carlos drummond e fernando pessoa

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Juiz de Fora, v. 10, n. 18, jul./dez. 2010 141 Limite e trânsito entre os poetas Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, p. 141 - 159 LIMITE E TRÂNSITO ENTRE OS POETAS FERNANDO PESSOA E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Maria de Lourdes Abreu de Oliveira (CES/JF) RESUMO Confronto entre Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, poetas representantes das literaturas de Portugal e do Brasil, respectivamente. Oceano Atlântico: fronteira e ponto de intercâmbio entre esses dois países. Lá e cá, os dois poetas mergulharam em temas comuns. Ambos cantaram a cidade e o campo, ambos foram marcados pela solidão e negatividade dos grandes centros urbanos. Todavia, se o mar é o limite natural entre os países desses dois poetas, um europeu, outro sul-americano, esse mesmo mar lhes aguça o olhar e lhes açula o imaginário, despertando-lhes significativas abordagens. Palavras-chave: Fernando Pessoa. Carlos Drummond de Andrade. Oceano Atlântico. Cidade/Campo. ABSTRACT Confrontation between Fernando Pessoa and Carlos Drummond de Andrade, poets who represent Portuguese and Brazilian literatures, respectively. The Atlantic Ocean: boundary and exchange between the two countries. Here and there, the two poets have plunged into common themes. Both of them have sung the city and the countryside, and have been struck by the loneliness and the negativity of big urban centres. However, if the sea is the natural boundary between these poets’ two countries, one European, the other South-American, the same sea arouses their way of looking and stimulates their creativity, stirring expressive approaches. Keywords: Fernando Pessoa. Carlos Drummond de Andrade. The Atlantic Ocean. City/Countryside. Artigo recebido em: 11/11/2009 Aceito para publicação:21/12/2009

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Carlos Drummond e Fernando Pessoa

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  • Juiz de Fora, v. 10, n. 18, jul./dez. 2010

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    Limite e trnsito entre os poetas Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, p. 141 - 159

    LIMITE E TRNSITO ENTRE OS POETAS FERNANDO PESSOA E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

    Maria de Lourdes Abreu de Oliveira (CES/JF)

    RESUMOConfronto entre Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, poetas representantes das literaturas de Portugal e do Brasil, respectivamente. Oceano Atlntico: fronteira e ponto de intercmbio entre esses dois pases. L e c, os dois poetas mergulharam em temas comuns. Ambos cantaram a cidade e o campo, ambos foram marcados pela solido e negatividade dos grandes centros urbanos. Todavia, se o mar o limite natural entre os pases desses dois poetas, um europeu, outro sul-americano, esse mesmo mar lhes agua o olhar e lhes aula o imaginrio, despertando-lhes significativas abordagens. Palavras-chave: Fernando Pessoa. Carlos Drummond de Andrade. Oceano Atlntico. Cidade/Campo.

    ABSTRACTConfrontation between Fernando Pessoa and Carlos Drummond de Andrade, poets who represent Portuguese and Brazilian literatures, respectively. The Atlantic Ocean: boundary and exchange between the two countries. Here and there, the two poets have plunged into common themes. Both of them have sung the city and the countryside, and have been struck by the loneliness and the negativity of big urban centres. However, if the sea is the natural boundary between these poets two countries, one European, the other South-American, the same sea arouses their way of looking and stimulates their creativity, stirring expressive approaches.Keywords: Fernando Pessoa. Carlos Drummond de Andrade. The Atlantic Ocean. City/Countryside.

    Artigo recebido em: 11/11/2009 Aceito para publicao:21/12/2009

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    Maria de Lourdes Abreu de Oliveira

    No confronto entre Fernando Pessoa (1888 1935) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), poetas representantes das literaturas de Portugal e do Brasil, respectivamente, observa-se que tiveram pontos de aproximao significativos. L e c, os dois poetas mergulharam em temas comuns. Separados pelo Oceano Atlntico e por uma certa distncia etria, ambos cantaram a cidade e o campo, ambos foram marcados pela solido e negatividade dos grandes centros urbanos. Assim como o olhar de Fernando Pessoa constata o mundo a partir do jogo de contrrios, dividido entre o espao onde domina o princpio de prazer e o espao onde domina o princpio de realidade, evidenciado em sua potica, no como um antagonismo bem delimitado, bem demarcado, mas disperso atravs das mscaras, atravs dos seus heternimos, tambm o olhar dividido de Carlos Drummond de Andrade, na abordagem do mundo, manifesta este jogo entre o locus urbanus e o locus amenus por meio de uma fragmentao ao longo da obra realizada.

