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Caro(a) Compositor(a): Estamos lhe fornecendo o material de pesquisa do nosso tema para o Carnaval de 2015: Diáspora Africana - Jamaica - Os afrodescendentes. A intenção do Ilê Aiyê com esse tema é expandi a visão que temos da histórica e forçosa saída dos homes e mulheres negras da áfrica, abordando as novas matrizes culturais e as lutas por afirmação e liberdade que os ascendentes desses homes e mulheres tiveram travar longe de sua terra mãe. Podemos dividir a Diáspora Africana nas seguintes partes: a diáspora Africana no tráfico árabe; a diáspora africana nas Américas/Caribe e a diáspora contemporânea. Vamos abordar estes tópicos mais abaixo. Abordar a trajetória da diáspora africana na Jamaica, terra dos Rastafáris, embalada pelo som místico do reggae, a Jamaica com seus mitos, seus rituais e seus heróis nacionais entre os quais Marcus Garvey, Bob Marley, Sam Sharpe, Nanny dos Marroons dentre muitos outros. Outro interesse do Ilê Aiyê, com esse tema, é dar início às comemorações pela Década Internacional de Afrodescendentes. Com o tema “Pessoas Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”, esta década será celebrada de 1º de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2024, com o objetivo de aumentar a conscientização das sociedades no combate ao preconceito, à intolerância, à xenofobia e ao racismo. Aqui iremos expor as histórias de vida de alguns pensadores afro-descendentes como Aimé Cesaire, Frantz Fanon e alguns outros. O seu trabalho é de fundamental importância para o Ilê Aiyê que desde a sua fundação tem como objetivo narrar histórias do povo negro, para que através da consciência e educação conheçamos a verdadeira história de nossos irmãos e irmãs afro-descendentes. Desejamos a todos boas músicas e mais um bom Festival de Música Negra do Ilê Aiyê que ocorre nos meses de outubro, novembro e dezembro. Axé, Antonio Carlos dos Santos Vovô

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Caro(a) Compositor(a):

Estamos lhe fornecendo o material de pesquisa do nosso tema para o Carnaval de 2015:

Diáspora Africana - Jamaica - Os afrodescendentes.

A intenção do Ilê Aiyê com esse tema é expandi a visão que temos da histórica e forçosa

saída dos homes e mulheres negras da áfrica, abordando as novas matrizes culturais e as

lutas por afirmação e liberdade que os ascendentes desses homes e mulheres tiveram

travar longe de sua terra mãe. Podemos dividir a Diáspora Africana nas seguintes partes:

a diáspora Africana no tráfico árabe; a diáspora africana nas Américas/Caribe e a

diáspora contemporânea. Vamos abordar estes tópicos mais abaixo.

Abordar a trajetória da diáspora africana na Jamaica, terra dos Rastafáris, embalada pelo

som místico do reggae, a Jamaica com seus mitos, seus rituais e seus heróis nacionais

entre os quais Marcus Garvey, Bob Marley, Sam Sharpe, Nanny dos Marroons dentre

muitos outros.

Outro interesse do Ilê Aiyê, com esse tema, é dar início às comemorações pela Década

Internacional de Afrodescendentes. Com o tema “Pessoas Afrodescendentes:

reconhecimento, justiça e desenvolvimento”, esta década será celebrada de 1º de janeiro

de 2015 a 31 de dezembro de 2024, com o objetivo de aumentar a conscientização das

sociedades no combate ao preconceito, à intolerância, à xenofobia e ao racismo. Aqui

iremos expor as histórias de vida de alguns pensadores afro-descendentes como Aimé

Cesaire, Frantz Fanon e alguns outros.

O seu trabalho é de fundamental importância para o Ilê Aiyê que desde a sua fundação

tem como objetivo narrar histórias do povo negro, para que através da consciência e

educação conheçamos a verdadeira história de nossos irmãos e irmãs afro-descendentes.

Desejamos a todos boas músicas e mais um bom Festival de Música Negra do Ilê Aiyê

que ocorre nos meses de outubro, novembro e dezembro.

Axé,

Antonio Carlos dos Santos Vovô

A DIÁSPORA AFRICANA - JAMAICA - OS

ASFRODESCENDENTES

A DIÁSPORA AFRICANA

A palavra diáspora vem da língua grega - diaspeirein - que significa “espalhar” de uma

fonte comum. Uma outra dimensão da ideia da diáspora é que os povos espalhados ainda

tem alguma ligação e consciência de que formam um grupo - isso diferencia as diásporas

de outros grupos migratórios que chegam no seu novo lugar, ficam, e acabam sendo

incorporados na sociedade de destino. Diáspora é uma forma de identidade coletiva que

permite uma pessoa pertencer a múltiplas redes identitárias.

No caso da diáspora negra, existem não uma, mas algumas diásporas, que surgem da

escravidão racial, essas populações africanas nos últimos 1.500 ou 1.600 anos foram

dispersadas através de algo bem específico, que foram os chamados tráficos negreiros.

Não existe uma diáspora africana, existem diásporas africanas. Como focado acima.

Anteriormente, as diásporas se constituíram nos últimos 1.500 / 1.600 anos, sob a base

dos chamados tráficos negreiros. Antes da América ser descoberta, milhões de africanos

já tinham saído da África para serem escravizados em outros países, pelos árabes. O

tráfico árabe tirou da África cerca de 10, 20 milhões de pessoas – porém muita gente não

sabe disso. Esses africanos e africanas foram dispersadas em todo o Oriente Médio –

Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia, Sirilanka, até na China. Hoje, no Sirilanka

existe uma população da diáspora de origem africana; na Índia, encontra-se uma

diáspora afro-indiana, ou seja, os sindhis; no Paquistão, também há uma diáspora de

origem africana. Há também os afro-iranianos, os afro-turcos, os afro-iemenes, os afro-

saudes, da Arábia Saudita. No Iraque, na Síria, no Líbano, em todos os lugares

encontramos diásporas diferentes. E, claro, na Europa, em um período mais recente,

temos essa grande diáspora afro-europeia. Há uma França afro-francesa que tem três

milhões de pessoas. Na Inglaterra, praticamente quatro milhões de ingleses de origem

africana. As diásporas estão em toda a Europa afro-europeia. Na Alemanha, na Itália, em

Portugal, na Espanha, até na Grécia. E temos também uma diáspora no Japão e na

Coreia.

Então, há que se falar hoje em diásporas, pois não há uma única diáspora, a que nós

temos na nossa consciência, que é a diáspora americana, a diáspora caribenha, ou seja,

essa diáspora de 150 milhões de afro-latino-americanos, e de 45 milhões de afro-norte-

americanos, e de 35 milhões de afro-caribenhos. Mas as diásporas são muitas diásporas,

as diásporas africanas são diásporas muito amplas.

Um mito africano que se refere à diáspora negra conta que Osíris, foi um grande deus que

ajudou a humanidade a compreender as plantas, a transformá-las em agrícolas, um ser

que vivia da agricultura. Osíris era amado pelos africanos. Porém ele foi traído pelo

próprio irmão, Set. O deus Set, invejoso de seu irmão Osíris, que era amado pelo povo, o

matou e o esquartejou, dividindo o seu corpo em quatorze partes e jogou essas quatorze

partes em todo o universo. Mas a deusa Ísis, a mulher de Osíris, que o amava muito, e

que representa o amor do povo de toda a África ao seu deus, foi pacientemente,

buscando todas as partes de Osíris, ela recolheu as quatorze partes em todo o universo,

recompôs o deus Osíris, e o ressuscitou. Esse mito significa o esquartejamento da África,

é a dispersão da África em todas as partes do mundo, e que hoje temos todas essas

diásporas, 14, 15, 20 diásporas no resto do mundo. E o desejo de todos nós é que todas

as diásporas sejam recompostas também. Que esse corpo um dia possa ser recomposto,

e que de novo, da mesma maneira que Osíris foi recomposto por Ísis, a ação de

consciência do povo negro possa recompor todas as diásporas em algo planetário e

global para o século XXI.

