caracterizaÇÃo mecÂnica de argamassas polimÉricas

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PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ESCOLA DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Dissertação de Mestrado CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS DE ÓLEO DE MAMONA REFORÇADAS COM FIBRA NATURAL DE PIAÇAVA EDUARDO PEREIRA MOTTA MAIO DE 2014

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Page 1: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE

PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

ESCOLA DE ENGENHARIA

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Dissertação de Mestrado

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE

ARGAMASSAS POLIMÉRICAS DE ÓLEO

DE MAMONA REFORÇADAS COM FIBRA

NATURAL DE PIAÇAVA

EDUARDO PEREIRA MOTTA

MAIO DE 2014

Page 2: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

EDUARDO PEREIRA MOTTA

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS

POLIMÉRICAS DE ÓLEO DE MAMONA REFORÇADAS

COM FIBRA NATURAL DE PIAÇAVA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa Francisco Eduardo Mourão

Saboya de Pós-Graduação em Engenharia

Mecânica da UFF como parte dos

requisitos para a obtenção do título de

Mestre em Ciências em Engenharia

Mecânica

Orientador: JOÃO MARCIANO LAREDO DOS REIS, PhD.

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

NITERÓI, 20 DE MAIO DE 2014

Page 3: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF

M921 Motta, Eduardo Pereira

Caracterização mecânica de argamassas poliméricas de óleo de mamona reforçadas com fibra natural de piaçava / Eduardo Pereira Motta. – Niterói, RJ : [s.n.], 2014.

88 f.

Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Universidade Federal Fluminense, 2014.

Orientador: João Marciano Laredo dos Reis.

1. Argamassa. 2. Compósito polimérico. 3. Poliuretano. 4. Óleo de mamona. 5. Análise mecânica. I. Título.

CDD 691.5

Page 4: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS

POLIMÉRICAS DE ÓLEO DE MAMONA REFORÇADAS

COM FIBRA NATURAL DE PIAÇAVA

Esta Dissertação é parte dos pré-requisitos para a obtenção do título de

MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA

Área de concentração: Mecânica dos Sólidos

Aprovada em sua forma final pela Banca Examinadora formada pelos professores:

Prof. João Marciano Laredo dos Reis (PhD.)

Universidade Federal Fluminense

(Orientador)

Prof. Heraldo Silva da Costa Mattos (DSc.)

Universidade Federal Fluminense

Prof. Silvio Romero de Barros (DSc.)

Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFET/RJ

Page 5: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

Aos meus pais, Ana Lúcia Pereira Motta e Luiz Henrique Ribas Motta, por todo carinho,

dedicação e apoio ao longo de minha vida.

Page 6: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

Agradecimentos

Quero agradecer primeiramente aos meus pais, Ana Lúcia e Luiz Henrique, por

todo o apoio, dedicação e incentivo dado aos meus estudos. Agradeço também pela

paciência que sempre tiveram comigo e compreensão.

Ao meu irmão e amigo Henrique, por sempre me incentivar durante essa árdua

caminhada.

A UFRN, instituição que eu guardo com muito carinho pela excelente base

teórica que me proporcionou , me ajudando a crescer profissionalmente e,

principalmente, me ajudando a crescer como ser humano.

A todos os meus amigos que fiz durante a minha graduação da UFRN. Obrigado

por sempre acreditarem em mim.

Por fim, quero agradecer ao meu orientador, João Reis, por todo apoio e ajuda

durante a realização dessa pesquisa.

Page 7: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

Resumo

Este trabalho tem como objetivo a investigação experimental do comportamento mecânico de

argamassas de matriz poliméricas de resina poliuretana provinda do óleo de mamona, com e sem

reforço de fibras de piaçava. Argamassa polimérica é um material compósito composto por uma

fase dispersa, poros e uma fase contínua, aglomerante. A fase dispersa é composta por agregados

finos de areia, ao passo que a fase contínua é composta por aglomerantes poliméricos, podendo

ser resinas termorrígidas epóxi, poliéster e poliuretano provindo de óleo de mamona. As resinas

comumente utilizadas, poliéster e epóxi, são obtidas por meios não renováveis através da

polimerização de hidrocarbonetos fósseis. Ao passo que a resina de óleo de mamona provém de

uma fonte renovável, pois é manufaturada através da semente da planta Ricinus Communis,

conhecida no Brasil como mamona. Para a realização dos experimentos, foram construídas

diversas amostras de argamassas de matriz poliméricas de poliuretano provinda do óleo de

mamona com 10 e 12% de resina em massa, e amostras de argamassas de matrizes poliméricas

com 12% de resina, porém com a adição de 1% e 2% em massa de um reforço fibroso de

piaçava. Todos os corpos de prova foram feitos utilizando uma proporção de 1:1 de base e

endurecedor. Em seguida, foram realizados ensaios de compressão, flexão em três pontos e

fratura, com a finalidade de comparar a resistência a compressão, resistência a flexão, o fator

intensidade de tensão crítico, módulo de elasticidade, e a energia de fratura de cada material

estudado. Tais propriedades foram calculadas através do estudo da mecânica da fratura utilizando

o modelo de dois parâmetros de fratura (TPFM). Em seguida, foi feita uma comparação dos

resultados obtidos com trabalhos anteriores que utilizaram resina epóxi e poliéster para a

construção da argamassa polimérica. Assim, comprovou-se que as argamassas de matriz

polimérica de poliuretano provindo de óleo de mamona possuem propriedades mecânicas

similares àquelas baseadas em epóxi e significativamente superiores as do polímero de poliéster.

Ademais, verificou-se que adição de reforço fibroso de piaçava em até 1% melhora

consideravalmente a tenacidade a fratura das argamassa poliméricas.

Palavras chaves: Argamassa polimérica, polímero, poliuretano, óleo de mamona, compósito

polimérico.

Page 8: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

Abstract

This work aims to investigate experimentally the mechanical behavior of polymeric mortar made

from castor oil resin, with and without piassava fiber reinforcement. Polymer mortar is a

composite material composed of a disperse phase, pores and a continuous binder phase. The

disperse phase is composed of fine aggregate sand, while the continuous phase is composed of

polymeric binder, as thermoset epoxy resins, polyester or polyurethane stemmed from castor oil.

Resins commonly used, epoxy and polyester, are obtained by polymerizing nom-renewable

hydrocarbon fossil. Whereas castor oil resin comes from a renewable source, because it is

manufactured through the seed of the plant Ricinus communis, known in Brazil as mamona. For

the experiments, several samples of polymer mortars made from polyurethane resin stemmed

from castor oil were build using 10 and 12% in mass of resin, furthermore polyurethane polymer

mortars with 12% in mass of resin were built with 1 and 2% of piassava fibrous reinforcement.

All the samples were built using the 1:1 proportion of base and hardener. Then, compression

tests, three-point bend and fracture tests were made in order to compare the compressive

strength, bending resistant, the critical stress intensity factor, modulus of elasticity, and the

fracture energy of each material studied in this work. These mechanical properties were

calculated using the two parameters of fracture method (TPFM). Then, a comparison of the

obtained results was made with previous works and papers from different authors, who had used

epoxy resin and polyester resin to build polymer mortars. Thereby, this study has proved that

polymer mortars made from polyurethane castor oil resin have far superior mechanical properties

then the polyester mortar, and similar mechanical properties when comparing it with epoxy

mortars. Moreover, it was found that adding 1% fibrous reinforcement of piassava considerably

improves the fracture toughness of the polymer mortar studied in this work.

Keywords: Polymeric mortar, polymer, polyurethane, castor oil, polymeric composite.

Page 9: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

SUMÁRIO

Lista de Figuras ......................................................................................................................i

Lista de Tabelas ....................................................................................................................ii

1 Introdução .............................................................................................................................. 1

2 Revisão Bibliográfica ............................................................................................................... 7

2.1 Conceitos básicos de polímeros e classificação .............................................................. 7

2.2 Resina epóxi .................................................................................................................. 10

2.3 Resina poliéster insaturada .......................................................................................... 12

2.4 Resina poliuretana ........................................................................................................ 15

2.4.1 Reação de polimerização dos poliuretanos .......................................................... 16

2.4.2 Poliol, pré-polímero e óleo de mamona ............................................................... 16

2.4.3 Processo de produção do poliuretano de óleo de mamona ................................ 18

2.5 Compósitos ................................................................................................................... 20

2.5.1 Vantagem dos materiais compósitos ................................................................... 20

2.5.2 Tipos de materiais compósitos ............................................................................. 21

2.6 Argamassas e concretos poliméricos............................................................................ 23

2.6.1 Constituintes das argamassas poliméricas ........................................................... 26

2.6.2 Tipos de concretos poliméricos ............................................................................ 29

2.7 Compostos poliméricos reforçados com fibras ............................................................ 33

2.7.1 Fibras vegetais ...................................................................................................... 34

2.8 Mecânica da fratura de compósitos poliméricos ......................................................... 38

2.8.1 Mecânica da fratura aplicada aos polímeros ........................................................ 39

2.8.2 Mecânica da fratura em compósitos poliméricos reforçados .............................. 40

3 Materiais e métodos ............................................................................................................. 42

3.1 Materiais ....................................................................................................................... 42

3.1.1 Resina poliuretana provinda do óleo de mamona ............................................... 42

3.1.2 Agregado ............................................................................................................... 42

3.1.3 Reforço de piaçava ............................................................................................... 43

3.1.4 Amostras ............................................................................................................... 44

3.2 Métodos ........................................................................................................................ 46

Page 10: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

3.2.1 Modelo de dois parâmetros de fratura (MFLE) .................................................... 46

3.2.2 Energia de fratura ................................................................................................. 49

3.2.3 Ensaio de Compressão .......................................................................................... 52

3.2.4 Flexão em três pontos .......................................................................................... 53

4 Resultados e disscussões ...................................................................................................... 54

4.1 Compressão .................................................................................................................. 54

4.2 Resistência à flexão....................................................................................................... 57

4.3 Módulo de elasticidade, tenacidade à fratura e energia de fratura. ........................... 60

5 Conclusão .............................................................................................................................. 64

6 Referências ........................................................................................................................... 66

7 Anexo: Artigo Publicado ................................................................................................... 72

Page 11: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

i

Lista de figuras

Figura 2.1 - Cadeia de polímeros isotáticos [36] ........................................................................ 7

Figura 2.2 - Cadeia de polímeros sindiotáticos [36] ................................................................... 8

Figura 2.3 - Cadeira de polímeros atáticos [36] ......................................................................... 8

Figura 2.4 - Tipos de encadeamento entre os monômeros [36] ................................................ 8

Figura 2.5 - Estrutura química do grupo epóxido [25] ........................................................... 10

Figura 2.6 - Esquema ilustrando da cura da resina poliéster insaturada [23] ...................... 13

Figura 2.7 - – Polimerização dos poliuretanos [40].................................................................. 16

Figura 2.8 – Desenho esquemático da injetora de poliuretano .............................................. 19

Figura 2.9 – Classificação de compostos de concreto polimérico [25] .................................. 24

Figura 2.10 – Efeito da deformação ao redor da fibra na matriz sob tensão: (a) fibra

contínua; (b) fibra descontínua [37] .......................................................................................... 33

Figura 2.11 – Componentes estruturais de uma fibra vegetal [61] ....................................... 36

Figura 2.12 – Mecanismos de falha em materiais compósitos [61]........................................ 40

Figura 3.1 – Borras de piaçava ................................................................................................. 43

Figura 3.2 – Corpo de prova para o ensaio de fratura para o compósito com 12% de resina

...................................................................................................................................................... 44

Figura 3.3 – Corpo de prova para o ensaio de compressão para o compósito com 12% de

resina ............................................................................................................................................ 45

Figura 3.4 – Corpo de prova para o ensaio de flexão em três pontos com 12% de resina .. 45

Figura 3.5 – Corpo de prova na máquina universal de ensaios. ............................................ 47

Figura 3.6 – Compliance inicial [5] .......................................................................................... 48

Figura 3.7 – Compliance inicial ................................................................................................ 49

Figura 3.8 – Curva típica de Carga-delocamento [46] ........................................................... 51

Figura 3.9 – Posicionamento do corpo de prova ..................................................................... 53

Figura 4.1 – Tensão de compressão x deformação das argamassas com 10 e 12% de

poliuretano em massa ................................................................................................................. 55

Figura 4.2 – Tensão de flexão x deformação ........................................................................... 57

Figura 4.3 – Relação da carga aplicada com o deslocamento da amostra ............................ 61

Figura 4.4 – Relação da carga aplicada com o deslocamento da abertura da fenda (CMOD)

...................................................................................................................................................... 61

Figura 4.5 – Carga x CMOD de argamassas de matriz poliméricas sintéticas[84] ............. 62

Page 12: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

ii

Lista de tabelas

Tabela 2.1 - Propriedades gerais e aplicações de uma argamassa polimérica, produzida com

aglomerantes do tipo poliéster insaturado ou epóxi [18] ......................................................... 14

Tabela 2.2 - Composição média do óleo de mamona [41] ...................................................... 18

Tabela 2.3 - Propriedades mecânicas de diferentes argamassas e concretos Poliméricos [5]

...................................................................................................................................................... 23

Tabela 2.4 - Aplicações do concreto e argamassas poliméricas e suas vantagens [18] ........ 26

Tabela 2.5 – propriedades mecânicas de algumas fibras vegetais[66] .................................. 35

Tabela 2.6 - Composição química de algumas fibras vegetais (%)- [66] .............................. 36

Tabela 3.1 - Propriedades da resina poliuretana provinda do óleo de mamona .................. 42

Tabela 3.2 - Número exato de amostras utilizadas em cada ensaio para cada constituinte.44

Tabela 4.1 - Resistência à compressão das argamassas poliméricas estudadas ................... 54

Tabela 4.2 - Resistência à compressão (MPa) de argamassas com 12% de resina poliéster,

epóxi e com poliuretano natural ................................................................................................ 56

Tabela 4.3 - Resistência à compressão de argamassas de resina poliéster [89] .................... 56

Tabela 4.4 - Resistência à compressão das argamassas poliméricas estudadas ................... 57

Tabela 4.5 - Resistência à flexão de argamassas com 12% de resina poliéster, epóxi e com

poliuretano natural ..................................................................................................................... 58

Tabela 4.6 - Resistência à compressão de argamassas de resina poliéster [89] .................... 59

Tabela 4.7 - Propriedades de fratura das argamassas de poliuretano natural .................... 60

Tabela 4.8 - Propriedades de fratura de argamassas de matriz poliméricas sintéticas [84] 63

Page 13: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

1

CAPÍTULO 1

1 Introdução

Ao longo dos anos os países emergentes, sobretudo o Brasil, deram um grande

salto econômico. Isso fez com que houvesse uma melhor distribuição de renda,

melhorando o poder de compra da população. Assim, aliado à facilidade do crédito e

financiamento, aumentou-se muito a procura de imóveis novos e antigos. Segundo

Czarnecki (2001) [1], para suprir a demanda da população mundial nos próximos 12

anos, é necessário que se construa tantos prédios novos, quanto os que existem

atualmente. Assim, há a necessidade de dobrar o número de construções na superfície

terrestre. Além disso, o investimento em infraestruturas como pontes, autoestradas e

portos foi alavancado devido ao fortalecimento da indústria nacional. Com isso, houve

um grande crescimento no mercado da construção civil, demandando muita mão de obra

qualificada e matéria prima, tanto para construções novas quanto para reformas e

manutenção de obras antigas.

O concreto e a argamassa são os principais materiais utilizados na construção

civil, e um dos materiais mais usados em obras de infraestrutura. De acordo com

Czarnecki (2001) [1], a produção anual de cimento é de aproximadamente 1 bilhão e

duzentos milhões de toneladas, produzindo um total de 4 milhões de m3 de concreto. O

concreto e a argamassa que utilizam o cimento Portland são materiais mais usados nas

principais aplicações da engenharia civil, e são produtos monolíticos compostos de

cascalho, areia e cimento. A diferença entre concreto e argamassa está no tipo da areia,

onde o tamanho dos grãos de areia utilizados na argamassa são muito menores do que o

tamanho dos grãos utilizados no concreto. As características do concreto e da argamassa

dependem da natureza do agregado, da natureza da pasta de cimento-água e das

quantidades relativas dos dois. Em outras palavras, as propriedades do concreto e da

argamassa são governadas por suas estruturas internas, a exemplo do que ocorre com

qualquer outro material [2] [3].

Conceitualmente, a argamassa contém cascalho ou rocha britada, com areia

preenchendo os interstícios, enquanto a pasta de cimento-água preenche os espaços entre

os grãos de areia. Na prática, algum excesso de areia é requerido para assegurar o

completo preenchimento dos espaços entre o cascalho; deste excede-se também em dez

por cento o valor teórico da pasta cimento-água, o que garante o preenchimento do

espaço entre os grãos de areia [3]. A resistência da pasta de cimento e água já endurecida

estabelece a resistência do concreto, visto que qualquer ruptura ocorrerá entre a areia

e/ou partículas de pedra. O cimento Portland é uma mistura de silicato de cálcio e

aluminato de cálcio que hidrata na presença de água. O cimento não endurece por

secagem, mas sim pela reação química de hidratação, que libera uma pequena quantidade

de calor para a atmosfera.

Page 14: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

2

Há vários tipos de cimento para a obtenção de características mecânicas distintas.

Para exemplificar, um cimento de grande fração de silicato tricálcico (Ca3SiO5) endurece

rapidamente e , consequentemente, ganha a resistência desejada muito cedo. Por outro

lado, em casos nos quais o calor da reação seja indesejado e precise de um tempo maior

de endurecimento, utiliza-se um cimento rico em Ca2SiO4 [3]. Baseado nessas premissas,

a American Society for Testing Materials (ASTM) relacionou os seguintes tipos de

cimentos: cimento tipo I usado em construções de concreto onde não for requerida

qualquer propriedade especial, cimento tipo III usado nos casos em que seja pretendido

um correto de resistência antecipada, tipo IV usado nos casos em que seja exigido um

baixo calor de hidratação, e os cimentos tipo II e V para aplicações especiais nas quais o

ataque por sulfato constitui uma consideração de projeto. Além disso, as unidades de

mistura do concreto se baseiam na quantidade de cimento usada, e a relação

água/cimento é fundamental para a resistência do concreto.

Entretanto, a crescente demanda por matéria prima , o surgimento de novas

tecnologias, e as normas ambientais cada vez mais rigorosas, fizeram com que

aumentasse a necessidade de novos materiais para serem utilizados na construção civil.

Assim, o desenvolvimento de novos materiais que possuam maior resistência, maior

durabilidade e principalmente um melhor ciclo de vida fez-se necessário. A avaliação do

ciclo de vida de um produto inclui o ciclo de vida completo do material, processo ou

atividade, ou seja, a extração e o processamento de matérias-primas, a fabricação, o

transporte e a distribuição; o uso, o reemprego, a manutenção; a reciclagem, a

reutilização e a disposição final [4].

Sendo assim, a argamassa polimérica, AP, é considerada um exemplo de

material por possuir alta durabilidade devido a apresentar bons resultados frente aos

esforços mecânicos, as intempéries e a meios agressivos , reduzindo a necessidade de

manutenção, frequentemente requerida pela argamassa convencional, sendo o principal

fator de importância na análise do ciclo de vida de um produto [5]. AP é um composto

de agregado com um ligante de polímero e que não contém em sua composição cimento

Portland e nem água. As resinas mais utilizadas em sua formação são epóxi, acrílico e

poliéster. Além da vantagem no ciclo de vida em relação ao Cimento Portland, os

compósitos poliméricos possuem propriedades de fratura muito superiores, com grande

tenacidade, e menor taxa de propagação de trincas evitando fratura frágil.

Argamassa polimérica é um compósito sem a presença de cimento, feito de

agregantes inorgânicos unido por uma resina aglomerante que tem a função de substituir

o cimento. A sua composição é determinada pela sua aplicação, e é fortemente

influenciada pela taxa de aglomerante por resina. A argamassa polimérica é usada de

forma muito eficiente em componentes pré-moldados. De fato, as argamassas

poliméricas foram usadas primeiramente para a construção de chão industrial, retoque de

estruturas de concreto danificadas e retoque de tubulações subterrâneas. Em comparação

com o cimento convencional Portland, as argamassas poliméricas oferecem várias

vantagens, como maior resistência mecânica, maior resistência química e melhor

tenacidade à fratura [6-8].

