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CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE NEOSSOLOS FLÚVICOS DO PERÍMETRO IRRIGADO DE CUSTÓDIA-PE. Jefferson Luiz de Aguiar Paes 1 , Hudson Elânio Rosas de Carvalho 1 , Nubia Meirelly Lopes da silva 1 , Juliana Corina dos Santos Oliveira 1 ,Taciana Oliveira dos Santos 2 e Maria de Fatima Cavalcanti Barros 3 ________________ 1. Primeiro Autor é Aluno do curso de Agronomia,Universidade Federal do Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 2. Segundo Autor é Aluno da Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. 3. Terceiro Autor é Professor Associado do Departamento de Agronomia,Universidade Federal do Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. Apoio financeiro: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/UFRPE. Introdução Solos afetados por sais, são solos que contém sais solúveis e / ou sódio trocável em concentrações capazes de interferir ou mesmo impedir o desenvolvimento vegetal, Barros et al. [1]. Os sais em excesso prejudicam o crescimento vegetal tanto pelo efeito direto sobre o potencial osmótico da solução do solo como pela presença de íons potencialmente tóxicos presentes em elevada concentração, enquanto que, altos teores de sódio trocável resultam na dispersão de argilas e degradação da estrutura. Estes fenômenos reduzem a permeabilidade do solo à água e ao ar, Barros [2]. Podem-se utilizar vários componentes para correção de solos sódicos ou salino-sódicos como, por exemplo: gesso, enxofre, calcário, sulfato de alumínio, cloreto de cálcio, ácido sulfúrico. Na escolha do corretivo a ser utilizado deve-se levar em conta alguns fatores, como: propriedades físicas e químicas do solo; tempo previsto para o processo de correção; quantidade de água para a lixiviação; capacidade de drenagem do solo; os custos do corretivo. O gesso é a fonte de cálcio mais empregada na correção de sodicidade do solo, porque além de ser encontrado facilmente no mercado, apresenta baixo custo e o calcário é recomendado para corrigir solos com pH < 7,5 e que não contenham carbonatos, como quase todos os solos agricultáveis no Brasil, Barros [3]. Para correção de solos salino sódicos e sódicos é necessária a substituição do sódio pelo cálcio no complexo sortivo, e que o produto desta reação seja retirado das zonas radiculares pela lixiviação Barros et al. [1]. Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo caracterizar física e quimicamente solos afetados por sais do Perímetro Irrigado de Custódia- PE. Material e métodos O presente trabalho foi conduzido nos laboratórios de Física e de Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. O solo utilizado foi coletado no Perímetro Irrigado de Custódia-PE, à profundidade de 0-40 cm. A caracterização dos solos foi realizada em amostras seca ao ar, destorroada e passada na peneira com abertura de 2mm de malha. Antes desse procedimento foram retirados torrões, para obtenção da densidade global. O extrato de saturação foi obtido segundo metodologia descrita por Richards [4]. No extrato da pasta saturada foram determinados a condutividade elétrica (CE), o cálcio e o magnésio por espectrofotometria de absorção atômica, o sódio e o potássio por fotometria de chama, o carbonato e o bicarbonato por titulação com H 2 SO 4 a 0,005 mol L -1 , o cloreto por titulação com AgNO 3 a 0,025 mol L -1 e o sulfato determinado por colorimetria. Utilizando os valores obtidos para cálcio, magnésio e sódio solúvel, quantificaram-se os valores para a relação de adsorção de sódio (RAS) pela seguinte expressão: RAS = (Na + )/ [(Ca 2+ + Mg 2+ )/2] 1/2 . Aplicando ainda a metodologia sugerida por Richards (1954), foram determinados: o pH dos solos na relação solo-água (1:2,5), a matéria orgânica, o equivalente de carbonato de cálcio por titulação e a capacidade de troca de cátions (CTC), pelo método de acetato de sódio. Os cátions trocáveis foram extraídos com uma solução de acetato de amônio 1 mol/l a pH 7,0. Após a extração, o sódio e o potássio foram determinados por fotometria de chama e o cálcio e magnésio, por espectrofotometria de absorção atômica. A percentagem de sódio trocável (PST) foi obtida a partir dos dados da CTC e do sódio trocável, pela expressão: PST = (Na + /CTC) x 100. Resultados e Discussão Os resultados das propriedades físicas das amostras de solos estão apresentados na tabela 1. A análise granulométrica revela a predominância das frações areia e silte em relação à fração argila, com valores de silte superiores em 75% das amostras. A densidade global e das partículas revelaram valores médios de 1,56 e 2,60 g cm -3 ,

