carlos h. bezerra leite

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5/13/2018 CarlosH.BezerraLeite-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/carlos-h-bezerra-leite 1/14 1170 ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE URSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 17 1 decenal, que era aquela adquirida pelo empregado após mais de dez anos de serviço na mesma empresa. Em caso de estabilidade provisória do cipeiro, assegurada pelo art. 10, II, b, do ÁDCT d a CF, o dispositivo constitucional é de meridiana clareza ao vedar a dispensa do empregado, nessas condições, se inexistente justa causa. Na mesma linha, o art. 165 da CLT assevera que, ocorrendo a despedida do titular da representação dos empregados na CIPA, caberá ao empregador, se acionado na Justiça do Trabalho, comprovar a existência da justa causa. Não preveem, como se infere, a necessidade de instauração de inquérito judicial para apuração da falta. Ademais, o Regional, que é soberano na apreciação do material fático-probatório dos autos, entendeu caracterizada a justa causa, por incontinência de conduta, mau procedimento e embriaguez em serviço do Reclamante. Nesse compasso, não tem aplicação ao caso o art. 494 da CLT, ante o que dispõem os arts. 165 da CLT e 1 0, II, b, do ADCT da Carta Magna" (TST — RR 556.215/1999.8 — 4 á T. — Rel. Min. Ives Gandra Martins Filho — DJU 12.5.2000). "REINTEGRAÇÃO. ART. 495, CLT. Na sentença que determina a reintegração do empregado, já está implícita a obrigação do empregador de pagar os salários decorrentes do período de suspensão, inteligência do art. 495 da CLT. DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO. Da decisão sob a qual se operou o trânsito em julgado não comporta mais discussões, tendo em vista a necessidade de se manter a estabilidade nas relações jurídicas, inclusive, com observância obrigatória aos princípios da segurança e certeza jurídicas" (TRT 10 R. — AP 00074.1997.001.14.00- 8 — Rel. Juiz Mário Sérgio Lapunka — DO 1 9.04.2006). 3. DISSÍDIO COLETIVO 3.1. Formas de Solução dos Conflitos Coletivos As formas de solução dos conflitos coletivos podem ser: autocompositivas, como os acordos coletivos, as convenções coletivas e a mediação; heterocompositivas, como a arbitragem e a jurisdição. A greve, citada por alguns como forma de solução dos conflitos coletivos, constitui, para nós, um meio de autodefesa ou um instrumento de pressão econômica e política conferido aos trabalhadores socialmente organizados que possibilitará a solução do conflito. Vale dizer, não é a greve em si que soluciona o conflito, pois a greve possui natureza instrumental, mas sim as normas autocompositivas ou heterocompositivas que certamente dela — greve — surgirão. Nas formas autocompositivas, as normas coletivas que irão solucionar o conflito são criadas pelos próprios atores sociais interessados, como nos casos de convenção ou acordo coletivo, ou com o auxílio de um terceiro cuja tarefa é apenas aconselhar as partes para a solução do impasse. As formas autocompositivas são, portanto, extrajudiciais e decorrem da negociação coletiva e do princípio da autonomia privada coletiva. Como bem observa Wagner D. Giglio, o resultado da autocomposição dos conflitos coletivos depende da liberdade da negociação, e essa liberdade requer igualdade de situação, que já não existe mais. A pressão exercida pelas condições da economia atual, de desemprego generalizado, sem perspectiva de melhora, torna ineficazes as formas tradicionais de composição dos conflitos: a negociação direta, a mediação e a conciliação delas resultantes. Como consequência das condições atuais, os resultados dessas formas de autocomposição dos conflitos coletivos têm sido bastante desfavoráveis aos trabalhadores: na melhor das hipóteses, são mantidos os direitos anteriores e garantidos, temporariamente, os empregos; na pior, reduzem-se benefícios, negociam-se rescisões contratuais e generaliza-se a insatisfação, que vai eclodir nas etapas seguintes de negociação(5). Já as formas heterocompositivas podem ser extrajudiciais, como a arbitragem, que é largamente utilizada nos Estados Unidos e em quase todos os países da Europa ocidental, ou judiciais, como é o caso do Brasil. A arbitragem consiste em atribuir a solução do conflito à decisão de um terceiro, pessoa ou grupo de pessoas físicas, entidade administrativa ou órgão judicial. Nos domínios do direito processual do trabalho brasileiro, a arbitragem é prevista expressamente como meio alternativo à solução dos conflitos coletivos de trabalho, como se infere do art. 114, §§ 1 2 e 2 Q , da CF. Há, por outro lado, previsão no art. 83, XI, da Lei Complementar n. 75/93, segundo o qual o MPT pode "atuar como árbitro, se assim for solicitado pelas partes, nos dissídios de competência da Justiça do Trabalho". Pertinente a lição de Wagner D. Giglio, para quem a submissão do conflito coletivo à solução arbitrai pode resultar de previsão em norma jurídica, caso em que se diz obrigatória. Se não houver previsão, a arbitragem será facultativa. Se decorrer de regra ajustada entre os contendores, a arbitragem será contratual; se resultar de norma prevista em lei, será legal. Se o árbitro ou árbitros forem escolhidos entre os opositores, teremos a arbitragem particular; se for fornecido pelo Estado, a arbitragem será oficiar). No Brasil, a solução jurisdicional dos conflitos coletivos de trabalho entre categorias profissionais e econômicas é feita por meio do dissídio coletivo. Solução dos conflitos coletivos: conciliação, mediação, arbitragem, resolução oficial e outros meios. Revista LTr, v. 64, n. 3, p. 307 et seq, mar. 2000, Ibidem, p. 308.

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1 1 7 0

A R L O S H E N R I Q U E B E Z E R R A L E I T E

U R S O D E D I R E I T O P R O C E S S U A L D O T R A B A L H O17 1

decenal, que era aquela adquirida pelo empregado após mais de dez anos de serviçona mesma empresa. Em caso de estabilidade provisória do cipeiro, asseguradapelo art. 10, II , b, do ÁDCT d a CF, o dispositivo constitucional é de meridiana clarezaao vedar a dispensa do empregado, nessas condições, se inexistente justa causa.Na mesma linha, o art. 165 da CLT assevera que, ocorrendo a despedida do titularda representação dos empregados na CIPA, caberá ao empregador, se acionado naJustiça do Trabalho, comprovar a existência da justa causa. Não preveem, como seinfere, a necessidade de instauração de inquérito judicial para apuração da falta.Ademais, o Regional, que é soberano na apreciação do material fático-probatório

dos autos, entendeu caracterizada a justa causa, por incontinência de conduta, mauprocedimento e embriaguez em serviço do Reclamante. Nesse compasso, não temaplicação ao caso o art. 494 da CLT, ante o que dispõem os arts. 165 da CLT e 1 0, II,b, do ADCT da Carta Magna" (TST — RR 556.215/1999.8 — 4 á T. — Rel. Min. IvesGandra Martins Filho — DJU 12.5.2000).

"REINTEGRAÇÃO. ART. 495, CLT. Na sentença que determina a reintegração doempregado, já está implícita a obrigação do empregador de pagar os saláriosdecorrentes do período de suspensão, inteligência do art. 495 da CLT. DECISÃOTRANSITADA EM JULGADO . Da decisão sob a qual se operou o trânsito em julgadonão comporta mais discussões, tendo em vista a necessidade de se manter aestabilidade nas relações jurídicas, inclusive, com observância obrigatória aosprincípios da segurança e certeza jurídicas" (TRT 10 R. — AP 00074.1997.001.14.00-8 — Rel. Juiz Mário Sérgio Lapunka — DO 1 9.04.2006).

3. DISSÍDIO COLETIVO

3.1. Formas de Solução dos Conflitos Coletivos

As formas de solução dos conflitos coletivos podem ser:autocompositivas, como os acordos coletivos, as convenções coletivas e a

mediação;

heterocompositivas, como a arbitragem e a jurisdição.

A greve, citada por alguns como forma de solução dos conflitos coletivos,constitui, para nós, um meio de autodefesa ou um instrumento de pressãoeconômica e política conferido aos trabalhadores socialmente organizadosque possibilitará a solução do co nflito. Vale dizer, não é a greve em si quesoluciona o conflito, pois a greve possui natureza instrumental, mas sim asnormas autocompositivas ou heterocompositivas que certamente dela — greve— surgirão.

Nas formas autocompositivas, as normas coletivas que irão solucionaro conflito são criadas pelos próprios atores sociais interessados, como noscasos de convenção ou acordo coletivo, ou com o auxílio de um terceiro cujatarefa é apenas aconselhar as partes para a solução do impasse.

As formas autocompositivas são, portanto, extrajudiciais e decorrem danegociação coletiva e do princípio da autonom ia privada coletiva.

Como bem observa Wagner D. Giglio,

o resultado da autocomposição dos conflitos coletivos depende da liberdadeda negociação, e essa liberdade requer igualdade de situação, que já nãoexiste mais. A pressão exercida pelas condições da economia atual, dedesemprego generalizado, sem perspectiva de melhora, torna ineficazes asformas tradicionais de composição dos conflitos: a negociação direta, a

mediação e a conciliação delas resultantes. Como consequência das condiçõesatuais, os resultados dessas formas de autocomposição dos conflitos coletivostêm sido bastante desfavoráveis aos trabalhadores: na melhor das hipóteses,são mantidos os direitos anteriores e garantidos, temporariamente, osempregos; na pior, reduzem-se benefícios, negociam-se rescisões contratuais egeneraliza-se a insatisfação, que vai eclodir nas etapas seguintes denegociação(5).

Já as formas heterocompositivas podem ser extrajudiciais, como aarbitragem, que é largamente utilizada nos Estados Unidos e em quase todosos países da Europa ocidental, ou judiciais, como é o caso do Brasil.

A arbitragem co nsiste em atribuir a solução do conflito à decisão de umterceiro, pessoa ou grupo de pessoas físicas, entidade administrativa ou órgão

judicial.Nos domínios do direito processual do trabalho brasileiro, a arbitragem é

prevista expressamente como meio alternativo à solução dos conflitos coletivosde trabalho, como se infere do art. 114, §§ 1 2 e 2 Q , da CF.

Há, por outro lado, previsão no art. 83, XI, da Lei Complementar n. 7 5/93,segundo o qual o MPT pode "atuar como árbitro, se assim for solicitado pelaspartes, nos dissídios de competência da Justiça do Trabalho".

Pertinente a lição de Wagner D. Giglio, para quem

a submissão do conflito coletivo à solução arbitrai pode resultar de previsão em

norma jurídica, caso em que se diz obrigatória. Se não houver previsão, a arbitragemserá facultativa. Se decorrer de regra ajustada entre os contendores, a

arbitragem será contratual; se resultar de norma prevista em lei, será legal. Seo árbitro ou árbitros forem escolhidos entre os opositores, teremos a arbitragem

particular; se for fornecido pelo E stado, a arbitragem será oficiar).

No Brasil, a solução jurisdicional dos conflitos coletivos de trabalho entrecategorias profissionais e econômicas é fe ita por meio do dissídio coletivo.

Solução dos conflitos coletivos: conciliação, mediação, arbitragem, resolução oficial eoutros meios. Revista LTr, v. 64, n. 3, p. 307 et seq, mar. 2000,

Ibidem, p. 308.

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1172ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEURSO DE D IREITO PROCESSUAL DO TRABALHO173

3.2. C o n ce i to

Dissíd io co le t i vo ; segundo Amaur i Masc aro Nascimen to ,é um processo destinado à solução de conflitos coletivos de trabalho, por meiode pronunciamentos normativos constitutivos de novas condições de trabalho,equivalentes a uma regulamentação para os grupos conflitantes. Assim,dissídios coletivos são relações jurídicas formais, geralmente da competênciaoriginária dos Tribunais, destinadas à elaboração de normas gerais. Confia-se, assim, à jurisdição, a função de criar direito novo, como meio para resolver

as controvérsias dos gruposm.Para V alent in Carr ion,

os dissídios, como os denomina a CLT, na acepção de "processo", ou seja, omeio de exercer uma ação para compor a lide, podem ser individuais oucoletivos. Aqueles têm por objeto direitos individuais subjetivos, de umempregado (dissídio individual singular) ou vários (dissídio individual plúrimo).O dissídio coletivo visa direitos coletivos, ou seja, contém as pretensões de um

grupo, coletividade ou categoria profissional de trabalhadores, sem distinçãodos membros que a compõem, de forma genérica(8).

É p rec i s o , no en t an t o , ana l i s a r o d i s s í d io c o l e t i v o não com o p r ocessoem s i , mas , ao r e vés , como ação , p o is é e s ta que i n s tau r a o p r o cesso .

Além d isso, urge co ncei tuar o d iss íd io co le t ivo sob a perspec t i va da novao r d e m c o n s t i t u c i o n a l b r a s i l e i r a , i n a u g u r a d a a p a r t i r d a C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l d e 1 9 8 8 .

Pa r a nós , p o r t a n to , o d i ss íd i o co l e ti vo é um a e spéc i e de a ção co l e t i vacon f e r id a a de te rm inados en te s c o l e t ivo s , g e r a lmen te o s s i n d i ca to s , p a r a ad e f e s a d e i n t e r e s s e s c u j o s t it u la r e s m a t e r ia i s n ã o s ã o p e s s o a s i n d iv id u a l m e n t econs i de r adas , mas s im g r upos ou ca tego r i a s e conôm i cas , p r o fi s s i o na is oud i fe renc iadas, v isando à cr iação ou in te rp re tação de norm as que i rão inc id i rno âmbi to dessas mesm as ca tegor ias(9 ).

