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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.15, n.2, p.167-172, 2013 167 ISSN 1517-8595
CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE GELEIAS DE GOIABA
PREPARADAS COM AÇÚCAR MASCAVO
Luis Guilherme Virgílio Fernandes
1, Cleiton Marcio Pinto Braga
2, Shizuko Kajishima
3,
Marta Helena Fillet Spoto4, Maria Teresa Mendes Ribeiro Borges
5, Marta Regina
Verruma-Bernardi6*
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo avaliar as características físico-químicas, cor instrumental
e sensorial de geleias de goiaba produzidas com açúcar mascavo, cristal e uma marca comercial.
As geleias foram analisadas quanto à umidade, matéria seca, pH, acidez, minerais, sólidos
solúveis, açúcares totais, redutores e não redutores e cor instrumental. O teste de ordenação das
amostras incluiu os parâmetros de cor, doçura e maciez e preferência. Os resultados físico-
químicos mostraram que as geleias apresentam diferenças significativas, sendo que geleia
comercial apresentou os maiores valores de açúcares redutores, matéria seca, sólidos solúveis e
acidez. A composição diferenciada dos açúcares componentes das geleias afetou todos os
parâmetros físico-químicos avaliados, exceto sólidos solúveis totais. A análise sensorial
mostrou que a cor e doçura foram atributos que influenciaram na preferência das geleias, sendo
que a geleia elaborada com 100% de açúcar mascavo foi a amostra mais escura, menos doce e
com menor preferência e a comercial, com cor vermelha mais clara, maior doçura e maior
preferência.
Palavras-chave: Psidiumguajava L., geleia, açúcares, preferência, sensorial, físico-química.
PHYSICOCHEMICAL AND SENSORY CHARACTERIZATION IN GUAVA JELLIES
PREPARED WITH BROWN SUGAR
ABSTRACT
This work aimed to evaluate the physicochemical parameters, instrumental and sensorial color
among guava jellies produced with different proportions of brown and white sugar, and a
commercial one. Jellies were evaluated according with moisture, dry matter, pH, acidity,
minerals, soluble solids, total, reducer and non-reducer sugar. The ordering test included color,
sweetness, softness and preference. The physicochemical results showed that jellies have
significant differences, once the commercial jelly presented the higher values of reducer sugar,
dry matter, soluble solids and acidity. The differential composition of the component sugar of
jelly affected all physicochemical parameters, except total soluble solids. The sensory analysis
showed that the color and sweetness were attributes that influence the preference of the jellies,
and those made with 100% brown sugar were darker, less sweet and less preferable, and the
commercial one was red clearer and displayed greater sweetness and preference.
Keywords: Psidium guajava L., jam, sugars, sensory preference, physical chemistry.
Protocolo 14-2010-25 de 30/07/2012 1 Curso de Bacharelado em Biotecnologia. Centro de Ciências Agrárias / UFSCar. [email protected] 2 Curso de Bacharelado em Biotecnologia. Centro de Ciências Agrárias / UFSCar. [email protected] 3 Departamento de Nutrição e Dietética / Universidade Federal Fluminense. [email protected]. 4 Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.
[email protected] 5 Centro de Ciências Agrárias / UFSCar. [email protected] 6 Centro de Ciências Agrárias / UFSCar. Via Anhanguera, Km 174 – C.P. 153, 13600-970. Araras/SP, Brasil.
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INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos três maiores
produtores mundiais de goiaba (Azzolini, 2004)
e grande parte da produção de goiaba é voltada
para a fabricação de doces em massas, geleias,
xaropes e sorvetes.
A formulação comum para geleia de
goiaba apresenta 40% de polpa e 60% de
açúcar, sendo essa mistura é aquecida em tacho
até a concentração atingir por volta de 65% em
sólidos solúveis (ºBrix) e acondicionada a
quente (80ºC) em recipientes, que após serem
hermeticamente fechados, são resfriados sob
chuveiro de água ou ao ar livre. A fim de
melhorar a textura, pode-se adicionar pectina
até 1% em peso, em relação ao produto final
(Lima, 1998).
De acordo com Jackix (1988), o açúcar é
o componente essencial à fabricação desses
produtos, sendo normalmente utilizada a
sacarose na forma de cristal branco refinado.