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CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE NEOSSOLOS FLÚVICOS DO PERÍMETRO

IRRIGADO DE CUSTÓDIA-PE.Jefferson Luiz de Aguiar Paes1, Hudson Elânio Rosas de Carvalho1, Nubia Meirelly Lopes da silva1, Juliana

Corina dos Santos Oliveira1,Taciana Oliveira dos Santos2 e Maria de Fatima Cavalcanti Barros3

________________1. Primeiro Autor é Aluno do curso de Agronomia,Universidade Federal do Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected]. Segundo Autor é Aluno da Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. 3. Terceiro Autor é Professor Associado do Departamento de Agronomia,Universidade Federal do Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. Apoio financeiro: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/UFRPE.

Introdução

Solos afetados por sais, são solos que contém sais solúveis e / ou sódio trocável em concentrações capazes de interferir ou mesmo impedir o desenvolvimento vegetal, Barros et al. [1].

Os sais em excesso prejudicam o crescimento vegetal tanto pelo efeito direto sobre o potencial osmótico da solução do solo como pela presença de íons potencialmente tóxicos presentes em elevada concentração, enquanto que, altos teores de sódio trocável resultam na dispersão de argilas e degradação da estrutura. Estes fenômenos reduzem a permeabilidade do solo à água e ao ar, Barros [2].

Podem-se utilizar vários componentes para correção de solos sódicos ou salino-sódicos como, por exemplo: gesso, enxofre, calcário, sulfato de alumínio, cloreto de cálcio, ácido sulfúrico. Na escolha do corretivo a ser utilizado deve-se levar em conta alguns fatores, como: propriedades físicas e químicas do solo; tempo previsto para o processo de correção; quantidade de água para a lixiviação; capacidade de drenagem do solo; os custos do corretivo. O gesso é a fonte de cálcio mais empregada na correção de sodicidade do solo, porque além de ser encontrado facilmente no mercado, apresenta baixo custo e o calcário é recomendado para corrigir solos com pH < 7,5 e que não contenham carbonatos, como quase todos os solos agricultáveis no Brasil, Barros [3].

Para correção de solos salino sódicos e sódicos é necessária a substituição do sódio pelo cálcio no complexo sortivo, e que o produto desta reação seja retirado das zonas radiculares pela lixiviação Barros et al. [1].

Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo caracterizar física e quimicamente solos afetados por sais do Perímetro Irrigado de Custódia-PE.

Material e métodos

O presente trabalho foi conduzido nos laboratórios de Física e de Química da Universidade Federal Rural

de Pernambuco-UFRPE. O solo utilizado foi coletado no Perímetro Irrigado de Custódia-PE, à profundidade de 0-40 cm.

A caracterização dos solos foi realizada em amostras seca ao ar, destorroada e passada na peneira com abertura de 2mm de malha. Antes desse procedimento foram retirados torrões, para obtenção da densidade global.

O extrato de saturação foi obtido segundo metodologia descrita por Richards [4]. No extrato da pasta saturada foram determinados a condutividade elétrica (CE), o cálcio e o magnésio por espectrofotometria de absorção atômica, o sódio e o potássio por fotometria de chama, o carbonato e o bicarbonato por titulação com H2SO4 a 0,005 mol L-1, o cloreto por titulação com AgNO3 a 0,025 mol L-1 e o sulfato determinado por colorimetria.

