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Caracterização Físico-Química de Anomalias em Pneus Criação de um Protocolo de Testes Forenses Albertina Isabel Campos da Cruz Rodrigues Soares Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Química Mestrado Integrado em Engenharia Química Orientador: Prof.ª Doutora Ana Paula Vieira Soares Pereira Dias Co-orientador: Prof. Doutor João Manuel Pereira Dias Júri: Presidente: Prof. Doutor José Manuel Félix Madeira Lopes Orientador: Prof.ª Doutora Ana Paula Vieira Soares Pereira Dias Vogal: Prof. Doutor Luís Filipe da Silva dos Santos Dezembro de 2015 -14,0 -12,0 -10,0 -8,0 -6,0 -4,0 -2,0 0,0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 DTG (u.a.) T (ºC) Amostra 1: zona do piso rebentada Amostra 1: zona do piso sem sinais de rebentamento

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Caracterização Físico-Química de Anomalias em Pneus

Criação de um Protocolo de Testes Forenses

Albertina Isabel Campos da Cruz Rodrigues Soares

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Química

Mestrado Integrado em Engenharia Química

Orientador: Prof.ª Doutora Ana Paula Vieira Soares Pereira Dias

Co-orientador: Prof. Doutor João Manuel Pereira Dias

Júri:

Presidente: Prof. Doutor José Manuel Félix Madeira Lopes

Orientador: Prof.ª Doutora Ana Paula Vieira Soares Pereira Dias

Vogal: Prof. Doutor Luís Filipe da Silva dos Santos

Dezembro de 2015

-14,0

-12,0

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0 100 200 300 400 500 600 700 800

DT

G (

u.a

.)

T (ºC)

Amostra 1:zona do piso rebentada

Amostra 1:zona do piso sem sinais de rebentamento

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Agradecimentos

Não existe trabalho bem feito e completo que seja fruto do conhecimento individual. A união fará

sempre a força. Uma dissertação de mestrado não é excepção, e acredito que para referenciar

quem foi fundamental, é preciso agradecer a atenção.

Agradeço assim à Engª. Maria Isabel Leiria, por ter disponibilizado o material necessário e a

estufa para a realização dos testes laboratoriais, e por ter sempre estado disponível. Agradeço

também ao Dr. Francisco Pereira pelas análises termogravimétricas feitas às minhas amostras,

e ao Dr. Luís Santos pela ajuda disponibilizada na realização dos testes de infravermelho.

Agradeço à Sra. Sílvia Valente por ter fornecido os dados estatísticos da ACAP, e ao Sr. Pedro

Barros por ter sido tão prestável a informar sobre o funcionamento da Biogoma e a enviar

amostras.

Agradeço também ao Sr. Ricardo Cardoso, da Bridgestone Portugal, que foi essencial em todo

o apoio que deu em informação, amostras, a atenção que teve em receber-nos, e a representar

a marca, e os produtores, nesta jornada que foi aprofundar o mundo do pneu; Acredito que o

golpe de sorte que tive em o ter a acompanhar-me neste processo foi mais que um acaso, foi o

necessário para que conseguisse escrever sobre o tema, e por isso o mais profundo

agradecimento será sempre para a ajuda que me deu.

Como para todos os ensaios as condições ambientais são essenciais para se obter os resultados

ideais, a capacidade de aprender depende também do ambiente em que se está, por isso tudo

o que aprendi foi feito com todo o prazer e nas melhores condições com os meus companheiros

de laboratório, João, Aguilar, Mariana, que me apoiaram e acompanharam neste percurso,

sabendo que não deve ter sido fácil trabalhar com pneus por todo o laboratório. Obrigada também

ao Sr. Hélder pela faca de sapateiro que tão útil foi para laminar as amostras.

Sem dúvida que tive uma dissertação a entregar devido ao apoio de todos os amigos que me

acompanharam até eu chegar aqui, obrigada por fazerem a escola, e posteriormente o Técnico,

sítios agradáveis de estar. A vida não era a mesma coisa sem vocês. Obrigada também a todos

os professores que me fizeram gostar de aprender. E a todos os auxiliares que os ajudaram.

Á minha professora e orientadora, Ana Paula Dias, obrigada por aceitar orientar-me e dar-me

asas com um tema motivador, e por ter sempre compreendido as minhas necessidades. Espero

que me acompanhe neste futuro que agora começa, como a amiga que mostrou ser nestes

meses, para todos nós. Obrigada também ao meu co-orientador, professor João Dias, por nos

apoiar neste processo.

E ao meu melhor amigo, companheiro de amores e aventuras, Hélder Figueiredo, agradeço por

ter estado comigo sempre, estivesse eu em pleno voo ou aterrando de emergência nesta viagem

que foi a dissertação, aliás, que foi o Técnico.

Por fim, em todas as pirâmides de suporte a base não se vê mas é fundamental, por isso

agradeço à minha família por estar sempre lá, por me deixarem chegar aqui. Em particular

agradeço ao meu pai que cortou pneus e ouviu-me incansavelmente dissertar sobre estes, à

minha tia Neta e ao Luís por ouvirem tão incansavelmente como o meu pai, e sempre em especial

à minha mãe, que, no fim, e resumindo o irresumível, foi quem me ensinou a agradecer.

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Resumo

As estatísticas apontam para a existência duma correlação entre os acidentes rodoviários e o

estado dos pneus dos veículos envolvidos.

Os pneus são constituídos por materiais compósitos, complexos, tendo na sua composição

quantidades apreciáveis de borrachas, negro de fumo e sílica entre outros componentes

susceptíveis de caracterização físico-química. As suas performances, e consequentemente o

nível de segurança que conferem ao veículo que equipam, dependem dessas características.

Com o objectivo de estabelecer um protocolo para a caracterização forense de pneus estudou-

se ao pormenor a construção e constituição de pneus comuns que equipam veículos ligeiros e

pesados. Analisaram-se os possíveis processos de amostragem e caracterização físico-química.

Recolheram-se amostras de pneus usados, não envolvidos em acidentes por questão do foro

jurídico, e procedeu-se à sua caracterização por espectroscopia do infravermelho e

termogravimetria em atmosfera oxidante. Para similar a degradação ao longo da vida do pneu

algumas amostras foram sujeitas ao envelhecimento acelerado em estufa com controlo de

temperatura e humidade e exposição cíclica a raios UVB.

Os ensaios de termogravimetria mostraram-se particularmente úteis para a caracterização do

envelhecimento dos pneus mostrando a degradação dos elastómeros que o constituem. A

mesma técnica mostrou-se expedita para a identificação e quantificação do tipo de borrachas

que compõem o pneu.

Palavras chave: Pneus, Borracha, Danos, Termogravimetria, Infravermelho.

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Abstract

The statistics point to a correlation between road accidents and tires failure.

The tires are complex composite materials having appreciable amounts of rubber, carbon black,

silica and other components which are susceptible of physico-chemical characterization. Their

performances, and consequently the security level, rely on these features.

In order to establish a protocol for forensic characterization, tires were studied in detail. Sampling

and physicochemical characterization procedures were analyzed.

Samples from scrap tires, not involved in accidents as a matter of legal jurisdiction, were collected

and characterized by infrared spectroscopy and thermogravimetry in an oxidizing atmosphere

(air). Additionally, samples of the collected tires rubber were subjected to accelerated weathering

tests in a UVB chamber to simulate aging.

The data from characterization techniques showed that thermogravimetry is particularly useful for

tire analyzing showing aging degradation of the elastomers. The same technique also allows the

identification and quantification of the of rubbers mixture of the tire.

The environmental issues associated with scrap tires are briefly discussed.

Key words: Tires, Rubber, Damage, Thermogravimetry, Infrared.

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Índice

Agradecimentos.............................................................................................................................. ii

Resumo ......................................................................................................................................... iii

Abstract ......................................................................................................................................... iv

Índice ............................................................................................................................................. v

Índice de Figuras ......................................................................................................................... viii

Índice de tabelas ......................................................................................................................... xiii

Lista de Abreviaturas e Símbolos................................................................................................ xiv

Motivação para este trabalho ........................................................................................................ 1

1 Revisão Bibliográfica ............................................................................................................. 2

1.1 Importância do Pneu na Sociedade Actual..................................................................... 2

1.2 Descrição do pneu .......................................................................................................... 3

1.2.1 História................................................................................................................... 3

1.2.2 Definição e Composição do pneu ......................................................................... 4

1.2.2.1 Função de um pneu ........................................................................................... 4

1.2.2.2 Estrutura de um pneu ........................................................................................ 5

1.2.2.3 Materiais de fabrico ........................................................................................... 8

1.2.2.3.1 A Borracha .................................................................................................... 9

1.2.2.3.2 Sílica e negro de fumo ................................................................................ 10

1.2.2.4 Processo de fabrico ......................................................................................... 12

1.2.2.4.1 Vulcanização – processo químico .............................................................. 13

1.3 Tipos de pneu ............................................................................................................... 16

1.3.1 Construção de um pneu ...................................................................................... 16

1.3.2 Piso de um pneu .................................................................................................. 19

1.3.3 Marcas nos pneus e significado .......................................................................... 22

1.4 Segurança rodoviária e pneus ...................................................................................... 24

1.4.1 Influência do pneu no comportamento do veículo .............................................. 25

1.4.2 Condições de utilização....................................................................................... 26

1.4.2.1 Pressão de Insuflação ..................................................................................... 26

1.5 Danos nos pneus .......................................................................................................... 31

1.5.1 Danos mais comuns ............................................................................................ 32

1.5.1.1 Área do talão ................................................................................................... 32

1.5.1.2 Área de parede lateral ..................................................................................... 34

1.5.1.3 Área do piso .................................................................................................... 36

1.5.1.4 Interior do pneu ............................................................................................... 38

1.5.1.5 Reparações mal executadas ........................................................................... 39

1.5.1.6 Danos por envelhecimento e mau de uso ....................................................... 41

1.5.1.7 Danos devido a químicos ................................................................................ 46

1.5.1.8 Danos derivados de sinistros .......................................................................... 47

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1.5.2 Estatísticas de acidentes e estatísticas dos pneus ............................................. 50

1.5.2.1 Causas de acidentes e quais associadas a pneus ......................................... 50

1.5.2.2 Estudo ACAP ................................................................................................... 52

1.6 Estudo e testes científicos realizados a pneus ............................................................. 53

1.6.1 Testes de controlo de qualidade ......................................................................... 53

1.6.2 Testes físicos e químicos realizados a um pneu danificado ............................... 54

1.6.2.1 Testes químicos laboratoriais .......................................................................... 54

1.6.2.1.1 Testes de identificação ............................................................................... 55

1.6.2.1.1.1 Termogravimetria ................................................................................. 55

1.6.2.1.1.2 Raman .................................................................................................. 56

1.6.2.1.1.3 SEM ...................................................................................................... 57

1.6.2.1.1.4 FTIR ..................................................................................................... 58

1.6.2.1.2 Simulação de envelhecimento .................................................................... 59

1.6.2.1.2.1 Envelhecimento com Ozono ................................................................ 59

1.6.2.1.2.2 Envelhecimento com UV ...................................................................... 59

1.7 O ambiente e o pneu – problemas da eliminação de pneus usados ........................... 60

1.7.1 O Pneu e o seu impacto ambiental ..................................................................... 60

1.7.2 O abate de um pneu ............................................................................................ 61

1.7.2.1 Os caminhos possíveis para o fim de vida de um pneu .................................. 61

1.7.2.1.1 Aterros de pneus......................................................................................... 62

1.7.2.1.2 Reutilização ................................................................................................ 63

1.7.2.1.3 Reciclagem ................................................................................................. 63

1.7.2.1.4 Aproveitamento energético ......................................................................... 64

1.7.2.1.5 Empresas portuguesas de valorização do pneu para abate ...................... 64

1.7.2.2 A nova era dos Pneus ecológicos ................................................................... 65

1.7.3 Conclusão da revisão bibliográfica ...................................................................... 65

2 Metodologia experimental ................................................................................................... 66

2.1 O pneu enquadrado nos procedimentos laboratoriais .................................................. 66

2.2 Amostragem .................................................................................................................. 66

2.3 Amostras ....................................................................................................................... 68

2.4 Testes físico-químicos realizados ................................................................................. 69

2.4.1 Envelhecimento acelerado com UVB .................................................................. 69

2.4.2 Resultados dos testes físico-químicos ................................................................ 70

2.4.2.1 Resultados obtidos com Análise Termogravimétrica ...................................... 70

2.4.2.2 Resultados obtidos com Espectroscopia do Infravermelho ............................ 74

2.5 Protocolo de testes a realizar a um pneu envolvido em acidentes .............................. 76

3 Trabalho Futuro ................................................................................................................... 78

4 Conclusão ............................................................................................................................ 79

5 Referências ......................................................................................................................... 80

6 Apêndices ............................................................................................................................ 80

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6.1 Apêndice A – Processo de Fabrico de um Pneu .......................................................... 84

6.2 Apêndice B – Outros Danos físicos nos Pneus ............................................................ 86

6.2.1 Danos Típicos de pesados .................................................................................. 94

6.3 Apêndice C – Registo Fotográfico das Amostras Utilizadas ........................................ 95

6.4 Apêndice D – Termogramas percentuais das amostras .............................................. 98

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Índice de Figuras

Figura 1 - Funções de um pneu (adaptada de [5]) ........................................................................ 5

Figura 2 - Terminologia das diferentes áreas de um pneu (adaptada de [5]) ............................... 6

Figura 3 - Componentes em camada de um pneu (adaptada de [5]). .......................................... 6

Figura 4 - Materiais componentes de um pneu (adaptada de [5]) ................................................ 8

Figura 5 - Aspecto do Negro de Fumo antes de ser adicionado à mistura de borracha (adaptada

de [6]) .......................................................................................................................................... 10

Figura 6 - Aglutinação entre as partículas de negro de fumo e as moléculas da borracha

(adaptada de [5]) ......................................................................................................................... 11

Figura 7 - Propriedades do pneu com e sem sílica adicionada (adaptada de [6]) ..................... 11

Figura 8 - Fases do processo de fabrico de um pneu (adaptada de [5]) .................................... 12

Figura 9 - Mudança na borracha ao adicionar-se enxofre à sua estrutura (adaptada de [5]) .... 14

Figura 10 - Alterações nas moléculas de borracha natural com a vulcanização (adaptada de

[14]) ............................................................................................................................................. 14

Figura 11 - Variação de propriedades da borracha em função da formação de ligações

cruzadas de enxofre (adaptada de [11]) ..................................................................................... 15

Figura 12 - Tipos de construção de um pneu (adaptada de [5]) ................................................. 16

Figura 13 - Diferença da pegada entre um pneu radial e um diagonal numa curva (adaptada de

[5]) ............................................................................................................................................... 17

Figura 14 - Principais tipos de piso (adaptada de [5]) ................................................................ 19

Figura 15 - Nova etiquetagem Europeia de performance de um pneu (adaptada de [16] ......... 21

Figura 16 - Marcações existentes num pneu (adaptada de [5] ) ................................................ 22

Figura 17 - Marcação de pneu M+S e neve (adaptada de [19]) ................................................. 24

Figura 18 – Desgaste de um pneu (tendo em conta o normal - 100%) tendo em conta a estação

do ano, em função da quilometragem. (adaptado de [5]) ........................................................... 24

Figura 19 - Influência da pressão de Insuflação de um pneu na força de viragem necessária

(adaptada de [5]) ......................................................................................................................... 25

Figura 20 - Tipos mais comuns de danos correspondentes a circulação de um pneu com

pressão inferir à adequada (adaptado de [5]) ............................................................................. 27

Figura 21 - Representação de um pneu com pressão insuficiente (adaptada de [5]) ................ 27

Figura 22 – Representação de um pneu com excesso de pressão (adaptada de [5]) ............... 28

Figura 23 - Relação entre a pressão de utilização e a diminuição da duração de um pneu

(adaptada de [5]) ......................................................................................................................... 28

Figura 24 - a) Alteração da temperatura da parede lateral de um pneu com a variação da

pressão de insuflação; b) Alteração da temperatura do piso de um pneu com a variação da

pressão de insuflação (em bar) (adaptada de [6]) ...................................................................... 29

Figura 25 - Influência da pressão de um pneu e do respectivo consumo de combustível

(adaptada de [5]) ......................................................................................................................... 29

Figura 26 - Dano na área do talão devido a montagem/desmontagem do pneu (adaptado de

[22]) ............................................................................................................................................. 33

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Figura 27 - Dano na zona do talão por delaminação da borracha envolvente (adaptado de [22])

..................................................................................................................................................... 33

Figura 28 - Dano na forma do aro do talão (adaptado de [22]) .................................................. 33

Figura 29 - Danos na zona do talão devido à utilização de jantes de tamanho errado/ou por

falta de pressão no pneu (adaptado de [22]) .............................................................................. 34

Figura 30 - Danos causados na lateral de um pneu por circulação em situação de inflação

(imagem 1 e 2) (adaptado de [22]) .............................................................................................. 35

Figura 31 - Danos causados na lateral de um pneu por circulação em situação de inflação

(imagem 3) (adaptado de [22]) .................................................................................................... 35

Figura 32 - Dano na área lateral do pneu devido a um furo (adaptado de [22]) ......................... 36

Figura 33 - Marcas de travagem brusca num pneu, com amostra de um caso que levou ao

desgaste completo de todas as camadas (adaptado de [22]) .................................................... 36

Figura 34 - Perfurações num pneu (adaptado de [22]) ............................................................... 37

Figura 35 - Desgaste do piso do pneu (adaptado de [22]) ......................................................... 37

Figura 36 - Delaminação com arrancamento de pedaços de borracha do piso (adaptado de

[22]) ............................................................................................................................................. 37

Figura 37 - Separação de duas camadas do pneu (adaptado de [22]) ...................................... 38

Figura 38 - Dano no interior de um pneu após circulação em condições não adequadas

(adaptado de [22]) ....................................................................................................................... 38

Figura 39 - Dano no revestimento interno de um pneu que sofreu uma perfuração (adaptado de

[22]) ............................................................................................................................................. 39

Figura 40 - Dano causado num pneu que foi mal remendado (adaptado de [22]) ..................... 40

Figura 41 - Tipo de remendo de furos feitos com o pneu montado (adaptado de [22]) ............. 40

Figura 42 - Separação de parte da borracha da camada do piso do pneu devido a um remendo

mal executado (adaptado de [22])............................................................................................... 41

Figura 43 - Dano visível sobre tensão do pneu, devido a deterioração pelo ozono (adaptado de

[23]) ............................................................................................................................................. 42

Figura 44 - Visibilidade das quebras na borracha pelo envelhecimento dos elementos

(adaptado de [22]) ....................................................................................................................... 42

Figura 45 - Danos visíveis de excesso de uso (adaptado de [22]) ............................................. 42

Figura 46 - Ferrugem visível em zonas expostas de um pneu em que os elementos metálicos

estão erodidos (adaptado de [23]) .............................................................................................. 43

Figura 47 - Visível desgaste do lado externo de cada pneu devido ao desalinhamento dos eixos

do veículo (adaptado de [22]) ...................................................................................................... 43

Figura 48 - Danos causados num pneu que esteve em contacto com alguma peça do veículo 44

Figura 49 - Danos no pneu por excesso de carga (adaptado de [22]) ....................................... 44

Figura 50 - Rachas superficiais da borracha na lateral do pneu, indicativas do envelhecimento

dos componentes internos (adaptado de [22]) ............................................................................ 45

Figura 51 – Envelhecimento e desgaste do pneu precoce (adaptado de [22]) .......................... 45

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x

Figura 52 - Dano na superfície do pneu devido a contacto com produtos petrolíferos (alteração

de cor/textura) (adaptado de [22]) ............................................................................................... 46

Figura 53 - Dano na superfície do pneu devido a contacto com produtos petrolíferos (superfície

esponjosa/aparecimento de bolhas na superfície) (adaptado de [22]) ....................................... 46

Figura 54 - Corrosão da borracha e do metal exposto a água salina (adaptado de [23]) .......... 47

Figura 55 - Delaminação do pneu por impacto (adaptado de [22]) ............................................ 47

Figura 56 - Dano na borracha de revestimento interior devido a um impacto (adaptado de [22])

..................................................................................................................................................... 48

Figura 57 - Quebra do pneu devido a impacto (adaptado de [22]) ............................................. 48

Figura 58 - Quebra e delaminação de um pneu por impacto (esquerda – lateral, direita – no

piso) (adaptado de [22]) .............................................................................................................. 48

Figura 59 - Cortes na superfície do pneu (adaptado de [22]) ..................................................... 49

Figura 60 - Curva de Termogravimetria (TG) de uma borracha de pneu (estando também

representada a curva DTG - derivative thermogravimetric) (adaptado de [34]) ......................... 55

Figura 61 – Espectro Raman de borracha IR e HNBR (adaptado de [36])................................. 56

Figura 62 - Imagem SEM típica de uma partícula de borracha de um pneu (adaptado de [41]) 58

Figura 63- Espectro FTIR de uma amostra de pneu, comparada a uma amostra de pneu com

Alilamina (adaptado de [44]) ....................................................................................................... 59

Figura 64 - Evolução típica da resistência de flexão de uma borracha de pneu exposta a

tratamento com raios UV, comparativamente a borracha não exposta ( adaptado de [41]) ...... 60

Figura 65 - Maior aterro do mundo, visto do espaço, contendo cerca de 7 milhões de pneus, em

Sulaibiya no Kuwait (adaptada de [49]) ...................................................................................... 62

Figura 66 - Diferenças entre um pneu radial e Diagonal (vide 1.2.2.2), com evidência do

revestimento butílico em ambos (adaptado de [5]) ..................................................................... 66

Figura 67 - TG e DTG de várias zonas do pneu da amostra 6 ................................................... 71

Figura 68 - DTG de várias zonas da amostra 6 .......................................................................... 72

