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CAPTAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA ÁGUA DA CHUVA: contribuição para a sustentabilidade Ambiental do nosso Planeta

Autor: José Loir Pedroso da Silva 1

Orientador: Edinéia Vilanova Grizio-Orita 2

Resumo: Percebe-se que os recursos hídricos, em sua maioria, atingem níveis críticos de sustentabilidade em decorrência do aumento de consumo, poluição e desperdício. Nesse sentido, pode-se dizer que é notável a diminuição de fontes de água potável, fator que ameaça a sustentabilidade dos seres vivos no planeta Terra. Desse entendimento, a proposta de intervenção pedagógica na escola teve como norte a seguinte questão: Quais estratégias podem ser adotadas para a utilização racional da água potável? Para responder a intervenção objetivou a criação de um sistema de captação e utilização da água da chuva, para fins não potáveis. O trabalho foi desenvolvido com os alunos das 2ª séries do Ensino Médio do Colégio General Osório, na cidade de Ponta Grossa-PR. Inicialmente realizou-se um levantamento sobre as concepções prévias dos alunos em relação ao tema em questão. Em seguida foi apresentado dados relevantes acerca da escassez de fontes de água potável para, posteriormente, instigar os alunos na busca de soluções para o problema que culminarão com a criação do sistema de captação e utilização da água da chuva. Com a aplicação dessa atividade foi possível averiguar a minimização e o desperdício da água potável. Assim, as estratégias de captação e utilização da água da chuva, ultrapassaram os muros escolares por meio da divulgação feita pelos educandos. Isso certamente contribuiu e contribuirá para a preservação da água potável para as futuras gerações. Palavras-chave: água potável. escassez. sustentabilidade. 1 INTRODUÇÃO

Este artigo que se apresenta traz uma discussão em torno da

implementação da intervenção pedagógica na escola intitulada “Captação e

utilização da água da chuva: contribuição para a sustentabilidade ambiental do

nosso planeta”, desenvolvida no Colégio Estadual General Osório, por ocasião

da nossa participação no período 2012 – 2013, no Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), oriundo do Governo do Estado do

Paraná.

“Captação e utilização da água da chuva: contribuição para a

sustentabilidade ambiental do nosso planeta” é a temática que foi abordada na

intervenção. Para tanto, foi construído um Caderno Pedagógico com a

1 Formação Licenciatura em Geografia – UEPG. Especialista em Espaço Sociedade e Meio Ambiente, Geografia, Colégio Estadual General Osório, Ponta Grossa-PR, Brasil. 2 Doutorado em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá, Brasil (2012) Professora Adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR, Brasil.

finalidade de oferecer aos alunos das 2ª séries do Ensino Médio, um material

de estudo para a disciplina de Geografia. A proposta se justifica, visto que

apesar de haver uma quantidade expressiva de publicações sobre o tema

disponíveis em livros e on-line os alunos do Ensino Fundamental e Médio ainda

não têm acesso a todos esses materiais, portanto considera-se que o Caderno

Pedagógico será um novo instrumento de estudo e descoberta do assunto em

questão.

Com esta intervenção buscou-se levar os alunos a perceberem que

pequenas ações em prol da sustentabilidade ambiental são sempre bem vindas

e, nesse caso, buscar meios de poupar o elemento água, utilizando a água da

chuva para fins não potáveis, é uma enorme contribuição, pois assim, cria-se

alternativas para obter esse produto tão escasso e mal distribuído entre os

grupos sociais do nosso planeta.

Conforme é citado nas Diretrizes Curriculares da educação Básica

(DCE-2008, p. 67), “enfocar, pedagogicamente, as relações

Sociedade/Natureza requer considerar as limitações e demandas que a

natureza apresente à sociedade”. Diante do exposto pode-se ressaltar ainda

que levar os educandos a pensar criticamente sobre o elemento natural água é

mais que necessário, pois as duas variantes expostas, ou seja, as limitações e

demandas pelo elemento água caminham juntas, visto que estão vinculados

diretamente ao crescimento populacional em nosso planeta.