Utilizando os valores obtidos para cálcio, magnésio e sódio solúvel, quantificaram-se os valores para a relação de adsorção de sódio (RAS) pela seguinte expressão:

RAS = (Na+)/ [(Ca 2+ + Mg 2+)/2]1/2 . Aplicando ainda a metodologia sugerida por Richards

(1954), foram determinados: o pH dos solos na relação solo-água (1:2,5), a matéria orgânica, o equivalente de carbonato de cálcio por titulação e a capacidade de troca decátions (CTC), pelo método de acetato de sódio. Os cátions trocáveis foram extraídos com uma solução de acetato de amônio 1 mol/l a pH 7,0. Após a extração, o sódio e o potássio foram determinados por fotometria de chama e o cálcio e magnésio, por espectrofotometria de absorção atômica. A percentagem de sódio trocável (PST) foi obtida a partir dos dados da CTC e do sódio trocável, pela expressão:PST = (Na+/CTC) x 100.

Resultados e Discussão

Os resultados das propriedades físicas das amostras de solos estão apresentados na tabela 1. A análise granulométrica revela a predominância das frações areia e silte em relação à fração argila, com valores de silte superiores em 75% das amostras. A densidade global e das partículas revelaram valores médios de 1,56 e 2,60 g cm-3,

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respectivamente e a porosidade variou entre 39 e 41%, demonstrando que os solos possuem tendência a problemas de permeabilidade. Este fato pode ser evidenciado pelos valores muito baixo encontrados para condutividade hidráulica, pode ser verificado também que de acordo com Ferreira [5] a condutividade hidráulica foi classificada como muitolenta para as amostras 01, 02 e 03 e nula para amostra 04.

Na tabela 2 os dados obtidos para condutividade elétrica (CE) do extrato de saturação das amostras de solos variou de 4,79 a17,20 dS m-1 a 25°C, estes valores foram menos elevados do que os encontrados por Barros & Magalhães [6]. De acordo com Richards [4] todas as amostras foram classificadas como salina (CE > 4,00 dS m-1). Para cátions e ânions solúveis, os íons predominantes foram o sódio e o cloreto, seguidos de cálcio, magnésio, potássio, sulfato e bicarbonato. Resultados semelhantes foram encontrados por Coelho & Ferreyra [7] estudando 149 perfis em uma área de 504 ha, localizados no município de Morada Nova-CE.

A capacidade de troca de cátions (CTC) dos solos variou de 9,31 a 15,62 cmolc dm-3. Esses valores são similares aos encontrados por Silveira [8] trabalhando com solos salino-sódicos de Pernambuco. Os solos apresentaram percentagem de sódio trocável (PST) na faixa de 24,58 a 84,23 cmolc dm-3, valores superiores ao parâmetro (PST > 15%) descrito por Richards [4]. Observa-se também que o pH variou de 6,90 a 7,58. O pH do solo é influenciado pela composição e natureza dos cátions trocáveis, composição dos sais solúveis, pela presença ou ausência de carbonato de cálcio e magnésio. Os dados deste estudo estão de acordo com Suhayda [9] trabalhando com solos salino-sódicos da china. (tabela 3).

Conclusão

Os Resultados permitem sugerir que a presença de sais solúveis pode limitar ou restringir o crescimento da maioria das plantas cultivadas e o sódio trocável em excesso, além de causar toxidez, promove a degradação da estrutura do solo, tornando-o impermeável ao ar, a água e a penetração de raízes.

Referências [1] BARROS, M. de F. C.; FONTES, M.P.F.; ALVAREZ V., V.H.;

RUIZ, H.A. 2005. Aplicação de gesso e calcário na recuperação de solos salino-sódicos do estado de Pernambuco. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.9, n.3, p. 320-326.

