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Capítulo 2 Materiais Piezoelétricos José Antonio Eiras Grupo de Cerâmicas Ferroelétricas Departamento de Física - Universidade Federal de São Carlos CEP: 13.565-905 São Carlos / SP, Brasil [email protected]

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Page 1: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Capítulo 2

Materiais Piezoelétricos

José Antonio Eiras

Grupo de Cerâmicas Ferroelétricas Departamento de Física - Universidade Federal de São Carlos

CEP: 13.565-905 São Carlos / SP, Brasil [email protected]

Page 2: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Conteúdo 2.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 3

2.1.1. Fundamentos de piezoeletricidade.......................................................... 3

2.1.2. Equações fundamentais........................................................................... 4

2.1.3. Monocristais vs. policristais (cerâmicas ou filmes finos) ....................... 7

2.2. MATERIAIS PIEZOELÉTRICOS................................................................. 9

2.2.1. Cristais .................................................................................................... 9

2.2.1.1. Quartzo (SiO2) .................................................................................... 9

2.2.1.2. Niobato de lítio (LiNbO3 - LN) e tantalato de lítio (LiTaO3-LT)..... 10

2.2.2. Semicondutores..................................................................................... 12

2.2.3. Cerâmicas.............................................................................................. 13

2.2.3.1. Perovskitas ((A1,A2)(B1,B2)O3) ........................................................ 14

2.2.4. Polímeros .............................................................................................. 16

2.2.5. Compósitos ........................................................................................... 18

2.2.6. Filmes finos........................................................................................... 21

2.3. CARACTERIZAÇÃO DE PROPRIEDADES DIELÉTRICAS E

PIEZOELÉTRICAS.......................................................................................................... 23

2.3.1. Introdução ............................................................................................. 23

2.3.2. Propriedades dielétricas ........................................................................ 23

2.3.3. Propriedades piezoelétricas................................................................... 25

2.3.3.1. O método da ressonância ................................................................. 26

2.3.3.2. Condições de caracterização de elementos piezoelétricos................ 28

2.3.3.3. Modos de vibração em piezoelétricos............................................. 31

2.4. REFERÊNCIAS............................................................................................ 33

2

Page 3: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

2.1. INTRODUÇÃO

O efeito piezoelétrico foi descoberto em 1880 em cristais de quartzo pelos irmãos

Pierre e Jacques Curie [1]. Desde então tem motivado inúmeras investigações para o

desenvolvimento de sistemas transdutores eletromecânicos.

O efeito consiste basicamente na conversão de energia mecânica em elétrica (do

grego “piezo” → “pressão”). Posteriormente, em 1881, por análises termodinâmicas,

Lippman [2] previu a existência do “efeito piezoelétrico inverso”, que consiste no

aparecimento de uma deformação do material quando submetido a um campo elétrico.

A primeira aplicação tecnológica de um elemento piezoelétrico pode ser atribuída a

Langevin (1921) [3], que desenvolveu um sonar utilizando o quartzo como elemento

piezoelétrico. O descobrimento, por Roberts [4], que cerâmicas ferroeléctricas de titanato

de bário (BaTiO3) polarizadas apresentam o efeito piezoelétrico marcou o início da

geração das piezocerâmicas.

Os estudos de soluções sólidas de PbZrO3- PbTiO3, por Jaffe [5,6] nos anos 50,

resultaram na obtenção de cerâmicas de titanato zirconato de chumbo (PZT), que

passaram a ser objeto de freqüentes investigações para a otimização de suas propriedades

ou como motivação para o desenvolvimento de novos compostos cerâmicos.

Na atualidade materiais piezoelétricos são utilizados como elementos sensores e/ou

atuadores em aplicações tecnológicas desde baixas (na faixa de Hz) até freqüências da

ordem de 109 Hz. As baixas freqüências são cobertas principalmente pelos materiais

policristalinos (cerâmicos, polímeros ou compósitos). Cristais e filmes finos, por sua vez,

são os mais utilizados em aplicações de altas freqüências.

Neste capítulo apresentaremos um resumo dos conceitos fundamentais da

piezoeletricidade e dos materiais e formas mais destacadas nas aplicações de materiais

piezoelétricos.

2.1.1. Fundamentos de piezoeletricidade

De uma forma geral o efeito piezoelétrico pode ser definido como a conversão de

energia mecânica em energia elétrica (direto) ou a conversão de energia elétrica em

energia mecânica (inverso). Uma representação esquemática é apresentada na Figura 2.1.

3

Page 4: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Figura 2.1- Representação esquemática da conversão de energia no efeito piezoelétrico.

Um sistema piezoelétrico é constituído de dois sistemas físicos acoplados, o

mecânico e o elétrico.

O efeito piezoelétrico pode ser descrito de forma simplificada, desconsiderando a

simetria do material, pelas seguintes equações:

Direto

Inverso Energia Elétrica Energia Mecânica

D = dT + ε E (direto) (2.1)

S = sT + d E (inverso) (2.2)

D - vetor deslocamento elétrico T– Tensão mecânica

E - campo elétrico S – Deformação

ε – permissividade dielétrica s – coeficiente elástico

d – coeficiente piezoelétrico

É importante notar que o efeito piezoelétrico representa uma dependência linear da

deformação com o campo elétrico aplicado. Portanto, se o sentido do campo elétrico é

invertido, o sentido da deformação também será invertido.

2.1.2. Equações fundamentais

As equações constitutivas para representar o efeito piezoelétrico em geral utilizam a

notação matricial. As equações e unidades que serão apresentadas neste capítulo são as

mesmas que se encontram nos IRE Standards on Piezoelectric Crystals ou Ceramics

[7,8,9].

A ausência de um centro de simetria é uma condição necessária para que um material

possa apresentar o fenômeno da piezoeletricidade, por isso todos os materiais

piezoelétricos são anisotrópicos. Para descrever as propriedades de todas as classes de

materiais anisotrópicos existem 18 coeficientes piezoelétricos, 21 coeficientes elásticos e

4

Page 5: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

6 coeficientes dielétricos independentes. Na interação piezoelétrica, que resulta da

interação entre o sistema elétrico e o mecânico, dois conjuntos de coeficientes elétricos,

εS ou εT, e dois conjuntos de coeficientes elásticos, cE, sE ou cD, sD, são definidos

dependendo das condições em que se realizam suas medições, a T (tensão mecânica), S

(deformação mecânica), E (campo elétrico) ou D (vetor deslocamento elétrico)

constantes. Dependendo da simetria que apresente o material o número de coeficientes

não nulos pode diminuir. Quanto maior a simetria menor será o número de coeficientes

diferentes de zero. A redução por simetria do número de coeficientes independentes e a

transição da notação tensorial para a notação matricial é discutida em detalhes no livro de

Nye [10].

Alguns cristais não centrossimétricos e cerâmicas ferroeléctricas polarizadas

apresentam o efeito piezoelétrico. Considerando que os campos elétricos aplicados e as

temperaturas sejam baixas, comparadas às temperaturas de Curie Tc, as equações

piezoelétricas lineares (como as Eq. 2.1 e 2.2) podem ser utilizadas para descrevê-los.

Para descrever um material piezoelétrico as matrizes adequadas para representar os

coeficientes εS ou εT, cE, sE ou cD, sD e d, para serem utilizadas nas Eq. (2.1) e (2.2), se

obtém considerando sua simetria macroscópica [7-10]. Assim, por exemplo, para cristais

de quartzo tem-se que considerar as matrizes correspondentes à simetria trigonal (32),

enquanto que para cerâmicas polarizadas as matrizes da simetria (6mm ou ∞mm) [11]

devem ser utilizadas.