Figura 69 - DTG da amostra 2, 3 e 4, com e sem envelhecimento acelerado na estufa de UVB

..................................................................................................................................................... 73

Figura 70 - DTG da amostra 1, amostras da zona rebentada e de uma zona sem sinais de

rebentamento .............................................................................................................................. 74

Figura 71 - Espectros de infravermelho, de amostras de pneus, adquiridos em modo de

reflectância difusa. ...................................................................................................................... 75

Figura 72 - processo de construção da carcaça (adaptado de [6]) ........................................... 84

Figura 73 - montagem de um pneu (adaptado de [5]) ................................................................ 84

Figura 74 - junção de um pneu (adaptado de [6]) ....................................................................... 84

Figura 75 - montagem da lateral de um pneu (adaptado de [5]) ................................................ 84

Figura 76 - preparação do piso do pneu ..................................................................................... 85

Figura 77 - montagem da cap ply (adaptado de [5]) ................................................................... 85

Figura 78 - montagem do piso de um pneu (adaptado de [6]) ................................................... 85

Figura 79 - montagem das telas de um pneu (adaptado de [6]) ................................................ 85

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xi

Figura 80 – pintura de um pneu com químicos anti-bolhas (adaptado de [5]) .......................... 85

Figura 81 - Marcas nos pneus por exposição a calor excessivo (adaptado de [23]) .................. 86

Figura 82 - Danos na lateral de um pneu devido a problemas de fabrico (adaptado de (22)) ... 86

Figura 83 - dano na lateral de um pneu devido a migração de ar após corte da tela (adaptado

de [22]) ........................................................................................................................................ 86

Figura 84 - Dano geral do pneu por circular sem pressão, caso extremo (adaptado de [22]) ... 87

Figura 85 - Visibilidade da malha de fio das telas estabilizadoras (adaptado de [22]) ............... 87

Figura 86 - Dano no piso devido ao terreno (infiltração de pedras) (adaptado de [22]) ............. 87

Figura 87 - Delaminação de um perfil do piso no ombro (adaptado de [22]) ............................. 88

Figura 88 - marcas de rotação dos pneus em terreno arenoso (adaptado de [22]) ................... 88

Figura 89 - marcas nos pneus devido ao uso contínuo ou mal efectuado de correntes de neve

(adaptado de [22]) ....................................................................................................................... 88

Figura 90 - Marcas no pneu por descarga eléctrica (adaptado de [22]) ..................................... 89

Figura 91 - porosidade da borracha do piso, devido a uma má cura da borracha (adaptado de

[22]) ............................................................................................................................................. 89

Figura 92 - separação do piso das camadas anteriores do pneu (adaptado de [22]) ................ 89

Figura 93 - Danos na camada interior por mau uso do pneu ou dano de fabrico (adaptado de

[22]) ............................................................................................................................................. 90

Figura 94 - bolhas na camada interior do pneu (adaptado de [22]) ............................................ 90

Figura 95 - falhas e quebras do revestimento interno do pneu (adaptado de [22]) .................... 90

Figura 96 - Má reparação de um dano na parede lateral do pneu (adaptado de [22]) ............... 91

Figura 97 - Mau alinhamento da unidade de reparação com o padrão radial do pneu (adaptado

de [22]) ........................................................................................................................................ 91

Figura 98 - Má reparação de um pneu Bias como se fosse Radial (adaptado de [22]) ............. 91

Figura 99 - Má reparação de uma falha (adaptado de [22]) ....................................................... 92

Figura 100 - Delaminação do piso (adaptado de [22]) ................................................................ 92

Figura 101 - Desnível do piso do pneu (adaptado de [22]) ......................................................... 92

Figura 102 - Erosão em "rio" do piso de um pneu (adaptado de [22]) ........................................ 93

Figura 103 - desgaste desnivelado do piso de pneus em eixos desalinhados (adaptado de [22])

..................................................................................................................................................... 93

Figura 104 - Problemas na recauchutagem, utilização de um piso desadequado (adaptado de

[22]) ............................................................................................................................................. 94

Figura 105 - Separação do piso recauchutado (adaptado de [22]) ............................................ 94

Figura 106 - Má união do piso de recauchutagem (adaptado de [22]) ....................................... 94

Figura 107 - Amostra 1: piso de pneu pesado recolhido da berma da A1 ................................. 95

Figura 108 - Amostra 3: piso de um pneu de sucata .................................................................. 95

Figura 109 - Amostra 4: piso de um pneu de sucata .................................................................. 95

Figura 110 – Amostra 5: pneu ligeiro com duas intervenções de reparação, ambas mal

realizadas/ilegais ......................................................................................................................... 96

Figura 111 - Amostra 6: corte de fábrica de pneu ligeiro ............................................................ 96

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xii

Figura 112 - Amostra 7: zona do talão após envelhecimento na estufa de UVB, com visibilidade

da oxidação sofrida na zona do talão ......................................................................................... 96

Figura 113 - Amostra 8: lateral de pneu pesado que abriu a tela na zona do talão ................... 97

Figura 114 - Resíduo deixado pela análise termogravimétrica à Amostra 3, sem envelhecimento

na estufa de UVB ........................................................................................................................ 97

Figura 115 - Termograma percentual das amostras 6. ............................................................... 98

Figura 116 - Termograma percentual da amostra 1 ................................................................... 98

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xiii

Índice de tabelas

Tabela 1 - Material e função das várias camadas componentes de um pneu (adaptada de [5]) . 7

Tabela 2 - Propriedades da borracha sintética comparativamente à borracha natural [5] ......... 10

Tabela 3 - Dados percentuais típicos da composição de um pneu de ligeiro e pesado [5] [9] .. 12

Tabela 4 - Comparação entre pneus com e sem câmara-de-ar [5] ............................................ 18

Tabela 5 - Classificação e características dos tipos principais de piso [5] ................................. 20

Tabela 6 - Resumo das pressões e profundidade do piso recomendadas e perigosas num pneu

[1] ................................................................................................................................................. 30

Tabela 7 - Tipo de Amostragem aconselhado para cada tipo de análise físico-química a realizar

..................................................................................................................................................... 68

Tabela 8 - Listagem das Amostras utilizadas e respectivas amostragens ................................. 69

Tabela 9 - Dados de um ciclo da estufa de UVB ........................................................................ 70

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xiv

Lista de Abreviaturas e Símbolos

ABS – Anti-lock Braking System – Sistema de anti-bloqueio de travagem

ACAP – Associação Automóvel de Portugal

BR – Borracha de Butadieno

CEPP – Comissão Especializada de Produtores de Pneus

DOT – Departamento de transportes do dos EUA

DTG – Termogravimetria Derivativa

ECE – Economic Commission for Europe

EPT – Termo polímero de Etileno Propileno

FTIR – Transformada de Fourier por espectroscopia de infravermelho

HNBR – Borracha Nitrilica

IIR – Borracha de Isopreno Isobutileno

IR – Borracha de Isopreno

M+S – Mud and snow - Lama e Neve

NR – Borracha Natural

SBR – Borracha De Estireno Butadieno

SEM – Microscópio Eletrónico de Varrimento

TDA – Tire Derived Fuel - Fuel Derivado de Pneus

TGA – Análise Termogravimétrica

TG – Termogravimetria

TWI – Thread Wear Indicator - Indicador de Desgaste da Superfície de Rolamento

u.a. – Unidades Arbitrárias

UNT – Unidade Nacional de Trânsito

UVB - Ultravioleta

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1

Motivação para este trabalho

O rebentamento de pneumáticos é causa de muitos acidentes rodoviários, ou mesmo aéreos.

Nos acidentes rodoviários, existe um aspeto muito importante a ter em conta relativamente a um

dano no pneu que tenha gerado um rebentamento: Deveu-se o acidente ao rebentamento do

pneu, ou o rebentamento do pneu é apenas a consequência do acidente e do impacto

subsequente?

Por isso, neste trabalho vai-se procurar responder a estas questões, desenvolvendo as

metodologias e procedimentos de forma a obter uma ferramenta que permita responder a esta

importante questão da engenharia forense. A abordagem adotada será uma abordagem da

química forense, pois existem igualmente abordagens da área da mecânica forense, como a

reconstituição científica e da dinâmica do acidente em questão.

Com este trabalho pretende-se generalizar informações sobre o mundo do pneu, e aprofundar o

tema dos testes químicos que podem ser realizados a pneus e respectivos resultados. Quer-se

desenvolver o tema para se criar um aglomerado de valores esperados para posterior utilização

em protocolos de análise forense. Para colmatar a ausência comum de um protocolo de análises

químicas possíveis de realizar aos componentes do pneu, aborda-se uma proposta de protocolo.

Essa ausência acontece devido ao pneu ser maioritariamente um elemento exposto a desafios

mecânicos, e os danos causados por esses desafios são mais visíveis e posteriormente mais

facilmente testados no pneu. Normalmente em acidentes, o pneu é secundário, sendo as marcas

de derrapagem no terreno a prova mais comum analisada, sendo que apenas quando o pneu é

considerado o elemento chave do acidente que este acaba por ser analisado.

Investigando assim os respectivos valores padrão e de desvio desses parâmetros químicos,

particularmente em pneus já envelhecidos, pode-se criar uma tabela de valores típicos. Esses

valores típicos de desvio estão associados aos danos mais comuns e aos desafios mais

importantes que um pneu está exposto. Deseja-se também conseguir prever-se se os danos são

À priori ou À posteriori ao acidente. E com esses testes pretende-se poder associar certas

alterações da matéria à alteração do comportamento do pneu, e poder prevenir ou retardar esse

tipo de alterações.

Este tema é de alta relevância pois, a nível de segurança rodoviária, o pneu é um elemento que

influencia em grande parte a capacidade do veículo em circular seguro. Um estudo desenvolvido

pela ACAP em 2010, de todos os veículos implicados em acidentes em Portugal entre 2005 e

2009, com vítimas e que apresentavam algum problema mecânico, 62% tinham defeitos nos

pneus, e que num em cada cem acidentes mortais estão implicados directamente defeitos nos

pneus dos veículos. [1]

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2

Revisão Bibliográfica

Importância do Pneu na Sociedade Actual A invenção da roda foi considerada uma dos maiores e mais determinantes marcos da história

da humanidade. Além de ter revolucionado a maneira como se encara o transporte de pessoas

e bens, também foi uma peça fundamental para, milénios após a sua invenção, haver a

industrialização, expansão e globalização da engenharia e civilização Humana.

Associado ao uso da roda, e particularmente desde a invenção e globalização do automóvel no

início do século XX, está também implícita a utilização do pneu, com diversas funções utilitárias

para um aperfeiçoamento da função da máquina, e para conforto do condutor. Sendo assim, as

características e funções de um pneu, que entretanto deixou de estar apenas associado a

veículos terrestres, são abundantes e podem ser manipuladas.

Para isso é preciso haver um profundo conhecimento da engenharia envolvida na fabricação e

na função prevista para cada pneu, sabendo que as exigências variam conforme cada tipo de

veículo envolvido. Mas não se pode apenas considerar as diversas funcionalidades de um

veículo como o factor isolado de influência na performance, sendo o pneu programado para um

certo meio envolvente, influenciado na sua capacidade pelas condições climatéricas, da via, e

do condutor, tornando-se assim uma variável com entradas estatísticas que tornam um pneu um

elemento complexo de engenharia.

Decerto pode-se concluir que a função dos pneus num veículo é fundamental para que este

possa conseguir alcançar a sua função primária de deslocamento, sendo por isso crítico quando

algo falha nas funções básicas daqueles que são, em primeira instância, a ligação do veículo ao

solo. Existem vários factores que podem falhar na construção e utilização de um pneu, como

seria de esperar, tendo em conta as variáveis envolvidas na sua fabricação e funções de

utilização. Essas falhas tornam-no num dos principais alvos de controlo, investigação e

desenvolvimento na indústria automóvel para, em suma, reduzir a sinistralidade deste tipo de

transporte.

Fica então facilmente visível a importância de conseguir não só corrigir, antes de serem

causadoras de sinistros, mas também prever certo tipo de falhas que possam ocorrer nas

funcionalidades de um pneu, e conseguir identificar, após estas acontecerem, a razão que as

causou. Torna-se o meio mais fiável de estatisticamente conseguir complementar um protocolo

de prevenção de acidentes rodoviários causados por falhas nas propriedades do pneu.

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3

Descrição do pneu

1.2.1 História

O pneu – componente imprescindível ao funcionamento dos veículos – passou por muitas etapas

desde sua origem, no século XIX, até atingir a tecnologia atual. [2] Antes de se imaginar a

borracha como material para forrar uma roda, protegia-se esta com madeira ou ferro para evitar

danos de estrutura. Mas não se conseguia proteger a roda dos impactos da via.

A invenção do pneu deu-se há mais de um século, havendo vários envolvidos no

desenvolvimento da ideia, que competiram para patenteá-la.

Uma parte da ideia foi concebida pelo escocês John Boyd Dunlop, em 1888. Dunlop usou a sua

imaginação e conhecimentos para ajudar o seu filho, que se queixava dos percursos mais

acidentados que fazia com o seu triciclo, e para o ajudar instalou um tubo de ar nos aros deste

forrados a borracha. Quando tentou patentear a ideia, foi informado que esta já estava

patenteada pelo inglês Robert Thompson que, em 1847, colocou uma câmara cheia de ar dentro

de pneus de borracha maciça. [2]

Entre estes dois inventores, está creditado a invenção do pneu como o conhecemos. E da

motivação desta ideia de associar ar e borracha vem o nome de pneu: diminutivo de “pneumático”

com funcionalidades ímpares e que sofreu desenvolvimentos constantes desde a sua

concepção. [3]

Havia antes ainda sido realizado um passo importante na evolução do pneu. Um problema de

propriedades da matéria – a borracha era muito sensível a alterações de temperatura, e a sua

flexibilidade ficava exposta a alterações facilmente – tornava a borracha um elemento

complicado de utilizar em engenharia. Para mudar este cenário, o americano Charles Goodyear

em 1844 [4] confirmou acidentalmente que a borracha cozida a altas temperaturas com enxofre

mantinha as suas condições de elasticidade no frio e no calor.

Estava descoberto o processo de vulcanização da borracha que, além de dar forma ao pneu,

aumentou a segurança e diminuiu as trepidações nos carros. [2] Chamou a este processo

"vulcanização" de Vulcano, o Deus ferreiro, segundo a mitologia romana. [5]

Em 1946 a empresa francesa Michelin desenvolveu o conceito de construção radial de um pneu,

que é usada hoje em dia na grande maioria de modelos de todas as marcas mundiais. Desde

então que o século XX e inícios do seculo XXI trouxeram um conjunto de exigências aos pneus,

devido à evolução da tecnologia envolvida na concepção de um automóvel, e nas espectativas

crescentes por parte dos utilizadores de veículos em todo o mundo, que têm tornado o pneu num

ex-libris de engenharia.

Mas o pneu é composto por muito mais que borracha, e a tecnologia envolvida na sua produção

é complexa para o que o produto final transparece. Os variados materiais e processos envolvidos

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4

são elevados, e a estrutura geral de um pneu, maioritariamente universal entre marcas, é

complexa.

1.2.2 Definição e Composição do pneu

“Um pneu é o resultado da mais avançada tecnologia que combina com a máxima precisão um

conjunto de materiais específicos, que podem chegar até 15 compostos diferentes de borracha,

com 20 ingredientes por composto, e até 30 componentes diferentes (maioritariamente tecidos e

aço) ” [5].

A ETRTO (The European Tyre and Rim Technical Organization) define um pneu como:

“O pneu é um componente flexível aplicado numa roda, constituído por borracha sendo reforçado

através de outros materiais. Quando insuflado por um fluido compressível, adquire a capacidade

de suportar a carga aplicada na roda, bem como, transmite ao eixo em carga, forças longitudinais

e transversais. Na condição sem carga, o pneu insuflado é essencialmente toroidal.” [6]

Sendo assim pode-se concluir que o pneu é um elemento complexo que, conforme o prisma,

pode ter variadas definições e composições. Com tamanha variedade de componentes e

características, não existe uma receita única para a fabricação de um pneu, mas as guidelines

coincidem todas numa base de composição de borracha, aço e fibras.

As funções de um pneu num veículo, referidas anteriormente na definição da ETRTO, são

fundamentais para a utilização segura e útil de um automóvel:

O pneu contém um volume de ar comprimido para suportar a carga (a soma do peso do veículo,

da carga útil e dos passageiros), participa na suspensão do veículo (absorve parte das

irregularidades da superfície da estrada), muda e mantém a direcção do veículo, transmite

tracção e força de travagem na superfície da estrada. [5]

O pneu é sujeito a intensas deformações, mais do que qualquer outro componente mecânico de

um automóvel. Suporta o desgaste e o arrancamento e contribui com um baixo nível de ruído de

circulação e tem a capacidade de operar em condições não controladas. Para isso acontecer

tem de ter uma elevada exactidão na produção e é em simultâneo um elemento de segurança e

de estética. É produzido com materiais amigos do ambiente, sendo reciclável. [5]

O pneu é considerado como sendo uma única peça, mas é composto por várias camadas e cada

uma possui diversas funções, de modo a adquirir as características desejadas na sua fabricação.

1.2.2.1 Função de um pneu O pneu é um dos elementos fundamentais de um veículo. Sem estes, a deslocação torna-se

muito dificultada. Mas como um pneu facilita a deslocação na via, e torna-se um elemento

mecânico, de segurança, e até estético de um veículo?

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5

Figura 1 - Funções de um pneu (adaptada de [5])

O pneu tem a principal função de transferir tracção e força de travagem na superficie da estrada

(Figura 1), participando na suspensao do veículo tornando a circulação mais segura. É um dos

elementos envolvidos na mudança de direcção de um veículo com precisão, sendo capaz de

aguentar com um volume de ar, a determinada pressão, a carga do veículo total.

Torna-se assim o elemento de ligação entre o veículo e a via, sendo o contacto com o piso e

respectiva aderência um dos factores que caracteriza um pneu relativos à segurança de

circulação. O pneu é assim sujeito a intensas deformações e desgaste continuo, mais do que

qualquer outro componente mecânico.

É também um dos elementos que mais inlfuencia o ruido de circulação na via, sendo também

avaliado por este factor. Como está envolvido na segurança passiva e activa do veículo, é um

elemento de segurança elementar, mas também é, e cada vez mais, um elemento estético

explorado pelo mercado automóvel. Sendo assim, a criação e evolução deste elemento de

engenharia complexo depende da conjugação de variados factores e posições que um pneu

toma nas variadas facetas do prisma que é um automóvel.

1.2.2.2 Estrutura de um pneu O pneu tem várias camadas, cada uma delas com uma composição diferente e um nome que a

identifica. Para identificar essas camadas temos de saber referir que parte do pneu está a ser

analisada. Na Figura 2 estão identificados os elementos principais da estrutura de um pneu:

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6

Figura 2 - Terminologia das diferentes áreas de um pneu (adaptada de [5])

A zona do Piso é a zona do pneu que entra em contacto com a estrada. É a secção entre os

ombros. [5] A zona do Ombro situa-se nas extremidades exteriores do piso. É a zona de transição

entre a lateral e o piso. [5] A zona da parede lateral é a zona do pneu entre o ombro e o talão

que proporciona a protecção da carcaça e suporta a flexão e o desgaste. Esta é a zona que está

mais sujeita a uma flexão mais severa. [5] A zona do talão é a zona de fixação do pneu,

desenvolvida de modo a adaptar-se à jante. [5] O Revestimento Butílico isola a carcaça em

relação à camara de ar, da parte de dentro, mas também proporciona uma barreira hermética

entre a pressão de insuflação e a carcaça quando não existe camara de ar. [5]

Figura 3 - Componentes em camada de um pneu (adaptada de [5]).

1 – Aro do talão;

2 – Enchimento do talão (Apex);

3 – Reforço do talão;

4 – Tela de carcaça;

5 – Anti-Abrasão;

6 – amortecedor de ombro;

7 – Tela de transição;

8 – 1ª tela estabilizadora;

9 – 2ª tela estabilizadora;

10 – Tela de protecção;

11 – Cunha da tela de piso;

12 – Revestimento Butílico;

13– Piso (Cap e Base);

14 – Parede Lateral.

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7

Os componentes referidos na Figura 3 são compostos por diversos materiais, e entre eles criam

condições físicas e químicas para que o pneu possa ser utilizado para as suas funções num

veículo. Na Tabela 1 está um resumo do material e das funções de cada uma das camadas

referidas.

Tabela 1 - Material e função das várias camadas componentes de um pneu (adaptada de [5])

Camada Material Utilizado Função no Pneu

1 - Aro do talão Arame de aço (mono filar) coberto com borracha

-Fixar o pneu à jante; - Tornar o pneu hermético; -Assegurar a transmissão dos esforços de aceleração e travagem; -Impedir o aumento de diâmetro do pneu; -Participar na segurança;

2 - Cunha/Apex Borracha sintética

- Influência a precisão da direcção, a estabilidade direccional e o conforto de condução. -Permite a transição da parte mais rígida (talão) para a mais flexível (parede).

3 - Reforço do talão

-Tela embebida em borracha (ex. Nylon, ou polyester) -Borracha sintética

-Influência a estabilidade direccional e o conforto de condução; -Assegura o perfeito assentamento do talão na jante; -Isolar o calor produzido pelo sistema de travões

4 - Tela de carcaça

- Tela embebida em borracha (ex. Nylon, ou polyester) -Borracha sintética

-Retém a pressão de enchimento -Liga o talão à área do piso -Suporta a carga e a velocidade, com a ajuda da pressão do ar. -Participa na estabilidade, no rendimento e no conforto;

5 - Anti-abrasão

- tela embebida em borracha

-Suportar as constantes flexões mecânicas -Proteger a carcaça das agressões externas. -Participar na estabilidade e no conforto; -Transmitir ao piso o movimento da roda -Inscrições técnicas sobre o pneu

6 - Wing tip

12 - Parede lateral

7 - Tela zero graus – Cap Fly

- tela embebida em borracha

-Melhora a capacidade do pneu de rodar a altas velocidades e confere conforto na condução

8 - 1ª Tela estabilizadora

Forte encordoamento de aço (multifilar) embebido em borracha).

