capítulo umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 capítulo um u m porco não...

14
7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando o fundo do chiqueiro obviamente vazio. Experimentou fechar e reabrir os olhos, para ver se aquilo tudo não passava de uma horrível ilusão de ótica. Mas quando olhou de novo constatou o sumiço do porco. Não se via em parte alguma aquele corpanzil cor-de-rosa, sempre sujo de lama. E, na verdade, quando examinou a situação pela segunda vez, George viu que era ainda pior: a porta lateral do chiqueiro estava aberta, certamente porque alguém não a fechara direito. E esse alguém fora ele mesmo, provavelmente. — George! — ouviu a mãe chamando da cozinha —, daqui a um minuto vou começar a fazer o jantar, portanto, você tem apenas uma hora. Já fez o dever de casa? — Já, mãe — respondeu o garoto, forçando um tom de voz animado. — Como está o porco? — Bem! Ele está bem! — disse George, e desta vez a voz quase o traiu. Tentou emitir uns guinchos, para parecer que o movimento estava normal como sempre naquele pequeno quintal atrás da casa, entulhado de verduras e com um enorme porco, agora misteriosamente ausente.

Upload: phamthuan

Post on 16-May-2018

214 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

7

Capítulo Um

Um porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo,

vasculhando o fundo do chiqueiro obviamente vazio. Experimentou fechar e reabrir os olhos, para ver se aquilo tudo não passava de uma horrível ilusão de ótica. Mas quando olhou de novo constatou o sumiço do porco. Não se via em parte alguma aquele corpanzil cor-de-rosa, sempre sujo de lama. E, na verdade, quando examinou a situação pela segunda vez, George viu que era ainda pior: a porta lateral do chiqueiro estava aberta, certamente porque alguém não a fechara direito. E esse alguém fora ele mesmo, provavelmente.

— George! — ouviu a mãe chamando da cozinha —, daqui a um minuto vou começar a fazer o jantar, portanto, você tem apenas uma hora. Já fez o dever de casa?

— Já, mãe — respondeu o garoto, forçando um tom de voz animado.

— Como está o porco? — Bem! Ele está bem! — disse George, e desta vez a voz

quase o traiu. Tentou emitir uns guinchos, para parecer que o movimento estava normal como sempre naquele pequeno quintal atrás da casa, entulhado de verduras e com um enorme porco, agora misteriosamente ausente.

Page 2: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

LUCY & STEPHEN HAWKING

8

George grunhiu mais algumas vezes, para reforçar a impressão de normalidade — era muito importante a mãe não vir até o quintal antes de ele ter tempo de arquitetar um plano. Não lhe ocorria uma idéia do que fazer para achar o porco, prendê-lo de novo no chiqueiro fechando bem a porta e entrar em casa a tempo para o jantar. Mas estava se esforçando, e seria o cúmulo do azar o pai ou a mãe aparecer antes de ele ter tido tempo de pôr tudo em ordem!

George sabia que os pais não tinham grande simpatia pelo animal. Jamais pensaram em abrigar um porco no quintal, e o pai rangia os dentes só de se lembrar de quem morava ali, além dos seus canteiros de verduras. O porco fora um presente: em uma fria noite de Natal, alguns anos antes, junto à porta da frente da casa, alguém deixou

uma caixa de papelão de onde saíam guinchos e grunhidos. Ao abri-la, George se deparou

com um porquinho cor-de-rosa, muito

indignado por estar ali dentro. George tirou-o

da caixa com todo o cuidado e contemplou,

encantado, o novo amigo escorregar nas patinhas

tentando contornar a árvore de Natal. Preso à caixa, havia

um bilhete onde se lia: “Feliz

Page 3: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

GEORGE E O SEGREDO DO UNIVERSO

9

Natal para todos, queridos! Esta coisinha fofa precisa de um lar... vocês podem abrigá-lo? Com todo o meu amor, Vovó X.”

O pai de George não fi cou nada alegre com esse acréscimo à família. O fato de ser vegetariano não signifi cava que gostasse de animais. Na verdade, ele preferia as plantas. Eram muito mais fáceis de tratar, não faziam bagunça nem deixavam pegadas de lama no chão da cozinha, não a invadiam nem comiam todos os biscoitos deixados em cima da mesa. Mas George fi cou emocionado por ser dono de um porco. Como sempre acontecia, também naquele ano os presentes que ganhara dos pais eram pavorosos. O pulôver de tricô, listrado de roxo e laranja, que a mãe lhe dera tinha as mangas sobrando até o chão. Ele jamais pretendera possuir uma fl auta de Pã, e precisou fazer um grande esforço para parecer entusiasmado quando desembrulhou um conjunto de apetrechos para a criação de minhocas.

