carcinoma de cÉlulas escamosas em ... homeostase das células. sendo as células neoplásicas...

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GIOVANA FERNANDA ALVES DE SOUZA CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM PACIENTES SEM FATOR DE RISCO: RELATO DE CASOS Londrina 2017

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GIOVANA FERNANDA ALVES DE SOUZA

CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM

PACIENTES SEM FATOR DE RISCO:

RELATO DE CASOS

Londrina 2017

Page 2: CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM ... homeostase das células. Sendo as células neoplásicas diferentes da célula normal, essas neoplasias identificadas como câncer, assumem ainda

GIOVANA FERNANDA ALVES DE SOUZA

CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS EM

PACIENTES SEM FATOR DE RISCO:

RELATO DE CASOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do diploma de graduação em Odontologia. Orientador: Profº. Dr. Ademar Takahama Junior.

Londrina 2017

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GIOVANA FERNANDA ALVES DE SOUZA

CARCINO DE CÉLUAS ESCAMOSAS EM PACIENTES SEM

FATOR DE RISCO:

RELATO DE CASOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do diploma de graduação em Odontologia. Orientador: Profº. Dr. Ademar Takahama Junior.

BANCA EXAMINADORA

Orientadora: Profº. Dr. Ademar Takahama Junior.

Universidade Estadual de Londrina - UEL

Profº. Dr. Fabio Augusto Ito Universidade Estadual de Londrina - UEL

Londrina, de de .

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Dedico este trabalho a minha mãe por

ser o maior exemplo em minha vida,

me fazendo acreditar que todos os

sonhos são possíveis e que posso

alcançar meus objetivos com

dedicação e persistência.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe Regiane que mesmo sozinha sempre se

esforçou e lutou para me dar a oportunidade de crescer, pelo apoio, confiança e por

todo o amor.

Ao meu irmão Daniel, que é o grande amor da minha vida.

Aos meus tios e avôs, que sempre confiaram em mim, acreditaram

no meu futuro e me ajudaram a correr atrás dos meus objetivos.

Aos meus amigos, que estiverem comigo na faculdade e aos que

não estiveram por toda amizade, compreensão, conselhos e companheirismo

sempre.

A Deus, por ter me concedido a vida e o dom de fazer odontologia.

E ao meu orientador Profº Drº Ademar Takahama Junior, pelo auxílio

na confecção desse trabalho, disponibilizando seu tempo e conhecimento referente

ao assunto.

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SOUZA, G.F.A. Carcinoma De Células Escamosas Em Pacientes Sem Fator De

Risco: Relato De Casos. 2017. 33 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso

(Graduação em Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2017.

RESUMO

O carcinoma de células escamosas (CCE) é o tipo de neoplasia maligna mais comum

da cavidade oral. É atualmente o quinto tipo de câncer mais frequente no Brasil em

homens, principalmente em indivíduos com mais de 50 anos. Está relacionado

fortemente ao tabagismo e ao etilismo, sendo que a combinação desses fatores parece

aumentar o efeito cancerígeno. Apesar do fumo e álcool serem fatores extrínsecos

fortemente associados ao câncer bucal, cerca de 3% dos pacientes com CCE oral não

apresentam histórico de fumar tabaco ou beber álcool. A carcinogênese bucal envolve

uma rede complexa de fatores dependentes das variações individuais em resposta a um

potencial conhecido ou desconhecido. O objetivo deste trabalho é relatar uma série de 4

casos clínicos de carcinoma de células escamosas em pacientes sem fator de risco

conhecido associado. Dos 4 casos, 3 eram mulheres e 1 homem. Os pacientes tinham

32, 50, 64 e 72 anos de idade. Três casos se apresentavam clinicamente como úlcera

com bordas endurecidas e o outro caso apresentava-se como uma mancha branca com

estrias, todos em bordo lateral de língua. Em todos os casos a hipótese diagnóstica foi

de CCE sendo realizada biópsia incisional e confirmado o diagnóstico pelo exame

histopatológico. Todos os pacientes foram encaminhados para tratamento. Apesar de

ser bem mais comum em pacientes fumantes e/ou etilistas, o CCE oral está cada vez

sendo mais encontrado em pacientes sem esses fatores de risco. Desta forma, é

fundamental o exame físico detalhado de todos os pacientes, independentemente se

possuem ou não fatores de risco para o desenvolvimento do CCE oral, a fim de se poder

detectar lesões precursoras ou em estágios iniciais.