Considerando diferentes formas da energia de Gibbs e desprezando efeitos

magnéticos e de variações de entropia, é possível obter as seguintes relações para

descrever o efeito piezoelétrico [10,11]:

mTmnimin

mmijEiji

ETdD

EdTsS

ε+=

+=

nTmnimim

mmijDiji

DTgE

DgTsS

β+−=

+=

(2.3)

mSmnimin

mmijEiji

ESeD

EeScT

ε+=

−=

nSmnimim

mmijDiji

DShE

DhScT

β+−=

−=

i,j – 1,2,...,6

n,m – 1,2,3

5

Page 6: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

ε, β - coef. dielétricos

d,g,e,h - coef. piezoelétricos

dmi – coeficiente piezoelétrico

εmn – permissividade dielétrica

Dn – vetor deslocamento elétrico

Em – campo elétrico

T1, T2, T3 – tensões de tração ou compressão

T4, T5, T6 – tensões de cisalhamento

S1, S2, S3 – deformações “puras”

S4, S5, S6 – deformações de cisalhamento

onde,

⎟⎟⎟

⎜⎜⎜

⎛=

36353433

2625242322

161514131211

,ddddddddddddddd

gd

⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟⎟

⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜⎜

=

6

5

4

3

2

1

,

SSSSSS

TS

E – campo elétrico constante

D – polarização constante

T – tensão mecânica constante

S – deformação constante

Condições de Medida

(Superescritos)

D EEEE

, =1

2

3

εε ε

εεεε

=11 12

22

13

23

33

s c

s s s ss s s

s ss s

s

ssssss

,

s s s

14

24

35

=

11 12 13 15

22 23 25

33 34

44 45

55

16

26

36

46

56

66

são as matrizes “gerais”, que representam as diferentes propriedades dielétricas,

mecânicas e piezoelétricas dos materiais piezoelétricos.

A escolha de quais equações utilizar para descrever um determinado sistema depende

de que variáveis elétricas, campo elétrico (E) ou vetor deslocamento elétrico (D), ou

6

Page 7: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

mecânicas, tensão mecânica (T) ou deformação mecânica (S), devem ser escolhidas

como variáveis independentes [9,10].

2.1.3. Monocristais vs. policristais (cerâmicas ou filmes finos)

Como mencionado anteriormente, embora as primeiras aplicações de materiais

piezoelétricos tenham sido realizadas utilizando cristais, particularmente o quartzo, o

maior crescimento do número de aplicações ocorreu a partir do descobrimento dos

piezoelétricos cerâmicos baseados em titanato zirconato de chumbo (PZT) nos anos 50

[5,6]. Desde então as piezocerâmicas são utilizadas em inúmeras aplicações.

Entretanto, cristais piezoelétricos seguem sendo os mais utilizados para aplicações

como osciladores estabilizados e componentes que funcionam com ondas acústicas de

superfície. Como principais vantagens dos cristais, frente às piezocerâmicas, pode-se

destacar suas altas temperaturas de Curie, alta estabilidade térmica (pequenas alterações

de suas propriedades piezoelétricas em função da temperatura) e alto fator de qualidade

mecânico. Por sua vez, a obtenção de cristais de alta qualidade requer processos ou muito

demorados, ou processos de crescimento muito caros, como os métodos Czochralski ou

Bridgeman, por exemplo. Por serem anisotrópicos os cristais requerem todavia cortes em

orientações específicas para que se possa utilizá-los de forma adequada.

Materiais cerâmicos (policristalinos), por sua vez, apresentam as seguintes

vantagens, frente aos cristais: processo de obtenção mais barato, a possibilidade de serem

preparados em uma grande variedade de composições, o que permite controlar ou alterar

suas propriedades físicas, e a possibilidade de serem produzidos numa maior variedade de

geometrias.

Os materiais piezocerâmicos pertencem à classe dos materiais ferroelétricos1 e,

quando recém produzidos, são isotrópicos, não apresentando uma orientação

macroscópica da polarização espontânea. Por isso requerem que, para que seja possível

utilizá-los como elementos piezoelétricos, sejam polarizados sob a aplicação de altos

campos elétricos. Assim, durante o processo de polarização, é possível escolher a direção

1 Materiais ferroelétricos, ou simplesmente ferroelétricos, caracterizam-se por apresentarem, em um

determinado intervalo de temperatura, polarização espontânea que pode ser reorientada pela aplicação de

um campo elétrico (inferior ao campo de ruptura).

7

Page 8: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

da polarização macroscópica. O estado polarizado é, por isso, metaestável e pode variar

com o tempo, com o aumento da temperatura ou sob a aplicação de altos campos elétricos

(da ordem do campo de polarização), com sentidos diferentes ao do campo de

polarização.

Como desvantagens das piezocerâmicas, em comparação aos cristais, poder-se-ia

destacar a maior dependência de suas propriedades eletromecânicas com a temperatura, a

formação de fases não desejadas durante sua produção, o que pode alterar suas

propriedades, e a variação de suas propriedades com o tempo (envelhecimento –

“aging”).

Para selecionar um material piezoelétrico para aplicações tecnológicas procura-se,

em geral, conhecer suas propriedades dielétricas, elásticas e piezoelétricas, que

determinam sua eficiência como elemento piezoelétrico. Entretanto, para uma aplicação

específica nem sempre é necessário determinar todas essas propriedades. Inicialmente é

necessário identificar que coeficientes (dielétricos, elásticos e piezoelétricos) ou modos

de vibração são os mais importantes para a aplicação em que se deseja utilizá-los.

Os parâmetros práticos mais importantes dos materiais piezoelétricos são: a

orientação do corte (para cristais) ou da polarização macroscópica (para cerâmicas), as

constantes dielétricas εT/εo, εS/εo (εo – permissividade no vácuo), o fator de acoplamento

eletromecânico k, os coeficientes piezoelétricos d e g, a constante de freqüência N, a

velocidade do som no meio piezoelétrico v, o fator de qualidade mecânico Qm (para o

modo de vibração que será utilizado), a densidade ρ, a impedância acústica Z (=ρv) e o

coeficiente de temperatura CT (que caracteriza a variação de uma dessas propriedades

com a temperatura).

Buscando intensificar algumas dessas propriedades, para otimizar a performance do

material piezoelétrico numa determinada aplicação, tem-se buscado ainda preparar

materiais piezoelétricos na forma de filmes finos (para aplicações com ondas de

superfície ou microatuadores) ou na forma de compósitos (em aplicações em que se busca

casar impedância acústica a outro meio ou amplificar a deformação gerada pelo elemento

piezoelétrico, por exemplo).

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Page 9: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

2.2. MATERIAIS PIEZOELÉTRICOS

Nesta seção são apresentados os materiais piezoelétricos mais utilizados na

atualidade em aplicações tecnológicas. Informações mais detalhadas ou complementares

sobre outros materiais poderão ser encontradas nos livros de Cady [12], Mason [13] e

Ikeda [11].

2.2.1. Cristais

2.2.1.1. Quartzo (SiO2)

Cristais de quartzo apresentam a fase α em temperaturas inferiores a 573oC, que

possui simetria trigonal e pertence ao grupo pontual 32. Os coeficientes piezoelétricos são

d11=-d12, d14=-d25, d26=-2d11, e11=-e12, e14=-e25 e e26=-e11 [7,10,11]. Como se pode

verificar o quartzo possui somente dois coeficientes piezoelétricos d ou e independentes.

Uma análise da matriz dos coeficientes mostra claramente que não há resposta

piezoelétrica quando aplicamos um campo elétrico ou tensão mecânica na direção z do

cristal.