Page 4: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

LUCY & STEPHEN HAWKING

O que George queria mesmo, mais do que tudo neste mundo, era um computador. Mas sabia que seria muito improvável os pais comprarem. Eles não gostavam das invenções modernas, e tentavam viver com o mínimo de equipamentos domésticos básicos. Pretendiam levar uma vida mais pura e mais simples, e, portanto, lavavam as roupas manualmente, não possuíam automóvel e iluminavam a casa com velas para evitar o uso de energia elétrica.

A intenção era dar a George uma criação mais natural e melhor, livre de toxinas, aditivos, radiações e outros fenômenos prejudiciais. O único problema era que, ao se

Page 5: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

GEORGE E O SEGREDO DO UNIVERSO

11

livrarem de tudo que pudesse prejudicar George, os pais conseguiram evitar muitas coisas que também poderiam lhe dar prazer. Os pais de George podiam gostar de dançar em torno de um mastro enfeitado nos festejos do 1º de maio, participar de marchas de protesto ou moer trigo para fabricar o próprio pão, mas ele não. George preferiria um parque de diversões, montanha-russa, jogos de computador, ou pegar um avião para ir a algum lugar longe, muito longe. Em vez disso, por enquanto tudo o que ele possuía era um porco.

Mas era um porco muito bonito, lá isso é verdade. George deu-lhe o nome de Freddy e passava muitas horas felizes dependurado no beiral do chiqueiro que o pai construíra no quintal, olhando Freddy fuçando palha ou resfolegando na lama. Passaram-se estações e anos, e o porquinho de George cresceu... cresceu... cresceu tanto que na penumbra parecia um fi lhote de elefante. Quanto mais Freddy crescia, mais parecia engaiolado no chiqueiro. Sempre que tinha alguma chance, adorava fugir e atacar os canteiros de verduras, pisoteando os talos das cenouras, mascando os brotos dos repolhos e as fl ores da mãe de George. Embora ela freqüentemente ensinasse ao fi lho que era muito importante amar todas as criaturas vivas, George desconfi ava que nos dias em que Freddy destruía o quintal ela não sentia grande amor por ele. Assim como o pai de George, a mãe era vegetariana, mas o garoto tinha certeza de tê-la ouvido, zangada, murmurar “salsichas” enquanto consertava os estragos causados por Freddy numa das suas escapadas mais devastadoras.

Page 6: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

LUCY & STEPHEN HAWKING

12

Entretanto, naquele dia em particular Freddy não destruíra as plantas. Em vez de atacá-las ferozmente, fi zera algo muito pior. De repente, na cerca que separava o seu quintal do da casa vizinha, George notou um buraco muito suspeito, do tamanho de um porco. Ontem isso não existia, mas ontem Freddy estava bem preso no chiqueiro. E agora sumira. Só havia uma explicação: em busca de aventuras, Freddy fugira daquele quintal seguro e fora para algum lugar aonde absolutamente não deveria ir.

A Casa Vizinha era um mistério. Sempre vazia, desde que George conseguia se lembrar. Naquela fi leira de casas avarandadas, todas mantinham quintais limpos, com janelas acendendo e apagando luzes ao anoitecer e portas batendo com gente entrando e saindo, porém aquela casa continuava ali parada — triste, silenciosa e escura. De manhã cedo, nada da gritaria alegre de crianças. Nada de mães chamando da porta dos fundos para as pessoas entrarem para o jantar. Nos fi ns de semana, nada de barulho de martelo nem cheiro de tinta fresca, porque ninguém aparecia para consertar as esquadrias quebradas da janela nem limpar as calhas que ameaçavam desabar. Com tantos anos de abandono, o jardim crescera em total desordem, e agora parecia que ali do outro lado da cerca crescera a fl oresta amazônica.

O pedaço de terreno da casa de George era limpo, arrumado e muito sem graça. Canteiros de vagens rigidamente amarradas em estacas, carreiras de alfaces fofas, viçosos talos de cenoura de um tom verde-escuro, batatas bem-comportadas. George não podia sequer bater

Page 7: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

GEORGE E O SEGREDO DO UNIVERSO

13

uma bola sem que ela fosse parar no meio da moita de framboesas cuidadosamente cultivadas, esmagando-as.