-Garantir o dimensionamento e a estabilidade direccional. -Reduzir a resistência ao rolamento e aumenta a performance de quilometragem. -Proteger a carcaça contra perfurações

9 - 2ª Tela estabilizadora

10 - Revestimento butílico

Borracha butílica -Isola o interior do pneu que é cheio com ar. -Substitui a câmara-de-ar. Impermeável ao ar

11 - Piso Borracha natural e/ou sintética

-Borracha externa: resistir ao desgaste e garantir aderência -Borracha da base: reduz a resistência ao rolamento e influi no comportamento.

Um pneu possui um elevado número de componentes. Mas a capacidade de os unir e tornar um

conjunto de camadas em um elemento de alta tecnologia exige um elaborado processo de

fabrico.

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8

1.2.2.3 Materiais de fabrico Para fabricar um pneu tem de se escolher de um portfólio de diversos componentes e conhecer

as propriedades adquiridas pela sua aglomeração, de forma a se conseguir obter as funções

desejadas para o pneu a fabricar.

Figura 4 - Materiais componentes de um pneu (adaptada de [5])

Na Figura 4 podemos verificar que existem quatro grandes grupos de materiais envolvidos na

fabricação de um pneu. Há pneus que possuem vários componentes do mesmo grupo, outros

limitam-se a um par, sendo normalmente os pneus mais antigos e menos tecnológicos os menos

elaborados na sua composição.

As misturas de borracha utilizadas no processo de fabrico possuem borrachas naturais e/ou

sintéticas que são misturadas com químicos para melhorar as suas propriedades e para que

tenham uma maior adesão com os componentes de reforço. [5]

A composição dos pneus, referida na Figura 4 não varia apenas com o fabricante, mas também

com o veículo que vai utilizar o pneu, devido às diferentes exigências a nível de performance.

Juntar todos os materiais é a parte mais difícil do processo de fabrico pois a borracha utilizada

não se une facilmente com o aço usado nas cintas. [7]

As telas têxteis são camadas de fios têxteis aglutinados entre duas capas de mistura de borracha.

Estes têxteis podem ser de variados materiais, tal como indicado na Figura 4.

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9

Os fios de aço são juntos com borracha e torcidos para formar os talões. Também podem ser

usados em tela, com camadas de fios de aço aglutinados da mesma maneira que as telas têxteis.

[5]

1.2.2.3.1 A Borracha A borracha utilizada no fabrico de pneus teve inicialmente origem natural, mas com a evolução

da tecnologia envolvida na engenharia dos materiais, criaram-se borrachas sintéticas.

A borracha natural deriva da seiva das árvores-da-borracha que crescem nas zonas tropicais do

planeta, que, juntando ácido acético e fórmico e secando a borracha obtemos tiras de borracha

natural. Todas as borrachas são elastómeros.

A borracha sintética deriva de produtos de refinaria. Criada na Europa mas desenvolvida nos

Estados Unidos devido a falta de fornecimento de borracha natural na segunda guerra mundial,

tornou-se universalmente usada no fabrico de pneus.

Com um catalisador, normalmente de Ziegler-Natta ou Metaloceno, dá-se a polimerização

formando as borrachas SBR e BR (ver Tabela 2).

A mistura de borracha usada para a criação de pneus não tem na sua composição apenas

borracha natural e sintética. Tem plastificantes, que se baseiam em óleos e resinas para melhorar

a aplicabilidade e a viscosidade, negro de fumo e sílica para aumentar a resistência, enxofre para

a vulcanização, antioxidante e antiozonante para impedir o envelhecimento pelo oxigénio e

ozono. Na mistura de borracha apenas cerca de 50% é borrachas, sendo o resto os aditivos. [5]

A borracha sintética pode assim ser criada com variadas combinações, adquirindo propriedades

variáveis, sendo apresentadas na Tabela 2 algumas características e aplicações.

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10

Tabela 2 - Propriedades da borracha sintética comparativamente à borracha natural [5]

Tipos de Borracha Vantagens Desvantagens Utilizações

NR – Borracha

Natural

Resistência a forças

de tensão e de

separação, fácil

processamento

Contem impurezas

que causam

problemas de

qualidade

Usada em misturas

para o piso e carcaça

dos pneus

SBR – Borracha de

Estireno Butadieno

Resistência a

abrasão, ao calor, e

fácil processamento

Alta acumulação de

calor e aumento de

perda de energia

Usada em misturas

para o piso e carcaça

dos pneus

BR – Borracha de

Butadieno

Melhor resistência a

abrasão, flexibilidade

e fadiga que a SBR

Resistência inferior a

forças de tensão, e

diminuição da

resistência a forças

de separação. Má

opção para pneus

“off-road”, usados em

maquinaria pesada e

de obra. (vide

capitulo 1.3)

Usada em misturas

para o piso e carcaça

dos pneus

IR – Borracha de

Isopreno

Referida como uma

borracha artificial-

natural. Qualidades

idênticas a NR

Dificuldade de

processamento

Semelhante ao da

borracha natural

EPT – Termo

polímero de Etileno

Propileno

Resistência a danos

causados pelo ozono

(vide 1.5.1.6) e pelas

condições

climatéricas

Reacção lenta de

fabricação e

superfície pegajosa

Usada na Lateral e

na câmara-de-ar dos

pneus

IIR Borracha de

Isopreno-Isobutileno

Boa

impermeabilidade ao

ar

Dificuldade de

processamento

Usada na lateral, na

câmara-de-ar, no

piso e no

revestimento interior

dos pneus

1.2.2.3.2 Sílica e negro de fumo Um dos aditivos principais dos pneus é o negro de fumo (Figura 5) que fornece a cor

característica da borracha.

Figura 5 - Aspecto do Negro de Fumo antes de ser adicionado à mistura de borracha (adaptada de [5])

[5]

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11

O Negro de Fumo é um material de reforço: aumenta a resistência da mistura. É um pó de carvão

muito fino, derivado da fuligem recolhida a partir de óleo queimado. Sem ele, o pneu era mais

sensivel a desgastes (Figura 6). [5]

Figura 6 - Aglutinação entre as partículas de negro de fumo e as moléculas da borracha (adaptada de [5])

Recentemente, introduziu-se a sílica para substituir o negro de fumo, essencialmente, pelas

seguintes razões:

1) Reduz a formação de calor no piso e consequentemente reduz o consumo de combustível;

2) Melhora a aderência em piso molhado e com neve;

3) Melhora a resistência ao rolamento.

Facilmente analisando a Figura 7 pode-se verificar que a sílica tornou o composto de borracha

mais estável nas suas propriedades, menos exposto ao calor e ao frio a que um pneu está

exposto diariamente.

Figura 7 - Propriedades do pneu com e sem sílica adicionada (adaptada de [5])

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12

Os ingredientes principais de borracha do piso e os valores aproximados da sua composição

estão apresentados na Tabela 3, em que os montantes de todas as substâncias adicionadas aos

elastómeros são dados em percentagem. [8]

Tabela 3 - Dados percentuais típicos da composição de um pneu de ligeiro e pesado [5] [9]

Composto Pneu Ligeiro Pneu Pesado

Elastómeros Total= 47%

(SBR=75%

PB=10%

NR=15%)

Total = 45%

(SBR=10%

PB=10%

NR=80%)

Elementos de Reforço Negro de Fumo = 18%

Silica =15%

Negro de Fumo = 24%

Silica =3%

Produtos Têxteis 5% 0%

Aço 11% 23%

Agentes Vulcanizantes 0,75% 0,75%

Agentes Aceleradores 0,25% 0,25%

Agentes Activadores ZnO =1 % ZnO =2 %

Anti Oxidantes Fenilamina =1% Fenilamina =1%

Enxofre 1% 1%

Estes valores variam com o tipo de pneu, com o fabricante e até com o país de origem. São

apenas valores de referência para poder dar uma ideia do que existe num pneu comercial.

1.2.2.4 Processo de fabrico O processo de fabrico de um pneu é composto por diversas fases e pormenorizado. Pode ser

resumido na Figura 8.

Figura 8 - Fases do processo de fabrico de um pneu (adaptada de [5])

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13

Na primeira fase do fabrico, a mistura de borracha e aditivos tem de ser preparada.

Seguidamente, é usada em três partes distintas, na extrusão, onde prepara-se o piso e a parede

lateral. Na Calandragem, onde são preparadas as telas do pneu, em conjunto com materiais de

corpo, como as malhas de aço ou texteis; e o fabrico do talão, normalmente em aço, forrado a

borracha. Todo este processo é feito com a borracha ainda verde, ou seja, sem ter passado

ainda pela vulcanização. [5]

No processo de extrusão, numa primeira fase, a borracha passa num molde de extrusão,

seguindo para arrefecimento e posterior corte preciso.

No processo de Calandragem, a borracha é aglomerada em sanduiche com fios de aço, sendo

seguidamente enrolada várias vezes no diametro pretendido.

Posteriormente à fase de preparação dos materiais envolvidos vem a fase de montagem do pneu.

Consiste no aglomerar das partes anteriormente produzidas e formar um pneu para a

vulcanização.

Na montagem, começa-se por construir a carcaça, seguindo-se a segunda fase onde se adiciona

os talões e as telas estabilizadoras, acabando por adicionar-se a zona do ombro e o revestimento

butílico. Por fim envia-se o pneu para a vulcanização.

No Apêndice A estão algumas images do processo de fabrico de um pneu.

Acabando a montagem, o pneu está pronto para a fase de vulcanização para endurecimento da

borracha, sendo finalizado com processos de inspeção para garantir a qualidade do produto. No

capítulo 1.2.2.4.1 está pormenorizado o processo a que chamamos de vulcanização da borracha.

1.2.2.4.1 Vulcanização – processo químico A vulcanização baseia-se na adição de enxofre à borracha para que esta fique com uma

resistência superior e menos viscosa (Figura 9). As moléculas da borracha são muito longas e

entrelaçadas, mas se forem esticadas podem ser separadas. A borracha crua pode assim perder

a forma, não ficando suficientemente forte para os usos que lhe queremos dar. As propriedades

mecânicas que desejam-se, além da elasticidade característica da borracha, não existem sem a

vulcanização. A borracha ficaria também mais dependente da temperatura ambiente, derretendo

no verão e ficando vítrea no inverno. [5]

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14

Figura 9 - Mudança na borracha ao adicionar-se enxofre à sua estrutura (adaptada de [5])

A vulcanização da borracha é a adição a esta de enxofre sob aquecimento e pressão e

normalmente na presença de catalisadores, sendo os mais comuns os derivados de óxido de

zinco [10] . A reacção acontece sem catalisador, mas é muito lenta para ser usada a nível

industrial. [11] Normalmente ocorre a 150ºC, aproximadamente. [12]

Descobriu-se acidentalmente que a borracha com enxofre não derretia, sabendo-se atualmente

que isto acontece porque o enxofre cria ligações “cruzadas” entre as moléculas da borracha,

produzindo uma microestrutura que torna a borracha mais resistente. Durante esse processo, os

átomos de enxofre quebram as ligações duplas e formam ligações unindo as moléculas da

borracha. [13]

A reacção química da vulcanização altera a borracha criando novas ligações entre as moléculas.

Como se pode ver na Figura 10 a borracha vulcanizada passa a ter ligações de enxofre entre

dois ramos do polímero.

Figura 10 - Alterações nas moléculas de borracha natural com a vulcanização (adaptada de [14])

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15

Na cadeia hidrocarbonada da Figura 10 existe, por cada unidade monomérica, uma ligação dupla

de carbono que é susceptível de ser quebrada.

Quando uma mistura de borracha natural é aquecida com enxofre, os átomos de enxofre atacam

essa dupla ligação e estabelecem, mediante ligações do tipo covalente, pontes de átomos de

enxofre entre as cadeias moleculares, formando uma rede tridimensional. [14] As ligações podem

ser mono-, di- ou polisulfúricas. [15]

Essa nova estrutura é melhor porque sem a vulcanização, as moléculas de poli-isopreno podem

deslizar umas sobre as outras. Com a realização da vulcanização, os átomos de enxofre unem

as estruturas lineares iniciais, formando pontes de enxofre que aumentam a resistência e a

dureza da borracha. [13]

Logo o processo de vulcanização torna a borracha que é "plástica" em um material elástico, muito

mais resistente. [14]

Figura 11 - Variação de propriedades da borracha em função da formação de ligações cruzadas de

enxofre (adaptada de [11])

Quanto mais enxofre for adicionado à borracha, maior será a sua dureza, sendo que nas

borrachas usadas em pneus usa-se cerca de 1,5% a 5% de teor de enxofre. [13] A adição de

enxofre tem de ter em conta as propriedades desejadas para um pneu, visto variarem conforme

a densidade de ligações cruzadas de enxofre, que estão dependentes da quantidade de enxofre

adicionada na vulcanização, como se pode ver na Figura 11.

Em relação à temperatura de cura, não costuma ser superior a 210ºC, mas pode ser inferior,

sendo a gama comum entre os 135ºC e os 200ºC. O intervalo é grande pois depende do tipo de

borracha e das propriedades que pretende-se fornecer ao produto fabricado. [15]

No processo de fabricação do pneu, a vulcanização é o processo onde se aumenta a resistência

da borracha, mas também onde todos os componentes do pneu são combinados e onde ficam a

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16

ser apenas uma peça. O passo final é marcar o pneu com o padrão do piso e as marcações que

vão permitir identifica-lo.

A vulcanização torna-se assim o processo químico básico para a fabricação de um pneu, dando

à borracha as propriedades necessárias para se criar um elemento fundamental do

deslocamento e segurança nas estradas.

Tipos de pneu Existem vários tipos de pneu, e várias maneiras de os caracterizar e agrupar. Existem pneus

para estrada, tanto para automóveis como para motociclos, e pneus “off road”, usados em

maquinas agrícolas e industriais. Pode-se também classificar um pneu como de inverno e de

verão, conforme as suas propriedades e capacidade de ser menos afectado pelas condições

climatéricas. Um pneu pode ter montagem radial ou diagonal, sendo assim facilmente perceptível

que classificar um pneu depende das características que tem-se em conta. Um pneu pode

também ter ou não camara de ar no seu interior, havendo vantagens e desvantagens para cada

uma das opções.

Vai-se apenas falar de pneus de estrada por serem os normalmente envolvidos em acidentes

de viação, focando os pneus de automóvel, ficando de fora todo o tipo de pneus “off road”,

abordando as restantes classificações mais comuns seguidamente.

1.3.1 Construção de um pneu

Relativamente à construção de um pneu, este pode ser radial ou diagonal, dependendo da

orientação das telas. Os pneus são actualmente quase todos radiais, mas ainda são fabricados

pneus diagonais utilizados nalgumas aplicações.

Figura 12 - Tipos de construção de um pneu (adaptada de [5])

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17

Pode-se observar na Figura 12 que a principal diferença está na orientação das telas, sendo que

na construção radial estas circundam o pneu perpendicularmente ao eixo central e na diagonal

as telas estão, como o nome indica, na diagonal alternadamente, e cruzam-se na zona central

do piso.

Cada vez mais usa-se a montagem radial num pneu pois esta possui vantagens muito

importantes em relação a um pneu de montagem diagonal. Isto porque um pneu radial possui

uma elevada capacidade de carga, elevada longevidade e boa resistência a elevadas

velocidades, havendo pouca resistência ao rolamento, possuindo uma boa aderência e fornece

assim uma condução mais confortável e silenciosa.

Um pneu diagonal possui também as suas vantagens, tendo elevada resistência ao impacto,

mas acaba por ter um desgaste acentuado no centro do piso devido ao tipo de ligação das telas,

e por aquecimento a duração da carcaça é reduzida. [5] Possui também uma menor motricidade,

como se pode ver na Figura 13, com interesse particular por possuir uma boa performance de

aderência nas curvas. [16] Um pneu radial, devido às telas estabilizadoras montadas

perpendicularmente, possui uma pegada maior durante a mudança de direção, permitindo assim

a sua optimização em relação a um pneu diagonal.

Figura 13 - Diferença da pegada entre um pneu radial e um diagonal numa curva (adaptada de [5])

Relativamente ainda à construção do pneu, este pode ter câmara-de-ar (tubetype) ou não a

possuir (tubless). [5]

A Tabela 4 resume as vantagens e desvantagens de cada tipo de construção relativa à câmara-

de-ar.

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18

Tabela 4 - Comparação entre pneus com e sem câmara-de-ar [5]

Tipo de Construção Sem Câmara-de-ar

(Tubeless)

Com Câmara-de-ar

(Tubetype)

Esquema de Construção

a)

b)

Vantagens -Pneu mais resistente à perda

de ar

-Pneu mais fácil de montar e

desmontar

-Pneu com menor

aquecimento

-Conjunto mais leve

- O pneu perde ar mais

lentamente

- Quando há danos no talão

ou no pneu mas não

danificam a câmara pode-se

continuar a circular até ser

possível o arranjo ou

substituição deste numa

oficina.

Desvantagens - Qualquer dano no talão

pode provocar uma fuga de ar

- Pode ocorrer fuga de ar

caso a jante se encontre

danificada ou se a zona da

válvula apresentar corrosão

- Na montagem há risco de

furar a câmara. (b)

- No enchimento há risco de

perda de pressão devido ao

ar retido entre a câmara e o

pneu durante a montagem (b)

- Em caso de furo o ar

escapa-se pelo local de

perfuração e pelo orifício da

válvula (a)

É importante não baralhar a tecnologia run flat com a tubless. No último caso o pneu apenas não

tem câmara-de-ar, mas se perder pressão, vai tornar-se inviável a circulação. Um pneu run flat

faz parte das novas tecnologias desenvolvidas na área automóvel, sendo um pneu com um

reforço de estrutura lateral, entre outras características, que o permitem ser muito mais rígido, e

assim circular apos perda de pressão. Este tipo de tecnologia é disruptiva e não cai no âmbito

deste trabalho devido à sua ainda pouca aplicação.

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19

1.3.2 Piso de um pneu

O piso de um pneu possui decalques que têm variadas funções, e que os caracterizam e

diferenciam (Figura 14).

Figura 14 - Principais tipos de piso (adaptada de [5])

Cada piso possui características próprias, que fazem com que um pneu tenha condições

operacionais óptimas particulares, e que estas tenham uma gama de variação considerável,

consoante a mudança de piso.

Por vezes classifica-se um pneu como adequado mais a uma estação que outra, sendo

tipicamente dito que existem pneus de inverno e de verão tendo em conta o piso, afirmação

comum por haver pneus mais adequados a pisos molhados que outros, mas que não os tornam

particularmente pneus classificáveis como de inverno ou verão. Um pneu de verão possui uma

borracha mais elástica na sua composição, boa para aderir à estrada, mas que é danificada a

baixas temperaturas. Já um pneu de inverno tem mais sílica na sua composição, e também mais

sulcos para afastamento da água e da neve do piso. [17]

Nos países em que a neve é comum, existem opções variadas para esse tipo de clima, sendo

soluções diferenciadas das existentes em mercados com clima temperado como Portugal, sendo

que o resumo que se segue é geral, sem particularidades.

Existem outras características que podem classificar um pneu como ideal para o inverno ou para

o verão sem este ser classificado como pneu sazonal, como a capacidade de travagem a seco

ou a capacidade de dissipar o calor. O grande grupo de variáveis nos pneus para a sua

classificação foca-se bastante no piso destes por influenciar as principais características

avaliativas de um pneu.

A Tabela 5 resume as características, vantagens e desvantagens de cada tipo de piso.

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20

Tabela 5 - Classificação e características dos tipos principais de piso [5]

Pode-se concluir que os pneus direcionais favorecem o escoamento de água, mantendo a

aderência em piso molhado, ficando aquém na performance sonora, criando mais ruido que outro

tipo de piso; os pisos assimétricos por sua vez tentam combinar as vantagens de um pneu

simétrico e direcional, criando um escoamento de água no lado externo do pneu que não está

Tipo de Piso e

Símbolo

Simétrico

Direccional

Assimétrico

Composto

(sem símbolo)

Características

Piso com simetria

central, com efeito

espelho

Ranhuras laterais

direccionadas no

mesmo sentido

Metade exterior

diferente da

interior

Composição das

características

dos outros tipos

de piso, variáveis

entre cada pneu

do conjunto do

veículo

Vantagens

- Bom controlo da

direcção

- Boa estabilidade

-Boa drenagem da

água

-Bom desempenho

em piso molhado

- Piso muito

versátil, boa

performance

global, é utilizado

em quase todas as

aplicações

- Piso visualmente

agressivo, boa

aderência e controlo da

direcção, melhor opção

para performance em

aquaplaning e

aderência no molhado.

- Excelente

aderência

- Eficaz

drenagem da

água

- Ombro exterior

optimizado para

curvar

- Boa superfície

de contacto no

solo

(permite altas

velocidades).

- Performance

global muito boa,

muito boa

imagem (hi-tech)

- O melhor dos 2

mundos, imagem

atraente (imagem

hi-tech +

desportiva)

- Reservado a

viaturas de

elevadíssima

performance

Desvantagens

- Não atingem a

especificidade que

os outros tipos de

piso conseguem

ter nas suas

melhores

características.

- Não inverter o sentido

de rotação (Atenção na

montagem do pneu na

jante, dependendo da

posição D/E

(Direita/Esquerda) no

veículo).

- Os blocos que

constituem o piso

produzem um nível de

ruído mais elevado e

podem

Desenvolver desgastes

em “dentes de serra”

(vide 1.5.1.3)

- Deve ter

atenção na

montagem (a

indicação

"outside" deve

estar sempre

virada para o

lado exterior do

veículo).

