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Instituto de Bioquímica Médica – CCS Laboratório de Química Fisiológica da Contração Muscular CARACTERIZAÇÃO DOS EFEITOS DO FENOL NA CINÉTICA ENZIMÁTICA DA MIOSINA II Raquel Guimarães Coelho Rio de Janeiro 2007

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Instituto de Bioquímica Médica – CCS

Laboratório de Química Fisiológica da Contração Muscular

CARACTERIZAÇÃO DOS EFEITOS DO FENOL NACINÉTICA ENZIMÁTICA DA MIOSINA II

Raquel Guimarães Coelho

Rio de Janeiro

2007

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2

Raquel Guimarães Coelho

CARACTERIZAÇÃO DOS EFEITOS DO USO DO FENOL NACINÉTICA ENZIMÁTICA DA MIOSINA II

Profª Martha M. Sorenson

Orientadora

Professora Adjunta do Instituto de Bioquímica Médica

Profª Verônica Salerno Pinto

Co-orientadora

Professora Adjunta da Esco la de Educação Física e Desportos

Rio de Janeiro

2007

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação de Química

Biológica, Instituto de Bioquímica Médica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Mestre em Ciências

(Química Biológica).

3

FICHA CATALOGRÁFICA

COELHO, Raquel Guimarães.

CARACTERIZAÇÃO DOS EFEITOS DO USO DO FENOL NA CINÉTICAENZIMÁTICA DA MIOSINA II

Rio de Janeiro, UFRJ, programa de Pós -Graduação em Química Biológica,2007.

N° de folhas: 108

Dissertação: Mestrado em Química Biológica

1 – Subfragmento 1 2 – Cinética Enzimática 3 - Fenol

4

FOLHA DE APROVAÇÃO

Raquel Guimarães Coelho

CARACTERIZAÇÃO DOS EFEITOS DO USO DO FENOL NA CINÉTICAENZIMÁTICA DA MIOSINA II

Rio de Janeiro,_______de_____________de 2007.

Banca Examinadora:

.........................................................................Profa. Martha M. Sorenson

Professora Adjunta do Instituto de Bioquímica Médica/ICB/UFRJOrientadora

................................................................ .........Profa. Verônica Salerno Pinto

Professora Adjunta da Escola de Educação Física e Desportos/CCS/UFRJCo-Orientadora

.........................................................................Prof. Antônio Galina Filho

Professor Adjunto do Instituto de Bioquímica Médica/CCS/UFRJ

.........................................................................Prof. Júlio Alberto Mignaco

Professor Adjunto do Instituto de Bioquímica Médica/CCS/UFRJ

............................................................ .............Prof. Marcelo Alves Ferreira

Professor Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

.........................................................................Prof. Marcelo Einicker Lamas

Suplente ExternoProfessor Adjunto do Instituto de B iofísica Carlos Chagas Filho /CCS/UFRJ

.........................................................................Prof. Hector Barrabin

Revisor e Suplente InternoProfessor Adjunto do Instituto de Bioquímica Médica/CCS/UFRJ

5

Dedico esta Tese primeiramente ao meu marido Tiago Costa Leite.

“Devido a minha admiração por você, iniciei todo es te processo. Através do seu

apoio e compreensão foi possível a minha dedicação na elaboração deste

trabalho, e através do nosso amor fomos companheir os neste e em todos os

trabalhos que hão de vir ”.

Sem dúvida, à família Coelho, por todo o amor e apoio de sempre, e:

A meu pai, Osório M. Coelho, por ter me ensinado a ter coragem e

perseverança.

A minha mãe, Joana Célia G. Coelho, por ter me ensinado a ser forte em todos

os momentos da minha vida.

A minha irmã, Camilla G. Coelho, por ter me dado a difícil missão de servir de

exemplo.

A vocês toda minha gratidão pelo incentivo e amor.

6

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Héctor Barrabin pela revisão da tese e por gentilmente ter cedido

o Stopped-flow

Aos companheiros do Instituto pelo auxílio nos momentos de socorro.

À Professora Martha Sorenson pela orientação e amizade.

À Professora Verônica Salerno por me fazer parte integrante do Laboratório e

estar sempre me apoiando.

E aos amigos do Laboratório:

-Débora, nunca esquecerei de você.

-Marcelo e Daniel, amigos iguais a vocês é muito raro. Obrigada!

-Léo Nog, você é um exemplo.

-Cícero e Luciana, espero que a nossa experiência tenha sido tão proveitosa

para vocês como foi para mim.

-Renato, Zé Renato, Tiago, Leandro, Zé Henrique, Joyce e Jamila , todos vocês

contribuíram de alguma forma.

7

ABREVIAÇÕESA Actina

ADP Difosfato de adenosina

AlF4 Tetrafluor aluminato

ATP Trifosfato de adenosina

BSA Albumina sérica bovina

BeSO4 Sulfato de berílio

DTT Ditiotreitol

EDTA Ácido etilenodiamino tetracético

EGTA Ácido etileno-glicol-bis (β-aminoetil-éter)-N,N,N`,N`-tetracético

HEPES Ácido N-[2-hidroxietilpiperazina-N`-2 etanosulfônico]

HMM Meromiosina pesada

LC1 Cadeia leve 1 da miosina (ou essencial)

LC2 Cadeia leve 2 da miosina (ou regulatória)

LC3 Cadeia leve 3 da miosina (ou essencia l 2)

LMM Meromiosina leve

M Miosina

MESG 2-amino-6-mercapto-7-metilpurina ribosídeo

MHC Cadeia pesada da miosina

NaF Fluoreto de sódio

NaN3 Azida sódica

PEG Polietileno glicol

Pi Fosfato inorgânico

PNP Purina nucleosídeo fosforilase

rod Cauda da miosina

rpm Rotações por minuto

S1 Subfragmento-1 da miosina

S2 Subfragmento-2 da miosina

SDS Dodecilsulfato de sódio

SDS-PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida contendo dodecil sulfato

de sódio

TM Tropomiosina

TnC Troponina C

8

TnI Troponina I

TnT Troponina T

9

LISTA DE FIGURAS, TABELAS E ESQUEMAS

PágFigura 1: Constituição do músculo esquelético 20Figura 2: Modelo esquemático do filamento grosso e da miosina 22Figura 3: Fragmentos proteolíticos da miosina II 23Figura 4: Cristalografia do subfragmento -1 25Figura 5: Formas moleculares da actina 27Figura 6: Arranjo molecular do filamento fino 27Figura 7: Ciclo catalítico da miosina II 31Figura 8: Modelo da contração muscular 33Figura 9: Estrutura química do fenol 34Figura 10: Analise das purificações em gel de poliacrilamida 40Figura 11: Esquema representativo do Stopped-flow 48Figura 12: Gráfico representativo do sinal coletado no Stopped-flow 49Figura 13: Efeito do fenol na atividade Mg 2+ATPásica do S1 52Figura 14: Efeito do fenol na atividade Ca 2+ATPásica do S1 53Figura 15: Efeito do fenol na atividade K+EDTA-ATPásica do S1 54Figura 16: Efeito do tempo de exposição do S1 ao fenol sobreatividade Mg2+ATPásica

57

Figura 17: Efeito do tempo de exposição do S1 ao fenol sobreatividade actina ativada

58

Figura 18: Integridade do S1 na presença de fenol 60Figura 19: Efeito do fenol sobre a velocidade de hidrólise de ATP 63Figura 20: Efeito do fenol sobre a constante de ligação de ATP eisomerização do S1

64

Figura 21: Resultado obtido no experimento de single -turnover 68Figura 22: Esquema representativo do sistema MESG/PNP 69Figura 23: Liberação de Pi a partir do sistema MESG/PNP 71Figura 24: Resultado obtido no experimento de deslocamento deADP

74

Figura 25: Espectros de emissão de fluorescência do S1 napresença de fenol

81

Figura 26: Centro de massa espectral de fluorescência do S1 napresença de fenol

82

Figura 27: Efeito do fenol sobre o centro de massa espectral aolongo do tempo

84

Figura 28: Esquema representativo das mudanças conformacionaisna presença de análogos de ATP

86

Figura 29: Centro de massa espectral de fluorescência do S1complexados aos análogos na presença de fenol

89

Figura 30: Espectros de emissão de fluorescência do estadoS1*ADP na presença de fenol

90

Figura 31: Efeito do fenol sobre o centro de massa espectral nosestados S1 e S1*ADP

91

Figura 32: Resultado obtido do ensaio de co -sedimentação napresença de fenol por gel de SDS

95

Figura 33: Quantificação do S1 não ligado por co -sedimentação 96Figura 34: Reversibilidade do efeito do f enol na atividadeMg2+ATPásica

97

10

Figura 35: Reversibilidade do efeito do fenol na atividade K+EDTA -ATPásica

98

Tabela 1: Condições experimentais utilizadas para atividadesATPásicas do S1

44

Tabela 2: Efeito do fenol sobre atividade específica do S1 55Tabela 3: Resultado obtido das constantes cinéticas iniciais do ciclocatalítico na presença de fenol

65

Tabela 4: Resultado obtido das constantes cinéticas pós -hidrólise dociclo catalítico na presença de fenol

67

Esquemas 1: Ciclo catalítico da miosina II na ausência de actina 61Esquemas 2: Esquema das etapas de liberação de ADP 72

11

SUMÁRIO

Pág1 – Introdução 18

1.1 - Constituição e Organização do Músculo Esquelético 19

1.2 - O Filamento Grosso 21

1.3 - O Filamento Fino 25

1.4 - Mecanismo da Contração Muscular 28

1.5 - Mecanismo Cinético 29

1.6 - O Fenol 34

2 – Objetivos 37

3 – Materiais e Métodos 38

3.1 – Miosina 38

3.2 – Subfragmento-1 40

3.3 – Actina 41

3.4 – Polimerização de Actina 42

3.5 – Eletroforese 43

3.6 – Atividades ATPásicas 43

3.7 – Co-sedimentação 45

3.8 – Fluorescência em Estado Estacionário 46

3.9 – Cinética Rápida 47

3.10 – Reagentes 50

3.11 – Análise dos Dados 50

4 - Resultados: Parte I 51

4.1 – Atividade ATPasica com Diferentes Cátions na Presença de

Fenol

51

4.2 – Efeito do Tempo de Exposição do S1 ao Fenol sobre a

Atividade ATPasica

56

4.3 – Experimentos de Cinética Rápida Utilizando Stop ped-Flow 61

4.3.1 – Estados Pré-hidrólise 61

4.3.2 – Estados Pós-hidrólise 66

5 - Discussão: Parte I 75

6 - Resultados: Parte II 80

6.1 – Efeito do Fenol na Estrutura Terciária do S1 80

12

6.2 – Efeito do Fenol na Estrutura Terciária d o S1 na Presença de

Análogos de ATP

85

6.3 – Efeito do Fenol na Estrutura Terciária do S1 na Presença de

ADP

87

6.4 – Modificação Estrutural do S1 pelo Fenol Altera a Ligação com

Actina

92

6.5 – Reversibilidade dos Efeitos do Fenol 93

7 – Discussão: Parte II 99

8 – Conclusão 103

9 - Referências Bibliográficas 104

13

RESUMO

Coelho, Raquel Guimarães. Caracterização dos efeitos do uso do fenol na

cinética enzimática da miosina II. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado

em Ciências Biológicas) – Instituto de Bioquímica Médica, Universidade

Federal do Rio de Janeiro.

Durante algumas décadas o fenol foi muito utilizado na clínica como

tratamento de algumas pato logias que apresentavam desordens

neuromusculares. Seu ponto de ação seria sobre o motoneurônio, reduzindo

sua atividade elétrica e conseqüentemente diminuindo a contração muscular. A

miosina é a enzima responsável pela conversão de energia química

proveniente da hidrólise do ATP em energia mecânic a durante a contração

muscular, e o fenol tem se mostrado um composto capaz de alterar o

comportamento enzimático da miosina II.

No estado estacionário, o fenol (0,25-0,5%) promove a ativação da

atividade Mg2+ATPásica do subfragmento -1 da miosina II, e concentrações

maiores deste promovem inibição. Entretanto, os efeitos do fenol são

específicos para o íon complexado ao ATP (Mg2+ ou Ca2+), pois a atividade

Ca2+ATPásica sofre uma pequena influê ncia do composto e a atividade

K+EDTA-ATPásica é inibida na presença d a droga. Ao analisarmos o ciclo

catalítico da miosina na presença de fenol por medidas de fluorescência

intrínseca (M*, M**), percebemos que este composto é capaz de diminuir as

constantes de ligação (passos 1 e 2) e a hidrólise do ATP (passo 3).

14

As constantes pós-hidrólise também foram analisadas na presença de

fenol, através de experimentos de single turnover e experimentos de

deslocamento de ADP. Nossos resultados sugerem que o efeito observado no

estado estacionário se deve ao aumento da liberação dos produtos do ciclo

catalítico (passo 4 e passo 6).

A actina promove um aumento da atividade Mg 2+ATPásica do S1 por

acelerar o mesmo passo (k +4) do ciclo. Entretanto, na presença de fenol, nós

observamos que o aumento na ativ idade enzimática não é tão pronunciado na

presença de actina quanto na sua ausência. Experimentos de co -sedimentação

mostraram que o fenol promove uma diminuição da ligação de actina à

miosina, alterando assim o estado de rigor. Uma aná lise estrutural por

fluorescência foi realizada para verificar se o fenol seria capaz de modular a

estrutura da proteína. Foi verificado que o fenol promove alteração tanto da

intensidade de fluorescência como também do centro de massa do S1 na

ausência de nucleotídeo, bem como na presença de ADP. Est es dados

sugerem que o solvente altera a estrutura terciária do S1 de forma a deixá -la

em uma conformação mais desenovelada, o que favorece a liberação dos

produtos. Entretanto, após experimentos de reversibilidade por diluição do

solvente, verificamos que os efeitos do fenol são revertidos completamente ,

tanto na atividade Mg2+ATPásica quanto na K+EDTA-ATPásica.

Estes dados indicam que o fenol possui grande influ ência na atividade

enzimática do S1, pois altera todos os passos do c iclo catalítico, acelerando o

passo limitante (k+4). As modificações estruturais promovidas pelo fenol podem

M+ATP M.ATP M*.ATP M**.ADP.Pi M*.ADP M.ADP M

ADPPi

k2 k5K1 K3 k6k4

15

contribuir para a liberação dos produtos, além de alterarem a ligação com a

actina. Sendo assim, o fenol se mostrou um composto específico apresent ando

efeitos bifásicos, dependendo da concentração e do tempo de ex posição à

proteína, sendo os efeitos reversíveis em baixas concentrações (até 0,5% de

fenol).

16

ABSTRACT

Coelho, Raquel Guimarães. Characterization of effects of phenol on the kinetics

of myosin II. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências

Biológicas) – Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

For a long time, phenol has been used to treat neuromuscular disorders

that are characterized by spasticity . Phenol would act on the motor neuron,

diminishing the electrical activity and consequently muscle contraction. Myosin

is the enzyme responsible for conver ting chemical energy derived from ATP

hydrolysis into the mechanical energy of muscle contraction and we show that

phenol can alter the enzymatic activity of myosin II.