Vettorazzi&Mcdonald (1989) descrevem que na
obtenção do açúcar branco, especialmente
durante as etapas de extração e refino, são
acrescentados alguns aditivos que permanecem,
pelos menos em parte, nos produtos aos quais
são adicionados.
As geleias, em geral, devem apresentar
conteúdo de sólidos solúveis (ºBrix) em torno
de 65%(Albuquerque, 1997), pH entre 3 e 4 e
acidez entre 0,3 e 0,8%(Azzolini, 2004). Sabe-
se que os produtos conservados à base de
açúcar branco têm vida de prateleira de, no
mínimo, um ano(SENAI, 1990). No entanto,
em função das características diferenciadas do
açúcar mascavo, especialmente por seu maior
teor de nutrientes e de umidade, e menor teor de
glicídios, não se pode afirmar que os produtos
elaborados com esse açúcar apresentem o
mesmo comportamento.
Comparativamente, o açúcar mascavo
difere do açúcar branco, principalmente, pela
sua coloração escura e pelo menor percentual
de sacarose (Rodrigues et al., 1998). O valor
energético por porção do açúcar mascavo é
inferior ao do refinado, porém com valores de
minerais bem superiores, como é o caso do
potássio, magnésio, ferro e cálcio. O açúcar
mascavo batido apresenta uma composição
final, quanto aos sais minerais e componentes
orgânicos, bastante próxima do caldo da cana-
de-açúcar (Lopes & Borges, 1998).
O uso do açúcar mascavo em geleias é
uma forma de agregação de valor, uma vez que
a produção de geleia em si é uma alternativa
interessante para um produtor agrícola, pois a
goiaba processada na forma de geleia apresenta
um melhor preço para o produtor (Jorge, 2002).
Desta forma, este trabalho teve como
objetivo avaliar as características físico-
químicas, cor instrumental e sensorial de
geleias de goiaba produzidas com açúcar
mascavo e cristal.
MATERIAL E MÉTODOS
Elaboração das geleias
Para elaboração do doce de goiaba foi
utilizada goiaba in natura (Psidium guajava L).
Foram elaboradas três geleias com 50% de fruta
e três concentrações de açúcar: (A) 50% açúcar
cristal / 50% açúcar mascavo, (B) 100% açúcar
cristal, (C) 100% açúcar mascavo, sendo
também utilizada uma geleia comercial sabor
goiaba (D), que se caracteriza por uma das mais
vendidas no mercado nacional. A mesma foi
obtida em hipermercado.
Para o processamento das geleias, as
goiabas foram lavadas e higienizadas,
descascadas e suas sementes removidas,
utilizando-se somente a polpa, da qual foi
pesada e liquidificada até obter uma
consistência homogênea.
A cocção foi realizada a uma temperatura
em torno de 90ºC, sendo o produto
ininterruptamente agitado por um tempo médio
de 40 minutos. As geleias foram envasadas à
temperatura ambiente em recipientes de vidros
e armazenadas em escuro para realização das
análises.
Análises físico-químicas
As análises físico-químicas realizadas
nas geleias foram: umidade, matéria seca, pH,
acidez, sólidos solúveis, minerais (ferro, cálcio,
magnésio) (Normas Analíticas do Instituto
Adolfo Lutz, 1985). As analises de Brix,
açúcares totais, redutores e não redutores de
acordo com a metodologia descrita pela
International Commission for Uniform
Methodsof Sugar Analysis (ICUMSA, 2004).
As análises foram realizadas no
Laboratório de Análises e Simulação
Tecnológica (LAST) do Departamento de
Tecnologia Agroindustrial e Sócio-Economia
Rural do Centro de Ciências Agrárias da
UFSCar, em triplicata.
Análises de cor instrumental e cor ICUMSA
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A análise instrumental de cor foi
realizada por reflectância no S&M Colour
Computer modelo SM - 4 - CH da Suga, no
sistema Hunter com abertura de 30 mm de
diâmetro. Os parâmetros de cor medidos em
relação à placa branca (L = 90,21; a = –2,32; b
= 1,37) foram: L = luminosidade (0 = preto e
100 = branco); a (–80 até zero = verde, do zero
ao +100 = vermelho); e b (–100 até zero = azul,
do zero ao +70 = amarelo). Foram realizadas
três repetições dispostas em placa de Petri com
5 cm de diâmetro e 2 cm de altura, onde foram
colocadas as amostras de geleia.