Dando sequência às leituras sobre os escritos da DCE-2008, p.67, pode-

se ainda destacar a seguinte consideração: “os aspectos físicos naturais do

espaço são, também, fatores de determinação do valor econômico de áreas

urbanas e rurais devido à constituição dos solos, à proximidade de rios, à

presença de mananciais”. Olhando por esse viés, fica claro que as atividades

propostas no Caderno Pedagógico puderam contribuir para que os alunos

refletissem criticamente sobre a maneira como se ocupa o espaço e que a

valorização desse só acontece em virtude dos elementos naturais que o

compõe e que é fundamental observar se esses foram usados com senso de

conservação, ou simplesmente explorados sem nenhum critério pela

humanidade ao longo dos anos.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Entre muitos temas da área ambiental o elemento água, com certeza,

ocupa o centro das atenções, ou seja, a possibilidade da falta de água traz

grandes preocupações para todos os setores da sociedade e, principalmente,

para as administrações públicas. Esse é um problema difícil de ser resolvido e

bastante polêmico, tendo em vista as limitações das reservas de água doce em

nosso planeta. O aumento da demanda de água potável para atender,

principalmente, o consumo humano, agropecuário e industrial, está levando os

recursos hídricos à exaustão. Segundo Mancuso, a solução do problema passa

pelo aumento na eficiência da distribuição da água captada.

Se considerarmos que 65% de toda a água consumida é utilizada pela agricultura, 25% pelas indústrias e que o restantes 10% são encaminhados para os diversos fins urbanos, temos uma redução de 10% na fração destinada à irrigação que liberaria água suficiente para, grosseiramente, duplicar o consumo doméstico em âmbito mundial. Por exemplo, técnicas modernas de irrigação poderiam contar com mais suporte governamental, substituindo métodos com mais de cinco mil anos que ainda são empregados em varias regiões do globo (MANCUSO, 2003, p. 3).

Dessa forma, se faz necessário trabalhar em busca de novas

alternativas para estabilizar os males que a carência ou a escassez desse

recurso natural traz para a sociedade em algumas regiões do mundo.

Assim, é evidente que um “caminho” a seguir, seria desenvolver projetos

que possibilitem ao ser humano otimizar o uso da água em todas as formas

que a mesma se apresenta na natureza.

Portanto, é importante a utilização do sistema de captação e utilização

da água da chuva para fins não potáveis, como rega de jardins e hortas,

limpeza de calçadas, automóveis e descargas sanitárias. Essa é uma maneira

prática de economizar água potável para beber e cozinhar.

Percebe-se que o grande destaque visual do nosso planeta é a

concentração das massas líquidas (oceanos, mares, lagos e rios). Porém essa

riqueza natural também é encontrada em outras formas. De acordo com

Rebouças (2006), 97,5% do volume total de água formam os oceanos e mares

e somente 2,5% são de água doce. Ressalta-se que a maior parcela dessa

água doce (68,9%) forma as calotas polares, as geleiras e neves que cobrem

os cumes das montanhas mais altas da Terra. Os 29,9% restantes constituem

as águas subterrâneas doces. A umidade dos solos e as águas dos pântanos

representam cerca de 0,9% do total e a água doce dos rios e lagos cerca de

0,3%.

Diante de tais dados fica evidente que o homem precisa se preocupar

em proteger a água, sendo ela vital para a qualidade de vida. Se medidas

estratégicas não forem tomadas no sentido de fazer uso racional da água

potável, esse elemento tão essencial aos seres vivos será segregado a muitos

grupos sociais espalhados pelas mais diversas regiões do nosso planeta.

Outro ponto que precisa ser observado é a escassez de água que já se

faz presente no planeta, pois conforme (FERNANDES & MEDEIROS NETO &

MATTOS, 2007), que comentam

Como se não bastasse a trágica poluição, a escassez da água é também um problema grave. Atualmente, muitos países já sofrem com a falta de água, no entanto dados da ONU indicam que em poucos anos cerca de 48 países deverão enfrentar a extrema falta de água o que afetará uma população média de 2,8 bilhões de pessoas (FERNANDES; MEDEIROS NETO; MATTOS, 2007, p. 4).