A Diáspora Negra nas Américas/Caribe

Na medida em que foram se formando as colônias nas Américas,as populações africanas

começaram a crescer em zonas urbanas, agrícolas, mineiras e portuárias. Em tudo lugar,

houve resistência. Os africanos aproveitavam-se de qualquer oportunidade, desde muito

cedo. Em 1503, na Hispaniola (ilha do mar do Caribe dividida em dois países, a República

Dominicana, no leste e o Haiti, no oeste), os negros ladinos surpreenderam seus donos

quando montaram uma revolta com a ajuda dos indígenas Tainos. Na mesma ilha, em

1522, houve uma rebelião coordenada pelos africanos da etnia Wolof, queimando os

engenhos. Desta vez, os índios Tainos cooperaram com os colonizadores contra os

africanos. As alianças nas diversas lutas dos africanos variava muito de acordo com as

circunstancias. Quase na mesma época em que ocorria a guerra no quilombo de

Palmares, no Brasil, por volta de 1605, se fundou na, região de Cartagena, na Colômbia,

o palenque (quilombo) liderado por Benkos Biojo, que existe ainda hoje com o nome de

Palenque de San Basilio. Na colônia holandesa do Suriname, os africanos Djuka e

Saramaka fizeram uma guerra contra os holandeses, conseguindo sua autonomia em

certas regiões do pais.

Fora dos grandes capitais econômicos e políticos, também existiam quilombolas. Os

negros de Esmeraldas, liderado por Alonso de Illescas, combateram as forças do rei de

Espanha e ganharam. Em qualquer lugar onde houve a escravidão, os negros resistiram e

muitas vezes conseguiram espaços autônomos, conhecidos como quilombos, palenques,

mambises, cumbes, mocambos, marrons e outros nomes.

JAMAICA

História e Relações Étnicas

Jamaica foi uma colônia espanhola de 1494 a 1655; e uma colônia britânica de 1655 a

1962. O período colonial foi marcado por conflitos entre proprietários brancos ausentes e

gestores locais e comerciantes e trabalhadores mulheres e homens negros escravizados

africanos. Após a independência, houve conflito entre a plantação (o engenho) e os

interesses econômicos da indústria e dos pequenos cultivadores camponeses e

trabalhadores sem terra. Na década de 1920, os trabalhadores sem terra e os

desempregados mudaram-se para a área de Kingston-Saint Andrew em busca de

trabalho. O novo pobre urbano, em contraste com as classes superiores brancas, tais

como os políticos, os comerciantes e os profissionais jogaram em relevo acentuado, a

política e o status da ilha como uma sociedade plural. Assim sendo, em 1944, com a

concessão de uma nova Constituição, os jamaicanos ganharam o sufrágio universal. A

luta pela soberania culminou com a conquista da independência em 06 de agosto de

1962. Classe, cor e etnia são fatores na identidade nacional. O “crioulo jamaicano”

(Jamaican Creole ou Jamaica Talk), é uma criação indígena multiclasse e multiétnica e

serve como um símbolo de desafio à autoridade cultural europeia. A identidade jamaicana

é também definida por uma tradição religiosa em que há separação mínima entre o

sagrado e as forças espirituais seculares, manipuláveis (como em “Obeah”) em dança

ritualística e percussão; num espírito igualitário; na ênfase em autossuficiência; e uma

unidade para ter sucesso economicamente sem se submeter aos ideais culturais

eurocêntricos.

Os indígenas da região, de etnia Taino, também conhecida como “Arawak”, deixaram

evidências de material e influência cultural ideacional. Os Judeus vieram como

funcionários contratados para ajudar a estabelecer a indústria do açúcar e gradualmente

tornaram-se parte da classe comerciante. Indianos e chineses foram recrutados entre os

anos de 1850 e 1880 para preencher a lacuna de trabalho deixada por ex-mulheres e

homens negros escravizados e para manter os salários baixos da plantação. Assim que

os chineses terminaram os seus contratos, eles estabeleceram pequenas empresas. Os

Indianos foram gradualmente se movendo do trabalho agrícola para o mercantil e

atividades profissionais. A principal divisão étnica é entre brancos e negros. A realização

do governo de maioria negra levou a uma ênfase em relações de classe, tons de cor da

pele, e os preconceitos culturais, ao invés de sobre as divisões raciais. Assim, dizem que

a Jamaica nunca experimentou conflito étnico entrincheirado entre negros e índios ou

chineses.

Festas Culturais

O “Festival do Café Jamaicano” é realizado a cada outono em Kingston para celebrar a

rica tradição, ou seja, a cultura do café na Jamaica. Os amantes de Java vão encontrar-se

em uma plantação, enquanto os agricultores e comerciantes proporcionam aos visitantes

amostras grátis de uma grande variedade de cafés, bebidas alcoôlicas, e outros alimentos

relacionados. O “Heritage Fest”, também realizada a cada outono, é um festival anual em

Kingston, que celebra e usa comida, dança e música para explorar a diversidade da

população da Jamaica. Entre o Curry Indiano, a Dança Libanesa, e Adivinhação Chinesa,

o “Heritage Fest” é uma homenagem a todas as diversas etnias encontradas na Jamaica.

O “Accompong Maroon Festival” acontece todos os anos no dia 6 de janeiro, o aniversário

do Capitão Cudjoe, o homem que derrotou o exército Inglês. O festival celebra os

quilombolas, com danças tradicionais e canto, uma festa fantástica, onde se tocam os

tambores de guerra dos quilombolas. O Accompong celebra um aspecto divertido e

emocionante do patrimônio histórico e cultural da Jamaica. Além desses festivais ou

festas, o Carnaval é realizado por toda a ilha. Considerado um das festas mais famosos

do Caribe, Carnaval, espalha-se por toda a ilha em uma grande festa, com animação

musical popular, bem como desfiles. Carnaval é realizado por toda a ilha na semana

antes da Páscoa e é uma das festas mais populares da ilha. “Jonkanoo”, chamado

“Junkanoo” em outras ilhas do Caribe, é a celebração do Natal em Jamaica. Festeiros

vestem-se em desfile de máscaras pelas ruas em comemoração da sua herança africana.

Quanto às festas musicais, “Heineken Startime” (tempo de estrelas Heineken) tem lugar a

cada inverno em Kingston e promete ser o evento musical mais importante da temporada.

O concerto apresenta uma das mais fortes formações em cada área da música

jamaicana, do ska ao rock constante, ao hip hop, e, claro, ao reggae. A música africana é

homenageada todos os anos, em Montego Bay, na “África Jamfest”. A música tradicional

africana, as artes e o artesanato, as roupas e os alimentos estão presentes durante a

“Jamfest”. A “Salute Rebel Music Festival”, também em Kingston, foi realizada em

Janeiro, nos últimos 12 anos. O Festival destaca música de raiz cultural e se concentra

mais na tradição popular do que outros shows. Nada de drogas, álcool, ou a carne são

permitidos no evento.

A “Air Jamaica Jazz and Blues Festival é normalmente realizada no início do ano em

vários locais. Este festival incrível possui uma variada gama de gêneros musicais, mas

puxa todas as suas influências para com os amantes do jazz. Seja a música africana, a

cubana, seja o Reggae, este festival dá um grande sabor internacional para valorizar a

antiga tradição de jazz e blues. Ademais, Junho é “O Mês de Jazz" na Jamaica. Os fãs de

jazz tem inúmeras opções; desde o “Ocho Rio Jazz Festival” até o “Festival Internacional

de Jazz, mais de trinta eventos de jazz acontecem por toda a ilha.

O “Dia Internacional de Reggae” é um festival de explosão musical na Jamaica.

Normalmente, comemorado em Julho, este festival não apenas demonstra talentos

musicais, mas busca talentos, organiza oficinas, e dá uma palestra sobre a vida do ícone

do reggae, Bob Marley. Este concerto é transmitido ao vivo em todo o mundo através da

televisão por satélite e Internet. Por sua vez, “Reggae Sumfest” ocorre na primeira

semana de Agosto de cada ano, em Montego Bay. Os melhores em Reggae são reunidos

para uma semana de celebração sonora. Os visitantes podem comprar ingressos para

apenas uma noite de festa ou pode gastar um pouco mais e obter passes de fim de

semana, ou até mesmo um passe para toda a semana. Alguns bilhetes ainda incluem

passes de backstage. Sem dúvida, Reggae Sumfest é uma ótima maneira de desfrutar de

uma semana de música.