As primeiras argamassas poliméricas utilizavam polímeros de resina sintética

como epóxi, poliéster, acrílico e poliuretano [9]. Os materiais sintéticos podem ser

produzidos a baixos custos e suas propriedades podem ser alteradas até o ponto onde

Page 15: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

3

muitas delas são superiores a alguns polímeros naturais, como borracha, algodão, couro,

seda e lã [10] . Dependendo da aplicação, peças de madeira e até metálicas podem ser

substituídas por polímeros sintéticos de maneira satisfatória, e com a vantagem de ter

maior durabilidade, menor necessidade de manutenção e por proporcionar menor peso na

estrutura devido a sua menor densidade. Sendo assim, diversas pesquisas ao redor do

Mundo foram feitas com as resinas sintéticas, tratando-se desde o desenvolvimento de

argamassas, compósitos naturais e compósitos naturais reforçados com fibras naturais,

como a piaçava, fio de coco, dentre outras. Contudo, as resinas de epóxi, poliéster e

acrílico possuem um elevado preço de fabricação podendo limitar as suas aplicações.

Além disso, são materiais orgânicos provindos de hidrocarbonetos fósseis, ou seja, a sua

fonte não é renovável, pois provém do petróleo.

As principais matrizes energéticas mundiais vêm de fontes de hidrocarbonetos

não renováveis como o petróleo, carvão mineral e gás natural, que juntas chegam a

representar mais de 80% da fonte energética global [11]. Além de ser utilizado como

matriz energética, o petróleo ainda é a base para diversos produtos da indústria química

como tintas, óleos lubrificantes, graxas, querosenes, solventes, produtos asfálticos,

parafina, dentre outros. Diversas pesquisas alertam para uma possível escassez do

petróleo devido ao crescente aumento do consumo mundial impulsionado pelos países

emergentes. Além disso, o seu preço tende a continuar a subir devido às dificuldades de

exploração das novas reservas mundiais que se encontram em locais remotos do globo,

como por exemplo, o fundo do oceano. Sendo assim, por não ser renovável e ser

utilizado para diversas outras aplicações, é essencial o desenvolvimento de substitutos,

no caso específico deste trabalho, o desenvolvimento de uma argamassa de matriz

polimérica feita com resina natural e de fonte renovável.

Os óleos naturais como o óleo de soja, milho, tungue, linhaça e mamona, quando

sintetizados produzem polímeros naturais. Os óleos vegetais são predominantemente

produzidos de moléculas de triglicerídeos, e são os substitutos ideais dos óleos sintéticos,

pois como são produzidos de fontes biológicas, eles são renováveis, oferecem bom

desempenho e apresentam um custo menor quando comparado com os óleos produzidos

por petróleo. Além disso, esses materiais apresentam vantagens ambientais sobre os

óleos sintéticos não somente pelo fato de serem renováveis, mas também pela facilidade

do descarte e melhor ciclo de vida do produto [12] [13].

O óleo de mamona é uma das alternativas para a produção de compósitos de

matrizes poliméricas naturais por ser uma das poucas fontes naturais de produção de

resina que se assemelha a um composto puro. Ele é obtido da extração da semente da

mamona, cujo nome científico é Ricinus Communis. É um fluído viscoso, de cor amarelo

pálido, não volátil, com um sabor suave e que é utilizado algumas vezes como uma

substância laxante. Tem um leve odor característico, enquanto o petróleo bruto tem um

sabor ligeiramente amargo normalmente causando náuseas [14]. A Índia é o maior

produtor de óleo de mamona do mundo, seguido por China e Brasil. No Brasil, a planta

está sendo usada principalmente para a produção de biodiesel. O óleo de mamona é o

único que possui ambas as funções de insaturação e de hidroxila não conjugada. Além

disso, é sujeita a muitas reações orgânicas conhecidas para a formação de derivados

Page 16: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

4

úteis, que podem sofrer reações de polimerização por radicais ou condensação [15]. Pode

ser sintetizada para a produção de resina de poliuretano, esta que possui grandes

atrativos devido a sua versatilidade estrutural podendo ser elastômero, termoplástico,

termofixo, espumas rígidas e flexíveis. Eles ainda apresentam a particularidade de serem

mais compatíveis com fibras vegetais do que outras resinas, em virtude da possibilidade

de reação dos grupos de hidroxilas das fibras e os grupos isoctanos do poliuretano [16]

[17].

Várias pesquisas vem sendo realizadas utilizando compósitos poliméricos com

reforço fibroso natural. Na tese de J. M. L. Reis [18] e na dissertação de M. A. G.

Jurumenha [5], argamassas poliméricas utilizando resinas sintéticas são reforçadas com

fibras sintéticas e naturais, melhorando as propriedades mecânicas dos compósitos.

Assim, na presente dissertação, argamassas poliméricas de resina poliuretana povinda de

óleo de mamona serão reforçadas com fibras de piaçava, para posterior análise de

resultados e comparação com demais argamassas poliméricas já estudadas .

Entretanto, deve-se ressaltar que o custo de argamassas e concretos poliméricos

pode atingir a faixa de 10 até 100 vezes o valor do cimento Portland, e mesmo

considerando que a massa específica do cimento é 2,5 vezes maior do que o polímero, o

custo por unidade de volume dos compósitos poliméricos é ainda assim

consideravelmente maior do que o concreto cimentado Portland comum. Assim, de

acordo com Fowler [9] [19], uma das mais fortes tendências das pesquisas em concreto

polimérico visa reduzir o teor de aglomerante, através do proporcionamento dos

agregados e , como consequência, a utilização de um teor de polímero mínimo

necessário, deste modo, reduzindo-se o custo desses materiais.

Portanto, o presente trabalho tem como objetivo a caracterização mecânica de

argamassas de matriz poliméricas feitas a partir de resina de poliuretano natural

produzido a partir do óleo de mamona. Para isso, foram desenvolvidas diversas amostras

de argamassas de matriz poliméricas contendo 10 e 12% de poliuretano natural e

amostras de concretos de matriz poliméricas com 12% de poliuretano natural com a

adição de 1% e 2% em massa de um reforço fibroso de piaçava. Todos os corpos de

prova foram feitos utilizando uma proporção de 1:1 de base e enrijecedor.

Os valores de 12% de resina de poliuretano natural foram escolhidos afim de

comparar os resutados obtidos com pesquisas anteriores realizadas por J.M.L. Reis e E.P.

Carneiro [84], onde argamassas de 12% de epóxi e 12% poliéster com diversos teores de

reforço fibroso de piaçava foram manufaturadas e caracterizadas mecanicamente. O

valor de 10% de resina de poliuretano natural foi escolhido por ser o menor teor possível

de resina que possibilitava a fabricação do compósito. Os valores de 1 e 2% de reforço

de piaçava foram escolhidos pois no estudo realizado por J.M.L. Reis e E.P. Carneiro

[84], descobriu-se que esses eram os teores máximos em que se melhora o

comportamento mecânico do material, além disso a fibra de piaçava foi descrita por

alguns autores [13-16], como sendo a mais resistente dentre as fibras lignocelulósicas.

Page 17: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

5

Experimentalmente esse trabalho de caracterização mecânica da argamassa

polimérica com materiais renováveis foi constituído por uma extensiva quantidade de

ensaios de compressão, flexão em três pontos e fratura no concreto polimérico em corpos

de prova prismáticos. Todos os testes programados foram realizados numa máquina

universal de ensaios com controle de deslocamento da marca SHIMADZU, instalada no

campus da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense no Laboratório de

Ensaios em Dutos (LED). Para o teste de compressão foi seguida as recomendações dos

padrões ASTM C39-05 utilizando corpos de prova padronizados com a mistura do

concreto polimérico enquanto os ensaios de flexão foram de acordo às especificações e

recomendações da RILEM TC113/PCM-8. A geometria dos corpos de provas e o

espaçamento entre apoios da RILEM TC113/PCM-8 são similares aos padrões da

ASTM C348-02 [20-21].

Para melhor compreensão da caracterização do material foram explanadas nesta

dissertação breves explicações sobre mecânica da fratura como fenômeno de ruptura de

um material, formação e propagação de fissuras que provocam a ruptura de um material.

Resumidamente, a mecânica da fratura pode ser explicada pela Mecânica da Fratura

Linear elástica (MFLE) ou pela Mecânica da Fratura Não-Linear (MFNL). Parte do

comportamento dos concretos poliméricos pode ser estudado pela MFLE, quando

elástico, e outra parte pela MFNL, quando inelástico[5]. Porém, devido a lenta

propagação de trinca apresentada no comportamento não linear do material antes de

atingir a ruptura, esses modelos de mecânica da fratura possuem algumas limitações.

Dessa forma, pode-se utilizar o modelo de fissura fictícia (FCM) que descreve o

processo de fratura por dois parâmetros (energia de fratura e a resistência à tração). Além

disso, há a existência de outros modelos encontrados na literatura, estes que utilizam

múltiplos parâmetros de fratura.

Porém, devido a algumas dificuldades na implantação do FCM e preocupações

devido à singularidade da ponta da fissura, Y. S. Jenq e S. P. Shah [22] propuseram o

modelo de dois parâmetros de fratura (TPFM) que não necessita de uma relação

constitutiva de pós-pico. Assim, este foi o modelo utilizado neste estudo para a

determinação dos parâmetros da MFLE. Desta maneira, o fator de intensidade de tensão

crítica, KIc , é calculado na ponta de uma fissura de forma que a medição elástica do

deslocamento da abertura de fenda (CMOD) é igual ao calculado pela MFLE. Além

disso, a energia a fratura Gf é definada como a quantidade de energia necessária para

criar uma unidade de área de uma fenda, e é calculada através da área do gráfico que

relaciona a força aplicada durante o ensaio pelo deslocamento da garra da máquina.

Todos esses conceitos estão de acordo com as normas e recomendações utilizadas na

realização do experimento em questão.

O capítulo dois dessa dissertação será inteiramente dedicado às referências

bibliográficas, tratando dos conceitos básicos de polímeros, um breve histórico, os tipos

de concretos e argamassas de matriz polimérica, tipos de resina, reforços de fibra natural,

o processo de fabricação do óleo de mamona e conceitos elementares de mecânica da

fratura. O capítulo 3 tratará dos materiais e métodos utilizados para essa pesquisa, o

desenvolvimento das amostras, as composições exatas dos materiais e de cada corpo de

prova e a realização dos ensaios mecânicos para caracterizar os materiais estudados. No

capítulo 4, serão abordados os resultados obtidos nesse experimento, bem como as

comparações dos dados obtidos de cada material nessa pesquisa com outros materiais

Page 18: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

6

mais comumentes utilizados na engenharia. Por fim, no capítulo 5, será explanada a

conclusão dessa pesquisa.

Page 19: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

7

CAPÍTULO 2

2 Revisão Bibliográfica

2.1 Conceitos básicos de polímeros e classificação

Polímeros são materiais que apresentam estrutura molecular com unidades que se

repetem (meros ou unidades monoméricas) que são ligadas entre si por ligações

covalentes do tipo sp3, portanto fornando longas cadeias. Devido a essas cadeias longas,

polímeros são compostos de alta massa molecular. O número de meros na cadeia

polimérica é chamado grau de polimerização. Os Polímeros podem ser classificados

quanto à massa molecular. São chamados de oligômeros quando não possuem massa

molecular muito elevada. Porém, são chamados de alto polímero (high polymer) quando

possuem alta massa molecular. Por possuírem uma mistura de diferentes massas

moleculares (polimolecularidade), os polímeros são produtos heterogêneos [23].

Os polímeros ainda podem ser classificados quanto à quantidade de tipos de

meros na sua composição, sendo chamados de homopolímero quando a cadeia é

constituída por apenas um tipo de mero ou copolímeros quando formados por mais de

um tipo de mero [10]. Os copolímeros ainda podem ser classificados como copolímeros

estatísticos, quando não possuem qualquer ordenação, ou como polímero alternado,

quando existe uma repetição de meros de modo alternado. Além disso, os copolímeros

podem ser denominados copolímero em bloco quando se alterna sequências de unidades

químicas iguais. Quando estes blocos são ramificações ligadas à raiz da macromolécula,

este copolímero é chamado de copolímero grafitizado ou enxertado [23].

Segundo Vilar (1993) [36], quanto à taticidade ou seja, a orientação dos

substituintes em relação ao plano formado pela cadeia principal de um polímero

supostamente linear, os polímeros podem ser classificados da seguinte maneira:

- polímeros isotáticos, em que as ramificações estão todas voltadas para um

mesmo lado do plano.

Figura 2.1 - Cadeia de polímeros isotáticos [36]

- polímeros sindiotáticos, em que há alternância de orientação em relação ao

plano da cadeia.

Page 20: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

8

Figura 2.2 - Cadeia de polímeros sindiotáticos [36]

- polímeros atáticos, quando não há qualquer regularidade de orientação.

Figura 2.3 - Cadeira de polímeros atáticos [36]

Quanto aos tipos de encadeamento entre os monômeros, tem-se o encadeamento

cabeça-cauda, cabeça-cabeça e cauda-cauda, predominando o primeiro, por razões

estéricas (Figura 2.4).

Figura 2.4 - Tipos de encadeamento entre os monômeros [36]

Os polímeros podem possuir cadeias com e sem ramificações. Os polímeros com

ramificações apresentam alto grau de complexidade e podem resultar no que se

denomina polímero reticulado (ligações cruzadas). Já os polímeros com cadeias sem

ramificações admitem conformação em zigue-zague (polímeros lineares) [23]. Como

consequencia, surgem diferentes propriedades polímero em relação à fusibilidade e

solubilidade.

Page 21: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

9

Quanto ao processo de polimerização, as reações podem ser por adição, por

condensação ou policondensação. As polimerizações por adição são aquelas formadas

pelas reações sucessivas de monômeros contendo dupla ligação carbono-carbono,

chamados monômeros vinílicos. São exemplos deste tipo de reação, o PVC (policloreto

de vinila), o PP (polipropileno), PE (polietileno), entre outros [10]. Na policondesação,

por sua vez, as reações químicas acontecem por etapas, e, na maioria das vezes,

envolvem mais de um tipo de monômero. Além disso, este tipo de polimerização sempre

gera uma pequena molécula que é eliminada durante o processo, normalmente água,

álcool, entre outros. São exemplos deste tipo de reação o PET (Poli tereftalato de

etileno), RE (resina epóxi) e PU (poliuretano).

De acordo com as características referentes à fusibilidade, os polímeros podem

ainda ser divididos em dois grupos distintos. Termoplásticos, os quais possuem cadeias

lineares ou ramificadas e os termofixos, os quais apresentam uma estrutura

tridimensional. Tal classificação é explicada com mais detalhes abaixo:

a) Termoplástico: é um polímero artificial que, a uma dada temperatura,

apresenta alta viscosidade, podendo ser conformado e moldado.Em um

material termoplástico, uma longa cadeia molecular é interligada através

de uma fraca força de Van der Waals. Quando o material é aquecido, a

força da ligação intermolecular se enfraquece de forma a amolecer e

tornar o material mais flexível e, eventualmente, dependendo da

temperatura, até derreter o material. Contudo, quando o material é

resfriado, ele se solidifica novamente. Este ciclo de derretimento e

resfriamento do polímero pode ser feito várias vezes. Entretanto, as

propriedades do material variam muito com a temperatura. São exemplos

de termoplásticos: polietileno, policloreto de vinila, poliestireno, nylon e

celulose.

b) Termofixo: Material não fusível e insolúvel. Tal material é produzido

através de uma reação química de dois estágios: o primeiro estágio resulta

na formação de uma longa cadeia molecular similar a cadeia presente nos

termoplásticos, mas ainda capaz de uma reação posterior. O segundo

estágio da reação química (ligação cruzada de cadeias) acontece durante a

moldagem do material, quando se aplica calor e temperatura. Durante o

segundo estágio, as longas cadeias molecures ja foram interligadas com

ligações fortes, assim o material não é derretido com a presença de calor.

Contudo, se calor excessivo for aplicado nesses materiais, eles irão se

degradar . Ainda devido as fortes ligações químicas, materiais termofixos

são rígidos e suas propriedades mecânicas são sensíveis ao calor. São

considerados materiais termofixos: resina epóxi, poliéster, fenólicos,

melamina formaldeído, éster vinil, dentre outros.

No caso específico deste trabalho, será utilizada uma resina de poliuretano feita a

partir do óleo de mamona para a fabricação de argamassas poliméricas. Em seguida, esse

compósito será caracterizado mecanicamente através de diversos ensaios mecânicos,

com a finalidade de comparar os resultados obtidos com outras argamassas poliméricas

previamente estudadas, mais especificamente epóxi e poliéster. Desta forma, cada um

desses polímeros será estudado nos tópicos a seguir.

Page 22: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

10

2.2 Resina epóxi

Resina epóxi é um polímero termofixo que pode ser polimerizado com uma

variedade de agentes de cura, sendo as poliaminas as mais utilizadas. O uso de

poliaminas como agentes de cura resulta em uma AP com uma grande resistência

química. Outros agentes de cura são as poliamidas e polímeros de polissulfeto. As AP

curadas com poliamidas tem uma melhor flexibilidade, melhor resistência ao calor, e

reduzida tendência para calcinação em exposição ao ar livre, mas a sua resistência a

solventes e produtos químicos é menor do que produtos similares curados com

poliaminas. A utilização de polímeros de polissulfeto produz concretos poliméricos de

base epóxi com uma flexibilidade ainda maior [18].

Segundo Morrison e Boyd (1990) [24], resinas epóxi são formadas tipicamente

pela reação do bisfenol e da epicloridrina. Todos os epóxidos têm a sua estrutura química

caracterizada pelo grupo epóxi onde um átomo de oxigênio é ligado lateralmente aos

carbonos dispostos na cadeia polimérica, conforme observado na figura 2.5:

Figura 2.5 - Estrutura química do grupo epóxido [25]

A resina epóxi pode ser definida pela sua viscosidade e seu equivalente epóxi,

que indica o número de gramas de resina que contém o equivalente a um grama de

grupos epóxi. Assim, resinas com alta proporção de grupo epóxi são mais fluídas do que

aquelas que contêm grupos atômicos pesados. Ou seja, dependendo do tamanho e

complexidade das moléculas, as resinas epóxis podem ser desde um fluído viscoso até

um sólido com elevado ponto de fusão.

De acordo com Tezuka (1979) [26-28], as resinas epóxis fluídas e epóxis

alifáticos são comercialmente pouco utilizadas. Já as resinas epóxis aromáticas sólidas

possuem baixo custo e são amplamente usadas na forma de solução ou pó. Entre esses

extremos há os epóxis aromáticos líquidos que são os mais utilizados em trabalhos de

engenharia. Os epóxis aromáticos líquidos variam desde xaropes de cor clara que podem

ser misturados ou espalhados facilmente, até aos que apresentam grande viscosidade e

que precisam ser diluídos para serem aplicados satisfatoriamente.

De acordo com Silva Filho e Garcez [29], as resinas de base epóxi são muito

utilizadas na formação de compósitos da construção civil, pelas suas consideráveis

resistências mecânicas e elétricas, grande adesividade, elevada rigidez e resistência a

ambientes agressivos, bem como a possibilidade de cura em temperatura ambiente.

Contudo, esta resina apresenta um custo elevado e uma susceptibilidade a altas

temperaturas.

A resina epóxi é classificada como um polímero termofixo e pode ser usado para

aplicação estrutural ou como adesivo. Dentre suas principais características, destacam-

Page 23: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

11

se: alta força de tensão em módulo, boa resistência química, fácil processamento e

resistência térmica. Entretanto, para algumas aplicações, essa resina apresenta uma baixa

resistência à fratura. Após a cura, as resinas epóxis apresentam pequena contração, em

média na ordem de 2%. Tal comportamento indica que esse polímero cura com um baixo

grau de rearranjo molecular. Quanto à estabilidade química, o epóxi é um dos termofixos

mais inertes e possui boa estabilidade dimensional em suas aplicações [30].

Resumindo, Tezuka (1979) [27] e Popovics (1992) [31] fizeram as seguintes

considerações em ralação à resina epóxi:

a) A resina epóxi possui alta resistência química e à corrosão, dureza e

flexibilidade, bom comportamento mecânico e elétrico, e notável adesão à

maioria dos substratos;

b) Na sua utilização, uma ampla variedade de produtos pode ser obtido

variando-se as propriedades na cura, seleção dos monômeros, aditivos e

agentes de cura. As principais aplicações dos epóxis na construção civil

situam-se em duas categorias: revestimentos e estruturais. Em outras

aplicações, apresentam-se incluídos os pisos, os reparos no concreto

deteriorado de autoestradas, os revestimentos para rodovias em geral,

especialmente nas pontes, e uma vasta demanda para aplicações adesivas;

c) Devido as suas excelentes características técnicas (elevadas resistências,

mecânica e química), o campo de aplicação da resina epóxi é muito grande,

sendo utilizado como aglomerante em argamassas e concretos, como cola de

peças pré-moldadas e como camada protetora de superfícies na forma de

tintas.