Dessa maneira, o consumidor pagará cada vez mais caro, para ter um

produto de boa qualidade em suas torneiras.

É interessante ressaltar que o consumidor doméstico, industrial ou

agrícola não é o único esbanjador. De acordo com a Agência Nacional de

Águas (ANA), cerca de 40% da água captada e tratada para distribuição, se

perde no caminho até as torneiras, devido à falta de manutenção das redes, à

falta de gestão adequada do recurso e ao roubo (AGUIAR & SCHARF, 2003).

O Brasil possui cerca de 12% da água doce disponível no globo

terrestre, mas a má distribuição do líquido entre as diversas regiões brasileiras

faz com que o problema da falta de água não esteja ainda resolvido no país

(TOMAZ, 2001).

Os maiores mananciais estão localizados em regiões de menor

densidade populacional e aqueles próximos às grandes cidades apresentam

grandes índices de poluição, devido à pequena porcentagem de tratamento dos

efluentes antes de seu lançamento em rios, mares e oceanos.

De acordo com Machado (2003), segundo dados da Agência Nacional

de Águas (2002), a distribuição de água em nosso território segue a seguinte

ordem: 70% da água estão concentradas na região Norte, mais propriamente

dito, na bacia amazônica, onde vivem apenas 7% da população brasileira.

Todavia é a região Sudeste, que tem a maior concentração populacional –

42,63% do total brasileiro –, e dispõe de apenas 6% dos recursos hídricos.

Prossegue o autor dizendo que outro fator importante de ser analisado é que a

região Nordeste abriga 28,91% da população e dispõe apenas de 3,3% de

água. O autor ainda salienta que “apenas 30% dos recursos hídricos brasileiros

estão disponíveis para 93% da população”.

Os locais mais populosos são justamente os que possuem pouca água,

por outro lado, onde há muita água ocorre baixo índice populacional. Pode-se

citar como exemplos a região Sudeste do Brasil, que dispõe de um potencial

hídrico de apenas 6% do total nacional, porém conta com 43% do total de

habitantes do país, enquanto a Região Norte, que compreende a Bacia

Amazônica, apresenta 69% de água disponível, contando com apenas 8% da

população brasileira (GHISI 2006 apud MARINOSKI & GHISI, 2007).

Diante do exposto é evidente que o nosso país, apesar da grande

quantidade de água potável existente em seus domínios, já apresenta carência

na oferta desse elemento nos grandes centros urbanos brasileiros, ou seja,

algumas de suas principais cidades, como Recife, São Paulo entre outras,

enfrentam uma de suas piores crises de abastecimento. De acordo com

Rebouças (2006), pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP e

um dos maiores especialistas nacionais em água, mostra que a situação está

tão crítica que São Paulo, a maior metrópole brasileira, está à beira de um

colapso. Para o autor, é necessário ficar atento ao racionamento da água, para

não ocorrer o “sujão”, como já aconteceu o “apagão”, trocadilho do autor.

Será necessário buscar alternativas para equacionar os problemas

relativos à escassez de água potável que pode comprometer a sustentabilidade

do nosso país. Entre as possibilidades que o meio natural brasileiro oferece, o

aproveitamento da água da chuva apresenta-se com grande destaque, pois

devido o posicionamento do nosso território, 92% na zona tropical, a

precipitação em forma de chuva se faz presente na maior parte do Brasil, no

decorrer do ano. É evidente que para apresentar a água da chuva como

alternativa de amenizar a escassez, deve-se levar em consideração entre

outros fatores o ciclo hidrológico (MARINA & RIGOLIN, 2005).

O processo de captação e utilização da água da chuva é utilizado há

muito tempo pelo homem, porém no Brasil, essa cultura está caminhando a

passos lentos, pois tradicionalmente o país possui uma ótima reserva hídrica e,

por isso, ao discutir sobre esse assunto, nem sempre se consegue a atenção

necessária, porque tem-se a ilusão de que água potável nunca faltará. O que

não é verdade, visto que nas grandes capitais, principalmente nas regiões

periféricas e na região Nordeste do nosso país, as camadas sociais mais

carentes já convivem com essa realidade.

