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51 Características e Controle das Doenças de Verão na Produção Integrada de Maçã Rosa Maria Valdebenito Sanhueza Walter F. Becker José Itamar S. Boneti Yoshinori Katsurayama Ana Beatriz Costa Czermainski O manejo das doenças, na Produção Integrada de Maçãs, é caracterizado por definir a forma mais adequada de reduzir as perdas, causadas pelos patógenos, na cultura, com o uso mínimo de agroquímicos, otimizando o seu uso e escolhendo sempre os mais eficazes, os de menor toxicidade e aqueles que não prejudiquem a sobrevivência dos organismos benéficos para o manejo de pragas. Para que isso ocorra, é indispensável o conhecimento das características das doenças e dos fungicidas, a implementação das estratégias recomendadas para evitar o surgimento de estirpes resistentes dos patógenos a esses produtos, e o uso obrigatório de práticas de manejo da cultura que não causem aumento da suscetibilidade das plantas e/ou favoreçam as condições para o início das infecções, nem que impeçam a proteção adequada da cultura. No caso de alguns dos fungicidas registrados para a cultura apresentarem características indesejáveis para este sistema, os mesmos sofrerão restrição, seja na forma de uso, ou no número de aplicações por ciclo vegetativo. Para a redução e racionalização do uso de fungicidas é indispensável diminuir as fontes de inóculo no pomar. Esta atividade deve ser feita antes e durante o ciclo vegetativo. A seguir, serão descritas as doenças que afetam as macieiras durante o verão. Mancha da Gala (Colletotrichum spp) A doença é conhecida como ‘mancha das folhas da macieira por Glomerella’ e como 'mancha foliar da Gala'. E em estudos iniciais conduzidos em Santa Catarina, a doença foi também citada como mancha necrótica da Gala. Juntamente com a sarna, são as doenças mais importantes da macieira no sul do Brasil. A mancha da Gala afeta principalmente as cultivares do grupo da 'Gala' e da 'Golden Delicious'. Características da doença: A doença foi descrita inicialmente no Paraná em 1983 e, desde então, vem ocorrendo anualmente em toda a região produtora de maçãs do Brasil. O primeiro agente causal identificado foi Glomerella cingulata (Colletotrichum gloeosporioides). Posteriormente, observou- se que Colletotrichum acutatum e Colletotrichum sp. também estão associadas a essa doença, mas a primeira espécie é a mais importante por sua freqüência e potencial patogênico. As primeiras infecções ocorrem, geralmente, nas folhas novas e na parte baixa e interna das plantas (Fig. 1). Logo após a generalização da doença nas plantas inicia-se a queda das folhas e, em menor intensidade, a dos frutos. Os prejuízos relacionados com essa doença são graves e, na ausência de controle, o produtor pode sofrer perda total da produção do ano e reduzir a do ano seguinte. Os danos são oriundos da queda precoce das folhas e das deformações causadas nos frutos (Fig. 2 e 3). A sobrevivência, tanto da fase perfeita (Glomerella cingulata) como a da imperfeita do fungo (Colletotrichum gloeosporioides), ocorre principalmente nos ramos e gemas e, em menor grau, nas folhas das macieiras infectadas do ciclo anterior. A dispersão dos conídios do patógeno é feita pelas gotas de chuva e pelo vento que os carrega a distâncias relativamente pequenas. Observações do início das epidemias mostram que os períodos favoráveis para ocorrência da doença têm se manifestado com maior freqüência a partir do mês de outubro. De acordo com estudos da epidemiologia da doença têm sido mostrado que nas áreas com inóculo disponível, o início da epidemia pode ocorrer nas condições descritas a seguir: a) com duas chuvas consecutivas seguidas de molhamento foliar superior a 10 horas e temperaturas de 14°C até 22°C; b) considera-se um dia favorável (DF) para a ocorrência da doença um período de

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Características e Controle das Doenças de Verão na Produção Integrada deMaçã