Page 24: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

12

2.3 Resina poliéster insaturada

De acordo com Gorninski [25] [32-35], a resina poliéster é um dos polímeros

mais utilizados na produção de compostos poliméricos devido ao seu alto desempenho,

possuindo boa resistência mecânica, resistência a meios agressivos, baixa

permeabilidade e de custo inferior ao da resina epóxi, também comumente utilizada em

concretos poliméricos. Segundo MORRISON (1990) [24], várias combinações de

reagentes e processo estão potencialmente disponíveis para sintetizar poliéster.

Poliésteres podem ser produzidos por esterificação direta de um diácido com um diol ou

pela própria condensação de um ácido hidróxi-carboxílico.

Os ácidos carboxílicos reagem com os álcoois formando ésteres. Se o ácido

contiver mais de um grupo carboxílico (- COOH), e o álcool mais de um grupo –OH,

formam-se, como produtos de reação, os poliésteres [24].

Assim, ainda de acordo com MORRISON E BOYD [24], podem-se dividir os

poliésteres em quatro tipos:

a) Poliéster saturado termoplástico: obtido pela policondensação de ácidos

dibásicos saturados a 200°C como o ácido malônico, succínico, adípico, sebácico,

ftálico, com álcoois bivalentes também saturados como Etilenoglicol, Propilenoglicol,

glicol butilênico, entre outros. São polímeros que apresentam cadeias lineares e podem

apresentar-se no estado líquido ou sólido com baixo ponto de fusão, e geralmente são

solúveis em solventes orgânicos.

b) Poliéster saturado termoestável: processado através da condensação de um

diácido saturado, geralmente anidrido ftálico com glicerina, de onde vem o nome de

resina gliceroftálica. Estas resinas, pela sua fragilidade e pouca solubilidade em

solventes orgânicos, têm uma aplicação limitada;

c) Poliéster insaturado curado por condensação: obtido pela policondensação de

um glicol saturado com um diácido não saturado, dissolvido em um monômero do tipo

vinílico;

d) Poliéster insaturado curado por copolimerização: obtido por meio de

polimerização, formando uma estrutura molecular tridimensional;

Segundo Gorninski (2002) [25] , as matérias primas para a fabricação das resinas

poliésteres são:

a) Os ácidos orgânicos insaturados como o ácido maleico ou anidrido maleico

ou o isômero ácido fumárico.

b) Os ácidos orgânicos saturados como o ácido orto ftálico ou o anidrido ftálico,

ácido tereftálico.

c) Os glicóis como o etileno glicol, propileno ou neopentil glicol.

d) Os monômeros bifuncionais como o estireno ou vinil benzeno.

e) Inibidores como terc-butil catecol.

Os ácidos insaturados são utilizados para fornecer as insaturações aos polímeros,

sem as quais não há formação das ligações cruzadas ou formação do retículo

tridimensional, que é o que caracteriza uma resina poliéster insaturada. O ácido

insaturado fornece os pontos reativos para formação das ligações cruzadas. Já o ácido

Page 25: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

13

saturado, além de determinar o grau de espaçamento ou contração das moléculas do

ácido insaturado ao longo da cadeia, determina também o tipo de resina.

Os glicóis apresentam grande importância nas características do produto final.

Dentre as propriedades afetadas pela escolha do glicol tem-se: flexibilidade,

cristalinidade, sensibilidade à água e ao calor, inércia química.

Os monômeros insaturados são utilizados para formar ligações cruzadas com os

pontos de instauração presentes na cadeia molecular do poliéster, formando uma “ponte”

entre os mesmos. Esta copolimerização transforma a massa do poliéster, do estado

líquido em estado sólido, liberando calor, formando um retículo tridimensional insolúvel

e infusível. Esta reação química é iniciada por radicais contidos no iniciador. Estes

iniciadores, porém, exigem uma ativação mediante aplicação de calor, ou por meio de

aceleradores.

Antes da cura, o monômero tem também a função de solvente e veículo para

baixar a viscosidade da resina. O estireno é o mais popular dos monômeros utilizados

por razões técnicas e econômicas. Através da ruptura da dupla ligação presente no grupo

vinílico é que o estireno forma ponte de interligação entre as moléculas adjacentes do

poliéster (Figura 2.6).

Figura 2.6 - Esquema ilustrando da cura da resina poliéster insaturada [23]

Os inibidores são substâncias que reagem com os radicais livres, neutralizando-os

e impedindo a gelatinização prematura da resina. Em seguida, o inibidor é acrescentado

ao estireno.

A cura do poliéster se inicia com a presença de radicais livres. A absorção desses

radicais livres cosiste no mecanismo de proteção de inibidores. Assim, a propagação da

reação químia de cura é impedida devido a todo radical livre ser neutralizado pelo

inibidor. Ao adicionar iniciadores na resina, este irá consumir o inibidor, permitindo que

a reação de cura se processe normalmente.

Em concreto polimérico, normalmente, utiliza-se resina do tipo poliéster

insaturada dissolvida em estireno. Contudo, de acordo com REBEIZ e FOWLER [51], o

alto custo das resinas poliésteres insaturadas estão cada vez mais direcionando os

pesquisadores no sentido de buscar alternativas de produção de um aglomerante

polimérico com um custo mais baixo. Justificando, desta forma, essa dissertação que visa

o desenvolvimento de um concreto de matriz polimérica a base de resina poliuretana

provinda da semente da mamona.

Portanto, ambas as resinas poliéster e epóxi têm diferentes aplicações e

características (Tabela 2.1). Cabe ao engenheiro realizar a seleção correta dos materiais

variando de acordo com a necessidade do projeto, evitando assim falhas estruturais ou

Page 26: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

14

simplesmente evitando possíveis superdimensionamentos com consequente desperdício

de recursos materiais e financeiros.

Tabela 2.1 - Propriedades gerais e aplicações de uma argamassa polimérica,

produzida com aglomerantes do tipo poliéster insaturado ou epóxi [18]

Aglomerante Características gerais Aplicações comuns

Epóxi

Alta resistência química, ótima

aderência a outros materiais, baixo

índice de retração, baixa absorção de

água e alta resistência mecânica.

Utilizado em situações

especiais, como pisos para

indústria e rodovias, para

restauração de estruturas

deterioradas e como

recobrimento para paredes.

Poliéster

Boa aderência a outros materiais, alta

resistência química, alto índice de

retração, baixo custo e elevada

resistência a meios agressivos.

Vastamente utilizado em

painéis, pisos e em pré-

moldados e moldados no

canteiro de obras para diversos

fins na construção civil. Além

disso, tem sido empregado em

cascos de barcos silos e

tubulações industriais.

Page 27: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

15

2.4 Resina poliuretana

Desenvolvidos por Otto Bayer em 1937, os poliuretanos iniciaram a sua

comercialização ainda na década de 30, com a fabricação de espumas rígidas, adesivos e

tintas. Durante a década de 40, os elastômeros de poliuretano foram originados na

Alemanha e na Inglaterra . Contudo, foi apenas na década de 50 que o poliuretano

registrou um grande desenvolvimento industrial, devido ao seu uso na confecção de

espumas flexíveis. Atualmente, a sua maior aplicação é na moldagem por injeção e

reação, RIM, que deu ímpeto aos estudos relacionando estrutura molecular e

propriedades dos poliuretanos [36].

Poliuretano é uma classe de polímeros que contém ligação uretana, mesmo que

existam outras ligações presentes. Contudo, diferentemente de outros polímeros de

unidades monoméricas, os poliuretanos não contêm unidades uretanas repetidas de modo

regular e não possuem uma fórmula empírica que seja representativa de um todo. Um

típico poliuretano, além dos grupos de uretano, pode conter hidrocarbonetos alifáticos e

aromáticos, grupos éster, éter, ureia, amida, dentre outros. Além disso, duas estruturas

básicas podem ser diferenciadas no poliuretano: segmentos poliéster ou poliésteres

longos e moderadamente flexíveis e segmentos curtos e relativamente rígidos,

compreendendo assim os grupos uretanos e aromáticos. A razão entre estes dois

segmentos pode ser variada dentro de amplos limites, alterando significativamente as

propriedades dos poliuretanos obtidos [37].

As resinas de poliuretano têm grande versatilidade, podendo ser utilizadas em

diferentes seguimentos da indústria, se apresentando como um elastômero de alta

flexibilidade ou de maior dureza, ou como um plástico de engenharia [38].

Os poliuretanos são consumidos principalmente sob a forma de espumas flexíveis

ou rígidas e elastômeros. Suas aplicações são variadas e incluem volantes, painéis,

assentos e pára-choques na indústria automotiva, colchões e assentos na indústria de

móveis, sola de sapatos, esquis e pranchas de surf, na indústria de esporte e lazer,

adesivos, refrigeradores, aquecedores, dentre outros [39].

As resinas poliuretano podem ser derivadas tanto do petróleo como de fontes

naturais, neste caso tem-se os chamados “biomonômeros” que podem ser obtidos de

fontes renováveis, como os óleos vegetais. Tais óleos podem derivar de diversos tipos de

plantas e sementes, como soja, milho, girassol, canola, amendoim, oliva, e no caso

específico deste trabalho, a mamona. A tendência mundial pela procura de materiais

biodegradáveis, não poluentes e , principalmente, materiais renováveis, fez com que

pesquisas com poliuretanos derivados do óleo de mamona aumentassem

consideravelmente, abrindo novas perspectivas para o seu desenvolvimento. Além disso,

a versatilidade de se obter materiais com propriedades diferentes fez com que esses se

tornassem um dos principais polímeros deste século [37].

Page 28: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

16

2.4.1 Reação de polimerização dos poliuretanos

O produto da reação química entre um grupo hidroxila e um grupo isocianato é

chamado de uretano. A polimerização dos poliuretanos ocorre a partir de um composto

com dois ou mais isocianatos em uma estrutura com poliol, isto é, um álcool

polifuncional (Figura 2.7) .

Figura 2.7 - – Polimerização dos poliuretanos [40]

Quando se usam reagentes difuncionais, são produzidos poliuretanos lineares. Se

a funcionalidade (número de hidroxilas por moléculas disponíveis para reagir com

grupos isoctanos) desse composto dihidroxilado ou isocianato for aumentada para três ou

mais, são formados polímeros ramificados ou entrecruzados. Essa reação é exotérmica e

sua velocidade depende tanto da estrutura do isocianato como do poliol. A reatividade do

isocianato é dependente da influência dos grupos vizinhos e da configuração da molécula

[37].

Devido à alta reatividade dos compostos contendo grupos isocianatos, geralmente

é feita uma pré-polimerização que consiste da reação de um di ou poliisocianato com um

poliol, nas proporções previamente determinadas para a obtenção do teor de isocianato

livre desejado. A reação de polimerização ocorre pela mistura de pré-polímero com o

poliol final, gerando um poliuretano de alta massa molecular [37].

2.4.2 Poliol, pré-polímero e óleo de mamona

a) Poliol

Os compostos hidroxilados (polióis) e os isocianatos são componentes

importantes na síntese dos poliuretanos. Podem ser utilizados uma grande variedade de

poliol para a sua fabricação, desde polióis sintéticos preparados especialmente para

produção de polímeros com características distintas, até compostos naturais,como o óleo

de mamona, contendo três grupos de hidroxilas que produzem polímeros entrecruzados.

Page 29: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

17

A maioria dos polióis é encontrada na forma de poliéteres ou poliésteres. Os

principais fatores na determinação das propriedades dos polímeros são a massa

molecular , funcionalidade e a estrutura do poliol. Um poliéster produz poliuretanos com

resistência à corrosão e propriedades térmicas diferentes das produzidas com poliéter. Os

poliuretanos derivados de poliéster são mais estáveis e menos oxidáveis.

De acordo com Pleplis (1991) [41], os polióis são desenvolvidos com estrutura

molecular e funcionalidade necessária para reagir com um pré-polímero ou um di-

isocianato comercial podendo gerar poliuretanos com propriedades específicas. A

escolha do poliol, especialmente pelo tamanho e flexibilidade de sua estrutura molecular

e sua funcionalidade controla, em grande parte, o grau de entrecruzamento obtido no

polímero formado na reação do poliol com o isocianto.

b) Pré-polímero

Os compostos contendo grupos isocianatos possuem uma alta reatividade sendo

assim, normalmente é feita uma pré-polimerização com o poliol aumentando a sua massa

molecular e deixando uma porcentagem de isocianato livre para reagir com o poliol

final.Tais compostos são encontrados em duas classes distintas: aromáticos, onde os

mais utilizados são o difenilmetano di-isocianato (MDI), e o tolueno di-isocianato (TDI);

alifáticos, sendo mais utilizado o di-isocianato de hexametileno (HDI) e o isofurona di-

isocianato (IPDI) [37].

c) Óleo de mamona

O óleo de mamona é obtido da semente da planta Ricinus Communis, uma planta

encontrada tipicamente em regiões tropicais e subtropicais, sendo muito abundante no

Brasil. O teor de óleo das sementes de mamona pode variar de 35 a 55%, mas a maior

parte das plantas cultivadas comercialmente no Brasil possui teor de óleo variando entre

45% e 50%. O óleo de mamona é uma das poucas fontes naturais de produção de resina

que se assemelha a um composto puro. Aproximadamente 90% do ácido graxo presente

na composição dos triglicerídeos do óleo de mamona é o ácido ricinoleico (Tabela 2.2),

muito utilizado como princípio ativo do laxante, sendo os restantes 10% constituídos de

ácido graxos não hidroxilados como os ácidos oleicos e linoleicos. O ácido ricinoleico

tem ligação insaturada e pertence ao grupo dos hidroxiácidos e se caracteriza por sua alta

massa molecular (298) e baixo ponto de fusão (5º C). O que difere o ácido ricinoleico da

grande maioria dos ácidos graxos presentes na natureza é a presença em sua estrutura

molecular do grupo hidroxila no carbono 12. Esta particularidade é o que faz da

triglicéride do ácido ricionoleico um poliol natural trifuncional.O grupo hidroxila

presente na ricinoleína confere, ao óleo de mamona, a propriedade exclusiva de

solubilidade em álcool [42] [43].

Page 30: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

18

Tabela 2.2 - Composição média do óleo de mamona [41]

Componente Percentagem

Ácido ricinoleico 89,5

Ácido palmítico 1,0

Ácido linoleico 4,2

Ácido linolênico 0,3

Ácido dehidroxiesteárico 0,7

Ácido estereático 1,0

Ácido oleico 3,0

Ácido eicosanóico 0,3

A presença do ácido ricinoleico confere ao óleo de mamona propriedades únicas

e uma versatilidade incomum, que surge graças aos grupos OH e à ligação dupla, que são

sítios distintos de reação para preparação de vários derivados industriais. As reações

podem ser efetuadas isoladamente ou em combinação, resultando em muitas

possibilidades de obtenção de derivados. Devido à presença de grupos hidroxila na

porção ricinoleica, o óleo exibe características de solubilidade diferentes de outros óleos

vegetais. Ele é solúvel apenas em quantidades limitadas de éter e outros solventes

similares, contudo forma sistemas de duas fases com grandes teores destes solventes. É

muito mais solúvel em álcool e tem maior viscosidade que outros óleos vegetais.

Segundo Vilar (1993) [36], a funcionalidade do óleo de mamona é cerca de 2,7 e

o seu valor de hidroxilas é de 163 mgKOH/g (miligramas de hidróxido de potássio por

grama). Portanto, Vilar (1993) [36] acrescenta que este produto tem grande pureza e é

indicado para a produção de poliuretanos naturais.

2.4.3 Processo de produção do poliuretano de óleo de mamona

De acordo com a Plural Química, indústria que manufaturou a resina de

poliuretano obtida através do óleo de mamona utilizado nesta pesquisa, o processo de

desenvolvimento dessa resina segue um padrão de preparação de polióis para

poliuretanas obtidas de fontes naturais e renováveis, principalmente óleos vegetais e seus

derivados como polissacarídeos e derivados de biomassa.

Tal processo de síntese, comporta aos seguintes óleos vegetais, que podem ser

utilizados em sua forma “in natura” ou na forma de derivados: óleo proveniente de soja,

milho, palma, coco, amendoim, mamona, linhaça, girassol, babaçu, palmiste, canola,

oliva, carnaúba, tungue, jojoba, semente de uva, andiroba, amêndoa, amêndoa doce,

algodão, nozes, gérmen de trigo, arroz, macadâmia, gergelim, avelã, cacau, castanha de

caju, cupuaçu, e óleo de mamona. Nesse procedimento, derivados de óleos vegetais,

principalmente os glicerídeos podem ser parcialmente polimerizados.

Page 31: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

19

Após essa etapa, os produtos obtidos são utilizados na obtenção de poliuretanas,

fazendo-os reagir com poli-isocianatos, podendo ainda sofrer posterior polimerizações

parciais com anidridos maleico ou ftálico. O sistema de produção compreende a

utilização de outros componentes hidroxilados e suas misturas, tais como glicerol,

etileno glicol, 1,2 propanodiol, 1,3 propanodiol, 1,2 butanodiol, dentre outros.

O processo de obtenção de poliuretana obtida com os precursores e polióis

descritos, compreenden a reação destes com poli-isocianatos e suas misturas. Também

são adicionados e utilizados catalisadores, surfactantes, corantes, cargas, retardadores de

chama, antioxidantes, protetores de radiação. Podem ser utilizados pigmentos como

óxidos metálicos e fuligem, individualmente ou em misturas. Corantes também são

utilizados, tais como azo-compostos, ftalocianinas, dioxazinas, corantes pigmentos

naturais, tais como óxido de ferro. São utilizados, dependendo da aplicação, agentes

expansores, tais como difluorclorometano, difluoretano e tetrafluoretana.

O processo de produção da poliuretana necessita da reação do poliól, com poli-

isocianatos adequados. Para aplicações especiais, utilizam-se retardantes de chamas

como, notadamente, hidróxido de alumínio e compostos de halogênio e fósforo e

melanina. São exemplos cloro-alquil-fosfatos, fosfitos poliméricos, polifosfatos de

amônia, dietil-bis-hidroxietil-aminoetil-fosfato e dibromopropanol.

Por fim, para a obtenção da poliuretana, o poliól, o poli-isocianato e todos os

componentes e aditivos precisam ser dosados e misturados com eficiência. São utilizados

então equipamentos específicos para essa finalidade, denominados “injetores de

poliuretana”, com modalidades de injeção em alta ou baixa pressão, controles de pressão,

fluxo, tempo de mistura e injeção e controle de temperatura. Trata-se de um equipamento

composto basicamente com dois tanques com controle de temperatura e agitação. Tais

tanques possuem conexões através de bombas e mangueiras até um misturador, que pode

ser estático ou rotativo, no qual os precursores são dosados e misturados. Como

exemplo, um desenho esquemático de uma injetora de poliuretana foi fornecido pelo

fabricante, e é mostrada na figura 2.8 abaixo:

Figura 2.8 – Desenho esquemático da injetora de poliuretano

Page 32: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

20

2.5 Compósitos

Materiais compósitos são definidos como materiais formados de dois ou mais

constituintes com distintas composições, propriedades e estruturas estando separados por

uma interface. Possui como principal vantagem em relação aos demais materiais a

possibilidade de poder combinar diferentes tipos de materiais para produzir um único

dispositivo com propriedades superiores às dos componentes unitários. Assim,

compósitos podem ter várias aplicabilidades, podendo ser utilizados em sistemas ópticos,

estruturais, eletrônicos e químicos. Por isso, tais materiais já estão presentes em muitos

setores industriais [44].

Materiais compósitos são utilizados pelo homem há muito tempo, além disso

diversos compósitos são achados na natureza. Como principal exemplo pode-se citar a

madeira, que é um material compósito que consiste de fibras de celulose com reforço de

lignina como matriz. As fibras de celulose possuem alta resistência à tração, porém são

flexíveis, ao passo que a matriz de lignina, mais rígida, tem a função de manter a união

das fibras de celulose, consequentemente fornecendo rigidez às mesmas.

