carboidratos - estrutura, propriedades e funções

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  • Carboidratos: Estrutura, Propriedades e FunesQUMICA NOVA NA ESCOLA N 29, AGOSTO 2008

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    ConCeitos CientfiCos em Destaque

    A seo Conceitos cientficos em destaque tem por objetivo abordar, de maneira crtica e/ou inovadora, conceitos cientficos de interesse dos professores de Qumica.

    Recebido em 17/05/07, aceito em 06/05/08

    Wilmo E. Francisco Junior

    Os carboidratos constituem a mais abundante classe de biomolculas presentes no planeta Terra, alm de encerrarem uma gama de funes biolgicas, sendo a principal fonte energtica da maioria das clulas no fotossintticas. Todavia, os carboidratos so pouco discutidos no Ensino Mdio. Com o propsito de apresen-tar importantes informaes acerca desses compostos, o presente artigo reporta as principais propriedades e funes dos carboidratos, bem como sugestes de atividades experimentais para o estudo de algumas de suas propriedades

    carboidratos, acares, experimentao

    Carboidratos: Estrutura, Propriedades e Funes

    Os carboidratos perfazem a mais abundante classe de biomolculas da face da Terra. Sua oxidao o principal meio de abastecimento energtico da maioria das clulas no fotos-sintticas. Alm do suprimento energtico, os carboidratos atuam como elementos estruturais da pa-rede celular e como sinalizadores no organismo. Entretanto, tal tema no comumente debatido no Ensino Mdio. Livros didticos de Qumica em nvel mdio geralmente abordam a Bioqumica de forma superficial, apresentando srios equvocos conceituais, inclusive acerca dos carboidratos, alm de praticamente no proporem atividades experimen-tais (Francisco Jr., 2008b). Com o propsito de prover alguns impor-tantes conceitos, de forma mais ampla e rigorosa, o presente artigo reporta as principais propriedades e funes dos carboidratos, bem como atividades experimentais para o estudo de algumas propriedades fsico-qumicas.

    O que so carboidratos?Carboidratos so poliidroxialde-

    dos ou poliidroxicetonas (Figura 1) ou substncias que liberam tais compos-tos por hidrlise. O termo sacardeo derivado do grego sakcharon que significa acar. Por isso, so assim denominados, embora nem todos apresentem sabor adocicado. O ter-mo carboidratos denota hidratos de carbono, designao oriunda da fr-mula geral (CH2O)n apresentada pela maioria dessas molculas. Podem ser divididos em trs classes principais de acordo com o nmero de ligaes glicosdicas: monossacardeos, oli-gossacardeos e polissacardeos.

    Os monossacardeos

    A Figura 1 mostra a glicose e a fru-tose, os dois monossacardeos mais abundantes na natureza. Glicose e frutose so os principais acares de muitas frutas, como uva, ma, laranja, pssego etc. A presena da glicose e da frutose possibilita, de-vido fermentao, a produo de bebidas como o vinho e as sidras,

    cujo processo anaerbio e envolve a ao de microorganismos. Nesse processo, os monossacardeos so convertidos, principalmente, em etanol e dixido de carbono com liberao de energia.

    Nos seres humanos, o metabo-lismo da glicose a principal forma de suprimento energtico. A partir da glicose, uma srie de intermedirios metablicos pode ser suprida, como esqueletos carbnicos de aminoci-dos, nucleotdeos, cidos graxos etc.

    Os monossacardeos consis-tem somente de uma unidade de

    Figura 1: Representao das estruturas qumicas da D-glicose e D-frutose, respec-tivamente uma aldose (poliidroxialdedo) e uma cetose (poliidroxicetona).

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    poliidroxialdedos ou cetonas, as quais podem ter de trs a sete tomos de carbono. Devido alta polaridade, so slidos cristalinos em temperatura am-biente, solveis em gua e insolveis em solventes no polares. Suas estru-turas so configuradas por uma cadeia carbnica no ramificada, na qual um dos tomos de carbono unido por meio de uma dupla ligao a um tomo de oxignio, constituindo assim um gru-po carbonila. O restante dos tomos de carbono possui um grupo hidroxila (da a denominao de poliidroxi). Quando o grupo carbonila est na extremidade da cadeia, o monossacardeo uma aldose. Caso o grupo carbonila esteja em outra posio, o monossacardeo uma cetose.