Quando menc i onamos de te rm inados en te s co l e ti vo s , d e vemos l emb r a rq u e n o o r d e n a m e n t o j u rí d ic o b r a s i le i ro n ã o a p e n a s o s s i n d ic a t o s s ã o l e g i t i m a d o spara o d iss íd io co le t ivo , como também o Min is té r io Púb l i co do Traba lho , nosc a s o s d e g r e v e q u e a t i n ja m i n te r e s s e p ú b l ic o , o u a p r ó p r ia e m p r e s a , n a h i p ó t e s ede malogro de ce leb ração de aco rdo co le t ivo ou de greve.

3.3. Classi f icação

Os d issíd ios co le t i vos podem s er c lass i f icados em : d iss íd io co le t ivo dena tu reza econôm ica , ju r íd ica ou mis ta .

Curso de direito processual do trabalho, p. 377.Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, ed. em CD-ROM, 1 999, comentário

ao art. 856, verbete 1.(9) A definição de categoria econômica, profissional ou diferenciada está prevista no art.511, §§ 1 9 , 2 9 e 3 9 , da CLT.

Há ou t r a c l ass if i cação , que é p ropos t a po r José Augu s t o Rodr i guesP i n t o 1 1 0 1 , segundo a q ua l o d i ss íd io co l e t i vo pode se r pr imár io (de in te resse) ,que ge r a a sen tença no rma t i va . Esse d i ss íd io co l e t i vo de i n t e r e sse , p o r suavez, pode dar lugar a t rês out ros d iss íd ios co le ti vos , secundários ou der ivados,v isando a esten der - lhe os e fe i tos (d iss íd io co le t i vo de ex tensão ) , rev isa r - lheas cond ições (d iss íd io co le t i vo de rev isão) ou in te rp re ta r - lhe os d ispos i t i vos(d i ss íd io co le t i vo jur íd i co) .

É im po r t a n t e a s s i n a l a r q ue , d e a c o r do c om o a r t . 2 2 0 do R I TST, o s

d issíd ios co le t ivos podem ser :I — de natureza econômica, para a instituição de normas e condições de trabalho;

II — de natureza jurídica, para interpretação de cláusulas de sentenças normativas, deinstrumentos de negociação coletiva, acordos e convenções coletivas, de disposiçõeslegais particulares de categoria profissional ou econômica e de atos normativos;

III — originários, quando inexistentes ou em vigor normas e condições especiais detrabalho decretadas em sentença normativa;

IV — de revisão, quando destinados a reavaliar normas e condições coletivas detrabalho preexistentes que se hajam tornado injustas ou ineficazes pela modificaçãodas circunstâncias que as ditaram; e

V — de declaração sobre a paralisação do trabalho decorrente de greve. (grifo nosso)

3.3.1. Dissíd io Colet ivo de Natureza Econôm ica

Trata-se de ação constitutiva, pois v i sa à pro lação de sentença no rmat i vaque cr ia rá novas normas ou con d ições de t raba lho que i rão v igo ra r no âmbi todas re lações emprega t íc ias ind iv idua is (CF, a r t . 114 , § 22) .

Os dissídios coletivos de natureza econômica podem sersubc l a ss i fi cados em :

originário ou inaugural — quando não há norma coletiva anterior (CLT, art. 867, par.único, a);

revisional — objetiva à revisão de norma coletiva anterior (CLT, arts. 873 a 875);

de extensão — visa a estender a toda categoria as normas ou condições quetiveram como destinatários apenas parte dela (CLT, arts. 868 a 871).

3.3.2. Dissíd io Colet ivo d e Na tureza Ju ríd icaO d i s s í d i o c o l e t i v o d e n a t u r e z a j u r í d i c a é, n a v e r d a d e , u m a a ç ã o

declaratória, cu jo ob je to res ide apenas na in te rp re tação de normas co le t i vasp r eex is t e n te s que v i g o r am no âmb i t o de uma dada ca tego r i a .

Não é cab íve l quando se pretende in terpretar norma lega l de cará ter gera lpara toda a c lass e t raba lhado ra (TST/SDC, OJ n . 7 ) .

(10) Processo trabalhista de conhecimento. 5. ed., p. 479.

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1174ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE

3.3.3. Dissídio Coletivo de Natureza Mista

O d issíd io co le t i vo de g reve (Le i n . 7 .783/89 , a r t . 8 9 ) pode te r na tu rezame r am en t e de c l a r a tó r i a , s e s eu o b j e t o r e s id i r a penas na de c l a r a ção deabusiv idade ou não do movim en to pared is ta .

Se, t odav ia , o tr i b una l j u l ga r p roced en t es os ped ido s ve r sados na sc láusu las constan tes da pau ta de re iv ind icações, o d iss íd io co le t i vo de g revet e r á n a t u r e z a m i s t a , p o i s , a u m s ó t e m p o , a s e n t e n ç a n o r m a t i v ac o r r e s p o n d e n t e d e c l a r a r á a a b u s i v id a d e ( o u n ã o ) d o m o v im e n t o d e p a r a l is a ç ã oconcer tada do t raba lho e cons t i tu i rá novas re lações co le t i vas de t raba lho (CF,ar t . 114, § 3 2 ; Lei n. 7.783/89, art . 89.

S o b r e d i s s íd i o c o l e ti vo d e g r e v e , c o le c i o n a m o s a s p r in c i p a i s O J s d a S D C /TST:

OJ 10 — GREVE ABUSIVA NÃO G ERA EFEITOS. É incompatível com a declaração deabusividade de movimento grevista o estabelecimento de quaisquer vantagens ougarantias a seus partícipes, que assumiram os riscos inerentes à utilização doinstrumento de pressão máximo.

OJ 11 — GREVE. IMPRESCINDIBILIDADE DE TENTATIVA DIRETA E PACÍFICA DASOLUÇÃO DO CONFLITO. ETAPA NEGOC IAL PRÉVIA. É abusiva a greve levada aefeito sem que as partes hajam tentado, direta e pacificamente, solucionar o conflito

que lhe constitui o objeto.OJ 38 — GREVE. SERVIÇOS ESSENCIAIS. GARANTIA DAS NECESSIDADESINADIÁVEIS DA POPULAÇÃO USUÁRIA. FATOR DETERMINANTE DA Q UALIFICAÇÃOJURÍDICA DO MOVIMENTO. É abusiva a greve que se realiza em setores que a leidefine como sendo essenciais à comunidade, se não é assegurado o atendimentobásico das necessidades inadiáveis dos usuários do serviço, na forma prevista na

Lei n. 7.783/89.

3. 4 . Poder Normat ivo

No âmb i to do d i re i to labora i pá t r io , sabe -se que o t rad ic iona l s is temaprocessua l co le t i vo do t raba lho receb eu fo r te in fluênc ia da Carta del Lavoro,ap resen t ando -se , po r i s so mesm o , u l tr apassado e i n capaz d e so l uc i ona r

sa t is f a to r i amen te o s novos e cada vez ma i s com p le xos conflitos trabalhistasde massa.

E n t re o s i n ú m e r o s f u n d a m e n t o s q u e e m p o l g a m e s sa a f i rm a ç ã o ,podem os des t aca r a op in i ão co r r en t e de que a f unção anôma la do Pode rNo rma t iv o da Jus t iça do T raba lho , c omo c r i ado r de no rmas h e t e r ônomasgera is e abst ra tas ap l i cáve is às ca tegor ias p ro fi ss iona is e econôm icas e queproduz i rão e fe i tos nas re lações ind iv idua is de t raba lho , in ibe ou d esencora jaa dese jáve l so lução democ rát i ca da au tocom posição dos con f l i tos co le t i vosado tada em quase t o das a s dem oc r a c ia s con tempo r âneas .

CURSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO175

O Poder Normat ivo da Just iça do Traba lho encon t ra fundam ento no § 29do a r t . 114 da CF, c om nova r edação dada pe l a EC n . 45 / 2004 , s egundo oq u a l :

Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultadoàs mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica,podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimaslegais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

Há entendimentos de que o precept i vo cons t i tuc iona l em causa ins t i tu iu a

arb i t ragem o f ic ia l no Bras i l, ex t ingu indo , ass im, o Poder Norma t ivo da Just içado T raba lho . De nossa pa r t e , pensamos qu e a sen t ença no rm a t i v a , que éreco r r íve l , não se equ ipa ra à se n tença a rb i t ra i ( i r r eco r r íve l ) , razão pe la qua lnão nos pa r ece que a EC n . 45 / 2004 t e r ia p r os c r i to o P ode r No rma t i v o . Aex i g ênc i a do " comum aco r do " pa r a a i n s tau r a ção dos d i ss íd i o s co l e t ivo s dena tu r e za e conôm i ca r e s t r i n ge , sem dúv i da , a v i a de a cess o ao e xe r c í c i o dopode r no rm a t i v o , mas não f o i i n t enção do con s t it u i n te de r i v ado a ex t i n çãodesse pode r anôma lo con fe r ido à Just iça do Traba lho .

3 . 5. P r e s s u po s t o s d e C a b i me n t o

Já v imos em out ra par te des te l i v ro que a le i p roces sua l c iv i l b ras i le i ra

es t abe l ece como um a das causas de ex t i n ção do p r ocesso sem r eso l uçãodo m é r it o a ausê nc i a de p r e ssupos to s de cons t i t u iç ão e de desenvo l v imen tová l ido e regu la r do p roces so (CPC, a r t . 267, IV ) .

Nos domín ios do d i re i to p rocessu a l do t raba lho , emb ora omissa a CLT,podem os d i ze r que t ambém o p r ocesso a t i nen t e ao d i s s íd i o c o l e t iv o devesa t i s fa ze r de te rm inados p r e ssupos to s p r o cessua i s .

Os p r e ssupos to s p r o cessua i s em sede de d i ss íd i o co l e ti vo podem s e r :• Subjetivos:

Competênc ia — a competência para apreciar dissídios coletivos é dos Tribunaisdo Trabalho, ou seja, as Varas do Trabalho são incompetentes para essa espéciede demanda coletiva. O dissídio coletivo é, portanto, de competência funcionaloriginária dos tribunais trabalhistas, segundo o â mbito territorial do respectivo dissídio

coletivo. Trata-se, portanto, de cumulação de competência funcional e territorial. Porexemplo, se o dissídio for circunscrito à base territorial de TRT (CLT, art. 678, I, a, eLei n. 7.701/88, art. 69, será este o competente funcional e territorialmente paraapreciar e julgar a ação dissidial; se ultrapassar tal base, tal competência será doTST (CLT, art. 702, I , b, e Lei n. 7 .701/88, art. 2 4 , I, a) ;

capacidade processual — no dissídio coletivo quem postula em juízo não é a categoriadiretamente (o conjunto dos empregados), mas o sindicato que a representa (CF,arts. 8 ® , III, e 114, § 2 9 ; CLT, art. 857), sendo certo que a nova redação dada pela ECn. 45/2004 ao § 2 2 do art. 114 da CF estabelece que as partes, ou seja, sindicatos ouempresas, poderão, de comum acordo, ajuizar o dissídio coletivo de naturezaeconômica.

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1176ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEURSO DE D IREITO PROCESSUAL DO TRABALHO177

• Objet ivos:

Negoc iação cole t iva prév ia — alguns autores referem a frustração da negociaçãocoletiva (CF, art. 114, §§,1 2 e 2 2 ) como pressuposto processual objetivo("). De nossaparte, isso não é pressuposto processual, e sim condição da ação, ou seja, aausência de negociação coletiva prévia implica falta de interesse de agir do suscitante,na medida em que o bem da vida reivindicado no dissídio coletivo poderia seralcançado, previamente, sem a necessidade de intervenção do Poder Judiciário, isto é ,

mediante autocomposição das partes. De toda sorte, a não comprovação doexaurimento das tentativas de negociação coletiva desaguará na extinção do processo

sem resolução do mérito;inex is tênc ia de norma co le t iva em vigor — tanto as convenções coletivas e os

acordos coletivos quanto a sentença normativa têm vigência temporária (CLT, arts.

614, § 3 2 , 867 e 873), impedindo o ajuizamento de novo dissídio coletivo duranteesse período, salvo na hipótese de greve, tal como previsto no art. 14, parágrafoúnico, da Lei n. 7.783/89;

observânc ia da época própr ia para a ju izamento — não há prazo prescricional parao ajuizamento do dissídio coletivo, tendo em vista que nele não se postulam créditosprevistos em normas preexistentes, ou seja, não se buscam na ação dissidial coletiva

direitos subjetivos, mas, tão somente, a criação de normas gerais e abstratas (direitoobjetivo) que irão reger as relações — individuais e coletivas — de trabalho dascategorias representadas na ação. Todavia, a CLT estabelece algumas regras parao ajuizamento do dissídio coletivo apenas no que concerne à eficácia no tempo dasentença normativa (art. 867, a e b) . Dito de outro modo, se ultrapassados os prazos

previstos nas alíneas a e b do art. 867 da CLT, "a categoria ficará exposta ao vazionormativo temporário, na medida em que a sentença normativa prolatada não poderá

retroagir à data-base da categoria (CLT, art. 867, parágrafo único, b), mas entrará emvigor apenas a partir de sua publicação (CLT, art. 867, parágrafo único, a) . Paraestimular a continuidade da negociação coletiva e, ao mesmo tempo, preservara data-base da categoria, caso seja finalmente frustrada a negociação, criou o TST afigura do protesto judicial (IN n. 4/93, item 11 ) 1 1 2 ), proposto pelo sindicato, de formaa postergar por mais de 30 dias o ajuizamento do dissídio, sem perda da data-base"'131;

pet ição inicial (representação) apta — a petição inicial do dissídio coletivo, além de serobrigatoriamente e scrita, deve conter os requisitos enumerados no item 3.5.1 infra;

e) "comum acordo" ent re as par tes — tendo em vista a nova redação dada pela EC n.

