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CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO DE DEGRADAÇÃO DE ELEMENTOS DE EDIFÍCIOS

ESCOLARES EM SERVIÇO

S. RAPOSO I. FLORES-COLEN

Investigadora Auxiliar Professora Auxiliar

LNEC CERIS/ICIST - IST

Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal

[email protected] [email protected]

W. NOGUEIRA J. LUÍS

Mestre em Engenharia Militar Mestre em Engenharia Militar

Academia Militar Academia Militar

Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal

[email protected] [email protected]

RESUMO

Neste trabalho apresentam-se os resultados da análise realizada ao estado de degradação de elementos da envolvente do

edifício, de elementos pertencentes aos espaços exteriores e interiores de dois estabelecimentos escolares em serviço.

As duas escolas, localizadas na cidade de Lisboa, têm idades de construção recentes tendo sido projetadas com os

espaços funcionais adequados às práticas de ensino atuais. Foi desenvolvida uma metodologia de trabalho que envolveu

o estudo documental dos elementos fonte de manutenção, o desenvolvimento de documentação de apoio ao trabalho de

campo, a realização de inspeções visuais aos edifícios e a análise dos dados recolhidos. A metodologia desenvolvida

permitiu qualificar e quantificar o nível de gravidade das anomalias, realizando-se uma análise estatística para o

apuramento da frequência e tipo de anomalias por elementos construtivos e por espaços funcionais. Apesar dos edifícios

serem de construção recente, o estudo revelou que existem elementos interiores que apresentam um número de

anomalias relativamente elevado e com um nível de gravidade a requerer uma intervenção urgente.

1. INTRODUÇÃO

A avaliação do estado de degradação dos elementos e componentes de um edifício constitui uma parte fundamental da

atividade de manutenção, permitindo determinar os tipos de trabalho que são necessários realizar, respetivas

periodicidades e custos associados. Durante a fase de conceção e projeto dos edifícios devem ser adotadas exigências

que tenham em conta a durabilidade e os requisitos de manutenção das soluções adotadas. A realização e a

implementação de planos de manutenção, nomeadamente em edifícios públicos, como são os estabelecimentos

escolares, constitui uma preocupação quer das entidades gestoras quer dos próprios utentes. Sendo o processo de

envelhecimento inevitável, verifica-se que quando os edifícios são alvo de atividades de intervenção regulares

prolonga-se de uma forma evidente a durabilidade dos elementos construtivos intervencionados, proporcionando um

aumento no período de vida útil expectável dos edifícios em questão e, por consequência, previne-se roturas e

problemas associados. Verifica-se que o desempenho global de um edifício encontra-se também influenciado pelo modo

como os seus respetivos constituintes se relacionam entre si, com os utilizadores e com os ambientes interior e exterior.

Neste trabalho apresentam-se os resultados da análise efetuada ao estado de degradação de dois estabelecimentos

escolares de construção recente em serviço na cidade de Lisboa. É feita a caracterização do estado de degradação das

anomalias identificadas pelas inspeções visuais ocorridas no ano de 2013, procede-se à comparação com as anomalias

identificadas nas inspeções de 2007 e estuda-se a evolução do estado de degradação neste período temporal e sua

relação com a realização de atividades de manutenção.

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S. Raposo, I. Flores-Colen, W. Nogueira e J. Luís, Caracterização do estado de degradação de elementos de edifícios

escolares em serviço

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2. METODOLOGIA DE TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO

2.1 Descrição do sistema adotado

As inspeções aos estabelecimentos escolares foram realizadas através de inspeção visual, com registos fotográficos de

todos os casos assinalados como necessitando de avaliação, reparação ou substituição. Para a caracterização das

anomalias foi utilizada a documentação de apoio desenvolvida por Flores-Colen e Brito [1] e amplamente aplicada e

validada na realização de diversas inspeções a edifícios escolares [2]. A documentação é constituída por listas de

caracterização de tipos de anomalias (Tabela 1), elementos construtivos inspecionados designados como Elementos

Fonte de Manutenção (EFM) (Tabela 2) e classificação das anomalias em três níveis de gravidade. Foi adicionada a

listagem de Espaços Funcionais (EF) existentes numa escola com Jardim Infantil e ensino básico de 1º ciclo (Tabela 3)

[3].

