e a empresa proprietária da cadeiarecebe outros 50%. Aplicar penas alternativaspara crimes leves

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Se quiser comprar, compre

A questão das drogas

A questão das drogas sempre foi um assunto polê-mico, em que paixões e dados empíricos contraditó-rios vêm dividindo defensores e opositores da libe-ração. No entanto, é um tema importante a se resol-ver, uma vez que tem profundo impacto na formacomo o governo intervém na sociedade, na naturezado crime e na estrutura policial.

Em primeiro lugar, é discutível se um governo podeimpedir alguém de conscientemente fazer mal a simesmo. É claro que as drogas pesadas causamgrandes danos à saúde, mas se uma pessoa decide,por livre e espontânea vontade, se tornar consumi-dora, isso não é um assunto que diz respeito aopoder público. Carnes gordurosas também fazemmal à saúde, mas ninguém concordaria em ter umpolicial dentro de cada churrascaria fiscalizando oque cada um está comendo e levando à cadeia quemengolir um bife gorduroso demais. Obviamente queisso é um exemplo extremo, uma vez que drogasfazem muito mais mal do que gordura. Mas o prin-cípio fundamental é o mesmo. Enquanto um consu-midor de drogas estiver usando essas substânciassem importunar os outros, isso não é assunto parao governo. Hoje em dia, um cidadão honesto queeventualmente for pego consumindo cocaína seráenviado à prisão, à custa do Estado, onde além de

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continuar a consumir drogas, ainda aprenderáoutras especializações criminosas.

Apesar dos efeitos nefastos de substâncias comococaína e crack, as drogas funcionam como qual-quer outro produto: são determinadas pelas leis deoferta e procura. A rigor, um usuário de drogas nãopassa de um consumidor, disposto a pagar por talproduto. Da mesma forma, um traficante é nadamenos do que um fornecedor, disposto a entregarproduto em troca de pagamento. Hoje o governo secoloca entre os dois, tentando impedir um de com-prar e o outro de vender, uma posição inevitavel-mente incômoda e ineficiente. No entanto, se nãohouvesse proibição, provavelmente teríamos nomercado grandes empresas oferecendo essas subs-tâncias a baixo custo para aqueles que desejassemcomprar.

Nesse caso, seriam observadas as mesmas caracte-rísticas de outro mercado similar, como o de cigar-ros: grandes empresas oferecendo produtos cadavez “melhores” a baixo custo. A vigilância sanitáriafaria inspeções regulares às instalações produtorasde drogas e faria força para que a formulação dosprodutos seja bolada de modo que cause o mínimodano possível à saúde. Não seria impossível que osrótulos de um produto da Philip Morris, por exem-plo, venha com os dizeres “30% menos alucinó-geno”. Em tempo: grande parte dos danos à saúdecausados hoje pelas drogas vem da mistura dassubstâncias puras com produtos de aparência simi-lar, incluídos apenas para baratear o produto final,

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como o caso da cocaína misturada a pó de már-more. Paradoxalmente, a liberação das drogas tor-naria os narcóticos menos ofensivos à saúdehumana.

A realidade é que a quase totalidade dos narcóticosé proibida, sendo que a mera posse ou o consumode pequenas quantidades é crime punível comcadeia. O risco de ser pego e o custo de se mantercomplexas cadeias de suprimentos para abastecer omercado levam a um preço dezenas de vezes maiordo que seria sem a proibição. Quando se multiplicaesse alto preço pelo volume de drogas consumidono País, chega-se a uma receita gigantesca auferidapelos fornecedores de narcóticos. Essa massa dedinheiro ilegal financia a formação de complexasredes do crime, compra de armas pesadas que riva-lizam com as do exército e a corrupção de agentespoliciais, penitenciários e políticos.

A proibição das drogas ofereceu aos bandidos amaior e mais rentável atividade criminosa com aqual poderiam sonhar. Nenhuma outra se compara.Seqüestros, assaltos a banco, delitos de rua, todasessas atividades dos bandidos são configuradas emcomplexidade e escalas ínfimas perto da enormi-dade que é o tráfico de drogas. É possível compararo Wal Mart com a mercearia da esquina? Tampoucoé possível comparar o tráfico de drogas com as de-mais atividades criminosas. A Polícia Federal estimaque o crime organizado brasileiro movimenta R$8,1 bilhões por ano. Desse total, estima-se que R$5,2 bilhões seja fruto do tráfico de cocaína e R$ 1,2

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bilhões seja fruto do tráfico de maconha. Somenteessas duas substâncias proibidas, portanto, repre-sentam nada menos que 80% das receitas dosbandidos!

Nesse sentido, legalizar as drogas seria tirar doscriminosos o seu mais valioso ganha pão. Seria omesmo que impedir o McDonalds de vender sandu-íches, mandando a rede de lanchonetes se virarapenas com a venda de Coca-Cola e batata frita.Grandes empresas entrariam no mercado, com téc-nicas de produção e distribuição modernas, o preçodespencaria e as grandes redes criminosas teriamde procurar outras atividades ilícitas para compen-sar as perdas. Como nenhum outro negócio se com-para com o tráfico, essas organizações teriam dediminuir dramaticamente sua estrutura ou ir àfalência. Com o poder de fogo da criminalidadeseveramente restringido, a balança do poder passa-ria a pender fortemente para a polícia.

A contrapartida que se teme com a liberação dasdrogas seria a explosão do consumo e o grave riscoà saúde pública que isso acarretaria. No entanto, seessa liberação for bem-feita, isso não precisa neces-sariamente ocorrer. Hoje a maior parte do investi-mento público nas drogas vem na forma de repres-são ao tráfico. Isso reduz levemente o consumo,mas aumenta o preço, fortalecendo os traficantes.Se as drogas forem liberadas, o governo passará acobrar imposto dos fabricantes. Essa verba poderáser investida em maciças campanhas de conscienti-zação e informação das pessoas sobre os perigos

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ligados à droga. Apesar de estar liberada, a vendade drogas pode estar restrita a alguns lugares espe-cíficos e bem-controlados. Assim como no caso doscigarros, a propaganda de drogas deve ser proibida.

Apesar dos riscos de se liberar as drogas, as vanta-gens são muito maiores.

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Propostas para as drogas: Legalizar todas asdrogas hoje proibidas, desde que sejam consu-midas em locais pré-determinados e seja proi-bido fazer propaganda

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Rumo à paz

Uma reforma profunda, que abranja tanto as polí-cias, como o judiciário criminal, como o sistemapenitenciário, como a legislação das drogas teriacomo efeito virar de ponta cabeça a situação atualda violência e corrupção. O que é hoje uma linha deprodução do crime se tornará uma linha de preven-ção do crime.

Com o passar dos anos, um sistema que destruafinalmente a impunidade teria como efeito desesti-mular o crime. Enquanto isso, um complexo prisio-nal que realmente contribua para a reabilitação ofe-receria alternativas de vida para os que saem daprisão. Por fim, a legalização das drogas eliminariaa maior e mais rentável fonte de riqueza doscriminosos.

Com essas medidas, a balança entre as duas fontesde motivação, a pulsão de vida e a pulsão de morte,mudará radicalmente. A punição esperada ao sepensar em realizar um crime será muito maior,fazendo o bandido ponderar muito mais antes defazer algo errado. O resultado disso tudo seria adrástica redução nos indicadores de violência e amelhoria da qualidade de vida para todos.

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Perdendo mais alguns quilos

Privatização

Ao longo do plano de desconstrução do Estado,todas as atividades públicas que se encontraremfora do escopo restrito do papel do Estado devemser privatizadas ou eliminadas.

No curto prazo, as empresas públicas remanescen-tes, tais como Correios, Petrobrás e Banco do Brasildevem ser vendidas, em privatizações abertas etransparentes. Como vimos antes, não é papel doEstado entregar cartas, perfurar petróleo ou admi-nistrar agências bancárias. Além de essas ativida-des serem executadas de forma ineficiente pelogoverno, elas tiram o foco do que é realmenteimportante.

É lamentável que o verdadeiro valor das privatiza-ções ainda não está cristalino para a maioria dosbrasileiros. Recentemente, em debates públicossobre o assunto, vimos políticos competindo sobrequem é o maior amigo das estatais. Em vez dedemonstrarem os benefícios inequívocos da privati-zação, muitos políticos fazem o jogo do medo, afir-mando bobagens como dizer que se está vendendoo patrimônio nacional, ou abrindo mão da sobera-nia do País. Na realidade soberania tem a ver comcontrole de fronteiras e não com o fato do governodeixar de fabricar rolos de alumínio.

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Um caso emblemático foi a privatização do Banes-pa. O governo estabeleceu como critério um leilãocom envelope fechado, em que aquele com o maiorvalor compraria o banco. O Banespa vinha apresen-tando resultados medíocres nos últimos anos e umaoferta de algumas centenas de milhões de reais jáera considerada pelos analistas como um bomnegócio. O ganhador do processo foi o banco espa-nhol Santander, que com a aquisição entrou nomercado brasileiro e passou a competir com os ou-tros bancos. O preço oferecido foi de mais de R$ 7bilhões, muito acima das expectativas maisotimistas.

De maneira alguma se pode afirmar que a popula-ção brasileira saiu perdendo com o processo. Umbanco que quase não dava lucro ao governo e pres-tava um serviço ruim à população agora trazia maisde R$ 7 bilhões aos cofres públicos alem de muitasoutras receitas com impostos. O serviço aos corren-tistas melhorou imensamente, agora eles poderiamcontar com a tecnologia de um dos maiores bancosdo mundo. O grau de concorrência entre os bancostambém aumentou e toda a população pode contarcom o benefício de ter os bancos oferecendo servi-ços cada vez melhores para atrair clientes.

O setor siderúrgico — Cosipa, CSN, Açominas etc.—, por exemplo, costumava dar prejuízos anuais, eo governo era obrigado a fazer aportes de bilhõespara tapar o buraco. Pagavam todos os brasileiros.Com a privatização, aumentou tanto a eficiênciadesse setor que até os Estados Unidos tiveram detomar medidas protecionistas contra o Brasil.

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Essas empresas pagam mais impostos e gerammais riqueza ao País. Com a Embraer foi a mesmasituação. A empresa estava quase falida, após a pri-vatização, entrou em um processo de recuperaçãoque a transformou numa líder tecnológica e devendas.

Aqui vale relembrar também o processo parcial nofinal da década de 1990, quando muitas das esta-tais foram privatizadas. As estatais de telefonia, porexemplo, demoravam meses, até anos, para instalaruma linha telefônica. Esta costumava ser tão rara epreciosa que muita gente colocava suas linhas comoherança em testamento; o preço era caro e o serviçoruim.

Hoje, após a privatização e conseqüente competiçãono setor, as companhias telefônicas prestam umserviço muito melhor à população. O número detelefones fixos triplicou e o número de celularesaumentou 15 vezes. Qualquer um pode ter umalinha, o tempo de instalação é muito menor, assimcomo o preço. As empresas concorrem pelos clien-tes, querendo sempre conquistá-los com melhoresserviços e tarifas mais baixas. Claro que existemfalhas e oportunidades de melhoria, mas ninguémem sã consciência trocaria Telefônica, TIM, Vivo,Claro e outras pela velha Telebrás. Se o governo pri-vatizasse as estatais remanescentes, a sociedadebrasileira obteria benefícios semelhantes aos ocorri-dos nas telecomunicações.

Juntamente às empresas públicas, é preciso passarà iniciativa privada a totalidade de estradas, portos

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e aeroportos brasileiros. Hoje a situação dainfra-estrutura de transporte é crítica. Terminaislotados, atrasos e perda de mercadoria são a paisa-gem dominante no Brasil. Atualmente, segundo aescola de negócios COPPEAD, os custos de trans-porte no Brasil são 13% do PIB, contra 8% nosEstados Unidos. Recentemente, alguns terminais decarga portuários foram privatizados e a produtivi-dade triplicou, sendo que navios que esperavam atécinco dias para atracar agora atracam imediata-mente. As melhores estradas do Brasil são as priva-tizadas. O mesmo precisa ser feito com o restanteda estrutura. Governos não são a melhor alternativapara se cuidar de portos e estradas, muito menos ogoverno brasileiro. Com exceção das ruas dentrodos municípios, o governo não deve possuirnenhum tipo de estrutura de transporte.

O patrimônio de uma nação não é definido pelotamanho de suas estatais e sim pela capacidade deessa nação criar riqueza e inovação. Privatizar não édestruir o patrimônio nacional. Só destrói o patri-mônio aqueles que defendem empresas corruptas edeficitárias. Se houver uma vigilância efetiva porparte do setor público sobre as grandes empresasprivatizadas, a exemplo do que foi feito em telefo-nia, o Brasil obterá imensos benefícios com as pri-vatizações remanescentes.

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Propostas para as empresas estatais: Privati-zar todas, como Correios, Petrobrás e Bancodo Brasil

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Vigiando os musculosos

Agências reguladoras

Quando se fala em privatização, alguns setores daeconomia formam um consenso. Pouca gente seoporia, por exemplo, à privatização de uma pada-ria. Adam Smith, o grande teórico do liberalismo doséculo XIX, já defendia os benefícios de um sistemaem que a competição de interesses privados gerassebenefícios à sociedade. Adam Smith observou que abusca por lucros, realizada simultaneamente pormilhares de empresários de determinado setor,invariavelmente faz com que os produtos fiquemcada vez melhores e mais baratos, beneficiandotoda a sociedade.

No entanto, no caso de alguns importantes setoreseconômicos, isso não é tão simples. Estamosfalando aqui de atividades como estradas, petróleo,distribuição de eletricidade, telefonia fixa e outros.Nesses casos, a escala da operação das empresas éprimordial para gerar lucros. Quanto maior aempresa, mais barato o produto e maior o poder debarganha junto aos clientes. Portanto, esses setorestendem a formar monopólios e oligopólios naturais,à medida que as empresa maiores começam a com-prar as menores. Como a competição é muitopequena, invariavelmente poucas empresas acabamdominando o mercado e, se deixadas livres, podemimpor à sociedade preços abusivos.

Para contrabalançar os monopólios e oligopóliosnaturais, existem alguns instrumentos bastante efi-

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cazes, que são os contratos de concessão e a agên-cia reguladora. Os contratos de concessão determi-nam como os ativos públicos devem ser passadosàs empresas e a que preço. Idealmente, a empresaconcessionária deve obter uma rentabilidade comaquele ativo compatível com o tipo de negócio egrau de risco envolvido. No caso das agências regu-ladoras, estas são normalmente autarquias públi-cas, comandadas de preferência por técnicos profis-sionais nas respectivas áreas de atuação. Sua fun-ção é vigiar o setor econômico de suaresponsabilidade, exigindo um mínimo de qualida-de para os serviços prestados, bem como um preçocompatível com custos e riscos de cada atividadeeconômica.

Hoje existem diversas agências reguladoras em ope-ração. A Anatel, por exemplo, é responsável pelavigilância do setor de telecomunicações e vem tendoum papel fundamental na melhoria desse setor, ave-riguando desde a amplitude da cobertura e frequên-cia do sinal de cada operadora até acusações deconta telefônicas erradas. A Aneel, por outro lado, éresponsável pelo setor de energia, e assim pordiante.

As agências reguladoras são importantíssimas parao bom funcionamento da economia. Elas devem servalorizadas e atuar com energia nos diversos seto-res de monopólio natural.

