capÍtulo i - introduÇÃo · segundo guyton et al. (1997), a imunidade representa a capacidade que...
TRANSCRIPT
Introdução
1
CAPÍTULO I
- INTRODUÇÃO –
O presente trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de seminário
integrada no 5º ano da licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física da
Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra,
tendo como objectivo estabelecer a relação, das alterações no sistema imunitário e da
susceptibilidade às doenças do tracto respiratório superior com os estados de humor,
em nadadores de elite, em situações de carga de treino elevada e em situações de
recuperação relativa.
Nos dias que correm, a prática de actividade física ocupa um lugar de extrema
importância na manutenção de uma vida saudável, pois contribui para a melhoria dos
estados físico, mental e social.
É suposto que, a redução da reactividade imunitária ocorra em atletas de elite
durante a prática de actividade física intensa e em períodos de competição, num
momento de stress físico e psicológico. (Smith & Weidemann, cit. por Mackinnon,
1992)
O conhecimento actual parece conduzir à noção de que o exercício moderado
apresenta-se como o mais benéfico para as funções do sistema imunitário, enquanto o
exercício intenso e de longa duração parece influenciar a imunodepressão das
funções imunitárias. (Pederson, 1996)
O stress psicológico em atletas, quando associado ao treino e à competição,
pode contribuir igualmente para alterar a função imunitária, colocando em risco o
aumento de ITRS.
Treinadores e atletas de elite de modalidades de resistência como a Natação,
têm a percepção comum de que o factor treino intenso diminui a resistência às ITRS
(Nieman, 2000). Por outro lado, atletas que executam um treino de forma moderada
apresentam uma maior resistência às infecções, quando comparados com atletas que
realizam exercícios intensos, ou uma população sedentária, também ela mais
susceptível às infecções. (Mackinnon, 2000; O’Kane, 2002)
Estudos realizados com nadadores, sugerem que após a prática de actividade
física, os valores da imunoglobulina salivar (IgA), são mais baixos, em relação à
testada inicialmente, e que a prática de treino intenso conduz a um aumento do
Introdução
2
número de ITRS, originando uma imunosupressão das funções imunitárias. (Gleeson
et all., 2000; Mackinnon et all., 1993; O’Kane, 2002)
Um outro estudo com atletas de elite australianos, sugere que os períodos de
treino intenso estão relacionados com uma diminuição das concentrações de
imunoglobulina salivar (IgA) e a uma maior susceptibilidade para as ITRS. (Shepard,
1999)
É conhecida a influência do sistema nervoso sobre o sistema imunitário,
nomeadamente os factores emocionais (stress psicológico associado aos estados de
humor) ou oriundos do envolvimento (stress físico) os quais podem suprimir a
actividade de algumas células constituintes do sistema imunitário, dando origem a
um aumento do número de constipações e gripes (Villarubia, 1997). Por isso, uma
acumulação de stress em atletas de elite, na qual poderá surgir uma supressão crónica
da função imunitária, provoca um aumento da susceptibilidade do organismo a um
elevado número de infecções. (Gleeson, 2000)
Um estudo realizado utilizando o POMS (Profile of Mood States), observou
que os atletas diferem dos não-atletas numa variedade de estados psicológicos. Os
atletas de elite são normalmente caracterizados por valores reduzidos nos estados de
humor, apresentando, um elevado nível no estado de vigor e um baixo nível nos
estados de fadiga, tensão, depressão e confusão, relativamente aos não-atletas.
(Berglund et all., 1994; Morgan,1980; McNair et all., 1992)
O treino intenso, ou sobretreino, realizado por atletas em desportos de
resistência, como uma corrida de longa distância e a natação têm sido
constantemente associados com um aumento de distúrbios de estados de humor.
Parece que, quando a carga de treino aumenta, os distúrbios de humor mostram uma
correspondente elevação, e, quando o treino diminui os estados de humor melhoram.
(Raglin et all. 1991)
O estudo que apresentamos foi realizado com o objectivo de avaliar a relação
entre a carga de treino, os estados de humor evidenciados pelos atletas, e a
susceptibilidade às ITRS. Quanto maior for o conhecimento da interacção referida,
melhor conseguem os treinadores e os próprios atletas lidarem com este aspecto.
Introdução
3
1. FORMULAÇÃO DAS HIPÓTESES
Por parte do investigador, uma hipótese é definida como uma tentativa de
explicação ou previsão dos principais resultados do processo de investigação,
baseada nos objectivos do estudo, a fim de antever possíveis relações entre variáveis.
Assim, neste estudo tentaremos provar as seguintes hipóteses:
Hipótese alternativa (H1) – O grupo experimental apresenta maior número de ITRS
em situação de carga elevada – microciclo de choque.
Hipótese alternativa (H2) – O grupo experimental apresenta maior número de ITRS
que o grupo de controlo em situação de carga elevada – microciclo de choque.
Hipótese alternativa (H3) – O grupo experimental apresenta maior número de ITRS
que o grupo de controlo em situação de carga reduzida – microciclo de recuperação.
Hipótese alternativa (H4) – o grupo experimental revela estados de humor
influenciados pela carga de treino
Hipótese alternativa (H5) – o grupo experimental revela ITRS influenciadas pelos
estados de humor
Hipótese alternativa (H6) – a utilização do questionário POMS alargado é um
instrumento discriminatório da carga de treino.
Este trabalho encontra-se organizado em sete capítulos:
O capítulo I contempla a Introdução, a qual apresenta os objectivos do estudo,
assim como, a sua pertinência e interesse científico e também a formulação das
hipóteses.
O capítulo II refere-se à Revisão da Literatura, onde se apresenta o
enquadramento teórico do tema.
Introdução
4
O capítulo III engloba a metodologia utilizada no estudo experimental, a qual
inclui os procedimentos e instrumentos utilizados, a cronologia, a caracterização da
amostra e a análise dos dados.
No capítulo IV são apresentados e discutidos os resultados obtidos no estudo,
confrontando-se com o descrito na revisão da literatura.
No capítulo V são apresentadas as conclusões do estudo, assim como, as
limitações inerentes à sua consecução e as sugestões/recomendação para futuras
investigações nesta temática.
Finalmente, no capítulo VI contemplam-se as referências bibliográficas
consultadas para a consecução deste trabalho.
Revisão da Literatura
5
CAPÍTULO II
- REVISÃO DA LITERATURA -
1. IMUNIDADE E SISTEMA IMUNITÁRIO
A imunologia é a ciência que estuda o sistema imunitário, o nosso mecanismo
de defesa contra infecções. Ela consegue lidar com um número inacreditável de
microorganismos (vírus, bactérias, outros parasitas) diferentes, que nos tentam
invadir e infectar.
O organismo humano vive em equilíbrio permanente com uma flora variada.
Além disso, é penetrado constantemente por germes provenientes do meio ambiente,
bactérias, vírus e fungos. Pode também ser invadido por parasitas ou por substâncias
capazes de alterar o funcionamento de certos órgãos ou tecidos. A defesa do
organismo contra as agressões é feita por um sistema especial, de grande
complexidade, o sistema imunológico ou imunitário. A sua função contribui, para a
manutenção da integridade do indivíduo através da eliminação de substâncias
estranhas ou de agentes infecciosos ao qual o organismo está exposto. (Gallego,
1992)
A capacidade do organismo resistir às agressões de substâncias estranhas,
como microrganismos e substâncias químicas nocivas é chamada de imunidade.
(Seeley et al., 1997)
Segundo Guyton et al. (1997), a imunidade representa a capacidade que o
corpo humano tem em resistir a quase todos os tipos de organismos ou toxinas que
tendem a danificar os tecidos e órgãos.
Quando surge uma doença, que provoca no organismo alterações funcionais,
dois ramos diferentes, mas interligados do sistema imunitário são activados (Roitt et
al., 1998; Vander et al., 1981, 1996). Estes ramos são: a) resposta imunitária não
específica, também definida como imunidade inata, b) a resposta imunitária
específica, também definida como imunidade adquirida.
Em ambas as situações, está implicada a capacidade de distinção ou de
reconhecimento dos constituintes do organismo (próprios) ou das outras moléculas
(não próprios). (Ibars et al. cit. por Gallego, 1992)
Revisão da Literatura
6
1.1 CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA IMUNITÁRIO
O corpo humano possui um sistema especial de combater os diferentes
agentes infecciosos e tóxicos. Esse sistema é composto por glóbulos brancos
(leucócitos) e células derivadas desses leucócitos. (Guyton et al., 1997)
Os leucócitos são os protagonistas do Sistema Imunitário: são eles as células
da imunidade.
Os leucócitos e as células que deles derivam constituem o componente celular
mais importante do sistema imunitário. (Seeley et al., 1997)
Os leucócitos são as células que existem em maior número no Sistema
Imunitário. Têm origem em parte na medula óssea e em parte no tecido linfóide,
sendo transportadas pelo sangue, deixando o sistema circulatório para entrar nos
tecidos por forma a desempenharem as suas funções. (Guyton et al., 1997; Vander et
al., 1994)
O ser humano possui aproximadamente 7000 leucócitos por microlitro de
sangue. (Guyton et al., 1997).
Há vários tipos de leucócitos, com diferentes formas e funções. Eles podem
ser agrupados em dois grandes grupos, o dos granulócitos e o dos linfócitos.
Para evitar a doença, estas células trabalham juntas de duas formas, ou seja,
(1) por fagocitose, destruindo os agentes invasores, ou (2) formando anticorpos e
linfócitos com função de destruir ou inactivar o agente invasor. (Guyton et al., 1997)
Os leucócitos, para além de serem as unidades móveis, são as células centrais
de toda resposta imunitária (Roitt et all., 1998). Pode-se concluir, deste modo que
todas as células imunitárias são leucócitos. (Guyton et al., 1997; Roitt et al., 1998)
As células do sistema imunitário que estão envolvidas na resposta imunitária
incluem: granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos), monócitos e linfócitos
(T, B e NK). (Gallego, 1992)
1.2.1 GRANULÓCITOS
Os granulócitos são assim denominados, visto que, possuem grânulos
característicos no seu citoplasma, para além disto são também denominadas por
células polimorfonucleares, porque possuem mais do que um núcleo.
Estas células têm origem na medula óssea, representando cerca de 65% dos
leucócitos, com função de proteger o corpo contra organismos invasores. Depois de
Revisão da Literatura
7
liberados da medula óssea, têm um tempo de vida de 4 a 8 horas circulando no
sangue e quatro a cinco dias em outros tecidos.
O processo pelo qual destroem estes, os agentes invasores designa-se por
fagocitose. (Guyton et al. 1997)
Existem três tipos de granulócitos: neutrófilos, que constituem a maior
percentagem de leucócitos; eosinófilos e basófilos. Cada um pode ser caracterizado
pela morfologia e cor. (Mackinnon, 1992)
Os neutrófilos são células maduras e fagocitárias produzidas pela medula
óssea vermelha e libertadas para o sangue em grande quantidade. Normalmente, são
as primeiras células a entrar nos tecidos infectados, logo, constituem a primeira linha
de defesa do organismo contra vírus e bactérias, constituindo a maioria dos
leucócitos circulantes (62%). (Seeley et al., 1997)
Os neutrófilos destroem os agentes invasores por fagocitose (ingestão de
substâncias nocivas ao organismo), libertando determinadas enzimas que matam os
microorganismos nocivos, mas que, simultaneamente, podem lesar os seus próprios
tecidos. Eles não são capazes de fagocitar partículas maiores do que as bactérias.
(Guyton et al., 1997)
Os basófilos são glóbulos brancos móveis e têm origem na medula óssea
vermelha, podendo deixar o sangue e penetrar nos tecidos infectados. Estes podem
ser activados pela imunidade inata ou pela imunidade adquirida. Após activados,
libertam determinadas substâncias químicas, induzindo uma reacção inflamatória.
(Seeley et al, 1997)
Os basófilos, representam apenas 0,4% dos leucócitos no sangue e,
conjuntamente com os mastócitos, desempenham um importante papel em alguns
tipos de reacções alérgicas e inflamatórias, porque o tipo de anticorpo que causa
estas reacções tem uma propensão especial de aderir a estes. (Guyton et al., 1997;
Mackinnon, 1992; Roitt et al., 1998)
Por último, os eosinófilos são fagócitos fracos produzidos na medula óssea
vermelha, entrando no sangue e penetrando nos tecidos, constituindo 2 a 3% do total
de leucócitos. Têm também capacidade de segregar enzimas que matam alguns
parasitas.
Revisão da Literatura
8
Os eosinófilos são frequentemente produzidos em grandes quantidades nas
pessoas com infecções parasitárias, migrando para os tecidos infectados por
parasitas. Têm também uma tendência especial de acumular-se nos tecidos onde
ocorreram reacções alérgicas Portanto, os eosinófilos, são responsáveis por
mecanismos que em simultâneo com a inflamação, reduzem a disseminação do
processo inflamatório. (Guyton et al., 1997; Seeley et al, 1997)
1.2.2 MONÓCITOS
Os monócitos são células imaturas formados na medula óssea e representam
cerca de 6% do total de glóbulos brancos existentes no sangue. Juntamente com os
granulócitos, protegem o organismo contra os agentes invasores, através do
mecanismo de fagocitose. Antes de entrarem nos tecidos têm um tempo de vida
curta, de 10 a 20h no sangue e uma capacidade reduzida de combater os agentes
infecciosos. No entanto, após entrarem nos tecidos, diferenciam-se em macrófagos
teciduais podendo viver durante meses ou anos. Uma vez nos tecidos, possuem uma
grande capacidade pela defesa contínua destes contra as infecções.
Os macrófagos quando activados pelo sistema imunitário são fagócitos muito
mais potentes do que os neutrófilos e com capacidade de fagocitar partículas muito
grandes e em maior número. (Guyton et al., 1997)
Os monócitos/macrófagos activados, para além de fagocitarem agentes
patogénicos, também exercem a função de células apresentadoras dos antigénios aos
linfócitos produzindo factores solúveis que activam os linfócitos. (Ibars et al, 1992;
Mackinnon, 1992)
Os macrófagos localizam-se entre as superfícies livres do organismo, como a
pele (derme), a hipoderme, as membranas mucosas e as serosas e circundam os vasos
sanguíneos e linfáticos. (Seeley et al., 1997)
1.2.3 LINFÓCITOS
Os linfócitos são essenciais para a sobrevivência do ser humano.
Os linfócitos têm origem na medula óssea vermelha, constituindo cerca de
30% dos leucócitos. Eles estão divididos em linfócitos B e linfócitos T. (Seeley et al.,
1997)
Revisão da Literatura
9
Os linfócitos T são responsáveis pela formação de linfócitos activados que
produzem a imunidade celular. Os linfócitos B são responsáveis pela formação de
anticorpos, responsáveis pela imunidade humoral.
Os linfócitos T são processados no timo, onde se dividem e desenvolvem
extrema diversidade para reagir contra diferentes antígenos específicos. (Guyton et
al., 1997)
Os linfócitos T atacam células infectadas com vírus ou fungos, células
humanas transplantadas e células cancerígenas. Estas células não produzem
anticorpos, para destruir o agressor. Este tipo de linfócito tem que se aproximar ou
entrar em contacto com a célula infectada de modo a destruí-la. (Fox; 1996)
Os linfócitos T estão envolvidos na imunidade celular (Fox, 1996; Guyton et
al., 1997; Ibars et al., 1992; Roitt et al., 1998; Vander et al., 1981).
Os linfócitos T podem, então, ser classificados em três grandes grupos, com
diferentes funções: (1) células T de ajuda, (2) células T citotóxicas e (3) células T
supressoras. (Guyton et al., 1997)
As células T de ajuda, são as mais numerosas células T. Têm como função
ajudar na protecção do sistema imunitário, ou seja, exercendo função de regulação da
maior parte das respostas imunitárias, tanto na resposta humoral como na celular.
(Guyton et al., 1997; Mackinnon, 1992)
As células T citotóxicas são, segundo Mcardle et al. (1996), células de ataque
directo capazes de matar microrganismos e, às vezes, algumas células do próprio
corpo que tenham sido infectadas por vírus ou patogénios intracelulares. Deste modo,
estas células são também denominadas de células assassinas. (Fox, 1996, Roitt et al.,
1998)
As células T supressoras são um grupo de células mal conhecido que podem
impedir a actividade das células T de ajuda e T citotóxicas. (Seeley et al, 1997)
Portanto, estas células exercem funções supressoras com o objectivo de regular as
actividades de outras células, impedindo-as de efectuar reacções imunes excessivas
que poderiam prejudicar o organismo. (Guyton et al., 1997; Mackinnon, 1992)
Os linfócitos B são processados no fígado, durante o segundo trimestre da
vida fetal, e na medula óssea, durante o final da vida fetal e após o nascimento.
(Guyton et al., 1997)
Os linfócitos B diferem dos linfócitos T porque segregam anticorpos e têm
uma maior diversidade, produzindo muitos anticorpos com diferentes reactividades
Revisão da Literatura
10
específicas. No entanto, sem a ajuda das células T, a quantidade de anticorpos
produzida pelos linfócitos B seria desprezível. (Guyton et al., 1997)
Os linfócitos B actuam ao nível de determinadas infecções bacterianas e
virusais, através da secreção de anticorpos para o sangue e linfa.Visto que, o sangue
e a linfa são fluídos corporais, afirma-se que os linfócitos B proporcionam a
imunidade humoral. (Fox, 1996)
Figura II.1 - Células do sistema imunitário (retirado de Gallego, 1992).
Células Origem Função
% L
eucó
cito
s ci
rcu
lan
tes
Gra
nu
lóci
tos
(60
a 7
0)
Neutrófilos
> 90 de
granulócitos
Medula óssea
-Fagocitose, através da libertação de determinadas enzimas
Eosinófilos
(2-5 de
granulócitos)
- Fagocitose e inflamação
Basófilos
(0,2 de
granulócitos)
- Fagocitose de parasitas; penetra nos tecidos
libertando substâncias químicas que inibem a inflamação.
Libertação de mediadores químicos que induzem
a inflamação.
Monócitos
(10-15)
-Fagocitose; apresentação de antigénio;
produção de citoquinas; citotoxicidade; deixa o sangue e entra nos tecidos para se transformar
em macrófago
Linfócitos
(20-25)
Medula óssea,
Timo e órgãos
linfóides
periféricos
-Activação de linfócitos; produção de linfoquinas; reconhecimento do antigénio;
produção de anticorpos; memória,
citotoxicidade.
Quadro II.1 – Quadro sumário dos constituintes celulares (leucócitos) do sistema imunitário (retirado
de Mackinnon, 1992; Vander, Sherman Luciano, 1998 e Seeley et al., 1997).
Revisão da Literatura
11
Células Origem Função
% L
infó
cito
s ci
rcu
lan
tes
Cél
ula
s T
(60
-75
)
Células Th
(60-70 de células T)
Tecido linfático
- Secreção de linfoquinas; reconhecimento do antigénio; proliferação de células B; activam as
células B e T efectoras
Células Tc/Ts
(30-40 de células T)
- Citotoxicidade; supressão de linfócitos;
produção de anticorpos; memória; produz citoquinas que induzem a inflamação; inibem as
células B e T efectoras.
Células B
(5-15)
- Produção de anticorpos; memória; após ser activada, diferencia-se em célula plasmática ou
em célula B de memória.
Células NK
(10-20)
Sangue e linfa
- Citotoxicidade, produção de linfoquinas; fazem
a lise de células tumorais e das infectadas por
vírus.
Quadro II.2 – Quadro sumário dos constituintes celulares (linfócitos) do sistema imunitário (retirado
de Mackinnon, 1992; Vander, Sherman Luciano, 1998 e Seeley et al., 1997).