In the steady state, phenol (0.25-0.5%) increases the Mg2+ATPase

activity of subfragment-1 (S1) of myosin II ; higher concentrations inhibit the

activity. However, phenol effects are specific to the cation-ATP complex (Mg2+

or Ca2+): the Ca2+ATPase is less activated, while the K+EDTA-ATPase activity is

markedly inhibited. Analysis of the catalytic cycle of S1 by intrinsic fluorescence

(M*, M**) shows that phenol reduces the binding constants (steps 1 and 2) and

the rate of ATP cleavage (step 3).

The post-hydrolysis rate constants were analyzed using single-turnover

and ATP chase experiments to estimate the rate of Pi and ADP release (step 4

and step 6). Our results suggest that the effects observed in the steady state

arise from enhanced rates of product release, particularly step 4.

M+ATP M.ATP M *.ATP M**.ADP.Pi M*.ADP M.ADP M

ADPPi

k2 k5K1 K3 k6k4

17

Actin promotes an increase in the Mg2+ATPase activity of S1 by

accelerating the same step (k+4). However, the increase in activity due to phenol

is not as pronounced in the presence of actin as in its absence. Co-

sedimentation assays showed that phenol decreases actin binding to S1 in the

rigor state. Intrinsic fluorescence was used to verify whether phenol modulates

the tertiary structure of S1. Phenol alters the fluorescence intensity and the

center of spectral mass of S1 in the absence of nucleotide and in the presence

of ADP. These results suggest that phenol promotes partial unfolding at S1,

which may facilitate the release of products . However, after reversibility

experiments by dilution of the solvent, the kinetic effects of phenol (0.25-0.5%)

were nevertheless completely reversed.

18

INTRODUÇÃO

Muitas lesões musculares possuem uma alta correlação com

deficiências ou disfunções do sistema neural, uma vez que ambos sistemas

(muscular e nervoso) interagem fisiologicamente. Uma alteração em qualquer

componente desses sistemas pode afetar sensivelmente a funcionalidade de

outros componentes. Muitas doen ças neurológicas levam o indivíduo a

desenvolver espasticidade ou rigidez acentuada da musculatura, provocando

um arco de movimento diminuído, dor e fadiga muscular (Sanger, 2003).

Durante anos utilizou-se o fenol como bloqueador químico para reduzir o

quadro de espasticidade muscular em pacientes que apresentavam esse

sintoma. Muitos estudos defendiam sua prática por reduzir a hipertonia

muscular e melhorar o quadro álgico (Koyama et al., 1992). Entretanto, pouco

se sabe sobre os efeitos colaterais do uso desse composto, principalmente no

que diz respeito a sua ação direta sobre as proteínas contr áteis.

Dentre as proteínas do músculo esquelético, a miosina II possui um ciclo

catalítico complexo, e a funcionalidade desse ciclo garante não só a tonicidade

muscular, mas também o processo contrátil. Portanto , esta tese visa

caracterizar a ação do fenol sobre a atividade ATPásica da miosina.

19

1.1 – Constituição e Organização do Músculo Esquelético

O músculo esquelético é formado por um número variável de células.

Essas células, também chamadas de fibras musculares, se distribuem em

pequenos grupos separados por tecido conectivo, formando feixes musculares.

As fibras musculares possuem em seu interior proteínas que são responsáveis

pelo processo contráti l, formando as miofibrilas (Fig. 1A). Estas proteínas se

dispõem alternadamente de forma paralela , formando um esqueleto protéico.

Os sarcômeros são pequenas unidades contráteis das fibras musculares (Fig.

1B), compostos basicamente por estruturas filamentosas: o filamento grosso é

formado por moléculas de miosina , e o filamento fino constituído principalmente

por actina e proteínas regulatórias, que formam o s complexos troponina-

tropomiosina. Essa organização espacial permite que as essas proteínas

interajam entre si de maneira eficiente para produzir força e movimento

direcionados (Huxley, 1953).

20

Figura 1: Esquema representativo do nível de organização do músculoesquelético. (A) Área de seção transversa de músculo mostrando a s fibras

musculares agrupadas em feixes , separados por tecido conjuntivo, até a

microestrutura celular, indicando a fibra e seus constituintes. (B) Um arranjo

estrutural de um sarcômero, mostrando a disposição dos filamentos finos e

grossos por microscopia eletrônica (http:curlygirl.naturlink.pt/sarcomero.jpg).

B

ATendão

Fáscia

Músculo

Feixemuscular

Motoneurônio

Capilar

Retículosarcoplasmático

FilamentosNúcleo

Osso

Epimísio

PerimísioFibramuscularSarcolemaMiofibrila

21

1.2 – O filamento grosso

O filamento grosso é composto basicamente por moléculas de miosina

II, membro especializado de uma família denominada de motores moleculares,

encontrada em quase todas as células do corpo (Rayment et al., 1993;

Rayment, 1996). No músculo esquelético, essa proteína agrega -se em feixes,

com projeções chamadas de cabeça da miosina na superfície, o que permite

sua interação com os filamentos de actina (Huxley, 1953).

A miosina II é uma proteína formada por duas longas cadeias

polipeptídicas que se enovelam, compondo uma molécula com duas cabeças e

um corpo filamentoso (Fig. 2A). Essa conformação lhe confere um peso

molecular de aproximadamente 520.000 Da. A porção amino-terminal se

encontra na região da cabeça da cadeia pesada da miosina (MHC). Essa

região possui uma estrutura globular (por esse motivo recebe o nome de

cabeça), onde estão localizados o sítio de interação com o filamento fino e o

sítio catalítico da proteína. A porção C-terminal se localiza na região do

enovelamento de α-hélices de cada cadeia pesada formando um “coiled-coil”.

Entre a porção globular e a filamentosa, encontra -se a região do pescoço, onde

estão ancoradas as cadeias leves (LC) (Fig. 2B). As LCs s ão classificadas em

duas categorias: não essenciais ou regulatórias (LC 2) e essenciais (LC1 e LC3).

Essa classificação corresponde à perda da atividade ATPásica da miosina que

ocorre quando são removidas as LC 1 e LC3 (Mannherz & Goody, 1976) o que

sugere que essas subunidades realizam uma importante função estrutural

(Trybus, 1994). O mesmo não ocorre quando a LC 2 é removida. Cada MHC

está associada a uma LC essencial (LC 1 ou LC3) e uma LC não essencial

(Brooks et al., 2004).

22

Figura 2: Modelo esquemático do filamento grosso. (A) O filamento grosso

é formado pela agregação de diversas moléculas de miosina pelas caudas,

apresentando polaridades opostas de cada lado do filamento. (B)

Representação de uma única molécula de miosina II, mostrando as porções

globulares (cabeça), o pescoço, onde se encontram as cadeias leves

essenciais e não essenciais (representadas em preto) e a porção filamentosa

(cauda) (adaptado de Sellers & Goodson, 1995).

Uma ferramenta muito útil para o estud o da miosina e suas propriedades

é a utilização de pontos particulares em sua estrutura suscetíveis à proteólise

(Szent-Györgyi, 1951). Sendo assim, a miosina pode ser facilmente clivada em

fragmentos funcionais separados utilizando quimotripsina ou papaín a. Esse

tratamento ocasiona a separação da molécula em duas porções principais: a

meromiosina pesada (HMM) e meromiosina leve (LMM). A porção HMM pode

ser clivada gerando o subfragmento 1 (S1) e o subfragmento 2 (S2), como

mostrado na Figura 3.

B

A

23

Figura 3- Fragmentos proteolíticos da miosina II. Pela clivagem com

papaína obtém-se HMM (a) e LMM (b). Pela clivagem com quimotripsina na

presença de EDTA obtém-se S1 ligado às LC1 e LC3 (c) e a cauda (e), que

compreende o S2 (d) e o LMM (b) (Sellers & Goodson, 1995).

O fragmento globular da cabeça da miosina é chamado de domínio

motor (Rayment, 1996). Esta porção do S1 contém três subdomínios

estruturais distintos que podem ser divididos pela digestão limitada do S1 com

tripsina: o fragmento N-terminal de 25 kDa, o fragmento de 50 kDa e o

fragmento C-terminal de 20 kDa (Rayment et al., 1993). Através da estrutura

cristalográfica da proteína é possível identificar o sítio de ligação de

nucleotídeo, o qual se localiza entre os fragmentos de 25 kDa e 50 k Da (Fig. 4).

A interação com o filamento fino se dá pela ligação com actina , e esse ponto de

interação se localiza também no subfragmento de 50 KDa e na porção inicial

do subfragmento de 20 KDa (Geeves & Holmes, 1999; Sellers & Goodson,

1995). É importante observar que o local de interação com nucleotídeo e o sítio

de ligação com actina são fisicamente opostos. Essa forma estrutural é muito

24

importante para a compreensão do mecanismo enzimático do S1 , como

veremos adiante. O subfragmento de 20 kDa possui uma extensa α-hélice, com

uma pequena região chamada de região conversora. Essa região é

responsável por transmitir os movimentos rotacionais ocorridos durante a

hidrólise do ATP até a região do pescoço (Geeves & Holmes, 1999).

Durante a atividade enzimática desta molécula, algumas mudanças

conformacionais ocorrem (Hiratsuka, 1992). O monitoramento dessas

mudanças estruturais é possível porque o S1 possui 7 resíduos de triptofano

(dos 42 presentes na miosina). O Trp 510 é o resíduo que responde a

alterações estruturais, promovendo mudanças de fluorescência intrínseca

induzidas pela ligação e hidrólise de ATP (Park et al., 1996). Esse resíduo

localiza-se no domínio central de 50 kDa. Assim como a miosina , é possível

utilizar o S1 para o estudo da cinética enzimá tica da molécula, acompanhando

algumas atividades ATPásicas clássicas: Mg 2+ATPase e Mg2+ATPase actina-

ativada (consideradas fisiológicas) e também Ca 2+ ATPase e K+EDTA-ATPase.

25

Figura 4: Estrutura do S1 de músculo es quelético de galinha, obtida porcristalografia de raio-X (adaptado de Rayment et al., 1993). Observa-se a

formação basicamente de α-hélices, que vão da região globular até a cauda. A

porção superior e a inferior de 50 kDa estão representadas em vermelho, a

porção de 25 kDa em verde , e em azul a porção de 20 kDa. Estão

representadas também as cadeias leves essenciais (LCE - LC1 em amarelo) e

a cadeia leve regulatória (LCR-LC2 em rosa).

1.3 - O filamento fino

O principal constituinte do filamento fino é a actina, proteína altamente

conservada em diferentes células eucarióticas. A actina é formada pela

oligomerização de monômeros com baixo peso molecular (42.000 Da) (Geeves

& Holmes, 1999). Essa proteína pode assumir duas formas na célula: uma

monomérica (G-actina) e outra polimérica filamentosa (F-actina). No músculo

esquelético, a actina encontra -se quase que em totalidade sob a forma

filamentosa. Em condições fisiológicas (força iônica entre 0,15 e 0,2 M), a

actina se polimeriza, isto é, sofre um processo de agregação dos monômeros

Sítio de ligaçãodenucleotídeo

Sítio de ligaçãopara actina

LCE

LCR

S1 da Miosina Muscular Esquelética de Galinha

26

assumindo então a forma filamentosa (Fig. 5). Esse processo é dependente de

ATP, fazendo com que esta molécula de certa forma também seja considerada

uma ATPase (Huxley, 1953) . A formação do filamento fino é importante para

compor a célula muscular e ativar o processo contrátil, favorecendo a liberação

dos produtos da hidrólise de ATP pelo S1.

Além da actina, fazem parte do filamento fino duas outras proteínas, as

quais formam o complexo regulatório. São elas: a tropomiosina (Tm) e a

troponina (Tn) (Fig. 6). A Tn possui, por sua vez, três subunidades: a TnC,

capaz de ligar Ca2+ e funcionar como um sensor da contração muscular; a TnI,

que inibe a contração muscular em presença de ATP; e a TnT, que tem função

ancoradora, ligando o complexo à tropomiosina e/ou actina (Huxley, 1953;

Takeda et al., 2003). O complexo regulatório é assim chamado, pois ele regula

a interação acto-miosina. Este complexo circunda o filamento de actina a

intervalos de sete monômeros de actina, gerando um impedimento físico entre

os filamentos de actina e miosina (Farah & Reinach, 1995; Schiaffino &

Reggiani, 1996)

27

Figura 5: Esquema representativo das formas moleculares da actina. A

forma globular, G-actina (acima) e a forma filamentosa, F-actina (abaixo)

formado pelo enovelamento de doi s filamentos.

(http://ghr.nlm.nih.gov/handbook/illustrations/actin.jpg).

Figura 6- Modelo esquemático do arranjo molecular do filamento fino. O

complexo regulatório formado pela troponina (Tn) e pela tropomiosina (Tm)

sobre a actina no filamento fino e squelético. As subunidades do complexo

troponina, a TnC (vermelho), TnT (amarelo) , e TnI (verde), encontram-se sobre

as duas cadeias de tropomiosina, representadas em marrom e em laranja, que

se enroscam sobre o filamento de actina (cinza) num intervalo de sete

monômeros de G-actina (adaptado de Ebashi, 1974).

Actina

Monômero de actina

Forma filamentosa da actina

A c t i n a T r o p o m i o s i n a

S o b r e p o s i ç ã oc a b e ç a - c a u d a

28

1.4 – Mecanismo da Contração Muscular

O mecanismo da contração muscular vem sendo estudado por

pesquisadores do mundo todo e diversas controvérsias ainda persistem sobre

o funcionamento da maquinaria contrátil. A contração muscular não é um

evento exclusivo do músculo esquelético, pois o miocárdio e o tecido muscular

liso também desenvolvem força e moviment o através da interação protéica e

da conversão da energia química contida nas moléculas de ATP em trabalho

mecânico (Brooks et al., 2004). A miosina , juntamente com a actina responde

pelo processo da contração muscular através do trabalho físico -químico gerado

pela interação e deslizamento dessas proteínas. A “teoria dos filamentos

deslizantes” foi formulada por dois grupos ingleses (Huxley, 1957), baseados

em observações do encurtamento e estiramento do músculo. Os filamentos

finos deslizariam sobre os filamentos grossos , e esse movimento geraria a

tensão muscular. Apesar de basicamente correto, entretanto, hoje se sabe que

o mecanismo é muito mais complexo. É um consenso que ocorre interação

entre os filamentos grossos e finos, essa interação é dinâmica de forma a fazer

com que haja o deslizamento entre eles, e mais, todo esse processo é

dependente de ATP, ou melhor, da sua hidrólise pela porção catalítica da

miosina.

