cara de são paulo

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Universidade de São Paulo 2013 Cara de São Paulo: retrospectiva de 50 notícias selecionadas sobre o Museu Paulista e Museu Republicano "Convenção de Itu" no cinquentenário de sua incorporação à Universidade de São Paulo Vidal, Eduardo Loria ; Pegoraro Junior, Dorival. Cara de São Paulo: retrospectiva de 50 notícias selecionadas sobre o museu paulista e museu republicano "convenção de Itu" no cinquentenário de sua incorporação à Universidade de São Paulo. São Paulo: Museu Paulista - USP; Itu, SP: Museu Republicano Convenção de Itu - USP, 2013. http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/43780 Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI, Universidade de São Paulo Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI Museu Paulista - MP Livros e Capítulos de Livros - MP

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  • 1. Universidade de So Paulo Biblioteca Digital da Produo Intelectual - BDPI Museu Paulista - MPLivros e Captulos de Livros - MP2013Cara de So Paulo: retrospectiva de 50 notcias selecionadas sobre o Museu Paulista e Museu Republicano "Conveno de Itu" no cinquentenrio de sua incorporao Universidade de So Paulo Vidal, Eduardo Loria ; Pegoraro Junior, Dorival. Cara de So Paulo: retrospectiva de 50 notcias selecionadas sobre o museu paulista e museu republicano "conveno de Itu" no cinquentenrio de sua incorporao Universidade de So Paulo. So Paulo: Museu Paulista - USP; Itu, SP: Museu Republicano Conveno de Itu - USP, 2013. http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/43780 Downloaded from: Biblioteca Digital da Produo Intelectual - BDPI, Universidade de So Paulo

2. UNIVERSIDADE DE SO PAULO MUSEU PAULISTA DA USP SISTEMA INTEGRADO DE BIBLIOTECASCara de So Paulo RETROSPECTIVA DE 50 NOTCIAS SELECIONADAS SOBRE O MUSEU PAULISTA E MUSEU REPUBLICANO CONVENO DE ITU NO CINQUENTENRIO DE SUA INCORPORAO UNIVERSIDADE DE SO PAULOORGANIZADORESEduardo Loria Vidal Dorival Pegoraro JuniorMuseu Paulista da USP SIBi - Sistema Integrado de Bibliotecas/USP 3. pg2:Layout 125.11.1312:13Page 1UNIVERSIDADE DE SO PAULO REITORJoo Grandino Rodas VICE-REITORHlio Nogueira da Cruz PR-REITORA DE GRADUAOTelma Maria Tenrio Zorn PR-REITOR DE PS-GRADUAOVahan Agopyan PR-REITOR DE PESQUISAMarco Antonio Zago PR-REITORA DE CULTURA E EXTENSO UNIVERSITRIAMaria Arminda do Nascimento Arruda MUSEU PAULISTA DA USP DIRETORASheila Walbe Ornstein VICE-DIRETORASolange Ferraz de Lima ASSESSORIA DE IMPRENSAEduardo Loria Vidal Dorival Pegoraro Junior SIBI - SISTEMA INTEGRADO DE BIBLIOTECAS/USP DIRETORA TCNICASueli Mara Soares Pinto Ferreira PROJETO GRFICOMarcelo Pacheco Ivan Catunda (assistente) Livro digital falado, em formato Daisy 3.0, produzido por eDaisy. Descrio de imagens - Ver com Palavras Reviso: Denise Cristina C. Peixoto Abeleira CTP, impresso e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de So Paulo Fotos de capa, 4 capa e guardas: Marcelo Pacheco, Jos Rosael e Helio Nobre O MUSEU PAULISTA DA USP AGRADECE A COLABORAO DOS VECULOS DA IMPRENSA QUE AUTORIZARAM A REPRODUO DAS REPORTAGENS.Ficha Catalogrfica elaborada pelo SBD - MP/MRCI - USP Cara de So Paulo: retrospectiva de 50 notcias selecionadas sobre o Museu Paulista e Museu Republicano Conveno de Itu no cinquentenrio de sua incorporao Universidade de So Paulo / Organizao de Eduardo Loria Vidal e Dorival Pegoraro Junior. -So Paulo: Universidade de So Paulo. Museu Paulista, Sistema Integrado de Bibliotecas, 2013. XX p. : il. Obra comemorativa aos 140 anos da Conveno de Itu, 90 anos do Museu Republicano e 50 anos de incorporao USP. ISBN 978-85-89364-09-61. Museus de Histria. I. Vidal, Eduardo Loria. II. Pegoraro Junior, Dorival. III. Universidade de So Paulo. Museu Paulista. IV. Universidade de So Paulo. Sistema Integrado de Bibliotecas. V. Ttulo. CDD 069.0981 4. ApresentaoCara de So Paulo uma justa homenagem imprensa paulista e seu papel na divulgao das aes e da histria do Museu Paulista e do Museu Republicano Conveno de Itu. A publicao rene cinquenta matrias publicadas desde a incorporao dos dois Museus Universidade de So Paulo, h cinquenta anos. A seleo privilegiou matrias especiais de cobertura de temas importantes na trajetria de nossos dois museus: a incorporao Universidade, em 1963, as exposies realizadas, as comemoraes do centenrio da instituio, os projetos especiais de restaurao, documentao e aquisio de acervos, a participao em datas importantes para a Histria do Brasil e as obras e projetos relacionados ao edifcio-monumento. Desde a sua transferncia para o edifcio-monumento construdo no Ipiranga, em 1893, o Museu Paulista sempre esteve presente no imaginrio nacional. Sua popularidade e vocao para cone associado imagem de So Paulo se devem a fatores tais como sua especial implantao em meio a um horto e um jardim em estilo francs, o perfil de suas colees e exposies, e a histrica vinculao com a celebrao da Independncia do Brasil. Mas graas imprensa que a sociedade pode acompanhar as muitas mudanas por que passou o museu. Ela atua como facilitadora para que a populao possa melhor entender a natureza de um museu universitrio comprometido com a pesquisa e a produo de conhecimento histrico sobre a sociedade brasileira. Os visitantes assduos e os futuros visitantes contam com a difuso na mdia das exposies representativas das colees abrigadas no edifcio do Museu de per si um item de acervo por se tratar de uma tipologia arquitetnica nica - que compreendem utenslios domsticos, indumentria, armaria, veculos, fotografias, documentos textuais e outros itens, os quais em seu conjunto demonstram a evoluo material da nossa sociedade com destaque para as transformaes no cotidiano dos sculos XIX e XX. O Museu Paulista (e seu anexo Museu Republicano, inaugurado h 90 anos) foi transformado em instituto universitrio da USP por lei sancionada pelo Governador Carvalho Pinto, em 1963. Na ocasio, o ento diretor do Museu, Dr. Mrio Neme, em visita de agradecimento ao governador, salientou a importncia da vinculao com a Universidade de So Paulo e os resultados esperados: a possibilidade de formao especializada aos alunos, na forma de cursos de extenso, ps-graduao e estgios, bem como o suporte acadmico para o desenvolvimento de pesquisas a altura dos acervos existentes. O Museu Paulista, nos seus 120 anos de existncia, tem ainda atuado firmemente como referncia nacional na formao de tcnicos especializados em restauro e em conservao de acervos. Essas metas vm sendo cumpridas desde ento, sem que se perca de vista o lugar de memria que o Museu representa para a populao que o visita. Em quase 10.000 notas, notcias e matrias especiais divulgadas, as mdias impressa, online e televisiva tm contribudo para manter viva a memria e as aes de ambos os museus. O conjunto de 50 matrias aqui escolhidas uma pequena mostra dessa importante contribuio.Sheila Walbe Ornstein DIRETORA DO MUSEU PAULISTA DA USPSolange Ferraz de Lima VICE-DIRETORA DO MUSEU PAULISTA DA USP 5. Sobre a publicaoA confeco deste livro foi possvel a partir do processo de digitalizao, realizado em 2012, de 1812 reportagens do Museu Paulista, publicadas pela imprensa nos ltimos 50 anos e reunidas pelo Servio de Assessoria de Imprensa do Museu a partir de sua criao h 27 anos. O livro rene um recorte de matrias reproduzidas na ntegra, abrangendo um leque variado de notcias sobre a instituio, revelando sua trajetria atravs das linhas da imprensa, desde 1963, ano de sua incorporao Universidade de So Paulo, at os dias atuais. A grande insero do MP nas mdias deu-se a partir de 1990, quando foi definida atravs do Plano Diretor a especialidade institucional na rea de Histria da Cultura Material, instituindo neste campo as linhas de pesquisa: Cotidiano e Sociedade, Histria do Imaginrio e Universo do Trabalho o que reforou o seu carter histrico, cultural e educacional. O Museu Paulista da Universidade de So Paulo uma instituio mais que centenria (123 anos) e alm de marco da nossa histria, constitui-se um dos quatro museus estatutrios da USP e referncia no mbito nacional, fruto de vrias atividades de pesquisa, curadoria e educacional. Alguns dos temas abordados pela imprensa fazem parte deste livro: exposies, cursos, palestras, workshops, seminrios, simpsios e eventos culturais. Incluem-se neste rol de assuntos fatos relativos s gestes dos diretores da Instituio, compreendidos nestas cinco dcadas. Todo este conjunto apenas um recorte da grande quantidade de reportagens geradas ao longo da criao, tanto do Museu Paulista quanto do Museu Republicano Conveno de Itu, extenso do Museu Paulista, que hoje gozam de uma imagem positiva consolidada na imprensa, tanto escrita como eletrnica (rdio, TV e Internet). Este livro reflexo direto do empenho da equipe do Museu Paulista: diretores, docentes, pesquisadores, funcionrios, colaboradores nas suas reas de atuao e Assessoria de Imprensa, no qual sublinhamos o apoio da Profa. Cecilia Helena Lorenzini de Salles Oliveira bem como do ex-diretores da Diviso de Difuso Cultural: Profa. Dra. Miyoko Makino, Profa. Dra. Maria Jos Elias, Ms. Ricardo Nogueira Bogus, Dra. Maria-Jlia Stefnia Chelini, Prof. Dr. Paulo Csar Garcez Marins. Agradecemos a todos os veculos de comunicao da Universidade de So Paulo, do bairro do Ipiranga, do Estado de So Paulo e tambm da Estncia Turstica da Cidade de Itu, sede do Museu Republicano, pelo apoio irrestrito s nossas duas instituies. O cumprimento extensivo tambm s mdias eletrnicas: Rdio, TV, Web que sempre nos apoiaram tornando os museus reconhecidos e recomendados. Este livro inclui pela primeira vez no MP-USP a questo da acessibilidade, um diferencial para a publicao e os primeiros passos nesta rea editorial. Nossos agradecimentos finais a todos os gestores do Museu Paulista pelo incentivo, aos membros dos Colegiados, da Comisso de Publicaes e do Grupo de Trabalho institudo, pela oportunidade e confiana depositada na Assessoria de Imprensa que corroborou com resultado.Dorival Pegoraro Junior CHEFE DA DIVISO DE RELAES INSTITUCIONAIS MUSEU PAULISTA/USP 6. O trabalho de digitalizao do banco de imprensa do Museu Paulista representa o cumprimento da funo primordial de uma instituio pblica, a prestao de servio a sociedade. O resgate das informaes pelas letras da imprensa a maneira mais fiel e isenta de reproduzir os verdadeiros fatos que contam a histria dos 50 anos de integrao do Museu Paulista USP. Estas 50 reportagens foram escolhidas em um universo de possibilidades e caminhos, pois cada uma representa um pouco da rotina dos profissionais que ajudam esta importante instituio a se manter com objetivos slidos, tanto na parte expositiva quanto na educacional. Espero que o leitor possa compreender um pouco da misso e da representatividade do Museu Paulista da USP e do Museu Republicano Conveno de Itu para a histria do Brasil e a partir deste incio construir a sua identidade junto a instituio.Eduardo Loria Vidal SUPERVISOR DO SERVIO DE ASSESSORIA DE IMPRENSA, MARKETING E RELAES PBLICAS MUSEU PAULISTA/USP 7. 1963O ESTADO DE SO PAULO 01/02/196361968FOLHA DE SO PAULO 15/08/1968 8. 7FOLHA DE SO PAULO 08/09/1972 9. 8 10. 9REVISTA VEJA 20/04/1988 Carlos Arruda 11. 10 12. 11REVISTA VEJA 20/04/1988 Carlos Arruda 13. 12GAZETA DO IPIRANGA 05/08/1988 14. 