1.2.4 ANTICORPOS E IMUNOGLOBULINAS
Os anticorpos, são grandes moléculas denominadas de imunoglobulinas (Ig),
reagindo cada um a determinado antigénio específico. (Fox, 1996 ; Guyton et al.,
1997; Ibars et al., 1992; Mackinnon, 1992; Roitt al., 1998; Vander et al., 1981)
Os anticorpos exercem uma importância significativa na resposta imunitária
visto que, permitem o reconhecimento e memória aos antigénios relativamente a
exposições anteriores. Os anticorpos ao localizarem-se na superfície das células B, na
qual exercem a função de receptores aos antigénios, constituem um importante meio
de início da resposta imunitária adquirida. (Mackinnon, 1992)
As imunoglobulinas (Ig), são glicoproteínas produzidas e secretadas por
células plasmáticas e por células B sendo constituídas por duas cadeias polipeptídicas
leves e duas pesadas. (Mackinnon, 1992; Mcardle et al., 1996; Roitt et al., 1998)
Os anticorpos encontram-se divididos em cinco classes, que podem ser
encontrados no soro e noutros fluidos do corpo e designam-se, respectivamente por:
IgM, IgG, IgA, IgD e IgE. (Fox, 1996 ; Guyton et al., 1997; Ibars et al., 1992;
Mackinnon, 1992; Roitt al., 1998; Vander et al., 1981)
A classe IgM, representa o primeiro anticorpo produzido quando é activada
uma resposta imunitária. A classe IgG, é a mais abundante no nosso organismo. A
classe IgA, pode ser encontrada nas secreções das membranas da mucosa, exercendo
a função de protecção do organismo dos germes patogénicos. A classe IgD encontra-
se no plasma colaborando na activação dos linfócitos após o estímulo antigénico. E,
Revisão da Literatura
12
por último, a classe IgE constitui apenas uma pequena percentagem dos anticorpos, e
está principalmente envolvida nas alergias. (Ibars et al., 1992 ;Mcardle et al., 1996;
Mackinnon, 1992; Sheldon, 1998; Roitt et al.; 1998).
1.3 IMUNIDADE ESPECÍFICA E NÃO ESPECÍFICA
O sistema imunitário pode ser comparado a uma força militar de defesa,
organizada e hierarquizada. Esta força patrulha o organismo, penetrando os seus
líquidos e tecidos e mantém tropas em alerta, prontas para o combate, se necessário.
Ao encontrar um agente invasor, as unidades de patrulha enviam sinais que activam
as unidades de combate, para impedir o invasor de alcançar os seus alvos.
Deste modo, os mecanismos ou as forças de defesa imunitárias podem ser
classificadas em duas categorias: não específica e específica, as quais interagem uma
com a outra. (Vander et al., 1998)
Cada um destes tipos de imunidade é caracterizada por utilizar um conjunto
de células características.
Na imunidade não específica, também denominada de inata ou natural, o
organismo nasce com a capacidade de reconhecer e destruir algumas substâncias
estranhas. (Seeley et al., 1997)
Esta imunidade actua, indiscriminadamente, frente a qualquer substância
estranha, sem a necessidade de uma exposição prévia, actuando sobre um variado
número de organismos não demonstrando especificidade. (Mackinnon, 1992, Ibars et
al., 1992).
A imunidade inata é mediada por factores humorais, a qual é
maioritariamente constituída por proteínas que se encontram nos fluídos do
organismo, ou por células fagocíticas. Este tipo de imunidade representa a primeira
barreira defensiva do organismo, apresentando um carácter espontâneo, pois não
possui nenhuma capacidade de memória, plasticidade e adaptação aos agentes
patogénicos. A primeira linha de defesa desta imunidade é efectuada palos
macrófagos os quais se encontram bem distribuídos pelo organismo, ao passo que os
neutrófilos constituem a segunda barreira defensiva. (Mackinnon, 1992 ; Ibars et al.,
cit. por Gallego, 1992).
Roitt et al. (1997) refere que, as defesas da imunidade inata, através de
contactos anteriores com agentes infecciosos, não serão afectadas intrinsecamente.
Revisão da Literatura
13
A resposta imunitária é levada a cabo por células fagocitárias (granulócitos,
neutrófilos e macrófagos) e pelas NK, capazes de reconhecer alterações na superfície
de células infectadas por vírus e células tumorais. Quando uma bactéria é destruída
por fagocitose, o fagócito dirige-se para o foco bacteriano pelo fenómeno de
quimiotaxia. O segundo mecanismo desta imunidade permanece nas reacções de
citotoxicidade dos macrófagos, eosinófilos e das células cititóxicas NK. Esta
citotoxicidade dirige-se para as células tumorais, células muito imaturas ou células
alteradas por uma infecção viral. (Gallego, 1992 ; Guyton et al., 1997 ; Ibars et al.,
1992)
Segundo Mackinnon (1992), para a prevenção de infecções, a imunidade
natural apresenta três mecanismos gerais:
a) Barreiras estruturais que previnem a entrada de organismos patogénicos,
representando a primeira barreira defensiva do organismo (ex.: pele,
muco, células epiteliais, etc.);
b) Barreiras químicas que criam um meio impróprio para ao
microorganismos (pH, enzimas digestivas, lisozimas, saliva, secreções
nasais, etc.)
c) Células fagocitárias (ex.: granulócitos, macrófagos, NK) que reconhecem
e destroem os microorganismos através da fagocitose.
A imunidade específica divide-se em dois tipos: uma imunidade mediada
por anticorpos realizada pelos linfócitos B (imunidade humoral) e outra mediada por
células através dos linfócitos T (imunidade celular). (Gallego, 1992)
Esta imunidade específica também denominada de adquirida ou adaptativa,
ao contrário da imunidade não-específica, é caracterizada pela especificidade que
apresenta para o agente infeccioso, gerando deste modo, memória para uma
exposição posterior. A resposta adquirida é aperfeiçoada, mais rápida e eficaz,
aquando de uma nova exposição ao agente agressor e é a base para prevenir o
aparecimento de doenças. (Mackinnon, 1992; Seeley et al., 1997; Guyton et al.,
1997)
Este tipo de imunidade aperfeiçoada, é vista como a segunda barreira
defensiva, sendo mais efectiva e poderosa, uma vez que, ocorre em resposta a uma
Revisão da Literatura
14
fase adaptativa em que o agente patogénico é reconhecido de modo específico.
(Mackinnon, 1992)
Nesta imunidade a acção de células imunitárias (linfócitos e macrófagos)
desempenham a tarefa de destruir ou inactivar os microorganismos patogénicos
utilizando vários mecanismos. (Mackinnon, 1992)
Aquando da primeira exposição aos agentes patogénicos, são activados os
linfócitos B, pois são os responsáveis pelo reconhecimento imunitário específico das
substâncias patogénicas, por isso são eles que iniciam a resposta imunitária
adquirida, produzindo respostas mais rápidas e eficientes. Esta capacidade deve-se ao
facto de possuírem receptores de antigénio. (Mackinnon, 1992; Roitt et al., 1998;
Sheldon, 1998)
Segundo Guyton et al. (1997), as pessoas que possuem carência genética de
linfócitos ou os quais foram destruídos, não podem desenvolver imunidade
adquirida. Esta imunidade pode produzir dois tipos de respostas:
- O organismo desenvolve anticorpos circulantes, denominados de globinas,
que se tornam elementos do sangue, capazes de atacar agentes patogénicos,
agressores; são responsáveis pelo reconhecimento específico e pela eliminação de
substâncias estranhas ao organismo; após a primeira exposição ao agente agressor,
formam-se células B de memória para um determinado agente patogénico, que fará
com que nas exposições seguintes, a resposta imunitária seja mais rápida e eficiente.
Os linfócitos B são os responsáveis pela produção de anticorpos (imunoglobulinas -
Ig): Imunidade humoral
- Formação de grande número de linfócitos T, activados com a função
primária de destruição de agentes estranhos, pois possuem receptores pré adaptados
que reconhecem especificamente a estrutura química dos agentes agressores:
Imunidade celular
Este tipo de imunidade é fomentada pelos linfócitos T, enquanto que a
imunidade humoral é induzida pelos linfócitos B.
É importante referir que os anticorpos são produzidos pelos linfócitos B.
Portanto, a imunidade adquirida é subdividida de acordo com os linfócitos
que intervêm no processo imunitário, ou seja, relativamente às componentes do
sistema imunitário que estão presentes na resposta imunitária.
(Guyton et al, 1997; Mcardle et al., 1996; Mackinnon, 1992; Roitt et al., 1998).
Revisão da Literatura
15
Sendo assim, a imunidade específica pode ser mediada por anticorpos
(imunidade humoral) ou por um conjunto de células (imunidade celular).
Caracteriza-se como sendo o produto do sistema linfático do organismo, capaz de o
proteger contra doses de toxinas que seriam letais a um organismo não imune. (Fox,
1996; Guyton et al., 1997 ; Ibars et al., 1992 ; Roitt et al., 1998 ; Vander et al., 1981).
Sintetizando, ao considerarmos os mecanismos de defesa contra as diversas
agressões, identificam-se dois tipos principais de imunidade: a imunidade não
específica e a imunidade específica. A primeira nasce com o indivíduo e protege o
organismo contra agentes patogénicos específicos e toxinas, desde o nascimento. A
segunda depende da estimulação de defesa ao longo da vida dos indivíduos. Estes
dois tipos de imunidade funcionam como um só na protecção do organismo a agentes
agressores ao organismo.
2. INFLUÊNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO NO SISTEMA IMUNITÁRIO
Hoje em dia, a prática de actividade física é um bem essencial para a
manutenção de uma vida saudável. O reconhecimento da actividade física como um
factor essencial para a saúde deve-se ao conhecimento científico, que permitiu
associar o exercício físico à prevenção de doenças.
O estudo da influência da actividade física sobre o sistema imunitário, tanto
em humanos como em animais, sugere que esta influência pode estar condicionada
pela intensidade e duração do exercício, assim como, pelo estado de saúde de quem o
realiza. No geral, o exercício intenso e prolongado parece que prejudica o sistema
imunitário, enquanto que o moderado não influi no mesmo induzindo certos
benefícios (Gallego, 1992; Ibars et al., 1992).
Segundo Mackinnon (1992), o exercício físico altera a função do sistema
imunitário, mas, não afecta alguns dos seus parâmetros, como por exemplo, o
número de granulócitos pode não sofrer alterações após esforços de curta duração e
baixa intensidade. A resposta a uma função imunitária específica varia com a
intensidade do exercício. Existem algumas inconsistências na resposta imunitária
para o exercício físico, para as quais não existe explicação.
Existe uma ideia generalizada de que numa população de atletas, treinadores
e médicos desportivos, o treino físico regular e moderado pode reforçar a função
imunitária e diminuir o risco de doença ou infecção (Mackinnon, 1997; Powers &
Revisão da Literatura
16
Howley, 1997), e que, exercícios curtos e intensos induzem a uma diminuição
temporária da função imunitária. Por outro lado, dias sucessivos de treino curto e
intenso, e, as próprias competições podem agravar essa condição, conduzindo, não só
a um decréscimo das funções do sistema imunitário, mas também podem dar origem
a uma supressão da função imunitária (Mackinon, 1992; Wilmore & Costill, 1994).
Segundo Fox (1996), existe um consenso entre todos os profissionais de
saúde, de que a prática de actividade física moderada, tem um impacto benéfico na
saúde.
As alterações imunitárias positivas ocorrem durante a actividade física
moderada. Uma actividade física com duração de trinta minutos, todos os dias, ajuda
na melhoria do sistema imunitário (Kruse, 2002).
Segundo Nieman (2000), pessoas que praticam actividade física
regularmente, apresentam uma maior resistência imunitária a doenças do que as
pessoas sedentárias. Durante o exercício moderado, observa-se um aumento dos
níveis de imunoglobulinas (anticorpos). As hormonas do stress, as quais suprimem a
acção do sistema imunitário, neste tipo de actividade, não se encontram elevadas.
Segundo Nieman (1997), à medida que o exercício físico se torna mais
intenso e prolongado, as respostas imunitárias face ao exercício serão maiores, ou
seja, o exercício altera a distribuição e o tráfego das células imunitárias periféricas,
ampliando a capacidade de vigilância imunitária e estimulando outras alterações
transitórias nas defesas do hospedeiro.
Nieman, citado por Kruse (2002), coloca uma questão: será que posso praticar
exercício físico quando estou doente? No geral, se os sintomas vêm do nariz (uma
vulgar constipação), o exercício moderado é provavelmente aceitável e talvez
benéfico.
Segundo Smith and Weidemann, citado por Mackinnon (1992), a prática de
exercício físico moderado, aumenta a libertação de hormonas estimuladoras,
enquanto que, exercício intenso está associado a uma diminuição da circulação de
catecolaminas e corticoesteróides que inibem um número de parâmetros imunitários.
Este modelo também refere que a maior instância de redução da reactividade
imunitária ocorre em atletas de elite durante a prática de actividade física intensa e
em períodos de competição, num momento de stress físico e psicológico.
Como já vimos, existem alterações a nível do sistema imunitário, essas
alterações também se verificam nos seus constituintes celulares.
Revisão da Literatura
17
Com a prática de exercício físico, observa-se um aumento de células
leucocitárias circulantes (fagócitos e linfócitos). (Mackinnon, 1992)
Deste modo, segundo (Gallego, 1992; Ibars et al., 1992; Mackinnon, 1997,
Nieman, 1994a) o exercício físico induz a uma imediata leucocitose, cuja magnitude
varia de acordo com a intensidade e duração da actividade física. Esta aumento é, na
maior parte, devido ao aumento dos linfócitos, neutrófilos e com uma pequena
contribuição dos monócitos. (McCarthy et all., 1988, citados em Eliakim et. al.,
1997, Mackinnon, 1997).
Posteriormente à prática de actividade física, o número total de leucócitos
poderá permanecer elevado durante algumas horas, podendo o número destes
diminuir abaixo dos valores normais, antes de voltar aos valores anteriores ao
exercício físico. Estes valores normais são restaurados após vinte e quatro horas
(Mackinnon, 1992).
A maioria dos autores defende que a prática de exercício físico, provoca um
aumento do número de granulócitos, denominada de granulocitose, que se deve,
principalmente, ao aumento do número de neutrófilos (Ibars et al., 1992; Mackinnon,
1992; Nieman et al., 1995).
Segundo Gallego (1992), quando o exercício físico é realizado por pessoas
sedentárias (tanto em exercícios moderados, como em exercícios stressantes) ou por
indivíduos treinados que realizem apenas provas de resistência (por exemplo,
maratona), observa-se um aumento do número de granulócitos circulantes. No
entanto, Ibars et al. (1992) refere que não se encontram efeitos significativos da
actividade física no número de granulócitos circulantes quando é realizada por
indivíduos treinados que praticam exercícios sem características aeróbias. Portanto, a
granulocitose induzida pela actividade física não produz um efeito negativo e pode
desempenhar um papel importante na primeira linha de defesa do organismo.
Diversos autores têm demonstrado que o número de monócitos circulantes
pode ser modificado pela actividade física (Gallego, 1992).
Este aumento designa-se por monocitose, retomando aos valores basais
minutos ou horas depois do seu término (Ibars et al., 1992; Woods et al., 1994).
Existem autores que apresentam opiniões divergentes relativamente às
características dos monócitos. Por um lado, Shepard (1998a), afirma que o número e
a funcionalidade dos monócitos em exercícios máximos, submáximos e prolongados,
Revisão da Literatura
18
é maior do que o verificado a baixas intensidades. Pelo contrário, Woods et all.
(1994, cit. por Shepard, 1998b), referem que o exercício moderado apresenta um
efeito benéfico sobre a actividade fagocitária dos macrófagos e que, pelo contrário, o
exercício intenso apresenta um efeito supressivo.
Muitos autores, referem que a prática de exercício físico, aumenta o número
de linfócitos (T e B) circulantes, verificando-se um maior aumento ao nível das
células B (Ibars et al., 1992; Gallego, 1992; Pirnary & Bury, 1996). Este aumento
designa-se de linfocitose (Nehlsen-Cannarelha et al., 1991; Espersen, Elbaek, Ernst,
Taft, Kaalund, Jersild & Grunnet, 1990, e Ferry, Picard, Duvalett, Weill & Rieu,
1990, citados em Eliakim et al., 1997).
Embora se verifique um aumento do número de linfócitos com o exercício,
em certas ocasiões a sua função pode encontrar-se temporariamente diminuída. A
justificação possível para essa diminuição poderá ser o aumento das células Nk e a
diminuição da relação Th/Ts, e a influência de factores hormonais, como o cortisol, o
que permitirá a possibilidade de microorganismos e vírus invadirem o organismo,
provocando, assim, episódios de infecções (Ibars et al. citados em Gallego, 1992).
Alguns autores consideram que o exercício físico moderado estimula a função
do sistema imunitário, podendo, no entanto, ser condicionado pelo exercício
repetitivo e intenso. Estas considerações podem ser explicadas pelo Modelo de
Curva em “J”. Este, representa a relação entre a prática de exercício físico e a
susceptibilidade de contrair infecções virais (Shepard, 1999; Ibars et al., e
Mackinnon, cit. Martins 2000).
Figura II.2 – Modelo da curva em “J” (retirado de Nieman, 2000).
De acordo com o modelo da curva em “J”, atletas que praticam exercício
físico com intensidade elevada (por exemplo, maratona), estão mais susceptíveis de
Revisão da Literatura
19
contrair infecções virais, do que indivíduos sedentários, devido à supressão de
algumas partes do sistema imunitário. Algumas destas funções são afectadas
negativamente durante algumas horas; outras durante alguns dias, podendo chegar
até uma semana (Shepard 1999; Nieman, 2000). No entanto, e, segundo este modelo,
a prática de actividade física moderada pode oferecer alguma protecção contras as
ITRS comparativamente com um estilo de vida sedentário. (McArdle et al., 1996)
A hipótese de que o exercício físico moderado faz diminuir a
susceptibilidade de contrair infecções, não está totalmente desvendado. Algumas das
explicações para este facto recaem sobre: (1) a criação de um envolvimento hostil
aos agentes patogénicos (ex.: aumento da temperatura corporal); (2)
desenvolvimento de um balanço mais favorável entre o sistema imunitário, a resposta
do organismo ao stress e à secreção, por exemplo, do cortisol (hormona). (McArdle
et al., 1996)
Neste período de vulnerabilidade, também designado de hipótese da “janela
aberta”, que é dependente da intensidade e duração do exercício, existe uma maior
percentagem de contrair infecções do tracto respiratório (Pedersen e Ullum, 1994;
Shepard 1999; Nieman, Rowbottom e Venkatraman, 2000). Isto é, segundo esta
hipótese durante o exercício moderado o sistema imunitário é estimulado, no entanto,
com o exercício intenso e de longa duração, surge uma imunodepressão, mais
propriamente uma invasão do organismo pelos agentes microbacterianos (vírus)
provocando uma infecção. Daí, a ocorrência desta hipótese esteja dependente da
intensidade e duração do exercício. (Pedersen, 1996)
Segundo Pederson (1996) uma das razões para o efeito de “overtraining”
observado em atletas de elite, poderá ser o facto desta janela de oportunismo para os
agentes patogénicos ser mais prolongada e o grau de imunosupressão mais
pronunciada. O exercício moderado apresenta-se como o mais benéfico para as
funções do sistema imunitário, sendo apenas o exercício intenso e de longa duração o
que revela uma imunodepressão das funções imunitárias.
Sendo assim, surgiu a hipótese de que, a imunosupressão poderá ser mais
severa se os atletas de elite após iniciarem uma nova carga de treino, interromperem
o processo de recuperação do seu sistema imunitário. (Pederson, 1996)
Segundo Mackinnon (1997) existem determinados factores que estão
relacionados com o aumento do risco de ITRS em atletas, tais como: grande
circulação ventilatória, observada durante a realização de exercício intenso e
Revisão da Literatura
20
prolongado, a qual pode alterar a superfície e a imunidade das mucosas; uma
supressão da função imunitária devido ao exercício intenso diário; uma deplecção de
factores importantes requeridos para a função imunitária (ex.: glutamina e vitamina
C); e, por último, stress psicológico associado ao treino e à competição que contribui
para alterar a função imunitária.
As pessoas que praticam actividade física moderada apresentam uma menor
susceptibilidade à doença. (Nieman, 2000)
Smith e Weideman (1990), propõem um modelo neuroendócrino na
explicação das respostas imunitárias à variação de intensidade do treino. Este modelo
sugere que, durante o exercício, são libertadas hormonas imunomoduladoras que
poderão estimular ou suprimir o sistema imunitário, dependendo da intensidade do
exercício.
O exercício moderado libertará hormonas imunoestimuladoras como a
hormona do crescimento, a prolactina, endorfinas, encefalinas e citocinas
estimuladoras (LaPerriere a tal., 1994). Com o aumento do exercício acima de certos
valores críticos, são libertadas hormonas imunosupressoras do hipotálamo como
catecolaminas, cortisol e ACTH. (Smith e Weideman,1990)
Este modelo dá uma explicação fisiológica da relação existente entre o
exercício (intensidade/volume) e a incidência de ITRS.
2.1 EXERCÍCIO AGUDO VERSUS EXERCÍCIO CRÓNICO
A grande parte de estudos realizados, apresentam como objectivo investigar
quais as alterações, que se verificam no sistema imunitário após a prática de
exercício físico.