45/2004 ao § 2 2 do art. 114 da CF, foi criado — para uns, um novo pressupostoprocessual, para outros, uma nova condição da ação — para o cabimento do dissídio

coletivo de natureza econômica: as partes deverão estar "de comum acordo" para o

ajuizamento da demanda.

N o t o c a n t e a o m ú t u o c o n s e n t i m e n t o , s e u m a d a s p a r t e s n ã o c o n c o r d a rc om a p r o p o s i t u r a d o DC de n a t u r e z a e c o nô m i c a , a J u s t i ç a d o T ra b a l h o d e v e r áe x t i n g u i r o p r o c e s s o , s e m r e s o l u ç ã o d o m é r i to .

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Pressupostos do cabimento do dissídio coletivaRevista Síntese Trabalhista, Porto Alegre, n. 70, p. 8-11, abr. 1995.

A IN n. 4/93 foi revogada pela Resolução n. 116/2003 do TST.(13) M ARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva, op. ci t . , p. 9.

Há, porém, cizânia doutrinária e jurisprudencial acerca da constitucio-nalidade do novel § 2 2 do art. 114 da CF, introduzido pela EC n. 45/2004,p o i s h á e n t e n d i m e n t o d e q u e e s s a r e g r a f e r e o p r in c í p i o d a i n a f a s t a b i l id a d ed o a c e s s o à j u s t iç a ( C F , a r t . 5 g , X XX V ) , m a s t a m b é m h á q u e m e n t e n d a q u eo dissídio coletivo de natureza econômica implica criação de direito novo

(interesse para instituição de novas normas de trabalho), e não lesão a

direito subjetivo preexistente, ou seja, o princípio constitucional não seriav i o l a d o p o r q u e n ã o s e t r a t a d e h i p ó t e s e d e l e sã o ou a m e a ça a d i r e it o su b j e -

tivo, e sim de interesse da categoria na criação de direito novo. Co m apalavra o Supremo Tribunal Federal. Voltaremos a examinar a questão nae p í g r a f e 3 . 5 . 1 . 1 , le t r a g, in f ra .

3.5.1. Requ isi tos da Pet ição In ic ia l

A p e t iç ã o i n i c ia l d o d i s s í d i o c o l e ti v o , ta m b é m c h a m a d a d e " r e p r e s e n t a ç ã o "ou "instauração da instância" na linguagem do texto consolidado, deve sero b r i g a t o r i a m e n t e e s c r i ta , s e g u n d o d i s p õ e o a r t . 8 5 6 d a C L T , e d e v e s a t i s f a z e rà s e x i g ê n c i a s c o m u n s a t o d a s a s p e t i ç õ e s i n i c ia i s ( C P C , a r t . 28 2 ) , b e m c o m oa o s r e q u i s it o s o b j e t i v o s e s u b j e t iv o s .

3.5 .1 .1. R equ is i tos Ob je t i vos

H á d e t e r m i n a d o s d o c u m e n t o s q u e s ã o i m p r e s c i n d ív e i s a o a j u i z a m e n t odo DC, pois por meio deles será possível verificar o preenchimento das

condições da ação e dos pressupostos processuais. São documentos

e s s e n c i a i s à p r o p o s i tu r a d a a ç ã o d i s s id i a l c o l e t iv a :ed i ta l — edital de convocação da assembleia geral da categoria;

ata — ata da assembleia geral;

l i s tagem — lista de presença da assembleia geral;

registros da frustração da negociação colet iva — correspondência, registros e atasreferentes à negociação coletiva tentada ou realizada diretamente ou mediante a

intermediação do órgão competente do Ministério do Trabalho;

norma an te r ior — norma coletiva anterior (acordo coletivo, convenção coletiva ousentença normativa), se for o caso, isto é, se o dissídio é revisional;

ins t rumento de mandato — procuração passada pelo presidente do suscitante aoadvogado subscritor da representação;

g) mút u o c on s e n t i me n t o — comprovação da concordância entre as partes para oajuizamento do dissídio coletivo de natureza econôm ica. Este novo requisito foi criadopela EC n. 45/2004, que deu nova redação ao § 2 2 do ar t . 114 da CF (vide item 3.6.2.1,in fra).

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1178ARLOS HENRIQUE BEZERRA L E I T E

3.5.1.2. Requisitos•Subjetivos

Os requisitos subjetivos dizem respeito à forma pela qual deve serarticulada a pretensão do suscitante (CLT, arts. 857 e 858), a saber:

Designação da autoridade com petente

A autoridade competente para o endereçamento da petição inicial nodissídio coletivo é sempre o Presidente do TRT ou do TST, conforme aextensão da base territorial da categoria profissional representada pelaentidade sindical correspondente, como, por exemplo, os dissídios instauradosem face do Banco do Brasil ou da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos,a competência originária é do TST, sendo a petição inicial dirigida ao seuMinistro Presidente, enquanto aqueles dissídios instaurados em face doBANESTES-Banco do Estado do Espírito Santo são dirigidos ao Presidente

do TRT da 17 a Região/ES;

Qualificação dos suscitantes e suscitados

Deve-se indicar a delimitação territorial de representação das entidadessindicais, as categorias profissionais e econômicas envolvidas no dissídio

coletivo e, ainda, o quorum estatutário para deliberação da assembleia;

Bases da conciliaçãoA petição inicial deverá conter a proposta das cláusulas que o sindicato

deseja ver instituídas. Trata-se, pois, da pauta de reivindicação da categoriaprofissional representada pelo sindicato que deve ser reproduzida na petição

inicial;

Fundamentos da demanda

Nos termos do art. 12 da Lei n. 10.192/2001:

No ajuizamento do dissídio coletivo, as partes deverão apresentar, fundamentadamente,suas propostas finais, que serão objeto de conciliação ou deliberação do Tribunal, na

sentença normativa.

Assim, a petição inicial do dissídio coletivo deverá conter os motivos d ó

dissídio e as bases de conciliação. Vale dizer, a inicial deve indicar os motivosque justificam as cláusulas constantes da pauta de reivindicações da categoriaprofissional. São as razões fáticas (econômicas e sociais) que empolgarãoinstituição ou alteração das condições legais e convencionais mínimas vigenteóno âmbito da categoria, como, por exemplo, reajuste salarial, adicional de

produtividade, adicional de horas extras (cláusulas econômicas), concessãode licença para fins de aperfeiçoamento, ampliação da licença à gestante(cláusulas sociais). A fundamentação específica de cada cláusula passa a

ser um requisito essencial à petição inicial do dissídio coletivo.

CURSO DE D IREITO PROCESSUAL DO TR A B A L H O179

Segundo o Precedente Normativo n. 37 do TST, as cláusulas (pedidos)não fundamentadas devidamente são indeferidas de plano sem resolução domérito. No mesmo sentido é a OJ n. 32 da SDC/TST. Disso resulta que asentença normativa também deverá ser fundamentada, sob pena de nulidade,como, aliás, dispõe o art. 93, IX, da CF.

3.6. Condições da Ação Coletiva St r ic to Sen s u

Por ser o dissídio coletivo uma ação, o seu exercício encontra-secondicionado à satisfação de todos os requisitos exigidos para as demaisações civis, como a possibilidade jurídica do pedido, a legitimação ad causame o interesse processual, já estudados.

A ausência de quaisquer dessas condições implica extinção do processosem resolução do mérito, a teor do art. 267, VI, do CPC, aplicável subsidiaria-mente ao processo do trabalho, por força do art. 769 da CLT.

As partes no dissídio coletivo são: no polo ativo, suscitante; no passivo,suscitado.

3.6.1. Leg i t imação Ad C ausam

Vaticina o art. 856 da CLT que a "instância será instaurada medianterepresentação escrita ao presidente do Tribunal. Poderá ser tambéminstaurada por iniciativa do presidente, ou, ainda, a requ erimento daProcuradoria da Justiça do Trabalho, sempre que ocorrer suspensão dotrabalho". No artigo seguinte, declara que a "representação para instaurar ainstância em dissídio coletivo constitui prerrogativa das associações sindicais,excluídas as hipóteses aludidas no art. 856, quando ocorrer suspensão dotrabalho".

O art. 114, § 2 2 , da CF/88, com nova redação dada pela EC n. 45/2004,dispõe que, se as partes do conflito coletivo se recusarem à negociaçãocoletiva ou à arbitragem, "é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar

dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidiro conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho,bem como as convencionadas anteriormente".

A conjugação das normas acima transcritas permite-nos dizer que sãopartes legítimas ad causam nos dissídios coletivos, de um lado,

obrigatoriamente, o sindicato da categoria profissional, que geralmente atuano polo ativo da demanda, e, do outro lado, o sindicato da categoria econômicaou empresa(s) isoladamente considerada(s).

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1180ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE

Quando os su je i tos da l i de co le t i va são os s ind icatos , es tamos d iante deum con f l it o i n te r ca t ego r ia l , na med ida e m q ue envo l v e dua s ca t ego r i a s —econôm ica e p ro f i ss iona l — d is t in tas. Esse d issíd io co le t i vo decor re de um aconvenção co le t i va f rust rada .

De ou t r o g i r o , quand o os su je i t os da l ide são o s i nd i ca t o da ca t ego -r i a p ro f i s s io n a l e u m a o u m a i s e m p r e sa s i s o l a d a m e n t e c o n s i d e r a d a s( n ão r ep r e s en t adas pe l o s i n d i c a t o d a c a t e go r i a e c on ô m i c a ) , o d i s s í d ioco le t i vo é de âmb i t o ma is re s t r i to , já que e le oco r re d i r e t ame n te en t re

um g r upo de t r a b a l h ado r e s de de t e r m i nada emp r e s a , d e v i d ame n t e r e -p resen t ada pe lo s i nd i ca t o da ca t ego r i a p ro f i s s iona l co r r esponden t e , e or e s pec t iv o em p r egado r . Nes s e c a s o , o d i s s í d i o c o l e t iv o d e c o r r e d e umacordo c o le t ivo f r us t r ado .

O a r t . 856 da CLT facu l t a , a i nda , aos P res iden t es d os T r i buna i s doTraba lho a in ic ia t i va da " instau ração da instânc ia " , i s to é, a leg i t imação parao a ju izamento do d issíd io co le t i vo . Parece-nos, con tudo , que essa norm a, notocan te à leg i t imação con fe r ida ao P res iden te do Tr ibuna l do Traba lho , nãofo i recepc ionada pe lo ar t . 114, § 2 2 , d a Cons t it u i ção Fed e r a l , que som en tef a c u l ta à s p a r t e s , d e c omu m ac o r do , a l e g i timação ad causam da açãoco le t i va em estudo .

O MPT também pode a ju izar d i ss íd io co le t ivo de greve pe rante a Jus t i ça

do Trabalho , nos term os do ar t. 83, VII I, da LC n. 75/93:Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes

atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho:

(omissis) VIII — instaurar instância em caso de greve, quando a defesa da ordem.

jurídica ou o interesse público assim o exigir.

Essa norma, a noss o ver , não co l id ia com a redação o r ig ina l do ar t . 114,§ 2 9 , d a C F , u m a v e z q u e o M P T , q u a n d o a j u i z a v a o d i s s íd i o c o le t iv o d e g r e v e ,não es tava defendendo in teresses categor ia i s , e s im in teresses púb l i cos . D ito ,de ou t r o modo , a l e g it imação do Parquet Labora i já encon t rava fundam entono ar t . 127, ca pu t , da CF, que lhe con fe r ia poderes para de fender a o rdemju r íd ica e os in te resses soc ia is e ind iv idua is ind ispon íve is , como o d i re i to àv ida , à segurança , à saúde . Por essa razão , pensávamos q ue o MP T esta ria ,autor i zado a a ju izar d i ss íd io co le ti vo em caso de greve qu e co locar ia em r i s00.im inente a v ida, a saúde ou a se gurança das pe ssoas d i re ta ou ind i re tamente,a t ing idas pe lo movimen to de para l isação .

Com o adve n to da EC n . 45 /2004 , que deu nova redação ao § 3 2 d o a r t .114 da CF, fo i reconhec ida expressam ente a leg i t imação do M in is té r io Púb l i cddo T raba lho pa r a a j u i za r d i s s í d io c o l e t i v o "em caso de g r eve em a t i v idadeessenc ia l , com poss ib i l idade de l esão d o i n t e resse púb l i co " . Pen sam os , .po r ém , que não apenas nas g r e ves em a t iv i d ades e ssenc i a is , mas t amb ém

CURSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO181

nas dem ais greves , o M in is té r io Púb l i co do Trabalho es tará sem pre leg i t imad opara a ju iza r d iss íd io co le ti vo em d e fesa dos in te resses s oc ia is ou ind iv idua isind ispon íve is , como já f r i sado no parágra fo an te r io r .