Palavras-chave: Câncer. Fatores de Risco. Papiloma Vírus Humanos.

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SOUZA, G.F.A. Squamous Cells Carcinoma in No-Risk Factor Patients: Case

Report. 2017. 33 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2017.

ABSTRACT

The squamous cell carcinoma (SCC) is the most common kind of malignant neoplasm in

the oral cavity. It’s today the fifth most frequently type of cancer in brazilian men, mainly

in individuals older than fifty years. It’s strongly related to smoking and alcoholism, in a

way that these factors combination seems to increase the carcinogenic effect. Even

though the tobacco leaf and the alcohol are extrinsic factors strongly associated to oral

cancer, about 3% of the patients with SCC don’t show smoking and alcohol intake

historical. Oral carcinogenic involves a complex net factor dependent on individual

variations in response to a known and an unknown potential. The work’s objective is to

relate a set of 4 squamous cell carcinoma clinic cases in patients with no-risk factor

associated. Of the 4 cases, 3 were women and 1 man. The patients’ ages were 50, 63,

73 and 32 years-old. Three cases were clinic presented as ulcers with hard borders, and

the other case presents a white ribbed stain, all of them at the tongue’s border. The

diagnostic hypothesis in all cases was SCC, being made a incisional biopsy and

confirmed by the histopathological exam. All the patients were directed to treatment. This

kind of cancer is more common in smoking and/or alcoholic patients, even though, the

oral SCC is being found more and more in patients without these risk factors. Therefore,

it’s important the detailed physical exam of all patients, even if they don’t have these risk

factors to develop the oral SCC, in order to detect precursors injuries in initial stages

Key words: Cancer. Risk Factors. Papillomaviridae.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Lesão ulcerada em bordo lateral de língua. ........................................... 24

Figura 2 – Imagem microscópica revelando invasão de células epiteliais malignas no tecido conjuntivo ....................................................................................................... 24

Figura 3 – Aspecto clínico da lesão 1 mês após o diagnóstico e sem tratamento ... 25

Figura 4 – Aspecto clínico após a resseção cirúrgica da lesão ............................... 25

Figura 5 – Lesão ulcerada em borda lateral de língua ............................................ 26

Figura 6 – Maior aumento da lesão observada ....................................................... 26

Figura 7 – Imagem microscópica revelando invasão de células epiteliais malignas no tecido conjuntivo. ...................................................................................................... 27

Figura 8 – Imagem microscópica exibindo células epiteliais malignas .................... 27

Figura 9 – Lesão Eritoleucoplásica em bordo lateral de língua. .............................. 28

Figura 10 – Lesão ulcerada em bordo lateral de língua .......................................... 28

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CCE Carcinoma de Células Escamosas

CD Cirurgião Dentista

CDC Centros de Controle e Prevenção de Doenças

COU-UEL Clínica Odontológica da Universidade Estadual de Londrina

HPV Papiloma Vírus Humano

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 11

2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 13

2.1 ETIOLOGIA ........................................................................................................................ 13

2.1.1 Tabagismo ................................................................................................ 13

2.1.2 Etilismo ...................................................................................................... 14

2.1.3 Papiloma Vírus Humano (HPV) ................................................................. 15

2.1.4 Dieta .......................................................................................................... 16

2.1.5 Fatores Genéticos ..................................................................................... 16

2.1.6 Carcinoma de Boca sem Fator de Risco ................................................... 17

2.2 CARACTÉRISTICAS CLÍNICAS ............................................................... 17

2.3 LOCALIZAÇÃO ................................................................................................................. 18

2.4 DIAGNOSTICO DIFERENCIAL .................................................................................. 18

2.5 HISTOPATOLÓGICO ..................................................................................................... 19

