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Cervantes e Portugal Curiosidade Litteraria Barroso, Carlos Release date: 2007-08-22 Source: Bebook

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Cervantes e PortugalCuriosidade

LitterariaBarroso, Carlos

Release date: 2007-08-22Source: Bebook

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CERVANTES E PORTUGAL

CURIOSIDADE LITTERARIA

POR

CARLOS BARROSO

DEDICADA AO RESPEITAVEL DR. E. W.THEBUSS� BAR� DE THIRMENTH

LISBOA ANNO 325 DO NASCIMENTO DOAUTOR DE D. QUIXOTE

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CERVANTES E PORTUGAL

Los libros de caballer� son la protestacontra el feudalismo, y Cervantes lagran est�ua que corona el renacimiento.

Emilio Castelar.

Miguel de Cervantes Saavedraappellidado por seus compatriotas, o_Manco de Lepanto_, por ter sido mutiladon'aquelle celebre combate naval, segundoconsta de sua biographia veio a Lisboacom Phelippe II em 1581 onde se namoroude certa dama incognita e de quem teveuma filha, cujo nome foi Isabel deSaavedra. Supp�-se que seus amores nac�te lusitana lhe inspiraram a linda novellapastoril da _Galatea_, onde o autor figuradisfar�do no pegureiro Lauso que suspirapela formosa pastora Silena. O escriptor

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de t� bello idyllio assistiu �tomada dasIlhas Terceiras pelo marquez de SantaCruz.

* * * * *

Come�rei as minhas investiga�es peloprologo do famoso poema critico _D.Quijote_.

Alli dedica Cervantes um merecido elogioao famoso rio Tejo que beija as praias dainclita cidade de Ulysses, e cujas ar�sconsta da tradic�o serem de ouro.

Percorrendo esta obra digna de ser lidapor todos os que se prezam deverdadeiros litteratos, deparamos nocapitulo 6.^o da sua 1.^a parte, que entreos livros que adornavam a bibliotheca doengenhoso fidalgo, se encontraram al� deoutros de autores portuguezes o

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_Palmeirim de Inglaterra_, cuja composi�ose attribue a um _discreto_ rei de Portugal,e tambem a _Diana_ de Jorge deMontemayor.

Quando o Heroe da Mancha exalta aimaginaria gerarquia da senhora de seuspensamentos D. Dulcinea do Taboso,afirma que n� �oriunda de outras familiasceleberrimas de Hespanha que menciona,nem mesmo dos Alencastros, Pallas eMenezes de Portugal.

O pastor Lope Ruiz, com cuja historiaentretem Sancho Pan� o seu temerarioamo, ao fugir da ingrata Torralva,detem-se nas margens do Guadiana antesde passar com seu rebanho para Portugal.

O reino da princeza Micomicona era maiorque Portugal e Castella juntos.

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Na 2.^a parte, supp� o escudeiro de D.Quixote que mais de 12:000 exemplaresda historia de seu valente patr�, seachavam n'aquelle tempo impressos, eafirma como testemunhas do que refere aPortugal, Barcelona e Valencia.

O rio Guadiana entra _pomposo_ e_grande_ em Portugal.

Na profunda e tenebrosa cova deMontesinos promette o _caballero de losleones_ �sua phantastica amante, andarpor causa d'ella as sete partidas do mundocom mais pontualidade que o infante D.Pedro de Portugal.

Para provar a verdade da existencia doscavalheiros andantes, diz o da TristeFigura ao conego de Toledo: �Si nodiganme tambien que no es verdad quefu�caballero andante el valiente lusitano

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Juan de Merlo, que fu��Borgo�, y secombati�en la ciudad de Ras con el famosose�r de Charny, llamado Mosen Enriquede Remestan, saliendo de entrambasempresas vencedor y lleno de honrosafama.�

Era do _excelentisimo_ Cam�s uma daseclogas que haviam de representar aspastoras em cujas redes se embara�u opensativo escravo de Dulcinea.

* * * * *

Passando do primor de Cervantes �suaquasi rival Galatea, l�se que o pae da lindaheroina das margens do aurifero Tejo,intenta prendel-a com os la�s de hymineoa um pastor lusitano das ribeiras dodeleitoso Lima. Que bellos s� os versos daapaixonada amante de Erastro quando aodespedir-se do seu dourado rio, canta:

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��Que tengo de despedirme De ver elTajo dorado! �Que ha de quedar miganado, Y yo triste he de partirme!�

�pena que t� deslumbrante produc�oficasse por acabar e que o leitor ignore seos zagaes do manso Henares chegaram arechassar o pastor estranho.

* * * * *

Passemos � _Novellas Exemplares_.