Nos d issíd ios co le t ivos de g reve , o na tu ra l leg i t imad o a t i vo da deman daé o s i n d i c a t o r ep r e s en ta t iv o da c a t e go r ia e c on ô m i c a ou a ( s ) emp r e s a ( s )i so ladame nte cons ide rada(s) e a t ing ida (s) pe lo movime n to pared is ta .

O TST não v inha adm i ti ndo o d i s s í d i o de g reve a ju i zado pe lo p róp r i o

s ind icato da categor ia prof i ss iona l que def lagrou o m ov imento pared is ta . Nessesen t ido , e ra a OJ n . 12 da SDC que , em b oa hora , fo i cance lada (Reso luçãoTST n . 166 /2010, DEJT d ivu lgado e m 30 .04 .2010 e 03 e 04 .05 .2010) . Logo ,n ã o h á m a i s o ó b i c e d a l e g i t im a ç ã o s i n d i c a l o b r e i r a p a r a a j u i z a r d i s s í d io c o l e t i v od e g r e v e .

Aju izado o d iss íd io de g reve , o a r t . 8 2 da Le i n . 7 .783/89 d ispõe que aJustiça do Trabalho, por iniciativa de qualquer das partes ou do Ministério Públicodo Trabalho, decidirá sobre a procedência, total ou parcial, ou improcedência dasreivindicações, cumprindo ao Tribunal publicar, de imediato, o competente acórdão.

A leg i t imação a t i va para o a ju izam ento do d issíd io co le t i vo de na tu rezaeconôm ica é , c omo já r es sa lt ado , c on f e r ida ao s s i nd i c a t os ( ou s i nd i c a to daca tegor ia p ro f iss iona l e emprega dor ) , consoan te a reg ra estabe lec ida no a r t .

1 1 4 , § 2 2 , d a C F .Embora a lguns au to res sus ten tem que q uando o s ind ica to obre i ro f igu ra

como deman dan t e se r i a o caso de sub s t i t u ição p r ocessua l , pensamos quese t ra ta efe t ivamen te de representação lega l . É que, a nosso ver , a sub s t i tu i çãop rocessua l c once r ne apena s à l eg i timação ad causam con fe r i da a a lgunsen tes co le t i vos (MP T, s ind ica tos, assoc iações e tc . ) pa ra , independen tem entede au to r ização dos subst i tu ídos, de fender in te resses ind iv idua is hom ogêneosPu i n d i vi d ua i s d a c a t e go r i a , segundo a d i c ç ão do a r t . 8- , I II , da CF ) . Na

s u b s t i t u iç ã o p r o c e s s u a l , p o r ta n t o , o s u b s t i tu t o a t u a e m n o m e p r ó p r i o d e f e n d e n d oi n t e r e s s e a l h e i o .

O s ind i ca t o , como su sc i t an t e no d i s s í d i o co le t i vo , a t ua em nome dacategoria,

d e sd e q u e a u t o r i z a d o p o r A sse m b l e i a G e r a l , e na defesa dei n t e re s s e d a c a t e go r ia que r ep r esen t a . Va l e d i ze r , e l e a t ua em no me a l he i o( ca t ego r ia ) na de fesa de in t e ress e a lhe io ( ca t ego r ia ) . Não é o caso des ubs t i tu i ção p r ocessua l , po i s nes t a , a l ém de não se r ex i g i da a au t o r izaçãoa ssem blear , os in teg ran tes da ca tegor ia , ind iv idua lmen te cons ide rados, nãotêm leg i t imaçã o a d ca u sa m para a ju iza rem a ação d iss id ia l co le t i va .

N o ca so d e d i s s íd i o c o l e ti v o e m f a ce d e e m p r e sa , o u s e j a , a q u e ledecor ren te de m a logro na ce lebração de acordo co le t i vo de t raba lho , a SDC/TST editou a OJ 19, in verbis :

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1182ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE

DISSÍDIO COLETIVO CONTRA EMPRESA. LEGITIMAÇÃO DA ENTIDADE SINDICALAUTORIZAÇÃO DOS TRABALHADORES DIRETAMENTE ENVOLVIDOS NO CONFLITO(DEJT divulgado em 16, 17 e 18.11.2010). A legitimidade da entidade sindical para ainstauração da instância contra determinada empresa está condicionada à préviaautorização dos trabalhadores da suscitada diretamente envolvidos no conflito.

Quando não houver sindicato representativo da categoria econômica ouprofissional, poderá o dissídio coletivo ser ajuizado pelas federaç õescorrespondentes e, na falta destas, pelas confederações respectivas, noâmbito de sua representação (CLT, art. 857, parágrafo único).

3.6.2. Interesse Processual

Quanto ao interesse processual, a própria Constituição condiciona oajuizamento da ação de dissídio coletivo ao prévio ex aurimento da negociaçãocoletiva ou impossibilidade de recurso das partes à arbitragem (CF, art. 114,§ 2 2 ), o que nem sempre é fácil implementar, seja pelo aspecto cultural doempresariado brasileiro e dos próprios sindicalistas, se ja pelas exigênciasestabelecidas no ar t. 219 do RITST, segundo o qual somente quando "frustrada,total ou parcialmente, a autocomposição dos interesses coletivos emnegociação promovida diretamente pelos interessados, ou m ediante

intermediação administrativa do Órgão competente do Ministério do Trabalho,poderá ser ajuizada a ação de dissídio coletivo".

De outra parte, o TST havia editado a (já cancelada) JurisprudênciaNormativa n. 1 (DJU 27.4.1993), in verbis:

AUSÊNCIA DE NEGOCIAÇÃO PRÉVIA. EXTINÇÃO DO PROCESSO. Nenhuma açãode dissídio coletivo de natureza econômica será admitida sem antes se esgotaremas medidas relativas à formalização da convenção ou acordo coletivo, nos termosdos arts. 114, 2 9 , da Constituição da República e 616, 4 9 , da CLT, sob pena deindeferimento da representação inicial ou de extinção do processo, ao final, semjulgamento do m érito. O interessado que não conseguir efetivar a negociação coletivadireta com a parte contrária poderá solicitar a mediação do órgão local ou regionaldo Ministério do Trabalho, devendo este obter uma ata do ocorrido. Após amanifestação do suscitado, as partes esclarecerão os pontos em relação aos quais

houve acordo e as matérias lit igiosas.(14)É importante assinalar que a jurisprudência do TST tem sido rigorosa

quanto ao exaurimento da negociação prévia como condição da ação coletiva

stricto sensu. É o que se infere do seguinte julgado:

"DISSÍDIO COLETIVO — AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS DE CONSTITUIÇÃO E DEDESENVOLVIMENTO VÁ LIDO E REGULAR D O PROCESSO. A ausência, nos autos,

(14) Ver também OJ SDC/TST ns. 5, 7 e 8.

C URSO DE D IREITO PROCESSUAL DO T RABALHO183

da listagem do total de trabalhadores da empresa SABESP (motoristas, operadores)que inviabiliza a comprovação do quorum estatuído pelo art. 612 da CLT, bem comoa não comprovação de que tenham as partes, efetivamente, tentado a préviacomposição do conflito, pressuposto indispensável ao ajuizamento da ação(inobservância do art. 114, § 29 , da Constituição da República), acarretam a extinçãodo processo sem julgamento do mérito nos termos do art. 267, IV, do CPC" (TST —RODC 789773 — SDC — Rel. Min. Ronaldo José Lopes Leal — DJU 15.3.2002).

Recentemente, o TST decidiu que o quorum mínimo de um terço dospresentes (CLT, art. 612) prevalece sobre as regras fixadas no estatuto daentidade sindical suscitante. Com base nesse entendimento, a SDC julgou

extinto sem resolução do mérito um dissídio coletivo ajuizado pelo Sindicatodos Empregados no Comércio nas cidades de Guaíba, Eldorado do Sul, Barrado Ribeiro, Charqueadas, São Jerônimo e Arroio dos Ratos (RS). Nessa ação,o sindicato profissional, que declarou contar com 2.600 associados em suabase territorial, pretendia representar os empregados lotados nas seis cidadesgaúchas. Para tanto, realizou uma assembleia em cada uma das localidades,mas nenhuma das reuniões ocorreu em primeira convocação por inexistênciado quorum previsto no estatuto do sindicato — de metade mais um dosassociados. Já em segunda convocação, o sindicato entendeu que o númerode presentes nas reuniões era suficiente para colher assinaturas e passar arepresentar a categoria. O Ministro João Oreste Dalazen considerou que houvedesconformidade no procedimento adotado pelo sindicato com a regra de seupróprio estatuto. Conforme dados do processo, as assembleias em segunda

convocação reuniram 241 comerciários da base de 2.600 associados, totalque não atendia o mínimo previsto na CLT, que no caso seria de 867sindicalizados. O estatuto do sindicato admitia a instalação de assembleia emsegunda convocação com "o número que houvesse" de associados, o queviolava o art. 612 da CLT. O Ministro João Oreste Dalazen afirmou que, se aprevalência fosse do quorum fixado no estatuto, bastaria que apenas umassociado estivesse presente em cada uma das assembleias para que seconsiderasse o sindicato autorizado a negociar por toda a categoria de com erciários."A liberdade sindical, mesmo enquanto uma forma de liberdade coletivaconstitucional, pode sofrer regulação restritiva para que se configure seu legítimoexercício, evitando que preponderem os interesses, nem sempre legítimos, dealgumas lideranças sindicais", afirmou o ministro. Dalazen votou pela extinçãodo processo sem exame do mérito, sendo seguido pela maioria dos ministros.Ficaram vencidos o Ministro Luciano de Castilho e o Relator do processo, JuizLuiz Philippe Vieira de Mello Filho (TST-RODC 731917/01).

O TST vem entendendo que a propositura de dissídio coletivo de naturezaeconômica durante a vigência de convenção ou acordo coletivo implicaausência de interesse processual, como se depreende do seguinte julgado:

"RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO COLETIVA DE NATUREZA ECONÔ MICA. AJUIZAMENTONA VIGÊNCIA DE CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO. FALTA DE INTERESSE DEAGIR. SINDICATO-SUSCITANTE. ILEGITIMIDADE ATIVA A D C A U SA M . AUSÊNCIA DO

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1184ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE

EDITAL DE CONVOCAÇÃO. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.ANÁLISE DE OFÍCIO. Q ajuizamento de ação coletiva de natureza econômica na vigênciade convenção coletiva, regendo as relações de trabalho entre as categorias profissional eeconômica envolvidas, sem que se tenha ressalvado a possibilidade de continuação o ureabertura de negociaçãO durante a vigência do ajuste ou demonstrado a ocorrência defato imprevisto e im previsível posterior à celebração do instrumento coletivo que justificassea alteração das condições pactuadas mediante a intervenção do Poder Judiciário, emperíodo muito anterior à data-base, configura a falta de interesse de agir do Sindicato--Suscitante. Ilegitimidade ativa ad causam que também se verifica, em decorrência daausência do edital de convocação da categoria para a assembleia geral dos trabalhadoresem que se autorizaria o sindicato representante da categoria profissional a ajuizar a ação

coletiva. Orientação Jurisprudencial n. 29 da Seção Especializada em Dissídios Coletivosdeste Tribunal. Extinção do processo sem resolução d e mérito que se decreta, na formado inc. VI do art. 267 do Código de Processo Civil" (TST-RODC-20.148/2005-000-02-00.2,ac. SDC — Rel. Min. Gelson de Azevedo, DJU 10.11.2006).

3 . 6 . 2. 1 . A e x ig ê n c i a d o " C o m u m A c o r d o "

N o q u e t a n g e à p l e o n á s t ic a e x p r e s s ã o " c o m u m a c o r d o " c o n t id a n o § 2 2  d oart. 114 da CF em função da nova redação dada pela EC n. 45/2004, há

d i v e r g ê n c i a d o u t r i n á r ia s o b r e o s e u e n q u a d r a m e n t o j u r íd i c o - p r o c e s s u a l . P a r ãu n s é p r e s s u p o s t o p r o c e s s u a l , e n q u a n t o o u t r o s s u s t e n t a m s e r u m a c o n d i ç ã o ,da a çã o . H á , a in d a , o s q u e s u s t e n t am a i n c o n s t i t u c io n a l i d a d e d a n o v a e x i g ê n c i ai m p o s t a p e l a E C n . 4 5 / 20 0 4 .

Sabe-se que tramitam no STF algumas Ações Diretas de Inconstitu-cionalidade ajuizadas por entidades sindicais de trabalhadores, nas quaissustentam, em linhas gerais, que o § 29 do art. 114 da CF, com redaçãod a d a p e l a E C n . 4 5 / 2 0 0 4 , v i o l a o i n c i s o X X X V d o a r t . 5 9 d a C F , q u e c o n s a -gra o princípio da inafastabilidade do acesso ao Poder Judiciário e asse-

gura o direito de ação. Na ADI n. 3432-4/DF (rel. Min. Cezar Peluso)

Procurador-Geral da República emitiu parecer pela improcedência da de.,manda com os seguintes argumentos:

Ação direta de inconstitucionalidade em face do § 2Q do art. 114 da Constituição, coma redação dada pelo art. 1 2 da Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de2004. O poder normativo da Justiça do Trabalho, por não ser atividadesubstancialmente jurisdicional, não está abrangido pelo âmbito normativo do art. 52,inciso XXXV, da Constituição da República. Assim sendo, sua restrição pode serlevada a efeito por meio de reforma constitucional, sem que seja violada a cláusula'pétrea que estabelece o princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário.

