carlos ribeiro caldas filho - teologia e cultura, uma introdução à estética filosófica em...

Upload: murilo-dumps-santos

Post on 28-Feb-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    1/14

    FIDES REFORMATA 6/1 (2001)

    Teologia e Cultura: Uma Introduo Esttica Filosfica emPerspectiva da Teologia Reformada, com nfase na

    LiteraturaCarlos Ribeiro Caldas Filho*

    Resumo

    A teologia reformada, desde sua gnese, tem se caracterizado por uma amplitude que semanifesta em sua preocupao por temas que no so explicitamente religiosos. Para ateologia reformada, todas as reas da vida devem ser para a glria de Deus, e noapenas o que religioso. Como exemplo, menciona-se a abertura da teologia reformadapara com a esttica. Tal abertura acontece atravs da doutrina da graa comum.

    Este artigo introduz o tema da esttica filosfica em perspectiva da teologia reformada,enfatizando a literatura brasileira. Apresenta, guisa de concluso, desafios provenientesda interface teologia reformada e literatura no contexto brasileiro.

    Palavras-Chave

    Teologia reformada, graa comum, humanismo, esttica, literatura brasileira.

    Introduo

    A tradio teolgica conhecida como reformada, herdeira da sistematizao doutrinriaelaborada por Joo Calvino, distingue-se de outras tradies crists (como a catlica

    romana e a ortodoxa) ou protestantes (luterana, anabatista), e, mais recentemente, dapentecostal. Conquanto haja pontos em comum entre todas estas tradies crists, helementos distintamente reformados que, no obstante sua inegvel importncia,estranhamente acabam sendo ignorados, mesmo em crculos teolgicos que seidentificam como calvinistas.1

    Ademais, h uma concepo popular, presente em muitos livros didticos de histria, queapresenta o calvinismo como um sistema rgido, inflexvel, intolerante, que ensina umanica doutrina, a saber, a predestinao. Esta caricatura reforada quando ldereseclesisticos reduzem sua viso do calvinismo formulao do Snodo de Dordt (1618).Na verdade, a tradio reformada transcende os famosos Cinco Pontos do calvinismo.

    preciso resgatar a riqueza, a amplitude, a profundidade e a beleza da tradio teolgicareformada. Considerando o tema da glria de Deus como o eixo central da reflexoteolgica, o pensamento reformado por demais amplo ela no trata apenas do que explcita e exclusivamente religioso, como fazem algumas outras tradies teolgicas. exatamente este o ponto forte da forma de pensar teolgica reformada. Nesta concepo,a glria de Deus deve se manifestar em todas as reas do conhecimento humano. Da agrande influncia do calvinismo em reas to diversas quanto a filosofia,2 a economia, acincia poltica, a educao, a cultura em geral.3

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    2/14

    Diversos intrpretes do calvinismo tm destacado este ponto. O telogo anglicanobrasileiro Robinson Cavalcanti, por exemplo, lembra que:

    Apaixonado pela cultura, [Calvino] estabeleceu um sistema escolar modelo em todos osnveis, tornando a Academia de Genebra um dos mais respeitveis estabelecimentos deinstruo superior de seu tempo. A teologia calvinista, dentro do protestantismo, a mais

    abrangente e voltada para a presena crist no mundo.

    Para o ponto de vista reformado, ou calvinista, o homem um ser integralmenteunificado. Deve-se [sic] evitar as dicotomias. Tudo esfera sagrada, e deve-se aplicar aPalavra de Deus a todas as reas da vida. Toda criao caiu com o pecado e est agorasob a ao redentora de Cristo. Cristo o Senhor, tanto da Igreja quanto da Sociedade.Os cristos devem lutar hoje para manifestar a presena do Reino de Deus, embora a suaplenitude somente se alcanar com o retorno de Cristo. Somos salvos para servir. Oscristos devem se infiltrar em todas as esferas da Sociedade para cham-la aoarrependimento e conformao s normas do Reino. A Igreja um centro dearregimentao e treinamento de pessoas que se reformam para reformar (Cavalcanti,1985, p.124-125).

    Hendrik Hart, professor do Instituto de Estudos Cristos (Institute for Christian Studies)de Toronto, Canad, uma das mais respeitadas instituies de ensino teolgico natradio reformada kuyperiana atualmente, chega a cunhar o neologismo cosmoscpiopara se referir ao calvinismo:

    O calvinismo como um movimento tem sempre visto seu lugar e tarefa neste mundocomo csmicos em escopo. Sua perspectiva de vida implica uma viso de mundo, umcosmoscpio. A expresso cultural do movimento cristo conhecido como calvinismo nopode ser adequadamente entendida a parte de sua confisso, que a palavra de Deus e aordem do Esprito ordenam e dirigem o todo da realidade criada integral e totalmente(Hart, 1995, p.1).

    Antes dele, Abraham Kuyper, telogo reformado e estadista holands, em uma clebresrie de palestras ministradas no Seminrio Teolgico Princeton (as Stone Lectures), nosEstados Unidos, em 1898, apresentava o calvinismo como um sistema de vida, comimplicaes para a religio, a poltica, a cincia e a arte (Kuyper, 1999).