É possível obter com os materiais compósitos produtos com diferentes

propriedades, dentre elas: ductilidade, leveza, resistência térmica, dureza e resistência ao

impacto. Desta forma, o emprego deste tipo de material é muito amplo. Pode-se destacar

o uso de compóstiso na indústria aeronáutica, aeroespacial, marítima, automotiva,

equipamentos esportivos, infraestrutura, construção civil, dentre outras.

2.5.1 Vantagem dos materiais compósitos

Materiais compósitos são normalmente projetados para possuírem alto desempenho

com um peso leve. Além disso, os compósitos possuem outras vantagens sobre os

demais materiais de engenharia, dentre os quais detacam-se [44]:

Materiais compósitos podem ser utilizados para reparos de várias estruturas

metálicas. Há vários componentes metálicos que podem ser repostos por um

único componente de material compósito. Esta característica é usada para

controlar o estado de fadiga em estruturas.

Materiais compósitos têm uma relação específica de rigidez/densidade alta.

Dependendo do compósito, ele pode oferecer a mesma rigidez do aço com

apenas um quinto do seu peso, e pode ter a mesma rigidez do alumínio com

metade de seu peso.

Em virtude dessa alta relação específica de rigidez/densidade, os compósitos são

muito aplicados em aviões e automóveis, fazendo-os se moverem mais

rapidamente e com melhor eficiência de combustível. A força específica é

tipicamente 3 a 5 vezes maiores que do aço e ligas de alumínio.

O limite de resistência à fadiga é muito mais alto para materiais compósitos.

Page 33: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

21

Materiais compósitos oferecem alta resistência à corrosão, e normalmente alta

resistência química.

Materiais compóstios oferecem maior flexibilidade na elaboração de um projeto,

pela opção de poder escolher materiais com diferentes propriedades.

Partes complexas com contornos especiais podem ser fabricadas usando

materiais compostos sem a necessidade de soldar pedaços separados,

aumentando a segurança do projeto e reduzindo tempo e custo de produção.

2.5.2 Tipos de materiais compósitos

Há vários tipos de compósitos que são utilizados na engenharia. Dentre eles,

detacam-se [44] :

Compósitos polímeros-metais: São compósitos de polímero-ferrita com

resistividade elétrica controlada para utilização na indústria eletro-eletrônica.

Estes materiais apresentam grande aplicabilidade, dentre elas destacam-se

memórias de computadores e fluídos magnéticos.

Compósito de Matriz Polimérica: Tipo mais comum e com maior

aplicabilidade em sistemas onde a temperatura não exceda de 100ºC a 200ºC.

Como exemplo, podem-se citar fibras curtas de vidro enterradas numa matriz

poliéster plásticas que são usadas em eletrodomésticos, barcos e na estrutura de

alguns automóveis, devido a seu peso leve, fácil fabricação em formas

complexas, resistência à corrosão e custo moderado.

Compósitos cerâmicos: Vem sendo desenvolvidos ao longo dos anos visando à

obtenção de materiais refratários com características elétricas adequadas ao uso,

tais como cadinhos em fornos de indução eletromagnética. As matrizes

cerâmicas podem receber reforços fibrosos objetivando o aumento da

tenacidade. Inclusões metálicas também podem ser adicionadas as matrizes

cerâmicas com o objetivo de se obter um material refratário susceptível ao

campo eletromagnético gerado em um forno de indução, permitindo o

autoaquecimento deste material a partir da temperatura ambiente, elimando as

desvantagens do uso de cadinhos de grafite na fusão de ligas reativas

susceptíveis à dissolução de carbono.

Vidros fosfatados: vidros fosfatados com a adição de chumbo e ferro estão em

desenvolvimento a partir da elaboração de fitas, fundidos e sintetizados, visando

sua utilização na imobilização de rejeitos radioativos de alta atividade, proteção

de substratos metálicos, confecção de juntas cerâmica-metal em metais com

baixo ponto de fusão e altos coeficientes de expanção térmica. Variações destes

vidros apresentam também potencialidade em aplicações ópticas como matrizes

de lasers e fibras ópticas .

Compósitos fibrosos: As fibras situam-se em lâminas sobrepostas ou camadas

na direção da espessura que obtêm as estruturas laminadas. As lâminas nunca se

sobrepõem com a mesma orientação. A sequencia de aplicação e a orientação

das fibras tem mais importância nas propriedades finais dos compósitos do que

as próprias características físicas das fibras e da matriz, e são estes que darão as

Page 34: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

22

propriedades finais ao laminete. Contudo, no caso específico desse trabalho,

utilizaram-se fibras dispersas na argamassa polimérica ou seja, as fibras ficaram

espalhadas de maneira aleatória na matriz não possuindo uma orientação

definida. Tais compósitos tem grande aplicação industrial, destacando-se o uso

de fibras de carbono, que são filamentos feitos de carbono elementar com

estruturas que variam do carbono amorfo e da grafita cristalina, e fibras de

poliéster que são sistemas com custo reduzido e que oferecem excelente

resistência à corrosão.

Page 35: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

23

2.6 Argamassas e concretos poliméricos

Concretos poliméricos (CP) são materiais compósitos produzidos por substituição

de parte ou todo aglomerante, que é normalmente o cimento Portland, do concreto

convencional, ou pela adição de um polímero à matriz hidratada do concreto. A

argamassa polimérica difere-se do CP pelo tipo da areia, onde o tamanho dos grãos de

areia utilizados na argamassa são muito menores do que o tamanho dos grãos utilizados

no concreto. Além disso, o concreto leva em sua composição brita, ao passo que a

argamassa não. Segundo PRUSINSKI (1978) [45], “ o verdadeiro concreto polimérico é

um produto híbrido, uma combinação sofisticada de uma tecnologia ancestral da

produção do concreto de cimento hidratado com a moderna química de polímeros. A

areia de sílica (SiO2), utilizada como agregado, é aglomerada com um monômero (resina

polimérica), que é polimerizada (endurecida), formando um material resistente.”

Em geral, conforme Ohama (1997) [46], os compostos de concreto polimérico

estão classificados pelos princípios de seus processos tecnológicos, em três categorias:

- Argamassa modificada por polímero (AMP), e concreto modificado por polímero

(CMP), também conhecido como concreto de cimento e polímero (substituição de parte

do aglomerante cimento por polímeros);

- argamassa de polímero (AP) e concreto polimérico (CP), nestes ocorre a substituição

de todo aglomerante de cimento por polímeros;

-Argamassa impregnada por polímero (AIP) e concreto impregnado por polímero (CIP),

nesta categoria o concreto de cimento Portland hidratado recebe a difusão de monômeros

em seus poros.

A figura 2.9 apresenta a classificação de compostos de concreto polimérico, e a

tabela 2.3 apresenta as propriedades típicas do CIP, CMP e CP :

Tabela 2.3 - Propriedades mecânicas de diferentes argamassas e concretos

Poliméricos [5]

Compósito Absorção de

água (%)

Resistência à

compressão

(MPa)

Módulo de

Elasticidade

(GPa)

Resistência à

Flexão (MPa)

CIP 0,60 140 42 10,5

CMP - 38 14 5,6

CP 0,4 120 12 22

Page 36: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

24

Figura 2.9 – Classificação de compostos de concreto polimérico [25]

Page 37: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

25

Segundo STEINBERG (1968) [47], as pesquisas relacionadas a estes materiais se

desenvolveram, inicialmente, nos Estados Unidos, mas especificamente, por

pesquisadores da NASA, seguidos pelos japoneses que , além de pesquisas, atribuíram

aplicações imediatas aos novos materiais. De acordo com Fowler [9], concretos

modificados por polímeros e concretos poliméricos começaram a ser pesquisados em

meados do século XX depois do ano de 1950 entretanto, seu uso era muito limitado.

Contudo foi apenas depois dos anos 70, quando o concreto impregnado por polímero foi

desenvolvido, que os estudos relativos a concretos poliméricos receberam uma grande

alavancada. Em 1975, criou-se no Instituto Americano de Concreto (Comitê 548) ,

chamado de Polímeros em Concreto. Além disso, o primeiro Congresso Internacional

sobre Polímeros em Concreto (ICPIC) foi realizado em Londres. Mais tarde, comitês no

RILEM (União internacional dos laboratórios e especialistas em materiais de construção,

sistemas e estruturas) foram formados especificamente para realizar estudos sobre

concretos de compósitos poliméricos. Ao longo dos anos, simpósios regulares do

Instituto Americano de Concreto (ACI) e conferências do ICPIC tem ajudado a aplicar e

expandir o mercado de concretos poliméricos ao redor do Globo.

As principais aplicações dos concretos poliméricos são na reparação e construção

de argamassas para rodovias, estruturas como pontes, encanamentos e similares, e como

elementos decorativos. Uma atenção especial é dada para suporte de máquinas em

sistemas de linha de produção. Algumas aplicações e vantagens dos concretos

poliméricos são mostradas na tabela 2.4 .

Existem muitas vantagens das quais concretos e argamassas poliméricas podem

oferecer para a qualidade final dos produtos, dentre elas destacan-se:

- grande estabilidade dimensional

- cura rápida

- alta resistência estática e dinâmica

- baixo coeficiente de expanção

- boas propriedades mecânicas

- excelente durabilidade

- resitência à corrosão

Page 38: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

26

Tabela 2.4 - Aplicações do concreto e argamassas poliméricas e suas vantagens [18]

Aplicações Vantagens

Recobrimentos Cura rápida e fácil aplicação

Pontes, decks e pisos Resistência à corrosão

Reparos Cura rápida, boa aderência à maioria das

superfícies

Pisos de concreto e reparos estruturais Impermeável à água e sais de degelo

produtos pré-fabricados Curto tempo de cura, alta relação

resistência-massa

Aplicação em máquinas ferramentas Fundição no local, baixo custo,

estabilidade dinâmica e térmica

Aplicações especiais Alta resistência, baixa emissão de resina de

estireno

Rejuntamento, encapsulamento de resíduos Resinas de baixa contração

Concretos e argamassas poliméricas são formados essencialmente por uma

mistura de duas fases, uma contínua (resina) e outra dispersa (areia com diferentes

tamanhos de grão). A mudança da cementação para aglomerantes influencia diretamente

no comportamento mecânico do concreto quando comparado ao cimento comum [29].

Os aglomerantes poliméricos apropriados para uso em concretos e argamassas

poliméricas são escolhidos a partir do uso que será dado a estes materiais. Em geral, as

resinas utilizadas para compósitos poliméricos são: poliéster, epóxi, fenólica, polimetil-

metacrilato, resina de uréia-formaldeído, entre outras. Porém, por ter a possibilidade de

ser produzida através de meios renováveis, a resina estudada neste trabalho será a

poliuretana natural feita a partir do óleo de mamona, que terá suas propriedades

mecânicas comparadas com argamassas de epóxi e poliéster.

2.6.1 Constituintes das argamassas poliméricas

a) Agregados

Os agregados tem grande importância na manufatura das argamassas poliméricas.

Eles determinam a retração final do produto e as suas propriedades mecânicas. A

seleção adequada dos agregados irá influênciar na operacionalidade, resistência e

durabilidade do material. Uma pequena mudança no teor pode causar grandes mudanças

nas propriedades finais.

A princípio, qualquer tipo de agregado já utilizado para argamassas de concreto

pode também ser utilizado para a manufatura de argamasas poliméricas. A principal

diferença é a limpeza e secagem dos agregantes, como procedimento essencial na

fabricação de argamassas poliméricas.

Page 39: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

27

Agregados influenciam na estabilidade dimensional, módulo de elasticidade,

durabilidade, operacionalidade e no custo final das argamassas poliméricas. Quanto ao

tamanho dos grãos, os agregados podem ser classificados em dois grupos [18]:

Agregados finos (areia) – tamanho de grão de 75 µm até 4,5 mm.

Agregados grossos – tamanho de grão de 4,5 mm a 50 mm.

Agregados podem ser obtidos por meio de dois tipos de processos:

Processo natural – jateamento e abrasão.

Processo artificial – trituramento

Desses processos, o agregado ainda pode ser classificado em mais três tipos

diferentes:

Brita ou agregado mineral manufaturado

Camadas de rochas extraídas através de trituração para reduzir até o

tamanho desejado e dividir-los em grupos de acordo com o tamanho.

Calcário e dolomita (-70%, duro para dúctil)

Granito (-15%, duro)

Arenito (-2%, dúctil)

Massa normal

Cascalho, areia, brita comum – Densidade variando de 1520 a 1680

Kg/m3, o mais comumente usado.

Massa leve

Manufaturado ou natural – Densidade menor do que 1120 kg/m3 ,

muitos devem ser rastreados para obter a distribuição de tamanho

desejado e alguns podem ser triturados.

As rochas ainda podem ser classificadas de acordo com a sua origem em três

grandes grupos:

Agregados naturais minerais – cascalho, areia e brita derivados de fontes

naturais.

Rocha ígnea – Formada no resfriamento do magma (rocha derretida);

granito, basalto – Possui elevada dureza e alta resistência, atuando

como um excelente agregado.

Rocha sedimentar - Rochas estratificadas. Ex: Calcário, arenito.

Rochas metamórficas – Rochas ígneas ou sedimentares que foram

alteradas de sua textura original, estrutura cristalina, ou composição

mineralógica devido à condição física e química abaixo da superfície

da terra. Ex: Mármore, xisto, ardósia.

Agregados sintéticos

Page 40: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

28

Materiais processados termicamente, como argilas e xistos

expandidos.

Agregados feitos de subprodutos industriais, ou seja, escória de alto-

forno e cinzas volantes.

Agregados reciclados

Feitos a partir de resíduos urbanos e de concreto reciclado de

construções demolidas e calçadas. Contudo apresentam alguns

problemas, como o custo de britagem, classificação, controle de

poeira, e separação de componentes indesejáveis.

Outra descrição de agregados é dada na norma ASTM C294 que os classificam

como se segue abaixo [18]:

Minerais de sílica: Quartzo, opala, calcedônia, tridimita e cristobalita.

Feldspatos

Minerais micáceos

Minerais de carbonite

Sulfuretos

Minerais ferromagnesianos

Zeólito

Óxidos de ferro

Minerais de argila

Estas classificações mineralógicas ajudam no reconhecimento das propriedades

dos agregados. As propriedades dos agregados dependem das propriedades da rocha

base, como composições químicas e mineralógicas, características petrológicas, massa

específica, dentre outras. Porém há algumas propriedades da rocha mãe que não

influenciam nas propriedades dos agregados, como no caso do tamanho e forma das

partículas, textura e absorção superfícial.

Os agregados também influenciam em todas as propriedades mecânicas do

concreto polimérico, particularmente na resistência através da composição

granulométrica e a resistência da ligação entre agregado e ligante.

A resistência da ligação entre agregado e ligante é um importante fator nas

argamassas poliméricas. Propriedades como resistência à flexão e compressão,

permeabilidade, resistência ao congelamento e descongelamento e fluência serão

afetados pela resistência da ligação entre o agregado e ligante.

Quanto menos rugoso a área do agregado, maior é a área em contato com o

ligante, assim mais resistente a argamassa polimérica será. Desde modo, a superfície do

agregado deve ser limpa e livre de partículas aderentes. Os agregados devem ser secos

antes de serem misturados na resina. Este é um aspecto muito importante de fabricação

devido à inibição do potencial da resina na presença de humidade.

Page 41: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

29

b) Aglomerante

Argamassa polimérica é um compósito que possui um material de enchimento

mineral, como agregado de pedra, brita e cascalho descritos na seção anterior;

juntamente com um aglomerante polimérico que pode ser uma resina termoplástica, mas

na maioria das vezes é termofixa. Termoplásticos e termofixos são as principais classes

de plásticos, que podem ser encontradas facilmente no mercado com uma grande

variedade de propriedades variando conforme o uso.

2.6.2 Tipos de concretos poliméricos

No geral, conforme visto anteriormente, existem diversos tipos de concretos e

argamassas poliméricas. As definições para concretos poliméricos são mostradas nas

próximas seções. Considera-se nesta seção que argamassas e concretos poliméricos

podem ser subdivididos nos mesmos grupos, possuindo portanto a mesma definição.

Contudo, salienta-se novamente que se diferem pelo tamanho do grão do agregado, onde

a argamassa utiliza sempre agregado fino, ao passo que concreto utiliza agregados de

diversos tamanhos de grão. Além disso, o concreto leva em sua composição brita, ao

passo que a argamassa não.

a) Concreto modificado por polímero

Para STEINBERG (1973) [47] e TEZUKA (1988) [26], o concreto modificado

por polímero é uma pré-mistura da pasta de cimento e agregados na qual um monômero

é adicionado antes do assentamento e da cura. Em outras palavras, o concreto

modificado por polímero (CMP) é um material onde o aglomerante é formado por dois

componentes ativos, sendo um o cimento Portland e o outro uma dispersão polimérica

em água. A quantidade de polímero usualmente utilizada é de 10-20% do aglomerante de

cimento Portland em massa. Ainda segundo os autores, as propriedades dependem

grandemente da compatibilidade entre estes dois componentes.

De acordo com Fowler [9], concretos modificados por polímeros usando látex

tem sido usado desde os anos de 1950, contudo começaram a ser largamente aplicados

na insdústria da construção civil somente a partir de 1980. Atualmente, são utilizados em

países desenvolvidos como o Japão e os EUA como materiais de construção populares.

O processo de produção do CMP consiste na adição de um polímero (dispersão

polimérica em água) à mistura do concreto no seu estado fresco, o qual fica formado por

dois aglomerantes ativos. Desta forma, durante a hidratação e cura do cimento, ocorre

formação do filme polimérico. A utilização de monômeros como o polimetilmetacrilato

permite ainda que o compósito fique colorido, o que o torna atrativo para acabamentos e

composições arquitetônicas [5].

Alguns trabalhos acadêmicos têm encontrado condições de aumento na

resistência à compressão em 50% sobre o concreto convencional com concentração de

polímeros relativamente alta, em torno de 30%. Sistemas poliéster-estireno, epóxi-

estireno, monômeros furânicos e o cloreto de vinilideno têm sido empregados em pisos

de pontes, contudo atingem um limitado sucesso. Isso ocorre devido aos materiais

orgânicos que são incompatíveis com sistemas aquosos e na maioria dos casos,

interagem com o processo de hidratação do cimento alcalino. O incentivo para a

produção desses materiais está vinculado ao fato de que estes podem ser moldados no

próprio local das aplicações em campo, ao passo que o concreto impregnado por

Page 42: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

30

polímero requer uma estrutura pré-moldada. Portanto, do ponto de vista construtivo,

CMP tem a vantagem de ser muito similar à tecnologia do concreto Portland comum,

além disso utiliza menor teor de resina comparada ao concreto polimérico. Por isso, de

acordo com FOWER [9], a argamassa de cimento e polímero talvez venha a ser o

material mais promissor da área de concreto polimérico.

b) Concreto impregnado por polímero

De acordo com Tezuka (1988) [26], o concreto impregnado por polímero é um

pré-moldado de concreto de cimento hidratado e curado, o qual foi impregnado com um

monômero de baixa viscosidade que polimeriza por radiação ou catálise térmica.

Segundo Fower, o CIP foi o primeiro concreto polimérico a ser amplamente conhecido

no mundo acadêmico, devido as pesquisas no Laboratório Nacional de Brookhaven e no

Bureau of Reclamation , ambas nos USA, realizadas nos anos de 1960, embora alguns

pesquisadores da antiga URSS afirmassem que o inventaram anteriormente.

O CIP pode apresentar resistência à compressão de 3 a 4 vezes maior do que o

concreto convencional, e possui uma excelente resistência à flexão, boa durabilidade e

resistência frente a meios ácidos em virtude da sua baixa permeabilidade [19] . Tesuka

(1988) [26] afirma que a absorção da água é reduzida em até 99% em relação ao

concreto comum. Por se tratar de um compósito de alta resistência mecânica e com

grande resistência a meios agressivos e abrasivos, este material pode ser aplicado em

dormentes para estradas de ferro, tubulações de esgoto, pavimentação de pontes e

fábricas, flutuadores, piscinas, tanques de armazenagem para água do mar, dentre outros.

O processo produtivo do CIP consiste basicamente na secagem e cura do

concreto de cimento Portland no seu método convencional, em seguida a remoção à

vácuo do ar nos poros da superfície do produto para posterior injeção de monômeros de

baixa viscosidade. Tais serão polimerizados por meio de radiação, calor ou iniciação

química, resultando na formação de uma segunda matriz, se os poros forem

interconectados através do material [35]. O processo de impregnação do concreto pode

ser completo ou parcial. Segundo Gorninski [25], a impregnação completa consiste em

quatro etapas: secagem, remoção de ar aprisionado no concreto, saturação com o

monômero e impermeabilização final do compósito.