2.6 ESTADIAMENTO ............................................................................................................. 19

2.7 TRATAMENTO .................................................................................................................. 19

2.7.1 Efeitos Colaterais do Tratamento Oncológico ........................................... 20

2.7.2 Prognóstico ............................................................................................... 20

2.8 PREVENÇÃO .................................................................................................................... 21

3 RELATO DE CASO CLÍNICO ................................................................... 22

4 ILUSTRAÇÕES ......................................................................................... 24

5 DISCUSSÃO ............................................................................................. 29

6 CONCLUSÃO ........................................................................................... 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 31

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1 INTRODUÇÃO

As neoplasias malignas consistem num aumento do número de células com

consequente aumento da massa tecidual, a qual ultrapassa os limites normais e altera

a homeostase das células. Sendo as células neoplásicas diferentes da célula normal,

essas neoplasias identificadas como câncer, assumem ainda a capacidade de crescer

por infiltração progressiva não reconhecendo os limites anatômicos das estruturas e,

ainda, disseminar-se pelas vias linfática e sanguínea, e provocar neoplasias malignas

à distância, originando metástases (GASSEN et al., 2005).

O carcinoma de células escamosas (CCE) da boca é uma neoplasia maligna

que se origina no epitélio de revestimento, sendo considerada a neoplasia maligna

mais comum nesta região (BRENER et al., 2005). O câncer bucal é a sétima

neoplasia maligna mais frequente no Brasil (Instituto Nacional do Câncer do Ministério

da Saúde, 2004).

Mais de 90% dos casos constituem-se do CCE. Muitos fatores contribuem

para o aumento crescente da sua incidência, como: aditivos alimentares, pesticidas,

poluição ambiental, tabagismo e etilismo (PEREZ et al., 2007). O câncer de boca está

relacionado principalmente ao tabagismo e etilismo. Acometem principalmente

indivíduos do sexo masculino e acima de 50 anos. Mais de 90% dos casos

constituem-se do CCE. O comportamento é bastante agressivo, apresentando

metástase cervical precoce (DEDIVITIS et al., 2004).

Apesar do fumo e álcool serem fatores extrínsecos fortemente associados ao

câncer bucal, cerca de 3% dos pacientes com CCE oral não apresentam histórico de

fumar tabaco ou beber álcool e são indivíduos com idade inferior a 45 anos. Os

pacientes jovens apresentam maior índice de tumores de orofaringe e menor

incidência de tumores de assoalho de boca quando comparado aos idosos; 11,3%

dos tumores da boca e faringe e 4,5% dos tumores de laringe acontecem em

pacientes com menos de 45 anos (SASSI et al., 2009).

O tratamento do câncer depende da localização, grau de malignidade do

estágio do tumor e estado da saúde do indivíduo. Quando se trata de câncer de boca

a cirurgia para remoção do tumor é o principal tratamento de escolha, combinado ou

não com a radioterapia (CORREIA et al., 2013).

O objetivo deste trabalho é apresentar uma revisão de literatura sobre CCE

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e relatar quatro casos clínicos atendidos no Ambulatório de Estomatologia da

Clínica Odontológica Universitária da Universidade Estadual de Londrina (COU-

UEL).

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1. ETIOLOGIA

Segundo Neville (2009), a causa do carcinoma de células escamosas oral é

multifatorial. Nenhum agente ou fator (carcinógeno) etiológico único tem sido

claramente definido ou aceito, porém tanto fatores extrínsecos quanto intrínsecos

podem estar atuando. É provável que mais do que um único fator seja necessário

para produzir tal malignidade.

2.1.1. Tabagismo

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS,

2009) a principal causa de morte evitável no mundo e está relacionado a mais de 50

doenças sendo responsável por diferentes tipos de câncer, doenças

cardiovasculares, doenças respiratórias, doenças orais e problemas dentários. A

fumaça do cigarro possui várias substâncias tóxicas, uma das principais é a nicotina

que é considerada droga psicoativa que causa dependência. Pesquisas comprovam

que aproximadamente 47% de toda a população masculina mundial e 12% da

população feminina fumam e que todo ano cinco milhões de pessoas morrem no

mundo por causa do cigarro.