    Esta diviso na maneira de olhar o mundo evidencia-se, sobretudo, no confronto cidade / campo que, de uma certa maneira, abarca estas oposies, que no passariam de extenses especulares das questes que perturbam o homem dividido entre o espao urbano e o espao da natureza.

    Na literatura, o campo , normalmente, visto como um espao feliz e a cidade como um espao frustrador, de pura perda. Haja vista o exemplo de Cesrio Verde, que, em O Sentimento de um Ocidental, em O livro de Cesrio Verde, v a cidade de Lisboa como um espao de opresso, de misria, marcado por um profundo sentimento de angstia, dizendo:

    Nas nossas ruas, ao anoitecer,H tal soturnidade, h tal melancolia,Que as sombras, o bulcio, o Tejo, a maresiaDespertam-me um desejo absurdo de sofrer (VERDE,[196?], p. 93.)

    Por outro lado, v o campo como espao feliz, contraposto misria e peste da cidade, conforme se constata no poema Ns:

    E o campo, desde ento, segundo o que me lembro, todo o meu amor de todos estes anos!Ns vamos para l; somos provincianos,Desde o calor de Maio aos frios de Novembro! (VERDE, [196?], p.116.)

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    Este jogo de contrrios, como manifestao da busca de um espao onde domine o princpio de prazer, de vida, em contraposio ao espao onde domine o princpio de realidade, marcado pelo trabalho, pela morte dos sonhos, vai manifestar-se na potica de Fernando Pessoa, no como um antagonismo bem delimitado, bem demarcado, mas disperso atravs das mscaras, atravs dos seus heternimos. como diz seu heternimo lvaro de Campos:

    Multipliquei-me, para me sentir,Para me sentir, precisei sentir tudo,Transbordei, no fiz seno extravasar-me,Despi-me, entreguei-me,E h em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente (lvaro de Campos, p. 345.)1

    Esta viso da natureza evidencia-se em Fernando Pessoa, a partir de uma colocao mais sofisticada, mais fragmentada. Assim, a potica multifacetada de Fernando Pessoa vai tornar manifesta toda uma temtica do campo, observvel, sobretudo, nos heternimos Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Nesses heternimos no s se constata a volta natureza mas o resgate da individualidade por oposio ao convvio social, como busca de recuperao do espao feliz. Alberto Caeiro um civilizado que procura libertar-se da carga, tornada insuportvel, dos produtos de uma razo milenria (COELHO, 1985, p. 31), que tenta ver o mundo com extremo naturismo, indiferente ao convvio humano, seguro de que:

    Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,Quer para fazer o bem, quer para fazer o mal.A nossa alma e o cu e a terra bastam-nos.Querer mais perder isto e ser infeliz (AC, p. 221.)

    E, voltado para a natureza, ele se define:

    No sei o que a Natureza: canto-a. Vivo no cimo dum outeiroNuma casa caiada e sozinha,

    1 PESSOA, Fernando. Fices do interldio. In:______. Obra potica. Rio de Janeiro: Aguilar, 1969. p.201- 430. As subseqentes citaes deste autor e seus heternimos sero feitas por esta edio, indicando-se cada heternimo pelas respectivas siglas, assim distribudas: lvaro de Campos: ACp; Alberto Caeiro: AC; Ricardo Reis:RR, seguidas da pgina em algarismos arbicos.

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    E essa a minha definio. (AC, p. 220.)

    Ricardo Reis, como Caeiro, seu mestre, elogia a magna quies do viver campestre, indiferente ao social, considerando a ataraxia como a condio primeira da felicidade, buscando prazer, mas indiferente ao prazer que compromete. O poeta convoca Ldia a viver um prazer sereno, silencioso, como as coisas da natureza: Como um regato, mudos passageiros, / Gozemos escondidos. / A sorte inveja, Ldia. Emudeamos. (RR, p. 277.)

    Em oposio ao campo, a cidade vista, na literatura, negativamente e de um ponto de vista amedrontador, como alguma coisa que destri o passado feliz. Nas multides das grandes cidades o indivduo perde o seu referencial, ante a impossibilidade de compartilhamento.