Estratificação Social

A maior parte da riqueza nacional pertence a um pequeno número de famílias de pele

clara ou branca, com uma parcela significativa controlada por indivíduos de herança

oriental chinesa. Os negros estão confinados, em grande parte, às pequenas e médias

empresas de varejo. A pele negra ainda está, e continua sendo associada com ser “não

civilizado”, “ignorante”, "preguiçoso", e “não confiável”. O estilo de vida, a língua, a

culinária, o vestuário e padrões residenciais refletem proximidade com a cultura europeia,

enquanto a cultura africana encontra-se classificada como inferior na hierarquia social.

No entanto, os símbolos africanos estão começando a ganhar interesse social aos

poucos.

Crenças Religiosas

A Jamaica é uma sociedade profundamente religiosa, com uma vasta gama de cultos. A

religião dos negros escravizados foi baseada em crenças e práticas africanas, como a

posse cerimonial espiritual, a cura espiritual, a “feitiçaria”, a percussão e a dança como

forma de adoração. Um culto ancestral chamado Kumina e a crença em obeah (feitiçaria)

são vestígios do patrimônio africano. A catequização das mulheres e homens negros

escravizados pelos Morávios, Batistas, Metodistas, e Presbiterianos começaram em 1754

e estimulou o desenvolvimento de sincretismo dos cultos afro-cristãos, entre eles, Zion

Revival e Pocomania, ou Pukkumina, que ainda existem. O movimento Rastafári, que

reverencia Haile Selassie como um messias e considera a maconha como um

sacramento, apareceu pela primeira vez em 1933, mas não se tornou difundido até a

década de 1960. O Pentecostalismo americano cresceu rapidamente a partir da Segunda

Guerra Mundial, hoje, é, talvez, a religião mais popular.

Os Jamaicanos acreditam fortemente na influência sobrenatural.

O Zion (pronuncia-se zaion) Revival incorpora tais noções africanas como um criador

supremo. Existe também um panteão politeísta de anjos que guiam e protegem as

pessoas (similar aos orixás do Candomblé).

O Obeah é baseada na crença de que os homens obeah captam e utilizam fantasmas

(“duppies”) para fins maliciosos.

Os Pentecostais buscam a inspiração e o poder do Espírito Santo, que os protege de

Satanás e seus demônios.

Os Rastafáris adoram Jah, um deus que está dentro deles.

A Igreja anglicana é considerada como a igreja da elite, mas na classe média, em todos

os grupos étnicos, há várias religiões não-africanas. Todas as denominações

estabelecidas foram crioulizadas; Práticas religiosas afro-caribenhas, tais como Puk-

kumina, revivalismo, Kumina, Myalism e Rastafarianismo têm influências africanas

significativas. Entre os jamaicanos africanos tradicionais, não há separação entre o

secular e o sagrado. Líderes afro-jamaicanos são tipicamente homens carismáticos e

mulheres que se dizem “talentosas” ou “chamadas”.

Os rituais jamaicanos incluem “pregação”, bem como rituais de cura especiais e

cerimônias, como "ação de graças", a veneração ancestral, e as cerimônias memoriais.

Estas cerimônias podem incluir percussão, canto, dança, e possessão espiritual. Todos os

lugares onde se organizam rituais são considerados sagrados, incluindo igrejas, árvores

de algodão de seda, cemitérios, locais de batismo em rios e encruzilhadas. A morte é

considerada como uma transformação natural, e, salvo no caso de pessoas muito idosas,

a sua causa é acreditada por ser a violação de uma norma cultural, espíritos malignos ou

inveja. Após a morte, parentes e comunidade se reúnem na casa do falecido para dar

apoio e ajudar nos preparativos do funeral, que envolvem lavar e amarrar o corpo. As

pessoas se reúnem na casa do falecido cada noite até que o enterro em um ritual

chamado “setup”. Os funerais são um dos mais importantes rituais africano-jamaicanos.

Um grande funeral harmonioso é considerado um sinal de boa vida.

Celebrações seculares

O Dia da Independência jamaicana é comemorado na primeira segunda-feira de agosto.

Outros feriados destacam-se como o Natal (25 de Dezembro), o Boxing Day (26 de

Dezembro), Dia de Ano Novo e Dia dos Heróis Nacionais, que é comemorado na terceira

segunda-feira de outubro. Ano Novo Chinês é igualmente comemorado.

As Artes e Humanidades

As artes e as humanidades têm uma longa tradição de desenvolvimento e apoio do

público, mas o apoio do Estado foi institucionalizado apenas desde a independência. A

maioria dos artistas são autossuficientes. Os Índios, chineses, judeus e europeus

trouxeram aspectos de sua tradição escrita, mas as obras literárias atuais são

predominantemente afro-jamaicanas. A tradição oral baseia-se em várias fontes que

procedem da tradição africana; da tradição dos griots, ou seja, contadores de histórias; a

forma de malandragem cultural; o uso de provérbios, aforismos, charadas e humor em

forma de “grande mentira”; e histórias de origem. A década de 1940 viu o nascimento de

um movimento em direção à criação de uma literatura crioula ou de “quintal”. A tradição

das artes gráficas começou com a escultura indígena Taino e a cerâmica continuou com a

evolução da tradição africana. A Jamaica tem uma longa tradição de cerâmica, incluindo

itens utilizados na vida doméstica cotidiana, que são referidos como yabbah. Há uma

tradição da África ocidental de tecelagem, a arte concha, a tomada de pérola, o bordado,

a costura e a escultura em madeira. A maioria das apresentações folclóricas estão

enraizada em festas, rituais religiosos de cura, e outras expressões culturais de origem

africana. Performances tradicionais assumem a forma de peças de teatro improvisadas e

envolvem comentário social baseado na tradição oratória afro-caribenha. A música é a

mais desenvolvida das artes do espetáculo. Existe uma longa tradição de interesse de

música clássica, mas o país é mais conhecido por sua forma musical internacionalmente

popular, reggae. Jamaica também tem uma forte tradição de música popular e religiosa.

História da Música Reggae

Originado na Jamaica durante os anos 1960, Reggae é um caldeirão musical

abraçando influências da África, América e Europa. Além de dar ao mundo um novo som,

reggae foi fundamental para destacar o movimento rastafári e o sofrimento de uma nação

pobre jamaicana. Reggae tem suas raízes nos guetos pobres da Jamaica. Durante os

anos 1950, os DJs (tocadores profissionais de discos em clubes) de turismo levaram seus

sistemas de som ao redor da ilha, tocando “mento”, uma mistura de ritmos africanos e

europeus. Os DJs cantaram ou falaram em cima dos discos. Além do gênero “mento”, os

DJs tocaram igualmente “rhythm'n'blues” de Nova Orleans. Artistas locais misturaram

essas influências e privilegiaram o “bass” na produção musical. Este som evoluiu para o

que hoje se chama “ska”-um gênero que foi popularizado por artistas como Millie Small

and Desmond Dekker. Em reduzindo o toque rítmico do ska e misturando-o com

influências do jazz americano e “rhythm and blues”, um novo gênero chamado “reggae”

surgiu

Figuras notáveis do movimento reggae jamaicano incluem produtor e compositor Lee

Scratch Perry. Ele foi um dos primeiros artistas a gravar a batida do reggae (reggae beat)

como “People Funny Boy” (O Jovem Palhaço do Povo) em 1968, que depois produziu

muitos artistas, incluindo Bob Marley e seu grupo “The Wailers”. Toots e The Martials foi a

primeira banda a empregar a palavra “reggae” com sua faixa de 1968 "Do The Reggae".

Chris Blackwell, com sua empresa gravadora, Island, foi influente no crescimento da

popularidade do reggae, tanto dentro como fora da Jamaica durante os anos 1970.

Formada em 1959 na Jamaica, o rótulo ajudou a impulsionar artistas como The Wailers,

Jimmy Cliff e Desmond Dekker para o estrelato.

Crescer “dreadlocks” e fumar maconha está intimamente ligada à filosofia rastafári. Muitas

canções de reggae, como Bob Marley de “Zion Train” (Trem de Zião), estão

entrincheirados em ideais rastafáris. A luta dos jamaicanos pobres e a luta contra a

escravidão e a opressão são temas familiares em muitas canções de reggae. Reggae é

caracterizado por seu ritmo 4/4 com o acento colocado no segundo e quarto tempos.

Bateristas de reggae colocam a tônica no terceiro tempo (ou original) dando reggae seu

distintivo padrão rítmico. Enquanto a guitarra tem tradicionalmente um papel de liderança

na música popular ocidental, o reggae coloca o bass (baixo) na vanguarda do seu som.