- Não pode fazer

rotação na jante.

- É necessário

aplicar pneus

“esquerdos” e

“direitos”

(limitações para a

produção,

logística, etc.)

•Um pneu para

cada posição na

viatura

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tão previsto num pneu simétrico, e os pneus de piso composto tornam-se a excelência da classe,

especificando as particularidades que cada pneu no veículo deve ter, sendo de tracção ou não,

esquerdo ou direito, todos diferentes entre eles.

Todos estes tipos de piso possuem o problema de terem uma ordem de montagem específica,

seja por sentido de rotação, lado externo ou interno, ou local específico no veículo, ago que os

pneus de piso simétrico não possuem, sendo essa a sua maior vantagem em relação a todos os

outros tipos de piso – a sua generalidade.

A nova etiquetagem europeia de classificação de pneus, em vigor desde 2012 [16] informa o

comprador da performance do produto que está a adquirir em três grandes grupos de avaliação.

Figura 15 - Nova etiquetagem Europeia de performance de um pneu (adaptada de [16]

O pneu é assim avaliado, como se pode ver na Figura 15, no consumo de combustível, na

capacidade de escoamento de água e aderência em piso molhado, e no ruido produzido em

andamento no rolamento do pneu no exterior do veículo. [16]

No consumo de combustível e na aderência em piso molhado o pneu é avaliado de A a G, sendo

sete as possíveis classificações, sendo A a melhor performance e G uma performance inferior

no factor considerado.

O consumo de combustível é medido tendo em conta a resistência ao rolamento, que tem um

impacto no consumo de combustível. A resistência ao rolamento é a energia perdida pelo pneu

por unidade de distância percorrida. Se os pneus são de baixa resistência ao rolamento, eles

oferecem uma maior eficiência energética, e terão uma melhor classificação.

A performance do pneu relativamente à travagem em molhado é avaliada com a letra A é o mais

seguro e com melhor travagem, e a letra G o menos seguro e a pior travagem. O pneu é

submetido a um teste de travagem com um veículo em condições normalizadas (temperatura,

estado da superfície do solo, altura de água e velocidade). [16] Um veículo com quatro pneus de

classe A e circulando a 80km/h, a diferença de distância de travagem em relação a um pneu da

classe G poderá ser até 18 metros, ou 30% menos, fazendo a diferença. [16]

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22

A avaliação do ruido no exterior do veículo possui três linhas, sendo as três linhas pretas um

ruido elevado e só uma linha um ruido ligeiro, mas a avaliação possui a medição de ruido

realizada pela marca no exterior do veículo, representada em decibéis. Assim, o comprador pode

saber qualitativa e quantitativamente a quantidade de ruido que o pneu realiza em rolamento.

Estes factores avaliativos têm a desvantagem de dificilmente permitirem um pneu óptimo nas

três classes, pois com o aumento da aderência em piso molhado, aumenta também o ruido

produzido, devido ao aumento dos sulcos necessários para a drenagem da água, que também

prejudicam o consumo de combustível. Apenas pneus de última geração e de alta tecnologia

conseguem atingir boas avaliações em factores inversamente proporcionais.

1.3.3 Marcas nos pneus e significado

Todos os pneus possuem marcações na sua lateral, inscritas na altura da vulcanização (vide

1.2.2.4.1) que transmitem informações essenciais para identificar, caracterizar e definir as

origens deste. Estas marcações variam entre fabricantes, entre países e em pneus mais antigos

pode não haver algumas das marcações típicas, ou estas podem ser diferentes. No geral, a

Figura 16 representa as principais marcações que um pneu possui na sua lateral.

Figura 16 - Marcações existentes num pneu (adaptada de [5] )

Legenda: 1 – Nome do Fabricante ou da Marca; 2 – Desenho; 3 – Medidas do pneu (cotas dimensionais);

4 – Condições de Utilização; 5 – Marca ECE; 6 – Marca de ruido; 7 – construção do pneu; 8 – Posição de

Montagem; 9 – Pneu reforçado; 10 – Pais de fabrico; 11 – Marca de indicações de segurança (EUA)

/condições de funcionamento (UE)); 12 – câmara; 13 – código DOT (EUA).

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Muitas destas marcas são bastante importantes para o bom funcionamento do pneu, outras

apenas servem para o caracterizar e representar, mas todas ajudam, a uma primeira análise, a

identificar o pneu que está a ser avaliado.

O nome do fabricante ou da marca do pneu costuma estar visível facilmente, sendo normalmente

as inscrições de maior tamanho. O desenho de um pneu, ou o modelo, identifica-o mais

facilmente nos catálogos da marca, seno que as medidas são mais universais, também

chamadas de cotas dimensionais, referindo a largura nominal da seção, o valor da relação entre

a largura e altura da seção em percentagem, se o pneu é radial ou diagonal e o diâmetro da

jante. [18]

As condições de utilização englobam o índice de carga para montagem e o índice de velocidade.

O índice de velocidade indica a velocidade máxima a que o pneu pode suportar a carga

estabelecida no Índice de carga, segundo as condições de utilização determinadas pelo

fabricante. O índice de Carga é um código numérico que indica a carga que o pneu pode suportar,

segundo as condições de utilização específicas, determinadas pelo fabricante. [5] Juntos, criam

um código de velocidade e carga máxima conjuntas que os pneus podem atingir.

A marca da construção de um pneu refere se é radial ou diagonal, sendo que actualmente

practicamente todos os pneus são radiais, tendo um R a identificá-los. A existência de câmara-

de-ar é referido, indicando se é tubeless ou tubtype.

A posição de montagem é referida para todos os produtos assimétricos pois é importante

encaixar o pneu na jante na posição correta. Isto acontece pois os pneus assimétricos e

compostos são desenvolvidos para oferecer o melhor desempenho considerando os diferentes

comportamentos das áreas externas e internas da superfície de rolamento e, se forem mal

montados, não realizarão o efeito para que foram concebidos.

As marcas de segurança variam entre cada continente, sendo que na União Europeia é

obrigatória a inscrição do Indicador de carga e pressão máxima com que o pneu pode circular.

Existem outras marcas importantes que um pneu pode ter e que dão informações que o condutor

deve saber identificar, como por exemplo:

O TWI (Tread Wear Indicator - Indicador de Desgaste da Superfície de Rolamento) é um recurso

de segurança importante que permite mostrar facilmente quanta superfície de rolamento resta

no pneu ainda a poder ser utilizada. Barras de borracha estreitas são moldadas numa altura de

1,6 mm (2/32") na parte inferior das ranhuras da superfície de rolamento. Quando os desgastes

da superfície de rolamento atingem essas barras, o pneu deve ser substituído. [19]

Pneus de inverno, também chamados pneus de neve, de tempo frio ou térmicos, são

identificados pela marcação M+S (Mud&Snow – Lama e Neve) existente na lateral dos pneus

junto com o desenho de uma montanha com um floco de neve. Legalmente a marcação M+S

sozinha é suficiente para identificar um pneu de inverno, mas a indústria de pneus tem adoptado

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a marcação de floco de neve para diferenciar os pneus de inverno reais (M+S e flocos de neve)

dos pneus gerais para a estação (apenas M+S) (Figura 17). [19]

Figura 17 - Marcação de pneu M+S e neve (adaptada de [19])

O desgaste mais rápido do piso de um pneu ocorre nos meses de verão. A alta temperatura

ambiente contribui para uma mais elevada temperatura de trabalho do pneu (Figura 18).

Figura 18 – Desgaste de um pneu (tendo em conta o normal - 100%) tendo em conta a estação do ano,

em função da quilometragem. (adaptado de [5])

Um pneu consegue assim, por variadas marcas laterais, apresentar-se e dar a conhecer as suas

propriedades principais a quem as souber ler.

Segurança rodoviária e pneus Para um veículo estar seguro sem dúvida que os pneus deste têm de estar dentro dos padrões

de funcionamento e manutenção adequados. Embora existam outros factores a ter em conta, na

segurança rodoviária os pneus são um dos pontos mais importantes a considerar, por serem

fáceis de controlar, mas também dos pontos mais comuns a terem falhas por incumprimento das

regras.

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1.4.1 Influência do pneu no comportamento do veículo

Um pneu tem diversas funções num veículo (vide 1.2.2.1) mas as suas condições de utilização,

conforme estejam dentro do estipulado pelo fabricante ou não, alteram as suas capacidades

iniciais e consequentemente o cumprir das suas funções.

Um dos pontos alterados pela insuflação de um pneu é a força de viragem, que é definida pela

intensidade da força que é gerada segundo o ângulo de escorregamento. É um factor importante

para o processo de viragem da viatura.

Figura 19 - Influência da pressão de Insuflação de um pneu na força de viragem necessária (adaptada de

[5])

A altura do piso do pneu também influencia a capacidade do pneu escoar a água, evitando o

fenómeno de Aquaplaning, em que os pneus apanham um lençol de água que não conseguem

escoar para manter a adesão à estrada, derrapando o veículo sem hipotese do condutor poder

controla-lo até ultrapassar o lençol.

A aderencia do veículo não é perturbada apenas pelo piso desgastado dos pneus e a sua

pressão (vide 1.4.2.1), mas também pela manutenção destes.

Na substituição de pneus, estes devem ser repostos a pares, e normalmente os pneus da frente

gastam-se mais rapidamente devido a maioria dos veículos terem tracção à frente. Como tal, há

a tendência de substituir os pneus da frente primeiro, havendo assim uma alteração de aderência

ao piso do veículo, pois antes os pneus mais gastos estavam a frente e com a substituição

passaram a estar atrás, passando a ser o eixo de tracção o com mais aderência, dando uma

segurança falsa ao condutor. Em piso escorregadio a perda de aderência dar-se-á primeiro no

eixo traseiro, mais difícil de controlar por não ter a tracção associada. Sendo assim, é sempre

aconselhável trocar os pneus do eixo de tracção primeiro, mas recolocar os traseiros no eixo

frontal e os novos no traseiro, para manter a aderência máxima no eixo sem tracção associada.

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A cada 10 000 km os pneus devem também ser rodados, ou seja, trocados entre si. Faz-se a

rotação para obter um desgaste mais uniforme de todos os pneus do automóvel, para compensar

a diferença de desgaste referida acima, e assim garantir uma maior eficácia e durabilidade dos

mesmos. A rotação vai também permitir uma maior estabilidade, em recta e em curva e uma

maior capacidade de travagem. [5]

1.4.2 Condições de utilização

Todos os pneus possuem condições óptimas de pressão de insuflação, carga máxima e

velocidade máxima (vide 1.3.3) dadas pelo fornecedor e fabricante. Mas existem outros factores

de utilização e manutenção de um pneu na viatura que devem ser realizados pelo utilizador do

veículo frequentemente.

Alguns pontos devem ser verificados regularmente para assegurar que se verificam as

condições necessárias para se manter a segurança do veículo [20]:

A marcação da medida do pneu deve ser idêntica ao longo do eixo, e devem ser

aplicados pneus com o mesmo tipo de construção, isto é pneus de construção diagonal

ou radial;

Os pneus M+S devem ser preferencialmente montados em conjuntos completos. Não

devem ser misturados com outros tipos de pneus no mesmo eixo;

Não é recomendável a montagem de um pneu novo (até do mesmo tipo) em conjunto

com um pneu bastante usado no mesmo eixo, isto é a profundidade de piso dos dois

pneus deve ser o mais próxima possível;

Existem requisitos especiais para a substituição de pneus em veículos 4x4. Consultar as

recomendações do fabricante do veículo;

Garantir que pneus Assimétricos, Compostos ou Direccionais são devidamente

montados na jante nas posições indicadas pelo fabricante.

O índice de carga e de velocidade (vide 1.3.3) tem de se ter em conta na substituição dos pneus.

Estes devem ser iguais ou superiores ao símbolo de carga e índice de velocidade aplicados nos

pneus aprovados para o respectivo veículo, ou seja, podem ser superiores ao indicado pelo

fabricante, mas nunca inferiores.

1.4.2.1 Pressão de Insuflação Em relação a alterações de pressão de insuflação dos pneus, tanto o excesso como o defeito

em relação ao ideal indicado pelo fabricante possuem consequências para o pneu e para o

veículo. A pressão deve ser sempre adequada tendo em conta a carga por eixo, as velocidades

atingidas e o tipo de via. [5]

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27

Uma pressão correcta permite uma boa área de contacto com o solo, melhorando a aderência,

favorecendo um desgaste regular do pneu, diminuindo a resistência ao rolamento e

consequentemente o consumo de combustível. [5]

Figura 20 - Tipos mais comuns de danos correspondentes a circulação de um pneu com pressão inferir à

adequada (adaptado de [5])

Uma pressão insuficiente provoca um desgaste irregular, maior nos ombros do pneu, levando à

fadiga da carcaça e a uma maior aquecimento, e anda a um aumento do consumo de combustivel

devido a uma maior resistencia ao rolamento, diminuindo o rendimento do pneu, ou seja, este

realiza menos quilómetros. [5]

Figura 21 - Representação de um pneu com pressão insuficiente (adaptada de [5])

Uma pressão excessiva leva a uma menor aderência ao piso devido a uma menor área de

contacto, a um menor conforto dos utilizadores do veículo, e a um menor rendimento quilometrico

do pneu por se desgastar mais na zona central do piso, que leva a um maior risco de cortes e

leva à fadiga dos elementos de suspensão. [5]

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28

Figura 22 – Representação de um pneu com excesso de pressão (adaptada de [5])

A pressão de utilização também influencia o desgaste do pneu, sendo que quanto mais baixa for

a pressão em relação ao recomendado, mais desgaste o pneu vai sofrer e mais vai se desgastar

no rolamento na via.

Figura 23 - Relação entre a pressão de utilização e a diminuição da duração de um pneu (adaptada de

[5])

Mas o desgaste do pneu não é a única alteração às suas condições optimas com a alteração da

pressão acima, ou abaixo da recomendada.

A temperatura da borracha, seja da parede lateral ou do piso, altera-se conforme as variadas

pressões de insuflação, além de que também são influenciadas pela velocidade de circulação.

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29

Como se pode verifcar na Figura 24, quanto maior a pressão, menor temperatura se atinge na

borracha do pneu. Este facto é importante para evitar danos por sobrequecimento, e respectivas

consequências (vide 1.5.1.6).

A pressão dos pneus influencia também o consumo de combustivel, pois o aumento de

resistencia à tracção de um pneu pouco insuflado gera um maior consumo de combustivel (Figura

25).

Figura 25 - Influência da pressão de um pneu e do respectivo consumo de combustível (adaptada de [5])

Por vezes perde-se pressão muito rapidamente para o previsto. A Figura 25 representa o declinio

esperado de pressão, em semanas, para um pneu com a pressão recomendada. Caso a perda

de pressão seja significativa em um curto espaço de tempo, pode haver fugas no pneu, seja por

defeitos na ligação entre a jante e o pneu (vide 1.5.1.1), seja por furo, ou também por problemas

na válvula. Para se verificar que a válvula não possui problema de fuga, deve-se retirar a tampa

da válvula, e passar água ensaboada em cima da mesma e verificar que não se formam bolhas

que indiquem uma perda de ar, e uma necessidade de substituir a válvula.

Figura 24 - a) Alteração da temperatura da parede lateral de um pneu com a variação da pressão de insuflação; b) Alteração da temperatura do piso de um pneu com a variação da pressão de insuflação (em bar) (adaptada de [5])

a) b)

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30

Deve-se por isso verificar a pressão dos pneus, sempre frios para não haver leituras alteradas

pelo aquecimento do ar comprimido, e com regulariade, para garantir que não existem perdas

de pressão por danos desconhecidos ou pelo envelhecimento do pneu.

Mas a pressão não é o único ponto a ser analisado frequentemente, a profundidade do piso

também merece atenção regular para garantir que este ainda é capaz de cumprir com as suas

funções, particularmente no escoamento de água.

A Tabela 6 resume os valores minimos e aconselhados de pressão e profundidade do piso, e

respectivas consequências na segurança do veículo. [1]

Tabela 6 - Resumo das pressões e profundidade do piso recomendadas e perigosas num pneu [1]

Pressão Correcta

Nominal +/-0,3 bar

Segurança na Condução

Maior duração do pneu

Menor consumo de

combustivel

Menor emissão de CO2

Pressão Baixa Nominal -0,3 a -0,5 bar

Menor duração do pneu

Degradação do

comportamento do veículo

Maior consumo de

combustivel

Pressão Perigosa Nominal -0,5 bar ou inferior

Risco de rebentamento

Estabilidade alterada

Aumento da distância de

travagem

Degradação irreversivel do

pneu

Profundidade do piso

Segura Mais de 3 mm

Pneu seguro em todas as

circunstâncias

Profundidade do piso Baixa Entre 3 mm e 1,6 mm

Pneu seguro, mas

condicionado

Necessario adaptar a

condução quando se

circula em estradas com

lençois de água (perigo de

Aquaplanning)

Profundidade do piso

Perigosa Menos de 1,6 mm

Pneu perigoso

Circulação fora da lei

Perda de aderencia em

molhado

Risco de rebentamento do

pneu

O pneu pode estar completamente seguro em relação à sua pressão e profundidade de

piso, mas mesmo assim ser influente negativamente na condução do veículo. Por vezes, a

certas velocidades, o condutor sente o veículo a vibrar. Entre outras razões, uma das mais

comuns deve-se a pneus mal equilibrados. [21] O resultado, além das vibrações e do

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desconforto que estas causam, é o desgaste prematuro e irregular dos pneus, bem como um

desgaste inesperado de todo o conjunto de suspensão do automóvel. A equilibragem das

rodas consiste na distribuição de peso da forma mais "equilibrada" possível entre o conjunto

formado pela roda e pelo pneu, ao nível dos centros radiais e laterais. Existem dois tipos de

desequilíbrios:

Desequilíbrio estático, quando existe uma parte do pneu mais leve ou mais pesada.

Isso faz com que o pneu não rode regularmente e pode originar perdas de tracção

e o desconforto que causa é evidente. [21]

Desequilíbrio dinâmico, que causa uma oscilação lateral ou uma vibração da roda

ao rolar. Este desequilíbrio causa um desgaste irregular no piso do pneu, chamado

também de desgaste sinuoso, em toda a circunferência. Causa uma maior

instabilidade e desconforto, sentem-se vibrações e origina um desgaste maior sobre

a direcção e os rolamentos. [21]

As rodas devem ser equilibradas sempre que surjam vibrações, na troca ou reparação de pneus,

ou a cada 10.000 km mesmo que não se verifiquem quaisquer "sintomas" que apontem para um

desequilíbrio das mesmas. [21] Assim garante-se que todos os aspectos de um pneu que podem

ser avaliados estão em ordem.

Um pneu tem em média 8 kg ou 80 kg, caso seja de ligeiro ou de pesado. Em média perde 10%

do seu peso durante a sua vida útil com a erosão durante a sua utilização, entre outros danos.

[8] Dai ser tão importante saber quais os danos mais comuns, derivados da utilização do pneu,

e os mais perigosos, que podem danificar a estrutura do pneu tornando-o inviável para circular.

Danos nos pneus Os pneus são assim elementos fundamentais da dinâmica e segurança de um veículo, sendo

por isso importante estes manterem-se com as suas propriedades intactas, sem sofrerem danos

ou alterações das suas propriedades que alterem as funções que desempenham quando em

utilização.

Mas durante o seu tempo útil estes podem sofrer danos mais ou menos comprometedores das

suas funções no veículo. A acumulação destes danos, ou a súbita alteração das condições de

utilização para limites extremos podem gerar que o pneu falhe.

Essas falhas podem ser classificadas de variadas maneiras, havendo danos que podem ser

devidos a falhas no controlo de qualidade, nas condições de utilização, no contínuo uso de um

pneu já sem condições de circulação, ou na ultrapassagem das condições extremas para que o

pneu está preparado.

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32

Tendo em consideração todos os danos existentes é praticamente impossível classifica-los

totalmente. No entanto, vários profissionais aglomeraram os vários tipos de danos em livros

técnicos sobre o assunto. [22] [23]. Embora não refira-se todos os danos, a missão fica mais fácil

ao referir-se os mais comuns, os mais perigosos e os mais relevantes para pneus acidentados,

que estão descritos seguidamente.

Os tipos de danos no pneu podem ser divididos de variadas maneiras:

Pode ser pela área em que acontecem, se no piso ou ombro, se são lateralmente visíveis

e na área do talão, ou no interior do pneu;

Podem também ser divididos em duas áreas grandes, uma com a separação das

variadas camadas do pneu (incluindo a delaminação da camada externa) e os danos

em que não está envolvida nenhuma destas separações, isto porque a separação das

telas é comum devido ao acumular das variadas causas que levam à separação.

Pode-se também considerar à parte certo tipo de danos, particularmente os causados

por arranjos ou manutenção no pneu realizada de forma errada, por danos químicos que

variam conforme o agente envolvido, mas que os mais comuns podem ser considerados.

Os danos após um acidente podem ser de todo o tipo mas normalmente nota-se a

diferença, sendo a diferença maior a nível microscópico, pois a delaminação da

borracha, a falha das telas e o corte do arame será visivelmente por corte e não por

rebentamento dos ligamentos.

Refere-se de seguida, e com apoio de imagens, os danos mais comuns dentro de cada área de

localização no pneu, e os casos mais específicos de danos gerais no pneu, anotando-se também

as causas mais comuns para cada dano.

1.5.1 Danos mais comuns

Tem de se ter em conta que a maioria dos danos está associada a mais que uma zona do pneu,

sendo por vezes revista em duas partes do capitulo, ou referida apenas na zona mais critica onde

pode acontecer, e sendo claro que certos danos, como por exemplo, derivados de um

envelhecimento do pneu, dão-se em variadas zonas do pneu, mas são referidas em separado

devido à causa e não à localização.