Existem algumas experiências que mostram a influência do exercício agudo e
crónico na susceptibilidade às infecções, tanto em animais como em humanos.
Segundo Nieman (1994a), vários estudos epidemiológicos apresentam a
relação do exercício físico muito intenso ou crónico, associado a uma aumento de
ITRS. Esta relação deve-se às alterações negativas na função imunitária, à elevação
das hormonas do stress, adrenalina e cortisol e a uma má nutrição.
Alguns estudos realizados sugerem que um exercício físico com intensidade
elevada seja, agudo ou crónico, aumenta o rico de contrair ITRS. No entanto, a
prática de exercício físico regular e a uma intensidade moderada, permite reduzir os
sintomas de ITRS. (Nieman, 1997)
Revisão da Literatura
21
A resposta imunitária a um exercício agudo (praticado esporadicamente)
depende de vários factores tais como: intensidade, duração e tipo de exercício, níveis
de concentrações de hormonas e citoquinas, alterações da temperatura corporal,
estados de hidratação e circulação sanguínea. As células NK, os neutrófilos e os
macrófagos (imunidade inata), são os principais responsáveis do exercício agudo.
Geralmente, o exercício agudo com uma moderada duração (< 60 minutos) e
intensidade (< 60% VO2 máx.) está associado a um baixo stress do sistema
imunitário do que uma sessão de treino de duração prolongada e de elevada
intensidade. (Nieman, 1997)
2.2 ESTUDOS SOBRE A INFLUÊNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO NO
SISTEMA IMUNITÁRIO
Existe uma ideia de que, regimes de treino elevados acompanhados de uma
recuperação incompleta, podem provocar estados de sobretreino, o qual debilita o
sistema imunitário apresentando-se mais susceptível às infecções (Powers &
Howley, 1997). As alterações hormonais aqui ocorridas fornecem uma certa
protecção ao indivíduo contra a tendência para a imunosupressão do sistema
imunitário. (Shepard, 1997)
Atletas de elite de modalidades de resistência e treinadores apresentam uma
percepção comum de que o factor overtraining diminui a resistência às ITRS.
Durante uma competição importante, estas infecções, podem interferir na habilidade
dos atletas para competir, apresentando-se como o problema de saúde mais
frequente. (Nieman, 2000)
Segundo um estudo realizado por Pedersen (1999), as defesas imunitárias
aumentam durante a prática de exercício físico moderado e só através do exercício
físico intenso e de longa duração é que existe uma diminuição dessas defesas. Este
tipo de exercício inclui uma supressão da concentração de linfócitos, da actividade
das células NK, da proliferação de linfócitos e da secreção da imunoglobulina salivar
(IgA).
Os atletas de elite da modalidade de Natação estão constantemente
submetidos a factores, como o meio aquático e o treino, que podem afectar o seu
sistema imunitário. É na água que se encontram os micróbios patogénicos,
principalmente na superfície, e, os quais, estão em contacto permanente com a boca,
o nariz e os ouvidos dos atletas. Estes atletas praticam regularmente exercício físico
Revisão da Literatura
22
intenso. O stress físico, afecta o sistema nervoso, hormonal e imunitário sendo
responsável pela inflamação metabólica. Portanto, quer o meio aquático quer o
treino, induz a uma regular inflamação fisiológica e a uma regular alergia. Isto
reflecte-se numa grande proporção de aparecimento de ITRS. (Cassan, Mercier,
Castex, Coste, Varray, 2002)
Segundo um estudo realizado por Pyne (2001), a relação entre o exercício
físico e a imunidade poderá fornecer algumas explicações sobre a “flutuação” da
saúde e performance através de experiências realizadas com atletas de elite durante
um programa de treino intensivo.
Estudos realizados com nadadores de elite de origem australiana mostram que
a incidência de ITRS é similar à mesma idade e sexo de toda a comunidade. No
entanto, os nadadores, durante uma competição internacional ou quatro semanas
depois, apresentam ITRS, o que levará a um decréscimo da sua performance. Nestes
nadadores observaram-se baixos níveis de imunoglobulina salivar (IgA). (Pyne,
2001)
Um outro estudo realizado com nadadores de elite, tinha como objectivo
examinar as relações existentes entre a concentração da imunoglobulina salivar
(IgA), a incidência das ITRS e a performance competitiva dos nadadores. Este estudo
permitiu concluir que durante uma época de treino (de Maio a Agosto de 1998) com
nadadores de elite, não se verificaram alterações nas concentrações da
imunoglobulina salivar (IgA), e, as ITRS observadas não influenciaram a
performance competitiva dos nadadores. (Pyne, Mcdonald, Gleeson, Flanagan,
Clancy e Fricker, 2000)
O impacto no sistema imunitário da implementação de um programa de doze
semanas de treino de nadadores de elite foi estudado de modo a examinar a relação
entre as alterações dos parâmetros da imunidade e a incidência das doenças
respiratórias. A imunoglobulina salivar (IgA) foi testada antes e após as doze
semanas. Os resultados obtidos após as doze semanas sugerem a existência de
diferenças (embora pequenas) estatisticamente significativas nas concentrações de
imunoglobulina salivar (IgA) antes e após as doze semanas. As concentrações da
imunoglobulina salivar depois das 12 semanas (pós-exercício) apresentaram valores
mais baixos do que antes das 12 semanas (pré-exercício). Não se verificou nenhuma
associação entre os níveis de imunoglobulina salivar (IgA) e as ITRS durante as doze
semanas. Os resultados deste estudo vieram demonstrar que não existem associações
Revisão da Literatura
23
entre as ITRS e as alterações nos parâmetros imunitários durante um programa de
treino de doze semanas. (Gleeson, McDonald, Pyne, Clancy, Cripps, Francis,
Fricker, 2000)
O incremento das ITRS, apesar de serem observadas na sequência de uma
competição, também se observa após treino intenso. Estudos realizados com
nadadores de competição, observados durante quatro semanas de treino intenso
(Mackinnon, 1992) e jogadores de hóquei profissionais, durante dez dias de treino de
campo (Mackinnon, 1997), vieram provar a existência de um aumento da ocorrência
de ITRS de 40% em comparação com o grupo de controlo.
Segundo Steerenberg (1997), a prática física dos atletas de triatlo, pode
diminuir os níveis de imunoglobulina salivar (IgA), quando expostos durante o
exercício físico, a microorganismos presentes na água da piscina, colocando os
atletas num elevado risco de contrair infecções.
Dois estudos realizados concluíram que, o sistema imunitário de indivíduos
com uma boa condição física encontra-se mais elevado do que em indivíduos
sedentários. (Nieman, 1997)
3. INFECÇÕES DO TRACTO RESPIRATÓRIO SUPERIOR (URTI-Upper
Respiratory Tract Infection)
De acordo com o já descrito anteriormente, o modelo de curva em “J” é
caracterizado pela relação entre a intensidade do exercício físico e a função do
sistema imunitário, mais propriamente sobre a susceptibilidade de contrair infecções
no tracto respiratório superior. (Mackinnon, 2000)
As infecções do tracto respiratório superior caracterizam-se pela infecção ou
obstrução das vias aéreas superiores, concretamente, da região nasal e oral. (Nieman,
1992; Seeley et al., 1997)
A faringite, a amigdalite, a sinusite, a gripe e as constipações são as mais
frequentes das ITRS, no entanto, as três últimas são as mais comuns no quadro
clínico relativo ao treino dos atletas. (Mackinnon, 1992; Nieman, 1993; Pirnary &
Bury, 1996; Seeley et al., 1997; O’Kane, 2002).)
As infecções do tracto respiratório superior são muito comuns nos adultos,
ocorrendo em média duas a quatro constipações por ano, as quais ocorrem
predominantemente no Inverno. Existem dois métodos de transmissão das
Revisão da Literatura
24
constipações, um é o contacto das mãos com secreções infecciosas e outro, o
contacto das mãos com os olhos ou nariz. Atletas que treinam em divisões fechadas
(ex. pavilhão), estão mais susceptíveis às ITRS. (O’Kane, 2002)
Nestes, a aquisição de infecções, depende da susceptibilidade/exposição de
cada um ao vírus, e, da intensidade do treino. (O’Kane, 2002)
Um grande número destas infecções são causadas por vírus. Os atletas que
executam um treino de forma moderada apresentam uma maior resistência às
infecções, ao contrário de atletas que realizam exercícios intensos, apresentando-se
mais susceptíveis às infecções. (O’Kane, 2002)
Segundo Glesson (2000), os indivíduos que possuem uma deficiência
relacionada com a imunoglobulina-A (IgA) estão mais susceptíveis à incidência de
infecções, principalmente às ITRS. No entanto, esta incidência é menor se for
compensada pelo aumento da IgD, IgM e IgG.
Segundo um estudo realizado por Nieman et al. (1990) com atletas de
maratona, os que treinavam mais de 96 km por semana encontravam-se duas vezes
mais susceptíveis a ter sintomas de ITRS do que os que treinavam até 32 km por
semana. Na semana seguinte, as atletas participantes na maratona de Los Angeles,
encontravam-se seis vezes mais susceptíveis aos sintomas de ITRS, ao contrário do
grupo de controlo que não participou na maratona. Os mesmos resultados foram
obtidos noutros estudos.
Isto demonstra que, a prática de exercício físico moderado protege contra as
ITRS, e que, comparando pessoas activas com sedentárias, as activas apresentam
uma menor incidência de sintomas de ITRS.
Ainda não se sabe exactamente, de que modo, o exercício físico afecta o
sistema imunitário, no entanto, algumas evidências sugerem que, o treino intenso
reduz os níveis de imunoglobulina salivar (IgA) e IgM, e o número de células NK.
Em adição, a redução de subclasses da imunoglobulina salivar (IgA) em nadadores,
resulta num grande número de ITRS. Algumas evidências indicam que, um
suplemento de hidratos de carbono, vitamina C e glutamina, consegue reduzir
parcialmente a imunosupressão associada ao treino intenso. (O’Kane, 2002)
Concluindo, o risco de ITRS diminui em indivíduos que praticam exercício
físico de forma moderada, em relação aos indivíduos sedentários. Esse risco pode
ultrapassar os níveis médios, em períodos em que o organismo realiza uma
Revisão da Literatura
25
quantidade demasiado elevada de exercício físico de grande intensidade. (Nieman,
1994a)
3.1 INFLUÊNCIA DO EXERCÍCIO MODERADO SOBRE AS ITRS
Segundo Fitzgerald (sd), existe uma hipótese de que o exercício influencia o
sistema imunitário, sendo que este apresenta uma resposta a qual é determinada pela
intensidade com que o exercício é realizado. Deste modo, exercícios moderados (50
a 75% do VO2 máx.) estimulam o sistema imunitário. Para além da intensidade do
exercício, um outro factor, a frequência (aguda ou crónica), é fundamental na
promoção dos seus efeitos.
Baseado na hipótese acima referida, Mackinnon (1994) sugere que o
exercício de intensidade moderada aumenta a resistência contra infecções por libertar
factores imuno-moduladores (hormona do crescimento, prolactina e citosinas) na
circulação.
Segundo Nieman (1994a), são escassos os estudos que incidem sobre este
ponto. No entanto foram feitos alguns estudos onde utilizaram uma amostra pequena,
fornecendo algumas informações importantes de que a prática de exercício físico
moderado reduz a incidência de sintomas de ITRS.
O exercício moderado exerce uma pequena influência no rico das ITRS em
adultos jovens. Nieman et al. (1990) refere que 45 minutos de exercício físico cinco
vezes por semana a 60% do VO2reserva, reduz a duração dos sintomas respiratórios
mas não afecta a incidência de ITRS dos 25 aos 45 anos em mulheres. Em idades
entre os 67 e os 85 anos em mulheres, a incidência de ITRS foi menor num subgrupo
com uma condição física elevada, mais propriamente, num subgrupo de pessoas que
fazem caminhada, e maior num calisténico e sedentário grupo de controlo. (Shepard,
1999)
Segundo Nieman (1994a), o exercício físico moderado está relacionado com
alterações benéficas para o sistema imunitário. Algumas dessas alterações são
transitórias, podendo existir durante o exercício e desaparecer com algumas horas.
Segundo Shepard (1999), o exercício físico moderado, diminui a
susceptibilidade de contrair ITRS e certos cancros.
Revisão da Literatura
26
3.2 INFLUÊNCIA DO EXERCÍCIO INTENSO SOBRE AS ITRS
Os decréscimos progressivos de vários parâmetros imunitários, como as
funções dos neutrófilos, leucócitos circulantes, concentrações de citoquinas,
actividade das células NK, macrófagos e imunoglobulinas (Igs) na circulação
sanguínea e nas mucosas, encontram-se associados à actividade física intensa
(Mackinnon, 1997). Segundo Shepard (1999), o exercício físico intenso, tal como
uma maratona, suprime a imunidade desde horas até uma semana, criando um
período de vulnerabilidade de contrair ITRS e possivelmente cancro.
Um dos possíveis factores explicativos do aumento do risco de ITRS nos
atletas baseia-se na supressão da função dos neutrófilos durante períodos de treino
intenso. Isto porque, a capacidade fagocitária dos neutrófilos nas vias aéreas
superiores dos atletas apresenta-se reduzida relativamente a indivíduos sedentários.
(Nieman, 1997)
Segundo Fitzgerald (sd), os exercícios intensos (75% ou mais do VO2 máx.)
deprimem o sistema imunitário.
Indivíduos que realizam exercício intenso apresentam uma maior
susceptibilidade de contrair infecções ao nível do tracto respiratório superior, ao
contrário dos que realizam exercício de forma moderada (Nieman, 1994). Ainda
segundo este autor, após exercício intenso com duração superior a 90 minutos, ocorre
uma diminuição das funções imunitárias pelo menos de 3 a 72 horas. Muitas
componentes do sistema imunitário estão suprimidas, incluindo a função dos
linfócitos e dos neutrófilos. Grande parte desta imunosupressão aparece devido ao
aumento de hormonas do stress, as quais são segregadas em grandes quantidades
durante e após esforço intenso.
Segundo Mackinnon (1997), a alteração da superfície e da imunidade das
mucosas deve-se à elevada frequência ventilatória durante a realização de um
exercício prolongado, assim como, a supressão da função imunitária deve-se ao
exercício intenso.
O exercício intenso pode contribuir para o estabelecimento de um quadro de
imunosupressão, pela redução nas concentrações plasmáticas de glutamina. Durante
os exercícios intensos e prolongados, ocorre uma queda na concentração plasmática
deste aminoácido, levando o atleta a ter uma susceptibilidade a infecções por estar a
ocorrer um possível excesso de treino (overtraining). (Parry-Billings et al. 1992)
Revisão da Literatura
27
Existe um grande consenso de que o exercício/treino muito intenso ou uma
competição aumenta a prevalência/persistência dos sintomas/doenças respiratórios.
(Shepard, 1999)
Foi feito um estudo com vários sujeitos: remadores, nadadores, e
orientadores, mas os maiores estudos incluíam corredores de grandes distâncias.
Segundo Peters (1997), notaram que duas semanas após uma maratona, 33% dos
atletas apresentavam sintomas respiratórios, comparados com 15% de sujeitos do
grupo de controlo.
Um outro estudo com atletas de elite de origem australiana, sugere que os
períodos de treino intenso estão relacionados com uma diminuição das concentrações
de imunoglobulina salivar (IgA) e uma maior susceptibilidade para as ITRS. A
incidência de infecções respiratórias também aumenta com o tipo de treino militar.
No entanto, alguns atletas de elite (corredores, ginastas, remadores, nadadores e
lutadores) desenvolvem ITRS com menos frequência do que pessoas sedentárias.
Presumivelmente, a susceptibilidade às ITRS dependem do tipo e volume de
actividade física. (Shepard, 1999)
Isto sugere-nos que o exercício moderado está associado a uma resposta
imunitária para as infecções virais e o exercício intenso com uma debilitação da
actuação do sistema imunitário (resposta imunitária). (Shepard, 1999)
3.3. OUTROS FACTORES QUE INFLUENCIAM OS ATLETAS À
SUSCEPTIBILIDADE PARA INFECÇÕES
Segundo Shepard (1999), existem três factores importantes:
Exposição ao vírus – para os atletas, o local da competição pode causar um
elevado nível de exposição às infecções, assim como, estar na presença de pessoas
que já estejam infectadas.
Nutrição – uma má nutrição é uma das causas da debilitação do sistema
imunitário.
Influências ambientais – indivíduos que praticam actividade física
moderada estão menos expostos a ambientes de stress do que pessoas sedentárias.
Portanto, um ambiente não familiar para um indivíduo, pode causar experiências de
stress psicológico cujo resultado afecta o sistema imunitário (diminuição das defesas
imunitárias).
Revisão da Literatura
28
Um estilo de vida saudável é a base da construção do nosso sistema
imunitário. Por isso, segundo Saputo e Faas (s.d.), factores como o sono, a prática
regular de exercício físico, a nutrição e uma redução do stress possibilitam uma forte
resposta imunitária.
Segundo Andersen-Parrado (1999), refere que, de acordo com um estudo
recente, quando se possui uma ITRS (ex. constipação), pode-se continuar a praticar
exercício físico a nível moderado, no entanto devem existir algumas precauções, de
acordo com o tipo de sintomas. Se estes forem de origem nasal sugere-se iniciar
actividade física a uma intensidade mais baixa do que a habitual, e, se após alguns
minutos de actividade física os sintomas passarem então pode-se aumentar a
intensidade. Por outro lado, se os sintomas apresentados forem febre, vómitos,
diarreia, tosse e dores musculares não se deve praticar exercício físico.
Quadro II.3 - Estudos epidemiológicos sobre os efeitos do exercício físico na susceptibilidade às
Infecções do Tracto Respiratório Superior (URTIs) em diversas populações. (Retirado de Shepard,
1999)
Legenda: H = homens; M = mulheres
Autor População Tipo de actividade/Intensidade Efeitos nas ITRS
Heath e tal (36), 1991 447 H/83 M
Idade: 13-75
Corredores de longa distância
Intensidade não específica
Aumento da incidência das
ITRS quando treino superior a 15 km/semana.
Karper and Boschen
(28), 1993
6 H/10 M
Idade: 60-72
Exercício moderado três dias por semana
Diminuição do número de ITRS
relativamente ao estado inicial.
Lee et al, 1992 96 Cadetes da
Força Aérea
Treino militar inicial
Intensidade não específica
Depressão da função
imunitária, mas não existem alterações na incidência de ITRS.
Linde (32), 1987 55 H/28 M Idade: 19-34
Orientação Exercício intenso
Elevada incidência e duração de ITRS em praticantes de orientação vs
grupo de controlo.
Nieman et al (27), 1990
36 M
Idade: 25-45
Corrida de 45 minutos a 60% do VO2 de
reserva cinco dias por semana
Exercício moderado
Diminuição da duração dos
sintomas de ITRS.
Nieman et al (29), 1993
44 M jovens Caminhada 37 minutos cinco dias por semana Exercício moderado
Diminuição da incidência de ITRS relativamente ao grupo de
controlo.
Osterback and Qvarnberg (25), 1987
76 H/ 61 M
Idade: 11-14
Vários desportos
Exercício moderado
Não existem diferenças entre
atletas e não atletas.
Seyfried et al (33), 1995
8,000 H e M de todas as idades
Natação recreativa Exercício moderado
Aumento das ITRS relativamente a não-nadadores.
Shephard et al (37),
1995
551 H/199 M
Idade: 40-81
Corrida
Exercício de intensidade não específica
16% dos sujeitos tiveram
aumento da incidência de ITRS se o
treino esteve entre 70-80 km/semana.
Strauss et al (42), 1988
87 H Lutadores, nadadores e ginastas Exercício intenso
86% dos sujeitos tiveram ITRS durante 8 semanas.
Weidner et al (24),
1998
34 H e M
Idade: 18-29
Várias actividades, 40 minutos a 70% do vo2
de reserva 3 dias por semana
Não existem alterações na
incidência de ITRS nos sujeitos
inoculados com rinovirus.
Revisão da Literatura
29
3.4. A INFLUÊNCIA DO MEIO AQUÁTICO NA
SUSCEPTIBILIDADE ÀS INFECÇÕES
Nos desportos aquáticos, um atleta pode contrair uma infecção devido às
características do meio (humidade e temperatura) e à falta de higiene sanitária das
piscinas. A infecção pode ser contraída através do equipamento, das roupas e toalhas
que estejam contaminadas. A grande humidade à volta dos chuveiros e nos vestiários
facilita a susceptibilidade de contrair infecções respiratórias e também fúngicas.