Juntamente com esses fenômenos moleculares existe também a

participação de um outro sistema e tecido. O processo de acoplamento

excitação-contração consiste na seqüência de eventos que dão origem à

contração muscular. Esses eventos envolvem a chegada de um impulso

nervoso à junção neuromuscular, a conseqüente despolarização da membrana

da célula muscular, seguida pela propagação dessa despolarização por toda a

29

fibra pelos túbulos “T”. Todos os efeitos posteriores gerados no interior da fibra

são ocasionados pelo influxo de Ca 2+ para dentro do sarcoplasma, liberado

pelo retículo sarcoplasmático. O aumento na concentração de Ca 2+ é percebido

pelo complexo regulatório, mais precisamente pela subunidade TnC. A TnC é a

primeira a sofrer uma mudança conformacional após a ligação de Ca2+. Essa

ligação favorece o deslocamento das subunidades inibitórias (TnI e TnT) de

forma a promover uma mudança no posicionamento da Tm, proteína que

realiza o impedimento físico para a interação entre actina e a miosina. No

músculo relaxado não há aumentos na concentração de Ca2+ e, portanto, o

complexo regulatório exerce seu papel até a chegada de algum estímulo

nervoso. Dessa forma, a ligação de Ca2+ na TnC permite a formação das

pontes cruzadas (ligação acto -S1). A formação dessas pontes e a hidrólise d e

ATP pela miosina promovem a contração muscular (Capitanio et al., 2006)

1.5 – Mecanismo cinético

Os primeiros estudos cinéticos da hidrólise do ATP pela miosina foram

realizados, no estado estacionário, entre as décadas de 40 e 50 (Szent -

Györgyi, 1951). As medidas realizadas no estado estacionário permitem a

obtenção de características enzimáticas importantes como as constantes de

afinidade e o comportamento da enzima em diferentes situações (Trybus,

2000). Entretanto, poucas informações sobre as constantes cinéticas e os

movimentos estruturais podem ser obtidas por esse método. Em 1971, Lymn e

Taylor propuseram um modelo para a interação acto -miosina e hidrólise de

ATP, baseado em medidas de cinética rápida usando proteínas purificadas.

30

Nesse modelo o ATP liga-se à miosina e é rapidamente hidrolisado em ADP e

Pi. A fase seguinte é a liberação de Pi , seguida pela liberação de ADP;

entretanto essa fase pós-hidrolise é muito lenta, limitando o andamento do ciclo

(Lymn & Taylor, 1971). Esse ciclo seria típico da fase de relaxamento muscular ,

onde vemos uma atividade enzimática basal, devido à lentidão do ciclo. Na

presença de actina, a atividade enzimática da m iosina pode ser acentuada em

mais de 10 vezes, dependendo da concentração de actina, de ATP , e da força

iônica do meio (Geeves, 1991). Na ausência de ATP e do complexo regulatório,

a miosina se liga fortemente à actina (K a ≈ 107 -108 M-1), caracterizando uma

ligação chamada de “estado de rigor”. A presença de ATP no meio reduz a

constante de afinidade, pois ele se liga rapidamente à miosina, diminuindo a

afinidade entre miosina e actina (K ≤ 104 M-1) (Geeves, 1991), levando à

formação de pontes fracas, de modo que a actina se dissocia da miosina. O

ATP ligado à miosina é então rapidamente hidrolisado , formando M.ADP.Pi. O

complexo ternário tem sua afinidade por actina recuperada , de modo que as

proteínas se ligam novamente , formando um complexo AM.ADP.Pi. Essa nova

ligação da actina acelera a liberação dos produtos da hidrólise do ATP,

principalmente a saída de Pi, descrita como a etapa limitante do ciclo (Lymn &

Taylor, 1971). Após a liberação de ADP, actina e miosina voltam a formar

pontes de rigor até que uma nova molécula de ATP desfaça novamente a

ligação AM. Dessa forma a presença de actina garante uma interação cíclica e

dinâmica (Fig. 7).

31

Figura 7: Ciclo catalítico da miosina (M) e actomiosina (AM) (Goldman &Brenner, 1987). Para alguns passos deste ciclo são apresentadas no texto as

constantes de associação entr e M e A. Essas constantes são dadas em M-1.

No modelo apresentado por Lymn & Taylor (1971), o evento gerador de

força está associado com a liberação dos produtos da hidrólise do ATP. Desse

modo, a actina promoveria uma mudança estrutural no complexo AM.ADP.Pi ,

de forma que a miosina desenvolva um movimento direcionado e orientado.

A Figura 8 correlaciona o modelo cinético proposto por Lymn & Taylor

(1971) com um modelo estrutural de interações entre actina e miosina,

mostrando que a comunicação entre o sítio de ligação de actina e o sítio de

ligação de ATP é coordenada através da abertura e fechame nto de uma fenda

existente na cabeça da miosina (localizado entre a porção superior e inferior de

50 kDa). No estado de rigor (A) a actina fecha a fenda e a miosina está

fortemente ligada a actina. A ligação de ATP ocorre em duas etapas:

inicialmente a ligação de ATP leva à abertura da fenda, diminuindo a afinidade

da miosina pela actina (B) e posteriormente o sítio de ligação de nucleotídeo

AM AM.ATP AM.ADP.Pi AM*ADP AM.ADP AM

M M.ATP M.ADP.Pi M*ADP M.ADP M

ATP ATP

ATP

Pi

Pi

ADP

ADP

1a 3a 5a 7a 9a 1a

1d 3d 5d 7d 9d 1d

ATP

32

fecha, promovendo uma isomerização da molécula de miosina (C). Essa

conformação induzida pelo ATP sofre novas modific ações após a hidrólise em

ADP e Pi, onde a miosina se liga novamente à actina (D). Em seguida, ocorre a

abertura do sítio para a liberação de Pi e a subseqüente liberação de ADP (E)

(Chalovich, 1992; Sellers & Goodson, 1995).

33

Figura 8: Modelo da contração muscular. (A) A miosina se liga a actina em

estado de rigor. (B) A molécula de ATP se liga à cabeça da miosina e esta se

desliga da actina. (C) O ATP é hidrolisa do em ADP + Pi. (D) Após a hidró lise a

miosina se liga novamente a actina. (E) A saída de Pi gera uma mudança

conformacional na cabeça da miosina ( “power stroke”), e a miosina puxa o

filamento de actina (Sellers & Goodson, 1995).

34

1.6 - O Fenol

O fenol é um composto químico classificado como hidrocarboneto

aromático, constituído por um anel de benzeno e uma hidroxila (Fig. 9). Esse

composto é usado terapeuticamente , desde 1966, no controle de seqüelas

neurológicas. O fenol é um importante bloqueador neuromuscular. Esse

composto é administrado por micro-injeções em determinado ponto motor com

o objetivo de bloquear a ação muscular nesta região, promovendo um

fenômeno chamado de neurólise química, o que leva ao estado de relaxamento

muscular. O objetivo da aplicação clínica do fenol em músculos é controlar os

estímulos que promovem o estado de hipertonia muscular (Khalili & Betts,

1967).

Figura 9: Representação da estrutura química de uma molécula de fenol.

35

Há uma variedade de estudos reportados sobre os efeitos do fenol.

Halpern & Meelhuysen (1966) testaram o fenol em pacientes com

espasticidade, obtendo bons resultados no alívio do tônus espástico causado

pela hipertonia muscular. Eles utilizaram a técnica de aplicação percutânea

direta no ponto motor do músculo. Khalili & Betts (1967) também testaram o

fenol na terapia de pacientes espásticos com aplicação diretamente na fibra

nervosa e também obtiveram bons resultados. A utilidade do bloqueador como

tratamento mostrou-se muito interessante; porém, estudos histol ógicos

realizados em animais, utilizando o mesmo procedimento metodológico

descrito por Halpern & Meelhuysen em 1966, revelaram que o uso desta

técnica de aplicação não garante que a solução de fenol atinja única e

exclusivamente o local desejado (Halpern, 1977), expondo áreas adjacentes

aos efeitos deletérios do composto. Se aplicado diretamente em tecido

muscular poderia estar trazendo danos às fibras musculares e ,

conseqüentemente, às proteínas contráteis. Lee & Downing (1981) estudaram

os efeitos do fenol sobre a atividade contrátil de músculos cardíacos isolados.

Seus resultados demonstraram ação inotrópica negativa do fenol, que afeta o

mecanismo excitação-contração. Machado (2003) investigou os efeitos do fenol

em fibras descascadas, encontrando dimin uição da tensão isométrica máxima

quando aplicado diretamente no músculo, provocando um relaxamento

muscular irreversível, independente do efeito neurolítico , em concentrações

iguais ou superiores a 1% de fenol. Entretanto, concentrações inferiores não

apresentaram danos aparentes às fibras musculares, e demonstrou ainda, que

quando aplicadas na presença de concentrações submáximas de Ca +2, tensão

isométrica aumentou, o que poderia estar sendo promovido pela ativação da

36

actomiosina. A ação direta do fenol s obre as proteínas contráteis desperta

interesse, uma vez que seus efeitos na contração muscular em fibras

descascadas são ambíguos e dose -dependentes.

Para entender o mecanismo pelo qual o fenol poderia estar agindo sobre

as pontes cruzadas, nossa proposta foi estudar os efeitos desse solvente sobre

a região catalítica da miosina, o S1, analisando os efeitos deste composto

sobre a atividade ATPásica da miosina II, e sua correlação com a ligação à

actina.

37

2 – OBJETIVOS

Geral:

• Estudar o comportamento enzimático e estrutural da miosina na

presença de fenol

Específicos:

• Caracterizar os passos cinéticos que envolvem as etapas de ligação de

nucleotídeo, clivagem e liberação dos produtos da atividade catalítica do

subfragmento 1 (S1) da miosina II muscular na presença de fenol.

• Determinar se o fenol afeta a interação acto -S1

• Avaliar se este composto é capaz de alterar a estrutura terciária do S1

38

3 - MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 - Miosina

A miosina é purificada do músculo longissimus dorsi de coelho, seguindo

o protocolo de Bremel & Weber (1975) com algumas modificações. Este

protocolo é baseado na diferença de solubilidade entre as proteínas contráteis.

Enquanto a actina é insolúvel em alta força iônica (600 mM) a miosina

permanece em solução.

O coelho é sacrificado por traumatismo cervical seguido de sangria. Os

músculos dorsais são expostos, esfriados no gelo por 30 min e só então

removidos. Os músculos são limpos (para remoção de vasos, gorduras, tecidos

conectivos e nervos), lavados com água Milli-Q gelada e triturados três vezes,

usando moedor elétrico previamente gelado. Todas as etapas subseqüentes

são realizadas a 4 oC. Para cada 100 g de músculo moído, são adicionados

300 mL de tampão de extração (0 ,3 M KCl e 0,15 M KH2PO4, pH 6,5), e a

suspensão é submetida a agitação lenta por 10 min. A seguir, adiciona -se

1.200 mL de água Milli-Q gelada, sob agitação vigorosa durante 15 min , e a

suspensão é filtrada em gaze. A este filtrado adiciona -se 1.800 mL de água

Milli-Q gelada, seguido por centrifugação (30.000 x g , 30 min, 4 oC). A redução

da força iônica (30 mM) seguida de centrifugação leva à precipitação da

miosina; enquanto que nesta força iônica a actina fica solúvel. O sobrenadante

então é descartado e o pellet é ressuspenso em alta força iônica (600 mM),

homogenizado é acrescido do mesmo volume de água Milli -Q gelada. A

suspensão é centrifugada (30.000 x g, 30 min, 4 oC), para a retirada de actina e

dos complexos regulatórios. Após a centrifugação é adicionada ao

sobrenadante água Milli-Q gelada, o que leva à redução da força iônica, e a

39

suspensão é novamente centrifugada. O ciclo de purificação é repetido duas

vezes para eliminar contaminantes, principalmente actina. A análise da pure za

da miosina é feita através de gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) (Fig.10) onde

se encontra a MHC (cadeia pesada de miosina) e LCs (cadeias leves 1, 2 e 3).

Uma pequena quantidade da proteína C (135 kDa), componente do filamento

grosso e sem atividade ATPásica, é co -purificada com a miosina. Os pelle ts de

miosina são ressuspensos em tampão de estocagem (600 mM KCl, 5mM

EDTA, 50 mM HEPES, pH 7 ,0 e 50% glicerol (v/v) a 4 oC). Para utilizarmos a

proteína o glicerol é retirado através de diluição em água gelada (4 oC) na

relação 13:1 (v/v). Após a diluição a proteína é centrifugada a 2 .500 rpm por 20

min a 4 oC. O pellet (miosina) é ressuspenso em 1 ml de 600 mM KCl, 50 mM

HEPES, pH 7,0, a 4 oC. A concentração de miosina é aferida pelo método de

biureto (Gornall et al., 1949) contra curva padrão de albumina de soro bovino

(BSA).

40

Figura 10: Análise de pureza das preparações de miosina, S1 e actina .

Eletroforese em gel de poliacrilamida (12%) na presença de SDS corado por

comassie. (a) miosina 5 g, (b) miosina 10 g, (c) S1 5 g, (d) S1 10 g, (e)

actina 2,5 g, (f) actina 5 g. MHC (cadeia pesada da miosina 200 KDa), S1

( 110 KDa), LC1 (cadeia leve 1 25 KDa), LC2 (cadeia leve 2 20 KDa), LC3

(cadeia leve 3 16 KDa), actina ( 42 KDa).

3.2 – Subfragmento 1

O subfragmento 1 é obtido segundo o método de Weeds & Taylor

(1975). O último precipitado da preparação da miosina é ressuspendido em

tampão de baixa força iônica (120 mM NaCl, 20 mM fosf ato de sódio, 1 mM

EDTA e pH 7,0). Através da dosagem da miosina, a concentração é ajustada

para 20 mg/mL e equilibrada a temperatura ambiente. Para a clivagem da

miosina, 50 g/ml de -quimotripsina (a partir do estoque a 0,5 mg/mL em 1

mM de HCl) são adicionados à miosina sob agitação lenta. Após 10 min a

reação é interrompida com 300 M de PMSF (estoque 100 mM em 70% de

Actina

a b c d e f

MHC

S1

LC2

LC1

LC3

41

etanol) e colocada em gelo. A solução é dialisada por 12 h a 4 oC contra 25 vol

de imidazol 50 mM (pH 7,0) e DTT 1 mM. Após a diálise, centrifuga-se por 90

min a 120.000 x g para a separação do precipitado (que contém a cauda e o

material não digerido) e do sobrenadante (que contém o S1). O S1 é então

dosado pelo método de biureto ou pelo coeficiente de extinção molar,

assumindo o seguinte valor: S1 110 kDa, E1%280 = 7,5 (Muhlrad &

Chaussepied, 1990). Em seguida o sobrenadante é concentrado e submetido a

uma cromatografia de troca iônica e as frações coletadas são analisadas em

espectrofotômetro (λ = 280 nm). Em seguida a prote ína é dialisada contra um

tampão contendo 10 mM de Pi, 100 mM de KCl, 20 mM de imidazol (pH 7.0),

0,2 mM de DTT e 0.2 mM de EDTA. Após a diálise acrescenta -se à solução

glicerol 50% (v/v) e a proteína é aliquotada (0 ,4 mL) e estocada em nitrogênio

líquido.