1.5.1.1 Área do talão Em relação à área do talão, podem acontecer danos na borracha que a envolve, devido a problemas de

montagem e desmontagem do pneu.

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Figura 26 - Dano na área do talão devido a montagem/desmontagem do pneu (adaptado de [22])

Como se pode ver na Figura 26, os danos na borracha foram feitos pelos ganchos da máquina

de montagem e desmontagem de um pneu.

Pode também acontecer o metal do talão ficar exposto, por delaminação da borracha, que pode

não só acontecer no processo de montagem/desmontagem, como também no transporte em

armazém por empilhadoras. [22]

Figura 27 - Dano na zona do talão por delaminação da borracha envolvente (adaptado de [22])

O dano pode não se limitar a ser na borracha, como visto na Figura 26 e Figura 27, pode também

envolver a alteração do formato do aro do talão, sem danos visíveis na borracha, como visto na

Figura 28.

Figura 28 - Dano na forma do aro do talão (adaptado de [22])

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Este tipo de dano visível na Figura 28 também costuma ser devido a uma utilização incorrecta

de ferramentas de montagem e desmontagem do pneu na jante, mas pode acontecer também

por mau armazenamento do pneu. [22]

Há danos no talão também devidos a uma utilização de uma jante com o tamanho errado para o

pneu em questão.

Figura 29 - Danos na zona do talão devido à utilização de jantes de tamanho errado/ou por falta de

pressão no pneu (adaptado de [22])

Na Figura 29 pode-se ver que a borracha está demarcada pela jante. Este dano pode também

acontecer se o pneu circular com a pressão abaixo da adequada.

Este tipo de danos na área do talão podem acontecer por outras razões, estas são apenas as

mais comuns.

1.5.1.2 Área de parede lateral A parede lateral pode sofrer bastantes tipos de danos, muitos deles influenciados por danos

ocorridos no piso que se propagam, outros por condições de utilização não adequadas, e até

mesmo o envelhecimento da borracha (vide 1.5.1.6).

Mas há um tipo de danos mais comuns além destes. Na lateral do pneu sente-se mais facilmente

qualquer alteração das condições de utilização, e é sem dúvida o elemento constituinte do pneu

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em que se sente a falta de pressão com maior intensidade, particularmente quando o pneu circula

com um furo (vide 0, Figura 84).

Figura 30 - Danos causados na lateral de um pneu por circulação em situação de inflação (imagem 1 e 2)

(adaptado de [22])

Figura 31 - Danos causados na lateral de um pneu por circulação em situação de inflação (imagem 3)

(adaptado de [22])

Os danos causados por circulação em estado de inflação estão visíveis na Figura 30 e Figura

31, onde se pode ver com clareza os danos em 360º à volta do pneu de quebra por esforço, e a

delaminação consequente da borracha. Este dano também pode ocorrer se o pneu estiver em

condições de sobrecarga. Existem outros exemplos de danos na parede lateral por falta de

pressão ou circulação em estado de inflação, em anexo (vide 0).

Na lateral também pode acontecer o típico furo, não sendo este dano restrito a zonas directas

de contacto com o piso.

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36

Figura 32 - Dano na área lateral do pneu devido a um furo (adaptado de [22])

1.5.1.3 Área do piso A área do piso é a área que acumula maior variedade de tipo de danos, devido em grande parte

por ser a zona de contacto directo com a via, sofrendo agressões que, teoricamente, outras

zonas do pneu não sofrem por não estarem em contacto.

Um dos desgastes mais comuns são as marcas de uma travagem brusca, perceptível a Figura

33, mais visível em carros sem ABS (Anti-lock Breaking System, que faz com que os pneus não

bloqueiem quando travados bruscamente), com travões novos ou problemas no sistema de

travagem. [22]

Figura 33 - Marcas de travagem brusca num pneu, com amostra de um caso que levou ao desgaste

completo de todas as camadas (adaptado de [22])

O caso comum dos furos e perfuração do pneu é um dos danos que costuma mais facilmente

ser identificado, devido à perda de pressão do pneu.

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37

Figura 34 - Perfurações num pneu (adaptado de [22])

Outro dano comum é o desgaste do piso e das marcas deste, devido ao uso, visível na Figura

35, onde por vezes um dos ombros pode estar mais desgastado que o resto do pneu devido a

uma alteração dos eixos do veículo (vide 1.5.1.6).

Figura 35 - Desgaste do piso do pneu (adaptado de [22])

As delaminações da borracha são comuns pois acontecem associadas ao envelhecimento do

pneu e da borracha. Por vezes as “laminas” criadas de borracha separam-se, visível na Figura

36.

Figura 36 - Delaminação com arrancamento de pedaços de borracha do piso (adaptado de [22])

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38

Por vezes as camadas do pneu separam-se, ou levantam, e nota-se particularmente mais no

piso.

Figura 37 - Separação de duas camadas do pneu (adaptado de [22])

Existem várias causas para tal acontecer, desde o pneu circular com excesso de carga além do

aconselhado, a ter um excesso de pressão em relação à ideal, ou mesmo problemas durante o

fabrico.

Outros danos relativos ao piso do pneu e ao respectivo desenho estão visíveis no apêndice 0.

1.5.1.4 Interior do pneu O interior do pneu é uma zona importante no que se refere a danos, pois por vezes a borracha

butílica (vide 1.2.2.3.1) pode estar danificada, e o utilizador não tem noção desse dano até este

manifestar-se de uma maneira mais agressiva.

Um dos danos mais comuns são os causados por condições de circulação com o pneu sem

pressão adequada, sendo o caso extremo a circulação com o pneu sem pressão, e também em

casos que a carga excede a definida para os pneus.

Figura 38 - Dano no interior de um pneu após circulação em condições não adequadas (adaptado de [22])

Na Figura 38 podemos verificar que o revestimento interno demonstra danos, com fracturas da

superfície da borracha, e tal vai permitir que haja infiltrações de ar na borracha de dentro para

fora.

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39

Um dos casos mais comuns para que as reparações possam falhar (vide 1.5.1.5) deve-se ao

facto de, por vezes, externamente o dano ser apenas um furo, uma perfuração, mas internamente

o pneu ter o revestimento interno danificado em uma área maior que um furo, precisando de uma

manutenção diferente, ou inviabilizando o reparo. [22]

Figura 39 - Dano no revestimento interno de um pneu que sofreu uma perfuração (adaptado de [22])

Na Figura 39 podemos ver que a perfuração que o pneu sofreu rasgou o revestimento interno do

pneu, tornando o dano bastante maior que o que poderia ser previsto externamente.

O revestimento interno também pode sofrer danos com o pó de equilíbrio utilizado para equilibrar

pneus, normalmente de pesados, por este ser colocado internamente no pneu, e ir alocar-se nas

zonas que dinamicamente precisam de ser equilibradas, mas se for um pó de má qualidade este

pode danificar o interior do pneu.

1.5.1.5 Reparações mal executadas Curiosamente, uma parte dos danos mais característicos encontrados num pneu é devida a

tentativas de reparação de outros danos.

Existem reparações a pneus que quando feitas, se não houver brio e responsabilidade por parte

do operador da oficina, podem tornar o pneu ainda mais perigoso do que estava anteriormente

com o dano que está a ser arranjado.

Um dos danos mais comuns de ser facilmente arranjado, mas caso mal feito, torna-se perigoso,

é o caso da perfuração do pneu até ao interior, um furo.

Existem vários tipos de remendos, alguns deles já abandonados devido ao facto de não serem

eficientes o suficiente, mas têm de ser feitos com uma respectiva inspecção do pneu e do dano

para garantir que este, após remendo, fica operacional. Sem essa revisão, pode ser problemático

o remendo.

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40

Figura 40 - Dano causado num pneu que foi mal remendado (adaptado de [22])

Na Figura 40 podemos ver que o remendo colocado no interior do pneu para corrigir um furo

acabou por ceder e causar um dano na parede lateral. Isto porque o mais provável era o furo ter

um tamanho irregular, ou demasiado grande para o remendo, e tal não foi tido em conta, tendo

sido realizada a manutenção na mesma.

Outro caso de um remendo mal feito pode ser visto na Figura 41, onde o pneu não foi

desmontado e analisado para ser remendado. Este tipo de remendos não é permitido pela

indústria automóvel devido a serem colocados sem inspecção/desmontagem, mas ainda é

verificada em alguns pneus em circulação.

Figura 41 - Tipo de remendo de furos feitos com o pneu montado (adaptado de [22])

Existem reparações que podem causar até separação de camadas do pneu, como se pode ver

na Figura 42, devido a migração de ar pelas variadas camadas, pois um remendo mal feito deixa

o pneu exposto.

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41

Figura 42 - Separação de parte da borracha da camada do piso do pneu devido a um remendo mal

executado (adaptado de [22])

No Apêndice 6.2 podem ser vistos outros danos causados por reparações mal efectuadas.

1.5.1.6 Danos por envelhecimento e mau de uso Este capítulo engloba dois tipos de danos que normalmente se acumulam entre si, mas que têm

origens diferentes, sendo os danos causados pelo envelhecimento do pneu não evitáveis, e os

de mau uso, a evitar.

As condições de utilização (vide 1.4.2), quando não cumpridas, dão origem a um envelhecimento

precoce do pneu, dando mais facilidade a que a já esperada degradação progressiva do pneu

ocorra de uma forma acelerada. E por ser já esperada, a degradação do pneu tem de ser

controlada, e quando este já não estiver em condições de circular, deve ser abatido, para evitar

danos, e possíveis acidentes, por excesso de uso do pneu.

Esse envelhecimento inevitável deve-se ao facto da luz solar (raios UV) e a composição do ar

(oxigénio e ozono, agentes oxidantes) degradarem a borracha e o metal que constitui o pneu,

fazendo com que ele perca qualidades. Na Figura 44 pode-se ver o típico dano, em fase inicial,

das quebras na borracha causadas pelo envelhecimento pelos elementos.

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Figura 44 - Visibilidade das quebras na borracha pelo envelhecimento dos elementos (adaptado de [22])

No entanto, este dano esperado é prejudicado pelos danos causados pelo mau uso do pneu. O

excesso de uso do pneu torna-o perigoso, por este perder aderência à estrada com a alteração

da borracha e, a perca do desenho do piso torna-o propício a problemas com aquaplaning (vide

1.4.2), sendo sinais visíveis de uso excessivo representados na Figura 45, onde as telas

estabilizadoras e o metal contido nelas já está exposto.

Figura 45 - Danos visíveis de excesso de uso (adaptado de [22])

Figura 43 - Dano visível sobre tensão do pneu, devido a deterioração pelo ozono (adaptado de [23])

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Existe também o caso em que a ferrugem pode ser o problema, seja esta proveniente das jantes

do pneu, ou proveniente dos seus elementos internos (como o talão e as malhas das telas

estabilizadoras, quando feitas de metal).

Figura 46 - Ferrugem visível em zonas expostas de um pneu em que os elementos metálicos estão erodidos (adaptado de [23])

Já foi visto como o pneu influencia o veículo (vide 1.4.1) mas existe também o problema de o

veículo influenciar o pneu.

Se os eixos do veículo estiverem desalinhados, este facto vai causar um maior desgaste num

dos lados dos pneus, invertidamente, e conforme o desvio dos eixos. Este tipo de danos é visível

na Figura 47.

Figura 47 - Visível desgaste do lado externo de cada pneu devido ao desalinhamento dos eixos do veículo

(adaptado de [22])

Existe também o caso de partes do veículo entrarem em contacto com o pneu em circulação,

como os guarda-lamas, parafusos, entre outras peças que podem estar fora da sua posição, e

que deixam marcas no pneu, como visível na Figura 48.

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Figura 48 - Danos causados num pneu que esteve em contacto com alguma peça do veículo

Se o pneu circular em excesso de carga, ou com pressão inferior ao necessário para a carga

suportada, (facilmente verificado analisando o numero gravado na lateral referente a esta

informação – vide capítulo 1.3.3) vai acabar por sofrer danos que o vão degradar rapidamente.

Figura 49 - Danos no pneu por excesso de carga (adaptado de [22])

Os danos sofridos são geralmente idênticos aos visíveis na Figura 49, onde há uma cedência na

zona lateral, ou perto do talão, de algumas, ou de todas as camadas do pneu.

Circular com pressão abaixo do definido acaba por causar este dano, e outros, normalmente

rodando todos em redor de cedências da parede lateral, que é a zona mais crítica em termos de

resistência de um pneu com variações de pressão em relação à adequada, como referido no

capítulo 1.5.1.2.

Por vezes um pneu pode estar a sofrer uma perda das suas qualidades por envelhecimento dos

seus componentes e tal não ser muito visível, por ser na zona interior do pneu, ou por ser

intrínseco à sua construção.

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Figura 50 - Rachas superficiais da borracha na lateral do pneu, indicativas do envelhecimento dos

componentes internos (adaptado de [22])

Na Figura 50 pode-se observar um sinal superficial da falha de elementos componentes das

camadas inferiores de borracha e malha, que se manifestam a olho nu no aparecimento de falhas

na borracha superficial. [22]

Um típico problema de mau uso é a não aplicação do tipo de pneus ao tipo de ambiente onde o

veículo vai circular.

Figura 51 – Envelhecimento e desgaste do pneu precoce (adaptado de [22])

Se um pneu construído para temperaturas baixas e para circular com chuva é usado em época

quente e seca, ou no caso inverso, vai degradar-se mais que o previsto, havendo um

envelhecimento acelerado, visível na Figura 51.

Os danos podem também acontecer consoante o tipo de zona onde o veículo circula. No

apêndice 0 estão alguns exemplos de danos associados a diferentes tipos de terreno.

Outra razão de uma má utilização vem ainda antes do pneu ser montado, havendo muitos casos

em que os pneus ficam danificados, e por vezes inutilizados, por mau armazenamento. Se um

pneu ficar perto de máquinas que produzam calor, vai acabar danificado, se estiver ao sol

também, ou em alguma posição que suporte muito peso, pode ficar deformado.

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1.5.1.7 Danos devido a químicos Existem casos em que a borracha, que é uma mistura de componentes químicos, pode entrar

em contacto com contaminantes que lhe alterem as propriedades.

Figura 52 - Dano na superfície do pneu devido a contacto com produtos petrolíferos (alteração de

cor/textura) (adaptado de [22])

Por vezes compostos derivados do petróleo, como os combustíveis ou os lubrificantes, ao

entrarem em contacto com a borracha as propriedades desta podem alterar-se de variadas

maneiras, podendo alterar a cor, a textura, ficar esponjosa, expandir ou formar bolhas na

superfície de contacto. Esses danos podem ser vistos na Figura 52 e Figura 53. Acaba por, em

estados mais avançados, por secar a borracha e ela perde as propriedades elásticas. [22]

Figura 53 - Dano na superfície do pneu devido a contacto com produtos petrolíferos (superfície

esponjosa/aparecimento de bolhas na superfície) (adaptado de [22])

Existem danos causados também pelo contacto com o sal, usado em países frios para derreter

a neve, ou com produto Antifreeze, para o motor. Esses danos são normalmente, em conjunto

com o envelhecimento do pneu pelo meio envolvente (vide 1.5.1.6), causadores do ressequir da

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borracha, e até mesmo enferrujar o metal que é constituinte do pneu, se este tiver alguma entrada

(por danos de perfuração e envelhecimento da borracha).

Figura 54 - Corrosão da borracha e do metal exposto a água salina (adaptado de [23])

1.5.1.8 Danos derivados de sinistros No âmbito deste tema, estes danos são os mais específicos de tentar identificar-se, e catalogar

em relação a outro tipo de danos.

O único problema é conseguir distinguir danos pré e pós acidente, e particularmente, danos pós

acidente que são parecidos a danos não derivados de acidentes.

Os danos mais comuns em acidente são os devido a impactos. Mas são danos que podem

ocorrer sem que haja acidente, basta haver um grande impacto no pneu, sendo que isso depende

da via, do comportamento do condutor e do próprio veículo.

Um dos casos mais comuns são as delaminações da borracha por impacto. Conforme a força do

impacto, pode haver perfuração de uma ou mais camadas da estrutura do pneu.

Figura 55 - Delaminação do pneu por impacto (adaptado de [22])

Como se pode ver na Figura 55 a delaminação tem normalmente uma zona em que o corte da

camada é directo, não havendo o típico esfarelar do desgaste.

Existem danos de impacto maioritariamente visiveis na borracha do interior do pneu, na zona do

talão, embora também possam formar uma ligeira saliência no exterior do pneu (Figura 56).

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Figura 56 - Dano na borracha de revestimento interior devido a um impacto (adaptado de [22])

O impacto pode ser suficientemente forte para quebrar o pneu em varias camadas, como visto

na Figura 57 sendo este dano diferente do da Figura 55 pois não é retirado qualquer bocado de

pneu. Este tipo de dano é agravado por uma circulação com excesso de pressão nos pneus, e

em altas velocidades.

Figura 57 - Quebra do pneu devido a impacto (adaptado de [22])

Na Figura 58 já se verifica a delaminação com o impacto, sendo este dano uma mistura dos

referidos na Figura 57 e Figura 56.

Figura 58 - Quebra e delaminação de um pneu por impacto (esquerda – lateral, direita – no piso)

(adaptado de [22])

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49

Existem também danos derivados a contacto com objectos pontiagudos ou cortantes, criando

cortes no pneu, que podem acontecer em acidente, ou por vandalismo, sendo um exemplo

desses cortes (Figura 59).

Figura 59 - Cortes na superfície do pneu (adaptado de [22])

Estes danos são os principais para se verificar se houve um impacto no pneu que os tenha

causado, como, por exemplo, durante um acidente, e assim poder interpretar melhor os

parâmetros do acidente, com base nos danos causados no pneu. O mais dificil o interpretar do

“branco”, ou seja, do estado do pneu antes do acidente, visto ser um pneu já usado, exposto aos

danos anteriormente falados.

Outros danos mais especificos, ou menos comuns, mas relevantes encontram se no anexo 0.

Existem danos não abordados pois são quase restritos a pneus de pesados (vide 6.2.1) devido

à necessidade destes possuirem propriedades diferentes das dos ligeiros, particularmente na

recauchutagem (vide1.7.2.1.2).

As consequências destes danos são variados, desde o desgaste acelerado de um pneu, uma

maior poluição sonora/atmosférica/da via, e maioritariamente a causa de acidentes

desnecessários se houvesse uma maior manutenção do estado dos pneus (vide 1.5.2.1) gerando

muitas vezes rebentamentos.

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50

1.5.2 Estatísticas de acidentes e estatísticas dos pneus

1.5.2.1 Causas de acidentes e quais associadas a pneus Normalmente, quando existe um acidente com um veículo tenta-se descobrir as causas. Estas

podem ser variadas, e em algumas delas estão os pneus com o papel principal ou secundário.

Normalmente existem três grandes grupos de causas para acidentes de viação: o factor humano,

o factor da via e do meio ambiente e o factor mecânico do veículo. [24]

A OMS (Organização Mundial de Saúde) publicou em maio de 2015 algumas estatísticas sobre

acidentes de viação. [25]

Concluíram que mais de 90% das mortes e lesões ocorrem em países subdesenvolvidos, e nos

desenvolvidos em classes sociais de menor nível económico. Este facto é influenciado por outras

razões que causam acidentes, que são as falhas mecânicas do veículo, que podem ser evitadas

com uma frequência activa da manutenção dos elementos componentes da máquina, que em

classes sociais com menor nível económico acaba por ser um ponto secundário da utilização do

veículo, pois o custo de manutenção é elevado. Este ponto é um dos principais onde os pneus

são mais influentes nas causas dos acidentes, por não possuírem a devida manutenção (vide

1.5.1.5). [25]

Os jovens entre os 15 e 44 anos são 60% das mortes globais, e os homens são mais propícios

a estarem em acidentes de trânsito, sendo cerca de 77% das mortes na estrada, e que os jovens

do sexo masculino com idade inferior a 25 anos são quase 3 vezes mais propensos a morrer na

estrada do que jovens do sexo feminino. [25] Isto deve-se a atitudes baseadas numa confiança

excessiva na velocidade e via onde circulam, em maior parte pelos elementos do sexo masculino.

Os acidentes de viação podem ser evitados com algumas atitudes. A via precisa de estar

operacional, com escoamento de águas par evitar aquaplaning, bem iluminada, havendo também

limpeza de óleos regulares para evitar derrapagens. Devem estar bem pavimentadas e bem

sinalizadas, sendo estas razões as principais que influenciam a condução por parte do ambiente

e da via, sendo responsabilidade das empresas exploradoras das estradas e dos elementos

governamentais responsáveis. [24]

Pode-se também melhorar as características de segurança dos veículos, e melhorar a

assistência pós-acidente para as vítimas de acidentes de trânsito. Intervenções que visam o

comportamento do usuário rodoviário são igualmente importantes, tais como a criação e

aplicação de leis relativas aos principais factores de risco, e sensibilização do público sobre

estes. [25]

Os principais factores humanos que aumentam o risco de um acidente e mortes na estrada são

[24] [25]:

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51

Velocidade - Um aumento na velocidade média está diretamente relacionada tanto com

a probabilidade de um acidente ocorrer como também à gravidade das consequências

do acidente.

Conduzir alcoolizado ou o consumo de estupefacientes – consumir Álcool e/ou

estupefacientes combinados com o acto de conduzir aumenta tanto o risco de um

acidente como a probabilidade de morte ou ferimentos graves que poderão resultar

deste.

Não uso de capacete (Motociclos) - Usar um capacete corretamente pode reduzir o risco

de morte em quase 40% e o risco de ferimentos graves em mais de 70%.

Não uso de Cintos de segurança e sistemas de retenção - Usar cinto de segurança reduz

o risco de uma fatalidade entre os passageiros do banco frontal cerca de 40-50% e de

passageiros do banco traseiro por entre 25-75%. Se corretamente instalado e utilizado,

retenção para crianças reduz as mortes entre crianças cerca de 70% e as mortes entre

bebés entre 54% e 80%.

