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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO UFMT INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS DA TERRAICET PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIENCIAS CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO DA FAIXA PARAGUAI NA REGIÃO DE CANGAS, PORÇÃO CENTRO- SUL DO ESTADO DE MATO GROSSO. Bruno de Siqueira Costa CUIABÁ 2014

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Page 1: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS DA TERRA– ICET PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIENCIAS

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO DA FAIXA PARAGUAI NA REGIÃO DE CANGAS, PORÇÃO CENTRO-

SUL DO ESTADO DE MATO GROSSO.

Bruno de Siqueira Costa

CUIABÁ

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Reitora

Profª. Drª. Maria Lucia Cavalli Neder

Vice-Reitor

Prof. Dr. João Carlos de Souza Maia

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Pró-Reitora

Profª. Drª. Leny Caselli Anzai

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

Diretor

Prof. Dr. Martinho da Costa Araújo

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

Chefe

Prof. Dr. Paulo César Corrêa da Costa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Coordenador

Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz

Vice-Coordenador

Prof. Dr. Ronaldo Pierosan

CUIABÁ

2014

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N° 52

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO

DA FAIXA PARAGUAI NA REGIÃO DE CANGAS, PORÇÃO CENTRO-SUL DO ESTADO DE MATO GROSSO.

BRUNO DE SIQUEIRA COSTA

Orientador

Prof.Dr. Carlos Humberto da Silva

Co-Orientadora

Profa.Dra. Ana Claudia Dantas da Costa

Dissertação de mestrado elaborada junto ao

Programa de Pós-Graduação em

Geociências para obtenção do Título de

Mestre em Geociências.

CUIABÁ

2014

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Banca Examinadora

Dissertação de Mestrado Aprovada em 28 de Julho de 2014

_____________________________________________ Prof.Dr. Carlos Humberto da Silva

(Orientador)

_____________________________________________ Prof. Dr. Amarildo Salinha Ruiz

(Examinador Interno)

_____________________________________________ Prof. Dr. Carlos José Fernandes

(Examinador Externo)

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Dedico... Primeiramente a minha família, tanto a família Siqueira, quanto a

família Sá Costa pelo apoio incondicional nessa etapa tão importante da

minha vida. Em especial meus pais, que apesar de separados, são muito

unidos quando o assunto é o meu futuro e a minha felicidade.

A minha namorada, Kamila por todo companheirismo e paciência de

aguentar meu estresse na reta final deste trabalho, com certeza o resultado

foi gratificante e você é quem mais me deu forças pra eu sempre continuar

tentando.

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“Um ano novo idealize, os sonhos não podem esperar.

Os concretize, existe sempre uma forma de alcançar.

Se realize, e olhe o que está ao teu redor.

Se certifique, do perfume da vida tire o melhor.

E acredite, que tudo sempre pode mudar.

Pra cada tombo há sempre uma maneira de levantar.

Um Ano novo Idealize, e não espere o tempo passar,

pra cada pedra no caminho basta apenas pular.

Se realize, e ouça o que diz o seu coração.

Experimente, conheça, desfrute de Tudo que é bom.

E acredite, que a fé é mais que choro e suor.

Siga o caminho da letra para um futuro melhor...

NUNCA DEIXE DE LUTAR” Diholex

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Agradecimentos Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, por ter me dado, saúde, força de

vontade, paciência, sabedoria, ânimo e disciplina pra poder concluir mais esta etapa de

minha vida, que como todas as outras, não foram fáceis. Muitas horas de sono perdidas,

muitos finais de semana sem diversão, namorada, amigos, cerveja. Essas horas com

certeza foram recompensadas e o resultado, na minha humilde opinião foi muito

gratificante.

Agradeço imensamente ao meu orientador, Prof.Dr. Carlos Humberto da Silva

pelo apoio, companheirismo, paciência e principalmente pelo conhecimento passado

desde a graduação,

Ao Programa de Pós Graduação em Geociências pelo apoio nas viagens de

campo e nos Congressos/Simpósios desses últimos anos, onde foi adquirido muito

conhecimento e foi de extrema importância para a conclusão deste.

A CAPES pela concessão das bolsas ao longo desses dois anos.

Aos Professores, Amarildo Salina Ruiz, Ronaldo Pierosan, Carlos José de

Fernandes, Márcia Barros pelo apoio nesses anos, correções de trabalhos, dicas, além

dos artigos que ajudaram na elaboração deste e conversas de corredor ou simples

palavras de apoio.

Aos meus colegas de mestrado: Jonas Rambo, Flávia Santos, Ohana França.

Barbara Bécker, Ana Paula Montezuma pelo convívio e principalmente pelo apoio e

companheirismo nesses dois anos.

Aos Geólogos Bruno Vasconcelos, Fernando Lisboa e Pedro Kanaan pelo apoio

nas etapas de campo, pelo conhecimento passado nas mesmas, pelas caronas. Também

aos graduandos Thiago Onório e Antonio Fornarolli pelo apoio nas etapas pré–campo e

pelas conversas e pescarias durante o período de descanso no Garimpo do Jonas

Aos senhores Jonas Gimenez Rodrigues, Dolores Gimenez Rodrigues, Eduardo

Henrique Gimenez Mello (Duda) pela hospedagem e alimentação nos dias de campo.

Aos meus amigos Candido Ribeiro, Jonas Rambo, Wagner Ávila, Marcelo

Ribeiro, Luke Bezerra que estão comigo há tantos anos e me apoiam

incondicionalmente. Obrigado pelos momentos que passamos, pelas cervejadas e festas

que sempre fizemos. Que Deus nos abençoe a faça nossa amizade durar para sempre!

EXISTEM AMIGOS QUE VALEM MAIS QUE IRMÃOS!

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo a caracterização estrutural do Grupo Cuiabá na

região de Cangas. Os levantamentos de campo permitiram o reconhecimento de

estruturas primárias e de três fases de deformação. As estruturas primárias representadas

principalmente pelo acamamento sedimentar estão bem preservadas, podendo ser

facilmente observados por variações principalmente de coloração. A principal estrutura

relacionada à primeira fase de deformação é a foliação Sn, que se dispõe paralelamente

ao acamamento sedimentar (S0), sendo mais penetrativa nas rochas filossilicáticas e tem

orientação preferencial 120/27. As dobras relacionadas à primeira fase de deformação

são recumbentes sendo desenhadas pelo S0, apresentam Sn em posição plano axial. A

segunda fase de deformação é representada por clivagem de fratura (Sn+1) com

orientação 110/68, mais penetrativa nas rochas competentes. Esta estrutura ocorre no

plano axial de dobras normais, abertas a suaves e assimétricas. A terceira fase de

deformação atuou na área de pesquisa como um conjunto de fraturas e falhas, de porte

centimétrico a decamétrico, que corta todas as estruturas anteriores e possui orientação

35/82. Foram observadas duas famílias de veios de quartzo, a primeira (V1), ocorre

paralela a S0 e Sn sendo em sua maioria deformados e não são portadores de

mineralizações. A segunda família (V2) ocorre preenchendo as fraturas Sn+2 e podem

ou não serem portadores de mineralizações auríferas.

Palavras chave: Faixa Paraguai, Grupo Cuiabá, Cangas

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ABSTRACT

The present work aims the structural characterization of Cuiabá Group in the region of

Cangas, including descriptions of the quartz veins, which may or may not carry gold

mineralization. The geological mapping of a gold mine in the region, allowed the

identification of primary structures and three (3) phases of deformation. The primary

structures, represented by the sedimentary layering are well preserved and can be easily

observed primarily by variations in coloring. The main structure related to the first

deformation phase is Sn foliation, which is parallel to the sedimentary layering (S0),

being more penetrative in filossilicatic rocks with preferential orientation 120/27.. Folds

related to the first phase of deformation are recumbent, being drawn by sedimentary

layering and having Sn as axial plane. The second phase of deformation is represented

by cleavage fracture (Sn +1) oriented 110/68, more penetrative in competent rock. This

structure occurs in the axial plane of normal folds open to gentle and asymmetrical. The

third phase of deformation acted in research as a set of fractures and faults in the

centimetric-decametric sized, which cuts all previous structures and has preferential

orientation 35/82. Two families of quartz veins were observed, the first (V1) occurs

parallel to S0 and Sn being in its most deformed and are not carriers of mineralization.

The second family (V2) occurs filling the Sn+2 fractures and may or may not be

carrying gold mineralization.

Keywords: Paraguai Belt, Cuiabá Group, Cangas.

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 17

1.1. Apresentação do trabalho ................................................................... 17

1.2. Objetivos .............................................................................................. 17

1.3. Localização e Vias de Acesso .............................................................. 17

Figura 1. Mapa de localização e vias de acesso para área de pesquisa

(Garimpo do Jonas) .................................................................................................. 18

1.4. Aspectos Fisiográficos ......................................................................... 18

1.4.1. Clima .............................................................................................. 18

1.4.2. Hidrografia ..................................................................................... 19

1.4.3. Vegetação ....................................................................................... 19

1.4.4.Pedologia ........................................................................................ 19

1.4.5. Geomorfologia ................................................................................ 20

1.5. Método de Trabalho ............................................................................ 20

1.5.1. Etapa Preliminar ............................................................................ 20

1.5.2. Etapa de Aquisição de Dados .......................................................... 20

1.5.3. Etapa de Tratamento de Dados ....................................................... 21

1.5.4. Etapa de Apresentação de Dados .................................................... 21

2. GEOLOGIA REGIONAL ......................................................................... 22

2.1. Contexto Geotectônico ........................................................................ 22

2.2. Estratigrafia........................................................................................ 23

2.2.1. Formação Campina de Pedras ........................................................ 24

2.2.2. Formação Acorizal ......................................................................... 25

2.2.3. Formação Coxipó ........................................................................... 25

2.3. Geologia Estrutural ............................................................................. 25

2.3.1. Fases Deformacionais ..................................................................... 27

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2.3.1.1. Fase D1/Dn.................................................................................. 27