(Gordon, 2001)
Deste modo, a higiene sanitária torna-se um factor de grande importância
para a diminuição de contracção de infecções, encontrando-se vinculada quando a
utilização de piscinas coloca a saúde de todos os banhistas em risco, envolvendo a
transmissão de doenças. Esta facilidade de transmissão prende-se ao facto das
mucosas e pele apresentarem menor resistência por causa das imersões prolongadas e
do atrito com a água. (Gordon, 2001)
Outro aspecto de importância na transmissão de patologias é a qualidade da
água da piscina, que, com um tratamento inadequado não assegura a redução da sua
flora bacteriana a níveis considerados seguros. A manutenção da qualidade da água é
a principal forma de impedir a transmissão de doenças aos banhistas, sendo a
desinfecção a etapa mais importante para garantia microbiológica da água.
A água de uma piscina reúne as condições ideais para o desenvolvimento de
microorganismos, algas, bactérias ou fungos. Algumas bactérias e fungos existentes
na água de uma piscina são patogénicas (provocam doenças) e são assim fontes de
infecções. A maior parte de bactérias e fungos inofensivos podem igualmente, em
caso de proliferação rápida, causar problemas. Esta é a razão pela qual é necessário
proceder à destruição de todos os microorganismos, ou seja, proceder a uma
desinfecção cuidadosa. (Gordon, 2001)
Do contacto do banhista com a água podem-se desenvolver doenças
transmitidas por microorganismos patogénicos ou oportunistas presentes no ambiente
aquático. Algumas dessas doenças recaem sobre as infecções respiratórias (tracto
respiratório superior), tais como, a amigdalite, faringite e traqueíte. (Gordon, 2001)
Revisão da Literatura
30
5. STRESS FÍSICO VERSUS STRESS PSICOLÓGICO
O primeiro conceito de stress foi apresentado por Hans Selye antes de 1936.
O stress é a reacção do organismo a estímulos que podem produzir efeitos
adversos, ou seja, representa a relação de conjugação ou interacção entre diferentes
factores ecológicos e psicológicos, sendo um estado que ocorre devido à existência
ou percepção de desequilíbrios entre exigência e capacidade nas acções de
ajustamento vital do organismo, o qual é manifestado por uma resposta não
específica. (Pires & Castanheira, 1987; Mikhail, 1985 cit. por Pires et al., 1987; Fox,
1996; Perna, Schneidman & LaPerriere, 1997)
Existem dois tipos de stress: o físico e o psicológico. O primeiro representa o
conjunto de alterações que ocorrem no estado biológico do organismo, ao passo que
o segundo refere-se a determinados estados psicológicos como a depressão, a
dificuldade de concentração e a maior fatigabilidade. (Pires et all., 1987)
Nieman (1993), refere a existência de uma relação entre o stress físico e
psicológico com a função imunitária e as ITRS, apresentando implicações tanto para
os atletas como para a população em geral, existindo alguns estudos, mas poucos,
procurando tentar explicar essa relação.
A supressão da função imunitária e as perturbações rápidas do número de
leucócitos e linfócitos estão associadas ao aumento das concentrações de cortisol e
adrenalina no plasma causado pelo stress fisiológico. (Nieman, 1997)
O efeito que o stress psicológico provoca no sistema imunitário tem sido alvo
de estudo na vulnerabilidade apresentada pelos indivíduos relativamente a
determinadas infecções e às alterações observadas nas componentes celular e
humoral do sistema imunitário, verificando-se uma diminuição das funções
imunitárias. (Shepard, 1998b; Pires et al., 1987; Brenner et al., 1998)
O aumento de estados emocionais negativos (stress psicológico) e ansiedade
está relacionado com o stress ao qual o organismo é exposto (Hall & Kvarnes, 1991).
Este facto foi comprovado por um estudo realizado com estudantes em período de
exames, os quais, apresentavam uma maior susceptibilidade para as infecções
virusais devido aos estados emocionais negativos desenvolvidos (Kiecolt-Glaser,
Garner, speicher, Penn, & Glaser, 1984, cit. in. Hall & Kvarnes, 1991). Jemmott et
all. (1983 cit. por Everly, 1990) verificaram que este tipo de estudantes que estão
sujeitos a um grande nível de stress, apresentam uma segregação baixa dos níveis de
Revisão da Literatura
31
IgA (imunoglobulina salivar), a qual exerce uma função importante na defesa das
ITRS.
Segundo um estudo realizado por Graham et al. (cit. por Shepard, 1998a), os
indivíduos que apresentam altos níveis de stress têm frequentemente ITRS ao
contrário de indivíduos com menores níveis de stress. Portanto, o aumento dos níveis
de stress é directamente proporcional à diminuição da resposta imunitária. (Everly,
1990; Brenner et al., 1998)
Esta resposta imunitária ao stress dá-se através de uma acção conjunta entre o
sistema nervoso, o sistema endócrino e o sistema imunológico. Por excesso de
intensidade ou duração do stress, pode surgir alguma doença relacionada com um
destes sistemas. (Everly, 1990)
Segundo Nieman (1997) o stress psicológico aumenta a libertação de
hormonas do stress, aumentando também os efeitos negativos que o exercício intenso
exerce no sistema imunitário.
Sendo assim, o stress psicológico, pode provocar um aumento da
susceptibilidade às infecções em atletas que praticam exercício físico antes e durante
uma competição.
Imunossupressão
Aumento da susceptibilidade às doenças
Figura II.3 – Factores que contribuem para a incidência de infecções nos atletas (retirado de Gleeson,
2000).
Os atletas influenciados pelo stress psicológico, são a população mais
susceptível de contrair graves problemas de saúde. (Kiecolt-Glaser & Glaser, 1992,
cit. por Perna et al., 1997). Segundo Brenner et al. (1998a) esse stress psicológico
provém de uma elaboração do organismo de uma resposta coordenada a qualquer
Aumento da exposição a
agentes patogénicos
Stress psicológico
Stress físico
Stress proveniente do envolvimento
Nutrição inapropriada
Revisão da Literatura
32
tipo de stress, seja o estímulo, a actividade física vigorosa, ou a exposição a um
envolvimento físico ou psicológico adverso.
O stress ao qual o organismo é exposto, está associado a um aumento de
estados emocionais negativos e ansiedade. (Hall & Kvarnes, 1991)
Jemmott e tal (1983, cit. por Everly, 1990), verificaram que estudantes
sujeitos a elevados níveis de stress académico (stress psicológico), segregam
menores níveis de IgA, responsável pela defesa a infecções, principalmente ITRS.
Logo, pode-se concluir que atltetas que revelem elevados níveis de ansiedade pré-
competitiva ou qualquer um dos factores apresentados na figura 2, segregam
menores níveis de IgA, logo mais susceptíveis de contrair doenças do tracto
respiratório superior.
Deste modo, quando se observa uma acumulação de stress em atletas de elite,
poderá surgir uma supressão crónica da função imunitária, provando assim, um
aumento da susceptibilidade do organismo a um elevado número de infecções.
(Gleeson, 2000)
Segundo Villarubia (1997), o sistema nervoso influencia o sistema imunitário,
devido ao facto do stress ser provocado por factores emocionais (stress psicológico
associado aos estados de humor) ou do envolvimento (stress físico) os quais podem
suprimir a actividade de algumas células constituintes do sistema imunitário, dando
origem a um aumento do número de constipações e gripes.
Em alguns estudos realizados em diferentes laboratórios, os efeitos
imunológicos do stress académico foram examinados, chegando à conclusão de que,
grande parte dos resultados obtidos suportam a hipótese de que o stress pode induzir
à imunosupressão (Deinzer, 1998). Por outro lado Perna et al. (1997) sugerem que o
comportamento dos atletas, nas suas actividades diárias favorece e cria condições
para a contracção de infecções virusais através da imunosupressão, pois com a
prática de exercício físico verifica-se um aumento da secreção das hormonas do
stress (catecolaminas, cortisol, etc.).
Segundo Mackinnon (1994) e McArdle (1996), existe uma interacção entre o
exercício físico, stress, doença e sistema imunitário, apresentando cada um deles o
seu respectivo efeito. Sendo assim, considera-se que o sistema imunitário é
influenciado por estes três factores.
Revisão da Literatura
33
Figura II.4 – Modelo teórico da inter-relação entre o stress, o exercício, a doença e o Sistema
Imunitário (retirado de Mackinnon, 1994, cit. Martins, 2000).
Então, e de acordo com o modelo teórico, o stress psicológico ou outras
formas de stress, tal como a falta de sono, podem afectar a resistência às doenças,
podendo o exercício físico intervir positivamente ou negativamente em relação à
resposta imunitária, dependendo da intensidade do exercício. (Mackinnon, 1994;
MacArdle, 1996)
A hipótese da “Janela aberta” conduz à noção de que a origem da disfunção
do sistema imunitário, assenta nas seguintes causas: sobretreino, stress, prática de
exercício físico durante a fase de incubação de uma infecção, má nutrição, stress
mental, súbita perda de peso e falta de higiene. (Pedersen e Ullum, 1994; Shepard
1999; Nieman, Rowbottom e Venkatraman, 2000)
Após o exercício prolongado e intenso o sistema imunitário fica deprimido e
stressado, verificando-se alterações nas funções imunitárias, que não se observam
quando se trata de exercício físico moderado. Devido a tal supressão, quando os
indivíduos praticam actividade física intensa e apresentam as causas citadas
anteriormente, aumentando a susceptibilidade às ITRS. (Nieman, 2000)
Concluindo, a influência do stress, quer físico quer psicológico, perturba a
homeostasia, incluindo o sistema imunitário. (Pedersen, Kappel, Klokker, Nielsen &
Seccher, 1994)
5.1 ESTADOS DE HUMOR
O teste Profile of Mood States (POMS) foi desenvolvido através de seis
estados de humor: tensão, depressão, fome, vigor, fadiga e confusão. (McNair et al.,
1992)
O uso do POMS tornou-se prevalente na área do desporto a partir de 1975,
segundo estudos feitos com atletas, conduzidos por Morgan (1988, cit. in McNair et
al., 1992). O POMS foi então considerado como uma medida efectiva do estado de
humor dos atletas. (McNair et al., 1992)
Stress Exercício
Sistema Imunitário
Doença
Revisão da Literatura
34
O uso do POMS com atletas e o resultado “Iceberg Profile”, o qual representa
o típico profile do atleta, é apresentado por Morgan (1980, cit. in McNair et al.,
1992). Este “Iceberg Profile” foi inicialmente apresentado num estudo realizado com
lutadores olímpicos (Morgan, 1980; Nagle, Morgan, Hellickson, Serfass, Alexander,
1975 cit. in McNair et al., 1992)
Morgan (1980, McNair et al., 1992), no seu trabalho com o POMS, encontrou
que os atletas diferem dos não-atletas numa variedade de estados psicológicos.
Muitas de investigações realizadas com o POMS, revelam que os atletas têm
tendência a seguir o “Iceberg Profile”, daí, o terem tendência a baixos níveis de
tensão, depressão, fadiga e confusão e elevado estado de vigor do que comparados
com não-atletas.
Segundo um estudo realizado por LeUnes et al. (1988, cit. in McNair et al.,
1992) com atletas de diversos desportos, incluindo nadadores, o POMS foi utilizado
para demonstrar diferenças nos estados de humor entre atletas de elite e não-atletas,
para predizer o sucesso e para medir a efectividade de certos tipos de treino.
Indicadores do stress têm sido monitorizados em vários desportos pelo teste
Profile of Moods States (POMS). Os atletas de elite são normalmente caracterizados
por um número total reduzido de estados de humor, apresentando, um elevado nível
no estado de vigor e um baixo nível no estado de fadiga, relativamente aos não-
atletas. Este profile também é designado por“iceberg profile” o qual pode ser
encontrado em atletas de elite ou em não-atletas. (Berglund et al., 1994)
Segundo um estudo realizado por Berglund et all.(1994), através de um
suporte empírico, chegaram à conclusão que uma avaliação da resposta do estado de
humor relativa ao sobretreino, pode reduzir o risco de fadiga.
Morgan et al. (1988) referem que é extensamente reconhecido que o sucesso
na natação e em outras modalidades de resistência é em parte dependente de
aumentos progressivos de cargas de treino. No entanto, é também reconhecido que o
sobretreino consegue levar para um estado reconhecido como fadiga.
O exercício de intensidade moderada está tradicionalmente associado à
diminuição do stress, relativo a emoções de ansiedade e depressão. (Raglin et al.
1991)
O treino intenso, ou sobretreino, realizado por atletas em desportos de
resistência, como uma corrida de longa distância e a natação têm sido
constantemente associados com um aumento de distúrbios de estado de
Revisão da Literatura
35
espírito/humor/disposição. Além disso, esta alteração negativa de disposição/estado
com o sobretreino manifesta uma determinada característica de resposta. Quando a
carga de treino aumenta, os distúrbios de humor mostram uma correspondente
elevação, e, quando o treino diminui os estados de humor melhoram. (Raglin et al.
1991)
No entanto, estas afirmações, têm sido confinadas para avaliar os distúrbios
de humor globais e as respostas de estados de humor específicos, como a tensão ou
depressão que não têm sido estudadas sistematicamente. Até este momento (1991)
não se sabe se os estados de humor específicos respondem diferentemente ás
alterações no treino físico. Além de que, embora as respostas de humor totais para
treinar são idênticas para atletas masculinos e femininos, as comparações directas de
alterações em estados de humor específicos, não têm sido realizadas em atletas
masculinos e femininos relativamente à comparação de treinos no mesmo desporto.
(Raglin et al. 1991)
Raglin et al. (1991) avaliaram em nadadores as alterações ocorridas nos
estados de humor específicos em resposta às alterações do treino. O POMS foi
administrado em atletas de ambos os sexos. Através dos resultados obtidos,
verificou-se que ambos os sexos exibem respostas de estados de humor similares
quer em estados totais quer em estados de humor específicos como a depressão,
fome, vigor, fadiga e confusão. Cada um destes estados de humor corresponde às
alterações do treino, com excepção da tensão que permanece elevada ainda que a
carga de treino seja reduzida. Portanto, chegou-se à conclusão que, as alterações
ocorridas em estados de humor específicos durante o treino são idênticas em
nadadores de ambos os sexos com excepção da tensão e que factores de estado
específicos aumentam e diminuem de acordo com alterações na distância do treino,
com excepção da tensão, a qual não diminui em resposta à redução da carga de
treino.
Um estudo foi realizado por Morgan et al. (1988), em que utilizaram doze
nadadores do sexo masculino e que foram estudados psicologicamente antes, durante
e após dez dias de treino intenso. A distância percorrida foi aumentada de 4 para 9
km por dia e a intensidade mantida a 94% do V02 máximo. Neste estudo e utilizando
o POMS, concluiu-se que, a monitorização dos estados de humor durante microciclos
(3 a 4 semanas) que incorporam um aumento de carga de treino, reflectem
cuidadosamente o grau de “distress” experenciado pelos nadadores. Portanto, os
Revisão da Literatura
36
resultados desta investigação demonstraram que é possível provocar aumentos
significativos nos estados de humor durante este período e durante um investido
treino intenso, logo, esta monitorização dos estados de humor podem ser um valioso
potencial na prevenção do treino intenso. De realçar que, os aumentos significativos
ocorreram na classificação de intensidade do treino, dos estados de humor
específicos (depressão, raiva, ira, fadiga) e nos estados de humor globais associados
a uma diminuição do estado geral de bem-estar.
5.1.1 O USO DO POMS (Profile of Mood States) EM NATAÇÃO
PURA DESPORTIVA
5.1.1.1 POMS alargado
A adaptação e validação de uma versão reduzida do POMS (Profile of Mood
States), surge no âmbito de um estudo mais vasto destinado a avaliar os efeitos
psicológicos da actividade física, o qual tem sido um dos instrumentos mais
utilizados na investigação na área da Psicologia do Desporto (Cruz, Machado &
Mota, 1996; Mota, 1996).
Deste modo, foi utilizado uma versão reduzida e adaptada do POMS
(McNair, Lorr & Droppleman, 1971, 1989), traduzida por Viana e Cruz (1994). Esta
versão reduzida engloba um total de 30 itens, constituídos por um igual número de
adjectivos que pretendem descrever o estado de humor subjectivo dos indivíduos.
Cada um dos itens são respondidos numa escala de 5 pontos, entre 0 (“nada”) e 4
(“extremamente”). Estes 30 itens pretendem medir seis dimensões do estado de
humor: tensão, depressão, irritação, vigor, fadiga e confusão.
Após a utilização deste questionário de 30-itens aplicado um no início do
estudo e outro no final, em dois grupos distintos (grupo experimental que praticava
regularmente actividade física; grupo de controlo que não praticava actividade
física), o grupo de controlo apresenta níveis significativamente mais elevados de
perturbação geral de humor. Este estudo parece oferecer dados suficientemente
claros relativamente às versões portuguesas do POMS.
No entanto, no nosso estudo utilizaremos uma versão reduzida e adaptada do
questionário POMS (McNair, Lorr & Droppleman, 1971, 1989), traduzida por Viana
e Cruz (1994), constituído por 22-itens, o qual dos 30-itens da escala original (POMS
65-itens), oito não satisfaziam os critérios definidos para a inclusão e foram
Revisão da Literatura
37
retirados, tendo a adaptação portuguesa identificado seis factores (depressão, tensão,
fadiga, vigor, irritação e confusão) cujas denominações são coincidentes com as das
escalas originais.
O cálculo da PTH (Perturbação total de humor), o qual é uma estimativa do
estado afectivo de humor, é calculado pela soma do total das escalas negativas (cinco
factores), depressão, tensão, fadiga, irritação e confusão, subtraindo pelo factor vigor
(escala positiva). Para cada um destes factores são-lhes atribuídos adjectivos.
Por forma a eliminar a ocorrência de valores negativos no “score” total,
alguns autores sugerem a incorporação de uma constante no cálculo da PTH
(geralmente=+100).
5.1.1.2 POMS reduzido
O treino intenso tem mostrado estar associado com os distúrbios de estados
de humor em nadadores.
O questionário POMS de 65 itens desenvolvido por McNair et all. (1992, cit.
in Atlaoui et al, 2002), tem sido o mais utilizado e reportado como um instrumento
efectivo na monitorização do stress no treino. No entanto, por este questionário
apresentar-se um pouco longo, torna-o numa posição inadequada a ser utilizado
extensivamente no processo de treino.
Por forma a ultrapassar esta dificuldade, Atlaoui et al (2002), desenvolveram
um questionário reduzido, aplicado e respondido em três ocasiões diferentes (4
semanas de treino intenso, 3 semanas de taper e 5 semanas de treino moderado), com
o objectivo de investigar a percepção individual da fadiga no treino. Durante este
tempo, os atletas tiveram duas competições consecutivas, tendo sido nesses dias que
responderam ao questionário.
A amostra foi constituída por 14 nadadores nacionais e internacionais de
ambos os sexos (5 sexo feminino, 9 sexo masculino). As 8 questões focaram-se na
percepção do treino, sono, dores nas pernas, infecção, concentração, eficácia,
ansiedade, irritabilidade e stress no geral. Cada uma destas questões continha uma
escala de Lickert de 7 pontos, desde, muito, muito bom (1 ponto) até muito, muito
mau (7 pontos). O total de score de fadiga (TSF) é obtido através da soma de pontos
de cada resposta.
Este estudo conclui que, o total de pontos de fadiga altera-se em concordância
com a performance e variações no treino (volume, intensidade de nado). Quanto mais
Revisão da Literatura
38
baixo for o valor de TSF, menos intenso será o treino e os nadadores apresentam
maior probabilidade de obter uma elevada performance. Portanto, a percepção
individual da fadiga poderá ser um bom predictor da performance de nado e este
questionário de 8-itens um excelente instrumento para monitorizar o stress no treino.
6. CARACTERIZAÇÃO DA NATAÇÃO
A Revolução Técnica e Científica, a investigação no campo das diversas
ciências, trouxeram um contributo precioso a esta modalidade.
O conhecimento dos condicionalismos que se colocam ao movimento
humano no meio aquático, é fundamental para a promoção de alterações na qualidade
de execução das técnicas de nado. Estas alterações relacionam-se, evidentemente,
com uma melhor adaptação ao meio aquático e traduzem-se por um acréscimo de
“economia” ou “rentabilidade” energéticas, o que leva à obtenção de melhores
resultados.
A natação é uma modalidade desportiva considerada individual embora
existam provas de equipa. A NPD divide-se em várias “categorias”, de acordo com a
distância a percorrer e o estilo em que é nadada.