    A inteno do presente artigo de introduzir o tema da esttica filosfica pela perspectivada teologia reformada, com nfase na literatura, partindo do pressuposto, anteriormenteapresentado, de que a teologia reformada no defende uma viso maniquesta da vida,que de maneira ingnua separa toda a realidade em duas categorias, quais sejam,material e espiritual (ou celestial e demonaco), a despeito do fato lamentvel deque tal dicotomia tem estado presente em diversos setores da comunidade evanglicabrasileira.

    ntida a presena de uma filosofia de demonizao de tudo que no parea sersuficientemente espiritual nos meios evanglicos de hoje. No raro, at presbiterianosconservadores demonstram sofrer influncia desta perspectiva. Pretende-se, portanto,com o presente ensaio, contribuir para uma reflexo contnua sobre a necessidadeurgente e imperiosa de resgatar perspectivas importantes da tradio teolgicareformada.

    No fora a viso unificada da teologia reformada, que v o mundo como o campo onde a

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    3/14

    glria de Deus deve ser manifestada, a humanidade teria sido privada de obras de artepreciosas tais como a de Rembrandt, na pintura (sem esquecer da obra dos luteranosCranach e Drer); Toplady, Newton, Marot (sem falar na obra do luterano Bach e doanglicano de ascendncia luterana Hndel) e Bunyan, na literatura.

    inegvel, ainda, a influncia da teologia reformada no incentivo ao desenvolvimento

    educacional em geral, que culminou na criao das conhecidas universidades de Harvarde Yale (nos Estados Unidos), e sua enorme influncia na histria das universidades deOxford e Cambridge (Inglaterra), inclusive o impulso s cincias humanas e tecnologiaproporcionado por reformados, s para citar uns poucos exemplos.4 Em todos essescasos, podemos considerar a f reformada a fora impulsionadora comum.

    Nas palavras do pensador reformado Hans Rookmaaker, que por vrios anos foi professorde Histria da Arte na Universidade Livre de Amsterdam,

    bsico pensar acerca da cultura na tradio da reforma calvinista no que se refere no-existncia de dualidade entre esferas superior e inferior, entre graa e natureza. Estemundo de Deus. Ele o criou, ele, o sustenta, e est interessado em sua criao. Ele

    chamou a obra de suas mos de boa desde o princpio. Nada est excludo. Tudo, domenor tomo ou vida animal a mais elevada doxologia, tudo pertence a ele. Nada podeexistir fora dele, e todas as coisas tm significado somente em relao a ele(Rookmaaker, 1970, p.36).

    A posio de Joo Calvino e da tradio reformada (e, antes, de Agostinho) quanto cultura muito bem resumida por Richard Niebuhr em um estudo clssico, em que eledenomina Cristo o transformador da cultura, entre outras afirmaes interessantescomo esta:

    Mais do que Lutero, ele [Calvino] aguarda o permear de toda a vida pelo Evangelho. Suaconcepo mais dinmica das vocaes dos homens como atividades em que eles podemexpressar sua f e amor e glorificar a Deus pelo seu chamado, sua ntima associao deIgreja e Estado, e sua insistncia em que o Estado ministro de Deus, no apenas de ummodo negativo, como o represador do mal, mas positivamente como promotor de bem-estar social, sua viso mais humanista do esplendor da natureza humana, ainda evidentenas runas da queda, seu interesse pela doutrina da ressurreio da carne, e, acima, detudo, sua nfase quanto realidade da soberania de Deus tudo isto leva aopensamento de que aquilo que o Evangelho promete e torna possvel como divina (nohumana) possibilidade a transformao da humanidade em toda a sua natureza ecultura, em um reino de Deus no qual as leis sejam escritas nos ntimos dos homens(Niebuhr, 1967, p.252-3)5.

    I. A Graa Comum e a Teologia Esttica

    A teologia reformada se relaciona com a cultura atravs da doutrina da graa comum,isto , graa para todos, no ordinria, a bno divina para todos indistintamente,eleitos ou no. Todas as atividades, conquistas e progressos cientficos, econmicos,polticos e culturais da civilizao humana tm lugar na histria devido graa comum deDeus.6

    o prprio Calvino quem cunha e desenvolve nas Institutaso tema da graa comum. Elereconhece que toda e qualquer capacidade humana, em qualquer rea, dom divino, quedeve ser usado para o bem-estar da humanidade. Esta graa de Deus no est de modo

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    4/14

    algum limitada apenas aos eleitos. Calvino nos adverte a no esquecermos:

    [...] que mui excelentes dons do Esprito Divino so estes, que, para o bem comum dognero humano, dispensa a quem quer. Ora, se a Bezalel e a Oholiabe foi de mister ser-lhes instilada pelo Esprito de Deus a inteligncia e conhecimento que se requeria para aconstruo do tabernculo (x 31.2-11; 35.30-35), no de admirar se porventura se

    diga ser-nos comunicado atravs do Esprito de Deus o conhecimento destas cousas queso relevantssimas na vida humana. Nem h por que algum pergunte: Que tm a vercom o Esprito os mpios, que de Deus inteiramente alienados esto? Ora, que se diz nosss fiis habitar o Esprito de Deus (Rm 8.9), isto se deve entender do Esprito desantificao, mediante Quem somos consagrados por templos ao prprio Deus (1 Co3.16). Entretanto, nem por isso menos preenchem, aciona, vivida a todas as cousas pelopoder do mesmo Esprito, e isto segundo a propriedade de cada espcie, a que a atribuiupela lei da criao. Pois eu, se o Senhor nos quis deste modo ajudados pela obra eministrio dos mpios na fsica, na dialtica, na matemtica e nas demais reas do saber,faamos uso destas para que no soframos o justo castigo de nossa displicncia, senegligenciamos as ddivas de Deus nelas graciosamente oferecidas (Calvino, 1985. LivroII, II, 16, p.33).