2.3.1.2. Fase D2/Dn+1 ............................................................................. 27

2.3.1.3. Fase D3/Dn+2 ............................................................................. 28

2.3.1.4. Fase D4/Dn+3 ............................................................................. 28

2.4. Metamorfismo ..................................................................................... 29

2.5. Magmatismo ........................................................................................ 29

2.6. Idades ................................................................................................... 30

3. ARTIGO SUBMETIDO À BRAZILIAN JOURNAL OF GEOLOGY ... 31

3.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 32

3.2 CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL ............................................. 32

3.2.1 Estratigrafia ....................................................................................... 33

3.2.2 Geologia Estrutural ........................................................................... 35

3.2.2.1Fase Dn ......................................................................................... 35

3.2.2.2Fase Dn+1 ..................................................................................... 35

3.2.2.3Fase Dn+2 ..................................................................................... 36

3.2.2.4Fase DN+3 .................................................................................... 36

3.2.3Metamorfismo .................................................................................... 36

3.2.4 Idades ................................................................................................. 37

3.3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA ................................ 38

3.3.1 Litologias ........................................................................................... 38

3.3.2 Aspectos estruturais .......................................................................... 39

3.3.2.1 Estruturas primárias ..................................................................... 40

3.3.2.2 Primeira fase de deformação (Dn) ................................................ 40

3.3.2.3 Segunda fase de deformação (DN+1) ............................................ 41

3.3.2.4 Terceira fase de deformação (DN+2) ............................................ 41

3.3.2.5 Veios de quartzo............................................................................ 41

3.3.2.5.1 Veios de quartzo (V1) ................................................................. 42

3.3.2.5.2 Veios de quartzo (V2) ................................................................. 44

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3.4 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ........................................................... 46

3.5 AGRADECIMENTOS............................................................................. 52

3.6 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 53

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Mapa de localização e vias de acesso para área de pesquisa (Garimpo do Jonas) ...... 18

Figura 2. Mapa Geológico esquemático da Faixa de Dobramentos Paraguai (modificado de

Alvarenga e Trompette 1993), incluindo a localização da área de estudos. .............................. 23

Figura 3.Comparação entre as colunas estratigráficas propostas para o Grupo Cuiabá,

modificado de Tokashiki & Saes (2008). .................................................................................. 24

Figura 4. Mapa geológico regional incluindo a área de estudo, com destaque para a região do

alinhamento Cangas-Poconé, modificado de Alvarenga e Trompette (1993). .......................... 34

Figura 5 Litologias encontradas nas cavas pesquisadas. (A) Filito cinza homogêneo com seixo

pingado; (B) Filito cinza com clivagem ardosiana pervasiva (Sn); (C) Filito com seixo de granito

caído; (D) Metaritmito marcado pelas alternâncias de camadas centimétricas de filitos cinza,

filitos seríciticos e metarenitos; (E) Seixo de metarenito caído em filito cinza; (F) Metarenito

marrom de granulação fina a média. ....................................................................................... 39

Figura 6 Fotografias ilustrando o aspecto do acamamento sedimentar (S0) na área estudada.

(A) O S0 é definido por camadas centimétricas de filito e metarenitos com mergulho suave

para SE e está paralelo à clivagem ardosiana Sn. As ranhuras subverticais, presentes

principalmente na parte esquerda da foto, são marcas das pás dos tratores; (B) Detalhe do S0

definido por camadas centimetricas de filito e metarenitos. A clivagem ardosiana Sn

apresenta-se obliqua ao S0, como pode ser observado na parte superior da foto. Na camada

de metarenito situado na parte central da foto é possível observar a clivagem de crenulação

Sn+1. ...................................................................................................................................... 40

Figura 7 Estereogramas de isovalores de polo apresentando atitude das estruturas estudadas.

(A) Acamamento sedimentar (S0), com densidade máxima em 120/22; (B) Foliação Sn com

densidade máxima em 280/40; (C) Atitude preferencial da clivagem de crenulação/clivagem de

fratura (Sn+1) com densidade máxima em 110/68; (D) Atitude preferencial das fraturas Sn+2

com densidade máxima em 38/82 .......................................................................................... 42

Figura 8 Aspecto da clivagem ardosiana Sn nas rochas da área estudada em (A) filito cinza

definida pela orientação de filosilicatos e (B) em filitos com seixos caídos pela orientação de

filossilicatos e sombras de pressão dos clastos. ....................................................................... 43

Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando

formas na subclasse 1-c com a classe 3. São desenhas pelo acamamento e apresentam a Sn

como foliação de plano-axial. Essas dobras foram redobradas pela fase Dn+1, promovendo um

padrão de redobramento do tipo “laço” ou “convergente-divergente”. O plano subvertical no

centro da foto é uma junta relacionada à fase Dn+3................................................................ 44

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Figura 10 Falha de empurrão relacionada à fase Dn. Esta falha é subparalela a foliação Sn. .... 45

Figura 11 Esquemas ilustrando a disposição da clivagem de crenulação Sn+1. (A) Ritmito

composto por camadas centimétricas de filitos e metasiltitos, as quais caracterizam S0,

paralela à qual ocorre clivagem ardosiana Sn. Tais superfícies foram deformadas pela clivagem

de crenulação Sn+1, visível no filito e discreta no metasiltito; (B) Intercalação entre filito e

metarenito fino, cujo contato define o S0. Posicionada paralela ao S0 ocorre a clivagem

ardosiana Sn, que no filito é definida por filossilicatos. Já no metarenito, além dos filossilicatos,

é definida por quartzo alongado. Essas superfícies são afetadas pela clivagem de crenulação

Sn+1, que sofre refração, apresentando mergulhos íngremes nas camadas de metasiltito e

médios nas camadas peliticas onde apresenta forma sigmoidal, essa situação se repete em (C).

............................................................................................................................................... 45

Figura 12 Dobras relacionadas à fase Dn+1 em várias escalas. Estas dobras são definidas pelas

superfícies de S0 e Sn. São normais, abertas a suaves, assimétricas, com plano-axial com

mergulho íngreme para sudeste, e eixo com caimento suave para N50E. (A) Escala decimétrica

com comprimento de onda com aproximadamente 5 m; base da foto com aproximadamente

30 m; (B) Escala métrica com comprimento de onda de 2,5 m; base da foto 4 m; (C) Escala

centimétrica com comprimento de onda de 30 cm; (D) Escala centimétrica com comprimento

de onda de 5 cm. .................................................................................................................... 46

Figura 13 Esquema ilustrando o padrão de interferência das dobras Dn e Dn+1. Como as

dobras das duas fases possuem eixos subparalelos e o plano-axial das dobras Dn+1 possui alto

ângulo em relação ao plano-axial das dobras Dn, tal padrão pode ser classificado como um

padrão de redobramento do tipo “laço”. ................................................................................ 48

Figura 14 Estruturas relacionadas à terceira fase de deformação. (A e C) Fraturas de porte

decamétrico que rompem as estruturas pretéritas; (B e D) Fraturas centimétricas relacionadas

à fase Dn+2. ............................................................................................................................ 49

Figura 15 Esquema de falha relacionada à fase Dn+2, classificada como normal devido a sua

separação ............................................................................................................................... 50

Figura 16 Esquema demonstrando a forma de ocorrência dos veios (V1), relacionados à

primeira fase de deformação. (A) Veios paralelos à clivagem ardosiana Sn, não dobrados. Na

parte superior esquerda da foto ocorrer uma dobra intrafolial, sin-Sn do veio de quartzo, com

o flanco inferior rompido; (B) Veios com forma sigmoidal em camada de metarenito

boudinada; os veios são controlados litologicamente, sendo restritos às camadas de

metarenito. (C) Veios de quartzo boudinados, também gerados nos estágios iniciais da fase Dn;

(D) Veios de quartzo definindo dobras recumbentes, semelhantes às definidas pelo

acamamento sedimentar S0; estas dobras apresentam a foliação Sn em posição plano-axial. . 50

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Figura 17 Esquema demonstrando a forma de ocorrência dos veios V2 em afloramento e suas

relações com as estruturas anteriores. Veios V2, assim como as estruturas da terceira fase de

deformação (Dn+2), encontram-se em posição transversal às estruturas anteriores; o

acamamento sedimentar e a foliação Sn encontram-se paralelos entre si, assim como os veios

V1 e os veios V2 cortam todas as estruturas anteriores. .......................................................... 51

Figura 18 Esquema demonstrando a atuação de cada fase de deformação. (A) A disposição de

S0, marcado pelas variações de cor, granulação, mineralogia; (B) Nos estágios iniciais da

primeira fase de deformação (Dn) ocorreu a colocação dos veios de quartzo V1; (C) O auge da

deformação Dn, que formou dobras recumbentes tendo Sn como plano-axial dessas dobras;

(C1, C2 e C3) As diferentes formas em que os veios foram deformados; (D) A forma de

ocorrência da segunda fase de deformação, que formou dobras normais, assimétricas, abertas

a fechadas, tendo Sn+1 como plano-axial das mesmas; (E) A terceira fase de deformação, que

formou um conjunto de fraturas perpendicular às demais estruturas, que podem ou não ser

preenchidas por uma família de veios de quartzo (V2); tal família pode ser subdivida em duas

subfamílias de acordo com a orientação do mergulho. ............................................................ 52

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Atuação das fases Deformacionais que atuaram na Baixada Cuiabana segundo alguns

autores. (modificado de Silva,1999). ....................................................................................... 26

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Apresentação do trabalho

A área de trabalho está situada em Cangas, distrito de Poconé, localizado na porção centro-

sul do estado de Mato Grosso, na região denominada Baixada Cuiabana. Esta região situa-se na Zona

Interna da Faixa de Dobramentos Paraguai, marcada pela ocorrência do Grupo Cuiabá que é

composto essencialmente por metasedimentos, metamorfizados em fácies xisto-verde e afetados por

deformações que originaram estruturas variadas, incluindo veios de quartzo portadores ou não de

mineralizações auríferas.

A Baixada Cuiabana vem sendo objeto de estudos acadêmicos e pesquisas com fins

lucrativos por décadas. Na década de 80, com a corrida do ouro em alta, esta região se tornou uma das

grandes produtoras de ouro do país e com isso aumentaram as pesquisas na região. Apesar do

conhecimento na região ter evoluído graças às pesquisas de Pires (1986), Del’Rey Silva (1990),

Alvarenga (1990), Alvarenga e Trompette (1993), Silva (1999), Tokashiki e Saes (2008), Barboza

(2008), Leão e Dall Oglio (2009), Beal (2013), alguns temas ainda são controversos, principalmente

o caráter polifásico da deformação e o controle estrutural dos veios de quartzo mineralizados.