A cor ICUMSA foi determinada de
acordo com a metodologia descrita pela
International Commission for Uniform Methods
of Sugar Analysis (ICUMSA, 2004).
Análise sensorial
O projeto foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Seres Humanos-UFSCar, sob número
CAAE- 0051.0.135.000-08.
Os testes sensoriais foram realizados no
Laboratório de Análise Sensorial do Centro de
Ciências Agrárias da UFSCar em cabines
individuais visando manter o isolamento de
cada provador, em triplicata. Os provadores
utilizaram água mineral para lavar o palato
entre uma amostra e outra. As amostras não
foram diluídas e os provadores ingeriam as
amostras. Foram utilizados 30 provadores,
todos consumidores de doces em geral, não
treinados, mas que apresentaram interesse e
disponibilidade para realização dos testes.
Foram realizados os testes de ordenação
quanto a cor, doçura, maciez e preferência. Os
provadores realizaram o teste de ordenação de
cor (1=mais clara e 4=mais escura), de doçura
(1=menos doce e 4=mais doce), de maciez (1=
menos macia e 4=mais macia) e preferência
(1=menos gostou e 4=mais gostou), de acordo
com ABNT (1994). Cerca de 20g de cada geleia
foram colocados em pratos plásticos
codificados com números de três dígitos e
servidos aos participantes e foi solicitado que
ordenasse as amostras em ordem crescente
quanto aos tributos descritos na ficha.
Análise estatística
Os dados obtidos nas análises foram
analisados através da análise de variância
(ANOVA) utilizando o programa estatístico
SAS (1989) e, tendo sido detectadas diferenças
significativas entre as médias (p0,05), as
mesmas foram verificadas pelo teste de
Tukey.A análise estatística dos dados obtidos
nos testes de ordenação foi feito pelo teste de
Friedman utilizando a tabela de Newell e
MacFarlane (citada pela ABNT, 1994) para
verificar se há ou não diferença significativa
entre amostras. Se a diferença entre as somas
das ordens for maior ou igual ao valor tabelado,
conclui-se que existe diferença significativa
entre as amostras ao nível de significância
correspondente. Neste estudo a diferença crítica
entre as somatórias (4 amostras e 30
provadores) deve ser 26 (ABNT, 1994).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análises físico-químicas
Para as análises físico-químicas, os
resultados estão descritos na Tabela 1.
As amostras de geleias apresentaram
diferenças significativas (p≤0,05) para todos os
parâmetros, exceto em sólidos solúveis (Brix),
as quais refletem unicamente as peculiaridades
presentes no açúcar cristal e mascavo, uma vez
que foram utilizadas as mesmas matérias-
primas e condições de preparo para os
tratamentos.
O teor de açúcares redutores se mostrou
bastante discrepante entre as geleias, sendo
eminente na amostra comercial, a qual
apresentou uma média igual a 49,37%. Dentre
as geleias processadas, aquela com apenas
açúcar cristal apresentou os valores mais
expressivos de açúcares redutores, ou seja,
22,85g, em contraponto às geleias que contêm
açúcar mascavo, cujo teor de açúcares redutores
decai à medida que se aumenta a quantidade de
açúcar mascavo utilizado.
Os resultados dos testes de açúcares
redutores totais se apresentaram bastante
significativos. A maior quantidade destes
açúcares foi notada na geleia preparada
unicamente com açúcar cristal, e a menor na
geleia preparada em proporções iguais de
mascavo e cristal. De acordo com Rodrigues et
al.(1998), comparativamente, o açúcar mascavo
difere do açúcar branco pelo menor percentual
de sacarose.
Os valores de pH foram diferentes entre
as quatro geleias, sendo mais baixo na geleia
comercial, devido aos diversos aditivos em sua
produção, visando a uma maior aceitação
comercial e maior tempo de prateleira, como
ácido tartárico, ácido ascórbico e ácido sórbico
(ANVISA, 2007).
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Tabela 1. Parâmetros físico-químicos entre as geleias de goiaba.