Tabela 1 – Extrato da lista do tipo de anomalias [1]

Código Descrição Código Descrição A1 Sujidade diferencial A14 Elemento (s) solto (s)

A2 Sujidade uniforme A16 Elemento (s) em falta

A3 Descoloração ou mancha A17 Desgaste localizado

A4 Fissuração mapeada A18 Desgaste uniforme

A5 Fissuração orientada A19 Deficiente funcionamento

A7 Fratura / elemento (s) partido (s) A20 Sem funcionamento

A8 Descasque ou escamação A21 Infiltrações / roturas

A9 Alveolização ou picadura A29 Deformação excessiva / assentamento (s)

A10 Lacuna em profundidade A31 Empolamento

A12 Corrosão

Tabela 2 – Extrato da lista de grupos de EFM [1] [2]

Código Grupo Código Grupo 1 Pavimentos e drenagens exteriores 14 Revestimentos de coberturas inclinadas

2 Elementos construtivos exteriores 15 Coberturas em terraço

3 Elementos em betão 16 Tetos falsos

4 Estruturas metálicas 17 Carpintarias

5 Estruturas em madeira 18 Serralharias

6 Alvenarias 19 Vidros e espelhos

7 Divisórias leves 20 Pinturas / marcações / acabamentos

8 Cantarias 21 Equipamento fixo e móvel

9 Juntas de dilatação 22 Instalações de canalização e equipamentos

10 Revestimentos de paramentos 24 Instalações AVAC

11 Revestimentos de pisos 28 Detritos

12 Revestimentos de tetos 29 Deformação excessiva /assentamentos

13 Revestimentos de escadas 31 Empolamento

Tabela 3 – Lista dos espaços funcionais (EF) [3]

Código Espaço funcional Código Espaço funcional EF1 Espaços de ensino, complementares e de apoio EF5 Espaços de direção, administração e gestão

EF2 Espaços para centro de recursos da escola EF6 Espaços de apoio geral

EF3 Espaços sociais e de convívio EF7 Espaços exteriores

EF4 Espaços de apoio socioeducativo

Foram elaboradas fichas de inspeção destinadas a organizar a informação recolhida de forma fiável e consistente. No

cabeçalho da ficha é apresentado o código da anomalia, o nome que a identifica e também a numeração da ficha para

cada anomalia. Imediatamente abaixo do cabeçalho segue-se uma secção destinada à descrição da localização da

anomalia, na qual é colocado o nome da escola, o tipo de espaço funcional e o local específico onde esta ocorre. De

seguida, encontram-se as secções relativas à descrição da anomalia, à indicação do grupo de EFM afetado e ao método

de inspeção utilizado, o que neste caso, se tratou sempre de inspeção visual. As restantes secções a preencher são o

registo fotográfico da anomalia, o campo para registo de observações que possam ser relevantes (por exemplo, se a

anomalia já foi reparada ou se é reincidente), e o nível de gravidade da anomalia através da atribuição dos algarismos 1,

2 ou 3, de acordo com as linhas de orientação existentes na base da ficha de inspeção para a classificação. O nível

atribuído será aquele a que a descrição melhor se coaduna. De uma forma geral, o nível 1 é considerado o nível que

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apresenta menor grau de degradação, que não coloca em perigo a integridade dos utentes e cuja urgência de reparação é

a menor relativamente aos restantes níveis. O nível 2 é o nível intermédio de caracterização, no qual a anomalia já se

manifesta com alguma intensidade e que, apesar de não ser crítico para a saúde e uso dos utentes, será necessário

intervencionar a curto/médio prazo para que o agravamento não ocorra. O nível 3 é o mais grave de todos e traduz uma

necessidade de reparação urgente sendo que a anomalia já se manifesta de uma forma bastante acentuada e extensa e

que pode ser a causa de aparecimento de outras anomalias, para além de poder por em causa a saúde dos utentes. Na

Figura 1 exemplifica-se, para o tipo de anomalia A8 - Descasque ou escamação, as três situações correspondentes aos

níveis de gravidade a adotar para o elemento (10) Revestimento de paramentos no ponto singular das esquinas de

paredes. O nível 1 corresponde ao início da degradação do elemento de revestimento da esquina da parede, com parte

do revestimento que se soltou colocando a cantoneira parcialmente visível. O nível 2 corresponde à evolução da

anomalia, nomeadamente através do aumento da extensão da anomalia com a cantoneira à vista e o nível 3 corresponde

à ausência de revestimento na esquina da parede, com a cantoneira perfeitamente visível e/ou solta.