Em 573oC o quartzo-α sofre uma transformação de fase α→β, que pertence ao grupo

pontual 622, na qual o coeficiente d14=-d25 praticamente triplica. Para aplicações

tecnológicas, em geral, deseja-se ter modos de vibração puros, alto fator de qualidade

mecânico Qm e baixo (ou nulo) coeficiente de temperatura CT. Visando alcançar essas

condições foram encontrados diversos “cortes práticos” para os cristais de quartzo,

conforme se apresenta na Figura 2.2.

Cristais de quartzo são encontrados na natureza (minerais de quartzo, que para

crescer naturalmente demoram muitos anos) ou podem ser crescidos artificialmente, por

exemplo, por processos hidrotérmicos. Alguns de seus coeficientes característicos são

apresentados na Tabela 2.1.

9

Page 10: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Figura 2.2 – Cortes característicos de cristais de quartzo para ressonadores [11].

Tabela 2.1 – Coeficientes eletromecânicos característicos para cristais de quartzo.

Corte Modo c/co k d (p.C.N-1) e (C.m-2) N (Hz.m) Quartzo 0oX TE 4,6 0,10 2,3 0,17 2850 0oX LE 4,6 0,10 -2,3 2750 -18,5oX LE 4,6 0,095 -2,3 2550 0oY TS 4,6 0,14 -4,6 -0,17 1925 AT TS 4,6 0,09 -3,4 -0,095 1660 AC TS 4,6 0,10 -3,7 -0,11 1650

2.2.1.2. Niobato de lítio (LiNbO3 - LN) e tantalato de lítio (LiTaO3-LT)

Niobato e tantalato de lítio são cristais isomorfos que apresentam simetria trigonal e

pertencem ao grupo pontual 3m na fase ferroelétrica, abaixo de suas temperaturas de

Curie Tc (Tc(LiNbO3)~1210oC e Tc(LiTaO3)~660oC). Na fase ferroelétrica apresentam a

polarização espontânea paralela à direção do eixo c. O niobato de lítio (LN) apresenta os

coeficientes piezoelétricos d33= 16 e d15= 74 pC/N. O tantalato de lítio LT, por sua vez,

apresenta menores valores de coeficientes piezoelétricos d33= 8 e d15= 26 pC/N e de

10

Page 11: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

coeficiente de temperatura (CT), por isso é preferido em aplicações onde se deseja alta

estabilidade.

Os cortes mais importantes para aplicações do LN estão apresentados na Figura 2.3.

Os cortes E – rodados de 163o para o LN e de 165o para o LT são particularmente

interessantes pois apresentam coeficientes de acoplamento eletromecânico nulos para o

modo longitudinal, enquanto que para o modo transversal podem chegar a 0,60 (LN) e

0,41 (LT) [14].

LN e LT são largamente utilizados em aplicações com ondas acústicas de superfície

(“SAW” – surface acoustic waves), como filtros eletromecânicos e detectores de

vibrações.

Cristais de LN ou LT podem ser crescidos do material fundido em composições

contendo entre 46 e 50% ou 44 e 54% atômico de Li para o LN ou LT, respectivamente.

A fusão congruente ocorre para concentração de aproximadamente 48.6% at. de Li para o

LN e entre 48.8 e 49.2% at. de Li para o LT [15]. Para os dois cristais se observa um

aumento da temperatura de Curie quando se aumenta a concentração de Li. Cristais

mistos de Li(Nb,Ta)O3 podem ser crescidos e apresentam propriedades intermediárias

entre as do LN e LT.

Figura 2.3 – Cortes característicos de cristais de niobato ou tantalato de lítio [11].

11

Page 12: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Na Tabela 2.2 são apresentados os coeficientes característicos para cristais de

niobato ou tantalato de lítio.

Tabela 2.2 – Coeficientes eletromecânicos característicos para cristais de LN ou LT.

LiNbO3 LiTaO3 LiNbO3 LiTaO3 ρ[103 kg.m-3] 4,7 5,3 d33[10-12 C.N-1] 6 8 ε11

T/ε0 84 51 d31 -1 -2 ε33

T/ε0 30 45 d22 21 7 c11

E[1011 N.m-2] 2,03 2,33 d15 68 26 c33

E 2,45 2,75 e33[C.m-2] 1,3 1,9 c12

E 0,53 0,47 e31 0,2 0,0 c13

E 0,75 0,80 e22 2,5 1,6 c14

E 0,09 -0,11 e15 3,7 2,6 c55

E 0,60 0,94 k33 0,17 0,19 c66

E 0,75 0,93 k31 0,03 0,05 kt 0,16 0,18 k15

’† 0,68 0,43

2.2.2. Semicondutores

Materiais semicondutores com estrutura do tipo wurzita, simetria 6mm, apresentam o

efeito piezoelétrico e valores de coeficientes adequados ou suficientes para aplicações.

Entre esses materiais pode-se destacar o óxido de zinco (ZnO), o sulfeto de cádmio (CdS)

e o nitreto de alumínio (AlN).

Para suas aplicações mais importantes esses materiais têm sido preparados na forma

de filmes finos e servem como geradores ultra-sônicos de alta freqüência. Na Tabela 2.3

são apresentados alguns coeficientes dos principais semicondutores piezoelétricos.

O ZnO é o mais utilizado para aplicações que envolvem geração e/ou detecção de

ondas acústicas de superfície (SAW). O AlN, em particular, se destaca por apresentar alta

velocidade de propagação do som.

Cristais de ZnO (com “grandes” dimensões) podem ser crescidos por processos

hidrotérmicos, enquanto que cristais de AlN são muito difíceis de crescer.

Filmes finos de ZnO são obtidos por evaporação ou “sputtering” do material em

substratos de safira, apropriados para obter orientações adequadas no filme. Embora o

filme seja policristalino é possível obter una orientação preferencial do eixo c

perpendicular à superfície do substrato.

12

Page 13: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Tabela 2.3 – Coeficientes dielétricos e piezoelétricos de semicondutores piezoelétricos.

BeO ZnO CdS CdSe AlN ρ[103kg.m-3] 3,009 5,675 4,819 5,684 3,26 ε11

T/ε0 8,50 9,35 9,70 9,0 ε33

T/ε0 7,66 10,9 10,3 10,6 10,7 d33[10-12 C.N-1] 0,24 12,4 10,3 7,8 5 d31 -0,12 -5,0 -5,2 -3,9 d15 -8,3 -14,0 -10,5 e33[C.m-2] 1,57 0,44 0,35 1,55 e31 -0,36 -0,24 -0,16 -0,58 e15 -0,36 -0,21 -0,14 -0,48 c33

E[1011 N.m-2] 2,11 0,94 0,84 c11

E 2,10 0,91 0,74 3,95 c55

E 0,43 0,15 0,13 3,45 c33

D 2,29 0,96 0,85 1,18 c11

D 2,15 0,91 0,74 c55

D 0,47 0,16 0,13 v31 [km.s-1] >12 6,40 4,50 3,86 11,35 v1t 2,95 1,80 1,54 k33 0,019 0,48 0,262 0,194 0,31 k31 0,009 0,182 0,119 0,084 0,14 k3t 0,38 0,154 0,124 0,25 k15 0,196 0,188 0,130 0,15

A deposição de filmes finos de AlN é feita, mais freqüentemente por deposição de

vapor químico (“chemical vapour deposition” – CVD) ou por “sputtering”.