Bob Marley - 70 anos

A influência de Bob Marley sobre várias populações permanece incomparável, sem

distinção de raça, cor ou credo. A música revolucionária de Bob Marley unificou e

desafiou o colonialismo e o racismo, sua música teve efeitos profundos, mesmo em

países que não falavam a língua inglesa.

Bob Marley, o ícone do reggae, foi uma figura tão especial e carismática que sua

existência tomou ares proféticos. Parece que veio predestinado ao mundo sob a

simbologia da união dos povos e miscigenação. Fruto do amor de uma jovem negra de 18

anos, Cedella Booker e de um homem branco mais velho, o capitão Norval Sinclair

Marley, Bob nasceu dia 6 de fevereiro de 1945 no vilarejo de Nine Miles, interior da

Jamaica. Em apenas 36 anos de vida, não só colocou a Jamaica no mapa, como

revolucionou a música, hábitos e comportamentos pelos quatro cantos do mundo.

Bob Marley viveu em sua primeira infância uma vida natural do campo. Quando tinha 8

anos, Cedella, sua mãe, juntou-se a Toddy Livingstone, pai de Bunny, seu amigo desde a

infância, na vila de Nine Miles. A nova família mudou-se para a capital Kingston, indo se

instalar em Trench Town, uma das favelas mais impressionantes da ilha.

Em 1962 Bob fez uma audiência para o produtor Leslie Cong, que veio a bancar suas

primeiras gravações. "Judge Not" de composição de Marley, foi a primeira. Apesar de as

músicas gravadas não terem sido executadas nas rádios e chamado pouca atenção do

público, só vieram confirmar a ambição de Marley de se tornar cantor. No ano seguinte

Bob decidiu que o caminho a seguir seria montar um grupo. Se juntou com Bunny e Peter

Tosh para formar os "Wailing Wailers". O novo grupo tinha um mentor, o percussionista

Rastafari chamado Alvin Peterson, que apresentou os garotos para o produtor Clement

Sir Coxsone Dodd. No verão de 1963, Dodd ouviu os Wailing Wailers e, satisfeito com o

som do grupo, resolveu gravá-los e os pôr prá valer nas paradas.

Após viajar aos Estados Unidos, acompanhando sua mãe que havia decidido morar

naquele país, Marley uniu novamente Peter Tosh e Bunny para reorganizar o grupo. Eles

simplificaram o nome original "Wailling Wailers" para "The Wailers". A música jamaicana

estava se transformando. O agitado ska tinha sido substituído por um ritmo mais lento e

sensual chamado rock steady. O compromisso que os Wailers vinham assumindo com o

Rastafarianismo provocou um certo conflito com o produtor Clement Dodd. Então eles

decidiram controlar seu destino fundando seu próprio selo, Waili'N'Soul. No início dos

anos 70 o baixista Aston "Family Man" Barret e seu irmão o baterista Carlton se uniram

aos Wailers.

- "Nós éramos a melhor cozinha e os Wailers o melhor grupo vocal da Jamaica,

então nos perguntamos, porque não por o mundo de joelhos?"

Aston "Family Man" Barret

A cadência de Marley, aliada a suas letras engajadas contrastavam completamente com o

que rolava no cenário do rock da época. Já numa carreira internacional, em Londres, a

gravadora Blackwell decidiu que os Wailers deveriam excursionar fazendo shows tanto no

Reino Unido, como também nos Estados Unidos, uma completa novidade para uma

banda de reggae. A banda embarcou numa excursão pela Europa, o que a solidificou em

suas performances ao vivo. Depois de três meses voltaram à Jamaica, e Bunny,

decepcionado com a vida na estrada, se recusou a participar da tour pelos Estados

Unidos. Foi substituído por Joe Higgs, o mestre musical dos ainda adolescentes Wailers.

Nos Estados Unidos os Wailers lotaram alguns clubes noturnos e abriram shows para

artistas como o jovem Bruce Springsteen. A repercussão da banda em sua turnê andava

tão bem que foram arranjadas 17 datas para os Wailers abrirem os shows de Sly & The

Family Stone, na época a maior banda de black music da América. Depois de abrir quatro

shows para Sly, os Wailers foram limados da turnê. Pelo que parece, os Wailers faziam

sombra para o show que deveria ser a atração principal. De qualquer maneira seguiram

para São Francisco aonde gravaram uma audição ao vivo para a pioneira rádio rock,

KSAN. Sessão esta que veio a se tornar o material para o disco "Talkin'Blues", lançado

em 1991 pela Island Records.

O clima de euforia de uma nova vida comunitária religiosa e criativa encontraria sua

tradução no disco "Burnin", segundo lançamento dos Wailers pela Island Records. Na

contracapa de "Burnin", Marley aparece mais uma vez provocando as normas

estabelecidas do sistema, empunhando um enorme cigarro de palha em forma de cone,

provavelmente recheado com ervas ainda não legalizadas. Na parte interna do álbum,

fotos de pessoas do gueto, rastas e um contraponto entre a riqueza de sorrisos do povo

em uma ilha ensolarada e a miséria propriamente dita. As músicas com um conteúdo

ainda mais politizado e social que as do álbum anterior atingiam o público branco da

Europa e Estados Unidos com "pedradas" como "Get Up Stand Up" , "I Shot the Sheriff",

"Burnin and Lootin", etc. Uma verdadeira revolução.

Celebridades como Paul McCartney, Mick Jagger e muitos outros artistas de peso

começaram a elogiar o exótico jamaicano Marley. O lendário Eric Clapton ressurgiu como

Fênix gravando "I shot the sherif", versão que atingiu os primeiros lugares nas paradas e

colocou o guitarrista inglês novamente no cenário ajudando a alavancar ainda mais a

carreira de Marley. Em fevereiro de 1975, "Natty Dread" foi lançado. Graças ao sucesso

da faixa "No Woman No Cry", que atingiu o primeiro lugar na parada inglesa, Marley se

tornou ainda mais popular. A essa altura o grupo já não contava mais com Bunny e Peter,

que partiram para suas carreiras solo e foram substituídos pelas I-Threes,as cantoras

Judy Mowatt, Marcia Griffiths e a mulher de Bob, Rita Marley. Com o lançamento do

disco, "Rastaman Vibration", em 1976, o cantor começou a ser conhecido nos Estados

Unidos. Na Jamaica sua fama já era quase mística, e, em grande parte graças a ele, o

pensamento rastafari estava se tornando uma febre entre os jovens. Disputava-se aquele

ano uma das mais sangrentas batalhas eleitorais na história da ilha. A violência era tanta

que em junho foi decretada a lei marcial. Em meio a este quadro também havia o fato de

o imperador Haile Selassie, considerado pelos rastas como Messias, ter falecido.

Em 1978 o cantor recebeu a medalha da paz, oferecida pela ONU, em Nova Iorque. No

mesmo ano foi, pela primeira vez, à África, onde visitou o Quênia e a Etiópia, país

especialmente reverenciado pelos rastas, terra do imperador Haile Selassie, considerado

por eles como seu messias. Depois de uma nova turnê pela Europa e EUA, o grupo

lançou o disco ao vivo "Babylon By Bus", e tocou na Austrália, Japão e Nova

Zelândia. Com seu nono álbum, "Survival", de 79, Marley já havia tornado o reggae um

estilo internacional, conhecido no mundo todo. A África era o único continente em que o

grupo ainda não havia se apresentado, mas em 1980, Bob Marley foi convidado a se

apresentar com os Wailers na cerimônia de independência do Zimbábue.

Marley fez dois shows no Madison Square Garden. Durante a segunda apresentação,

passou mal no palco. Começou a ser averiguado o que se passava com o ídolo do

reggae. Bob chegou a fazer ainda mais um show em Pittsburgh, mas logo o mundo

recebeu a triste notícia de que Marley estava com câncer. O câncer teria sido decorrente

de um ferimento infeccionado no dedão do pé, que ele teria sofrido três anos antes,

durante uma partida de futebol em Londres. Bob Marley morreu aos 36 anos de idade,

mas seu legado permanece vibrando ao som de sua música.