Muitas evidências clínicas implicam o hábito de fumar tabaco no

desenvolvimento do CCE, pois o tabaco pode causar reações oxidativas nos tecidos,

que têm sido relacionados na iniciação de reações que produzem radicais livres nos

eventos celulares. Podendo causar dano ao DNA resultando em mutagênese e em

alteração no ciclo celular (LEITE et al., 2005).

A proporção de tabagistas entre os pacientes com carcinoma oral é duas a

três vezes maior do que a população em geral. O risco para um segundo carcinoma

primário é duas a seis vezes maior para pacientes tratados do câncer oral que

continuam a fumar do que para os que abandonaram o hábito após o diagnóstico.

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Deve ser mencionada também que tumores em não tabagista apresentam uma

frequência mais baixa de alterações genéticas comuns e possuem certas diferenças

clínicas. Os não tabagistas são mais propensos a serem mulheres, possuírem

doença oral e a serem jovens (NEVILLE et al., 2009)

Cerca de 90% dos indivíduos com diagnóstico de CCE bucal consomem

tabaco sob a forma de cigarro, charuto, cachimbo ou mascado e, este risco aumenta

para sete vezes em consumidores de cigarro de palha, e para 14 vezes em usuários

de cachimbo. (BRENER et al., 2005).

2.1.2. Etilismo

O álcool etílico é a droga mais consumida no mundo e o seu consumo

excessivo tem sido associado ao desenvolvimento de CCE. Essa droga não é um

carcinógeno direto e sim um potencializador para outros fatores etiológicos, porém a

combinação do tabaco com o álcool é um fator de risco significativo para

desenvolver o câncer bucal. Um terço dos pacientes homens com o câncer oral são

alcoólatras (NEVILLE et al., 2009).

Alguns estudos têm concluído que o risco é dose-dependente e tempo-

dependente e o efeito simultâneo do álcool e do tabaco pode aumentar em até 100

vezes o risco de desenvolver um câncer bucal, o aumento do risco de

desenvolvimento do CEC depende principalmente da intensidade, quantidade,

qualidade e duração do vício, portanto maior é o risco quanto maior for o consumo

em sinergismo (SOARES, 2003).

No tabaco e no seu fumo já foram identificados mais de 4.700 substancias

carcinogênicas, além de corantes e agrotóxicos em alta concentrações. O impacto

de parar de fumar aos 50 anos reduz o risco para 50% e com 30 anos em 90% o

risco do câncer (TOMMASI, 2014).

2.1.3. Papiloma vírus humano (HPV)

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A possível relação do HPV na etiologia das desordens potencialmente

malignas e no câncer oral foi primeiramente relatada em 1983, quando foram

descritas alterações citopáticas de HPV em cânceres orais, idênticas às lesões de

carcinomas de útero (OLIVEIRA et al., 2003).

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC),

cerca de 20 milhões de americanos estão atualmente infectados com HPV e há uma

estimativa de 6 milhões de novos casos. Normalmente, todos os indivíduos

sexualmente ativos adquirem o HPV em algum momento das suas vidas, entretanto

a maioria das infecções por HPV são eliminadas dentro de 1 a 2 anos sem causar

sintomas. O HPV é dividido em 2 subtipos: HPV de alto risco e baixo risco. O HPV

com baixo risco, incluindo o HPV 6 e 11, está associado a lesões benignas e o HPV

de alto risco (16 e 18) está associado à malignidade, principalmente no colo do

útero, vulva, vagina, pénis, ânus, reto e orofaringe, incluindo a base da língua e da

amígdala (TANAKA et al., 2017).

Diversos estudos vêm mostrando uma relação entre o CCE e a infecção

por HPV. Alterações genéticas pelo papiloma vírus humano de alto risco (16 e 18)

podem ter papel importante na etiologia do carcinoma em pacientes jovens quando

comparados com pacientes adultos com câncer de boca. A atividade oncogênica do

HPV de alto risco está principalmente ligada à expressão de suas oncoproteínas E6

e E7 nas células tumorais. A E6 se liga a p53 que é uma proteína supressora de

tumor, enquanto a E7 se liga a pRb que regula a transcrição do ciclo celular,

sequestrando-o e deixando-a inativa. Em conjunto, eles regulam essencialmente

todas as funções biológicas necessárias para a homeostase celular normal e esse

pode ser um mecanismo pelo qual o HPV contribui para a carcinogênese

(TOMMASI, 2014).