Para uso experimental a proteína é submetida a uma nova diálise de 12

h contra um tampão contendo 50 mM de Hepes (pH 7,0) e 50 mM de KCl,

seguida de centrifugação a 350.000 x g, a 4 ºC por 22 min. Após o processo a

proteína é novamente dosada (E 1%280 = 7,5)

3.3 - Actina

Preparação do Pó-Cetona (pó cetônico)

A actina é purificada pelo método de Pardee & Spudich (1982), a partir

dos músculos peitorais maior e menor de galinha, que se mostrou mais estável

do que a actina de músculo de coelho. O primeiro dia fornece a actina na forma

de pó cetônico.

42

A galinha é sacrificada por decapitação e os músculos peitora is maior e

menor são removidos e esfriados no gelo. Após cerca de 10 min, os vasos e a

gordura são retirados e o músculo é moído por duas vezes em um moedor de

carne previamente gelado. Os passos seguintes sã o feitos a 4 oC com todas as

soluções geladas. O músculo é agitado durante 10 min em 300 mL (para cada

100 g de músculo) de solução de fosfato (100 mM KCl, 137 mM KH 2PO4, 63

mM K2HPO4, a pH 6,5). O filtrado é desprezado e ao resíduo é adicionado 50

mM NaHCO3 (600 mL) sob agitação por 10 min a 4 oC, para a retirada da

troponina, miosina e outros contaminantes. A suspensão é filtrada em gaze,

desprezando o filtrado. Acrescenta -se ao que ficou retido (para cada 100 g de

músculo) 300 ml de 1 mM Na 2EDTA, sob agitação, durante 10 min a 4 ºC.

Novamente a suspensão é filtrada em gaze, desprezando o filtrado;

acrescenta-se 6 volumes de água Milli -Q ao que ficou retido (para cada 100 g

de músculo, 600 ml), sob agitação durante 5 min a 4 °C. A mistura é filtrada em

gaze, desprezando o filtrado e o material retido em gaze sofre esta etapa

novamente. Para a estocagem é feita desidratação com acetona (para cada

100 g de músculo, 300 ml de acetona), durante 10 min , a temperatura

ambiente, sob agitação. A mistura é filtrada em gaze e o material retido sofre

nova etapa de desidratação. A etapa de desidratação com acetona é feita 5

vezes e o pó cetônico é estocado a 4 oC.

3.4 - Polimerização da Actina

Para cada 3 g de pó acrescentam-se 50 mL de tampão (2,5 mM Tris-

HCl, pH 8,0, 0,2 mM MgCl2, 0,2 mM Na2ATP e 0,5 mM DTT) sob agitação por

10 min, 4 oC. Centrifuga-se a 15.000 x g durante 10 min, 4 oC. Após

43

centrifugação filtra-se o sobrenadante em gaze e guarda -se o filtrado. Esse

processo é repetido três vezes a 4 oC, juntando-se ao final os três filtrados.

Acrescenta-se ao filtrado, 50 mM KCl, 1 mM Na 2ATP, 2 mM MgCl2 e 10 mM

Tris, pH 7,5, sob agitação durante 30 min a temperatura ambiente. Cen trifuga-

se em alíquotas de 25 mL a 100,000 x g durante 2 h. Despreza-se o

sobrenadante e a superfície do precipitado (F -actina) é lavada três vezes com

tampão (20 mM de imidazol, 6,5 mM de KCl, 5 mM de MgCl 2, 0,5 mM de

EGTA, 1,5 mM de NaN3, 2 mM de Na2ATP e 1 mM de DTT, a pH 7,0). Após as

lavagens acrescenta-se 1 mL do tampão utilizado na lavagem e o precipitado é

mantido no gelo por até duas semanas. Depois de incubado em gelo por 12 h,

cada pellet é cuidadosamente homogeneizado com 1 m L deste tampão. A

suspensão é mantida no gelo por no máximo cinco dias. A análise da pureza

da actina é feita através de gel de SDS-poliacrilamida.

3.5 - Eletroforese

A eletroforese em presença de SDS é feita segundo Laemmli (1970) e

de acordo com as modificações in troduzidas por Giulian et al. ( 1983).

3.6 – Atividades ATPásicas

As diferentes atividades ATPásicas da miosina são determinadas através

da dosagem de Pi liberado, segundo Taussky & Shorr (1953), durante o tempo

determinado de hidrólise de ATP. A proteína é pré -incubada no meio de reação

na ausência de nucleotídeo, por 2 min – 10 min (com e sem fenol) e as reações

44

são iniciadas pela adição de ATP. As reações são realizadas a 25 °C, na

presença ou na ausência de fenol nos meios de reação descritos na Tabela 1.

Tabela 1: Meios de reação utilizados para medidas da atividade ATPásica do

S1

Atividade ATPásica

Mg2+ATP Ca2+ATP K+EDTA-ATP Mg2+ATP

Actina-ativada

Hepes 50 mM 50 mM 50 mM 50 mM

KCl 50 mM 50 mM 600 mM 50 mM

MgCl2 5 mM - - 5 mM

CaCl2 - 5 mM - -

K+EDTA - - 5 mM -

S1 0,05-0,1 mg/ml 0,1 mg/ml 0,1 mg/ml 0,05-0,1 mg/ml

Actina - - - 0,4 mg/ml

Fenol 0 – 2% 0 – 0,5% 0 – 0,5% 0 – 2%

ATP 3 mM 3 mM 3 mM 3 mM

pH 7,0 7,0 7,0 7,0

Os meios de reação são preparados duas vezes concentrados para permitir a adição dosolvente.

Os tempos de hidrólise variam de acordo com o experimento, dentro da

faixa linear de hidrólise de ATP. As reações são inter rompidas com ácido

perclórico 0,1 N contendo carvão ativado segundo modificação do método de

Grubmeyer & Penefsky (1981). O carvão é utilizado para a absorção do ATP

não hidrolisado, do fenol e para des naturação ácida da enzima. Os brancos

são feitos acrescentando-se carvão ativado para a desnaturação de proteína, e

45

em seguida acrescenta-se o ATP. Após a desnaturação da proteína, as

amostras são mantidas no gelo. As amostras são centrifugadas a 2 .800 x g em

centrifuga refrigerada (Beckman GS -6R) a 4 °C por 20 min.

A concentração de fosfato inorgâni co é medida em alíquotas de 1 mL do

sobrenadante pelo método colo rimétrico (Taussky & Shorr, 1953) comparando

com curva padrão de Pi (que é repetida a cada expe riência). Todos os

experimentos cinéticos reportados neste trabalho foram realizados em

duplicata e foram repetidos no mínimo com três preparações diferentes de

proteína.

3.7 – Co-sedimentação

A co-sedimentação foi realizada segundo o método de DasGupta &

Reisler (1991) com algumas modificações. O ensaio de co -sedimentação foi

realizado de duas formas: (1) primeiramente o S1 (9 µM) foi incubado com F -

actina (18 µM) em temperatura ambiente , na ausência de ATP, por 10 min, em

tampão contendo 50 mM de KCl, 50 mM de Hepes (pH 7,0) e 5 mM MgCl2.

Após esse tempo adicionamos 0 ,25 – 0,5% de fenol por mais 10 min. (2)

Incubamos o S1 com 0,25 – 0,5% de fenol no mesmo tampão descrito

anteriormente em temperatura ambiente na ausência de ATP por 10 min. Em

seguida adicionamos F-actina (18 µM) por mais 10 min. Após a segunda

incubação as amostras de 200 µl são centrifugadas a 100.000 x g durante 30

min a 4 ºC. Os pellets são ressuspendidos no mesmo tampão (200 µl) descrito

acima. Para determinar a quantidade de S1 ligada à actina, amostras de cada

sobrenadante e precipitado são aplicadas em um gel desnaturante (12%

poliacrilamida). O gel é corado com Coomassie Blue e digitalizado (ScanJet)

46

para realização de densitometria (Sigma Gel – versão 1.1 Jandel Scient ific).

Através da análise densitométrica a relação molar de S1 ligado à actina é

determinada. A quantidade de S1 ligado ou não à actina foi calculada através

dos valores obtidos na densitometria, utilizando um padrão com concentração

conhecida de S1 e actina.

3.8 – Fluorescência no Estado Estacionário

Para os experimentos de fluorescência intrínseca do S1, foi utilizado um

espectrofotômetro Jasco 6300 (Jasco Inc., M.D., EUA) e cubeta de quartzo de

1 mL com caminho ótico de 1 cm. As amostras foram excitadas a 295 nm e a

emissão de fluorescência da proteína foi varrida de 300 a 400 nm, a

temperatura ambiente (~ 20 ° C). Os espectros são analisados pelo programa

do espectrofluorímetro (FL 100) ou transferidos e analisados no programa

Sigma Plot 9.0. O centro de massa espe ctral foi calculado pela equação

(Lakowicz, 1999):

Centro de massa (nm) = Σ (λ . Іλ)/ Σ Іλ

Onde : Σ = somatório

I = intensidade de fluorescência

λ = comprimento de onda

Todos os espectros obtidos das amostras contendo proteínas foram subtraídos

do valor do espectro contendo tampão na ausência (controle) ou na presença

de fenol.

47

3.9 – Cinética Rápida

Nos experimentos de cinética rápida utilizamos um fluorímetro de

stopped-flow (Applied Photophysics SX17MV), gentilmente cedido pelos Prof s.

Héctor Barrabin e Helena Scofano (Lab. de Membranas Transportadoras,

IBqM) (Fig. 11). Este equipamento nos permite acompanhar mudanças

conformacionais do S1, traduzidas pelo aumento ou diminuição da

fluorescência intrínseca do triptofano. Essas alterações são muito rápidas, na

escala de milisegundos, e são induzidas pela ligação e hidrólise de Mg2+ATP

(Fig. 12). O tempo morto do aparelho (“ dead time”) é ~ 1 ms, o que permite

monitorar a maioria das mudanças estruturais do S1 que ocorrem durante o

ciclo catalítico. O aparelho é regul ado para excitar em 295 nm a amostra que

chega à câmara de mistura e a temperatura é ajustada em 21 ºC por um banho

circulante acoplado ao aparelho. A proteína é colocada em uma seringa e o

ATP em outra; em um dado momento as duas soluções são misturadas e m

uma câmara que sofre incidência de luz por uma janela de 1 ,5 mm de entrada

e a emissão é detectada a 90° através de uma fenda de 3, 0 mm (Fig. 11).

Neste instante o aparelho capta a emissão da fluorescência do triptofano com

um filtro de 320 nm. A este si nal adquirido em função do tempo , o programa

ajusta uma exponencial simples, fornecendo a velocidade da mudança

conformacional e a amplitude do sinal.

Cada ponto dos experimentos é a média de cinco ou mais aquisições de

sinal. Cada experimento é repetido no mínimo três vezes, com preparações

diferentes de proteína.

48

Figura 11: Esquema representativo do fluorímetro de stopped-flow. As

soluções são colocadas nas respectivas seringas. A cada aquisição, são

ejetadas 50 μl de cada seringa simultâneamente à câmara de mistura. O

experimento é repetido no mínimo cinco vezes para cada condição , e os sinais

são coletados e ajustados matematicamente pelo software.

S1

ATP

Câmara de

Mistura

295 nm

49

Figura 12: Gráfico representativo do sinal coletado n o fluorímetro de

“stopped-flow”. As constantes cinéticas são obtidas pelo ajuste matemático

da curva por uma exponencial simples, no pró prio aparelho. Nesta condição

temos 2 μM de S1 com 15 μM ATP ( concentrações finais na câmara de

mistura). Kobs = 36,4 s-1. O aumento de fluorescência é de 23%.

Tempo (s)0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5

F

(AU

)

50

3.10 - Reagentes

O fenol, ATP, ADP, BeSO 4, AlCl3, e NaF, PMSF. α-quimiotripsina (Nº

C7762, type 1-S, 47 unidades/mg -1), membranas de diálise (retenção acima de

12 KDa) são adquiridos da Sigma Chemical Company. O fenol é preparado em

concentração estoque de 5%. O BeSO 4, o AlCl3 e o NaF foram gentilmente

cedidos pela Profa. Mônica Ferreira Moreira, do Instituto de Química - UFRJ.

Todas as soluções são feitas com água Milli -Q.

A resina DE-52 é adquirida da Whatman. O concentrador de proteína e a

membrana YM 30 (retenção acima de 30 KDa) utilizada no concentrador são

adquiridos da Amicon.

3.11 - Análise dos Dados

Todos os resultados são expressos como média + erro padrão do

número de experimentos com proteínas diferentes.

Quando necessário os resultados experimentais foram analisados

através do teste t de Student no programa Sigma Plot 9.0 (Jandel Scientific),

usando P <0,05 como critério para diferença significativa.

51

4 – RESULTADOS: Parte I

4.1 -Atividade ATPásica com diferentes cátions na presença de fenol.

Para estudarmos os efeitos do fenol no ciclo catalítico da miosina,

comparamos inicialmente a hidrólise do ATP pelo S 1 em diferentes

concentrações de fenol e cátions complexados ao ATP. Dados anteriores do

nosso laboratório (manuscrito em preparação) mostraram que o fenol

potencializa a atividade Mg2+ATPásica do S1. Entretanto, o fenol apresenta

efeitos diversificados dependendo do íon complexado ao ATP. Quando o íon

complexado ao ATP é o Mg 2+, o fenol em baixas concentrações (0 ,25 – 0,5%)

aumenta a atividade ATPásica (~6 e 11 vezes, respectivamente) quando

comparado à atividade obtida na ausência de fenol (Fig. 13). Qua ndo o íon

complexado ao ATP é o Ca 2+, o fenol apresenta um pequeno efeito

estatisticamente significativo somente na concentração de 0 ,5% (Fig. 14). A

atividade K+EDTA-ATPásica apresenta um efeito diferente das demais na

presença de fenol (Fig. 15). Nesta c ondição o fenol (0,25–0,5%) promove uma

inibição de 8 a 9 vezes em relação ao controle. Os resultados das atividades

específicas do S1 nas diferentes condições acima estão resumidos na Tabela

2.

52

Tempo (min)

0 2 4 6 8 10 12

Ativ

idad

e M

g2+A

TPas

ica

do S

1(n

mol

es P

i/mg

ptn)

0

500

1000

1500

2000

2500

30000% Fenol0,25% Fenol0,5% Fenol

Figura 13: Efeito do fenol na atividade Mg2+ATPásica do S1. Condições:

Hepes 50 mM (pH 7,0), MgCl2 5 mM, KCl 50 mM e 0, 0,25% ou 0,5% de fenol.

A proteína (0,1 mg/mL de S1) foi pré-incubada no meio de reação contendo

solvente durante 2 min a 25 ºC. A reação foi iniciada com 3 m M ATP e parada

com ácido nos respectivos tempos de hidrólise. (n=3, X±SE).

53

Tempo (min)

0 2 4 6 8 10

Ativ

idad

e C

a2+A

TPas

ica

do

S1(n

mol

s Pi

/mg

ptn)

0

2000

4000

6000

8000

10000

0% Fenol0,25% Fenol0,5% Fenol

Figura 14: Efeito do fenol na atividade Ca 2+ATPásica do S1. Condições: Hepes

50 mM (pH 7,0), CaCl2 5 mM, KCl 50 mM e 0, 0,25% ou 0, 5% de fenol. A

proteína (0,1 mg/mL de S1) foi pré-incubada no meio de reação cont endo

solvente durante 2 min a 25 ºC. A reação foi iniciada com 3 mM ATP e parada

com ácido nos respectivos tempos de hidrólise. (n=3, X±SE).