A secagem do concreto, neste caso, determina a quantidade de água livre que

ocupa os vazios incorporados, os quais serão preenchidos pelos monômeros. Assim, a

secagem deve ser realizada através da indução com calor ou por vácuo afim de que a

água seja removida. Além disso, também é importante a remoção do ar incorporado, pois

isso pode ampliar a eficiência da penetração do monômero. Isso é explicado pelo o fato

de que este ar pode reduzir a sua velocidade de penetração, prejudicando a saturação de

concreto convencional, a qual consiste em envolver a peça totalmente pelo monômero

utilizado [49].

Após o processo de impregnação do concreto, as peças são impermeabilizadas ao

serem envolvidas por folhas de alumínio ou ao receber um filme de polietileno. Isso é

feito com a finalidade de reduzir a evaporação do monômero durante o seu processo de

polimerização. Esta evaporação ocorre quando os monômeros utilizados na impregnação

possuem alta pressão de vapor.

O processo de impregnação parcial é normalmente utilizado em situações onde a

durabilidade do composto é prioritária para o produto final, e não a resistência mecânica.

Page 43: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

31

Com esta técnica de impregnação, obtem-se um produto impermeável à água e muito

resistente a meios ácidos e à abrasão [35]. Neste caso, para garantir a proteção desejada

com menor quantidade de impregnação de monômeros, a sua viscosidade e pressão de

vapor são determinantes na escolha do monômero.

O poliéster e o epóxi apresentam baixa velocidade de difusão, tornando o

processo de penetração mais controlável. Isso porque a profundidade desta penetração é

determinada pela viscosidade deste monômero e da superfície da peça onde será

aplicado.

Apesar do CIP ser de 60 a 80% mais caro do que o concreto convencional, ele

aumenta a qualidade do concreto, aumentando a resistência mecânica e deixando as

peças mais leves, devido a baixa densidade do material. Além disso, há uma redução na

manutenção pois esse material possui alta durabilidade, viabilizando o uso do concreto

em ambientes deteriorantes. Contudo o CIP apresenta algumas desvantagens, dentre elas

pode-se destacar, além do seu alto custo, a dificuldade do seu processo de fabricação

pois ele demanda um longo tempo de cura e secagem a altas temperaturas, limitando as

suas aplicações .

c) Concreto polimérico

O concreto polimérico começou a ser usado em 1958 nos EUA para reparos em

estruturas de concreto convencional. O concreto polimérico é um material composto

produzido com uma resina (monômero ou pré-polímero) e materiais inorgânicos

(agregados graúdos, areia e filer como a cinza volante). Os agregados e filer devem estar

secos, a fim de garantir uma boa ligação entre a matriz polimérica e os agregados. A

resina líquida, previamente tratada com aditivos, é misturada com os agregados e o filer

e segue-se uma reação de polimerização. A cura é controlada pelo teor de aditivos

adicionados ao aglomerante (Tezuka, 1988) [9]. O CP difere-se dos outros tipos de

compósitos poliméricos pois, nesse material, ocorre a substituição total do aglomerante,

cimento Portland por uma resina polimérica. Esta resina aglomerante é um monômero

catalisado, podendo ser do tipo poliéster, epóxi, acrílico, poliuretano, dentre outros. [49].

Este material é chamado de concreto, segundo Vipolanandan e Dharmarajan

(1987) [50], devido à definição geral, onde concreto consiste de um agregado qualquer

ligado por um aglomerante. Os principais parâmetros de produção do CP visam

minimizar o volume de vazios na massa do agregado, como também reduzir a

quantidade de polímero necessário para ligação do agregado, reduzindo o custo do

concreto polimérico. Isso pode ser obtido por classificação e mistura de agregados, a fim

de minimizar o volume de vazios.

Em alguns casos, são utilizadas fibras para reforço, tais como as fibras de vidro,

piaçava, fibra de coco, dentre outras. Estas passam a fazer parte da composição do

concreto polimérico, especialmente em compostos pré-moldados para aplicações nas

estruturas hidráulicas, as quais vem sendo produzidos nos EUA desde meados da década

de 70 [19][9]. Vigas de concreto polimérico, de alta resistência, duráveis, impermeáveis

e de cura rápida, também estão sendo produzidas utilizando aço como reforço [51-55].

De acordo com Kukacka e Romano (1973) [56], existe um grande interesse no

desenvolvimento do CP devido há alguns incovenientes do concreto convencional. O

Page 44: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

32

concreto de cimento Portland tem pH alcalino em virtude da formação de produtos de

hidratação, como os hidróxidos de metais alcalinos e alcalinos terrosos. Assim, o

concreto em contato com meios ácidos tende a reagir reduzindo o pH, consequentemente

depassivando a armadura, perdendo massa e resistência. O aglomerante polimérico é

praticamente isento desse problema pois o polímero pode ser compactado com um

mínimo de vazios, além disso a maioria dos polímeros são hidrófobos e resistentes ao

ataque químico.

K. G. Tonet (2009) [49] destaca que a principal utilização dos concretos

poliméricos é o uso para pisos de máquinas industriais, devido ao alto poder de

amortecimento da vibração do CP, tornando a estrutura mais durável e resistente. Tal

amortecimento de vibração deixa o ambiente de trabalho menos ruidoso. Ademais,

devido a sua alta resistência ao impacto, resistência química e grande resistência ao

tráfego pesado, os CP ainda podem ser utilizados como blocos resistentes para pisos.

O concreto polimérico apresenta, ainda, boa resistência à oxidação e, ao contrário

do concreto convencional, uma melhor durabilidade para estruturas que sofrem processo

de congelamento. Tais características fazem reduzir a necessidade de manutenção dessas

estruturas, além disso, o seu rápido tempo de cura facilita a produção de pré-moldados,

visto que as peças podem ser retiradas da forma em poucas horas. Estudos ainda

comprovam que com apenas um dia de cura, argamassas poliméticas adquirem mais de

90% de sua resistência final, consistindo em uma vantagem desse material em relação as

argamassas convencionais [49].

Ao longo dos anos, diversos países vêm utilizando argamassas poliméricas. Nos

EUA, concretos poliméricos vêm sendo utilizados em pontes, indústrias petroquímicas e

pavimentações. Na Europa, destina-se para a produção de estruturas pré-moldadas,

reservatórios, revestimentos para indústrias químicas e de alimentos e tubulações. Além

disso, devido à qualidade de acabamento, as argamassas poliméricas vêm sendo

utilizadas em lajes, painéis para fachadas e balcões para estabelecimentos comerciais

[49] [9] [59].

Page 45: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

33

2.7 Compostos poliméricos reforçados com fibras

De acordo com Matthews e Rawlings (1994) [60], as fibras podem ser divididas

em fibras contínuas ou fibras descontínuas, sendo que as duas têm a finalidade de resistir

aos esforços provenientes da matriz, porém com características distintas que influenciam

no desempenho mecânico dos compósitos. De acordo com R.V. da Silva, os compósitos

poliméricos reforçados por fibras contínuas são os de melhor desempenho mecânico,

pois apresentam propriedades mecânicas ortotrópicas que conduzem a mecanismos de

falhas específicas; ao passo que os compósitos reforçados por fibras descontínuas,

apresentam um comportamento isotrópico em sua escala macroscópica. Além disso, os

compósitos reforçados com fibras contínuas apresentam alta resistência e rigidez na

direção das fibras, porém, um baixo desempenho na direção transversal às mesmas, e

neste caso a resistência e a rigidez são controladas pelas propriedades da matriz. Caso

carregamentos biaxiais sejam requisitos de projeto, são utilizados compósitos laminados

formados pela união de várias lâminas com diferentes orientações.

Os compósitos com fibras descontínuas possuem propriedades inferiores quando

comparados aos compósitos com fibras contínuas. Além disso, nos compósitos com

fibras descontínuas os extremos das fibras podem atuar como pontos concentradores de

tensões, que induzem tensões cisalhantes na interface. Contudo, esses compósitos

oferecem maior facilidade de processamento a um menor custo.

Segundo G. D. Silvestre Filho [37], as características das matrizes de compósitos

dependem das propriedades das fibras e da magnitude que o carregamento é transmitido

para as fibras por intermédio da matriz. Sendo assim, a interface matriz/fibra é a

principal responsável pela transferência da solicitação mecânica da matriz para o reforço.

Essa transferência de carregamento varia de acordo com o comprimento da fibra e da

adesão interfacial entre fibra e matriz. A figura 2.10 abaixo mostra o efeito da

deformação ao redor da fibra sob tensão:

Figura 2.10 – Efeito da deformação ao redor da fibra na matriz sob tensão: (a)

fibra contínua; (b) fibra descontínua [37]

Page 46: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

34

Assim, Matthews e Rawlings (1994) [60] definem o comprimento crítico da fibra

(lc) como sendo o comprimento mínimo da fibra, para um dado diâmetro, que admita a

tensão de ruptura à tração da fibra em lugar da tensão de ruptura ao cisalhamento da

interface, ou seja, é o comprimento mínimo necessário para a tensão transmitida alcançar

à tensão de ruptura a tração da fibra, e não e da matriz. Portanto, com o aumento do

comprimento da fibra, a eficiência do reforço aumenta, pois o máximo carregamento se

distribui ao longo de boa parte da fibra [37].

A orientação das fibras e fração volumérica também influenciam na resistência

mecânica do compósito reforçado com fibras. Isso porque compósitos com fibras

alinhadas são anisotrópicas portanto, na direção do alinhamento, a resistência mecânica é

máxima, ao passo que na direção perpendicular é mínima. Para compósitos reforçados

com fibras descontínuas, as fibras podem ser orientadas preferencialmente ou

aleatoriamente [37]. Os compósitos podem obter alta rigidez e resistência quando

reforçadas por fibras curtas alinhadas longitudinalmente.

Portanto, conforme visto anteriormente, há um grande interesse no entendimento

dos mecanismos físicos e químicos responsáveis pela adesão fibra-matriz, visto que a

interface fibra-matriz influencia diretamente no desempenho mecânico e estrutural dos

compósitos. Desta forma, vários pesquisadores vêm buscando métodos de avaliação de

interações mecânicas na interface fibra-matriz. Como exemplo citam-se Herrera Franco e

Drzal (1992) [63], que compararam em sua pesquisa os principais métodos de avaliação

das interações mecânicas entre a fibra e a matriz e discutiram a teoria dessas avaliações,

bem como os seus procedimentos experimentais.

2.7.1 Fibras vegetais

As fibras vegetais são classificadas de acordo com a sua origem podendo ser

fibras de semente (algodão), fibras de caule (linho, cânhamo), fibras de folhas

(bananeira, sisal, piaçava, curauá), fibras de fruto (coco) e fibras de raiz [64]. As fibras

oriundas do caule ou das folhas são as chamadas fibras duras e são as mais utilizadas

como reforço em compósitos poliméricos.

De acordo com R. V. da Silva [61], as fibras vegetais oferecem as seguintes

vantagens em relação às fibras sintéticas: fonte abundante e renovável, baixo custo,

baixa densidade, altas propriedades específicas, não são tóxicas e são biodegradáveis .

Como desvantagens podem-se citar a baixa temperatura de processamento e a falta de

uniformidade de propriedades, pois dependem de diversas variáveis como a região do

plantio, origem das fibras, alta absorção de umidade que pode causar o inchaço das

fibras e a dependência da habilidade manual durante a colheita. Contudo, a absorção de

umidade pode ser reduzida através da modificação química das fibras e pela boa adesão

na interface fibra/matriz. A tabela 2.5 abaixo apresenta dados comparativos de

propriedades mecânicas e características de algumas fibras vegetais e fibras de reforço

convencionais.

Page 47: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

35

Tabela 2.5 – propriedades mecânicas de algumas fibras vegetais[66]

Propriedades

Massa

específica

real

(g/m3)

Absorção

máxima

(%)

Alongamento

na ruptura

(%)

Resistência

à tração

(MPa)

Módulo de

elasticidade

(GPa)

Coco (Cocos

Nucifere) 1177 93,8 23,9-51,4 95-118 2,8

Sisal (Agave

sisalana) 1370 110 4,9-5,4 347-378 15,2

Malva (Urena

lobata) 1409 182,2 5,2 160 17,4

Celulose para

papel

imprensa

(Pinusa elliotti

princ.)

1200-1500 400 nd 300-500 10-40

Bambu

(Bambusa

vulgaris)

1158 145 3,2 73-505 4,6-5,1

Piaçava

(Attalea

funifera)

1054 34,4 - 108 6 143 5,6

As substâncias polares constituem como os principais componentes químicos das

fibras vegetais, dentre elas destacam-se a celulose, a hemicelulose (ou polioses) e a

lignina. A composição química varia de acordo com a região de cultivo, tipo de solo e

condições climáticas [67]. A tabela 2.6 abaixo apresenta a composição química de

algumas fibras vegetais.

Page 48: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

36

Tabela 2.6 - Composição química de algumas fibras vegetais (%)- [66]

Fibra Celulose Hemicelulose Lignina

Piaçava 29 11 45

Bagaço 48 22 20

Bambu 35 15 27

Cana 45 20 23

Linho 60 16 4

Juta 60 15 16

Cânhamo 67 16 8

Rami 69 13 1

Cânhamo de manilha 63 20 6

Sisal 60 12 10

Madeira 45 22 25

De acordo com RV da Silva (2003) [61], cada fibra vegetal é denominada de fibra

técnica e é constituída de várias fibras elementares fortemente ligadas entre si por um

material de cementação, constituído principalmente de lignina. A constituição estrutural

de uma fibra elementar é mostrada na figura 2.11 . Esta possui uma parede espessa

formada por várias microfibrilas que formam espirais ao longo do eixo da fibra, tendo

um lumen no centro. Cada fibra elementar é, em essência, um compósito no qual as

rígidas microfibrilas de celulose estão envolvidas por uma matriz de lignina e

hemicelulose. A lignina atua como o material de cementação, unindo as microfibrilas e a

hemicelulose como interface entre a microfibrila de celulose e a lignina [61].

Figura 2.11 – Componentes estruturais de uma fibra vegetal [61]

Page 49: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

37

As fibras hemiceluloses são constituídas por diferentes unidades de açúcares

sendo solúveis em álcalis. Os principais açúcares são as pentoses, hexoses, 6-

desoxihexoses e os ácidos urônicos. O seu grau de polimerização é de 10 a 100 vezes

menor que o da celulose e as cadeias possuem um considerável grau de ramificação em

relação à celulose. [68] .

A lignina possui uma estrutura complexa com constituintes alifáticos e

aromáticos. É um material amorfo encontrado nas paredes celulares das plantas, cuja

função é conferir rigidez a parede celular.

De acordo com RV da Silva (2003) [61], o principal componente e a principal

responsável pela resistência mecânica das fibras vegetais é a celulose. A celulose pode

ser descrita como um polímero linear com uma estrutura de cadeia uniforme e

constituída de unidades de anidro-D-glicose (C6H10O5), que unidas formam uma cadeia

molecular [68]. Cada unidade de anidro-D-glicose contém três grupos hidroxila (-OH)

que formam ligações de hidrogênio dentro da molécula (intramolecular) e entre

moléculas de celulose (intermolecular). A cristalinidade da celulose deve-se

principalmente às ligações de hidrogênio intermoleculares [61].

Devido às essas ligações de hidrogênio, as fibras vegetais são de natureza

hidrófila. Tal natureza é de grande problema das fibras vegetais ao serem usadas como

reforço em compósitos poliméricos, pois são incompatíveis com a maioria dos

polímeros, que são hidrofóbicos. Sua natureza hidrófila influencia em todas as

propriedades mecânicas e físicas, tanto das fibras como dos compósitos. Contudo, sua

natureza rica em hidroxilas sugere que elas são particularmente úteis em polímeros

termorrígidos, tal como o poliuretano.

Fibras vegetais são tradicionalmente utilizadas para a produção de fios, cordas,

sacarinas, mantas, tapetes, artefatos de decoração, dentre outros [69]. Existe um

crescente interesse em encontrar novas aplicações para este abundante e renovável

recurso natural. As argamassas poliméricas são um importante campo para a utilização

destas fibras, sendo utilizadas em matrizes poliméricas termorrígidas ou termoplásticas,

em substituição às fibras sintéticas.

2.7.1.1 Fibra de piaçava

A piaçava é uma fibra natural extraída de palmeiras, conhecida cientificamente

como Attalea funifera Mart. No Brasil, a Bahia é responsável por 95% do total da

produção nacional, sendo a sua exploração uma atividade puramente extrativista [86].

Desenvolve-se bem em climas quentes e úmidos, pertencendo à espécie das palmáceas e

tem a vantagem de formar fibras longas, conservar sua elasticidade quando umedecida e

ser impermeável [70].

A piaçava se adapta a solos de baixa fertilidade. A coleta da fibra é feita uma

única vez e em qualquer época do ano. Cada pé rende até 8 a 10 quilos de fibra por ano e

o seu tempo de vida é de aproximadamente 20 anos. Depois de colhidas, as fibras são

estendidas e postas para secarem em terreiros, sendo reviradas com frequência para obter

uma secagem uniforme. Quando secas, elas são limpas e batidas para que resíduos sejam

Page 50: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

38

retirados. O produto é amarrado em molhos, podendo depois ser cortado quando

destinado à indústria específica. As fibras alcançam até 4 metros de comprimento e têm

cerca de 1,1 milímetro de espessura [66].

Atualmente, a piaçava é utilizada na fabricação de vassouras, escovas, cordas

para navios, cestos, capachos e coberturas. Contudo, estima-se que o percentual de

desperdício nas indústrias que trabalham com esta fibra é da ordem de 20% [71]. Assim,

em virtude da conscientização ambiental e reaproveitamento de resíduos, a presente

dissertação visa a utilização de fibras de piaçavas como reforço para seus compósitos de

matriz poliméricas. Diversas pesquisas vêm sendo elaboradas a esse respeito, e novas

aplicações dessas fibras vegetais vêm sendo implementadas, provando que a piaçava

pode melhorar a mecânica da fratura de diversos materiais compósitos [72].

2.8 Mecânica da fratura de compósitos poliméricos

Os polímeros e os compósitos poliméricos possuem diversas aplicações, sendo

amplamente utilizados na engenharia. Contudo, em todas as aplicações desses materiais

a maior preocupação é como ocorrerá a fratura. Por esse motivo, foi desenvolvido um

campo de pesquisas denominado de mecânica da fratura, onde o principal objetivo é

simplificar e racionalizar os estudos relativos à fratura dos materiais. Os primeiros

estudos de mecânica da fratura foram feitos por Griffith em 1920. No final da década de

1940, o estudo da mecânica da fratura se desenvolveu ainda mais graças a pesquisas

realizadas por Irwin, e por Orowan em 1950. A partir dessa época, até os dias de hoje,

diversos trabalhos de mecânica da fratura vêm sendo desenvolvidos tanto para materiais

cerâmicos quanto para materiais metálicos e poliméricos [61].

Segundo R. V. da Silva [61], a mecânica da fratura é dividida em duas grandes

áreas:

Mecânica da fratura elástica linear (MFEL): A tenacidade à fratura é

dada pelo fator de intensidade de tensão KIc, que é expresso como função

da geometria do corpo de prova e do carregamento aplicado, ou também

pela taxa de liberação de energia antes de ruptura, Gf.

Mecânica da fratura elasto plástica (MFEP): A tenacidade à fratura é

medida através do parâmetro de Integral-J.

A mecânica da fratura elástica linear (MFEL) é válida somente para alguns tipos

de materiais, onde os corpos de prova apresentam deformação plástica reduzida na ponta

de trinca, podendo ser utilizado para caracterizar fratura frágil nos materiais. Caso o

material possua alta ductilidade, assim como alguns polímeros, ocorre deformação

plástica nas regiões ao redor da ponta da trinca inviabilizando o uso da análise elástica

[61].

Assim, para materiais com alta ductilidade, a análise de mecânica da fratura é

feita por meio da mecânica de fratura elasto plástica (MFEP) . O principal parâmetro de

tenacidade à fratura para esse modelo é a integral-J. Esse parâmetro foi inicialmente

proposto por Rice em 1968, que definiu a integral-J como uma integral de contorno

Page 51: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

39

utilizada para caracterizar campos de tensão e deformação na ponta de uma trinca sob

condições elasto-plásticas.