Um recente estudo do CDC relatou que quase 39 000 cânceres associados

ao HPV (11,7 por 100 000 pessoas) foram diagnosticados anualmente durante o

período de 2008 a 2012 (TANAKA et al., 2017).

2.1.4. Dieta

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16

Os fatores nutricionais funcionam como protetores, seus efeitos estão

relacionados a propriedades oxidantes, agindo na redução de radicais livres que são

compostos capazes de causar mutações no DNA, tornando-o mais vulnerável ao

desenvolvimento de neoplasias. A desnutrição tem sido relacionada à carcinogênese

oral por ocasionar alterações epiteliais, tornando a mucosa oral mais susceptível aos

agentes cancerígenos. O consumo de carne também tem risco aumentado agentes

que têm sido associados ao aumento de risco para câncer em diversos sítios

(TOMMASI, 2014).

Uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras contêm compostos que podem

estar envolvidos em atividades quimio-preventivas e está relacionada à redução do

risco de câncer de boca (MARCHIONI et al., 2011).

2.1.5. Fatores genéticos

Tem sido sugerido que indivíduos susceptíveis geneticamente têm maior

ação de carcinógenos que pode levar a transformação maligna. Cerca de 20% dos

casos não se expuseram a qualquer um desses fatores, sugerindo o fator genético

(TOMMASI, 2014).

A susceptibilidade genética está na eficiência de metabolizar carcinógenos.

Alguns polimorfismos envolvidos na ativação e eliminação dos carcinógenos alteram

a expressão e a função das proteínas que modificam a suscetibilidade genética

(KOWALSKI et al., 2016).

Também é possível que o risco familiar reflita tanto uma suscetibilidade

genética aumentada para CEC de cabeça e pescoço como uma agregação de

exposições, pois a capacidade diferencial de metabolizar agentes carcinogênicos

ocorre apenas no momento da exposição. (GALBIATTI et al., 2013).

2.1.6. Carcinoma de boca sem fator de risco

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As taxas de incidência de HPV aumentaram nas últimas 3 décadas,

enquanto que as taxas de CCE relacionadas ao tabaco foram decrescentes em todo

o mundo. O HPV aumentou uma taxa de 2,5% ao ano nos Estados Unidos e os

pacientes são descritos com menos de 60 anos, homens, brancos, indivíduos

saudáveis com pouca exposição ao tabaco e com maior status socioeconômico.

(TANAKA et al., 2017).

2.2. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

Os sinais e sintomas do CCE em estágios avançados são fáceis de serem

identificados. No entanto, manifestações iniciais quase sempre são assintomáticas,

então o profissional deve-se atentar a discretas alterações da mucosa, como: áreas

avermelhadas, áreas com placas brancas, úlceras indolores que não cicatrizam e

áreas com placas brancas e áreas avermelhadas (KOWALSKI et al., 2016).

O CCE pode se apresentar de diversas formas, incluindo as seguintes:

exofitica (aumento de volume), endofítica (invasiva), leucoplásica (mancha branca),

eritoplásica (mancha vermelha) e a combinação das duas (leucoplásica e

eritoplásica) a eritolucoplásica (NEVILLE et al., 2009).

Segundo SOARES (2005), durante o exame clínico o CD deve se atentar a

todas as alterações de normalidade para que possam ser investigadas e

diagnosticadas, devem-se buscar lesões que possam estar associados com as fases

progressivas do CCE, como:

Todas as alterações de normalidade que não apresentam sinais

clínicos de desaparecimento em 15 dias.

Erosões, úlceras e fissuras que não possuem sinais de cicatrização.

Áreas brancas que não saem à raspagem.

Nódulos de crescimentos rápido e indolor, sem sinais de inflamação.