13JORNAL DA USP 19/06/1989 Carlos Alberto Correa 15. TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 7014JORNAL DA TARDE 16/08/1990 Heleusa Teixeira 16. TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 7015JORNAL DA TARDE 01/12/1990 Ana Cristina Guilhotti Solange Ferraz de Lima Ulpiano T. Bezerra de Meneses 17. 16 18. 17REVISTA VEJA 05/12/1990 19. TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 7218JORNAL DA TARDE 06/07/1991 Vania Carneiro de Carvalho 20. 19GAZETA DO IPIRANGA 19/08/1994 21. TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 7320JORNAL DA USP 22 a 28/08/1994 Leila Kiyomura Moreno 22. TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 7321JORNAL DA TARDE 05/09/1995 Gisele Scalco Ronaldo Albanese 23. 22 24. 23REVISTA DA FIESP 15/07/1996 Suzi Yumi 25. 24 TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 74 26. 25JORNAL DA USP de 05 a 08/11/1996 Miguel Glugoski 27. TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 7526JORNAL DA USP 20 a 26/10/1997 Marcello Rollemberg 28. TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 7627JORNAL DA USP 17 a 23/08/1998 Leila Kiyomura Moreno 29. 28 30. 29REVISTA VEJA 22/12/1999 Alessandro Duarte 31. 30GAZETA DO IPIRANGA 04/10/2002 32. 31O ESTADO DE SO PAULO 06/02/2004 Vanessa Spada 33. 32 34. 33O ESTADO DE SO PAULO 09/03/2004 Camila Molina 35. 34JORNAL DA USP 29/03/2004 Leila Kiyomura Moreno 36. 35JORNAL AGORA 08/09/2004 37. 36O ESTADO DE SO PAULO 11/02/2005 Camila Molina 38. 37JORNAL DA USP 25/07/2005 Crcia Giamatei 39. 38REVISTA VEJA 19/10/2005 Andrea Miramontes 40. 39A FOLHA DE SO PAULO 05/03/2006 Amarlis Lage 41. 40JORNAL AGORA 07/09/2006 Mariana Garcia 42. 41JORNAL PERISCPIO 07/11/2006 43. 42DIRIO OFICIAL 18/01/2007 44. 43JORNAL DA TARDE 05/07/2007 Bruna Fioreti 45. 44REVISTA VEJA 05/09/2007 Gisele Kato 46. 45DIRIO DE SO PAULO 09/11/2007 47. 46 48. 47O ESTADO DE SO PAULO DIRIO DE SO PAULO 09/03/2004 09/11/2007 Autoria: Camila Molina 49. 48JORNAL DA USP 16/06/2008 Jlio Bernardes 50. 49O ESTADO DE SO PAULO 13/08/2008 Rodrigo Brancatelli 51. 50DIRIO DO COMRCIO 05/09/2008 Geriane Oliveira 52. 51JORNAL PERISCPIO 08/11/2008 Mnica Fukuda 53. 52JORNAL DA ZONA LESTE 31/01/2009 54. 53DIRIO DO GRANDE ABC 06/09/2009 55. TEXTO INTEGRAL DESTA MATRIA NA PGINA 7754O ESTADO DE SO PAULO 02/02/2010 Edison Veiga 56. 55JORNAL DA TARDE 13/02/2010 57. 56REVISTA EM CASA Setembro/2010 Gislaine Gutierre 58. 57 59. 58 60. 59REVISTA EM CASA Setembro/2010 Gislaine Gutierre 61. 60IPIRANGA NEWS 30/09/2010 62. 61IPIRANGA NEWS 02/12/2010 63. 62JORNAL DA USP 31/01/2011 Leila Kiyomura 64. 63O ESTADO DE SO PAULO (Blog Curiocidade) 15/07/2011 Marcelo Duarte 65. 64 66. 65O ESTADO DE SO PAULO (Blog Curiocidade) 15/07/2011 Marcelo Duarte 67. 66DIRIO OFICIAL 21/03/2012 68. 67O ESTADO DE SO PAULO 15/04/2012 Artur Rodrigues 69. 68JORNAL PERISCPIO 05/02/2013 70. 69O ESTADO DE SO PAULO 15/04/2013 Edison Veiga 71. Textos na ntegra1990 JORNAL DA TARDE (pgina 14)OS CEM ANOS DO MUSEU DO IPIRANGA Do Brasil colnia at a Repblica, o belo edifcio preserva momentos importantes da histria do Pas. Em Outubro, uma exposio marca os 100 anos deste museu, que recebe 290 mil visitantes por ano. H alguns anos, quando ainda no havia a Rodovia dos Imigrantes, quem viajava para o litoral encontrava, na sada da cidade, uma bela construo, de muitas colunas, um grande jardim em frente, e um herico monumento. No havia criana que no se entusiasmasse com aquela viso. E nossos pais explicavam sempre o mesmo: neste local, em setembro de 1822, o imperador D. Pedro I proclamou a Independncia, voltando para So Paulo. A viagem para Santos ficava ento mais aventuresca na manh de sol. No ms que vem, aquele edifcio que fugiu da nossa rotina, mas recebe cerca de 290.000 visitantes por ano, comemora 100 anos de existncia. Vale a pena visit-lo: aberto de tera a domingo, inclusive feriados, das 09 s 17 horas, o Museu Paulista da Universidade de So Paulo (conhecido como Museu do Ipiranga) cobra um ingresso de Cr$ 15,00 e crianas at 12 anos no pagam. E de 24 de Outubro at Janeiro de 91 oferece uma exposio fartamente ilustrada: s Margens do Ipiranga.70Pouca gente sabe que este grande conjunto situado no bairro do Ipiranga, Zona Sul de So Paulo, mantm um grande acervo que oferece uma retrospectiva permanente do Brasil colonial, imperial e republicano. Idealizado logo aps a proclamao da Independncia, pelo prprio Pedro I, o monumento comeou a ser construdo s em 1885, por ordem do ento presidente da Provncia, Jos Lus dAlmeida Couto, com base num projeto do arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi. Em termos definitivos, a obra foi aprovada por Pedro II, sendo iniciada em abril de 85 e concluda em 1890. O Museu do Ipiranga um palacete em estilo neoclssico italiano, inaugurado cinco anos aps o monumento oferece boas surpresas, como as armaduras de cavaleiros usadas em torneios dos Sculos XVI e XVIII ou os peitorais de escamas usados pelos soldados europeus no Brasil e Amrica Latina, nos Sculos XVII e XVIII. Em Setembro e outubro, costumam se intensificar as visitas ao museu, com a Semana da Ptria. Em 1989, por exemplo, o Museu recebeu 59.247 visitante (sendo mais de 10.000 s no dia 7 de Setembro). Este ano, o Museu Paulista recebeu at julho 76.735 visitantes, sendo 24.705 s em Maio. A maioria composta por estudantes, seguidos de moradores do bairro e de reas vizinhas e pblico interessado em histria. O museu mantm no seu quadro de funcionrios 140 pessoas, em mdia, incluindo 11 historigrafos, 2 muselogos e um programador visual. Tem laboratrio de consultas e restaurao, biblioteca, arquivo, numismtica e laboratrio fotogrfico. Na exposio que se instala em 24 de Outubro, o pblico ver fotografias, desenhos, bilhetes de loteria, postais e objetos do fim do sculo passado e incio deste. Destacam-se fotografias e desenhos doados pela famlia do engenheiro Tommaso Gaudenzio Bezzi, autor do projeto, e partes da maquete em gesso. Sero abordados arquitetura, ornamentos e processo de construo. Com esta mostra, a diretoria do Museu pretende aumentar 30% o nmero de visitantes. De Tibiri Independncia Percorrer as salas e corredores do Museu lembrar um pouco aquelas aulas do tempo do ginsio. Logo no saguo, vemse as esttuas em mrmore dos bandeirantes Raposo Tavarese Ferno Dias, alm de painis que retratam Dom Joo III, Martim Afonso de Souza, Joo Ramalho e Tibiri. Na galeria leste, voc encontra armaduras com estilo castelhano que podiam pesar at 40 quilos, com todos acessrios. Quem caminha pela ala oeste encontra armas austracas, prussianas, americanas e inglesas (entre elas, uma Winchester de 1873), pistolas francesas e at uma Tep arma japonesa do sistema mecha. Na mesma galeria, h liteiras bangus (cadeirinhas cobertas, sustentadas por dois longos varais e conduzidas por animais ou homens), muito comuns na primeira metade do Sculo XIX. H ainda as cadeirinhas de Arruar entre elas a de Domitila de Castro Canto e Mello, a marquesa de Santos. A sala dos Bandeirantes mostra mobilirio dos Sculos XVII e XVIII, objetos de montaria e instrumentos de minerao. Voc encontra tambm telas que marcam momentos histricos, como Desembarque de Cabral em Porto Seguro e Nau Capitania de Pedro lvares Cabral, de Oscar Pereira da Silva. H objetos de grande valor histrico como pedras do Sculo XVI, marco da sesmaria, cruzeiro, pia batismal e partes de pelourinho de So Vicente. Uma sala de visita totalmente reconstituda mostra objetos de luxo usados pela Corte, no sculo XIX, como porcelanas e cristais importados, jarres da China e peas de marfim. O salo nobre no centro do andar superior, totalmente dedicado Independncia. Entre outros objetos que marcaram o movimento, expe a pedra fundamental do Monumento, o capacete de lato da Guarda Imperial de Pedro I, as letras do Hino Imperial e do Hino Constitucional Brasileiro; o relgio de bronze da segunda Imperatriz do Brasil, dona Amlia de Leuchtemberg, uma tela que representa a sesso da Corte de Lisboa, de maio 1822, e o famoso quadro de Pedro Amrico, Independncia ou Morte, que ilustra a maioria dos livros brasileiros de histria. Alm disso, o museu abriga em seu acervo peas de arqueologia, como utenslios e armas em pedra lascada e polida, vasos cermicos de diversas pocas, urnas funerrias e representaes de arte rupestre pr-histrica. Na Sala Marechal Rondon, voc encontra por exemplo um trocano instrumento usado como meio de comunicao, escavado a fogo na madeira. E mais: bodoques e bolas de barro de sertanejos gachos, cuias ornamentais e esculturas em massa de guaran dos sertanejos de Santarm. Heleusa Teixeira___________________________________________ 1990 JORNAL DA TARDE (pgina 15)CEM ANOS S MARGENS DO IPIRANGA A arte de celebrar conheceu no sculo XIX um de seus momentos mais frteis. Por isso, nada h de excepcional em que, menos de cinco meses aps o 7 de Setembro de 1822, tenha surgido a primeira proposta de erigir um monumento Independncia, no prprio local onde ele fora proclamada. Por Ana Cristina Guilhotti Solange Ferraz de Lima Ulpiano T. Bezerra de MenesesAquela primeira proposta de construo de um monumento Independncia, s margens do Ipiranga, foi seguida de numerosas outras. Poder-se-iam, assim, canalizar as energias cvicas da jovem nao, legitimada pela apresentao sensvel de todos os requisitos para construir uma identidade: filiao respeitvel, ao fundadora, data e lugar precisos. Estranhvel, sim, foi a demora em dar corpo a tais projetos, o que somente ocorreu quando se iniciaram, em 25/03/1885, as obras do edifcio que mais tarde abrigaria o Museu Paulista.(1) 72. Neste intervalo, foi o prprio espao desguarnecido transformado em monumento, apenas assinalado por um marco depositado em 1825. A visita ao sempre memorvel stio do Ypiranga, por D. Pedro II e a Imperatriz, em 1846, registrada por aquarela de Miguelzinho Dutra, testemunha a venerao de que era objeto. Nem por outra razo foram recusadas propostas que situavam o monumento dentro da cidade, mas longe do ermo do Ipiranga. Um ponto capital sobressai: o monumento um edifcio, caso nico no pas. Houve propostas de estruturas tradicionais, sem conseqncias. A escultura em suporte monumental somente ter seu quinho no conjunto de autoria de Ettore Ximenes, que comemorar o Centenrio da Independncia, em 1922. O monumento no um edifcio qualquer. um palcio, pois as conotaes de grandiosidade laica que esse tipo arquitetnico encerra convm s novas funes celebrativas. O Ecletismo havia muito estava em curso na Europa e viria marcar, a partir do final do sculo passado, a transformao arquitetnica de So Paulo. (2) No seu bojo, a recuperao e dos estilos histricos utilizar e simplificar o modelo palaciano renascentista, valendo-se de referncias como as codificadas por Vignola. O projeto inicial previa um retngulo alongado e dois braos laterais projetando-se da fachada principal, voltada para a cidade (como consta da maquete da poca). Abandonadas as alas, por razes de economia, restou o retngulo pontuado por trs corpos salientes.