Ao longo dos anos, outros modelos de parâmetros de medida de tenacidade à

fratura foram desenvolvidos, dentre eles detacam-se o deslocamento crítico da abertura

de fissura (CTOD), curva R e o modelo de fissura fictícia (FCM). O modelo de fissura

fictícia descreve o processo de fratura por dois parâmetros: energia de fratura e

resistência à tração. Na literatura, há vários outros modelos que utilizam múltiplos

parâmetros de fratura, dentre eles destacam-se o modelo Blunt-Crack Band (BCB),

modelo da densidade da energia de deformação (SED), modelo de fratura não linear

assumindo uma propagação de fissura discreta e modelo de dois parâmetros de fratura

[5].

Vários trabalhos são encontrados na literatura sobre o uso desses modelos. Os

dados experimentais apresentados por essas técnicas mostram algumas contradições e

incertezas na aplicação dessas técnicas. Entretanto, na presente dissertação, será utilizada

para caracterizar mecanicamente o material o Modelo de dois Parâmetros de Fratura

(TPFM), onde o fator de intensidade de tensão crítico KIc é calculado na ponta de uma

fissura de forma que a medição elástica do descolamento da abertura da fenda (CMOD)

é igual à calculada pela mecânica da fratura linear elástica (MFLE).

2.8.1 Mecânica da fratura aplicada aos polímeros

O desenvolvimento da mecânica da fratura em materiais poliméricos ainda está

no princípio quando comparada aos materiais metálicos pois, devido ao comportamento

viscoelástico dos metais, a metodologia desenvolvida para esses materiais não pode ser

aplicada aos polímetos. Assim, raras são as análises teóricas que incorporam o

comportamento viscoelástico dos polímeros. Contudo, apesar de haver algumas

controvérsias, a determinação da tenacidade à fratura através do parâmetro Kic e da

Integral-J tem sido aplicada nos materiais poliméricos com sucesso utilizando

procedimentos de ensaios similares aos aplicados nos metais [61][73-75].

Isso é explicado pelo fato de que quando um material polimérico contendo

alguma trinca é submetido a um carregamento, uma zona plástica se forma na ponta da

trinca.Essa zona é muito semelhante à zona plástica formada nos metais (principalmente

quando comparada a polímeros termorrígidos), sendo assim o mecanismo de escoamento

dominante é a deformação por cisalhamento. Além disso, embora as resinas temorrígidas

sejam consideradas frágeis, foi constatado que esses materiais possuem considerável

deformação plástica na ponta da trinca. Em alguns ensaios de tenacidade à fratura,

ocorrem mecanismos de embotamento da ponta da trinca ou até mesmo parada de

propagação devido à alta plasticidade. De acordo com R. V. da Silva [61], os polímeros

termorrígidos mais estudados com relação à tenacidade à fratura são as resinas epóxi e

poliésteres insaturados.

Page 52: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

40

2.8.2 Mecânica da fratura em compósitos poliméricos reforçados

Compósitos poliméricos reforçados possuem excelente eficiência estrutural,

contudo o fato de eles serem materiais anisotrópicos, ou seja suas propriedades

mecânicas variam conforme a direção, dificulta a previsão do modo de falha da estrutura.

O grau de anisotropia está relacionado a vários parâmetros, dentre eles destacam-se:

módudo de elasticidade da fibra, orientação e/ou entrelaçamento das fibras, fração

volumétrica de fibras e o grau de interação entre as fibras e a matriz polimérica. Tais

parâmetros influenciam o comportamento mecânico da estrutura pois alteram

significativamente o modo de falha do laminado, dificultando ainda mais uma previsão

de falha. Todas as variáveis acima citadas mostram que a caracterização mecânica desses

materiais não é feita de maneira simples, e que a grande questão de materiais compósitos

é como aplicar os métodos de mecânica da fratura padrão desenvolvidos para materiais

homogêneos aos materiais compósitos.

Segundo R. V. da Silva [61], a fratura de materiais compósitos reforçados com

fibras raramente ocorrem de modo catastrófico, tendendo a ser progressiva e com falhas

subcríticas dispersas através do material. Ainda segundo a autora, os mecanismos de

falhas locais que podem ocorrer em um compósito reforçado com fibras são:

deslocamento das fibras, ruptura das fibras, deformação e formação de trincas na matriz,

deslizamento interfacial seguido da ruptura das fibras (pull out) e ainda o efeito de ponte

de fibras (fiber bridging), onde as superfícies de uma trinca são interligadas por

fibras.Tais modos de falha são mostrados na figura 2.12 abaxo:

Figura 2.12 – Mecanismos de falha em materiais compósitos [61]

Esses mecanismos podem atuar simultaneamente durante o processo de fratura do

compósito, e a importância de cada um deles no processo depende do tipo de

carregamento aplicado, do tipo de compósito em estudo e da orientação das fibras.

De acordo com Segundo R. V. da Silva [61], o mecanismo de fratura mais

comum nos compósitos reforçados por fibras contínuas é a fratura por delaminação. Esse

tipo de fratura ocorre devido às propriedades mecânicas ortotrópicas destes compósitos.

Neste tipo de fratura, a propagação da trinca pode ser interlaminar (entre as camadas do

laminado) ou intralaminares (propagando entre as fibras). As tensões que produzem a

Page 53: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

41

delaminação nesses materiais podem surgir de tensões externas aplicadas, da estrutura

geométrica do compósito e pela diferença do módulo de elasticidade da matriz e das

fibras.

Os compósitos de fibras curtas (descontínuas) distribuídas de forma aleatória

podem ser considerados materiais isotrópicos. Nesses tipos de compósitos, as

extremidades das fibras atuam como pontos de concentração de tensão, podendo ser

potenciais iniciadores de trincas. Além disso, há uma grande influência da razão entre o

comprimento e o diâmetro da fibra (denominado de aspecto das fibras) nas propriedades

de fratura do compósito [81]. Porém, os mecanismos de falha destes compósitos são

semelhantes aos dos compósitos com fibras contínuas. Portanto, a condição interfacial

fibra/matriz ainda é o fator mais importante na influência no comportamento de tensão-

deformação dos compósitos fibrosos.

Page 54: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

42

CAPÍTULO 3

3 Materiais e métodos

3.1 Materiais

3.1.1 Resina poliuretana provinda do óleo de mamona

A resina poliuretana utilizada nesta pesquisa foi desenvolvida pelo Grupo de

análise química e tecnológica de polímeros, USP, São Carlos, Brasil, e foi manufaturada

e fornecida pela Plural Química. A Tabela 3.1 abaixo apresenta as características da

resina poliuretana utilizada nesta pesquisa:

Tabela 3.1 - Propriedades da resina poliuretana provinda do óleo de

mamona

Propriedades

Cor Amarelo escuro

Densidade (g/cm3) 1,1

Dureza shore D 70

Módulo de elasticidade (GPa) 2,0

Temperatura de transição vítrea – Tg (ºC) 60

A resina de poliuretano provinda do óleo de mamona se consiste em dois

componentes, poliol e pré-polímero. O poliol foi sintetizado do óleo de mamona,

obtendo assim o poliéster tri-funcional com índice de hidroxila de 330mg KOH/g. O pré-

polímero foi sintetizado do di-isocianato de difenilmetano e pré-polimerizado com um

poliol também derivado de óleo de mamona, mantendo a porcentagem de isoctano livre

para uma reação posterior. As densidades aproximadas do pré-polímero e do poliol

medidas foram de 1,17 e 0.98 g/cm3, respectivamente. A resina foi processada

misturando a base e o enrijecedor em uma relação de massa de 1:1.

3.1.2 Agregado

O agregado utilizado foi areia com tamanho de grão homogêneo, com grãos

uniformes com diâmetro médio de 300 μm, com módulo de finura entre 3 e 5. A

gravidade específica encontrada foi de 2,63 g/cm3 . A areia foi previamente seca em um

forno para reduzir o teor de umidade, e então adicionada na resina de óleo de mamona,

garantindo assim uma boa liga entre o polímero natural e o agregado inorgânico.

Page 55: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

43

3.1.3 Reforço de piaçava

A piaçava utilizada nesta pesquisa foi obtida de uma fábrica de vassouras do

nordeste brasileiro, mais precisamente no estado da Bahia. Tal reforço foi descrito por

alguns autores [13-16] [61] [82-83], como sendo o mais resistente dentre as fibras

lignocelulósicas, sendo essa a principal justificativa para a utilização desse material

nessa pesquisa. A resistência mecânica provém das células esclerenquimáticas, que está

presente em cada fibra individual. As propriedades mecânicas de cada fibra individual

dependem da origem da planta, da natureza de extração, processo de refino, idade e

constituintes químicos [25]. O principal uso da piaçava é na manufatura de vassouras,

dos quais são feitas utilizando fibras finas e duras de piaçava, mas existem grandes

quantidades de resíduos de piaçava que não são utilizados e são depositados em aterros,

esses resíduos são chamados de borras . Borras de piaçava são mostradas na figura 3.1

abaixo:

Figura 3.1 – Borras de piaçava

As borras de piaçava foram então trituradas e usadas como substituto parcial do

agregado natural com tamanho médico das fibras de aproximadamente 6 mm. A taxa

utilizada nas misturas foram de 1 e 2% em massa, substituindo os agregados na mistura.

Tais percentagens não foram maiores, pois em artigos anteriores publicados por J.M.L.

Reis e E.P. Carneiro (2012) [84], descobriu-se que ao passar de 2% em porcentagem em

massa de piaçava, a resistência mecânica do compósito diminui, tornando esta prática

inviável.

Page 56: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

44

3.1.4 Amostras

A tabela 3.2 mostra a quantidade de amostras utilizadas para cada ensaio bem

como os seus constituintes.

Tabela 3.2 - Número exato de amostras utilizadas em cada ensaio para cada

constituinte.

Ensaios

Constituintes Compressão Flexão Impacto

10% de resina 3 3 3

12% de resina 3 3 3

12% de resina mais 1% de fibra 3 3 3

12% de resina mais 2% de fibra 3 3 3

Seguem abaixo os corpos de prova para o ensaio de fratura, compressão e flexão

em três pontos respectivamente, da argamassa polimérica à base de poliuretano provinda

do óleo de mamona com 12% de resina em massa, sem reforço fibroso. Vale ressaltar

que o corpo de prova para o ensaio de compressão foi manufaturado através do corpo de

prova do ensaio de flexão após a sua fratura.

Figura 3.2 – Corpo de prova para o ensaio de fratura para o compósito com 12%

de resina

Page 57: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

45

Figura 3.3 – Corpo de prova para o ensaio de compressão para o compósito

com 12% de resina

Figura 3.4 – Corpo de prova para o ensaio de flexão em três pontos com

12% de resina

Page 58: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

46

3.2 Métodos

3.2.1 Modelo de dois parâmetros de fratura (MFLE)

Conforme visto anteriormente, será utilizado o modelo de dois parâmetros de

fratura (TPFM) para avaliar a ruptura das amostras. Tal modelo necessita da realização

de um ensaio de flexão em três pontos em amostras com uma pequena fenda na parte

inferior do centro do copo de prova, de modo a atuar como um concentrador de tensões

durante o experimento. Como se trata de um teste quase estático, a taxa de deslocamento

do teste deve ser controlada de modo que o pico de carga seja alcançado no tempo de

aproximadamente 5 minutos. Sendo assim, este experimento foi realizado em uma

máquina universal de ensaios (SHIMADZU) a uma velocidade de 0.5 mm/min. A

abertura da fenda foi medida através de um clip-gauge posicionado na parte de baixo do

corpo de prova e fixo na posição por placas com 3mm de espessura, como mostrado nas

figuras 3.5 e 3.6. Antes de iniciar o teste, o corpo de prova foi cuidadosamente alinhado

de acordo com linhas guia presentes no equipamento.

Figura 3.5 – Corpo de prova na máquina universal de ensaios.

Page 59: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

47

A partir dos valores de carga, deslocamento vertical e abertura da fenda obtidos

do ensaio realizado, a energia de fratura (Gf), o fator de intensidade de tensão

(tenacidade a fratura KIc), o módulo de elasticidade (E) e a abertura do topo da trinca

(CTODc) foram calculados, com base no que foi estabelecido pelo comitê técnico

RILEM [20]. Tal comitê estabeleceu que o fator intensidade de tensão crítico, ou

tenacidade à fratura KIc , é calculado na ponta de uma fissura de modo que a medição

elástica do deslocamento da abertura de fenda (CMOD) é igual ao calculado pela MFLE.

Assumindo o perfil da fissura ou diretamente usando a formulação da MFLE, o

deslocamento da abertura da fissura no pico da fenda (CTODc) pode ser obtido.

Utilizando somente ensaios de flexão em três pontos, diferentes dimensões de corpos de

prova de diferentes proporções de mistura, foi concluído que ambos KIc e CTODc são

independentes da dimensão do corpo de prova. Como ambos os fatores são determinados

diretamente pela formulação da MFLE, a singularidade da ponta da fissura é

automaticamente incorporada no modelo [5].

A figura 3.6 abaixo mostra a geometria do corpo de prova utilizado no ensaio de

fratura bem como as suas nomenclaturas:

Figura 3.6 – Compliance inicial [5]

Page 60: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

48

Assim, de acordo com o comitê técnico RILEM [20] , o módulo de elasticidade

(E) é calculado pela medição do compliance inicial (Ci) usando a equação (3.1) abaixo:

(Eq. 3.1)

onde S, a0, H0,W e B são definidos na figura 3.6, e Ci é igual ao compliance inicial

retirado da figura 3.7.

Baseado em uma análise de elementos finitos [18], a contribuição da espessura do

suporte para o clip gauge (H0) está incluso na função V1 (α) abaixo:

(Eq. 3.2)

Onde:

(Eq. 3.3)

Antes de calcular o fator intensidade de tensão crítico, KIc, o comprimento da

fissura efetivo, ( = a0 + comprimento da fissura na carga máxima) é calculado ao

solucionar a seguinte quação:

(Eq. 3.4)

Onde = a0 + comprimento da fissura na carga máxima, α = /W e Cu é o

compliance na descarga, assumindo ser igual a um compliance na descarga para uma

carga no valor de 95% da carga máxima no estágio pós-pico (ver figura 3.7) .

Porém, conforme citado anteriormente, este ensaio foi realizado com velocidade

constante e não em ciclos de carregamento. Dessa forma, o valor de Cu foi calculado a

partir da reta que une a origem ao ponto de carga máxima ou seja, assume-se

aproximadamente que CMOD = 0. Tal suposição é recomendada pelo comitê técnico

RILEM para casos em que os ensaios não são realizados com carregamentos cíclicos. Os

valores de KIc e CTODc determinados com base nessas suposições são

aproximadamente de 10% a 25% maiores que os valores calculados usando o valor da

compliance na descarga.

Assim, o fator intensidade de tensão crítico pode ser calculado através da

seguinte equação:

√ (Eq. 3.5)

onde = + crescimento estável da trinca em carga máxima

Page 61: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

49

Figura 3.7 – Compliance inicial

Além disso, calcula-se F (α) utilizando a seguinte equação:

(Eq. 3.6)

O valor de , por sua vez, é calculado da seguinte maneira:

(Eq. 3.7)

E finalmente, o CTODc pode ser determinado por:

..... ....(Eq. 3.8)

Onde é dado por:

(Eq. 3.9)

É importante notar que as funções polinomiais para determinar Kic e CTODc são

válidas somente para uma geometria de corpo de prova específico. Se diferentes

geometrias e carregamentos forem utilizados, as funções das equações acima irão variar.

Exalta-se também que existem outros métodos, além de elementos finitos, para definir o

cálculo KIc e CTODc propostos por Srawley e Gross [85][86], que utilizam métodos de

implementação de fronteira para chegar na atual norma ASTM E399.

3.2.2 Energia de fratura

De acordo com a teoria de Griffith, a resistência à tração depende da energia da

superfície, γ, que aglomera o material. Em experimentos anteriores, medições foram

realizadas diretamente para determinar a energia superficial de fratura, γ. Entretanto, foi

Page 62: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

50

descoberto por Hillerborg e seus colaboradores que para materiais cimentados a energia

superficial de fratura é melhor expressa pela energia de fratura Gf [5].

A energia na superfície de fratura, γ, de um material linear elástico pode ser

medida através de um ensaio de flexão de três pontos. Neste ensaio, uma amostra com

uma fissura é carregada lentamente à flexão em uma máquina de ensaios universal que

mede e armazena os dados de carga, deslocamento e CMOD até a ruptura do corpo de

prova. Deste modo, assumindo que a energia nesse processo é transformada em energia

de superfície, a energia da fratura pode ser calculada ao dividir o trabalho total para

realizar a fratura W0 (área abaixo da curva do ensaio carga-deslocamento, ver figura 3.8),

pela área da nova superfície criada pela fratura (2A):

(Eq. 3.10)

A energia da superfície γ está diretamente relacionada com a taxa de liberação de

energia ,GIc, para um material linear elástico. Logo:

(Eq. 3.11)

A obtenção do Gf é realizada através do método da energia de fratura, onde a área

abaixo da curva de carga e deslocamento pode ser medida pela integral da área e o

deslocamento máximo pode ser obtido calculando a quantidade de energia do próprio

peso do corpo de prova. Assim o valor de Gf é calculado através da seguinte equação:

(Eq. 3.12)

Onde:

W = W1 + W2 (Eq. 3.13)

W1- trabalho realizado pela carga aplicada para o incremento do comprimento da

fissura por ∆a;

W2- trabalho realizado pelo próprio peso para o incremento do comprimento da

fissura por ∆a;

A energia fornecida pelo peso do corpo de prova no trabalho realizado para o

incremento do comprimento da fissura por ∆a é aproximadamente:

(Eq. 3.14)

Onde m1 é a massa da própria amostra e δ é o deslocamento do centro do corpo

de prova correspondente a um comprimento de fissura (a+∆a).

Assim, Petersson propôs um método que quantifica a energia de fratura baseado

num ensaio de flexão em três pontos de uma amostra com uma fissura pré-existente que

Page 63: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

51

atua como concentrador de tensões. Deste modo, quantifica-se Gf como propriedade do

material ao satisfazer as três condições abaixo [5]:

1. A energia consumida na zona de fratura tem que ser suficientemente pequena

de modo a não ser desprezada a energia dissipada na zona de fratura. Ou seja, a

relação de espessura/comprimento da fissura não pode ser pequena;

2. A energia de fratura tem que ser independente da geometria e do comprimento

da fissura;

3. O mecanismo de fratura tem que ser estável logo, o equipamento tem que ter

elevada rigidez.

Além disso, a dimensão da zona de fratura não pode ser pequena devido à

dimensão do agregado. Elevadas variações nos resultados de Gf são observadas se estas

condições não forem satisfeitas. Dessa forma, o comitê técnico RILEM [20] sugeriu uma

relação de espessura/comprimento de fissura de 0,5.

Figura 3.8 – Curva típica de Carga-delocamento [46]

Portanto, a recomendação da RILEM [20] para determinação da energia de

fratura , Gf, em amostras com fissuras pré-existentes em ensaios de flexão em três

pontos é apresentada como:

(Eq. 3.15)

Onde:

W0- Área abaixo da curva carga-deslocamento ilustrada na figura 3.8 (N/m)

m = m1+2m2 (kg)

m1- Massa da amostra entre os suportes (kg)

m2- Massa do equipamento de auxílio a carga que não se encontra preso à

máquina (kg)

δ0- Deslocamento do cabeçote da máquina no final do ensaio (m)

Page 64: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

52

A - Área da amostra não fissurada (m2)

g - Aceleração da gravidade (m/s2)

3.2.3 Ensaio de Compressão

Para avaliar a resistência à compressão da argamassa de matriz polimérica

provinda do óleo de mamona e poder comparar os resultados com os demais materiais

comumente utilizados na engenharia, realizou-se um ensaio de compressão utilizando a

máquina de ensaios universal [SHIMADZU] do laboratório Laboratório de Ensaios de

Dutos da UFF, a uma velocidade de ensaio 1,25 mm/mim, seguindo a norma UNE-EN

1015-11:2000. Um ensaio de compressão é um ensaio destrutivo, e pode ser definido

como a aplicão de um esforço axial compressivo em uma amostra, que tende a provocar

um encurtamento ou ruptura do corpo submetido a este esforço. Assim, ocorre um

aumento da seção transversal do corpo de prova a este mesmo eixo quando o material

ensaiado é dúctil e a deformação da peça nesta direção é permitida, considerando que seu

volume permaneça constante. Um exemplo típico de objetos submetidos a esforços de

compressão são as colunas dos prédios, que recebem na mesma direção de seu eixo,

cargas compressivas.