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Propostas para as agências reguladoras:Ampliar os recursos e a atuação das agências

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A raposa e o galinheiro

A agência nacional anticorrupção

Como sabemos, a corrupção é um dos fenômenosmais perigosos para uma nação. Os efeitos econô-micos são devastadores, à medida que o custo dasempresas sobe, investimentos despencam, as pes-soas começam a perder a confiança nas instituiçõesdo País e a democracia começa a ser ameaçada. Nãoé à toa que os países no topo do ranking da trans-parência internacional, como Finlândia e Singa-pura, estão entre os mais ricos, enquanto as naçõesmais corruptas do planeta, como Togo e Gana estãoentre as mais pobres. A correlação entre corrupçãoe subdesenvolvimento é fortíssima.

Nesse contexto, infelizmente, o Brasil encontra-seem péssima posição. Nossos índices de corrupçãosão africanos, escândalos são freqüentes, envol-vendo deputados, ministros, fiscais e funcionáriospúblicos de baixo escalão. De acordo com uma pes-quisa divulgada pelo instituto Sensus, para 41,3%dos brasileiros a corrupção é o principal motivo devergonha nacional, superando de longe a violência(17,1%) e a pobreza (12,7%). Apesar de um caso ououtro de afastamento do cargo, rapidamente asmesmas pessoas de sempre voltam ao governo. Pra-ticamente não existe punição real. Um estudo daAssociação dos Magistrados Brasileiros acompa-nhou as ações criminais contra políticos entre 1988

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e 2007. Dos 463 processos contra autoridades, ape-nas cinco resultaram em condenação, cerca de 1%.Mesmo assim, todos esses cimco casos tratavam decrimes violentos como agressão e homicídio. Ouseja, nunca, em quase 20 anos, um político foi con-denado por corrupção no Brasil!

Isso desmoraliza o governo e faz com que atividadespúblicas que deveriam ser admiradas, como o exer-cício de legislador, seja uma atividade desprezadapela população. Pesquisa recente demonstrou queos deputados do Congresso lideram a lista de pro-fissões detestadas pela população. Claro que é ingê-nuo pretender acabar com toda e qualquer formade corrupção, mas reduzir drasticamente os níveisatuais é prioridade para o Brasil.

Existe um passo fundamental para se combater efi-cazmente a corrupção: a primeira coisa a ser feita é,nos casos descobertos pela mídia, impedir que ospróprios políticos investiguem e julguem seus cole-gas. Hoje em dia, qualquer escândalo dessa natu-reza é investigado somente por uma comissão par-lamentar de inquérito (a CPI). Isso significa quepolíticos estão investigando políticos, muita vezesdo mesmo partido, muitas vezes com os mesmosproblemas (ainda que ocultos) daqueles que estãosendo investigados. É fácil perceber que, nessecaso, a chance de punição real será muito pequena,pois interesses mútuos e corporativismo incentivamos investigadores a proteger seus pares.

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É preciso criar uma Agência Nacional Anticorrup-ção e, acima de tudo, mantê-la independente dogoverno do momento. A estrutura ideal de poderseria uma dupla composta pelos seguintes cargos:

— Diretor: responsável nominal pela Agência Anti-corrupção. Indicado pelo segundo partido maisvotado para a eleição presidencial. Ou seja, é aoposição política que deve indicar o diretor res-ponsável pelas atividades da agência. Ninguémtem mais interesse em expor a sujeira dogoverno do que a oposição, uma vez que elaespera se beneficiar do escândalo sendo a pró-xima a assumir

— Secretário: é o técnico responsável pelo trabalhodo dia-a-dia da agência. Deve ser alguém de forada política e ter feito carreira no MinistérioPúblico ou na Polícia Federal. O secretário daagência deve ser indicado pelo presidente daRepublica, no final de seu mandato, e ter autono-mia completa para trabalhar durante todo omandato do sucessor. Ou seja, em nenhummomento um presidente terá no secretário daAgência Nacional Anticorrupção alguém de suaprópria indicação. Será sempre alguém colocadono cargo pelo presidente da República anterior e,portanto, intocável.

Trabalhando de forma completamente indepen-dente, só assim a Agência Nacional Anticorrupçãoteria a isenção necessária para investigar oscorruptos.

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Como vimos, em Hong Kong, uma instituição simi-lar foi criada na década de 1970 e passou a respon-der diretamente para a coroa britânica. Em poucotempo, o problema da corrupção, que parecia ter setornado endêmico na colônia, foi sendo reduzido,até que hoje o território de Hong Kong é um dosmais bem-avaliados no ranking da transparênciainternacional. Dessa experiência pode-se concluirque, uma vez que os crimes estão sendo investiga-dos, os corruptos estão sendo presos e mantidos nacadeia, isso desestimula os demais a roubar. Omesmo deve ocorrer no Brasil.

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Propostas para a agência nacional anticor-rupção: Criar a agência para investigar os polí-ticos e funcionários públicos corruptos. Com-pletamente independente, o diretor da agênciaé indicado pelo partido líder da oposição,enquanto o secretário é indicado pelo presi-dente da República no momento que este saido poder e acompanha todo o mandato dosucessor

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A escada no fundo do poço

Assistência social

Como vimos, o Estado tem três atividades essenci-ais, sendo as primeiras duas garantir as liberdadese manter a ordem. A terceira grande atividade éproteger os cidadãos contra a miséria absoluta. Issosignifica dar uma assistência mínima para que umafamília possa sair da pobreza absoluta e entrar parao mercado, para depois gerar riqueza por contaprópria. Essa atividade deve ser desempenhadacom muito critério e seriedade. Em um país como oBrasil, com milhões de miseráveis, a assistênciasocial necessariamente movimenta recursos vulto-sos. É de se esperar que, com o tempo e o processode enriquecimento do País, as necessidades finance-iras da assistência social passem a ser cada vezmenores. Isso não significa que ela deva um dia sereliminada. Mesmo nas nações mais ricas ainda háaqueles que perderam tudo e precisam desespera-damente de ajuda. No longo prazo, o ideal é que aassistência social deixe de atender toda umacamada da população, como seria necessário nocontexto atual e passe a se concentrar apenas emcasos mais extremos.

Não é papel da assistência social ajudar pessoasque já têm condições de seguirem suas vidas sozi-nhas, independentemente de ajuda governamental.Hoje, centenas de milhares de pessoas recebem

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recursos do Estado indevidamente. Nesse aspecto,a legislação brasileira sempre deu ao Estado umasérie de obrigações assistencialistas que fazempouco sentido. Está previsto na lei, por exemplo,que as filhas solteiras de militares falecidos conti-nuem recebendo pensão até o dia do casamento. Naprática, muitas pessoas nessa categoria acabam nãose casando oficialmente nunca, de forma a manter obenefício. Isso é mais um dreno para os cofrespúblicos. Em vez de concentrar o dinheiro sobre aspessoas mais necessitadas, o Estado se incumbiude um sem-número de obrigações, voltadas paratoda uma casta de políticos, servidores públicos egrupos diversos de privilégio.

Como veremos adiante, a única forma de transfe-rência de recursos diretamente do Estado para apopulação deve ser via assistência social, e essadeve desviar-se do direcionamento atual para ascastas privilegiadas. A assistência social deve estarinteiramente voltada para os excluídos.

Mesmo assim, o objetivo nunca é ser assistencia-lista, fornecendo dinheiro suficiente para que a pes-soa viva bem com recursos estatais. O foco da assis-tência social é dar condições para que a famíliapossa sair de um ciclo de pobreza e comece a pro-duzir e gerar riqueza por conta própria. Conformeafirmado antes, é fornecer recursos para que umapessoa aprenda a pescar, e não ter seu peixe prontona mesa todos os dias à custa dos outros.

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A atividade da assistência social deve ser desenvol-vida em algumas etapas. Em primeiro lugar,devem-se identificar as famílias que se enquadramno perfil para receber ajuda. É preciso atingir pri-meiro os casos mais extremos de pobreza, emseguida os menos graves e assim por diante, até quea verba destinada à assistência social esteja total-mente comprometida. Num primeiro momento,provavelmente não será possível atender a todosque necessitam, em virtude da enorme carência. Noentanto, com o crescimento econômico e a remoçãode parcelas da população da miséria, será possívelcobrir a totalidade das pessoas carentes.

Definidas as famílias que têm direito à ajuda, ogoverno abrirá uma conta corrente em nome dobeneficiado e depositará mensalmente uma verbapré-definida nessa conta. O valor deve ser calculadopara cobrir os gastos essenciais para a sobrevivên-cia da família.

Uma vez que a família recebe o dinheiro, ela deveprestar contas de seus gastos, apresentando notasfiscais e comprovantes de pagamento da escola dosfilhos e de um plano de saúde. Se a família nãocomprovar pelo menos esses dois tipos de gastosela está sujeita a ter cortada sua bolsa. Mais adianteveremos que os sistemas de saúde e educação deve-rão sofrer profundas alterações em seu funciona-mento e que, segundo o sistema que estamos pro-pondo, todas as pessoas devem buscar tais serviçosdentro da iniciativa privada.

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Outro fator importante é que o valor da bolsa deveser regressivo com o passar do tempo. Quando umafamília se candidata para receber a bolsa é porqueela está precisando de ajuda para sair da pobreza enão para viver eternamente com auxílio estatal.Assim, uma bolsa que vai diminuindo com o tempogera o estímulo certo para que a família se esforcepara voltar a produzir e gerar riqueza, e não se aco-mode e viva eternamente com um dinheiro que nãolhe pertence.

A assistência social é função do município. A admi-nistração municipal tende a conhecer muito melhoras necessidades da população do que o governocentral. Apesar disso, deve haver um órgão centrali-zador na capital federal para elaborar as diretrizesbásicas e fiscalizar as assistências sociais locais,evitando abusos.

Caberá ao governo federal controlar as assistênciassociais de cada cidade para verificar se não estãoocorrendo desvios de recursos ou gastos indevidos.O controle deverá ser forte, pois essa é uma áreacom muitas possibilidades de desvios. Basicamenteteremos três tipos principais de controle. O prime-iro é se os recursos que uma família recebe nãoestão sendo maiores do que deveriam. Nessemodelo a verificação é simples, pois os valoresdeverão ser sempre baixos, porque o objetivo daassistência social é apenas garantir que a populaçãosaia do nível de miséria. O valor dos recursos desti-nados às famílias deverá ser revisado periodica-

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mente para se certificar que, passado algum tempo,elas ainda precisem do auxílio estatal.

O segundo é verificar se somente as pessoas querealmente precisam de ajuda é que estão recebendoauxílio, e não famílias que já dispõe de uma situa-ção econômica estável.

O terceiro controle é garantir que as famílias nãosejam beneficiadas por tempo demais. Já é conhe-cido o pernicioso efeito de se manter alguém sus-tentado por tempo demais na caridade do Estado.Após esse período, existe uma clara tendência a seacomodar, desistir de procurar trabalho e passar adepender cada vez mais profundamente de talajuda. Isso é o exato oposto do que se busca com aassistência social.

O Brasil, assim como os demais países em desen-volvimento, possui milhões de pessoas vivendo aba-ixo da linha da pobreza. É de se esperar que umprograma de crescimento econômico acelerado, porsi mesmo, possibilite que grande parte dessa popu-lação escape da pobreza por conta própria, àmedida que as empresas contratam mais gente emais oportunidades aparecem. No entanto, umaassistência social efetiva pode acelerar esse pro-cesso e melhorar rapidamente a qualidade de vidadas pessoas, ajudando-as a entrar no mercado.

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Propostas para a assistência social: Institui-ção ligada ao município. Transfere recursosdiretamente às famílias que comprovarem difi-culdades financeiras. O auxílio é dado emcaráter temporário, vai diminuindo com otempo e está atrelado ao fato de a família com-provar pagamento de estudo dos filhos e planode saúde familiar. Dinheiro é fiscalizado pelogoverno federal

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A cura para todos os males?

Educação

De todos os clichês que se usa a respeito do Brasilnenhum é mais comum do que a questão da educa-ção. Qualquer conversa a respeito dos problemasbrasileiros em algum ponto passará pela afirmaçãode que “o problema é a educação”. Da corrupção àbaixa eficiência industrial, da violência à mortali-dade infantil, a responsabilidade é geralmentejogada sobre essa atividade social. Isso deriva deuma visão por demais ampliada do que seria educa-ção. Ora, se excluirmos os fenômenos puramentenaturais (como a existência de atmosfera, por exem-plo), todo o resto é fruto do comportamentohumano. E se considerarmos que esse comporta-mento deriva da educação que cada pessoa recebe,realmente é possível associar tudo o que o homemfaz à forma como foi educado. No entanto, essavisão por demais filosófica não nos ajuda em nadana hora de resolver de forma prática os problemasnacionais. A corrupção deve ser combatida colo-cando-se os corruptos na cadeia e mantendo-os lá.Esbravejar genericamente sobre a educação e espe-rar 20 anos para as crianças teoricamente maisbem-educadas governarem o País não resolverá oproblema da corrupção agora nem provavelmenteno futuro.

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A verdade é que educação é um conjunto de influên-cias diversas que moldam o caráter e a qualificaçãode cada pessoa. Ela é composta em primeiro lugarpor valores transmitidos pela família e depois pelaexperiência escolar, pelas amizades e experiênciasextracurriculares, enfim, por um sem-número deinfluências. Trataremos da educação vista de formamais estreita, ou seja, puramente no âmbito escolar.

A questão da educação escolar é vista sob variadospontos de vista. Diversas linhas pedagógicas convi-vem dentro de um amplo espectro de caminhospara se atingir a formação de uma pessoa. Algumasdessas correntes defendem a filosofia democrática,segundo a qual as crianças devem participar ativa-mente da condução dos assuntos escolares, inclu-sive decidindo o que devem e o que não devem estu-dar. Outras seguem caminhos mais tradicionais,valorizando a disciplina e a padronização. A ver-dade é que quase todas as linhas são válidas e, sebem-implantadas, conseguem atingir os objetivos aque se propõem. Para tanto, basta que a linhapedagógica seja clara para pais, alunos e professo-res, e a escola possua uma boa gestão. Segundo oespecialista em educação Claudio de Moura Castro,as melhores escolas são aquelas em que existe afigura de um diretor forte e profissional, metas cla-ras de desempenho, medições regulares e incenti-vos para os professores que atingirem as metas.Instituições de ensino falidas, nas quais se gastamais do que se arrecada e os salários atrasam, difi-cilmente produzem bons resultados acadêmicos.

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Como sabemos, o Brasil não é um primor em maté-ria de educação. O governo gasta apenas 4,3% doPIB com educação, um terço do que gasta com osaposentados. É muito pouco se levarmos em contaque esta ainda é uma nação jovem. Como grandeparte desses parcos recursos é desperdiçada viaobras tolas e corrupção, o volume de recursos queefetivamente chega às salas de aulas é ainda menor.Em um teste administrado em 40 países, o Brasilpegou último lugar em matemática e penúltimolugar em leitura. Metade dos alunos de dez anos éanalfabeta funcional, 40% dos professores faltampelo menos uma vez por semana. O índice de repe-tência, um dos maiores do mundo, custa ao País R$13 bilhões adicionais por ano, segundo AlbertoRodrigues do Banco Mundial. Os trabalhadoresbrasileiros estudam em média, apenas 4,1 anos. NaChina, esse índice é de seis anos e vem crescendorapidamente.