Perda óssea rápida, indolor e inexplicável.

Linfonodos regionais palpáveis.

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2.3. LOCALIZAÇÃO

As localizações mais frequentes dos cânceres de boca, segundo Harrison et

al. (1999), são: língua (30%), principalmente nas bordas laterais entre o 1/3 médio e

posterior, lábios (25%), assoalho de boca (15%), gengivas (10%), mucosa bucal

(10%) e palato (10%).

2.4. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Quando o CCE se apresentar como úlceras que não cicatrizam, deve-se

considerar, outras condições ulcerativas no diagnóstico diferencial. Toda úlcera

crônica não diagnosticada deve ser sempre considerada potencialmente infecciosa

até que os achados na biópsia provem outra coisa. Clinicamente, é possível

diferenciar de manifestações causadas por: tuberculose, sífilis e infecções fúngicas.

Uma anamnese bem minuciosa é muito importante, bem como o exame

histopatológico para confirmar o diagnóstico (REGEZI et al., 2013).

2.5. HISTOPATOLÓGICO

O CCE da boca possui variados graus de diferenciação celular. Tumores

bem diferenciados apresentam ilhas de células epiteliais que invadem o tecido,

pleomorfismo celular, graus variados de queratinização e algumas figuras de mitoses

atípicas. Tumores mais indiferenciados apresentam invasão dos tecidos adjacentes

de forma distinta. Pequenos blocos ou células isoladas na periferia do tumor

invadindo e destruindo os tecidos circunvizinhos, no entanto também apresentam

pleomorfismo e mitoses atípicas. É relevante ressaltar que tumores mais

indiferenciados são mais agressivos e estão relacionados a um pior prognóstico

(KRIGER et al., 2016).

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2.6. ESTADIAMENTO

O sistema de estadiamento clínico TNM é preconizado pela União

Internacional Contra o Câncer (UICC) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS),

que permite avaliar as características fundamentais do CCE bucal. A classificação

por esse sistema depende do tamanho do tumor (T), em centímetros; acometimento

dos linfonodos e sua extensão (N); e presença ou não de metástases distantes (M)

(BRENNER et al., 2006). Determinado os três parâmetros, seus valores são

registrados a fim de determinar o estágio adequado. Quanto maior for o estágio da

classificação, pior será o prognóstico (NEVILLE et al., 2009).

2.7. TRATAMENTO

O estadiamento clínico da doença irá guiar o tratamento do CCE, que

consiste em excisão cirúrgica ampla, radioterapia ou a combinação de ambas

(NEVILLE et al., 2009)

A cirurgia do tumor primário e também a cirurgia dos linfonodos regionais do

pescoço, deve ser realizado de acordo com cada paciente. Na cirurgia local do tumor

primário é necessário considerar a remoção do tecido mole refere-se à excisão, que

deve incorporar de 1,0 a 1,5 cm de margem e remoção do osso envolvido que deve

incorporar uma margem de 2,0 cm de osso na ressecção (REGEZI et al., 2013)

Tumores iniciais (estádio I e II) tratados com cirurgia tem a vantagem de que

a radioterapia ainda pode ser realizada em casos de recidivas tumorais ou novos

tumores na região. Nos tumores avançados (estádio III e IV) o tratamento deve

associar cirurgia com radioterapia (pós-cirurgia) e ainda indicar ou não a

quimioterapia (KRIGER et al., 2016).

2.7.1 Efeitos colaterais do tratamento oncológico

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A radioterapia quando utilizada para o tratamento de tumores da região de

cabeça e pescoço também afeta as células normais, sendo capaz de gerar danos

reversíveis e irreversíveis nos tecidos. Esses danos podem surgir dias depois do

inicio do tratamento ou meses após o termino do mesmo. As principais

manifestações bucais são: mucosite, hipossalivação, cárie por radiação, perda do

paladar, doença periodontal, trismo e osterradionecrose (TOMMASI, 2014).