2.2.3. Cerâmicas

Desde o descobrimento, por Roberts [4], de que cerâmicas de titanato de bário

(BaTiO3) podiam ser polarizadas e apresentar o efeito piezoelétrico, materiais cerâmicos

são os mais utilizados, até o presente, como elementos piezoelétricos na maioria das

aplicações tecnológicas. O descobrimento de Roberts marca assim o início da era das

piezocerâmicas. As piezocerâmicas são materiais ferroelétricos que se obtém através de

métodos de preparação de cerâmicas avançadas. Em seu estado não polarizado (e não

texturadas) são isotrópicas. Para sua utilização como elementos piezoelétricos precisam

ser polarizadas sob a aplicação de um campo elétrico dc da ordem de alguns kilovolts por

milímetro (kV/mm). O fato de ser ferroelétricas permite que se reoriente a polarização

espontânea, na direção do campo de polarização. Cerâmicas piezoelétricas (ou

ferroelétricas polarizadas) apresentam simetria 6mm ou ∞mm.

Não se pretende neste capítulo discutir todas as composições estudadas para produzir

piezocerâmicas, pois são muitas, mas apenas apresentar as mais destacadas. Em geral, as

13

Page 14: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

piezocerâmicas comerciais possuem mais de um elemento dopante em suas composições

básicas, que são incorporados para controlar ou intensificar determinadas propriedades

físicas. As cerâmicas mais utilizadas como elementos piezoelétricos possuem estrutura

do tipo perovskita, por essa razão será a única estrutura apresentada neste capítulo.

2.2.3.1. Perovskitas ((A1,A2)(B1,B2)O3)

Perovskita é o nome originalmente designado à estrutura do titanato de cálcio

(CaTiO3). A maioria dos materiais piezoelétricos cerâmicos apresentam a estrutura

perovskita.

Estudos em cerâmicas da família das perovskitas têm sido centrados essencialmente

em algumas composições base como o titanato de bário (BaTiO3), soluções sólidas de

titanato zirconato de chumbo (Pb(Zr,Ti)O3 - PZT), (Pb(Mg1/3Nb2/3)O3 – PMN) [16] e

perovskitas complexas Pb(Mg1/3Nb2/3)O3 – PbTiO3 (PMN-PT), Pb(Zn1/3Nb2/3)O3 –

PbTiO3 (PZN-PT), Pb(Mg1/3Nb2/3)O3 – Pb(Zr,TiO3) (PMN-PZT) [17] entre outras. Na

estrutura perovskita, generalizada como ABO3, os sítios A são ocupados por cátions

divalentes (Pb2+, Ba2+, Ca2+...) enquanto que os sítios B, no centro do octaedro de

oxigênio, são ocupados por cátion Ti4+, Zr4+, Nb5+, Mg2+ ou Zn2+. Na Figura 2.4

apresenta-se uma representação esquemática de uma célula unitária de uma estrutura

perovskita.

Figura 2.4 - Representação esquemática de uma célula unitária com estrutura perovskita.

Os primeiros intentos para otimizar as propriedades eletromecânicas do titanato de

bário (BaTiO3 - BT) se basearam na substituição do Ba por Pb, Sr ou Ca e de Ti por Zr,

14

Page 15: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

ou Sn. À temperatura ambiente o BT apresenta uma estrutura tetragonal (4mm) e

temperatura de Curie Tc=120oC. Várias soluções sólidas de (PbxBa1-x)TiO3 e (CaxBa1-

x)TiO3 foram desenvolvidas com propriedades adequadas para aplicações tecnológicas

[6].

Desde que foi constatado por Jaffe et. al [5,6] que soluções sólidas de (Pb(ZrxTi1-

x)O3 - PZT) apresentam excelentes propriedades piezoelétricas, ao redor do contorno de

fase morfotrópico (0.51≤ x ≤ 0.55), o PZT passou a ser mais utilizado que o BT em

transdutores piezoelétricos. O PZT tem estrutura perovskita com os cátions Zr4+ e Ti4+

distribuídos de forma aleatória no sitio B.

A substituição progressiva do BT pelo PZT para a produção de piezocerâmicas

ocorreu porque, quando comparado ao BT, o PZT apresenta: 1) maiores coeficientes

eletromecânicos, 2) temperatura de Curie mais alta para a maioria das composições

práticas (Tc ~ 360oC), 3) é mais fácil de ser polarizado e 4) é possível incorporar uma

grande variedade de dopantes, o que permite alterar de forma controlada muitas de suas

propriedades eletromecânicas. Desde o descobrimento do PZT muitos trabalhos de

investigação foram desenvolvidos com o objetivo de otimizar ou controlar suas

propriedades eletromecânicas, através da adição de óxidos de cátions de bi- a

pentavalentes em substituição ao Pb, Zr ou Ti. Desse tipo de estudos resultou a série

PZT4, -5, -6, -7 e -8 (patente da Clevite Corporation). Trabalhos de Takahashi et. al

[18,19] por sua vez determinaram a influência da adição de cátions nas propriedades

ferroelétricas e eletromecânicas do PZT. Um resumo dos resultados mais importantes

[6,18,19] publicados mostram que:

1) Elementos aceitadores. A adição de elementos de menor valência, elementos

aceitadores (Fe3+, Al3+ em substituição a Zr4+ o Ti4+) é compensada pela formação de

vacâncias de oxigênio, que passam a formar um defeito complexo (com o Zr4+ ou Ti4+)

20. Sua incorporação causa um aumento do campo coercitivo, do fator de qualidade

mecânico e do envelhecimento (variação de suas propriedades com o tempo) e uma

diminuição da constante dielétrica, da polarização remanente e das perdas dielétricas.

PZT’s com essas características são utilizados como elementos piezoelétricos em

transdutores de alta potência, como em sonares, soldadores e limpadores ultra-sônicos.

2) Elementos doadores. A adição de cátions de maior valência é compensada pela

formação de vacâncias de chumbo (para pequenas quantidades do aditivo). Elementos

doadores (Nb5+, W6+ em substituição ao Zr ou Ti, ou La3+ em substituição ao Pb2+) 15

Page 16: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

diminuem o campo coercitivo, o fator de qualidade mecânico e o envelhecimento,

enquanto que aumentam a constante dielétrica, a polarização remanente e o fator de

acoplamento eletromecânico .

Aplicações típicas de PZT’s com essas características são os hidrofones, transdutores

ultra-sônicos de diagnose (ensaios não destrutivos ou em medicina), em que atuam como

emissores e receptores, e em sensores.

3) Elementos isovalentes. Elementos isovalentes (Ba2+, Sr2+ em substituição ao Pb2+)

diminuem a dissipação dielétrica e aumentam o envelhecimento .

4) Cr3+ e Mn2+. Elementos como o manganês e o cromo atuam como estabilizadores

das propriedades.

Cerâmicas de titanato de chumbo (PbTiO3 - PT) com alta densidade são difíceis de

obter, sem a adição de aditivos, devido à alta deformação espontânea na transição de fase

para – ferroelétrica (Tc=490OC). Na fase ferroelétrica o PT apresenta simetria tetragonal

com c/a ~1.061 [21]. Ikegami et. al [22] conseguiram sinterizar cerâmicas densas de PT

dopadas com La e Mn, com alta anisotropia piezoelétrica (kt/ k31 ~ 25) e baixa razão de

Poisson (σ ~0.2 –0.3), quando comparados a outros materiais (PZT - kt/ k31~1 e σ ~0.3 –

0.4). Estas características são particularmente importantes para aplicações em

transdutores e filtros eletromecânicos, visto que promovem a supressão de ressonâncias

espúrias. Trabalhos posteriores [22] mostraram que composições de (Pb1-xMx)TiO3 + 0.2

mol% Mn (com M=La, Sm, Nd...) apresentam baixo coeficiente de temperatura e

propriedades adequadas para dispositivos SAW.

Valores típicos dos coeficientes eletromecânicos para piezocerâmicas são mostrados

na Tabela 2.4.