As conseqüências da má qualidade da educação sãodesastrosas. No contexto de um mundo globalizado,em constante mudança, com base na tecnologia, aqualificação das pessoas é o fator primordial desucesso econômico para qualquer nação. Paísescomo Japão, Coréia do Sul e Dinamarca, por exem-plo, pobres em recursos naturais, tornaram-senações muito ricas com base na educação da popu-lação. Enquanto a educação no Brasil permanecerno patamar atual, são pequenas as chances dedesenvolvimento.

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A melhoria da educação no Brasil passa por umaquestão fundamental: é o Estado a entidade certapara operar dezenas de milhares de escolas? Seráque o controle público é a melhor forma de gerirum colégio, escolher material didático, pagar pro-fessores e cuidar da manutenção?

No caso da maioria das nações do planeta, a res-posta ainda é sim, apesar de que esse quadro podeestar mudando. Em quase todos os países, ogoverno opera um sistema público e gratuito deeducação. A principio esse fato inequívoco nosempurraria para defender o mesmo modelo no casobrasileiro, de uma rede pública e de qualidade. Noentanto, uma série de casos de sucesso inquestioná-vel está mudando a visão dos especialistas a respe-ito da melhor estrutura educacional e apontando asvantagens dos sistemas de vouchers.

O voucher educacional é um sistema bastante sim-ples de entender: o Estado paga, os pais escolhem,as escolas competem, o nível de ensino sobe e todossaem ganhando. Ou seja, cada família recebe umaespécie de cupom com valor pré-determinado, como qual pode matricular seu filho em escola particu-lar e o valor do cupom é pago diretamente à escolapelo governo. Nesse cenário, apesar de o governoestar financiando a educação, o processo é geridopelos princípios da competição e livre iniciativa.Escolas boas recebem muitos alunos, ganhamdinheiro e crescem. Escolas ruins perdem alunos eprecisam ou melhorar ou fechar as portas. Umairresistível pressão por melhoria é formada.

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Simples, porém controverso, o sistema tem sidoatacado duramente por parte do establishmenteducacional. Até o momento, a visão predominanteentre os educadores é que é papel dos profissionaisdo ensino escolher onde cada criança deve estudar,e não dos pais. As crianças, afirmam, possuem dife-rentes graus de habilidade para o aprendizado,habilidade esta que deriva tanto de fatores biológi-cos quanto do ambiente doméstico. Isso faz comque diferentes crianças demandem doses diversasde esforço para serem educadas. O sistema de vou-chers é atacado pelos críticos em parte porque estestemem que as crianças mais problemáticas serãodeixadas para trás pelos colégios e por famíliasnegligentes. Apesar de algumas dessas premissasserem verdadeiras, essa visão tem lentamente sidoderrotada por um grande volume de evidências,tanto de países desenvolvidos quanto emergentesdemonstrando que a simplicidade e genialidadedesse sistema tem corrigido a maior parte dasdistorções.

Recentemente a Colômbia criou um programa devouchers com o objetivo de aumentar o acesso àescola secundária. Segundo Harry Patrinos, doBanco Mundial, por intermédio dessa iniciativa,125 mil crianças receberam vouchers com valorequivalente à metade da mensalidade das escolasprivadas. Como havia muito mais candidatos doque vagas, foi instituído um sistema de sorteio paradefinir quem receberia, ou seja, isso representouum experimento perfeito, uma vez que o sorteiogarantiu uma amostra aleatória para esse experi-

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mento. Os estudos subseqüentes demonstraramque as crianças que receberam vouchers tinham de15% a 20% mais chances de terminar os estudos,5% menos chance de repetir de ano, notas melhorese chances muito maiores de entrar na universidade.

Sistemas de vouchers em diversos locais dos Esta-dos Unidos tiveram resultados semelhantes.Segundo Greg Foster, da Fundação Friedman, todosos oito programas independentes de vouchersdemonstraram ser superiores ao sistema geral deeducação. Os alunos que usavam vouchers forammelhores mesmo nos casos em que o custo para ogoverno foi menor do que o custo por aluno naescola pública; o valor do voucher nos Estados Uni-dos é metade do custo por aluno em escola pública.Outro estudo da Universidade de Harvard demons-trou que a qualidade das escolas norte-americanastende a melhorar quando elas precisam competirpor alunos. Como afirmou a revista inglesa “TheEconomist”, aparentemente as pessoas que traba-lham em escolas públicas são exatamente iguais atodas as outras: elas tendem a trabalhar melhorquando confrontadas com um pouco decompetição.

Todas as escolas e universidades públicas devemser privatizadas e o governo deve financiar a educa-ção fundamental por meio de um sistema de vou-chers. Além do valor recebido do Estado, cadaescola deveria ter autonomia para determinar opreço que quer cobrar adicionalmente à verba dogoverno. Ou seja, se determinada escola possui

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mais candidatos do que vagas, ela pode cobrar umvalor adicional para que se estude nela. Usando-seesse valor adicional como regulador, a demandapela escola em questão será ajustada para a ofertadisponível, equilibrando o sistema. Quem tiver con-dições e interesse de pagar o valor adicional o fará,enquanto os demais procurarão a escola vizinhaque atenda com melhor qualidade pelo valor fixo dogoverno.

À primeira vista, a questão do preço pode parecerum pouco cruel, uma vez que, na prática, deixará asfamílias mais carentes de fora das melhores esco-las. No entanto, não podemos nos esquecer que issojá ocorre hoje em dia, com o agravante que as esco-las de base são hoje de péssima qualidade. Emnenhum momento propõe-se colocar a totalidadedos jovens dentro de ilhas de excelência, até porqueisso seria impossível. O foco dessa proposta é ele-var a eficiência e qualidade da base da pirâmideeducacional, permitindo que todos tenham acesso aescolas de nível pelo menos aceitável. Com o passardo tempo e com o crescimento econômico, é de seesperar que as famílias migrem cada vez mais paraescolas que apliquem preços adicionais e nãodependam exclusivamente da verba do governo.

As razões para privatizarem-se escolas e universida-des são basicamente as mesmas já expostas: a inici-ativa privada é intrinsecamente mais eficiente nagestão de qualquer coisa. Assim como é melhor queuma empresa privada frite hambúrgueres do que ogoverno, o mesmo ocorre no caso de uma escola.

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Como vimos, existe muito mais espaço para a cor-rupção no caso de uma escola pública do que umaprivada. A meritocracia, o foco nos resultados, aação da concorrência pressionando a escola paramelhorar fazem a iniciativa privada ter mais chan-ces de aumentar a qualidade de ensino.

Assim como em qualquer atividade econômica, teruma boa gestão é fundamental para que a atividadedê certo. No caso da educação, ter mais dinheironão significa necessariamente que o ensino serámelhor. Em 2005, o Município de São Paulo gastouem média R$ 1.060 por aluno e obteve média naprova Brasil de 168 pontos. No mesmo período, oMunicípio de Rio Branco no Acre, muito mais pobree gastando apenas R$ 589 obteve média de 177pontos. O fator crítico para tal disparidade foi amelhor gestão por parte dos diretores de escola noAcre, que conseguiram com maior freqüência reali-zar ações simples como controlar gastos, evitar des-perdícios e monitorar as aulas.

A lógica da concorrência se aplica às escolas assimcomo a qualquer setor econômico. Alguns colégiostendem a ser mais bem-geridos do que outros. Como tempo, os alunos migram para as escolas que ofe-recem o melhor custo-benefício, fazendo com queessas cresçam e se multipliquem. No caso das esco-las ruins, elas devem ou melhorar ou acabamfechando as portas.

Os administradores mais competentes farão comque suas escolas ofereçam uma excelente qualidadede ensino, com preços competitivos. Eles também

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passarão a selecionar os professores, demitindo osincompetentes, valorizando os melhores docentesque ensinam de forma adequada seus alunos. Asdemandas por cursos e atividades extracurricularesserão atendidas rapidamente, porque as escolas eas universidades terão o maior interesse em con-quistar mais clientes.

O processo de privatização deve ser lento e gradual,iniciado pelo ensino superior, que é a instância naqual ocorrem as maiores distorções hoje em dia.Quase metade do orçamento público da educação éhoje destinado ao ensino superior. Essa massa dedinheiro financia um número de alunos relativa-mente pequeno, dominado em sua maioria pelosfilhos da classe alta e média alta. Ou seja, enquantoa maioria da população estuda em instituições deensino fundamental de péssima qualidade e semrecursos, os filhos da elite econômica estudam degraça em universidades públicas. Segundo dadosdo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-cacionais, o custo de um aluno no ensino públicosuperior é 12 vezes maior do que o custo no ensinofundamental. Hoje fala-se muito sobre a qualidadedo ensino dessas instituições, que geralmente sãoconsideradas de alto nível. No entanto, se conside-rarmos que as universidades públicas costumamreceber a nata dos estudantes e que esses estudan-tes costumam obter bons desempenhos indepen-dentemente da qualidade de ensino, ficam algumasdúvidas sobre quanto mérito o ensino público real-mente possui. Greves freqüentes, estrutura admi-nistrativa inchada e burocrática, baixo grau de

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informatização dos processos são algumas caracte-rísticas freqüentes do ensino público superior.

Concluída a privatização do ensino superior,deve-se fazer o mesmo com o ensino fundamental.É preciso tomar cuidado para só aprovar umadeterminada privatização quando ficar evidente quea escola possui massa crítica de alunos ao seuredor para viabilizá-la financeiramente. Outra preo-cupação é vender a estrutura a um preço superiorao custo do imóvel. Se a escola for vendida muitobarato, haverá investidores que simplesmentefecharão a escola e venderão o imóvel para auferirlucro sobre ele.

Pagar uma quantia de R$ 100 para uma escola par-ticular é muito melhor do que o governo gastar essaquantia operando diretamente o sistema educacio-nal. Em primeiro lugar, a escola particular saberácertamente fazer melhor uso dos recursos. Emsegundo, o governo estará se livrando de uma ativi-dade econômica direta. Em terceiro, isso será muitomelhor para as contas públicas. Mesmo assim, ogoverno teoricamente gastará com educação omesmo valor total que gasta hoje (2,5% do PIB),porém ele não mais precisará possuir uma imensarede de propriedades imobiliárias. Como a totali-dade das escolas e universidades serão vendidas, oPoder Público levantará um valor de dezenas debilhões de reais, valor que pode ser abatido dadívida pública. Portanto, apesar do gasto operacio-nal ser o mesmo, financeiramente a privatização doensino sairá muito mais barato.

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Propostas para a educação: Privatizar todasas escolas e universidades públicas, implan-tando o sistema de vouchers. Para cada alunomatriculado em ensino fundamental, o governopaga uma bolsa diretamente à escola. Cadaescola pode optar se receberá apenas a verbado governo ou se cobrará uma taxa extra

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Cheque em branco sem fundos

Saúde

Em 1988, a assembléia constituinte brasileira pas-sou um cheque em branco para toda a sociedadebrasileira. Segundo a Constituição, todo cidadão doPaís tem direito a tratamento de saúde completo egratuito. Idéia bonita na teoria, impraticável na vidareal. Uma nação com economia pobre decidiu secomprometer com um benefício que apenas algunspoucos países ricos podem se dar ao luxo de ofere-cer. Para atender a essa obrigação constitucional, ogoverno veio aumentando impostos regularmente,desde 1988, mesmo assim sem sucesso na tarefa deconstruir um sistema de saúde de qualidade.

Hoje em dia a situação da saúde no Brasil é lamen-tável. Com exceção de algumas ilhas de excelência,a maior parte dos hospitais e postos de saúdeencontram-se sobrecarregados pelo excesso dedemanda, falta de médicos, remédios e estrutura.Filas intermináveis fazem com que muitos doentestenham que esperar até meses para obter uma con-sulta. Condições precárias de higiene fazem a trans-missão de doenças dentro dos postos de saúde serum grave problema. Hoje, segundo a OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), o Brasil gasta cerca de7% do PIB com saúde, nível semelhante ao doJapão, Espanha e Suécia, países com tradição emmedicina de qualidade. Ou seja, o grande problema

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não é o volume de recursos e sim a forma como elessão aplicados.

Novamente nesse caso, a presença direta do poderpúblico na saúde é uma afronta ao bom senso. Diri-gir um hospital é tarefa bastante complexa, pois épreciso gerir as necessidades de milhares de profis-sionais especializados e administrar uma complexacadeia logística de medicamentos, equipamentosmédicos e materiais diversos. Isso sem contar agestão de procedimentos delicados, que exigematenção e detalhe. Poucas atividades econômicassão tão complexas quanto a atividade da saúde. Seo governo não consegue nem tapar buracos emestradas, o que dizer de administrar um grandehospital?

Assim como no caso da educação, é preciso privati-zar todos os hospitais e postos de saúde do País.Isso deve ser feito de forma ordenada, garantindoque mesmo as regiões mais isoladas e esparsa-mente povoadas mantenham acesso ao sistema desaúde. O importante é que as instalações hoje sob ocomando estatal sejam vendidas e que essas pas-sem a atender tanto pacientes avulsos quanto mem-bros dos diversos planos de saúde existentes noPaís.

O plano de assistência médica é peça chave namelhoria da saúde, pois é a forma mais barata e efi-ciente de se levar tratamento médico a milhões depessoas. Pela lógica da concorrência, cada plano desaúde consegue agregar centenas de milhares de cli-

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entes, conseguindo assim, melhores condições depreço junto aos hospitais. Isso permite que elescobrem preços cada vez mais competitivos dos paci-entes. Ao mesmo tempo, precisam se preocuparcom a qualidade, pois se um determinado planoestiver abaixo do padrão do mercado, as pessoastenderão a mudar de plano. Desse conflito entrequalidade e preço baixo que saem as melhorias nasaúde. Hoje em dia existem planos de saúde básicosa partir de R$ 30 mensais por pessoa. O sistema deplanos de saúde já se provou ser um modelo desucesso. Atualmente, segundo a Agência Nacionalde Saúde (ANS), mais de 40 milhões de brasileiros,quase um quarto da população, já possui plano desaúde privado.

A venda dos ativos públicos da saúde e o incentivoaos planos de saúde privados constituem o alicerceda melhoria. No entanto, o que fazer com as famí-lias que estiverem passando por dificuldades agu-das? Ora, como vimos, a assistência social munici-pal terá como função justamente identificar essesindivíduos. Para aqueles que comprovarem precari-edade financeira, a assistência social incluirá nasua ajuda mensal valor suficiente para que a famíliapossa pagar um plano privado familiar durante operíodo da ajuda. Esse plano será escolhido pelaprópria família, desde que o custo não ultrapasse ovalor teto determinado para cada região. Para fazerjus ao dinheiro, bastará que a família demonstreestar pagando o plano de saúde.

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Atualmente, a maioria das empresas oferece planosde saúde privados a seus colaboradores. Comoveremos mais adiante, quando abordaremos asreformas trabalhistas, com o aumento do empregoformal, veremos uma parcela cada vez maior dapopulação coberta naturalmente via emprego.Outros tantos pagarão de forma privada pelos pla-nos de saúde. Quanto à parcela dependente daassistência social, deverá encolher gradativamente.Mesmo no início, período durante o qual muitagente ainda dependerá de dinheiro público para irao médico, o custo total com saúde será muitomenor do que o gasto atual do governo.

Nesse modelo proposto, o foco da atenção do poderpúblico deverá mudar. Em vez de gerir diretamenteos hospitais, contratando e demitindo médicos,estocando remédios e consertando encanamentos, ogoverno terá o papel de fiscalizar as condições desaúde e práticas dos convênios médicos.

