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CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E PRODUTIVAS DE GENÓTIPOS DE PENNISETUM SP. SOB PASTEJO INTERMITENTE DE OVINOS, NA ZONA DA MATA SECA PERNAMBUCANA 1 Talita Roberta Firemand de Lira Menor 2 , Bruno Leal Viana 3 , Alexandre Carneiro Leão de Mello 4 , Gabriella Pinheiro de Albuquerque 7 , Mário de Andrade Lira 5 , Mércia Virginia Ferreira dos Santos 6 , Paulo Marcílio Correia de Melo 7 , Eduardo Bruno Afonso Ferreira Pita 7 , Janete Gomes de Moura 7 , Thaysa Rebeca Firemand de Lira 7 ________________ 1. Trabalho realizado por meio do convênio UFRPE/IPA, com financiamento do PROMATA, BNB e FACEPE. 2. Graduando em Zootecnia, Bolsista PET Zootecnia MEC/Sesu, da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 50171-900. E-mail: [email protected] 3. Aluno do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia-UFRPE/UFPB/UFC. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 50171-900. E-mail: [email protected] 4. Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia/UFRPE. E-mail: [email protected] 5. Pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco-IPA, bolsista do CNPq. Av. General San Martin, 1371, Bongi, Recife - PE - CEP 50761- 000. E-mail: [email protected] 6. Professora Adjunta do Departamento de Zootecnia/UFRPE, bolsista do CNPq. E-mail: [email protected] 7. Graduando emZootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE Introdução O capim elefante (Pennisetum purpureum Schum.) é uma gramínea forrageira perene, originária da África e largamente utilizada no Brasil. Esta gramínea destaca-se entre as forrageiras mais utilizadas nos sistemas intensivos de produção animal, em decorrência do seu potencial produtivo e de sua qualidade, quando devidamente manejado, Coser [1]. A periodicidade das chuvas no Nordeste do Brasil constitui um fator limitante para a forragicultura, todavia, além da adaptação edafoclimática das espécies, o manejo inadequado pode impedir o melhor aproveitamento de forrageiras com alto potencial produtivo, Santos [2] Ao longo dos anos, muitos esforços têm sido realizados com vistas à utilização do capim elefante para formação de pastagens. Entre esses esforços, destaca-se a seleção de materiais adaptados ao sistema de lotação intermitente, Cunha [3]. Na seleção de materiais para utilização sob pastejo, é de fundamental importância a avaliação das respostas morfológicas e produtivas das plantas ao pastejo, visando obter, ao mesmo tempo,plantas resistentes ao pisoteio, de alto valor nutritivo, produtivas e persistentes. O objetivo desse trabalho foi avaliar morfologicamente o potencial de oito genótipos de capim elefante sob pastejo intermitente, na zona da mata seca de Pernambuco. Material e métodos O experimento foi conduzido na Estação Experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), no município de Itambé, Zona da Mata Seca de Pernambuco. A precipitação média anual na região é de aproximadamente 1.200 mm [4], a temperatura média anual é de 26 º C e a altitude de 190 m. Os tratamentos experimentais foram constituídos de oito genótipos de capim elefante, sendo cinco de porte baixo (Taiwan A- 146 2.37, Taiwan A-146 2.27, Taiwan-146 2.114, Merker México MX 6.31 e Mott), um híbrido interespecífico de capim elefante com milheto de porte intermediário (HV-2.41) e dois de porte alto (Elefante B e IRI-381). Os genótipos foram implantados em parcelas com área de 25 m 2 (5 m x 5 m), sendo 9 m 2 (3 m x 3 m) de área útil, no delineamento de blocos casualizados com quatro repetições. As avaliações foram realizadas em quatro ciclos de pastejo compreendidos no período de setembro/2008 e março/2009. Foram utilizados 25 ovinos Santa Inês, com peso vivo médio inicial de 42 kg, como animais pastejadores em “mob grazing”, objetivando-se altura de resíduo pós pastejo de 0,3 m. Os clones foram manejados sob lotação intermitente, com período de descanso de 32 dias e três dias de pastejo, para os ciclos um e dois, e 64 dias de descanso e dois de pastejo, para os ciclos três e quatro. Os distintos períodos de descanso foram determinados pelas condições climáticas. Quando a altura média dos clones nas parcelas aos 32 dias não atingiu a altura mínima de 0,5 m, os períodos de descanso passaram a ser de 64 dias. O critério utilizado para os dias de permanência dos animais nos piquetes foi à altura média de resíduo pós pastejo desejada. As variáveis morfológicas avaliadas foram: número de perfilhos, número de folhas, número de nós, comprimento de entrenós e relação folha/colmo. Antes da entrada dos animais (pré- pastejo) foram realizadas estimativas de massa de forragem seca verde, obtidas pela utilização do método