(3) O do meio, como arcadas que suportam pares de colunas corntias e fronto, servido por ampla escadaria axial e rampas laterais. Em recuo, torre cujo topo oco e apenas mascara um domo transparente que iluminava os espaos nobres internos. Os corpos das extremidades so torres ligeiramente mais baixas que a central com a qual, alis, no tm comunicao direta. O essencial do edifcio se desenvolve em dois andares, tirante o subsolo e um terceiro andar nas torres. O trreo dispe de um saguo hipostilo(so 24 colunas), de onde parte escadaria monumental que, em dois lances aps um patamar, desemboca no Salo Nobre, por sobre o saguo. Tanto no trreo quanto no segundo andar, corredores laterais servem a uma seqncia de pequenas salas de, em mdia, 55 m2. Alguns traos traem a arquitetura de aparato. aparncia grandiosa do edifcio, visto de fora, no corresponde espao que uma expectativa de hoje, utilitria, exigiria. Basta dizer que para um comprimento de 123 metros, a profundidade de apenas 16 metros, dos quais se devem deduzir os corredores, de 6,5 metros de largura. Destes alm do mais, o superior aberto, em forma de loggia. Os ps-direitos, em compensao so imponentes, chegando a mais de 10 metros. O Subsolo durante muito tempo permaneceu em grande parte entulhado; existem reas que ainda hoje no foram recuperadas. As colunas do saguo de entrada no tm funo importante: basta dizer que no se reproduzem no Salo Nobre, onde o mesmo vo lhes corresponde de no 2 andar. Enfim, preciso assinalar a presena intensiva de um repertrio decorativo arquitetnico, com ornatos sobrepostos, entablamentos completos (sem esquecer as palmetas), janelas com tmpanos, caixotes na parte interna das arcadas, nichos, brases, etc, etc... e at mesmo imitao, ao longo das paredes de alvenaria de tijolos do trreo, de aparelho externo de arquitetura em pedra. Vrias caractersticas fazem deste edifcio referncia excepcional, naquela pequena cidade de So Paulo, entre 1885-90, com apenas 70.000 habitantes: o modelo palaciano, a decorao neo-renascentista, o grande porte (em que pese a escassez de espao interno), a visibilidade total volume solto no espao, visvel de todos os lados e inserido num entorno que mais tarde ser objeto de tratamento paisagstico. Tudo isso a uma longa lgua do permetro urbano.O concurso pblico organizado em 1884 (aps um anterior, abortado, de 1876) indicou vencedores que no foram aproveitados. (4) Em circunstncias ainda pouco esclarecidas, tambm em 1884, contratado como arquiteto o engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi que, alis, j tivera indicao anterior, em 1882. Outro italiano foi convocado: Luigi Pucci, que funcionar como empreiteiro. (Mais tarde um belga, Arsenius Puttemans, executar, de 1907-9, o jardim inspirado em Le Ntre). No contexto, porm, no h contradio (no obstante notas crticas na imprensa), entre tal importao de modelos e executantes e os objetivos da comemorao nacionalista. A organizao do trabalho, ainda que muito mal documentada, tambm representa novidades. Na Europa elas j se tinham incorporado a uma prtica imposta pelas necessidades da sociedade industrial: Detalhamento do projeto, racionalizao das operaes, economia de custos, controle de qualidade dos materiais e servios. Desta nova mentalidade profissional do testemunho os pormenorizadssimos relatrios de Bezzi, suas plantas, desenhos e, em particular, uma maquete em gesso, em escala aproximada 1:30, por ele mesmo executada e por conta prpria, fixando, com extrema preciso, todos os elementos decorativos que deveriam ser produzidos. Na feitura dos ornatos em estuque, o trabalho do Museu precedeu a fase urea do Liceu de Artes Ofcios de So Paulo (fundado 1883), na arregimentao dos capomastri italianos e na qualificao de uma mo-de-obra ento despreparada, e que difundir frmulas e tcnicas de larga utilizao no desenvolvimento urbano de So Paulo, nos fins do sculo XIX e comeos deste. (5) Os materiais empregados tambm no eram usuais, como os tijolos (fabricados na vizinha So Caetano), numa cidade em grande parte ainda de taipa. Mais tarde viro os mrmores, as ferragens, o trabalho em madeira. No incio de 1890, o Governo Provisrio do novo regime republicano incentiva a concluso do edifcio-monumento, mas o vincula a um destino til. A discusso arrasta-se por anos, marginalizando o engenheiro Bezzi. Partidrio de um fim-emsi, ele se envolve em desentendimentos que, aliados a outras motivaes, deslocam sua disputa para o terreno judicirio. (6) Aps ser o edifcio declarado insalubre para funcionamento de uma escola (as salas, todas ao sul, eram varridas pelos ventos midos soprados da Serra do Mar), decide-se, em 1892, para ele transferir o Museu do Estado, criado em 1890 com a oferta, ao governo, da coleo do major Sertrio, que o conselheiro Mayrink adquirir; em 1893 se institui o Museu Paulista, de tipologia semelhante aos outros museus brasileiros oitocentistas: o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o Museu Goeldi, em Belm, e o Museu Paranaense, em Curitiba.(7) Mais que isso, convoca-se um zologo alemo de boa fama, para organizar e dirigir esse museu de Histria Natural, encarregado de transform-lo numa instituio cientfica. Est em causa, aparentemente, o problema do conhecimento, no da educao, muito menos o da formao(cvica) das massas, que o Positivismo, um dos esteios ideolgicos da Repblica, tanto prezava. No se trata de mudana de rumo na apropriao pela Repblica, de um projeto do Imprio. O projeto arquitetnico no trazia Repblica qualquer inconveniente, pois o que estava em jogo era o nascimento de uma nao, e no de um regime poltico especfico. Alm disso, o baro de Ramalho, presidente da Comisso do Monumento, j registrara antigo intento de instalar no edifcio um estabelecimento voltado para a educao e a instruo e uma lei da AssembliaProvincial, de 1885, previa o ensino das cincias fsicas, matemticas e naturais. Doutra parte, o museu histrico, na tipologia do sculo passado, era ainda qualquer coisa de vago, como exemplificam os casos mais antigos, como os museus blicos, ou os museus de Bonn e Budapeste (1848), ou Dsseldorf, Dresden e outros, derivados quase todos do modelo dos museus de arte e antiguidades (Arqueologia). (8) No Brasil, a primeira formulao explcita e exclusiva s vir em 1922, com o Museu Histrico Nacional, no Rio de Janeiro.(9) Tambm inexistia um patrimnio cultural mvel j simbolicamente constitudo, sobre o qual pudesse o museu operar, como templo da devoo nacional. Nem mesmo ocorriam estoques adequados de esteretipos e fetiches, capazes de sintetizar e tipificar atributos da nacionalidade. A noo mesma de documento histrico museolgico apresentava dificuldades que se escamoteavam no privilgio concedido iconografia e aos contedos meramente evocativos. Em contrapartida, o prestigioso o modelo anglo-saxnico do museu de Histria Natural fornecia vantagens apreciveis: nica forma museolgica (em princpio com funes cientficas, educacionais e de entretenimento) articulada, atualizadamente, a um campo do saber. Campo do saber, alis, que fornecia paradigmas para os demais e era capaz de englobar a evoluo biolgica e a cultura, e ordenar o mundo. E, no nosso caso, enraizar e centralizar contribuio esparsa, de tradio antiga, desenvolvida pelos naturalistas viajantes. Quando, em fins de 1916, assume a direo o politcnico transmutado em historiador. Afonso dEscragnolle Taunay, h uma alterao de prumo que no se deve ao novo domnio profissional. So Paulo, fortalecido pelo caf, pela imigrao, pela industrializao incipiente e se tornando uma metrpole local, tem projeto poltico hegemmico na Repblica Velha, que precisa ser legitimado e simbolicamente compartilhado. Taunay vai no somente instalar uma Seo de Histria (com a qual, compensar o descaso do cientista que o precedera), mas, valendo-se da oportunidade dos festejos de 1 Centenrio da Independncia, em 1922, monta, com o edifcio, uma alegoria histrica, dando-lhe eficcia enquanto memorial. No entanto, se o leit-motiv permanece a Independncia, o Museu, agora, verdadeiramente paulista. Crucial, nesse processo, o mito do bandeirante, que o Museu Paulista vai topicamente definir e cristalizar ideolgica e visualmente. O Museu j conta, enfim, com esteretipos, clichs, fetiches, tradies, em que operar. Quaisquer que tenham sido as contribuies das colees e atividades histricas que o Museu passa a desenvolver, mais uma vez no edifcio, na arquitetura e seus pertences escultricos e pictricos que o memorial vai assumir a plena significao. Na ornamentao do saguo hipostilo, da escadaria e do Salo Nobre amarram-se todas as pontas: o territrio que os primeiros ocupantes asseguraram e que os bandeirantes ampliaram est simbolicamente integrado sob a gide da Independncia, bero da nao. (10) A presena, agora j por cem anos, do Monumento nas colinas do Ipiranga, por certo deixou marcas de todas as sortes. Serviu como modelo arquitetnico, ainda que limitado, essencialmente a elementos compositivos e ornamentos. Basta mencionar os inmeros projetos do prprio Pucci para a elite cafeeira recminstalada na cidade, em que comparecem, a loggia, colunatas duplas de ordem corntia e de detalhes ornamentais desenhados por Bezzi elementos radicalmente estranhos linguagem arquitetnica anteriormente praticada. (11) Juntamente como o conjunto escultrico de 1922, o jardim e a avenida D. Pedro I, o prdio do Museu vai dotar o Ipiranga de uma identidade visual como poucos bairros de So Paulo puderam ter. Como espao celebrativo, de contemplao e de lazer, foi sempre responsvel por volumoso fluxo de visitantes. (12) Tambm hierarquizou a ocupao das proximi-71 73. dades, conferindo nobreza ao seu entorno e avenida D.Pedro I, ocupada, nos anos 10 e 20, pela elite dos imigrantes srios e libaneses proprietrios de indstrias e casas de comrcio no bairro. Finalmente, incorporou-se, em definitivo, ao imaginrio da cidade, como marco, difundindo-se em livros didticos e manuais de Histria, cartes-postais desde os mais antigos , lbuns fotogrficos, guias, documentos oficiais, suportes publicitrios e assim por diante. O alcance da imagem, porm, ultrapassou as fronteiras da cidade. O palcio s margens do Ipiranga integra, sem dvida, o imaginrio nacional. As autoras so historigrafas e o autor diretor do Museu Paulista.______________ NOTAS721. Para um histrico dos projetos, v. Afonso da E. Taunay, Guia da Seco Histrica do Museu Paulista, So Paulo, Imprensa Oficial, 1937. 2. V. Annateresa Fabris, org., Ecletismo na Arquitetura Brasileira, So Paulo, Nobel/Edusp, 1987; Mrio Barata, O ecletismo no final do sculo XIX. in: W. Zanini, coord., Histria Geral da Arte no Brasil, v.1, So Paulo, Instituto Walter Moreira Salles/Fundao Djalma Guimares, 1983. 3. Para ilustraes fotogrficas, v. o catlogo Museu Paulista da Universidade de So Paulo, So Paulo, Banco Safra. 1984. 4. V. Maria Helena Flynn, Os concursos, In : s Margens do Ipiranga: 18901990 (catlogo de exposio). So Paulo, Museu Paulista da USP. 1990. 5. V. Ana Maria Belluzzo, Artesanato, arte e indstria, So Paulo, FAU/USP,1988 (Tese de Doutorado, mimeo); Ivoty Macambira, Os mestres da fachada, So Paulo, Centro Cultural So Paulo, 1985. 6. Tommaso Gaudenzio Bezzi, Memorial sobre a resciso dos contratos referentes ao Monumento do Ypiranga, Rio de Janeiro, Typographia Leuzinger, 1905. 7. Falta, ainda, estudo histrico adequado sobre os museus brasileiros (e latino-americanos) oitocentistas. Para aspectos de museus enquanto instituies cientficas (Museu Nacional, Goeldi, Museu Paulista) v. Lilia K. M. Schwarcz. O nascimento dos museus brasileiros (1870-1910) , in: S. Miceli, org. Histria das Cincias Sociais no Brasil, So Paulo, Vrtice/IDESP,1989, V. 1: para quadros gerais, v. Giordano Mairani Canova, II museo pubblico in Europa nellsettecento e nellottocento, Padova, Instituto di Storia dellArte, 1975, e Marlene Suaro. O que museu, So Paulo, Brasiliense, 1986. 