1.2. Objetivos

O objetivo do presente trabalho é contribuir para a caracterização estrutural da Baixada

Cuiabana, incluindo estudo das estruturas geradas em cada fase de deformação, além da descrição dos

veios de quartzo, auríferos ou estéreis. Para tal, foi escolhida uma localidade produtora de ouro

denominada Mineração Cangas II ou também conhecida por Garimpo do Jonas.

1.3. Localização e Vias de Acesso

A região pesquisada está localizada no distrito de Cangas, que dista aproximadamente 80 km

da capital Cuiabá e cerca de 20 km de Poconé, do qual é distrito. O acesso é feito partindo de

Cuiabá/Várzea Grande pela BR-070, sentido Cáceres, por cerca de 20 km, onde se toma a rodovia

estadual MT-060. Segue-se nessa rodovia por aproximadamente 60 km até o Distrito de Cangas (Fig.

1). Após passar pelo distrito, seguindo pela mesma rodovia por cerca de 1 km, toma-se estradas

vicinais a esquerda para o acesso ao garimpo

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Figura 1. Mapa de localização e vias de acesso para área de pesquisa (Garimpo do Jonas)

1.4. Aspectos Fisiográficos

1.4.1. Clima

O clima na Baixada Cuiabana, que engloba os municípios próximos a Cuiabá, dentre eles

Poconé e o Distrito de Cangas, é classificada como o tipo Aw na classificação de Koppen, chamado

também de Clima Tropical Sub-úmido (Barros et al. 1982). Esse é um clima de zonas tropicais e

relaciona-se com regiões de cota inferior a 400 metros. Barros et al. (1982) também afirma que esse

clima caracteriza-se por apresentar duas estações bem definidas: a seca, que vai de abril a outubro e a

chuvosa que vai de novembro a março. A média pluviométrica anual da região oscila em torno de

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1.350 mm, com sazonalidade marcada por dois períodos bem distintos: o verão, onde são alcançados

os maiores índices pluviométricos, que oscilam entre 1.000 e 1.500 mm e o inverno, quando as chuvas

chegam a ser quase nulas. A temperatura média é de 26º C, com mínimas próximas a 15º e máximas

superiores a 32º C.

Segundo Luz et al. (1980) a região é afetada pela migração de massas de ar frio provenientes

do sul nos meses de junho a agosto. Essas massas de ar fazem a temperatura cair abaixo de 10º C. A

umidade relativa do ar varia muito, porém a média anual oscila em torno de 74%.

1.4.2. Hidrografia

A área de estudo pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai (Matos e Carvalho 2000),

sendo drenada pelos rios Cuiabá, Bento Gomes, Pari e seus afluentes. As drenagens observadas na

área possuem um padrão retangular dendrítico, com cursos d´água, na maioria subsequentes. Segundo

Inocêncio (1988 in Broggi Jr. et al., 1994), estes rios serpenteiam pela Planície do Pantanal, revelando

a sua complexa hidrografia, devido às inundações e ao grande número de braços laterais que os rios

apresentam. Os drenos, em sua maioria, são intermitentes, secando no período de estiagem e

readquirindo características torrenciais no período chuvoso. Nas planícies aluviais e planícies

pantanosas ao longo do rio Cuiabá, a drenagem apresenta um estilo meandriforme, com leitos antigos

anastomosados.

1.4.3. Vegetação

A vegetação da região da Baixada Cuiabana é classificada como cerrado (Barros et al. 1982).

Caracterizado por um tapete gramínio-lenhoso contínuo, meado por árvores gregárias, geralmente

raquíticas, e palmeiras anãs, geralmente destruídas pelo fogo anual.

Segundo Souza (1989 in Matos e Carvalho, 2000), o município de Poconé encontra-se na zona

de transição entre o Cerrado e o Complexo do Pantanal. Foram identificados quatro sistemas de

vegetação na região de Poconé: Naturais, de Transição, Secundários e Artificializado (Almeida et al.

2000) Nos Sistemas Naturais ocorrem savana florestada, floresta estacional semidecidual, savana

parque, savana arborizada e savana gramíneo-lenhosa. Os Sistemas de Transição apresentam as

mesmas formações e também inclui-se, a floresta sempre verde sazonalmente inundável. Os Sistemas

Secundários e Artificializados correspondem a áreas que sofreram antrópica em diferentes formações

vegetacionais e graus de sucessão ecológica

1.4.4.Pedologia

Almeida et al. (2000), afirmam que na região estudada, predominam os tipos de solo,

Latossolo Vermelho-Escuro eptrófico, distrófico e eutrófico; Latossolo Vermelho-Amarelo,

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epitrófico, álico e endopletroplínitico. Plintossolo endoeutrófico, epiálico, álico; Hidromóficos, Glei

Pouco Húmico eutrófico, endopetroplíntico endoálico, álico e Litólicos distrófico, endoálico e álico.

A área no entorno de Poconé é recoberta por solos saprolítico, laterítico hidromórfico, e por

plinto-solo-petroplíntico, apresentando em alguns pontos, a cobertura por latossolo de cor

avermelhada, terraços aluvionares com seixos lateríticos e quartzosos, com dimensões entre 2 e 25 cm

e são sub-angulosos com baixa esfericidade. Esses seixos lateríticos devem representar a destruição de

couraças lateríticas pretéritas, oriundas do embasamento que possui como principal rocha os filitos

que, quando intemperizados, dão origem a solos rasos (Broggi Jr. et al. 1994).

1.4.5. Geomorfologia

O município de Poconé está contido na feição geomorfológica denominada Baixada

Cuiabana, caracterizada por ser uma região baixa, como rochas de resistência variável aos processos

erosivos. A topografia é típica, onde é possível encontrar superfícies suavemente arredondadas,

geralmente não muito elevadas (40-50 metros do nível dos vales). Os rios ocupam vales estreitos,

como resultado de uma série de processos erosivos e são adaptados às direções estruturais das rochas

do Grupo Cuiabá (NE ou E-W).

A área de Poconé é limitada ao sul pelo Pantanal Matogrossensse, a oeste, nordeste e norte

pela Província Serrana e a leste pelo Planalto dos Guimarães. As altitudes variam pouco, entre 150 e

200 m, e é caracterizada pelo relevo de planície, que se desenvolveu sobre rochas Pré-Cambrianas que

sofreram forte deformação.

1.5. Método de Trabalho

O método de trabalho adotado para o desenvolvimento do presente trabalho foi dividida em

quatro etapas: etapa preliminar; etapa de aquisição de dados; etapa de tratamento de dados; etapa de

apresentação.

1.5.1. Etapa Preliminar

Esta etapa consta principalmente no levantamento bibliográfico com consulta de artigos,

dissertações de mestrado, teses de doutorado e trabalhos de conclusão de curso já realizados sobre a

Faixa Paraguai. Também foi realizada a análise e interpretação de fotos aéreas (LANDSAT), que

juntamente com um “campo de reconhecimento” definiu a área a ser estudada.

1.5.2. Etapa de Aquisição de Dados

Nesta etapa foram realizadas atividades para obtenção de dados através de mapeamento

geológico em escala de detalhe. Foram realizadas três etapas de campo, totalizando 21 (vinte e um)

Page 21: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

21

dias, onde foram mapeadas duas grandes cavas (Fig. 1.1) e outras cavas menores dentro do mesmo

Garimpo.

Para localização das cavas e paredões, foi utilizado o GPS da marca Garmin Etrex para a

determinação das coordenadas UTM, com precisão de aproximadamente 3 metros, nas partes mais

altas das cavas, e cerca de 10 metros nas porções mais profundas.

Nas cavas os paredões foram medidos com trena de 10 metros, fotografados com câmera

Sony Cyber-Shot e orientados com bússola do tipo Clar. Foram observadas, catalogadas e medidas as

atitudes das estruturas planares, tais como: acamamento, foliação, clivagem de crenulação, clivagem

de fratura, fraturas, falhas e veios. Além da orientação, nos veios foram medidos espessura e

comprimento (quando possível).

1.5.3. Etapa de Tratamento de Dados

Para o tratamento de dados estruturais foi usado o Software Open Stereo, onde todos os

estereogramas apresentados encontram-se no hemisfério inferior. Para o tratamento das fotografias foi

utilizado o Software Corel Draw, versão X4. Para a confecção da presente dissertação, foi utilizado o

Software Microsoft Word 2013. Por fim, para a elaboração da apresentação pública foi realizado o

Software Microsoft Power Point 2013.

1.5.4. Etapa de Apresentação de Dados

Esta etapa consta na elaboração da dissertação de mestrado e defesa pública para a banca

examinadora. Os resultados obtidos por meio desta, foram submetidos e publicados na revista

Brazilian Journal of Geology, o trabalho foi intitulado: “Caracterização Estrutural do Domínio

Interno da Faixa Paraguai na Região de Cangas, Porção Centro-Sul do Estado de Mato Grosso”. A

publicação é pré-requisito para obtenção do título de Mestre em Geociências pelo Programa de Pós-

Graduação em Geociências da Universidade Federal de Mato Grosso.

Page 22: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

22

2. GEOLOGIA REGIONAL

2.1. Contexto Geotectônico

A região de Poconé se situa na Faixa de Dobramentos Paraguai, que se insere na porção SW

da Província Tocantins. Estende-se por aproximadamente 1300 km de comprimento, bordejando as

porções leste e sudeste do Cráton Amazônico (Fig. 2). É composta de sedimentos dobrados e

metamorfizados, que em direção ao cráton apresenta coberturas sedimentares dobradas e falhadas,

mas não metamorfizadas. Aos poucos essas coberturas vão passando para rochas sedimentares pouco

deformadas correlatas às rochas da zona não metamórfica, que se estendem como coberturas no

interior do Cráton Amazônico. Almeida (1984) estabeleceu três domínios estruturais, mais tarde

renomeados por Alvarenga e Trompette (1993), como: (1) Zona Interna, intensamente dobrada e

metamorfizada, com intrusões graníticas; (2) Zona Externa, dobrada com pouco ou nenhum

metamorfismo; (3) Coberturas sedimentares de plataforma. Grande parte dessas rochas,

principalmente as da zona interna encontram-se recobertas por sedimentos das bacias do Parecis,

Paraná e Pantanal.