Um problema que pode ocorrer em um ensaio de compressão é o atrito entre o

corpo de prova e as placas da máquina de ensaio. Pois assim a deformação lateral do

corpo de prova é barrada pelo atrito entre as superfícies do corpo de prova e a máquina.

Outra dificuldade normalmente encontrada é a flambagem, isto é, o encurvamento da

amostra. Isso ocorre devido à instabilidade na compressão de materiais dúcteis. Tal

efeito varia de acordo com as formas de fixação do corpo de prova, além disso estão

mais presentes em corpos de prova com grande comprimento em relação ao seu

diâmetro.

A fim de evitar tais problemas, foram manufaturadas amostras com baixa

espessura e de formato retangular , além disso as mesmas foram centradas no

equipamento de teste, garantindo que o esforço de compressão seja distribuido

uniformemente. Outra providência tomada foi a de garantir o perfeito paralelismo entre

as placas da máquina de ensaios universal.

O ensaio de compressão é usualmente utilizado em materiais frágeis, um

comportamento mecânico típico de argamassas, concretos, cerâmicas, dentre outros

materiais. Tais materiais não têm deformação lateral apreciável e a ruptura ocorre por

cisalhamento e escorregamento ao longo de um plano inclinado de 45º. Uma vez que a

fase elástica nesses materiais é muito pequena, não é possível determinar com precisão

as propriedades relativas a esta fase. De fato, a única propriedade mecânica avaliada

neste ensaio é a resistência do material à compressão, além disso, um gráfico de

tensão/deformação é elaborado para cada amostra ensaiada.

Deste modo, o limite de resistência à compressão é calculado pela relação entre a

carga máxima no teste e a área da seção transversal original do corpo, como na equação

abaixo:

(Eq. 3.16)

Page 65: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

53

3.2.4 Flexão em três pontos

Dentro do propósito desta dissertação, a caracterização mecânica de argamassas

de matriz polimérica de poliuretano provindo do óleo de mamona com e sem reforço de

piaçava, é necessário a determinação da resistência à flexão do material. O ensaio de

flexão é comumente adotado para determinar a tensão de ruptura em materiais frágeis,

além de permitir obter outras propriedades mecânicas, como o módulo de elasticidade à

flexão. A sua grande vantagem é que permite utilizar corpos de prova de fácil manuseio.

Sendo assim, realizou-se nesta pesquisa um ensaio de flexão em três pontos

utilizando a máquina de ensaios universal [SHIMADZU] do Laboratório de Ensaios de

Dutos da UFF. O ensaio consiste em apoiar um corpo de prova em dois pontos distantes

entre si de um comprimento L (figura 3.9) e aplicar lentamente uma força de flexão no

centro deste, até atingir a ruptura do material. Esta ruptura se dá por tração e tem seu

início nas fibras inferiores. O corpo de prova pode ter uma seção qualquer, contudo as

circulares ou retangulares são as mais utilizadas por facilitarem os cálculos.

Figura 3.9 – Posicionamento do corpo de prova

Com as amostras devidamente posicionadas na máquina de ensaio, inicia-se o

experimento. A força é aplicada no corpo de prova que está em contato com o sensor

responsável por medir a deflexão. Este sensor é extremamente sensível, portanto é

essencial que o ensaio não seja feito a uma velocidade muito alta para não comprometer

os resultados. A norma ASTM C348 recomenda uma velocidade de ensaio de 1

mm/mim.

Ainda de acordo com a norma, o efeito do esforço cortante não é levado em

consideração, pois embora a distância entre os apoios de flexão seja relativamente

grande (100 mm), ela ainda é pequena se comparada com a espessura da amostra.

Portanto, o cálculo da tensão de flexão é realizado através da seguinte equação:

(Eq. 3.17)

Page 66: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

54

CAPÍTULO 4

4 Resultados e disscussões

Após a realização dos ensaios, os dados foram armazenados em uma planilha

eletrônica e foram posteriormente tratados de acordo com os métodos mencionados

anteriormente nesta dissertação. Além disso, diversos gráficos foram plotados para

melhor visualização dos resultados. Assim, a caracterização mecânica das amostras

contendo diferentes porcentagens de materiais foi feita. Este capítulo se dividirá em três

sessões, cada uma contendo os resultados e discussões de cada teste realizado:

compressão, flexão em três pontos e fratura.

4.1 Compressão

Através do ensaio de compressão, foi possível a obtenção da resistência máxima

à compressão das argamassas aqui estudadas. A tabela 4.1 apresenta as resistências à

compressão obtidas nesta pesquisa de cada compósito, e a figura 4.1 exibe o gráfico que

relaciona a tensão de compressão e a deformação das amostras de poliuretano de

mamona e as compara com amostras de 12% de epóxi e 12% de poliéster estudadas em

pesquisas anteriores [84].

Tabela 4.1 - Resistência à compressão das argamassas poliméricas

estudadas

Argamassas de

poliuretano natural

Resistência à

compressão (MPa)

10% de resina 32,46 ± 0,81

12% de resina 37,86 ± 0,75

12% de resina com 1% de piaçava 37,06 ± 0,10

12% de resina com 2% de piaçava 39,51 ± 0,89

Page 67: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

55

Figura 4.1 – Tensão de compressão x deformação das argamassas com 10 e

12% de poliuretano em massa

A resistência à compressão da argamassa poliuretana sem reforço com 12% de

resina em massa foi aproximadamente 16% maior do que a argamassa com 10% de

resina. Tal resultado demonstra que a adição de 2% no teor de resina a mais no

compósito é vantajosa, visto que o pequeno gasto a mais com a resina aumenta

consideravelmente a resistência do compósito. Contudo, o mesmo não se pode dizer a

respeito do reforço de 1% de piaçava no compósito com 12% de resina em massa, visto

que houve uma tendência de diminuição da resistência à compressão em

aproximadamente 2%. Todavia, adicionando-se 2% de piaçava houve uma tendência de

aumento de 4% na resistência à compressão.

Porém, é importante salientar que ,na prática, os valores de resistência à

compressão das argamassas de poliuretano natural com 12% de resina com e sem reforço

de piaçava são semelhantes. Isso pode ser notado através dos valores de desvio padrão

apresentados na tabela 4.1 acima, pois o valor de resistência à flexão da argamassa com

12% de resina acrescida de 2% de reforço subtraído do seu desvio padrão, é menor do

que a argamassa de 12% de resina sem reforço acrescida do seu desvio padrão.

Page 68: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

56

A tabela abaixo mostra os resultados de resistência à compressão de argamassas

poliméricas de 12% de poliéster e 12% de epóxi obtidos em trabalhos anteriores por

J.M.L. Reis e E.P. Carneiro em 2012 [84], comparando-as com argamassa de 12% de

poliuretano natural:

Tabela 4.2 - Resistência à compressão (MPa) de argamassas com 12% de

resina poliéster, epóxi e com poliuretano natural

Resistência à Compressão (MPa)

Porcentagem de Resina Epóxi Poliéster Poliuretano Natural

12% 38,73 ± 1,82 24,39 ± 3,25 37,86 ± 0,75

Através da Figura 4.2 e da Tabela 4.2 acima nota-se que a argamassa com

poliuretano natural possui uma resistência à compressão 55% maior do que a argamassa

de poliéster. Além disso, a resistência à compressão da argamassa de poliuretano natural

possui valores equivalentes à resistência à compressão da resina epóxi em virtude dos

seus desvios padrões.

Em 2010, M.C.S Ribeiro, J.C Vogt, A.T. Marques e A.J.M Ferreira [89]

caracterizaram mecanicamente argamassas com 25% em massa de poliéster com e sem

reforço de piaçava a 1 e 2%. A resistência à compressão de cada argamassa obtida é

mostrada na tabela 4.3 abaixo.

Tabela 4.3 - Resistência à compressão de argamassas de resina poliéster [89]

Argamassas de poliéster Resistência à compressão (MPa)

25% de resina 103,70 ± 3,26

25% de resina com 1% de piaçava 118,50 ± 1,61

25% de resina com 2% de piaçava 114,63 ± 3,31

Nota-se que a adição de piaçava também aumentou a resistência à compressão da

argamassa de matriz de poliéster. Com 1% de piaçava em massa, a resistência à

compressão aumentou em 14,3%, ao passo que com a adição de 2% de piaçava esse

valor diminuiu para 10,5% . Dessa forma, fica evidente que a piaçava é eficaz em

aumentar a resistência mecânica de argamassas poliméricas de poliéster, porém acima de

2% de piaçava a resistência à flexão começa a decair. Tal comportamento é inverso ao

das argamassas de poliuretano natural, visto que com 1% de piaçava a resistência à

compressão tende a diminuir, e com 2% a resistência à compressão tende a aumentar.

Page 69: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

57

4.2 Resistência à flexão

Após o ensaio de flexão em três pontos, foi possível a obtenção da resistência

máxima à flexão das argamassas de poliuretano natural. A tabela 4.4 apresenta a

resistência à flexão obtida nesta pesquisa de cada compósito, e a figura 4.2 exibe o

gráfico que relaciona a tensão de flexão e a deformação das amostras de poliuretano de

mamona e as compara com amostras de 12% de epóxi e 12% de poliéster estudadas em

pesquisas anteriores [84].

Tabela 4.4 - Resistência à compressão das argamassas poliméricas

estudadas

Argamassas de

poliuretano natural

Resistência à

flexão (MPa)

10% de resina 19,08 ± 0,64

12% de resina 22,11 ± 2,26

12% de resina com 1% de piaçava 19,29 ± 0,37

12% de resina com 2% de piaçava 19,98 ± 1,65

Figura 4.2 – Tensão de flexão x deformação

O gráfico acima evidencia o comportamento frágil deste material,

independentemente de sua composição. Os dados da tabela 4.5 mostram que a adição de

piaçava faz com que a resistência à flexão da argamassa poliuretana sofra uma redução.

Page 70: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

58

A argamassa com 12% de resina poliuretana tende a perder aproximadamente 14% de

sua resistência à flexão quando é acrescentado em sua composição 1% de reforço de

piaçava em massa, ao passo que a mesma argamassa com reforço de 2% tende a perder

aproximadamente 10% de sua resistência à flexão.

Porém, semelhante ao que aconteceu com a resistência à compressão das

argamassas de poliuretano, é importante salientar que, na prática, os valores de

resistência à flexão das argamassas de poliuretano natural com 12% de resina com e sem

reforço de piaçava são semelhantes. Isso pode ser notado através dos valores de desvio

padrão apresentados na tabela 4.5 acima, onde o valor de resistência à flexão da

argamassa com 12% de resina acrescida de 2% de reforço somado com seu desvio

padrão, é maior do que a argamassa de 12% de resina sem reforço subtraído do seu

desvio padrão.

A tabela abaixo mostra os resultados de resistência à flexão de argamassas

poliméricas de 12% de poliéster e 12% de epóxi obtidas em trabalhos anteriores por

J.M.L. Reis e E.P. Carneiro em 2012 [84], comparando-as com argamassa de 12% de

poliuretano natural:

Tabela 4.5 - Resistência à flexão de argamassas com 12% de resina

poliéster, epóxi e com poliuretano natural

Resistência à Flexão (MPa)

Porcentagem de

Resina

Epóxi Poliéster Poliuretano

Natural

12% 15,87 ± 0,57 7,82 ± 0,96 22,11 ± 2,26

Através da Tabela 4.5 e da Figura 4.2 acima nota-se que a argamassa com

poliuretano natural possui uma resistência à flexão 282 % maior do que a argamassa de

poliéster. Além disso, a resistência à compressão da argamassa de poliuretano natural é

quase 40% maior que a resistência à compressão da resina epóxi.

O efeito da piaçava na resistência à flexão de argamassas de poliéster foi

estudada em 2010, por M.C.S Ribeiro, J.C Vogt, A.T. Marques e A.J.M Ferreira [89].

Esses autores caracterizaram mecanicamente argamassas com 25% em massa de

poliéster com e sem reforço de piaçava a 1 e 2%. A resistência à flexão de cada

argamassa obtida é mostrada na tabela 4.6 abaixo.

Page 71: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

59

Tabela 4.6 - Resistência à compressão de argamassas de resina poliéster [89]

Argamassas de poliéster Resistência à compressão (MPa)

25% de resina 39,69 ± 2,19

25% de resina com 1% de piaçava 40,00 ± 2,96

25% de resina com 2% de piaçava 38,28 ± 1,19

Embora a adição de 1% de piaçava em massa tenda a aumentar cerca de 0,8% de

resistência à compressão, a adição de 2% de piaçava na mesma argamassa tende a

diminuir a resistência à compressão em cerca de 3%. Portanto, ao se comparar os valores

da tabela 4.6 acima com os valores obtidos nessa dissertação, comprova-se que ambos

tiveram o mesmo comportamento ou seja, a resistência à compressão diminuiu com a

adição de reforço de piaçava.

Page 72: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

60

4.3 Módulo de elasticidade, tenacidade à fratura e energia de

fratura.

Através do ensaio de fratura obtiveram-se os valores de carga, deslocamento

vertical e abertura da fenda (CMOD). Assim, utilizando-se o método de dois parâmetros

de fratura (TPFM), a energia de fratura (Gf ), a tenacidade à fratura (KIc ), e o módulo

de elasticidade (E) foram calculados com base no que foi estabelecido pelo comitê

técnico RILEM [20-21].

A tabela 4.7 abaixo apresenta os valores de energia de fratura (Gf ), a tenacidade

à fratura (KIc ) e o módulo de elasticidade (E) das amostras estudadas de argamassas de

matriz polimérica de poliuretano provindo do óleo de mamona com e sem reforço de

piaçava.

Tabela 4.7 - Propriedades de fratura das argamassas de poliuretano natural

Argamassas

Energia de fratura

– Gf (N/m)

Tenacidade à

fratura – KIc

(MPa)

Módulo de

elasticidade – E

(MPa)

10% de resina 635,97± 89.02 1,84± 0.16 7,15± 0.06

12% de resina 1262,61± 89.02 1,95± 0.20 4,12± 0.16

12% de resina com

1% de piaçava

891,97±25,12 2,33 ± 0,04 7,60 ± 0,21

12% de resina com

2% de piaçava

780,60±3.41 2,09 ±0,02 7,14±0,05

Por intermédio dos resultados apresentados na tabela 4.7 acima, nota-se que com

a adição de mais resina em massa, passando de 10% para 12% de resina, a energia de

fratura aumenta consideravelmente (aproximadamente 98%). Tal efeito pode ser

observado na figura 4.3 abaixo, onde o gráfico que relaciona carga pelo deslocamento

das amostras é mostrado. Além disso, também há uma tendência de aumento na

tenacidade à fratura (aproximadamente 6%). Isso mostra que o aumento da porcentagem

de resina poliuretana na argamassa em massa, aumenta a tenacidade possibilitando a sua

aplicação em estruturas que necessitem absorção de energia mecânica como, por

exemplo, o piso de maquinários que sofram grandes vibrações, assim como tornos

mecânicos, fresas, retíficas, dentre outros. Contudo, a aplicação do reforço de piaçava

diminui a energia de fratura. A figura 4.3 abaixo compara a relação da carga aplicada

com o deslocamento da amostra para argamassas de poliuretano natural com 10 e 12%

de resina e as compara com argamassas de 12% de resina epóxi e poliéster.

Page 73: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

61

Figura 4.3 – Relação da carga aplicada com o deslocamento da amostra

O módulo de elasticidade da argamassa sem reforço com 10% de resina é

aproximadamente 72% maior do que o da argamassa de 12% de resina em massa. Esse

comportamento é evidenciado também na figura 4.4, onde a relação de tensão aplicada

pelo deslocamento da fenda de cada amostra é feita através da plotagem de um gráfico,

comparando os resultados obtidos nessa pesquisa com argamassas de 12% de epóxi e

12% de poliéster.

Figura 4.4 – Relação da carga aplicada com o deslocamento da abertura da

fenda (CMOD)

A adição de reforço de piaçava aumentou consideravelmente o valor do módulo

de elasticidade dos compósitos de poliuretano. A tabela 4.7 mostra que a adição de 1%

de reforço de piaçava na argamassa com 12% de resina em massa aumentou cerca de

Page 74: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

62

84% no valor do módulo de elasticidade, ao passo que com a adição de 2% esse aumento

se reduz para cerca de 73%. Ademais, há uma tendência no aumento no valor da

tenacidade à fratura de 15% com 1% de reforço e 4% com 2% de reforço fibroso,

provando que a adição de fibras de piaçava também pode melhorar a tenacidade à fratura

da argamassa.

É importante ressaltar que a adição de reforço de piaçava nas argamassas de

poliuretano natural tende a melhorar algumas propriedades de fratura do material.

Contudo, há uma clara diminuição dessas propriedades quando se aumenta de 1% para

2% de reforço de piaçava em massa. Isso mostra que o ideal é a adição de no máximo

1% de reforço fibroso de piaçava. Além disso, para a argamassa de poliuretano natural, a

adição de piaçava diminui a energia absorvida do CP antes da fratura.

Os efeitos do reforço de piaçava nas argamassas poliméricas, bem como os

efeitos do tipo de resina empregado na elaboração dos compósitos foram estudados por

J.M.L. Reis e E.P. Carneiro em 2012 [84]. Nesta pesquisa, os autores manufaturaram

argamassas de matriz polimérica de epóxi e poliéster com 12% de resina em massa, e as

reforçaram com várias porcentagens de fibra de piaçava. Assim como a presente

dissertação, na tabela 4.9 abaixo nota-se que para ambas as resinas o reforço de piaçava

melhora os parâmetros de fratura das argamassas contudo, acima de 1% de reforço de

piaçava começa a piorar esses parâmetros. Além disso, a figura 4.5 abaixo mostra o

gráfico de Tensão versus abertura da fenda (CMOD) das amostras com 12% de epóxi

reforçadas com piaçava estudadas pelos autores. A partir deste gráfico constata-se que

acima de 1% de reforço de piaçava para essa argamassa há uma diminuição das

propriedades de fratura do material.

Figura 4.5 – Carga x CMOD de argamassas de matriz poliméricas

sintéticas[84]

Page 75: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

63

Tabela 4.8 - Propriedades de fratura de argamassas de matriz poliméricas

sintéticas [84]

Através da comparação dos dados de fratura das argamassas naturais vistos da

tabela 4.6 com os dados da tabela 4.8 acima, nota-se que as argamassas de matriz

polimérica de poliuretano natural absorvem mais energia na fratura do que as argamassas

poliéster e epóxi. Ao se comparar a argamassa poliuretana com 10% de resina e sem

reforço de piaçava, esta ainda chega a ter uma energia de fratura aproximadamente 18%

maior do que a argamassa epóxi com 2% de reforço. Isso fica ainda mais evidente

quando se compara a energia de fratura da armassa com 12% poliéster com 2% de

reforço de piaçava com a argamassa de poliuretano natural com 2% de reforço, pois a

energia de fratura do compósito natural é aproximadamente 360% maior do que o

compósito com poliéster.

Além disso, a tenacidade à fratura da argamassa poliuretana com 10% de resina

em massa sem reforço é cerca de 28% maior do que a resina poliéster com 12% de resina

e com reforço de 1% de piaçava em massa. Contudo, a argamassa natural possui valores

equivalentes de tenacidade à fratura quando comparada com as argamassas de epóxi

devido às grandes variações de seus desvios padrões. Por fim, ressalta-se que as

argamassas de resina poliéster e epóxi possuem módulos de elasticidade maiores do que

as argamassas de poliuretano natural.