8. V. L. Binni F. G. Pinna. Museo, storia e funzioni di uma macchina culturale dal cinquecento a oggi. Milano, Gazanti, 1980, e Donald Morne. The Great Museum, The representation of History. London, Pluto Press, 1984. 9. V. Museu Histrico Nacional (catlogo), So Paulo, Banco Safra, 1989. 10. V. A. de E. Taunay. Grandes vultos da Independncia brasileira, So Paulo, Melhoramentos, 1922, e Comemorao do cinquentenrio da solene instituio do Museu Paulista no Palcio do Ipiranga, So Paulo, Imprensa Official, 1948. 11. V. Anita Salmoni F. E. Debenedetti, Arquitetura italiana em So Paulo, So Paulo, Perspectiva, 1981. 12. V. Mximo Barro & Roney Bacelli, Ipiranga, So Paulo, Departamento do Patrimnio Histrico/PMSP, 1979 (srie Histria dos Bairros de So Paulo, v. 14).___________________________________________ 1991 JORNAL DA TARDE (pgina 18)A HISTRIA DAS ARMAS OU A HISTRIA NAS ARMAS? Uma armadura castelhana do sculo XVII, ornada a ouro, uma espada que serviu Repblica brasileira nascente, um fuzil belga e uma pistola francesa saem dos mostrurios do Museu do Ipiranga, tomando-se capazes de revelar aspectos das sociedades que as produzem. Por Vania Carneiro de CarvalhoNo Museu Paulista da Universidade de So Paulo (Museu do Ipiranga) o visitante encontra uma seqncia de vitrinas, onde esto expostas peas de seu acervo de armas. So espadas, sabres, fuzis, revlveres, pistolas, que, reunidos sob a categoria funcional armas, contrape-se aos ncleos de mobilirio, indumentria, veculos, louas, numismtica, filatelia, etc. No interior do ncleo maior, as armas sofrem novas subdivises funcionais armas para defesa e ataque, para duelo, caa e combate... alm de subcategorizaes morfolgicas e tecnolgicas armas brancas e armas de fogo, armas de fogode cano-longo, largo ou curto, ou ainda, armas de fogo com fecho de mecha, pederneira, percusso e assim por diante. Este procedimento classificatrio disseca o objeto segunda suas qualidades exclusivamente materiais. O conhecimento fetichizado isola o mundo das coisas daquilo que lhe atribui sentido, ou seja, o mundo dos homens. Entretanto, se considerarmos que os objetos no possuem vida autnoma, qualquer tentativa de conhecimento dever levar em considerao o meio social que produziu, utilizou ou mesmo interrompeu o ciclo de vida destes objetos. Se por um lado a sociedade necessria para compreendermos o mundo material, o caminho inverso no menos estimulante. Sendo assim, vale a pena explorar aquelas caractersticas materiais que apontam para diferentes formas de organizao social, de valores e de viso de mundo. No caso das armas, a compreenso do objeto se alarga quando inserida no microcosmo das relaes entre corpo e arma. Trata-se aqui de entender os modos de utilizao da forma fsica como componentes de padres corporais socialmente definidos, e por tanto, capazes de informar sobre o exerccio do poder a nveis ainda pouco estudados. Tomemos guisa de exemplo, quatro peas de armaria pertencentes ao acervo do Museu Paulista: ARMADURA ornamentada a ouro, de procedncia castelhana, sculo XVII; ESPADA com lmina e bainha ornamentadas, pomo de leo, guarda com as Armas da Repblica, comprimento de 880mm, c. 1893; FUZIL Mini de fabricao belga, carregado pela boca, com fecho de percusso e alma raiada, calibre 15mm, comprimento de 1230mm, com gancho para baioneta, c. 1860; PISTOLA de repetio Galois, procedncia francesa, ornamentada a ouro, calibre 7,5mm, comprimento de 130mm, c. 1890. Como inferir, a partir de dados morfolgicos, tecnolgicos e funcionais, formas de interao do objeto com o corpo, que em ltima instncia nos remetem ao universo das relaes sociais? Comecemos pela ARMADURA, usada como pea de proteo e, por isso, classificada como arma de defesa. Nos seus modelos mais completos, a armadura chegava a envolver todo o corpo do guerreiro, inclusive mos e ps, atravs de placas articuladas de modo a garantir os movimentos. Este tipo de couraa, praticamente um segundo corpo, tornou-se imprescindvel em batalhas, onde predominava a utilizao de armas brancas. A espada e suas variantes exigiam o contato direto com o inimigo e impunham uma morte espetacularmente sangrenta (decepao, retalhao, perfurao), onde todo o corpo do combatente estava envolvido. Apesar do aprimoramento tcnico e do elaborado trabalho de ornamentao, a mecnica destas armas simples. Procura-se enrijecer o corpo recobrindo-o com metal, e aguar as mos atravs da lmina da espada. Os instrumentos de defesa e ataque so, portanto, concebidos como extenso do corpo, otimizando as capacidades fsicas do guerreiro. Neste tipo de articulao, a arma complementa s funes do corpo, ela se submete a sua vontade. A vitria ou a derrota no confronto no dependem da eficcia da arma, mas de seu uso eficaz, isto , de destreza, da coragem e da fora fsica do guerreiro. Estamos diante de um padro corporal orgnico o corpo do guerreiro e suas armas formam um conjunto indissocivel e nico. por isso que as vantagens conquistadas em batalha revertem em prestgio pessoal. Os significados de honra, de poder e de riqueza so atribudos individualmente ao guerreiro pela sociedade.A ESPADA, ao ser incorporada pelo exrcito moderno, perde o seu carter personalizado. Sua fabricao, mesmo que ainda artesanal, como o caso da pea que analisamos, tende para a seriao. As marcas pessoais e familiares so substitudas pelo braso do Estado e as variaes formais e decorativas introduzidas na srie servem agora para indicar as distines hierrquicas dentro do quadro militar. No sculo XIX, as funes essenciais de ataque e defesa so assumidas pelas armas de fogo, mas a espada permanece como valor ritualstico. Ela est presente nas exibies pblicas, portada pelos oficiais de elite, o que significa que o Estado, na figura do exrcito, reconstruiu atravs de um objeto a espada os sentidos de honra, de coragem e de poder forjados no interior de uma prtica social antecedente. Em relao arma branca, a arma de fogo promove mudanas radicais nos padres corporais at ento vigentes. Seu mecanismo bsico de funcionamento se define pela utilizao de explosivo capaz de produzir gases de alta presso, que terminam por expelir o projtil alojado no seu interior. Abrese a possibilidade de enfrentar o inimigo distncia. Na grande variedade de armas de fogo, voltemos nossa ateno para o fuzil, amplamente utilizado pelos exrcitos europeus durante os sculos XVIII e XIX. O FUZIL Mini, do qual o Museu Paulista possui alguns exemplares, foi empregado pelo Exrcito Brasileiro, que durante longo tempo tinha a Blgica como um de seus mais importantes fornecedores. Comparado espada, o fuzil uma pea tcnica e mecanicamente complexa formada de diferentes partes articuladas e que exigem preciso e especializao no feitio. A sua complexidade e alto grau de disseminao implicam na padronizao do objeto para a produo em massa. O fuzil uma arma que deve ser pensada no contexto de uma sociedade em vias de industrializao, logo com nveis acentuados de diviso tcnica e social do trabalho. O longo alcance do projtil, a portabilidade, a alta preciso e padronizao do fuzil invertem os termos da relao corpoarma; agora o corpo que deve adaptar-se ao objeto. A arma deixa de ser uma extenso do corpo para substitu-lo em termos de rapidez e eficincia. A especializao da arma cria um conjunto de procedimentos e mecanismos independentes do corpo humano. A este compete exercer o domnio sobre a engrenagem autnoma da arma de fogo. At o final do sculo XVII, a infantaria, armada de lanas e mosquetes lentos, pesados e imprecisos , era utilizada como uma grande parede compacta que deveria chocar-se contra o inimigo. Com o fuzil, a unidade de base das estratgias militares passa a ser o soldado mvel. A destreza valorizada, porm sob uma rgida disciplina. As normas de utilizao das armas de fogo preveem seqncias de posturas e de movimentos do corpo com o objeto. As questes de segurana e de manuseio eficiente da arma esto sempre presentes, no entanto, o adestramento do soldado no pode ser reduzido a um problema puramente tcnico. A disciplina deve ser vista como um dos dispositivos de controle da nova escala de combate que arma de fogo introduz. O confronto individual, exigido pela arma branca, suplantado por estratgias de organizaes de massa. Os problemas colocados pela sociedade de massa extrapolam o mbito das organizaes militares. No por acaso que o disciplinamento do corpo militar(quartis) entra em ressonncia com o disciplinamento do corpo doente (hospitais), do corpo insano (asilos e manicmios), do corpo produtivo (fbricas) e do corpo aprendiz (escolas). Finalmente, a quarta e a ltima arma uma PISTOLA de repetio de marca francesa. Trata-se de uma arma civil, utilizada para autodefesa, cujo mecanismo semi-automtico facilita o manuseio sem exigir aptides pessoais. A pistola Galois, como muitas outras de sua poca, uma arma annima, confeccionada para atingir alvos prximos e inespera- 74. dos. O tamanho reduzidssimo indica no apenas portabilidade, mas sobretudo a possiblidade de ser ocultada. A ornamentao existe, mas no nem pessoal, nem institucional. O desenho em linhas retas e a decorao floral criam uma aura inofensiva em torno dessa pequena arma, que acaba por se aproximar da categoria dos simples objetos de uso pessoal, como o isqueiro, a cigarreira, a caneta, etc. A agressividade inerente a toda arma se perde nos padres da moda. O homem urbano do sculo XIX convive com uma presena desconcertante a multido. Os fenmenos de industrializao e urbanizao colocam em movimento nas ruas das cidades uma massa de pessoas, e mais do que isso, de pobres, at ento desconhecida. A arma de fogo, no contexto de guerra, havia criado um distanciamento do corpo inimigo. Os centros urbanos do sculo XIX, pelo contrrio, aproximavam corpos estranhos. O grande nmero de trabalhadores, de pobres, de doentes, de mendigos, de prostitutas tornava-se motivo de preocupao para as autoridades polticas, administrativas e sanitrias, despertando os mais variados sentimentos nos seus contemporneos, um deles era evidentemente o medo. A pequena pistola, guardava no bolso ou na bolsa, aparentemente inofensiva mas funcional, servia para apaziguar o esprito daqueles que se acotovelavam diariamente com o desconhecimento. Aqui, a arma de fogo funcionava num circuito onde os mecanismos de disciplinamento da massa urbana ainda no tidos como confiveis. Hoje, todos estes objetos esto depositados nos Museus, guardados por colecionadores, pendurados nas paredes de residncias, a venda em antiqurios e leiles. preciso ultrapassar a barreira do fetiche e da contemplao, e garantirlhes o status de objeto de reflexo histrica. A autora historiadora do Museu Paulista/USP.