    Semelhantemente, ao comentar xodo 31:1-8, que narra a capacitao de Bezalel eAoliabe pelo Esprito de Deus, para a realizao de obras de artesanato para otabernculo, Calvino, com clareza meridiana, declara:

    Pois, ainda que h diversidade de dons, do mesmo Esprito que todos [os dons]emanam (1 Co XII.4) e tambm como Deus tem sido servido em distribu-los todos atodo homem. No o caso somente com respeito aos dons espirituais que se seguem regenerao, mas em todas as reas do conhecimento que so usadas na vida comum. ,portanto, uma falsa diviso quando homens mpios descrevem todos os meios de nossamanuteno em parte natureza e bno de Deus, e em parte ao esforo humano,pois o esforo humano em si mesmo uma bno de Deus. Os poetas esto certosquando reconhecem que tudo que sugerido pela natureza vem de Deus; que todas as

    artes emanam dEle, e portanto devem ser reconhecidas como invenes divinas. Autilidade desta doutrina dupla; primeiro, que todas as coisas que se relacionam comnosso sustento e defesa da vida, onde quer que as encontremos, deveriam exercitarnossa gratido, e que o que quer que parea derivado da engenhosidade humana deveriaser admitido como provas do cuidado paternal de Deus para conosco; e, em segundolugar, que deveramos honrar a Deus como o Autor de tantas coisas boas, j que Ele assantifica para nosso uso. Moiss aplica muitos eptetos para o Esprito, porque ele estfalando de uma obra muito marcante; portanto, devemos concluir que qualquerhabilidade possuda por qualquer pessoa emana de uma nica fonte, e conferida porDeus (Calvino, 1854, p.291-292).

    Fiis s idias de Calvino, os telogos reformados holandeses muito tm contribudo para

    uma elaborao e uma divulgao da doutrina da graa comum. Em sua leitura abalizadado calvinismo, o j citado Abraham Kuyper declara:

    As artes, diz ele [Calvino], nos foram dadas para nosso conforto, nesta nossa condiodeprimida de vida [...] quando seu colega Prof. Cop em Genebra pegou em armas contraa arte, Calvino props medidas institudas, pelas quais, ele escreve, restaurar-se- estehomem tolo ao bom senso e razo [...] Ele exulta na Msica como um podermaravilhoso para mover coraes e para tornar nobres tendncias e costumes. Dentre osfavores excelentes de Deus para nossa recreao e diverso, [a Msica] ocupa em sua

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    5/14

    mente a posio mais elevada. E ainda quando a arte condescendente em tornar-seinstrumento de simples entretenimento das massas, ele assegura que este tipo de prazerno lhes deve ser negado (Kuyper, 1999, p.153).

    A doutrina reformada da graa comum, portanto, v com bons olhos a produo artstica,reconhecida como uma presente da graa divina humanidade. Tal presente no deve

    ser desprezado. Da ser possvel afirmar que a doutrina bblica da graa comum ofereceao telogo reformado uma base saudvel para a formulao de uma teologia da esttica.

    II. A Tradio Humanista: A Esttica Positiva da Teologia Reformada

    Quando se fala em qualquer produo humana (inclusive a teologia reformada), deve-selembrar que h sempre uma conjugao de fatores variados que torna possvel oflorescimento de determinado pensamento, em determinada regio, em determinadapoca. A histria das idias busca descobrir que fatores so esses. Em outras palavras:nenhuma produo humana cai do cu pronta e acabada. H diversas situaes decontexto que precisam ser entendidas a priori para que se compreenda melhor aformulao desta ou daquela doutrina ou filosofia.

    No que diz respeito viso altamente positiva da esttica esposada pela teologiareformada, deve-se ter em mente a existncia de um fator que serviu como elementofacilitador desta viso: a tradio humanista. H que se lembrar que a Reforma aconteceno perodo conhecido como Renascimento (ou Renascena).7 Neste mesmo perodo,acontece o fenmeno do Humanismo, que Costa denomina de conscincia daRenascena (Costa, 1999, p.161).

    Sem entrar no mrito das diversas tendncias do Humanismo,8 deve-se lembrar queCalvino recebeu uma educao de tendncia humanista, evidentemente aberta leiturados clssicos da Antigidade. Esta formao humanista certamente influenciou aformulao do reformador genebrino quanto s artes (exposta, como visto, nasInstitutas, em seu comentrio de xodo), autntica semente de uma saudvel teologia daesttica. Ganoczy, calvinlogo respeitado, afirma:

    Nossa investigao histrica tem mostrado que por vrios anos Calvino viveu em umambiente imerso em humanismo cristo. Ele visitou vrios amigos (a famlia de Hangest,Olivtan, Cop, Daniel, Duchemin e Wolmar) e foi ensinado por vrios mestres (Cordier,Alciati, Dans, Vatable), que eram pelo menos no incio seguidores de Erasmo eLefvre. Atravs do contato com eles, tornou-se um humanista bblico, um advogado darenovao interior da Igreja por uma retorno s suas fontes originais (Ganoczy, 1987,p.178).