Os Heróis Negros da Jamaica

Os Heróis negros da Jamaica ousaram desafiar a instituição do colonialismo e ao fazê-lo

mudaram o curso da história da Jamaica, dando liberdade social e política para seu povo.

Hoje, os restos mortais e as estátuas dos Heróis Nacionais da Jamaica ficam, em

reconhecimento orgulhoso, no Parque Nacional dos Heróis, em Kingston, onde eles são

vistos com orgulho inspirador, símbolos inesquecíveis da força duradoura da Jamaica.

Marcus Mosiah Garvey (1887-1940)

Marcus Mosiah Garvey, o primeiro Herói Nacional da Jamaica, nasceu em St. Ann Bay ,

St. Ann, em 17 de Agosto de 1887. Em sua juventude Garvey migrou para Kingston e

mais tarde publicou um pequeno jornal "The Watchman". Durante sua carreira, Garvey

viajou por muitos países, observando os trabalhadores pobres e as condições de vida do

povo negro. Em 1914 ele fundou a Associação Universal para Melhoria do Negro (UNIA),

na Jamaica. A UNIA, que se tornou uma organização internacional, promoveu o auto-

governo para os negros em todo o mundo; autoajuda em projetos econômicos e de

protesto contra a discriminação racial. Fundou a companhia de navegação Black Star

Line, cujo objetivo era repatriar o povo negro para a África. Em 1916, Garvey foi para os

EUA, onde ele pregou sua doutrina da liberdade para os negros oprimidos em todo o país

- o Pan Africanismo. No entanto, oficiais dos EUA desaprovaram suas atividades e ele foi

preso, em seguida, deportado. Voltando para a Jamaica em 1927, ele continuou a sua

atividade política, formando o People's Political Party (Partido Político do Povo) em 1929.

Ele não teve sucesso nas eleições nacionais, mas ganhou um assento em Kingston. Mas

o mundo da década de 1930 não estava pronto para as ideias progressistas de Garvey.

Ele deixou a Jamaica novamente, desta vez para a Inglaterra onde faleceu em 1940. Seu

corpo foi trazido de volta à Jamaica em 1964 e enterrado no National Heroes Park, em

Kingston. O legado de Garvey pode ser resumido na filosofia que ele ensinou: orgulho da

raça, a necessidade de unidade africana; auto-suficiência; a necessidade dos negros

serem organizados, e para os governantes governarem em nome das classes

trabalhadoras.

Marcus Mosiah Garvey se destaca na história como alguém que estava muito

comprometido com o conceito de emancipação das mentes. Garvey, que nasceu em St.

Ann tornou-se famoso no mundo inteiro como um líder que era corajoso e eloquente em

seu apelo por melhorias para os negros. Ele procurou a unificação de todos os negros,

através da criação da United Negro Improvement Association (Associação para Melhoria

dos Negros Unidos) e era totalmente contra a exploração econômica e rebaixamento

cultural. Ele passou muitos anos nos Estados Unidos perseguindo seu objetivo de

unificação dos negros.

Nanny dos Maroons (c. 1686-1733)

viveu e morreu em Nanny Town. Nanny dos Maroons se destacou na história como a

única mulher entre os heróis nacionais da Jamaica. Nanny foi uma líder quilombola no

início do Século 18. Ela era conhecida por ambos os quilombolas e os Colonos britânicos

como uma líder militar que se tornou notável, em sua vida e depois, um símbolo de

unidade e força para seu povo durante momentos de crise. Ela foi particularmente

importante para eles na luta feroz contra os britânicos, durante a Primeira Guerra Maroon,

entre 1720-1739. Embora ela tenha sido imortalizada em canções e lendas, alguns fatos

sobre Nanny (ou "Granny Nanny", como era carinhosamente conhecida) também foram

documentados. Ambas as lendas e os documentos se referem a ela como tendo

qualidades de liderança excepcional. Ela era uma mulher pequena e magra, com olhos

penetrantes. Sua influência sobre os quilombolas foi tão forte, que parecia ser

sobrenatural, com seus poderes sendo conectado aos poderes de obeah. Ela era

particularmente hábil na organização da guerrilha realizado pelos Maroons Orientais para

afastar as tropas britânicas que tentavam penetrar nas montanhas para dominá-los. Sua

inteligência no planejamento de guerrilha confundiu os britânicos e seus relatos sobre as

lutas refletem a surpresa e o medo que as armadilhas Maroon causavam entre eles.

Além de inspirar seu povo a repelir as tropas, Nanny foi também um tipo de chefe ou

mulher sábia da aldeia, que passou adiante as lendas e incentivou a continuação dos

costumes, música e canções, que tinha vindo com o seu povo da África, e que incutiu

neles confiança e orgulho. Seu espírito de liberdade era tão grande, que em 1739,

quando assinaram o segundo Tratado Quao (o primeiro foi assinado por Cudjoe para o

Maroons Leeward alguns meses antes) com os britânicos, foi relatado que Nanny estava

muito irritada e em desacordo com o princípio da paz com os britânicos, pois ela sabia

que aquilo queria dizer outra forma de subjugação. Há muitos lendas sobre Nanny entre

os quilombolas. Alguns chegam a afirmar que havia várias mulheres que eram líderes dos

quilombolas durante este período da história. Mas todas as lendas e os documentos

referem-se a Nanny como a mais notável de todos eles, levando seu povo com coragem e

inspirando-os a lutar para manter esse espírito de liberdade, de independência e vida, que

era a sua herança de direito Ela possuía o espírito de luta feroz geralmente associada

com a coragem dos homens. Na verdade, Nanny é descrita como uma destemida

guerreira Ashante, que usava técnicas militaristas e seduziam os ingleses.

Como os heróis da era pré-Independência, Nanny também conheceu sua morte

prematura, por instigação dos ingleses em torno de 1734. No entanto, o espírito de Nanny

dos Maroons permanece até hoje como um símbolo do desejo indomável das mulheres e

homens negros escravizados, que nunca vão se render ao cativeiro.

George William Gordon (1820-1865)

Nascido de uma mãe escrava e pai fazendeiro que foi advogado para várias fazendas de

açúcar na Jamaica, George William Gordon era autodidata e um proprietário de terras na

localidade de St. Thomas. Ele entrou para a política e enfrentou graves dificuldades. Ele

subdividiu suas próprias terras, vendendo lotes de fazendas para as pessoas o mais

barato possível. Organizou um sistema de marketing, através do qual o povo poderia

vender seus produtos a preços justos.

Como um membro do Parlamento, ele usou sua posição para destacar os sofrimentos do

povo e fazer um apelo por mudanças. Com a Rebelião de Morant Bay e as mortes

resultantes, Gordon deu início de uma nova era no desenvolvimento da Jamaica. O

governo britânico fez alterações, incluindo reformas pendentes em educação, saúde,

governo local, serviços bancários e infraestrutura.

Gordon incitou o povo a protestar contra o governo britânico e resistir às condições

opressivas e injustas sob as quais eles foram forçados a viver. Ele foi preso e acusado de

cumplicidade na Rebelião de Morant Bay em 1865. Ele foi julgado pelo Tribunal Marcial e,

apesar da falta de provas, condenado e sentenciado à morte. Gordon foi executado em 23

de Outubro de 1865.

Paul Bogle (1822-1865)

Paul Bogle, acredita-se, nasceu livre em 1822. Ele foi um diácono Batista em Stony Gut, a

poucos quilômetros ao norte de Morant Bay, e era podia votar, num momento em que

havia apenas 104 eleitores na localidade de St. Thomas. Ele era um firme apoiador

político de George William Gordon. A Pobreza e a injustiça na sociedade e a falta de

confiança pública na autoridade central, incentivou Paul Bogle a liderar uma marcha de

protesto ao tribunal em Morant Bay em 11 de outubro de 1865. Em um confronto violento

com as forças oficiais total que se seguiu a marcha, cerca de 500 pessoas foram mortas e

um número maior foi açoitado e punidos antes da ordem ser restaurada. Bogle foi

capturado e enforcado em 24 outubro de 1865, mas sua demonstração forte atingiu os

seus objetivos. Ele trouxe uma mudança na atitude da população, o que tornou possível a

melhoria social e econômica do povo.

Paul Bogle, um diácono Batista era considerado um homem pacífico que evitava a

violência. Ele acreditava nos ensinamentos da Bíblia, endossando os princípios da

caridade e da resistência. No entanto, ele também era um líder e organizador e educou e

treinou seus seguidores.

