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Capítulo 6 Rendas Agrícolas e Não-agrícolas das Famílias Rurais: Estudo de Caso com Pesquisa Quantitativa de Campo no Patrimônio Espírito Santo, Município de Londrina, PR Moacyr Doretto Mauro Eduardo Del Grossi Antônio Carlos Laurenti

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Capítulo 6

Rendas Agrícolas e Não-agrícolas

das Famílias Rurais:

Estudo de Caso com Pesquisa

Quantitativa de Campo

no Patrimônio Espírito Santo,

Município de Londrina, PR

Moacyr Doretto

Mauro Eduardo Del Grossi

Antônio Carlos Laurenti

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Elementos Históricos da Colonização de Londrina

O povoamento das terras no Município de Londrina está associado diretamente aos elementos históricos que deflagraram, nos anos 30 do século passado, a colonização pioneira da região denominada de Norte Novo do Estado do Paraná. Nessa região, o rumo da colonização pioneira oscilou entre duas concepções distintas de aplicação de capital privado de origem inglesa. A primeira preconizava a obtenção de lucros mediante aquisição de terras e emprego de trabalhadores assalariados, oriundos de outras regiões no cultivo de algodão para o mercado externo. A segunda, decorrente desse malogrado projeto de ocupação das terras, cedeu espaço à iniciativa fundada na interligação do comércio de lotes de terras com a produção de café para exportação, cuja dinâmica atingiu ritmo e extensão sem precedentes no âmbito da iniciativa privada inserida no ramo da colonização.

A diferença marcante entre as duas iniciativas de colonização -embora circunscritas a uma economia agrária exportadora, com capital externo e propriedade privada da terra - é que a segunda fundava sua produção mercantil (café) num grande número de unidades de produção de pequena escala, cuja maior parcela pertencia a trabalhadores que eram proprietários da terra e do produto do seu trabalho. Esse processo de colonização foi idealizado pela Companhia de Terras Norte do Paraná -CTNP -, empresa responsável pela colonização pioneira do Norte Novo, que também concebeu a edificação de pequenos núcleos urbanos (patrimônios, centros comerciais e abasfecedores intermediários) a cada 10 ou 15 km e pequenas cidades a cada 100 km, como forma de prover a população rural de bens e serviços gerais não-agrícolas, assim como sediar os empreendimentos industriais e de serviços associados à cadeia produtiva do café e demais atividades urbanas.

Nesses termos, a separação campo-cidade foi feita pela locação das atividades não-agrícolas no núcleo urbano e consequente especializa-ção dos lotes rurais nas atividades agrícolas, principalmente a produção de café para comércio e, secundariamente, a produção de outros produtos agropecuários para subsistência da família, ainda que algumas tarefas de beneficiamento da produção, atualmente típicas da agroindústria, fossem (e continuam sendo) realizadas no recinto das unidades agrícolas, tais como: limpeza, secagem e armazenamento do café em coco.

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O seguinte depoimento de um antigo funcionário da companhia acima mencionada, contida no livro acerca da colonização e desenvolvi-mento do norte do Paraná (Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, 1977, p.88) ilustra com precisão as referências efetuadas quanto à estrutura fundiária e a interdependência das atividades rurais/agrícolas e urbanas/ não-agrícolas, assim como tais circunstâncias ensejaram o desenvolvimen-to local da época.

"É preciso não esquecer, também, que alguns proprietários - contra-riando a política de vendas da Companhia - conseguiram reunir vários lotes rurais e formar fazendas, mas onde isso ocorreu em número . maior a comunidade próxima estacionou. A razão do êxito das cidades do norte do Paraná está na pequena propriedade dirigida pelo seu dono,que nela reside e vai gastar o produto de seu trabalho na povoação mais próxima. Não é o grande proprietário que interessa, pois este geralmente mora nas grandes cidades, onde aplica os lucros obtidos em suas lavouras"...

A concretização do plano de colonização da região do Norte Novo do Paraná teve seu início com a chegada da primeira expedição da CTNP, em 21 de agosto de 1929, na localidade denominada Património Três Bocas, onde fora instalado o primeiro posto avançado da companhia que, cinco anos mais tarde, ensejou a criação do Município de Londrina, em 3 de dezembro de 1934.

Antes de aportar a essa localidade, a CTNP já tinha adquirido 515 mil alqueires de terra e a maior parte das ações da Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná, fato que evidencia o aspecto multissetorial do plano de colonização agrário exportador.

Com a posse e demarcação dessa extensão de terras localizadas, grosso modo, entre as margens esquerda dos rios Tibagi.e Paranapanema e a margem direita do Rio Ivaí, iniciou-se a propaganda, em ampla escala, para a venda dos lotes, cujo sucesso atraiu para a região pessoas de várias localidades do Brasil e de outros países. Nesse movimento progrediram, no âmbito não-agrícola, o grande negócio imobiliário e o transporte ferroviário da madeira e da produção de café. A linha férrea chegava apenas até a cidade de Cambará-em 1928, sendo estendida em 1943, em 269 km a oeste até a cidade de Apucarana, e posteriormente, em 1973, até a cidade de Cianorte. O pequeno negócio não-agrícola de transporte de passageiros também pode florescer nesse período, pois um dos principais negócios empresariais da atualidade do norte do Paraná teve seu início

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num modesto empreendimento associado ao transporte rodoviário de imigrantes.

No contexto agrário, segundo o relato do jornalista Rubens Rodrigues dos Santos, organizador do livro citado, o plano de constituir uma agricultura de caráter difuso, usando-se o jargão atual, assentava-se no dimensiona-mento dos lotes de 10, 15 ou 20 alqueires paulistas, dispostos de forma contígua e limitados na frente pelas estradas de acesso (situadas ao longo dos espigões) e ao fundo por um ribeirão. Próximo ao riacho, localizavam-se de forma alinhada o quintal doméstico e a moradia, com o objetivo de suscitar a formação de uma comunidade, tanto para desfavorecer o isola-mento das pessoas como para facilitar o trabalho em mutirão, principal-mente na colheita do café, cuja lavoura situava-se nos talhões mais altos do lote.

O delineamento das atividades agrícolas completava-se com a localização de chácaras, circunvizinhas aos perímetros urbanizados das cidades e dos pequenos núcleos habitacionais do meio rural., com a finali-dade de abastecer o mercado local com produtos hortifrutigranjeiros.

Essa sumária descrição de algumas diretrizes que nortearam a concepção "ocupação das terras do Norte Novo do Paraná" permite concluir que, diferentemente do projeto original, no qual os trabalhadores assalariados prevaleceriam numericamente na população local, a iniciativa da colonização atrelada a uma atividade agrária exportadora logrou compor uma população pioneira heterogénea, integrada por trabalhadores . assalariados, capitalistas, produtores simples de mercadoria (agricultura familiar) ou, ainda, empregadores, empregados e conta-própria, segundo a terminologia usual na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio -PNAD -, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

A heterogeneidade presente na ocupação pioneira vai além dessa descrição efetuada com base na posição social ou na ocupação e fonte de renda predominante dos habitantes locais, pois mesmo o colono que vendia sua força de trabalho na grande fazenda de café exercia ocupações como conta-própria na produção de alimentos para consumo da família no quintal de seu domicílio, ou mesmo na autoconstrução e manutenção de sua moradia e demais instalações necessárias à produção de café. Da mesma forma, o cafeicultor, proprietário de unidades agrícolas de pequeno porte, que conduzia sua lavoura por conta própria, eventualmente trabalhava por conta de terceiros, nos mutirões e nas trocas de dias de serviço ou mesmo assalariando-se. Adicionam-se a essas formas as demais relações

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de produção fundadas na parceria, na qual o trabalhador se posiciona como meeiro, percenteiro, etc.

Em suma, a imagem que permanece é a que, nas etapas iniciais da colonização do Município de Londrina, assim como da região norte paranaense1 - a atividade agrícola de produção de café, calcada numa tecnologia de alta demanda de mão-de-obra e em um grande número de unidades agrícolas de pequeno porte que conciliavam a produção comercial de café com atividades de autoconsumo - regia a dinâmica das ocupações e da renda da maior parte da população regional. .Ademais, essa via de desenvolvimento económico, calcada na agricultura difusa e aos moldes do que se pode vislumbrar através da implantação de uma reforma agrária maciça, também propiciou o desenvolvimento da terceira cidade do Sul do País, assim como alavancou o adensamento populacio-nal a mais de um milhão de habitantes no que se pode denominar de região metropolitana do eixo Londrina-Maringá.

A ação das políticas de industrialização do País, em particular a política de industrialização da agricultura, que adentra com mais intensi-dade no Estado do Paraná á partir de meados dos anos 70, juntamente com a grande geada de 1975, em conjunto suprimiu a primazia do meio rural, quanto à locação da população, e o predomínio que a agropecuária exercia na geração de ocupação e renda da maior parte da população regional ocupada. Nesse contexto é que, diferentemente do pujante passado da economia cafeeira, observa-se em várias situações nas quais é o dispêndio de renda da população urbana que se desloca temporariamente ou não para o meio rural, que tem sido a fonte de crescimento das ocupações e rendas de importante parcela da população rural.