    O desenvolvimento da indstria leva ao xodo rural e ao crescimento das cidades. Concentrado nas cidades, o homem se torna mais consciente das desigualdades sociais que, dispersas no ambiente rural, se acomodavam numa vida frugal. As riquezas, multiplicando-se a seus olhos, levam-no a uma necessidade de apossar-se delas, de se enriquecer, seja pelo trabalho, seja pela violncia, arrastando-o, muitas vezes, nessa aventura, pelo despreparo de meios, pobreza, misria.

    Antes, ligado ao lar, famlia, v-se de repente, inserido em um universo destitudo de personalidade, onde a casa se torna apenas um lugar de passagem na luta inglria contra o tempo, na escalada de falsos valores, conduzido pela sociedade de consumo. O lugarejo, a vila, onde todos se conheciam so substitudos pela cidade grande, de que Francis LACASSIN, em Mythologie du roman policier, nos traa um retrato contundente:

    [...] suas fachadas falsamente tranqilas; sua multido de pessoas honestas onde cada uma delas pode dissimular um criminoso; suas ruas grandes abertas a loucas perseguies; seus entrepostos macios como fortalezas, suas paliadas fechadas sobre o mistrio ou o nada; seus tetos oferecidos ao julgamento de Deus; suas luzes que furam a noite ameaadora ... (1974, p. 15.)

    Esses labirintos de ruas, onde as pequenas cidades so substitudas por quarteires, por edifcios annimos, extenses da famlia, onde cada um se sente esmagado no seu isolamento, no seu anonimato, dissimula toda uma populao

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    da noite que sofre, que se agita, que suporta seu destino, sua sorte, cada vez com menos dose de pacincia.

    Desse estado de coisas, nasce para o indivduo um sentimento de impotncia, de estar s, e, em conseqncia, o desejo de encontrar alguma coisa que lhe assegure que o seu isolamento est sendo compartilhado, levando-o a uma necessidade de espetculo, de ver o que se passa com o outro, de saber que a sua solido tambm a do outro. A multido fascina o observador, colocando-o ora, distancia, observando o espetculo das ruas de longe, de uma janela, conforme a personagem de Hoffmann, no conto A janela de esquina do meu primo (HOFFMANN, 2010); ora inserido nessa multido, conforme a personagem de Poe, no conto O homem da multido (The Man of the Crowd).

    Assim, Fernando Pessoa /lvaro de Campos, da janela do seu quarto, olha o espetculo do drama das pessoas, como espelho dele mesmo: Janelas do meu quarto, / Do meu quarto de um dos milhes do mundo que ningum sabe quem / ( E se soubessem quem , o que saberiam?) (ACp, p. 362)

    No conto de Poe, inicialmente, a personagem observa os passantes de uma janela. De repente, nessa multido, um desconhecido atrai o olhar do observador que passa a persegui-lo pelas ruas de Londres, tentando identific-lo:

    Com minha fronte na vidraa, eu estava assim ocupado em escrutar o populacho, quando subitamente a mostrou-se um rosto (o de um decrpito velho, de cerca de sessenta e cinco ou setenta anos de idade) - um rosto que imediatamente prendeu absorveu minha total ateno, por conta da absoluta idiossincrasia de sua expresso [...] Ento surgiu um desejo ardente de manter o homem vista - para conhecer mais dele. Apressadamente vestindo um sobretudo, e agarrando meu chapu e bengala, eu me dirigi para a rua, e abri caminho atravs da multido, na direo que eu o tinha visto tomar; porque ele j tinha desaparecido. Com uma certa dificuldade, eu finalmente avistei-o, aproximei-me, e o segui de perto, embora cautelosamente, de tal modo que no atrasse sua ateno. (1979, p.112-113).

    O homem da multido de Poe, no o flneur de Baudelaire, na medida em que o comportamento da personagem no tranqilo, manaco. Poe afasta-se da caracterstica essencial marcada por Baudelaire: a conivncia, ao descrever essa figura, vista como:

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    [...] algum que no se sente seguro em sua prpria sociedade. Por isso busca a multido; e no preciso ir muito longe para achar a razo por que se esconde nela. A diferena entre o anti-social e o flneur deliberadamente apagada em Poe. Um homem se torna tanto mais suspeito na massa quanto mais difcil encontr-lo (BENJAMIN, 1991, p. 45.)