    Por maior simplicidade, os mo-nossacardeos so representados na forma de cadeia linear. Todavia, aldoses com quatro carbonos e todos os monossacardeos com cinco ou mais tomos de carbono apresentam-se predominantemente em estruturas cclicas quando em solues aquosas. Outra importante caracterstica dos monossacardeos a presena de pelo menos um carbono assimtrico (com exceo da diidroxicetona), fazendo com que eles ocorram em formas isomricas oticamente ativas.

    Uma importante propriedade dos monossacardeos a capacidade de serem oxidados por ons cpricos (Cu2+) e frricos (Fe3+). Os acares com tal propriedade so denomina-dos acares redutores. O grupo carbonila oxidado a carboxila com a concomitante redu-o, por exemplo, do on cprico (Cu2+) a cuproso (Cu+). Tal princpio til na an-lise de acares e, por muitos anos, foi utilizado na determinao dos nveis de glicose no sangue e na urina como diagnstico da diabetes melito.

    Oligossacardeos

    Os oligossacardeos so forma-dos por cadeias curtas de monos-sacardeos. Os mais comuns so os dissacardeos, dos quais se des-

    tacam a sacarose (acar da cana) e a lactose (acar do leite), ambos representados na Figura 2.

    A sacarose hoje no Brasil um dos mais importantes produtos devido produo do lcool combustvel, cuja obteno se d tambm por fermen-tao. A primeira etapa a hidrlise da sacarose, da qual se obtm uma mistura de glicose e frutose, tambm conhecida por acar invertido, co-mumente utilizado na fabricao de doces, para evitar a cristalizao da sacarose e conferir maior maciez ao doce. O termo invertido empregado porque, aps a hidrlise, o desvio da luz polarizada sofre inverso de senti-do, inicialmente para a direita e, aps a hidrlise, para a esquerda.

    A etapa seguinte consiste na fermentao, semelhante da pro-duo de bebidas alcolicas. Aspec-

    tos concernentes produo de lcool, desde as questes qumicas, at ques-tes econmicas, polticas e sociais, podem adentrar a sala de aula a partir de textos de jornais

    e revistas bem como reportagens televisivas. A lactose tambm pode sofrer fermentao. O processo de fermentao lctea utilizado na pro-duo de queijos e iogurtes. O tipo de produto depende do microorganismo empregado.

    Os dissacardeos tm em sua composio dois monossacardeos

    unidos por uma ligao denominada glicosdica, as quais so hidrolisa-das facilmente pelo aquecimento com cido diludo. Tal ligao ocorre pela condensao entre o grupo hidroxila de um monossacardeo com o carbono anomrico1 de outro monossacardeo. A extremidade na qual se localiza o carbono anomrico a extremidade redutora. Quando o carbono anomrico de ambos os monossacardeos reage para formar a ligao glicosdica, o acar no mais redutor. Esse o caso da sacarose (uma molcula de glicose e outra de frutose).

    A lactose (uma molcula de galac-tose e outra de glicose) comporta-se, diferentemente da sacarose, como acar redutor, pois o carbono ano-mrico encontra-se disponvel.

    Polissacardeos

    Acares contendo mais de 20 unidades so denominados polis-sacardeos, os quais podem possuir milhares de monossacardeos e so a forma predominante dos carboidratos na natureza. A diferenciao dada pela unidade monomrica, compri-mento e ramificao das cadeias. Quando os polissacardeos contm apenas um tipo de monossacardeo, ele denominado de homopolissaca-rdeo. Se estiverem presentes dois ou mais tipos de monossacardeos, o re-sultado um heteropolissacardeo.