Cabe ressaltar, que em algumas regiões do mundo, os pesquisadores

procuram minimizar esse mal, buscando alternativas, como a captação e

utilização de água da chuva e substituição de alguns acessórios antigos por

novos, que devido as suas tecnologias economizam o consumo de água,

exemplos são o sistema hidráulico – torneiras economizadoras – e sanitário –

bacias sanitárias, no máximo, com 6 litros. Essa opção já é realidade em outros

países.

De acordo com Luz (2005), um exemplo a ser seguido é o da “Cidade do

México, onde o governo substituiu três milhões e meio de válvulas dos vasos

sanitários com caixa acoplada, o que significou uma redução de cinco mil litros

de água por segundo”. Ainda afirma o autor que “nos Estados Unidos é

obrigatório o volume de seis litros nas descargas e na vazão dos chuveiros e

das torneiras foi reduzida para nove litros por minuto”.

Devido às condições socioeconômicas, sabe-se que essa opção de

substituir os acessórios antigos – hidráulico/sanitário – pelos modernos que

apresentam tecnologia economizadora de água, não é uma tarefa fácil, pois é

notório que boa parte das construções no Brasil não segue os critérios

estabelecidos como padrão de sólidas edificações. Logo, é evidente que essa

categoria de habitações apresenta outras prioridades, ou seja, de imediato, se

faz necessário melhorias estruturais para na sequência se pensar em

modernidade.

O desenvolvimento do processo de captação e utilização da água da

chuva não é tão simples, devido algumas peculiaridades (CAMPOS &

EHRNANDES & AMORIM, 2003) comentam três paradigmas sobre o uso de

água pluvial em atividades domésticas, sendo que o primeiro é a falta de

conhecimento do sistema, que apesar da simplicidade dos elementos

constituintes e do dimensionamento por métodos conhecidos, observam falta

na divulgação do conhecimento no meio técnico e na sociedade. O segundo é

a qualidade da água pluvial, que se constitui na maior barreira a ser vencida,

pois, em condições normais da atmosfera, a chuva possui boa qualidade,

entretanto, ao precipitar entra em contato com inúmeros poluentes: telhado,

calhas, tubulações e cisterna.

Os autores discutem que um sistema com projeto adequado, com

dispositivos que garantam a qualidade e com uma manutenção adequada,

poderá garantir o fornecimento de uma água com qualidade, principalmente

para o uso doméstico. O terceiro e último paradigma é o custo de

implementação. Nos exemplos estudados pelos autores, o período de retorno

de investimento é aceitável e tende a diminuir na medida em que o custo da

água potável se eleve.

May e Prado (2004), em estudo referente à qualidade da água da chuva

utilizada para consumo não potável, aconselham o descarte dos primeiros 15 a

20 minutos de precipitação para que seja feita a limpeza do telhado, devido à

concentração elevada de poluentes depositados. Recomendam ainda que a

água de chuva armazenada, sem qualquer tipo de tratamento, pode ser

utilizada somente para consumo não potável. Porém, ela tem potencial para

utilização na rega de jardins, na lavagem de veículos, calçadas e pátios, na

limpeza de vasos sanitários, em sistemas de ar condicionado e em sistemas de

combate a incêndios, entre outros.

Atualmente a utilização da água da chuva acontece em vários países de

diversos continentes onde, em muitos deles são oferecidos benefícios para a

construção de sistemas para captação e armazenamento da água da chuva

como nos Estados Unidos, Alemanha e Japão.

Ainda nesses países, por exemplo, o processo de captação da água da

chuva começou visando à retenção das águas pluviais como medida preventiva

no combate a enchentes urbanas. Porém, no decorrer do tempo o

aproveitamento da água ganhou espaço em função do risco de escassez e,

também, para promover a recarga dos subsolos que são a principal fonte de

abastecimento de água nesses países (GROUP RAINDROPS, 2002).

