Caracterização morfológica de acessos de bucha vegetalno estado do Espírito Santo.

Carlos Alberto Simões do Carmo 1

A bucha vegetal (Luffa spp.), pertencente à família das cucurbitáceas, é uma planta

trepadeira de fácil adaptação a diferentes ambien tes. As fibras, por serem naturais,

orgânicas e biodegradáveis, apresentam grande potencial de utilização nas áreas

industrial, medicinal, doméstica e do agroturismo, onde artesãos agregam valor ao

produto através da confecção de bolsas, tapetes, bonecas, etc. Entretanto, em virtude da

baixa capacidade de combustão das fibras a grande expectativa é para a confecção de

estofamentos de aviões e veículos terrestres. Entre as espécies cultivadas encontra -se a

Luffa cylindrica, mais comercializada nos mercados e feiras livres, e as de uso medicinal,

Luffa operculata e Luffa acutangula. Apesar de cultivada e comercializada em todas as

regiões brasileiras e de se constituir numa importante atividade econômica e social para

muitas famílias rurais, pouco se conhece sobre o comportamento agronômico dessa

espécie, não existindo ações de pesquisa e informações tecnológicas adequadas para a

cultura.

No Espírito Santo, o cultivo é característico de pequenas propriedades de mão -de-

obra familiar e pode ser realizado em todo o Estado, sendo a maioria dos plantios

efetuada de forma rústica e sem os devidos tratos culturais. A comercialização

normalmente é feita no mercado informal, principalmente em feiras livres dos grandes

centros consumidores.

Objetivando caracterizar acessos de buchas cultivadas no Espírito Santo, o Incaper

avaliou 31 materiais de diferentes regiões produtoras do Estado, em cultivo realizado no

município de Domingos Martins, a 950m de altitude . O semeio foi em sacolas plásticas,

em 17/08/05, com transplantio em 28/09/05, com as plantas sendo conduzidas no sistema

de latada de 2m de altura. As covas, de 40X40X30cm, foram espaçadas de 6m entre

fileiras e 3m entre plantas e o plantio com duas plantas/cova. Na adubação da cova,

utilizou-se 200g de calcário dolomítico, 3kg de esterco de cama de galinha, 200g de

superfosfato simples e 20g de FTE n° 12, e, após 30 dias do plantio, três ad ubações

mensais na dosagem de 100g do formulado 20-00-20.

A colheita teve início no mês de fevereiro e término em abril, com os frutos sendo

colhidos na coloração verde amarelada, prensados para rompimento da casca e

1 Eng° Agr° M.Sc. Fitotecnia/Incaper -ES - E-mail: csimoes@incaper.es.gov.br

colocados em tanque de alvenaria com água corrente durante 48 horas para facilitar a

retirada da casca, da mucilagem (baba) e das sementes. Logo após, foram expostos p ara

secagem em galpão ventilado. A origem dos acessos e as características agronômicas

dos frutos encontram-se nos Anexos 1 e 2.

Os frutos foram classificados com base no comprimento, considerando -se

“pequeno” o fruto até 30,0cm (35,5%), “médio”, de 30,1 a 60,0cm (41,9%), “grande”, de

60,1cm a 100,0cm (16,1%) e “de metro” , acima de 100,1cm (6,5%) (Figura 1). Quanto à

espessura (circunferência), os frutos variaram de 20,1cm a 38,5cm (Figura 2), havendo

grande dificuldade na definição de formato, tendo em vi sta a variabilidade da relação

comprimento/espessura e a inexistência de descritores definidos . A Figura 3 mostra a

distribuição dos frutos, com destaques para os acessos 10, 02, 28 e 30, que obtiveram

maior volume de matéria seca.

A ocorrência da “broca das cucurbitáceas” (Diaphania spp.), também denominada

de “bichoca” na região produtora de Bonfim -MG, causou danos significativos aos frutos,

com maior intensidade nos acessos 14 (59,7%), 24 (40,6%) e 17 (31,2%). Os acessos 8,

16 e 31 não foram atacados Figura 4. Quanto à doença, houve ataque generalizado da

“mancha zonada” (Leandria momordicae), com menor severidade nos acessos 6, 10, 11,

12 e 21.

Foram também constatadas grande heterofilia foliar (polimorfismo), que é a

presença de folhas com distintas configurações na mesma planta, fibras de texturas

variadas e sementes de coloração preta a diferentes tonalidades do amarelo (Anexo 1).