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Page 1: CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E PRODUTIVAS DE … · Tabela 1. Características morfológicas de oito genótipos de Pennisetum sp. sob pastejo intermitente de ovinos na zona da mata

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E PRODUTIVAS DE GENÓTIPOS DE PENNISETUM SP. SOB PASTEJO INTERMITENTE DE OVINOS,NA ZONA DA MATA SECA PERNAMBUCANA1

Talita Roberta Firemand de Lira Menor2, Bruno Leal Viana3, Alexandre Carneiro Leão de Mello4, Gabriella Pinheiro de Albuquerque7, Mário de Andrade Lira5, Mércia Virginia Ferreira dos Santos6, Paulo Marcílio Correia de Melo7,

Eduardo Bruno Afonso Ferreira Pita7, Janete Gomes de Moura7, Thaysa Rebeca Firemand de Lira7

________________1. Trabalho realizado por meio do convênio UFRPE/IPA, com financiamento do PROMATA, BNB e FACEPE.2. Graduando em Zootecnia, Bolsista PET Zootecnia MEC/Sesu, da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 50171-900. E-mail: [email protected]. Aluno do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia-UFRPE/UFPB/UFC. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 50171-900. E-mail: [email protected]. Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia/UFRPE. E-mail: [email protected]. Pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco-IPA, bolsista do CNPq. Av. General San Martin, 1371, Bongi, Recife - PE - CEP 50761-000. E-mail: [email protected]. Professora Adjunta do Departamento de Zootecnia/UFRPE, bolsista do CNPq. E-mail: [email protected]. Graduando emZootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE

Introdução

O capim elefante (Pennisetum purpureumSchum.) é uma gramínea forrageira perene, originária da África e largamente utilizada no Brasil. Esta gramínea destaca-se entre as forrageiras mais utilizadas nos sistemas intensivos de produção animal, em decorrência do seu potencial produtivo e de sua qualidade, quando devidamente manejado, Coser [1].

A periodicidade das chuvas no Nordeste do Brasil constitui um fator limitante para a forragicultura,todavia, além da adaptação edafoclimática das espécies, o manejo inadequado pode impedir o melhor aproveitamento de forrageiras com alto potencial produtivo, Santos [2]

Ao longo dos anos, muitos esforços têm sido realizados com vistas à utilização do capim elefantepara formação de pastagens. Entre esses esforços, destaca-se a seleção de materiais adaptados ao sistema de lotação intermitente, Cunha [3]. Na seleção de materiais para utilização sob pastejo, é de fundamental importância a avaliação das respostas morfológicas e produtivas das plantas ao pastejo, visando obter, ao mesmo tempo,plantas resistentes ao pisoteio, de alto valor nutritivo, produtivas e persistentes.

O objetivo desse trabalho foi avaliar morfologicamente o potencial de oito genótipos de capim elefante sob pastejo intermitente, na zona da mata seca de Pernambuco.

Material e métodos

O experimento foi conduzido na Estação Experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), no município de Itambé, Zona da Mata Seca de