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Propostas para a saúde: Privatizar todos oshospitais e postos de saúde do governo. Cadapessoa deverá escolher um plano de saúde eusá-lo para satisfazer suas necessidades desaúde. A assistência social paga os planos dasfamílias que comprovarem incapacidade depagamento

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O cofre enferrujado

Previdência social

No final do século XIX, o chanceler da AlemanhaOtto von Bismark instituiu o que era na época umagenerosa concessão social aos cidadãos mais ido-sos. Para os alemães que atingissem a idade de 65anos, o governo pagaria uma pequena pensão men-sal. Esse valor era financiado pelos impostos reco-lhidos aos cofres públicos e tinha peso ínfimo nototal da economia. Realmente, para os padrõesdemográficos da época, atingir 65 anos era umaproeza semelhante a chegar aos cem anos hoje emdia! Pouca gente chegava a receber os benefícios e,mesmo quando o fazia, era por pouco tempo. Umamassa de jovens produtivos chegava ao mercado detrabalho anualmente para cobrir os pequenos gas-tos com os idosos.

Como sabemos, de lá para cá o panorama demográ-fico do mundo desenvolvido mudou radicalmente.Em primeiro lugar, os avanços da medicina e dosaneamento básico fizeram saltar drasticamente aexpectativa de vida. No Japão de 1935, por exem-plo, as pessoas costumavam viver até os 45 anosem média. Hoje esse número subiu para 81 anos.Isso fez com que a população com idade de receberos benefícios aumentasse exponencialmente. Aomesmo tempo, a queda na taxa de natalidade fezcom que o grupo dos jovens, como proporção dapopulação total, diminuísse. Hoje existem cada vezmenos pessoas em idade produtiva para cada pes-soa aposentada. Os rombos nas previdências soci-ais dos países ricos são tão graves que esse pro-

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blema já é considerado como o maior desafio socio-econômico do mundo contemporâneo.

Em termos demográficos, o Brasil é um país queainda não atingiu um perfil semelhante ao daEuropa e do Japão, mas que caminha para tal. Aexpectativa de vida aqui é de 71 anos, valor menorque o dos países ricos, porém crescente. A taxa denatalidade, apesar de maior que a do mundo desen-volvido, vem caindo lentamente. No longo prazo,nosso perfil populacional tenderá a seguir o perfildos países ricos. Isso significa que os mesmos desa-fios (que hoje já existem) tendem a se acentuar nofuturo, ou seja, cada vez menos jovens brasileirostrabalhando para pagar as aposentadorias a umgrupo cada vez mais numeroso de idosos. Mas issotudo é para o futuro. Atualmente, o Brasil tem otípico perfil de país jovem, onde apenas 6% dapopulação têm mais de 65 anos, contra 16% namédia dos países desenvolvidos. Mesmo assim,nosso perfil de gastos previdenciários nos asseme-lha ao de uma nação de geriátricos. Nossos gastosatuais com a previdência já passam de 12% doPIB5, índice superior à maioria dos países ricos etrês vezes maior do que a verba da educação! Comoa arrecadação é limitada, é gerado anualmente umrombo de dezenas de bilhões de reais. Isso ocorreem virtude de algumas distorções ligadas àprevidência.

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5 Fonte: Adaptado de Pinheiro e Giambiagi (2006, p. 136) porZylberstajn

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Em primeiro lugar, no Brasil a aposentadoria estáligada ao tempo de trabalho. Apesar de algumastímidas reformas, mais de 60% das pessoas se apo-sentam aos 54 anos. Apenas alguns poucos paísesexportadores de petróleo construíram um sistematão generoso. Outro aspecto é que dois terços daspensões são ligadas diretamente ao valor do saláriomínimo. Governo após governo, em tentativas popu-listas de agradar ao público, tem elevado esse valoracima da inflação, inchando os compromissospúblicos para com os aposentados. Boa parte daspensões vai para os aposentados da área rural, amaioria dos quais nunca contribuiu com aprevidência.

Acima de tudo, existe outra distorção que é típicado Brasil: no nosso país existem dois sistemas pre-videnciários que funcionam em paralelo, um para osetor privado e um para o setor público. Segundo alegislação brasileira, um trabalhador da iniciativaprivada precisa contribuir com a previdênciadurante cerca de 30 anos, destinando a ela obriga-toriamente até 30% do seu salário. Quando se apo-sentar, digamos, aos 60 anos, ele passará a receberpara o resto da vida um valor muito inferior aoúltimo salário na ativa. Esse sistema arrecadavolume de recursos próximo ao volume gasto, ape-sar de gerar anualmente um pequeno déficit para oscofres públicos, como veremos a seguir.

Paralelamente a esse sistema, os servidores públi-cos possuem um conjunto de regras próprias paradefinir suas aposentadorias. Eles tem descontos

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menores que os demais e possuem o privilégio daaposentadoria integral, ou seja, igual ao último salá-rio na ativa. Além disso, por meio de uma infini-dade de minúcias e brechas legais, muitos servido-res públicos acumulam mais de uma aposentado-ria. Enquanto o primeiro sistema de previdênciaconsegue cobrir 80% dos gastos com recursos pró-prios, o sistema dos servidores públicos cobre ape-nas 36%. Nesse setor, o governo arrecada cerca deR$ 22 bilhões e gasta R$ 61 bilhões por ano,gerando um rombo anual de R$ 39 bilhões. Atual-mente, existem quase quatro milhões de funcioná-rios públicos aposentados! Em média, um aposen-tado no sistema público tem uma pensão 300%maior que a pensão do aposentado da iniciativa pri-vada (R$ 1.588 versus R$ 385). A existência dessesdois sistemas faz com que o gasto total com previ-dência seja de mais de 12,2% do PIB, contra 7,6%no caso do Japão, que tem população bem maisidosa. O Brasil gasta três vezes mais com os apo-sentados do que com as crianças em idade escolar...

As regras escandalosamente generosas do sistemade previdência dos servidores são típicas de umregime em que as raposas tomam conta do galinhe-iro. Como vimos, as filhas solteiras de militaresfalecidos, por exemplo, têm direito à pensão mensalaté se casarem oficialmente. Não é preciso dizer quea maioria delas nunca o faz, para não perderemesse privilégio.

Outro problema é o dos beneficiados-fantasmas,estimados pelo governo em centenas de milhares de

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pessoas, que retiram dinheiro em duplicidade dosdois sistemas previdenciários.

Uma das soluções que se aponta para a previdênciaé unificar os dois sistemas sob um único conjuntode regras. Isso seria um avanço, porém insuficiente.É preciso questionar a verdadeira essência da previ-dência pública.

Deve o governo obrigar todos os cidadãos a destinarparte de sua remuneração à aposentadoria? Devemesses recursos ficar nas mãos exclusivamente dosbancos do governo? Devem alguns cidadãos serobrigados a pagar os gastos de outros? Acreditamosque não. Cada pessoa deveria estar livre para pou-par quanto quiser, se quiser, e colocar o dinheiroonde bem entender. Com os avanços na medicina,as pessoas podem hoje em dia realizar trabalhoprodutivo por muito mais tempo do que antiga-mente, aumentando o tempo para se aposentar. Unspodem preferir fazer poupança e viver de renda emvez de receber pensão mensal. Outros podem esco-lher um plano de previdência privada. Outros aindapodem ser menos prudentes e serem obrigados acontar com a família. Nos casos mais extremos, apessoa ainda poderá contar com a assistênciasocial. No entanto, é inadmissível que todos os tra-balhadores brasileiros sejam obrigados a poupar ovalor que o governo determina e deixar o dinheiroonde o governo determina.

A primeira providência para se resolver o problemada previdência é recalcular todos os benefícios dos

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servidores públicos usando como base as regrasdos trabalhadores da iniciativa privada. Isso reduzi-ria fortemente os valores a pagar e eliminaria partedas distorções do sistema. Em seguida, o governoprecisa somar tudo o que cada um já contribuiucom o sistema e gerar um título de dívida públicaem nome dessa pessoa. Assim, na prática, ogoverno estaria se comprometendo a restituir tudoo que foi pago, apesar de não o fazer imediata-mente. Por fim, o sistema previdenciário deve serabolido por completo. Cada pessoa terá a oportuni-dade de escolher se quer fazer um plano particularou não. As estruturas ligadas à previdência devemser fechadas, e os funcionários públicos que traba-lham nesses órgãos devem ser realocados oudemitidos.

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Propostas para a previdência social: Somar oque cada cidadão já pagou à assistência sociale emitir título de dívida pública referenteàquele valor. Abolir completamente a previdên-cia, tanto a do setor público quanto a do setorprivado. Cada pessoa decide se quer ou nãorealizar plano privado de previdência social

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Rompendo os grilhões

Reforma fiscal

Todos os brasileiros pagam impostos. Mesmo semsaber, a criança de oito anos que compra um choco-late na escola está destinando cerca de 40% dovalor do doce pra os cofres públicos. Na média,cada cidadão do Brasil passa cinco meses por anotrabalhando apenas para pagar impostos.

Como vimos, a carga tributária brasileira sobre osetor produtivo é uma das mais altas do mundo.Ela evoluiu em apenas dez anos de 28% para cercade 40% do PIB, contra 18% na China e na Rússia.Considerando-se que o PIB é composto tambémpelo setor informal (sonegação), a carga tributáriasobre a parcela oficial da economia é ainda maior.De acordo com análise feita pelo Instituto Brasileirode Planejamento Tributário (IBPT), o Brasil apre-senta a terceira maior carga tributária do mundoentre as maiores economias mundiais, ficando atrássomente de França e Itália. Se levarmos em contaque esses dois países são nações muito ricas, cujosgovernos oferecem excelentes serviços públicos, asituação do Brasil é lamentável.

Peguemos, por exemplo, a cadeia de distribuição deum MP3 Player. Imaginando que esse produto custaao consumidor cerca de R$ 300, ele passa pela mãodo varejista, que comprou o produto do distribui-

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dor, que por outro lado, adquiriu-o do fabricante.Neste exemplo, depois de pagar os custos, juros eimpostos, o lucro líquido unitário do fabricante é decerca de R$ 8. O lucro do distribuidor, de R$ 6.Nesse mesmo exemplo, a loja de varejo que o ven-deu tem um lucro unitário de R$ 30. Ou seja, astrês empresas da cadeia de distribuição ganharamjuntas R$ 44. No exemplo, o total de impostospagos pelos três é de nada menos do que R$ 170,quatro vezes mais do que o lucro de todas asempresas que trabalharam para que o produto che-gasse às mãos do consumidor! Dos R$ 300 dopreço, nada menos do que 56% foram direto para ogoverno6. Esse tipo de cálculo é válido para osdemais setores produtivos. Para quase todos osprodutos existentes, uma grande parcela é desti-nada ao governo.

Na composição descrita acima, encontram-se algu-mas dezenas de taxas, impostos e contribuições.Segue abaixo uma lista de alguns desses encargos:

• IR — Imposto de Renda

• CSLL — Contribuição Social sobre o LucroLíquido

• IPI — Imposto sobre Produtos Industrializados

• ICMS — Imposto sobre Circulação de Mercado-rias e Serviços

• PIS — Programa de Integração Social

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6 Tocador de Música - cálculos baseados em MP3 player de512 MB. Alíquotas de 20% II, 18% ICMS, 25% IPI, 9,25% PIS/COFINS. Markup do varejo 1,4 e venda em São Paulo.

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• Cofins — Contribuição para o Financiamento daSeguridade Social

• CPMF — Contribuição Provisória sobre Movimen-tação ou Transmissão de Valores e de Créditos eDireitos de Natureza Financeira

• IOF — Imposto sobre Operações de Crédito,Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos e ValoresMobiliários

• ISS — Imposto sobre Serviços de QualquerNatureza

• IPVA — Imposto sobre a Propriedade de VeículosAutomotores

• IPTU — Imposto sobre a Propriedade Predial eTerritorial Urbana

• II — Imposto de Importação

• Senac — Contribuição ao Serviço Nacional deAprendizado Comercial

• Senai — Contribuição ao Serviço Nacional deAprendizado Industrial

• ITBI — Imposto sobre a Transmissão de BensImóveis

• ITCMD — Imposto sobre Transmissão CausaMortis e Doação sobre Quaisquer Bens ouDireitos

• SAT — Contribuição ao Seguro Acidente deTrabalho

• Incra — Contribuição ao Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária

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• Sebrae — Contribuição ao Serviço Brasileiro deApoio a Pequena Empresa

• Sesi — Contribuição ao Serviço Social daIndústria

• Sesc — Contribuição ao Serviço Social doComércio

• Cide Combustíveis — Contribuição de Interven-ção do Domínio Econômico

• Cide Remessas Exterior — Contribuição de Inter-venção do Domínio Econômico

• Contribuição para Custeio do Serviço de Ilumina-ção Pública

• Contribuição aos Órgãos de Fiscalização Profissi-onal (OAB, CRC, Crea, Creci, Core etc.)

• IE — Imposto sobre a Exportação

• ITR — Imposto sobre a Propriedade TerritorialRural

Cada um dos encargos acima possui regulamentoespecífico e forma própria de cálculo. O ICMS, porexemplo, muda de Estado para Estado, aumen-tando a complexidade. Algumas regras mudam tãorapidamente que muitas empresas são forçadas asuportar grandes departamentos fiscais na tentativade se manterem atualizadas. O tempo médio deprocessamento de impostos no Brasil é de 2.600horas por homem, o maior índice em todo omundo7. Nos últimos cinco anos, o governo brasile-iro criou uma média de oito mil novas regras tribu-

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7 The Economist: Special Report on Brazil 2007

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tárias por ano8. A burocracia é infernal: abrir umnovo negócio no Brasil demanda 17 diferentes pro-cedimentos em diversas repartições públicas. Issoleva em média 152 dias, mesmo recolhendo-setodas as taxas e ainda o chamado “imposto dapressa”, pequenos subornos destinados a fazer comque o burocrata de plantão realmente faça o traba-lho dele. Isso aumenta ainda mais os custos paraquem produz. Em Hong Kong abre-se uma empresaem 24 horas! Em diversas ocasiões, nós, autoresdeste livro, nos vimos na situação de tentar explicara estrangeiros, nunca com sucesso, o sistema tribu-tário nacional. Após algumas horas debruçadossobre as planilhas, eles invariavelmente desistem.

Além da complexidade e peso dos tributos, outroproblema que aflige a produção é a capacidadefinanceira das empresas. Na maioria das vezes, asempresas vendem a prazo, chegando em algunscasos a parcelar em 24 ou 36 vezes seus produtos.No entanto, os tributos são sempre cobrados avista, ou seja, antes mesmo de saber se o clientepagará a mercadoria, o fabricante já precisa pagarseus tributos. Conclusão: quem produz precisafinanciar tanto o cliente quanto o governo!

Isso sem contar alguns aspectos bizarros e injustosda legislação tributária. Peguemos, por exemplo, ocaso de uma empresa que vende determinado pro-duto para outra, e a empresa compradora vem afalir, deixando de pagar a dívida. Mesmo tendo pre-juízo por ter entregado uma mercadoria e não ter

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8 Estudo McKinsey “Caminhos para o crescimento”

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recebido por ela, a empresa vendedora, aindaassim, é obrigada a pagar os impostos relativos aoproduto em questão. Outro caso curioso ocorrequando uma empresa importadora tem a mercado-ria roubada no trajeto. Da mesma maneira, ela éobrigada a recolher todos os impostos de importa-ção como se estivesse operando normalmente.