Geleias
A B C D
Açúcar redutor (% de glicose) 14,11c 22,85
b 13,51
c 49,37
a
ART (% de glicose e sacarose) 55,13d 63,24ª 56,21
c 57,45
b
pH 4,86b 4,54
c 5,25
a 3,54
d
Matéria Seca (%) 58,49d 63,12
b 61,23
c 66,67
a
Umidade (%) 41,46a 36,87
c 38,76
b 33,33
d
Brix (%) 59,94a 66,14
a 59,89
a 66,67
a
Acidez (% de ácido cítrico) 0,96c 1,15
b 0,96
c 1,34ª
Ferro (ppm) 17,00b NE 39,00
a NE
Cálcio (ppm) 12,00a NE 8,00
b NE
Magnésio (ppm) 16,00a NE 20,00
a NE
Médias seguidas de mesma letra na horizontal não diferem significativamente entre si, ao nível de
5% de probabilidade, pelo Teste de Tukey. NE- não encontrado.
A.geleia 50% açúcar cristal / 50% açúcar mascavo, B.geleia 100% açúcar cristal, C.geleia100%
açúcar mascavo, D.geleia comercial sabor goiaba.
Os valores vão ascendendo à medida que
se acrescenta açúcar mascavo nas geleias
preparadas, culminando no valor de 5,25 na
geleia C. Esse resultado corrobora avaliações
anteriores, assim como os resultados obtidos
por Mendonça et al. (2000), que usou três
diferentes concentrações de açúcar mascavo em
geleias de maçã, sendo que aquela com maior
taxa de mascavo (65%) apresentou maior pH.
Porém, a geleia C apresenta valores de pH bem
acima do recomendado.
A umidade das geleias foi bastante
diferenciada, porém não se pode definir uma
escala padrão de aumento de umidade, o que
seria esperado de acordo com estudo de Silva &
Parazzi (2003) sobre umidade de açúcar
mascavo, que diz que o teor de umidade do
açúcar mascavo em relação ao cristal ou
refinado é quatro vezes maior.
Os resultados de Brix não foram
estatisticamente diferentes, e bem próximos do
esperado, uma vez que as geleias, em geral,
devem apresentar conteúdo de sólidos solúveis
(ºBrix) em torno de 65% 5. Porém, de acordo
com legislação, em sua resolução CNNPA nº
12, de 1978, o mínimo estabelecido de sólidos
solúveis totais em geleia é de 62%(Brasil,
1978), o que não ocorre nas geleias A e C.
Assim, deve-se aumentar a quantidade de
mascavo na produção dessas geleias, ou
acrescentar uma determinada porção de açúcar
cristal, para elevação do Brix..
Para o teste de acidez, as geleias A e C
foram estatisticamente iguais, enquanto que a
geleia comercial foi a que apresentou a maior
acidez, igual a 1,34% de ácido cítrico. Os
valores de acidez estão um pouco acima do
recomendado, mas isso é pertinente em virtude
da matéria-prima utilizada, no caso a goiaba.
Quanto aos minerais, o ferro se mostrou
presente apenas naquelas geleias constituídas de
alguma porção de mascavo, ou seja, A e C, o
que se mostra coerente, uma vez que o mascavo
também possui ferro em sua composição. O
cálcio e magnésio também apresentam a mesma
distribuição, ou seja, presentes apenas nas
geleias elaboradas com açúcar mascavo, devido
ao fato que o mascavo apresenta grandes
quantidades dos minerais em questão.
Para o magnésio, a geleia C se mostrou
com maior quantidade do mineral, 20ppm
seguido da A com 16ppm, uma vez que apenas
as geleias preparadas com açúcar mascavo
apresentaram teores de magnésio.
Análise de cor instrumental e cor ICUMSA
Os parâmetros de cor instrumental e
ICUMSA estão apresentados na Tabela 2.
Embora o Índice de Cor ICUMSA seja um teste
para açúcar, ele foi empregado para avaliação
das geleias. Assim, a ordem crescente de cor
(do claro para o escuro) foi: 1ogeleia comercial
(D), 2ogeleia B, 3
ogeleia A e por último a geleia
C, ou seja, aumentando-se a quantidade de
açúcar mascavo, ocorre um escurecimento da
geleia.
Ao se tratar de cor instrumental, quanto
menor o valor de LHunter (luminosidade: 0 =
preto e 100 = branco), mais escura é a amostra.