    Homopolissacardeos

    Amido e glicognio encerram funes preponderantes de armaze-namento energtico, sendo o primeiro nas clulas vegetais e o segundo nas clulas animais. O amido composto por dois tipos de polmeros de glicose: a amilose e a amilopectina. A diferena bsica entre estes a ramificao da cadeia (Figura 3). Ambos possuem cadeias nas quais as unidades de glicose se unem mediante ligaes (1 4)2. Por sua vez, a amilopectina apresenta pontos de ramificao com ligaes glicosdicas (1 6). Tais ramificaes so encontradas de 24 a 30 unidades de glicose na cadeia principal. Amido e glicognio so alta-mente hidratados devido quantidade de hidroxilas que formam ligaes de

    Figura 2: Molculas de lactose (A) e sacarose (B), dois importantes dissaca-rdeos encontrados na cana e no leite, respectivamente.

    Alm do suprimento energtico, os

    carboidratos atuam como elementos estruturais da parede celular e como

    sinalizadores no organismo.

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    hidrognio com a gua. A estrutura do glicognio similar amilopectina. A diferena a freqncia de ramifica-es, as quais aparecem de 8 a 12 unidades de glicose.

    A celulose (Figura 4), outro impor-tante polissacardeo, encontrada na parede celular vegetal, perfazendo grande parte da massa da madeira e quase 100% da massa do algodo. A fixao do CO2 pelos vegetais leva quase exclusivamente produo de celulose. A celulose uma substn-cia fibrosa, resistente e insolvel em gua, sendo formada por unidades de glicose conectadas mediante ligaes (1 4), que lhe impele pro-priedades estruturais caractersticas. Na celulose, as unidades de glicose formam cadeias retas e estendidas as quais se dispem lado a lado, engendrando uma estrutura em fibras estabilizada por ligaes de hidrog-nio intra e intercadeias. Tal estrutura em fibras confere maior resistncia celulose.

    Heteropolissacardeos e glicoconjugados

    Heteropolissacardeos aparecem ligados a protenas fibrosas, as gli-

    cosaminas, sendo componentes es-senciais de tendes e cartilagens. Um carboidrato tambm habitualmente ligado s protenas ou aos lipdeos formando um glicoconjugado, isto , uma molcula biologicamente ativa, que atua no endereamento de protenas e no reconhecimento e na adeso de clulas.

    Estudando experimentalmente algu-mas propriedades dos carboidratos

    Todos os experimentos propostos so rpidos e de fcil conduo. Cui-dados especiais so necessrios no manejo dos cidos e durante etapas de aquecimento, as quais devem ser conduzidas preferencialmente pelo professor. O tempo previsto no ultrapassa 100 minutos, todavia, no se recomenda que todos sejam efetuados em to pouco tempo. Em relao ao descarte dos reagentes, no h grandes problemas, apenas recomendvel a diluio dos ci-dos.

    Material e mtodo Sacarose Amido (Maisena) Glicose (vendida em farm-

    cias) Frutose (vendida em farm-

    cias) Mel de abelha Resorcinol (encontrado em

    farmcias de manipulao como pomada ou loo de resorcina)

    Tintura de iodo (vendida em farmcias)

    cido sulfrico diludo (cido para bateria vendido em lojas do ramo)

    cido clordrico (cido muriti-co obtido em lojas de materiais de construo)

    Soda custica (NaOH) Seringas de 1 mL e de 5 mL

    (para medir os volumes) Tubos de ensaio Etanol Dois recipientes metlicos (uma

    caneca e uma lata de alumnio) Copo plstico de 200 mL Colher de sopaPara todos os ensaios, utilizar

    gua como branco e amostras de sa-carose, amido, glicose, frutose e mel de abelha. Nos testes que requerem volume de amostras, dissolva uma colher de sacarose/amido em um copo de gua. Para o amido, use o sobrenadante da soluo. Outros ma-teriais comuns aos estudantes, como sucos de frutas e doces (goiabadas, bananadas etc.), tambm podem ser estudados para a identificao dos acares ali contidos.

    Sugestes para o uso da experimen-tao

    A experimentao no ensino de Qumica adquire importncia funda-mental para o desenvolvimento de vrias competncias, como obser-vao, argumentao, comunicao, entre outras. Para isso, sugerida uma abordagem cujo princpio a problematizao dos resultados ex-perimentais a partir das observaes e das anotaes realizadas de forma sistematizada pelos estudantes. Para tanto, importante que o experimento seja realizado previamente a qualquer discusso conceitual. Outra impor-tante caracterstica da experimenta-o problematizadora a ateno dispensada aos registros escritos dos alunos, pois a atividade escrita concebida como preponderante na organizao e sedimentao dos contedos estudados (Francisco Jr., 2008a).