    Segundo Walter Benjamin, em Charles Baudelaire: um lrico no auge do capitalismo, esse desconhecido o flneur, ponto de vista compartilhado por Baudelaire que usa para este termo o sinnimo homem da multido.

    Voltado para o mundo interior, Baudelaire j descobre a solido do homem no contexto citadino. Evoca o sentimento paradoxal do isolamento do indivduo nas multides dos grandes centros, nascidas sobretudo do xodo rural e do afluxo de uma populao desenraizada, tornada urbana pelo apelo da revoluo industrial. Existe, todavia, nessa multido uma forma de solidariedade, uma inquietao metafsica, annima, mas no independente, como se constata no poema A une passante, que se encontra em As flores do mal, de Baudelaire, em que dois seres se cruzam, sem se conhecerem, mas partcipes da mesma angstia, do mesmo spleen que envelopa as grandes cidades: Car jignore o tu fuis, tu ne sais o je vais,/ toi que jeusse aime, toi qui le savais! (1985, p.345.)

    Diferentemente do passante, condenado mera vivncia, alienao, arrastado pela massa, o Poeta o flneur, o conscientizado, aquele que busca refgio na multido, conservando sua personalidade, conforme estabelecido por Baudelaire, em seu livro de prosa potica Le Spleen de Paris, no texto As multides:

    Multido, solido: termos iguais e conversveis para o poeta ativo e fecundo. Quem no sabe povoar sua solido, no sabe tambm estar s em uma multido ocupada.O poeta desfruta deste incomparvel privilgio de poder sua maneira ser ele mesmo e o outro. Como essas almas errantes que procuram um corpo, ele entra, quando quiser, na personagem de qualquer um. Somente para ele, tudo est vago; e se parece que alguns lugares para ele estejam fechados, que a seus olhos no vale a pena serem visitados.O passeador solitrio e pensativo tira uma embriaguez singular dessa comunho universal (1972, p. 54.)

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    Esse fascnio pelas ruas que arrebatou toda uma pliade de poetas, tais como Poe, Baudelaire, Cesrio Verde, arrebata tambm Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade.

    Existe, pois, toda uma orquestrao de cantares poticos, voltados para a modernidade, para uma temtica centrada nas cidades, ligada s multides, s ruas, flnerie, que vai anunciar a potica urbana de Fernando Pessoa, evidenciada, sobretudo em lvaro de Campos e em Bernardo Soares, voltada para um indivduo que se sente perdido entre o passado do campo e o futuro das grandes cidades, vivendo um presente marcado pela angstia existencial, pelo desassossego pessoano.

    Assim, o flneur, Fernando Pessoa, caminha solitrio pelas ruas de Lisboa, inserido na multido annima, de onde ele arranca ou tenta arrancar traos do indivduo, como se verifica nesta passagem de o Livro do desassossego:

    Descendo hoje a Rua Nova do Almada, reparei de repente nas costas do homem que a descia adiante de mim. Eram as costas vulgares de um homem qualquer, o casaco de um fato modesto num dorso de um transeunte ocasional. Levava uma pasta velha debaixo do brao esquerdo, e punha no cho, no ritmo de andando, um guarda-chuva enrolado que trazia pela curva da mo direita. Senti de repente uma coisa parecida com ternura por esse homem (1986, p. 49.)

    Este narrador, disperso em personagens desassossegadas, vagueia pelas ruas de Lisboa, exercitando o prazer de aprofundar essa nusea, de recorrer s imagens da realidade emprica, ao espetculo do drama das outras pessoas, como pontos de partida para refletir sobre o enigma da vida, como molas para voltar-se para dentro de si mesmo como um novelo, na nsia de viver o seu drama em gente:

    Um dos meus passeios prediletos, nas manhs em que temo a banalidade do dia que vai seguir como quem teme a cadeia, o de seguir lentamente pelas ruas fora, antes da abertura das lojas e dos armazns, e ouvir os farrapos de frases que os outros de raparigas, de rapazes, e de uns com outras, deixam cair, como esmolas da ironia, na escola invisvel da minha meditao aberta (PESSOA, 1986, p. 61.)