Rosa Maria Valdebenito SanhuezaWalter F. Becker

José Itamar S. BonetiYoshinori Katsurayama

Ana Beatriz Costa Czermainski

O manejo das doenças, na ProduçãoIntegrada de Maçãs, é caracterizado pordefinir a forma mais adequada de reduzir asperdas, causadas pelos patógenos, nacultura, com o uso mínimo de agroquímicos,otimizando o seu uso e escolhendo sempreos mais eficazes, os de menor toxicidade eaqueles que não prejudiquem asobrevivência dos organismos benéficospara o manejo de pragas. Para que issoocorra, é indispensável o conhecimento dascaracterísticas das doenças e dosfungicidas, a implementação das estratégiasrecomendadas para evitar o surgimento deestirpes resistentes dos patógenos a essesprodutos, e o uso obrigatório de práticas demanejo da cultura que não causem aumentoda suscetibilidade das plantas e/oufavoreçam as condições para o início dasinfecções, nem que impeçam a proteçãoadequada da cultura. No caso de alguns dosfungicidas registrados para a culturaapresentarem características indesejáveispara este sistema, os mesmos sofrerãorestrição, seja na forma de uso, ou nonúmero de aplicações por ciclo vegetativo.

Para a redução e racionalização do uso defungicidas é indispensável diminuir as fontesde inóculo no pomar. Esta atividade deve serfeita antes e durante o ciclo vegetativo. Aseguir, serão descritas as doenças queafetam as macieiras durante o verão.

Mancha da Gala ( Colletotrichumspp)

A doença é conhecida como ‘mancha dasfolhas da macieira por Glomerella’ e como'mancha foliar da Gala'. E em estudos iniciaisconduzidos em Santa Catarina, a doença foitambém citada como mancha necrótica daGala. Juntamente com a sarna, são asdoenças mais importantes da macieira no suldo Brasil. A mancha da Gala afetaprincipalmente as cultivares do grupo da'Gala' e da 'Golden Delicious'.

Características da doença: A doença foidescrita inicialmente no Paraná em 1983 e,desde então, vem ocorrendo anualmente emtoda a região produtora de maçãs do Brasil.

O primeiro agente causal identificado foiGlomerella cingulata (Colletotrichumgloeosporioides). Posteriormente, observou-se que Colletotrichum acutatum eColletotrichum sp. também estão associadasa essa doença, mas a primeira espécie é amais importante por sua freqüência epotencial patogênico. As primeiras infecçõesocorrem, geralmente, nas folhas novas e naparte baixa e interna das plantas (Fig. 1).Logo após a generalização da doença nasplantas inicia-se a queda das folhas e, emmenor intensidade, a dos frutos. Osprejuízos relacionados com essa doença sãograves e, na ausência de controle, o produtorpode sofrer perda total da produção do ano ereduzir a do ano seguinte. Os danos sãooriundos da queda precoce das folhas e dasdeformações causadas nos frutos (Fig. 2 e3).

A sobrevivência, tanto da fase perfeita(Glomerella cingulata) como a da imperfeitado fungo (Colletotrichum gloeosporioides),ocorre principalmente nos ramos e gemas e,em menor grau, nas folhas das macieirasinfectadas do ciclo anterior. A dispersão dosconídios do patógeno é feita pelas gotas dechuva e pelo vento que os carrega adistâncias relativamente pequenas.

Observações do início das epidemiasmostram que os períodos favoráveis paraocorrência da doença têm se manifestadocom maior freqüência a partir do mês deoutubro. De acordo com estudos daepidemiologia da doença têm sido mostradoque nas áreas com inóculo disponível, oinício da epidemia pode ocorrer nascondições descritas a seguir:a) com duas chuvas consecutivas seguidas

de molhamento foliar superior a 10 horase temperaturas de 14°C até 22°C;

b) considera-se um dia favorável (DF) paraa ocorrência da doença um período de

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molhamento foliar de no mínimo 10horas na presença de chuva comtemperatura igual ou superior a 15°C.Havendo três DF seguidos considera-secomo sendo um período favorável (PF)para o início da epidemia.

Após a constatação da doença no pomar,basta apenas um período favorável para quenovos focos da doença se estabeleçam. Deum modo geral, a doença se torna severaquando as precipitações se tornamfreqüentes ou contínuas, predominam osperíodos de molhamento foliar longos e deumidade relativa alta, principalmente quandoa temperatura média é superior a 16°C. Operíodo de incubação (da inoculação até oaparecimento dos sintomas) sob condiçõescontroladas é muito curto, cerca de 45 horasnas folhas e 96 horas nos frutos, entretanto operíodo latente (da inoculação até oaparecimento da estrutura do patógeno) érelativamente longo, cerca de duas semanasem condição ambiente. Períodos marginaispara a infecção ocorrem nas condiçõesantes descritas, mas com temperatura entre12°C a 14°C e, nessa condição, os sintomaspodem surgir após 7 a 10 dias. Avaliaçõesda suscetibilidade de cultivares a estadoença mostraram que as cvs. MolliesDelicious, Fuji, Fuji Suprema, Fred Hough,Baronessa, Imperatriz, Everest Griffier,Hiliery, Malus atro-sanguinea e Malusrobusta são resistentes, enquanto que Gala,Royal Gala, Pink Lady, Golden Delicious,Belgoden, Condessa, Lis Gala e GrannySmith são suscetíveis.