Como esclarece Scherer (2004), os edifícios escolares são estruturas

potenciais para a implantação de sistemas prediais de aproveitamento das

águas pluviais para usos não potáveis, pois geralmente apresentam grandes

áreas de captação. Para a implantação desses sistemas são necessários

estudos de viabilidade técnica e econômica, que verifiquem o potencial de

economia de água potável e determinem a relação entre custo e benefício.

3 METODOLOGIA

Para que se atendesse aos objetivos propostos no projeto de

intervenção pedagógica, que foi realizado com os alunos das 2ª séries “D” e “E”

do Ensino Médio, do período noturno do Colégio Estadual General Osório, do

município de Ponta Grossa, Paraná, no ano 2013, as atividades foram iniciadas

na primeira semana do mês de março e concluídas na primeira semana de

julho do corrente ano.

O primeiro encontro da implementação contou com a presença dos

alunos das 02 (duas) turmas citadas acima, os quais foram convidados para

participarem como sujeitos dessa ação. Nesse mesmo encontro foi feito, aos

alunos presentes, uma apresentação geral do material que iria ser usado na

implementação, ou seja, o “Caderno Pedagógico”. Os alunos foram, portanto,

informados de que iriam participar de 32 aulas, sendo essas distribuídas de

acordo com a necessidade das atividades, entre elas, está uma saída de

campo (visita técnica à empresa Viação Campos Gerais), e a participação dos

mesmos, sempre que necessário, na implantação do sistema de captação da

água da chuva, no contraturno, bem como as aulas teóricas dentro do colégio.

O segundo encontro iniciou-se com trabalhos promovendo uma

interação com os mesmos sobre o que seria um sistema de captação da água

da chuva e qual a sua relevância para as questões associadas à

sustentabilidade do nosso planeta. Na sequência, verificou-se com os

educandos a localização do município de Ponta Grossa, bem como os

elementos naturais que estariam envolvidos diretamente com o objeto de

estudo, ou seja, o relevo, a hidrografia e o clima da região e, posteriormente, a

precipitação local.

Na sequência do percurso de implementação, foi abordado as questões

climáticas do município de Ponta Grossa e do Paraná.

Essa informação foi importante para a continuidade das intervenções,

posto que, desse momento em diante, abriu-se uma discussão sobre o clima

de Ponta Grossa. Explicou-se que é subtropical úmido mesotérmico,

denominado, conforme a classificação internacional de W. KOEPPEN, de tipo

Cfb.

Uma vez feita essas considerações, passou-se a analisar ocorrência de

chuvas do Paraná e do município de Ponta Grossa, analisando o mapa de

precipitação média anual do Paraná (Figura 1).

Figura 1: Mapa da precipitação paranaense – média anual

Fonte: IAPAR (2006)

Após a leitura do mapa, a pesquisa foi direcionada no sentido de

entender especificamente o regime pluviométrico de Ponta Grossa, a partir de

então, se fez necessário recorrer ao histórico de dados hidrológicos pesquisado

pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).

Foi apresentado dados referentes à precipitação média mensal, medida

em Ponta Grossa entre Janeiro de 1954 e Junho de 2001, compreendendo

47,5 anos de registros.

E nessa discussão também foi abordado a distribuição da água no

planeta Terra. Apontou-se a possibilidade de utilizar a água do mar, através do

processo de dessalinização, ou seja, tornar essa água potável, porém foi

ressaltado que essa técnica, ainda é muito dispendiosa economicamente, mas

que no futuro, é muito provável que essa prática venha a ser adotada.

Na sequência, foi discutido com os alunos os dados referentes à

distribuição dos recursos hídricos do Brasil.

Nesse momento, também foi trabalhado o vídeo “Carta escrita no ano

2070”. Um material que destaca que no futuro a humanidade vai sofrer muito

com a falta de água potável, quase nada de água para beber, meio copo por

dia; roupas descartáveis; população em geral inclusive as mulheres, com o

cabelo raspado, para facilitar a higienização e baixa longevidade, 35 a 40 anos.