Metodologia

Amostra

A pesquisa de campo foi reajizada no perímetro do Património Espírito Santo, Município de Londrina, onde também ocorreu a colonização das terras através de pequenos lotes e a cafeicultura como principal fonte de

1 Não somente dessa região e da forma planejada pela CTNP, primeiro porque a área de abrangência dessa companhia não envolvia todas as regiões norte do Estado do Paraná; segundo porque a cafeicultura também avançou para as regiões sul e oeste do estado.

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renda da unidade de produção. Em 1995-96, existiam 307 estabelecimentos agropecuários, sendo a maior proporção do tipo fam i l i a r e f am i l i a r empregador com área inferior a quatro módulos fiscais (48 ha) e valor bruto da produção, vendida inferior ao limite (R$ 27.500,00), para enquadramento de beneficiários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf (Tabela 1 ) .

Com essas informações acerca dos tipos de estabelecimentos agrope-cuários no local da realização da pesquisa, ainda, não é possível comprovar a presença de pluriatividade nas famílias residentes. Isso ocorre porque no levantamento de campo feito pelo Censo Agropecuário de 1995-96 são excluídas da amostra as chácaras de recreio ou moradias rurais, pois a unidade pesquisada é o estabelecimento agropecuário e não as famílias residentes.

Os 60 domicílios entrevistados foram sorteados em uma listagem de nomes de moradores (chefe da família), fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde que possuía um cadastro das famílias residentes no perímetro do referido património. Antes do sorteio da amostra, foram retirados do cadastro todos os domicílios cujo endereço estava no perímetro urbano do património, identificado por ruas, avenidas e rodovias cujo traçado passa pelo períme-tro urbano.

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O período de referência da pesquisa foi a última semana de setembro de 2001, o mesmo período em que o IBGE fez o levantamento da PNAD. Os dados foram levantados com questionário estruturado, por meio de entrevistas diretas com os moradores da área rural. No questionário, foram registrados os dados dos domicílios, referentes às ocupações e à renda de todas pessoas nas atividades agrícolas e não-agrícolas.

Resultados da pesquisa de campo

Características gerais da amostra de domicílios

A pesquisa de campo constatou que nos 60 domicílios residiam 237 pessoas, incluindo os agregados, perfazendo a média de quatro pessoas por residência/domicílio (Tabela 2).

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Na totalidade dos residentes dos domicílios, verificou-se que o núme-ro de homens é superior ao das mulheres em 15%. Considerando-se o universo de pessoas residentes, verificou-se que mais de 2/3 são economicamente ativas para a execução dos trabalhos agrícolas e não-agrícolas, ou seja, estão dentro do limite de 14 a menos de 65 anos de idade. Entretanto, existe proporção significativa (27,1%) dos residentes que estão abaixo de 14 anos de idade e que, na maioria das vezes, dedicam a maior parte do seu tempo à atividade escolar. Essa é facilitada pela presença de escolas nos bairros rurais distantes e também pelo transporte escolar, dos jovens e adultos, realizado pelo poder público municipal até o distrito onde se localizam as séries escolares mais avançadas.

O nível de alfabetização da população residente, com 7 anos e mais de idade, foi analisado considerando-se dois aspectos: os analfabetos e os alfabetizados que frequentaram a escola, concluindo ou não as respectivas séries escolares. Os analfabetos (6,1%) e os semi-analfabetos (4,7%) representam 10,8% da referida população, idênticos aos percentuais encontrados para o Município de Londrina (Censo...,1994). Entre os alfabetizados (89,2%) ocorre disparidade entre os níveis de instrução, haja vista que existem pessoas que não concluíram o primeiro grau, enquanto outras têm o curso superior completo. Portanto, o destaque está centrado naquelas pessoas que iniciaram e não completaram as séries escolares, pois totalizam 62,8%, enquanto as demais (26,2%) concluíram, em ordem decrescente, 2S grau, 1º grau e curso superior. Verificou-se que, entre as pessoas residentes com 7 anos ou mais de idade, alcançava-se a média de 5,8 anos de escolaridade. A constatação de que a maior parcela dos alfabetizados que iniciaram e não concluíram seus estudos é de fundamen-tal importância para a elaboração de ações mais efetivas que as existentes - transporte até a sede do Distrito - e que possam privilegiar o referido público na continuidade da formação escolar.

Os dados relativos da distribuição dos domicílios indicam que está ocorrendo transformação significativa na ocupação das pessoas da família, principalmente porque no local da pesquisa sempre foram exploradas atividades com lavouras e criações, pois apenas 50,0% deles ainda estão ocupados com atividade agrícola, 31,7% são pluriativos, 13,3% não-agrícolas e 5,0% não-ocupados (Tabela 3).

O número de pessoas residentes acompanha a mesma ordem de importância relativa dos domicílios e aponta certa disparidade nas proporções de pessoas para cada tipo de família. Dessa forma, o agrícola

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mantém, praticamente, a mesma proporção (50,6%), os pluriativos (35,9%) possuem famílias mais numerosas, e os não-agrícolas (11,0%) e não-ocupados (2,5%) com o menor número de pessoas por família.

A análise da origem da renda familiar mostrou ainda que a maior proporção dos domicílios (51,7%) possui renda advinda das atividades agrícolas. Em segundo lugar, observa-se a importância de outras combi-nações de renda (18,3%), seguida do não-agrícola (16,7%) de aposentado-ria, e de outras rendas (13,3%). O número de pessoas da família, segundo a origem da renda familiar, acompanha a mesma trajetória dos domicílios, ou seja, estão concentradas nas atividades agrícolas (54,9%), seguidas de outras combinações (22,4%). Esse diferencial de apropriação do montante de renda das pessoas, em favor da origem agrícola e de outras combina-ções, atribui-se à existência de maior proporção absoluta de pessoas ocupadas com tais atividades ( 1 3 0 e 53), respectivamente, do que com aquelas denominadas não-agrícolas, aposentadas, e outras.

Na Tabela 4 consta a distribuição dos domicílios segundo o número de residentes, considerando-se as atividades da família na semana de

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referência e a origem da renda familiar. Os domicílios amostrados (60) caracterizam-se pela concentração dos residentes no estrato de 3 a 4 pessoas (36); 5 ou mais (15); seguidos dos que possuem 2 residentes (6); e finalmente apenas 1 residente (3).

A distribuição dos domicílios concentra-se, predominantemente, nos estratos de 3 e mais pessoas residentes, com destaque para aqueles agrícolas de 3 a 4 residentes, seguido dos pluriativos. O segundo estrato mais frequente são aqueles com 5 ou mais pessoas residentes e distribuídas, quase igualmente, entre os domicílios agrícolas e pluriativos.

No tocante à origem da maior proporção da renda familiar, destaca-se igualmente o número de domicílios agrícolas e pluriativos no estrato de 3 a 4 pessoas residentes, enquanto no estrato de 5 ou mais residentes continua a predominância dos domicílios agrícolas (7), seguido de outras combinações (6).

Na Tabela 5, efetuou-se a contagem de pessoas e respectiva distribui-ção nos estratos de residentes por domicílio segundo a atividade da família na semana de referência e a origem da renda familiar.

Constata-se que de 3 a 4 residentes por domicílio é o estrato onde se localiza o maior número de pessoas residentes (131); seguido por aqueles de 5 ou mais (91); de 2 residentes (12); e finalmente por 1 residente (3).

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A frequência das pessoas residentes está concentrada nos estratos de 3 e mais pessoas, principalmente nos domicílios agrícolas e pluriativos. No domicílio agrícola estão presente o maior número de pessoas (120), sendo a maior parte (52,5%) no estrato de 3 a 4 pessoas; e 40,8% nos de 5 ou mais pessoas. No pluriativo 49,4% dos residentes estão no estrato de 5 ou mais pessoas, enquanto 48,2% dos demais residentes localizam-se no estrato de 3 a 4 pessoas.

Em relação à origem da maior proporção da renda familiar destaca-se o estrato de 3 a 4 pessoas com renda agrícola (82); seguido da não-agrícola (28); e outras combinações (17). No estrato de 5 ou mais residentes predomina as pessoas com renda agrícola seguida de outras combinações.

No estrato de 2 residentes por domicílio, a maior proporção da origem da renda familiar é advinda de aposentadoria mais outras, indicando dessa forma que o meio rural está servindo de moradia para tal categoria de pessoas.

A presença de domicílios pluriativos e outras combinações refletem as mudanças que estão ocorrendo na composição da renda das famílias com maior número de pessoas, pois há necessidade de se ocuparem com outras atividades de renda para se manterem no negócio agropecuário, principalmente porque as tecnologias geradas para as atividades de lavouras e criações são cada vez mais poupadoras de mão-de-obra e consequentemente ocupam menos postos de trabalho.