Sintomas: Nas folhas, as lesões sãoinicialmente avermelhadas, sem margensdefinidas, distribuídas ao acaso no limbofoliar e de tamanho que varia de 1 mm a 4mm de diâmetro. Essa lesão evolui atétornar-se amarelo-acinzentada às vezes commargens marrom-avermelhadas. No centrodas lesões antigas, desenvolvem-se pontosescuros, acérvulos e peritécios que são oscorpos de frutificação do fungo causador dadoença. As manchas nos frutos epedúnculos são superficiais, de cor marrom-claro, esféricas, de 1 mm a 3 mm dediâmetro, escurecendo e cicatrizando aseguir (Fig. 2). Não há desenvolvimentoposterior dessas lesões na forma depodridão amarga. No entanto estirpesassociadas à podridão amarga das maçãs,que estejam contaminando a superfície,podem infetá-los a partir das lesões nosfrutos. Infecções iniciadas nos frutos, logoantes da colheita, podem continuar seu

desenvolvimento durante a frigorificação e acomercialização das maçãs.

Controle: Na Produção Integrada, aspráticas de controle mais importantes estãorelacionadas com o manejo das plantas(poda e condução) e a profilaxia, visandoreduzir as fontes de inóculo, para que, naprimavera seguinte, haja a menor quantidadepossível de doença. Assim, no inverno,deve-se promover a decomposição dasfolhas, proteger as plantas com fungicidas(calda sulfocálcica e fungicidas à base decobre), além de retirar e queimar os restosde poda e os frutos mumificados.

Na primavera, as práticas têm por objetivoaumentar a ventilação para diminuir oacúmulo de umidade ao redor das plantas,reduzir a duração do período de molhamentofoliar dos frutos e otimizar a proteção química.Além disso, deve-se também retirar e destruiros frutos com podridão amarga, e escolhercultivares polinizadoras não suscetíveis aoataque de G. cingulata/C. gloeosporioides nospomares de Gala e Golden Delicious e dasoutras cultivares suscetíveis.

Ainda, é obrigatório que o pomar seja mantidolivre de ramos, folhas ou frutos doentes,formar as plantas com ramos dispostos àaltura mínima de 80 cm do solo, utilizar podae/ou nutrição equilibrada para obter plantassem enfoliamento excessivo, melhorar adrenagem do pomar, utilizar quebra-ventosnão compactos e manter as invasoras nafileira no máximo a 20 cm de altura.

O controle químico da mancha da Gala éefetuado com o uso dos fungicidasmancozeb, metiram, propineb, famoxadone +mancozeb, piraclostrobina + metiram, captan+ espalhante adesivo, folpet, fluazinam,propineb, dithianon, chlorothalonil ebenzimidazoles + fungicida protetor(Tabela 1) e hidróxido de cobre, o que deveser utilizado a cada três pulverizações comos fungicidas de síntese antes citados. Autilização de fosfitos de potássio são úteis nocontrole da doença e devem ser sempreaplicados junto aos fungicidas protetores, emaplicações intercaladas para não causaremfitotoxicidade. A citação da ocorrência deestirpes resistentes de Glomerella cingulataaos benzimidazóis e às estrobilurinas, alémdo fato de C. acutatum não ser sensível aosbenzimidazóis exigem que se unem comestes produtos as estratégias necessáriaspara evitar o surgimento de resistênciageneralizada a esses grupos de fungicidas.

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Tabela 1. Produtos recomendados para o controle das doenças de verão da macieira na PIM(Grade consultada em www.cnpuv.embrapa.br).