Os resultados permitiram concluir que existe grande variabilidade genética de

acessos de bucha vegetal no estado do E spírito Santo e que houve significante

ocorrência de pragas, sendo que o parâmetro “resistência varietal” deve ser

rigorosamente considerado na seleção de materiais genéticos, com a necessidade da

definição de táticas para o manejo de pragas e doenças, bem como o registro de produtos

químicos para uso na cultura. A extensa rede de utilização e a grande perspectiva do

mercado de exportação das fibras têm contribuído para o crescimento da demanda por

informações tecnológicas de cultivo, havendo a necessidade do desenvolvimento de um

sistema de produção com estabelecimento de épocas regionais de plantios, densidade

populacional de plantas, sistemas de plantio, cultivares adequadas para usos específicos

e informações sobre as características e potencialidades da s fibras.

Figura 1- Relação tamanho e número de frutos de acessos de bucha vegetal.

Figura 2- Relação comprimento e espessura de acessos de bucha vegetal.

Figura 3- Relação tamanho e matéria seca de acessos de bucha vegetal.

Figura 4- Relação tamanho e número de frutos brocados de acessos de bucha vegetal.

ANEXO 1- Origem, vigor das plantas e características das fibras e das sementes deacessos de bucha vegetal. Incaper-ES, 2007.

Vigor1 (dias) Fibras SementesAcesso

Origem(município) 60 120 180

Comp x Circunf(cm) Cor2 Textura Cor2 100 (g)

01 Linhares R M F 26,1 X 37,9 B Macia A 132,602 Itarana F F R 106,0 X 25,5 C Dura P 119,303 Vila Valério M MB M 31,9 X 26,1 B Média P 124,604 Vila Valério R M F 32,3 X 26,0 B Macia P 124,305 Itaguaçú M M R 45,3 X 25,6 C Dura P 105,306 Itaguaçú R M R 25,6 X 26,6 B Média P 89,607 Itaguaçú R M F 21,7 X 34,1 B Macia A 114,608 Marilândia F M R 28,9 X 37,4 B Média A 111,009 Pancas M MB M 37,0 X 25,5 C Média P 101,610 Pancas M MB M 107,5 X 27,7 C Dura P 120,311 Pancas R M M 77,6 X 20,8 C Dura P 121,012 Nova Venécia R MB MB 27,7 X 20,1 C Média P 104,613 Nova venécia R M R 26,2 X 34,2 B Média A 107,314 Alegre MB MB M 67,6 X 25,7 C Média A 119,615 Afonso Cláudio R MB R 33,2 X 38,5 B Macia P 120,616 Afonso Cláudio R F M 29,0 X 28,8 B Média A 102,317 Afonso Cláudio R R R 49,6 X 24,9 C Dura P 95,318 Afonso Cláudio R M M 30,3 X 37,6 B Macia A 102,319 Pinheiro R MB R 36,3 X 30,8 B Média P 109,620 Santa Teresa M MB MB 39,0 X 26,2 C Média P 97,621 Santa Teresa R M M 46,4 X 20,7 B Média P 90,022 Marechal Floriano M M F 41,7 X 20,5 B Macia A 114,323 Marechal Floriano M M R 22,8 X 32,3 C Média A 109,624 Marechal Floriano R MB MB 31,9 X 35,1 B Macia P 123,625 Santa Teresa M MB R 78,1 X 25,3 C Média P 130,026 Alegre MB M R 26,9 X 33,5 B Macia A 114,327 Domingos Martins MB MB M 24,8 X 36,3 B Macia A 101,628 Domingos Martins M MB MB 79,0 X 35,0 B Dura P 131,629 Domingos Martins R MB M 46,1 X 30,5 B Dura P 122,030 São R, Canaã M MB R 79,3 X 22,3 C Dura P 112,331 Afonso Cláudio R MB M 28,3 X 34,1 B Média P 112,6

1Vigor das plantas: F= Fraco; R= Regular; M = Médio; MB = Muito Bom 2Cor: B = Branca; C = Creme; P = Preta

ANEXO 2- Resumo da análise de variância, característica dos frutos, tamanho do pedúnculo, número de frutos e porcentagemde frutos brocados de acessos de bucha vegetal. Incaper-ES, 2007.