54

Tempo (min)

0 2 4 6 8 10 12

Ativ

idad

e K

+ EDTA

ATP

asic

a do

S1

(nm

oles

Pi /

mg

ptn)

0

2000

4000

6000

80000% Fenol0,25% Fenol0,5% Fenol

Figura 15: Efeito do fenol na atividade K +(EDTA)-ATPásica do S1. Condições:

Hepes 50 mM (pH 7,0), KCl 600 mM, 5 mM K+EDTA e 0, 0,25% ou 0,5% de

fenol. A proteína (0,1 mg/mL de S1) foi pré-incubada no meio de reação

contendo solvente durante 2 min a 25 ºC. A reação foi iniciada com 3 mM ATP

e parada com ácido nos respectivos tempos de hidrólise. (n=3, X±SE).

55

Tabela 2: Efeitos do fenol sobre a atividade específica do S1 com diferentes

cátions complexados ao ATP. Valores obtidos da média pa ra um n = 3, ± SE. *

Teste t não pareado p < 0,05, para concentração de fenol em relação ao

controle. **Teste t pareado p < 0, 05, em relação ao controle.

Atividade Específica do S1 (nmol Pi.min -1. mg-1)

Fenol

0% 0,25% 0,5%

Mg2+ATPásica 19 4 111 12* 241 20*

Ca2+ATPásica 667 185 1075 278 1096 255**

K+EDTA-ATPásica 570 2 68 11* 31 6*

56

4.2 – Efeito do tempo de exposição do S1 ao fenol sobre a atividade

Mg2+ATPásica.

Os dados anteriores (Fig. 13) demonstram que o fenol promove uma

ação potencializadora sobre a atividade Mg 2+ATPásica do S1. Para avaliar se

este efeito é dependente da exposição da proteína ao fenol na ausência de

ATP, experimentos de pré-incubação do S1 com o fenol foram realizados.

Quando a proteína foi exposta ao fenol durante diferentes tempos de pré -

incubação, sem nucleotídeo, observamos que os efeitos do solvente são

dependentes do tempo de exposição e da concentraçã o (Fig. 16). Em

concentrações de 0,25 e 0,5%, o fenol manteve seu efeito estimulador sobre a

atividade ATPasica do S1. Com 1% de fenol, entretanto, a atividade

Mg2+ATPásica foi aumentada em 7 vezes, mas esse perfil de ativação se

perdeu a medida em que o tempo de pré-incubação da proteína com o solvente

foi aumentado e, em concentrações maiores (2%) o fenol inibiu a atividade

Mg2+ATPásica (Fig. 16).

A atividade enzimática do S1 é acentuada na presença de actina . Como

já é sabido, a interação do S1 com actina acelera o passo limitante do ciclo

catalítico do S1, o que aumenta a atividade ATPásica. Visando avaliar se a

presença de actina durante a pré -incubação do S1 com o fenol tem efeito

protetor contra as ações do fenol sobre o S1 observadas na Figura 16,

experimentos utilizando a atividade act ina-ativada foram realizados. Pode ser

observado na Figura 17 que na presença de actina os efeitos de ativação do

solvente são mantidos por mais tempo, mesmo com 1% de fenol. Contudo,

quando comparamos as atividades Mg 2+ATPásicas do S1 e a atividade

57

Mg2+ATPase actina-ativada percebemos que o efeito de ativação que o fenol

promove é menor na presença de actina. Na maior concentração de fenol

utilizada (2%), a actina não exerce nenhum efeito protetor contra a inibição

promovida pelo solvente (Fig. 17).

Tempo pré-incubação (min)

2 4 6 8 10

Ativ

idad

e M

g2+A

TPás

ica

do S

1(n

mol

es/m

g.m

in)

-200

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

Figura 16: Efeito do tempo de exposição do S1 ao fenol sobre a atividade

Mg2+ATPasica do S1. (●) controle, (○) 0,25% de fenol, (▼) 0, 5% de fenol, (∆) 1

% de fenol e (■) 2 % de fenol. Condições: Hepes 50 mM (pH 7,0), MgCl2 5 mM,

KCl 50 mM. A proteína (0,1 mg/mL de S1) foi pré-incubada no meio de reação

contendo ou não solvente em d iferentes tempos (2-10 min) a 25 ºC. A reação

foi iniciada com 3 mM ATP e a hidrólise acompanhada por 2 min (n=3, X±SE).

58

Figura 17: Efeito do tempo de exposição do S1 ao fen ol sobre a atividade

actina ativada do S1. (●) controle, (○) 0,25% de fenol, (▼) 0, 5% de fenol, (∆) 1

% de fenol e (■) 2 % de fenol. Condições: Hepes 50 mM (pH 7,0), MgCl2 5 mM,

KCl 50 mM e 0, 0,25% ou 0,5% de fenol. O S1 (0,1 mg/m L) e actina (0,4

mg/mL) foram pré-incubados por 2 min no meio de reação. Em seguida foi

adicionada solvente e após diferentes tempos de pré-incubação (2-10 min) a 25

ºC, a reação foi iniciada com 3 mM ATP e a hidrólise acompanhada por 2 min

(n=3, X±SE).

Tempo de pré-incubação (min)

0 2 4 6 8 10 12

Ativ

idad

e M

g2+A

TPás

ica

Act

o-S1

(nm

oles

/mg.

min

)

0

200

400

600

800

1000

1200

59

Devido à redução na atividade Mg 2+ATPásica do S1 quando exposto ao

fenol por longos períodos de pré -incubação na ausência de ATP (Fig. 16),

experimentos foram realizados para avaliar se o fenol promove degradação

proteíca. O S1 foi exposto a diferentes tempos de pré -incubação com solvente,

e diferentes tempos de hidrólise. Cada condição testada foi analisada através

de um gel de poliacrilamida 12 %.

O fenol não apresentou nenhum efeito de degradação do S1 que

pudesse ser percebido por essa técnica, mesmo em tempos maiores que 10

min na ausência de ATP (Fig . 18).

60

Figura 18: Integridade do S1 na presença de fenol visto em SDS-PAGE

12%. Foram aplicadas amostras de ensaios com S1 (0,1 mg/ml) + fenol (0,5%)

após diferentes tempos de hidrólise de ATP (10 e 15 min). Os slots são

representados por: (1) S1+ 5 min pré -incubação, (2) S1+ 5 min pré-incubação +

10 min hidrólise, (3) S1+ 5 min pré -incubação + 15 min hidrólise, (4) S1+ 5 min

pré-incubação com fenol), (5) S1+ 5 min pré-incubação com fenol + 10 min

hidrólise, (6) S1+ 5 min pré-incubação com fenol + 15 min hidrólise, (7) S1+ 10

min pré-incubação, (8) S1+ 10 min pré -incubação + 10 min hidrólise, (9) S1+ 10

min pré-incubação + 15 min hidrólise, (10) S1 + 10 min pré -incubação com

fenol, (11) S1+ 10 min pré-incubação com fenol + 10 min hidrólise, (12) S1+ 10

min pré-incubação com fenol + 15 min hidrólise. Os experimentos foram feitos

em temperatura ambiente em tampão contendo Hepes 50 mM (pH 7,0), MgCl2

5 mM, KCl 50 mM e ATP 3 mM. Foi utilizado coloração por nitra to de prata

segundo Blum et al. (1987). O gel é representativo de 3 experimentos

independentes.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

110 KDa

61

4.3 Experimentos de cinética rápida usando stopped -flow

4.3.1 Estados pré-hidrólise

Para tentar identificar as possíveis ações do fenol sobre o ciclo catalíti co

utilizamos uma outra abordagem, além da análise do Pi liberado na reação de

hidrólise pelo estado estacionário. O espectrofluorímetro de cinética rápida nos

permite acompanhar passos do ciclo relacionados à ligação e clivagem do ATP

e à liberação dos produtos, através da fluorescência intrínseca do triptofano

(Johnson & Taylor, 1978). A Figura 19 mostra a velocidade de ligação de ATP

na presença e na ausência de fenol a 21 °C. A velocidade máxima de aumento

de fluorescência do S1 em altas concentrações de ATP (Fig. 19) nos fornece a

velocidade de clivagem do ATP correspondente à constante K3 (k+3 + k-3)

(Tabela 3) e através da análise do início da curva, obtemos a constante de

velocidade de segunda ordem da ligação de ATP (K1k+2) (Fig. 20) segundo o

esquema 1:

Pode ser observado que a presença de fenol promove a redução tanto

do kobs máximo (Fig. 19) quanto do k obs entre as concentrações de 1 -4 µM de

ATP (Fig. 20). A ligação e a hidrólise de ATP na presença de fenol foram

analisadas utilizando a fluorescência intrínseca em função da concentração de

ATP. A constante cinética é registrada em cada concentração de ATP através

do ajuste de uma exponencial simples. Em baixas concentrações de ATP, é

M+ATP M.ATP M *.ATP M**.ADP.Pi M*.ADP M.ADP M

ADPPi

k2 k5K1 K3 k6k4

62

possível acompanhar o aumento inicial de fluorescência correspondente à

ligação de nucleotídeo e isomerização do S1 (etapas 1 e 2). Os dados

experimentais dessas constantes de velocidade medidas em baixas

concentrações de ATP foram ajustadas por regressão linear, e nos permitiram

calcular o valor de K1k+2 (inclinação da reta). A velocidade máxima de hidrólise

de ATP é fornecida pelo aumento máximo de fluorescência obtido no estado

M**ADP.Pi (etapa 3), e corresponde à constante de clivagem de ATP (k+3 + k-

3). As condições experimentais e os valores obtidos estão resumidos na Tabela

3. Os valores encontrados para o controle estão de acordo com os descritos na

literatura, os quais variam entre 1 e 9 x 10 6 M-1 s-1 para K1.k+2 assim como 60 a

150 s-1 para k+3 +k-3 (Johnson & Taylor, 1978; Milla r & Geeves, 1988; Shaw et

al., 2003). Pode ser observado na T abela 3 que a concentração de 0, 25% de

fenol já é suficiente para diminuir as velocidades de ligação e hidróli se do ATP

em aproximadamente 50 a 30% respectivamente .

63

(ATP µM)

0 75 150 225 300 375 450 525

k obs (

S-1)

-15

0

15

30

45

60

75

90

Controle0,25% Fenol

Figura 19: Efeito do fenol sobre a velocidade de ligação e hidrólise de ATP.

Cada ponto é a média de 3 experimentos, onde as constantes foram obtidas

por ajuste de uma exponencial simples (materiais e métodos) ao curso

temporal do aumento de fluorescência intrínseca do S1 (2 μM) induzida por

ATP. As amostras foram excitadas em 295 nm e a emissão coletada com um

filtro de 320 nm (X ± SE, n=3), 21 ºC. O tampão utilizado e os valores obtidos

estão listados na Tabela 3.

64

ATP ( µM )

0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5

k obs (

S-1)

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Controle0,25% Fenol

Figura 20: Efeito do fenol na constante de ligação e isomerização do ATP

(K1k+2). As amostras foram excitadas em 295 nm e a emissão coletada com um

filtro de 320 nm (X ± SE, n=3), 21 ºC. Os valores obtidos estão listados na

Tabela 3.

65

Tabela 3: As soluções utilizadas nos experimentos e os valores obtidos nas

constantes iniciais do ciclo catalítico (esquema 1). Todos os valores estão

descritos com médias e erro padrão adquirido de 3 -6 preparações protéicas

diferentes. *teste t pareado p < 0,05, para 0,25% de fenol em relação ao

controle.

Constantes Cinéticas

Controle 0.25% fenol

Hepes 50 mM 50 mM

KCl 50 mM 50 mM

MgCl2 5 mM 5 mM

S1 2 μM 2 μM

ATP 0.5-500 μM 0.5-500 μM

pH 7.0 7.0

K1.k+2 3.4 ± 0.3 μM-1 s-1 1.52 ± 0.4 μM-1 s-1 *

k+3 + k-3 72 ± 7 s-1 48 ± 2 s-1 *

66

4.3.2 Estados pós-hidrólise

Experimentos de single-turnover

Os dados anteriores mostram que o fenol foi capaz de alterar os passos

cinéticos iniciais do ciclo catalítico. Entretanto essa modulação não explic a o

efeito de ativação observado na atividade Mg 2+ATPásica. Pelo contrário,

embora a diminuição promovida pelo solvente na velocidade dos estados

iniciais do ciclo catalítico seja pequena (~ 30%), o efeito é antagônico ao visto

no estado estacionário. Sendo assim, passamos às etapas de liberação de

produtos. O primeiro produto da hidrólise do ATP a ser liberado é o Pi.

Experimentos de single-turnover foram realizados visando medir a velocidade

do passo de liberação de Pi (k +4, esquema 1). Este experimento é feito com

excesso de proteína em relação à concentração de ATP (2:1), acompanhando

a queda de fluorescência após o aumento transiente que reflete a formação de

M**ADP.Pi (Shaw et al., 2003).

Pode ser observado na Figura 21 que o fenol aumenta a velocida de de

liberação de Pi. Mesmo no controle, a liberação do Pi ocorre em duas fases:

uma fase rápida seguida de uma fase lenta (Fig. 21 A). As curvas foram

ajustadas e os valores obtidos para k obs são mostrados na Tabela 4. Os valores

encontrados para a fase rápida do controle se assemelham com o que é

descrito na literatura (0,055 s-1, 21 °C, pH 8,0) (Bagshaw & Trentham, 1974).

Além disso, a fase rápida corresponde a 40-50% da amplitude do sinal obtido

em todas as condições experimentais , tanto no controle quanto na presença de

fenol (Fig. 21B). Dessa forma, os valores obtidos para kobs na fase rápida (Fig.

21C) correspondem à liberação de Pi, sendo este passo catalítico o principal

responsável pelo efeito ativador promovido pelo fenol na atividade

67

Mg2+ATPásica. Todos os meios de reação experimentais e os valores das

constantes relacionadas à liberação dos produtos estão descritos na Tabela 4.

Tabela 4: Efeito do fenol sobre as etapas pós -hidrolise.

Constantes Cinéticas

Controle 0,25% fenol 0,5% fenol

Hepes 50 mM 50 mM 50 mM

KCl 50 mM 50 mM 50 mM

MgCl2 5 mM 5 mM 5 mM

S1 2 μM 2 μM 2 μM

ATP 1 μM 1 μM 1 μM

pH 7,0 7,0 7,0

kcat1 0,026 ± 0.005 s-1 0,15 ± 0.02 s-1 * -

kobs rápida 0,053 ± 0.004 s-1 0,33 ± 0.02 s-1 * 0,35 ± 0.02 s-1 *

kobs lenta 0,008 ± 0.0004 s-1 0,006 ± 0.0004 s-1 0,006 ± 0.0004 s-1

ATPa 400 μM 400 μM 400 μM

ADPa 20 μM 20 μM 20 μM

k-b 1,93 ± 0,6 s-1 5,57 ± 0,4 s-1 * 6,44 ± 0,5 s-1 *

Valores de kobs em pós-hidrólise do controle e na presença de fenol (esquema

1), bem como as condições experimentais. kobs rápida representa a constante de

liberação de Pi (k+4) e k-b representa a constante de liberação de ADP. *

Diferença estatística entre controle e testados com fenol (p < 0 ,05). a Condição

utilizada para os experimentos de deslocamento de ADP. Todos os valores

estão descritos com médias e erro padrão adquirido de 3 -6 preparações

protéicas diferentes. 1 Calculado a partir dos valores em estado estacionário da

Figura 13, corrigidos para 21ºC (Barouch & Moss, 1971).