___________________________________________ 1994 JORNAL DA USP (pgina 20)150 ANOS DE ELEGNCIA E SEDUO: MUSEU PAULISTA CONTA HISTRIA DO CHAPU. De feltro ou palha, pele de castor ou coelho, abas largas ou cadas, panam ou coco... Durante 150 anos (1800 a 1950), o chapu integrou as paisagens do cotidiano. Os encantos desta trajetria sero contados, com detalhes, a partir de 6 de setembro, na exposio Todo chapu possui uma cabea Leila Kiyomura MorenoNas ruas, nos bondes ou ocasies sociais, o chapu passou nas cabeas dos homens com elegncia, distino, respeito. E entre vus de renda francesa, flores e plumas, contornou o perfil das mulheres com seduo e mistrio. A apresentao no Museu Paulista (mais conhecido como Museu do Ipiranga) da Universidade de So Paulo ir destacar chapus ilustres como os que marcaram o estilo de Santos Dumont, os bicrnios e tricrnios dos ministros e militares do Imprio e muitos outros masculinos e femininos exibidos pela sociedade brasileira. A nossa meta mostrar os diversos modelos, apontando o chapu como sinal de diferenciao social de funes e hierarquias, desde os fins do sculo XIX at a dcada de 50, explica a historiadora Ana Cristina Guilhoti. Viajando atravs de pontos de costura A exposio ter uma parte ldica onde o visitante vai poder ter a sensao de desfilar com os modelos da poca. Na verdade, o pblico no vai manusear a pea, mas ter a sensao de experiment-la atravs de um jogo de espelhos,observa Ana Cristina. A histria do chapu vai propiciar uma viagem no tempo atravs de pinturas, gravuras, fotografias, acessrios de indumentria (luvas, bolsas, sapatos e bengalas). Tambm a Companhia Prada a pioneira do Pas e a terceira maior fabricante do mundo vai mostrar os segredos da confeco de seus chapus, trazendo formas e peas de sua coleo. O olhar da moa revelando-se entre o vu negro preso ao delicado casquete. O andar pausado dos senhores de terno de casimira inglesa cumprimentando os conhecidos com um leve toque no chapu de feltro... Estas imagens do incio do sculo vm sendo resgatadas por Teresa Cristina Toledo de Paula. Historiadora, museloga e umas das raras especialistas em restaurao de txtil do Pas, tem cuidado, nos ltimos seis meses, da conservao e seleo das peas da exposio. Cada um destes chapus registra as imagens e o comportamento da poca, afirma. So documentos histricos. Um ponto de costura tem a mesma importncia de um manuscrito. Teresa preparou 50 peas para a mostra. Elas foram colocadas em formas especiais e devidamente tratadas. A nossa preocupao preservar as cores e as caractersticas da poca. H modelos confeccionados com uma arte singular como, por exemplo, os militares feitos em sirga, tcnica de entrelaamento de fios. Segundo as pesquisas da historiadora Maria Jos Elias, o chapu tambm cria um cdigo comunicativo. A forma como se posiciona na cabea, o gesto de tirar ou saudar permitem o estabelecimento de um cdigo comunicativo, tornando o chapu um meio de expresso. O chapu liga a figura masculina respeitabilidade e distino enquanto para a mulher passa a ser de ocultar-se, ou seja, de esconder o que deseja ser explorado. Maria Jos lembra que os gestos dos polticos manuseando o chapu traduzem esse cdigo de comunicao. Meses antes das eleies, eles cumprimentam as pessoas com um toque imperceptvel na aba. Quando chega s vsperas, chegam a tir-lo nas saudaes ao povo e depois de eleitos viram as abas para se esconderem.que flutuava pela cidade, acentua Ana Cristina. A exigncia do uso se faz para todas as idades. Os pequenos jornaleiros portam bons escuros. O rapaz apresenta-se com um chapu de copa mais baixa para diferenciar do homem adulto que prefere as palhetas. BOX No Ipiranga, selos, moedas e medalhas Tirando o Quepe a exposio que o Museu Paulista abre no dia 6 de setembro, mostrando um pouco da histria do Pas nos vinte anos de regime militar. A histria poltica e a econmica do Brasil de 1964 a 1984 pode ser apreciada, a partir de 6 de setembro, no Museu Paulista (Museu do Ipiranga) da Universidade de So Paulo. Sob um ngulo sutil e curioso, a exposio Tirando o Quepe explora a utilizao material oficial de grande circulao como selos, medalhas e moedas. E apresenta as idias de interesse do grupo de militares que ascendeu ao poder. A mostra focaliza a indumentria dos presidentes, avaliando sua importncia na caracterizao dos governos, explica a historiadora Angela Maria Gianezi Ribeiro. Aps o golpe de 64, eles passam a se apresentar exclusivamente em trajes civis. Um comportamento que fazia parte da estratgia do governo para ser reconhecido como democrtico, isto , aberto participao da sociedade civil, como se o uso da farda fosse uma barreira para as prticas democrticas. Tirando o Quepe rene 23 peas filatlicas, 10 medalhas e 25 papis moedas. Essa coletnea foi pesquisada em todos os seus detalhes. Procuramos organiz-la em uma sequncia que vai facilitar a compreenso do pblico. Todos os selos so de fundo comemorativo com o intuito de registrar o ufanismo dos tempos da rodovia Transamaznica e da ponte Rio-Niteri. A montagem da exposio foi organizada tambm a partir das pesquisas desenvolvidas pelos historiadores Ricardo Bogus, Dirce Terezinha dos Santos e Aurea Maria Mello. __________________________________________Toque elegante em todas as classes1995 JORNAL DA TARDE (pgina 21)Durante um sculo e meio, o uso do chapu tornou-se obrigatrio em todas as classes sociais. Homens, mulheres e crianas no saam as ruas sem ele, observa Ana Cristina. Enquanto a elite exibia modelos em cetim, seda, pele de castor e plumas, os mais pobres optavam pelos confeccionados com feltro de pele de coelho.A HISTRIA DE SO PAULO, NO IPIRANGAAna Cristina conta que por toda a Antiguidade, a iconografia apresenta cabeas descobertas, os homens e mulheres no usam chapus e a figura feminina costuma aparecer usando longos vus cobrindo todo o corpo. Agora, no Ocidente, o perodo medieval retrata um quadro muito diferente. Vrios tipos de chapus so encontrados, como as boinas, turbantes, de copa baixa ou abas largas. Interessante ressaltar que os tipos eram diferenciados de acordo com a classe social. Os turbantes eram usados apenas pela aristocracia medieval e inteiramente inacessveis aos servos. A partir do sculo XIV, os chapus imperam em uma diversidade de modelos e cores. No incio da poca moderna, as mulheres comearam a aderir primeiro aos adornos na cabea e, posteriormente aos chapus comportamento criticado pelos moralistas contemporneos. O chapu feminino foi definitivamente emancipado no sculo XVIII atravs de inmeros formatos e tipos de adornos. A moda masculina, com menor variao, passa a apresentar tambm diversos estilos: chapus de copas altas e abas largas, tricrnios, copas altas e abas estreitas. As fotos do incio do sculo tiradas na praa da S, no Largo do Tesouro, mostram bem o mar de chapusMuseu inaugura duas exposies dobre a cidade s vsperas do dia da independncia O centenrio do Museu Paulista(ainda mais conhecido como Museu do Ipiranga) comea a ser comemorado hoje, com o lanamento de um selo e duas exposies sobre o crescimento urbano de So Paulo. um presente para a Cidade s vsperas do dia 7 de setembro, no local onde h 173 anos dom Pedro I deu o grito de independncia do Brasil. O Museu Paulista o mais visitado entre os museus histricos do Pas. Recebeu 320 mil pessoas em 1994, o dobro do Museu de Petrpolis, Rio. O Museu do Ipiranga encarna o smbolo da nacionalidade e transcende a Histria de So Paulo, sintetiza o diretor, Jos Sebastio Witter, professortitular do Departamento de Histria da Universidade de So Paulo (USP). MAIS DE 100 MIL PEAS EXPOSTAS Quadros e maquetes O acervo do Museu do Ipiranga tem mais de 100 mil peas, com destaque para o famoso quadro Independncia ou Morte, do paraibano Pedro Amrico, idealizado entre 1886 e 1887. a pea mais apreciada pelos visi-73 75. tantes e est exposta no salo nobre, no piso superior. Tem 716 por 415 centmetros de dimenso e est ao lado do retrato da Imperatriz Leopoldina. Uma das atraes do andar trreo o busto em gesso do escritor francs Victor Hugo, esculpido por Auguste Rodin, com dedicatria a Santos Dumont. Duas maquetes so imperdveis: uma a da Cidade de So Paulo, de 1841, de 6,14 metros por 5,52 metros, que ocupa uma inteira no trreo. A outra do projeto arquitetnico do que seria o prdio do museu, feito em 1881 por Tommaso Gaudenzio Bezzi. O prdio deveria ter formato de E, mas acabou sendo construdo sem as duas alas laterais projetadas anteriormente. A histria do Brasil e do Museu do Ipiranga podero ser acessadas pelo novo sistema de computadores implantados no hall da entrada e disposio do pblico. A Fundao para o Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp) repassou R$260 mil para o museu comprar quatro computadores. O primeiro j est instalado. O Museu do Ipiranga fica na Avenida Nazar s/n. Est aberto visitao de tera a domingo, das 9h s 16h45. A biblioteca funciona s at as sextas-feiras, no mesmo horrio. Mas da histria de So Paulo que tratam as exposies comemorativas do centenrio, que ocupam integralmente a ala superior do museu. So A Cidade que Virou o Sculo 1870 a 1918, distribuda em seis alas, e a mostra de 15 pranchas originais em aquarela, fotografia e impresses da Revista Industrial, exposta na feira industrial de Paris, em 1900.74s 19h30 de hoje, o palcio em estilo renascentista com 62 sales e 6.400 metros quadrados, vai abrigar uma festa para a elite acadmica, cultural e econmica do Pas. Esto confirmadas as presenas do reitor da USP, Flvio Fava de Moraes, do ministro da Cultura, Francisco Weffort, do presidente da Fiesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, e o prefeito interino de So Paulo, Slon Borges dos Reis, entre 2 mil convidados. A partir de amanh, e at o dia 17, o pblico poder apreciar, mediante um ingresso de R$ 1,00, o magnifico trabalho de restaurao da Revista Industrial, realizado pelos profissionais do museu durante oito meses. Estaro mostra 15 das 85 pginas originais dessa obra rara confeccionada pelo arquiteto francs Jules Martin (1832-1906), autor tambm do projeto do Viaduto do Ch, no centro. No poderamos guardar essa jia para poucos diz Witter. A exposio de um documento to valioso quanto esse uma tima maneira de a comunidade conhecer melhor sua histria. A revista, que esteve guardada na biblioteca do prdio desde 1901, vai ser reeditada em fascculos pela Federao das Indstrias do Estado de So Paulo(Fiesp), que um dos patrocinadores do Museu do Ipiranga, junto com a empresa Kolinos e USP. No total, o Museu do Ipiranga recebeu R$ 1,2 milho de investimentos para a restaurao do prdio e patrocnio de exposies. A ala voltada Histria de So Paulo mostra a mudana do perfil da cidade, que era uma vila no final do sculo 19, com apenas 80 mil habitantes. E como o progresso chegou, atravs do desenvolvimento do comrcio, dos transportes e da introduo da luz eltrica. um retrato fiel da cidade atravs de fotos, pinturas, objetos da poca, mapas, postes de luz, etc. Gisele Scalco e Ronaldo Albanese__________________________________________1996 JORNAL DA USP (pgina 24)ESTADO ENTREGA AO MUSEU DO IPIRANGA 121 ANOS DE HISTRIA. A coleo completa desde a fundao de A Provncia de So Paulo, em 1875, acompanhada de cpia microfilmada, estar disposio do pblico ainda esta ano. Exposio de capas histricas permanece no Museu Paulista at o dia 25. Miguel GlugoskiA universidade de So Paulo acaba de receber 121 anos de Histria, contada no dia-a-dia de um jornal. A coleo completa de O Estado de S. Paulo, composta de 37.540 edies e acompanhada de cpia microfilmada em 900 rolos e de um CD-ROOM, ser transferida em comodato dia 30 (tera-feira) para o Museu do Ipiranga e ainda este ano dever ser liberada para consulta do pblico. So 2.300 volumes encadernados que correspondem a 35 metros cbicos de material e, se empilhados, se ergueriam a 115 metros. O contrato foi assinado pelo diretor do Estado, Jlio Csar Mesquita, pelo reitor da USP, professor Flvio Fava de Moraes, e pelo diretor do Museu Paulista, professor Jos Sebastio Witter. A