O objectivo de quem a pratica prende-se no percorrer uma determinada
distância no menor tempo possível e a uma certa velocidade.
Segundo Gomes Pereira (1994), a natação define-se como uma modalidade de
Resistência predominantemente Aeróbia, ou seja, representa a capacidade que o
atleta possui para suportar uma actividade física de longa duração em condições
aeróbias e sem a presença de mecanismos desencadeadores do processo de fadiga,
tais como, a acidose metabólica correlacionada com uma acentuada acumulação de
ácido láctico.
Segundo Ozolín (1983), citado por Navarro et all. (1990), o treino define-se
como um processo de adaptação do organismo a cargas funcionais crescentes, a
grandes exigências na manifestação da força, da velocidade, da resistência, da
flexibilidade, da coordenação dos movimentos e da habilidade, a elevados esforços
volitivos e tensões psíquicas e ainda muitas outras condicionantes da actividade
desportiva.
Revisão da Literatura
39
6.1 CARACTERIZAÇÃO FISIOLÓGICA DA NATAÇÃO
A Natação pode ser considerada uma modalidade de “resistência” isto porque,
qualquer praticante de bom nível, independentemente da sua especialidade, tem de
ter valores elevados para a potência e capacidades aeróbias. Tal classificação baseia-
se em vários factores, nomeadamente: competições reconhecidas oficialmente, tipos
de treino implementados e particularidades fisiológicas do nadador de alto
rendimento.
Logo, a NPD é considerada uma modalidade de resistência do tipo aeróbio, a
qual pode ser definida do seguinte modo: qualidade que permite ao atleta suportar
por um longo período de tempo uma actividade física generalizada, em condições
predominantemente aeróbias e sem a participação significativa dos mecanismos
desencadeadores da fadiga. (Pereira, 1994)
A diversidade das provas constantes dos programas competitivos
internacionais de Natação Pura, provoca a solicitação, em maior ou menor grau, dos
três sistemas de produção de energia. A participação relativa de cada sistema
depende da duração de cada prova, partindo do pressuposto que todo o desempenho
competitivo é realizado à máxima intensidade. (citado por Francisco Alves, 2000)
Sendo assim, os três sistemas de energia designam-se por: anaeróbio aláctico,
anaeróbio láctico e aeróbio.
Distância (m) Solicitação Metabólica
%Aeróbia %Anaeróbia láctica %Anaeróbia aláctica
50 10-20 10-30 20-50
100 20-30 20-40 30-60
200 35-55 35-45 15-30
400 60-75 15-25 8-15
800 80-90 6-12 5-8
1500 88-94 5-10 1-3
Tabela II.1 - Distribuição aproximada da solicitação metabólica para as diferentes distâncias de
competição em NPD (Troup, 1990, Navarro, 1990; Maglisho, 1993; et al. Cit por Alves, 2000).
Revisão da Literatura
40
6.2 CARACTERIZAÇÃO FISIOLÓGICA DO NADADOR
A classificação da natação como modalidade de resistência, tomando como
base a caracterização fisiológica do nadador, fundamentamo-la no facto de todo e
qualquer praticante de bom nível, mesmo que a sua especialidade se prenda com as
provas de curta duração, apresentar em testes protocolares valores elevados para
potência e capacidades aeróbias, semelhantes ao observados em outras
especialidades a até modalidades, consideradas de resistência (Gomes Pereira, 1990).
Deste modo, é nas provas mais curtas (50 e 100m) que o nadador apresenta
uma grande solicitação do sistema aeróbio, característica que o distingue dos atletas
de outras actividades cíclicas em que a duração do esforço em competição é idêntica.
6.3 ZONAS DE INTENSIDADE
É através do treino que se pode melhorar e aperfeiçoar as capacidades
fundamentais para o esforço requerido durante uma competição. Deste modo, a
grande parte do treino é preparado e realizado tendo em conta o tipo de competição,
direccionando-o para a melhoria dos sistemas produção de energia relacionados com
esse tipo de competição (prova).
Segundo Rama (1994), as zonas de intensidade de treino, derivam de vários
factores, tais como, a frequência cardíaca, a lactatémia, a velocidade de execução e o
processo de fornecimento de energia requerida pelo esforço.
Zonas de intensidade Frequência
cardíaca Lactatémia
%VO2
máx. Velocidade
Aeróbio
Aeróbio
ligeiro -A1
120-150 2-3 mmol.1.-1 50-80 Baixa
Aeróbio
moderado –
A2
150-180 3,5-4,5
mmol.1-1
80-90 Média
Aeróbio
intenso – A3
>180 4,5-10
mmol.1-1
> 90 Média alta
Anaeróbio
láctico
Tolerância
láctica - TL
Máxima > 6 mmol.1-1 +/- 90 Alta
submáxima
Máxima
produção
láctica - MPL
Máxima >10 mmol.1-1 +/- 90 Alta
submáxima
Anaeróbio
aláctico
Velocidade Sub-máxima 2-3 mmol.1.-1 +/- 90 Máxima
Tabela II.2 - Classificação das zonas de intensidade (Adaptado de Navarro, s.d., e Maglisho, 1993).
Revisão da Literatura
41
6.3.1 TREINO AERÓBIO
Os principais objectivos do treino aeróbio prendem-se com a melhora da
capacidade aeróbia, permitindo aos atletas nadar mais rápido, com menor
participação do metabolismo anaeróbio, de forma a que haja uma acumulação mais
lenta do ácido láctico e um retardar da acidose (Maglisho, 1993); aumento da
capacidade de resistência à fadiga durante um longo período de tempo, sem
acumulação de ácido láctico e o estabelecimento de uma base aeróbia que acelera a
recuperação, de modo a facilitar o treino anaeróbio (Navarro, 1990).
Através dos estudos realizados com o lactato sanguíneo, apresentaram-se
como o indicador mais difundido, que permitiu estipular, dentro do treino aeróbio as
diferentes implicações nos efeitos obtidos.
Deste modo, existem três zonas de treino aeróbio: aeróbio ligeiro (A1),
aeróbio médio (A2) e aeróbio intenso (A3).
Em relação ao treino do aeróbio ligeiro, esta zona de intensidade refere-se a
esforços de treino responsáveis por lactatémias de 2-3mmol.1.-1 e a uma velocidade
de nado abaixo do limiar anaeróbio.
Segundo Navarro (1990), este tipo de treino pretende melhorar a capacidade
circulatória central, a possibilidade de poder utilizá-lo em todas as técnicas incluindo
trabalho de braços e pés.
Esta importante zona de intensidade permite o treino aeróbio aquando da
restauração das reservas de glicogénio diminuídas por força do treino do limiar
anaeróbio ou potência aeróbia (VO2máx) (Maglisho, 1993)
6.3.2. TREINO ANAERÓBIO LÁCTICO
O treino deste sistema apresenta-se como um factor fundamental para a
maioria das provas do calendário competitivo, visto que, é impossível a manutenção
da velocidade sem grande intervenção da glicólise. Este treino é importante para
provas de 50, 100 e 200 metros, sendo mais significativo para as duas últimas
(Maglisho, 1993).
Segundo Navarro (1990), estão especialmente indicados esforços que
consigam provocar lactatémias de 12 a 25 mmol.1.-1, com uma duração de 20’’ a 2’.
Segundo Maglisho (1993) existe uma zona de intensidade de treino,
designada de “sprint”, no qual estão incluídos três tipo de treino: treino da tolerância
láctica, cujo objectivo consiste na melhoria da capacidade de actuação dos sistemas
Revisão da Literatura
42
de tamponamento e da tolerância à dor; treino da produção de lactato no qual o
objectivo assenta na procura do aumento do nível de produção de +ácido láctico
(aumentar a participação anaeróbia no fornecimento de energia para terminar as
provas o mais rápido possível); e o “Power training” apresentando como objectivo o
aumento da força muscular que os nadadores podem utilizar enquanto nadam a
velocidades elevadas.
No entanto, segundo Navarro (1990), são três os objectivos do treino do
sistema anaeróbio láctico: melhorar a capacidade de tamponamento do ácido láctico;
ganhar as provas no final; e melhorar o rendimento nas provas de 50, 100 e 200
metros.
6.3.3 TREINO ANAERÓBIO ALÁCTICO
Este tipo de treino, também designado por treino de velocidade, tem como
objectivos melhorar a eficiência da libertação de energia por intermédio do ATP-PC,
aumentar a velocidade das provas e melhorar, principalmente, o rendimento nas
provas de 50 metros (Navarro, 1990).
6.3.4 TREINO DE RITMO DE PROVA
Segundo Navarro (1990), este tipo de treino, assiste o que mais específico
existe no planeamento do treino em NPD.
7. MÉTODOS DE TREINO
A partir da segunda metade do séc. XVIII, passou-se a escrever muito sobre a
Natação, propondo-se métodos e procedimentos que, ao longo do tempo, têm vindo a
demonstrar alguma incoerência quer pedagógica, quer científica.
As especialidades de fundo no Atletismo, devido às exigências de adaptação
funcional que impõem, constituíram a base fundamental de investigação e
implementação de uma metodologia específica para a Natação.
Os países da Europa foram os verdadeiros pioneiros da fase evolutiva dos
processos/métodos de treino, nomeadamente no âmbito da resistência aeróbia.
(Carlile, 1963; Arroyo, 1968; Counsilman, 1968; Gallagher, 1976; Reilly e tal., 1990;
Colwin, 1991, citado por Pereira, 1990).
Revisão da Literatura
43
MÉTODOS DE TREINO PARA A CAPACIDADE AERÓBIA
AERÓBIO LIGEIRO (A1) AERÓBIO MÉDIO (A2) AERÓBIO INTENSO (A3)
Método Contínuo Método de natação
contínua
Método fraccionado
intensivo longo
Jogo de velocidades (treino
Fartlek)
Método fraccionado
extensivo
Método fraccionado
intensivo curto
Método fraccionado de
distâncias longas
Tabela II. 3 - Métodos de treino para a capacidade anaeróbia (Alves, 2000)
MÉTODOS DE TREINO PARA A CAPACIDADE ANAERÓBIA
LÁCTICA ALÁCTICA
Método das
séries quebradas
Treino por séries
Método de treino
da velocidade de
sprint
Trabalho de
sprint com resistência
adicional
Trabalho de
sprint assistido
Método das
séries simuladas
Tabela II. 4 - Métodos de treino para a capacidade anaeróbia (Alves, 2000).
MÉTODOS PARA O TREINO DO
RITMO DE PROVA DESCRIÇÃO
Treino do ritmo de resistência Consiste em percorrer distâncias
superiores à da competição em fracções
curtas e com breves descansos.
Séries quebradas e simuladoras
Apresentam características semelhantes às
anteriores, excepto as intensidades e
concentrações lácticas para provas de
distância igual ou superior a 400 metros.
Ritmo de execução Utiliza distâncias inferiores à prova
competitiva com vista a colocar o ritmo
desejado.
Tabela II. 5 – Métodos para o treino do ritmo de prova e respectiva descrição (Alves, 2000)
Sintetizando, os métodos de treino podem ser classificados em duas formas:
métodos contínuos (uniforme ou variado) e métodos por intervalos (pausa completa –
repetições ou pausa incompleta – intervalado).
Revisão da Literatura
44
De acordo com a zona de intensidade que se pretende estimular, varia a
dinâmica da carga e a duração das tarefas, o volume total, os intervalos de repouso e
a intensidade (velocidade de nado).
A utilização de um ou outro método de treino, varia de acordo com o
objectivo, a zona energética que se pretende estimular, o estado de treino, as
características psicológicas do atleta e as condições de trabalho.
8. PLANEAMENTO E PERIODIZAÇÃO DA CARGA EM NPD
Com o acto de planear pretende-se antecipar, prever os resultados e satisfazer
os atletas pela consecução dos objectivos, constituindo a prazo um bom
investimento. Por outro lado, a periodização permite uma divisão do período de
treino em segmentos mais curtos.
O microciclo é definido como uma estrutura que organiza e assegura a
coerência das cargas ao longo de uma sequência determinada de sessões de treino. A
organização de um microciclo permite a aplicação de níveis mais elevados de carga
sem ultrapassar os limites individuais do atleta.
Os microciclos podem ser de vários tipos: ajuste ou introdutórios, carga,
choque ou impacto, aproximação ou activação, competição e recuperação. O
microciclo de choque caracteriza-se pela utilização de cargas elevadas e com duração
de uma semana, ao contrário do microciclo de recuperação que é caracterizado por
um reduzido nível de solicitação, com duração de 3 a 7 dias, e que se segue a uma
série de microciclos de choque ou competição.
A sequência normal a que deveram ser aplicados os diferentes tipos de
microciclos é a seguinte: microciclo de introdução, microciclo de carga/choque,
microciclo de activação/competição (senão há competição suprimem-se) e, por
último microciclo de recuperação.
Uma sessão de treino, também denominada de micro-estrutura, representa a
estrutura elementar do processo de organização do treino. (Navarro, 1991, 2001,
2002; Alves 1999)
Metodologia
45
CAPÍTULO III
- METODOLOGIA –
No presente capítulo, estão apresentadas todas as etapas do estudo, assim
como, a caracterização da amostra, os instrumentos de medida utilizados, os
procedimentos e as técnicas estatísticas utilizadas para o tratamento dos dados.
3.1 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DE MEDIDA
No início do estudo foi necessário reunir a autorização das seguintes
entidades: Presidente da Federação Portuguesa de Natação, o Director do Centro de
Alto Rendimento (CAR) da Cruz Quebrada, os atletas e o respectivo treinador. Para
isso foram elaboradas cartas para o efeito, visando informar os objectivos do estudo e
solicitando o consentimento necessário.
O estudo decorreu em dois momentos, o primeiro, do dia 20 de Janeiro de
2003 até 25 de Janeiro de 2003. Posteriormente, o segundo momento teve início no
dia 27 de Janeiro de 2003 e termo a 1 de Fevereiro de 2003.
A cada sujeito da amostra foi atribuído um código, de modo a facilitar a tarefa
dos investigadores, assim como, garantir a confidencialidade das informações
recolhidas.
A todos os sujeitos da amostra foi-lhes esclarecido o objectivo do estudo,
tendo sido solicitada a espontaneidade e sinceridade durante o preenchimento do
questionário sobre os estados de humor.
3.1.1 Variáveis do Estudo
3.1.1.1 Estados de Humor
A recolha de dados referentes ao POMS reduzido (8 itens), decorreu durante
o período de estudo, tendo sido registada diariamente a opção de cada atleta, depois
de cada treino. Por outro lado, apenas a recolha de dados referentes ao POMS
alargado (22 itens), foi realizado para o grupo experimental, no primeiro e último dia
da primeira semana (1º momento) e no primeiro e último dia da segunda semana (2º
momento), como refere a cronologia. Para o grupo de controlo, foi aplicado no início
e final do estudo.
Metodologia
46
Assim, para a análise diária dos estados de humor foi utilizada uma versão
reduzida do questionário POMS (Profile of Mood States) original adaptada para a
Natação, sendo definido como POMS de 8 itens ou POMS reduzido (Atlaoui D. et
al., 2002). Também foi utilizado o POMS de 22 itens ou POMS alargado (tradução e
adaptação de Viana e Cruz, 1994), o qual pretende indicar os estados de humor de
um indivíduo, registados durante o período de uma semana.
3.1.1.2 ITRS
Para a recolha do número exacto de ocorrência de episódios de infecções do
tracto respiratório superior, foram distribuídas a cada atleta, tabelas/calendário onde
registavam, por unidade de treino os episódios de ITRS. Estas tabelas mantiveram-se
na posse dos investigadores.
Devido à inexistência de uma tabela/calendário apropriada para este contexto
e cientificamente validada para a população que se pretendia estudar, apareceu por
parte da equipa de investigação, a necessidade de elaborar um instrumento de recolha
de dados adaptados aos objectivos do estudo e à amostra.
Esta tabela mencionada continha uma série de sintomas tais como, febre,
dores de cabeça, tosse, naúseas, otites, entre outros. Para cada sintoma era registada
uma das opções, sim ou não.
3.1.1.3 Carga de Treino
Em relação à carga de treino, esta foi-nos fornecida todos os dias após cada
sessão de treino.
Durante o período de estudo, existiu uma grande preocupação diária dos
investigadores em certificar-se do preenchimento correcto do diário de treino que foi
propositadamente construído para cada atleta.
Durante todos os dias em que decorreu o estudo foi-nos fornecido os treinos
de cada dia, de modo a termos conhecimento da carga de treino para cada zona de
intensidade e o respectivo volume de treino, de modo a posteriormente podermos
calcular a intensidade de cada treino.
Metodologia
47
3.1.1.4 Análise Antropométrica
Com o objectivo de caracterizar a amostra, a equipa de investigação tirou as
medidas somáticas tais como, estatura, peso, altura sentado, envergadura, diâmetros,
perímetros, entre outros. Para tal utilizou os seguintes materiais: adipómetro,
antropómetro, fita métrica, balança e uma ficha de registo elaborada pela equipa de
investigação.
3.2 CRONOLOGIA
1º MOMENTO (semana de 20 a 25 de Janeiro de 2003) 2º MOMENTO (semana de 27 de Janeiro a 1 de Fevereiro de
2003)
DIAS
TREINO
20
(Seg.)
21
(Ter.)
22
(Qua.)
23
(Qui.)
24
(Sex.)
25
(Sáb.) 26
27
(Seg.)
28
(Ter.)
29
(Qua.)
30
(Qui.)
31
(Sex.)
1
(Sáb.)
R
E
G
I
S
T
O
S
AM
ITRS
POMS-8
POMS-22
ITRS
POMS-8
ITRS
POMS-8
POMS-22
ITRS
POMS-8
ITRS
POMS-8
POMS-22
PM
POMS-8
ITRS
ITRS
POMS-8
POMS-22
POMS-8
ITRS
Quadro III.1 – Cronologia da recolha dos parâmetros de ITRS, carga de treino e estados de humor
(POMS alargado e POMS reduzido) no grupo experimental.
Como pode ser observado pelo quadro III.1, apesar das ITRS e o questionário
POMS reduzido (8 itens) estarem presentes todos os dias durante o decorrer do
estudo, apenas foram aplicados ao grupo experimental, mais propriamente nos dias
em que os atletas treinaram. Apenas o questionário POMS alargado (22 itens) foi
aplicado em quatro momentos: início e final da primeira semana e segunda semana.
A carga de treino foi-nos fornecida após cada sessão diária de treino.
Para o grupo de controlo apenas foi aplicado o questionário POMS alargado
no início e final do estudo, e as ITRS registadas nos quinze dias seguintes, assim
como, para o grupo experimental.
Metodologia
48
3.3 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Para a consecução deste estudo, foi utilizada uma amostra constituída por 9
indivíduos do sexo masculino com idades compreendidas entre os 18 e 35 anos.
Desta amostra, quatro sujeitos são atletas praticantes de Natação Pura Desportiva
(NPD) de alto rendimento.
Os restantes cinco elementos da amostra são indivíduos não atletas que
exercem o cargo de treinadores de natação e que frequentam diariamente o mesmo
ambiente.
Tabela III.1 – Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão da idade e experiência de treino do
grupo experimental.
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Idade 4 18,00 20,00 19,25 ,95
Anos de Treino 4 7,00 10,00 9,00 1,41
N 4
O número de nadadores utilizados para o estudo é de quatro, com uma média
de idades de 19,25 anos, sendo a mínima 18 anos e a máxima 20 anos.
Relativamente aos anos de treino a média é de 9 anos, sendo a mínima 7 anos
e a máxima 10 anos, apresentando um desvio padrão de 1,41.
Tabela III.2 – Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão da idade, peso e altura do grupo de
controlo.
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Idade 5 25,00 35,00 30,20 4,43
Peso 5 64,00 79,00 70,90 6,71
Altura 5 168,00 184,00 176,20 5,76
N 5
A amostra utilizada como controlo é constituída por cinco elementos com um
média de idades de 30,20 anos, ligeiramente superior à media do grupo de nadadores
que é de 19,25 anos. Relativamente ao desvio padrão este também é maior.
3.3.1 Análise antropométrica da amostra
A análise antropométrica foi apenas realizada ao grupo experimental com o
intuito de verificar se os atletas diferiam muito entre si antropometricamente.
Metodologia
49
Tabela III.3 – Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão das variáveis cineantropométricas do
grupo experimental.