68

A B

Tempo (s)

0 50 100 150 200

Fluo

resc

ênci

a ( n

orm

aliz

ada)

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

Controle

0,25% fenol

0,5% fenol

Controle 0,25% fenol 0,5% fenolA

mplitude da fase rápida em

relação ao sinal total (%)

0

10

20

30

40

50

60

C

Fenol (%)

0 0,25 0,5

Vel

ocid

ade

(s-1)

0,00

0,05

0,100,30

0,40

fase rápidafase lenta *

*

Figura 21: (A) Sinal coletado nos experimentos de single-turnover do S1 na presença

e ausência de fenol indicando as duas fases no decaimento da fluorescência. (B)

Amplitude da fase rápida nas três condições testadas (C) Constantes de velocidade

rápidas e lentas obtidas por ajuste matemático de uma exponencial dupla (ma teriais e

métodos). A amostra foi excitada em 295 nm e a fluorescência intrínseca foi coletada

utilizando filtro de 320 nm. Os valores e a condição experimental estão listados na

Tabela 4. * Diferença estatística em relaçã o ao controle (sem fenol) p < 0, 05 (n=4,

X±SE).

69

Como observado na Figura 21 o fenol aumentou significativamente a

liberação de Pi. Entretanto, a constante que nos fornece essa informação é

adquirida com base na mudança de fluorescência intrínseca do S1. Como o

sinal coletado muda o seu perfil na presença de fenol , fomos investigar se o

fenol estaria realmente modulando a liberação de Pi ou se o solvente poderia

estar promovendo uma alteração no perfil de fluorescência. Como estratégia

para a nossa pergunta utilizamos um kit comercial (EnzCheck, da Molecular

Probes) contendo purina nucleosídeo fosforilase (PNP), a qual cataliza a

reação de fosforólise por Pi em 2-amino-6-mercapto-7-metilpurina ribosídeo

(MESG), gerando 2-amino-6-mercapto-7-metilpurina e ribose-1-fosfato (Figura

22). A análise é baseada na diferença na absorbância entre MESG e a base

purínica formada como produto (Webb, 1992).

Figura 22: Esquema representativo da reação do sistema MESG/PNP

(Webb, 1992)

PurinaNucleosídeoFosforilase Ribose

1 - fosfatoFosfato

70

Foi realizado um experimento de single-turnover onde as concentrações

de S1 e ATP eram equivalentes (1:1) juntamente com o sistema acoplado de

fosforilação MESG/PNP. Após a ligação do ATP ao S1 e posterior hidrólise, o

fosfato liberado no meio é utilizado no sistema MESG/PNP para formação de

ribose-1-fosfato (Fig. 22). O experimento foi realizado na aus ência e na

presença de fenol (0,5%) no meio e as constantes de velocidade foram

adquiridas acompanhando o aumento da absorbância do 2-amino-6-mercapto-

7-metilpurina à medida que ribose-1-fosfato fosse sendo formado. Dessa forma

adquirimos a constante de velocidade de liberação e consumo de Pi,

denominada de kapp.

Na Figura 23 pode ser observado que na presença de fenol há um

aumento na velocidade de formação de ribose -1-fosfato, sugerindo pelo valor

de kapp = 0,09 ± 0,002 s-1 maior em relação ao controle (kapp = 0,04 ± 0,003 s-1).

Este resultado confirma assim a ação do fenol sobre o passo de liberação de Pi

(k+4, esquema 1). Isso significa que o fenol induz uma liberação de Pi da

hidrólise de ATP pelo S1 de forma rápida, sendo o fosfato liberado utilizado

mais rapidamente pela PNP na formação de ribose -1-fosfato (Fig. 22). Como

mostrado na Figura 23, o fenol é capaz de induzir a uma maior velocidade de

formação de ribose-1-fosfato a partir do acoplamento dessas rea ções. Em

contra partida, o fenol não foi capaz de alterar a atividade da PNP quando

testada isoladamente do sistema S1 -ATP (não mostrado). Além disso, as

concentrações dos substratos do sistema MESG/PNP foram saturantes não

limitando a velocidade de formação de ribose-1-fosfato.

71

Tempo (s)

0 10 20 30 40 50 150 160 170 180 190 200 210

Abso

rban

cia

(O.D

)Co

ntro

le

0,110

0,115

0,120

0,125

0,130

0,135

Abso

rban

cia

(O.D

.)0,

5% F

enol

0,125

0,130

0,135

0,140

0,145

0,150

0,155

0,160

Fenol

Controle

Figura 23: Liberação de fosfato mensurado a partir do sistema acoplado

MESG/PNP à S1/ATP. Representação gráfica dos sinais de aumento na

absorbância da 2-amino-6-mercapto-7-metilpurina após a formação de ribose-

1-fosfato na ausência de fenol (escala à esquerda) e na presença de 0, 5% do

solvente (escala à direita). Esses experimentos forma realizados em tampão

contendo 50 mM Tris-HCl (pH 7,5), 1 mM MgCl2, 0,2 mM azida sódica, 0,2 mM

MESG, 12,5 unidades/ml–1 purina nucleosídeo fosforilase e 10 μM S1. A

reação foi iniciada com 10 μM de ATP a 21 ºC.

72

Experimentos de deslocamento de ADP

O próximo produto da hidrólise de ATP a ser liberado pelo ciclo catalítico

da miosina é o ADP. Para obter informações sobre a dis sociação da ADP nós

utilizamos um ensaio de deslocamento de ADP pelo ATP (Trentham et al.,

1972; Trentham et al., 1976). Para tal, o S1 foi incubado com ADP em uma

seringa e em seguida adicionamos um excesso de ATP. À medida em que o

ADP é liberado do sítio catalítico pelo S1, o ATP se liga à proteína. Como o

ATP possui uma afinidade maior pelo S1 comparado ao ADP, este se liga

preferencialmente ao S1. O processo foi acompanhado pelo aumento de

fluorescência induzido pela formação do complexo M**ADP.Pi, res ultado da

ligação e clivagem do ATP. A Figura 24 mostra o efeito no deslocamento do

ADP promovido pelo ATP em diferentes concentrações de fenol. Segundo

dados da literatura (Trentham et al., 1972; Trentham et al., 1976; Shaw et al.,

2003), a liberação de ADP ocorre em duas etapas, como podemos observar no

esquema 2:

A etapa limitante neste caso é k -b, que corresponde à mudança conformacional

de uma ligação mais forte entre a miosina e o ADP para uma ligação mais

fraca, com a posterior liberação de ADP para o meio. O valor obtido para k -b do

controle (Tabela 4) se assemelha com o que é descrito na literatura (1,7 s-1, pH

7,0 a 21 ºC) (Shaw et al., 2003; Kovacs et al., 2004). Como pode ser observado

na Figura 24 o deslocamento de ADP na presença de fenol é mais rápido. Este

M + A D Pk + a

k -a

M .A D P M *A D Pk + b

k -b

M + A D Pk + a

k -a

M .A D P M *A D Pk + b

k -b

73

dado indica que o fenol aumenta a constante de velocidade de liberação de

ADP do sítio catalítico.

74

A

Tempo (seg)

0 2 4 6 8 10 12

Intensidade de Fluorescência (U.A

.)

-0,1

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

Controle

FenolA

Fenol (%)0,0 0,2 0,4 0,6 0,8

k -b(s

-1)

2

4

6

8

10B

Figura 24: (A) Exemplo de um sinal obtido no deslocamento do ADP induzido

pelo ATP na ausência e na presença de fenol (0, 25%). Condições: 2 µM de S1,

20 µM de ADP, 50 mM Hepes (pH 7,0), 50 mM KCl, 5 mM de MgCl 2, e 400 µM

de ATP, temp. 21 ºC. A linha contínua mostra o ajuste de uma exponencia l

simples aos dados obtidos com kobs = 1,7 s-1 para controle e 5,2 s-1 para S1

tratado com fenol. (B) Deslocamento de ADP na presença de concent rações

crescentes de fenol (0-0,75%) (n=3, X ± SE).

75

5 – DISCUSSÃO: Parte I

Existem muitos trabalhos que estud am as propriedades enzimáticas da

miosina II, utilizando agentes perturbadores da estrutura da proteína (Klibanov,

1989; Salerno et al., 1997; Mariano et al., 2001). Este trabalho caracteriza o

fenol como um agente perturbador e estimulador da atividade Mg2+ATPásica do

subfragmento 1 da miosina II (Fig. 13). No entanto, o fenol apresenta algumas

particularidades. Da mesma forma que este composto apresenta um efeito

dose-dependente para a estimulação da atividade Mg2+ATPásica, o mesmo

efeito dose-resposta também é encontrado para a inibição da atividade

K+EDTA-ATPásica do S1 (Fig. 15).

Já é sabido que, dependendo do cátion complexado ao ATP, a proteína

pode assumir diferentes conformações, alterando o seu ciclo catalítico. Na

presença de Mg2+ ou Ca2+, o passo limitante do ciclo catalítico é a liberação de

Pi do sítio, sendo este passo mais rápido na presença de Ca 2+ do que na

presença de Mg2+ (Lymn & Taylor, 1970). Na atividade K+EDTA-ATPásica o

passo limitante não é a liberação de Pi , mas a clivagem do ATP (Lymn &

Taylor, 1970). Dessa forma, na presença de fenol, essa diferença entre as

atividades enzimáticas do S1 é mais acentuada.

Nossos resultados mostram que o fenol promove diferentes efeitos no

ciclo catalítico, dentre eles, o decréscimo na constante de velocidade da

hidrólise (k3 + k-3 - esquema 1) em aproximadamente ~ 30% (Fig. 19), e uma

redução na constante de ligação do ATP ao S1 (K1k2) ~ 50%, indicando que o

fenol inibe as etapas iniciais do ciclo catalítico (Fig. 20). Essa inibição poderia

explicar o efeito negativo observado na atividade K +EDTA-ATPásica, uma vez

76

que o passo limitante desta atividade é justamente a clivagem de ATP. Por

outro lado, na presença de Ca 2+ ou Mg2+, o complexo ternário M.ADP.Pi é

estabilizado, o que retarda a liberação de Pi (Lymn & Taylor, 1970). Entretanto,

o fenol possui diferentes efeitos para ambos cátions divalentes, indicando que

os efeitos promovidos pelo fenol são específicos para os complexos formados

na presença desses diferentes cátions complexados ao ATP. Essa

especificidade pode ser observada comparando o efeito do solvente nas

atividades Ca2+ e Mg2+ATPásicas, onde o fenol mostrou um pequeno efeito

sobre a atividade Ca2+ATPásica comparada com a atividade Mg 2+ATPásica, na

qual esse solvente aumentou mais de 400% a atividade (Fig. 13 e 14).

Salerno et al. (1997), utilizando 2,4-dinitrofenol (DNP), mostraram efeitos

similares aos encontrados aqui na presença de fenol. O DNP também é um

potente estimulador da atividade Mg 2+ATPásica e depressor da atividade

K+EDTA-ATPásica. Entretanto, o DNP promove um aumento na atividade

Ca2+ATPásica maior, diferentemente do encontrado com fenol, on de somente

na concentração de 0,5% de fenol houve um aumento significativo. Nós

acreditamos que as diferenças encontradas entre as ati vidades Mg2+ATPásicas

e Ca2+ATPásicas podem ser atribu ídas principalmente às diferenças

estruturais existentes entre os substratos . A afinidade pelo Mg2+ATP é muito

maior do que para Ca2+ATP ou K+ATP (Salerno, et al., 1997). A presença de K +

também promove uma diferença na estabilidade química do substrato K+ATP

em relação aos outros, além de poder se ligar a diferentes sítios da proteína ,

modificando sua conformação (Weeds & Taylor, 1975; Salerno, et al. 1997).

Todas essas evidências podem estar sendo potencializadas pelo solvente

tornando seus efeitos mais específicos.

77

Alguns autores têm descrito que as alterações na atividade enzimática

do S1 podem ser devidos à desnaturação protéica causada pela presença de

solventes orgânicos (Rayment, 1996; Komatsu e t al., 2004). No entanto,

Komatsu et al. (2004) mostraram um aumento na atividade Mg 2+ATPásica

promovida pela adição de álcool, independentemente de um processo

desnaturante. Em nossos dados, um longo tempo de exposição ao fenol ( ≥ 15

min) promove um decréscimo da atividade Mg 2+ATPásica do S1, e a

concentração de solvente utilizada é um fator determinante para este efeito

(Figs. 16 e 17).

Quando testamos as atividades ATPásicas em concentrações

crescentes de fenol ao longo de 10 min de pré -incubação na ausência de

nucleotídeo, observamos que concentrações menores (0,25 e 0,5%) do

solvente promovem um aumento da atividade que é independente do tempo

em que a proteína ficou exposta a ele (Fig. 16 e 17). Todavia, em altas

concentrações (1 e 2%) o efeito estimu lador promovido pelo fenol é perdido ou

a atividade é completamente inibida (Fig. 15 e 16). Esse dado é similar ao

descrito por Machado (2003), onde concentrações até 0, 8% de fenol

prejudicavam de forma irreversível o desenvolvimento da tensão isométrica

máxima em fibras musculares descascadas.

A análise quantitativa do efeito de cada um dos fatores que influenciam a

atividade enzimática é avaliada através do aumento ou redução da velocidade

da reação catalisada. Através dos experimentos de “cinética rápid a” podemos

obter as constantes cinéticas das etapas intermediárias do ciclo. As constantes

cinéticas encontradas para a etapa de ligação ( K1k2) de ATP são 3,4 μM-1s-1 no

controle e 1,5 μM-1s-1 na presença de 0,25% fenol (Fig. 19; Tabela 3). Além

78

disso, a constante k3 + k-3 , responsável pela clivagem do ATP, também sofre

um decréscimo de 72 ± 4 s -1 na ausência de fenol para 47,7 ± 2 s-1 na presença

de 0,25% de fenol (Fig. 19; Tabela 2). Esses resultados indicam que o fenol

altera os passos iniciais do ciclo catalítico de forma a retardar ou desacelerar

os estágios pré-hidrólise.

Embora o fenol altere os passos iniciais do ciclo catalítico, esses efeitos

são pequenos, e não explicam o efeito ativador observado no estado

estacionário para a atividade Mg2+ATPásica. Pelo contrário, chegam a ser

contraditórios. Entretanto, uma estimulação das etapas pós -hidrólise poderia

justificar o aumento observado, pois o passo limitante do ciclo catalítico na

atividade Mg2+ATPásica é justamente a liberação dos produtos (Bags haw &

Trentham, 1974). Sendo o fenol um ativador na faixa de concentração abaixo

de 0,8%, uma grande possibilidade seria o fenol estar alterando as etapas pós -

hidrólise do ciclo.