Depois da apresentação desses materiais – textos e vídeo – foi realizada

uma atividade do tipo passa ou repassa, com perguntas bem objetivas. O

procedimento para realizar essa atividade foi dividir a classe em dois grupos,

sendo que os mesmos elegeram um representante para cada grupo, porém

todos podiam participar com efetivas respostas. A realização dessa atividade

foi um sucesso, pois despertou o espírito de competição entre os educandos e

assim sendo, a aquisição de conhecimento foi atendida com êxito.

A partir de então, o foco de discussão passou a ser a escassez de água

potável, e o desperdício desse produto tão nobre. A abordagem foi feita através

de dois vídeos: “Veja ideias para evitar o desperdício” e “desperdício de água”.

O primeiro vídeo apresenta o aproveitamento de água da chuva e do chuveiro,

para fins menos nobres, que alguns condomínios adotaram, visando baixar os

custos condominiais. O segundo trata do alarmante descaso que a sociedade

brasileira faz com o elemento água – desperdício por parte das

concessionárias e a população em geral.

Foi dado inicio à construção do sistema de captação da água chuva, no

colégio. Antes de iniciar a obra foi feito uma visita técnica à empresa Viação

Campos Gerais3 (VCG), o objetivo dessa visita foi conhecer o sistema de

captação da água da chuva que a referida empresa tem instalado em sua sede.

Dando prosseguimento às atividades, passou-se a analisar os possíveis

pontos que oferecessem a melhor opção para a captação de água na escola.

Mais uma vez os alunos surpreenderam demonstrando uma boa leitura sobre o

espaço vivido. A partir de então, em comum acordo a equipe gestora e

comunidade escolar, foi definido uma área localizada entre a quadra de

esportes e o prédio, que abriga quatro salas de aulas, nos fundos da escola.

Como existe uma passarela que interliga a quadra de esportes e as salas de

aulas, tem-se, então, uma área de coleta aproximada de 200 m².

Conforme as considerações técnicas do Engenheiro Ambiental Felipe de

Arruda Troyner NRE – Ponta Grossa, “como se trata de uma intempérie

climática sujeitas às alterações não mensuráveis em projetos, adota-se o

coeficiente de confiabilidade de 87%, ou seja, o reservatório vai atender a

demanda de projeto (160 litros por dia) em aproximadamente 87% dos dias”.

Definido o local de instalação foi apresentado aos educandos os

materiais necessários à instalação da cisterna. Também foi uma ação muito

tranquila, pois devido à faixa etária dos mesmos, boa parte deles conhece os

materiais que seriam utilizados na parte de alvenaria (areia, cimento, pedra,

ferragem e tijolos), assim como a parte hidráulica, ou seja, – a cisterna, tubos e

conexões. Também foi destacado que existem disponíveis no mercado,

materiais mais sofisticados para este fim, como Kit de cisterna, com todos os

acessórios, como filtro, bóia e freio, todavia devido à limitação financeira do

colégio, optou-se por um sistema mais simples, mas que vai atender as

necessidades da escola.

Em um primeiro momento, pensou-se em envolver alguns alunos

diretamente na instalação da cisterna, mas em comum acordo com a equipe

gestora, por uma questão de segurança, optou-se em contratar uma mão de

obra terceirizada. Então, fez-se, com os educandos, apenas o

acompanhamento das fases da obra.

A construção do sistema de captação e armazenamento de água da

chuva obedeceu a seguinte ordem: fixação de pilares de aproximadamente

3 Empresa responsável pelo transporte coletivo de Ponta Grossa – localizada, Av. dos Vereadores, Bairro de Oficinas, de nossa cidade.

80 cm, sobre o qual, foi montada a base de concreto armado, onde foi alojado

a cisterna, também foi instalado um sistema de calhas, em chapa galvanizada,

e tubulação de pvc 100 mm, que interliga a calha ao reservatório, com um

sistema de descarte, para eliminar as impurezas de cada início de chuva.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao se trabalhar o relevo do município de Ponta Grossa, alguns alunos

passaram a demonstrar grande interesse pela geografia local e levantaram

diversos questionamentos.