2.7.2 Prognóstico

O prognóstico dos pacientes com CCE depende do grau histológico e da

extensão clínica do estágio do tumor, sendo esse significativamente mais

importante. A classificação é dada pela determinação microscópica do grau de

diferenciação das células tumorais, lesões bem diferenciadas geralmente são menos

agressivas e possui um prognóstico melhor. As lesões pouco diferenciadas se

apresentam mais agressivas e com um pior prognóstico (REGEZI et al., 2013).

O câncer bucal tem grande chance de cura se for diagnosticado no início de

sua evolução e tratado precocemente, mas nos casos avançados, extensos ou

disseminados essa possibilidade é baixa (KRIGER et al., 2013).

2.8. PREVENÇÃO

As atuais evidências científicas indicam que o auto-exame não reduz a

mortalidade no câncer bucal. A prevenção do câncer bucal deve ser o

aconselhamento para acabar com o ato de fumar e consumir bebidas alcoólicas com

moderação, além da adoção de uma alimentação saudável. Nos indivíduos de maior

risco o exame clínico na boca deve ser realizado periodicamente e em indivíduos

com lesões suspeitas devem ser imediatamente encaminhados (INCA, 2012).

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3 RELATOS DOS CASOS CLÍNICOS

CASO 1

Paciente do sexo feminino, 50 anos de idade, não estilista e não tabagista, foi

encaminhada para avaliação de lesão em língua, que acreditava-se ter origem por

trauma de uma prótese removível. Ao exame clínico observou-se uma úlcera localizada

em borda lateral de língua, com dor à palpação e bordas endurecidas (Figura 1). Foi

realizada biópsia incisional e a análise histopatológica revelou ilhas de células epiteliais

malignas invadindo o tecido conjuntivo, determinando o diagnóstico de Carcinoma

Espinoceluar (Figura 2). A paciente foi então encaminhada para tratamento. Um mês

depois a paciente retornou informando que ainda aguardava vaga para tratamento e ao

exame físico observamos o aumento da lesão em língua (Figura 3). Dois meses depois

a paciente retornou, tendo sido tratada por excisão cirúrgica local e sem sinais de

recidiva (Figura 4).

CASO 2

Paciente do sexo feminino, 73 anos de idade, não etilista e não tabagista, foi

encaminhada para o Ambulatório de Estomatologia da UEL para avaliação de lesão em

borda lateral de língua do lado esquerdo, que acreditava-se estar relacionada com a

prótese parcial removível. Ao exame físico observou-se uma úlcera localizada em borda

lateral esquerdo de língua, de aproximadamente 2 cm de diâmetro, dolorida à palpação

e bordas endurecidas (Figuras 5 e 6). Foi realizada uma biópsia incisional da lesão e as

características histopatológicas revelaram ilhas e cordões de células escamosas

epiteliais malignas invadindo o tecido conjuntivo, estabelecendo o diagnóstico de

Carcinoma Espinocelular (Figuras 7 e 8). A paciente foi então encaminhada para

tratamento.

CASO 3

Paciente do sexo masculino, de 32 anos de idade, veio encaminhado para

avaliação de lesão em língua presente há cerca de 6 meses. Durante a anamnese o

paciente relatou que já havia procurado atendimento médico, tendo sido biopsiado mas

com laudo inconclusivo. Paciente negou hábito de tabagismo ou etilismo. Ao exame

físico observamos a presença de uma úlcera extensa, associada a áreas leucoplásicas,

localizada na região de borda lateral de língua do lado esquerdo, medindo cerca de 2cm

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de diâmetro e dolorido ao toque. (Figura 9) De acordo com as características clínicas a

principal hipótese diagnóstica foi de carcinoma espinocelular. O paciente foi submetido à

biópsia incisional e confirmado o diagnóstico histopatológico de carcinoma

espinocelular. O paciente foi encaminhado para tratamento mas não retornou para os

acompanhamentos.

CASO 4

Paciente do sexo feminino, 73 anos de idade, veio encaminhada pela dentista ao

ambulatório de Estomatologia da COU para avaliação de lesão em língua que

acreditava tratar-se de ferida pela prótese. A paciente negou qualquer hábito nocivo tal

qual etilismo ou tabagismo durante sua vida. Ao exame físico observamos a presença

de uma lesão leucoeritroplásica localizada em borda lateral posterior de língua do lado

direito, medindo cerca de 1,5 cm de diâmetro, indolor, com limites difusos (Figura 10).