Por fim, o sistema tributário brasileiro é muitoopaco. Nos Estados Unidos, por exemplo, oimposto sobre a venda vem destacado na nota fis-cal. Cada consumidor sabe quanto está pagandopelos produtos e exatamente quanto de imposto.Espertamente, o governo brasileiro não optou pelomesmo caminho. Imagine a alegria de um jovembrasileiro, que suou a camisa para comprar umMP3 Player, vendo na nota fiscal que o produtocusta R$ 130 e os impostos custam R$ 170, totali-zando os R$ 300 do preço.

Todos os fatos acima relatados tornam o sistematributário brasileiro profundamente ineficiente,além de injusto. Como vimos, a principal função dadiminuição das atividades do Estado que estásendo proposta é para permitir a redução da cargatributária e a simplificação de impostos.

Para solucionar o problema tributário, a primeiraação que deve ser tomada é abolir a quase totali-dade dos impostos atuais, começando pelos impos-tos em cascata (cobrados seguidamente de cada eloda cadeia de distribuição), como a CPMF, que sãoos mais nocivos à economia. Em seguida, conforme

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o tamanho do Estado vai diminuindo, devem serabolidos os demais impostos. Após um longoperíodo de ajustes gradativos, devem sobrar única eexclusivamente os impostos listados abaixo:

IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO: O ideal seria umimposto de importação com alíquota zero e a prá-tica do livre comércio. Nessa situação, as barreirassão eliminadas e chega-se à maximização dariqueza geral. No entanto, eliminar rapidamentetodas as barreiras à importação teria o efeito dedestruir de imediato a indústria nacional. Apósanos de proteção e levando-se em conta o custoBrasil e os juros estratosféricos praticados no país,poucas indústrias seriam capazes de sobreviver auma invasão maciça de produtos estrangeiros(como ocorreu em alguns setores). No entanto, apósum período de ajustes, os impostos de importaçãoprecisarão ser derrubados. Somente assim o estí-mulo à competição estará garantido. Ao governorestará a possibilidade de aumentar as alíquotasapenas em casos específicos, como dumping ousubsídios governamentais9. O imposto sobre impor-tação deveria ter um impacto praticamente insignifi-cante sobre a economia.

IMPOSTO SOBRE O CONSUMO: Hoje em dia asempresas de cada cadeia produtiva pagam impostossobre as vendas de uma para outra. Isso precisa ser

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9 Subsídios - muitos governos subsidiam setores econômicos nãocompetitivos par atender pressões políticas específicas. Um casonotório da guerra de subsídios é o da Embraer � Bombardier,no setor de aviação comercial.

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abolido. O único imposto a ser admitido será oimposto sobre a venda aos consumidores finais, ouseja, aqueles que consumirão definitivamente o pro-duto ou serviço. Mesmo assim, o imposto deve valerapenas para certos produtos, ser mantido em nívelextremamente baixo e estar claramente destacadona nota fiscal, de modo que os consumidores sai-bam quanto estão pagando de impostos.

Quando se trata de imposto sobre o consumo,todos os produtos ou serviços devem ser divididosem duas categorias: os nocivos e os não-nocivos àsociedade. Produtos e serviços nocivos são aquelescujo consumo causa dano significativo às demaispessoas ou ao meio ambiente. Não se está aquifazendo julgamento de valor, sobre o que cada umpode ou não pode consumir. Essa é uma decisãoindividual e, como vimos, não está sujeita às opi-niões do governo. No entanto, certos produtos, aocausarem problemas de saúde, poluição ou des-gaste desproporcional de infra-estrutura ou do meioambiente, devem sofrer taxa de consumo. Devemser enquadrados nos produtos nocivos os automó-veis de passeio, as pilhas e baterias de celular, oálcool, o cigarro, as drogas e as armas de fogo,entre outros. O princípio por trás dessa cobrança éque esses produtos causam efeitos expressivos àsociedade e o imposto teria a função de financiar aresolução dos problemas por eles causados. Oimposto sobre o consumo de automóveis, por exem-plo, será direcionado à manutenção das ruas oupara financiar a pesquisa de combustíveis alternati-vos. O imposto sobre o consumo de álcool e drogas,

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por outro lado, será direcionado ao tratamento dedependentes. Além disso, a cobrança desses impos-tos tornará os produtos e serviços nocivos maiscaros, desestimulando, teoricamente, seu consumo.

No caso dos produtos não-nocivos, esses devem serisentos do imposto sobre o consumo. Quando umbrasileiro come um prato de arroz, isso não diz res-peito às demais pessoas, nem ao governo. A totali-dade do valor pago pelo consumidor deve ir para ocaixa do supermercado, para o atacadista para oprodutor.

IMPOSTO DE RENDA: Após a eliminação das deze-nas de diferentes taxas brasileiras, o imposto derenda deverá reinar soberano como a grande fontede arrecadação de recursos do governo. Esseimposto é o mais justo e é o que menos prejudica aeconomia, pois é cobrado sobre o lucro efetivo aufe-rido pelas empresas e pessoas físicas. Hoje em dia,as alíquotas de imposto de renda são crescentes, ouseja, quanto mais riqueza uma pessoa produz,maior é o percentual que deve pagar. Isso é imoral edesestimula a criação de riqueza. O imposto derenda deve ter alíquota única para todos, e essa alí-quota deve ser mantida a mais baixa possível, entre15% a 20% dos lucros.

Nenhum imposto além dos três citados acima deveser tolerado, e a Constituição deverá proibir expres-samente aos governantes aumentarem os impostosou criarem novas taxas sem a aprovação popular.

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A implantação dessas medidas causará queda dra-mática na carga tributária que hoje sufoca o setorprodutivo. De todos os fatores que emperram ocrescimento econômico brasileiro, nenhum chegaaos pés do problema da carga tributária. Mesmoassim, será possível manter as contas públicasequilibradas em virtude dos fatores a seguir:

a) A nova carga tributária, reduzida e simplificada,desestimulará a sonegação que hoje corrói asreceitas públicas;

b) O enxugamento do Estado aqui proposto redu-zirá dramaticamente as necessidades de caixado governo;

c) As medidas antiimpunidade aqui propostasreduzirão ainda mais a sonegação e a perda derecursos via corrupção.

É importante entender claramente como a reduçãode impostos afeta o crescimento econômico. Pegue-mos o mercado de geladeiras, por exemplo. O queaconteceria se o governo de repente reduzisse acarga tributária em 10%?

Quando caem os impostos, cai o custo das empre-sas. Em um primeiro momento, com a queda doscustos, a margem de lucro das empresas aumenta-ria. No entanto, como existe um sistema de concor-rência, em pouco tempo cada empresa estaria ofere-cendo mais descontos aos clientes em busca demaiores vendas. Esse processo costuma fazer comque o preço comece a baixar até que as margens de

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lucro atinjam o mesmo ponto de antes da reduçãodos impostos. O que isso importa para as demaispessoas? Muito!

Quando o preço da geladeira cai, mais pessoas pas-sam a ter condições de comprá-la, o que gera umamelhoria imediata na qualidade de vida. Como maisgente está comprando geladeiras, aumentam as ven-das das fábricas, que precisam investir em maismáquinas e trabalhadores para a produção. Comesses novos investimentos, cai a taxa de desem-prego, fazendo com que mais pessoas tenham rendae possam comprar ainda mais geladeiras, alimen-tando esse círculo virtuoso de produção, consumo ecrescimento. Cada mercado que é incentivado dessaforma gera centenas de milhares de novos empre-gos diretos e indiretos, o investimento aumenta e aeconomia cresce.

Inversamente, quando se aumenta uma taxa, comovem sendo feito no Brasil há mais de dez anos semparar, ocorre um nefasto círculo vicioso. Os custosaumentam, elevando os preços, gerando inflação,perda de poder aquisitivo e desemprego. Nessecaso, a economia fica estagnada e o governo cos-tuma aumentar ainda mais a carga tributária paracobrir seus gastos crescentes. Esse processo, comovimos, tem envenenado a economia brasileira e nosimpedido de crescer há mais de 20 anos.

Eliminar a carga estratosférica de impostos queexiste hoje, cobrada de forma confusa e caótica por

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uma enorme burocracia pública, é a tarefa maisimportante a ser realizada no País.

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Propostas para a reforma fiscal: Todos os tri-butos, as taxas e os impostos devem ser elimi-nados. Deve permanecer apenas o imposto derenda, o imposto sobre a venda de produtosnocivos à sociedade e a tarifa de importaçãonos casos de práticas desleais de concorrênciainternacional

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Dispensando a babá

Reforma trabalhista

As leis do trabalho brasileiras são uma herança daera Vargas e foram consideradas, na época, impor-tantes conquistas para os trabalhadores. Naqueleperíodo, a industrialização começava a despontarna paisagem econômica brasileira, e as fábricaspassavam a absorver centenas de milhares de habi-tantes do meio rural, que migravam para as cidadese começavam a formar o que se tornaria mais tardeas grandes metrópoles brasileiras. Se, naquelaépoca de rigidez econômica, essas leis trabalhistasaté poderiam ser compreendidas, hoje, numa épocade mercados globalizados, competição ferrenha, fle-xibilidade e customização, elas representam para oPaís um verdadeiro desastre econômico. Enquantoo mundo inteiro se moderniza e cria formas flexí-veis de trabalho, que adapta horários, salários e ati-vidades à necessidade do momento, o Brasil insisteno velho e rígido modelo.

Em primeiro lugar, ao impor um conjunto de infle-xíveis regras para as relações de trabalho, o governoassume a premissa de que os trabalhadores sãoabsolutamente incapazes de tomar decisões pró-prias. Quanto tempo cada um trabalhará, quantosdias de férias serão tiradas, em que investirá suapoupança de aposentadoria — todas essas questõessão definidas pelo governo por intermédio da legis-

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lação trabalhista. Para a empresa, a situação tam-bém é ruim, pois é tão caro demitir uma pessoa queas empresas pensam muitas vezes antes de abrirnovos postos de trabalho. Hoje em dia no Brasilexistem 32 milhões de brasileiros com carteira assi-nada e 48 milhões trabalhando na informalidade.

É nítido observar que, no espectro da legislaçãoexistente ao redor do mundo, os países com menordesemprego são justamente aqueles com leis maisflexíveis, enquanto os países mais pesadamenteregulamentados apresentam as maiores taxas dedesemprego. A Espanha, por exemplo, possuía em1994 uma legislação cara e complicada, na qual osaltos custos trabalhistas mantinham o desempregoem 24% da população. Após as reformas, esseíndice foi caindo gradativamente até que hoje emdia o percentual de desemprego é de apenas 8,5%,um terço do anterior. A França veio na contramão,mantendo pesados encargos e sofrendo com altodesemprego, que atinge quase um quarto dosjovens franceses. Na França, os encargos sobre salá-rios são de 80%. Nesse quesito, o Brasil é campeãomundial. Apesar de sermos muito mais pobres quea França, nossos encargos somam espantosos 103%do salário! Nos Estados Unidos, os encargos são deapenas 9%, e o desemprego é extremamente baixo.Em vez de tentar proteger os poucos privilegiadoscom carteira assinada através de uma muralha debenefícios, os americanos preferem trabalhar paraque o próprio mercado de trabalho, sempre aque-cido e flexível, possa absorver todos que buscamemprego.

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Seguem, abaixo, alguns exemplos de regras traba-lhistas praticadas no Brasil e o que deve ser feitocom cada uma delas. Além das regras abaixo, exis-tem outras dezenas que precisam ser destruídaspara flexibilizar as relações e ao mesmo tempoampliar a disponibilidade de postos de trabalho.

Férias remuneradas: A legislação prevê que cadatrabalhador tem direito a 30 dias de férias anuais,durante os quais não apenas ele recebe seu salárionormalmente, mas ainda recebe um valor adicionalde um terço do salário contratual. Em tese, ogoverno espera que as pessoas saiam os 30 dias eusem o valor adicional para pagar a viagem. Na prá-tica, a lei brasileira obriga as empresas a arcaremcom os custos mais pesados justamente quando otrabalhador não está produzindo. O que geralmenteocorre é que a maior parte dos trabalhadores ficaem casa e usa o adicional para pagar dívidas. O adi-cional de férias é uma ilusão que distorce o verda-deiro valor do salário (remuneração por riquezaproduzida) e deve ser abolido.

13º salário: Uma das maiores aberrações trabalhis-tas no Brasil é o 13º salário. Por essa regra, cadatrabalhador tem direito a um salário extra no finaldo ano. Para muitas empresas, dezembro é um mêsfraco, devido ao baixo número de dias úteis e àparada do setor produtivo para as comemoraçõesde fim de ano. Mesmo assim, são obrigadas a arcarcom o dobro dos custos com folha de pagamentosem receber nada em troca. Na prática, o queocorre é que as empresas calculam esse encargo em

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seu custo e reduzem as ofertas de salário para geraruma reserva suficiente para pagar o 13°. Os traba-lhadores, em contrapartida, acabam gastando tudoem bens de utilidade duvidosa durante o Natal, etêm a ilusão de que receberam “algo a mais”. O 13°salário deve ser abolido rapidamente, o que deverálevar a uma elevação no nível normal dos saláriosao longo do ano.

Valor do salário: Segundo a legislação brasileira,determinado salário pode aumentar a qualquermomento, sem poder, em hipótese alguma, serreduzido. Na prática, quando ocorre uma crise,muitas empresas acabam demitindo bons funcioná-rios, os quais, caso houvesse flexibilidade, aceita-riam de bom grado permanecer na empresa mesmoganhando um pouco menos. Na maioria dos casos,funcionários que perderam produtividade ou quetrabalham em setores com dificuldades econômicasacabam ficando desempregados ou aceitam empre-gos de remuneração inferior em outras empresas.Ou seja, uma lei que tenta forçosamente contrariaras leis de mercado acaba trazendo apenas desem-prego e perda de competitividade.

Essa lei deveria ser abolida e os salários deveriamser negociados livremente entre empresa e trabalha-dores. No setor de transporte aéreo americano, porexemplo, houve diversos casos após os atentados de11 de setembro em que as companhias aéreas rene-gociaram os salários dos funcionários. Por diversasvezes, essa redução nos ganhos manteve os empre-gos, e os salários voltaram ao normal após a crise.

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O valor dos salários é assunto particular entreempresa e funcionário. Qualquer decisão sobre aqual ambos concordem e contratem é soberana enão deve ser alvo de intervenção do governo.

Equiparação de atividades: Reza a legislação bra-sileira atual que dois funcionários com a mesmaatividade tenham o mesmo salário. Essa excrescên-cia jurídica joga um banho de água fria na tentativade premiar o melhor desempenho. O correto seriaabolir essa regra, deixando as empresas livres parapagar conforme o desempenho de cada um.

Horas extras: A legislação brasileira prevê uma jor-nada de trabalho fixa de 8 horas diárias. Acimadesse período, até o limite de 10 horas por dia, aempresa precisa pagar hora extra a um custo 50% a100% maior. Na prática, sabendo do horário fixo edos altos ganhos com horas extras, muitos funcio-nários fazem corpo mole, deixando as tarefas para aúltima hora e forçando a empresa a aceitar pagar.Isso eleva os custos e atrapalha a produtividade,gerando perda de competitividade e desemprego. Otempo de trabalho deveria ser decisão de empresase trabalhadores, não sendo fixado pelo governo.Cada negociação deve estipular o período a ser tra-balhado e como serão tratadas as horas adicionais.Idealmente, todo o conceito de hora extra deve serabandonado e substituído pelo conceito de tarefarealizada. Os funcionários devem receber por resul-tado extra, nunca por hora extra.