Na da _Hespanhola ingleza_, Ricaredodepois de separar-se de Isabella,seguindo a derrota das Ilhas Terceiras, emque sempre se encontravam naviosportuguezes das Indias Orientaes,approxima-se com effeito de umcarregado de especiarias e de tantasperolas e diamantes, que valiam mais de

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um milh� de ouro, e levava trezentaspessoas, ao qual abastece de artilheria portel-a alijado durante uma tespestade.

Quando Isabella parte para Hespanha,promette o capit� do baixel �rainha deInglaterra de aportar a Lisboa, Cadix ouSevilha.

No _Licenciado Vidra�_ observa-se aanecdota do portuguez que pintava asbarbas de negro, o qual altercando comum castelhano disse-lhe: �por estas barbasque tenho no rosto�, a quem redarguiu olicenceado: �n� digaes tenho, dizei _ti�_(palavra hespanhola que em portuguezequivale a _tinjo_).

Na _For� do sangue_, o arrebatador dahonra de Leocadia afim que ella para ofuturo o desconhecesse inteiramente, aodeixal-a com os olhos vendados junto

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�egreja da pra�, muda a voz eannuncia-lhe em lingua meio portugueza emeio castelhana, que p�e d'alli ir para casade seus paes.

No _Zelloso extremenho_, diz Loaysa aonegro guarda da jovem esposa do velhoCarrizales, que sabia cantigas capazes defazer pasmar at�aos portuguezes.

A negra Guiomar era portugueza.

No _Colloquio dos c�s_, Berganza vituperaos que fallando mal o latim introduzem suaruim linguagem qual cobre dourado nasconversa�es eruditas, como osportuguezes fazem com os pretos deGuin�

Na _Tia fingida_, ha a seguinte phrase queacho muito graciosa: ��poco rato vieronvenir una reverenda matrona, con unas

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tocas blancas como la nieve, mas largasque sobrepelliz de can�igo portugu�.�

Ao descrever-se na mesma novella ocaracter de todos os povos da peninsula,tambem se menciona o dos portuguezes,ainda que de um modo pouco lisongeiro.

* * * * *

�em Lisboa que o barbaro hespanholembarca para Inglaterra.

Em lingua portugueza canta o namoradoManuel de Sousa Coutinho seus amorespor que morre depois de os relatar, e cujanarra�o occupa todo o capitulo X do livro Idos _Trabalhos de Persiles eSegismunda_.

Na interessantissima parte 3.^a dosmesmos presenceamos a chegada a

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Portugal e desembarque dos viajantes napraia de Belem, d'onde se dirigem�_famosa_ Lisboa, cujos ricos templos ehospitaes s� celebrados. A seguintepassagem merece ser lida em seuprimitivo idioma: �aqui el amor y lahonestidad se dan las manos, y se paseanjuntos; la cortes� no deja que se le lleguela arrogancia, y la braveza no consienteque se le acerque la cobard�: todos susmoradores son agradables, son corteses,son liberales y son enamorados, porqueson discretos: la ciudad es la mayor deEuropa y la de mayores tratos; en ella sedescargan las riquezas del Oriente ydesde ella se reparten por el universo; supuerto es capaz, no solo de naves que sepuedan reducir �n�mero, sino de selvasmovibles de �boles que los de las navesforman: la hermosura de las mujeresadmira y enamora, la bizarr� de loshombres pasma, como ellos dicen;

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finalmente, esta es la tierra que da al cielosanto y copios�imo tributo.�

Em S. Juli�, que no original se v�escripto_Sangian_, �revistado o navio em quevinham os peregrinos. A formosura deAuristela e a galhardia de Periandro s� oalvo da admira�o do governador docastello e de seus habitantes.

N� se esquecem os devotos peregrinos devisitar o historico mosteiro de Santa Maria,e dirigindo-se depois por terra �capital,constantemente acompanhados _deplebeya y cortesana gente_ encontram-sepor acaso com um dos vinte fugitivos dailha selvagem, que tendo presenceado amorte do desditoso Coutinho, volvera�patria, e dera conta do successo aosparentes do fallescido, que o accreditaram_por tener casi en costumbre el morir deamores los portugueses_, mandando

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depois d'esta noticia fabricar um tumulode marmore branco, e como se n'elleestivesse enterrado, applicou-lhe seu irm�uma lapide na qual se lia a seguinteinscrip�o em portuguez, que traduzida docastelhano reza assim:

AQUI JAZ VIVA A MEMORIA DOJ�MORTO MANUEL DE SOUSACOUTINHO, CAVALHEIROPORTUGUEZ, QUE SE N� FOSSEPORTUGUEZ AINDA VIVERA. N�MORREU � M�S DE NENHUMCASTELHANO, MAS SIM � DO AMOR,QUE TUDO P�E; PROCURA SABERSUA VIDA, E INVEJAR� SUA MORTE, PASSAGEIRO.