Assim, o menor valor de LHunter foi o da geleia
100% mascavo, e o maior o da geleia B. De
acordo com os resultados obtidos, verificou-se
que houve diferença significativa apenas entre a
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amostra B e as demais,. Comparando-se com
analise da cor ICUMSA a amostra com 100%
de açúcar mascavo (mais escura) foi a que
apresentou menor luminosidade.
Outras duas dimensões de cor também
foram mensuradas, a aHunter, que mede a
quantidade de verde quando seu valor é
negativo ou de vermelho quando positivo, e a
bHunter, que, por sua vez, mede a quantidade de
azul quando o valor é negativo ou de amarelo
quando positivo. Em relação ao parâmetro
bHunter, as amostras A e B se mostraram mais
amarelas que a C e a D, um resultado
contraditório, pois o esperado era que a C,
contendo mais mascavo, apresentasse o valor de
amarelo mais intenso. Haja vista que, como
demonstrado por Verruma-Bernardi et al.
(2007), os valores de bHunter para açúcares
mascavo variam de 12 a 21, aproximadamente.
Teste sensorial de ordenação
Os resultados da ordenação de atributos
foram apresentados na Tabela 3. Quanto à
ordenação de cor, todas as amostras foram
diferentes significativamente (p0,05). Quanto
a doçura a amostra com 100% de açúcar
mascavo foi significativamente menor que nas
amostras com 100% de açúcar cristal.
De acordo com Mori et al. (1998), a
goiabada ou doce em massa de goiaba deve ter
cor característica do produto, variando de
vermelho amarelado a vermelho amarronzado,
odor e sabor característicos lembrando a goiaba,
aparência gelatinosa e sólida, permitindo corte.
Deste modo, sugere-se que seja utilizada
uma fruta cuja geleia obtida não tenha sua cor
muito alterada pela presença do mascavo, já
que, como discutido, a cor é fundamental na
escolha de um produto.
Tabela 2. Resultados de cor ICUMSA e instrumental entre as geleias de goiaba.
Análise Parâmetro Geleias
A B C D
Índice cor
ICUMSA
43392,85 a 17785,75
b 50404,77
a 4714,50
c
Cor
instrumental
LHunter 22,14 b 28,46
a 20,51
b 21,07
b
aHunter 7,5867 a 10,2933
a 3,2300
b 2,4533
b
bHunter 6,7333 a 6,7333
a 3,5433
b 4,1967
b
Médias na mesma linha, seguidas de letras iguais, não diferem significativamente (p ≥ 0,05) pelo teste
de Tukey. A.geleia 50% açúcar cristal / 50% açúcar mascavo, B.geleia 100% açúcar cristal, C.geleia
100% açúcar mascavo, D.geleia comercial sabor goiaba.
Tabela 3. Resultados dos testes de ordenação entre as geleias de goiaba.
.Análise Atributo Geleias
A B C D
Teste de
ordenação
Cor 90 b 59
c 119
a 31
d
Doçura 73 ab
84 a 52
b 91
a
Textura/maciez 75 a 86
a 66
a 74
a
Preferência 72 ab
90 a 47
b 91
a
Valores seguidos de letras diferentes diferem estatisticamente pelo teste de Friedman. Diferença
mínima = 26. A. geleia 50% açúcar cristal / 50% açúcar mascavo, B.geleia 100% açúcar cristal,
C.geleia100% açúcar mascavo, D.geleia comercial sabor goiaba.
CONCLUSÃO
A composição diferenciada dos açúcares
componentes das geleias afetou todos os
parâmetros físico-químicos avaliados, exceto
sólidos solúveis totais. Tanto a geleia comercial
como a preparada somente com açúcar cristal,
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se mostraram destituídas dos minerais
analisados, ao passo que aquelas preparadas
com mascavo, em diferentes proporções,
apresentam teores significativos de minerais.
A análise sensorial mostrou que a cor e
doçura foram atributos que influenciaram na
preferência das geleias, sendo que a geleia
elaborada com 100% de açúcar mascavo foi a
amostra mais escura e menor doce e com menor
preferência e a comercial com cor vermelha
mais clara e maior doçura e maior preferência.
Sugerem-se para outros estudos
diferentes formulações para melhorar a doçura
desta geleia, bem como elaboração de geleias
utilizando açúcar mascavo com outras
variedades de frutas,
pois provavelmente a cor da goiaba em união
com açúcar mascavo intensificou a cor
vermelha.
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