Desses questionamentos foi destacado que os elementos naturais locais

estão sempre associados ao um conjunto maior, portanto, deve--se fazer essas

observações em escala local para entender a totalidade, o espaço global.

Após esse entendimento passou-se a discutir à distribuição de água na

Terra, à medida que tais indicadores foram apresentados surgiu uma discussão

e muitas indagações entre os discentes.

Essa abordagem foi feita, a partir das considerações de (MAACK, 1948)

que destaca, que em virtude da localização geográfica do Paraná, e o fato do

mesmo ser banhado pelo oceano Atlântico e atravessado pelo Trópico de

Capricórnio torna essa área sujeita a receber influência de diferentes fatores

macroclimáticos.

Os indicadores das médias mensais de precipitações observadas no

período de registros mostram que o período de maior intensidade de

precipitação foi de 185,45 mm que corresponde ao mês de Janeiro e o período

de menor intensidade foi de 78,87 mm correspondente ao mês de agosto. E

que a média de precipitação anual de Ponta Grossa é de 1.554mm.

(CARAMORI, 2002 apud GIACCHINI, 2003, p. 66).

Conforme citado por Rebouças (2006), na revisão de literatura. Entre as

formas que a água se apresenta, foi destacado que já é utilizado considerável

quantidade das águas subterrâneas, através das perfurações de poços

artesianos. Porém, é preciso recordar que, mesmo existindo o Programa

Nacional de Águas Subterrâneas (PNAGS), o Ministério do Meio Ambiente

(2006), por meio do Plano Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH) reconhece

que: “A sociedade pouco conhece e discute o assunto e são raras as iniciativas

para a mobilização e educação ambiental que incorporem o tema”. Portanto, o

recurso natural, existe, todavia, é pouco explorado e divulgado na sociedade.

Outra ideia que também foi apresentada e discutida é a possibilidade de

se utilizar a água do mar, pois segundo Araia (2010), essa técnica é usada há

algum tempo:

A ideia da dessalinização é bem antiga. Há milhares de anos, marinheiros já usavam a evaporação solar para separar o sal da água do mar. Hoje em dia, as usinas empregam técnicas como destilação, osmose reversa, dessalinização térmica e congelamento. Todas elas têm um fator em comum: são caras e só recebem investimentos se não existem outras alternativas economicamente mais viáveis (ARAIA, 2010 p. 22).

Também foi ressaltado as dificuldades que o Brasil já enfrenta, referente

à água, pois, de acordo com Machado (2003), segundo dados da Agência

Nacional de Águas (2002), percebe-se que a maior demanda por água ocorre

justamente onde à oferta é menor, com destaque para as regiões: Sudeste,

visto que é lá que se concentra a maior parte da população brasileira, e a

região Nordeste, castigada pelas estiagens, além das áreas periféricas das

grandes capitais brasileiras onde a falta de água de qualidade, infelizmente já

se faz presente.

Outro aspecto observado foi à importância do elemento água para os

seres vivos, pois conforme (BRANCO, 1991), “a água constitui parte integrante

do organismo humano, representando cerca de 70% da sua composição,

indispensável ao desempenho de funções fisiológicas fundamentais”. Se uma

pessoa perder 10% da água de seu corpo corre risco de vida, se perder 20%

pode morrer (ANA, 2002).

Verificou-se que a visita técnica feita a VCG, foi muito proveitosa, pois

tem-se o conhecimento de que o consumo de água nessa empresa é muito

elevado, devido à natureza de suas atividades. As instalações da empresa têm

uma capacidade para armazenar 160 mil litros de água da chuva, e, esse

sistema possibilita que a água coletada seja reciclada quatro vezes, para ser

reutilizada na “lavagem” de ônibus.