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Escolaridade

Na Tabela 6 consta a frequência relativa dos domicílios com as respectivas atividades da família na semana de referência e a origem da renda segundo a escolaridade dos residentes. Verifica-se que ocorre grande disparidade no nível de escolaridade entre as pessoas residentes, principalmente porque predomina a denominação "outras combinações" (43,3%), ou seja, entre os membros pode ocorrer os que completaram o curso superior, os que cursaram séries diferentes e ainda aqueles que não completaram o primeiro grau. Em segundo lugar, com 31,7%, estão os domicílios que possuem pelo menos 1 membro com segundo grau de escolaridade, depois os que têm 1 membro com o primeiro grau (13,3%), seguido dos que têm 1 com curso superior (8,3%) e somente analfabeto ou semi-analfabeto (3,3%).

O domicílio agrícola é o único que possui somente pessoa analfabeta ou semi-analfabeta, e a maior proporção dos alfabetizados concentra-se com escolaridade denominada outras combinações (60,0%), seguidas daqueles em que pelo menos um membro possui o segundo grau e nenhum acima (20,0%).

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Nos domicílios pluriativos e não-agrícolas ocorre maior dispersão entre os membros que possuem algum grau de escolaridade, pois se concen-tram basicamente onde existem pelo menos um membro com segundo grau e outras combinações.

Nos domicílios de não-ocupados a escolaridade encontra-se mais definida, concentrando-se naqueles que possuem pelo menos 1 membro com curso superior e outras combinações (66,7%).

De forma geral, é possível afirmar que a escolaridade é baixa entre os membros do domicílio, embora ainda prevaleça a maior escolaridade entre os membros dos domicílios não-agrícolas, pluriativos e não-ocupados e com menor grau nos agrícolas.

Em relação à maior proporção da origem da renda familiar dos domi-cílios, destacam-se aquelas advindas de aposentadorias mais outras rendas dos domicílios com outras combinações de escolaridade (50,0%), seguida daqueles com somente analfabetos e semi-analfabetos (25,0%). As de origem agrícola e não-agrícola acompanham a mesma distribuição das atividades da família na semana de referência, enquanto outras combinações de renda concentraram-se entre os domicílios com pelo menos um membro com segundo grau e outras combinações de escolaridade (72,8%).

Em síntese é possível afirmar que a maior proporção da origem da renda familiar dos domicílios com maior escolaridade advém dos não-agrícolas, seguido de outras combinações e agrícola. Ressalta-se a impor-tância das rendas advindas de aposentadorias mais outras dos domicílios com outras combinações de escolaridade e onde somente constataram-se a presença de analfabetos e semi-analfabetos.

Analisando a distribuição dos domicílios, segundo a posição na ocupação da pessoa de referência, constata-se que em apenas três posições estão concentradas 91,7% dos domicílios, sendo em ordem decrescente 48,3% de conta-própria, 26,7% de assalariado e 16,7% de inativo (Tabela 7). Esses últimos, que já representam em torno de 1/5 dos domicílios, é parte integrante do processo de mudança que está ocorrendo no meio rural, onde existem domicílios em que as pessoas residentes não desenvolvem atividades produtivas, ou seja, apenas exercem a função de local de moradia. A maior proporção dos domicílios com algum grau de instrução escolar da pessoa de referência possui escolaridade com até o 1º grauincompleto (55,0%) e com 1º e 2º graus completos (28,3%), cuja posição na ocupação predominam os conta-própria e assalariados.

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Entre os que possuem o menor nível de instrução escolar, ou seja, os analfabetos ou semi-analfabeto (11,7%), estão os conta-própria e assalaria-dos, cuja ocupação é basicamente a agrícola (8,3%), seguida do não-agrí-cola desqualificado e inativo (Tabela 8).

Na última semana de setembro, verificou-se que a principal ocupa-ção da pessoa de referência era agrícola (65,0%), sem ocupação (16,7%) e não-agrícola desqualificado (11,7%), além de possuírem nível de instrução escolar desde os que não completaram o 1º grau até aqueles com até o 2º grau completo de escolaridade.

Levando-se em consideração o grau de instrução escolar e o nível de vida das pessoas residentes no domicílio, nota-se que onde está a maior proporção dos domicílios, com INIVI acima de 0,8 que representa boa condição de vida, também ocorre a maior média de anos de estudo, ou seja, 26,0% até 4 anos de estudo, 50,0% com 4 a 8 anos e 13,3% com 8 anos e mais (Tabela 9).

A localização da ocupação principal da pessoa de referência encontra-se distribuída da seguinte forma: em domicílio (66,0%), no vizinho e local rural (13,2%), distante e urbano (11,3%) e, finalmente, distante e urbano (9,4%). Entretanto, comparando-se tal localização com o nível de instrução da pessoa de referência, tem-se que 84,9% possuem escolaridade até o 2º grau completo, a maior incidência de domicílios (52,8%) encontra-se com 1º grau incompleto e com a localização da ocupação no domicílio (37,7%) (Tabela 10).

Localização

Considerando a totalidade dos residentes nos domicílios, segundo a localização espacial da realização da ocupação principal, constata-se que 55,9% deles o fazem no mesmo local onde residem, seguido daqueles (21,6%) em local distante e urbano (Tabela 1 1 ) .

Nos tipos de domicílio, a distribuição dos residentes, de acordo com o local de realização da ocupação principal, mostra-se bastante distinta dadas às suas especificidades. No domicílio agrícola 3/4 dos residentes realizam a ocupação principal no mesmo domicílio, enquanto uma outra porção é realizada no domicílio do vizinho e na zona rural (12,8%).

No domicílio pluriativo, a maior proporção dos residentes explora atividades na área rural, sendo no mesmo local (47,8%), no vizinho e zona

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rural (19,6%), em local distante e rural (6,5%) e 1/4 restantes em local distante e urbano. Contrariamente aos demais, os residentes do domicílio não-agrícola (60,0%) desenvolvem suas atividades em local distante e no perímetro urbano. No entanto, é de se ressaltar a importância da expansão das atividades não-agrícolas no meio rural, dado que historicamente sempre foram realizadas fora dos limites do meio rural.

A maior proporção da origem da renda familiar está amplamente relacionada com o local onde o residente realiza a sua atividade económi-ca, exceto o caso das rendas advindas de aposentadoria dos não-ocupados. Assim sendo, a renda agrícola é principalmente advinda do domicílio do residente (67,3%), bem como de outras combinações (45,8%) que ainda estão distribuídas na área rural, mas localizadas no domicílio vizinho ou distante.

Em síntese, tem-se os residentes nos domicílios agrícolas e pluriativos que estão com a ocupação principal no domicílio na zona rural, enquanto os não-agrícolas conduzem tal atividade em local distante e na área urba-na. A origem da maior proporção da tenda familiar está associada ao local da ocupação principal, ou seja, agrícola ao local do domicílio e as não-agrícolas ao local distante e no perímetro urbano.

Assim como os residentes exploram a atividade principal na zona rural, sendo principalmente no domicílio e depois no vizinho e em local

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distante, as ocupações secundárias também são realizadas nas mesmas condições proporcionais, ou seja, 67,4% no domicílio, 20,9% em vizinho rural, 9,3% em local distante rural e, finalmente, 2,3% em local distante e urbano (Tabela 12).

Tempo de Deslocamento

Segundo a totalidade das unidades domiciliares, fica evidenciado que, em torno de 2/3 dos domicílios, o tempo de deslocamento ao local de trabalho dispendido pela pessoa de referência não excede a 15 minutos (Tabela 13). No entanto, isto não ocorre linearmente entre os .tipos de domicílio, principalmente porque o não-agrícola se localiza no limite de até 30 minutos, confirmando o distanciamento de tal atividade do domicílio residente. A origem da renda familiar também segue a mesma proporção dos domicílios quanto ao tempo de deslocamento.

Posição na Ocupação

Na Tabela 14 está indicada a posição na ocupação do trabalho principal executado pela pessoa de referência e também a origem da renda familiar. Os domicílios amostrados encontram-se distribuídos da seguinte

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forma: conta-própria (48,3%), empregado assalariado (26,7%), desempre-gado ou inativo (16,7%), empregador (5,0%), empregado doméstico (1,7%) e não-remunerado (1,7%).

Em virtude da distribuição geográfica dos domicílios, das distâncias e formas de deslocamento utilizadas pela pessoa de referência, das oportu-nidades de condução e organização de novas atividades económicas, cons-tatam-se mudanças nas atividades conduzidas, pois sendo predominante a posição na ocupação de conta-própria, as suas atividades já estão concentradas, relativamente, no pluriativo (57,9%), e em segundo plano no agrícola (53,3%). Na posição de empregado assalariado, a principal atividade é a não-agrícola (75,0%) e normalmente realizada fora do domicílio da pessoa de referência. Existem ainda aqueles domicílios cuja posição na ocupação é de desempregado ou inativo e que são importantes, relativamente, destacando-se a atividade de não-ocupado (100,0%), agrícola (20,0%) e em menor proporção os pluriativo (5,3%).

A posição de domicílio empregador pluriativo (10,5%) já se constitui numa importante expansão de atividades conduzidas pela pessoa de refe-rência, constituindo-se dessa forma em negócios, além do agropecuário, que são na maior parte das vezes explorados no limite urbano.

A posição de empregador nos domicílios agrícolas (3,3%) é menos expressiva que a pluriativa, pois são atividades conduzidas em pequenas extensões de terra e/ou instalações para animais, onde a maior parte das operações agropecuárias é conduzida pelos membros residentes do domicílio.