Os pais de George demarcaram uma pequena área para o fi lho plantar as suas próprias verduras, na esperança de que ele viesse a se interessar pela jardinagem e talvez, quando crescesse, se tornasse um produtor de verduras orgânicas. Mas George preferia olhar para o céu a olhar para a terra. E assim o seu pequeno pedaço do planeta continuou nu e cru, exibindo apenas pedras, mato e terra,

Page 8: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

LUCY & STEPHEN HAWKING

14

No céu noturno podemos ver alguns objetos que não

são estrelas: a Lua e os planetas, tais como Vênus, Marte, Júpiter ou Saturno.

Todos os demais pontos brilhantes

no céu noturno são estrelas,

como o nosso Sol. Algumas

maiores, outras menores, mas

todas são estrelas. A olho nu, em

noite límpida e longe de fontes

de luz, como cidades, podem ser

vistas às centenas.

O CEU NOTURNO 4A Lua e os planetas não têm luz própria. Parecem brilhar à noite porque o Sol os ilumina.

Durante o dia apenas uma

estrela pode ser vista no céu.

É a estrela mais próxima de

nós, a que mais influencia

as nossas vidas cotidianas

e para a qual damos um

nome especial: Sol.

enquanto ele tentava contar todas as estrelas do céu para descobrir quantas eram.

No entanto, a Casa Vizinha era totalmente diferente. Muitas vezes George subiu no teto do chiqueiro para observar por cima da cerca aquela gloriosa fl oresta emaranhada. O matagal exuberante formava pequenos esconderijos, e as árvores tinham ramos recurvados e cheios de nós, ideais para um garoto subir. Amoreiras silvestres cresciam em grandes touceiras espinhentas, com

Page 9: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

GEORGE E O SEGREDO DO UNIVERSO

15

os galhos ondulados parecendo se espichar em estranhos abraços, emaranhados como os trilhos de uma estação ferroviária. No verão, as ervas daninhas se enroscavam em todas as outras plantas do jardim, como uma teia de aranha verde; dentes-de-leão amarelos brotavam por toda parte; uma serralha sanguinária gigante, de espinhos venenosos, se destacava, ameaçadora, como uma espécie de outro planeta, e pequenos miosótis azuis cintilavam sua beleza em meio àquela brilhante confusão verde do quintal da Casa Vizinha.

Porém a Casa Vizinha também era um território proibido. Os pais de George haviam dito fi rmemente “Não” à idéia do fi lho de usá-la como um pátio de recreio suplementar. E não fora um “Não” normal, daquele “Não” habitualmente fraco, amigável, do tipo “estamos pedindo para você não fazer isso pelo seu próprio bem”. Fora um “Não” para valer, o tipo de “Não” que não dava para contestar. Esse mesmo “Não” George ouvira quando tentara sugerir que, como todo mundo na escola tinha televisão — alguns garotos chegavam a ter uma no quarto! —, talvez os pais pudessem pensar em comprar uma. Sobre o assunto televisão, George foi forçado a escutar uma longa explanação do pai sobre os malefícios que lhe poluiriam o cérebro se fi casse assistindo a bobagens inúteis. Mas quanto ao assunto Casa Vizinha, George sequer obteve uma preleção do pai. Só um “Não” seco, e fi m de papo.

Mas George queria sempre saber o porquê. Adivinhou que do pai não receberia esclarecimentos, e assim recorreu à mãe.

Page 10: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

LUCY & STEPHEN HAWKING

16

— Ora, George, você pergunta demais — suspirou ela, cortando couves-de-bruxelas e nabos e atirando tudo na massa de bolo. Tendia a cozinhar tudo o que lhe caísse nas mãos, exceto ingredientes que combinassem de verdade para produzir algo comestível.

— Eu só quero saber por que não posso ir à Casa Vizinha — insistiu George. — E se você me responder, não farei mais perguntas o resto do dia. Prometo.

A mãe enxugou as mãos no avental fl orido, tomou um gole de chá de urtiga e disse:

— Pois bem, George. Vou lhe contar uma história, se você mexer esta massa de bolo. — Passou-lhe a grande tigela marrom e a colher de pau e se sentou, enquanto

Page 11: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

GEORGE E O SEGREDO DO UNIVERSO

17

George começava a bater a massa amarela dura, salpicada de legumes verdes e brancos.