Page 23: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

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Figura 2. Mapa Geológico esquemático da Faixa de Dobramentos Paraguai (modificado de Alvarenga e Trompette

1993), incluindo a localização da área de estudos.

2.2. Estratigrafia

As rochas da área de pesquisas são componentes do Grupo Cuiabá, que vem sendo objeto de

estudos por muitos anos e os pesquisadores divergem sobre as subdivisões para a mesma, como

mostra a Figura 3.

Luz et al. (1980) propõem a existência de dois ambientes deposicionais para o Grupo

Cuiabá: as sub-unidades 1, 2, 3, 5 e 6 representam ambiente marinho onde as instabilidades

tectônicas deram origem a correntes de turbidez, e consequentes fluxos de lamas. Os mesmos autores,

sugeriram para as subunidades 4 e 7 um ambiente glácio-marinho, possivelmente associado a grandes

massas de gelo flutuantes.

Segundo Alvarenga (1984,1990) e Alvarenga e Saes (1992), a Faixa Paraguai pode ser

dividida em quatro grandes grupos crono-estratigráficos: Sequência Inferior, Sequência Média

Glácio-marinha Turbidítica, Sequência Média Carbonatada e Sequência Superior. Estes autores

verificaram também os aspectos sedimentológicos presentes nas zonas externa e interna da faixa,

Page 24: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

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mostrando a existência de uma passagem gradual de um ambiente glácio-marinho com correntes de

turbidez para um ambiente essencialmente turbidítico em sua zona mais interna, na região de São

Vicente.

Tokashiki e Saes, (2008), identificaram três unidades associadas ao conjunto sedimentar do

Grupo Cuiabá (Fig. 2.2). Estas unidades são separadas por importantes quebras no regime

deposicional (discordâncias), de forma que os autores supracitados formularam proposta para divisão

formal do Grupo Cuiabá em três formações: Campina de Pedras, Acorizal e Coxipó. Estas unidades

foram adotadas no presente trabalho.

Figura 3.Comparação entre as colunas estratigráficas propostas para o Grupo Cuiabá, modificado de Tokashiki &

Saes (2008).

2.2.1. Formação Campina de Pedras

Segundo Tokashiki e Saes (2008) a Formação Campina de Pedras corresponde às

Subunidades 1 e 2 de Luz et al. (1980) e a unidade inferior de Alvarenga (1988). É composta da base

para o topo de uma sucessão deposicional granocrescente de filitos, filitos grafitosos, intercalações de

metarenitos com ciclos de Bouma incompletos, mármores calcíticos e metagrauvacas feldspáticas.

Ainda segundo esses autores, a análise faciológica da Formação Campina de Pedras sugere

um contexto deposicional de lagos profundos, com clima tropical a semi-árido, assoreados por deltas

que carreavam detritos do Cráton Amazônico expostos nas ombreiras de bacias tipo rift, instaladas

nos primórdios da fragmentação do Supercontinente Rodínia (<1,0Ga). Separando esta sucessão das

subunidades sobrepostas ocorre um contato abrupto, e uma notável mudança litológica, o que

configura importante quebra no regime deposicional e climático, provavelmente envolvendo

discordância estratigráfica.

Page 25: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

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2.2.2. Formação Acorizal

A Formação Acorizal (Almeida 1964), corresponde às sub-unidades 3, 4 e 5 de Luz et al.

(1980) e à Fácies Intermediária da Unidade Média Turbidítica Glácio-marinha de Alvarenga (1988).

Almeida (1964) adotaram está formação como unidade basal do Grupo Jangada e abriga as formações

Engenho, Bauxi e Marzagão.

Segundo Tokashiki e Saes (2008) essa formação é composta por depósitos gradacionais

rítmicos com intercalações subordinadas de metaritmitos com clastos pingados, quartzitos e

metadiamictitos maciços. Os metadiamictitos são variados quanto ao seu aspecto, destacando- se um

nível marcante pela coloração cinza-arroxeada da sua matriz, que vai tendo sua espessura reduzida,

desaparecendo por completo nos arredores de Poconé e Cuiabá. Este nível de metadiamictitos foi

registrado por Almeida (1964), que lhe atribuiu a denominação de Formação Engenho constituinte do

Grupo Jangada, que foi redenominada como Fácies Engenho por Tokashiki e Saes (2008), e

individualizado por Luz et al. (1980) como sub-unidade 4. Os metaritmitos com clastos pingados do

alinhamento Cangas-Poconé foram denominados de Fácies Cangas por Tokashiki e Saes (2008) e

interpretados como variação faciológica cronocorrelata da Fácies Engenho, em virtude da sua posição

estratigráfica (contato entre as sub-unidades 3 e 5 de Luz et al. 1980) e conspícuo caráter glaciogênico

de ambas.

2.2.3. Formação Coxipó

A Formação Coxipó foi inicialmente proposta por Guimarães e Almeida (1972). Tokashiki e

Saes (2008) utilizaram o termo para designar uma sucessão composta predominantemente por filitos

conglomeráticos, metarenitos, quartzitos, mármores e metadiamictitos petromíticos, que apresentam

uma considerável variação litológica em toda sua área de ocorrência. A Formação Coxipó

corresponde parcialmente à Formação Marzagão de Almeida (1964), às sub-unidades 6 e 7 de Luz et

al. (1980) e à Fácies Proximal da Unidade Turbidítica Glácio-marinha de Alvarenga (1988). Essa

Formação abriga a Fácies Guia, composta de mármores calcíticos e dolomíticos que afloram na

Sinclinal da Guia e também os quartzitos que formam os alinhamentos de Serra que vão da Serra de

São Vicente até Barão de Melgaço.

2.3. Geologia Estrutural

Em estudos prévios da Faixa Paraguai, na região da Baixada Cuiabana e Província Serrana

descrevem a atuação de várias fases de deformação desenvolvidas durante o ciclo Brasiliano. Luz et

al. (1980) caracterizam três fases de deformação coaxiais sucessivas, diferente da proposta de Pires et

al. (1986), que descrevem duas fases coaxiais e uma transversal. Del’Rey Silva (1990) baseado em

Pires et al. (1986), caracteriza um regime de cisalhamento simples, responsável por três fases de

dobramentos e uma quarta fase ortogonal. Alvarenga (1986; 1990) e Alvarenga e Trompette (1993)

Page 26: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

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descrevem a existência de quatro deformações sucessivas que representariam estágios de um mesmo

evento deformacional, e descreve a primeira e a segunda fase como sendo as mais intensas. Barboza

(2008) apresenta um modelo com três fases de deformação sendo que a segunda fase englobaria a

segunda e a terceira de Silva (1999), Alvarenga e Trompette (1993).

Tabela 1. Atuação das fases Deformacionais que atuaram na Baixada Cuiabana segundo alguns autores.

(modificado de Silva, 1999).

Alvarenga e Trompete (1993) afirmam que as deformações superpostas (D1 a D4) que

afetaram as rochas da Faixa Paraguai são de caráter contínuo e possuem idade Brasiliana, sendo que a

fase D1 é apresentada em toda a faixa; as fases D2 e D3 apresentam caráter local e são caracterizadas

por clivagens de crenulação, e a fase D4 é tardi-orogenética de caráter rúptil.

Silva (1999) em seus estudos de estruturas das rochas do Grupo Cuiabá, na Baixada

Cuiabana em escala micro, meso e macroscópicas, caracterizou com base em critérios de

superposição o efeito de quatro fases de deformação. A proposta de Silva (1999) se assemelha a

proposta de Alvarenga e Trompette (1993) quanto às quatro fases de deformação, o que as diferencia

é a ocorrência ou não de uma fase Pré-Dn. Alvarenga e Trompette (1993) afirmam a existência dessa

fase Dn pela ocorrência de veios de quartzo dobrados, paralelos a Sn, que os autores afirmam que

foram encaixados antes do início do metamorfismo, assim como afirmam Luz et al. (1980). Silva

(1999) afirma que os mesmos veios, ocorreram no início da fase Dn, ou seja, antes do auge da

deformação, que teria ocorrido nos estágios finais de Dn, por isso estariam dobrados e que essas

estruturas formadas antes da deformação são atectônicas.

Segundo Silva (1999), a feição estrutural marcante nas rochas do Grupo Cuiabá é a foliação

Sn, que em geral se apresenta como uma clivagem ardosiana, tanto nas rochas pelíticas, quanto nas

quartzosas e diamictíticas. Por vezes apresenta-se como uma clivagem de crenulação apertada, cuja

superfície crenulada ainda carece de maiores investigações. Sobre a clivagem Sn são reconhecidas as

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clivagens de crenulação Dn+1 e Dn+2 ambas coaxiais à primeira, diferindo na orientação dos seus

planos axiais. Enquanto a foliação Sn+1 plano axial das dobras Dn+1 tem caimento em baixo ângulo

para NW, os planos axiais das dobras Dn+2 são orientados para SE. Ocorrem ainda dobras Dn+3 de

grande comprimento de onda, associadas à fraturamento de direção NW, mergulho vertical para NE

ou SW.

2.3.1. Fases Deformacionais

2.3.1.1. Fase D1/Dn

As estruturas relacionadas a esta fase são observadas na Zona Interna e na Zona Externa.

Alvarenga e Trompette (1993) descrevem que as dobras associadas a Dn são abertas na zona externa,

e passam a ser fechadas, inversas e isoclinais na zona interna.