    Desta forma, podem ser empre-gadas fichas de observao experi-mental elaboradas previamente pelo

    Figura 3: Representao da cadeia de amilose (A) e amilopectina (B).

    Figura 4: Cadeia de celulose com ligaes (1 4) e destaque para as ligaes de hidrognio responsveis pela rigidez estrutural.

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    professor. Tal ficha de observao deve conter basicamente procedi-mento experimental, instrues de anotaes e observaes a serem feitas pelos alunos e algumas ques-tes que suscitem a reflexo dos resultados experimentais. Os estu-dantes devem ser instrudos a ano-tar as caractersticas dos sistemas antes, durante e aps a realizao do expe-rimento, registrando detalhadamente to-das as modificaes ocorridas. Aps a realizao do experi-mento e registro dos dados, os estudan-tes debatem seus resultados em gru-pos pequenos e posteriormente com toda a sala, no intuito de elaborar explicaes para o fenmeno estu-dado. Aps a discusso, o professor organiza as hipteses levantadas, aprofundando os conceitos qumi-cos necessrios interpretao. recomendvel que os estudantes reformulem suas hipteses iniciais, apresentando por escrito explica-es para os resultados.

    Tais atividades visam que os estudantes sejam capazes de ob-servar e registrar criticamente as modificaes de um sistema, refletir, argumentar e propor explicaes calcadas em suas anotaes, bem como comunicar tudo isso por es-crito. De tal forma, se tornam mais crticos cada vez que formulam e reformulam suas idias.

    Testando a solubilidade

    Procedimento

    Em diferentes tubos de ensaio, colocar aproximadamente 0,5 g (su-ficiente para cobrir o fundo cncavo do tubo de ensaio) de cada uma das amostras de acares e adicionar 1,0 mL de gua. Agitar e observar. Repetir os testes com gua quente e cido sul-frico diludo quente. O aquecimento da gua e do cido pode ser efetuado a partir de um recipiente metlico (lata de alumnio cortada ao meio) conten-do etanol em combusto.

    Resultados e sugestes de discusso

    A solubilidade dos carboidratos depende da disponibilidade dos gru-pos hidroxila para formar ligaes de hidrognio com a gua. No caso dos polissacardeos (amido), a solubili-dade muito baixa devido grande quantidade de ligaes de hidro-

    gnio intracadeias, fato que minimiza a interao com a gua. A solubilizao s obtida por meio da hidrlise cida. No entanto, mesmo aps aquecimento com cido, observa-se uma turvao de-vido formao de dextrinas limites, isto , estruturas que no

    podem ser mais hidrolisadas. Por ou-tro lado, acares menores, como os monossacardeos (glicose e frutose) e os dissacardeos (sacarose), encer-ram maior interao com a gua, fator que determina a alta solubilidade.

    Aps o teste de solubilidade em gua em temperatura ambiente, o professor pode levantar e problema-tizar algumas questes como: Porque alguns carboidratos so solveis em gua e outros no? O que influencia a solubilidade desses compostos em gua? Tais ques-tes podem estar presentes na prpria ficha de observao entregue aos alunos. As respostas dessas questes, junto com as observaes ex-perimentais, consti-tuem um conjunto de conhecimentos que o professor pode problematizar. A partir disso, podem ser discutidas questes como polaridade, misturas homogneas e heterogneas, alm das interaes intermoleculares. Experimentos complementares ao assunto (vide Dazzani e cols., 2003) podem ser utilizados para que os alunos apliquem o conhecimento em outro contexto. O teste de solu-bilidade pode, outrossim, problema-tizar a regra semelhante dissolve semelhante, uma vez que o amido,

    mesmo sendo polar, insolvel em gua, que tambm polar.