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Peso 4 55,00 92,00 72,25 15,52
Soma 6 pregas 4 31,50 81,00 53,87 23,58
Altura 4 170,00 196,00 181,50 11,81
Altura sentado 4 87,00 99,80 93,82 5,56
Envergagura 4 181,00 203,00 189,00 9,76
Diam Bi Acromial 4 40,00 43,20 41,75 1,37
Diam Bi Cristal 4 25,00 28,70 26,35 1,62
Diam Toraco-Sagital 4 18,40 23,10 20,05 2,14
Comprimento mão 4 19,20 22,10 20,17 1,31
Largura mão 4 7,30 9,20 8,25 ,78
Comprimento pé 4 23,80 29,20 25,65 2,41
Largura pé 4 8,80 10,90 9,42 ,98
N 4
De acordo com os resultados apresentados na tabela, podemos afirmar que é
na soma das 6 pregas (23,58cm) e no peso (15,52cm) que existe uma maior dispersão
dos valores encontrados, seguindo-se a altura (11,81cm). Relativamente aos
diâmetros, comprimentos e larguras não existe uma grande dispersão dos valores.
3.4 ANÁLISE DOS DADOS
Para este estudo, foi utilizado o programa estatístico “Statistical Package for
Social Sciences – SPSS” para o tratamento e análise dos dados recolhidos .
Para o tratamento dos dados, utilizaram-se, inicialmente, técnicas de
estatística descritiva, por forma a descrever e caracterizar a amostra, os dados
referentes ao treino, estados de humor (POMS alargado e reduzido) e aos episódios
de ITRS, e, posteriormente utilizaram-se técnicas de estatística inferencial.
Assim, relativamente à estatística descritiva, foram construídos quadros onde
se incluía valor máximo e mínimo, uma medida de tendência central (média) e uma
medida de dispersão (desvio padrão).
No que concerne à estatística inferencial, recorremos ao teste T’ pares para
analisar o comportamento de algumas variáveis em diversos momentos. Foi utilizada
igualmente a correlação momento pearson para evidenciar eventuais correlações
entre as variáveis do estudo.
Apresentação e Discussão dos Resultados
50
CAPÍTULO IV
- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS –
Neste capítulo encontram-se apresentados e discutidos os resultados obtidos
através do tratamento estatístico das variáveis que estiveram envolvidas no estudo,
relativamente à Carga de treino, Estados de humor e ITRS.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA
Para evidenciar o comportamento das variáveis quantitativas utilizadas, serão
apresentadas medidas de tendência central (média), valores mínimo e máximo e
medida de dispersão (desvio padrão).
ESTATÍSTICA INFERENCIAL
Este tipo de estatística é utilizada para verificar a veracidade de cada uma das
hipóteses apresentadas na introdução.
Para a comparação do comportamento do mesmo grupo, em momentos
diferentes será utilizado o teste T’ pares; para comprovar o comportamento de
grupos diferentes relativamente à mesma variável utilizaremos o teste T’ de Student e
para analisar a relação entre as variáveis socorreremo-nos do coeficiente de
correlação de Pearson. Para todos os testes estatísticos o grau de significância
escolhido é de p<0,05.
4.1 CARGA DE TREINO
Durante o decorrer do estudo foram registadas as cargas de cada unidade de
treino, assim como as cargas para cada zona de intensidade, A1 (aeróbio ligeiro), A2
(aeróbio médio), A3 (aeróbio intenso), tolerância láctica, máxima produção de
lactato e velocidade, cumpridos pelo grupo experimental.
De seguida, passaremos à apresentação dos dados e respectiva análise.
Apresentação e Discussão dos Resultados
51
4.1.1 Volume total do microciclo de choque (1) e do microciclo de recuperação
(2)
Tabela IV.1 – Valor médio e desvio padrão do Volume total dos microciclos (1) e (2).
N Média Desvio padrão
Vol Tot Mic 1 4 45315,01 6236,39
Vol Tot Mic 2 4 31025,00 5994,23
N 4
A partir dos valores apresentados na tabela IV.1, verifica-se que o microciclo
(1), caracterizado como sendo de choque, apresenta, 45315,01 ± 6236,39m, de
volume total. No microciclo (2), o valor do volume total é menor, sendo de,
31025,00 ± 5994,23 m.
Tabela IV.2 – Teste T’pares do Volume total dos microciclos (1) e (2).
M + dp t p
Vol Tot Mic 1 45315,01 6236,39 2,539 0,085
Vol Tot Mic 2 31025,00 5994,23
Estes valores, não assumem no entanto, diferença estatisticamente
significativa entre o volume total nadado pelos atletas nos microciclos de choque e
recuperação (t=2,539, p=0,085).
4.1.2 Volume total por Unidade de Treino
Tabela IV.3 – Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão do Volume total de cada Unidade de
treino no Microciclo de Choque (1).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Vol Tot UT1 2 500,00 500,00 500,00 ,00
Vol Tot UT2 3 5000,00 5600,00 5400,00 346,41
Vol Tot UT3 3 4400,00 5400,00 5066,66 577,35
Vol Tot UT4 4 6200,00 6350,00 6312,50 75,00
Vol Tot UT5 4 4700,00 6700,00 6200,00 1000,00
Vol Tot UT6 4 5900,00 5900,00 5900,00 ,00
Vol Tot UT7 3 4200,00 4200,00 4200,00 ,00
Vol Tot UT8 4 5700,00 6700,00 6450,00 500,00
Vol Tot UT9 4 3300,00 4000,00 3475,00 350,00
Vol Tot UT10 4 4000,00 5300,00 4975,00 650,00
N 1
Perante a análise da tabela IV.3, pode verifica-se que o volume total mais
elevado está presente na unidade de treino número oito, 6450,00 500,00 m, e o
mais baixo na primeira unidade de treino do microciclo (1), 500,00 0,00 m.
No gráfico IV.1, pode ser observada a variação do volume total de cada
unidade de treino do microciclo de choque (1).
Apresentação e Discussão dos Resultados
52
Gráfico IV.1 – Variação do volume total durante o microciclo de choque (1).
Como se pode observar pelo gráfico IV.1, os valores mais elevados do
volume de treino médio verificam-se nas unidades de treino número, quatro, cinco e
oito, apresentando valores na casa dos 6000m. Os valores mais baixos observam-se
nas unidades de treino número um e sete apresentando valores abaixo dos 2000m. De
realçar que, neste microciclo de choque os valores situam-se no patamar entre os
3000m e os 7000m.
Nas unidades de treino cinco, seis e sete, os valores do volume total
decrescem, voltando novamente a aumentar na unidade de treino seguinte,
apresentando esta um dos valores mais elevados.
Tabela IV.4 – Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão do Volume Total de cada Unidade de
treino no Microciclo de Recuperação (2).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Vol Tot UT11 4 3000,00 5900,00 3725,00 1450,00
Vol Tot UT12 4 6100,00 7700,00 6500,00 800,00
Vol Tot UT13 4 5550,00 6800,00 6037,50 534,43
Vol Tot UT14 4 4900,00 6500,00 5300,00 800,00
Vol Tot UT15 4 4600,00 6050,00 5062,50 665,05
Vol Tot UT16 4 5700,00 6200,00 5825,00 250,00
N 4
Pela leitura da tabela IV.4, constatamos que, o valor do volume médio mais
elevado está presente na unidade de treino número doze, 6500,00 800,00 m, e o
mais baixo na primeira unidade de treino do microciclo (2), 3000,00 1450,00 m.
0
2000
4000
6000
8000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
unidades de treino
vo
lum
e (
m)
Volume (m)
Apresentação e Discussão dos Resultados
53
Gráfico IV.2 – Variação do volume total durante o microciclo de recuperação (2).
Através da observação do gráfico IV.2, o valor mais elevado do volume
total ocorreu na unidade de treino número doze, ao passo que o valor mais baixo está
representado na primeira unidade de treino deste microciclo. Os valores do volume
total de treino situam-se entre os 3000m e os 7000m, observando-se um decréscimo a
partir da unidade de treino doze até à quinze, voltando novamente a aumentar na
seguinte unidade de treino.
Deste modo, este microciclo, comparativamente com o microciclo anterior,
apenas apresenta um pico de volume total de treino, caracterizando-se claramente
como sendo um microciclo de recuperação.
4.1.3 Volume total por Zona de intensidade
Tabela IV.5 – Valor mínimo, máximo, médio e desvio padrão, do volume total por zona de
intensidade no microciclo de choque (1).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Vol Tot Aq 4 10200,00 13100,00 12225,00 1379,31
Vol Tot A1 4 17850,00 25050,00 21437,50 3892,38
Vol Tot A2 4 4400,00 6450,00 5937,50 1025,00
Vol Tot A3 4 1600,00 2800,00 2250,00 640,31
Vol Tot TL 4 1400,00 1700,00 1475,00 150,00
Vol Tot MPL 4 600,00 1000,00 700,00 200,00
Vol Tot Vel 4 350,00 700,00 537,50 143,61
N 4
Pela observação da tabela IV.5, no microciclo de choque, a zona de
intensidade que regista um maior volume de carga de treino é a zona de aeróbio
ligeiro (A1), 25050m. Por outro lado, a zona de intensidade da velocidade é a que
apresenta o valor mais baixo, com apenas 350m. O valor médio mais elevado está
presente na zona de intensidade A1, 21437,50 3892,38 m, e o mais baixo na zona
de intensidade da velocidade, 537,50 143,61 m.
0
2000
4000
6000
8000
11 12 13 14 15 16
unidades de treino
vo
lum
e (
m)
volume (m)
Apresentação e Discussão dos Resultados
54
Se analisarmos as referências existentes na literatura sobre a distribuição
relativa do volume de treino por zona de intensidade, registamos que estes valores
estão de acordo com Maglischo (1993) e que concordam com as particularidades dos
atletas de alto rendimento (Pereira, 1990), que atribuem uma importância crescente à
dependência dos mecanismos aeróbios de produção energética em NPD.
Tabela IV. 6 – Valor mínimo, máximo, médio e desvio padrão, do volume total por zona de
intensidade no microciclo de recuperação (2).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Vol Tot Aq 4 4900,00 8100,00 7212,50 1550,47
Vol Tot A1 4 14400,00 18000,00 15775,00 1562,85
Vol Tot A2 4 1400,00 11850,00 4612,50 4955,86
Vol Tot A3 4 1800,0 4775,0 2543,75 1487,50
Vol Tot TL 4 250,00 2300,00 762,50 1025,00
Vol Tot MPL 4 350,00 1800,00 712,50 725,00
Vol Tot Vel 4 300,00 500,00 431,25 94,37
N 4
Os valores apresentados na tabela IV.6, no microciclo de recuperação (2)
revelam que, o valor médio mais elevado está presente na zona de intensidade A1,
15775,00 1562,85m, seguindo-se da zona de aquecimento, 7212,50 1550,47m, e
o mais baixo na zona de intensidade da velocidade, 431,25 94,37m.
Os valores mais reduzidos (zonas de intensidade MPL e velocidade) deste
microciclo, coincidem também com os valores mais baixos destas zonas no
microciclo de choque (1).
Tabela IV. 7 – Teste T’pares do Volume total de aquecimento nos microciclos (1) e (2).
M dp t p
Vol tot Aq mic 1 12225,00 1379,31 44,556 0,000
Vol tot Aq mic 2 7212,50 1550,47
Utilizando a estatística inferencial (teste T’pares) para analisar o volume total
de aquecimento nos dois microciclos, verifica-se que existe uma diferença estatística
significativa (t=44,556, p=0,000), entre o comportamento desta variável.
Tabela IV. 8 – Teste T’pares do Volume total de A1 nos microciclos (1) e (2). M dp t p
Vol tot A1 mic 1 21437,50 3892,38 3,128 0,052
Vol tot A1 mic 2 15775,00 1562,85
Apresentação e Discussão dos Resultados
55
Através dos valores representados na tabela IV. 8, observa-se que a zona de
aeróbio ligeiro (A1) apresenta o valor de p<0,05 (t=3,128, p=0,052), verificando-se
igualmente diferença estatisticamente significativa.
As zonas de intensidade aeróbio médio (A2 – t=0,535, p=0,630), aeróbio
intenso (A3 – t=-0,297, p=0,786), tolerância láctica (TL – t=1,314, p=0,280),
máxima produção de lactato (MPL – t=-0,031, p=0,977)) e zona de velocidade
(t=1,039, p=0,375), não apresentam diferenças com significado estatístico entre os
valores do volume total nos microciclos de choque (1) e recuperação (2).
Portanto, de todas as zonas de intensidade, apenas o volume total da zona de
aquecimento e da zona aeróbio ligeiro (A1), apresentam diferenças estatisticamente
significativas.
* p<0,05
** p<0,01
Gráfico IV.3 – Volume médio (m) por zonas de intensidade nos microciclos de choque (1) e
recuperação (2).
Como se pode observar no gráfico IV.3, as zonas de intensidade de
aquecimento, de aeróbio ligeiro (A1), de aeróbio médio (A2), da tolerância láctica
(TL) e da velocidade, apresentam um volume total maior no microciclo de choque
(1), enquanto que, os valores do volume total da zona de intensidade aeróbio intenso
(A3) e máxima produção de lactato (MPL) registam os valores mais elevados no
microciclo de recuperação.
Comparando o microciclo de choque com o microciclo de recuperação (2) é
claramente observável que o primeiro apresenta um maior volume de carga de treino,
devido às suas próprias características (choque).
0
3000
6000
9000
12000
15000
18000
21000
24000
vo
lum
e (
m)
Aq-1 Aq-2 A1-1 A1-2 A2-1 A2-2 A3-1A3-2 TL-1 TL-2 MPL-1 MPL-2 VEL-1 VEL-2
* *
*
Apresentação e Discussão dos Resultados
56
4.1.4 Volume médio por Zona de intensidade
Tabela IV.9 – Valor médio e desvio padrão, do volume médio por zona de intensidade no microciclo
de choque (1).
N Média Desvio padrão
Vol Médio Aq 4 1573,95 17,47
Vol Médio A1 4 2454,02 296,49
Vol Médio A2 4 1576,04 72,91
Vol Médio A3 4 1116,66 459,87
Vol Médio TL 4 1262,50 275,00
Vol Médio MPL 4 575,00 50,00
Vol Médio Vel 4 193,75 26,67
N 4
Pelos valores apresentados na tabela IV. 9, observa-se que a zona de
intensidade de aeróbio ligeiro (a1) regista o valor médio mais elevado (2454,02
296,49) ao passo que a zona de intensidade velocidade regista o valor mais baixo de
volume médio (193,75 26,67).
Tabela IV.10 – Valor médio e desvio padrão, do volume médio por zona de intensidade no
microciclo de recuperação (2).
N Média Desvio padrão
Vol Médio Aq 4 1482,08 345,53
Vol Médio A1 4 2879,16 260,77
Vol Médio A2 4 1789,58 679,64
Vol Médio A3 4 717,18 202,41
Vol Médio TL 4 293,75 87,50
Vol Médio MPL 4 412,50 125,00
Vol Médio Vel 4 387,50 344,90
N 4
Através da observação da tabela IV.10, o valor mais elevado de volume
médio encontra-se na zona de intensidade de aeróbio ligeiro (A1) (2879,16 260,77)
ao contrário da zona de intensidade da tolerância láctica que regista o valor mais
baixo de volume médio (293,75 87,50). Estes valores são francamente menores que
no microciclo de choque (1), exceptuando os valores equiparados do volume médio
de A2 e velocidade. Este facto justificar-se-á pelo menor recurso a zonas glicolíticas
(MPL, TL e A3) e à necessidade de manter as adaptações aeróbias (mais A2).
4.1.5 Intensidade total do microciclo de choque (1) e do microciclo de
recuperação (2)
Tabela IV. 11 – Valor médio e desvio padrão da Intensidade Total nos Microciclos (1) e (2).
N Média Desvio padrão
Int. Tot Mic 1 4 19,71 2,73
Int. Tot Mic 2 4 13,69 2,84
N 4
Apresentação e Discussão dos Resultados
57
Os valores apresentados na tabela IV. 11, referem que, a intensidade do treino
no microciclo de choque foi mais elevada, 19,71 2,73, do que no microciclo de
recuperação, 13,69 2,84.
Tabela IV. 12 – Teste T’pares da Intensidade total nos microciclos (1) e (2).
M dp t p
Int. Tot Mic 1 19,71 2,73 2,269 0,108
Int. Tot Mic 2 13,69 2,84
Apesar da intensidade de treino ser maior no microciclo de choque, através do
valor do coeficiente de pearson (p0,05), não se encontram diferenças
estatisticamente significativas no comportamento deste factor nos dois microciclos
(t=2,269, p=0,108).
4.1.6 Intensidade média por unidade de treino
Tabela IV. 13 - Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão dos valores da intensidade média no
microciclo de choque (1).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
It ut1 2 2,00 2,00 2,00 ,00
It ut2 3 2,39 2,80 2,52 ,23
It ut3 3 2,02 2,02 2,02 ,00
It ut4 4 2,34 2,35 2,34 0,005000
It ut5 4 2,43 2,54 2,51 0,05500
It ut6 4 2,64 2,64 2,64 ,00
It ut7 3 1,95 1,95 1,95 ,00
It ut8 4 2,02 2,16 2,12 0,07000
It ut9 4 1,65 2,58 1,88 ,46
It ut10 4 1,70 2,55 2,33 ,42
N 1
Pela observação da tabela IV.13, a unidade de treino seis registou o valor
médio mais elevado de intensidade (2,64 ,00), enquanto que a unidade de treino
número nove registou o valor médio mais baixo (1,88 ,46), assim como, o valor
mínimo de intensidade (1,65).
Tabela IV. 14 - Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão dos valores da intensidade média no
microciclo de recuperação (2).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
It ut11 4 2,00 2,36 2,09 ,18
It ut12 4 1,80 2,92 2,14 ,52
It ut13 4 2,03 3,12 2,31 ,53
It ut14 4 2,22 2,83 2,49 ,32
It ut15 4 2,15 2,80 2,53 ,31
It ut16 3 2,19 4,07 2,81 1,08
N 3
Apresentação e Discussão dos Resultados
58
Através da observação da tabela IV. 14, no microciclo de recuperação, o valor
médio mais elevado de intensidade, foi registado na última unidade de treino (2,81
1,08), correspondendo também ao valor máximo (4,07). Por outro lado, a primeira
unidade de treino, apresenta o valor médio de intensidade mais baixo (2,09 ,18). O
valor mínimo de intensidade registou-se na unidade de treino número doze (1,80).
4.1.7 Intensidade média no microciclo de choque (1) e no microciclo de
recuperação (2)
A partir dos valores representados na tabela IV. 15, pode verificar-se que a
intensidade média é maior no microciclo de recuperação (2,37 ,38).
Tabela IV. 15 – Valor médio e desvio padrão da Intensidade média nos microciclos (1) e (2).
Na observação da tabela IV. 16, tal como se verificou com a intensidade total,
não existem diferenças estatisticamente significativas (t=-,629, p=,574) entre o
microciclo de choque (1) e recuperação (2) relativamente à intensidade média.
Tabela IV. 16 – Teste T’pares da Intensidade média nos microciclos (1) e (2). M dp t p
Int. Média Mic 1 2,25 0,02358 -,629 ,574
Int. Média Mic 2 2,37 ,38
4.1.8 Comportamento do Volume e Intensidade nos microciclos de choque (1) e
recuperação (2)
Gráfico IV. 4 – Variação do volume médio e intensidade média no microciclo de choque (1).
N Média Desvio padrão
Int. Média Mic 1 4 2,25 0,02358
Int. Média Mic 2 4 2,37 ,38
N 4
0
2000
4000
6000
8000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
unidades de treino
vo
lum
e (
m)
0,00
1,00
2,00
3,00
inte
nsid
ad
e
volumeintensidade
Apresentação e Discussão dos Resultados
59
Através da representação gráfica (IV.4), observam-se quatro picos de volume
nas unidades de treino quatro, cinco, seis e oito, quatro momentos intermédios e um
de baixo volume correspondendo este último à primeira unidade de treino.
Relativamente à intensidade, o valor mais elevado corresponde à unidade de treino
seis coincidindo também com uma unidade de treino de grande volume. Apesar do
volume apresentar o valor mais baixo na primeira unidade de treino, com a
intensidade já não acontece o mesmo, registando-se o seu valor mais reduzido na
unidade de treino número nove.
Concluindo, pode-se dizer que a intensidade e o volume apresentam um
comportamento muito semelhante, com alternância de valores crescentes e
decrescentes, com excepção das unidades de treino quatro, cinco e seis, na qual o seu
comportamento é oposto ao do volume.
Gráfico IV. 5 – Variação do volume médio e intensidade média no microciclo de recuperação (2).