Nos domicílios conta-própria concentra-se também a maior proporção da renda familiar independentemente de sua origem, ou seja, agrícola, não-agrícola, aposentadoria mais outras combinações. Na segunda ordem de importância estão os domicílios, cuja posição na ocupação é de empre-gado assalariado com renda familiar de origem não-agrícola (50,0%) e agrícola (29,0%). E na terceira ordem estão os domicílios dos desemprega-dos e inativos onde a renda familiar tem sua origem na aposentadoria mais outras (25,0%), agrícola (19,4%) e outras combinações (18,2%).

A análise contemplando a distribuição dos domicílios, segundo a posição na ocupação no trabalho principal de todos os residentes, demons-trou que ocorre dispersão entre os mesmos, decorrentes da ampliação de novas atividades assumidas pelos membros residentes do domicílio. Esse fato associa-se à necessidade de obtenção de renda dos membros residentes

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no domicílio, visto que aquelas tradicionais atividades ligadas à agricultura não estão sendo suficientes para manterem-se no negócio. De forma geral, três posições na ocupação dos domicílios abrangem a maior parte delas, ou seja, 83,5% estão representadas pela junção de empregado assalariado com conta-própria (42,8%) e por desempregado ou inativo (40,7%) (Tabela 15).

A predominância dos domicílios com posição na ocupação de desempregado ou inativo também se verifica quanto à origem da renda familiar, seguindo a ordem relativa decrescente: aposentadoria mais outras; agrícola; outras combinações e não-agrícola. As outras posições que se destacam são os empregados assalariados com renda não-agrícola (34,4%) e conta-própria com aposentadoria mais outras (31,3%).

Ocupação

Na Tabela 1 6 estão indicados os dados sobre a distribuição dos domi-cílios, segundo a qualificação da posição da ocupação no trabalho principal da pessoa de referência. A totalidade dos domicílios concentra-se na posi-ção da ocupação agrícola (78,0%), seguido do não-agrícola desqualificado (14,0%), não-agrícola qualificado (6,0%) e outras ocupações (2,0%).

No domicílio pluriativo, a maior proporção da ocupação nas ativida-des são aquelas relativas à agrícola (83,3%), seguido do não-agrícola desqualificado (16,7%). Essa não-qualificação está associada às operações efetuadas na condução da atividade, por exemplo: serviço de construção civil não-exclusivo, ambulante em geral, etc, que as pessoas o fazem naturalmente no dia-a-dia.

No domicílio não-agrícola, a posição na ocupação predominante é não-agrícola desqualificado (50,0%), complementado com não-agrícola qualificado (37,5%) e outras ocupações (12,5%). Nesse domicílio já ocorre uma maior aproximação relativa dos qualificados, visto que, normalmente, trata-se de uma atividade totalmente diferente daquela usual realizada pelos agricultores, pois a condução e a organização do negócio fundamen-tam-se em elementos advindos da formação escolar e profissional.

O domicílio, cuja posição na ocupação são agrícolas, detém a maior proporção da renda familiar em relação as demais, sendo a sua origem na aposentadoria mais outras (100,0%), de outras combinações (88,9%) e de agrícola (88,0%).

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A maior proporção da renda de origem não-agrícola encontra-se dispersa nas ocupações não-agrícola desqualificada (40,0%), agrícola (30,0%), não-agrícola qualificada (20,0%) e outras ocupações (10,0%).

Na Tabela 17 consta a distribuição dos domicílios segundo a qualifi-cação da ocupação no trabalho principal de todos os residentes. Comparan-do-se a totalidade da distribuição dos domicílios da pessoa de referência com os de todos os residentes, verifica-se que, neste último, existe uma maior dispersão para outras ocupações, dado o diferencial na qualificação e na posição na ocupação das demais pessoas. Assim, ocorreu diminuição relativa somente na ocupação agrícola, enquanto nas demais houve acrés-cimo, com destaque para o não-agrícola desqualificado e outras ocupações.

O domicílio pluriativo está distribuído principalmente na ocupação agrícola (59,6%), seguido do não-agrícola desqualificado, não-agrícola qualificado e outras ocupações. Constata-se que ainda é incipiente (11,5%) nos domicílios o uso de pessoas qualificadas para o desenvolvimento das atividades.

Rendas Agrícolas e Não-Agrícolas das Famílias Rurais 231

A distribuição do domicílio não-agrícola entre as ocupações encontra-se, predominantemente, concentrada na posição não-agrícola e com destaque para as pessoas desqualificadas (46,2%), seguidas das qualificadas (38,5%) na condução das atividades. A maior proporção da origem da renda familiar advém da posição agrícola, exceto para os de origem não-agrícola que concentre naquelas pessoas desqualificadas.

A Tabela 18 mostra a distribuição das ocupações da pessoa de referência na semana, segundo a posição na ocupação, ou seja, inseriu-se na análise o aspecto da qualificação ou não das ocupações. De forma global, a pessoa de referência está ocupada com agrícola (65,0%), sem ocupação (16,7%), não-agrícola desqualificado (11,7%), não-agrícola qualificado (5,0%) e outras ocupações (1,7%). Dessa forma, considerando-se a agrícola e a não-agrícola desqualificada, constata-se que % da execução das operações nas atividades são efetuadas sem qualificação. A pessoa de referência, cuja posição na ocupação é de conta-própria

232 O Novo Rural Brasileiro

(43,3%) e assalariado (15,0%), concentra a ocupação agropecuária, através de tarefas executadas com pessoas sem qualificação, ora pelo fato da não-necessidade ora pela inexistência de condições de contratação e/ou qualificação dos recursos humanos.

Pluriatividade

As famílias foram classificadas de acordo com a ocupação exercida durante a semana de referência (última de setembro de 2001) e relacionadas com a escolaridade média (anos de estudo) das pessoas residentes no domicílio. De forma geral, constata-se que predomina a escolaridade média até 8 anos de estudo onde estão 86,7% dos domicílios, sendo distribuídos em 30,0% até 4 anos e 56,7% entre 4 e menos de 8 anos de estudo entre os residentes (Tabela 19). Considerando-se que a maior proporção (86,7%) dos domicílios possui escolaridade média até 8 anos de estudo, verifica-se que o principal tipo de família é o agrícola, que possui 46,6% dos domicílios; seguido das famílias pluriativas com 26,7%, com destaque para a classificação agrícola + não-agrícola desqualificada 'com 16,6%; famílias não-agrícolas com 10,0%, sendo 6,7% de não-agrícola desqualificada; e, finalmente, 3,3% de famílias não-ocupadas. Quando se considera a escolaridade de 8 anos ou mais, destacam-se as famílias pluriativas (5,0%), pois desenvolvem atividades que normalmente exigem maior escolaridade.

Rendas Agrícolas e Não-Agrícolas das Famílias Rurais 233

Apesar de a maior proporção dos residentes possuir até 8 anos de estudo, ainda predomina a ocupação agrícola associada à atividade desqualificada, ou seja, nesta são executadas operações que estão ligadas principalmente ao trabalho manual e/ou com instrumento de trabalho de fácil manuseio.

Na Tabela 20, verifica-se maior dispersão da distribuição dos domicílios, segundo o tipo de família e a escolaridade das pessoas

234 O Novo Rural Brasileiro

residentes no ano de referência, comparativamente à semana de referência (Tabela 19). Essa constatação decorre de que há mais possibilidade de os residentes se ocuparem em outras atividades no ano, conduzidas nos demais meses, e que nem sempre são coincidentes com a semana de referência, por exemplo, colheita das culturas de verão, que são realizadas nos primeiros meses do ano. Com isso, ocorreu um deslocamento relativo da família agrícola para a pluriativa entre aqueles domicílios com escolari-dade até 4 anos, principalmente no tipo pluriativa agrícola + agrícola, e no de 8 anos e mais de estudo no tipo pluriativa agrícola + não-agrícola. Entretanto, nos domicílios com escolaridade média de 4 a menos de 8 anos de estudo, não se alterou a participação das famílias agrícolas, enquanto houve aumento relativo da pluriativa, com destaque para agrícola + não-agrícola, decorrente da diminuição das famílias de não-ocupados e da não-agrícola. Em síntese, no ano existe maior possibilidade de os residentes se ocuparem em atividades diferentes daquelas que ocorrem na semana de referência. Os maiores destaques são: a participação relativa da família

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agrícola que não se modifica com os residentes de escolaridade até 8 anos de estudo, enquanto a família pluriativa concentra-se naqueles residentes com maior grau de escolaridade, ou seja, de 8 anos e mais, principalmente pela maior complexidade na execução das atividades não-agrícolas.

Na Tabela 21 está demonstrada a importância da pluriatividade da família na semana de referência, mensurada através da proporção de renda não-agrícola. Dessa forma, considerando-se todos os tipos de família, constata-se que 70,0% dos domicílios possuem até 25% de renda não-agrícola, 13,3% entre 25% e 50% e, finalmente, 16,7% com mais de 50% da renda não-agrícola. Este último mostra que 1/6 dos domicílios agrícolas já possui a maior proporção da renda de atividade não-agrícola.