solenidade reuniu no hall do Museu a vicereitora da USP, professora Myriam Krasilchik; os pr-reitores Jacques Marcovitch, de Cultura e Extenso; Carlos Alberto Dantas, de Graduao; professor Joaquim Jos de Camargo Engler, diretor administrativo da Fapesp (Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo); Zlio Alves Pinto, secretrio adjunto de Educao do Estado; e diretores de unidades. No piso superior do Museu foi montada uma exposio mostrando 24 capas histricas, comeando pelo nmero 1, quando o jornal comeou como A Provncia de So Paulo, nome que manteria at a proclamao da Repblica. Rui Barbosa e Euclides da Cunha A grandiosidade material da coleo s superada pela sua importncia cultural, um tesouro, conforme salientou o reitor, que a Universidade saber guardar com responsabilidade e colocar disposio do pblico em geral, mas em especial de historiadores e pesquisadores. Fava disse que, antes da abertura das comemoraes dos 500 anos do descobrimento do Brasil, o Museu Paulista tem a oportunidade de oferecer aos paulistas um fato transcendental que deriva da associao siamesa e cirurgicamente indivisvel entre a USP e O Estado de S. Paulo. Jlio Csar Mesquita, lembrando que ele prprio formado pela Faculdade de Educao da USP, destacou: Cumprimos um compromisso que no nos pertence. Pertence s instituies que representamos e reafirma a responsabilidade destas mesmas instituies com o nosso pas. So organismos que ao longo de suas histrias tm-se cruzado e cujas trajetrias se confundem. Fava rebateu crticas segundo as quais a USP teria sido fundada em 1934 como consequncia da derrota dos paulistas na Revoluo Constitucionalista de 32. O objetivo anterior. Em 1925, Jlio Mesquita j afirmava em artigo intitulado A Crise Nacional que uma das carncias a reparar na estrutura do Pas era a criao de uma universidade. A Universidade da comunho paulista, assim chamada pela historiadora Helena Cardoso, foi implementada apesar da ditadura de Vargas, acrescentou Fava. Sobre o arquivo que ser transferido ao Museu Paulista por etapas, Mesquita disse que as 37.540 edies trazem consigo alguns dos mais importantes fatos da Histria brasileira. Com elas viro os primeiros despachos do nosso reprter Euclides da Cunha, em 1897, originados nafase final da Campanha de Canudos e que resultariam no pico Os Sertes. E tambm textos de Olavo Bilac, Rui Barbosa, Monteiro Lobato. Todos eles retratam momentos da vida nacional da qual foram, seus autores, mais do que testemunhas jornalsticas, tambm protagonistas. Ainda hoje mantenho em minha sala do jornal, com especial carinho, um original tipogrfico revisado de prprio punho por Rui Barbosa. O Estado no considera de sua responsabilidade um perodo de cinco anos, tempo em que o jornal esteve sob interveno do Estado Novo. Sociedade da informao Fracisco Ornellas, coordenador do curso de jornalismo do Estado e que, junto com Arnaldo Castilho, gerente do Banco de Dados, participou da transferncia do arquivo para o Museu Paulista, disse que os entendimentos iniciaram-se h aproximadamente um ano, por iniciativa do prprio jornal. Havia um tesouro retido no prdio e no convinha segur-lo. Deveria ser transferido para uma instituio com tradio de credibilidade, segurana e garantia de que seria franqueado aos pesquisadores. Se fizermos um passeio pela memria, descobriremos que o Museu do Ipiranga tem essa tradio. Em favor desse museu da USP ainda pesa o fato de seu diretor, professor Witter, ser tambm historiador, ex-diretor do Arquivo do Estado at ex-professor de vrios jornalistas, entre eles o prprio Ornellas. A transferncia, conta o jornalista, faz parte de um projeto estratgico que a empresa vem desenvolvendo h alguns anos e que tem por finalidade marcar a misso do Estado. Vivemos hoje na sociedade da informao, afirma Ornellas, e esclarece: historicamente, a sociedade passou por ciclos, da pedra lascada, da roda, da energia eltrica; agora hora da informao. Quem tem a informao tem tudo para sair frente. Isto uma revoluo, mas no se pode esquecer o passado. Da a necessidade de preservar a memria, da a nova parceria com a USP. O professor Jos Sebastio Witter diz ser desnecessrio falar da importncia de O Estado de S. Paulo: o jornal cobre o momento das grandes discusses nacionais a Monarquia, a Repblica, a Abolio da Escravatura e sempre se destacou pelo cuidado com a informao correta e por manter uma posio bem definida. Witter tambm est convencido de que o Museu do Ipiranga o lugar certo para guardar os mais de 120 anos do jornal, porque tambm ele um smbolo da Histria do Brasil, como o o Museu Republicano de Itu, igualmente da USP, e mantm equipes de especialistas em restauro de documentos. A USP ficar de posse da coleo por 50 anos, podendo o acordo ser renovado por igual perodo. O Museu recebe anualmente (nmero de 1995) 150 mil visitantes. A partir do final deste ano, e especialmente de janeiro do prximo, quando o arquivo estiver disposio do pblico, com certeza ser procurado no s por pesquisadores, mas tambm por pessoas comuns. Segundo Witter, as pessoas tm curiosidade de saber, por exemplo, o que aconteceu de importante no dia em que nasceram e vo se informar em jornais antigos. Quem tambm costuma frequentar os arquivos so os autores e encenadores de novelas, interessados em caracterizar seus personagens da poca. O Museu passa por reforma ampla e , no setor de documentao, receber uma sala especial para leitura dos microfilmes. Os ltimos por primeiro Arnaldo Castilho informa que a transferncia da coleo do Estado comea ainda esta semana e ser gradativa, 76. comeando pelas colees mais recentes, pelos ltimos 30 a 40 anos. Sero necessrias trs viagens, concluindo-se o trabalho em aproximadamente um ms. A microfilmagem da coleo foi feita inicialmente na Biblioteca de Chicago e, nos ltimos 20 anos, pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Tanto a coleo em papel como a microfilmada sero atualizadas permanentemente. A exposio de capas histricas vai at o dia 25. L esto as primeiras pginas sobre Canudos (11 de agosto de 1897), Revoluo Constitucionalista (10 de julho de 1932), inaugurao de Braslia (21 de abril de 1960), a morte de Kennedy (23 de novembro de 1963), a chegada do homem Lua (22 de julho de 1969), Agora samba, que substitui uma notcia proibida pela censura sobre troca de ministro (10 de maio de 1973), a morte de Tancredo Neves (22 de abril de 1985) e a queda de Fernando Collor (30 de setembro de 1992). As capas esto acompanhadas de legendas. A servio do trabalho e do direito Mais uma folha diria vem offerecer provncia de S. Paulo campo livre aos debates to necessrios para soluo de problemas importantes que interessam a seu desenvolvimento moral e material. Assim comea a notcia da fundao de A Provncia de So Paulo, publicada na edio nmero 1, de 4 de janeiro de 1875, com quatro pginas batidas. Propriedade de uma associao commandataria , tem como redatores Amrico de Campos e F. Rangel Pestana, que entraram para a formao do capital com maior quota, e so solidariamente responsveis pelos actos praticados em nome da sociedade, que girar sob a firma Pestana, Campos & C.. O editorial afirma a seguir: No sendo orgam de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer delles, e por isso mesmo collocando-se em posio de escapar s imposies do governo, s paixes partidarias e s solues inherentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Provncia de So Paulo fazer da sua independencia o apanagio da sua fora e a medida da severa moderao, sisudez, franqueza, lealdade e criterio em que se fundar o salutar prestigio a que destina-se a imprensa livre e consciente. Depois de observar que sua imparcialidade no ser, por isso mesmo, a imparcialidade do silncio, o artigo esclarece a misso do jornal: Assim promette na medida progressiva de suas foras auxiliar ao commercio, lavoura, s artes, industrias, sciencias, e litteratura, tratando os assumptos que lhes digam respeito, e abrindo espaos a todos os talentos e aptides que em suas paginas queiram apparecer. Liberdade para Emiliana O Jornal abre na pgina 3 uma seo para assuntos forenses. nossa inteno fazer conhecidas as decises proferidas pelos tribunaes do paiz, e principalmente as da Relao desta Capital. E justifica: s decises de um tribunal prendem-se interesses de ordem muito elevada, para que sejam lanadas ao olvido. E no primeiro dia publica deciso considerando que So livres, os filhos da liberta, que foi alforriada em testamento sobre condio de prestar servios por determinado tempo, sendo aquelles nascidos emquanto pendia a condio, e embora o testador os tivesse declarado escravos. A ao foi proposta pelo advogado de Emiliana, parda, nascida em 1855, filha de Jacintha, alforriada em 1833 pelo padre Agostinho Jos da Fonseca Moreira, seu legtimo senhor, o qual conferiu a liberdade nos termos seguintes e constantes do documento original apresentado.Em resumo: queriam manter Emiliana na condio de escrava, mesmo depois de sua me ter ganhado liberdade. A sentena do juiz Antonio Cndido da Becha foi exemplar: ... a declaraoo do doador, de que seriam escravas as filhas de Jacintha repugna ao direito visto que a esta desde logo, isto , desde que doou seus servios concedeu a liberdade e fere o princpio: Partus sequitur ventrem... Julgo por todos esses fundamentos a A. Livre e condemno o R. nas custas. O primeiro nmero de A Provncia to atualizado na tcnica de marketing como os jornais de hoje. Vejam s. Na seo Avisos, oferece vantagens ao pagamento immediato das assignaturas e lana mo de um sorteio pela Loteria Geral, comprometendo-se a distribuir dois prmios, um de 600$000 e outro de 400$000. Concorreriam ao sorteio os assinantes j inscritos e os que se inscreverem at 30 de abril do anno corrente, desde que sejam assignantes por um anno e tiverem realizado a importancia da assignatura at a referida data de 30 de Abril, no escriptorio deste jornal. Outro aviso: os senhores que receberem o primeiro numero desta folha e no quizerem ser considerados assignantes, tero a bondade de o devolverem ao escriptorio rua do Palacio n 14. Na parte de publicidade, a tipografia O Globo procura um office-boy. Precisa-se de um moleque de 10 a 14 annos. Qnem (sic) tiver e quizer alugar dirija-se a esta typ.. BOX Informao para o progresso O diretor de Estado Jlio Csar Mesquita considera a informao fundamental para o desenvolvimento de uma nao e garante que o seu jornal e a sua famlia ele pertence quarta gerao h mais 120 anos trabalham por um pas melhor. Jornal da USP: Ns acompanhamos a transferncia do ar-quivo do Estado para USP como um fato histrico, mas o senhor acompanha tambm como membro e dirigente da empresa doadora. O que isto significa para o senhor pessoalmente? Jlio Csar Mesquita: Se no fosse eu seria outro. Coube minha gerao e minha pessoa representar a famlia no ato de entrega desses 120 anos do arquivo do jornal. Para mim uma emoo muito grande. Estou entregando a Histria desde a poca de meu bisav, do meu av, do meu pai recentemente falecido. JU: O senhor e a sua empresa fazem parte da Histria. Oque fazer parte ativamente da Histria? Mesquita: Fazer parte da Histria ativamente participar dia a dia da vida da nossa cidade, da vida do nosso pas, da vida da Nao, atuando, influenciando junto da sociedade, da comunidade, no sentido de ter um pas melhor a cada dia. No fundo, o jornal que a minha famlia