    Reao de Seliwanoff

    Procedimento

    Colocar aproximadamente 0,2 mL das amostras de acares e do bran-co (gua) em tubos de ensaio. Em seguida adicionar a cada tubo 0,8 mL do reagente de Seliwanoff que pode ser facilmente preparado como solu-o 0,05% de resorcinol em HCl , colocar os tubos em banho-maria fervente por trs minutos e transferi-los para um recipiente contendo gua fria. Deixar o tubo contendo glicose no banho-maria fervente e observar a diferena. Para se obter o banho-maria fervente, pode-se empregar um recipiente metlico (caneca de alumnio) contendo gua sobre outro recipiente metlico contendo etanol em combusto.

    Resultados e sugestes de discusso

    Esse teste permite diferenciar aldo-ses de cetoses que, sob ao do HCl, so transformadas em derivados de furfural que se condensam com o resor-cinol, formando um produto vermelho de composio incerta. A reao com cetose rpida e mais intensa pela maior facilidade de formao do de-

    rivado furfural. Logo, a frutose e o mel de abelha, por conter frutose, reagem po-sitivamente. Caso a sacarose sofra hidrli-se prvia, ela tambm reagir positivamente devido liberao da frutose.

    O ensaio pode ser empregado para iniciar a discusso de cetoses e aldoses. O professor pode disponibilizar, na ficha de observao ou at mesmo desenhar na lousa, as estruturas qumicas representacionais dos acares empregados no teste. Aps o teste, pode ser debatido o que h em comum, em termos estruturais, nos acares que apresentaram o mesmo resultado experimental. importante que os estudantes dis-cutam inicialmente entre si, com o auxlio do professor, respondendo

    sugerida uma abordagem cujo princpio a

    problematizao dos resultados experimentais a partir das observaes e das anotaes realizadas de forma sistematizada

    pelos estudantes.

    Os experimentos aqui propostos podem

    ser utilizados para a introduo ou reviso de alguns conceitos

    qumicos, especialmente no que diz respeito

    compreenso de conceitos cientficos relacionados aos

    carboidratos.

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    por escrito. Depois disso, o professor pode, a partir dos registros escritos dos alunos, organizar as respostas e debat-las em conjunto com a sala, diferenciando os acares com base em suas estruturas, as quais podem servir para o estudo das funes cetona e aldedo. Como for-ma de avaliao e/ou ampliao da discus-so, o professor pode debater questes tais como: Qual(is) o ( s ) a c a r ( e s ) presente(s) no mel de abelha? Qual a diferena estrutural entre cetoses e aldoses? Como seria possvel identificar tais diferenas? Outra atividade relevante hidrolisar a sacarose (aquecendo-a com cido diludo) e realizar o teste em seguida. O professor tambm pode debater com os alunos porque a reao positiva aps o aquecimento com cido diludo.

    Pesquisa de sacardeos redutores (teste de Benedict)

    Procedimento

    Em diferentes tubos de ensaio, adicionar 1,0 mL de cada amostra. Em seguida, adicionar a cada tubo 2,0 mL do reagente de Benedict (preparao em Oliveira e cols., 2006). Aquecer os tubos em banho-maria fervente por cinco minutos e deix-los esfriarem. A presena de um precipitado vermelho tijolo ou soluo amarelo-esverdeada indica a reduo do cobre.

    Resultados e sugestes de discusso

    O teste de Benedict baseado na reduo do Cu2+ a Cu+ devido ao po-der redutor das carbonilas em soluo alcalina. O on cuproso (Cu+) produz o Cu2O, composto de cor vermelha. Todos os monossacardeos reagem positivamente, logo, frutose, glicose e o mel de abelha sofrem reao. Os dissacardeos dependem da presen-a de uma extremidade redutora, fato que no ocorre no caso da sacarose. Todavia, a sacarose tambm pode levar a resultados positivos caso sofra hidrlise prvia.