Argamassas

Energia de

fratura – Gf

(N/m)

Tenacidade à

fratura – Kic

(MPa)

Módulo de

elasticidade - E

(MPa)

Poliéster 12% 153.37 ± 11.94 1.17 ± 0.22 8.81 ± 0.23

Poliéster 12% mais

reforço de 1% de

piaçava

254.66 ± 10.03 1.43 ± 0.14 9.27 ± 0.11

Poliéster 12% mais

reforço de 2% de

piaçava

212.26 ± 13.33 1.24 ± 0.12 8.94 ± 0.15

Epóxi 12% 367.91 ± 30.23 1.98 ± 0.04 9.81 ± 0.59

Epóxi 12% mais

reforço de 1% de

piaçava

492.81 ± 27.73

2.33 ± 0.18 11.41 ± 0.37

Epóxi 12% mais

reforço de 2% de

piaçava

538.91 ± 15.43 2,08 ± 0.11 10.24 ± 0.66

Page 76: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

64

CAPÍTULO 5

5 Conclusão

As argamassas de poliuretano provinda do óleo de mamona mostraram-se

eficazes dependendo de sua aplicação. Ao comparar a mecânica da fratura da argamassa

de poliuretano com a argamassa de poliéster, a primeira mostrou-se mais tenaz, com

maior capacidade de absorção de energia antes da fratura, porém com um módulo de

elasticidade menor. Ao comparar os resultados obtidos da argamassa poliuretana com a

argamassa de resina epóxi, a primeira apresentou uma maior capacidade de absorção de

energia antes da fratura, contudo a tenacidade à fratura da resina epóxi tende a ser

levemente superior. Além disso, o módulo de elasticidade da argamassa poliuretana é

menor do que o da argamassa epóxi e poliéster.

Tais resultados mostraram que a argamassa de poliuretano natural pode ser

competitiva no mercado, visto que são compatíveis com outras resinas sintéticas já

utilizadas na indústria. Cabe ao engenheiro determinar o tipo de resina a se utilizar bem

como a porcentagem de seus constituintes, visto que tais variáveis influenciam muito nas

propriedades mecânicas do compósito. Baseado na comparação dos resultados obtidos

nesta pesquisa com os resultados de pesquisas anteriores refentes às argamassas de

resinas sintéticas, nota-se que a argamassa de poliuretano pode ser utilizada nas mesmas

aplicações das argamassas de resinas sintéticas. Tais aplicações incluem o uso para pisos

de maquinários pesados, revestimentos de estruturas de concreto danificados e retoques

de tubulações subterrâneas. Contudo, o grande tempo de cura da resina poliuretana bem

como a alta temperatura em que o processo é realizado pode restringir o uso da

argamassa poliuretana em aplicações em que se é exigido um grande volume de material,

como por exemplo aplicações estruturais.

A adição de 1% de reforço de piaçava mostrou-se eficaz no aumento das

propriedades de fratura dos compósitos naturais. Os resultados obtidos mostram que a

adição de 1% de piaçava aumenta a tenacidade à fratura e o módulo de elasticidade do

material. Contudo, a energia de fratura, a resistência à compressão e a resistência à

flexão tiveram, no geral, uma ligeira queda em seus valores. É importante ressaltar que

tal comportamento já era esperado, visto que nos estudos realizados por outros autores, a

resistência à compressão e a resistência à flexão dos compósitos reforçados com piaçava

permaneceram praticamente os mesmos, ao passo que a mecânica da fratura melhorou.

Contudo, com a adição de 2% de reforço de piaçava, todas as propriedades mecânicas

começam a decair em comparação com os compósitos com apenas 1% de reforço.

Portanto, essa pesquisa apresentou uma boa alternativa para argamassas

poliméricas, visto que as argamassas poliuretanas provindas do óleo de mamona têm

praticamente o mesmo comportamento mecânico das argamassas de resina sintética.

Além disso, as argamassas de resinas naturais possuem a vantagem de serem

desenvolvidas a partir de fontes renováveis.

Page 77: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

65

Para trabalhos futuros sugere-se o estudo mais aprofundado das argamassas

poliméricas naturais, comparando não somente as propriedades mecânicas com as

argamassas poliméricas sintéticas, mas também propriedades térmicas, taxa de

degradação, o custo envolvido na fabricação e análise de ciclo de vida para posterior

reciclagem do material. Além disso, um estudo abrangente sobre a viabilidade

econômica dessas argamassas faz-se necessário. Recomenda-se também analisar mais

reforços de fibras vegetais, visto que nessa pesquisa utilizou-se somente a piaçava. Além

disso, recomenda-se analisar também a degradação das fibras de piaçava dentro do

compósito e os efeitos que isso pode causar nas propriedades mecânicas do material.

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72

7 Anexo:

Artigo Publicado

Page 85: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS

Mechanical behavior of piassava fiber reinforced castor oil polymermortars

J.M.L. Reis ⇑, E.P. MottaTheoretical and Applied Mechanics Laboratory – LMTA, Mechanical Engineering Post Graduate Program – PGMEC, Universidade Federal Fluminense – UFF, Rua Passo da Pátria,156 Bl. E sala 216, Niterói, RJ, Brazil

a r t i c l e i n f o

Article history:Available online 31 January 2014

Keywords:Natural fiberNatural polymerPolymer mortarsMechanical properties

a b s t r a c t

From the past decades, growing global awareness concerning natural resources and recycling hasresulted in the interest on biocomposites. Natural fibers embedding on natural polymers constitute anexcellent alternative for the development of biocomposites. The aim of this work is to evaluate the useof natural fibers, piassava (Attalea Funifera Mart) scraps from broom industry, as reinforcement of naturalpolymer based mortars. The biopolymer matrix is manufactured from castor oil obtained by expressingthe seed of the plant Ricinus Communis. Mechanical properties of castor oil polymer mortars reinforcedwith 1 and 2 wt%. of piassava fibers lees are analyzed with particular regards to compressive, flexuraland fracture properties. The results showed that castor oil polymer mortars reinforced with piassava fiberlees produces similar properties to epoxy based polymers mortars therefore, proving that it is an excel-lent biocomposite alternative.

� 2014 Elsevier Ltd. All rights reserved.

1. Introduction

Sustainable material is a concept connected to the growing glo-bal awareness raised from the scarcity of natural resources and en-ergy, solid waste generation and greenhouse gas emission. Thediscussion about the preservation of natural resources andrecycling has increase the interest concerning biomaterials withthe focus on renewable raw materials. Biocomposites consist ofbiodegradable polymer as matrix material and usually biofiber asreinforcing element [1]. Since both components are biodegradable,the composite as the integral part is also expected to be biodegrad-able. By embedding natural reinforcing fibers, e.g. flax, hemp,ramie, etc. into biopolymeric matrix made of derivatives fromcellulose, starch, lactic acid, etc.; new fiber reinforced materialscalled biocomposites were created and are still being developed[2].

Natural fibers have the advantages of locally available renew-able resources, low cost, lightweight, possibility of environmentalprotection and good mechanical properties compared with tradi-tional reinforcement material such as glass fiber [3–8]. Natural fi-bers offer reduced dependence on non-renewable energy/materialsources, induce lower pollutant and lower greenhouse gasemissions, enhance energy recovery and produces biodegradable

components after use [9–14]. Piassava is a lignocellulosic fiber ex-tracted from the leaves of palm tree native from the south of thestate of Bahia, Brazil [15]. The main use of the piassava fibers isin the production of industrial and domestic brooms, brushesand kiosk coverings. However, it is estimated that 20% of thosefibers are eliminated during the industrial process, being burnt inmost of the time [16,17].

The fiber content (around 48%) is the highest among the ligno-cellulosic fibers [18,19] compared to other lignocellulosic materi-als, and the ash level (0.8%) is low [20]. Studies with piassava(Attalea Funifera Mart) fiber showed that it can be used to reinforcepolymer matrix composites [16–19,21,22]. It was reported thatcomposites of epoxy and unsaturated polyester polymer mortarsreinforced with piassava fiber showed an improvement of mechan-ical performance due to the increase of fiber polymer matrixinterface adhesion [21,22]. Polymer mortar (PM) is a cementlesscomposite, made of inorganic aggregates bonded together by a bin-der resin, in this case castor oil polyurethane resin, which substi-tutes the cement. The composition of PM is determined by itsapplications, and its strength is influenced by the ratio of aggregateto resin content [23–25]. In this work, to characterize the biocom-posite, a natural resin, manufactured from a plant oil, is used aspolymer mortar matrix. Castor oil is obtained from extracting orexpressing the seed of a plant, which has the botanical nameRicinus communis [26]. Chemistries can synthesize polyols andprepolymers having different characteristics originating from the

http://dx.doi.org/10.1016/j.compstruct.2014.01.0230263-8223/� 2014 Elsevier Ltd. All rights reserved.

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castor-oil plant which, when mixed, produces a polyurethane [27].Castor-oil-based polyurethane is competitive in comparison toother polymers because, in addition to its main mechanical proper-ties, it derives from a low-cost natural and renewable raw material.Furthermore, it is flexible, rigid, and possesses molecular inter-chains and intercross strength conferred by the balancing of thechemical characteristics of the polyol in combination with the pre-polymer [28].

The proposal of this work is to study the mechanical properties,compressive, flexural and fracture, of piassava fiber reinforcedpolymer mortars manufactured with a polyurethane resin derivedfrom castor oil and compare to synthetic polymer mortars. The fab-rication process development and the mechanical characterizationof this new biocomposite are essential for its structural or func-tional application, presenting a great potential in the constructionindustry.

2. Materials and methods

2.1. Materials

To manufacture piassava fiber castor oil polymer mortars spec-imens, piassava fiber lees, foundry sand and castor oil polymer re-sin were mixed. Piassava fibers were obtained from the broomindustry of northeast state of Bahia and have been described asharder than others lignocellulosic fibers. The main application ofpiassava fibers is to produce brooms but a significant amount ofresidue is produced and cannot be used. Normally it is disposedin landfills and is called lees [17].

The piassava lees were shredded and used as partial replace-ment of natural aggregate. The ratio used in these mixtures was1% and 2% in weight, substituting aggregates in the mixture. Thisamount of piassava fibers was chosen according to previous study[21]. Large amount of natural replacing fibers, more than 2%, do notreinforce polymer mortars. It only contributes to increase porosityand decrease the mechanical properties.

Lees were washed and vacuum dried for 24 h in order to elim-inate the impurities and humidity. The density of piassava lees wasdetermined using a pycnometer, and it was found 1.10 g/ml.

The aggregate was foundry sand with a homogeneous grainsize, with uniform grains and a mean diameter of 300 lm, with fi-nesses modulus between 3 and 5. The aggregate content was 88%in weight. The specific gravity of the foundry sand was 2.63 g/cm3. Before being added to the polymeric resins to reduce moisturecontent, the foundry sand was dried, insuring a good bond betweenpolymer and inorganic aggregate.

The employed thermosetting castor oil polyurethane resin wasdeveloped by the Group of Analytic Chemistry and Technology ofPolymers, USP, São Carlos, Brazil and was manufactured and pro-vided by Plural Brazil. Resin content was 12% in weight and no fil-ler was added. Table 1 presents the castor oil polyurethane resinproperties [29,30].

The castor oil polyurethane resin consists of two components,polyol and pre-polymer. The polyol was synthesized from the

castor oil and a tri-functional polyester with hydroxyl index of330 mg KOH/g was obtained. The pre-polymer was synthesizedfrom diphenylmethane diisocyanate (MDI) and pre-polymerizedwith a polyol also derived from castor oil, keeping a percentageof isocyanate free for posterior reaction. The approximate densitiesof the pre-polymer and polyol were 1.17 and 0.98 g/cm3, respec-tively. The castor oil resin was processed mixing the procepolyoland pre-polymer in a weight ratio of 1:1.

Piassava fiber reinforced castor oil polymer mortars compres-sion, flexural ad fracture specimens were compacted in a steelmold. The specimens were cured at 110 �C during 3 h.

2.2. Methods

Prismatic polymer mortar beams 40 mm � 40 mm � 160 mmwere tested by three-point bending up to failure at a loading rateof 1 mm min�1, with a span length of 100 mm, according to the RI-LEM specification TC113/PCM-8 [31]. Despite the very short spancompared to the thickness, shear effect was disregarded. Polymermortar is considered an isotropic material and the plane cross-section theory was assumed. To determine the compressive prop-erties, the two leftover parts of each broken specimen in bendingwere tested at the loading rate of 1.25 mm min�1, following theprocedure described in UNE 83821:1992 standard [32]. Appliedtest operating methods in flexure and compression were similarto those specified in EN 196-1:2005 [33].

To determine the fracture properties, the Two ParameterMethod (TPM) [34] was used. This method is a direct method to cal-culate critical stress intensity factor, KIc, which is a measurement ofa material’s resistance to crack extension when the stress state nearthe crack tip is predominantly plane strain, limiting the plasticdeformation, and the opening mode monotonic load is applied. Alsothe fracture energy was calculated according to RILEM [35]. Frac-ture tests specimens had 30 mm � 60 mm � 240 mm and wereconducted using a universal testing machine with a cross-headspeed of 0.5 mm min�1. The crack mouth opening displacement(CMOD) was measured using a COD gauge clipped at the bottomof the beam and held in position by two 1.5 mm steel knife edgesglued at the specimen.

3. Results and discussion

Piassava fiber reinforced castor oil polymer mortars test resultsare presented in Table 2.

According to Table 2 it can be seen that, piassava fibers act asreinforcement to castor oil polymer mortars. In compression asmall decrease in strength, 2.1%, is calculated for 1% of piassava fi-ber content and an increase of 4.4% is reported for 2% of piassavafiber content. According to Ribeiro et al. [22] when piassava fiberswere used as reinforcement in polyester polymer mortars andtested in compression an increase in strength was observed,14.3% for 1% piassava fiber content and 10.5% when 2% of piassavafibers were used as aggregate replacement. Comparing to plaincastor oil polymer mortar to epoxy ones from previous work [29]a slight decrease, 2.2%, is observed and an increase of 55.2% whencompared to unsaturated polyester PM.

When piassava fiber reinforced castor oil polymer mortars aretested in flexion it is observed that the flexural strength decreasefor both piassava fiber content. For 1% of piassava fiber content adecrease of 12.7% in the flexural strength is reported and when2% of piassava fiber is analyzed, a diminish of 9.6% is observed.Again, similar behavior to synthetic polymer mortars is reported.An insignificant improve, 0.8%, in the flexural strength was calcu-lated by Ribeiro et al. [22] when 1% of piassava fibers were usedin polyester polymer mortars, and a decrease of 3.5% in the flexural

Table 1Castor oil polyurethane resin properties.

Property Castor oil polyurethane

Color Dark yellowDensity (g/cm3) 1.1Hardness shore D 70Modulus of elasticity (GPa) 2.0Glass transition temperature – Tg (�C) 60

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strength was also reported for 2% of piassava fiber content. As ob-served in synthetic polymer mortars, piassava fibers do not rein-force castor oil polymer mortars in flexion. Comparing plaincastor oil polymer mortars to plain epoxy and unsaturated polyes-ter PM [36] higher flexural strength is calculated. Relating to epoxyPM, castor oil PM has 39.1% higher flexural strength, while forunsaturated polyester polymer mortars, castor oil PM has182.7%higher flexural strength.

Analyzing the fracture parameters in Table 2, it can be seen thatpiassava fibers increase fracture toughness but do not improve theability to retain energy as crack propagates.

Calculating the stress intensity factor, KIc, 1% of piassava fiberimproves 19.5% and 2% of piassava fiber produces 7.2% higher frac-ture toughness when compared to plain castor oil polymer mor-tars. From previous research work [21,37,38] it was concludedthat small quantities, 1% and 2%, of natural and recycled polymerfibers improve fracture toughness of epoxy and unsaturated poly-ester polymer mortars and higher amounts of fiber, 5 up to 20%, donot reinforce the matrix making it less tough, justifying piassava fi-ber quantities as castor oil polymer mortars reinforcement used inthis paper. Comparing plain castor oil polymer mortars with epoxyones [37] a slight decrease in the fracture toughness is calculated,

Table 2Piassava fiber reinforced castor oil polymer mortars test results.

Specimens Compressive strength (MPa) Flexural strength (MPa) KIc (MPa) Gf (N m)

Plain castor oil PM 37.86 ± 0.75 22.11 ± 2.26 1.95 ± 0.20 1262.61 ± 89.021% Piassava reinforcement 37.06 ± 0.10 19.30 ± 0.39 2.33 ± 0.04 891.97 ± 25.122% Piassava reinforcement 39.52 ± 0.89 19.98 ± 1.66 2.09 ± 0.02 780.60 ± 3.41

Fig. 1. Typical compressive stress vs. strain of piassava fiber reinforced castor oil polymer mortars.

Fig. 2. Typical flexural stress vs. strain of piassava fiber reinforced castor oil polymer mortars.

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although 1.5% and 66.7% improvement is reported when it is com-pared to unsaturated polyester polymer mortars. The improvementobserved in the fracture toughness is not reflected in the fractureenergy. As piassava fiber content increase in the castor oil polymermortars, the fracture energy decreases. For 1% of piassava fiber adiminish of 29.7% is reported and 38.2% decrease is calculated forfracture energy when compared to unreinforced castor oil polymermortars.

Fig. 1 presents the typical compressive stress vs. strain of pias-sava fiber reinforced castor oil polymer mortars.

According to Fig. 1 it can be seen a slight increase in the maxi-mum compressive strength, also piassava fiber contributes to a lessbrittle post peak stress behavior compared to epoxy and polyesterpolymer mortars [36]. Also, compressive stiffness of piassava fiberreinforced polymer mortars are similar to unreinforced ones.

Fig. 2 displays the typical flexural stress vs. strain of piassava fi-ber reinforced castor oil polymer mortars.

Analyzing Fig. 2 it can be seen that piassava fiber reinforced cas-tor oil polymer mortars have lower flexural stiffness when com-pared to plain castor oil polymer mortars. Also, plain castor oilpolymer mortars have higher flexural stress then the piassava fiberreinforced ones. A typical load vs. CMOD curves of castor oil andsynthetic polymer mortars are presented in Fig. 3.

From Fig. 3, when fracture mechanics parameters are analyzed,it can be seen that 1% piassava fiber reinforced castor oil polymermortars display similar stiffness compared to 2% piassava fiberreinforced castor oil polymer mortars, and higher than plain castoroil polymer mortars. Despite higher peak load and therefore higherfracture toughness, it was expected a less brittle behavior whenpiassava fibers were introduced in the castor oil matrix due to fiberbridging, but this was not observed. Unreinforced castor oil poly-mer mortars displayed a softer failure. This also can be explaineddue to the castor oil polymer structure similar to synthetic poly-urethane. Plain polyurethane has high elongation at break, and

Fig. 3. Typical load vs. CMOD of piassava fiber reinforced castor oil polymer mortars.

Fig. 4. Typical load vs. mid-span displacement curves of piassava fiber reinforced castor oil polymer mortars.

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when fibers are added to the matrix it produces brittleness [30].The typical load vs. mid-span displacement curves of piassava fiberreinforced castor oil polymer mortars are presented in Fig. 4.

Analyzing Fig. 4, unreinforced castor oil polymer mortars dis-played higher absorbed energy, since the work of fracture andthe area under the load vs. mid-span displacement is higher thanpiassava fiber reinforced castor oil polymer mortars. Thus, theresistance was elevated to create a fracture surface area. Also, lessbrittle behavior can be reported for plain castor oil polymer mor-tars. This can be explained by the higher elongation at break [30]from castor oil polyurethane resins compared to synthetic ones.

4. Conclusions

In this research work, the effect of using piassava fiber as rein-forcement in natural polymer resin produced from castor oil seedsas substitute of synthetic polymer resins, epoxy and polyester inpolymer mortars matrix was analyzed. The compressive, flexuraland fracture behavior were calculated and quantified.

Small quantities of piassava fibers, 2%, reinforce castor oil poly-mer mortars in compression. No reinforcement was observed aspiassava fibers were used in castor oil polymer mortars and thentested in flexion. In fact, a decrease in the flexural strength wasobserved. Analyzing the resistance to crack propagation, piassavafibers display an important role, significantly improving fracturetoughness and stiffness, especially 1% of piassava fiber content.However, piassava fiber contributes to a brittle failure. When therupture occurs, the crack of the piassava fiber reinforced PM prop-agates faster than the unreinforced castor oil polymer mortars.Comparing to synthetic polymer matrix mortars, castor oil polymermortars produces similar behavior compared to epoxy polymermortars, furthermore castor oil polymer mortars has propertiessignificant higher when compared to unsaturated polyester PM.Using natural fiber from renewable resources and substituting syn-thetic polymer resins by natural resin produces a composite mate-rial that brings economical and energy saving benefits from anecological point of view.

Acknowledgements

The authors thank the Research Foundation of the State of Riode Janeiro (FAPERJ), the Brazilian National Council for Scientificand Technological Development (CNPq) and the Coordination forthe Improvement of Higher Education Personnel (CAPES) for sup-porting part of the work presented here. Also, authors would liketo thank Plural Indústria e Comércio de Produtos Químicos Ltdafor providing the castor oil polyurethane resin.

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