2.2.4. Polímeros

O descobrimento da piezoeletricidade em polímeros se deve a Kawai [23], que

observou que o polyvinylidene fuoride (PVDF o PVF2) tracionado e polarizado em altos

campos elétricos (~300 kVcm-1) apresenta coeficientes piezoelétricos superiores aos do

quartzo.

16

Page 17: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Tabela 2.4 – Coeficientes eletromecânicos característicos para cerâmicas piezoelétricas [11].

PVDF é um polímero que apresenta una cristalinidade de 40-50% e pode ser obtido

nas fases: I ou β (que é piezoelétrica) e II ou α.

Na Tabela 2.5 são apresentados valores típicos para coeficientes eletromecânicos de

alguns polímeros piezoelétricos.

Tabela 2.5. Valores típicos para coeficientes eletromecânicos de polímeros piezoelétricos [11].

17

Page 18: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

2.2.5. Compósitos

A motivação para o desenvolvimento de materiais piezoelétricos compósitos resultou

da necessidade de alcançar propriedades específicas num material, que não podem ser

encontradas em materiais com uma única fase. Por exemplo, para aumentar a

sensibilidade piezoelétrica de transdutores eletromecânicos, para obter um melhor

casamento acústico com a água, se necessita diminuir a densidade do elemento

piezoelétrico ou, por outro lado, para obter elementos mecanicamente flexíveis, para

poder acoplá-los a superfícies curvas. Essas propriedades podem ser muito difíceis de

obter em materiais monofásicos. Logo, um material compósito é um material que possui

dois ou mais componentes e que apresenta propriedades físicas e químicas que resultam

da soma, de uma combinação ou do produto das propriedades de seus componentes.

As primeiras investigações com compósitos piezoelétricos foram realizadas para

obter hidrofones, para aplicações submarinas [24,25,26]. Um hidrofone é um transdutor

ou microfone utilizado para detectar ondas acústicas na água. A sensibilidade de um

hidrofone é determinada pela voltagem produzida por uma onda de pressão hidrostática,

que está associada ao coeficiente de voltagem hidrostático gh. O coeficiente hidrostático

de deformação dh (dh=gh/εoΚ, εo-permissividade do vácuo e K- constante dielétrica), que

relaciona a voltagem que resulta de uma pressão hidrostática, é também um coeficiente

utilizado para avaliar um hidrofone. Uma figura de mérito prática para caracterizar um

hidrofone é o produto dhgh.

Cerâmicas como o PZT são muito utilizadas em transdutores porque possuem altos

coeficientes piezoelétricos. Entretanto, para a utilização em hidrofones o PZT apresenta

algumas desvantagens, pois possui altos coeficientes d33 e d31 (que tem o sinal contrário

ao d33, ou seja, é negativo, se d33 é considerado positivo). Por isso seu coeficiente

hidrostático dh=(d33+2d31) é pequeno ou quase nulo. Além disso, o PZT tem alta

constante dielétrica K (>1000) e alta densidade (ρ=7,9 kg/m3, comparada à da água), o

que resulta num baixo coeficiente gh e maior dificuldade em conseguir um casamento

acústico com a água.

Polímeros como o PVDF oferecem várias vantagens, como baixa constante

dielétrica, baixa densidade e flexibilidade, para aplicações em hidrofones. Por isso,

embora tenham baixos coeficientes d33 e dh, quando comparados ao PZT, seu coeficiente

gh é grande devido a sua baixa constante dielétrica. Por outro lado, polímeros apresentam

18

Page 19: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

desvantagens, como a dificuldade de serem polarizados e baixa constante dielétrica (e,

em geral, pequena espessura), o que dificulta a construção de circuitos de detecção

(devido à sua baixa capacitância).

Buscando minimizar essas desvantagens apresentadas pelos polímeros e cerâmicas

foram desenvolvidos os compósitos piezoelétricos.

A maneira em que os materiais componentes se encontram interconectados em um

compósito denomina-se conectividade [27]. Para compósitos compostos de dois

componentes existem 10 conectividades: 0-0, 1-0, 2-0, 3-0, 1-1, 2-1, 3-1, 2-2, 3-2 e 3-3.

Os números 1 a 3 se referem aos três eixos ortogonais, que indicam as direções em que

cada componente está interconectado ou é contínuo. Compósitos piezoelétricos, em geral,

são compostos de cerâmicas e polímero ou vidro. Por convenção, o primeiro número se

refere à conectividade da cerâmica, enquanto que o segundo ao polímero ou vidro. Uma

representação esquemática das 10 conectividades é mostrada na Figura 2.5.

Figura 2.5. – Formas de conectividade para compósitos de dois componentes. As setas indicam a direção em que cada componente está conectado [11].

Entre os compósitos piezoelétricos aqueles com conectividade 1-3 (palitos de PZT /

polímero) e 0-3 (partículas de PZT dispersas em polímero), pela maior facilidade de

19

Page 20: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

obtenção, são os mais estudados para a construção de elementos eletromecânicos. As

principais vantagens desses compósitos são a baixa impedância acústica (que possibilita

um melhor casamento com meios que têm impedância acústica menor que a da

cerâmica), alta flexibilidade mecânica e baixo fator de qualidade mecânico (o que

permite detecção num largo espectro de freqüências). Os compósitos 1-3 possuem alto

fator de acoplamento eletromecânico de espessura (kt), aproximadamente igual ao fator

de acoplamento eletromecânico k33 da cerâmica. A Figura 2.6 apresenta a variação da

impedância acústica (Figura 2.6a) e do fator de acoplamento eletromecânico (Figura

2.6b), para compósitos piezoelétricos polímero (poliuretano)-cerâmica (PZT) 3-1, em

função da concentração volumétrica de cerâmica no elemento.

(a) (b)

Figura 2.6. - Variação da impedância acústica (a) e do fator de acoplamento eletromecânico (b), para compósitos piezoelétricos polímero (poliuretano)-cerâmica

(PZT) 3 -1, em função do volume fracionário de PZT.

Na Tabela 2.6, a seguir, são apresentados alguns resultados característicos obtidos

em compósitos piezoelétricos para diferentes conectividades. Uma descrição detalhada

dos resultados mais importantes obtidos em compósitos piezoelétricos pode ser

encontrada no livro de Levinson [28].

20

Page 21: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Tabela 2.6 – Coeficientes dielétrico e piezoelétricos de compósitos piezoelétricos

cerâmica / polímero com conectividade 1-3.

Compósito

__

ρ (Kg/m3)

__

33K

__

33d (pC/N)

__

33g (10-3Vm/N)

__

hd (pC/N)

__

hd (10-3Vm/N)

______

hh gd (10-15m2/N)

PZT palitos – Spurrs epoxy [24]

1370 54 150 313 27 56 1536

PZT palitos – Poliuretano [29]

1430 40 170 480 20 56 1120

PZT palitos – Poliuretano [29]

930 41 180 495 73 210 15330

2.2.6. Filmes finos

Filmes finos não constituem propriamente uma classe de materiais piezoelétricos,

mas sim uma outra geometria. Entretanto, pela crescente importância que têm atualmente

os filmes finos para o desenvolvimento de sensores e atuadores, consideramos importante

acrescentar esta seção.

Na realidade filmes finos piezoelétricos são produzidos com os mesmos materiais

que se utilizam na forma de cristais ou cerâmicas piezoelétricas. Na maioria dos casos

têm sido preparados com as mesmas composições que os elementos cerâmicos.