Pela representação gráfica (IV.5) observa-se que, no microciclo de
recuperação, o comportamento do volume e da intensidade é completamente oposto
ao observado no gráfico anterior, visto que, quando o volume diminui a intensidade
aumenta, com excepção da unidade de treino onze para doze e quinze para dezasseis.
Isto poderá estar relacionado com a maior ou menor solicitação metabólica das zonas
de maior intensidade.
4.2 ESTADOS DE HUMOR
4.2.1 POMS ALARGADO – GRUPO EXPERIMENTAL
Considerando apenas o grupo experimental, durante o decorrer do estudo foi
aplicado o POMS alargado em quatro momentos distintos, no qual se obteve os
0
2000
4000
6000
8000
11 12 13 14 15 16
unidades de treino
vo
lum
e (
m)
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
inte
nsid
ad
e
volume (m)intensidade
Apresentação e Discussão dos Resultados
60
valores descritos na tabela seguinte e que descreve os estados de humor globais
durante esse período.
Tabela IV. 17 – Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão dos valores do POMS alargado do
grupo experimental, nos quatro momentos aplicados.
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Momento 1 4 109,00 132,00 116,75 10,84
Momento 2 4 106,00 121,00 113,00 6,48
Momento 3 4 96,00 126,00 109,00 14,46
Momento 4 4 105,00 133,00 114,50 12,97
N 4
A partir dos valores representados na tabela IV. 17, pode verificar-se que é no
primeiro e último momento que os valores do POMS se encontram mais elevados.
De realçar que no momento 1 o valor mínimo, 109, também é o mais elevado,
seguindo-se o momento 2, 106.
Relativamente aos valores médios o momento 1 apresenta o valor mais
elevado com 116,75 10,84, seguindo-se o momento 4 com 114,50 12,97, o
momento 2 com 113 6,48, e, por último o momento 3 com o valor mais baixo, 109
14,46.
momento 4momento 3momento 2momento 1
Méd
ia
118
116
114
112
110
108
Gráfico IV. 6 – Valores médios dos momentos 1,2,3, e 4 do grupo experimental.
Através da representação gráfica (IV.6), pode comprovar-se a diminuição dos
estados de humor até ao momento 3 (como se sentiram na primeira semana incluindo
o fim-de-semana; início da segunda semana – microciclo de recuperação),
Apresentação e Discussão dos Resultados
61
verificando-se um certo aumento no final da segunda semana, o que poderá estar
relacionado com competições próximas de alguma importância. O que reflecte que,
nas duas semanas em que se aplicou o estudo, foi no final da segunda semana que os
atletas demonstraram elevados valores de estados de humor.
Tabela IV. 18 – Teste T’pares dos momentos 1,2,3 e 4 do grupo experimental. Valores de t e p.
M dp t p
mom 1 - mom 2 (mom1) 116,75 10,84 ,870 ,448
mom 1 - mom 3 (mom2) 113,00 6,48 ,929 ,421
mom 1 - mom 4 (mom3) 109,00 14,46 ,652 ,561
mom 2 - mom 3 (mom4) 114,50 12,97 ,749 ,508
mom 2 - mom 4 -,410 ,710
Na tabela IV. 18, utilizando a estatística inferencial (teste de T’pares) para
analisar o comportamento dos estados de humor no grupo experimental, verifica-se
que não existem diferenças estatisticamente significativas entre os vários momentos.
Estes resultados permitem dizer que grupo de atletas com uma experiência de treino
elevada e com níveis de desempenho desportivo igualmente importantes, não são tão
vulneráveis à influência da carga de treino, mostrando-se adaptados a ela, não
decretando alterações apreciáveis nos estados de humor. No entanto, apresentam os
valores mais elevados no início, com a expectante de um microciclo de treino forte e
de como vão reagir. Baixam no final deste microciclo e ainda mais após o descanso
(final da primeira semana) procurando uma adaptação correcta à carga de treino
imposta. O elevar-se no final da semana de recuperação poderá estar relacionada com
a participação de competições de alguma importância (nacional e internacional).
4.2.2 POMS ALARGADO - GRUPO DE CONTROLO
Para o grupo de controlo apenas foi aplicado o POMS alargado em dois
momentos distintos, no qual se obteve os valores descritos na tabela seguinte e que
descreve os estados de humor globais durante esse período.
Tabela IV. 19 – Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão dos valores do POMS alargado do
grupo de controlo, nos dois momentos aplicados.
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Momento 1 5 90,00 107,00 101,20 7,08
Momento 2 5 96,00 104,00 100,80 3,03
N 5
Apresentação e Discussão dos Resultados
62
Neste grupo, como se pode verificar através da tabela IV. 19 que apresenta os
resultados, dos dois momentos em que foi aplicado o POMS, é o primeiro momento
que regista o valor mais elevado, 107, assim como, o valor mais baixo, 90.
No que diz respeito aos valores médios, apesar de nos dois momentos
apresentarem-se muito próximos, é no primeiro que se observa o valor mais elevado,
101,20 7,08.
Tabela IV. 20 - Teste T’pares dos momentos (1) e (2) do grupo de controlo. Valores de t e p.
M dp t p
Momento 1 101,20 7,08 0,105 0,922
Momento 2 100,80 3,03
Na tabela IV.20, utilizando a estatística inferencial (teste T’pares) para
analisar o comportamento da amostra (grupo de controlo) nos momentos aplicados,
concluímos que, para o nível de significância de (p<0,05), os resultados não são
estatisticamente significativos. Estes resultados permitem dizer que, no grupo de
controlo não se registaram alterações nos seus estados de humor.
Gráfico IV. 7 – Valores médios dos momentos (1) e (2) do grupo de controlo.
momento doi smomento um
Méd
ia
101,8
101,6
101,4
101,2
101,0
100,8
100,6
100,4
100,2
Apresentação e Discussão dos Resultados
63
4.2.2.1 Comparação entre estados de humor (POMS alargado) do grupo
experimental com estados de humor (POMS alargado) do grupo de controlo
Tabela IV. 21 – Teste T de Student relativo aos estados de humor entre o grupo experimental e o
grupo de controlo no primeiro momento do estudo.
M Dp df t p
1ºmomento
estados de humor
(GExGC)
GE 116,75 10,84 7 2,607 0,035*
GC 101,20 7,08
* Correlação é significante para o nível de p<0,05.
Analisando a tabela IV. 21, podemos constatar que, para o nível de
significância de (p<0,05), encontramos resultados estatisticamente significativos,
como comprova o teste T de Student. Ou seja, ao estabelecermos uma comparação
entre o grupo experimental com o grupo de controlo, relativamente aos estados de
humor, verificámos que, para o mesmo momento, primeiro dia do estudo, existem
diferenças ao nível desta variável, com o grupo experimental a assumir valores
substancialmente superiores.
Tabela IV. 22 – Teste T de Student relativo aos estados de humor entre o grupo experimental e o
grupo de controlo no último momento do estudo.
M Dp df t p
2ºmomento
estados de humor
(GExGC)
GE 114,50 12,97 7 2,321 0,053* GC 100,80 3,03
* Correlação é significante para o nível de p<0,05.
Analisando a tabela IV. 22, podemos constatar que, para o nível de
significância de (p<0,05), encontramos resultados estatisticamente significativos,
como comprova o teste T de Student. Ou seja, ao estabelecermos uma comparação
entre o grupo experimental com o grupo de controlo, relativamente aos estados de
humor, verificámos que, para o mesmo momento, último dia do estudo, existem
diferenças ao nível desta variável.
4.2.2.2 Comparação entre estados de humor (POMS alargado) e carga de treino
no grupo experimental
Utilizando o grupo experimental, através da correlação entre as variáveis
estados de humor (POMS alargado), volume (total e médio) e intensidade (total e
Apresentação e Discussão dos Resultados
64
média), no microciclo de choque (momento 2) e microciclo de recuperação
(momento 4), não se verificaram correlações estatisticamente significativas.
Tal facto pode ser devido à reduzida dimensão da amostra a qual torna difícil
a obtenção de coeficiente de correlação com valor estatístico significativo.
4.2.3 POMS REDUZIDO
No decorrer do estudo foi aplicado ao grupo experimental o POMS reduzido
(versão Atlaoui et all., 2002) em todas as unidades de treino, da qual se obtiveram os
valores descritos na tabela seguinte identificando os estados de humor específicos de
cada unidade de treino.
Tabela IV. 23 - Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão do POMS reduzido do grupo
experimental no microciclo de choque (1).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Poms ut1 2 29,00 29,00 29,00 ,00
Poms ut2 3 27,00 34,00 29,66 3,78
Poms ut3 3 26,00 41,00 35,33 8,14
Poms ut4 4 31,00 37,00 34,50 2,64
Poms ut5 4 32,00 40,00 35,00 3,82
Poms ut6 4 27,00 37,00 31,00 4,89
Poms ut7 3 28,00 38,00 33,00 5,00
Poms ut8 3 33,00 35,00 34,00 1,00
Poms ut9 4 24,00 44,00 32,75 8,77
Poms ut10 3 26,00 39,00 32,66 6,50
N 1
A partir dos valores representados na tabela IV. 23, pode verificar-se que é na
unidade de treino número três, 35,33 ± 8,14, e número cinco, 35,00 ± 3,82, que a
média dos valores do POMS reduzido, se encontram mais elevados. O valor médio
mais baixo localiza-se na primeira unidade de treino, 29,00 ± ,00. De realçar que é na
unidade de treino número nove que se regista o valor mais baixo, 24 e o valor mais
alto, 44, apresentando também o maior valor de desvio padrão.
Apresentação e Discussão dos Resultados
65
Gráfico IV. 8 – Comportamento médio dos valores do POMS reduzido no grupo experimental no
microciclo de choque (1).
UT 10UT 9
UT 8UT 7
UT 6UT 5
UT 4UT 3
UT 2UT 1
Méd
ia
36
35
34
33
32
31
30
29
28
Através da representação gráfica (IV.8), observa-se que até à unidade de
treino número nove o comportamento médio dos estados de humor dos atletas
relativamente à carga de treino imposta, apresenta alterações sistemáticas, ou seja, é
alternada pois apresenta sucessivamente valores decrescentes e crescentes. Por outro
lado, da unidade de treino nove até à dez, o comportamento médio dos estados de
humor dos atletas decresce o qual poderá estar relacionado com a carga de treino.
Tabela IV. 24- Valor mínimo, máximo, média e desvio padrão do POMS reduzido do Grupo
experimental no microciclo de recuperação (2).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Poms ut11 4 16,00 35,00 27,00 8,75
Poms ut12 4 22,00 36,00 29,75 6,13
Poms ut13 4 19,00 36,00 28,25 9,03
Poms ut14 4 19,00 33,00 26,00 6,58
Poms ut15 4 12,00 35,00 27,00 10,86
Poms ut16 4 20,00 42,00 33,00 9,59
N 4
Os valores representados na tabela IV. 24, permitem verificar que é a unidade
de treino número catorze, 26,00 ± 6,58, que apresenta o valor médio mais baixo. Por
outro lado, o valor médio mais elevado é observado na última unidade de treino,
33,00 ± 9,59, apresentando também o maior desvio padrão, assim como o maior
valor máximo. De realçar que é na unidade de treino número quinze que se regista o
Apresentação e Discussão dos Resultados
66
valor mais baixo, 12, apresentando também o maior valor de desvio padrão, 10,86,
como acontece no microciclo de choque.
Gráfico IV. 9 – Comportamento médio do POMS reduzido do grupo experimental no microciclo de
recuperação (2).
UT 16UT 15UT 14UT 13UT 12UT 11
Méd
ia
34
32
30
28
26
24
Através da representação gráfica (IV.9), observa-se que durante este
microciclo de recuperação o comportamento médio dos estados de humor dos atletas
relativamente à carga de treino imposta, apresenta alguma variabilidade, visto que,
decresce da unidade de treino doze até à catorze, aumentando de seguida até à
unidade de treino dezasseis, tal como no microciclo anterior. Este comportamento
parece estar relacionado com a carga de treino.
4.2.3.1 Análise do comportamento dos estados de humor (POMS reduzido) e
carga de treino
Através da representação gráfica (IV.10), pode-se observar que nas unidades
de treino em que o volume aumenta, os estados de humor do atleta também
aumentam, com excepção da quarta e última unidades de treino. Isto que quer dizer
que a carga de treino influencia o seu estado de humor específico, ou seja,
relativamente à percepção do volume de treino.
No entanto, quando há uma primeira diminuição do volume (ut3), os estados
de humor ainda se encontram elevados o que, em algumas situações poderá estar
relacionado com os efeitos da unidade de treino anterior, acontecendo o mesmo na
unidade de treino cinco. No entanto, os estados de humor diminuem na unidade de
Apresentação e Discussão dos Resultados
67
treino seis, provavelmente por já ter havido uma diminuição do volume na unidade
de treino anterior. Da unidade de treino sete para a unidade de treino oito e desta para
a nove, existe novamente um acompanhamento dos estados de humor e volume
(aumento e diminuição), já não acontecendo o mesmo da unidade de treino nove a
dez, em que os estados de humor continuam diminuídos apesar do volume ter
aumentado.
Gráfico IV. 10 – Variação dos estados de humor e volume médio durante o microciclo de choque (1).
Analisando a tabela IV. 25, podemos constatar que, para o nível de
significância de (p<0,05), encontramos resultados estatisticamente significativos
(p=0,036), ou seja, estabelecendo uma comparação entre os estados de humor e o
volume total, verificamos que existe correlação entre estas variáveis durante o
microciclo de choque.
Tabela IV. 25 – Correlação entre os estados de humor (POMS reduzido) e o volume médio do
microciclo de choque (1).
N Correlação de Pearson Sig.
Média POMSred - Vol. médio
Microciclo (1) 10 0,666 ,0036*
* Correlação é significante para o nível de p<0,05.
A representação gráfica (IV.11) do comportamento das variáveis POMS
reduzido e intensidade no microciclo de choque (1), permite observar que quando a
intensidade aumenta os estados de humor também, com excepção da unidade de
treino três para quatro, cinco para seis e da última unidade de treino. Esta diminuição
dos estados de humor verificados na unidade de treino dez e última do microciclo de
choque, poderá estar relacionada com a aproximação do fim-de-semana e de uma
0
10
20
30
40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
unidades de treino
esta
do
s d
e h
um
or
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
vo
lum
e
estados de
humorvolume
Apresentação e Discussão dos Resultados
68
semana de recuperação. A justificação da diminuição dos estados de humor da
unidade de treino cinco para seis poderá estar relacionada com o aumento da
intensidade da anterior unidade de treino à qual os atletas já estarão “adaptados” a
essa intensidade.
Quando se observa uma diminuição da intensidade do treino, os estados de
humor dos atletas aumentam (excepto da unidade de treino oito para nove) devido,
provavelmente, ao aumento da intensidade da unidade de treino anterior, o que se
pode verificar na unidade de treino dois e três, mas não acontecendo o mesmo da seis
para a sete. No entanto, regista-se um aumento dos estados de humor da unidade de
treino sete para oito a qual poderá estar relacionada com o efeito acumulado da
influência da unidade de treino anterior na qual a intensidade atingiu um ponto
elevado.
Gráfico IV. 11 – Variação dos estados de humor e a intensidade média durante o microciclo de
choque (1).
Analisando a tabela IV.26, podemos constatar que, para o nível de
significância de (p<0,05), encontramos resultados estatisticamente significativos
(p=0,015), ou seja, estabelecendo uma comparação entre os estados de humor e a
intensidade média, verificamos que existe correlação entre estas variáveis durante o
microciclo de choque.
Tabela IV. 26 – Correlação entre os estados de humor (POMS reduzido) e a intensidade média do
microciclo de choque (1).
N Correlação de Pearson Sig.
Média POMSred - Int. média
Microciclo (1) 10 0,737 ,015*
* Correlação é significante para o nível de p<0,05.
Através da representação gráfica (IV.12), durante o microciclo de
recuperação, observa-se um comportamento semelhante entre a intensidade média e
0
10
20
30
40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
unidades de treino
esta
do
s d
e h
um
or
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
inte
nsid
ad
e
estados de
humorintensidade
Apresentação e Discussão dos Resultados
69
os estados de humor nas unidades de treino doze, quinze e dezasseis, enquanto que,
nas restantes unidades de treino o comportamento das variáveis varia na razão
inversa.
Portanto, na unidade de treino treze e catorze, os atletas apresentam uma
diminuição dos estados de humor, provavelmente pela adaptação à carga de treino.
No entanto, na unidade de treino quinze e dezasseis o seu estado de humor aumenta,
talvez porque a intensidade atingiu os seus pontos mais elevados e os atletas sentiram
o efeito da magnitude da carga de treino.
Gráfico IV. 12 – Variação dos estados de humor e intensidade média durante o microciclo de
recuperação (2).
Pela observação do gráfico IV.13, durante o microciclo de recuperação, os
estados de humor e o volume total, apresentam um comportamento praticamente
semelhante, pois quando o volume aumenta os estados de humor também, o mesmo
acontecendo quando diminui, com excepção da unidade de treino catorze a quinze.
Gráfico IV. 13 – Variação dos estados de humor e volume médio durante o microciclo de
recuperação (2).
A correlação entre estados de humor (POMS reduzido) e o volume médio e a
intensidade média, não evidencia significado estatístico no microciclo de
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
11 12 13 14 15 16
unidades de treino
vo
lum
e (
m)
0
5
10
15
20
25
30
35
esta
do
s d
e h
um
or
volume
estados de humor
0
10
20
30
40
11 12 13 14 15 16
unidades de treino
esta
do
s d
e h
um
or
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
inte
nsid
ad
e
estados de
humorintensidade
Apresentação e Discussão dos Resultados
70
recuperação, o que nos faz supor que as variáveis volume e intensidade só por si não
são suficientes para influenciar os estados de humor dos atletas e da sua percepção
do treino.
Utilizando o teste T’pares para verificar se existem diferenças com
significado estatístico entre o POMS reduzido (unidades de treino número 1, 10, 11 e
16) e o POMS alargado (momentos 1, 2, 3 e 4) nos mesmos instantes, obtiveram-se
valores que nos indicam a não existência de diferenças com significado estatístico.
4.3 INFECÇÕES DO TRACTO RESPIRATÓRIO SUPERIOR (ITRS)
Considerando apenas o grupo experimental, foram registadas todas as
eventuais ITRS com controlo sistemático em todas as unidades de treino. Obtiveram-
se os valores médios e de desvio padrão durante o período considerado no estudo.
Tabela IV. 27– Valor mínimo, máximo, médio e desvio padrão de ITRS durante o microciclo de
choque (1).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
ITRS ut 1 4 1,00 2,00 1,25 ,50
ITRS ut 2 4 1,00 2,00 1,25 ,50
ITRS ut 3 4 1,00 1,00 1,00 ,00
ITRS ut 4 4 1,00 2,00 1,50 ,57
ITRS ut 5 4 1,00 2,00 1,50 ,57
ITRS ut 6 4 1,00 2,00 1,50 ,57
ITRS ut 7 4 1,00 2,00 1,75 ,50
ITRS ut 8 4 1,00 1,00 1,00 ,00
ITRS ut 9 4 1,00 1,00 1,00 ,00
ITRS ut 10 4 1,00 1,00 1,00 ,00
N 4
1,00 – “não apresentam sintomas de ITRS”
2,00 – “apresentam sintomas de ITRS”
A partir dos resultados apresentados na tabela IV. 27, a maior ocorrência de
episódios de ITRS observa-se na unidade de treino número sete, 1,75 0,50 , em
que do n.º de sujeitos, três apresentaram sintomas de ITRS, seguindo-se as unidades
de treino n.º4, 5, e 6, 1,50 0,57, em que verificaram-se sintomas de ITRS em
apenas metade do número de sujeitos. Nas unidades de treino n.º 3, 8, 9 e 10, não se
verificou nenhum registo de ITRS.
Apresentação e Discussão dos Resultados
71
UT 10UT 9
UT 8UT 7
UT 6UT 5
UT 4UT 3
UT 2UT 1
Méd
ia1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
,8
Gráfico IV. 14 – Comportamento médio das ITRS no microciclo de choque (1).
A partir da análise da tabela IV. 28, pode verificar-se que, a maior
ocorrência de episódios de ITRS observa-se na unidade de treino número doze, 1,25
0,50 , em que do n.º de sujeitos, apenas um apresenta sintomas de ITRS. Nas
restantes unidades de treino, não se verificou nenhum registo de ITRS.
Tabela IV. 28 – Valor mínimo, máximo, médio e desvio padrão de ITRS durante o microciclo de
recuperação (2).