Cansaço - Um condutor cansado pode adormecer ou ficar sonolento, com capacidade

de reação extremamente reduzida

Desrespeito da distância mínima entre veículos - É um erro extremamente frequente e

grave, presente na maioria das colisões traseiras. O condutor aproxima-se demais do

veículo à sua frente, reduzido o seu próprio tempo de reação, renunciando a qualquer

possibilidade de evitar o acidente em caso de travagem do veículo que vai à sua frente.

Ultrapassagem indevida - Leva à possibilidade de choques frontais por invasão da faixa

contrária para realizar uma ultrapassagem sem condições.

Condução distraída - Há muitos tipos de distrações que podem levar a uma condução

perigosa, sendo algumas das mais comuns:

o A distracção causada por telemóveis pode prejudicar a performance de

condução de diversas maneiras, desde criar tempos de reacção mais longos a

uma diminuição da capacidade de manter-se na faixa correta. As mensagens de

texto também resultam em uma considerável redução da performance de

condução, com condutores jovens em risco especial dos efeitos da distração

resultantes dessa utilização. Sistemas de Alta-voz ou de Mãos-livres não tornam

a utilização do telemóvel muito mais segura, pois embora mantenham o condutor

com a visão na estrada, desviam a atenção com a mesma intensidade.

o Uma longa viagem, um percurso quotidiano eternamente repetido, o uso do

telemóvel, podem ter o mesmo resultado: uma desatenção ao que está a

acontecer e a incapacidade a reagir de modo a evitar o acidente.

o Os passageiros do veículo são também uma causa comum de acidente por

distraírem o condutor, particularmente crianças e animais, que não possuem

noção do comportamento a ter na estrada, distraindo o condutor facilmente.

o Acidentes na estrada tornam a probabilidade de outro acidente acontecer maior,

pois os condutores têm tendência a olhar para os veículos acidentados,

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alterando a velocidade e retirando a atenção da via, ficando facilmente expostos

a um acidente por distracção.

o Insectos que possam entrar no carro também são uma causa comum de

acidentes, devido aos reflexos que o condutor acaba por ter para se proteger,

retirando as mãos do volante e alterando o movimento dos pés nos pedais,

podendo causar o descontrolo do carro e um posterior acidente.

Destas razões e outras, e da combinação de várias delas, gera-se um meio complexo de

circulação que exige um controlo apertado, regras e leis restritivas que façam cumprir os mínimos

da segurança para uma estrada mais segura. É sempre necessária uma formação contínua e

um treino intensivo dos novos condutores. Sem dúvida que uns pneus em condições de utilização

controladas geram mais segurança neste mapa da segurança rodoviária.

1.5.2.2 Estudo ACAP

A ACAP (Associação Automóvel de Portugal), através da sua Comissão Especializada de

Produtores de Pneus (CEPP), que integra os principais fabricantes de pneus, levou a cabo uma

campanha de informação e de sensibilização junto dos condutores sobre o papel fundamental

dos pneus no que toca à segurança dos veículos e da circulação rodoviária. Reescrevo o

concluído nesta campanha de informação e de sensibilização por parte da ACAP.

“Condutores de cerca de 900 viaturas entre Lisboa e Porto beneficiaram de check-up gratuito

aos seus pneus, por técnicos dos principais fabricantes que integram a CEPP.

A campanha, sob o lema “Pneus? Muito mais que um acessório, a sua segurança”, decorreu nos

meses de Junho e Setembro de 2013 e contou com o apoio operacional da PSP e da UNT/GNR

(Unidade Nacional de Trânsito).

Os números obtidos são muito preocupantes:

Em 32%, o estado dos pneus foi considerado muito perigoso para a circulação rodoviária,

necessitando da intervenção urgente de um especialista.

Quase metade, 48%, dos pneus analisados não tinham a pressão correcta.

No que se refere ao desgaste dos pneus, (grau, uniformidade e profundidade do desenho da

banda de rodagem) 35% dos pneus analisados não estavam em conformidade e 23% estavam

em mau estado!

Os promotores da Campanha sublinham que a manutenção pode ser efectuada em poucos

minutos e não tem custos associados – pelo contrário, pneus em bom estado e com a pressão

correcta proporcionam não só uma condução mais segura como também mais económica.

Para além da poupança de combustível decorrente de uma circulação rodoviária com a pressão

aconselhada - em 15.000km anuais, pode ser o equivalente a um depósito cheio, a vida útil do

pneu também é prolongada, não sendo necessário substituí-lo tão cedo.

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Isto é, o condutor ganha de duas maneiras.

Outro procedimento simples recomendado pela ACAP/CEEP é a visualização regular dos pneus

no que toca ao grau e uniformidade do seu desgaste bem como a profundidade do desenho da

banda de rodagem: o mínimo legal é 1,6mm, mas aconselha-se a substituição do pneu quando

esta é inferior a 3,0mm. “ (excerto retirado de [1]).

Este estudo demonstrou que nas duas maior cidades com mais tráfico em Portugal, não existiu

uma maioria que tivesse os pneus num estado considerado completamente seguro. As

recomendações dos produtores e fabricantes são ideais para que os utilizadores levem mais a

sério o controlo das condições recomendadas de circulação dos pneus numa viatura. Ainda muito

pode ser feito para que a falta de segurança rodoviária seja menos associada à falta de

condições de circulação dos pneus na estrada.

Estudo e testes científicos realizados a pneus

Um pneu precisa de ser testado, antes de entrar para o mercado, na produção, e a nível de

controlo de qualidade, e posteriormente, caso aconteça alguma falha ou envolvimento em

acidente, a nível de danos sofridos micro e macroestruturais.

1.6.1 Testes de controlo de qualidade

Os testes de controlo de qualidade costumam-se focar em garantir que um pneu cumpre a

performance que promete. No final da produção há dois tipos de testes que podem ser feitos

para comprovar as características exigidas do pneu, sendo estes “destrutivos” ou “não

destrutivos”. [26]

Testes não destrutivos deixam o pneu com as condições originais e pronto para ser vendido, os

destrutivos destroem o produto ou certas características deste.

Testes não destrutivos são por exemplo uma selecção random de um pneu para se realizar um

raio-x para garantir que a sua arquitectura interna está dentro das especificações. Todos os

pneus são pesados e marcados em certas zonas de união e de equilíbrio de modo a que na

montagem, particularmente em pneus de origem, se tenha em conta a melhor posição para que

haja equilíbrio dinâmico. Estas marcas costumam ser amarelas e vermelhas. [26]

Existem também testes de verificação visual por parte de inspectores especializados, que

procuram falhas visíveis ou alterações realizadas na produção não previstas. [26]

Começam a haver testes 3D para verificar o pneu e a sua estrutura, com vantagens e

desvantagens aos testes 2D, como o raio-x, já practicados. As vantagens dos testes 3D residem

na capacidade de detectar não só presença de certos elementos como também o seu volume,

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não são afectados pela luz ambiente, mas têm a desvantagem de terem pouco contraste nos

resultados, onde os testes 2D possuem melhor definição. [27]

Os testes “destrutivos” consistem em verificar se “fatias” de um pneu escolhido ao acaso

possuem as características esperadas em componentes, camadas e resistências. Também se

fazem testes de performance, em simuladores de pisos e de desgaste, e alguns testes de

circulação com o pneu montado num veículo em que se testa a capacidade de escoamento de

água e resistência aos danos, além da avaliação periódica do pneu durante a circulação. [26]

A maioria destes testes são mecânicos pois os testes químicos costumam testar a ligação dos

elementos de cada camada do pneu, e entre as camadas, microscopicamente, mas caso essa

ligação falhe, nota-se macroscopicamente, e mecanicamente o pneu falha nas suas

propriedades. Dai ser mais fácil verificar erros na vulcanização durante o processo, e erros e

performance mecânica e não a nível microscópico/químico.

1.6.2 Testes físicos e químicos realizados a um pneu danificado

Os testes posteriores ao uso, e normalmente posteriores a falhas, costumam ser realizados caso

o pneu receba uma queixa de mau funcionamento. A análise pode focar-se para determinar se

o dano é de fabrico ou de uso, mas existem vários tipos de falhas que podem acontecer (vide

1.5.1) e nem todas podem ser verificadas a olho nu, embora a maioria seja ou tenha-se tornado

visível, daí haver a queixa.

Existem também alguns testes físicos de tensão/elongação do material do pneu que

normalmente são realizados como teste de controlo de qualidade, mas que após dano, podem

ser realizados para comparar com os valores de referência [28]. Para este tipo de testes convém

por vezes envelhecer um pneu antes de fazer os testes, pois o uso do pneu e o facto de este

ficar exposto a certos elementos pode alterar a dinâmica do material, e tornando-o mais ou

menos rígido, não sendo isso classificado num teste de controlo de qualidade inicial, e que por

isso tem de ser feito para se tornar o “branco” na análise de um pneu usado neste aspecto

mecânico da tensão/elongação. [28] [29]

A nível laboratorial, e no âmbito deste tema, para identificar alterações a pneus danificados

podem ser feitos variados testes, alguns para determinar o dano, outros para caracterização da

borracha, para comprovar o dano.

1.6.2.1 Testes químicos laboratoriais Num laboratório podem ser feitos testes variados, cada um com o seu objectivo. Pode querer-se

saber quais os componentes presentes na amostra, e conforme o tipo de amostra, existem

variados testes. Também pode-se querer simular certas condições, ou comprovar alterações

microscópicas da matéria.

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1.6.2.1.1 Testes de identificação Os testes químicos mais comuns realizados aos elementos de um pneu consistem:

1.6.2.1.1.1 Termogravimetria Termogravimetria ou análise termogravimétrica (TGA em inglês) é uma técnica destrutiva no

ramo de análises térmicas, na qual se controla a variação da massa de uma amostra em função

da temperatura ou do tempo, num ambiente de temperatura e atmosfera controladas. O seu

princípio de funcionamento é simples: analisar a perda ou a agregação de massa à amostra em

temperaturas variadas. [30]

Existem ensaios [31] realizados com borracha de pneu (composta por vários tipos de borracha –

vide 1.2.2.3.1) e de borrachas individuais, mostrando que existe na borracha do pneu uma

temperatura superior e outra inferior de degradação térmica, derivada da mistura de borrachas

com propriedades diferentes. Estes ensaios foram feitos com Nitrogénio e com eles determinou-

se os parâmetros cinéticos da borracha do pneu em questão e das borrachas SBR NR e BR que

a compunham. [31]

Alguns ensaios [32] [33] usam a Termogravimetria para testar a melhor maneira de se realizar

pirólise para reciclagem dos pneus usados (vide 1.7.2.1.4) para obter-se a maior rentabilidade

energética possível.

Particularmente em [33], os resultados de pneus envelhecidos durante a Termogravimetria são

referidos, sobre a estabilidade térmica da borracha, os resíduos sólidos deixados, a cinética

básica e na variação do peso relativo perdido da amostra.

Na Figura 60 pode-se ver um típico gráfico da curva de uma análise termogravimétrica de uma

amostra de pneu, como exemplo.

Figura 60 - Curva de Termogravimetria (TG) de uma borracha de pneu (estando também representada a

curva DTG - derivative thermogravimetric) (adaptado de [34])

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Pode-se visualizar na Figura 60 que um perfil típico de uma análise TGA da borracha possui três

bandas bem definidas, duas na zona dos 400ºC de dois elastómeros, e uma na zona dos 600ºC

pertencente ao negro de fumo, e a cinzas.

1.6.2.1.1.2 Raman A espectroscopia Raman é uma técnica de alta resolução que pode proporcionar, em poucos

segundos, informação química e estrutural de quase qualquer material, composto orgânico ou

inorgânico permitindo assim a sua identificação. [35]

A sua análise baseia-se na luz, monocromática, coerente e de determinada frequência,

espalhada ao incidir sobre o material a ser estudado, cuja maior parte da luz espalhada também

apresenta a mesma frequência daquela incidente. Somente uma pequena porção da luz é

espalhada inelasticamente frente as rápidas mudanças de frequência, devido à interação da luz

com a matéria, e é uma característica intrínseca do material analisado e independe da frequência

da luz incidente. [35] Esta técnica é aplicada diretamente sobre a amostra em questão, não sendo

necessário fazer uma preparação especial no material. Além do mais, não há alteração na

superfície que se faz a análise. [35]

A espectroscopia Raman é também usada num ensaio [10], juntamente com um FTIR (vide

1.6.2.1.1.4), para encontrar os componentes num pneu onde existem reacções com o catalisador

da vulcanização da borracha (vide 1.2.2.4.1), encontrando os espectros da borracha SBR mas

também dos elementos catalisadores.

O Raman tem também a vantagem de dar uma imagem 3D de estruturas heterogéneas, como

referido em [36], pois consegue ler o espectro do material, sendo feito conjuntamente, e

comparativamente com uma leitura SEM (vide 1.6.2.1.1.3).

Na Figura 61 podemos ver um típico gráfico dum espectro Raman de uma amostra de pneu,

como exemplo.

Figura 61 – Espectro Raman de borracha IR e HNBR (adaptado de [36])

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Pode-se verificar na Figura 61 que os picos tipos de uma borracha na zona dos comprimentos

de onda de 2500cm-1 pertencem as ligações duplas de azoto, e na zona dos 1600cm-1 às ligações

duplas do carbono.

1.6.2.1.1.3 SEM Um microscópio eletrónico de varrimento (SEM em inglês) é um tipo de microscópio que produz

imagens de uma amostra, usando a digitalização com um feixe focalizado de electrões. Os

electrões interagem com átomos da amostra, produzindo vários sinais que podem ser detectados

e que contêm informações sobre a topografia da superfície da amostra e a composição. O feixe

de electrões é geralmente verificado em um padrão de exploração da retícula, e a posição do

feixe é combinado com o sinal detectado para produzir uma imagem. SEM pode obter uma

resolução melhor do que um nanómetro. [37]

A Fractografia é o estudo das superfícies de fractura de materiais. Métodos Fractográficos são

usados para determinar a causa da falha em estruturas de engenharia, especialmente em falha

do produto, e na prática de engenharia forense ou análise de falhas, como no caso da falha de

um pneu. Na pesquisa da ciência material, fractografia é usado para desenvolver e avaliar

modelos teóricos do comportamento de crescimento de falhas. [38]

Um dos objectivos do exame fractográfico é determinar a causa da falha, estudando as

características de uma superfície fracturada. Diferentes tipos de crescimento da fissura (por

exemplo: fadiga, fissuras corrosão sob tensão, oxidação) produzem características na superfície,

que podem ser utilizadas para ajudar a identificar o modo de falha. [38]

O SEM é usado em conjunto com a Fractografia para identificar certo tipo de falhas (vide 1.5.1)

das fibras envolvidas nas várias camadas de um pneu (vide 1.2.2.3). [39]

É também usado em amostras calcinadas de pneu, para análise das suas propriedades porosas

e para comparar com alguns dos seus componentes originais, como o negro de fumo [8].

Imagens SEM são também geradas de produtos após serem analisados por Termogravimetria

(vide 1.6.2.1.1.1), podendo comparar posteriormente a composição química com a imagem SEM

e retirar-se conclusões de diferentes amostras, como realizado em [40] , onde amostras de

detritos em pó de pneu de variadas origens e obtidos de diversas formas produziram resultados

SEM/TG diferentes e identificáveis.

Na Figura 62 podemos ver uma típica imagem SEM de uma amostra de pneu, como exemplo.

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58

Figura 62 - Imagem SEM típica de uma partícula de borracha de um pneu (adaptado de [41])

1.6.2.1.1.4 FTIR Transformada de Fourier por Espectroscopia de Infravermelho (FTIR em inglês) é uma técnica

que é utilizada para obter um espectro de infravermelho de absorção, emissão, fotocondutividade

ou Raman de um sólido, líquido ou gás. Um espectrómetro FTIR simultaneamente recolhe dados

espectrais de alta resolução através de uma vasta gama espectral. Isto confere uma vantagem

significativa sobre um espectrómetro de dispersão que mede a intensidade ao longo de uma

estreita faixa de comprimentos de onda de cada vez. [42]

A transformada de Fourier de espectroscopia de infravermelhos origina do facto de uma

transformada de Fourier ser necessária para converter os dados em bruto para o espectro real.

[42]

O FTIR é usado para caracterizar amostras variadas de pneu, sejam estas envelhecidas

laboratorialmente (com UV [28]) ou detritos separados ao longo do tempo de uso de um pneu de

estrada [43], ajudando assim à caracterização de amostras.

Na Figura 63 pode-se ver um típico gráfico da curva de uma análise FTIR de uma amostra de

pneu, como exemplo.

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Figura 63- Espectro FTIR de uma amostra de pneu, comparada a uma amostra de pneu com Alilamina

(adaptado de [44])

Na Figura 63 verifica-se que o espectro pertencente à borracha possui picos na zona dos 2900

cm-1 pertencentes à elongação das ligações C-H e na zona dos 1090 cm-1 uma banda

pertencente a elementos de sílica.

1.6.2.1.2 Simulação de envelhecimento Por vezes, e para simular danos de envelhecimento para os comparar com o pneu em questão

a ser analisado, realizam-se testes de aceleração de envelhecimento:

1.6.2.1.2.1 Envelhecimento com Ozono O ozono (vide 1.5.1.6) é um dos principais degradantes da borracha do pneu. Por vezes é preciso

simular esse envelhecimento em laboratório, sendo usadas câmaras de UV (vide 1.6.2.1.2.2)

com ambiente quente, húmido e com alto teor de ozono na atmosfera dentro da câmara. [28]

1.6.2.1.2.2 Envelhecimento com UV O envelhecimento com raios Ultravioleta é realizado para simular o envelhecimento por

exposição à luz solar que os pneus sofrem ao longo da sua vida útil. Essa simulação é feita numa

câmara com exposição UV, normalmente a altas temperaturas (cerca de 70ºC [28]), e pode ou

não ser feito em ambiente húmido.

Existe certos ensaios [43] que adicionam Alilamina em solução ao ambiente de envelhecimento

do pneu devido às suas propriedades. Nomeadamente a degradação do pneu com a luz UV que

se deposita na camada superficial da borracha, o que se torna interessante para verificar a

alteração do envelhecimento com a luz UV e aditivos no pneu.

Nos casos referidos [43] [28], e em outros testes que envolvem envelhecimento em exposição à

luz solar e ao ozono, [29] as alterações reparadas no comportamento da borracha do pneu

focaram-se na perda de elasticidade e força, e na capacidade de evitar delaminações (vide

1.5.1).

Particularmente, uma das maneiras de reciclar pneus usados envolve usar o produto da sua

moagem, juntamente com cimento (vide 1.7.2.1.3) [44], para criar compósitos uteis para

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superfícies. Essa mistura está a testar a utilização de raios UV [41] para haver menor degradação

das propriedades do compósito com a utilização de borracha alterada, e havendo assim uma

melhor ligação entre a borracha e o cimento.

Com estes testes, normalmente usadas em variadas combinações entre eles, consegue-se

assim comprovar a qualidade do pneu, ou determinar a falha que levou a que este não atingisse

a performance esperada.

Na Figura 64 podemos ver um típico gráfico da curva de evolução da propriedade de flexão de

uma amostra de pneu durante a sua exposição a luz UV, como exemplo. Verifica-se que a

alteração da borracha e da sua elasticidade é elevada, chegando aos 20% com 40h de

exposição.

Figura 64 - Evolução típica da resistência de flexão de uma borracha de pneu exposta a tratamento com

raios UV, comparativamente a borracha não exposta ( adaptado de [41])

O ambiente e o pneu – problemas da eliminação de

pneus usados

1.7.1 O Pneu e o seu impacto ambiental

Sendo o pneu parte integrante de um veículo, e este frequenta a via, ambos possuem um grande

impacto no ambiente que os rodeia. Os pneus em particular têm a potencialidade de se tornarem

poluentes graves do meio ambiente devido aos seus componentes tóxicos para o ecossistema,

como o enxofre usado na vulcanização (vide 1.2.2.4.1).

Um dos problemas da utilização dos pneus é que embora estes possam durar até 40 mil km

antes de estarem fora das condições óptimas de uso, durante a sua vida útil um pneu perde

cerca de 30 % da sua borracha do revestimento externo em partículas soltas com a abrasão ao

piso. [45] O rácio comum de abrasão de um pneu está reportado como sendo um intervalo entre

0,006 e 0,09 g km-1. Mas dessas partículas, menos de 5% são transportadas pelo ar, e menos

de 1% são gasosas. [45]

As partículas podem ser toxicas para a flora e fauna, infiltrando-se nos rios e canais freáticos,

contaminando facilmente o ambiente em redor. Nas zonas terrestres em redor da via costuma

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haver bastantes detritos de origem óbvia – laminação dos pneus durante o rolamento na via, que

não são biodegradáveis.

Em caso de queima dos pneus, mais grave em aterros de pneus e ferros velhos devido à

concentração de matéria comburente (vide 1.7.2.1.1)., a poluição é mais dramática e a

contaminação do meio ambiente torna-se bem mais grave, existindo libertação de muitos

produtos químicos tóxicos, incluindo compostos orgânicos voláteis, tais como benzeno, metais,

como o chumbo, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e componentes de borracha sintética,

tais como o butadieno e estireno. Além disso, o teor de cloro em pneus leva à criação de dioxinas

e furanos, quando os pneus são queimados. [46]

Mas os pneus não são um elemento potencialmente poluente apenas na sua vida útil. O seu ciclo

de vida prevê o seu abate, mas este tema tem sido problemático para a industria, crescendo o

problema exponencialmente com a utilização massiva dos pneus mundialmente e o crescimento

da sua utilização no século XX. Chega assim ao presente dia como um ponto com mais do que

uma saída, pela sustentabilidade esperada do sector.

