capítulo 20: sonata para piano do adeus · então foi mesmo a senpai quem colocou o ... — acho...

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Sayonara Piano Sonata 1 | Light Novel Project Capítulo 20: Sonata para Piano do Adeus O mês de junho sem Mafuyu estava prestes a acabar. Uma característica em comum dos meus colegas da Classe 3 do 1º Ano era que o interesse que tinham pelas coisas não costumava durar muito. Mesmo assim, algumas pessoas ainda vinham me perguntar coisas relacionadas à Mafuyu (rumores sobre nossa fuga de casa já haviam se espalhado pela escola toda, o que me fez considerar seriamente uma transferência para outra escola). Alguns deles, que pareciam não saber nada sobre música clássica, até me pediram os CDs da Mafuyu emprestados. Talvez isso acontecesse porque o assento do meu lado estava sempre vazio. Mas como eu sou ruim, não dei nenhuma colher de chá para os novatos e logo de cara emprestei peças dos compositores russos Scriabin e Prokofiev. Apesar disso, os colegas para quem emprestei os CDs pareciam bem felizes. — Isso é ótimo! A foto na capa é bem impressionante! Sai daqui e vá escutar o CD! — Na verdade têm dois seguranças particulares na casa dos Ebisawa! Até eu fiquei surpresa com isso. Decidimos fazer uma pausa enquanto praticávamos no telhado. Kagurazaka-senpai disse isso para mim com uma expressão alegre. — Eu achava que não ia ter muitas pessoas na casa dela, já que ela é enorme, por isso achei que seria tranquilo entrar lá - mas foi ingenuidade minha. Para a minha sorte, ela tinha ido ao médico naquele dia. Então foi mesmo a Senpai quem colocou o CD com o mapa na mochila da Mafuyu.

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Page 1: Capítulo 20: Sonata para Piano do Adeus · Então foi mesmo a Senpai quem colocou o ... — Acho que ele acabou ouvindo quando ... Obviamente, temos que montar uma operação de

Sayonara Piano Sonata

1 | Light Novel Project

Capítulo 20: Sonata para Piano do Adeus

O mês de junho sem Mafuyu estava prestes a acabar.

Uma característica em comum dos meus colegas da Classe 3 do 1º Ano era que o

interesse que tinham pelas coisas não costumava durar muito. Mesmo assim, algumas pessoas

ainda vinham me perguntar coisas relacionadas à Mafuyu (rumores sobre nossa fuga de casa já

haviam se espalhado pela escola toda, o que me fez considerar seriamente uma transferência

para outra escola). Alguns deles, que pareciam não saber nada sobre música clássica, até me

pediram os CDs da Mafuyu emprestados.

Talvez isso acontecesse porque o assento do meu lado estava sempre vazio.

Mas como eu sou ruim, não dei nenhuma colher de chá para os novatos e logo de cara

emprestei peças dos compositores russos Scriabin e Prokofiev. Apesar disso, os colegas para

quem emprestei os CDs pareciam bem felizes.

— Isso é ótimo! A foto na capa é bem impressionante!

Sai daqui e vá escutar o CD!

— Na verdade têm dois seguranças particulares na casa dos Ebisawa! Até eu fiquei

surpresa com isso.

Decidimos fazer uma pausa enquanto praticávamos no telhado. Kagurazaka-senpai

disse isso para mim com uma expressão alegre.

— Eu achava que não ia ter muitas pessoas na casa dela, já que ela é enorme, por isso

achei que seria tranquilo entrar lá - mas foi ingenuidade minha. Para a minha sorte, ela tinha

ido ao médico naquele dia.

Então foi mesmo a Senpai quem colocou o CD com o mapa na mochila da Mafuyu.

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Capítulo 20

2 | Light Novel Project

— Por que você fez isso?

Senpai estava limpando o braço da guitarra, cujas cordas haviam sido removidas. Ela

inclinou a cabeça para o lado e disse:

— Por vários motivos! Pensei que alguma coisa ia acontecer se eu fizesse aquilo, né?

Bom, ter feito aquilo pode não ter sido bom pra você e pra Mafuyu Ebisawa. Claro, também

tinha a possibilidade de não ter acontecido nada. Mas não é preciso reunir um grande grupo

de pessoas para fazer uma revolução! Se nós humanos queremos realizar alguma coisa, temos

primeiro que plantar sementes que podem não florescer numa terra deserta.

Para uma pessoa como eu, que não é nada poética, aquilo soou como "Ah, eu achei

que alguma coisa interessante pudesse acontecer, então decidi criar uma oportunidade." Por

isso, eu não estava nada grato a ela.

Quanto à Chiaki, depois de me dar uma chave-de-braço e um camel clutch, ela me deu

um cobra twist.

— Isso dói, dói pra caramba! Aqueles golpes não eram de judô, né?!

— Eu te liguei um monte de vezes e você nem pra me mandar uma mensagem!

— Desculpa! Aaaaaaaai! — Fiquei dando tapinhas no braço da Chiaki para ver se ela

me perdoava, mas ela não tinha nenhuma intenção de me largar.

— Então você conheceu o Ebichiri? Você contou que era meu filho?

Tetsurou me fez essa pergunta de um jeito nada feliz enquanto eu preparava o jantar

na cozinha.

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3 | Light Novel Project

— Ele sempre vem reclamar comigo. Já que é ele quem paga as chamadas

internacionais, eu sempre dou corda. Hehe!

— Acho que ele acabou ouvindo quando alguém perguntou o meu nome.