Figura 1: Exemplificação dos níveis de gravidade para o tipo de anomalia A8 - Descasque ou escamação para o ponto

singular da esquina de parede do EFM 10 - Revestimento de paramentos

2.2 Caracterização dos estabelecimentos escolares na cidade de Lisboa

O estabelecimento escolar A (EEA) situa-se na freguesia do Lumiar, é constituído por um Jardim de Infância e pela

escola de 1º ciclo (EB1), tem uma capacidade para cerca de 340 alunos e entrou em funcionamento no ano letivo de

2001/2002. O lote de implantação é aproximadamente triangular com uma área de cerca de 7 200 m2 (Figura 2a). O

edifício situa-se numa colina, sendo que a sua implantação e conceção foram adaptadas à morfologia do terreno

resultando num desenvolvimento do estabelecimento em plataformas desniveladas com variação do número de pisos

dos diferentes blocos e zonas funcionas.

O estabelecimento escolar B (EEB) situa-se na freguesia de Santa Clara, é constituído por um Jardim de Infância e pela

escola de 1º ciclo (EB1), tem uma capacidade para cerca de 325 alunos e entrou em funcionamento no ano letivo de

2003/2004. Este estabelecimento está implantado num terreno em aterro (monte de São Gonçalo), possuindo um

desnível acentuado nos dois eixos de desenvolvimento da escola. O edifício pode ser dividido em dois grandes blocos,

A e B, conforme se apresenta na Figura 2b. No bloco A, de dois pisos, localizam-se as salas de aula e o núcleo

administrativo e de apoio ao ensino. No bloco B de um piso, funcionam o refeitório, a cozinha, o ginásio e os

balneários.

Figura 2: Localização e delimitação dos Estabelecimentos Escolares A (EEA) e B (EEB) [3] [4] [6]

Na Tabela 1 apresentam-se algumas das principais características dos elementos de construção da envolvente e do

interior dos edifícios e dos espaços exteriores, para os dois estabelecimentos.

A

B

(a) (b)

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S. Raposo, I. Flores-Colen, W. Nogueira e J. Luís, Caracterização do estado de degradação de elementos de edifícios

escolares em serviço

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Tabela 1 – Principais características dos elementos de construção dos edifícios [3] [4] [6]

Elementos EEA EEB

Fundações Estacas Sapatas

Estrutura Estrutura em betão armado e estrutura metálica Estrutura em betão armado

Cobertura

Cobertura invertida em laje de BA

Cobertura em chapa de aço galvanizada metálica Claraboias de material acrílico e em ferro metalizadas e

pintadas a esmalte com vidros duplos temperados

Cobertura invertida em laje de BA

Claraboias em chapa de 16 mm com estrutura em

alumínio termolacado

Paredes exteriores Paredes duplas de tijolo cerâmico furado com isolamento

térmico e caixa-de-ar

Paredes duplas de tijolo furado normal com isolamento

térmico e caixa-de-ar

Vãos exteriores

Caixilharia de alumínio anodizado polido com vidro

simples incolor / Portas em ferro metalizadas e pintadas

com esmalte

Caixilharia em alumínio termolacado com vidro incolor duplo e simples

Proteções de vãos Proteção exterior tipo pala e em lamelas brise-soleil

Proteções interiores de cor clara -

Revestimentos de

paredes exteriores

Pintura sobre reboco / Betão aparente envernizado e

pintado/ Pedra Ataija amaciada / Chapa de aço Contraplacado marítimo

Pintura a tinta plástica sobre reboco / Mosaico 10 x 20 cm

assente com cimento cola / Tijolo com face à vista vermelho / Pedra vidraço de moleanos

Guardas e corrimãos Ferro pintado a tinta de esmalte Guarda de proteção em perfis metálicos

Corrimão em tubo inox

Paredes interiores Paredes simples e duplas de tijolo furado Paredes simples de tijolo furado e de vidro incolor liso

Revestimento de

paredes interiores

Pintura sobre reboco e sobre estuque projetado Pintura a tinta de esmalte

Contraplacado de madeira de tola

Revestimento a azulejo 15 x 15 cm

Pintura a tinta plástica sobre reboco e sobre estuque

projetado

Reboco pintado com tinta plástica com aditivo anti fungos Lambril em painéis de madeira folheada