Pernambuco. A precipitação média anual na região é de aproximadamente 1.200 mm [4], a temperatura média anual é de 26 ºC e a altitude de 190 m. Os tratamentos experimentais foram constituídos de oito genótipos de capim elefante, sendo cinco de porte baixo (Taiwan A-146 2.37, Taiwan A-146 2.27, Taiwan-146 2.114, Merker México MX 6.31 e Mott), um híbrido interespecífico de capim elefante com milheto de porte intermediário (HV-2.41) e dois de porte alto (Elefante B e IRI-381). Os genótipos foram implantados em parcelas com área de 25 m2 (5 m x 5 m), sendo 9 m2 (3 m x 3 m) de área útil, no delineamento de blocos casualizados com quatro repetições. As avaliações foram realizadas em quatro ciclos de pastejo compreendidos no período de setembro/2008 e março/2009. Foram utilizados 25 ovinos Santa Inês, com peso vivo médio inicial de 42 kg, como animais pastejadores em “mob grazing”, objetivando-se altura de resíduo pós pastejo de 0,3 m. Os clones foram manejados sob lotação intermitente, com período de descanso de 32 dias e três dias de pastejo, para os ciclos um e dois, e 64 dias de descanso e dois de pastejo, para os ciclos três e quatro. Os distintos períodos de descanso foram determinados pelas condições climáticas. Quando a altura média dos clones nas parcelas aos 32 dias não atingiu a altura mínima de 0,5 m, os períodos de descanso passaram a ser de 64 dias. O critério utilizado para os dias de permanência dos animais nos piquetes foi à altura média de resíduo pós pastejo desejada. As variáveis morfológicas avaliadas foram: número de perfilhos, número de folhas, número de nós, comprimento de entrenós erelação folha/colmo. Antes da entrada dos animais (pré-pastejo) foram realizadas estimativas de massa de forragem seca verde, obtidas pela utilização do método

Page 2: CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E PRODUTIVAS DE … · Tabela 1. Características morfológicas de oito genótipos de Pennisetum sp. sob pastejo intermitente de ovinos na zona da mata

direto, por meio do corte de uma touceira contida em uma moldura de 0,5 m2 (0,5 m x 1 m) por parcela, a 5 cm do nível do solo. Após o corte, o número de perfilhos foi determinado por meio de contagem. Do total de cada touceira, foram escolhidos quatro perfilhos de cada clone e separadas as frações folha e colmo, sendo realizada a contagem das folhas dos quatro perfilhos. Em seguida, separadamente, as frações folha e colmo foram pesadas, e levadas para pré secagem em estufa de ar forçado, a 65 °C, por 72 h e mais uma vez pesadas. O peso seco verde das folhas foi dividido pelo peso seco verde dos colmosdeterminando-se a relação entre a duas frações. Nos mesmos perfilhos utilizados para determinação do número de folhas foram determinados a quantidade de nós (contagem) e o comprimento médio dos entrenós (com um paquímetro). A análise de variância e a comparação das médias pelo teste Tukey (P<0,10) foram realizadas com o auxílio do software Sisvar.

Resultados

Com exceção para o número de folhas por perfilho, foram observadas diferenças significativas para todas as demais respostas, entre os clones avaliados (Tabela 1). O genótipo de porte baixo Mott, apresentou menor número de perfilhos, enquanto o genótipo de porte alto Elefante B apresentou maior número, quando comparado aos demais. Já em relação ao número de nós, o Elefante B apresentou maior valor médio e ohíbrido HV-241 apresentou o menor valor médio.

Como já esperado, os genótipos de porte alto Elefante B e IRI-381, juntamente com o híbrido HV-241,apresentaram maiores valores médios de comprimento de entrenós, quando comparado aos clones de porte baixo, não tendo sido observadas diferenças entre os materiais dentro desses dois grupos (alto e baixo).Como conseqüência do maior alongamento do entrenó nos clones de maior porte, observou-se menores valores médios de relação lâmina foliar/colmo+bainha nos clones de porte alto (Elefante B e IRI 381), quando comparado aos clones de porte baixo Taiwan-2.27, MX-6.31 e Mott, ficando os demais em posição intermediária.

Discussão

Segundo Silva & Pedreira [5], dentre os fatores que afetam o fluxo de biomassa, o perfilhamento é o que exerce maior influência sobre o acúmulo de forragem.Assim, Matthew [6] relata que uma comunidade de plantas pode ser considerada uma população dinâmica de perfilhos de vida curta, cujo equilíbrio entre aparecimento e morte é dependente do regime de pastejo adotado.

De acordo com Santos [7], o uso de sistemas de pastejo intermitente com pastagens de capim elefantevem sendo utilizado com o intuito de diminuir os custos e melhorar a qualidade da forragem ofertada para os animais.