A foliação Sn é descrita por Alvarenga e Trompette (1993) como uma clivagem plana axial

associada às dobras Dn, bem desenvolvidas na zona interna, mostrando uma penetratividade mais

forte nas direções leste e sul. Os mesmos autores afirmam que a clivagem Sn é mais penetrativa nas

rochas filossilicáticas (filitos e metadiamictitos), e menos penetrativas nas rochas mais competentes

(rochas carbonáticas, quartzíticas ou conglomeráticas). Silva (1999) descreve que esta foliação

descreve um leque ao longo de um perfil de NW para SE. Na parte NW nas proximidades da cidade

de Jangada Sn apresenta mergulhos médios (40-60°) para SE, na região da Guia passa a subvertical, e

nas proximidades de Cuiabá apresenta mergulhos para NW entre 40-60º. Barboza (2008) afirma que a

foliação Sn é plano axial de grandes dobras recumbentes e isoclinais de grande amplitude e nelas tem-

se a impressão de que o S0 e Sn são paralelos. O acamamento se encontra fraturados e dobrados por

deformações posteriores.

Barboza (2008) afirma que as lineações podem ser de dois tipos: (i) lineação de intersecção,

visualizadas nos planos de S0 representam a intersecção entre esta superfície e Sn, são geralmente

paralelas ao eixo das dobras e mostram suave caimento ora para NE, ora para SW.

Alvarenga e Trompette (1993) afirmam a existência de duas famílias de veios de quartzo

relacionadas a fase de deformação Dn. A primeira família foi anterior à deformação, foi dobrada pela

fase D1. A segunda foi contemporânea a D1 e dispõe-se paralelamente a Sn.

Silva et al. (2002), afirma que os veios tipo 1, relacionados a primeira fase de deformação,

são paralelos ao acamamento, geralmente tabulares, formado por quartzo leitoso e dobrados com

foliação Sn plano axial.

2.3.1.2. Fase D2/Dn+1

Esta fase foi reconhecida por Alvarenga (1986; 1990), Alvarenga e Trompette (1993), Silva

(1999) e Barboza (2008), como mostra a Tabela 1. É restrita a zona interna da Faixa Paraguai,

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principalmente nas regiões de Cuiabá e a WNW de Poconé. Apresenta-se como uma clivagem de

crenulação e desenvolve-se nos pelitos onde é marcada pela recristalização e reorientação de

filossilicatos. Nas rochas arenosas essa clivagem é fracamente marcada ou ausente. Barboza (2008)

descreve uma clivagem de fratura nas rochas mais arenosas e uma clivagem de crenulação nas rochas

pelíticas como sendo relacionadas a essa fase de deformação e afirma que essa diferença pode se dar

pela diferença de competência entre as camadas.

2.3.1.3. Fase D3/Dn+2

A principal estrutura relacionada a esta fase de deformação é clivagem de crenulação que se

mostra penetrativa nos pelitos e superficial nos metasiltitos ocorrendo com mais frequência que a fase

anterior, porém com menos penetratividade (Silva, 1999). Alvarenga e Trompette (1993) descrevem

dobras Dn+2 abertas a fechadas, com sentido da vergência para W-NW. Localmente mostram-se

associadas a dobras de arrasto com clivagem de crenulação e kinks. A NNE da cidade de Cuiabá, as

dobras são substituídas por kinks. Pires et al. (1986) descrevem uma marcante lineação Ln+1 entre

SnxSn+2.

Segundo Alvarenga e Trompette (1993), no bloco localizado entre Cangas e Poconé, as

dobras D3 são desenhadas como drags de zona de falha com clivagens de crenulação e kinks

associados. A análise microscópica da clivagem S3 mostra o desenvolvimento de micro kink bands

deformando os planos S1.

2.3.1.4. Fase D4/Dn+3

Esta fase, é descrita por Pires et al. (1986), Del Rey Silva (1990) e Alvarenga (1986; 1990),

Alvarenga e Trompette (1993), Silva (1999) e Barboza (2008). Está relacionada a ondulações de

grande comprimento de onda, reconhecidas em escala de mapa com eixos perpendiculares aos trends

da faixa de dobramentos. Localmente, é descrito um traço estrutural marcante, representado por um

forte fraturamento de direção N50-70W com mergulhos verticais e subverticais.

Alvarenga e Trompette (1993) reconhecem a existência desta fase de deformação no Granito

São Vicente. A presença desse fraturamento no Granito São Vicente indica que o mesmo ocorreu após

o resfriamento das rochas do Grupo Cuiabá e do granito. Considerando o caráter tardi-tectônico da

intrusão graníüca, o fraturamento D4 foi o último registro dos efeitos da Orogênese Brasiliana

associado ao estágio rúptil e distensivo, como consequência do resfriamento.

Pires et al. (1986), Alvarenga (1986, 1990), Alvarenga e Trompette (1993) descrevem veios

de quartzo que possuem espessura variáveis, sendo considerada tardi-orogênica e portadora das

mineralizações auríferas da região.

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2.4. Metamorfismo

O metamorfismo que afetou as rochas do Grupo Cuiabá não ultrapassou a fácies xisto-verde,

zona da clorita e localmente zona da biotita.

Almeida (1984) cita os seguintes minerais como sendo produto do metamorfismo: sericita,

clorita, epidoto, muscovita, grafita, pirita, albita, microclínio, hematita, magnetita e rutilo. Nas rochas

da zona externa, o metamorfismo é muito fraco e em alguns pontos inexistente.

Almeida (1964) afirma que o metamorfismo regional aumenta de NW para SE e das rochas

mais novas para as mais velhas, e relaciona o metamorfismo com a intensidade da deformação e

profundidade de soterramento.

Alvarenga (1990) mediu a intensidade do metamorfismo em função da cristalinidade da ilita.

Suas conclusões mostram que há um aumento no grau metamórfico de NW para SE da zona externa

para zona interna. A cristalinidade da ilita indica que no geral o metamorfismo da zona interna não

ultrapassou a epizona, enquanto o da zona externa não ultrapassou a anquizona.

Silva et al 2002, reconheceram 3 associações mineralógicas distintas para a Baixada

Cuiabana, características de um metamorfismo na fácies xisto-verde baixo, entre as zonas da clorita e

da biotita, são elas: 1 – clorita+muscovita+quartzo; 2 – Clorita+biotita+muscovita+ quartzo; 3 –

biotita+muscovita+quartzo. Este zoneamento metamórfico é marcado pela passagem gradual de

clorita por biotita, de NE para SW, sugerindo um aumento no grau metamórfico neste sentido.

As variações mineralógicas observadas na área são interpretadas como reflexo do

metamorfismo regional progressivo representando um gradiente com a exposição de rochas de mais

altas temperaturas a SW e mais baixa para NE. As isogradas obtidas a partir da distribuição de

minerais e índices em mapa truncam os dois flancos da antiforma de Bento Gomes, que é formada por

Dn. Silva et al 2002 concluem que o auge do metamorfismo na Baixada Cuiabana ocorreu em Dn,

porém após a configuração inicial da antiforma.

2.5. Magmatismo

O Grupo Cuiabá, em sua área exposta mais afastada do Cráton Amazonico, apresenta plútons

tardi-orogênicos, de composição granítica, granodioritica ou adamelítica que ocorrem nas áreas mais

internas da Faixa. O plútons mais famoso e estudado é o Granito São Vincente, um batólito cuja

composição se assemelha a de um adamelito (Hasui e Almeida, 1970). Del’Arco et al. (1981),

referem-se a presença de vulcânicas de composição ácida a intermediária, cogenéticas ao Granito São

Vicente, nas rochas do Grupo Cuiabá, na localidade de Mimoso, datadas em 480 Ma pelo método

Rb/Sr.

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O batólito São Vicente ocupa uma área de aproximadamente 430 km2, com um diâmetro de

aproximadamente 35 km e consiste em dois corpos graníticos conectados em profundidade e

separados por um “canal” de rochas metasedimentares. O Granito está intrudido em filitos, quartzitos,

metaritmitos do Grupo Cuiabá (Almeida, 1954; Almeida e Mantovani,1975)

Ocorrem também intrusões graníticas pós-cinemáticas no Grupo Cuiabá, que se expõem

parcialmente ao longo de estreita faixa entre a Bacia do Pantanal e a do Paraná, como por exemplo, os

Granitos Taboco (Penalva, 1971 in Almeida 1984) e Coxim, datados em 453 Ma pelo método K/Ar

por Beuriem (1956 in Luz et al. 1980).

2.6. Idades

As rochas ultramáficas do Planalto da Serra intrudiram os metarenitos, metasiltitos e xistos

do Grupo Cuiabá e foram datados em Ar/Ar, Rb/Sr e Sm/Nd por De Min et al, (2013) em torno de

600 ma, idade essa que representa uma idade de Ediacariano (630-542 Ma) e que indica o inicio da

deformação e do metamorfismo de baixo grau que afetou o Grupo Cuiabá tem idade superior a 600

Ma, provavelmente na transição do Criogeniano e do Ediacariano.

Baseado em idades U-Pb, McGee et al, (2010) concluíram que o Granito São Vicente foi

intrudido em torno de 518±4Ma. Esses valores provem uma idade mínima para a deformação e da

Faixa Paraguai nessa região e, portanto consiste na acresção final da parte Sul-americana do

supercontinente Gondwana.

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3. ARTIGO SUBMETIDO À BRAZILIAN JOURNAL OF GEOLOGY

Caracterização estrutural do domínio interno da

Faixa Paraguai na região de cangas, porção centro-

sul do Estado de Mato Grosso Structural characterization of the internal domain of Paraguai Belt, in the Cangas

region, south central portion of Mato Grosso, Brazil Bruno de Siqueira Costa¹, Carlos Humberto da Silva²*, Ana Cláudia Dantas da Costa

2

RESUMO: O estudo das estruturas das rochas do Grupo Cuiabá, na região de Cangas, permitiu a identificação

de três fases de deformação. A principal estrutura relacionada à primeira fase de deformação é uma clivagem

ardosiana, paralela à estratificação e ao plano-axial de dobras recumbentes, com orientação 120/27. Nos estágios precoces desta fase foi gerada uma família de veios de quartzo (V1) disposta paralela às suas

estruturas, sendo, em sua maioria, deformada. A segunda fase de deformação formou uma clivagem espaçada

(Sn+1), plano-axial de dobras normais, abertas a suaves e assimétricas e com orientação preferencial 110/68. A

terceira fase de deformação é representada por um conjunto de fraturas de porte centimétrico a decamétrico e falhas com rejeitos métricos, que cortam todas as estruturas anteriores e têm orientação preferencial 35/82.