Samuel Sharpe (1801-1832)

Samuel 'Daddy' Sharpe, ou Sam, como era carinhosamente chamado, lutou e fez parte da

resistência contra a escravidão até os seus 31 anos. Foi protagonista da rebelião de

escravos mais notável na história da Jamaica. Sharpe era um pregador e porta-voz.

Inteligente e afiado, ele seguiu a evolução do movimento de abolição lendo descartados

jornais locais e estrangeiros e era capaz de aconselhar seus seguidores. Sharpe estava

cansado da escravidão, passou meses em planejamento estratégico, educando os

escravos e viajando de propriedade para propriedade em reuniões secretas nas noites,

inflamando os escravos com mensagens inspiradoras da esperança de liberdade . Em 28

agosto de 1833 a escravidão foi abolida e o Sistema de Aprendizagem instituído,

permitindo a total liberdade dos escravos nos próximos 4 a 6 anos. Em 01 de Agosto de

1938 o Sistema de Aprendizagem acabou concedendo plena liberdade aos escravos.

Samuel Sharpe foi o principal instigador da rebelião de escravos de 1831, que começou

na propriedade de Kensington, em St. James. Por causa de sua inteligência e qualidades

de liderança, Sam Sharpe tornou-se um "papai", ou líder dos batistas nativos em Montego

Bay. Reuniões religiosas eram as únicas formas permitidas de atividades organizadas

para os escravos. Sam Sharpe foi capaz de comunicar sua preocupação e incentivar o

pensamento político, a respeito de eventos na Inglaterra, que afetou os escravos e a

Jamaica. Sam explicou seu plano aos seus partidários, escolhidos após os encontros

religiosos, e os fez beijar a Bíblia para mostrar a sua lealdade. Eles, por sua vez, levaram

o plano à outras paróquias, até que a ideia se espalhou por toda a St. James, Trelawny,

Westmoreland, e até St. Elizabeth e Manchester. O plano chegou aos ouvidos de alguns

dos Fazendeiros. As tropas foram enviadas em St. James e navios de guerra foram

ancorados em Montego Bay e Black River, com suas armas apontadas sobre as cidades.

Em 27 de Dezembro de 1831, Palácio do Estado de Kensington foi incendiado, como um

sinal de que a rebelião de escravos havia começado. Uma série de outros incêndios

irromperam na área e logo ficou claro que o plano de resistência não-violenta era

impossível e impraticável. A Rebelião armada tinha a intenção de apreender os bens e

distribuí-los, principalmente através das paróquias ocidental, mas a revolta foi sufocada já

na primeira semana de Janeiro. A resposta à essa rebelião foi terrível. Enquanto 14

brancos morreram durante a rebelião, mais de 500 escravos perderam as suas vidas, a

maioria deles depois de terminada a revolta. Samuel Sharpe foi enforcado em 23 de maio

de 1832. Em 1834, a lei de Abolição Bill, foi aprovada pelo Parlamento britânico e, em

1838, a escravidão foi abolida. Sharpe disse: "Eu prefiro morrer na forca do que viver na

escravidão".

Em 1975, o governo da Jamaica proclama Sharpe um Herói Nacional, com o título

póstumo do Excelente Samuel Sharpe. Também em 1975, foi fundado em Granville, um

subúrbio de Montego Bay, o Colégio de Professores Sam Sharpe, nomeado em sua

homenagem. Ele também está na nota de $50 dólar moderna jamaicana.

A Rebelião de Morant Bay

As sementes para a rebelião de Morant Bay foram semeadas em 7 de outubro de 1865,

quando Bogle e seus partidários participaram de um julgamento de dois homens de Stony

Gut. Um homem negro foi levado a julgamento e preso por invasão em uma plantação há

muito abandonada. Um membro do grupo de Bogle protestou no tribunal, sobre a prisão

injusta e foi imediatamente preso, irritando ainda mais a multidão. Ele foi resgatado

momentos depois, quando Bogle e seus homens o levaram para a praça do mercado e

retaliou. A polícia foi severamente espancada e forçada a recuar naquele dia.

Na segunda-feira, 9 de outubro, 1865, mandados foram emitidos contra Bogle e uma série

de outros por motim e assalto. A polícia chegou em Stony Gut para prender Bogle mas

encontrou forte resistência dos moradores. Eles lutaram com a polícia, novamente

forçando-os a recuar para Morant Bay.

Poucos dias depois, em 11 outubro de 1865, houve uma reunião no Palácio da Justiça.

Bogle e seus seguidores, armados com paus e facões, foram ao Palácio da Justiça. As

autoridades se abalaram, e algumas pessoas na multidão atiraram pedras contra a milícia

de voluntários, que dispararam contra a multidão, matando sete pessoas. A multidão

revidou, incendiando a Palácio da Justiça e edifícios próximos. Quando os funcionários

tentaram sair do prédio em chamas foram mortos pela multidão irada.

As represálias vieram rapidamente; as tropas destruíram Stony Gut e a capela de Bogle.

Gordon foi preso e levado, de barco, até Morant Bay, onde ele foi julgado por conspiração

e enforcado em 23 de outubro. Bogle foi capturado pela milícia marrom e levado para

Morant Bay, onde ele foi levado a julgamento, enforcado no tribunal e queimado no dia

seguinte. No total, mais de 400 moradores negros foram mortos e muitos mais açoitados.

Na Grã-Bretanha, houve um clamor público que aumentou a oposição dos liberais contra

a manipulação da situação feita pelo Governador Eyre, com acusações de assassinato

contra ele. Até o final de 1865, o caso “Governador Eyre" tornou-se o assunto do debate

nacional. Em janeiro de 1866, uma Comissão Real foi enviada para investigar os

acontecimentos. O Governador Eyre acabou sendo suspenso, retornou a Inglaterra e

acabou demitido. A Jamaica tornou-se uma colônia da Coroa, sendo governada

diretamente da Inglaterra. A "Controvérsia Eyre" se transformou em uma longa e cada vez

mais pública preocupação, dividindo figuras bem conhecidas da época, e possivelmente

contribuindo para a queda do governo.

A Rebelião do Natal ou Revolta Batista

Em 1831, logo após a celebração do Natal, os escravos no oeste da Jamaica se

levantaram em rebelião. Esta revolta é conhecida por muitos, embora talvez variando de

nomes que não deixa de ser a mesma revolta, em 1831, a popularmente conhecida de

Revolta de Natal, devido à época do ano em que ocorreu, ou Rebelião de Sam Sharpe,

em homenagem ao principal instigador da revolta e também, a Guerra Batista.

Embora muitos pensassem que a revolta de Natal foi o resultado das condições em que

os escravos estavam submetidos, esse é um pensamente equivocado. Segundo

Shepherd (2004), a revolta foi o resultado da campanha política contra a escravidão. A

interação dos escravos com os missionários batistas também foi motivo da revolta, da

forma que acontecia, essa interação levou os escravos a acreditarem que eles eram livres

antes que houvesse realmente plena liberdade. Por este motivo, a revolta também foi

conhecida como a Revolta Batista.

O comércio de escravos tinha terminado em 1807 e em muitas das outras ilhas

colonizadas, os escravos estavam revoltosos, então, quando os escravos jamaicanos

decidiram revoltar-se não foi nenhuma surpresa. Esta revolta foi se fazendo muitos meses

antes. como houve uma grave seca que durou seis meses e em seguida, chuvas

torrenciais que deu origem a muitas doenças que atingiram proporções epidêmicas.

Muitos escravos morreram e, como resultado, os trabalhadores nas fazendas eram

escassos. Havia agora a necessidade dos escravos mestiços estarem fazendo as

mesmas tarefas que os negros. Isso por si só causou uma divisão e aumento da tensão

entre os escravos. Desnecessário dizer que esta tensão ajudou a alimentar a revolta.

A Guerra Batista, na verdade, foi a maior revolta de escravos na Jamaica, durante o

século XIX. Ela durou somente dez dias e envolveu 60.000 escravos liderados por

Samuel Sharp (1801-1832). Conhecido também por “Daddy” Sharpe ou Sam Sharp, ele

era um ex-escravo que se tornou diácono da Igreja Batista Burchell de Montego Bay e

que viajava pela ilha para educar os escravos acerca do Cristo e da liberdade. A rebelião

começou na paróquia de Saint James com uma greve dos escravos em 28 de dezembro

de 1831 que se recusavam a trabalhar nos três dias de feriado por ocasião do Natal.