De nossa parte, cremos que o inciso XXXV do art. 59 da CF não se

m o s t r a v io l a d o p e l o n o v e l § 2 9 d o a r t . 1 1 4 d a C F , u m a v e z q u e a g a r a n t i a d o °acesso ao Judiciário ocorre nas hipóteses de l esão ou ameaça a d i re i tosi n d i v i d u a i s , c o l e t i v o s o u d i f u s o s . O i n c i s o X X XV d o a r t . 5 9 d a C F , n a l i n h a d oart. 8' 2 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assegura o amploa c e s s o à p r e s t a ç ã o j u r is d i c io n a l n a h i p ó te s e d e l e s ã o a d i r e it o s f u n d a m e n t a i s ,r e c o n h e c i d o s p e l a C o n s t i t u iç ã o o u p e l a l e i .

CURSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO185

O r a , o d i s s íd i o c o l e t iv o d e n a t u r e z a e c o n ô m i c a n ã o t e m p o r o b j e t o p r o t e g e rdireito preexistente, l e s a d o o u a m e a ç a d o d e l e s ã o . A o r e v é s , p o r m e i o d e l e oq u e s e p r e t e n d e é cr iar di rei to no vo, d e n a t u r e z a a b s t r a t a , p o r m e i o d o p o d e rn o r m a t i v o e s p e c i a l m e n t e a t r ib u í d o à J u s t iç a d o T ra b a l h o , d e s t i n a d o à c a t e g o r i aprofissional representada pela entidade sindical suscitante. Daí a naturezac o n s t i t u t iv a d e s s e t i p o e s p e c i a l d e a ç ã o c o l e t iv a , p o i s c r i a n o v o s d i r e i to s e n t r eo s r e p r e s e n t a n t e s d a s c a t e g o r i a s e c o n ô m i c a e p ro f i s s io n a l .

No mesmo sentido, posiciona-se Enoque Ribeiro dos Santos, ques u s t e n t a o

descabimento da tese da inconstitucionalidade do "comum acordo", porsupostamente afrontar o princípio da Inafastabilidade do Judiciário (art. 5 2 , XXXV, daCF/1988), pelo fato de que, no exercício do poder normativo, os tribunais do trabalhonão aplicam o direito preexistente ao caso concreto, em típica atividade jurisdicional,mas, pelo contrário, agora "podem decidir o conflito" e estabelecer novas condiçõesde trabalho e de remuneração para a categoria, respeitando-se os novos limitesimpostos pelo § 2 2 do art. 114 da CF/1988, quais sejam: as disposições legaismínimas e as convencionadas anteriores, no exercício de função legislativa atípica051.

A n o s s o v e r , a e x i g ê n c i a d o m ú t u o c o n s e n t im e n t o p a r a o a j u i za m e n t o d od i s s í d io c o l e t iv o d e n a t u r e z a e c o n ô m i c a é u m a c o n d i ç ã o d a a ç ã o , p o i s a s u aausência implica ausência de interesse processual, na modalidaden e c e s s i d a d e ( C P C , a r ts . 3 9 e 2 6 7 , V I ) . V a l e d i z e r , s e m o m ú t u o c o n s e n t im e n t od a s p a r t e s n o d i s s íd i o c o l e ti v o d e n a t u r e z a e c o n ô m i c a n ã o h á n e c e s s i d a d e

d e i n t e r v e n ç ã o d o E s t a d o - J u i z p a r a p r e s t a r o s e r v i ç o j u r is d i c io n a l .De ou t r o g i r o , p a r e c e - n o s qu e a e x p r e s s ã o " d e c om um a c o r d o " n ã o s i g n i f i c aque a s p a r t e s d e v e r ã o o b r i g a t o r iam en t e s u b s c r e v e r em c o n j u n t o a p e t i ç ã o i n ic i a ld o d i s s í d io c o l e t iv o . B a s ta q u e u m a d e l a s c o m p r o v e q u e a o u t r a c o n c o r d o uc o m a p r o p o s i t u r a d a d e m a n d a c o l e t i v a . Es s a c o n c o r d â n c i a p o d e r á s e r t á c it ao u e x p r e s s a . Se r á e x p r e s s a q u a n d o h o u v e r u m d o c u m e n t o a s s i n a d o p o r a m b a sa s p a r t e s in t e r e s s a d a s c o n c o r d a n d o c o m a p r o p o s i t u r a d a a ç ã o c o l e t iv a . S e r át á c it a q u a n d o h o u v e r p r o v a d e q u e u m a p a r t e t e n h a c o n v i d a d o a o u t r a p a r a , e md e t e r m i n a d o p r a z o , m a n i fe s t a r s u a c o n c o r d â n c ia o u n ã o c o m o a j u i z a m e n t od a d e m a n d a c o l e t iv a , v a l e n d o o s i lê n c i o c o m o c o n c o r d â n c i a t á c it a .

Também pensamos que a concordância tácita pode ser extraída do

c o m p o r t a m e n t o d o s u s c i t a d o n a a u d i ê n c ia d e c o n c i li a ç ã o o u a o c o n t e s ta r aa ç ã o d e d i s s í d i o c o l e ti v o . Em o u t r o s t e r m o s , s e n a a u d i ê n c i a d e c o n c i l ia ç ã o oréu apresentar contraproposta ou na contestação o réu se manifesta sobreo m é r it o d a p r e t e n s ã o , i m p u g n a n d o a s c l á u s u la s e c o n d i ç õ e s p o s t u la d a s p e l oautor (suscitante), mas silencia-se sobre a inexistência de comum acordo

para a propositura do dissídio coletivo, há de se interpretar que houve, porp a r t e d o r é u , c o n c o r d â n c i a t á c i ta .

(15) SANTOS, Enoque Ribeiro dos. Dissídio coletivo e Emenda Constitucional n. 45/2004.Considerações sobre as teses jurídicas da exigência do "comum acordo". Revista SínteseTraba lh is ta , Porto Alegre: Síntese, n. 199, p. 16, jan. 2006.

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1186ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEURSO DE D IREITO P ROCESSUAL DO T RABALHO18 7

Ass im , sem o m ú tuo consen t imen to , que pode se r e xp r e sso ou tác it o ,p a r a i n s t a u r a r o d i s s íd i o c o l e t i vo d e n a t u r e z a , im p õ e - s e a e x t in ç ã o d o p r o c e s s osem reso lução de mé r i to , nos te rmos d o inc iso V I do a r t . 267 do CPC. Nessesen t ido , é a ju r i sp rudência da SDC/TST:

"DISSÍDIO COLETIVO E AGRAVO REGIMENTAL EM DISSÍDIO COLETIVO. Aman i festação expressa da empres a em cont rár io ao a ju i zamento do Dissíd io Cole t i vot o rna i nequ ívoca a ausênc i a do com um aco rdo , cond i ção da ação p rev i s t a no § 2 2 doar t . 114 da Cons t i t u i ç ão da Repúb l i ca . P r e l im i na r que se aco l he pa r a ex t i ngu i r oprocesso sem reso lução do m ér i to , à luz do a r t . 267, VI , do CPC" (TST-AG-DC167901/2006-000-00-00-00.9, ac . SDC — Rel. Min. Carlos Alberto Reis Paula, DJU 27.10.2006).

"COMUM ACORDO. DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA. ART. 114,§ 2 2 , DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AUSÊNCIA. CONSEQUÊNCIA. A EmendaCons t i t uc i ona l 45 , de 8 de dezem b ro de 2004 , t rouxe m udan ças s i gn i f i ca t ivas noâmb i t o dos d i s s íd i o s co l e t ivos . A a l t e ração que vem susc i tando m a i o res d i s cussõesd i z r e spe i to ao ac résc imo da e xp ressão ' c omum aco rdo ' ao § 2 2 d o a r t . 1 1 4 d aCons t it u i ção da Repúb l ica . O deba t e g i ra em t o rno do conse nso en t re susc i t an t e esusc i tado como pressuposto para o a ju i zamento do d i ss íd io co le t ivo . A jur i sprudênc iades t a Co r te consag ra o en t end imen t o segundo o qua l o co mum aco rdo ex i g i do pa rase a j u i za r d i s s í d io co l e t i vo de na t u reza e conôm i ca , con f o rme p rev i s t o no § 2°do a r t .114 d a C on s t i t u iç ã o d a R ep úb l i c a , c o n s t it u i -s e p r e s s up o s t o p r o c e s s u a l c u j ai n ob se rvânc i a aca r re t a a ex t in ção do p rocesso sem reso l ução do mé r i to , nos t e rmosdo i n c . V I do a r t . 267 do CPC. Recu r so Ord iná r i o de que se con hece e se negaprovim ento" (TST-RODC 244/2006.000.12-00, SDC, DJU 30.11.2007).06)

Há a l guns j u lg ados do TST que apon tam no sen t i d o de que o " com um

acordo" é p ressuposto p rocessua l :" R E C U R S O O R D I N Á R I O . F A L T A D E C O M U M A C O R D O . A R T . 1 1 4 , § 2 2 , D A C O N S T I T U I Ç Ã OFEDERAL. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004. Hipótese em que se c onfigura af a l ta do comum acordo ex ig ido no a r t . 114 , § 2 2 , d a C o n s t it u iç ã o F e d e r a l , c o m a r e d a ç ã oconfer ida pe la Emenda Con st i t uc iona l n . 45 /2004. Expressa e oportuna d i scord ânc iado sus c i t ado com a i ns t au r ação do d i ss í d i o co l e t ivo . D i ss í d io co l e t i vo ex t i n to , semj u lgamento do mér i to , nos te rmos do a r t . 267, IV , do CPC" (TST-RODC 2520/2007-000-04-00.0, SDC, Rel. Min. Kátia M agalhã es Arruda, j . 09.032009, DEJT 27.03.2009).

"RECURSO ORDINÁRIO. DISSÍDIO COLETIVO AJUIZADO ANTERIORMENTE ÀPROM ULGAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL 45. AUSÊNCIA DE COMUMACORDO. ART. 114 , § 2 2 , DA CONSTITUIÇÃ O DA REPÚ BLICA. INEXIGIBILIDADEANTES DE SUA VIGÊ NCIA. 1. A Emenda Co nst i t uc iona l 45 en t rou em v igor no d ia3 1 . 12 .2 0 0 4 , d a ta d e s ua p ub l i c a ç ã o , p o r ta n t o a c o n co r d ân c i a d o s u s c i ta d o c om opressupos to para o desenv olv imento vál i do do Dissíd io Cole t i vo , ta l como inscr i t o no

§ 22 do ar t . 114 da Const i t u i ção da Repúb l i ca , não pode ser ex ig ida em re lação aos

Diss í d ios Co l e t i vos susc i t ados an t es daque l a d a t a . Do con t r á r i o , es t a r- se -á dandoap l icação re t roa t i va à no rma cons t i tu c i ona l que i n s t it u i u p ressupos t o p rocessua l . 2 .Os au t os reve l am que f o ram rea l i zadas vá r i a s reun i ões na f ase de negoc i ação (nosd i as 12 e 21 de j u l ho de 2004 , 2 e 18 de agos t o de 2004 ; 8 de se t emb r o de 2004)t endo s i do i n f ru t íf e ras as t en t a t ivas de aco rdo , de f o rma que res t ou de mons t rado oa t e n d im e n t o d o p r e s s u p o s to e s s e n c i a l d a n e g o c i a ç ã o p r é v i a d a é p o c a d o s e u

( 1 6 ) In t e r e s s a n t e q u e o j u l g a d o f a l a e m p r e s s u p o s t o p r o c e s s u a l e in v o c a o i n c i s o V I d o a r t . 2 6 7do CPC, que d i spõe sob re cond i ções da a ção .

a j u i z a m e n t o . E s s a c i r c u n s t â n c i a é o q u a n t o b a s t a p a r a q u e s e d ê r e g u l a rp r ocessam en t o ao f e i to , sem se impor t a r com a d i sco r dânc i a dos susc i t ados , v is t oque , quando f o i a j u i zado , o p ressupos t o da conco rdânc i a do dem andado não ex i s t iae a pa r t e susc i t an t e t em d i r e i t o adqu i r ido ao p r ocesso de d i ss í d i o co l e ti vo , uma vezob se rvados os seus p ressupos t os espec í f i cos , v igen t es à época em que o susc i t ou .É o d i r e i t o adqu i r ido ao p r oce sso . Recur so Ord i ná ri o de que se conhece e a que sedá pro v imen to" (TST-RODC 562/2004-000-06-00, SDC, Rel . M in. João Bat i s ta Br i t oPere i ra , j . 16.08 .2007, DJ 21.09.2007).