Lambril em azulejo branco 15 x 15 cm

Revestimento de

pavimentos

interiores

Ligante epóxi / Linóleo / Mosaico hidráulico Taco de madeira / Rodapé em madeira envernizado

Revestimento vinílico com rodapé em madeira

Pavimento para piso desportivo / Mosaico cerâmico de grés antiderrapante / Calçadinha à portuguesa assente

sobre laje / Rodapé em mosaico cerâmico e em madeira

Revestimento de

tetos interiores

Pintura a tinta plástica branca sobre reboco e sobre estuque projetado / Teto falso em gesso cartonado /

Contraplacado de madeira de tola

Teto falso em gesso cartonado hidrófugo

Pintura a tinta plástica branca sobre reboco e sobre estuque projetado / Pintura a tinta plástica com aditivo

anti fungos / Teto falso em gesso cartonado

Sancas e elementos de remate

Vãos interiores Madeira de tola maciça com acabamento a verniz e vidros

laminados incolores / Portas lisas folheadas a tola e

acabamento a verniz acetinado

Portas em madeira revestidas a laminado com óculo

envidraçado a vidro liso incolor com 4 mm

Estabilidade – espaços exteriores

Muros de suporte em betão armado com pintura a tinta plástica sobre reboco

Pavimentos – espaços exteriores

Placas de borracha reciclável e vulcanizada a quente

Betão poroso Pavimento desportivo com marcações a tinta

Placas em betão pré-moldado e calçada de vidraço

Rega betuminosa

Lajetas de betão Betão poroso

Pavimento de segurança no parque infantil

Zonas verdes Placas de relva e diversas espécies de árvores e arbustos Zona relvada e diversas espécies de árvores e arbustos

Rede de rega Aspersores de rega / Tubos de PVC rígido Aspersores de rega

Tubagem em ferro fundido dúctil, PVC e aço inoxidável

Equipamento Equipamento de desporto

Bancos, papeleiras, bebedouros, corrimãos

Rede de vedação em aço galvanizado e prumos de fixação

Equipamento infantil e de desporto

Bancos, papeleiras, bebedouros guarda metálica

Rede de vedação em aço galvanizado e prumos de fixação

3. RESULTADOS

3.1 Elementos da envolvente dos edifícios e espaços exteriores

Foram registadas um total de 68 anomalias, 45 no EEA e 23 no EEB, nos elementos da envolvente dos edifícios e nos

espaços exteriores. Na Figura 3 são apresentadas as percentagens de ocorrência de anomalias por estabelecimento. No

total dos dois estabelecimentos verificou-se que as anomalias dos tipos A7 (fratura/elemento partido), A28 (detritos),

A16 (elementos em falta) e A20 (sem funcionamento) são as que apresentam um maior número de ocorrências com

16%, 13% e 11% (A16 e A20), respetivamente.

Em relação ao local de ocorrência das anomalias verificou-se que do total das 68 anomalias assinaladas, 46 se situaram

na envolvente do edifício e 22 nos elementos dos espaços exteriores. As anomalias mais frequentes na envolvente dos

edifícios são as dos tipos A7 (fratura/elemento partido), A16 (elementos em falta) e A28 (detritos). Estas anomalias

decorrem, em parte, da intensidade de utilização e da falta de realização de operações de manutenção e limpeza, cuja

aplicação poderia corrigir alguns destes tipos de anomalias. Nos espaços exteriores, as anomalias mais frequentes são

do tipo A9 (alveolização ou picadura), A20 (sem funcionamento) e A19 (deficiente funcionamento). A frequência da

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anomalia A9 prende-se com o facto de nestas duas escolas existirem vários elementos em betão armado nos espaços

exteriores, como muros e vedação ou revestimentos de piso. Já as anomalias A19 e A20 têm a sua frequência associada

à existência de elementos cuja funcionalidade não existiu desde a fase de construção dos edifícios ou à inexistência de

atividades de manutenção planeada, como se verificou nomeadamente com a existência generalizada de juntas de

dilatação com elevada degradação [3].