    Nesse ensaio, similarmente ao item anterior, o professor pode forne-cer as estruturas qumicas e solicitar que os prprios alunos discutam e apresentem hipteses sobre o que h em comum entre os acares

    que reagem posi-tivamente e entre aqueles que reagem negativamente. A partir disso, pode-se problematizar qual regio da molcu-la sofre alteraes, aprofundando os fundamentos qu-

    micos de transformao do grupo carbonila e aproveitando para discutir as funes orgnicas. Tais experimen-tos associados aos anteriores podem fomentar a discusso das funes lcool, aldedo, cetona e cido car-boxlico. Quando do estudo de tais funes, dificilmente discutido que os acares comumente ingeridos em frutas enquadram-se nesses gru-pos funcionais e esto to prximos de sua realidade. Alm disso, outros exemplos, como a produo de cido actico, iogurte e at mesmo o metabolismo humano, podem ser empregados como forma de enrique-cimento da discusso.

    Pesquisa de polissacardeos (teste do iodo)

    Procedimento

    Adicionar em diferentes tubos de ensaio 2,0 mL de cada amostra e 2,0 mL de gua como branco. Adicionar em cada tubo 5 gotas de soluo de lugol (tintura de iodo). Por fim, adicione 5 gotas de NaOH aproxima-damente 1 mol L-1 (prepare dissolvendo duas colheres de sopa de soda cus-tica em um copo plstico de 200 mL de gua) e 5 gotas de HCl. Observar e anotar os resultados.

    Resultados e sugestes de discusso

    Os dois fatores que determinam o desenvolvimento de colorao

    quando o iodo interage com os po-lissacardeos so o comprimento e a ramificao da cadeia sacardea. A colorao desenvolvida devido ao aprisionamento do iodo no interior da cadeia de amilose. Na presena do amido e de ons iodeto (I-), as mol-culas de iodo formam cadeias de I6 que se alocam no centro da hlice formada pela amilose contida no ami-do (Harris, 2001). A formao desse complexo amilose-I6 responsvel pela cor azul intensa, engendrada, por sua vez, a partir da absoro de luz na regio do visvel das cadeias de I6 presentes dentro da hlice da amilose. Quanto maior a ramificao da cadeia, menos intensa ser a colorao desenvolvida, visto que a interao entre o iodo e a cadeia ser menor.

    Os complexos iodo-glicognio ou iodo-dextrina, por exemplo, apresen-tam cor avermelhada, menos intensa do que a cor azul do complexo iodo-amido. Tal diferena justamente devido ao tamanho da cadeia e a ramificao. O glicognio apresenta maior quantidade de ramificaes do que o amido. Por sua vez, as dextrinas consistem de cadeias menores. As-sim, no caso do amido, a colorao mais intensa pelo fato de a cadeia de amilose ser maior, comparada s dextrinas, e menos ramificada do que o glicognio.

    A discusso do teste pode ser aproveitada para introduzir o tema polmeros, naturais e sintticos, bem

    como os diferentes tipos de acares em termos do com-primento da cadeia (monossacardeos, dissacardeos e po-lissacardeos). Algu-mas questes que podem ser levanta-das pelo professor a partir desse ensaio

    so: Porque o mel de abelha, a glico-se, a frutose e a sacarose no apre-sentam colorao no teste enquanto o amido apresenta uma cor intensa? Qual a principal diferena estrutural desses acares? Ser que o ami-do, aps aquecimento com cido, apresentar colorao? No caso da

    Os estudantes devem ser instrudos a anotar as caractersticas dos

    sistemas antes, durante e aps a realizao do

    experimento, registrando detalhadamente todas as modificaes ocorridas.

    A experimentao no ensino de Qumica adquire importncia fundamental

    para o desenvolvimento de vrias competncias, como observao, argumentao, comunicao, entre outras.

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    ltima questo, aps os estudantes elaborarem suas hipteses, pode-se realizar a hidrlise do amido e testar com o iodo. A colorao desenvolvi-da ser menos intensa. O professor pode ento solicitar aos alunos que expliquem tal resultado.

    Consideraes finaisOs experimentos aqui propostos

    so de fcil realizao e podem ser utilizados para a introduo ou revi-so de alguns conceitos qumicos, especialmente no que diz respeito compreenso de conceitos cientfi-cos relacionados aos carboidratos. Por isso, acredita-se que o presente trabalho uma importante ferramenta para os professores de Qumica, pois vem suprir parte da lacuna existente na maioria dos livros didticos, como aponta Francisco Jr. (2008b), no que tange a rigorosidade dos conceitos e a proposta de abordagens experi-mentais. Ademais, os materiais em-pregados so alternativos, possibili-tando a realizao dos experimentos em escolas as quais no disponham de laboratrio.