Para f ina l i za r este tóp ico , é impor tan te t raze r a lume o Enun ciado n . 35a p r o v a d o n a 1 9 Jornada de Di re i to Mater ia l e Processua l do Trabalho, rea l i zada

em Bras í li a -DP" ) , in verbis:DISSÍDIO COLETIVO. COM UM ACORDO. CONSTITUCIONALIDADE. AUSÊNCIA DEVULNERABILIDADE AO ART. 114, § 2 2 , DA CRFB. Dadas as ca racter í s t icas das quaisse r e ves t e a nego c i a ção co l e t i v a , não fe r e o p r in c í p i o do acesso à Jus t i ça o p ré -- requ i s it o do comum aco rdo (§ 2 2 , do a r t . 114 , da CRFB) p r ev i s t o como n ecessá r i opa ra a i n s t au ração da i n s t ânc ia em d i s s í d io co l e t i vo , tendo em v i s t a que a ex i gênc i av i sa a f ome n t a r o dese nvo l v imen t o da a t i v i dade s i nd i ca l , poss ib i l it ando que os en t ess i nd i ca i s ou a empresa dec i dam sob r e a me l ho r f o rma de so l ução dos con f l it os .

3.6.3. Possibilidade Jurídica do Pedido

Ent endemos po r imposs i b i li dade j u r í d ic a , c on f o rme já v imos em ou t r apar te desta obra , a ex is tênc ia de ve to exp resso no d i re i to pos i t i vo que impeçao de fe r imen to da p re tensão deduz ida em ju ízo .

Hipótese de imp oss ib i l idade jur íd i ca do pe dido em d iss íd io co le t ivo ocorreq u a n d o o s i n d i c a t o p o s t u la o d e f e r im e n t o d e c l á u s u l a q u e e s t a b e l e ç a v in c u l a ç ã oda r emune r a ção ao sa l á r io m ín imo , p o i s , n e sse ca so , há vedação e xp r e ssana própr ia Consti tu ição Fed eral (ar t. 7 2 , IV, in fine).

A j u r i spr udênc i a vem cons i de r ando j u r i d icamen te imposs í ve l o d i ss íd ioco le t i vo de natureza econôm ica a ju izado por s ind icato dos serv idores púb l i cosem face de pessoa jur íd ica de d i re i to púb l i co, conforme a OJ n. 5 da SDC/TST.

Segundo es se ve r b e t e , s ome n t e o Pode r Execu t i v o tem co mpe t ênc i apara def lagrar o processo leg is la t ivo que perm i t i rá o aumento da remu neraçãodo se r v i d o r p úb l i co ou concessão de qua l que r ou t r a van tagem (CF , a rt s . 6 1 ,§ 1 9 , I I , a, e 169 , § 19).

A r igor , o caso ser ia de improce dênc ia da preten são dedu z ida no d iss íd ioco le t i vo , e não de ex t inção sem reso lução de mé r i to .

3.7. Sentença Normat iva

A dec i são p ro f e r i da em DC ( sen t ença n o rma t i va ) , po r não t e r ca rgaco n d e n a t ó r i a , n ã o c o m p o r t a e x e cu ç ã o . V a l e d i z e r, o n ã o c u m p r im e n t o

( 17 ) D i spon í ve l em : <w ww.anama t ra . o rg . b r> .

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1188ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEURSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO189

e s p o n t â n e o d a s e n t e n ç a n o r m a t iv a r e n d e e n s e j o n ã o à e x e c u ç ã o d o j u lg a d o ,e s i m à p r o p o s i t u ra d a a ç ã o d e c u m p r i m e n t o .

As sentenças normativas, nos dissídios de natureza constitutiva (ou

d i s s í d i o s d e i n te r e s s e s ) , p o d e m c r i a r a s s e g u i n t e s c lá u s u l a s o u c o n d i ç õ e s :

econômicas — g e r a l m e n t e , s ã o c l á u s u l a s r e l a t iv a s a s a l á r io s , c o m of ix a ç ã o d e p i s o s a l a r i a l, r e a j u s t e s , a b o n o s p e c u n i á r io s e t c . ;

sociais — versam sobre garantia no emprego e outras vantagens

s e m c o n t e ú d o e c o n ô m i c o . Ex . : a b o n o d e f a l ta s , p r e s e r v a ç ã o d o m e i o a m b i e n t ed e t r a b a l h o e t c . ;

sindicais — d i z e m r e s p e i to à s r e l a ç õ e s e n t r e o s s i n d ic a t o s o u e n t r ee s t e s e a s e m p r e s a s q u e f i g u r a m n o d i s s í d i o c o le t i v o . G e r a l m e n t e , v e r s a mcontribuições assistenciais a serem descontadas em folha, garantia dos

d i r ig e n t e s s i n d i c a i s , p e r m i t in d o s u a a t u a ç ã o n a s e m p r e s a s e t c . ;

obrigacionais — e s t a b e l e c e m m u l ta s p a r a a p a r te q u e d e s c u m p r i r a sn o r m a s c o l e t iv a s c o n s t a n t e s d a s e n t e n ç a n o r m a t iv a .

N o s t e rm o s d o § 1 2 d o a r t . 1 2 d a L e i n . 1 0 . 1 9 2 / 2 0 01 , a d e c i s ã o q u e p u s e rf im a o d i s s í d i o c o l e t i v o "s e r á f u n d a m e n t a d a , s o b p e n a d e n u l i d a d e , d e v e r átraduzir, em seu conjunto, a justa composição do conflito de interesse dasp a r t e s , e g u a r d a r a d e q u a ç ã o c o m o i n t e r e s s e d a c o l e t iv i d a d e " .

A fundamentação de qualquer decisão judicial, aliás, é e x i g ê n c i ac o n s t i t u c i o n a l e x p l í c it a , s o b p e n a d e n u l i d a d e ( C F , a r t . 9 3 , I X ).

N os t e r mo s d o § 2 ' d o a r t . 1 2 d a L e i n . 1 0 . 1 92 /2 0 0 1 , a " s e n t e n ça n o r ma t i v ad e v e r á s e r p u b l i c a d a n o p r a z o d e q u i n z e d i a s d a d e c i s ã o d o T r i b u n a l " .

3.7.1. Sentença Norm at iva e Coisa Ju lgada

Será que a sentença normativa produz coisa julgada? Para uns, a

s e n t e n ç a n o r m a t i v a p ro d u z c o i s a j u lg a d a m e r a m e n t e f o r m a l , n a m e d i d a e mque permite o seu cumprimento definitivo antes mesmo do seu trânsito

em julgado. Além disso, há a possibilidade do dissídio coletivo de revisão

(CLT, art. 873), que é calcado na chamada cláusula rebus sic stantibus.O u t r o a r g u m e n t o é o d e q u e a s e n t e n ç a n o r m a t i v a n ã o c o m p o r t a e x e c u ç ã o ,ou seja, a efetividade da decisão fica condicionada à propositura da ação

de cumprimento, que é também uma ação de cognição. Finalmente, ép r e c i s o d i z e r q u e a S ú m u l a n . 2 7 7 d o T S T e s t a b e l e c e q u e " a s c o n d i ç õ e s d etrabalho alcançadas por força de sentença normativa vigoram no prazo

assinado, não integrando, de forma definitiva, os contratos". Logo, por tervigência temporária, a sentença normativa não teria a característica da

i m u t a b i l i d a d e d a res judicata.

O u t ro s s u s t e n t a m q u e e l a p r o d u z t a n t o a c o i s a ju l g a d a f o r m a l q u a n t o amaterial, uma vez que o parágrafo único, in fine, do art. 872 da CLT proíbe

q u e n a a ç ã o d e c u m p r im e n t o p o s s a m s e r r e d i sc u t id a s a s m a t é r ia s d e f a t o ed e d i r e i t o já d e c i d i d a s n a s e n t e n ç a n o r m a t i v a .

P a r a n ó s , a s e n t e n ç a n o r m a t iv a f a z c o i s a j u l g a d a m a t e r ia l ( e , lo g i c a m e n t e ,formal), pois o art. 22 , 1 , c, da Lei n. 7.701/88 dispõe expressamente que

compete, originariamente, à sessão especializada em dissídios coletivos

"julgar as ações rescisórias propostas contra suas próprias sentenças

n o r m a t i v a s " , c a b e n d o - l h e , n o s t e r m o s d o i n c i s o II , a l í n e a b, d o r e f e r i d o a r t i g o ,julgar, em última instância, "os recursos ordinários interpostos contra as

decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho em ações

r e s c i s ó r i a s e m a n d a d o s d e s e g u r a n ç a p e r t i n e n t e s a d i s s í d i o s c o l e t iv o s " .

O r a , s e c a b e a ç ã o r e s c i s ó r i a c o n t r a s e n t e n ç a n o r m a t i v a , e n t ã o e l a e s t áa p t a a p r o d u z i r a c o i s a j u l g a d a m a t e r i a l (C P C , a r t s . 26 9 e 4 8 5 , caput). N ão éeste, porém, o entendimento consubstanciado na Súmula n. 397 do TST,

s e g u n d o o q u a l a s e n t e n ç a n o r m a t i v a p r o d u z a p e n a s a c o i s a j u lg a d a f o r m a l .

3.7.2. Homologação de Acordo Extrajud icial

Se as partes firmam acordo extrajudicial não há necessidade de sua

h o m o l o g a ç ã o p e l a J u s t i ç a d o T r a b a l h o . N e s s e s e n t i d o é a O J n . 3 4 d a S D C /TST:

ACORDO EXTRAJUDICIAL. HOMOLOGAÇÃO. JUSTIÇA DO TRABALHO.PRESCINDIBILIDADE (INSERIDA EM 07.12.1998). É desnecessária a homologação,por Tribunal Trabalhista, do acordo extrajudicialmente celebrado, sendo suficiente,para que surta efeitos, sua formalização perante o Ministério do Trabalho (art. 614 daCLT e art. 7 9 , inciso XXVI , da Con stituição Federal).

N a v e r d a d e , o a c o r d o e x t r a j u d i c i a l f ir m a d o e n t r e s i n d i c a t o e e m p r e s a ( o uentre sindicatos), compondo conflito de interesses constantes de pauta

r e i v i n d i c a t ó r ia q u e e m p o l g o u o d i s s í d i o c o l e t iv o , p o s s u i n a t u r e z a d e a c o r d ocoletivo ou convenção coletiva, o que implica a automática extinção do

dissídio coletivo correspondente, por carência superveniente do interesse

p r o c e s s u a l ( n e c e s s i d a d e / u t i li d a d e ) .

3.8. Procedimento

O dissídio coletivo tem seu procedimento especial regulado nos arts.

856 a 875 da CLT, admitindo, como não poderia deixar de ser, a aplicaçãosubsidiária do direito processual comum, a teor do art. 769 da CLT, desde

q u e o m i s s a a l e g is l a ç ã o o b r e i r a e a m i g r a ç ã o n o r m a t iv a n ã o s e j a i n c o m p a t í v e lcom os princípios e com os procedimentos dessa espécie de demanda

co l e t i v a .

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1190ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEURSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO1 9 1

O ajuizamento do dissídio coletivo, como já destacado, é feito por meiode petição inicial escrita, formulada por entidade sindical da categoriaprofissional, que é o mais comum, ou da categoria econômica dirigidaao presidente do Tribunal Regional do Trabalho ou do Tribunal Superior doTrabalho, conforme a abrangência territorial do conflito ou a representaçãodas entidades sindicais que figuram nos poios da relação processual.

Tendo em vista o disposto no § 2 2 do art. 114 da CF, com nova redaçãodada pela EC n. 45/2004, parece-nos que se o autor do dissídio coletivo de

natureza econômica não colacionar documento comprobatório da concor-dância do réu com o ajuizamento da demanda, poderá o órgão judicialcompetente aplicar analogicamente o art. 870, § 1 2 , da CLT e determinara intimação do réu para que, no prazo assinalado, manifeste sua concordânciaou não com a "instauração" do dissídio. Decorrido o prazo sem manifestaçãodo réu, haverá concordância tácita. Se o réu não concordar expressamente noprazo assinalado, o processo deverá ser extinto sem resolução do mérito.

Não se admite o dissídio coletivo verbal, pois a petição inicial é sempreescrita, nos termos do art. 856 da CLT. Aliás, o art. 858 da mesmaconsolidação dispõe que a representação será apresentada em tantas viasquantos forem os reclamados e deverá conter: a) designação e qualificaçãodos reclamantes e dos reclamados e a natureza do estabelecimento ou do

serviço; b) os motivos do dissídio e as bases de conciliação (Lei n. 10.192/2001, art. 12, caput ; TST/SDC, OJ n. 32).

A conciliação nos autos do dissídio coletivo é tentada numa única audiência,que é designada exclusivamente para tal fim, presidida pelo Presidente doTribunal (CLT, art. 860), que, i n c as u , detém a competência funcional. Algunsregimentos internos de tribunais atribuem tal competência ao Vice-Presidente,o que é de duvidosa constitucionalidade, já que compete à União legislar sobredireito processual (CF, art. 22, I) e há norma legal expressa disciplinando amatéria. Na verdade, a única delegação legalmente permitida para a prática doato previsto no art. 860 da CLT é a prevista no art. 866 da CLT.

O Presidente do Tribunal não fica adstrito às propostas das partes,podendo apresentar a solução que entender pertinente para a solução do

conflito (CLT, art. 862).

Havendo acordo, o Presidente submete o dissídio ao Tribunal para serhomologado. A decisão que homologa tal acordo é também uma sentençanormativa, ou, para alguns, uma "decisão normativa".