    Outras teologias, que no foram formuladas em ambiente humanista, no manifestarama abertura esttica, que se encontra na tradio reformada. McGrath, tambm

    respeitado calvinlogo contemporneo, aponta para outro aspecto da influncia dohumanismo (francs) em Calvino quando declara:

    As origens do mtodo de Calvino, como provavelmente o maior comentarista bblico epregador de seu tempo, podem ser encontradas em seu estudo da lei na atmosferaavanada de Orlans e Bourges. H indicaes que Calvino aprendeu de (Guillaume) Buda necessidade de ser um fillogo competente, aproximar-se diretamente a um textofundacional, interpret-lo dentro dos parmetros lingsticos e histricos de seu contextoe aplic-lo s necessidades de seu prprio tempo. precisamente esta atitude que

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    6/14

    direciona a exposio de Calvino da Escritura, especialmente em seus sermes, nos quaisele deseja fundir os horizontes da Escritura e do contexto de sua audincia. O humanismofrancs proporcionou a Calvino o incentivo e as ferramentas para relacionar documentosdo passado e interagir com a situao da cidade de Genebra nos anos de 1550 (McGrath,1994, p.41-42).

    Em suma: o ambiente no qual Joo Calvino se formou possibilitou uma abertura aoestudo dos clssicos. No sem razo que ele publicou seu primeiro livro em 1532,quando tinha apenas 22 anos de idade, um ensaio sobre o filsofo romano Sneca (cf.Van Halsema, 1968, p.30-31; Lessa, s.d., p.55-56; Castro Ferreira, 1985, p.14). Estaformao humanista clssica contribui para que ele tenha uma viso positiva da cultura.No se encontra em Calvino, portanto, nenhuma tendncia de demonizar manifestaesculturais que no sejam explicitamente religiosas.

    III. O Conceito de Esttica

    At o presente momento, utiliza-se neste texto a palavra esttica com considervelfreqncia. Mas, afinal, o que vem a ser esttica? Antes de prosseguir rumo a umatentativa de resposta a esta questo, deve-se deixar bem claro que no se pretende aquimais do que apresentar uma introduo bastante sucinta a este tema, que, diga-se depassagem, por demais complexo.9 De uma maneira bem simples, pode-se dizer que aesttica nada mais do que o ramo do conhecimento filosfico que se dedica a umateoria do que artisticamente belo.

    A esttica trabalha com a arte, em suas mais variadas formas, quais sejam, escultura,pintura, literatura (poesia e prosa), teatro, msica (vocal e instrumental), dana, cinema,em suas mltiplas possibilidades de expresso. As questes que surgem para quem se

    aproxima da esttica so muitas: O que arte? Qual seu propsito? O que belo? Oque caracteriza uma obra de arte como medocre, boa ou genial? Como interpretar umaobra de arte de forma adequada? E quanto ao seu aspecto moral?

    No difcil perceber a dificuldade intrnseca a estas questes. Ademais, no se podeesquecer que muito difcil oferecer respostas filosoficamente objetivas a estasperguntas, mesmo porque no h uma nica resposta filosfica: a perspectiva dasrespostas mudar, dependendo da abordagem utilizada, podendo esta ser platnica,aristotlica, kantiana, hegeliana, positivista, romntica, idealista, marxista, estruturalista,ps-moderna ou qualquer outra. Sem esquecer que h tambm toda uma gama complexa

    de fatores culturais e subjetivos que no pode ser omitida na busca de tais respostas.Desse modo, optou-se por no entrar em mritos filosficos para responder a eseasquestes esta empreitada exige mais espao do que o destinado aos artigos desteperidico.1 0

    O fato que a arte, erudita ou popular, est presente em praticamente todos osaspectos da vida diria. Os evanglicos brasileiros tm demonstrado diferentes reaes arte. Alguns manifestam uma rejeio ingnua, baseada em uma teologia de qualidade

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    7/14

    duvidosa. Outros partem para o outro extremo e expressam uma aceitao acrtica demanifestaes artsticas nitidamente anticrists. Cristos brasileiros que se entendemherdeiros e continuadores da tradio teolgica calvinista devem elaborar e aplicar aocontexto nacional uma esttica de orientao reformada.

    Quanto a isso, o filsofo reformado Calvin Seerveld (que por muitos anos lecionou

    Esttica Filosfica no j citado Institute for Christian Studies) afirma que:

    Uma esttica [...] informada pelo conhecimento de que habitamos num mundo criadopelo Senhor Deus revelado em Jesus Cristo postular uma ordenana para a realidadeesttica, para o estilo de vida normal e para a confeco profissional de obras de arte [...]A lei (qualificativa) de Deus para o lado esttico da vida e do estilo, e que deve serobedecida, a ordenana da aluso, onde a atividade deve ser regida por um espritoalegre e de surpresa aquilo que faria Deus sorrir. A teoria esttica crist deve formaruma enciclopdia de artes e literatura especiais, que evite qualquer hierarquia decategorias. Deve dar as boas-vindas arte que se dedica a tarefas especiais, tais comoos retratos comemorativos, os monumentos, a publicidade e a liturgia, mas tambm devepromover o teatro, os concertos, as pinturas nos museus e os romances, que tm sua

    prpria contribuio a fazer como arte na sociedade. A esttica crist torna claro que onosso estilo, as nossas obras de arte, a crtica e a teoria daquilo que esttico e artsticona Histria sero julgados, no Dia Final do Senhor, segundo seus frutos redentores(Seerveld, 1990, p.81-82).