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
ITRS ut11 4 1,00 1,00 1,00 ,00
ITRS ut12 4 1,00 1,00 1,00 ,00
ITRS ut13 4 1,00 2,00 1,25 ,50
ITRS ut14 4 1,00 1,00 1,00 ,00
ITRS ut15 4 1,00 1,00 1,00 ,00
ITRS ut16 4 1,00 1,00 1,00 ,00
N 4
Apresentação e Discussão dos Resultados
72
UT 16UT 15UT 14UT 13UT 12UT 11
Méd
ia1,3
1,2
1,1
1,0
,9
Gráfico IV. 15 – Comportamento médio das ITRS no microciclo de recuperação (2).
Nos quinze dias seguintes após o estudo, verificou-se a ocorrência de ITRS
no grupo experimental.
Relativamente ao grupo de controlo, não se verificou nenhum sintoma de
ITRS, durante o período em que decorreu o estudo.
Na observação da tabela IV. 29, constata-se que, no microciclo de choque os
atletas apresentaram um maior número de ITRS, 1,250 0,214, relativamente ao
microciclo de recuperação, 1,035 0,07143.
Tabela IV. 29 – Valores médio e desvio padrão dos episódios de ITRS na 1ª e 2ª semanas.
No entanto, e de acordo com os valores apresentados na tabela IV. 30,
verifica-se que, apesar de diferirem não foi suficiente para obter significado
estatístico. Este facto pode ser devido ao reduzido número de elementos da amostra.
Parece claro no entanto que, o número de episódios de ITRS é maior na 1ª semana,
ou seja, aquela onde a carga de treino foi claramente superior, o que estará de acordo
com Nieman (1994, 1997) quando refere que vários estudos epidemiológicos
apresentam a relação de que exercício físico com intensidade elevada seja, agudo ou
N Média Desvio padrão
ITRS 1 4 1,250 ,214
ITRS 2 4 1,035 0,07143
Apresentação e Discussão dos Resultados
73
crónico está associado a um aumento de ITRS, enquanto que a prática de exercício
físico regular e a uma intensidade moderada, permite reduzir os sintomas de ITRS.
Estes resultados vieram também demonstrar que após treino intenso, não se
observa um incremento das ITRS como refere Mackinnon (1993).
Também se veio a provar o que Shepard (1999) afirma, de que os períodos de
treino intenso (microciclo de choque), estão relacionadas com uma maior
susceptibilidade para as ITRS, como se comprova no nosso estudo, onde se
registaram maior número de episódios de ITRS no microciclo de choque.
No entanto, também segundo Shepard (1999), alguns atletas de elite
(nadadores), desenvolvem ITRS com menos frequência do que pessoas sedentárias
(grupo de controlo), em que se registaram ITRS nos atletas 15 dias após o estudo e
nenhuma no grupo de controlo.
Tabela IV.30 - Teste T’pares da média de ITRS da primeira semana e ITRS da segunda semana;
valores de t e p.
M Dp t p
ITRS 1 1,250 0,214 1,934 0,149
ITRS 2 1,035 7,143E-02
4.4 Comportamento das variáveis ITRS, estados de humor (POMS reduzido),
carga de treino (volume e intensidade)
4.4.1 Relação entre as variáveis no microciclo de choque (1) e microciclo de
recuperação (2)
Através da observação da tabela IV. 31, verifica-se que durante as dezasseis
unidades de treino, existe correlação entre os valores médios das variáveis, estados
de humor, volume e intensidade, e nenhuma correlação destas com as ITRS.
A correlação existente entre o volume de treino e os estados estão de acordo
com a literatura, em que Raglin et all. (1991) afirma que quando a carga de treino
aumenta, os distúrbios de humor também se elevam, e quando a carga de treino
diminui os estados de humor melhoram. Refere que sempre que existem alterações
no treino o mesmo acontece com os estados de humor. Portanto, a monitorização dos
estados de humor podem ser um valioso potencial na prevenção do treino intenso.
Apresentação e Discussão dos Resultados
74
Tabela IV. 31 – Correlação entre as variáveis, estados de humor, volume e intensidade no microciclo
de choque (1) e microciclo de recuperação (2).
N Correlação de Pearson Sig.
Volume – estados de humor 16 0,655 0,006**
Volume - intensidade 16 0,728 0,001**
Intensidade – estados de humor 16 0,631 0,009**
** Correlação é significante para o nível de p0,01
4.4.2 Relação entre as variáveis no microciclo de choque (1)
Através da observação da tabela IV. 32, verifica-se que no microciclo de
choque (1), ou seja, nas dez unidades de treino, existe correlação entre as variáveis
estados de humor, volume e intensidade, não existindo novamente nenhuma
correlação com as ITRS.
Tabela IV. 32 – Correlação entre as variáveis, estados de humor, volume e intensidade no microciclo
de choque (1).
N Correlação de Pearson Sig.
Volume – estados de humor 10 0,666 0,036*
Volume - intensidade 10 0,805 0,005**
Intensidade – estados de humor 10 0,737 0,015*
* Correlação é significante para o nível de p0,05.
** Correlação é significante para o nível de p0,01
4.4.3 Relação entre as variáveis no microciclo de recuperação (2)
De referir que, no microciclo de recuperação (2) não foram encontradas
correlações entre as variáveis ITRS, estados de humor, volume e intensidade.
Conclusões e Recomendações
75
CAPÍTULO V
-CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES –
6.1. CONCLUSÕES
Após término da apresentação e discussão dos resultados, ficam registados
alguns itens que são considerados como principais conclusões retiradas deste estudo.
Sendo assim, o presente trabalho, de acordo com os resultados obtidos
permite concluir que:
a) O grupo experimental apresenta maior incidência total de ITRS em
situação de carga elevada (microciclo de choque) do que em situação de carga
reduzida (microciclo de recuperação), apesar desta diferença não ter atingido
significado estatístico.
b) Durante uma situação de carga elevada (microciclo de choque), no grupo
experimental registaram-se incidências de ITRS, ao passo que, no grupo de controlo
não foi encontrada nenhuma incidência de ITRS.
c) Durante uma situação de carga reduzida (microciclo de recuperação), no
grupo experimental registaram-se incidências de ITRS, ao passo que, no grupo de
controlo não foi encontrada nenhuma incidência de ITRS.
d) Quando utilizamos o questionário POMS reduzido (8 itens), o grupo
experimental revelou estados de humor influenciados pelo volume e intensidade de
treino em situação de carga elevada (microciclo de choque).
e) Em situação de carga reduzida (microciclo de recuperação) os estados de
humor revelados pelo grupo experimental não demonstraram associação com a carga
de treino.
f) Não encontramos uma influência significativa dos episódios de ITRS sobre
os estados de humor, durante situações de carga elevada (microciclo de choque) nem
em situações de carga reduzida (microciclo de recuperação).
Conclusões e Recomendações
76
g) Quando utilizamos o questionário de 22-itens (POMS alargado), não
encontramos associação com a carga de treino aumentada (volume e intensidade
totais), provavelmente porque não se registaram grandes variações na carga de treino
ao longo do microciclo.
h) Os valores do estado de humor determinado pelo uso do POMS alargado
foram significativamente diferentes, com o grupo experimental a demonstrar valores
médios superiores.
i) O grupo experimental não demonstra diferenças significativas nos estados
de humor quando estes são determinados quer pelo POMS alargado quer pelo POMS
reduzido no mesmo instante.
Referências Bibliográficas
77
6.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO E RECOMENDAÇÕES
Finalizando as conclusões sobre o presente estudo, torna-se fundamental
aprofundar os conhecimentos acerca de tudo o que foi referido, sendo por isso
necessário o surgimento de outros estudos dentro deste campo.
De seguida sugerimos algumas futuras linhas de investigação nesta área que
poderão vir a complementar toda a informação até aqui existente:
a) Realização do mesmo estudo com um maior número de sujeitos.
b) Realizar um estudo de comparação entre géneros feminino e masculino.
c) Utilizar outro tipo de indicadores além da IgA, por forma a avaliar as
alterações efectivas nos diversos componentes do sistema imunitário.
j) Utilizar uma maior variedade de microciclos com características diferentes.
k) Recorrer a outro tipo de questionário para avaliar as alterações dos estados
de humor nos atletas.
Referências Bibliográficas
78
CAPÍTULO VI
- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -
Alves, F. (2000). O treino de Resistência e as zonas de Intensidade. Caderno técnico
de Natação, 8. Oeiras: Direcção Técnica Nacional da Federação Portuguesa de
Natação.
Andersen-Parrado, P. (1999). Three parts of a strong immunity;
http://www.findarticles.com/cf_0/mOFKLA/12_61/59535035/p1/article.jhtml
[Dezembro, 1999]
Atlaoui, D., Lacoste, L., Barale, F., Guezennec, Y.C., Chatard, J.C. (2002). A new
short questionnaire of fatigue relationships with performance and training in elite
swimmers.
Book of Abstracts – IX th World Symposium Biomechanics and Medicine in
Swimming. 21-33 June 2002, Saint-Etienne, France.
Berglund, B., Safstrom, H. (1994). Psychological monitoring and modulation of
training load of world-class canoeists. Medicine & Science in Sports & Exercise,
vol.26, n.º 8, pp. 1036-1040. American College of Sports Medicine.
Brenner, I. et al. (1998). Stress hormones and the immunological responses to heat
and exercise. International Journal of Sports and Medicine, 21, S130-S143.
Cassan, D. et al (2002). Influence of the aquatic environment and training on the
immune system of elite swimmers.
Chatard, J. C. & Mujika, I. (1999). Training Load and Performance in Swimming. In
K. L. Keskinen & P.V. Komi &A. P. Hollander (Eds), Biomechanics and Medicine
in Swimming VIII (pp 429-434) Jyvaskyla: Gummerus Printing.
Eliakim, A., Wolach, B., Kodesh, E., Gavrieli, R., Radnay, J., Bem-Tovim, T.,
Yarom, Y., & Falk, B. (1997). Cellular and humoral response to exercise among
gymnasts and untrained girls. International Journal of Sports Medicine.
Everly, S. G. (1990). A Clinical Guide to the Treatment of the Human Stress
Response. New York: Plemun Press.
Fox, S. I. (1996). Human Physiology (5th
edition). Boston: W. C. Brown Publishers.
Gabriel, H. B., & Kinderman, W. (1997). The Acute Immune Response to Exercise:
What does it mean?. International Journal of Sports Medicine, 18 (suppl. 1), S28-
S45.
Gleeson, M., McDonald, W. A., Pyne, D.B., Clancy, R.L., Cripps, A.W., Francis,
J.L., Fricker, P.A. (2000). Immune Status and Respiratory Illness for Elite Swimmers
During a 12-Week Training Cycle. International Journal of Sports Medicine,21, 302-
307.
Referências Bibliográficas
79
Gleesson, M., McDonald, W., Pyne, D., Clancy, R., Cripps, A., Francis, J. & Fricker,
P. (2000). Immune status and respiratory illness for elite swimmers during 12-week
training cycle. International Journal of Sports Medicine, vol. 21, pp. 302-307. Georg
Thieme Verlag Stuttgart: New York.
Gordon, R. C. (2001). Contagious diseases in athletes (treatment of infections in
school athletes);
http://www.findarticles.com/cf_0/m3233/20_35/80062552/p1/article.jhtml?term=des
infection+of+swimming-pools
Guyton, A. C., & Hall, J.E. (1997). Tratado de Fisiologia Humana. Rio de Janeiro:
Editora Guanabarra - Koogan S. A..
Guyton, A.C. (1983) Fisiologia Humana e Mecanismos de Doença. Rio de Janeiro:
Editora Guanabarra - Koogan S. A..
Hall, S. N., & Kvarnes, R. (1991). Behavioural Intervention and Disease - Possible
Mechanisms. In: J. G. Carlson, & A. R. Seifert (Eds.), International Perspective on
Self Regulation and Health (pp 189 - 193). New York: Plenum Press.
Ibars, B. C., Alvarez, C. J., & Rincón, O. E. (1992). Aspectos Inmunologicos de la
Actividade Física. In: J. G. Gallego (Ed.), La Actividade Física y del Desport (pp
161-173). Madrid: McGraw-Hill – Interamericana de Espanâ.
Jemmott, J. B., & Locke, S. E (1984). Psychosocial factors, Immunological
Mediation and Human Susceptibility to infectious diseases: How much do we
know?. Psychological Bulletins, 95, 78-108.
Kruse, S. (2002). Exercise and the Immune System. (Industry Watch);
http://www.findarticles.com/cf_0/mOBTW/2_20/82571158/p’/article.jhtml
[Fevereiro, 2002]
LaPerriere, A., Ironson, G., Antoni, M. H., Schneiderman, N., Klimas, N., &
Fletcher, M. A. (1994). Exercise and psychoneuroimmunology. Medicine and
Science in Sports and Exercise, 26 (2), 182-190.
Mackinnon, L.T. (1992). Exercise and Immunology - Current Issues in Exercise
Science (Monograph Number 2). Champaign, Illinois: Human Kinetics.
Mackinnon, L.T. (1994). Current challenges and future expectations in exercise
immunology: back to the future. Medicine and Science in Sports and Exercise, 26
(2), 191-194.
Mackinnon, L.T. (1997). Immunity in Athletes. International Journal of Sports
Medicine, 18 (suppl.1), S62-S68.
Mackinnon, L.T. (2000). Chronic exercise training effects on immune function.
Medicine & Science in Sports & Exercise, vol.32, 7, S369-376.
Referências Bibliográficas
80
Maglisho, E. (1993). Swimming even faster. USA: Mayfield Publishing Company.
Martins, F.R. (2000). Exercício Stress e Imunidade. Revista Horizonte, vol XVI, n.º
92, pp. 19-27.
Mcardle, W. D., Kach, F. I., & Katch, V. L. (1996). Exercise Physiology – Energy
Nutrition and Human Performance. Baltimore: Williams and Wilkins.
McNair, D., Lorr, D., Droppleman, D. (1992). Manual Profile of Mood States.
Morgan, W. P., Costill, D. L., Flynn, M. G., Raglin, J.S., O’Connor, P.J. (1988).
Mood disturbance following increased training in swimmers. Medicine and Science
in Sports and Exercise, 20 (4), 408-414.
Mujika, I., Chatard, J. C., Busso, T., Geyssant, A., Barale, F. & Lacoste, L. (1995).
Effects of Training on Performance in Competitive Swimming. Can. J. Appl.
Physiol., 20(4), 395-406.
Navarro, F. (1991). Natación R.F.E.N (Real Federación Española de Natación).
Nehlsen-Cannarella, S. L., Nieman, C. D., Balk-Lamberton, J. A., Markoff, A. P.,
Chritton, W. B. D., Gusewitch, G., & Lee, W. J. (1991). The effects of moderate
exercise training on immune response. Medicine and Science in Sports and Exercise,
20 (1), 64 -70.
Nieman, C. D. (1994a). Exercise, Upper Respiratory Tract Infection and Immune
System. Medicine and Science in Sports and Exercise, 20 (2), 128-131.
Nieman, C. D., Brendle, D., Hanson, A. D., Sutter, J., Cook, D. V., Wornes, J. B.,
Butterworth, E. D., Fagoaga, R. D., & Nelhsen-Cannarela, L. S. (1995). Immune
Function in Athletes versus Nonathletes. International Journal of Sports Medicine,
16 (5), 329-333.
Nieman, C.D. (1993). Exercise and upper respiratory tract infection. Sports
Medicine, Training and Rehabilitation, 4 (1), 1-14.
Nieman, C.D. (1997). Exercise Immunology: Practical Applications. International
Journal of Sports Medicine, 15, S131- S141.
Nieman, D.C. (2000). Is infection risk linked to exercise workload?. Medicine &
Science in Sports & Exercise, vol. 32, 7, S406-S411.
Nieman, D.C. (2000). Nutrition, physical activity and immunity; http://www.sugar-
bureau.co.uk/BULLETINS/bulletinsN3.htm [volume 1, n.º 1, Julho 2000]
O’Kane, J. W. (2002). Upper Respiratory Infection. The Physician and
Sportsmedicine, 30 (9).
Pedersen , B.K., Ullum, H., (1994). NK cell responses to physical activity: possible
mechanisms of action. Medicine & Science In Sports & Exercise, vol. 26, pág. 140-
146.
Referências Bibliográficas
81
Pedersen, B. K., Kappel, M., Klokker, M., Nielsen, B. H., & Secher, H. N. (1994).
The Immune System during Exposure to Extreme Physiology Conditions.
International Journal of Sports Medicine, 15, S116- S122.
Pereira, J. (1993). Contributo para a caracterização fisiológica da natação de
competição. (S.1).
Perna, M.F., Schneiderman, N., & LaPerriere, A. (1997). Psychological Stress,
Exercise and Immunity. International Journal of Sports Medicine, 18, 578-583.
Peters, E. (1997). Exercise, immunology and upper respiratory tract infections.
International Journal of Sports Medicine, vol. 18 (suppl. 1), pp. S65-S77. Georg
Thieme Verlag Stuttgart: New York.
Pires, L. M., & Castanheira, L. (1987). Stress Diário, Emoções e Saúde. Revista
Portuguesa de Pedagogia, Ano XXI, 565 – 579.
Pirnary, F., & Bury, T. (1996). Activités sportives et systéme immunitaire. Sport, 39
(2), 59-64.
Powers, S. K. & Howley, E. T. (1997). Exercise physiology: Theory and application
to fitness and performance (3th ed.). Madisson: Brown & Benchmerk Publishers.
Pyne, D., W., Gleesson, M., Flanagan, A., Clancy, R., and Fricker, P. (2000).
Mucosal immunity, respiratory illness, and competitive performance in elite
swimmers. Medicine & Science in Sports & Exercise, vol. 33, n.º 3, pp. 348-353.
American College of Sports Medicine.
Pyne, D.B., McDonald, W.A., Gleeson, M., Flanagan, A., Clancly, R.L., Fricker,
P.A.(2001). Mucosal immunity, respiratory illness, and competitive performance in
elite swimmers. Medicine and Science in Sports and Exercise, 33 (3), 348-353.
Raglin, J.S., Morgan, W. P., O’Connor, P. J. (1991). Changes in Mood States during
Training in Female and Male College Swimmers. International Journal of Sports
Medicine,12, 585-589.
Rama, L. (1997). Estudo comparativo das repercussões fisiológicas e da percepção
subjectiva de esforço, como resposta a diferentes estimulações tipo, em treino de
natação desportiva. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de
Lisboa.
Roitt, I., Brostoff, J., & Mali, D. (1998). Immunology (5th
edition). London : Mosby.
Saputo, L., Faas, N. (sd). Creating Strong Immunity;
http://www.innerself.com/healthy/immunity.htm
Seeley, R.; Stephens, T.; Tate, P. (1997). Anatomia & Fisiologia. Lisboa:
Lusodidacta.
Referências Bibliográficas
82
Sheldon, P. (1998). Humoral Immunity. Available : http:
//www.immunolgy,edu/lec5.htm [1999, January 1].
Shepard, R.J. (1999). Exercise, Immunity and Susceptibility to Infection – a J-
Shaped Relationship?; http://www.physsportsmed.com/issues/1999/06-
99/shepard.htm [The Physician and Sportsmedicine – vol. 27, n.º6, Junho 1999]
Shephard, J. R. (1998a). Physical Activity, training and the Immune Response.
Boston: Cooper Publisher.
Shephard, J. R. (1998b). Exercise, immune function and HIV infection. The Journal
of Sports Medicine and Physical Fitness, 38 (2), 101-110.
Steerenberg, P.A., et al. (Eur. J. Oral Sci 1997 – Agosto; 105 (4): 305-309)
Vander, A. J., Sherman, J. H., & Luciano, D. S. (1981). Fisiologia Humana os
Mecanismos da Função de Orgãos e Sistemas. Brasil: Mcgraw-Hill.
Vander, A. J., Sherman, J. H., & Luciano, D. S. (1996). Human Physiology (6th
edition). New York: Mcgraw-Hill.
Vander, A., Sherman, J. and Luciano, D. (1994). Human Physiology. 6ª edição. New
York: McGraw-Hill.
Vander, A.; Sherman, J.; Luciano, D. (1998). Human Physiology – 7ª edição.
Michigan: McGraw-Hill.
Wilmore, J. & Costill D. (1994). Physiology of sports and exercise. Illinois: Human
Kinetics Books.
Woods, A. J., & Davis, M .J. (1994). Exercise, monocyte/macrophage function and
cancer. Medicine and Science in Sports and Exercise, 26 (2), 147 – 157.