Relacionada a esta fase de deformação ocorre uma segunda família de veios de quartzo (V2), que preenche as

fraturas relacionadas à Dn+2 e pode (ou não) ser portadora de mineralizações auríferas.

PALAVRAS-CHAVE: Grupo Cuiabá; fases de deformação; veios de quartzo.

ABSTRACT: The structural study of rocks in the district of Cangas showed the identification of three phases of deformation for the Cuiabá Group in this region. The main structure oriented 120/27 is related to the first

phase of deformation defined by a slate cleavage, parallel to the bedding and to the axial plane of recumbent

folds. In the early stages of this phase a family of quartz veins (V1) was generated, arranged parallel to the structures of this phase of deformation, being all almost deformed. The second phase of deformation formed a

crenulation cleavage (Sn+1), axial plane of opened to gentle and asymmetric normal folds, with preferential

orientation 110/68. The third phase of deformation is represented by a set of centimetric to decametric scale

fractures and faults with metric slip that cut all previous structures, with orientations 35/82. Related to this phase of deformation occurs a second family of quartz veins (V2), which fills the fractures related to Dn+2 and

may or may not be carrying gold mineralization.

KEYWORDS: Cuiabá Group; deformation phases, quartz veins

¹Programa de Pós-Graduação em Geociências, Instituto de Ciências Exatas e da Terra – ICET, Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, Cuiabá (MT), Brasil. E-mail: [email protected]

²Departamento de Geologia Geral, Instituto de Ciências Exatas e da Terra – ICET, Universidade Federal de Mato Grosso –

UFMT, Grupo de Pesquisa em Evolução Crustal e Tectônica, Cuiabá (MT), Brasil. E-mails: [email protected];

[email protected]

*Autor correspondente.

Manuscrito ID: 30136. Recebido em: 21/07/2014. Aprovado em: 23/02/2015.

Page 32: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

32

3.1 INTRODUÇÃO

O Distrito de Cangas está localizado, em termos geotectônicos, na zona

estrutural interna da Faixa de Dobramentos Paraguai, a sudeste do Cráton Amazônico.

A área de estudo (Fig. 4) está localizada na região centro-sul do Estado de Mato

Grosso, nas proximidades de Cangas, distrito da cidade de Poconé, do qual se distancia

cerca de 20 km, e está a aproximadamente 80 km da capital Cuiabá. Nos arredores de

Cangas existem várias cavas a céu aberto e o alinhamento destas cavas marca um

importante trend mineralizado, com orientação N35°-40°E, denominado alinhamento

Cangas-Poconé por Paes de Barros et al. (1998). Apresenta um forte sinal magnético,

evidenciando um controle lito-estrutural (Leão e Dall’Oglio 2009).

O presente trabalho teve como objetivo realizar a caracterização estrutural de

uma localidade produtora de ouro, denominada Garimpo do Jonas ou Mineração Cangas

II (Fig. 4), por meio de um mapeamento das cavas produtoras de ouro, e contribuir para

o conhecimento da evolução estrutural dessa região da Baixada Cuiabana.

3.2 CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL

A área estudada situa-se na Faixa Paraguai que ocupa a porção ocidental da

Província Tocantins (Fig. 4). Tal faixa apresenta-se em grande parte encoberta pelos

sedimentos das Bacias do Paraná, Parecis e Pantanal. Almeida (1984) estabeleceu três

domínios estruturais, mais tarde renomeados por Alvarenga e Trompette (1993) como:

1. Zona Interna, intensamente dobrada e metamorfizada, com intrusões

graníticas;

2. Zona Externa, dobrada com pouco ou nenhum metamorfismo;

3. Coberturas sedimentares de plataforma. Nesta concepção a área de estudo

encontra-se na Zona Interna.

A Zona Interna da Faixa Paraguai, na região da Baixada Cuiabana, vem sendo

objeto de estudos há décadas, os principais trabalhos são: Luz et al. (1980), Alvarenga

(1984, 1988), Alvarenga e Saes (1992), Pires et al. (1986), Del’Rey Silva (1990),

Alvarenga e Trompette (1993), Silva (1999), Silva et al. (2002) Beal (2013). Na região

do alinhamento Cangas-Poconé, os trabalhos realizados são raros, mais especificamente

Silva (1999), Tokashiki e Saes (2008), Barboza (2008), Leão e Dall’Oglio (2009).

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33

3.2.1 Estratigrafia

Tokashiki e Saes (2008) identificaram três unidades associadas ao conjunto

sedimentar do Grupo Cuiabá. Essas unidades são separadas por importantes quebras no

regime deposicional (discordâncias), de forma que os autores supracitados formularam

proposta para divisão formal do Grupo Cuiabá em três formações: Campina de Pedras

(filitos, filitos grafitosos, intercalações de metarenitos com ciclos de Bouma

incompletos, mármores calcíticos e metagrauvacas feldspáticas), Acorizal (depósitos

rítmicos com intercalações subordinadas de metaritmitos com seixos caídos, quartzitos e

metadiamictitos maciços) e Coxipó

Page 34: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

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Figura 4. Mapa geológico regional incluindo a área de estudo, com destaque para a região do

alinhamento Cangas-Poconé, modificado de Alvarenga e Trompette (1993).

(filitos conglomeráticos, metarenitos, quartzitos, mármores e metadiamictitos petromíticos).

Essas unidades foram adotadas no presente trabalho.

Page 35: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

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2.2 Geologia Estrutural

3.2.2.1Fase Dn

É de consenso que esta fase é a principal responsável pela estruturação das

rochas do Grupo Cuiabá. Esta fase de deformação desenvolveu uma foliação Sn,

descrita como uma foliação plano-axial das dobras Dn, mais penetrativa em rochas

pelíticas e menos penetrativa nas rochas psamíticas.

Com base na variação da atitude da foliação principal, Silva (1999) dividiu o

Grupo Cuiabá em dois domínios para facilitar a descrição de suas estruturas: Domínio

NW (DNW), onde a foliação Sn mergulha para SE, e Domínio SE (DSE), no qual a

foliação mergulha para NW. Tal subdivisão baseia-se no mergulho de Sn, o que reflete

na orientação de dobras Dn, das quais essa clivagem é plano-axial. No DNW, as dobras

são inclinadas a invertidas, abertas a fechadas com eixos orientados segundo N30-

45E/10-15 e planos-axiais com mergulhos variando entre N45-60E/50- 67SE.

Progressivamente, Sn verticaliza-se em direção ao limite com o domínio SE, as dobras

neste limite passam às normais com o plano-axial íngreme, orientado em N45-

60E/vertical.

As lineações mais expressivas relacionadas à Dn, citadas por Luz et al. (1980) e

Pires et al. (1986), são: a lineação de interseção entre S0 x S1 (Li) e o eixo das dobras

F1, ambos orientados em N40E a N50E com caimento 5º a 10º.

Luz et al. (1980) sugerem que os veios de quartzo subconcordantes com o

acamamento teriam sido gerados durante um evento pré-Dn, visto que se encontram

dobrados nesta fase. Entretanto, Silva (1999) propõe que esses veios possam ter se

desenvolvido precocemente na fase Dn, registrando um estágio de dobramento flexural

com deslizamento intraestratal.

3.2.2.2Fase Dn+1

Descrita por Alvarenga (1986, 1990), Alvarenga e Trompette (1993) e Silva

(1999), restringe-se à zona interna principalmente nas regiões de Cuiabá e Poconé,

apresenta-se como uma clivagem de crenulação (Sn+1) com orientação N45-50E/35-

50NW.

Silva (1999) descreve as dobras relacionadas a esta fase como sendo apertadas a

fechadas com linhas de charneira paralelas às das estruturas mais antigas (Dn), com

caimentos suaves para NE e, às vezes, para SW.

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Barboza (2008) descreve uma clivagem de fratura Sn+1 e uma clivagem de

crenulação como sendo produtos de uma mesma fase de deformação e que essa

diferença ocorre pela competência das camadas.

3.2.2.3Fase Dn+2

Segundo Silva (1999), a fase Dn+2 caracteriza-se por clivagem de crenulação

que deforma a clivagem ardosiana Sn e é plano-axial de dobras inclinadas, abertas a

suaves e linhas de charneira com caimentos suaves para NE ou para SE. A atitude varia

N30-70E/40-60ºSE. Segundo Leão e Dall’Oglio (2009), a foliação Sn+2 é observada de

forma restrita, sendo representada por uma clivagem de fratura. Nos metarenitos a

clivagem de fratura rompe os planos S0 e Sn.

Alvarenga e Trompette (1993) descrevem dobras Dn+2 como abertas a fechadas,

raramente recumbentes, com sentido da vergência para W-NW (Del Rey Silva 1990).

Localmente mostram-se associadas a dobras de arrasto com clivagem de crenulação e

kinks associados. Esses autores não observaram recristalização de filossicatos associada

a esta fase.

3.2.2.4Fase DN+3

Esta fase é descrita por Pires et al. (1986), Del’Rey Silva (1990), Alvarenga

(1986, 1990) e Alvarenga e Trompette (1993), sendo que os últimos autores relacionam

a dobras de grande comprimento de onda, reconhecidas em escala de mapa e com eixos

perpendiculares aos trends da faixa de dobramentos.

Silva (1999) descreve um forte fraturamento, paralelo ao plano-axial das dobras

Dn+3, o que evidencia o caráter raso desta fase de deformação. Pires et al. (1986),

Alvarenga (1986, 1990) e Alvarenga e Trompette (1993) descrevem veios de quartzo

paralelos a essas estruturas, com espessura variável de alguns centímetros a 1 m,

considerados como tardi-orogênicos. Segundo esses autores, tais veios são os portadores

das mineralizações de ouro da Baixada Cuiabana.

3.2.3Metamorfismo

O metamorfismo das rochas do Grupo Cuiabá na Baixada Cuiabana é de fácies

xisto verde, conforme atestam estudos conduzidos por Silva (1999) e Silva et al. (2002),

que reconheceram três associações minerais distintas entre as zonas da clorita e da

biotita, são elas:

1. clorita + muscovita + quartzo;

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2. clorita + biotita + muscovita + quartzo;

3. biotita + muscovita + quartzo.