    IV. Teologia Reformada Da Literatura Brasileira?

    A teologia reformada, como tratado acima, mais do que outras produes teolgicas, notem sido refratria esttica. Antes, a tem em alta conta, entendendo que o belo umtipo de revelao especial de Deus. E como o ttulo deste ensaio indica, pretende-se,ainda que de forma sucinta e introdutria, dar nfase especial literatura.

    Tem-se presenciado, especialmente no sculo XX, um curioso dilogo entre teologia eliteratura.1 1 Ironicamente, muitas dessas obras tm sido produzidas em perspectivasestranhas teologia reformada, como a teologia da cultura de Paul Tillich,1 2a teologia dalibertao,1 3 ou a teologia catlica romana clssica.1 4 Recentemente, muito se temproduzido nesta rea, na perspectiva das assim chamadas cincias da religio.1 5Mas nose pode esquecer que h tambm produo evanglica nesse campo.1 6Esses trabalhos,via de regra, apresentam a literatura como ferramenta auxiliar da produo teolgica, oque implica a questo do mtodo teolgico.1 7

    A teologia encontra na literatura uma outra interlocutora, que assume o papel quetradicionalmente tem sido dado filosofia. Assim, consciente ou inconscientemente,pratica-se uma espcie de moratria epistemolgica no processo de construoteolgica: em vez da filosofia, utiliza-se a literatura como instrumento de construo do

    edifcio teolgico. Deve-se deixar bem claro, no entanto, que todas estas tendncias notrabalham com a literatura de maneira uniforme. H variaes em um amplo espectro.Manzatto trabalha com um esquema pergunta (literatura) - resposta (teologia).Reconhece, portanto, o valor da literatura (brasileira) como fornecedora de questes eproblemas que devem ser trabalhados pelo telogo.

    Quanto a isso, Manzatto cita van den Besselaar:

    A literatura brasileira contribui para enriquecer os conhecimentos do homem brasileiro

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    8/14

    sobre sua problemtica, suas aspiraes, sua mentalidade, suas virtudes e seus defeitos,sem falar da satisfao esttica que ela proporciona, pois a literatura brasileira de hoje humanamente verdadeira. Se a sociologia pode dar uma idia de certas estruturas, aliteratura quem nos pe em contato com uma face da realidade humana vivida e sentida(Manzatto, 1973, p.37).

    Mais adiante, Manzatto afirma ainda que:

    A literatura um olhar sobre o mundo, sobre seus valores, suas condies. Ela tambm, mas no formal nem diretamente, um juzo de valores, pois toma posio anteos mitos, coisas e realidades da vida e da sociedade; denuncia ideologias, sofrimentos,hipocrisias, falsos valores, opresso e prega novos valores (Ibidem, p.38)1 8.

    J Magalhes trabalha com pressupostos diferentes, chegando a ponto de criticar a visoteolgica de que a revelao de Deus j est definida (na Bblia). Magalhes parecesugerir que a literatura tambm pode ser revelao de Deus (Magalhes, 1997, p.37). desnecessrio dizer que tal opinio inaceitvel para o telogo verdadeiramentereformado, uma vez que, para a teologia reformada, a revelao de Deus se d na

    natureza, na conscincia humana e na providncia (a revelao geral), nas EscriturasSagradas (a revelao especial), culminando com sua revelao definitiva na pessoa deJesus Cristo, mas no na cultura humana do modo como Magalhes parece pressupor.1 9

    Concluso

    Deste mais do que breve apanhado, faz-se uma constatao inicial: as abordagensteolgicas contemporneas literatura so inmeras, mas no se tem observado apresena de telogos que trabalhem com base em categorias reformadas. Qual a razodisso? O mximo que se tem visto (no contexto brasileiro), uma abordagem evanglica.H outras abordagens que trabalham com pressupostos, categorias e conclusesinaceitveis para o telogo reformado.

    Da, pergunta-se: Por que os telogos brasileiros verdadeiramente reformados no estoproduzindo abordagens ou leituras de temas da literatura brasileiracom base empressupostos, parmetros e paradigmas legitimamente calvinistas? Por que este vcuo?No ter este vcuo favorecido a produo de algumas leituras teolgicas de temasliterrios estranhas f reformada?

    Estas primeiras indagaes, na verdade, indicam desafios ao telogo reformadobrasileiro: o desafio de resgatar e aplicar ao contexto ptrio uma teologia reformada daesttica, com nfase na riqussima arte e, mais especificamente, na literatura brasileira.O telogo reformado brasileiro, herdeiro que de uma tradio teolgica densa e aberta cultura, no dever permitir que haja apenas leituras no crists (e, em alguns casos,at mesmo anticrists) da literatura nacional. Autores no brasileiros tm tratado deste

    tema desde seus prprios contextos.2 0 necessrio que o mesmo acontea no Brasil.

    O outro desafio o de elaborar um mtodo adequado ao dilogo entre teologia eliteratura: Efetivamente, como ser a leitura reformada de peas da literatura brasileira?Ser possvel um dilogo? E, neste caso, de que maneira?