Conforme mencionado anteriormente, aplicações que envolvem ondas acústicas de

superfície (SAW – Surface Acoustic Waves) são as que apresentam maior potencial para

utilização em filmes finos piezoelétricos. As ondas superficiais são ondas de Rayleigh e,

conseqüentemente, o transporte de energia encontra-se confinado próximo à superfície.

As principais aplicações consistem em ressonadores, filtros ou linhas de atraso. Um

diagrama esquemático de um transdutor de SAW é apresentado na Figura 2.7.

Figura 2.7. – Diagrama esquemático de um transdutor de SAW.

21

Page 22: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Os parâmetros mais importantes para a seleção de um material para aplicações SAW

são a velocidade da onda superficial (Vsup), o coeficiente de temperatura (CT), o

coeficiente de acoplamento eletromecânico (ksup) e a atenuação de onda acústica durante

a propagação.

Cristais de LiNbO3 e LiTaO3 são os mais utilizados em altas freqüências (> 500

MHz).

Óxido de zinco (ZnO) e nitreto de alumínio (AlN), que possuem estrutura wurzita,

são materiais que podem ser depositados, com orientação c, por “sputtering” em

substratos (de safira ou vidro, por exemplo). A performance do ZnO é limitada por seu

baixo coeficiente de acoplamento eletromecânico .

Filmes finos de materiais cerâmicos como os PZT’s, os titanatos de bário (BT) ou de

chumbo (PT) vêm despertando grande interesse para aplicações como microatuadores.

Para aplicações como filtros esses materiais apresentam as limitações de possuir baixo

fator de qualidade mecânico e alto coeficiente de temperatura, quando comparados aos

cristais.

Na Tabela 2.7 são apresentados os coeficientes característicos de materiais, cristais

ou cerâmicos, mais utilizados como componentes baseados em ondas acústicas de

superfície.

Tabela 2.7. – Coeficientes eletromecânicos característicos (fator de acoplamento (k), coeficiente de temperatura (TCD), velocidade da onda de superfície (vo) e constante dielétrica relativa (εr) para os

materiais mais usados em dispositivos baseados em ondas acústicas de superfície).

22

Page 23: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

2.3. CARACTERIZAÇÃO DE PROPRIEDADES DIELÉTRICAS E

PIEZOELÉTRICAS

2.3.1. Introdução

A caracterização completa de um material que se deseja utilizar como transdutor

(atuador ou sensor) requer, na maioria dos casos, a determinação de diferentes

propriedades físicas. Materiais ferroelétricos por que apresentam propriedades dielétricas

e piezoelétricas destacadas frente a outros materiais, entre outras, são os mais utilizados

e destacados para aplicações em sensores e atuadores.

A determinação das propriedades dielétricas, em função da freqüência, temperatura

ou voltagem constitui a primeira e principal caracterização de um material ferroelétrico .

Por isso deve ser executada antes de se efetuar uma caracterização mais detalhada das

propriedades piezoelétricas.

As propriedades piezoelétricas de um material são definidas, por sua vez, pelos

coeficientes dielétricos, elásticos e piezoelétricos. Todos esses coeficientes dependem da

amplitude do sinal de medição (de campo elétrico ou tensão mecânica) e, em caso de

materiais ferroelétricos, dependem do estado de polarização . Em geral a determinação

desses coeficientes é feita na região linear (baixos campos).

Neste capitulo são apresentados os fundamentos de técnicas dinâmicas de

caracterização que se utilizam para determinar as propriedades dielétricas e piezoelétricas

de materiais ferroelétricos. Para a caracterização de cristais as técnicas são exatamente as

mesmas, com a exceção de que o elemento piezoelétrico deve ter seus cortes efetuados

segundo orientações cristalográficas definidas, conforme mostrado anteriormente.

2.3.2. Propriedades dielétricas

A permissividade dielétrica ε geral varia com a freqüência de medida e, por isso, é

conveniente defini-la como uma função complexa, ε* = ε’ + iε” (ε’ – parte real e ε” –

parte imaginária) [30].

A determinação da permissividade dielétrica ou da constante dielétrica κ (=ε’/εo, εo

é a permissividade do vácuo) e do fator de dissipação D (=ε”/εo), a baixos campos (<1

23

Page 24: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

V/mm, região linear), é uma das caracterizações mais importantes nos materiais

ferroelétricos.

Em geral, esses parâmetros são determinados em amostras em forma de discos ou

placas, que possuem eletrodos em suas faces, de forma que possam ser analisadas como

capacitores plano-paralelos preenchidos com um dielétrico (o material que se deseja

caracterizar). Os eletrodos são depositados nas faces por evaporação, “sputtering” ou

pintura (com prata, grafite ou outro material condutor), de forma que fiquem aderidos ao

material. Dessa maneira, a medição consiste basicamente em uma medida da capacitância

de um capacitor.

Existem varias técnicas que podem ser utilizadas para medir a capacitância de um

capacitor, cada uma com vantagens e desvantagens frente às demais. Considerações

como intervalo de freqüência, valores de capacitância, precisão e facilidade de operação

determinam a opção por uma determinada técnica. Considerando o intervalo de

freqüência como critério, são recomendados os circuitos ponte (ponte de Shering, por

exemplo), circuitos ressonantes e medidas de I – V (I-corrente elétrica e V-voltagem)

desde ~10 Hz até ~100 MHz (analisadores de impedância); medidas de RF I – V entre

100 MHz e ~3 GHz (analisadores de impedância) e analisadores de rede para freqüências

superiores a 3 GHz. Por convenção, medições “standard” são realizadas na

freqüência de 1 kHz. Na Figura 2.8 se apresenta um diagrama esquemático de um

sistema para medir a constante dielétrica de uma amostra.

Figura 2.8. Diagrama esquemático de um sistema para medir a constante dielétrica de uma amostra em função da freqüência e/ou temperatura.

24

Page 25: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Uma vez determinada a capacitância C (=C’ + iC”) do capacitor que representa a

amostra, a constante dielétrica (κ) e o fator de dissipação (D) são calculados com as

seguintes relações :

Ao

dkε

'C= Ao

dDε

"C= (2.4)

onde d é a espessura da amostra e A a área do eletrodo.

Para materiais isolantes e cerâmicas ferroeléctricas não polarizadas a constante

dielétrica praticamente não varia até ~400 MHz. Em freqüências superiores alguns

materiais ferroelétricos, como o titanato de bário e o titanato zirconato de chumbo podem

apresentar uma relaxação provavelmente associada aos domínios ferroelétricos. Em

baixas freqüências mecanismos de polarização interfacial e de condução afetam as

medidas de constante dielétrica em amostras cerâmicas.

Em cerâmicas ferroeléctricas polarizadas a impedância de uma amostra, na forma de

um capacitor plano-paralelo, pode apresentar forte dependência com a freqüência devido

ao efeito piezoelétrico, como será mostrado a seguir (em propriedades piezoelétricas).

2.3.3. Propriedades piezoelétricas

Conforme mencionado anteriormente a caracterização completa das propriedades

piezoelétricas ou eletromecânicas de um material requer a determinação de seus

coeficientes elásticos, dielétricos e piezoelétricos. O número desses coeficientes, para a

um determinado material, depende da simetria macroscópica do material. Assim, por

exemplo, para cristais de quartzo tem-se que considerar a simetria trigonal (32), enquanto

que para cerâmicas polarizadas a simetria (∞mm) [11] deve ser considerada.

Muitas vezes não é necessária a determinação de todos os coeficientes elásticos,

dielétricos e piezoelétricos, mas somente de alguns deles, para avaliar o potencial de

aplicação do material como elemento piezoelétrico. É fundamental, porém, que se saiba

exatamente que coeficiente se está medindo.

Um sistema piezoelétrico é constituído de dois sistemas acoplados, o mecânico e o

elétrico, conforme apresentado anteriormente.