De acordo com essas características as hipóteses diagnósticas foram de

eritroleucoplasia ou carcinoma espinocelular. Foram realizadas biópsias incisionais em

duas regiões distintas, pegando tanto áreas leucoplásicas quanto eritroplásicas. O

exame microscópico revelou o diagnóstico de carcinoma espinocelular microinvasivo. A

paciente foi então encaminhada para tratamento, mas não retornou para avaliação de

acompanhamento. Por contato telefônico fomos informados que a paciente encontra-se

bem, sem sinais de recidiva.

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Figura 1: Lesão ulcerada em bordo lateral de língua.

Figura 2: Imagem microscópica revelando invasão de células epiteliais malignas no

tecido conjuntivo. (HE 100x)

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Figura 3: Aspecto clínico da lesão 1 mês após o diagnóstico e sem tratamento.

Figura 4: Aspecto clínico após a resseção cirúrgica da lesão.

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Figura 5: Lesão ulcerada em borda lateral de língua.

Figura 6: Maior aumento da lesão observada.

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Figura 7: Imagem microscópica revelando invasão de células epiteliais malignas no tecido

conjuntivo.(HE100x)

Figura 8: Imagem microscópica exibindo células epiteliais malignas (HE 400x).

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Figura 9: Lesão Eritoleucoplásica em bordo lateral de língua.

Figura 10: Lesão ulcerada em bordo lateral de língua.

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4 DISCUSSÃO

Foi bem estabelecido que fumar tabaco e beber álcool são os principais fatores

de risco na etiologia de câncer bucal. No entanto, pacientes que não fumam e que não

ingerem bebidas alcoolicas representam atualmente 13 a 35% de todos os pacientes

com câncer oral e essa proporção está aumentando. Isso indica que outros fatores

ambientais também tem o potencial de levar à ocorrência e o desenvolvimento do

câncer bucal, como: higiene bucal, fatores de dieta, exposição ambiental, doenças

crônicas, etc. Diferentes fatores podem ter efeitos diferentes no carcinoma bucal (YAN

et al., 2017).

Uma análise mostrou que historico famíliar de câncer de cabeça e tem o risco

aumentado para o cancêr. No entanto, até agora, houve apenas dados epidemiológicos

limitados sobre a potencial interação entre a família, historico do câncer e fatores

ambientais no câncer bucal. Pouco se tem esclarecido sobre o efeito combinado desses

fatores. Sugere-se que os fatores ambientais e históricos de câncer na familia podem

interagir um com o outro e sinergicamente aumentam o risco de câncer bucal. Também

é relatado que os fatores ambientais, dieta, interação genética e higiene oral podem ser

fatores para o câncer de cabeça e pescoço. (YAN et al., 2017).

Esta mudança epidemiológica foi atribuída também ao Papiloma Vírus Humano

(HPV) particularmente ao tipo 16 de alto risco, que agora é reconhecido como

crescente agente causador do CCE oral (MIRGHANI et al., 2015). Os pacientes, cujos

casos foram descritos neste trabalho, tiveram o diagnóstico de Carcinoma de Células

Escamosas. Entretanto, como constatado em anamnese, nenhum dos pacientes

haviam se expostos aos riscos tradicionais do CCE. Não possuíam o habito de fumar

ou ingerir bebidas alcoólicas.

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5 CONCLUSÃO

Com o desenvolvimento do trabalho pode-se concluir que:

Os principais fatores etiológicos do carcinoma de células escamosas

ainda são o etilismo e a bebida alcoólica, porém os números de

pacientes que desenvolvem o CCE sem nunca fumarem ou beberem

está aumentando.

São propostos alguns fatores etiológicos para o CCE sem fatores de

risco, como: fatores genéticos, fatores ambientais, dieta e o HPV.

O HPV, principalmente o subtipo 16, tem sido considerado como um

fator etiológico em casos não associados ao etilismo e tabagismo.

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