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Cipa: Empresas brasileiras de médio e de grandeporte devem criar um grupo chamado ComissãoInterna de Prevenção de Acidentes. Composto pormembros eleitos pelos empregados e indicados peladiretoria, a função da Cipa é aumentar a segurançado trabalho, propondo e implantando melhorias desegurança. Como faz freqüentemente, a legislaçãobrasileira conseguiu transformar uma boa idéia emum pesadelo trabalhista ao conceder aos membrosda Cipa estabilidade de emprego por dois anos. Sea empresa quiser demitir um membro da Cipa (ape-lidado comumente de cipeiro), deve pagar os salá-rios até o limite da estabilidade. Na prática, a exis-tência da estabilidade atrai para a Cipa os pioreselementos do quadro de empregados das empresas.Essas pessoas muitas vezes usam a politicagem e apressão sobre os colegas e, uma vez eleitos, se apro-veitam da estabilidade para parar de produzir egarantir uma permanência folgada ou uma demis-são custosa para a empresa. Deve-se eliminar aestabilidade dos cipeiros o mais rápido possível.

Multas rescisórias: De todos os benefícios traba-lhistas, as multas rescisórias representam um dosmais danosos à economia. Trata-se de um conjuntode custos em que as empresas incorrem na demis-são de um funcionário. Aqui está se falando doaviso prévio, da multa sobre o FGTS e algunsoutros. À primeira vista, parece justo que um funci-onário com longo tempo de casa receba recursosextras na hora de ser demitido. Infelizmente, naprática, essa lei desestimula a contratação e incen-tiva o trabalho informal. Caso não houvesse multas

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rescisórias, as empresas contratariam pessoasmuito mais rapidamente, reduzindo o desemprego.Todas as multas rescisórias devem ser abolidas.

INSS: Provavelmente o mais pesado de todos osencargos é o Instituto Nacional de SeguridadeSocial (INSS). Uma parte das verbas para o INSSvem do desconto direto na folha, teoricamente pagopelo empregado, enquanto outra parte é paga peloempregador. É o INSS que financia o sistema previ-denciário, o auxílio-desemprego e o auxílio-doença.Hoje em dia, quando um funcionário fica doente, oINSS paga até 70% de seu último salário duranteum período específico. A cobrança do INSS faz comque milhões de brasileiros sejam forçados a esco-lher o sistema previdenciário público para garantirsua aposentadoria. Além da remuneração dessecapital ser muito baixa, os prêmios mensais pagossão pequenos e existe enorme burocracia para rece-ber os benefícios. O INSS deve ser extinto, con-forme vimos anteriormente quando abordamos aprevidência social.

FGTS: Outro encargo trabalhista que é cobradosobre a folha de pagamento é o Fundo de Garantiapor Tempo de Serviço (FGTS). Esse fundo pode sersacado caso o funcionário seja demitido ou decidacomprar uma casa. Esse benefício é um dos casosmais patentes de quão incapazes as pessoas são vis-tas aos olhos do poder público. Para o governo, otrabalhador é tão inconseqüente que não tem amenor capacidade de, por conta própria, pouparparte do salário para eventualmente comprar uma

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casa. Esse é forçado a recolher parte de seu dinhe-iro, depositá-lo em um fundo público de baixo ren-dimento e só sacá-lo nas situações descritas acima.A decisão da compra da casa própria, quando e se apessoa quiser, compete unicamente à esfera particu-lar. Deve-se abolir por completo o FGTS.

Licença-maternidade: Quando uma mulher ficagrávida, segundo a legislação brasileira, ela adquireautomaticamente estabilidade no emprego durantetodo o período da gestação e por mais seis mesesapós o parto. Além disso, a partir do oitavo mês degestação, ela tem direito a quatro meses de licençaremunerada. Segundo o sistema atual, a empresapaga o salário integral da funcionária enquanto elaestiver ausente, mas desconta esse custo doimposto a pagar. Portanto, em tese, não há custopara a empresa com a licença-maternidade. Essesistema é problemático em primeiro lugar porcausa da estabilidade de emprego. A princípio,parece uma boa idéia proteger as gestantes contrademissão sumária em virtude da gravidez. Noentanto, os sistemas que incluem a estabilidade sãoperversos porque permitem um sem-número dedistorções e abusos contra as empresas. Muitasmulheres desempregadas, assim que descobremestar grávidas, aceitam trabalhos de baixa remune-ração para, imediatamente, declararem-se gestan-tes. Assim elas conseguem remuneração fácil pormais de um ano. A estabilidade no emprego é umproblema, e ela deve ser eliminada. Além disso, alicença-maternidade e os custos associados a elacostumam causar discriminação contra mulheres

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jovens dentro das empresas. Muitas companhias,sabendo que moças entre 20 e 30 anos podem terum filho atrás do outro, evitam contratações dentrodesse perfil.

Acima de tudo, o sistema de licença-maternidade éfalho porque coloca o custo da gestação sobre asociedade como um todo, e não sobre a família quetomou a decisão de ter um bebê. Se o governo pre-cisa arcar com o custo da gestação (ou seja, todosos cidadãos), como fica a responsabilidade indivi-dual e a decisão de ter uma família? Essa medidaincentiva a explosão populacional e força as famíliasque decidem ter menos filhos a subsidiar as famí-lias com mais filhos. O sistema da Austrália, porexemplo, prevê até 14 meses de licença não-remu-nerada. Nesse caso, a mãe consegue passar muitomais tempo com o bebê e amamentar com leitematerno durante um período muito mais adequadodo que o previsto na lei brasileira (até os 6 mesesde idade, segundo especialistas, o leite maternosupre 100% das necessidades nutricionais dobebê). A estabilidade no emprego deve ser elimi-nada, e a licença–maternidade deve sernão-remunerada.

Disputas judiciais: Outro grande empecilho à com-petitividade é o fato de as empresas, invariavel-mente, perderem disputas judiciais trabalhistas.Tradicionalmente, a justiça do trabalho brasileiravem seguindo uma linha paternalista e tem comoprincípio a idéia de que as empresas são sempreculpadas até a prova em contrário. Muitas vezes,

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mesmo após apresentação de provas definitivas,inocentando as empresas, existem juízes que sen-tenciam a favor do empregado com base no argu-mento de que essa é a parte mais fraca. É umaclara distorção dos princípios de justiça. O resul-tado prático dessa situação é que as empresasincorrem em altos custos para se defender daenxurrada de processos que essa banalização acabacausando. Esses custos acabam indo para o preçodos bens e acaba sendo pago pela sociedade comoum todo. É preciso acabar com essa situação ecolocar empresa e funcionários em um mesmopatamar: ganha quem estiver mais bem-ancoradonos fatos. As ações judiciais de cunho trabalhistaatingiram tal grau de banalização que hoje em diase processa por qualquer motivo. Como vimos, oBrasil é o país com o maior número de ações traba-lhistas do mundo. Isso causa altos custos para asempresas e para o governo também.

Desmantelar a atual legislação trabalhista e o apoioincondicional do judiciário aos trabalhadores podeparecer, à primeira vista, um mau negócio para osempregados. A realidade é bem diferente quando seleva em conta o preço que se está pagando pela situ-ação atual.

Hoje em dia, calcula-se que, para cada R$ 100 quea empresa desembolsa com a folha de pagamento,apenas R$ 43 vão parar no bolso do funcionário. Orestante é desviado para cobrir os custos dos bene-fícios e encargos trabalhistas. Em um sistema dealta competição como o nosso, caso os encargos

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fossem abolidos, esse dinheiro extra seria canali-zado ou para aumento de salários ou para reduçãodos preços dos produtos. Em ambos os casos, ostrabalhadores sairiam ganhando. Uma pessoa quereceba, por exemplo, R$ 1.500 de salário poderiater seus rendimentos mensais dobrados se a legisla-ção trabalhista atual for desmantelada. Com odinheiro extra, essa pessoa poderia escolher oseguro saúde que bem entender, comprar os pre-sentes de Natal quando e se quiser e optar por com-prar ou não a casa própria no momento quepreferir.

Isso sem contar a queda do desemprego, que inte-ressa tanto às empresas como aos trabalhadores.Uma economia de pleno emprego é o primeirorequisito para um crescimento ainda maior dossalários e melhoria das condições de trabalho. Emuma economia de pleno emprego, os funcionáriosnão precisam das regras do governo para obterboas condições de trabalho. A própria competiçãoentre as empresas faz com que a busca pormão-de-obra de qualidade ofereça empregos bempagos e com benefícios interessantes. Ou seja, emvez de impor regras rígidas que desafiam as leis demercado (desafio esse que invariavelmente falha), alei deveria facilitar o emprego, aumentando a flexi-bilidade e o espaço para negociação, de modo aincentivar uma economia de pleno emprego. Foi pormeio do pleno emprego, e não de legislação, quepaíses como o Japão viram a produtividade e ossalários subirem, elevando a qualidade de vida detodos.

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Por fim, a atual legislação trabalhista tem umimpacto negativo sobre a forma como os trabalha-dores gerem seu dinheiro. Os trabalhadores comcarteira assinada geralmente gozam de um amplopacote de benefícios, não apenas os previstos emlei. Eles sabem que todo mês receberão um valorpré-determinado, que suas férias serão pagas pelaempresa mesmo quando não estão produzindo, quereceberão um valor extra todo fim de ano e que pos-sivelmente terão as despesas médicas cobertas.Mesmo se forem demitidos, sabem que receberãouma gorda indenização que os permitirá buscaroutro trabalho com relativa tranqüilidade. Obvia-mente que isso gera certa sensação de segurança,aparentemente positiva quando vista super-ficialmente.

Por outro lado, pegue-se por exemplo o caso de umjovem professor particular de inglês. Ele não temcarteira assinada e ganha um valor fixo por aula. Sepor acaso essa pessoa ficar doente, não receberánada durante tal período. Se quiser sair de férias,terá de fazê-lo usando suas próprias economias. Seperder um cliente, não será indenizado por isso. Éverdade que esses fatores de incerteza aumentam ainsegurança econômica do professor em questão.No entanto, eles fazem com que a pessoa preciseser muito mais conservadora e econômica na horade cuidar de seu dinheiro. Comparando-se um pro-fessor particular com um empregado com carteiraassinada, é muito mais provável que o primeiro sejaum poupador de recursos enquanto o outro sejaum gastador. O nível de endividamento privado dos

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empregados com carteira assinada é muito maiordo que o dos trabalhadores autônomos. Como sabe-mos, o motor de crescimento econômico de qual-quer nação é o investimento, e investimento só podeser feito quando há poupança. Isso nos mostra queo fato da legislação trabalhista ser superprotetorapode ter um forte impacto no fato de os brasileirosserem, culturalmente, notórios gastadores endi-vidados.

Em termos trabalhistas, a grande decisão que pre-cisa ser tomada é se as pessoas querem realmenteser donas do próprio destino ou se precisam deuma babá autoritária e ineficiente para tomar deci-sões por elas.

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Reforma trabalhista: Eliminar todos os encar-gos trabalhistas atuais. Liberalizar as negocia-ções de salário. Forçar os magistrados a defen-der os acordos contratados e não defenderincondicionalmente os empregados

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CONCLUSÃO

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A direção da estrada

Recentemente, um dos autores deste livro esteve emNova York e, caminhando pelo Central Park, escu-tou dois passantes falando português. Aoabordá-los e cumprimentá-los, descobriu que setratava de dois jovens profissionais formados pelasmelhores universidades brasileiras e que agoradesenvolviam brilhantes carreiras nos Estados Uni-dos. Um deles era analista financeiro e o outro tra-balhava em pesquisas na área de biotecnologia. Porque esses dois jovens deixaram família, amigos e aincomparavelmente calorosa cultura brasileira paraenveredarem-se numa das cidades mais competiti-vas do mundo?

A resposta de ambos foi: “a busca pelasoportunidades”.

Outro caso é o de um pesquisador na área de ener-gias alternativas, também entrevistado pelos auto-res. Fluente em cinco idiomas, formado pelasmelhores escolas do Brasil e com um currículorecheado de especializações, esse profissionalsofreu longos anos no País, sem encontrar oportuni-dades condizentes com sua qualificação. Acabouemigrando para o exterior e hoje ocupa um altoposto técnico no centro de pesquisa eólica deToronto, Canadá.

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Assim como eles, centenas de milhares de outrosjovens talentosos brasileiros fizeram o mesmocaminho, sejam esses jovens técnicos e pesquisado-res qualificados ou pessoas menos graduadas,porém com energia e ambição maiores do que asparcas oportunidades no Brasil. Nós, autores, fize-mos um rápido exercício de observação e, pegandocomo amostra o próprio círculo de amizades, per-cebemos que nada menos que 40% dos amigos econhecidos próximos estavam ou vivendo no exte-rior ou buscando oportunidades por lá.

A verdade é que as pessoas votam com os pés. Seexiste um meio objetivo de medir qualidade de vida,esse meio é verificar para onde estão se mudandoas pessoas. Na época da Guerra Fria, sob a camadaexterna de propaganda de cada lado (comunista ecapitalista), os povos dos dois lados se movimenta-vam. Quantas pessoas por ano fugiam da UniãoSoviética para tentar a vida no Ocidente? Quantaspessoas fugiam por ano dos Estados Unidos para irmorar em Moscou??? Como sabemos, a pressãoexercida pelas pessoas para fugir do mundo comu-nista foi um dos fatores que aceleraram o colapsodo regime. As cenas da queda do muro de Berlim edos milhares de alemães orientais correndo para oOcidente para sempre ficarão gravadas na memóriade todos como a prova final do fracasso do socia-lismo soviético.

Claro que hoje em dia o Brasil não é um país totali-tário como a ex-URSS, mas se analisarmos à luz deoutras dimensões, podemos fazer a mesma per-

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gunta: quantos brilhantes jovens brasileiros, educa-dos durante 20 anos no Brasil, se mudam para osEstados Unidos em busca de melhores condiçõesde vida? Quantos jovens brilhantes americanos,educados durante 20 anos nos Estados Unidos, semudam para o Brasil pelos mesmos objetivos? Deacordo com a Polícia Federal, existem cerca de 22mil cidadãos norte-americanos no Brasil. Aomesmo tempo, segundo a socióloga Teresa Sales,pesquisadora do Núcleo de Estudos de Populaçãoda Unicamp, existem 800 mil brasileiros vivendonos Estados Unidos, quase quarenta vezes mais. Oque faz com que uma nação consiga atrair para seuterritório 40 vezes mais pessoas do que outra naçãode mesma dimensão demográfica e territorial?

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A turma no restaurante

Depois de observar tantos exemplos de sonhos eilusões desfeitos, tantas oportunidades e talentosperdidos, a pergunta clara que vem à mente é porque continuamos na mesma situação?

Nem todos perdem com a atual configuração socioe-conômica e política do País. Como em qualquerlugar do mundo, existem grupos que perdem e gru-pos que ganham. Estaríamos nós falando aqui dericos contra pobres? Estaríamos aqui falando deempresários contra trabalhadores? Ou burguesescontra proletários, para usarmos termos tirados domuseu ideológico comunista?

Para entendermos essa questão, é preciso primeirocompreender o verdadeiro embate que ocorre den-tro de cada pessoa, opondo dois impulsos que todoser humano tem dentro de si.