Marca comercial/ingrediente ativo Dose ( g ou mL de produtocomercial/100 L de água) 1

Protetores convencionais (sem restrição de uso)Captan 500 PM /captan 240Captan SC /captan 250Captan Fersol 500 PM/captan 240Orthocide 500 /captan 240Folpan Agricur 500 PM/folpete 210Frowncide 500 SC/fluazinam 100Delan/dithianon 125Chlorothalonil 2

Isatalonil/chlorothalonil 300Bravonil Ultrex 825 GD/chlorothalonil 150Ditiocarbamatos 3

Manzate 800/mancozeb 200Manzate Gr Da/mancozeb 200Antracol 700 PM/propineb 4 kg/haDithane WP/mancozeb 200Dithane NT/mancozeb 200Polyram DF/metiram 3 kg/haMancozeb Sanachem 800 WP/mancozeb 200Midas BR/famoxadone + mancozeb 1204Cabrio Top/piraclostrobina + metiram 250Benzimidazois 4

Fungiscan 700 PM/tiofanato metílico 70Cercobim 700 WP/ tiofanato metílico 70Metiltiofan/tiofanato metílico 90CúpricosCuprozeb/oxicloreto de cobre + mancozeb 200Garra 450 PM 70-100 (ciclo vegetativo)**

250 (tratamento de inverno)Cupravit azul BR/oxicloreto de cobre 300Cuprogarb 500/oxicloreto de cobre 250 (tratamento de inverno)Fungitol azul/oxicloreto de cobre 300 (tratamento de inverno)FosfitosFitofos K Plus/fosfito de K 300Nutrifolha Phosphorous-K/fosfito de K 200Phitosol PK/fosfito de K 200Nutriphite/fosfito de K 200Growmaster Premium 00-20-20 2 L/haNutex Premium 00-20-20 300Phytogard Potássio 200Fosfito QO 300Phosphilux Super 100-54-36 100Starphos 00-30-20 200Starphos 00-28-26 200Phytogard Cálcio 200CaldasCalda bordalesa/pomar 0,5-2% (tratamento de inverno)Calda sulfocálcica 1-5°Be (tratamento de inverno)Calda seca/calda sulfocálcica 3-4 kg/ha (tratamento de inverno)

1 Dose produto comercial por 100 L e 1.500 L/ha.2 Utilizar até três aplicações por ciclo vegetativo para cada patógeno visado.3 Os fungicidas do grupo dos ditiocarbamatos (até 4 kg/ha) devem ser sempre utilizados alternando-os com outros gruposdurante o período de proteção das macieiras no verão. O uso seqüencial somente será permitido em períodos de alto riscode epidemia.4 Utilizar até três aplicações por ciclo vegetativo (observar a sensibilidade ao patógeno).Obs: Usar Captan + Ag Bem 0,01% para mancha da Gala.** Utilizar na proporção de 1 em cada 3 tratamentos fungicidas para evitar fitotoxicidade.

Os fungicidas citados incluídos na Grade deAgroquímicos da PIM devem ser utilizadosna dose registrada, em intervalos máximos

de 10 dias, e/ou considerando-se que asplantas estão desprotegidas, sempre que achuva acumulada no intervalo atinja 30 mm.Os fungicidas do grupo dos ditiocarbamatos

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devem ser sempre utilizados alternando-oscom outros grupos durante o período deproteção das macieiras no verão. O usoseqüencial somente será permitido comautorização do técnico responsável, emcondições de alto risco de epidemia e/ouquando o intervalo entre o tratamento sejaigual ou maior a dez dias.

As aplicações devem ser feitas com osequipamentos regulados de acordo com ovolume da copa das árvores, para conseguir acobertura uniforme e total dos frutos e folhas.

Após a colheita, as plantas infectadas devemcontinuar sendo pulverizadas até o fim demarço, para reduzir o inóculo no pomar, evitara queda precoce das folhas e prevenirprejuízos no desenvolvimento e qualidade dasgemas frutíferas para o próximo ciclovegetativo. Isto pode ser feito com osfungicidas ditiocarbamatos e os cúpricos,utilizando-os, alternadamente, com outrosfungicidas protetores.