faz tenta melhorar a condio de vida do povo brasileiro, para que possamos cada vez mais progredir. Queremos o progresso, que a sociedade brasileira possa competir em igualdade de condies com as sociedades mais evoludas do mundo. Perseguimos isso h 120 anos. JU: A informao cultura? Mesquita: fundamental, cultura. No existe povo quepossa evoluir sem dispor da informao. Atravs da informao se faz a formao da sociedade. A informao bsica para a formao do cidado. __________________________________________1997 JORNAL DA USP (pgina 26)UM JOVEM E RENOVADO MUSEU CENTENRIO Um belo livro bem ilustrado conta a histria do Museu Paulista e de como foi feita sua recente reforma, que levou quase dois anos e revigorou a instituio. Desde aspectos arquitetnicos at detalhes de seu acervo, tudo elencado no volume. Marcello RollembergMais famoso dos museus ligados Universidade de So Paulo, o Museu Paulista, instalado em um prdio de linhas clssicas no bairro do Ipiranga, cercado de belos jardins e vizinho do crrego que d nome ao bairro e s margens do qual dom Pedro deu seu famoso grito, um marco na capital paulista. Seja por sua histria centenria, seja por seu acervo riqussimo ou pelos milhares de pessoas que cruzam suas pesadas portas de madeira semanalmente, ele j faz parte da histria da cidade e do prprio do Pas. Mas um marco to importante assim, tanto da USP quanto do Brasil, estava necessitando de uma recuperao. A pintura, depois de cem anos, estava descascando, as paredes no mostravam mais a mesma firmeza e a arquitetura que fez sua fama estava esmaecida. H cerca de trs anos, comeou, ento, um trabalho de lenta e gradual recuperao do prdio, uma obra que mais se assemelhava a uma cirurgia plstica na qual o paciente no tinha as feies remodeladas, mas sim rejuvenescidas e retrabalhadas tendo como base a imagem original do modelo. O sucesso desta misso, que contou com o apoio da Fiesp e da prpria Universidade, pode ser agora aferido em um livro que faz jus ao belo palcio do Ipiranga: Museu Paulista, um Monumento no Ipiranga Histria de um Edifcio Centenrio e de Sua Recuperao, editado em conjunto pela Fiesp, Ciesp, Sesi, Senai e IRS. O livro ser lanado no prximo dia 28, no Museu Paulista. Obra de formiguinhas Ao longo de suas quase 400 pginas, o volume traz textos explicativos de como a operao de recuperao do museu foi engendrada, mostra o passo a passo da misso e apresenta, em bem trabalhadas fotos, todo o processo de reforma e at de redescoberta das obras do prdio arquitetnica ou artstica. Isto , o volume apresenta no s a recuperao estrutural do edifcio, mas tambm de seu acervo, que estava por merecer uma boa espanada. Ao final de todo esse servio, que comeou em 1995 e levou quase dois anos para ser concludo, o Museu Paulista retornou revigorado, mais imponente e pronto para outro sculo de existncia. Entre tantas outras razes, o livro a respeito de sua reforma um documento importante para se entender melhor sua histria, Recuperar esse edifcio, dando-lhe a segurana e a funcionalidade exigidas, foi tarefa sem medida, que este livro, organizado pelo Museu, traz a pblico, escreve o reitor Flvio Fava de Moraes na apresentao do volume. ele, tambm, o testemunho do esforo de muitos e da sensibilidade de instituies como a Fiesp, a Fapesp, o Ministrio da Cultura e os diferentes rgos da USP envolvidos no projeto, que consolida definitivamente o Museu Paulista da USP como orgulho do Brasil, afirma o reitor. Erguido em apenas cinco anos de 1885 a 1890 , o prdio do Museu Paulista, projetado pelo arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi, um exemplo bem-acabado do que se pensava em termos de arquitetura no final do sculo passado. As grandes estruturas metlicas das quais a Torre Eiffel, em Paris, seria o maior exemplo e mais bem desenvolvida obra ainda estavam sendo estudadas e na Amrica do Sul predominava a construo macia. Foi a partir dessa linha de raciocnio que Bezzi projetou o prdio do museu. O edifcio foi75 77. dimensionado como um verdadeiro palacete, com grossas paredes de alvenaria, com cerca de dois metros de espessura. As paredes externas e internas, de fato, so formadas por pilastras monolticas ligadas entre si por arcos, tambm de alvenaria. Nas extremidades do edifcio e em sua regio central, torres se elevam acima do nvel geral da cobertura. Na torre central, um saguo monumental, ligado escadaria de acesso, agrega-se planta retangular, propiciando a grandiosidade de uma entrada imponente e, sobre ela, o grande Salo Nobre do museu, cuja cobertura se eleva acima do topo das torres laterais. No meio da torre central, elevando-se acima dela, um grande torreo confere ao conjunto um aspecto de imponncia mpar, explica um texto do livro, a respeito dos aspectos arquitetnicos do prdio do Ipiranga. Ou seja: o museu no s grandioso, mas tambm grande e grandiloqente.Ao descer os primeiros degraus, o visitante se depara com um nicho em arco onde est exposto um vaso do incio do sculo da Fazenda Ipanema, de Sorocaba.Com todas suas reformas estruturais, seu acervo sendo sempre atualizado, uma informatizao constante que inclui o Museu Republicano, o brao em Itu da instituio e muito trabalho, o Museu Paulista se prepara com todas as honras para entrar no novo milnio. O Museu Paulista, surgido h mais de cem anos, , sem dvida, uma instituio contempornea, acentua Jos Sebastio Witter.Exposies diversasDa saber-se que o trabalho de reforma e restauro no foi nada simples ou fcil. Na verdade, foi uma obra de formiguinhas, com funcionrios, pintores, pedreiros, mestres-de-obras, arquitetos e quem mais pudesse colaborar trabalhando sem parar, em um incessante vai-e-vem que tinha um nico objetivo em comum: recuperar o brilho antigo do Museu Paulista. E essa meta foi atingida em grande estilo. Creio que a razo principal desta edio est na necessidade de deixar registrada a obra realizada nestes cem ltimos anos e a aventura destes ltimos trs, conta em seu texto no volume o historiador Jos Sebastio Witter, diretor do Museu Paulista.76tcnicos e especialistas no deixou de propor e realizar projetos de pesquisa, de renovar a rea de exposies e criar textos para suas publicaes, escreve o diretor Witter. Resta lembrar que o setor de Documentao e a Biblioteca no pararam de crescer. Os acervos foram atualizados e muitas doaes foram feitas. Objetos tambm foram doados. Nada deixou de acontecer, afirma Witter.___________________________________________O trabalho dos restauradores e dos operrios teve um resultado fascinante. No s foram redescobertos vestgios da construo original, com suas tonalidades e materiais empregados h cem anos, mas tambm se desenvolveu um trabalho de melhor aproveitamento do espao fsico do museu. Por exemplo, o subsolo do prdio. Antes relegado a um segundo plano, este ambiente foi remodelado, restaurado e melhor dimensionado para abrigar laboratrios e outras atividades tcnicas do museu. Seu novo corredor, ladeado por bustos em gesso, ganhou novas sapatas de fundao e propiciou a abertura de novas alas, algo impensvel anos atrs. As fissuras das paredes e o no aproveitamento do espao impossibilitavam esse trabalho. Fotos que falam O texto do livro a respeito das reformas sofridas pelo Museu Paulista pode aparecer um tanto quanto pesado para o leigo. Afinal, trata-se de mostrar, com palavras, toda uma obra de restaurao do edifcio, o que pode at ser um pouco enfadonho para alguns. Quem vencer esse primeiro passo, porm, ter uma surpresa agradvel. Afinal, explicado ali cada pormenor do prdio, seus problemas estruturais e histricos e quais foram as solues elencadas pela equipe responsvel pelo projeto para tornar o museu redivivo. Palavreado muito tcnico, por vezes, tem o condo de afastar o leitor menos afeito a essa terminologia. Se o livro pode assustar nesse terreno por mais necessrio que ele seja, bom frisar, por tratar-se de um tema totalmente relevante no contexto do volume , ele ganha em outro, que complementar, mas tambm essencial: o trabalho iconogrfico constante no volume. O material fotogrfico do livro, mostrando no s todo o trabalho deito pela equipe de restauradores e de funcionrios na reforma do museu, mas tambm uma boa parte de seu acervo, salta aos olhos. Feitas pelo fotgrafo Jos Rosael, as fotos parece que falam com o observador, contando em detalhes tudo o que foi feito naquele quinho de terra do Ipiranga. Do subsolo ao telhado, nada escapa das lentes de Rosael, detalhando o trabalho de maneira enxuta, criando um arquivo essencial no s para se entender o que foi feito no museu, mas tambm para se entender o prprio Museu Paulista em todos os seus aspectos. Mas no s a parte arquitetnica foi mexida e restaura nesse empreendimento,Ao lado de todas essas intervenes levadas a efeito no edifcio, o grupo de pesquisadores, muselogos,1998 JORNAL DA USP (pgina 27)MUSEU PAULISTA REDESCOBRE O SEU SUBSOLO. COM ARTE E BELEZA. Salas que permaneceram aterradas por mais de cem anos, agora se transformam em um novo espao de visitao. O pblico pode apreciar exposies curiosas e observar detalhes preciosos da arquitetura clssica italiana Leila Kiyomura MorenoO Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, tem novos motivos para ser um dos pontos mais bonitos e curiosos da cidade. Desde o incio do ms, est apresentando ao pblico, a beleza do seu prprio subsolo. Um espao inusitado que permaneceu aterrado por mais de cem anos. Depois de um projeto arqueolgico cuidadoso, foram descobertas salas entrecortadas por arcos que se enfileiram em um desenho que mostra o requinte da arquitetura do final do sculo passado. Toda a rea de 242 metros quadrados foi devidamente planejada para destacar a histria e a arqueologia com arte. Est sendo ocupada por exposies de fotos, quadros e objetos de diversos temas.A pea cercada por duas telas de oito metros de comprimento assinadas por Aldo Locatelli que registram o Brasil Colnia.Um corredor leva aos outros espaos. So duas salas, quatro saletas e trs ambientes, onde foi mantida a construo original. possvel ver a pedra bruta argamassada e o teto de vigas de madeira inspirado no sistema construtivo romano. Procuramos incorporar o estilo rstico nas exposies, explica o muselogo Ricardo Nogueira Bogus. At a iluminao foi preparada para esse fim. Bogus atual na preparao da rea para abrigar as peas. Espremido em vitrines, cantos e nichos de apenas um metro de altura, conseguiu compor mostras diferentes com harmonia e criatividade. O subsolo leva o visitante a uma viagem pela histria dos costumes e da arte. A coleo de ferros de passar com centenas de peas precedentes de vrios lugares muito singular. Esto ordenadas cronologicamente em duas longas vitrines. H, ainda, uma vitrine central com ferros de passar de brinquedo e uma outra com os fogareiros que os esquentavam. Curiosa tambm a mostra Tropas e Tropeiros onde h dezenas de esporas e estribos dos sculos XVIII e XIX, malas e acessrios de viagem e pinturas com imagens de pousos. A exposio Minerao de Ouro rene instrumentos de minerao (carumb, batia, almocafre) e pesos. Para resgatar a memria da Independncia, foram selecionadas pinturas, reprodues fotogrficas e objetos relacionados com a poca. Tem tambm detalhes da construo do edifcio do Museu Paulista. Outra mostra que vem chamando a ateno a dos objetos e imagens relacionadas com o movimento de Canudos, a Guerra do Paraguai, a Revoluo de 1924 e a