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    Na rua, os passantes so condenados a uma atividade mais visual do que auditiva. Esse olhar que passeia sobre as pessoas e com elas no se comunica gera uma situao nada acolhedora, uma nusea intensa, um profundo desassossego. Nesse vaguear, nesse exerccio de flnerie, o Poeta sente-se entranhado na multido, recupera a presena de Cesrio Verde com quem compartilha o seu isolamento:

    A Rua do Arsenal, a Rua da Alfndega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfndega cessa, toda a linha separada dos cais quedos - tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solido do seu conjunto. Vivo uma era anterior quela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesrio Verde, e tenho em mim no outros versos como os dele, mas a substncia igual dos versos dele (PESSOA, 1986, p. 121.)

    E Fernando Pessoa/Bernardo Soares mergulha o seu olhar de tdio, angstia, abulia, cansao, solido nas ruas que alimentam e aliviam o seu desassossego, como reflexo de sua identidade dispersa:

    Por ali arrasto, at haver noite, uma sensao de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas so cheias de um bulcio que no quer dizer nada; de noite so cheias de uma falta de bulcio que no quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu. No h diferena entre mim e as ruas para o lado da Alfndega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que nada valha ante o que essncia das coisas (PESSOA, 1986, p. 121.)

    Algumas vezes, o subrbio, ou essas ruas de bairro, so vistas como o passado seguro da infncia que se v ameaado pela invaso do progresso, conforme se pode constatar em passagem do Livro do desassossego:

    No nos largos campos ou nos jardins grandes que vejo chegar a primavera. nas poucas rvores pobres de um largo pequeno da cidade. Ali a verdura destaca como uma ddiva e alegre como uma boa tristeza.Amo esses largos solitrios, intercalados entre ruas de pouco trnsito, e eles mesmos sem mais trnsito que as ruas. So clareiras inteis, coisas que esperam, entre tumultos longnquos. So a aldeia na cidade (PESSOA, 1986, p. 126.)

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    Enfim, o universo potico alimentado por esses olhares urbanos vai receber de Pessoa contribuio valiosa, seja atravs do Livro do desassossego, com os rudos de rua, as vozes das vendedoras solertes, os toques metlicos dos eltricos; seja na tessitura dos poemas de lvaro de Campos, em Fices do interldio, inseridos na Obra potica, marcados pelos grandes rudos modernos das mquinas, pelo olhar que se debrua para as ruas atravs das janelas do quarto, dando para o mistrio de uma rua cruzada constantemente por gente, e de onde ele v com nitidez absurda: carros, lojas, passeios, mendigos; ou pelo olhar melanclico deitado sobre a Lisboa revisitada, onde ele chora o passado feliz: Cidade da minha infncia pavorosamente perdida.../ Cidade triste e alegre outra vez sonho aqui... (ACp, p.297- 423).

    Seguindo-se o percurso potico de Carlos Drummond de Andrade, verifica-se que a oposio at aqui estudada manifesta-se, na obra do poeta mineiro, entre dois espaos bem determinados. De um lado, o Rio de Janeiro, a cidade grande, o mundo sofisticado, marcado pelo mar e pela abertura geogrfica; de outro lado, os espaos modestos, simples, evidenciados nas ruas de Minas, na vida besta, montona, previsvel, mas segura, que invade, freqentemente, o Poeta como um locus amenus, um tempo perdido que poderia ser salvador: quer ir para Minas, / Minas no h mais. / Jos, e agora?2

    No poema A bruxa (R, p.63), a cidade grande vista como um espao hostil, onde os provveis milhes de habitantes esto todos inacessveis, mesmo os que esto situados prximos - a ponto de ser ouvido do apartamento do lado rudo de vida - permanecem incomunicveis, e o Poeta amarga a sua solido, enclausurado em um quarto qualquer, dividindo-a, apenas, com uma bruxa que querendo romper a noite jogou-se na zona de luz:

    Esta cidade do Rio!Tenho tanta palavra meiga, conheo vozes de bichos, sei os beijos mais violentos,viajei, briguei, aprendi. Estou cercado de olhos, de mos, afetos, procuras.

    1 ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunio: 10 livros de poesia. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978, p. 70. As subseqentes citaes dos poemas, inseridos nesta obra, sero indicadas pela sigla R, seguida da pgina em algarismos arbicos).

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    Mas se tento comunicar-meo que h apenas a noite e uma espantosa solido (R, p.63.)