Podridão amarga ( Glomerellacingulata /C. gloeosporioides e C.acutatum )

Características da doença: O patógenopode sobreviver nos frutos mumificados, noscancros e na superfície das plantas. Ainfecção começa pela epiderme intactamesmo sem ferimentos. Contudo, feridasabertas por insetos, granizo ou por outrosagentes, na epiderme, facilitam a infecção. Adoença ocorre em períodos chuvosos e comalta umidade relativa numa ampla faixa detemperatura. Entretanto, as condiçõesótimas para ocorrência da doença ocorrementre 22°C a 26°C. Uma grande parte dasinfecções completam seu ciclo ainda nopomar, mas outras continuam a sedesenvolver durante o armazenamento emcâmara frigorífica. Os patógenos causampodridões em várias fruteiras de climatemperado. Massas alaranjadas de conídiossão produzidas nos acérvulos que seapresentam em anéis concêntricos sobre aspodridões e, no caso das lesões causadaspela fase perfeita, no centro delas, podeocorrer o desenvolvimento de peritécios decor escura. Os conídios são disseminadosprincipalmente pela chuva e os ascosporosliberados pela chuva e dispersos pelo vento.Os frutos são suscetíveis à infecção a partirda terceira semana de formação até acolheita. Foi observado também que estirpesde Colletotrichum infectam as flores e frutosnovos, além de causar lesões necróticas nas

folhas de Gala. Todas as cultivares sãosuscetíveis, entretanto as perdas podem sermaiores nas cvs. Fuji, Golden Delicious,Granny Smith, Willie Sharp e Catarina.

Sintomas: Podridão firme, aquosa,deprimida, circular e de cor marrom. Naepiderme afetada podem ser observadoscírculos concêntricos, com pontos alaranjadosde aspecto ceroso correspondentes àsfrutificações conidiais (Fig. 4) e, no caso daslesões serem originadas pela fase perfeita (G.cingulata), pequenas elevações pretas, osperitécios, desenvolvem-se no centro daslesões.

Nas lesões iniciais, a polpa afetada podeapresentar forma de cone invertido.

Controle: A redução do inóculo inicial éobtida pela remoção e destruição de frutosdoentes e mumificados, ramos com cancros eramos da poda de inverno, práticas quedevem continuar durante a primavera.

O controle químico tem mostrado resultadosvariáveis, provavelmente por seu sucessodepender da sensibilidade aos fungicidasdos isolados patogênicos dominantes nopomar. Os produtos recomendados para ocontrole desta doença são: folpet, captan,dithianon, chlorothalonil e benzimidazois(Tabela 1). Estes últimos, porém, sãoefetivos para C. gloeosporioides e não paraC. acutatum. Os fungicidas do grupo dosditiocarbamatos devem ser sempre utilizadosalternando-os com outros grupos durante operíodo de proteção das macieiras no verão.O uso seqüencial somente será permitidocom autorização do técnico responsável, emcondições de alto risco epidemiológico e/ouquando o intervalo entre o tratamento sejaigual ou maior a dez dias.

Podridão branca das maçãs ecancro de papel das macieiras(Botryosphaeria dothidea)

Características da doença: Um dos fatoreslimitantes à produtividade da macieira cv.Fuji, no Brasil, tem sido a ocorrência deBotryosphaeria dothidea, sin. B.berengeriana, fungo que causa cancros epodridão branca dos frutos nas principaisregiões produtoras de maçã. Essa podridãoé uma das doenças de verão das macieirasde mais difícil controle. A doença ocorretanto nos Estados Unidos da América comona América do Sul e torna-se evidente àmedida que se aproxima a colheita, quandohá maior restrição ao uso de fungicidas. Em

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anos com verões chuvosos e temperaturasamenas, a podridão branca causa perdas demais de 30% da produção no Brasil, e hárelatos de até 100% de infecção de maçãsnos pomares dos Estados Unidos daAmérica.

Com exceção do relato da constatação deocorrência da podridão branca, ascaracterísticas do patógeno e da doençatêm sido muito pouco estudadas no Brasil.Relatos recentes desenvolveram métodosde detecção precoce de infecções latentesde maçãs por B. dothidea e provaram queconídios e ascosporos do patógeno sedesenvolvem nos ramos de poda e esteprocesso ocorre em meses diferentes emcada ciclo. As pesquisas definiram que nãohá diferença entre as incidências em frutasde diferentes posições na árvore. A análisedo padrão de distribuição da doençamostrou que as árvores doentes estavamagregadas e que os frutos estãoligeiramente agregados nas árvores.