236 O Novo Rural Brasileiro

Considerando-se as proporções da renda não-agrícola no domicílio é possível identificar dois movimentos: o primeiro, onde predomina as famí-lias agrícolas e em menor proporção a pluriativa com até 50,0% da renda não-agrícola dos domicílios; e o segundo, onde mais de 50,0% da renda não-agrícola são de famílias não-agrícolas (11,7%) e pluriativas (5,0%).

Na Tabela 22 verifica-se a mesma proporção da renda não-agrícola no domicílio no ano, indicada na semana de referência. No entanto, quando se analisa a proporção para cada tipo de família, considerando-as com inativos com renda e também só com inativos sem renda, nota-se forte concentração em favor daquelas com pessoas inativas, mas que possuem renda de outras fontes, independentemente da faixa de proporção de renda.

Na Tabela 23 está indicada a proporção de outras fontes de renda na composição da renda total, segundo o tipo de famílias executadas na semana de referência. Constata-se que está ocorrendo mudança na composição da renda total das famílias, pois a origem da renda está em

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processo de transição, da tradicional fonte, que são as atividades agrope-cuárias, para outras fontes de renda, que podem ou não ser obtidas em atividades somente no âmbito do domicílio dos residentes. De forma geral, 3/4 das famílias possuem até 25,0% da renda advinda de outras fontes, enquanto 1/4 está acima do referido percentual.

A fonte de renda entre os tipos de família não se forma linearmente, ou seja, compõe-se de proporções diferentes em virtude das especificidades das atividades dos integrantes da família. Assim, enquanto as famílias agrícolas, pluriativas e não-agrícolas possuem a maior proporção da renda (até 25,0%) de outras fontes, a família não-ocupada concentra-se no montante de mais de 50,0%. Há que se considerar ainda que, entre as

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famílias agrícolas (8,3%) e pluriativas (1,7%), existem aquelas que também possuem proporções (mais de 50,0%) de outras fontes de renda.

Esses montantes revelam a importância de tal composição da renda, pois tal mudança ao mesmo tempo em que amplia as opções para obtenção de renda traz modificações na organização das atividades agropecuárias conduzidas pelos membros residentes no domicílio.

Na Tabela 24 está indicada a pluriatividade da família no ano, mediante a proporção de outras fontes de renda em relação ao total da renda da família. No ano, a proporção total da renda de outras fontes (até 25,0%) da família agrícola aumentou em relação à semana de referência, a pluriativa manteve-se, enquanto a não-agrícola e a não-ocupados reduzi-ram a participação relativa. Considerando-se a família agrícola, com presen-ça de inativos com e sem renda, verifica-se que mais de 3/4 da renda de outras fontes (até 25,0%) advêm das famílias com inativos que possuem rendas e 1/4 das famílias só inativas sem renda. Entretanto, a proporção de outras rendas (25,0% a 50,0%) da família agrícola e pluriativa são

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totalmente advindas daquelas com a presença de inativos com renda: Finalmente, a predominância da proporção de outras rendas (mais de. 50,0%) ocorre na família agrícola (10,0%), sendo com inativos com renda (8,3%) e só inativos sem rendas (1,7%), enquanto na família de não-ocupados existe somente com inativos com renda (3,3%).

Na Tabela 25, está indicado que a maior proporção da fonte de rendimento do domicílio é aquela em que consta o rendimento de todas as ocupações (73,5%), seguido da renda agrícola (40,4%), das não-agrícolas (31,3%), de ocupações secundárias (9,3%) e de outras fontes (5,8%). Assim, é importante destacar que as Ornas já representam quase 1/3 da fonte de rendimento total dos domicílios.

Despesas

Na Tabela 26 está indicada a totalidade das despesas por tipo de família e origem. Considerando-se as gerais e as transferências de renda, a relação despesa/rendimento é de 7,0%. Por um lado, constata-se que em termos absolutos a família de não-ocupado é a que possui a maior despesa per capita (R$ 1.743,60) e também a maior relação despesa/ rendimento (1 7,7%). Por outro, é na família agrícola onde ocorre a menor despesa per capita (R$ 150,74) e, também, uma das menores relações despesa/rendimento (4,9%), juntamente com a não-agrícola (4,3%), relativamente aos demais tipos de famílias.

240 O Novo Rural Brasileiro

Em relação à origem da rnaior pr-oporção da renda familiar, destaca-se a superioridade da aposentadoria mais outra renda no montante geral, ou seja, em termos absolutos da despesa per capita (R$ 705,64) e na relação despesa/rendimento (14,0%). Com isso, fica evidenciado que a maior proporção da origem da renda, advinda de aposentadoria mais outra, é maior 3,57 vezes à agrícola, 2 , 1 4 vezes à não-agrícola e 1 , 5 7 vez às outras combinações.

Na Tabela 27 estão dispostos os itens que compõem as despesas totais (gerais e transferências) segundo os tipos de família. Considerando-se a totalidade dos tipos de despesas, em quatro dos oito tipos concentram-se 83,3% do total, sendo reparos e manutenção (32,8%), energia elétrica (19,8%), remessas e/ou transferências (16,7%) e mão-de-obra (14,0%).

Os tipos de família apresentam especificidades em relação à composição das despesas, dado o nível de envolvimento com as atividades produtivas ou não. O item qde compreende reparos e manutenção é o que apresenta as maiores participações relativas na composição total das despesas para todos os tipos de família, ou seja, 45,6% no agrícola, 34,7% no não-agrícola e 34,5% no pluriativo, exceto para ó não-ocupado que

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concentra em torno de 3/4 da despesa em remessas e transferências. As despesas com reparos/manutenção e com energia elétrica são cobertas na sua maior proporção com a renda advinda de origem agrícola, não-agrícola e outras combinações; ao passo que as remessas e transferências de recursos realizados pelo tipo de família não-ocupado, na sua maior proporção, são feitas com rendimentos de origem de aposentadorias e outras (68,7%). No tipo de família não-ocupado, a mão-de-obra representa 32,1% das despesas totais, e a maior proporção dos rendimentos da renda familiar é de origem de atividades não-agrícolas.

Rendimento

Na Tabela 28 estão indicados os valores da renda monetária média e mediana dos domicílios, segundo a composição advinda do trabalho, de outras fontes, dos inativos e do autoconsumo estimado. Para efeito das análises seguintes sobre os rendimentos dos domicílios será utilizada, principalmente, a renda mediana dado que essa medida de tendência central expressa com maior precisão os valores nos domicílios. Esse critério minimiza o efeito daquelas rendas que destoam da maior frequência da-população (outlier), explicitando quão pobre é a maioria dos domicílios, ou ainda dá a ideia da linha que separa os 50,0% mais pobres. Assim, verificou-se que os valores absolutos da renda mediana são sempre inferiores aos encontrados na coluna da renda média. Constata-se que todos os domicílios possuem renda domiciliar mediana superior ao agrícola, ou seja, o pluriativo (94,9%), o não-agrícola (90,7%) e o não-ocupado (89,3%). Ao passo que, pela renda domiciliar total média, o domicílio agrícola é superior ao pluriativo em 0,5%, e inferior ao não-agrícola e ao não ocupado em 40,8% e 40,3%, respectivamente. Com isso, caracteriza-se uma discrepância no montante da renda mediana total, entre os tipos de família, onde a renda mediana agrícola é bastante inferiores às demais famílias. Entretanto, a renda domiciliar total é advinda na sua maior proporção de origem não-agrícola (R$ 11.073,00) e de outras combinações (R$ 9.827,00).

Constata-se que a composição da renda dos domicílios está inserida num processo crescente de mudanças, dado o surgimento de rendas entre os residentes do domicílio, que não são oriundas somente da ocupação na atividade agrícola, por meio do trabalho direto dos residentes. Verifica-se que persiste a predominância da renda advinda do trabalho (73,6%), sendo

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complementada pelas demais da seguinte forma: autoconsumo estimado (12,2%); inativos (8,4%) e outras fontes (5,8%). Considerando-se o montante da renda domiciliar média anual, verifica-se que o total é de R$ 1 2.282,55, a renda líquida perfaz um montante de R$ 11 .422 ,81 e a renda líquida per capita R$ 3.541,79, ou, convertendo tais valores em dólares (R$ 3,50), tem-se U$ 3.509, U$ 3.263 e U$ 1 . 0 1 2 , respectivamente.

A aná l i se efetuada, levando-se em consideração a origem da composição da renda domiciliar, segundo os tipos de família, indica diferenças importantes decorrentes das características inerentes a cada um deles e que são determinantes no processo de formação da renda (Tabela 29).

A origem da renda advinda do trabalho é a mais significativa para o tipo de família não-agrícola, pluriativo e agrícola, enquanto para os não-ocupados são assegurados os benefícios sociais públicos aos inativos.

A diferença entre a origem da renda domiciliar das famílias agrícola e pluriativa com o não-agrícola é decorrente do tempo que é dedicado à execução da atividade, em que normalmente a ocupação em atividade não-agrícola ocorre com dedicação exclusiva e fora dos limites do domicílio ao qual pertence, caso dos assalariados na área urbana.