— Quando nos mudamos para cá, você era muito pequeno, e um velho morava nessa casa. Quase não o víamos, mas me lembro dele muito bem. Usava a barba mais comprida que eu já vi, quase até os joelhos. Ninguém sabia a sua idade, mas os vizinhos diziam que ele sempre morara ali.

— E o que aconteceu com ele? — indagou George, esquecendo a promessa de não fazer mais perguntas.

— Ninguém sabe — disse a mãe, cheia de mistérios.— O que você quer dizer com isso? — indagou George,

que parara de mexer a massa.— Só isso — respondeu a mãe. — Um dia ele estava aí.

No dia seguinte não estava mais.— Talvez tenha saído de férias — disse George.— Se foi isso, não voltou mais — prosseguiu a mãe.

— Acabaram fazendo uma busca na casa, mas dele não havia sinal. A casa fi cou vazia desde esse dia, e ninguém mais o viu.

— Meu Deus! — comentou George.— Um dia desses — retomou a mãe — nós ouvimos

barulho na Casa Vizinha, batidas fortes, altas horas da noite. Lanternas e vozes também. Uns mendigos tinham invadido a casa e estavam vivendo lá. A polícia os expulsou. Na semana passada julgamos ter ouvido barulho novamente. Não sabemos quem pode estar nessa casa. Por isso seu pai não quer que você ande por lá, George.

Page 12: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

LUCY & STEPHEN HAWKING

18

George olhou para o grande buraco na cerca e relembrou a conversa que tivera com a mãe. A história que ela lhe contara não o impedira de querer ir até a Casa Vizinha — ela ainda parecia misteriosa e sedutora. Mas querer ir à Casa Vizinha sabendo que não podia era uma coisa; concluir que na verdade precisava ir era outra bem diferente. De súbito, a Casa Vizinha parecia escura, mal-assombrada e muito assustadora.

George sentiu-se dividido. Em parte queria apenas voltar para casa, para a luz oscilante dos candelabros e para o cheiro familiar da comida preparada pela mãe; fechar a porta dos fundos e voltar para a segurança e o aconchego da sua casa. Porém, isso signifi caria abandonar Freddy sozinho e possivelmente em perigo. George não podia pedir ajuda aos pais, caso eles tivessem decidido que chegara a hora de dar cabo de Freddy, despachando-o para ser transformado em tiras de bacon. George respirou fundo e decidiu que precisava ir até lá. Precisava ir até a Casa Vizinha.

Fechou os olhos e mergulhou pelo buraco da cerca.Quando saiu do outro lado e abriu os olhos, estava bem

no centro do jardim que parecia uma fl oresta. Acima da sua cabeça, as copas das árvores eram tão densas que ele quase não conseguia ver o céu. Começava a escurecer, e a fl oresta espessa tornava tudo mais escuro ainda. George distinguiu, a custo, uma trilha em meio àquele enorme matagal. Seguiu-a, na esperança de que ela o levasse até Freddy.

Avançou com difi culdade atravessando grandes tufos de amoreiras silvestres que se agarravam à roupa e lhe

Page 13: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

GEORGE E O SEGREDO DO UNIVERSO

19

arranhavam a pele. Pareciam se esticar na penumbra para lhe espetar braços e pernas com aqueles espinhos pontiagudos. Ele ia pisoteando folhas velhas e enlameadas e sofrendo o ataque dos dedos aguçados e picantes das urtigas. De repente, o vento soprou nas árvores por cima de sua cabeça, produzindo um ruído cantante e suspiroso, como se as folhas dissessem: Cuidado... George... cuidado... George.

A trilha conduziu George a uma espécie de clareira, bem atrás da casa propriamente dita. Até então ele não vira nem ouvira sinal algum do seu porco travesso. Mas ali, no pavimento de pedras quebradas diante da porta dos fundos, George viu com total nitidez um conjunto de pegadas lamacentas. Pelas marcas, pôde constatar exatamente o caminho que Freddy percorrera. O porco penetrara na casa abandonada pela porta dos fundos, aberta o sufi ciente para um porco gordo se espremer

Page 14: Capítulo Umeditora.globo.com/crescer/pdf/171_livro_george.pdf7 Capítulo Um U m porco não desaparece assim de repente, como num passe de mágica, pensava George, incrédulo, vasculhando

LUCY & STEPHEN HAWKING

20

por ali. Pior, do interior da casa onde ninguém vivia há anos e anos brilhava um raio de luz.

Havia alguém ali.