Sharp sabia que a greve poderia falhar e preparou militarmente os escravos. Logo, a

revolta se espalhou pela ilha, sendo suprimida rapidamente, cento e oitenta e seis

escravos e quatorze fazendeiros e capatazes foram mortos em combate. A reação das

autoridades foi severa. Ao todo, setecentos e cinquenta escravos foram condenados,

dentre eles, cento e oitenta e seis foram condenados à morte por enforcamento, tendo

suas cabeças decepadas e expostas em locais públicos. Muitos abolicionistas brancos,

especialmente missionários foram mortos ou presos. Após a sua captura, Sharp foi

enforcado em 23 de maio de 1832. Os livros didáticos ensinam que a Inglaterra é a

principal responsável por acabar com os regimes de escravidão no Ocidente, sendo eles

defensores dos direitos humanos. Isso é uma grande mentira! Os interesses da Inglaterra

em abolir a escravidão africana, surge quando o seu processo de industrialização – que

inicia-se no século 18 – vê que a escravidão africana poderia levar a um colapso, se os

escravos decidissem se revoltar, como a Revolta liderada por Sharp, e fossem vitoriosas,

assim como foi no Haiti em 1794. Ao mesmo tempo que os ingleses tentaram se

beneficiar como sendo os defensores dos povos escravizados, eles passam a escravizar,

agora não só os filhos e filhas da África, como também a todos os Americanos, Indianos,

Chineses, Europeus, impondo um novo sistema econômico, o capitalismo.

O líder da revolta, Samuel Sharpe foi enforcado lá em 1832. Em 1975, Sharpe foi

proclamado herói nacional da Jamaica e a praça principal da cidade foi rebatizada em sua

homenagem.

OS AFRODESCENDENTES

A África é o berço da humanidade. Como se sabe, 98% da história humana aconteceu na

África. Somente 2% da história humana aconteceu fora da África. Os seres humanos

saíram da África, os africanos saíram e se espalharam pelo mundo, e aí se

diversificaram. Então, a África é o berço da humanidade, no sentido mais amplo, não

somente no sentido físico, mas no sentido da consciência do que é ser um ser humano.

Com o tema “Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”, a ONU

estabeleceu, em dezembro de 2013, que a década de 2015 a 2024 será toda em

homenagem aos afrodescendentes. O objetivo é reforçar o combate ao preconceito, à

intolerância, à xenofobia e ao racismo. Para dar início às comemorações dessa década,

abordaremos abaixo as histórias de vida de alguns pensadores afrodescendentes que

contribuíram em muito no pensamento crítico do movimento negro atual.

Aimé Césaire - (Martinica) - 1913-2008

Escritor, Poeta, Intelectual Radical, Político - Pan-africanista e pai do termo Negritude

O jovem Aimé Césaire estudou na França, onde se juntou com os também estudantes

Leopold Senghor e Leon Damas para editar, em 1935, o jornal O Estudante Negro.

Naquele jornal ele começou as suas reflexões sobre a relação entre raça, colonialismo e

opressão. De volta a Martinica, depois de 1939, chegou a ser professor de Frantz Fanon,

e escreveu o poema-livro “De Volta Ao Pais Natal”. Neste poema, ele expressou sua

raiva pela dor e a auto rejeição provocado no negro pela colonização. Ele quis retomar

sua herança cultural e deixar de lado as formas europeias de escrever e de pensar. A

partir daí, procurou uma forma de se expressar que refletisse os valores africanos. Foi

então que nasceu a ideia do termo negritude - uma arte, uma forma de pensar radicada

no legado africano, e o processo de desfazer-se da colonização mental.

Afiliou-se ao partido comunista e em 1945 e se elegeu Prefeito da sua cidade, Fort-de-

France, logo depois se elegeu deputado federal representando a Martinica na Franca. Foi

um grande critico do colonialismo europeu na África e no Caribe. Suas ideias políticas

resultou no livro Discurso Sobre o Colonialismo, uma das mais poderosas condenações a

Europa ate então já escrita. Ele expôs, nesse livro, que a Europa costumava dizer que o

colonizador era o civilizado, e o colonizado um selvagem, porém o que acontecia era o

inverso. Expôs também que Europa depredou os países da Ásia, África e os índios das

Américas e só ficou constrangida quando essa mesma filosofia foi praticada na Europa

por Hitler com vitimas Europeias. Utilizou as mesmas palavras dos colonizadores para

mostrar sua violência e falta de consideração pela vida humana. Lembrou que, enquanto

os colonizadores falavam do progresso que estavam levando para a África, milhares de

pessoas estavam sendo mortas, forçadas a trabalhar como escravos, roubados da sua

cultura, seus deuses, sua dança, sua vida e levadas a um complexo de inferioridade.

Na época em que ele escreveu o livro o Discurso, disse que as barbaridades da Europa

só foram ultrapassadas pelas dos Estados Unidos.

Cesaire lembrou que os negros, os asiáticos, todos os povos colonizados já tiveram

culturas elevadas, com suas civilizações e ciências desenvolvidas. Toda a negação

dessas culturas fez parte do programa do colonizador. Ele utilizou os textos dos

principais escritores Europeus para ilustrar suas observações.

Cesaire também escreveu peças de teatro desde a década de 1950, com comentário

político. Sua obra “A Tragédia do Rei Cristophe” fala do personagem de Henri Christophe

do Haiti, que liderou a ilha depois da revolução e o falecimento de Jean Jacque

Dessalines,fazendo uma advertência aos novos lideres da África independente, para que

não atuassem com os valores dos colonizadores. Sua obra “Uma Temporada no Congo”

fala do assassinato do líder Congolês Patrice Lumumba.

Aimé Cesaire foi um dos mais poderosos expoentes da ideia da negritude como o

caminho para os povos colonizados se libertarem (não somente na África, mas a África

servia como exemplo). Dizia que com mudança de mentalidade, possibilitaria uma

libertação mais completa no sentido físico, econômico, político, etc. Alertou que nesse

processo, o negro não poderia se assimilar aos valores do colonizador para não se

transformar numa copia da mesma mentalidade.

Stokely Carmichael / Kwame Touré - (Trinidad e Tobago) - 1941-1998

Ativista, autor do termo “Black Power”.

Nascido Stokely Carmichael em Trinidad e Tobago, emigrou para os Estados Unidos com

sua família ainda adolescente. Estudou na Howard University, uma universidade

tradicional negra, onde começou a atuar no movimento de estudantes contra a

segregação racial. Participou das “Caminhadas pela Liberdade”, quando estudantes

viajavam às zonas do sul do país, para registrar os negros para votar. Por causa desta

atitude, ele foi atacado violentamente e aprisionado. Foi preso mais de 30 vezes, porém,

durante sua atuação com o SNCC (Comitê de Coordenação de Estudantes contra a

Violência) conseguiu alistar um grande número de negros anteriormente excluídos do

voto. Quando saiu da liderança de SNCC, aceitou um posto no recém formado Black

Panther Party (Partido dos Panteras Negras).

Nos Panteras Negras, Stokely ajudou a conceituar a ideia do Poder Negro e o direito do

negro se defender - ao contrário da filosofia de Martin Luther King, que vigorava na

época. A nova ideologia da juventude dos Panteras Negras ganhou ainda mais força,

após o assassinato de Malcolm X, em 1965. Stokely Carmichael foi alvo das forças

secretas de J. Edgar Hoover, do FBI,que plantou boatos de que Carmichael fosse um

agente do governo e por isso, ele foi afastado do SNCC. Durante essa época, ele

escreveu o livro Black Power com Charles Hamilton, onde explica o racismo institucional.

Começou a viajar aos países comunistas, como Vietnã do Norte, China e Cuba. Também

viajou para Guiné, e em 1968 se mudou para aquele país. depois de casar com a cantora

sul-africana Miriam Makeba. Foi assessor do presidente Sekou Toure e amigo do exilado

Kwame Nkrumah - dai mudou seu nome a Kwame Toure. Formulou uma visão

internacionalista da luta negra e um contexto global para a resistência negra. Passou a

criticar os grupos negros - inclusive os Panteras Negras - que na sua visão não eram

suficientemente autônomas e separatistas.