O qual lido por Periandro confirmou queexcede na composi�o de epitaphios agente da na�o portugueza.

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O cavalleiro que entrega o meninorecemnascido a Ricla, diz-lhe que seusinimigos o perseguem, e que se por allipassarem e lhe perguntarem por elle,diga-lhes que apenas tinha visto tres ouquatro homens a cavallo que iam gritando_�Portugal, �Portugal_.

Mais adiante conta o polaco as suasaventuras em Lisboa, ondeinopinadamente mata certo fidalgo, filhode uma senhora, em cuja casa se refugia oassassino para subtrahir-se �justi�; a m�do assassinado sem saber do caso,esconde-o por detraz dos tapetes de suamesma alcova, tem a generosidade de n�o entregar �justi� depois de saber docrime que o seu protegido haviacommettido, e para n� faltar�hospitalidade perd�-lhe, e d�lhe fugapela porta occulta de seu jardim.

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Ao fallar Cervantes de Valencia e de suaslindas mulheres, diz que �gracioso odialecto valenciano, e que s�com o idiomaportuguez _puede competir en ser dulce yagradable_.

O sumptuoso palacio de Manases em quese hospedaram os peregrinos em Romaachava-se situado junto ao arco dePortugal.

Emfim, o retrato da bellissima Auristelafeito em Lisboa por um pintor portuguez,foi por outro pintor comprado em Fran� ed'alli transportado �Hespanha.

* * * * *

Na _Viagem do Parnaso_, canto IV, depoisde descrever o autor a deidade quepersonifica a Poesia, e de dizer que o Sullhe brinda perolas, Sabea perfumes, o

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Tiber ouro, e Hibla suavidade, contin�a:

�Galas Milan, y lusitania amores.�

Mais adiante e no mesmo canto l�se:

�Aquel discreto Juan de BasconcellosVenia delante en un caballo bayo,Dando �las musas lusitanas celos.

E pouco depois:

�As�como las naves que cargadasLlegan de la oriental India �Lisboa, Queson por las mayores estimadas; Estalleg�desde la popa �proa Cubierta depoetas, mercancia De quien hay saca enCalicut y en Goa.

E elogiando a alguns poetas diz no cantoVII:

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�De la alta cumbre del famoso PindoBajaron tres bizarros lusitanos, A quienmis �abanzas todas rindo Con prestospies y con valientes manos ConFernando Correa de La CerdaPis�Rodriguez Lobo monte y llanos. Yporque Febo su razon no pierda, Elgrande Don Antonio de Ataide Lleg�confuria alborotada y cuerda.

Entre os sonetos que compoz Cervantes,observa-se um dirigido ao marquez deSanta Cruz que se apoderou das ilhas dosA�res.

* * * * *

Em conclus�; nos seus onze entremezess�duas cousas se l�m referentes aPortugal, e ambas no da _Guardacuidadosa_, em que apparece umvendedor ambulante que entre outras

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cousas apregoa _hilo portugu�_, e variasscenas depois um soldado que menciona agrande pe� de Diu existente em Lisboa, n�sei se no Arsenal do Exercito. S� estas assuas palavras--�No habi�dome espantadoni atemorizado tiros maiores que el de Dio,que est�en Lisboa.�

O que me faz collegir que o dicto militarpresenciou o memoravel c�co.

* * * * *

�isto tudo o que li relativo a Portugal nasobras do immortal critico das Hespanhas,e que fielmente relato, rogando aos quelerem este folheto me desculpem am�linguagem em que o escrevi em

Lisboa, aos 18 de fevereiro de 1872.

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NOTA

Referindo-se a Bento Caldera (portuguez)primeiro traductor dos Lusiadas emcastelhano, diz o sr. visconde deJurumenha na sua bella edi�o das obras doimmortal Luiz de Cam�s, 1860, asseguintes palavras: �O celebre Miguel deCervantes Saavedra fez men�o datraduc�o e traductor n'estes versos na sua_Galatea_ liv. VI, _Canto de Caliope_.

Tu que de luso el singular tesoroIrigiste en nueva forma �la ribera Delfertil rio, �quien el lecho de oro Tanfamoso le hace adonde quiera; Con eldevido aplauso, y el decoro Devido �ti,Benito de Caldera, Y �tu ingenio sin parprometo honrarte, Y de lauro, y dehiedra coronarte.

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FINIS CORONAT OPUS.

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