O patógeno sobrevive em frutosmumificados, nos cancros dos ramos etronco e nos ramos de poda que ficam nasplantas ou no solo e, a partir deles, naprimavera, inicia a liberação de ascosporose/ou conídios, os quais vão infectar os frutosem desenvolvimento. Os conídios sãodisseminados principalmente pela chuva, eos ascosporos liberados pela chuva edispersos pelo vento. A infecção ocorre porpenetração direta na presença demolhamento, e a temperatura ótima paragerminação é de 28°C a 32°C. Um modelode previsão de ocorrência da podridãobranca foi desenvolvido nos Estados Unidosda América e tem o objetivo de racionalizar ouso de fungicidas, mas ainda não foivalidado no campo. No Brasil tem sidoobservado que as infecções ocorrem apósuma chuva, com 24 h de molhamento foliar ecom temperaturas entre 18°C e 22°C.

Há informações contraditórias, na literatura,quanto à época de ocorrência das infecções.Assim, pesquisadores associaram o início dainfecção de frutos com a detecção de, nomínimo, 10,5°Brix de sólidos solúveis, mas,posteriormente, outros autores relataram aocorrência da infecção no ciclo inteiro.

O patógeno pode infectar frutinhos recémformados, os que posteriormente semumificam, frutos imaturos e no geral ainfecção permane na forma de lesõeslatentes até o início da maturação dasmaçãs. Perdas elevadas por esta doençatêm sido constatadas em maçãs que

apresentam rachaduras ou irregularidadesna cutícula causadas por russeting,escaldadura pelo sol ou danos por toxicidadede agroquímicos, pelo granizo ou peloataque de insetos.

Sintomas da podridão branca : Inicialmentese observa uma mancha pequena de 1 mm a3 mm de diâmetro que, quando localizada naface da fruta exposta ao sol, é intensamenteavermelhada escurecendo e necrosando aseguir. Em condições marginais para odesenvolvimento da podridão, esta lesãoevolui para uma podridão marrom-escura, àsvezes com círculos mais escuros econcêntricos, e os tecidos infectados da polpasão de cor marrom e com a área de avançoarredondada (Fig. 5). As margens entre ostecidos doentes e sadios são bem definidas.Se as condições para a infecção sãoadequadas, a partir do ponto inicial deinfecção, desenvolve-se uma podridão brancaque afeta o fruto todo, com exsudação easpecto estufado (Fig. 6). Sob condições deumidade, podem se formar, na epiderme dosfrutos afetados, estruturas escuras quecorrespondem aos picnídios e que podemproduzir massas de conídios brancos. Ossintomas iniciais da podridão branca sãofacilmente confundidas com as lesõeslanticelares de causa abiótica, daí anecessidade do diagnóstico correto.

Cancro papel: São lesões de cor marrom-avermelhadas e secas, iniciando-se ao redordas gemas, ou nos setores dos ramos comferimentos ou danos causados pelo frio, pelocalor ou pelo granizo (Fig. 7). Nas áreascolonizadas pelo patógeno, a epidermedesprende-se como se fosse uma folha depapel, daí a origem do nome da doença. Nasuperfície da área infectada, desenvolvem-sepicnídios e/ou peritécios do patógeno.

Controle: O controle desta doença deve serbaseado, essencialmente, na redução dasfontes de inóculo que se encontram nopomar, principalmente colonizando os ramosda poda de inverno e de verão nos frutosmumificados e nos cancros dos ramos. Paraisto, é necessária a remoção e queima dosramos grossos e com cancros da poda deinverno, e a trituração e incorporação no solodos ramos de poda mais finos – menores de3 cm de diâmetro. Os frutos mumificadosdevem ser retirados, no máximo, até omomento da quebra de dormência eenterrados. A diminuição de inóculo inicialdeve ser feita, também, através detratamentos com fungicidas cúpricos e caldasulfocálcica durante o inverno, e comfungicidas protetores aplicados logo após a

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quebra de dormência para diminuir ospropágulos que se encontram nas gemas.

O uso de fungicidas protetores, associadosaos tebuconazole, utilizado para o controlede sarna durante o início dodesenvolvimento dos frutos, contribui para adiminuição da infecção das maçãs. Apósesse período, as macieiras podem sertratadas com fungicidas protetores, utilizadospara as outras doenças de verão (mancozeb,captan + espalhante adesivo, folpet,fluazinam, propineb, dithianon, chlorothalonil,benzimidazóis + fungicida protetor. Osfungicidas chlorothalonil e benzimidazóis nãopodem ser utilizados mais do que três vezespor ciclo vegetativo. Os fungicidas do grupodos ditiocarbamatos devem ser sempreutilizados, em alternância com outros grupos,durante o período de proteção das macieirasno verão. O uso seqüencial somente serápermitido com autorização do técnicoresponsável, em condições de alto riscoepidemiológico e/ou quando o intervalo entreo tratamento seja igual ou maior a dez dias.