Segundo os autores supracitados, as variações mineralógicas observadas na área

são interpretadas como reflexo do metamorfismo regional progressivo representando

um gradiente com a exposição de rochas de mais altas temperaturas a SW e mais baixas

para NE. As isogradas obtidas a partir da distribuição de minerais-índice em mapa

truncam os dois flancos da antiforma de Bento Gomes, que é formada por Dn. Os

autores concluem que o auge do metamorfismo na Baixada Cuiabana ocorreu em Dn,

porém após a configuração inicial da antiforma.

3.2.4 Idades

A idade de deposição das rochas da Faixa Paraguai foi determinada por

Babisnski et al. (2013), que estudaram as rochas da Formação Puga, que é

correlacionada às rochas do Grupo Cuiabá. Esses autores dataram zircões detríticos pelo

método U-Pb SHRIMP, tendo obtido idades entre 706 e 1.990 Ma. O zircão mais novo

foi datado em 706 ± 9 Ma, restringindo, assim, a idade máxima de deposição para a

Formação Puga. A proveniência dos sedimentos da Faixa Paraguai foi investigada por

Dantas et al. (2009) por meio da assinatura isotópica Nd. Os autores relatam que as

rochas siliciclásticas apresentam idades modelo TDM em ca. 2,3 – 1,5 Ga e εNd

fortemente negativa (T) com valores de -11 a -6, revelando mudanças sedimentares na

origem. Consideram que as rochas da Faixa Paraguai originaram a partir de fontes

Paleo- a Mesoproterozoicas presentes no Cráton Amazônico.

As rochas ultramáficas do Planalto da Serra representam um evento extensional

e são intrusivas em metarenitos, metasiltitos e xistos do Grupo Cuiabá. Foram datadas

pelos métodos Ar/Ar, Rb/Sr e Sm/Nd por De Min et al. (2013) no Ediacarano, em torno

de 600 Ma. Indica que a deformação e o metamorfismo de baixo grau que afetaram o

Grupo Cuiabá têm idade superior a 600 Ma. Baseados em idades U-Pb, McGee et al.

(2010) concluíram que a intrusão do Granito São Vicente, pós-tectônico, ocorreu há

cerca de 518 ± 4 Ma. Esses valores proveem uma idade mínima para a deformação da

Faixa Paraguai nessa região e representariam a aglutinação final do oeste Gondwana.

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38

3.3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE PESQUISA

3.3.1 Litologias

No Garimpo do Jonas é reconhecida uma sucessão de rochas metassedimentares

de origem detrítica, arranjadas de uma maneira complexa, com intercalações de ciclos

de sedimentação muitas vezes inferiores a 1,0 m de espessura. Simplificadamente

definida pela predominância de um determinado litotipo.

As litologias predominantes são filitos que apresentam granulação fina a muito fina, por

vezes homogêneos (Fig. 5A) ou laminados (Fig. 5B). São reconhecidos filitos

serecíticos de coloração cinza e filitos carbonosos de coloração cinza escura; podem

conter seixos de origem e tamanhos variados, podendo ser de: granitos (Fig. 5C), meta-

renitos (Fig. 5E), mármores, anfibolitos, filitos e gnaisses. Outras litologias frequentes

são metarenitos (Fig. 5F) que apresentam coloração marrom com variações locais de

coloração para amarelado ou esbranquiçado; apresentam granulação fina a média,

preservada do protólito sedimentar. Ainda é observada uma intercalação de escala

centimétrica de filitos sericíticos, filitos carbonosos e metarenitos, informalmente

designada de metaritmito (Fig. 5D). Essas litologias se enquadram na Formação

Acorizal de Tokashiki e Saes

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Figura 5 Litologias encontradas nas cavas pesquisadas. (A) Filito cinza homogêneo com seixo

pingado; (B) Filito cinza com clivagem ardosiana pervasiva (Sn); (C) Filito com seixo de granito

caído; (D) Metaritmito marcado pelas alternâncias de camadas centimétricas de filitos cinza, filitos

seríciticos e metarenitos; (E) Seixo de metarenito caído em filito cinza; (F) Metarenito marrom de

granulação fina a média.

(2008), mais especificamente Membro Cangas de Beal (2013). Considera-se que

essas rochas foram depositadas em um ambiente transicional de continental lacustre —

marinho durante a fase de expansão (sin-rift) da Bacia sobre a ação glacial (Beal 2013).

3.3.2 Aspectos estruturais

Em geral, as cavas apresentam direção NW-SE, perpendiculares à estruturação

preferencial da Faixa Paraguai e cerca de 200 m de comprimento por aproximadamente

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100 m de largura, em média 80 m de profundidade. O comprimento das cavas está

condicionado pela ocorrência do alinhamento Cangas-Poconé.

3.3.2.1 Estruturas primárias

São estruturas formadas antes da primeira fase de deformação e metamorfismo

por processos sedimentares. A identificação dessas estruturas tem grande importância

na determinação da sequência de eventos que afetaram a área de estudo. Na região de

Cangas, a estrutura primária mais evidente é o acamamento sedimentar (S0), que pode

ser observado por variações de cor, granulação e ou mineralogia (Figs. 6A e 6B). O

acamamento sedimentar desenha as dobras relacionadas à fase Dn possuindo orientação

preferencial 120/27 (Fig. 7A).

Figura 6 Fotografias ilustrando o aspecto do acamamento sedimentar (S0) na área estudada. (A) O

S0 é definido por camadas centimétricas de filito e metarenitos com mergulho suave para SE e está

paralelo à clivagem ardosiana Sn. As ranhuras subverticais, presentes principalmente na parte

esquerda da foto, são marcas das pás dos tratores; (B) Detalhe do S0 definido por camadas

centimetricas de filito e metarenitos. A clivagem ardosiana Sn apresenta-se obliqua ao S0, como

pode ser observado na parte superior da foto. Na camada de metarenito situado na parte central da

foto é possível observar a clivagem de crenulação Sn+1.

3.3.2.2 Primeira fase de deformação (Dn)

Esta fase de deformação é a que atuou com mais intensidade em todas as rochas do

Grupo Cuiabá, incluindo as da área de estudo. O principal produto desta fase de

deformação é a foliação Sn, uma clivagem ardosiana marcada pela orientação de

minerais filossilicáticos nos filitos e metaritmitos (Fig. 8). O estereograma da Fig. 7B

mostra a atitude da foliação Sn, com orientação preferencial 280/40.

As dobras relacionadas a esta fase de deformação são dobras mesoscópicas,

recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com

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a classe 3 e com dimensões médias de 3 – 5 m de comprimento de onda por 8 – 10 m de

amplitude com eixos orientados 190 – 215/02 – 05 (Fig. 9). São definidas pelo

acamamento sedimentar e apresentam a foliação Sn na posição plano-axial. Como são

recumbentes, essas duas superfícies são paralelas, com exceção das zonas de charneiras.

Relacionadas a esta fase são observadas falhas como as observadas nas Figs. 9 e 10.

Tais falhas apresentam orientação similar à da foliação Sn, 230 – 260/30 – 40;

apresentam estrias orientadas paralelas ao mergulho da falha. A partir da observação das

dobras de arrasto relacionadas a essas falhas, pode-se classificá-las como falhas de

empurrão.

3.3.2.3 Segunda fase de deformação (DN+1)

A principal estrutura relacionada à segunda fase de deformação é uma clivagem

de crenulação (Sn+1) (Fig. 11), sendo de maior espaçamento nas rochas competentes.

Tal clivagem de crenulação é definida por planos de dissolução por pressão, o que

promove o aparente rompimento das superfícies preexistentes S0 e Sn (Fig. 11). Essas

estruturas possuem orientação preferencial 110/68, como mostra o estereograma da Fig.

7C. Outras estruturas relacionadas a esta fase de deformação são dobras de escala

centimétrica a métrica, normais, abertas a suaves, e assimétricas (Fig. 12). Essas dobras

são definidas pelos planos de S0 e Sn, com a foliação Sn+1 na posição plano-axial. Os

eixos são orientados preferencialmente 25 – 35/02 – 05.

Um padrão de redobramento pode ser observado a partir da interferência das

dobras Dn e Dn+1. Como as dobras das duas fases possuem eixos subparalelos e o

plano-axial das dobras Dn+1 possui alto ângulo em relação ao plano-axial das dobras

Dn, tal padrão pode ser classificado como um padrão de redobramento do tipo “laço” ou

“convergente-divergente” (Costa et al. 2012) (Fig. 13).

3.3.2.4 Terceira fase de deformação (DN+2)

A terceira fase de deformação é marcada por um conjunto de fraturas de porte métrico a

decamétrico que obliteram as foliações preexistentes (Fig. 14). Também são produtos

desta fase de deformação falhas classificadas como normais com base na sua separação

(Fig. 15). Tais fraturas têm orientação preferencial 38/82 (Fig. 7D).

3.3.2.5 Veios de quartzo

Duas famílias de veios de quartzo são observadas na área de estudo. A primeira

família, chamada neste trabalho de V1, é chamada informalmente pelos garimpeiros de

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“travessões” ou “costelões”. A segunda família de veios de quartzo é chamada no

presente trabalho de V2, está relacionada à terceira fase de deformação e é chamada

informalmente pelos garimpeiros de “filões”.

Figura 7 Estereogramas de isovalores de polo apresentando atitude das estruturas estudadas. (A)

Acamamento sedimentar (S0), com densidade máxima em 120/22; (B) Foliação Sn com densidade

máxima em 280/40; (C) Atitude preferencial da clivagem de crenulação/clivagem de fratura (Sn+1)

com densidade máxima em 110/68; (D) Atitude preferencial das fraturas Sn+2 com densidade

máxima em 38/82

3.3.2.5.1 Veios de quartzo (V1)

Esta família de veios de quartzo é relacionada à primeira fase de deformação e

dispõe-se paralelamente ao acamamento S0 e à foliação Sn, com orientação 288/27. Os

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veios relacionados a esta fase de deformação têm formato tabular, espessuras de 1 a 5

cm e o comprimento médio entre 1 e 5 m, em alguns casos ocorrem veios mais

possantes. Alguns dos veios desta família apresentam-se dobrados (Figs. 16A e 16B) e

por vezes foliados, o que permite considerar que estes foram gerados no estágio inicial

de Dn, antes do auge do metamorfismo e da deformação que teria alterado tais veios.