O Pi é primeiro produto da hidrólise do ATP a ser liberado do sítio. A

constante cinética que reflete a velocidade de liberação de Pi é k4. Na

presença de fenol, observamos uma grande diferença no perfil do sinal obtido

na medida de single-turnover em relação ao controle, corroborando a hipótese

de que o fenol poderia estar modul ando a atividade Mg2+ATPásica, acelerando

o passo limitante do ciclo catalítico (Fig. 21; Tabela 4). A utilização do sistema

acoplado MESG/PNP nos fornece um outro indício de que seja justamente na

liberação de produtos que o fenol exerça seu efeito ativador. O sistema

acoplado MESG/PNP, na presença de fenol, mostrou que a produção de

ribose-1-fosfato a partir do Pi no meio é mais acentuada. Isso ocorre devido a

uma maior disponibilidade de Pi no meio gerado pela atividade ATPásica do S1

79

(Figs. 22 e 23). Como K3 é dependente da concentração de M*ATP (Johnson &

Taylor, 1978), é esperado que esse passo catalítico sofra uma redução na

presença de fenol. No entanto, o aumento promovido pelo fenol em k4 é em

torno de 5 vezes, o que supera os efeitos inibitório s sobre as etapas iniciais do

ciclo.

Em adição ao efeito em k4, a liberação de ADP, o segundo produto a ser

liberado pelo ciclo, também é alterad a na presença de fenol. Os resultados

obtidos nos experimentos de deslocamento de ADP por ATP mostram que a

transição do estado M*ADP para M.ADP na presença do solvente ocorre de

forma mais rápida e conseqüentemente gera uma maior velocidade na

liberação de ADP pelo ciclo (Esquema 2 e Fig. 24). Esses dados indicam que o

principal efeito ativador desse solvente se encontra sobre as etapas pós-

hidrólise do ciclo catalítico.

80

6 – Resultados Parte II

6.1 - Efeito do Fenol na Estrutura Terciária do S1

Afim de observar o comportamento estrutural da proteína (S1) na

presença de fenol, utilizamos a fluorescência para analisar a estrutura terciária

do S1. Na Figura 25, são mostrados os espectros de fluorescência intrínseca

do S1 na presença de concentrações crescentes de fenol. Na presença do

solvente, tanto a intensidade de emissão quanto o perfil do pico de emiss ão

são alterados. O fenol promove um decréscimo na intensidade de emissão de

fluorescência intrínseca do S1 e desloca o seu pico de emissão para

comprimentos de onda maiores, correspondentes à região do vermelho (Fig.

25). Estes resultados indicam que os r esíduos de triptofanos do S1 ficam mais

expostos à água com adição de fenol, característico de uma conformação

menos enovelada. Isso fica mais evidente quando analisamos o centro de

massa espectral (materiais e métodos) na presença e na ausência de fenol.

Nessa análise o fenol promove um deslocamento no centro de massa de ~ 3

nm para regiões de menor energia (Fig. 26). Cabe ressaltar que na pre sença

de 0,25 e 0,5% do solvente, a atividade Mg 2+ATPásica encontra-se muito

ativada (Fig. 13), sugerindo que as al terações promovidas pelo fenol na

estrutura do S1 ocorrem sem causar um completo desenovelamento.

81

Figura 25: Espectros típicos de emissão de fluorescência do S1 (0, 05 mg/ml)

na ausência e na presença de fenol. Os experimentos foram realizados em

tampão contendo 50 mM Hepes (pH 7,0), 50 mM KCl, 5 mM MgCl 2 e 0,25 e

0,5% fenol. Os experimentos foram realizados à temperatura ambiente e a

solução de fenol foi adicionada à proteína segundos antes da leitura espectral.

Comprimento de onda (nm)

280 300 320 340 360 380 400 420

Inte

nsid

ade

Fluo

resc

enci

a (U

.A.)

-20

0

20

40

60

80

100

120

140

S1S1 + 0,25% FenolS1 + 0,5% Fenol

82

Figura 26: Centro de massa do espectro de fluorescência intrínseca de S1, na

ausência e presença de concentrações crescentes de fenol (0, 25 - 1%). Os

experimentos foram realizados em tampão contendo 50 mM Hepes (pH 7,0), 50

mM KCl, 5 mM MgCl2 e 0,25 ou 0,5 ou 1% fenol, à temperatura ambiente.

* teste t para p < 0,05 em relação ao controle (n=3, X±SE).

Cen

ter o

f mas

s (n

m)

Fenol (%)

0 0,25 0,5 1

Cen

tro

de m

assa

(nm

)

340

342

344

346

348

350

352

* * *

83

Como podemos observar nas atividades ATPásicas (Figs. 16 e 17), o

tempo de exposição da proteína e a concentração do solvente são fatores

importantes no efeito do fenol sobre o S1 . Diante disso, fomos verificar se o

efeito promovido pelo fenol na estrutura do S1 se mantinha de acordo com o

tempo de análise, uma vez que em ensaios de atividade ATPásica, a proteína

fica exposta ao solvente por períodos longos (2-15 min). Submetemos o S1 a

0,25% de fenol e acompanhamos o perfil de fluorescência e o centro de massa,

de 60 até 600 s na presença de solvente (Fig. 27). Podemos observar que o

efeito do solvente sobre o espectro de fluorescência da proteína perdura por

todo tempo de análise, deslocando o centro de massa para regiões do

vermelho. Isso sugere que os efeitos estruturais provocados pelo fenol no S1

contribuam para o aumento da atividade Mg 2+ATPásica.

84

Figura 27: Efeito do fenol sobre o centro de massa espectral do S 1 ao longo

do tempo de exposição ao solvente em relação ao controle. Os experimentos

foram realizados em tampão contendo 50 mM Hepes (pH 7,0), 50 mM KCl, 5

mM MgCl2, 0,25% fenol e 0,05 mg/ml de S1 a temp. ambiente. * teste t para p <

0,05 em relação ao controle (sem fenol) (n=3, X±SE).

Tempo de exposição (min)

0 2 4 6 8 10 12

Cen

tro

de m

assa

(nm

)

342

344

346

348

350

352

354

S1 + 0,25% FenolS1

* * * *

85

6.2 - Efeito do Fenol na Estrutura Terciária do S1 na Presença de

Análogos de ATP

A fim de quantificar o comportamento estrutural do S1 na presença de

nucleotídeo e fenol, submetemos o S1 às mesmas condições descritas

anteriormente, mas na presença de análogos de ATP. É sabido que o ATP é

capaz de induzir um aumento de fluorescência em conseqüência da sua

ligação à proteína. Entretanto, a ligação de ATP e a sua posterior hidrólise

ocorrem de forma muito rápida, o que dificulta a análise espectral.

Como estratégia para acompanhar as mudanças estruturais sofridas

pelo S1 durante o ciclo catalítico, utilizamos o fluoreto de berílio (BeF 3-) e o

tetrafluor aluminato (AlF4-). Estes compostos “complexados” ao ADP,

pertencem a uma classe de análogos (Robinson et al., 1986; Fisher et al.,

1995) que mimetizam os estados M*ATP e M**ADP.Pi (esquema 1),

respectivamente. Os complexos se ligam fortemente ao sítio catalítico da

proteína, e uma vez ligados, não são hidrolisáveis como ATP (Robinson et al.,

1986; Fisher et al., 1995), mas promove m mudanças conformacionais

semelhantes às induzidas por ATP. Maruta et al. (1998) mostraram que

complexos formados a partir de AlF 4- e BeF3

- em HMM são potentes inibidores

da atividade HMM-ATPásica tanto em músculo esquelético quanto em músculo

liso, tornando os complexos ternários inativos e portanto inibindo a atividade

enzimática. A ligação de BeF 3- e AlF4

- ao S1 é mediada pela presença de

fluoreto de sódio (NaF) e ADP, formando os complexos M.ADP .BeF3-,

M.ADP.AlF4- (Fisher et al., 1995; Phan et al., 1997; Maruta et al., 1998) . A

Figura 28 mostra um esquema estrutural do S1 complexado aos análogos e

suas respectivas modificações conformacionais.

86

Figura 28: Esquema representativo das mudanças conformacionais na região

globular da miosina (S1), nos estados de transição S1 *ATP seguido pelo

S1.**ADP.Pi (A e B respectivamente). Neste modelo, as mudanças

conformacionais estão particularmente relacionadas ao movimento da porção

inferior do fragmento de 50 kDa em resposta à ligação de ATP e ADP.Pi. O

sítio de ligação de nucleotídeo se encontra fechado (A e B) (Adaptado de

Fisher et al., 1995).

87

Para verificar se o fenol modula a estrutura do S1 no estado M*ATP,

incubamos o S1 com ADP previamente (2 min) e adicionamos 5 mM de NaF e

2 μM de BeSO4- por mais 3 min para formação do complexo, e o analisamos na

presença e na ausência de fenol (0, 25 – 1%). O mesmo procedimento foi

realizado no ensaio para a formação do complexo M**A DP.Pi utilizando ADP e

AlF4- .

A Figura 29 mostra que, diferentemente do que ocorre na estrutura do

S1 na ausência de nucleotídeo, na presença desses complexos o fenol não foi

capaz de alterar significativamente a estrutura terciária do S1.

6.3 - Efeito do Fenol na Estrutura Terciária do S1 na Presença de ADP.

O ADP também se liga ao sítio catalítico do S1, induzindo a uma

mudança conformacional que pode ser acompanhada por um aumento na

fluorescência intrínseca do S1. Entretanto, esse aumento de flu orescência é

bem menor comparado ao aumento de fluorescência induzido pela ligação de

ATP. Para verificar a estrutura do estado M*ADP, nós incubamos o S1 com

ADP na presença e na ausência de difer entes concentrações de fenol (0, 25 –

1%). Nesse estado, ao contrário dos estados analisados anteriormente, a

proteína encontra-se em um estado transitório de abertura do sítio catalítico , e

esta conformação permite uma exposição parcial do sítio catalítico ao meio

aquoso (Geeves & Holmes, 1999). Analisando o perfil de fluorescência e o

centro de massa na presença de fenol (Figs. 30 e 31), também se observa um

importante decréscimo da fluorescência e o deslocamento do pico de emissão

para regiões de menor energia. Este resultado foi similar ao encontrado para o

S1 na ausência de nucleotídeo (Fig. 25 e 26). Es tes dados sugerem que a ação

88

do fenol sobre a estrutura terciária do S1 seria mais pronunciada nos estados

conformacionais onde o sítio de interação com o nucleotídeo encontra -se

exposto ou parcialmente exposto. D essa forma, o fenol estaria modulando a

estrutura terciária do S1, favorecendo a saída de Pi e A DP do sítio, como

evidenciado pelos resultados das constantes cinéticas obtidas para liberação

dos produtos (Tabela 4).

89

Fenol (%)

0 0,25 0,5 1

Cen

tro

de m

assa

(nm

)

334

336

338

340

342

344

346

348 S1*ATPS1**.ADP.Pi

Figura 29: Centro de massa dos espectros de fluorescência intrínseca do S1

(0.05 mg/ml) nos estados que mimetizam S1*ATP (M.ADP.BeF 3-) e S1**ADP.Pi

(S1.ADP.AlF4-), na presença e na ausência de fenol (0, 25 – 1%). Os

experimentos foram realizados em tampão contendo 50 mM Hepes (pH 7,0), 50

mM KCl, e 5 mM MgCl2. A proteína (0,05 mg/ml) foi previamente incubada com

2 mM de ADP (2 min), seguida pela adição de 5 mM de NaF e 2 µM de BeSO 4-

ou 150 µM de AlCl3 por mais 3 min antes da aná lise. Após a formação do

complexo era adicionado 0,25 -1% fenol, segundos antes da leitura do espectro

à temperatura ambiente (n=4; X±S.E.).

90

Figura 30: Espectros típicos de emissão da fluorescência intrínseca do S1

complexado ao ADP formando M*ADP na presença e na ausência de fenol

(0,25 - 1%). Os experimentos foram realizados em tampão contendo 50 mM

Hepes (pH 7,0), 50 mM KCl, 5 mM MgCl 2, e 0,25 ou 0,5 ou 1% de fenol, 0,05

mg/mL de S1 e 2 mM ADP a temperatura ambiente.

Comprimento de Onda (nm)

280 300 320 340 360 380 400 420

Inte

nsid

ade

de F

luor

escê

ncia

(U.A

.)

-20

0

20

40

60

80

100

S1

S1.ADP

S1.ADP + 0.25% fenol

S1.ADP + 1% fenol

S1.ADP + 0.5% fenol

91

Fenol (%)

0 0,25 0,5 1

Cen

tro

de m

assa

(nm

)

342

344

346

348

350

S1S1.ADP *

**

* *

**

**

Figura 31: Efeito do fenol (0,25 - 1%) sobre o centro de massa do S1 e da

S1.ADP. Os experimentos foram realizados em tampão contendo 50 mM

Hepes (pH 7,0), 50 mM KCl, 5 mM MgCl 2, 0,05 mg/ml de S1 e 2 mM ADP. *

teste t para p 0,05 em relação ao controle sem fenol; ** teste t para p 0,05

em relação ao controle sem fenol, mas com ADP, a temperatura ambiente

(n=5, X±SE).

92

6.4 – Modificação Estrutural do S1 pelo Fenol Altera a Ligação com Actina

Ao analisar a estrutura cristalografica do S 1 (Fig. 4), podemos observar

que o sítio de ligação para o nucleotíd eo está localizado entre as porções de 25

kDa e 50 kDa. Entre a porção de 20 kDa e 50 kDa encontra -se o sítio de

ligação para actina. Pode ser observado também (Fig. 4) que o sítio de liga ção

e hidrólise de ATP e o sítio de ligação de actina são geometricamente opostos.

Essa disposição espacial permite uma relativa “comunicação” entre esses

sítios. Isso fica bem evidente quando analisamos o ciclo catalítico (Fig. 7), e

verificamos que as mudanças estruturais promovidas pela ligação do ATP ao

complexo A.M geram uma perda da afinidade da miosina pela actina,

conhecida como ponte fraca, levando à dissociação do complexo A ~M.ATP.

Por outro lado, a re-associação da actina ao complexo ternário M.A DP.Pi

também modifica o ambiente estrutural, favorecendo a abertura do sítio

catalítico e a liberação dos produtos da hidrólise (Lymn & Taylor, 1971; Geeves

& Holmes, 1999) (Fig. 7).

Os resultados anteriores mostram que o fenol é capaz de alterar a

estrutura terciária do S1 na ausência de nucleotídeo e na presença de ADP.