    De maneira geral, estas questes relacionam-se no somente com a literatura, mastambm com outras manifestaes artsticas. A questo ampla. No se pretende aquimais do que uma introduo ao tema. Urge que a academia teolgica reformada

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    9/14

    brasileira se apresente a este desafio. Para a glria de Deus.

    Referncias

    ALBRECHT, N. C., BARNETT, J. H., GRIFF, M. The Sociology of Art and Literature. NewYork: Praeger, 1970.

    BACON, Betty. La novela de rico Verssimo. Certeza, Buenos Aires: Ediciones Certeza,p.40-43, abril-Jun 1977

    __________. A evangelizao e a cultura brasileira. In: STEUERNAGEL, Valdir (Ed.). Aevangelizao do Brasil: uma tarefa inacabada. As principais palestras e seminrios doCongresso Brasileiro de Evangelizao. So Paulo: ABU Editora, 1985.

    BACON, Henry. A epopia brasileir:. Uma introduo a Os Sertes. Rio de Janeiro:Instituto Nacional do Livro, 1983.

    BERKHOF, L. Teologia sistemtica.Trad. Felipe Delgado Corts. Grand Rapids: Tell, 1983.

    BILER, Andr. O humanismo social de Calvino. Trad. Aharon Sapsezian. So Paulo:Oikoumene, 1970.

    __________. O pensamento econmico e social de Calvino, trad. Waldyr Carvalho Luz,So Paulo: CEP, 1990.

    CALDAS FILHO, Carlos Ribeiro. Arte e espiritualidade. Manhumirim: Didaqu, 1998. v.XLII.

    CALVANI, Carlos Eduardo. Teologia e MPB. So Paulo: Loyola, So Bernardo do Campo:Umesp, 1998.

    CALVINO, J. Commentaries on the Four Last Books of Moses, arranged in the Form ofHarmony. Trad. Charles W. Bingham. Edimburgh: Calvin Translation Society, 1854. v.3.

    __________.As Institutasou Tratado da Religio Crist. Trad. Waldyr Carvalho Luz. SoPaulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985.

    CARVALHO, Vinicius Mariano. Religio e Literatura:sua inter-relaes possveis a partirda obra de Mario Quintana. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2001. (Dissertao deMestrado em Cincias da Religio).

    CASTRO FERREIRA, Wilson. Calvino: vida, influncia e teologia. Campinas: LPC, 1985.

    CAVALCANTI, Robinson. Cristianismo e Poltica: Teoria bblica e prtica histrica. SoPaulo: Nascente, Campinas: Cebep, 1985.

    CENTRE FOR REFORMATION AND RENAISSANCE STUDIES (on line). Atualizado em 13 jul.2001. Disponvel: http://crrs.utoronto.ca (capturado em 12 out. 2001).

    COSTA, Herminsten Maia Pereira da. Joo Calvino: o humanista subordinado ao Deus da

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    10/14

    Palavra a propsito dos 490 anos de seu nascimento. Fides Reformata, So Paulo:Centro Presbiteriano de Ps-Graduao Andrew Jumper, v.4, n.2, jul.-dez. 1999.

    DONOGHUE, Denis.Adams Curse. Reflections on Religion & Literature. Notre Dame: UNDPress, 2001.

    DOOYEWEERD, Herman. Roots of Western Culture. Pagan, Secular and Christian Options.Trad. John Kraay. Toronto: Wedge Publishing Foundation, 1979.

    DOWEY JR., Edward. The Knowledge of God in Calvins Theology. Columbia UniversityPress, 1952; Grand Rapids: Eerdmans, 1994.

    ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopdia histrico-teolgica da Igreja crist.Trad. GordonChown, So Paulo: Vida Nova, 1990.

    FERREIRA, Edijce Martins.A tica de Calvino. Recife: Presbitrio de Pernambuco, 1988.

    GANOCZY, Alexandre. The Young Calvin. Trad. David Foxgrover e Wade Provo.

    Philadelphia: The Westminster Press, 1987.

    GOUVEA, Ricardo Quadros. Calvinistas tambm pensam: uma introduo FilosofiaReformada. Fides Reformata, So Paulo: Centro Presbiteriano de Ps-Graduao AndrewJumper, v.I. n.1, p. 48-59, jan.-jun. 1996.

    HART, Hendrik. Calvinism as a cosmoscope. In: VAN DER WALT, Bennie, SWANEPOEL,Rita (Eds). Confessing Christ in doing Politics: Essays on Christian political thought andaction.Potchefstroom: Potchefestroom University for Christian Higher Education, 1995.

    HODGE, Charles. Confisso de F de Westminster(comentada). SoPaulo: Os Puritanos,1999.

    __________. Teologia sistemtica. Trad. Valter Martins, So Paulo: Hagnos, 2001.

    HOOYKAAS, R. Religion and the Rise of Modern Science.Edimburgh: Scottish AcademicPress, 1972.

    __________.A religio e o desenvolvimento da cincia moderna. Braslia: UnB, 1988.

    HORRELL, J. Scott. Arte: uma perspectiva crist. Vox Scripturae. Volume I. Nmero 2.Setembro de 1991, p. 15-38.

    HORTON, Michael. O cristo e a cultura. Trad. Elizabeth C. Gomes. So Paulo: Cultura

    Crist, 1998.