No caso da família agrícola, existem ainda as rendas advindas de outras fontes (6,6%) e de inativos (2,6%), que são decorrentes da queda na

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renda agropecuária, ocorrida nas últimas décadas, e da necessidade de buscar novas fontes de renda para garantia da continuidade do negócio, além da presença de pessoas aposentadas entre os residentes.

A renda média do autoconsumo estimado (R$ 183,88) da família não-agrícola é inexpressiva, comparativamente aos demais domicílios, em virtude de que tal domicílio está quase na sua totalidade voltado às ativida-des fora do âmbito da agropecuária, pois se utiliza em menor proporção de produtos produzidos pelos residentes.

O tipo de família agrícola é o que apresenta a menor renda mediana domiciliar per capita total (R$ 1.480,10), enquanto o não-ocupado, o não-, agrícola e o pluriativo são superiores à agrícola em 204,8%, 99,3% e V,95%, respectivamente. Analisando a origem da renda mediana familiar per capita total, verifica-se que a sua maior proporção é advinda de atividades não-agrícola (R$ 3.204,92), seguida de outras combinações (R$ 2.947,50), de aposentadoria mais outras (R$ 2.586,50) e finalmente das agrícolas (R$ 1.402,00).

A renda mediana domiciliar do trabalho é a principal fonte de renda dos tipos de família, exceto para os não-ocupados. A renda do trabalho no tipo agrícola apresenta-se com a menor expressão absoluta (R$ 3.421,00),vsendo maior que ela, relativamente, o tipo não-agrícola em 141,7% e o pluriativo em 117,3%. A origem da renda mediana do trabalho advém principalmente das atividades não-agrícolas (R$ 9.750,00), seguida da agrícola (R$ 5.088,00) e de outras combinações (R$ 4.275,00). Esse diferencial demonstra o crescimento e a importância exercida pelas rendas advindas do trabalho exercido em atividades fora da agropecuária pelos membros residentes no domicílio.

O tipo de família pluriativo possui renda domiciliar média de outras fontes (R$ 974,73) superior aos demais tipos agrícola (R$ 715,87), não,-ocupado (R$ 400,00) e não-agrícola (R$ 150,00). A origem da maior proporção da renda média é, predominantemente, de outras combinações (R$ 2.680,00) e de aposentadoria mais outras (R$ 2.082,50), porém na agrícola constatou-se renda negativa, ou seja, tal atividade não está mantendo a renda tanto quanto as outras. A superioridade do montante de rendas fora da agricultura demonstra, por um lado, o crescimento dessas atividades, onde existe pelo menos uma pessoa da família ocupada com tais atividades e, por outro, a incapacidade das atividades agrícolas manterem o nível de renda do domicílio.

246 O Novo Rural Brasileiro

A renda domiciliar média dos inativos é a que possui a maior dispersão absoluta de rendimentos, predominando aqueles advindos da família de não-ocupado (R$ 15.152,00) , enquanto o pluriativo é de R$ 429,47, e o agrícola, R$ 288,00. Essa amplitude de rendimentos de inativos demonstra a importância que eles possuem na composição da renda familiar dos residentes no domicílio.

O tipo de família pluriativo é o que possui a maior renda mediana domiciliar do autoconsumo, estimado (R$ 880,00), sendo que o não-ocupado é de R$ 432,00, o agrícola de R$ 376,00 e o não-agrícola de R$ 155,50. Constata-se que a origem da renda mediana de autoconsumo estimado é representada por outras combinações (R$ 2.678,00), ervquanto as de origem agrícola e não-agrícola representam em torno de 1/7 daquele total.

Em termos absolutos, a renda mediana líquida domiciliar da família agrícola (R$ 4.747,00) é o menor montante em relação aos demais, sendo-lhe superior relativamente o não-ocupado (80,8%), o não-agrícola (77,1%) e o pluriativo (58,8%). Em relação à origem da renda mediana líquida tota l , ve r i f i ca -se que a maior proporção advém da não-agrícola (R$10.445,0.0), de outras combinações (R$ 8.581,00), da agrícola (R$ 5.191,00) e, finalmente, de aposentadoria mais outras (R$ 4.259,00).

Ao analisar a renda mediana líquida domiciliar per capita, verifica-se a mesma distribuição da renda mediana líquida total, ou seja, a família agrícola representa o menor montante (R$ 1.369,38), sendo-lhe superior o não-ocupado (163,8%), o não-agrícola (95,6%) e o pluriativo (79,1%). Em relação à origem da renda familiar, constata-se também que a agrícola possui a menor proporção (R$ 1.402,00), enquanto as demais são superiores, isto é, a não-agrícola em 114,6%, outras combinações em 93,6% e aposentadoria mais outras em 75,7%.

Na Tabela 30, constata-se que, afora os 1/3 dos domicílios que não declararam rendimentos e aqueles 7,4% entre 1 e menos de 2 salários mínimos, os demais estão distribuídos equitativamente nas demais faixas de renda per capita. Verifica-se que 1/3 deles possui até 5 salários e os 2/3 restantes na faixa de renda per capita, de 5 ou mais salários mínimos.

Com o intuito de verificar a relação entre o montante de rendimento do domicílio e sua localização espacial, comparou-se o rendimento anual da ocupação principal da pessoa de referência com a respectiva localização. Considerando a totalidade dos domicílios, é relevante destacar que 88,8% do rendimento está nas faixas de 2 salários mínimos e mais,

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com destaque para aquela de 20 ou mais (49,1 %). Tal comparação mostrou que a maior parte de todo o rendimento da ocupação está localizado no domicílio (66,0%), sendo 60,3% dos domicílios concentrados na faixa de rendimentos de 2 a 20 salários mínimos (Tabela 3 1 ) .

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Na Tabela 32, toma-se apenas a ocupação na semana da pessoa de referência. Verifica-se que a maior concentração da origem dos rendimen-tos (65,0%) está na ocupação agrícola, seguida dos sem ocupação (16,7%).

Na Tabela 33 está indicado o tipo de atividade da família na semana de referência, segundo as faixas de rendimento anual per capita. Aqui fica evidenciada a quanto às demais pessoas da família executam outras ativida-des, pois a agrícola (50,0%) ainda é a maior participação relativa, embora menor que a pessoa de referência (Tabela 32), seguida dopluriativo (31,7%), não-agrícola (13,3%) e não-ocupados (5,0%). Por outro lado, no rendimento anual per capita da família ocorre um deslocamento para as faixas inferiores a 5 salários mínimos.

Quando se analisa o tipo de ocupação da família no ano de referência segundo o rendimento anual per capita, constata-se que ocorre maior dispersão e mudança na composição relativa do rendimento anual envolvendo todos tipos de atividades (Tabela 34). Dado que durante os meses do ano é maior a possibilidade de execução de outras atividades, diferentes da agrícola, constata-se a predominância do pluriativo (45,0%), seguido do agrícola (40,0%), do não-agrícola (11,7%) e do inativo (3,3%). Portanto, a mudança na composição foi acompanhada também na mesma dimensão com o rendimento per capita, ou seja, enquanto'no pluriativo

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houve expressivo aumento de tal rendimento, nos demais ocorreu retração (agrícola, não-agrícola e inativo).

No domicílio ficou evidenciado que existe grande variabilidade de formas de rendimento do trabalho ou não, mas ainda persiste que a principal fonte de rendimento é aquela advinda da ocupação principal (64,3%), do autoconsumo (12 ,3%) , das ocupações secundárias (9,3%) e de aposentadorias (8,8%), enquanto as demais se apresentam com pouca expressividade (Tabela 35).

Na destinaçãó dos rendimentos, ainda predomina aquela que é feita somente para o fundo de renda da família (50,0%), seguida para uso próprio (28,6%), e a combinação entre uso próprio e para o fundo de renda da família (21,4%) (Tabela 36).

Através desses dados, fica evidente o processo de mudanças que estão ocorrendo no núcleo familiar, ou seja, daquele período em que os

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recursos eram administrados apenas por um responsável para outra forma, aonde cada residente vai efetuando a sua própria destinação dos recursos advindos do rendimento das ocupações a que estão envolvidos, apesar de residirem no mesmo domicílio. Essa forma de destinação dos recursos caminha cada vez mais para o fracionamento das ocupações no domicílio, contribuindo para a individualização na condução da mesma. Historicamente, tínhamos um domicílio com todos os residentes ocupando-se com as mesmas atividades do responsável, e atualmente essa organização familiar está em fase de mudanças rápidas, pois os residentes possuem ocupações distintas, principalmente porque são autónomos na destinação dos rendimentos.

Na Tabela 37 está indicado o índice de Gini, mensurando o nível de concentração das fontes de rendimentos das pessoas residentes no

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domicílio. Constata-se que entre as fontes existe certa similaridade na distribuição dos rendimentos, considerada como concentração média, sendo em ordem decrescente a dos inativos (0,588), do trabalho (0,558) e de outras fontes (0,510). O maior índice entre os inativos explica-se pela variabilidade do valor absoluto dos rendimentos, dado que foram encontradas pessoas residentes que recebem um salário mínimo e outras que eram funcionários de empresas estatais e que se aposentaram com salário integral.