Esses estados são fortemente influenciados pela ligação com actina, formando

o complexo de rigor (A.M) e/ou formando ponte forte com o complexo M*.ADP,

gerando A.M*.ADP. Para verificar se o fenol, uma vez modulando esses

estados intermediários, afetaria a ligação da actina, utilizamos um ensaio de

co-sedimentação tanto no rigor (A.M) quanto em ponte forte (A.M*.ADP). A co -

sedimentação é baseada na diferença de solubilidade entre o S1 e a a ctina e

foi realizada em duas etapas de incubação: (1) Primeiramente as proteínas

93

(actina e S1) são incubadas por 10 min seguido da adição de fenol e (2) Nós

incubamos o S1 com fenol por 10 min e em seguida adicionamos actina. As

amostras então são centrif ugadas, e o S1 livre, pela sua solubilidade em baixa

força iônica, permanece no sobrenadante. A actina, em sua forma filamentosa,

possui baixa solubilidade e sedimenta formando um precipitado. Será

encontrado no pellet o S1 que se ligar à actina no período de pré-incubação ou

durante a centrifugação, formando o complexo de rigor ou ponte forte. As

Figuras 32 e 33 mostram que o fenol (0 ,5%) quando incubado previamente

com S1, altera a ligação de actina. Entretanto, quando o rigor é formado

previamente o fenol não mostra o mesmo efeito. Isso indica que durante o

período de pré-incubação com o solvente, o S1 sofre modificações estruturais

provocadas pelo fenol que diminuem a interação acto -S1. O mesmo efeito não

é observado na presença de ADP, sugerindo que as modificações estruturais

nos estados S1 e S1.ADP são diferentes.

6.5 – Reversibilidade dos Efeitos do Fenol

O efeito do fenol na diminuição da tensão isométrica máxima em fibras

musculares descascadas é irreversível em concentrações acima de 0,8%

(Machado, 2003). Entretanto, a atividade Mg 2+ATPásica do S1, medida com a

proteína em solução, é aumentada em concentrações abaixo de 0,8%, como

mostrado na Figura 13. Contudo, ao aumentarmos a concentração para 1 e 2%

de fenol esse efeito estimulador é perdido (Fig. 16).

Para verificar se o efeito do fenol poderia ser reversível, pré -incubamos

0,5 mg/ml de S1 com fenol 0 ,5% em meio de reação durante 2 min a 30 ºC.

94

Logo após retiramos uma alíquota dessa solução e transferimos para um outro

tubo onde a concentração tanto de proteína quanto de fenol foi diluída 10

vezes. Após a diluição a concentração final de fenol foi reduzida para 0,05%.

Em seguida verificamos a atividade ATPásica da amostra diluída. Como

mostrado na Figura 34, o efeito do fenol em solução pode ser revertido

completamente, tanto para a atividade Mg2+ATPásica quanto para a atividade

K+EDTA ATPásica (Fig. 35). É válido ressaltar que, o fenol altera

significativamente ambas as atividades, estimulando na presença de Mg 2+ e

inibindo na presença de K +EDTA, e ambos os efeitos foram abolidos. Es te

resultado mostra que o efeito do fenol sobre a atividade enzimática é passível

de reversão.

95

Figura 32: Ensaios de co-sedimentação em estados de rigor (A.S1) e ponte

forte (A.S1.ADP) na presença de fenol (0,25% e 0,5%). Os números

representam as amostras de sobrenadante e precipitados onde (1) A.S1; (2)

A.S1 pré-incubado por 10 min + 0,25% fenol; (3) A.S1 pré -incubado por 10 min

+ 0,5% fenol; (4) S1.Fenol (0,25%) pré -incubado por 10 min + Actina; (5)

A.S1.Fenol (0,5%) pré-incubado por 10 min + Actina; (6) A.S1.ADP; (7)

A.S1.ADP pré-incubado por 10 min + 0,25% fenol; (8) A.S1.ADP pré -incubado

por 10 min + 0,5% fenol; (9) S1.ADP.Fenol (0,25%) pré -incubado por 10 min +

Actina; (10) S1.ADP.Fenol (0,5%) pré -incubado por 10 min + Actina. O gel

usado era desnaturante com SDS-poliacrilamida 12%.

Sobrenan

Pellet

S1

110 kDakDa

42 kDa

110 kDakDaAct

Rigor

Ponte Forteforte

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

96

Figura 33: Quantificação do S1 restante no sobrenadante por densitometria na

presença e na ausência de fenol. Há um maior conteúdo de S1 no

sobrenadante quando este pré -incubado com 0,5% de fenol antes da formação

do complexo de rigor. Condições: 0,5 mg/ml de S1, 1 mg/ml de actina e 0,25 e

0,5% de fenol em meio contendo 50 mM Hepes (pH 7,0), 50 mM KCl, 5 mM

MgCl2. * teste t para p < 0,05 em relação ao controle sem fenol (n=4, X±SE).

0 0.25 0.5

sobrenadante % 0

20

40

60

80

100

120

S1 e ActoS1ActoS1 + FenolS1.Fenol + Act

*

97

Figura 34: Reversibilidade do efeito do fenol na atividade Mg 2+ATPásica.

Condições: 0,5 mg/mL de S1 foi previamente incubada com 0, 5% de fenol

durante 2 min em meio de reação contendo 50 mM Hepes (pH 7,0), 50 mM

KCl, 5 mM MgCl2 a 25 ºC. Após esse período a proteína e o fenol foram

diluídos para 0,05 mg/ml e 0,05%, respectivamente. A essa nova so lução é

adicionada 3 mM de ATP. As curvas controle (0% de fenol) e controle positivo

para 0,05% de fenol, foram realizados com 0, 05 mg/mL de S1 mantendo o

tempo de pré-incubação de 2 min a 25 °C antes da adição de ATP (n=3,

X±SE).

Tempo (min)

0 2 4 6 8 10 12

nmol

s Pi

.mg

ptn

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000ControleControle 0,05% fenol0,5% de fenolReversão

98

Tempo (min)

0 2 4 6 8 10 12

nmols Pi.m

g ptn

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000ControleControle 0,05% fenol0,5% fenolReversão

Figura 35: Reversibilidade do efeito do fenol na atividade K+EDTA ATPásica.

Condições: 0,5 mg/mL de S1 foi previamente incubada com 0.5% de fenol

durante 2 min em meio de reação contendo 50 mM Hepes (pH 7,0), 600 mM

KCl e 5 mM K2EDTA a 25 ºC. Após esse período a proteína e o fenol foram

diluídos para 0,05 mg/ml e 0,05%, respectivamente. A essa nova sol ução foi

adicionada 3 mM de ATP. As curvas controle (0% de fenol) e controle positivo

para 0.05% de fenol foram realizados com 0,05 mg/mL de S1 mantendo o

tempo de pré-incubação de 2 min a 25 °C antes da adição de ATP (n=3,

X±SE).

99

7. DISCUSSÃO: Parte II

A relação entre a estrutura e função das proteínas , de um modo geral, já

é bem estabelecidana literatura (Dobson, 2000). Estudos acerca da

estabilidade de proteínas, incluindo experimentos de desnaturação e

renaturação protéica, têm sido bastante úteis na investigação da estrutura e

função de diversas proteínas , incluindo a miosina. A miosina é uma proteína

que possui uma estrutura altamente assimétrica (Rayment et al., 1993). A

estrutura tridimensional do S1 de mú sculo esquelético de galinha (Fig. 3)

mostra uma série de fendas e domínios que dividem a proteína em partes

distintas, cada uma com uma participação fundamental para atividade

enzimática (Rayment et al., 1993).

Solutos perturbadores de estrutura de prot eínas, como ureía e guanidina

(Yancey et al., 1982), agem de uma forma muito peculiar, aumentando a área

de superfície das proteínas e gerando seu desenovelamento. Diversos

trabalhos mostram que o S1 é uma proteína altamente suscetível à ação de

solventes e solutos (Muhlrad et al., 1986; Muhlrad, 1989; Nozais et al., 1992;

Ortiz-Costa et al., 2002). Embora os dados obtidos neste trabalho não mostrem

diretamente a estrutura cristalográfica do S1, os experimentos mostram que a

estrutura do S1 é influenciada pela ação do fenol.

Os espectros de emissão de fluorescência intrínseca do S1 na ausência

de nucleotídeo mostraram que o fenol tem um efeito sobre a estrutura terciár ia

da proteína. Do mesmo modo, essas concentrações modularam a atividade

catalítica do S1. Esses resultados sugerem que o efeito sobre a estrutura do S1

poderia estar modulando a função catalítica da proteína. Entretanto, o fenol

100

apresenta efeitos bifásicos no que se refere à concentração do solvente sobre

a atividade ATPásica. Como observado na s Figuras 16 e 17, concentrações

maiores de fenol mostram uma completa inativação da enzima. A estrutura

protéica, no entanto, sofre algumas modificações sem necessariamente

apresentar uma alta taxa de desenovelamento. Isto pode ser percebido através

dos centros de massa onde para as concentrações de 0,25 e 1% o

deslocamento é o mesmo, não havendo diferença significativa ao aumentar a

concentração (Figs. 26 e 31). Os espectros de emissão na presença de

análogos de ATP corroboram a idéia de que o fenol não p romove desnaturação

severa da proteína uma vez que o fenol não foi capaz de modular a estrutura

terciária do S1 na presença dos análogos de ATP (Fig. 29) nas concentrações

utilizadas. Além disso, nós podemos observar , nas Figuras 34 e 35, que após a

diluição do fenol a atividade Mg 2+ATPásica e K+EDTA ATPásica do S1

retornam aos níveis obtidos na presença da menor concentração de fenol. Isso

indica que qualquer efeito de desenovelamento promovido pelo fenol é parcial

e reversível em baixas concentrações. A exposição de superfícies hidrofóbicas

favorece o desenovelamento, assim como a formação de agregados da

molécula de S1, como mostrado por Muhlrad et al. (1986). Yamam oto et al.

(1994) também observaram que o processo de formação de agregados pela

miosina é acompanhado pelo aumento na turbidez das soluções protéicas após

serem submetidas a altas pressões. Curiosamente, o tratamento do S1 com

fenol também acarretou um aumento da turbidez em concentrações elevadas

(1-2%) ou quando incubadas por longos períodos (>10 min), mesmo em

concentrações menores que 1%. Esses dados indicam que o fenol pode

promover diferentes alterações na estrutura terciária do S1 , gerando estados

101

intermediários com alta atividade enzimática em baixas concentrações do

solvente. Em contrapartida, em concentrações maiores que 0 ,8%, o fenol pode

estar levando ao desenovelamento e desnaturação, como sugerido pela perda

da atividade.

A presença de nucleotídeo e a sua interação com o sítio de ligação é

capaz de promover diferentes estados confo rmacionais transitórios no S1

(Johnson & Taylor, 1978). Nesse sentido, a mudança conformacional

promovida durante o fechamento do sítio catalítico consegue reverter ou

superar a ação do fenol sobre a estrutura do S1. Dessa forma, durante os

estados em que o sítio catalítico encontra-se fechado, o fenol não foi capaz de

modular a estrutura do S1, como mostrado na Figura 29. Em contrapartida, na

presença de ADP, nos observamos novamente uma alteração estrutural

provocada pelo fenol. Esses achados nos mostram mais uma vez que o efeito

do fenol é mais pronunciado quando o sítio catalítico se encontra na forma

aberta ou expondo suas superfícies hidrofóbicas , favorecendo a liberação dos

produtos da hidrólise de ATP. Essa hipótese é baseada na observação do

efeito da ligação da actina ao S1, onde a interação acto-S1 é capaz de acelerar

a saída dos produtos de hidrólise modulando a abertura do sítio catalítico

(Lymn & Taylor, 1971), e conseqüentemente estimulando a atividade ATPásica.

Nossos dados sugerem que, na ausência de actina, o fenol estaria assumindo

o papel desta, acelerando a liberação dos produtos.

Diante disso, se adicionássemos fenol ao complexo acto -S1, obteríamos

um aumento parecido ou maior da atividade ATPásica da miosina. Entretanto,

esta hipótese não se confirmou nos experimentos na presença de actina. Ao

analisarmos a Figura 17, observamos que , apesar da atividade ATPásica ser

102

estimulada, a magnitude do efeito do fenol na presença de actina é bem menor

quando comparado à sua ausência (Fig. 16). Na presença de actina em

concentrações saturantes, a enzima estaria trabalhando aproximadamente com

70% da sua capacidade máxima e nessa condição outros moduladores

positivos (temperatura, força iônica, etc) aumentariam muito pouco a

capacidade enzimática. Desta forma, o efeito que o fenol promove sobre a

atividade Mg2+ATPásica do S1 pode estar induzindo efeito similar.

Interessantemente, os ensaios de co -sedimentação mostram que o fenol

interfere na ligação acto-S1, diminuindo a fração de S1 ligada à actina quando

tratada previamente pelo solvente. Isso nos leva a crer que o fenol não só

mimetize o papel da actina no ciclo catalítico como também a ação deste

solvente sobre a estrutura terciária do S1 altera direta ou indiretamente a

região de ligação com actina.

103

8. CONCLUSÕES

STEADY-STATE

• O efeito causado pelo fenol na atividade ATPásica é dependente da

concentração e do tempo de exposição da proteína ao solvente;

• Os efeitos do fenol são reversíveis em baixas concentrações.

• Os efeitos do fenol são específicos e dependentes do íon complexado

ao ATP.

• Os efeitos do fenol são menos pronunciados na presença de actina.

CICLO CATALÍTICO

• O fenol altera todos os passos cinéticos do ciclo catalítico.

• Nos estados pré-hidrólise o fenol promove um efeito inib itório, reduzindo

a velocidade de ligação e isomerização correspondente às constantes

K1k2.

• O fenol diminui a constante de clivagem de ATP que corresponde a k3 +

k-3

• O fenol acelera as constantes k4 e k-b, correspondentes à liberação dos

produtos, e isso é refletido no aumento da atividade ATPásica do S1

(kcat).

MUDANÇAS CONFORMACIONAIS

• O fenol induz mudanças conformacionais na estrutura do S1 de forma a

favorecer a exposição e liberação dos produtos. Entretanto , essa

mudança promove uma diminuição da liga ção da actina ao S1.

104

9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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109

ANEXO I

CURRICULUM VITAE

NOME: Raquel Guimarães CoelhoNASCIMENTO: 26/01/1981.NATURALIDADE: Rio de Janeiro

FORMAÇÃO ACADÊMICA

- Bacharel em Educação Física – Escola de Educação Física e Desportos daUniversidade Federal do Rio de Janeiro, março de 1998 a março de 2002.

ORIENTAÇÃO DE ESTUDANTE:

1. Cícero Figueiredo Freitas – iniciação científica de novembro de 2005 anovembro de 2006 (atualmente aluno de pós -graduação do Instituto deBioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

2. Luciana Elena de Souza Fraga Machado - iniciação científica de setembro de2005 a junho de 2007 (atualmente aluna de pós -graduação do Instituto deBioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

COMUNICAÇÃO EM CONGRESSO

- 4 comunicações em congressos naciona is

PUBLICAÇÕES:

Leite, T.C., Da Silva, D., Coelho, R.G., Zancan, P., & Sola-Penna, M. (2007). Lactatefavors the dissociation of skeletal muscle 6 -phophofructo-1-kinase tetramers down-regulating the enzyme and muscle glycolysis. Biochem J. 2007 Aug 1; [Epub ahead ofprint]PMID: 17666012 [PubMed - as supplied by publisher]

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