    O processo de solido que marca as grandes cidades, alastra-se entre os homens perdidos na multido, esquecidos de sua humanidade. A cidade grande, com suas casas annimas, marcada pela desconfiana gerada entre rostos desconhecidos que transitam apressados nas ruas, torna-se inexplicvel, destituda de sentido. Faltam-lhe mos unidas, amor compartilhado que talvez ainda seja possvel no interior, no subrbio, ou, apenas, num espao feliz resguardado no passado. No limite entre cidade/campo, est o subrbio em embate ferrenho com a noite para definir luz prpria. E, na manh salvadora, est o campo, esto os laranjais reveladores do caminho para Minas:

    Quando vou para Minas, gosto de ficar de p contra a vidraa do carro,vendo o subrbio passar.O subrbio todo se condensa para ser visto depressa, com medo de no repararmos suficientementeem suas luzes que mal tm tempo de brilhar.A noite come o subrbio e logo o devolve,ele reage, luta, se esfora, at que vem o campo onde pela manh repontam laranjais e a noite s existe a tristeza do Brasil (R, p.56-7.)

    Minas se ope megalpole, como um espao simblico em que se insere a mineiridade, o passado, a cidade pequena, e que surge na sua potica como resgate de uma fora realimentadora. Em Corao numeroso (R, p.15), imerso na cidade grande, perdido na multido, e preso s razes, ele que ainda no conhecia ningum a no ser o doce vento mineiro sente no vento que vem do mar que o vento vinha de Minas. A presena de Minas se torna manifesta como um espao simblico contraposto ao resto do mundo aberto ao poeta. Esse espao sempre recorrente. Drummond Minas: Sou apenas uma rua / na cidadezinha de Minas, / humilde caminho da Amrica (R, p. 127.) Na sua busca angustiada, quando percorre o caminho para o ser em A mquina do mundo (R, p.197-201) ele inicia em Minas a sua caminhada de questionamento do destino por uma estrada pedregosa:

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    E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas pedregosa...................................................a mquina do mundo se entreabriupara quem de a romper j se esquivavae s de o ter pensado se carpia.

    Buscando achar uma direo na sua rota, o Poeta, perdido nos labirintos e nos desafios desordenados da cidade grande, ergue o seu pedido urgente em Prece de mineiro no Rio (DRUMMOND, 1983, p. 340-341.):

    Esprito de Minas, me visita,e sobre a confuso desta cidade, onde a voz e a buzina se confundem, lana teu claro raio ordenador.Conserva em mim ao menos a metadeDo que eu fui de nascena e a vida esgara...

    Sentindo-se abandonado, o Poeta reclama a presena salvadora, queixando-se do silncio que gera angstia e solido:

    Por vezes, emudeces. No te sinto a soprar da azulada serrania onde galopam sombras e memrias de gente que, de humilde, era orgulhosa e fazia da crosta mineral um solo humano em seu despojamento.

    E o poema encerrado, no com a negao de um desses espaos, mas com a procura de um espao imaginrio em que Minas e Rio, as montanhas e o mar, o mundo da realidade e o mundo do sonho entrem em equilbrio compartilhado, criando-se um roteiro salvador, que conduza para um caminho entre o mar real e o profundo mar do sonho, onde ele sinta a segurana de um porto:

    Esprito mineiro, circunspecto, Talvez, mas encerrando uma partculade fogo embriagador, que lavra sbito,e, se cabe, a ser doido nos inclinas:no me fujas no Rio de Janeiro,

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    como a nuvem se afasta e a ave se alonga, mas abre um portulano ante meus olhosque a teu profundo mar conduza, Minas,Minas alm do som. Minas Gerais.

    Em A flor e a nusea (DRUMMOND, 1983, p. 161-162), o jogo entre o espao urbano e o espao do campo, em cuja conotao entra o passado, a cidade pequena, o interior, a memria, a mineirice afinal, o Poeta, indo por uma rua cinzenta, em compasso de espera, espreitado por melancolias, onde os muros so surdos e o tdio se derrama sobre a cidade, abre-se, de sbito, uma nesga de esperana, ante uma flor no asfalto. Essa flor resgata todo um lado natural, que parecia a ponto de afogar-se nas contradies, nos conflitos, na surdez do mundo urbanizado:

    Sento-me no cho da capital s cinco horas da tardee lentamente passo a mo nessa forma insegura.Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pnico. feia. Mas uma flor. Furou o asfalto, o tdio, o nojo e o dio.