Um dos impulsos é o da produção. É da naturezahumana ser produtivo, querer fazer alguma coisade útil com o tempo, criar riqueza para si e para osoutros, fazer algo melhor do que foi feito antes. Issoinclui ficar rico por meio do próprio trabalho,inventar um remédio novo, ser reconhecido, proverrecursos para a família pelo próprio trabalho. Ohomem produtivo sabe que não pode consumirmais do que produz, pois estará forçando alguém acobrir a diferença. O impulso para a produção pre-sume que uma pessoa será premiada ao criar

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riqueza e que a maior parte dessa riqueza ficarápara ela, seja para consumir, poupar ou mesmopara doar aos mais necessitados, caso essa seja avontade do produtor.

O segundo impulso é o impulso do saqueador. Aquia pessoa se acomoda e tende a acreditar que osbens necessários para seu consumo e confortodevem vir do trabalho alheio. Em vez de acreditarem seu próprio trabalho, esse impulso leva cadaum a querer tirar uma fatia do bolo geral. É a ten-dência à mediocridade, a ficar na média, aparecer omínimo possível e sugar ao máximo da riquezacoletiva. As pessoas que se orientam com basenesse impulso desconhecem o verdadeiro signifi-cado da riqueza e do trabalho. Elas acham queessas coisas vêm fáceis e que podem indefinida-mente tomar riqueza daqueles que produzem.

Como afirmamos anteriormente, todo ser humanopossui dentro de si a propensão para os dois impul-sos, desenvolvendo mais um lado ou o outro,dependendo da vocação natural e dos estímulosexternos. Enquanto o impulso do saqueador é maiscômodo, o impulso da produção é o que oferecemais chances de auto-realização. Enquanto o pri-meiro torna as pessoas medíocres e assustadas, osegundo permite o desenvolvimento de seres huma-nos destemidos e confiantes. O primeiro leva umasociedade à estagnação, enquanto o segundo leva aocrescimento. O sistema político e econômico decada país pode ser desenhado para favorecer um

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impulso ou o outro. Um sistema pode ser produtivoou saqueador.

As conseqüências de se manter um sistema saquea-dor podem ser catastróficas para todos. Imagine-seuma cena em que um navio transatlântico afundoue milhares de passageiros nadam amontoados entresi desesperados por salvar suas vidas. Como a pro-ximidade entre as pessoas é grande, alguns esperta-lhões percebem que podem, discretamente, se apo-iar nos vizinhos e parar de nadar. No início são ape-nas alguns poucos, portanto o coletivo não éafetado. Em um sistema em que impera a produ-ção, os demais passageiros percebem o que estáacontecendo e expulsam os aproveitadores dogrupo. No entanto, em um sistema em que imperamas “relações cordiais” e a impunidade, os demaisfarão vista grossa para o que está ocorrendo. Dirãoalgo do tipo “coitado daquele que está cansado”.Lentamente, mais e mais pessoas descobrirão quepodem também ficar na posição confortável de seapoiar nos demais, e o restante das pessoas terá denadar cada vez mais forte para se manter acima daágua. No final, se esse processo não for revertido,todos afundam. Essa cena não é muito diferente doque ocorre atualmente no Brasil. Cada vez mais emais pessoas estão “se apoiando” sobre cada vezmenos gente produzindo.

Quando um homem vai ao restaurante com aesposa e os filhos, tende a olhar os preços do cardá-pio e pedir os pratos com cautela. Sabe que o queele escolher terá de pagar. Pensará duas vezes antes

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de pedir um vinho caro e provavelmente dividirá assobremesas entre duas pessoas. Essa situaçãomuda quando a mesma pessoa vai ao restaurantecom mais 30 amigos e sabe que a conta será divi-dida igualmente entre todos. As pessoas com maisespírito produtivo provavelmente farão seus pedi-dos com modéstia, ou então se oferecerão parapagar sua parte caso comam mais. Já as pessoascom espírito saqueador pedirão os pratos maiscaros, entrada, vinho e sobremesa. Elas sabem quea conta será bancada pelo coletivo e joga sobre ogrupo a responsabilidade de cobrir a diferençaentre o quanto consome e o quanto contribui.

O Brasil é um imenso restaurante, no qual 180milhões de fregueses sentam-se à mesa. Nesse res-taurante, os saqueadores comem os pratos maiscaros e, para piorar a situação, a conta recai intei-ramente sobre aqueles que mais produzem. Nomomento em que esses percebem a enrascada emque se meteram, pagando R$ 200 por um copo deágua, enquanto os saqueadores comem lagosta degraça, acabam saindo do restaurante e se mudandopara outro lugar onde podem comer sossegadosapenas com a família. Muitas vezes esse outro resta-urante, um pouco mais justo, chama-se Nova York.

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O que fazer?

A primeira e mais simples saída para qualquer bra-sileiro que esteja na habitual situação de ser saque-ado é ir embora. Sair do país, mudar-se para algumoutro local onde seu talento e sua capacidade serãomais apreciados tem sido a solução adotada pormuita gente, como vimos. Quem pode condená-los?Durante a elaboração deste livro, entramos em con-tato com diversas pessoas nessa situação e quasetodas se consideram felizes com a decisão. Paraelas e outros brasileiros que optaram por irembora, nós desejamos boa sorte. O caminho quetrilharam é a defesa mais legítima e inquestionávelpara se defender dos saqueadores.

Ironicamente, as pessoas que vão embora do Brasilprejudicam mais os saqueadores do que qualqueroutro que fique aqui dentro. Cada cidadão produ-tivo no Brasil é um pilar do salão de festa dossaqueadores. Quando alguém vai embora, removeum pilar que sustenta o telhado. Em tese, semilhões de trabalhadores saíssem simultaneamentedo País, começando pelos altamente qualificados,todo o prédio ruiria, e o sistema saqueador seriadestruído imediatamente.

Nem todos seguem o mesmo caminho, por diversasrazões. Uns pelos vínculos familiares, outros porquestões financeiras, outros tantos ainda têm omau hábito e a ingenuidade, como nós, autores

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deste texto, de acreditar que existe solução. Paratodos os que permanecem no Brasil, qualquer queseja o motivo, restam apenas duas alternativas:fazer ou não fazer algo a respeito.

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Conscientização

As pessoas que quiserem fazer algo a respeito preci-sam primeiramente definir qual é o problema.Claro que todo mundo acha ruim que existam cri-anças na rua e ninguém gosta do fato de a economiabrasileira estar estagnada há 25 anos. No entanto,saber exatamente qual é a causa dos problemas émais complexo que isso.

Quando uma pessoa faz terapia, o primeiro objetivodo psicoterapeuta é fazê-la tomar consciência deseus problemas. O mesmo precisa ser feito no Bra-sil. É preciso que as pessoas tomem consciência doque está por trás das questões do País. Esperamosque este livro possa contribuir para que fique evi-dente qual é a raiz dos atuais problemas brasilei-ros. Apontar nas direções erradas só pode trazersoluções erradas também. É preciso que todostenham claramente em vista o fato de que a maioriados problemas do Brasil decorre em primeiro lugarda forma como o Estado está organizado, e emsegundo lugar, da impunidade.

Hoje o panorama ideológico brasileiro é povoadopor uma infinidade de mitos e distorções, quefazem com que as pessoas interessadas em fazeralguma coisa freqüentemente apontem para a dire-ção errada. Quando se fala na história brasileira, aversão oficial mais ensinada nas escolas é absoluta-mente derrotista. Enquanto os Estados Unidos se

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vêem como uma nação de idealistas para os quaisqualquer coisa pode ser alcançada desde que se tra-balhe, para nossos professores, o Brasil não passade uma marionete jogada ao longo dos tempos depotência a potência. Tudo que ocorre de ruim é atri-buído à tal “herança colonial”.

Para muita gente, um país ou é explorador, desti-nado a ser rico, ou é explorado, destinado a serpobre. Ora, tal visão desmorona quando se dá amenor das espiadas nos fatos concretos. A NovaZelândia é um país pequeno da Oceania, sem exér-cito, que foi colônia por duzentos anos e que nuncadominou ninguém. Talvez pelo fato dos professoresnunca terem explicado aos neozelandeses que elesprecisavam ser pobres, esses fatores históricos apa-rentemente negativos nunca impediram os cidadãosde trabalhar, prosperar e construir uma das naçõesmais desenvolvidas do planeta. A Coréia do Sul, até40 anos atrás, estava muito atrás do Brasil em ter-mos econômicos. Mesmo assolado por guerras edividido, o país investiu em seu crescimento e atual-mente é três vezes mais rico que o Brasil, em ter-mos de renda per capita. A idéia de que os proble-mas do Brasil vêm do exterior é uma das noçõesmais perniciosas para o País. Melhorar ou piorarestá unicamente em nossas mãos.

Outra distorção que deve ser eliminada diz respeitoao que se espera do governo. Um dos autores destelivro fez uma série de entrevistas em favelas de SãoPaulo. Ao perguntar aos moradores o que eles gos-tariam de mudar nas vidas deles, tudo o que soube-

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ram responder era que queriam mais benefíciosgovernamentais. “Queremos mais creches”, “quere-mos vale-leite”, “queremos centro de lazer”. É com-preensível que essas pessoas sofridas estejam maisinteressadas em benesses de curto prazo. A verdadeé que o papel assistencialista do governo, como pro-vedor de pequenos benefícios dos quais as pessoasvão se tornando cada vez mais dependentes, estácada vez mais cristalizado. Em vez de ser facilitadorda economia e garantidor de liberdades, o governo évisto como uma gigantesca babá, que toma recursosnão importa de onde para distribuir a uma popula-ção cada vez mais abandonada e carente. Esseaspecto da nossa cultura não tem passado desper-cebido pelos sucessivos governos federais a ocuparo Palácio do Planalto, e a política do “pão e circo”, aconcessão de pequenas esmolas à base da pirâmidesocial, tem sido praticada constantemente paraaumentar as chances de vitória eleitoral.

Enquanto essa visão do Estado perdurar, as chan-ces de mudança serão mínimas. Que político teriacoragem de entrar numa favela e afirmar que se foreleito, enxugará o Estado? A visão atual das coisasinduz os políticos a prometerem cada vez mais. Oadversário prometeu dois sacos de leite porsemana? Então serão prometidos dois sacos de leitee um de batata. Ninguém pára para pensar em co-mo o governo está se financiando. É preciso mudara visão do governo como um permanente provedorde pequenas esmolas. Conforme descrito neste li-vro, o papel social do governo deve ser exercidosomente nos casos mais graves, por um curto

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período e de forma bastante intensa, tendo comoobjetivo único tirar as pessoas da miséria, nuncaperpetuá-la.

Uma terceira grande distorção é a visão deturpadaa respeito das empresas. De modo geral, as pessoasvêem as empresas ora com desconfiança ora comindiferença. Para muitos, os grandes empresáriossão considerados parte do problema e pessoas quelucram com a precária situação econômica brasile-ira. Quando se fala do empresariado, coletivamente,a visão que se tem é de um grupo mesquinho,ganancioso, pouco comprometido com o Brasil eque está lucrando com os desequilíbrios brasilei-ros. Para muitos, os empresários fazem parte dogrupo dos saqueadores. Realmente, se nos basear-mos nas interpretações mais arcaicas sobre o mar-xismo, a própria dinâmica econômica das socieda-des é constituída com base no conflito entre proletá-rios e burgueses, ou seja, entre trabalhadores eempresários.

Em parte, essa visão é criada pelo contexto que osistema econômico brasileiro criou em torno dasempresas. Como vimos ao longo deste livro, a legis-lação brasileira impõe sobre as companhias talregime de terror, saqueando a maioria dos recursospor intermédio de uma lista sem fim de impostos eregulamentos que se autocontradizem, que ninguémtem absoluta certeza de estar no caminho correto.Essa situação faz com que, na prática, o direito àpropriedade nunca esteja 100% garantido. Cientesde que a montanha-russa da economia brasileira

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faz com que nada esteja garantido, muitos empresá-rios preferem manter recursos aplicados em rendafixa do que fazer investimentos produtivos comofábricas ou maquinário e ver a fortuna feita comtanto suor ir parar nas mãos dos saqueadores dogoverno.

No entanto, o fato de o empresariado brasileiro sermais cauteloso nesse aspecto do que, digamos, oempresariado finlandês, não significa que essegrupo deva ser desprezado. O empresário é, pordefinição, um agregador de recursos. Ele é a pessoaque reúne capital e talento em torno de uma idéiainovadora e, com o poder de sua mente e de sualiderança, cria riqueza e oportunidades sem prece-dentes. Reunindo uma equipe de pessoas brilhan-tes, dinheiro, energia e reinvestindo o lucro obtidocom essas atividades, as principais invençõeshumanas foram conseguidas. Isso inclui desde asprimeiras caravelas que descobriram o NovoMundo até os remédios mais inovadores. No finaldo século XIX, um obstinado empresárionorte-americano chamado Thomas Edison inventouprodutos como o telefone e a lâmpada elétrica, fun-dando em seguida o que se tornaria a General Elec-tric, uma das empresas mais admiradas de toda ahistória. Se ele não tivesse vivido, é possível queestaríamos até hoje, sem luz elétrica ou telefone.

No Brasil, um empreendedor que atingiu o sucessopelo próprio trabalho pode ser alguém que se supõea favor do sistema atual. Afinal, imagina-se quetudo esteja dando certo para ele. No entanto, a rea-

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lidade é que os grandes empresários estão, ironica-mente, entre as pessoas mais saqueadas do Brasil.Claro que, para os milionários, apesar de o governotomar a maior parte de suas riquezas, ainda sobramuito dinheiro, suficiente para iates e mansões.Ninguém tem mais pena dos donos da Votorantin,por exemplo, do que de uma moradora de cortiço.Mesmo assim, se a questão for avaliada por aspec-tos puramente técnicos, os empreendedores do Paísestão entre os mais prejudicados, pois suas empre-sas são suficientemente grandes e visíveis para sefiscalizar e cobrar a totalidade da carga tributáriabrasileira. Isso costuma levar embora a maior parteda capacidade de investimento das empresas e éruim para todos. Os empresários chineses tiveramsuas algemas parcialmente removidas pelo governode Beijing. Hoje as empresas chinesas estão cres-cendo rapidamente, contratando cada vez maisgente e conquistando o mundo, inclusive com-prando grandes empresas norte-americanas (porexemplo, a compra da IBM pela Lenovo). Enquantoisso, no Brasil, as companhias estão descapitaliza-das e tentando sobreviver dentro de uma economiaestagnada.

É preciso mudar a forma de se ver as empresas eos empreendedores. Os brasileiros precisam come-çar a admirar mais aqueles que produzem e inven-tam. Temos nossos ídolos de futebol e música? Pre-cisamos também de ídolos no mundo da produção.É preciso que seja evidente para todos que asregras devem ser feitas para facilitar a criação deriqueza e que os empecilhos devem ser removidos.

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Em resumo, a conscientização dos brasileiros a res-peito dos nossos problemas e as soluções necessá-rias é o primeiro passo a ser dado. É precisolivrar-se de alguns mitos que atrapalham nossavisão, como o mito do Brasil explorado de fora, omito do Estado provedor de soluções e o mito doempresariado ganancioso.

É preciso conhecer o caminho.

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Mobilização

Conhecer o caminho é diferente de trilhar o cami-nho. É possível que o grande problema do Brasilseja o fato de sermos, todos, revolucionários de so-fá. Ficamos sentados confortáveis, no sofá da sala,lendo os jornais e exclamando: “que absurdo!”,“alguém precisa fazer alguma coisa!”. Em seguida, acampainha toca, chega o entregador de pizza, e anovela das oito começa. Enquanto desce pela gar-ganta um pedaço de calabresa após o outro,esvaem-se os sonhos de ter um país que funcione.Dividindo o tempo livre entre cerveja, futebol e car-naval, quanto tempo sobra para o exercício da cida-dania? Poucos povos são mais acomodados do queo brasileiro.