Constitucionalista de 1932.Surpresas da histria A recuperao do subsolo um dos projetos que foram desenvolvidos com empenho, conta, orgulhoso, o diretor Jos Sebastio Witter. Nos ltimos anos, temos batalhado muito para resgatar o Museu Paulista na sua arquitetura original. Com isso, tambm estamos redescobrindo os espaos que foram sendo ocupados de forma inadequada ao longo do tempo. Quem visita o Museu Paulista comea a apreciar a sua beleza h quilmetros de distncia. A surpresa comea ao entrar no bairro. No incio da avenida D. Pedro I, j possvel avistar a imponncia do prdio amarelado cercado por palmeiras imperiais. Uma viso que fica ainda mais luminosa ao se aproximar do edifcio e observ-lo entre os jardins franceses. Assinado pelo engenheiro-arquiteto italiano Tammazo Gaudenzio Bezzi, esse monumento vem desde a sua inaugurao, em 1895, atraindo turistas do mundo inteiro. Foi umas das primeiras construes em tijolo feita em So Paulo. E o mais curioso: conseguiu cumprir a sua meta de perpetuar a memria da Independncia, criando um impacto pela elegncia de suas propores e riqueza de ornamentos. Agora toda essa histria tem novas nuances. A surpresa de quem v as dimenses das portas, o hall suntuoso, a decorao das escadarias amplas, as pinturas do teto do salo nobre cresce ao entrar no corredor que leva ao subsolo. Por enquanto, este espao tem tido uma visitao limitada, conta Miyoko Makino, historiadora e diretora tcnica da Difuso Cultural. Mas todos se surpreendem muito com essa nova rea. um lugar que propicia um clima diferente e consegue nos remeter histria. Questo de idealismo A restaurao do subsolo e do museu, na avaliao de Miyoko, resultado do idealismo, do trabalho e da integrao dos funcionrios. Se o Museu Paulista est ficando cada vez mais bonito, graas ao empenho de todos, dos arquelogos, pesquisadores aos ajudantes de servios gerais. O diretor Jos Sebastio Witter acompanha satisfeito a movimentao. Como historiador exmio, faz questo de arregaar as mangas para registrar as mudanas de perto. E com a mo na massa. Literalmente. Observa a limpeza e restaurao das portas que agora esto na sua cor original, exibindo as veias da madeira. So de pinho-de-riga. Olha que beleza!, acentua. Verifica as pinturas das paredes e quadros. Sobe no telhado para constatar se est tudo em ordem. Quando cheguei aqui, havia goteiras por toda parte. Mas isto no era nada diante dos riscos do teto caindo, diz. Vrios pedaos da argamassa centenria comearam a se desprender, as duas torres estavam ameaadas. Witter decidiu sair em busca do patrocnio. A nossa equipe 78. de muselogos, arquelogos, historiadores passou a desenvolver os projetos, mostrando que era preciso de uma reforma urgente. Com a colaborao da Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (Fiesp), da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp) e Fundao Roberto Marinho, o Museu Paulista comeou a ser recuperado no decorrer de 1995.foram resgatados vidros, fragmentos, loua-faiana. Todo esse material encontrado no subsolo trouxe subsdios importantes para a histria dos costumes, da arquitetura, da engenharia e tambm ampliou o conhecimento sobre o processo construtivo na virada do sculo.Trs anos depois, o monumento volta sua beleza natural. Ainda tem muito trabalho pela frente, mas o edifcio, agora, pode preservar e contar a histria do Pas com mais segurana, diz Witter. Ningum pode negar a sua importncia na vida urbana da cidade e tambm como patrimnio cultural. Hoje, o Museu do Ipiranga exibe uma beleza centenria, mas com a segurana dos edifcios modernos. Por todo o prdio existem cerca de 45 cmeras espalhadas estrategicamente e h salas de segurana com dezenas de monitores, onde se pode observar toda a movimentao do pblico.2010 O ESTADO DE SO PAULO (pgina 54)Um conjunto desses aparelhos encontra-se na sala do prprio diretor. Estou sempre andando de um lado para o outro. Gosto de observar a reao dos visitantes diante das obras e participar de perto da rotina do museu, diz Witter. E quando fico na minha sala, acompanho tudo atravs deste canal interno. A viso do diretor em seu gabinete vai ainda mais longe. Fez questo de mudar a sua mesa e coloc-la em uma posio estratgica, bem em frente a uma janela aberta para a rea central do parque. E diante dessa vista generosa, entre o canto dos bem-te-vis, canrios e sabis, que o historiador voa longe. Esse museu ainda estar entre os mais belos do mundo, planeja.O olhar umedecido da professora Maria da Glria Lupurini Sampaio, de 77 anos, denuncia a importncia que o velho sobrado do sculo 19 tm para os ituanos. Alis, no s para os ituanos. Foi ali, no casaro do centro da cidade interiorana, que aconteceu, em 18 de abril de 1873, a primeira conveno republicana, durante a qual 133 entusiastas do novo regime definiram os pilares do movimento que, anos mais tarde, transformaria o Brasil em Repblica.Arqueologia abre espaos preciosos um trabalho que exigiu flego, dedicao. E muito idealismo. Durante os trs ltimos anos, a equipe de arquelogos e pesquisadores mergulhou em um projeto especial. Para redescobrir o Museu do Ipiranga das pranchetas do arquiteto italiano Tommazo Gaudenzio Bezzi e reencontr-lo majestoso como em 1895, quando foi inaugurado, foi preciso se embrenhar no meio de entulhos e fragmentos que se acumularam durante um sculo. O projeto de escavao comeou em 1995, contando com a coordenao experiente da Margarida Davina Andreatta, arqueloga e pesquisadora do Museu Paulista da USP. Na edificao do prdio ocorreu o que comum no final das obras: os restos e fragmentos do material empregado durante a sua construo foram depositados como entulho em seu subsolo, relata. Com o passar dos anos, os prprios funcionrios passaram a utilizar a rea para guardar o que no servia, tornando o local cada vez mais intransitvel e inspito. Todo esse entulho foi retirado e ressurgiu uma rea de 242 metros quadrados. Esse processo foi feito com auxlio de novas tcnicas arqueolgicas, explica Margarida. O trabalho se desenvolveu dentro de um cronograma adequado e com registros dos testemunhos e estruturas documentadas atravs de inventrios, fotografias e desenhos. A pesquisadora conta que no decorrer da escavao, foram encontradas cerca de 400 evidncias (peas e fragmentos), que testemunham o processo de construo do edifcio e que representam o material arqueolgico-histrico-industrial da poca. A cada dia, o grupo se deparava com uma descoberta. O entulho remanescente passou a compor uma pesquisa arqueolgica pioneira no Pas. Entre os restos de obras foram recuperados material ltico representado por seixos de quartzito, fragmentos de granito e fragmentos de mrmore de Carrara, observa Margarida. Foram identificados tijolos de 25 marcas ou tipos diferentes. Entre os restos industriais foram encontrados ferramentas de metal, talhadeiras, ponteiras. J entre os restos domsticos,___________________________________________MUSEU REABERTO EM BERO DA REPBLICA. Histrico casaro de Itu recebe pblico a partir de hoje; obras continuam Edison Veiga ItuCom o passar dos anos, o sobrado mudou de dono na poca da conveno, era da quatrocentona famlia Almeida Prado , mas permaneceu no imaginrio republicano paulista. Tanto que, em 1921, o governo estadual adquiriu o imvel, transformando-o dois anos mais tarde em um museus memria da causa republicana. Administrado pela Universidade de So Paulo (USP) considerado anexo do Museu Paulista, no Ipiranga, em So Paulo, tambm gerido pela USP , o espao teve de ser fechado em abril de 2007. Havia pontos de infiltrao de gua e tinha azulejo caindo, preso com fita adesiva, conta a historiadora Ceclia Helena de Salles, diretora do museu. Trs anos e R$ 500 mil depois, o casaro reabre para visitao pblica, embora a reforma ainda continue. Ceclia estima que sero necessrios mais R$ 2,5 milhes para deix-lo tinindo: o prdio ficar acessvel a deficientes, fios eltricos sero substitudos e outros problemas estruturais sanados.guarda de documentao preciosa. Aqui esto, por exemplo, os arquivos pessoais dos ex-presidentes Prudente de Moraes e Washington Lus, frisa a historiadora Anicleide Zequini, que trabalha ali e uma das curadoras da exposio de reabertura, intitulada De Casa Museu: A Formao do Museu Republicano (1923-1946). A mostra, que conta a histria da formao do museu, sob a gesto de seu primeiro diretor, o historiador Affonso dEscragnolle Taunay, procura desmistificar algumas lendas surgidas sobre o espao, deixando claro que sua construo atendia a um projeto poltico de criao de um memorial republicano. claro que essa moblia no a mesma que existia na dcada da conveno, exemplifica Anicleide, Foi comprada na dcada de 20, para a recriao de um espao de poca. Mas isso no diminui sua importncia. Outra histria muito ouvida por ali que o jardim que fica nos fundos do museu teria sido um cemitrio. O que segundo a historiadora, no verdade. O ponto alto da restaurao , sem dvida, o trabalho que vem sendo feito para recuperar os cerca de 3 mil azulejos que decoram dois cmodos do casaro. Instalados na dcada de 40 e pintados mo, eles se encontravam bastante deteriorados. Fizemos um levantamento e constamos que 80% deles estavam se soltando. E mais de 50% apresentavam algum processo de defeito, de fungos a fissuras, conta o restaurador Antonio Lus Saras, da empresa responsvel pela recuperao das peas, Esse trabalho, iniciado h quatro meses, deve ficar pronto at o fim deste semestre. Com o museu reaberto, o pblico poder acompanhar a delicada e cuidadosa recolocao das peas. Se no fizssemos essa interveno eles certamente comeariam a cair, diz Saras. No foram poucas as dificuldades encontradas ao longo do processo. At a argamassa utilizada precisava ser compatvel com a taipa das paredes, enumera. A reabertura do Museu Republicano da Conveno de Itu (Rua Baro de Itaim, 67; 11-4023-0240; grtis; tera a domingo, a partir de amanh, das 10h s 16h) acontece em data especial para a histria cidade interiorana. Hoje, Itu celebra seu 400 aniversrio. ___________________________________________HISTRIA CRUZADAS Para a aposentada Maria da Glria, o museu quase da famlia. Seu pai, Arthur Ferraz Sampaio, esteve em sua inaugurao, em 1923. Foi contratado como contnuo e depois promovido a zelador do museu, onde trabalhou at a morte, em 1939. Ento, ele foi substitudo pela minha irm, Maria Antonia, que tambm ficou no cargo at o fim da vida, conta Maria da Glria, misturando os fatos com recordaes pessoais vividas dentro do histrico casaro. Tenho orgulho, muito orgulho do museu. Desde a morte da irm, em 1975, ela nunca mais havia entrado ali. Coincidentemente, esteve revisitando o espao no mesmo dia em que a reportagem do Estado l estava, na ltima quinta-feira. A emoo e a felicidade so imensas. Estarei aqui na reinaugurao, garantiu. Outro com presena confirmada na festa o historiador Jonas Soares de Souza, de 65 anos, que, em 1974, convidado a trabalhar no museu, trocou a capital paulista por Itu. Virei Ituano, repete ele, que, 35 anos depois, se aposentou no ano passado, ainda trabalhando na instituio. A histria do casaro permanece viva em sua memria. Tambm houve uma grande restaurao na poca em que vim pra c, lembra. ACERVO O museu republicano nico lugar da regio que tem a77 79. ndice de Matrias* PG6.O diretor do Museu Paulista agradece a Carvalho Pinto. Estado de So Paulo, 01.02.19636.Restauro da Tela Independncia ou Morte. Fo