    O jogo entre natureza/cultura evidencia-se de forma contundente no poema IV-Itabira (R, p.9), onde se questiona o papel da minerao como processo civilizatrio. O pico do Cau desapareceu do cenrio itabirano, a montanha foi destruda pela extrao do minrio:

    Cada um de ns tem seu pedao no pico do Cau.Na cidade toda de ferroas ferraduras batem como sinos.Os meninos seguem para a escola.Os homens olham pra o cho. Os ingleses compram a mina.S, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparvel.

    A viso da natureza evidencia-se em Drummond, muitas vezes, a partir de uma colocao ironizada, questionadora do sentido tradicionalmente usado. Em Casamento do cu e do inferno (R, p. 4), a lua romntica perde o seu status e se enquadra em uma gravura da sala de jantar:

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    No azul do cu de metilenoa lua irnicadiurtica uma gravura da sala de jantar.

    E a cidade pequena que compartilha, ainda, fortemente o seu espao com o espao da natureza, desperta no Poeta uma sensao de inutilidade, de perda de perspectivas na monotonia do viver cotidiano, no poema Cidadezinha qualquer (R, p.17) :

    Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar.

    Um homem vai devagar.Um cachorro vai devagar.Um burro vai devagar.Devagar... as janelas olham.

    Eta vida besta, meu Deus.

    Todavia, essa rememorao de Itabira, da vida besta, da paralisao no tempo, da vida correndo sem grandes perspectivas, como espao contraposto ao resto do mundo, pode parecer desvalorizadora, mas o final de Confidncia do itabirano (R, p.45) recupera a viso do Poeta sobre o passado, e restabelece a importncia desse tempo e desse espao:

    Tive ouro, tive gado, tive fazendas.Hoje sou funcionrio pblico.Itabira apenas uma fotografia na paredeMas como di.

    Enfim, no campo e na infncia, em Minas, que se situa o mundo olhado como espao feliz. O Poeta vai montando com imagens de delicada plasticidade um quadro buclico, como se o mundo estivesse suspenso no tempo, em uma cena congelada na memria, no poema Infncia (R., p.4) :

    Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.

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    Minha me ficava sentada cosendo.Meu irmo pequeno dormia.Eu sozinho menino entre mangueiraslia a histria de Robinson Cruso,comprida histria que no acaba mais.

    Na tarde serena, a voz da preta velha chamando para o caf, voz que

    aprendeu a ninar nos longes da senzala, o olhar da me, ali, ao alcance, quebrado s por um suspiro...que fundo!, o irmo dormindo, enquanto ele lia a histria do heri que vivia longe da civilizao, e o pai cuidando de tudo campeando no mato sem fim da fazenda, e a vida fluindo sem complicaes. E o fecho constatando o locus amenus: Eu no sabia que a minha histria / era mais bonita que a de Robinson Cruso.

    Assim como o olhar de Fernando Pessoa constata o mundo a partir do jogo de contrrios, dividido entre o espao onde domina o princpio de prazer e o espao onde domina o princpio de realidade, evidenciado em sua potica, no como um antagonismo bem delimitado, bem demarcado, mas disperso atravs das mscaras, atravs dos seus heternimos, tambm o olhar dividido de Carlos Drummond de Andrade na abordagem do mundo, manifesta este jogo entre o locus urbanus e o locus amenus, em sua potica, por meio de uma fragmentao ao longo de sua obra. E, sobretudo, o espao simblico, nomeado Minas, e que abarca todo um universo, em que se encontra o passado, o sonho, a memria, dispersa-se ao longo de seus textos poticos e o leitor s ter acesso a esse mundo mgico, recompondo os pedaos. Neste sentido, no poema A palavra Minas (DRUMMOND, 1983, p.490-491), configura-se o portulano, que orientar o leitor para a descoberta do locus amenus, do espao simblico Minas, seguindo, numa viagem lenta, as linhas de rumo, irradiadas de vrias pistas disseminadas ao longo da obra, oferecidas em segredo, como s sabem os mineiros fazer: Minas no palavra montanhosa. / palavra abissal. Minas dentro / e fundo.

    E a rota perturbadora vai-se, pouco a pouco, delineando, resguardados os mistrios:

    As montanhas escondem o que Minas.No alto mais celeste, subterrnea, galeria vertical varando ferropara chegar ningum sabe onde.

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    No jogo ardiloso, esse espao se mascara, disperso:

    Ningum sabe Minas. A pedrao buritia carrancao nevoeiroo raioselam a verdade primeira, sepultadaem eras geolgicas de sonho.