Kwame Toure viajou muito, sempre incentivando os jovens negros a se organizar.

Lembrava sempre que a luta se fazia de forma coletiva e não do sucesso individual.

Foi diagnosticado com câncer da próstata em 1996, e alegou que isso foi uma tentativa de

assassinato do FBI. Ainda viajou no seus últimos anos dando palestra. Morreu em 1998

em Guiné.

Frantz Fanon (Martinica) - 1925-1961

Psiquiatra, Escritor e Militante.

Filho de uma família de classe media, Fanon estava estudando (sendo Aime Cesaire um

dos seus professores o) quando a ilha de Martinica foi tomado pelas forças Francesas

aliadas com os Nazistas. Ficou revoltado com a postura racista dos nazistas e franceses

em terra caribenha. Escapou a ilha e se alistou nas forças da resistência francesa. Foi

enviado a Casablanca e lutou na Argélia, Oran e França. Após a guerra, todos os

soldados não brancos foram enviados de volta. Ajudou na campanha eleitoral de Aime

Cesaire e depois voltou para França para completar seus estudos em medicina e

psiquiatria. Desenvolveu uma tese sobre os efeitos psicológicos do racismo e da

colonização, mas esta tese foi rejeitada por seus professores. Apesar disso publicou sua

tese, como o livro Peles Negras, Mascaras Brancas. Este livro virou um clássico por sua

maneira de ver como racismo pôde causar profundas alterações psíquicas.

Terminado seus estudos, Fanon foi trabalhar num hospital em Argélia, onde criou uma

forma de tratamento que tomava em consideração a orientação cultural dos pacientes.

Quando começou a revolução Algeriana, em 1954, juntou-se com a Frente de Libertação

Nacional, as forças anticolonialistas. Começou a construir uma filosofia de resistência ao

colonialismo que defendia o uso da violência. No seu livro, The Wretched of the Earth (Os

Danados da Terra), expôs que se o colonizador tratar ao colonizado fora das normas da

humanidade, então o colonizado não precisava manter as regras de tratamento humano

para com o colonizador. Atuou com as forças clandestinas de FLN, na Argélia e Tunísia,

sendo expulso da Argélia em 1957. Mudou-se para Tunísia, onde passou a escrever para

um jornal da guerrilha, o Mujahadid, e serviu de embaixador provisório da Argélia

independente em Gana. Ficou doente da leucemia, mas ainda durante esse período

completou o livro "Os Danados da Terra" e umas escrituras mais curtas de estratégia

guerrilheira, pois ele ajudou a criar uma frente alternativa da guerra na Tunísia, durante a

revolução da Argélia. Seus últimos artigos foram publicados com o titulo “Até a

Revolução Africana”. Morreu de leucemia, em 1961, mas foi uma grande figura da

resistência africana no sentido prático, como guerrilheiro e no sentido da libertação da

escravidão mental. A Argélia, depois de uma guerra muito violenta e prolongada,

consagrou a sua independência em 1962.

Katherine Dunham (Estados Unidos) - 1909-2006

Mambo (Mãe de Santo, tradição Vodun), Coreografa, Bailarina, Etnógrafa

Uma das principais bailarinas do século XX, sempre juntou sua careira artística com os

estudos etnográficos da diáspora africana. Suas primeiras investigações foram no Caribe,

onde foi morar com os Maroons de Jamaica e depois estudou o culto de Shango em

Trinidad e Tobago. Conheceu o Haiti, onde iria frequentar o resto da vida, e se

aprofundou na cultura dos Voduns.

Estudou o balé e outros estilos de dança, mas se dedicou as formas de dança da

diáspora africana. Criou uma companhia de dança, sendo uma das primeiras lideradas

por uma mulher negra. Ela, junto com Zora Neale Hurston (escritora) e Pearl Primus

(bailarina) criaram uma nova pedagogia na diáspora africana. Essas mulheres estudaram

as varias culturas da diáspora, especialmente no caribe, e utilizaram a cultura como

linguagem para divulgar esse conhecimento. Em contraste com a postura acadêmica da

época, em que o estudioso era o observador da cultura, elas pregavam a participação na

cultura e o reconhecimento dos vários diálogos complexos que ocorrem entre as

diferentes culturas diaspóricas.

Katherine Dunham foi o motivo para a criação da Lei Afonso Arinos (1951) contra a

discriminação racial aqui no Brasil. Ela visitou São Paulo e foi impedida de ficar no Hotel

Esplanada. Reconheceu isso como racismo e tornou este fato público, criando uma mau

imagem publica do Brasil e confirmando as denúncias já existentes pelos negros

brasileiros.

Ela apoiou outros assuntos na diáspora, sendo muito conhecida a sua greve de fome por

47 dias em 1992, com a idade de 83 anos, para protestar pela deportação dos refugiados

Haitianos nos Estados Unidos, que naufragaram em Miami depois de atravessar o mar

em grande perigo. Deu publicidade ao tratamento desigual e racista aos Haitianos,

especialmente em contraste com os Cubanos, que recebiam asilo automático e apoio

financeiro.

Katherine Dunham fez obrigação de mãe de santo (Mambo) no Haiti na tradição Vodun.

Ângela Davis - Intelectual, Ativista (Estados Unidos) - 1944 - atual

Ângela Davis e originaria do Alabama e um dos eventos que marcou a sua vida como

figura do movimento Black Power foi o assassinato de 4 meninas negras, por uma bomba

deixada em uma igreja negra pelos segregacionistas. Ela conhecia algumas das meninas

pessoalmente. Ela cursou francês e filosofia, chegando a estudar na Alemanha.

Simpatizou com a ideologia socialista e Marxista, e acabou afiliando-se ao partido

Comunista.

De volta aos Estados Unidos, começou a trabalhar como professora na Universidade de

Califórnia, mas perdeu o posto por sua afiliação com o Partido Comunista. Processou a

universidade e ganhou de volta a sua posição, dando publicidade a censura ideológica.

Continuou a denunciar o governo, sobretudo a polícia e suas posturas violentas com a

comunidade negra. Simpatizou com as Panteras Negras e os jovens negros

revolucionários que, na época, estavam divergindo-se da postura de não violência de

Martin Luther King. Lutou pelo seu direito de portar armas como auto defesa, e pregou a

filosofia de Black Power, sendo, novamente, demitida pela universidade.

Uns meses depois da sua saída da universidade, em 1970, uma arma que ela tinha

comprado foi usada na tomada de um tribunal. Um amigo dos acusados negros entrou na

corte, deu armas para os companheiros, matou o juiz e ajudou eles a fugir em um carro

parado em frente ao corte. A policia atirou no carro, matando todos os 3, na hora. Como

a arma estava associada a Ângela, mandaram prendê-la, mas ela conseguiu escapar. O

FBI a declarou uma terrorista, e um dos 10 fugitivos mais procurados. Nesse aspecto,

lembrando a Assata Shakur, negra revolucionaria também acusada de matar um policial -

Shakur conseguiu escapar do presídio e se exilou em Cuba, onde reside ate hoje. Ângela

Davis foi capturada em Outubro. Durante o período antes de ser processada, manteve

uma greve de fome e se declarou inocente, condenando o país capitalista e defendendo

os princípios de resistência. A sua estética do cabelo Black enorme, já associado com as

Panteras Negras, virou símbolo da nova resistência negra. Seus discursos, em contraste

com os tradicionais acusados, foi uma eloquente denuncia das políticas do EUA por uma

professora com a mais alta preparação acadêmica. Foi considerada inocente.

Viajou para Cuba e Rússia antes de voltar para Califórnia, onde continuou como

professora na Universidade Estadual de San Francisco. Se candidatou ao cargo de Vice

Presidente em 1980 e 1984 pelo Partido Comunista, mais acabou saindo do partido

depois. Se desenvolveu como intelectual feminista. Também começou a desenvolver

uma critica do sistema de encarceramento nos Estados Unidos, que tem o maior número

de presos no mundo (mais de 2 milhões) e a mais alta porcentagem da população presa.

Chamou isso o “Complexo Industrial de Prisão” e criticou a forma de utilizar a população,

sendo suas vitimas principais homens negros, como uma fonte de lucro governamental e

privado. É contra a pena de morte, que também prejudica acusados negros

desproporcionalmente. Ainda atua, dando palestras e conferencias.