Figura 3: Percentagem de ocorrência de anomalias, por tipo de anomalia, para o EEA (esq.) e para o EEB (dta.) [3]

Na Figura 4 apresenta-se a percentagem de ocorrência de anomalias face ao total das anomalias identificadas durante as

inspeções às duas escolas, repartidas pelos diferentes grupos de EFM. No conjunto das duas escolas o elemento com

maior número de ocorrências é o que se refere ao Revestimento de paramentos (grupo 10) que apresenta 22% do total

das 68 anomalias. Seguem-se os grupos 1 e 2 relativos a Pavimentos e drenagens exteriores e Elementos construtivos

exteriores, com 10% cada. A análise detalhada dos tipos de anomalias no elemento Revestimento de paramentos revela

que as ocorrências por Descasque ou escamação representam 18% do total de anomalias a que se seguem as ocorrências

por Sujidade uniforme, Fissuração orientada, Fratura / elemento (s) partido (s) e Elemento (s) solto (s). O elemento

Revestimento de paramentos encontra-se sujeito a ações de desgaste ao uso e de desgaste causado por fatores

ambientais que se podem relacionar com o aparecimento das anomalias encontradas em revestimentos por pintura e em

mosaicos. A análise diferenciada de anomalias, por EFM e por estabelecimento, revelou que no caso do EEB o maior

número de anomalias se verificou no elemento Coberturas em terraço (grupo 15).

Figura 4: Percentagem de anomalias identificadas, por EFM, face ao total das anomalias identificadas (esq.) e tipos de

anomalias identificadas no EFM 10 Revestimento de paramentos no conjunto das duas escolas (dta.) [3]

A análise aos níveis de gravidade atribuídos às anomalias registadas para as duas escolas revelou que os níveis de

gravidade 2 e 3 representam um total de 40% e 30%, respetivamente. (Figura 5). Tendo em conta que as anomalias de

nível 3 são muitas vezes responsáveis pelo aparecimento de novas anomalias considera-se preocupante a existência de

um elevado número de anomalias classificadas com este nível. Uma análise diferenciada por estabelecimento de ensino

revelou que no caso do EEA os níveis de gravidade 2 e 3 têm um peso de 84% e no caso do EEB tem um peso de 50%,

no universo das anomalias identificadas. Desta análise pode concluir-se que o estado de degradação dos elementos da

envolvente e dos espaços exteriores do EEA apresenta níveis preocupantes de gravidade, tendo em conta a idade pouco

avançada do edifício e que a não aplicação de medidas de manutenção e/ou reparação preventivas e corretivas pode

levar a que o processo de degradação seja acelerado.

A análise da relação da ocorrência de anomalias pelos espaços funcionais revelou que os espaços funcionais mais

afetados foram o EF3 Espaços sociais e de convívio com 45% e o EF1 Espaços exteriores com 36% do total de

anomalias.

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S. Raposo, I. Flores-Colen, W. Nogueira e J. Luís, Caracterização do estado de degradação de elementos de edifícios

escolares em serviço

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Figura 5: Percentagem de anomalias face ao total, por nível de gravidade das anomalias, nas duas escolas (esq.) e por

espaços funcionais (dta.) [3]

3.2 Caracterização do estado de degradação dos elementos interiores dos edifícios

Foram registadas um total de 112 anomalias nos elementos interiores dos edifícios escolares estudados. A distribuição

das anomalias pelas escolas foi semelhante mas com uma ligeira superioridade para o EEB com 55% do total de

anomalias detetadas. Na Figura 6 são apresentadas as percentagens de ocorrência de anomalias por tipo de anomalia,

face ao total das anomalias identificadas, com a sua divisão pelas duas escolas estudadas.

Figura 6: Percentagem de ocorrência de anomalias, por tipo de anomalia, face ao total das anomalias identificadas, com

a divisão pelas duas escolas inspecionadas [4]

As anomalias dos tipos A8 (descasque/escamação), A19 (deficiente funcionamento), A7 (fratura/elemento partido) e A5

(fissuração orientada), A16 (elementos em falta) e A21 (infiltrações) são as que apresentam um maior número de

ocorrências com 16%, 14%, 11% e 9% (A5, A16 e A21) respetivamente. No caso do EEA observou-se que as situações

mais recorrentes de descasque ocorrem sobretudo nos paramentos pintados junto às salas de aulas, em que a degradação

da pintura é acelerada pela colagem (e descolagem) de painéis didáticos e de exposição dos trabalhos dos alunos, e na

ausência de revestimento nas esquinas de parede, nas zonas de corredor de acesso às salas de aula. Constatou-se que

alguns dos equipamentos das Instalações Sanitárias do EEA apresentavam um funcionamento deficiente ou não

funcionavam (torneiras avariadas), sendo este motivo uma das razões para o elevado número de ocorrências das

anomalias dos tipos A19 e A20. No caso do EEB assumiram particular importância as anomalias dos tipos Fissuração

orientada, Fratura/elemento partido e Infiltrações. Este tipo de anomalias encontra-se diretamente relacionado com os

problemas estruturais associados à existência de assentamentos diferenciais do edifício, que se verificaram desde a data

da sua construção, e ao consequente aparecimento de fissuras em paredes e nas juntas de ligação dos blocos A e B [6].