Características dos FrutosAcesso Matéria seca

(g)Comprimento

(cm)Diâmetro

(cm)Circunferência

(cm) Formato

Pedúnculo

(cm)

Frutos

(n°)

Frutos brocados

(%)

01 16,8 cdef 26,1 hi 11,4 ab 37,9 ab Alongada cheia 15,2 abc 45 a 18,1 bc02 66,1 a 106,0 a 7,8 fghij 25,5 hij Alongada fina 12,1 bc 41 a 9,5 bc03 13,8 cdef 31,9 defghi 8,2 efghij 26,1 ghij Alongada cheia 13,7 abc 99 a 10,3 bc04 11,9 def 32,3 defghi 8,4 efghij 26,0 ghij Alongada cheia 13,8 abc 62 a 5,7 bc05 18,4 cdef 45,3 defg 8,0 efghij 25,6 ghij Alongada cheia 13,0 abc 73 a 4,8 bc06 14,7 cdef 25,6 hi 8,7 cdefghi 26,6 efghij Alongada 12,7 abc 94 a 3,7 c07 10,1 ef 21,7 i 10,6 abcd 34,1 abcdef Alongada cheia 8,8 c 60 a 9,4 bc08 15,0 cdef 28,9 efghi 11,7 a 37,4 ab Alongada cheia 9,4 c 51 a 0,0 c09 15,1 cdef 37,0 defghi 7,9 fghij 25,5 hij Alongada 15,0 abc 84 a 9,6 bc10 66,2 a 107,5 a 8,8 cdefg 27,7 defghij Alongada fina 9,2 c 61 a 26,8 abc11 29,4 c 77,6 b 6,2 j 20,8 j Alongada fina 18,5 ab 44 a 15,0 bc12 8,0 f 27,7 fghi 6,6 hij 20,1 j Alongada 10,0 bc 105 a 22,5 bc13 12,6 def 26,2 hi 10,8 abc 34,2 abcde Alongada cheia 11,0 bc 66 a 14,4 bc14 20,4 cdef 67,6 bc 8,0 efghij 25,7 ghij Alongada fina 20,7 a 49 a 59,7 a15 15,7 cdef 33,2 defghi 11,8 a 38,5 a Alongada cheia 12,9 abc 43 a 6,5 bc16 17,3 cdef 29,0 efghi 8,7 cdefgh 28,8 cdefghi Alongada cheia 14,9 abc 43 a 0,0 c17 25,3 cde 49,6 cd 8,0 efghij 24,9 hij Alongada 16,8 abc 29 a 31,2 abc18 19,3 cdef 30,3 efghi 11,5 a 37,6 ab Alongada cheia 14,7 abc 41 a 9,7 bc19 15,3 cdef 36,3 defghi 9,2 bcdefg 30,8 abcdefgh Alongada cheia 15,1 abc 81 a 1,7 c20 14,7 cdef 39,0 defghi 8,4 defghij 26,2 fghij Alongada 12,2 abc 82 a 9,2 bc21 13,8 cdef 46,4 de 6,5 ij 20,7 j Alongada 14,9 abc 112 a 5,5 bc22 11,4 ef 41,7 defgh 6,5 ij 20,5 j Alongada 13,1 abc 77 a 7,8 bc23 8,5 f 22,8 i 9,9 abcdef 32,3 abcdefgh Alongada cheia 8,7 c 58 a 2,1 c24 13,1 def 31,9 defghi 11,4 ab 35,1 abcd Alongada cheia 16,7 abc 47 a 40,6 ab25 27,7 cd 78,1 b 7,9 fghij 25,3 hij Alongada fina 13,7 abc 56 a 26,4 abc26 11,7 def 26,9 ghi 10,2 abcde 33,5 abcdefg Alongada cheia 11,8 bc 57 a 2,6 c27 11,4 ef 24,8 hi 11,2 ab 36,3 abc Alongada cheia 14,8 abc 44 a 3,6 c28 48,7 b 79,0 b 10,6 abcd 35,0 abcd Alongada cheia 16,1 abc 48 a 8,5 bc29 23,3 cdef 46,1 def 9,8 abcdef 30,5 bcdefgh Alongada 18,3 ab 62 a 11,7 bc30 47,1 b 79,3 b 7,0 ghij 22,3 ij Alongada fina 14,6 abc 56 a 14,1 bc31 15,4 cdef 28,3 efghi 11,3 ab 34,1 abcdef Alongada cheia 12,6 abc 68 a 0,0 c

Média 21,2 44,6 9,1 29,2 - 13,7 62,31 12,6CV (%) 18,37 10,03 5,79 6,54 - 14,98 33,16 69,05QMT -

¹ Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tuckey, a 5%.