Encontram-se boudinados (Fig. 16C), em outros

Figura 8 Aspecto da clivagem ardosiana Sn nas rochas da área estudada em (A) filito cinza definida

pela orientação de filosilicatos e (B) em filitos com seixos caídos pela orientação de filossilicatos e

sombras de pressão dos clastos.

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Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na

subclasse 1-c com a classe 3. São desenhas pelo acamamento e apresentam a Sn como foliação de

plano-axial. Essas dobras foram redobradas pela fase Dn+1, promovendo um padrão de

redobramento do tipo “laço” ou “convergente-divergente”. O plano subvertical no centro da foto é

uma junta relacionada à fase Dn+3.

apresentam formato sigmoidal. Também foi observado veio de quartzo formando uma dobra

recumbente (Fig. 16D), tal como as definidas pelo acamamento sedimentar, tendo Sn como

foliação plano-axial.

3.3.2.5.2 Veios de quartzo (V2)

Esta família de veios de quartzo é chamada informalmente pelos garimpeiros de

“filões”, que dividem a mesmas em duas subfamílias baseadas na abundância de ouro e

no sentido de mergulho. A primeira subfamília é chamada de “filões que caem para

Cuiabá”, com pouca ou nenhuma quantidade de ouro; a segunda é chamada

informalmente de “filões que caem para Poconé”, são menos frequentes e possuem teor

de ouro elevado.

Neste trabalho foram incluídos os veios V2 em uma única família por serem

relacionados à mesma fase de deformação, porém com orientações diferentes. Os veios

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de quartzo desta família cortam todas as estruturas anteriores

Figura 10 Falha de empurrão relacionada à fase Dn. Esta falha é subparalela a foliação

Sn.

Figura 11 Esquemas ilustrando a disposição da clivagem de crenulação Sn+1. (A) Ritmito composto

por camadas centimétricas de filitos e metasiltitos, as quais caracterizam S0, paralela à qual ocorre

clivagem ardosiana Sn. Tais superfícies foram deformadas pela clivagem de crenulação Sn+1,

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visível no filito e discreta no metasiltito; (B) Intercalação entre filito e metarenito fino, cujo contato

define o S0. Posicionada paralela ao S0 ocorre a clivagem ardosiana Sn, que no filito é definida por

filossilicatos. Já no metarenito, além dos filossilicatos, é definida por quartzo alongado. Essas

superfícies são afetadas pela clivagem de crenulação Sn+1, que sofre refração, apresentando

mergulhos íngremes nas camadas de metasiltito e médios nas camadas peliticas onde apresenta

forma sigmoidal, essa situação se repete em (C).

Figura 12 Dobras relacionadas à fase Dn+1 em várias escalas. Estas dobras são definidas pelas

superfícies de S0 e Sn. São normais, abertas a suaves, assimétricas, com plano-axial com mergulho

íngreme para sudeste, e eixo com caimento suave para N50E. (A) Escala decimétrica com

comprimento de onda com aproximadamente 5 m; base da foto com aproximadamente 30 m; (B)

Escala métrica com comprimento de onda de 2,5 m; base da foto 4 m; (C) Escala centimétrica com

comprimento de onda de 30 cm; (D) Escala centimétrica com comprimento de onda de 5 cm.

3.4 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

No presente trabalho foram observados os efeitos de três fases de deformação

(Fig. 18). A fase Dn foi a que atuou com maior intensidade nas rochas da área de

estudo. Nesta fase foi gerada estrutura com maior destaque na área de estudo, uma

clivagem ardosiana (Sn) (Fig. 18B) marcada pela orientação de minerais filossilicáticos

em rochas pelíticas e quartzo nos metarenitos. Nos estágios precoces desta fase de

deformação foram gerados veios de quartzo (V1) (Fig. 18B). Esses veios de quartzo são

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dispostos paralelamente ao acamamento sedimentar (S0) e estão deformados, definindo

dobras com foliação Sn plano-axial, além de boudins e lentes (Fig. 18C). A forma

desses veios sugere que eles foram gerados em um estágio anterior ao auge da

deformação.

responsável pelo estabelecimento das dobras e da foliação da fase Dn. Isso pode

indicar que essas estruturas foram geradas no início dessa fase de deformação, antes do

auge do metamorfismo, que deformou as rochas dessa região na fácies xisto-verde.

Alguns veios dessa família não estão deformados, podendo ter sido gerados em estágio

pós-Dn, após o auge de deformação. As dobras desta fase de deformação são

recumbentes definidas pelo acamamento e com a foliação Sn em seu plano-axial (Fig.

18C2).

A segunda fase de deformação atuou na área de estudo, com menor intensidade,

e formou uma clivagem de crenulação que corta os planos de S0 e Sn (Fig. 18D). As

dobras desta fase de deformação são suaves a abertas, tendo Sn+1 como plano-axial, e

possuem eixos orientados para NE, paralelos aos eixos de Dn.

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Figura 13 Esquema ilustrando o padrão de interferência das dobras Dn e Dn+1. Como as

dobras das duas fases possuem eixos subparalelos e o plano-axial das dobras Dn+1 possui

alto ângulo em relação ao plano-axial das dobras Dn, tal padrão pode ser classificado

como um padrão de redobramento do tipo “laço”.

A terceira fase de deformação (Dn+2) foi estudada por muitos autores e,

segundo os tais pesquisadores, está relacionada às dobras regionais, com eixos dispostos

para NW, perpendiculares aos eixos das fases posteriores (Alvarenga & Trompette

1993). Na área de pesquisa, esta fase de deformação é representada por um conjunto de

fraturas e falhas (Fig. 18E) perpendiculares às estruturas pretéritas. Relacionada a esta

fase de deformação e preenchendo as fraturas da mesma está uma família de veios de

quartzo (Fig. 18E), chamados pelos garimpeiros de “filões”. Tais filões ocorrem

preferencialmente para NE e ocasionalmente para NW, sendo que os veios de quartzo

NE são fracamente a não mineralizados e os veios NW, segundo os garimpeiros, são

portadores de grande parte das mineralizações da região. Os garimpeiros sugerem um

possível controle litológico da mineralização de ouro, no qual os veios encaixados nos

metarenitos e metaritmitos são mais ricos em ouro do que aqueles encaixados nos

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filitos. Interpreta-se que isso se deve à diferença dos fluidos que geraram os veios que

possivelmente migraram da rocha encaixante. Das propostas de estudos existentes na

região, as que mais se aproximam do presente trabalho são as de Pires et al. (1986) e de

Barboza (2008), que afirma a existência de três fases de deformação. Não foram

observadas evidências de uma fase entre Dn e Dn+1, como observado por Alvarenga e

Trompette (1993), que afirmam que a fase D2 possui vergência para NW.

Figura 14 Estruturas relacionadas à terceira fase de deformação. (A e C) Fraturas de porte

decamétrico que rompem as estruturas pretéritas; (B e D) Fraturas centimétricas relacionadas à

fase Dn+2.

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Figura 15 Esquema de falha relacionada à fase Dn+2, classificada como normal devido a sua

separação

Figura 16 Esquema demonstrando a forma de ocorrência dos veios (V1), relacionados à primeira

fase de deformação. (A) Veios paralelos à clivagem ardosiana Sn, não dobrados. Na parte superior

esquerda da foto ocorrer uma dobra intrafolial, sin-Sn do veio de quartzo, com o flanco inferior

rompido; (B) Veios com forma sigmoidal em camada de metarenito boudinada; os veios são

controlados litologicamente, sendo restritos às camadas de metarenito. (C) Veios de quartzo

boudinados, também gerados nos estágios iniciais da fase Dn; (D) Veios de quartzo definindo

dobras recumbentes, semelhantes às definidas pelo acamamento sedimentar S0; estas dobras

apresentam a foliação Sn em posição plano-axial.

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Figura 17 Esquema demonstrando a forma de ocorrência dos veios V2 em afloramento e suas

relações com as estruturas anteriores. Veios V2, assim como as estruturas da terceira fase de

deformação (Dn+2), encontram-se em posição transversal às estruturas anteriores; o acamamento

sedimentar e a foliação Sn encontram-se paralelos entre si, assim como os veios V1 e os veios V2

cortam todas as estruturas anteriores.

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Figura 18 Esquema demonstrando a atuação de cada fase de deformação. (A) A disposição de S0,

marcado pelas variações de cor, granulação, mineralogia; (B) Nos estágios iniciais da primeira fase

de deformação (Dn) ocorreu a colocação dos veios de quartzo V1; (C) O auge da deformação Dn,

que formou dobras recumbentes tendo Sn como plano-axial dessas dobras; (C1, C2 e C3) As

diferentes formas em que os veios foram deformados; (D) A forma de ocorrência da segunda fase

de deformação, que formou dobras normais, assimétricas, abertas a fechadas, tendo Sn+1 como

plano-axial das mesmas; (E) A terceira fase de deformação, que formou um conjunto de fraturas

perpendicular às demais estruturas, que podem ou não ser preenchidas por uma família de veios de

quartzo (V2); tal família pode ser subdivida em duas subfamílias de acordo com a orientação do

mergulho.

3.5 AGRADECIMENTOS

Este artigo é parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor para obtenção

do título de Mestre em Geociências pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências

Page 53: CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DO DOMÍNIO INTERNO … · Figura 9 Dobras da fase Dn, recumbentes, apertadas a isoclinais, anisopacas, alternando formas na subclasse 1-c com a classe

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pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Agradecemos à Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsas, e à

UFMT, pelo apoio logístico. Aos Geólogos Bruno Vasconcelos, Pedro Kanaan e

Fernando Lisboa, pelo acompanhamento nas viagens de campo. Aos senhores Jonas

Gimenez e Eduardo Gimenez (Duda) e à senhora Dolores Gimenez, pela hospedagem e

alimentação nas atividades de campo e pelas informações de quem vive e presencia a

extração de ouro.

3.6 REFERÊNCIAS

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