Essa faceta do caráter nacional serve aos interessesdos saqueadores e deve ser extirpada se quisermosalguma chance de sucesso. O papel individual decada pessoa é a peça fundamental para mudança.Você, leitor, pode fazer alguma coisa pela mudança.Se você teve acesso a este livro e chegou até esteponto na leitura é porque você se enquadra em umgrupo que deve fazer alguma coisa. É a sua respon-sabilidade como cidadão.

A cidadania é uma palavra pouco conhecida no Bra-sil, porém de fundamental importância. Foi a açãocidadã dos franceses que, em 1789, derrubou amonarquia absoluta e instaurou o regime de direito.Foi a ação cidadã dos norte-americanos que expul-sou a coroa britânica das 13 colônias, em 1776, e

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construiu a mais longeva democracia moderna.Claro que o contexto atual dispensa revoluções ederramamento de sangue. Freqüentemente as revo-luções instalaram no poder regimes piores do queos que as antecederam. No entanto, o Brasil precisadesesperadamente de ações cidadãs e ninguém con-segue realizá-las do sofá de casa, no intervalo danovela.

Se o leitor realmente quer contribuir para um paísmelhor, precisa se mobilizar. Como vimos, omodelo de país que é preciso construir depende deleis e mudanças governamentais. A boa notícia éque o governo brasileiro, como qualquer outro, ésensível às pressões. Junte um grupo de amigos eescreva as suas sugestões aos parlamentares.Mande cartas criticando-os quando propuseremleis saqueadoras. Elogie-os quando ajudarem a faci-litar a produção de riqueza.

Junte seu grupo de amigos com outros grupos eforme um grupo de pressão. Faça uma demonstra-ção em sua cidade pedindo algumas das medidasimportantes. Convença outras pessoas a não vota-rem mais nos saqueadores. Você acha que a maio-ria do povo é ignorante demais para ler um livrocomo este? Muito bem! Vá até uma comunidadecarente e organize um piquenique, após o qual vocêexplicará de forma facilitada que conseguir empregoé mais importante do que conseguir uma esmola dogoverno. Isso eles entenderão.

Junte o grupo de pressão com mais grupos de pres-são e organize poderosas campanhas de arrecada-

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ção de fundos para os políticos que conseguirem afaçanha de manter-se limpos. Existem diversoscasos de prefeitos e governadores de Estado queestão perseguindo, nesse momento, uma agenda dereforma e enxugamento da máquina pública. Apóiepublicamente essas pessoas. Denuncie e se oponhaàs leis saqueadoras, que aumentam gastos e impos-tos. Apóie e aplauda em público as leis de reforma.Mantenha uma lista de vigilância sobre os políticosacusados de corrupção e ajude a divulgá-la.

Você sempre desejou realizar trabalho voluntário?Você sempre teve como ambição fazer alguma coisapela população mais carente? Não existe nada maisimportante que você possa fazer do que ajudar adestruir o sistema saqueador. Aquela criança de ruaque você ajudaria hoje dando um brinquedo estarámais bem-servida daqui dez anos, tendo um bomemprego, casa própria e renda adequada dentro deum país de alto crescimento econômico. Naquelemomento ela comprará para o filho, orgulhosa, obrinquedo que bem entender.

Dedique um tempo pré-determinado para investirnessa causa. Determine, por exemplo, uma horapor semana, ou um sábado por mês ou o que querque seja. Você acha muito? Hoje você passa cincomeses por ano trabalhando apenas para pagar osimpostos! Qualquer tempo que você invista nessasatividades será insignificante perto do tempo quevocê já gasta hoje financiando os saqueadores.

Não deixe para os outros. Os outros são você.

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Qual João?

O João do vale-legumes1o de janeiro de 2030 – 7h da manhã

O despertador toca no canto esquerdo do barraco.Mais uma manhã como qualquer outra. João abreos olhos lentamente e vira-se para o lado. Chacoa-lha a esposa e, um por um, vai ajudando os filhos alevantarem-se. São três garotos e cinco garotas nototal. A mais velha, Lucilene, com 14 anos de idade,já está grávida. Dentre os suspeitos pela paterni-dade, o tio Valdir e o garoto Wesley do barraco vizi-nho estão dentre os principais candidatos. Se for tioValdir, provavelmente vai demorar para ele ver a cri-ança, pois está preso. A refeição da manhã consisteem um jarro de café velho dissolvido na água dabica. As crianças sorvem meia caneca cada e dãotapinhas na pele para espantar as moscas. Comidasólida somente à tarde, quando voltarem do semá-foro com alguma esmola. Dos dez membros dafamília, três trabalham. Maria, a esposa, é ajudantede lavadeira na creche da comunidade. Lucileneacaba de ser demitida como empacotadeira dosupermercado, mas dois outros fazem pequenosbicos. Os demais passam o dia chutando latinhas epedindo moedas na avenida vizinha. João, comochefe da casa, fica o dia todo assistindo programasna pequena TV. No final da tarde, vai ao bar e,usando parte dos recursos arrecadados durante odia pelos filhos, manda uma ou duas garrafas de

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pinga para anestesiar os neurônios. Com o desem-prego na faixa dos 30% e nível de renda africano, oBrasil se tornou um lugar em que João pode seconsiderar na média. Nas conversas de bilhar, cul-pam-se os burgueses e os “traidores”, uma parcelade profissionais qualificados que abandonaram oBrasil aos milhões ao longo das últimas décadas.Após três anos de procura por trabalho, ele final-mente desistiu. “Ano que vem tudo irá melhorar” é ocomentário geral. O candidato à presidência pareceser uma pessoa muito dedicada e que prometeudiversas melhorias para o povo. Parece que elesfinalmente vão pegar os culpados pela situação. Opresidente fala bonito, ele discursou alguma coisasobre o “imperialismo chinês, que vem explorandoo Brasil”. Entre as medidas principais, o candidatoprometeu reforçar a aliança com as nações cen-tro-africanas e criar um novo imposto a ser extraídodas empresas para financiar o vale-legumes e oauxílio-vestuário. Para João, o jeito é aguardar atéque essas melhorias cheguem.

O João do pôr-do-sol1o de janeiro de 2030 – 7h da manhã

O despertador toca no canto esquerdo do quarto.Quais surpresas trará essa nova manhã? João abreos olhos lentamente e vira-se para o lado. Chacoa-lha a esposa e dirige-se ao quarto dos filhos. Sãodois garotos e uma garota no total. A mais velha,Lucilene, com 14 anos de idade, apresentará hojeseu trabalho na feira de ciências da escola. Melhor

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aluna da classe, ela apresenta surpreendente apti-dão para projetos de robótica. O garoto Wesley apa-rentemente trilhará caminho diferente. Amante dasartes, demonstrou desde cedo talento musical epara a pintura. O caçula ainda é muito novo parapensar nessas coisas. Ele tem muito tempo e mui-tas portas abertas em sua frente. A refeição damanhã é preparada rapidamente por João. As cri-anças tomam seu leite, comem pão, frutas e pegamos computadores portáteis com as lições de casa járealizadas. João dirige até o colégio onde descem osfilhos, em seguida ele encaminha-se ao trabalho.Nos últimos seis meses, ele tem atuado como con-sultor de microfinanciamento para pequenasempresas em expansão. Sua esposa, Maria, nomomento estuda três propostas de trabalho distin-tas. Ela está em dúvida entre trabalhar numa fabri-cante de cosméticos, numa construtora ou numaempresa de televendas que presta serviço via Inter-net para a Europa. Com a economia aquecida,arranjar bons trabalhos não tem sido muito difícilpara quem é dedicado. Praticamente não há desem-prego, e as pessoas costumam tocar suas vidassozinhas. O crescimento contínuo da produtividadenas últimas décadas fez com que os salários subis-sem bastante enquanto os preços caiam. Apenasalguns milhares de pessoas recorrem ao governoanualmente para ajuda, mesmo assim por poucotempo. Além de quererem atingir logo o orgulho deandarem com as próprias pernas, essas pessoassabem que o setor público é impiedoso com aquelesque se acostumam com as benesses governamen-tais. Cada centavo de dinheiro público é valioso,

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obtido pelo consentimento de cidadãos produtivos enão pode ser tratado levianamente.

Chega o final de semana e a família vai para a casade praia. Sentado na varanda da casa e olhandoseus filhos brincarem na areia, João reflete umpouco sobre a vida. Seus filhos estão lá, aparente-mente, pequenos e dependentes. Mas um dia elessairão do ninho e partirão para a vida. O aperto nocoração dos pais nesse momento é sempre grandeassim como a vontade de manter as crianças porperto. Mas João olha para o pôr-do-sol e encara ofuturo com confiança. Essa bola de fogo que circuladiariamente o planeta Terra sempre lhe traz boasensação. Assim como o sol irradia enorme quanti-dade de energia, cada pessoa também possui den-tro de si uma luz ofuscante. “Acho que sou umgrande humanista”, João ri de si mesmo. “Qual luzserá trazida para o mundo pelos meus meninos?”.O olhar retorna à praia e às crianças brincando. Eleconfia em sua habilidade de educar e na capacidadedos filhos. Ele sabe que as portas estão abertas,que não existem limites, e que para os três garotos,qualquer coisa é possível de ser alcançada, desdeque eles trabalhem para isso com afinco e dedica-ção. “Esses garotos vão decolar”, ele pensa, “elesvão realizar coisas que ninguém da minha geraçãojamais atingiu”. E isso será mérito exclusivo deles.Eles farão isso porque sabem que, para o bem oupara o mal, o sucesso ou o fracasso estão em suasmãos. Se eles fracassarem em alguma coisa, terãode encarar esse fato de frente e aprender com oserros. Agora se eles vencerem, a recompensa será

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somente deles. Ninguém virá de fora passando ser-mões e tomando o que meus filhos conquistarampor mérito. Ninguém criará regras impossíveis decumprir somente para que eles sintam que estãofazendo alguma coisa errada. Meus filhos vão deco-lar sem as algemas presas aos seus tornozelos.

O reinado dos saqueadores acabou. Começa o rei-nado do talento.

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Resumo das principais propostas

Constituição: Documento curto que determine asquatro tarefas fundamentais do Estado

1. Garantir as liberdades individuais

2. Manter a ordem

3. Proteger as pessoas contra a miséria absoluta

4. Garantir que as crianças estudem

Eleições: Implantar voto distrital, dividindo o Bra-sil em cem distritos. Cada candidato concorresomente no seu distrito. Implantar financiamentopúblico de campanha. Eliminar a figura dosuplente.

Estrutura do poder público: Continua dividida emtrês poderes, executivo, legislativo e judiciário.

Poder executivo: Deve ser enxugado, permane-cendo os Ministérios da Casa Civil, Justiça, Cida-des, Defesa, Fazenda, Meio Ambiente, Social e Rela-ções Exteriores. Reduzir o quadro de funcionáriosde cada um desses ministérios e reajustar saláriosaos níveis da iniciativa privada. Eliminar a estabili-dade de emprego.

Poder legislativo: Abolir o Senado. Câmara dosDeputados deve ter seu número reduzido em 80%.

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Eliminar a maior parte dos assessores parlamenta-res e das verbas de gabinete

Poder judiciário: Privatizar as áreas administrati-vas e consolidar os diversos tribunais em apenastrês. Simplificar a legislação. Conscientizar os juí-zes a decidir com base na lei e não em questõessociais

Níveis do poder público: Manter níveis federal emunicipal; abolir os governos estaduais

Prefeituras municipais: Consolidar pequenosmunicípios para que tenham no mínimo 300.000habitantes. Dividir o Brasil em 100 Municípios.Município ficará responsável pelas seguintes ativi-dades: polícia, assistência social, planejamentourbano e manutenção das ruas municipais

Governos estaduais: Abolir todos

Governo federal: Cuidará dos seguintes assuntos:Exército, polícia federal e regulamentação dos seto-res econômicos

Forças armadas: Reduzir fortemente o contingente.Concentrar recursos em vigilância eletrônica defronteiras

Polícia: Unificar todas as polícias em três grupos:municipal, federal e corregedoria. Aumentar ossalários dos profissionais, alterar a jornada de tra-

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balho para que se assemelhe à jornada comum erealizar campanha de valorização dos bons policiais

Legislação penal: Restringir os regimes de progres-são de pena. Eliminar os indultos. Contornar aquestão da maioridade penal, fazendo com que cri-minosos perigosos fiquem presos por um longoperíodo, independentemente da idade

Cadeias: Privatizar todas as cadeias atuais, sendoque o Estado paga um valor por preso à empresaproprietária. Licitar imediatamente mais 400.000vagas. Criar uma agência para fiscalizar e regular ospresídios. Implantar um sistema de trabalho remu-nerado na prisão, em que os presos recebem 50%do salário e a empresa proprietária da cadeiarecebe outros 50%. Aplicar penas alternativas paracrimes leves

Drogas: Legalizar todas as drogas hoje proibidas,desde que sejam consumidas em locais pré-deter-minados e seja proibido fazer propaganda

Empresas estatais: Privatizar todas, como Corre-ios, Petrobrás e Banco do Brasil

Agências reguladoras: Ampliar os recursos e a atu-ação das agências

Agência Nacional Anticorrupção: Criar a agênciapara investigar os políticos e funcionários públicoscorruptos. Completamente independente, o diretorda agência é indicado pelo partido líder da oposi-

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ção, enquanto o secretário é indicado pelo presi-dente da República no momento que este sai dopoder e acompanha todo o mandato do sucessor

Assistência social: Instituição ligada ao município.Transfere recursos diretamente às famílias quecomprovarem dificuldades financeiras. O auxílio édado em caráter temporário, vai diminuindo com otempo e está atrelado ao fato de a família compro-var pagamento de estudo dos filhos e plano desaúde familiar. Dinheiro é fiscalizado pelo governofederal

Educação: Privatizar todas as escolas e universida-des públicas, implantando o sistema de vouchers.Para cada aluno matriculado em ensino fundamen-tal, o governo paga uma bolsa diretamente à escola.Cada escola pode optar se receberá apenas a verbado governo ou se cobrará uma taxa extra

Saúde: Privatizar todos os hospitais e postos desaúde do governo. Cada pessoa deverá escolher umplano de saúde e usá-lo para satisfazer suas neces-sidades de saúde. A assistência social paga os pla-nos das famílias que comprovarem incapacidade depagamento

Previdência social: Somar o que cada cidadão jápagou à assistência social e emitir título de dívidapública referente àquele valor. Abolir completa-mente a previdência, tanto a do setor públicoquanto a do setor privado. Cada pessoa decide se

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quer ou não realizar plano privado de previdênciasocial

Reforma fiscal: Todos os tributos, as taxas e osimpostos devem ser eliminados. Deve permanecerapenas o imposto de renda, o imposto sobre avenda de produtos nocivos à sociedade e a tarifa deimportação nos casos de práticas desleais de con-corrência internacional

Reforma trabalhista: Eliminar todos os encargostrabalhistas atuais. Liberalizar as negociações desalário. Forçar os magistrados a defender os acor-dos contratados e não defender incondicionalmenteos empregados

“Caro Leitor, ficaríamos felizes em receber suas cri-ticas e sugestões sobre as idéias aqui expostas.Assim, se quiser contribuir, por favor, escreva [email protected]

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