Bens e Instalações

Na Tabela 38 estão demonstrados os dados dos domicílios referentes à sua qualidade e posse de bens domésticos, que são representados pelos materiais utilizados nas construções de moradia, fonte de água, destino do lixo e do esgoto e posse de eletrodomésticos. De forma geral, os tipos de domicílios apresentam condições variadas e que são atribuídas à menor intensidade de presença de algumas condições consideradas para tal. O freezer é entre os bens domésticos o que se encontra com baixa frequên-cia em todos os tipos de domicílios e que, dependendo da atividade econó-mica realizada, pode fazer a diferença no desenvolvimento da mesma, em função de sua utilidade na conservação dos alimentos que são produzi-dos. A presença de rede geral ou fossa séptica encontra-se com menor proporção, abaixo de 2/3 dos domicílios, naqueles do tipo agrícola e de não-ocupado, principalmente pela não-conscientização dos seus malefícios à saúde e também devido à distância e extensão das áreas circundantes aos domicílios. A presença de telefone nos tipos de domicílio está acima de 2/3, exceto no agrícola (36,7%), dada a baixa interação das suas atividades com o mercado de produtos.

Em relação à origem da renda familiar, é importante destacar que nos domicílios onde a presença de freezer é baixa, eles também se apro-priam da menor proporção da renda, exceto aqueles cuja origem da renda é de outras combinações (81,8%). Nos domicílios onde a presença de telefone é baixa, menor de 2/3, ocorre que 63,6% deles têm sua fonte principal em outras combinações, 48,4% na agrícola e 37,5% na aposenta-doria mais outras fontes. Destacam-se ainda aqueles domicílios com menor presença de rede geral ou fossa séptica (37,5%), cuja origem da renda é de aposentadoria mais outras, confirmando a baixa qualidade dos domicílios.

Rendas Agrícolas e Não-Aqrícolas das Famílias Rurais 253

254 O Novo Rural Brasileiro

Considerações Finais

1) Média de 4 pessoas por residência/domicílio.

2) O número de homens é superior ao de mulheres em 15,0%, sendo o universo de pessoas residentes 69,7% economicamente ativas e 1/4 do total está abaixo de 14 anos.

3) A proporção de analfabetos e semi-analfabetos é idêntica à do Município de Londrina (10,8%) (Censo..., 1994).

4) Entre os alfabetizados, quase 2/3 das pessoas iniciaram e não completaram as séries escolares ( 1 º grau, 2º grau e superior).

5) Inivi (0,8 a 1,0) é predominante nos tipos de família não-ocupado, não-agrícola, agrícola e pluriativo, cuja origem da renda familiar, em ordem decrescente, é não-agrícola, outras combinações, aposentadorias mais outras e finalmente agrícola.

6) Onde o Inivi está entre 0,8 e 1,0, verifica-se que, para todos os tipos de família, a maior participação relativa na composição da renda familiar advém daquela com inativos com renda, compara tivamente com as só inativos sem renda.

7) Alguns bens e instalações domésticas apresentaram-se com baixa frequência para os tipos de família, da seguinte forma: ofreezer para todos os tipos; o telefone para o agrícola; a rede geral ou fossa séptica para o agrícola e o não-ocupado.

8) A baixa frequência do freezer em todos os tipos influenciou negativamente a proporção da origem da renda familiar, exceto para outras combinações.

9) Apenas 50,0% dos domicílios estão ocupados somente com atividade agrícola, seguido do pluriativo (31,7%), não-agrícola (13,3%) e não-ocupado (5,0%).

10)As famílias agrícolas possuem, o maior número de pessoas ocupadas, enquanto a pluriativa é a que possui as famílias com maior número de pessoas.

1 1 ) A maior proporção da renda familiar é de origem agrícola e de outras combinações que também possuem o maior número de

Rendas Agrícolas e Não-Agrícolas das Famílias Rurais 255

pessoas ocupadas, seguidas da não-agrícola e aposentadoria mais outras.

12) No estrato de 2 pessoas residentes por domicílio, a maior proporção da renda familiar é de origem de aposentadoria mais outras, demonstrando que o meio rural já serve de moradia para tal categoria de pessoas.

13) No estrato de 3 a 4 pessoas residentes, predomina o tipo de família agrícola e pluriativo, e a maior proporção da renda familiar é de origem agrícola e não-agrícola.

14)O maior número de pessoas residentes está localizado no domicílio agrícola e pluriativo, nos estratos de 3 a 4 e de 5 ou mais residentes, mas a origem da maior parte da renda é diferente entre tais estratos, ou seja, enquanto no primeiro predomina a origem agrícola seguida da não-agrícola, no segundo é agrícola seguida de outras combinações.

15) Prevalece o maior nível de escolaridade entre os membros dos domicílios não-agrícolas, seguidos do pluriativo e não-ocupado e o menor nível no agrícola.

16) Domicílios com maior escolaridade de seus residentes obtêm maior proporção da renda familiar de origem não-agrícola, seguida de outras combinações e, em última instância, da agrícola.

17) Somente no domicílio agrícola é que se encontram pessoas analfabetas ou semi-analfabetas, cuja origem da renda familiar é especificamente de aposentadoria mais outras.

Família no Ano

1) Nos domicílios com Inivi entre 0,8 e 1,0, ocorre também a maior escolaridade média (4 anos e mais de estudo) dos residentes.

2) Comparando-se a ocupação da família, na semana de referência, com aquelas do ano, segundo o rendimento anual familiar per capita, constata-se mudança na apropriação do rendimento anual, dado que na semana predomina a atividade agrícola (50,0%), seguida da pluriativa (31,7%), enquanto no ano tal posição encontra-se invertida e com acréscimo relativo nos estratos de 2 a 20 salários mínimos na atividade pluriativa.

256 O Novo Rural Brasileiro

3) Comparando-se a proporção da renda não-agrícola com a de outras fontes, segundo a presença de inativos com rendas e só inativos sem renda, constata-se a predominância da renda nos domicílios com inativos com renda.

4) Predomina a escolaridade média até 8 anos de estudo (86,7%), sendo o principal tipo de família o agrícola, seguido das pluriativas agrícola + não-agrícola desqualificada e não-agrícola desqualifi cada.

5) A localização da ocupação principal do domicílio está diretamente relacionada com a atividade, pois a agrícola e a pluriativa são predominantemente realizadas no domicílio e na zona rural, enquanto as não-agrícolas, em local distante do domicílio e na área urbana.

6) Comparando-se a localização da atividade principal com a secundária, constata-se que o domicílio é o local predominante para a realização das duas atividades, enquanto, na segunda posição, verifica-se que a atividade principal é efetuada em local distante e urbano, ao passo que a secundária ocorre em local vizinho e na zona rural.

7) A renda média domiciliar total é de R$ 12.282,55, a renda média líquida perfaz um montante de R$ 11.422,81 e a renda média líquida per capita R$ 3.541,79, e, convertendo-se em dólares (R$ 3,50), tem-se anualmente U$ 3.509, U$ 3.263 e U$ 1 . 012 ,respectivamente.

8) A origem predominante da renda domiciliar anual advém do trabalho para os tipos de família não-agrícola, pluriativo e agrícola, enquanto, para o não-ocupado, tem origem nas aposentadorias e outras rendas.

9) O tipo de família agrícola apresenta a menor renda mediana domiciliar per capita total (R$ 1.480,10), enquanto o não-ocupado, o não-agrícola e o pluriativo são superiores à agrícola em 204,8%, 99,3% e 77,95%, respectivamente.

1 0 ) O tipo de família pluriativo possui renda domiciliar média de outras fontes, superior aos demais tipos agrícola, não-ocupado e não-agrícola, sendo que a origem da maior proporção da renda é, predominantemente, de outras combinações e de aposentadoria mais outras.

Rendas Agrícolas e Não-Agrícolas das Famílias Rurais 257

11) A renda domiciliar média dos inativos é a que possui a maior dispersão absoluta de rendimentos, predominando aqueles advindos da família de não-ocupado.

12) O tipo de família pluriativo é o que possui a maior renda mediana domiciliar do autoconsumo estimado, sendo a maior proporção originária de outras combinações.

13) A renda líquida mediana domiciliar per capita da família agrícola é o menor montante (R$ 1.369,38), sendo-lhe superior o não- ocupado (163,8%), o não-agrícola (95,6%) e o pluriativo (79,1 %); fato que também se repete em relação à origem da maior proporção da renda agrícola (R$ 1.402,00), já que as demais são todas superiores, ou seja, a não-agrícola (114,6%), outras combinações (93,6%) e aposentadoria mais outras (75,7%).

14) Exceto em 1/3 dos domicílios que não declararam os rendimentos, tem-se que 1/3 deles está localizado na faixa de até 5 salários mínimos de renda per capita, enquanto os outros 1/3 estão distribuídos equitativamente no estrato de 5 e mais salários mínimos per capita.

15) A destinação dos rendimentos da família encontra-se em processo de mudança, ou seja, da forma tradicional, em que apenas uma pessoa administrava os recursos, para outra, em que cada resi dente lhe dá a destinação adequada, apesar de as duas pessoas residirem no mesmo domicílio.