Durante todo o processo de instalação da cisterna (Figura 2), foi

apresentado aos alunos algumas teorias referentes à construção de um

sistema para captar e armazenar à água da chuva, como esclarece Scherer

(2004), “os edifícios escolares são estruturas potenciais para a implantação de

sistemas prediais de aproveitamento das águas pluviais para usos não

potáveis, pois geralmente apresentam grandes áreas de captação”. Ressalta

ainda o referido autor que “para a implantação desses sistemas são

necessários estudos de viabilidade técnica e econômica, que verifiquem o

potencial de economia de água potável e determinem a relação entre custo e

benefício”.

Figura 2 – Sistema de captação de água da chuva, instalado no Colégio Estadual General Osório, Ponta Grossa Paraná.

Fonte: Foto do autor

Os vídeos “Veja ideias para evitar o desperdício” e “Desperdício de

água”. Também foram de grande valia, pois, a partir das informações que os

mesmos dispõem, culminou com a produção escrita de um texto, onde os

alunos evidenciaram seu posicionamento sobre o assunto.

Como não poderia deixar de ser, o grande marco dessa experiência foi

associar a teoria a prática e isso resultou com a instalação da cisterna. Após a

conclusão da obra, foi feito à apresentação da mesma aos demais educandos

da escola e à comunidade escolar. Os alunos que participaram da

implementação confeccionaram cartazes, referentes ao tema, ou seja, combate

à escassez de água potável de um modo geral.

Essa apresentação iniciou-se com uma fala do Professor PDE, que fez

uma exposição sobre as fases do curso como: as pesquisas realizadas para

elaborar o projeto e o caderno pedagógico; a divulgação e socialização desse

material por meio do trabalho em rede (GTR), que contou com quinze

professores de diversas regiões do estado do Paraná; a seguir foi destacado o

processo de implementação do Caderno Pedagógico com os alunos das 2ª

séries do Ensino Médio, período noturno; e a instalação do sistema de

captação de água da chuva. Nesse encontro, foi exposto quais os critérios que

foram utilizados para definir o local da instalação da cisterna.

Para concluir as atividades propostas para a intervenção, foram também

expostos em uma sala de aula os materiais, tais como textos, cartazes,

pinturas e desenhos produzidos pelos alunos que participaram da

implementação da intervenção pedagógica na escola, os quais fizeram ainda

uma exposição oral aos demais alunos do colégio para compartilhar dos

conhecimentos adquiridos por meio do projeto.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intervenção pedagógica objetivou promover com os alunos uma

reflexão sobre sustentabilidade ambiental. Sendo assim, foi proposto várias

atividades que levaram os alunos a tomar conhecimento da geografia do

município de Ponta Grossa e a pensar em uma possibilidade de produzir um

sistema de captação de água da chuva nas edificações do colégio.

O intuito era, que ao final deste estudo, os alunos tivessem consciência

da necessidade de buscar meios de poupar o elemento água, utilizando a água

da chuva para fins não potáveis. Assim, estarão contribuindo com alternativas

para obter esse produto tão escasso e mal distribuído entre os grupos sociais

que se encontram pela superfície terrestre.

Diante do observado por meio de um projeto de intervenção pedagógica

dessa natureza, acredita-se que vale à pena dar continuidade e investir em

aulas que possam cada vez mais aprimorar o conhecimento dos alunos

trazendo discussões teóricas e experiências práticas sobre sustentabilidade

ambiental.

Ressalta-se ainda a possibilidade de futuramente ampliar o sistema de

captação da chuva, visto que, existem outros pontos que podem ser

aproveitados para instalar outra cisterna para captar água da chuva, com

capacidade de armazenagem superior a que foi instalada no momento. O

aproveitamento da água desse novo sistema será destinado à descarga das

bacias sanitárias, em virtude, desse ser o ponto de maior consumo de água

potável no ambiente escolar.

De tudo o que foi experienciado nesta trajetória reconhece-se o

Programa de Desenvolvimento Educacional como uma proposta de extrema

importância ao aperfeiçoamento profissional dos professores da rede pública

paranaense.

6 REFERÊNCIAS

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