[2] BARROS, M. de F. C. Recuperação de solos salino-sódicos pelo uso de gesso e calcário. 2001. 118p. Tese de Doutorado, UFV.

[3] BARROS, M.de F. C.; MAGALHÃES, A. F. Avaliações de métodos de determinação da necessidade de gesso em solos salino-sódicos. Revista Brasileira de Ciência do solo, v.13: 119-123, 1989.

[4] RICHARDS, L.A. (1954) Diagnosis and improvement of saline and alkali soils. Washington: US Departamento f Agriculture,. USDA Agricultural Handbook 60. 160p.

[5] FERRIRA, P. A. Drenagem de terras agrícolas. Viçosa, UFV, 1999, P. 187.

[6] BARROS, M. F. C. ; MAGALHÃES, A. F. Avaliação de métodos de determinação da necessidade de gesso em solos salino-sódicos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 13: 119-123, 1989.

[7] COELHO, M. A.; FERREYRA, F. F. H. Characterization of salt-afffected soil in the semi-arid region of Northeastern Brazil. Turrialba, v. 36, n.2, p. 171-178, 1986.

[8] SILVEIRA, K. R. Influência da aplicação do gesso na água de irrigação sobre a salinidade, sodicidade e condutividade hidráulica de solos aluviais. Dissertação, Universidade Federal Rural Pernambuco. Recife, 2000, 73 p.

[9] SUHAYDA, C. G.; YIN, L.; REDMANN, R. E.; LI, J. Gypsum amendment improves native grass establishment on saline-alkali in north-east China. Soil Use and Management, Oxford, v. 13, p. 43-47, 1997.

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Tabela 1. Características físicas das amostras de solo Amostra Análise Granulométrica Classe Condutividade

Areia Silte Argila Textural hidráulica *Dp **Dg ***PT------------------%------------------- --cm h-1-- --g cm-3-- -%-

S1 70,10 17,82 12,08 Franco-arenoso 0,29 2,63 1,60 39,16S2 50,00 20,00 30,00 Franco 0,53 2,58 1,50 41,00S3 59,00 27,00 14,00 Franco-Argilo-arenoso 0,32 2,60 1,55 40,00S4 61,00 25,00 14,00 Franco-Argilo-arenoso 0,00 2,61 1,60 39,00

*Dp = Densidade das partículas**Dg = Densidade global*** PT = Porosidade total

Tabela 2. Composição do extrato da pasta saturada dos solosAmostra Ca2+ Mg2+ Na+ K+ Cl- SO4

2- CO32- HCO3

- *CE **RAS------------------------------------------------mmolc L

-1----------------------------------------------- -dS m-1-S1 3,28 2,75 50,07 0,51 53,48 0,83 0,00 0,30 5,24 28,84S2 4,10 2,73 47,56 0,22 51,08 1,50 0,00 0,72 5,07 25,71S3 4,36 2,95 44,53 0,36 46,40 1,80 0,00 0,95 4,79 23,31S4 4,60 3,87 164,50 0,33 173,00 1,46 0,00 1,25 17,20 79,94

*CE = Condutividade elétrica **RAS = Relação de adsorção de sódio

Tabela 3. Características químicas das amostras de solosAmostra Cátions trocáveis *CTC **PST pH Matéria CaCo3

Ca2+ Mg2+ Na+ K+ Orgânica Equivalente-------------------cmolc dm -3-------------------

S1 3,87 2,22 2,90 0,25 9,31 31,15 6,90 0,94 0,00S2 7,20 2,79 3,93 0,38 14,30 27,48 7,12 0,88 0,00S3 8,36 3,09 3,84 0,29 15,62 24,58 7,58 1,29 0,00S4 0,86 1,21 11,80 0,17 14,01 84,23 7,30 0,20 0,00

*CTC = Capacidade de troca de cátions**PST = Percentagem de sódio trocável