Firmado o acordo ou frustrada a conciliação, o processo será, mediantesorteio, distribuído a relator e revisor. Em seguida, o feito é submetido ajulgamento pelo Tribunal Pleno (ou outro órgão especial previsto no regimentointerno). No TST, a competência para os dissídios coletivos é da SDC.

O MPT poderá emitir parecer escrito, antes da distribuição do feito, ouoral, na sessão de julgamento (Lei n. 7.701/88, art. 11).

No dissídio coletivo, não há falar em julgamento extra ou u l t ra pe t i ta , poisnele não há pedido, mas proposta de criação de novas normas ou interpretaçãode normas antigas.

O procedimento do dissídio coletivo é de total flexibilidade, em virtude deausência de normas formais.

De modo que não há lugar para revelia ou confissão, uma vez que está

em debate o interesse abstrato de toda um a categoria profissional oueconômica, razão pela qual a decisão a ser proferida transcende à iniciativadas partes, já que nela se busca o exercício do poder normativo, manifestadopela criação de regras jurídicas, instituídas em dado contexto jurídico, político,econômico e social.

O TST tem exigido que as cláusulas constantes da petição inicial devemestar devidamente fundamentadas, o que nos parece lógico e razoável, poisa sentença, inclusive a normativa, deve ser fundamentada, sob pena denulidade (CF, art. 93, IX).

As sentenças normativas produzem coisa julgada com eficácia ultrapartes, pois os seus limites subjetivos estendem-se aos integrantes dascategorias que figuraram como parte na demanda coletiva.

De acordo com o parágrafo único do art. 867 da CLT, a sentençanormativa vigorará:

a partir da data de sua publicação, quando ajuizado o dissídio após oprazo do art. 616, § 32 , da CLT, ou quando não existir acordo, convenção ousentença normativa em vigor, na data do ajuizamento;

a partir do dia imediato ao termo final de vigência do acordo, convençãoou sentença normativa, quando ajuizado o dissídio no prazo do art. 616, § 32,

da CLT. Interpretando tal norma, o TST editou a Súmula n. 277, i n verb is :

SENTENÇA NORMATIVA, CONVENÇÃO OU ACORDO COLETIVOS. VIGÊNCIA.REPERCUSSÃO NOS CONTRATOS DE TRABALHO. I — As condições de trabalhoalcançadas por força de sentença normativa, convenção ou acordo coletivos vigoramno prazo assinado, não integrando, de forma definitiva, os contratos individuais de

trabalho. II — Ressalva-se da regra enunciada no item I o período compreendidoentre 23.12.1992 e 28.07.1995, em que vigorou a Lei n. 8.542, revogada pela MedidaProvisória n. 1.709, convertida na Lei n. 10.192, de 14.02.2001.

3.8.1. Custa s

No processo do trabalho, as custas, na fase de conhecimento, tanto nosdissídios individuais quanto nos dissídios coletivos, estão disciplinadas noart. 789 da CLT, in verbis :

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1192ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEURSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO193

Art . 789. Nos dissídios individuais e nos dissídios coletivos do trabalho, nas ações ep r oced imen t os de com pe t ênc i a da J us ti ç a do Tr aba l ho , bem como nas dem andaspropostas peran te a Just i ça Estadual , no exerc íc io da jur i sd i ção t raba lh i s ta , as custasrelativas ao processo de conhecimento incidirão à base de 2% ( do i s po r cen t o ) ,o b s e r v ado o m í n i m o d e R$ 10,64 (dez r ea i s e sessen t a e qua t ro cen t avos ) e se rãoca l cu l adas :

I — quando h ouve r aco rdo ou co ndenação , sob re o respec t i vo va l o r ;

I I — q uando h ou ve r e x t in ç ã o d o p r o c e s so , s em j u lg am en t o d o m é r it o , o u j u lg a dot o t a lmen t e imp roceden t e o ped i do , sob re o va l o r da causa ;

III — no caso de p rocedênc i a do ped i do f o rmu l ado em ação dec l a ra t ó r ia e em açãoconst i t u t i va , sob re o va lor da causa;

IV — quan do o va lor for i ndeterm inado, sob re o que o ju i z f i xar .

§ 1 2 As cus t as se rão pagas pe l o venc i do , apó s o t râns it o em j u lgado da dec i são . Noc a so d e r e c u r s o , a s c u s t a s s e r ã o p aga s e c om p r o vado o r e c o l h i m en t o d en t ro d oprazo recursa l .

§ 2 2 Não sendo l í qu ida a co ndenação, o ju í zo arb i t rar-l he-á o va lor e f i xará o mon tanteda s c u s t a s p r o c e s sua is .

§ 3 2 Sempre que houver acordo , se de ou tra fo rma não fo r convenc ionado , o pagamentodas cus t as ca be r á em par t es i gua i s aos l it i gan t es .

§ 4 2  Nos dissídios coletivos, as partes vencidas responderão solidariamente pelo

pagamento das custas, calculadas sobre o valor arbitrado na decisão, ou peloPresidente do Tribunal. ( g r i fo s nossos )

A interpretação sistemática das regras constantes do preceptivo em

c a u s a a u t o r iz a - n o s d i z e r q u e n o d i s s í d i o c o l e ti v o , q u e é u m a a ç ã o d e n a t u r e z ap r e p o n d e r a n t e m e n t e d e c l a r a t ó r i a , c o n s t i t u ti v a o u m i s t a , a s c u s t a s s e r ã o d er e s p o n s a b i l i d a d e :

do susc i tado, na h ipó tese de sentença n ormat i va to ta l ou parc ia lmente proced ente,e ca lcu ladas sobre o va lor da causa ou , se este for i ndeterm inado, sob re o va lor quea dec isão ou P res idente do Tr ibunal f i xar (CLT, ar t . 789, I I I, IV, §§ 1 2 e 2 v ) ;

do susc i tante , na h ipó tese de se ntença term inat i va (CPC, ar t . 267) ou se o d i ss íd ioco le t i vo for ju lgado to ta lmente improc edente, e ca lcu ladas va lor da ca usa ou, se estefor i ndeterm inad o, sob re o va lor que a de c isão ou Pre s idente do Tr ibunal f i xar (CLT,a r t . 7 8 9 , I I , I V , § § 1 2 e 2 2 ) ;

ra teada ent re susc i tante e susc i tado, ou se ja , 1% (um por cento) para cada parte ,na h i p ó t e s e d e a c o r d o f i r m ado n o s a u t o s d o d i s s í d i o c o le t iv o e h om o l o gado p e l oTribunal , ca l cu lada sobre o va lor arb i t rado na dec isão (CLT, ar t . 789, §§ 3 2 e 42);

so l i dár ia das partes venc idas, na h ipó tese de l i ti sconsórc io em qu e os l i t i sconsortesse jam to ta l ou parc ia lmen te sucum bentes (CLT, ar t . 789, § 42).

N o c a s o d e r e c u r s o o r d i n á r io , a s c u s t a s s e r ã o p a g a s e c o m p r o v a d o or espec t i vo r eco l h imen t o pe l o venc i do ( to t a l ou pa r c i a lme n t e ) den t r o do p r azo r ecu r sa l( o i to d i a s ) , s o b p e na d e d e s e r ç ã o . N ã o há o b r i g a t o r ie d a de d e i n t i ma çã o d a p a r t ep a r a o r e c o l h i m e n t o d a s c u s t a s , p o i s c a b e a o i n t e r e s s a d o o b t e r o s c á l c u l o s p a r a or e s p e c t i v o p r e p a r o . N e s s e s e n t i d o , d i s p õ e a OJ n . 2 7 d a S DC /TS T:

CUSTAS. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO. DESERÇÃO. CARACTERIZAÇÃO. A dese rçãos e i m p õ e m esm o n ã o t e n do h a v i d o i n t im aç ã o , p o i s i n c um b e à p a r t e , n a d e f e s a d op r óp r io i n t e r esse , ob t e r os cá l cu l os necessá r i os pa r a e f e t iva r o p r epar o .

N a h i p ó t e s e d e o m i s s ã o d a s e n t e n ç a n o r m a t i v a a r e s p e i to d a s c u s t a s , ap a r t e i n t e r e s s a d a p o d e r á i n t e r p o r e m b a r g o s d e d e c l a r a ç ã o ( C L T, a r t . 8 9 7 - A ;C P C , a r t . 5 3 5 ) .

Se não houver recurso, as custas serão pagas pelo vencido, total ou

p a r c i a l m e n t e , d e p o i s d e t r a n s i ta d a e m j u l g a d o a s e n t e n ç a n o r m a t i v a .

3. 9 . Recurso Ordinár io

D a s e n t e n ç a n o r m a t iv a c a b e r e c u r s o o r d i n á r io a o T S T , c u j a c o m p e t ê n c i ap a ra c o n h e c ê - l o e j u l g á - l o é d a S DC (L e i n . 7 . 70 1 / 88 ) .

O prazo para o recurso ordinário é de oito dias, segundo dispõe o art.8 9 5 , b, da C LT .

Incumbe ao recorrente, se for o caso, o recolhimento das custas e a

j u n t a d a d o r e s p e c t i v o c o m p r o v a n t e d e p a g a m e n t o n o p r a z o a l u s iv o a o r e c u r s o ,c o m o j á r e s s a lt a m o s n o i te m 3 . 8 .1 supra.

E m c a s o d e a c o r d o , n o s a u t o s d o d i s s í d i o c o l e t iv o ( d e c i s ã o n o r m a t i v a ) ,s ó c a b e r á r e c u r s o o r d i n á r i o p o r p a r t e d o M i n i s té r i o P ú b l i c o d o T r a b a l h o ( L C n .

7 5 / 93 , a r t . 8 3 , V I , e Le i n . 7 . 7 01 / 8 8 , a r t . 7 2 , § 5g ) .O M P T e s t á l e g i t im a d o p a r a i n t e r p o r r e c u r s o o r d i n á r i o , ta n t o n o s d i s s í d i o s

c o l e t iv o s e m q u e f o r p a r t e ( DC d e g r e v e ) c o m o n a q u e l e s e m q u e a t u o u c o m ocus tos l eg is , o u s e j a , n a q u e l e s e m q u e a p e n a s e m i t iu p a r e c e r o r a l o u e s c r i to( LC n . 7 5 / 93 , a r t . 8 3 , V I ) .

A M e d i d a P r o v i s ó r ia n . 1 . 3 9 8 / 9 6 f a c u l t a v a a o P r e s i d e n t e d o T S T c o n c e d e refeito suspensivo ao recurso ordinário da sentença normativa. Sobre essa

m e d i d a p r o v i s ó r ia , o T S T fi r m o u o s e g u i n t e e n t e n d i m e n t o :

"AGRAVO REGIMENTAL— DESPACHO QUE DEFERE PEDIDO DE CONCESSÃO DEEFEITO SUSPENSIVO A RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO CONTRA DEC ISÃOPROFERIDA POR TRT EM DISSÍDIO COLETIVO — Inexistência de cerceamento dede fesa . O de fe r imen to do e fe i t o suspensivo requerido tem assento em regulação

legal, consubstanciada na medida provisória mil trezentos e noventa e oito de noventae seis, que não faz alusão à necessidade de vista ao requerido para se manifestaracerca do pedido. Não demonstrada, pois, a ofensa ao artigo quinto, incisos cinquentae quatro e cinquenta e cinco, do texto constitucional. Alegação de inconstitucionalidadeda medida provisória que autoriza a concessão de efeito suspensivo ao recursomanifestado contra sentença normativa. Desnecessária a remessa do processo aoórgão especial, dada a ausência dos elementos que justifiquem o encaminhamento,por não se configurar imprescindível a manisfestação daquele colegiado no casoconcreto. O artigo quatorze da medida provisória mil trezentos e noventa e oito denoventa e seis compatibiliza-se com o contido no artigo cento e quatorze, parágrafosegundo, da Constituição Federal, pois permite que o presidente do TST restrinja,

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1194ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEURSO DE D IREITO PROCESSUAL DO T RABALHO195

provisoriamente, a abrangência da decisão proferida em sentença normativa regionalaos limites da jurisprudência desta corte e às regulações legais mínimas de proteçãoao trabalho. Reajuste salarial. Deferimento parcial de concessão de efeito suspensivoa fim de limitar a eficácia de cláusula ao índice de reajustamento expressamenteautorizado pela legislação salarial vigente à época da data-base da categoria.Imprópria a invocação de ofensa ao artigo noventa e três, inciso nove, da ConstituiçãoFederal, visto que devidamente motivada a decisão. Aviso prévio proporcional. Aatual jurisprudência desta corte, seguindo a orientação do excelso STF, é no sentidode que não pode o prazo do aviso prévio ser ampliado para além de trinta dias pordecisão judicial. Agravo regimental a que se nega provimento" (TST — AGES 45517 4/1998 — SDC — Rel. Min. Ermes Pedro Pedrassani, DJU 12.2.1999, p. 00032).