O controle químico curativo das infecçõeslatentes causadas por B. dothidea tem sidoobtido quando usados os fungicidasbenzimidazóis para tratamento de maçãsantes da armazenagem, no entantoaplicações desses produtos, em pós-colheita, sofrem restrições para frutosconsumidos in natura o que recomenda asua substituição por outros métodos decontrole. A estimativa correta da incidênciade infecções latentes da podridão branca emmaçãs, em frutos amostrados no período depré-colheita, permite ao produtor oacompanhamento do efeito das práticasutilizadas na incidência da doença e aprevisão das perdas de frutos paracomercialização. A visualização desses tiposde lesões causadas pelos fungosBotryosphaeria, Glomerella e Colletotrichumpode ser feita pela aceleração da maturaçãopelo efeito de temperatura de 22°C a 26°C.

Podridão “Olho de boi” e cancrodos ramos por Cryptosporiopsisperennans /Pezicula malicorticis eC. sp.Características da doença: Essa doença,que foi identificada pela primeira vez noBrasil, nos municípios de Vacaria e Tainhas,RS, e em Fraiburgo, SC, no ano de 1996,atualmente vem crescendo em importância,estando disseminada por todas as regiõespomícolas do sul do Brasil. A sobrevivênciado patógeno ocorre nas gemas, nos ramos e

cancros (Fig. 8). Os conídios são lavados dosramos pela chuva, e os ascosporos, formadosnos ramos de mais de dois anos, são ejetadose transportados pela correntes de ar. Adoença ocorre em regiões com invernossuaves, e as condições propícias para ainfecção são alta pluviosidade e temperaturamédia entre 16°C a 24°C, especialmente noperíodo próximo da colheita. A podridão sedesenvolve rapidamente entre 18°C a 24°C,mas também durante a frigorificação dasfrutas a 0°C e o desenvolvimento de sintomaspode continuar até 30 dias após a retirada dafruta das câmaras frias. A infecção se iniciapela epiderme intacta, ou pelas lenticelas,pode ocorrer durante todo o ciclo, masconcentra-se quando o fruto está próximo damaturação. Apesar do patógeno não precisarde ferimentos para iniciar a infecção, oprocesso é facilitado pela ocorrência delesões causadas por granizo ou insetos e napresença de lesões nas lenticelas. Ossintomas se manifestam nos períodos de prée pós-colheita.Sintomas: Podridão marrom-clara com ocentro amarelo-pálido, de forma mais oumenos circular, às vezes com margensmarrom-escuras ou avermelhadas, deprimida,de textura firme e desenvolvimento lento.Internamente, os tecidos apresentam-sedesidratados e com cavernas que surgem nocentro da lesão e/ou em outras áreas dapodridão como resultado da compactação deáreas afetadas (Fig. 9). Nos frutos compodridão desenvolvida sob condições maisfavoráveis, a podridão é marrom clara naepiderme e na polpa, de textura firme eaquosa e com o centro amarelado. Asmargens entre os tecidos doentes e sadiossão bem definidas. Sob condições deumidade, no centro das lesões mais velhas,podem se formar estruturas escuras(acérvulos) que produzem massas deconídios branco-alaranjados.

Controle: A redução de inóculo é obtidaprincipalmente com a eliminação dos cancros,visto que neles se formam tanto a faseperfeita como a imperfeita do patógeno. O usode fungicidas cúpricos no inverno, e deprotetores em pré-colheita auxilia na reduçãodas perdas por essa doença. A detecçãoprecoce da infecção, nos frutos, pelaincubação em condições de alta umidade etemperatura de 18°C a 20°C, é recomendadapara decidir a comercialização rápida doslotes de frutos já infectados.

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Podridão carpelar ( Alternaria spp,Fusarium spp, Botrytis cinerea,Botryosphaeria dothidea,Cryptosporiopsis perennans , etc.)

Características da doença: Essa moléstia éde grande importância no Brasil e seconsidera conseqüência das característicasmorfológicas da fruta. Ocorre com maiorfreqüência nas cultivares que possuem canalcalcinar curto e aberto como a cv. Fuji e as dogrupo Delicious. Os fungos predominantes, naépoca em que os frutos apresentam estaabertura, penetram até a cavidade doscarpelos e, dependendo do vigor das plantase provavelmente da qualidade dos frutos,podem desenvolver ou não a podridãocarpelar. A decomposição dos tecidos daregião carpelar das maçãs poderá ocorrer empré ou em pós-colheita.