Na Figura 7 (esq.) apresenta-se a percentagem de ocorrência de anomalias face ao total das anomalias identificadas

durante as inspeções às duas escolas, repartidas pelos diferentes grupos de EFM. No conjunto das duas escolas os

elementos mais afetados são o Revestimento de paramentos (grupo 10), Pinturas, marcações e acabamentos (grupo 20)

e Carpintarias (grupo 17) que representam 35%, 16% e 13% do total das 112 anomalias. A análise detalhada dos tipos

de anomalias no elemento Revestimento de paramentos, Figura 7 (dto.) revela que as ocorrências por Descasque ou

escamação representam 29% do total de anomalias a que se seguem as ocorrências por Fratura / elemento (s) partido

(s) com uma frequência relativa de 24%. No grupo Pinturas, marcações e acabamentos verificou-se que este elemento é

afetado sobretudo por Empolamentos (A31) e por Infiltrações (A21), com 33% e 28% do total das ocorrências. No

grupo Carpintarias verificou-se que este é afetado maioritariamente por Infiltrações/roturas. As infiltrações detetadas

provocaram danos sobretudo nos móveis anexos aos lavatórios das zonas húmidas das salas de aula, o que se verificou

várias vezes na escola EEB.

EEA

EEB

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Figura 7: Percentagem de ocorrência de anomalias face ao total das anomalias identificadas repartidas pelos grupos de

EFM nas duas escolas e tipos de anomalias identificadas no EFM 10 Revestimento de paramentos (dta.) [4]

A análise dos níveis de gravidade dos três EFM com maior número de ocorrências, revelou que o grupo Carpintarias

(17) é o que necessita de maiores cuidados de reparação, dado que 63% das anomalias que o afetam serem de nível 3. O

grupo Revestimento de paramentos (10) tem a maior parte das suas anomalias classificadas no nível 2 (57%), sendo

considerado importante proceder à sua reparação por forma a não se verificar um agravamento das mesmas.

No EEA verificou-se uma maior incidência de anomalias nos Espaços sociais e de convívio, com 36% das ocorrências,

correspondendo essencialmente a espaços de corredores de acesso às salas de aula, seguida dos Espaços de ensino,

complementares e de apoio, com 30% de ocorrências e Espaços de apoio geral, com o volume das suas anomalias a

incidir sobre as salas de aula e instalações sanitárias de alunos, respetivamente (Figura 8, esq.). A análise do nível de

gravidade revelou que são os Espaços sociais e de convívio que apresentam maior necessidade de intervenção com 24%

das anomalias classificadas no nível 2 e 6% classificadas no nível 3 (Figura 8, dir.). No EEB os Espaços de apoio geral

apresentam 41% das anomalias identificadas. Constatou-se que os balneários de apoio ao ginásio e à cozinha

apresentavam várias anomalias relacionadas com a existência de elementos partidos e de infiltrações que não foram

reparados. Os Espaços sociais e de convívio, com 39% de ocorrências, englobam as zonas de circulação, onde se

verificaram um número elevado de ocorrências relativas a anomalias de revestimentos cerâmicos e pinturas. A análise

do nível de gravidade revelou que são os Espaços sociais e de convívio que apresentam maior necessidade de

intervenção com 18% das anomalias classificadas no nível 2 e 5% classificadas no nível 3.

Figura 8: Escola EEA – Distribuição da ocorrência de anomalias por espaços funcionais (esq.) e Percentagem de

ocorrência dos níveis de gravidade face ao total das anomalias detetadas (dir.) [4]

3.2 Comparação do estado de degradação de 2007 para 2013

Foram classificados os registos das anomalias identificadas por inspeção visual nestas escolas em 2007 [3] [6] e

utilizando a mesma metodologia verificou-se, com a comparação de níveis de gravidade, a evolução do estado de

degradação das duas escolas. Na Figura 9 apresenta-se um exemplo das tabela comparativa com imagens das anomalias

verificadas em 2007 e 2013 e com referência aos níveis de gravidade que estas apresentaram.