Sobreveio o § 6 2  do art. r da Lei n. 7 .701 /98, dispondo que "a sentençanormativa poderá ser objeto de ação de cumprimento a partir do 20 2 (vigésimo)dia subsequente ao do julgamento, fundada no acórdão ou na certidão dejulgamento, salvo se concedido efeito suspensivo pelo Presidente do TribunalSuperior do Trabalho", sendo que o art. 9 2 do mesmo diploma legal previa queo "efeito suspensivo deferido pelo Presidente do Tribunal Superior do Trabalhoterá eficácia pelo prazo improrrogável de 1 20 (cento e vinte) dias contados dapublicação, salvo se o recurso ordinário for julgado antes do término do prazo".

Atualmente, o art. 14 da Lei n. 1 0.192, de 1 4.2.2001, dispõe, in verbis :

O recurso interposto de decisão normativa da Justiça do Trabalho terá efeitosuspensivo, na medida e extensão conferidas em despac ho do Presidente doTribunal Superior do Trabalho.

Vale dizer, o recurso ordinário interposto da sentença normativa terásempre efeito suspensivo, cabendo ao Presidente do Tribunal ad quem (TST),em despacho (rectius, em decisão fundamentada), estabelecer,discricionariamente, as consequências concretas do efeito suspensivo, como,por exemplo, indicar as cláusulas que podem produzir efeito imediato e asque deverão aguardar o trânsito em julgado da decisão a ser proferida pelaSDC. Nesse sentido:

"AGRAVO REGIMENTAL. DESPACHO PROFERIDO EM EFEITO SUSPENSIVO. ATODISCRICIONÁRIO. O exercício da prerrogativa de que tratam os arts. 7 2 , § 6 2 , da Lei n.7.701, de 21 de dezembro de 1988, e 14 da Lei n. 10.192, de 14 de fevereiro de 2001,insere-se no âmbito do arbítrio do Ministro Presidente do Tribunal Superior doTrabalho, o qual, na hipótese, pratica ato meramente discricionário. Em nãohavendo margem para que se cogite de equívoco ou extravasamento de limites

legais pelo juízo monocrático, nega-se provimento ao agravo regimental cujas razõesrespeitam meramente ao conteúdo das cláusulas estabelecidas na sentençanormativa já impugnada mediante recurso ordinário" (TST-Agravo Regimental emEfeito Suspensivo n. 72696, SDC do TST, Rel. Min. Francisco Fausto. j. 8.5.2003,unânime, DJU 23.5.2003).

"SENTENÇA NORMATIVA. EX ECUÇÃO IMEDIATA. Conforme entendimento majoritárioperfilhado na Súmula 246 do c. TST, a sentença norm ativa é exequível a partir do 204(vigésimo) dia subsequente ao do julgamento, independendo do trânsito em julgado.O recurso ordinário interposto contra a decisão proferida pelo Regional no julgamentodo dissídio coletivo tem efeito meramente devolutivo e, ainda que provido, não importa

na restituição dos salários e vantagens pagos, de forma que não há qualquerimpedimento à execução imediata. Eventual recebimento do apelo com efeitosuspensivo pelo c. TST deverá ser objeto de inequívoca prova pela parte interessada,tendo em vista não se tratar da pura aplicação da regra processual, mas de merafaculdade conferida à Instância Superior de fazê-lo sempre que julgar adequado. Aausência de prova nesse sentido impede o sobrestamento da demanda que visaalcançar o comando jurisdicional contra o descumprimento das cláusulas inseridasno instrumento normativo" (TRT 2 2 R., RO em Rito Sumaríssimo 00964.2004.008.02.00-0, 4 4 T., Rel. Paulo Augusto Câmara, j. 3.5.2005, DOE. 13.5.2005).

"AÇÃO DE CUMPRIMENTO — SUSPENSÃO PARCIAL DO RECURSO ORDINÁRIOCONTRA A SENTENÇA NORMATIVA. Tendo o colendo TST deferido o pedido deefeito suspensivo a recurso ordinário em DC, apenas para limitar o reajuste dossalários da categoria a 16%, a decisão deve ser adequada aos respectivos limites,sem necessidade da extinção do processo sem julgamento do mérito" (TRT 3 4 R.,RO 00065-2004-039-03-00-0, 4 4 T., Sete Lagoas, Rel. Luis Felipe Lopes Bóson, j.26.5.2004, unânime, DJMG 5.6.2004).

"AÇÃO DE CUMPRIMENTO — CUMPRIMENTO IMEDIATO. Nos termos da iterativajurisprudência do colendo TST, consubstanciada na Súmula 246 do TST, dispensávelo trânsito em julgado da sentença normativa para a propositura da ação decumprimento. Não tendo sido conferido efeito suspensivo pelo Pres idente do TST àcláusula concernente ao reajuste salarial, plenamente cabível o ajuizamento de açãode cumprimento objetivando o cumprimento de decisão normativa" (TRT da 32 Região,RO 15907/02, 3 2 T., Belo Horizonte, Rel. Juiz Lucas Vanucci Lins. j. 22.1.2003, unânime,DJMG 12.2.2003).

A Súmula n. 246 do TST reforça a tese da relativização do efeito

suspensivo do Recurso Ordinário interposto de sentença norm ativa ao permitira ação de cumprimento, independentemente do seu trânsito em julgado.

Tem sido admitida, ainda, a ação cautelar incidental ao recursoordinário, objetivando que o Ministro Relator defira liminar para emprestarefeito suspensivo ao recurso ordinário da sentença normativa. Para tanto,o requerente/recorrente deverá demonstrar a existência do fumus boni

iuris e do periculum in mora.

Visando à operacionalização do art. 14 da Lei n. 10.192/2001, o TSTeditou a Resolução n. 120, de 2.10.2003 (DJU 9.10.2003), aprovando aInstrução Normativa n. 24, que prescreve:

— Ao Presidente do Tribunal Superior do Trabalho é facultada a designação deaudiência de conciliação relativamente a pedido de concessão de efeito suspensivoa recurso ordinário interposto à decisão normativa da Justiça do Trabalho;

II — Poderá o Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, antes de designaraudiência prévia de conciliação, conceder ao requerido o prazo de 5 (cinco) dias,para, querendo, manifestar-se sobre o pedido de efeito suspensivo;

III — O Ministério Público do Trabalho, por intermédio da Procuradoria-Geral doTrabalho, será comunicado do dia, hora e local da realização da audiência, enquantoas partes serão notificadas;

IV — Havendo transação nessa audiência, as condições respectivas constarão deata, facultando-se ao Ministério Público do Trabalho emitir parecer oral, sendo, em

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1196ARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEURSO DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO197

seguida, sorteado Relator, que submeterá o acordo à apreciação da SeçãoEspecializada em Dissídios Coletivos, na primeira sessão ordinária subsequenteou em sessão extraordinária designada para esse fim;

V — O Presidente do Tribunal Superior do Trabalho poderá submeter o pedido deefeito suspensivo à apreciação da Seção Especializada em Dissídios Coletivos,desde que repute a matéria de alta relevância.

3.10. Dissídio Coletivo de Extensão

Em caso de dissídio coletivo que tenha por objeto estabelecer nóvascondições de trabalho, e no qual figure como parte apenas uma fração de

empregados de uma empresa, poderá o tribunal competente, na própria

d e c i s ã o , e s t e n d e r t a i s c o n d i ç õ e s d e t r a b a l h o , s e j u l g a r j u s to e c o n v e n i e n t e ,aos demais empregados da empresa que forem da mesma profissão dos

destinatários originais do DC. Trata-se do juízo de equidade conferido ao

T r ib u n a l , p o r f o r ç a d o a r t . 8 6 8 d a C L T.

H a v e n d o e x t e n s ã o d o s e f e i t o s d a s e n t e n ç a n o r m a t iv a , o T r i b u n a l fi x a r á ad a t a e m q u e a d e c i s ã o d e v e s e r c u m p r i d a , b e m c o m o o p r a z o d e s u a v i g ê n c i a ,o q u a l n ã o p o d e r á s e r s u p e r io r a q u a t r o a n o s .

I m p o r t a a s s i n a l a r q u e , n o s t e r m o s d o a r t . 8 6 9 d a C L T, a d e c i s ã o s o b r e

novas condições de trabalho poderá também ser estendida a todos osempregados da mesma categoria profissional compreendida na jurisdiçãodo T r i b una l :

por solicitação de 1 (um) ou mais empregadores, ou de qualquer sindicato destes;

por solicitação de 1 (um) ou mais sindicatos de empregados;

ex officio, pelo Tribunal que houver proferido a d ecisão;

por solicitação da Procuradoria da Justiça do Trabalho.

A v a l id a d e d a e x t e n s ã o d o s e f e i to s d a s e n t e n ç a n o r m a t iv a a t o d o s o se m p r e g a d o s d a m e s m a c a t e g o r ia p r o f is s i o n a l, s e g u n d o o a r t . 8 7 0 d a C L T,depende de concordância dos sindicatos que figurarem nos poios ativo e

p a s s i v o d a l id e c o l e t iv a o u , s e o d i s s í d i o c o l e t iv o d e c o r r e r d e a c o r d o c o l e t iv o

f r u s tr a d o , d e p e l o m e n o s t r ê s q u a r t o s d o s e m p r e g a d o r e s e t r ê s q u a r t o s d o se m p r e g a d o s . E s s a n o r m a , a n o s s o v e r , e s t á e m h a r m o n i a c o m a n o v a r e d a ç ã od a d a p e l a E C n . 4 5 / 2 0 0 4 a o a r t . 1 1 4 , § 2 2 , d a C F .

O s i n t e r e s s a d o s t e r ã o p r a z o n ã o i n f e ri o r a t r in t a n e m s u p e r i o r a s e s s e n t adias, para que se manifestem sobre a extensão dos efeitos da sentença

n o r m a t i v a .

Decorrido o prazo para a manifestação dos interessados, e ouvido o

M P T , s e r á o p r o c e s s o s u b m e t i d o a o j u lg a m e n t o d o T r ib u n a l . S e a d e c i s ã o d o

Tribunal concluir pela extensão dos efeitos da sentença normativa, deverá

m a r c a r a d a t a e m q u e e l a e n t r a r á e m v i g o r . É o q u e d i s p õ e o a r t . 8 7 1 d a C LT .

Parece-nos que o DC de extensão, por ter natureza econômica, não

p o d e r á m a i s s e r i n s ta u r a d o d e o f í c io , p o r p r o v o c a ç ão d o M P T o u d e u m a d a sentidades sindicais. E a razão é simples: há necessidade de mútuo

c o n s e n t i m e n t o , n o s t e r m o s d o a r t . 1 1 4 , § 2 2 , d a C F .

D e a c o r d o c o m a O J n . 2 d a S D C / TS T :

É inviável aplicar condições constantes de acordo homologado nos autos de dissídio

coletivo, extensivamente, às partes que não o subscreveram, exceto se observado oprocedimento previsto no art. 868 e seguintes, da CLT.

3.11. Dissídio Coletivo Revisional

O d i s s í d i o c o l e t iv o r e v i s i o n a l , q u e e s t á d i s c i p li n a d o n o s a r t s . 8 7 3 a 8 7 5d a C L T, t e m l u g a r q u a n d o d e c o r r id o m a i s d e u m a n o d a v i g ê n c ia d a s e n t e n ç an o r m a t i v a .

Trata-se de um dissídio derivado do dissídio coletivo de natureza

c o n s t i tu t iv a ( d e i n te r e s s e ) , q u a n d o a s e n t e n ç a n o r m a t i v a r e s p e c t i v a t i v e r f ix a d oc o n d i ç õ e s d e t r a b a l h o q u e s e t e n h a m m o d i f ic a d o e m f u n ç ã o d e c i r c u n s t â n c i a salheias à vontade das partes, como as condições que se hajam tornado

i n j u s t a s o u i n a p l ic á v e i s .Segundo o art. 874 da CLT, o dissídio coletivo revisional poderá ser

promovido por iniciativa do Tr ibunal prolator, do MPT, das associações

s i n d ic a i s o u d e e m p r e g a d o r o u e m p r e g a d o r e s n o c u m p r im e n t o d a d e c i s ã o .P a r e c e - n o s , p o r é m , q u e n e m o P r e s i d e n t e d o T r i b u n a l n e m o M i n i s t é ri o P ú b l i c od o T r a b a l h o t ê m l e g i ti m a ç ã o p a r a a p r o p o s i t u r a d o d i s s í d i o c o l e t iv o r e v i s i o n a l ,pois sendo este uma espécie de dissídio de natureza econômica, somentea s p a r t e s i n t e r e s s a d a s , d e c o m u m a c o r d o , p o d e r ã o f a z ê - l o , p o r fo r ç a d o § 2 2d o a r t . 1 1 4 d a C F , c o m o n o v a r e d a ç ã o d a d a p e l a E C n . 4 5 / 2 0 04 , s e n d o c e r t oq u e n ã o s e t r a t a d e D C d e G r e v e , o q u e o b s t a c u l i z a a l e g i ti m a ç ã o m i n i s te r i a l .

A competência para julgar o dissídio coletivo revisional é do mesmo

tribunal prolator da decisão revisanda, sendo certo que a nova sentença

normativa será proferida depois de ouvido o MPT, seja em parecer escrito,s e j a e m p a r e c e r o r a l n a s e s s ã o d e j u lg a m e n t o .

4 . AÇÃO DE CUMPRIMENTO

O conteúdo da sentença normativa, ou da decisão normativa, não é

executado, e sim cumprido, tal como acontece com a eficácia das normas

j u r íd i c a s d e c a r á t e r g e r a l e a b s t r a to .