A determinação dos coeficientes piezoelétricos de um material pode ser realizada

através de técnicas estáticas ou quasi-estáticas e dinâmicas (ressonantes).

25

Page 26: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

As técnicas estáticas ou quasi-estáticas consistem em aplicar uma tensão mecânica

ou uma voltagem (campo elétrico) a uma amostra do material e medir a carga elétrica em

eletrodos, que se depositam nas faces (efeito piezoelétrico direto) ou a deformação do

material (efeito piezoelétrico inverso), respectivamente.

As técnicas ressonantes consistem em excitar a amostra com uma freqüência em

torno da freqüência fundamental de ressonância mecânica, de um de seus modos de

vibração característico. Assim, por exemplo, uma amostra em forma de disco pode ser

excitada para vibrar no modo de vibração radial ou planar e no modo de espessura.

As técnicas ressonantes são mais precisas e permitem a determinação de um número

maior de coeficientes eletromecânicos e de alguns coeficientes elásticos. Além disso, as

técnicas ressonantes fornecem os valores dos coeficientes em regime dinâmico, condição

em que os elementos piezoelétricos são mais comumente utilizados.

A seguir é apresentado o método da ressonância, com os coeficientes que podem ser

determinados, dependendo dos modos característicos de vibração de cerâmicas

polarizadas.

2.3.3.1. O método da ressonância

O método da ressonância para caracterizar elementos piezoelétricos, assim como as

equações e unidades, encontram-se discutidas em detalhes nos IRE Standards on

Piezoelectric Crystals ou Ceramics [31].

Ressonadores piezoelétricos consistem de amostras de um material piezoelétrico, em

forma de disco, barra ou anéis, com eletrodos depositados de forma a poder excitar

isoladamente um de seus modos de vibração. Em geral, se considera que a freqüência de

ressonância do modo em análise situa-se distante daquela de outro modo de vibração do

ressonador.

A representação mais simples do comportamento de um ressonador piezoelétrico,

forçado a oscilar em torno de uma ressonância, é dada por um circuito equivalente como

o da Figura 2.9.

As ressonâncias mecânicas do ressonador são representadas, na Figura 2.9, pelos

componentes L, C, R1 e R2. A capacitância Co e a resistência Ro reapresentam o capacitor

formado pelo material e seus eletrodos.

26

Page 27: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Figura 2.9. – Circuito equivalente de um ressonador piezoelétrico .

No método da ressonância a admitância do ressonador, o módulo ou suas partes

real e imaginária, são determinados em função da freqüência. Um arranjo experimental

para a realização das medidas pelo método da ressonância pode ser o mesmo utilizado

para a caracterização dielétrica (Figura 2.8), desde que o intervalo de freqüências permita

cobrir as freqüências de ressonância desejadas. Na Figura 2.10 se apresenta como varia a

admitância com a freqüência de excitação em freqüências próximas de uma ressonância .

(a) (b)

Figura 2.10. – Admitância, a) modulo y b) partes real e imaginaria, em função da freqüência de um ressonador piezoelétrico ao redor de uma ressonância .

Nas Figuras 2.10a e 2.10b FR e FA correspondem às freqüências de ressonância e

anti-ressonância do piezoelétrico, respectivamente. Observa-se que na freqüência de

ressonância FR a admitância é máxima, que corresponde à ressonância do ramo R1R2LC-

série do circuito da Figura 2.9. Na freqüência de anti-ressonância FA a admitância é

mínima e corresponde à ressonância do ramo formado pelo ramo R1R2LC-série em

paralelo com Co.

Caracterizando as freqüências de ressonância e anti-ressonância para os diferentes

modos de vibração de um ressonador piezoelétrico é possível determinar seus

50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 1500,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

FA

FR

Mód

ulo

da A

dmitâ

ncia

(mS)

Frequência (kHz)70 80 90 100 110 120 130

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

f1/2f-1/2

FAFR

FR

Real Imaginario

G ,

B (m

S)

Frequência (kHz)

27

Page 28: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

coeficientes eletromecânicos. Para caracterizar completamente um material piezoelétrico

é necessário preparar amostras com diferentes geometrias ou orientações (no caso de

cristais), de forma a poder excitar diferentes modos puros de vibração, como veremos

adiante.

Para a determinação das freqüências de ressonância e anti-ressonância um ressonador

pode ser forçado a vibrar em, essencialmente, duas condições: vibração (ou acoplamento)

transversal e vibração (ou acoplamento) longitudinal, que serão apresentadas a seguir.

2.3.3.2. Condições de caracterização de elementos piezoelétricos

Materiais elásticos podem apresentar um grande número de ressonâncias mecânicas,

a fundamental e os respectivos harmônicos de cada modo de vibração. As mais

pronunciadas são aquelas em que a dimensão das amostras, na direção da deformação em

análise, corresponde aproximadamente à metade do comprimento de onda de uma onda

elástica estacionária.

Para caracterizar as propriedades piezoelétricas de um material se utiliza o efeito

piezoelétrico para excitar uma onda estacionária em uma determinada direção da amostra.

Para uma caracterização precisa de um determinado modo de vibração procura-se

desacoplar o modo de interesse dos demais, ou seja, isolar a freqüência fundamental de

ressonância do modo em análise de qualquer ressonância de outros modos. A forma

prática de obter essa condição é preparar a amostra com dimensões, comprimento,

diâmetro ou espessura, adequados para que se desacoplem os modos, como veremos a

seguir.

Consideremos uma amostra piezoelétrica em forma de uma placa de espessura

t,comprimento L e largura w, com eletrodos nas faces e excitada por uma tensão alternada

V na direção 3, conforme mostra a Figura 2.11.

28

Page 29: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

L

w t V

1

3

2

Figura 2.11. – Reapresentação esquemática do arranjo experimental para caracterização de uma amostra piezoelétrica pelo método da ressonância .

Conforme mencionado anteriormente, a caracterização de materiais piezoelétricos é

feita essencialmente em duas condições: 1) análise da deformação ou vibração em uma

direção perpendicular à excitação elétrica aplicada – acoplamento transversal ou 2)

análise da deformação ou vibração na direção paralela à excitação elétrica aplicada –

acoplamento longitudinal.

2.3.3.2.1. Acoplamento transversal (vibração transversal)

Para a análise do acoplamento transversal, utilizando a Figura 2.11, considera-se a

vibração da amostra na direção do comprimento L. Para obter o desacoplamento dos

modos de vibração se requer que as dimensões das amostras satisfaçam a seguinte

condição : L > w >> t.

As condições de contorno elétricas e mecânicas são:

Mecânicas Elétricas

Ti ≈ 0 exceto T2 Ei = E3

T2 = 0 p/ y = L/2 dE/dy = 0 (campo uniforme)

onde Ti são as tensões mecânicas e Ei o campo elétrico (=V/L).

Quando se varia a freqüência da tensão elétrica V na ressonância a mais baixa

freqüência, na curva de admitância (Figura 2.10), pela condição L > w >>t, ocorrerá em

uma freqüência fR dada por:

29

Page 30: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

) (41

112

2ER sL

= → ER sLLf

11 1

21

2 ρν

== → /2 λ=L (2.5)

onde v é a velocidade da onda mecânica extensional, ρ a densidade do material, a

constante elástica a campo elétrico constante e λ o comprimento de onda.

Es11

Quando se registra a curva da admitância da amostra em função da freqüência f da

tensão elétrica externa aplicada, se obtêm as curvas como as das Figuras 2.10a ou 2.10b.