1.7.2 O abate de um pneu

O Pneu é um elemento do veículo que não possui o mesmo tempo de vida que a maioria das

peças, sendo por isso a sua substituição necessária no tempo de vida da viatura.

Quando um pneu acaba o seu tempo de vida útil, está quase a completar o seu ciclo de vida,

faltando apenas a sua retirada de circulação.

Cerca de 100 mil toneladas de pneus por ano são retirados dos veículos para seguirem para

abate, só em Portugal. [47]

As opções disponíveis inicialmente reduziam-se aos aterros de pneus, sendo que posteriormente

foi-se pensando em outras opções para valorização energética e amigas do ambiente, embora

por vezes estes dois pontos sejam antagonistas.

A reutilização da peça num todo também foi desenvolvida em paralelo, devido ao elevado custo

dos pneus novos, fazendo com que um mercado paralelo de reutilização e reaproveitamento

fosse criado, com a recauchutagem dos pneus, maioritariamente de pesados, mas também a

existência dos remendos de furos.

1.7.2.1 Os caminhos possíveis para o fim de vida de um pneu Sendo assim, o pneu ao sair de circulação num veículo ainda tem um caminho a percorrer, e que

cada vez mais tenta-se que seja sustentável. Passou-se nas últimas décadas a ver o pneu como

uma nova matéria-prima, tendo em conta o processo certo, tentando deixar de o ver como

matéria descartável como foi tratado durante a maior parte do século XX.

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62

1.7.2.1.1 Aterros de pneus A opção inicial para o grande número de pneus em fim de vida útil foi a de considerar o produto

como lixo e descartá-lo como tal – num aterro. Os aterros de pneus são um problema ainda hoje

por ser a opção mais fácil, mas sem dúvida a mais negativa, para o abate dos pneus.

Desde 1999 que saiu uma directiva (1999/31/EC, de 26 de Abril) [48] que torna os aterros de

pneus uma prática ilegal na Europa. O continente chega a reciclar cerca de 480 mil toneladas de

borracha por ano, mas mesmo assim os aterros existentes noutros países são problemáticos

pois parte dos pneus descartados são exportados (Figura 65). [49]

Figura 65 - Maior aterro do mundo, visto do espaço, contendo cerca de 7 milhões de pneus, em Sulaibiya

no Kuwait (adaptada de [49])

Embora os processos de reutilização de um pneu, de reaproveitamento dos materiais e da

reciclagem da borracha sejam difíceis, há muitas razões para haver novos métodos que retirem

o aterro do pódio dos destinos de fim de vida dos pneus [12]:

A borracha recuperada pode chegar a custar metade da borracha natural ou sintética

usada no fabrico de pneus, e tem propriedades melhores que a borracha virgem.

Na reciclagem conserva-se produtos derivados de petróleo não-renováveis, que são

usados para produzir a borracha sintética.

A reutilização de pneus torna o processo de manutenção mais barato.

No reaproveitamento de materiais, muitos produtos podem ser feitos sem utilizar

borracha virgem, apenas com uso de produtos do pneu.

Pode-se recuperar energia da incineração dos pneus (ex.: pirólise).

A criação de novas indústrias e empresas de novas opções de abate de pneus cria

emprego, mesmo em países sub-desenvolvidos.

As leis nos países desenvolvidos cada vez mais exigem à indústria automóvel que crie

novas opções ao abate de pneus em aterros.

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63

Estas razões foram as principais para o desenvolvimento de novos processos para o fim de vida

dos pneus descartados todos os anos mundialmente.

1.7.2.1.2 Reutilização A reutilização de um pneu baseia-se na tentativa de usar a carcaça de um pneu que já tenha o

piso demasiado usado para lhe colocar outro piso e assim este tornar-se num pneu seminovo,

chamando este processo de recauchutagem. Devido a ser um processo relativamente

complicado, e com bastantes parâmetros a serem cumpridos no pneu usado para que este seja

aceite para recauchutagem, é um processo que normalmente só é feito em pneus de pesados,

pois são mais caros e compensam a recauchutagem destes. [5]

Existe também a possibilidade de remendar um pneu furado, sendo que estes remendos também

possuem diversas regras de aplicação, mas que ajudam a que um pneu não seja logo descartado

após um dano ligeiro.

Tanto a recauchutagem como os remendos são elementos que devem ser feitos apenas quando

o pneu cumpre os pré-requisitos, e sempre por agentes autorizados. Qualquer uso indevido

destes procedimentos pode causar perigo aos utilizadores do veículo.

Também existe o reaproveitamento por acção mecânica de um pneu em áreas não previstas,

sendo usado, por exemplo, em portos e barcos para amortecer a atracagem. [12] Este tipo de

reaproveitamento das propriedades do pneu sem ter em conta a sua função original também é

considerado uma maneira de combater o abate em aterros.

1.7.2.1.3 Reciclagem Consiste na operação de valorização através da qual os materiais constituintes do pneu são

novamente transformados em produtos ou substâncias de interesse [47].

A reciclagem de um pneu pode ser feita de variadas maneiras. Em primeiro lugar pensa-se o que

se quer reciclar – a borracha e o metal são normalmente as duas opções. [50] Posteriormente

tem-se de escolher o processo, sendo normalmente utilizada uma moagem e posterior

separação dos dois tipos de matérias-primas. O metal vai ser posteriormente aproveitado

precisando apenas de ser fundido, sendo o pó formado de borracha o ponto mais elaborado do

processo, devido ao variado grão de moagem a que o processo mecânico dá origem.

Este pó pode ser usado, e tem sido, em variados processos:

É utilizado para fazer pavimentos de amortecimento de impacto [47];

Usa-se para fazer relvados sintécticos e pavimentos [47];

Foi misturado com asfalto e cimento Portland para alterar as propriedades isolantes

destes [44];

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64

Devido às suas capacidades de absorção de óleo é utilizado na sua gramagem mais fina

para absorver óleo de motor em derrames em água [47];

Também é usado para fabricar adsorventes carbonáceos mesoporosos [51];

É usado para fazer utensílios de borracha, isolamentos térmicos e acústicos [47].

Maioritariamente em Portugal o granulado de borracha é usado em pavimentos e relvados,

englobando estas duas parcelas cerca de 80% da produção. [47]

1.7.2.1.4 Aproveitamento energético O reaproveitamento energético dos pneus pode ser feito de duas maneiras – por incineração do

pneu, havendo um reaproveitamento energético dos gases gerados em processos de fabrico,

como por exemplo na indústria do cimento [12], ou por pirólise dos materiais, havendo variados

testes com condições de reacção muito divergentes, obtendo-se derivados oleosos dos

hidrocarbonetos presentes na borracha. [52] Alguns desses derivados são usados como fuel,

chamados de TDF (Tire Derived Fuel) tendo um poder energético médio de 15 500 BTU/lb, sendo

cerca de 36 000 KJ/Kg. [9]

Ambas as opções são muito pouco usadas na indústria, sendo ainda muito estudadas em

instalações piloto, havendo bastante investigação para que se torne um processo comum e mais

fácil de reciclagem dos pneus de abate [12]. São também as duas bastante poluentes, devido ao

facto do pneu não ser feito para uma posterior queima, gerando gases muito poluentes, tóxicos

e nocivos para o ser humano, sendo um desafio realizar o seu aproveitamento energético de

maneira segura.

1.7.2.1.5 Empresas portuguesas de valorização do pneu para abate

Não existe nenhum regulamento europeu específico para recolher e tratar pneus usados. Em

Portugal usa-se o sistema de responsabilidade do Produtor, e “neste sistema o estado define a

estrutura reguladora que irá enquadrar a gestão dos pneus em fim de vida e obriga os fabricantes

de pneus novos a tomar a responsabilidade de os recolher e tratar adequadamente. Em cada

país que opte por este sistema, os fabricantes criam um setor de atividade que se especializa

nesta área, e que é representado por uma ou mais entidades gestoras. Atualmente, este é o

sistema que apresenta os meios e os resultados mais eficientes para alcançar o objectivo de

recolher e tratar 100% dos pneus usados gerados. “ [50]

A Valorpneu é a empresa criada em Portugal para regularizar o mercado de abate, tendo por

isso o objetivo de organizar e gerir o sistema de recolha e destino final de pneus usados. Tem

sido impulsionadora de novas ideias de reutilização e reciclagem dos pneus de abate,

organizando o Inov – premio inovação Valorpneu, que premeia a melhor ideia anual.

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No mercado da moagem mecânica dos pneus em Portugal temos a Biogoma e a Biosafe.

Existe também o processo de moagem criogénica, realizado em Portugal pela Recipneu. O

processo criogénico caracteriza-se pelo arrefecimento criogénico dos polímeros constituintes da

borracha, por acção do azoto líquido. “Deste modo, o processo criogénico (muito frio, muito

rápido, e sob atmosfera inerte) não degrada química nem termicamente as cadeias moleculares

dos polímeros de borracha, nem o seu estado de vulcanização. As suas propriedades elásticas

(absorção de impactos; recuperação elástica) não são alteradas, mantendo-se intactas ao longo

do tempo. Os agentes protectores existentes na borracha (antioxidantes, estabilizantes aos UV

e outros) mantêm-se eficazes, resultando numa elevada resistência ao envelhecimento

atmosférico.” [53]

O mercado de moagem do pneu em Portugal é exportador, tenho criado emprego, e o granulado

produzido cumpre com as normas nacionais e europeias, sendo por isso exportado

maioritariamente para a Europa. [47] É assim um exemplo de inovação a criação destas

empresas para acompanhar as normas europeias de impedimento de abate de pneus em aterros.

1.7.2.2 A nova era dos Pneus ecológicos As novas tecnologias aliadas a políticas ecológicas e consciência ambiental crescente dos

fabricantes dos pneus está a dar origem a cada vez mais modelos, e ate mesmo gamas de pneus

ecológicos.

Estes pneus consistem em alterações realizadas em variados aspectos, desde a sua composição

até à estrutura de origem, que alteram as propriedades mais poluentes do pneu – a sua

degradação contínua e poluente (vide 1.7.1) e o seu posterior abate, que com materiais amigos

do ambiente tornam-se características menos tóxica, a sua influência no consumo de

combustível (vide 1.3.2) [54] ou até mesmo na inexistência de furos. [5]

Este tipo de pneus, tal como os com a tecnologia RunFlat (vide 1.3.2) são o futuro mas ainda

estão na classe de tecnologia de ponta, sendo o seu preço pouco acessível ao utilizador familiar.

Mas o esforço da indústria em tornar um elemento normalmente pouco sustentável a nível

ambiental, e que é incontornavelmente necessário num veículo, como é o caso dos pneus, num

elemento ecológico é de louvar.

1.7.3 Conclusão da revisão bibliográfica

Com esta descrição do pneu conseguiu-se introduzir o universo que é o estudo das suas

propriedades e da dependência da indústria automóvel destes elementos do veículo. Analisou-

se a importância do pneu na sociedade, o seu impacto ambiental e na segurança de um veículo,

e os danos mais comuns encontrados em pneus que circulem na via. Conseguiu-se introduzir os

conceitos necessários para numa parte experimental tentar-se encontrar um protocolo de testes

forenses que defina a história que um elemento tão complexo maioritariamente feito de borracha

poderá ter para contar.

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Metodologia experimental

O pneu enquadrado nos procedimentos laboratoriais

Após uma introdução teórica sobre o pneu e as suas propriedades, fica claro que estas mudam

conforme as secções que se considerem da estrutura do pneu. Consequentemente, os testes

realizados a diferentes zonas de um pneu vão possivelmente devolver resultados diferentes.

Particularmente a borracha butílica que forma o revestimento interno (innerliner) do pneu possui

propriedades diferentes do resto da borracha, para que seja impermeável ao ar, o que gera

resultados diferentes dos da borracha externa. (55)

Figura 66 - Diferenças entre um pneu radial e Diagonal (vide 1.2.2.2), com evidência do revestimento

butílico em ambos (adaptado de [5])

Entre diversos pneus, que possuem composições diferentes devido ao propósito para que foram

construídos (se são de neve, se são para carros de alta performance, se possuem qualquer tipo

de propriedade que seja fornecido pelo tipo de borracha (vide 1.2.2.3.1)) vão também ter

resultados ligeiramente diferentes.

A zona do piso, normalmente mais exposta a certos contactos com a via, acaba por ter danos

muito próprios que são detectáveis particularmente em amostras dessa zona em particular.

Amostragem

A amostragem é uma das questões mais importantes em análises físico-químicas. A maneira

como o material é tratado para posterior teste influencia os resultados ao ponto de estes se

tornarem inutilizáveis.

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67

Por isso o modo como as amostras são retiradas do exemplar é fundamental para que os

resultados não fiquem comprometidos.

No caso dos pneus, a borracha, sendo altamente elástica, juntamente com a malha das telas,

torna-se muito difícil de cortar com metodologias tradicionais (como era de esperar, devido à alta

resistência que um pneu tem de ter para circular na via, com a carga que suporta num veículo).

Normalmente, para se obter laminações do pneu na sua totalidade, são necessárias maquinarias

de corte próprias para material industrial, pois a maioria das ferramentas de corte não conseguem

cortar a borracha e a malha juntos.

A laminação de borracha superficial do piso, da parede lateral, ou do innerliner pode ser feita

com lâminas de metal que consigam cortar amostras, mesmo com a tensão do elastómero. O

metal escolhido não pode deixar resíduos, devido ao facto de estes poderem ser detectados nos

testes a realizar.

O corte da parte da malha, devido a esta ser normalmente metálica, ou de materiais muito

resistentes, como o nylon, exige que se usem materiais tão ou mais resistentes, que

normalmente deixam marcas características. Para análise química este facto pode ser

prejudicial, pois se a malha for metálica e cortada com outro metal, este pode deixar marcas

vestigiais, que em caso de teste forense pode influenciar os resultados ao ponto de estes serem

válidos, mas não utilizáveis, pois vão acusar os dois metais que de facto estão presentes, mas

que sendo um deles resíduo da amostragem, o teste deixa de ser uma prova.

Se for uma análise físico-química, como uma microscopia, ou mesmo uma análise SEM, sendo

o objectivo, por exemplo, ver em análise fractográfica o corte existente na malha após um

rebentamento, as marcas e resíduos deixados pela amostragem não vão ser tão significativos,

desde que não danifiquem a zona de corte do acidente, e que se consiga uma amostra de uma

zona não danificada de maneira a que se consiga analisar e comparar sem perturbações da

amostragem.

Existem também alguns aparelhos que exigem amostras muito pequenas, ou em pó, que por

vezes são complicadas de gerar sem alterar as propriedades da borracha. Normalmente existem

máquinas de moagem (a frio ou a quente, vide 1.7.2.1.5) utilizadas para a reciclagem de pneus,

mas que ambas as metodologias envolvem a alteração da borracha, inutilizando qualquer tipo

de teste forense feito após amostragem. Sugere-se utilizar simuladores de circulação na via, para

que os detritos causados sejam similares aos que um pneu sofre ao longo da sua vida útil,

podendo ser também utilizado lixas de papel e escovas de aço para simular a erosão do pneu e

formar amostras mais pequenas [8].

Algo muito importante por vezes é a impossibilidade de se utilizar análises destrutivas, devido ao

material ser uma prova, sendo que a amostragem também não pode causar danos destrutivos

ao pneu.

Isto cria um ponto importante de qualquer protocolo de testes: como realizar a amostragem.

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68

Sugere-se que se tenha dois tipos de amostragem, conforme o tipo de análise: destrutiva ou não

destrutiva. Por vezes a amostragem pode tornar um teste, no global, destrutivo, pois embora a

análise mantenha a amostra intacta, para esta se realizar a amostragem vai destruir a estrutura

original da zona de recolha, o que em alguns casos pode ser problemático. Posteriormente tem

de se ter em conta se a análise vai abordar a composição ou a estrutura da amostra.

Tabela 7 - Tipo de Amostragem aconselhado para cada tipo de análise físico-química a realizar

Amostragem a Realizar

Análise de Composição

Corte com ferramenta que

não deixe vestígios, ou que

estes possam ser

identificados e eliminados.

Evitar corte químico ou que

altere as propriedades da

borracha (corte a

frio/quente).

Análise de Estrutura

Corte com ferramenta

metálica, evitando a análise

na zona de corte.

Uma análise elementar pode solucionar a possibilidade de existência de vestígios quando for

realizada uma análise de composição, pois estes podem ser identificados e posteriormente

eliminados dos resultados finais.

Amostras

As amostras utilizadas tiveram origem em variados sítios, sendo que foram listadas as amostras

usadas, o seu estado de recolha, a amostragem sofrida e os testes realizados, na Tabela 8.

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69

Tabela 8 - Listagem das Amostras utilizadas e respectivas amostragens

Amostra Amostra Origem

Estado de

recolha

Amostragem

realizada

Testes

realizados

1

Piso de

recauchutagem

de pneu pesado

Berma da

A1

Inteiro, com

sinais de

rebentamento

Corte com

lâmina TG e IV

2 Pneu usado Sucata Amostra lateral Corte com

lâmina TG e IV

3 Pneu usado Sucata Amostra piso Corte com

lâmina TG

4 Pneu usado Sucata Amostra piso Corte com

lâmina TG e IV

5 Pneu usado Sucata Pneu inteiro Não

realizada

Avaliação

visual (vide

apêndice

6.3)

6 Pneu novo Bridgestone Corte de fábrica Corte com

lâmina TG e IV

7 Pneu novo Bridgestone Corte de fábrica Corte com

lâmina TG

8 Pneu usado

pesado Sucata

Amostra lateral,

com marca de

abertura da tela

na zona do talão

Corte com

lâmina TG e IV

Testes físico-químicos realizados

Foram realizados testes físico-químicos às amostras recolhidas para ter uma base de dados

sobre danos de uso e de envelhecimento, no caso de pneus envelhecidos (amostra 1-5), como

também para ter dados sobre pneus novos, alguns bem conservados (Amostra 6), outros com

sinais de envelhecimento devido a armazenagem (amostra 7), para se poder comparar as

diferenças.

Alguns testes foram precedentes de alguns procedimentos, como o caso das amostras presentes

na câmara de UVB, que foi um teste preparativo para análises Termogravimétricas e de

espectroscopia de Infravermelho.

2.4.1 Envelhecimento acelerado com UVB

As amostras 2, 3 e 4 foram, após amostragem, colocadas em vidro de relógio dentro de uma

câmara de estufa de exposição cíclica a radiação UVB, sendo iniciado um programa de ciclo de

humidade e temperatura, para simular o envelhecimento sofrido pelos pneus expostos aos

elementos. Os dados do ciclo e respectivos tempos encontram-se na Tabela 9. Cada programa

está definido com 99 ciclos, que duram 14,5 dias, e foram realizados 6 programas sobre as

amostras 2, 3 e 4.

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Tabela 9 - Dados de um ciclo da estufa de UVB

Tempo (min)

Temperatura (°C)

Velocidade ventoinha Humidade (%) UVB

0 Ambiente 0 Ambiente Desligado

30 30 100% 0 Desligado

150 60 100% 60% Ligado

30 30 100% 0 Desligado

Ao longo dos seis programas, que duraram cerca de 3 meses, a cada 3 dias, foi retirada uma

das várias lâminas de borracha presentes na estufa de cada uma das amostras, para se

relacionar a evolução do envelhecimento, tendo sido guardada uma amostra do “branco”.

Embora sejam amostras de pneu já envelhecido, a ideia foi verificar se existe um limite, ou não,

de envelhecimento e degradação da borracha exposta aos elementos, e quais os resultados da

sua degradação.

Outras duas amostras, a 6 e 7, de pneu novo, mas com marcas de envelhecimento por

armazenamento/exposição aos elementos, foram submetidas ao mesmo tipo de ambiente, mas

com algumas particularidades:

Como as amostras eram de pneu novo, o ciclo foi mais curto, de 1 mês, para verificar se

a degradação era considerável;

Houve um conjunto de testes que foram submetidos a uma submersão em água

destilada concentrada com NaCl, já em saturação, para simular a degradação química

sofrida pelos pneus na época de neve;

Foi colocada também um corte da zona do talão da amostra 7, juntamente com a mesma

solução salina, para simular a degradação dos elementos metálicos do pneu.

2.4.2 Resultados dos testes físico-químicos

Os testes realizados neste trabalho basearam-se em Termogravimetrias a variadas amostras

com condições de envelhecimento diferentes, e a espectroscopia de infravermelho a essas

mesmas amostras.

As amostras apos envelhecimento na estufa UVB foram caracterizadas por Termogravimetria,

sob fluxo de ar, e por espectroscopia de infravermelho. Outras amostras, sem passarem pelo

envelhecimento acelerado, também foram testadas com os mesmos procedimentos, referidos na

Tabela 8.

2.4.2.1 Resultados obtidos com Análise Termogravimétrica A Análise termogravimétrica (TGA) é uma ferramenta útil para a caracterização de misturas de

polímeros (vide 1.6.2.1.1.1). A composição em elastómeros da borracha foram determinadas por

TGA. Este método fornece a composição mássica dos produtos químicos da borracha, como o

negro de fumo, os elastómeros presentes e cinzas.

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Os termogramas foram traçados para as amostras usando cadinho de alumina e sob fluxo de ar

reconstituído usando um aquecimento de 20ºC/min. A composição mássica das amostras foi

obtida por recurso à derivada da curva da perda de massa (por combustão) para a identificação

dos diferentes processos (um por componete) e ao software de tratamento de dados da

termobalança, Netzsch modelo STA 409 PC.

Altos níveis de cinzas foram tomadas como uma indicação de carga de sílica (superiores a

aproximadamente 3 por cento, em peso, que é um nível típico de óxido de zinco na borracha).

[55] O resíduo obtido após análise termogravimétrica à amostra 3 é visível na Figura 114 (vide

6.3).

Para se obter um termograma de várias zonas do pneu, realizou-se à amostra 6 uma análise a

amostras da zona do piso, da parede lateral, e do innerliner. Obteve-se cerca de 20% de resíduo

da amostra do piso e da lateral (Figura 115, vide Apêndice 6.4).