    Outra considerao importante acerca da abordagem experimental

    RefernciasDAZZANI, M.; CORREIA, P.R.M.;

    OLIVEIRA, P.V. e MARCONDES, M.E.R. Explorando a Qumica na determinao do teor de lcool na gasolina. Qumica Nova na Escola, n. 17, p. 42-45, 2003.

    FRANCISCO JR., W.E. Experimen-tao, modelos e analogias no ensino da deposio metlica espontnea: uma aproximao entre Paulo Freire e aulas de Qumica. 2008. Dissertao (Mestrado). Universidade Federal de So Carlos, So Carlos, 2008a.

    _____. Bioqumica no Ensino Mdio?! (De)Limitaes a partir da anlise de alguns livros didticos de Qumica. Cin-cia & Ensino, 2008b. (no prelo)

    HARRIS, D.C. Anlise qumica quanti-tativa. Trad. C.A.S Riehl e A.W.S Guarino. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001.

    OLIVEIRA, R.O.; SANTA MARIA, L.C.; MERON, F. e AGUIAR, M.R.M.P. Prepa-ro e emprego do reagente de Benedict na anlise de acares: uma proposta para o ensino de Qumica Orgnica. Qumica Nova na Escola, n. 23, p. 41-42, 2006.

    Para saber maisNELSON, D.L. e COX, M.M. Lenhinger:

    princpios de bioqumica. Trad. A.A Simes e W.R.N Lodi. 3a ed. So Paulo: Sarvier, 2002.

    Abstract: Carbohydrates: Structure, Properties and Functions. Carbohydrates form the most abundant kind of biomolecules in the Earth. Besides, they have wide biologic functions and they are the main energy source of the most of the non photosynthetic cells. Likewise, carbohydrates are seldom discussed in the high-school. Taking this into account, this paper presents important informations about these compounds, reporting chief properties and functions of the carbohydrates, as well as suggestions of experimental activities to study some physical-chemical properties.

    Keywords: Carbohydrates, Sugars, Experimentation.

    sugerida, que intenta privilegiar o registro escrito sistematizado e a discusso dos resultados experi-mentais com base nas hipteses e explicaes elaboradas pelos estudantes. Alm disso, tal abor-dagem experimental uma forma de introduzir conceitos qumicos a partir da Bioqumica, podendo at ser aplicada em cursos introdutrios dessa disciplina em nvel superior. Obviamente, outras questes e dis-cusses podem ser realizadas alm daquelas sugeridas.

    Notas

    1. Carbono anomrico aquele no qual est presente o grupo carbonila.2. e representam as configura-es dos estereoismeros que dife-rem apenas na estereoqumica em torno do carbono anomrico.

    Wilmo E. Francisco Junior. ([email protected]), bacharel e licenciado em Qumica, mestre em Biotecnologia pelo IQ-UNESP de Araraquara e em Educao pela UFSCar, doutorando em Qumica pelo IQ-UNESP de Araraquara.

    28 Encontro de Debates dobre o Ensino de QumicaEvento

    O 28 EDEQ acontecer na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em Canoas (RS), no perodo de 23 a 25 de outubro de 2008, com o tema Qumica da terra e para a terra: educao e tecnologia.

    Um dos objetivos do evento fomentar debates na busca de so-lues para problemas comuns no ensino de Qumica, bem como au-mentar o intercmbio cientfico entre professores, pesquisadores e alunos das instituies envolvidas.

    importante ressaltar a participa-

    o ativa de estudantes de gradua-o e ps-graduao nesse evento, j que constitui um ponto altamente relevante ao profissional em formao e no desenvolvimento do pensamento crtico frente s diversas problemti-cas relacionadas ao Ensino Ambiental e Pesquisa.

    As inscries de trabalhos sero

    realizadas at 22 de setembro de 2008.

    Contato pelo e-mail: [email protected] adicionais em http://www.ulbra.br/edeq

    A Comisso Organizadora