    KENNICK, W. E.Art and Philosophy. New York: St. Martins, 1979.

    KUYPER, Abraham. Lectures on Calvinism. Grand Rapids: Eerdmans (1931), 1999.

    LESSA, Vicente Temudo. Calvino 1509-1564. Sua vida e sua obra. So Paulo: Casa

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    11/14

    Editora Presbiteriana.

    MAGALHES, Antonio Carlos de Melo. Notas introdutrias sobre teologia e literatura.Cincias da Religio, n.9, p.37, 1997. (Cadernos de Ps-Graduao).

    __________. Deus no espelho das palavras: Teologia e literatura em dilogo.So Paulo:

    Paulinas, 2000.

    MANZATTO, Antonio. Teologia e literatura: reflexo teolgica a partir da antropologiacontida nos romances de Jorge Amado. So Paulo: Loyola, 1994.

    McGRATH, Alister. Christian Theology. An Introduction. Oxford, UK & Cambridge:Blackwell, 1994.

    MCNEILL, John T. The History and Character of Calvinism. New York: OUP, 1954.

    NIEBUHR, H. Richard. Cristo e cultura. Trad. Jovelino Pereira Ramos. Rio de Janeiro: Paze Terra, 1967.

    OSBORNE, Harold.Aesthetics and Art Theory. New York: E. P. Dutton, 1970.

    ROLDN, Alberto Fernando. Para que serve a teologia? Mtodo, histria, ps-modernidade. Trad. Hans Udo Fuchs. Curitiba: Descoberta, 2000.

    ROMANOWSKI, William D. Pop Culture Wars: Religion & the Role of Entertainment inAmerican Life. Downers Grove: InterVarsity Press, 1996.

    ROOKMAAKER, Hans R. Modern Art and the Death of a Culture. Londres: Inter-VarsityPress, 1970.

    SCANNONE, Juan Carlos. Poesia popular e reologia:A contribuio de Martin Fierro a umaTeologia da Libertao. Concilium: 1976/5.

    SCHAEFFER, Francis.Art & the Bible. Downers Grover: InterVarsity Press, 1976

    SCHAEFFER, Franky.Addicted to Mediocrit: 20thCentury Christian and the Arts. Wheaton:Crossway Books, 1981

    SEERVELD, Calvin, A Christian Critique of Art & Literature. Toronto: Tuppence Press,1995.

    SEERVELD, Calvin. Esttica, conceito crist da. In: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopdiahistrico-teolgica da Igreja crist.Trad. Gordon Chown, So Paulo: Vida Nova, 1990.

    TEOLOGIA E LITERATURA. So Bernardo do Campo: UMESP. Cadernos de ps-graduao.Cincias da Religio, n.9, 1997.

    VAN DEN BESSELAAR, Joseph. Le brsilien en qute de son identit dans as littraturenationale. Cultures et dveloppement,v.5, n.1, p.106, 1973.

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    12/14

    VAN DER WALT, Bennie, SWANEPOEL, Rita (Eds). Confessing Christ in doing Politics.Essays on Christian political thought and action. Potchefstroom: PotchefestroomUniversity for Christian Higher Education, 1995.

    VAN HALSEMA, Thea B. Joo Calvino era assim. Trad. Jaime Wright. So Paulo: VidaEvanglica, 1968.

    WEITZ, Morris. Problems in Aesthetics. New York: Macmillan, 1970.

    WOLTERSTORFF, Nicholas. Art in Action:Towards a Christian Aesthetic. Grand Rapids:Eerdmans, 1980.

    * Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Bacharel em Teologia (SeminrioPresbiteriano do Sul - Campinas, SP); licenciado em Letras (Portugus/Ingls) pelaFaculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Caratinga - MG), instituies das quais foidocente. Mestre em Missiologia (Centro Evanglico de Misses - CEM - Viosa, MG), ondetambm lecionou e exerceu o cargo de Diretor Acadmico. Doutor em Cincias da Religiopela Universidade Metodista de So Paulo.

    1 J em 1961, em seu prefcio obra de Biler, W. A. Vissert Hooft alertava arespeito de um calvinismo que optou por uma parte de sua herana e que deixou de ladoaspectos importantes do pensamento de seu mestre (Biler, 1970, p.7).

    2 Para uma introduo a este tema, veja Gouvea (1996, p.48-59). Para uma leituraaprofundada da filosofia reformada, veja ainda, inter alia, Dooyeweerd (1979).

    3 Quanto a esse assunto, veja ainda, inter alia, Ferreira (1988, p.85-96); CastroFerreira (1985, p. 181-236); Biler (1990), passim; Van Der Walt & Swanepoel (1995),passim; Mcneill (1954, p.411-425).4 Quanto influncia da teologia reformada no progresso da cincia, veja

    Hooykaas, Religion and the Rise of Modern Science, 1972 (h edio brasileira desta obrade Hooykaas: A religio e o desenvolvimento da cincia moderna. Braslia: UnB, 1988).Para mais detalhes quanto posio reformada sobre as artes, veja ainda, inter alia, overbete Arte crist na Enciclopdia Histrico-Teolgica da Igreja Crist, de Seerveld(1988, p. 125). Conferir, ainda, Franky Schaeffer, 1981 (Franky filho do conhecidoFrancis Schaeffer); Horton (1998, p.21-33, 71-111).