    E no encerramento do poema, como na velha histria do aprendiz de feiticeiro, que, embora dedicadssimo ao curso, no consegue ser bem sucedido, porque no era feiticeiro, s os iniciados descobriro o enigma. S aos que percorrem a pedregosa estrada para o corao da poesia drummoniana ser feita a revelao, revelao que eles, na verdade, conhecem por antecipao, mas guardam avaramente, como se no soubessem: S mineiros sabem. E no dizem / nem a si mesmos o irrevelvel segredo / chamado Minas.

    Nos textos avaliados, observa-se, ainda, que, se o Oceano Atlntico funciona como fronteira natural entre esses dois poetas, um europeu, outro sul-americano, funciona tambm como ponto de intercmbio, verificando-se, na escritura potica desses dois autores, que o esse mesmo mar lhes agua o olhar e lhes aula o imaginrio, despertando-lhes significativas abordagens.

    Na escritura potica de Fernando Pessoa, o imaginrio do mar evidencia-se, sobretudo, no pico Mensagem. No poema D. Diniz (p.73), o futuro das investidas pelo Atlntico manifesta-se pela voz do rei poeta, o plantador dos pinhais de Leiria, no preparo para a construo das naus que indiciam a busca do oceano por achar. Na noite, quando ainda apenas sonho, o Oceano sussurra aos ouvidos do rei esse anseio da terra para expandir-se para alm de sua estreiteza, pelos caminhos do mar:

    Anseio, esse cantar, jovem e puro,Busca o oceano por achar;E a fala dos pinhais, marulho obscuro, o som presente desse mar futuro, a voz da terra ansiando pelo mar (p.73.)

    Em O mar portugus, o poeta desvela o sofrimento das mulheres,

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    esperando pelos seus homens, longe delas no enfrentamento dos perigos, na aventura das conquistas de novas terras:

    mar salgado, quanto do teu salSo lgrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas me choraram,Quantos filhos em vo rezaram!Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, mar! (p.82)

    E nesse percurso de sonhos, de busca de novas terras, de expanso martima, o poeta orgulha-se de olhar o oceano Atlntico como o espao de seu povo, declarando: Que o mar com fim ser grego ou romano; / O mar sem fim portugus. (p.79.)

    No menor a importncia do mar no imaginrio drummondiano, presente no olhar sonhador e investigativo do poeta, em Maralto( 2002, p.303):

    Que coisa maralto?O mar que de assaltocobre toda a vista?Galo cuja cristasalta em sobressaltoa quem lhe resita?O mar que maralto.

    E nas elucubraes despertadas pelo mar, o poeta se pergunta:

    Na lvida escamano agudo ressalto de cosmorama, quem sabe, maralto, o que de to alto,to alto, anda faltono amor de quem ama?

    E perdido na confuso da grande cidade, onde voz e buzina se confundem , ele pede interferncia do mar, em Prece de mineiro no Rio (p. 78-9) em busca de um raio ordenador:

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    [ ...] Esprito mineiro, circunspectotalvez, mas encerrando uma partculade fogo embriagador, que lavra sbito,e, se cabe, a ser doidos nos inclinas:no me fujas no Rio de Janeiro,como a nuvem se afasta e a ave se alonga, mas abre um portulano ante meus olhos que a teu profundo mar conduza, Minas,Minas alm do som. Minas Gerais.

    Diante da fora do Atlntico que banha o Rio de Janeiro, o poeta saudoso das montanhas de Minas Gerais, , todavia, conquistado pela forte presena do mar, evidente em Amar (p. 230):

    Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotao universal, senorodar tambm, e amar?amar o que o mar traz praia,o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, sal , ou preciso de amor, ou simples nsia?

    E, enfim, na confuso da grande cidade, o mar salvador, entra em consonncia com o seu corao, no poema Corao numeroso (p. 153):

    O mar batia em meu peito, j no batia no cais.A rua acabou, quede as rvores? A cidade sou euA cidade sou euSou eu na cidadeMeu amor

    Concluindo, observou-se que alm de temas comuns, dividindo o olhar dos poetas estudados em uma revisitao da cidade e do campo, destaca-se a importncia do Atlntico, alimentando o universo simblico de Fernando Pessoa e de Carlos Drummond de Andrade, mar que instiga a decolagem de significativas imagens.

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