A partir das freqüências de ressonância fR e anti-ressonância fA, que se obtêm das curvas

de admitância, é possível calcular a constante elástica e o fator de acoplamento

eletromecânico k

Es11

31 para o modo de vibração transversal com a relação abaixo [8,9]:

kk

ff

tg f ff

A

R

A R

R

312

3121 2 2−

=−π π( )

(2.6)

A notação com o sufixo 31 corresponde à utilizada em piezoelétricos cerâmicos,

onde o sufixo 3 se refere à direção de aplicação do campo e o sufixo 1 à direção da

deformação.

2.3.3.2.2. Acoplamento Longitudinal (Vibração de Espessura)

Para a análise da vibração de espessura (acoplamento longitudinal) se considera a

deformação na direção do campo elétrico aplicado. As condições de contorno elétricas e

mecânicas são:

Mecânicas Elétricas

Sij ≈0 exceto S3 Ei = E3

dD/dz= 0 (pol. uniforme)

onde Si é a deformação relativa (“strain”) e D o vetor deslocamento elétrico.

A condição L > w >>t implica que as ressonâncias do modo de vibração de

espessura ocorrem em freqüências superiores às dos modos transversais e seus

harmônicos. Na prática, para “isolar” a freqüência fundamental do modo de espessura

dos harmônicos dos modos transversais, as dimensões da amostra devem ser tais que L e

w ≥ 20-25 t.

30

Page 31: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Para o modo de vibração de espessura a condição t = λ/2 ocorre na freqüência

de anti-ressonância fA, dada por:

ρν D

Ac

ttf 33

21

2==

ρ233

4tcf

D

A = t = λ/2 (2.7)

onde v é a velocidade da onda mecânica, ρ a densidade do material, a constante

elástica “stiffness” a deslocamento elétrico constante e λ o comprimento de onda.

Dc33

Determinando as freqüências de ressonância fR e anti-ressonância fA das curvas de

admitância, pode-se calcular o fator de acoplamento para o modo de espessura ou

longitudinal kt com a seguinte equação :

kff

tg f fft

R

A

A R

R

2

2 2=

−π π( ) (2.8)

2.3.3.3. Modos de vibração em piezoelétricos

As condições de caracterização apresentadas anteriormente quando utilizadas para

determinar todos os coeficientes eletromecânicos (elásticos, elétricos e piezoelétricos)

requerem que amostras sejam preparadas com orientações ou geometrias diferentes, cada

uma adequada para obter determinados coeficientes.

Para o caso de cristais é necessário cortá-los segundo orientações específicas

escolhidas de tal forma a poder excitar modos de vibração puros. As orientações dos

cortes dependem da simetria do cristal, como foi mostrado anteriormente para o quartzo,

niobato de lítio e tantalato de lítio.

Para materiais cerâmicos, por sua vez, tem-se que considerar que no estado

polarizado sua simetria macroscópica é sempre ∞mm. Assim, para determinar suas

propriedades piezoelétricas é necessário preparar as amostras com geometrias e

diferentes direções de polarização. A Tabela 2.8, apresenta as geometrias mais comuns

utilizadas em transdutores piezoelétricos, as condições de contorno e quais coeficientes

podem ser determinados nesse tipo de amostra. As letras (T) ou (L) se referem ao

acoplamento transversal ou longitudinal, respectivamente. A flecha (↔) indica a direção

da vibração correspondente ao modo que será excitado.

31

Page 32: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

Tabela 2.8 – Modos de vibrações em cerâmicas piezoelétricas.

Geometria do ressonador

Condição de contorno Fator de Acoplamento (k2)

Constante Elástica

Elástica Elétrica 1 (T)

Transversal

T1=T3≈ 0 0

2

3 =∂∂

xE

Es11

1

TEsdk

3311

2312

31

ε=

2 (L) Longitudinal

T1=T2≈ 0 0

2

3 =∂∂

xD

TEs

dk3333

2332

33

ε= Ds33

1

3 (T)

Radial/Extensional

T3≈ 0 0 3 =

∂∂

rE

(a)

3311

2312 )-(1

2 TEp sdk

εσ=

(b)

. Eefc

4 (T)

Radial/Dilatacional

S3≈ 0 0 3 =

∂∂

rE

Ec11 (c)

33

~

11

2312 ' )'(1

2 TE

p

c

ekεσ+

=

5 (T)

S2≈ 0 T3≈ 0 0

1

3 =∂∂

xE

(d)

Eef

2 '312 '

31

Tefc

ekε

=

(b)

. Eefc

6 (T)

S3≈ 0 T2≈ 0 0

1

3 =∂∂

xE

(e)

"E 'ef

2"'312 "

31

Tefc

ekε

=

(ff) '.

Eefc

7 (L) Espessura (1)

S1≈ 0 S2≈ 0 0

3

3 =∂∂

xD

SDt c

ek3333

2332

ε=

Dc33

8 (L)

Espessura (2)

S2≈ 0 S3≈ 0 0

1

3 =∂∂

xE

SEte c

ek3311

2312

ε=

Ec11

9 (L)

Cisalhamento (1)

S4≈ 0 0

1

1 =∂∂

xD

SDc

ek1155

2152

15

ε=

Dc55

10 (T)

Cisalhamento (2)

S6≈ 0 0

1

1 =∂∂

xE

SEc

ek1155

2152 '

15

ε=

Ec55

11

Hidrostático

(g)

33

22

TE

h

hh s

dkε

=

32

Page 33: Capitulo2_Materiais_Piezoeletricos

a) E

E

ss

11

12 - =σ - razão de Poisson. f) EEEEef cccc 11

21211

' /)( - =

b) . g) EEEEEef cccsc 33

21311

211 /)( - )1(/1 =−= σ 33312 dddh += ;

c) E

E

cc

11

12 - =σ ; ) - 1( ~ 233

T33

T33 kεε = . EEEEE

h sssss 33131211 4)(2 +++=

d) ; . EE cceee 33133331'31 / - = ) - 1( 2

31T33

Tef kεε =

e) . )/ - (1 111331"31

EE ccee =

2.4. REFERÊNCIAS

1. Jacques and Pierre Curie, Comptes Remdus 91, 294 (1880).

Jacques and Pierre Curie, Comptes Remdus 93, 1137 (1881). 2. G. Lippman, An. Chim. Phys. 24, 145-178 (1881).

3. P. Langevin, French Patent 505.703 (1920).

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5. B. Jaffe, R. S. Roth, and S. Marzullo, J. Appl. Phys. 25, 809 (1954).

B. Jaffe, R. S. Roth, and S. Marzullo, J. Res. Nat. Bur. Std. 55, 239-254 (1955).

6. B. Jaffe, W. R. Cook, and H. Jaffe in “Piezoelectric Ceramics”, Academic Press – London and N. York (1971).

7. IRE Standards on Piezoelectric Crystals, Proc. IRE 46, 764-778 (1958).

8. IRE Standards on Piezoelectric Ceramics, Proc. IRE 49, 1161 (1961).

9. IEEE Standards on Piezoelectricity, IEEE Trans. on Sonics and Ultrasonics SU-31(2) (1984).

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14 A. W. Warner, M. Onoe, and G. A Coquin, J. Acoust. Soc. of Am. 42, 1223 (1967).

33

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15. J. M. Herbert, em “Ferroelectric Transducers and Sensors”, Gordon and Breach Science Publishers, N. York – London – Paris (1982).

16. G. A Smolemkii, Sov. Phys. Sol. State 1, 150 (1950).

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18. M. Takahashi, Jap. J. Appl. Phys. 10, 5 (1971).

19. S. Takahashi, FERROELECTRICS 41, 143 (1982).

20. P. V. Lambeck and G. H. Jonker, FERROELECTRICS 22, 729 (1978).

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34