    5 Para uma crtica sistematizao elaborada por Niebuhr, veja Horton (1998, p. 49).6 Evidentemente o conceito de graa comum distinto do conceito de graasalvadora. L. Berkhof assinala que a teologia reformada no considera a doutrina dagraa comum como parte da soteriologia, como a faz a teologia arminiana (Berkhof,1983, p.514). Para mais detalhes, consultar, inter alia, Confisso de F de Westminster(CFW), captulo X, inciso 4; Hodge (2001, p.972-986).7 Os inter-relacionamentos entre Renascena e Reforma constituem-se rico campode estudos, ainda no profundamente estudado no Brasil, o que no tem acontecido emoutras paragens. A Universidade de Toronto (Canad) por exemplo, tem um centro depesquisas nesta rea. Para mais detalhes, recomendamos acessar o site do Centre forReformation and Renaissance Studies (http://crrs.utoronto.ca).

    8 Quanto a isso, o j citado artigo de Costa boa introduo ao assunto (COSTA, 1999,p.155-181).9 Uma bibliografia mnima sobre esttica dever incluir Albrecht, Barnett, & Griff

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    13/14

    (1970); Kennick (1979); Weitz, (1970); Osborne (1970).

    10 Para mais detalhes, recomendvel consultar Schaeffer 1976 (este opsculo deSchaeffer boa introduo ao tema). Para uma pesquisa mais densa, veja Wolterstorff,1980, passim (vale destacar que o reformado Wolterstorff leciona Teologia Filosfica naprestigiosa Faculdade de Teologia da Universidade de Yale nos Estados Unidos, e um

    dos mais respeitados filsofos daquele pas); Seerveld, 1995. Uma literatura mnima emportugus deveria incluir Horrell, 1991, p.15-38 (a perspectiva de Horrell evanglica,mas no propriamente reformada); Caldas Filho, 1998, p. 25-27.11 J no sculo XVII, se observa este dilogo na imaginao teolgica, expressa naobra do conhecido John Bunyan, que tem influenciado positivamente milhares e milharesde leitores (especialmente no mundo de lngua inglesa). Bunyan era um batista calvinista,que subscreveu a famosa Confisso de F Batistade 1689. No sculo XX, a imaginaoteolgica manifesta com maestria nas produes dos britnicos C. S. Lewis e J. R. R.Tolkien. Apesar de no serem reformados propriamente (Lewis era anglicano e Tolkienera catlico romano), o uso que fazem da fantasia e da fico cientfica para acomunicao de verdades crists reflete um pano de fundo da graa comum. A sriecontempornea do bruxo juvenil Harry Potter, da escritora escocesa J. R. Rowling(sucesso mundial de mdia e vendagem), na verdade uma heresia e uma deturpao datradio legtima de Lewis e Tolkien.12 O referencial tillichiano tem informado obras como Teologia e MPB, de Calvani(1998).

    13 Cf. p. ex., Scannone (1976/5).

    14 Cf. p. ex., Manzatto (1994); Donoghue (2001).

    15 Cf. p. ex., a coletnea Teologia e Literatura (1997); Magalhes (2000); Carvalho(2001). O Prof. Dr. Luis Henrique Dreher, da ps-graduao em Cincias da Religio daUFJF, disse ao autor deste texto que est, no momento, a pesquisar a presena dareligiosidade na escola literria naturalista. Decerto ser pesquisa interessante, uma vezque o naturalismo literrio , por definio, anti-religioso.

    16 Cf. La novela de rico Verssimo(Bacon, 1977, p. 40-43), uma anlise evanglica dosromances de Verssimo. Betty Bacon missionria inglesa radicada h dcadas no Brasil.Em 1983, por ocasio da realizao do Congresso Brasileiro de Evangelizao em BeloHorizonte, dirigiu seminrio sobre Evangelizao e Cultura Brasileira, baseando suaabordagem na literatura brasileira (cf. Bacon, 1985, p.261-3). Henry Bacon, marido deBetty, produziu uma anlise evanglica de Os Sertes, obra-prima de Euclides da Cunha(cf. Bacon, 1983).

    17 escassa a bibliografia em portugus sobre mtodo teolgico, em perspectivaevanglica. Uma das poucas obras neste sentido a obra de Roldn, telogo argentino

    radicado no Brasil (cf. Roldn, 2000, p.37-54).18 Observe-se que B. Bacon tambm sempre utiliza a literatura brasileira comofonte informadora e ilustrativa de sua teologia, que , como j assinalado, ntida einegavelmente evanglica.

    19 Cf., inter alia, Calvino, Institutas, Livro I, captulos 1-VI; Catecismode Heidelberg, p.19; CFW, cap. 1; Berkhof, 1983, p.39-44. Para uma exposio e anliseda teologia de Calvino quanto a este importante ponto, consultar Dowey Jr. (1994,primeiramente publicada pela Columbia University Press em 1952), passim.

  • 7/25/2019 Carlos Ribeiro Caldas Filho - Teologia e Cultura, Uma Introduo Esttica Filosfica em Perspectiva da Teologia

    14/14

    20 Exemplo recente desta abordagem Romanowski (1996), passim. No coincidncia o fato de Romanowski ser professor do Calvin College, que, juntamente como Calvin Theological Seminary, instituio conhecida por levar a srio uma cosmovisocalvinista.