Sintomas: Os frutos afetados no campo sãomais coloridos, às vezes apresentandoexsudação pela cavidade calcinar, geralmentedeformados e, no geral, não se desenvolveme caem antes da colheita. Entretanto, osfrutos afetados (> de 10% da produção)podem não apresentar sintoma na colheita, sómanifestando podridões internas durante afrigorificação e comercialização. Na regiãodos carpelos, e dependendo do tipo depatógeno envolvido, desenvolvem-sepodridões secas ou aquosas, de cor preta,amarela, marrom-clara ou escura (Fig. 10 e11).

Controle: Não existem medidas que tenhamse mostrado eficazes para diminuir aseveridade dessa doença. Relatos depesquisa têm mostrado que os tratamentos,durante a floração com os ditiocarbamatos,não reduzem significativamente a doença,enquanto que a aplicação de kresoxim-methile o difenoconazole reduzem a incidência delaem até 40%.

Mancha necrótica foliar

Características da doença: É um distúrbiofisiológico que tem relação com alternância detemperaturas, chuva e baixa luminosidade.Afeta principalmente a cv. Golden Delicious ecultivares relacionadas.

Sintomas: Caracteriza-se pela ocorrência demanchas necróticas irregulares nas folhasmaduras. No geral, as folhas do segmentomédio dos ramos são mais afetadas. Aslesões afetam exclusivamente, as folhas quesão inicialmente amareladas e logo tornam-senecróticas, amarelecendo e ocorrendo suaqueda a seguir (Fig. 11 e 12). O problemaocorre, no geral, a partir de dezembro e émais grave no fim do verão.

Controle: Aplicações de fungicidasditiocarbamatos, principalmente os quecontêm zinco na sua formulação, têmreduzido a ocorrência desse distúrbio.Resultados semelhantes são obtidos com aaplicação de óxido de Zn.

Doenças menores

Neste grupo, incluem-se a fuligem (Peltasterfructicola, Gastrumia polystigmatis,Leptodontium elatius), a sujeira de mosca(Zygophiala jamaicencis) (complexo cujaetiologia ainda não foi estudada no Brasil) demaior ocorrência nas cultivares de ciclo longoe outras manchas de folhas ocasionalmenteconstatadas. O controle destas doenças éobtido quando são utilizados os fungicidasmencionados para o controle das demaisdoenças de verão, destacando-se osditiocarbamatos e os benzimidazóis. Alémdisso, fosfito de potássio tem sido eficiente nocontrole da fuligem e da sujeira de mosca.

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Fig. 1. Lesões da Mancha da Gala em folhasnovas.

Fig. 2. Pintas e deformação da maçã pelaMancha da Gala (Foto: Rosa Maria ValdebenitoSanhueza).

Fig. 3. Defoliação precoce das macieiras pelaMancha da Gala (Foto: Rosa Maria ValdebenitoSanhueza).

Fig. 4. Podridão amarga das maçãs (Foto: RosaMaria Valdebenito Sanhueza)..

Fig. 5. Sintomas iniciais da Podridão branca(Foto: Rosa Maria Valdebenito Sanhueza).

Fig. 6. Decomposição das maçãs pela Podridãobranca (Foto: Rosa Maria Valdebenito Sanhueza).

Fig. 7. Cancro dos ramos por B. dothidea (Foto:Rosa Maria Valdebenito Sanhueza).

Fig. 8. Cancro e lesão interna do ramo porPezicula malicorticis (Foto: Rosa MariaValdebenito Sanhueza).

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Fig. 9. Podridão ‘olho de boi’ nas maçãs (Foto:Rosa Maria Valdebenito Sanhueza).

Fig. 10. Podridão carpelar causada por Alternaria(Foto: Rosa Maria Valdebenito Sanhueza).

Fig. 11. Podridão carpelar causada porCryptosporiopsis perennans (Foto: Rosa MariaValdebenito Sanhueza).

Fig. 12. Mancha necrótica foliar no pomar (Foto:Rosa Maria Valdebenito Sanhueza).

Fig. 13. Mancha necrótica foliar.

Fig. 14. Sujeita de mosca (Foto: Rosa MariaValdebenito Sanhueza).

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