16) 2/3 do rendimento familiar têm como fonte a ocupação principal.

17) As Ornas representam quase 1/3 da fonte de rendimento total dos domicílios rurate.

18) Os tipos de família agrícola e o pluriativo são os que possuem o menor montante absoluto de despesas per capita, ao passo que a maior relação despesa/rendimento está no tipo não-ocupado e pluriativo.

19) O índice de Gini apresentou-se com concentração média para as diversas fontes de rendimento; o maior deles ocorreu com o rendimento dos inativos (0,588).

20) As origens da renda familiar para cobrir as despesas per capita são advindas principalmente de aposentadorias mais outras (R$ 705,64), considerando que esta é superior em 3,55 vezes à

258 O Novo Rural Brasileiro

agrícola, em 2,14 vezes a não-agricola e em 1,57 vez as outras combinações.

21) 83,3% das despesas do domicílio concentram-se em reparos e manutenção, energia elétrica, mão-de-obra e remessas/ transferências, sendo os três primeiros cobertos, principalmente, por renda de origem agrícola, não-agrícola e outras combinações, enquanto para as transferências são utilizadas as rendas de aposentadorias mais outras.

Família na Semana

1) Comparando-se a posição na ocupação do trabalho principal da pessoa de referência com a de todos os residentes, na semana de referência, verifica-se dispersão relativa dos domicílios, pois na pessoa de referência a maior proporção (91,7%) dos domicílios é de conta-própria, empregado assalariado e desempregado ou inativo, enquanto, para todos residentes, 83,1% são totalizados pelos domicílios desempregado ou inativo, de empregado' assalariado e conta-própria. i

2) Considerando-se todos os residentes do domicílio, cuja posição na ocupação é de desempregado ou inativo, a maior proporção da renda familiar é advinda de aposentadoria mais outras, agríco las, outras combinações e não-agrícola.

3) Comparando-se a ocupação no trabalho principal da pessoa de referência com a dos demais residentes, na semana de referên.cia, verifica-se que ocorre diminuição relativa na ocupação agrícola (de 78,0% para 70,9%) em favor da ocupação não-agrícola qualificada (de 6,0% para 9,4%) e para outras ocupações (de 2,0% para 5,1%), embora a maior proporção da renda familiar seja de origem agrícola, exceto para as de origem não-agrícola que se concentram na ocupação não-agrícola desqualificada.

4) Comparando-se a pluriatividade da família na semana de referên cia com a do ano, segundo o nível de escolaridade das pessoas residentes, verifica-se que houve um deslocamento relativo da família agrícola (até 4 e de 4 a menos de 8 anos de estudo) para

Rendas Agrícolas e Não-Agrícolas das Famílias Rurais 259

a pluriativa agrícola + agrícola com escolaridade até 4 anos e, também, daquela para a pluriativa agrícola + não-agrícola com 8 anos e mais de estudo.

5) 70% das famílias possuem até 25% de renda não-agrícola, 13,3% entre 25% e 50% e, finalmente 16,7% com mais de 50% da renda não-agrícola. Com isso, fica evidenciado que 1/6 dos domicílios agrícolas já possui maior proporção da renda advinda de ativida- de não-agrícola.

6) Está ocorrendo mudança na origem da renda total das famílias: 78,3% delas já possuem até 25,0% da renda total advinda de outras fontes, ou seja, além da ampliação das opções de renda, . insere modificações na organização das atividades agropecuárias no domicílio.

Pessoa na Semana

1) A posição na ocupação predominante (83,3%) é de conta-própria, assalariado e inativo, com nível de escolaridade até 2- grau com pleto, cuja ocupação principal é a agrícola, seguida do não- agrícola desqualificado e inativo.

2) Analfabetos ou semi-analfabetos representam 11,3% das pessoas de referência, com a principal ocupação no domicílio, seguida daquelas no vizinho e na área rural.

3) A maior parte do rendimento advém da localização da ocupação no domicílio (66,0%) concentrando-se na faixa de rendimentos de 2 a 20 salários mínimos, com destaque para a faixa de 20 ou mais (49,1%).

4) 96,7% do rendimento total familiar per capita está nas faixas de 2 e mais salários mínimos.

5) Cruzando as informações da ocupação na semana com as do rendimento anual familiar, verifica-se que a ocupação agrícola é a principal fonte de renda (65,0%), seguida do sem ocupação, do não-agrícola desqualificado, do não-agrícola qualificado e outras ocupações, localizadas nas faixas de 2 e mais salários mínimos.

260 O Novo Rural Brasileiro

6) Comparando-se a posição, na ocupação, da pessoa de referência com a ocupação na semana, constata-se que as sem ocupação já representam em torno de 1/6 do total.

7) Predomina a posição, na ocupação, da pessoa de referência o conta-própria agrícola, seguida do inativo sem ocupação, do assalariado agrícola e do assalariado não-agrícola desqualifi cado.

8) De forma geral, em torno de 2/3 dos domicílios, o tempo de deslocamento da pessoa de referência até o local de trabalho não excede 15 minutos, porém o não-agrícola está no limite de 30 minutos.

9) No trabalho principal da pessoa de referência predomina a posição na ocupação de conta-própria pluriativo e agrícola, cuja origem da renda familiar é advinda, na sua maior proporção, de outras combinações, aposentadoria mais outras, não-agrícola e finalmente agrícola.

10) No trabalho principal da pessoa de referência, cuja posição na ocupação é de empregado assalariado não-agrícola, destaca-se a maior proporção da renda advinda de origem não-agrícolá.

11) No trabalho principal da pessoa de referência, cuja posição na ocupação é de desempregado ou inativo não-ocupado e agrícola, destaca-se a maior proporção da renda advinda de aposentadoria mais outras, agrícolas e outras combinações.

12) No trabalho principal da pessoa de referência, cuja posição na ocupação é de empregador pluriativo, constata-se que está em expansão a composição das atividades de renda no domicílio e são realizadas muitas vezes no limite urbano.

13) A posição na ocupação agrícola é predominante para os tipos de famílias agrícola e pluriativa, bem como possuem a maior propor ção da renda familiar advinda de aposentadorias mais outras, outras combinações e agrícola.

14) A posição na ocupação não-agrícola desqualificada é mais frequente no tipo de família de não-ocupado, cuja origem da renda familiar é de não-agrícola.

15) A posição na ocupação de outras ocupações somente se faz presente na família de não-ocupado, e obtém a origem da maior proporção da renda familiar que é a de não-agrícola.

Rendas Agrícolas e Não-Agrícolas das Famílias Rurais 261

Conclusão

Os dados da pesquisa de campo no patrimônio do Espírito Santo, em Londrina, PR, comprovaram as recentes transformações ocorridas no perfil da ocupação das famílias, ou seja, onde tradicionalmente predominava a exploração exclusivamente agropecuária, já existem famílias pluriativas e representam 1/3 do total. Em termos de renda, as de origem não-agrícola representam uma terça parte da renda total dos domicílios, ficando patente a importância da pluriatividade nas famílias rurais.

As atividades não-agrícolas em geral são realizadas em local distante do domicílio e na área urbana. Além disto, o domicílio rural não está mais sendo utilizado, exclusivamente, para abrigar as pessoas ocupadas nas atividades econômicas, mas também se transformando em local de moradia.

Nas famílias do tipo 'não-ocupado' (nenhum membro ocupado) ocorreu o maior montante de renda líquida mediana domiciliar per capita de R$ 3.612,00, mostrando a importância das transferências governamen-tais para a renda destas famílias. Nas famílias não-agrícolas a renda líquida mediana é de R$ 2.678,00, nas pluriativas de R$ 2.453,00 e de R$ 1.369,38 nas agrícolas.

A escolaridade das pessoas é maior entre aquelas pertencentes as famílias não-agrícolas e em último lugar nas agrícolas, sendo que, somente nessas é que se verificou a presença de pessoas analfabetas e semi-analfa-betas.

As diferenças entre os períodos de referência para coleta da informação na pesquisa de campo (semana de referência ou ano de referência) quanto à ocupação da família, ocorreu uma pequena inversão: enquanto na semana predominavam as famílias agrícolas (50%), seguida pelas pluriativas (31,7%), no ano ocorreu o inverso 40% e 45%, respectiva-mente.

A composição da renda das famílias é advinda, predominantemente, do trabalho realizado pelos integrantes da família, exceto para a de não-ocupado. A segunda fonte de renda mais importante segundo os tipos de família advém do autoconsumo, ou seja, 19% nas famílias agrícolas, 10,2% nas pluriativas, 9,8% nas não-ocupadas e 1,0% nas não-agrícolas.

Referências

CENSO AGROPECUÁRIO 1995-1996: Paraná. Rio de Janeiro: IBGE, n. 20, 1998.

CENSO DEMOGRÁFICO 1991: Paraná. Rio de Janeiro: IBGE, n. 22, 1994.

COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ. Colonização e

desenvolvimento do Norte do Paraná. 2. ed. São Paulo: Ave Maria, 1977. Organizado por Rubens Rodrigues dos Santos.

IBGE. Caderneta do recenseador do Censo Agropecuário de 1995-96.

Rio de Janeiro, [s. d.].