Uma alternativa interessante para a utilização de capim elefante na alimentação de pequenos ruminantesseria o uso de genótipos de porte baixo, comumente denominado de anão, uma vez que, em função do menor alongamento dos entrenós (Tabela 1), apresenta menor altura média de plantas, quando comparado aos clones de porte alto, facilitando, assim, o acesso dos animais à forragem. Somado-se a esta característica, pode-se inferir que os materiais de menor porte devem apresentar maior massa de folhas, visto que, apesar de não ter sido detectada diferença no número de folhas entre os materiais avaliados, de maneira geral, os clones de porte baixo apresentam maior número de perfilhos basais, o que também pode ser verificado pela tendência de maiores médias de relação lâmina foliar/colmo+bainha desses clones. Ainda, Resende [8], aponta como vantagens da utilização do capim elefante de porte baixo sob pastejo, a localização dosmeristemas apicais próximos ao solo, o que dificulta a remoção pela ação do pastejo, favorecendo a persistência da pastagem..

Agradecimentos

Agradeço a toda equipe da forragicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco, ao Doutorando Bruno Leal Viana, ao Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) pela importante contribuição em ceder à área experimental e seus funcionários para a realização desta pesquisa.

Referências[1] CÓSER, A. C.; MARTINS, C.E.; CARDOSO, F.P.N. Produção

de leite em pastagem de capim elefante submetida a duas alturas deresíduo pós-pastejo. Ciência e agrotecnologia, v.25, n.2, p 417-423, 2001.

[2] SANTOS, E. A.; SILVA, D. S.; FILHO, J. L. Q. Perfilhamento e algumas características morfológicas do capim elefante cv. roxo sob quatro alturas de corte em duas épocas do ano. Rev. bras. zootec., 30(1):24-30, 2001.

[3] CUNHA, M. V.; SANTOS, M. V. F.; LIRA, M. A.; MELLO, A. C. L.; FERREIRA, R. L. C. F.; FREITAS, E. V.; NUNES, J. C. Características estruturais e morfológicas de genótipos de Pennisetum sp.sob pastejo no período de seca. R. Bras. Zootec., v.36, n.3, p.540-549, 2007.

[4] CPRH, Companhia pernambucana do meio ambiente. Diagnóstico socioambiental do litoral norte de Pernambuco,Recife: CPRH, 2003. 214p.

[5] SILVA, S.C. da; PEDREIRA, C.G.S. Princípios de ecologia aplicados ao manejo da pastagem. In: SIMPÓSIO SOBRE ECOSISTEMA DE PASTAGENS, 3., 1997, Jaboticabal. Anais. Jaboticabal: Funep, 1997. p.1-62.

[6] MATTHEW, C.; HERNANDEZ GARAY, A.; HODGSON, J. Making sense of the link between tiller density and pasture production. Proceedings of New Zealand Grassland Association, v.57, p.83-87, 1996.

[7] SANTOS, A.L.; LIMA, M.L.P.; BERCHIELLI, T.T. et al. Efeito do dia de ocupação sobre a produção leiteira de vacas mestiças em pastejo rotacionado de forrageiras tropicais. Revista Brasileira de Zootecnia,v.34,n.3,p.1051-1059,2005.

[8] RESENDE, K.T.; MEDEIROS, A.N.; PEREIRA FILHO, J.M. Produção de leite de cabras em regime de pasto. In: Seminário Nordestino de Pecuária – PECNORDESTE, 6., Fortaleza, 2002. Anais. Fortaleza: SEBRAE, 2002. p. 203-215

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Tabela 1. Características morfológicas de oito genótipos de Pennisetum sp. sob pastejo intermitente de ovinos na zona da mata seca , Itambé – PE.

Perfilhos basais Folhas Nós

Comprimento deEntrenós Folha/colmo

Genótipos Número cm

Taiwan A-146 2.27 48,6ab1 56,5a 22,9bc 3,75a 0,70bc

Taiwan A-146 2.37 73,6ab 42,8a 19,6abc 6,0a 0,64abc

Taiwan-146 2.11451,9ab 59,6a 22,6bc 5,5a 0,62abc

Merker México MX 6.31 52,7ab 50,0a 16,5ab 6,1a 0,85c

Mott 47,1a 57,8a 18,3abc 3,81a 0,77bc

HV-241 70,1ab 41,1a 13,2a 9,1b 0,50ab

IRI-381 51,4ab 42,0a 24,2bc 9,3b 0,39a

Elefante B 74,3b 47,2a 27,5c 9,9b 0,39a

Média 58,7 49,6 20,5 6,7 0,6

1Médias seguidas de mesma letra no sentido das colunas não diferem entre si pelo teste Tukey (P>0,10)