Figura 67 - TG e DTG de várias zonas do pneu da amostra 6

Aos resultados da análise TG realizou-se a sua derivada, criando os resultados visíveis na Figura

67. Para simplificar a leitura, devido ao facto de mais facilmente se identificar as bandas na DTG,

os gráficos deste capítulo vão demonstrar a DTG das amostras e não o TG.

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Os resultados obtidos estão na Figura 68.

Figura 68 - DTG de várias zonas da amostra 6

Pode-se ver que todas as amostras possuem bandas entre os 250 e os 550ºC, sendo todas de

elastómeros. O innerliner e a zona do piso possuem apenas uma banda, de um elastómero,

sendo entre eles diferentes. A zona da parede lateral possui duas bandas, uma para cada

elastómero presente na mistura que compõe a borracha lateral. As bandas estão de acordo com

a literatura, tanto para a o innerliner [56], sendo identificado como borracha butílica (IIR), como

para as borrachas de piso e parede lateral [57], sendo identificadas como borracha SBR e mistura

de NR e SBR, respectivamente.

Pode-se analisar que o elastómero que compõe o innerliner é menos resistente que as outras

borrachas, exceptuando a NR, que é usada em mistura com SBR, bastante mais resistente. Esse

facto justifica a maior facilidade com que existem alguns danos internos degradativos do

revestimento, com a circulação do pneu em condições não adequadas.

Em todas as borrachas há uma banda final onde existe a combustão do negro de fumo. Na

bibliografia referida esta banda é muito mais visivel na zona dos 700ªC, pois a queima é primeiro

realizada com azoto e posteriormente com oxigénio, sendo que no nosso caso, por ser desde o

inicio com O2, este vai queimando e degradando durante o ensaio, sendo a banda diminuida.

Realizaram-se também TGA de amostras envelhecidas na estufa de UVB.

Das amostras 2, 3 e 4 usaram-se o branco e as amostras submetidas a 3 meses de

envelhecimento acelerado. Os termogramas das amostras encontram-se na Figura 69.

25 150 275 400 525 650 775

DTG

(u

.a.)

T (ºC)

Zona da Parede Lateral

Innerliner

Zona do Piso

SBR

NR IIR

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Figura 69 - DTG da amostra 2, 3 e 4, com e sem envelhecimento acelerado na estufa de UVB

Os resultados obtidos demonstram a enorme degradação sofrida pela borracha durante os 3

meses de estufa UVB, mesmo tendo em conta que os pneus já eram usados e já possuíam sinais

de envelhecimento. Para a amostra 2, de uma borracha da zona lateral, os processos de

degradação térmica de NR e SBR, visíveis na amostra não envelhecida convertem-se num único

processo a temperatura intermédia o que significa a alteração de propriedades tais como a

rigidez. Para as amostras 3 e 4 com menor teor inicial de NR verifica uma diminuição acentuada

da decomposição térmica na zona esperada para este elastómero o que corresponde a um

aumento da rigidez do material.

Nas amostras 3 e 4, ambas do piso, pode-se ver a banda pertencente à borracha NR, que na

amostra de branco já é muito ténue, a desaparecer, devido a degradação sofrida na estufa UVB.

Verifica-se também que há uma alteração da banda de SBR, havendo uma migração para

compostos mais resistentes à degradação. Este facto é importante pois a borracha NR é a

responsável pela elasticidade da borracha, que é fundamental para as funcionalidades do pneu.

O pneu envelhecido fica mais rígido, e sofre alterações das suas propriedades, ficando menos

elástico no seu comportamento, dificultando a realização de curvas e aumentando a distância de

travagem.

Essa degradação demonstra o quanto a borracha fica exposta a alterações na sua estrutura em

contacto com os elementos atmosféricos. De referir que a banda perto dos 700ºC,

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correspondente à combustão do negro de fumo, também foi alterada pela estufa de UVB, o que

demonstra que mesmo os elementos mais resistentes sofrem perturbações a longo tempo.

Realizou-se também à amostra 1, uma banda de piso de um pneu pesado que foi recolhida da

berma da A1, duas Termogravimetrias, uma na zona do rebentamento, outra na zona do piso

não fragmentada pelo dano. Obteve-se resíduos de cerca de 6%, indicando pouca sílica presente

na borracha (Figura 116, vide Apêndice 6.4)

Figura 70 - DTG da amostra 1, amostras da zona rebentada e de uma zona sem sinais de rebentamento

Na Figura 70 comparam-se os perfis de degradação térmica de amostras recolhidas em duas

zonas distintas da amostra 1. Ocorre o mesmo tipo de degradação visível na Figura 69 para as

amostras com envelhecimento acelerado o que mostra que a estufa UVB usada simula bem a

degradação natural durante o período de vida dos pneus.

Com a análise TG pode-se confirmar que de facto existem alterações na borracha com a sua

degradação, e que tal pode ser verificado com a comparação de um pneu novo e usado, e entre

zonas danificadas por explosões.

2.4.2.2 Resultados obtidos com Espectroscopia do Infravermelho Dada a natureza das amostras recolhidas, borracha de pneus, os espectros infravermelho das

amostras, na gama de comprimentos de onda 4000-500 cm-1, foram traçados recorrendo a um

acessório de Reflectância Difusa com um cristal de diamante. O espectrofotómetro Nicolet estava

equipado com um detector DTGS-TEC e cada espectro resultou de 64 acumulações. Os

espectros na Figura 71 não diferem dos publicados para amostras similares. É referido na

-14,0

-12,0

-10,0

-8,0

-6,0

-4,0

-2,0

0,0

0 100 200 300 400 500 600 700 800

DT

G (

u.a

.)

T (ºC)

Amostra 1:zona do piso rebentada

Amostra 1:zona do piso sem sinais de rebentamento

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literatura que o acréscimo da quantidade de negro de fumo promove o aumento do declive da

linha de base para os menores números de onda [58].

Figura 71 - Espectros de infravermelho, de amostras de pneus, adquiridos em modo de reflectância difusa.

As borrachas analisadas, correspondentes a pneus com e sem envelhecimento acelerado e

rebentado apresentam duas bandas absorção para números de onda na gama 3000-2700 cm-1

atribuíveis às vibrações dos grupos C=C-H e CH2 do butadieno [59]. Para a amostra envelhecida

e rebentada há uma diminuição nítida da intensidade destas bandas.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

6007008009001000110012001300140015001600

Ku

bel

ka-M

un

k

Número de Onda (cm-1)

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76

Para as amostras caracterizadas a amostra 4 e a amostra de pneu rebentado, amostra 1,

recolhida numa zona danificada, apresentam quantidades apreciáveis de negro de fumo. No

espectro da amostra 4 é visível a banda de reflectância características da borracha SBR que se

atenuam para a mesma amostra submetida ao envelhecimento em camara de UVB [59].

As amostras do pneu 3 e 4 tal como a amostra de pneu rebentado apresentam uma banda

centrada por volta dos 1000 cm-1 e um ombro a 1024 cm-1 características das vibrações Si-O-Si

da sílica [60] usada como reforço da borracha.

Os resultados obtidos por FTIR parecem apontar para que a ocorrência de rebentamentos se dê

em borracha com alto teor em carbono proveniente da carbonização lenta da borracha por

envelhecimento ou por esta ter atingido temperaturas elevadas por exemplo numa travagem.

Protocolo de testes a realizar a um pneu envolvido em

acidentes

Actualmente, quando é necessária uma peritagem de um pneu acidentado, sendo ele suspeito

de ser causador do acidente, a análise forense recai normalmente sobre especialistas da marca

do pneu em questão. Existem peritagens externas, que podem ser requisitadas, mas que a marca

pode não reconhecer.

A peritagem realizada é normalmente visual, com base em exemplos passados e na experiencia

do perito. Análises destrutivas normalmente não podem ser realizadas, devido ao pneu ser

considerado prova, mas nem mesmo as análises não destrutivas são normalmente realizadas.

Emerge assim uma necessidade de haver órgãos externos especializados, e reconhecidos pelas

marcas distribuidoras e produtoras de pneus, que realizem peritagens forenses a pneus

acidentados, e que realizem testes para suportar a análise visual realizada. Resume-se assim a

necessidade de um protocolo de testes a realizar a um pneu envolvido em acidentes. Esse

protocolo tem de prever os variados tipos de danos que podem acontecer, sendo apoiado por

uma bateria de testes que podem ou não verificar mais a fundo e microscopicamente certos

danos. Este passo devia ser tomado mesmo a nível internacional, devido à enorme base de

dados existente entre os órgãos especializados em cada pais, e entre cada marca. Aliás, cada

fabricante deveria informar este órgão externo sobre os seus produtos e características, para

que os possíveis testes realizados a pneus da sua gama tenham acesso a dados “brancos”, para

comparação.

Sugere-se assim um protocolo que permita:

Ponto 1 – Ao requerente de peritagem, descrever o dano e as condições em que este aconteceu;

deve também incluir todos os dados do veículo, um resumo do estado mecânico deste

autenticado (provavelmente fornecido pelo mecânico que desmonta o pneu para o enviar para

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peritagem), e os quilómetros percorridos com o pneu (uma média). Se possível, referir se o pneu

é de origem, se foi rodado, ou equilibrado recentemente.

Ponto 2 – Se tiver ocorrido uma análise mecânica forense, como a reconstituição científica e da

dinâmica do acidente em questão, a união das duas análises torna a avaliação muito mais

rigorosa, e deve estar prevista a comunicação com os agentes que realizam os dois tipos de

análises em questão.

Ponto 3 – Ao perito, descrever o dano que verifica, concluir se corresponde às condições

descritas no ponto 1, ou se é preciso algum outro tipo de informação para tentar corresponder o

dano ao caso descrito, ou para descartar o cenário proposto pelo requerente.

Para esta conclusão, estarão disponíveis ao perito análises microscópicas para

realização de estudo fractográfico, e posterior estudo SEM de amostras de certas zonas

de corte.

Conforme necessário, sendo algo que depende do caso, pode haver formulário para

pedido autorização a um responsável judicial do caso para realização de testes

destrutivos, ou de amostragens destrutivas, que permitam identificar alguma alteração

da estrutura química da borracha.

Conforme autorização, pode ser realizada uma Termogravimetria para identificar

elementos estranhos, ou alterações estruturais na borracha;

Todos os testes devem ser realizados duas vezes, e em três zonas diferentes, para

comparar resultados e retirar falhas dos aparelhos.

Ponto 4 – Após peritagem, pode existir a possibilidade de um representante da marca do pneu

confirmar as conclusões in loco. Tal deve ser feito em conjunto com o requerente, se este o

desejar.

Ponto 5 – Pode existir necessidade de requerer-se uma repetição da peritagem, havendo um

outro perito que, sem acesso ao relatório anteriormente realizado, iria repetir os testes e análises

para concluir o que a sua experiência permitir. Caso seja impossível de repetir algum dos testes

destrutivos, este teria acesso aos resultados anteriores, sem relatório.

Conforme o necessário a nível legislativo em cada país, o protocolo poderia ser alterado para

que abrangesse todos os pontos necessários por lei. Pode ser desenvolvido dentro deste

esqueleto inicial, mas a ideia é que haja maneira de imparcialmente haver peritagem de um pneu

acidentado, ou com defeito.

A existência de uma base de dados, com valores típicos de cada tipo de dano, para posterior

comparação com amostras forenses, e antigos registos de pneus acidentados que tivessem sido

analisados, ia tornar este protocolo mais generalista e preciso, sendo benéfico para todas as

partes envolvidas que seja detectado qualquer tipo de dano no pneu com facilidade e rigor.

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Trabalho Futuro

O enquadramento do pneu na sociedade, na economia, no meio ambiente, na estrada, cria tantos

caminhos para que exista evolução, e que se desenvolva a maneira como se encara os

pneumáticos, que definir o que pode ainda ser feito e o que se sugere para trabalhos seguintes

torna-se complicado de resumir.

Numa abordagem unicamente sobre a questão da necessidade de um protocolo de testes para

uniformizar a análise forense de um pneu acidentado, considera-se importante uma comunicação

entre marcas produtoras, distribuidoras, entre agentes de controlo da lei nas estradas, entre

todos os intervenientes que possam influenciar resultados, para a tentativa da implementação

do protocolo proposto. É também importante a tentativa de adaptação do protocolo, havendo

possibilidade de alteração conforme sugestões dos envolvidos. Este processo, se existir, será

demorado, mas todos os elementos envolvidos beneficiam desta parceria. A capacidade de

existir um agente imparcial a realizar uma análise forense aos pneus acidentados é o desejado,

sendo benéfico existir uma formação desse agente por parte das marcas fabricantes em relação

aos componentes dos seus produtos comercializados. O protocolo, prevendo testes mecânicos

de análise e reconstrução do acidente, precisa também de estar em comunicação com os

produtores automóveis.

Mais importante que a implementação do protocolo é a criação de uma base de dados das

análises sugeridas para que a detecção dos danos e respectivas causas nos pneus seja

realizada com precisão, e justificada por comparação. Esta base de dados pode ser criada

internacionalmente, e mesmo sem a existência de um protocolo de análise forense ao pneu que

preveja a utilização dos dados recolhidos, os fabricantes de pneus beneficiam bastante com esta

recolha, para possíveis melhorias dos seus equipamentos.

Dentro dos testes realizados, o envelhecimento acelerado realizado com UVB pode beneficiar

da utilização de ozono, para simular a degradação executada por este agente oxidante sobre a

borracha, tornando o procedimento mais elaborado. A realização de Termogravimetria sobre um

pneu acidentado, para o comparar com os resultados obtidos é também um processo importante

que pode ser realizado. A realização de ensaios mecânicos sobre as amostras para comprovar

alterações elásticas da matéria são também aconselhadas.

No geral, e devido ao problema da acção do utilizador nas condições do pneu em circulação, é

necessária uma formação contínua dos condutores para que controlem o estado dos seus pneus.

Para isso, é preciso que o utilizador saiba como controlar as condições óptimas de utilização, e

quais são, e que sinais ter em atenção na degradação do pneu, para que este não chegue ao

limite do rebentamento. Essa formação é dependente não só das escolas de condução, como

dos distribuidores, sendo que deverá existir uma formação aos distribuidores, para não só

aprenderem a realizar manutenções, para as quais já existe formação prevista, mas para

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saberem como passar as informações básicas aos seus clientes, os utilizadores da via, sendo

esse o ponto onde mais pode falhar a troca de informação. A educação pode prevenir a

necessidade de avaliar se um pneumático rebentou antes ou depois de um acidente.

Conclusão

A principal conclusão dos resultados experimentais advém de que a borracha, e as suas

propriedades, alteram-se profundamente com o envelhecimento do pneu. Essa alteração nas

propriedades gera uma alteração no comportamento do veículo e na segurança que este possui

derivada dos pneus.

Os resultados com a análise termogravimétrica demonstram um grande desvio no

comportamento da matéria, tornando-se a borracha num composto muito alterado e com

propriedades diferentes após exposição a uma grande degradação térmica. A existência de

resíduo superior a 3% em massa nas amostras é sinal de uma grande presença de sílica nas

borrachas comuns, sendo que essa percentagem diminui nas amostras mais danificadas,

indicando que os agentes de reforço são alterados da sua posição inicial na borracha durante o

uso do pneu.

É necessário criar uma base de dados de valores obtidos com testes realizados a diferentes tipos

de pneus, com utilizações e ciclo de vida variados, e que consigam ser feitas análises a pneus

acidentados para que se possa ter dados de comparação. Essa base de dados deveria ser

imparcial, não estando associada a nenhuma marca, e ser internacional, para que o

conhecimento seja generalizado. A atribuição da responsabilidade deste protocolo deve incidir a

uma agência controladora nacional imparcial.

A existência de um protocolo de testes forenses a realizar ao pneu é uma recomendação, devido

à importância das alterações físico-químicas da borracha na performance do pneu, e da

necessidade de recolha de dados. Para se identificar a causa de um acidente, e associá-la ou

não a um defeito num pneumático é necessária a união de várias áreas científicas para se

conseguir alcançar resultados conclusivos, mas com um protocolo e uma base de dados que

aborde o tema, a tarefa fica facilitada.

É necessário também educar a população para realizar uma manutenção adequada aos pneus,

que é essencial para evitar acidentes associados, e os fabricantes devem estar envolvidos nesta

formação contínua. Só assim se pode conseguir uma diminuição considerável de acidentes

associados a falhas e rebentamentos nos pneus.

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Apêndices

Apêndice A – Processo de Fabrico de um Pneu

Na primeira fase do fabrico, a mistura de borracha e aditivos tem de ser preparada.

Seguidamente, é usada em três partes distintas, na extrusão, onde prepara-se o piso e a parede

lateral, na Calandragem, onde é preparado as telas do pneu, em conjunto com materiais de

corpo, como as malhas de aço ou texteis, e por fim o fabrico do talão, normalmente em aço,

forrado a borracha. Todo este processo é feito com a borracha ainda verde, ou seja, sem ter

passado ainda pela vulcanização.

Posteriormente à fase de preparação dos materiais envolvidos vem a fase de montagem do pneu.

Consiste no aglomerar das partes anteriormente produzidas e formar um pneu para a

vulcanização.Na montagem, começa-se por construir a carcaça, seguindo se a segunda fase

onde se adiciona os talões e as telas estabilizadoras, acabando por adicionar-se a zona do ombro

e o revestimento butílico. Por fim envia-se o pneu para a vulcanização.

Figura 73 - montagem de um pneu (adaptado de

[5])

Figura 75 - montagem da lateral de um pneu

(adaptado de [5])

Figura 72 - processo de construção da carcaça (adaptado de [5])

Figura 74 - junção de um pneu (adaptado de [5])

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Figura 77 - montagem da cap ply

(adaptado de [5])

Figura 80 – pintura de um pneu com químicos

anti-bolhas (adaptado de [5])

Acabando a montagem, o pneu está pronto para a fase de vulcanização para endurecimento da

borracha, sendo finalizado com processos de inspeção para garantir a qualidade do produto.

Figura 76 - preparação do piso do pneu

(adaptado de [5])

Figura 78 - montagem do piso de um pneu (adaptado de [5])

Figura 79 - montagem das telas de um pneu (adaptado de [5])

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86

Figura 81 - Marcas nos pneus por exposição a calor excessivo (adaptado de [22])

Apêndice B – Outros Danos físicos nos Pneus As imagens seguintes demonstram os danos menos comuns no pneu, para completar a base de

análise visual dos tipos de danos que um pneu pode ser submetido.

Figura 83 - dano na lateral de um pneu devido a migração de ar após corte da tela (adaptado de [22])

Figura 82 - Danos na lateral de um pneu devido a problemas de fabrico (adaptado de (22))

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87

Figura 84 - Dano geral do pneu por circular sem pressão, caso extremo (adaptado de [22])

Figura 85 - Visibilidade da malha de fio das telas estabilizadoras (adaptado de [22])

Figura 86 - Dano no piso devido ao terreno (infiltração de pedras) (adaptado de [22])

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Figura 87 - Delaminação de um perfil do piso no ombro (adaptado de [22])

Figura 88 - marcas de rotação dos pneus em terreno arenoso (adaptado de [22])

Figura 89 - marcas nos pneus devido ao uso contínuo ou mal efectuado de correntes de neve (adaptado

de [22])

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Figura 90 - Marcas no pneu por descarga eléctrica (adaptado de [22])

Figura 91 - porosidade da borracha do piso, devido a uma má cura da borracha (adaptado de [22])

Figura 92 - separação do piso das camadas anteriores do pneu (adaptado de [22])

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Figura 93 - Danos na camada interior por mau uso do pneu ou dano de fabrico (adaptado de [22])

Figura 94 - bolhas na camada interior do pneu (adaptado de [22])

Figura 95 - falhas e quebras do revestimento interno do pneu (adaptado de [22])

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91

Figura 96 - Má reparação de um dano na parede lateral do pneu (adaptado de [22])

Figura 97 - Mau alinhamento da unidade de reparação com o padrão radial do pneu (adaptado de [22])

Figura 98 - Má reparação de um pneu Bias como se fosse Radial (adaptado de [22])

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Figura 99 - Má reparação de uma falha (adaptado de [22])

Figura 100 - Delaminação do piso (adaptado de [22])

Figura 101 - Desnível do piso do pneu (adaptado de [22])

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93

Figura 102 - Erosão em "rio" do piso de um pneu (adaptado de [22])

Figura 103 - desgaste desnivelado do piso de pneus em eixos desalinhados (adaptado de [22])

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6.2.1 Danos Típicos de pesados

Figura 104 - Problemas na recauchutagem, utilização de um piso desadequado (adaptado de [22])

Figura 105 - Separação do piso recauchutado (adaptado de [22])

Figura 106 - Má união do piso de recauchutagem (adaptado de [22])

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Apêndice C – Registo Fotográfico das Amostras

Utilizadas

Figura 107 - Amostra 1: piso de pneu pesado recolhido da berma da A1

Figura 108 - Amostra 3: piso de um pneu de sucata

Figura 109 - Amostra 4: piso de um pneu de sucata

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Figura 110 – Amostra 5: pneu ligeiro com duas intervenções de reparação, ambas mal realizadas/ilegais

Figura 111 - Amostra 6: corte de fábrica de pneu ligeiro

Figura 112 - Amostra 7: zona do talão após envelhecimento na estufa de UVB, com visibilidade da oxidação sofrida na zona do talão

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Figura 113 - Amostra 8: lateral de pneu pesado que abriu a tela na zona do talão

Figura 114 - Resíduo deixado pela análise termogravimétrica à Amostra 3, sem envelhecimento na estufa de UVB

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Apêndice D – Termogramas percentuais das amostras

Figura 115 - Termograma percentual das amostras 6.

Figura 116 - Termograma percentual da amostra 1