Nos elementos da envolvente constatou-se que dentro do universo de anomalias registadas quer em 2007 quer em 2013

a maioria viu o seu nível agravado (56%). Em 22% dos casos houve uma melhoria do nível de gravidade que se deveu à

intervenção realizada na EEB que contemplou, para além da estabilização estrutural, a limpeza e pintura das fachadas.

Nos elementos interiores verificou-se que a maior parte das anomalias identificadas em 2007 (42%) mantiveram o

mesmo nível de gravidade no de 2013. A situação de agravamento do nível de gravidade ocorreu em 25% das vezes e

em 33% das ocasiões as anomalias identificadas tiveram uma melhoria do seu estado de degradação. Esta melhoria do

estado de degradação (refletida na redução de um ou dois níveis de gravidade) tem relação direta com as obras

realizadas no estabelecimento EEB, entre 2007 e 2013.

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S. Raposo, I. Flores-Colen, W. Nogueira e J. Luís, Caracterização do estado de degradação de elementos de edifícios

escolares em serviço

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Figura 9: Comparação e ilustração da evolução da gravidade das anomalias detetadas em 2007 e 2013 [4]

4. CONCLUSÕES

Neste artigo apresentaram-se os resultados das inspeções realizadas em 2013 a dois estabelecimentos escolares com

pouco mais de uma década de construção. Foi apresentada a metodologia de recolha e tratamento da informação

resultante da realização das inspeções visuais. O tratamento estatístico da informação recolhida permitiu a análise dos

elementos mais afetados e tipos de anomalias associadas, da incidência de anomalias por espaços funcionais e a

classificação das anomalias em três níveis de gravidade.

Constatou-se que os revestimentos de paramentos apresentaram um elevado número de anomalias com elementos

afetados por descasque ou escamação, fraturas e/ou elementos partidos, sujidade uniforme, fissuração orientada e

elementos soltos. Tanto na envolvente como no interior dos edifícios, os revestimentos de paramentos encontram-se

sujeito a ações de desgaste ao uso e de desgaste causado por fatores ambientais que devem ser equacionados durante a

fase de projeto. A existência de elementos com deficiente funcionamento ou sem funcionamento têm a sua origem na

fase de construção dos edifícios ou à inexistência de atividades de manutenção planeada, como se verificou

nomeadamente com a existência generalizada de juntas de dilatação com elevada degradação. As anomalias nos

elementos da envolvente e espaços exteriores apresentaram níveis de gravidade 2 e 3 em 40% e 30% dos casos,

respetivamente, o que é considerado preocupante tendo em conta a idade dos edifícios e que a não aplicação de medidas

de manutenção pode levar a que o processo de degradação seja acelerado.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CERIS e FCT e à Câmara Municipal de Lisboa, em particular às coordenadoras das escolas

visitadas a autorização para o acesso aos estabelecimentos e a disponibilização de informação pertinente para o estudo.

6. REFERÊNCIAS

[1] Flores-Colen, I.; Brito, J. de, “Plano de inspeção e manutenção de edifício escolar – caso de estudo”, Encontro

Nacional sobre Qualidade e Inovação na Construção – QIC, LNEC, Lisboa, 2006, pp. 569-580.

[2] Branco, F. et al., “Construções escolares em Portugal. Tipologias construtivas e principais anomalias estruturais e

de desempenho em serviço”, 3º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios, Patorreb 2009,

FEUP, Porto, Março de 2009, pp. 917-922.

[3] Raposo, S. – A gestão da atividade de manutenção em edifícios públicos. Modelo e definição de estratégias para

uma intervenção sustentável. Tese de doutoramento em Engenharia Civil, IST, 2011, 553 p.

[4] Luís, J. – Caracterização do estado de degradação dos elementos da envolvente e espaços exteriores de edifícios

escolares em serviço. Dissertação de mestrado em Engenharia Militar, IST, 2013, 148 p.

[5] Nogueira, W. – Caracterização do estado de degradação dos elementos interiores de edifícios escolares em

serviço. Dissertação de mestrado em Engenharia Militar, IST, 2013, 202 p.

[6] Raposo, S. et al., “Survey of the state of degradation of the school buildings of the Lisbon region”, Proceedings of

11DBMC – Durability of Building Material and Components, Istanbul, may 2008, 1789-1796.