Não fico muito contente com isso, mas a maioria das pessoas da indústria da música

sabem o nome do filho do Hikawa Tetsurou, então o Ebichiri também devia saber. Decidi achar

que era isso mesmo, porque teria sido bem ruim se ele tivesse dito algo como "Reconheci você

só pela aparência". Mas segundo o Tetsurou, eu puxei mais a minha mãe, né?

— Mas não é a cara do meu filho ser obrigado a voltar pra casa depois de só dois dias!

Você devia ter desaparecido de vez! Mesmo não sendo nada legal não ter ninguém pra fazer

as tarefas de casa, eu ia poder ver a cara de bobão do Ebichiri à beira das lágrimas!

Então o sentido da minha existência é ligado a algo tão estúpido quanto isso? Eu devia

considerar fugir de casa pra valer da próxima vez...

— Ah, desculpa, eu só estava brincando. Eu estaria ferrado se você não estivesse em

casa. Não me atrevo nem a ir ao banheiro sozinho de noite...

— Então faça na cama!

— Ah é, teve algum tipo de avanço entre vocês nesses dois dias? Eu não estou

perguntando para onde vocês foram, não é? Vai, me conta... me conta tudo, eu sou o seu pai...

Eu joguei uma lata vazia no Tetsurou e isso fez com que ele calasse a boca.

Junho passou num piscar de olhos.

A sala de prática continuava intocada, já que a dona do cadeado ainda não tinha

voltado. Eu não teria nenhum problema em abrir o cadeado, mas a Kagurazaka-senpai disse,

"Isso é violar as regras". Como eu não tinha conseguido fazer a Mafuyu assinar o formulário de

inscrição do clube, a posse daquela sala ainda não era minha; além do mais, eu não tinha

intenção de usar aquela sala sozinho, de qualquer forma.

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4 | Light Novel Project

Eu não fazia ideia do motivo, mas ninguém mais me perguntava sobre a Mafuyu, e

ninguém me contou para onde ela tinha ido também. A única coisa que eu podia fazer era

praticar todos os dias para melhorar a minha técnica. Até aprendi algumas músicas novas.

Disseram que a Mafuyu acabou indo com seu pai para os Estados Unidos, embora

tenha sido alguns dias depois do planejado. Mas eu tinha visto isso em uma revista, e não fazia

ideia se aquele artigo era confiável.

Ela aceitou fazer os exames? Ela decidiu fazer a operação em algum lugar?

Era óbvio, até para mim, o quanto o Ebichiri adorava sua filha. Caso tenha se cansado

das fugas constantes da Mafuyu, ele pode até ter decidido morar nos Estados Unidos de vez.

Talvez eu nunca mais possa ver a Mafuyu.

O concerto de Ebichiri em Chicago foi transmitido no Japão via satélite - uma das peças

executadas foi <Concerto para Piano No. 2>1 de Rachmaninov. Eu estava com um pouco de

esperança, mas o pianista era alguém que eu obviamente não conhecia. Mesmo se os dedos

dela tivessem se recuperado, seria impossível voltar aos palcos tão rápido.

Desliguei a televisão e me lembrei da música que Mafuyu tocou naquele dia. Livro I de

<O Cravo Bem Temperado>2, Prelúdio e Fuga nº 1 em Dó maior - o poder inacreditável que me

permitiu encontrar meu baixo já deve ter desaparecido completamente, sem deixar rastro.

Contudo, o poder da música é mesmo fantástico. Pensando nisso, tudo que eu tinha que fazer

era colocar o CD no aparelho de som e apertar o play - e a Mafuyu apareceria na minha frente.

Música é um grupo de notas e seus arranjos ou sobreposições. Somos nós, humanos

com medo da solidão, quem as interpretam de formas diferentes.

Mafuyu me mandou apenas uma carta. Ela chegou em um domingo, logo após o meio-

dia. Fiquei incrédulo por um bom tempo após notar o Mafuyu Ebisawa escrito no lugar do

remetente.

1 https://www.youtube.com/watch?v=pBx-tr1FDvY

2 https://www.youtube.com/watch?v=ezZdbzreNcs

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Não tinha nada escrito no envelope; havia apenas uma fita nele. Tirei o pó do toca-fitas

e apertei o play. O que saiu dos alto-falantes foi o penoso prelúdio da sonata para piano em Mi

bemol maior.

<Sonata para Piano Nº 26 em Mi bemol maior> de Beethoven.

Era uma peça que Beethoven havia escrito para o seu melhor amigo, de quem ele teve

que se separar devido à guerra. Além disso, embora fosse raro dar um título às suas peças, ele

nomeou essa:

<O Adeus>3.

Passei a fita para o Tetsurou sem dizer nada. Após ouvir, ele disse:

— As partes da mão esquerda e direita foram gravadas separadamente e combinadas

depois. Isso significa... que sua mão direita ainda não se recuperou, né?

— Hum.

Contudo, esta era, de fato, uma peça tocada pela Mafuyu - eu sabia disso só de escutar.

Será que foi gravada com o gravador que eu ajudei a consertar?

O precioso objeto que sua mãe havia lhe dado.

— Mas que peça horrível ela foi escolher, hein? Ela está se despedindo de você! Que

pena... mas acho que não tem o que fazer. A culpa é sua por ser meu filho - você precisa estar

preparado para não ter relacionamentos duradouros com mulheres!

— Cala a boca e volta pro trabalho!

— Está bem, está bem...

3 https://www.youtube.com/watch?v=S9BE3yTr2dc

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Capítulo 20

6 | Light Novel Project

Tetsurou pegou seu almoço - um prato com um sanduíche caseiro - e voltou para a sala

de estudos.

Eu sabia que o que o Tetsurou havia dito era mentira. Essa sonata para piano foi, de

fato, escrita para lamentar a separação, mas existiam peças depois do adeus.

O título do segundo movimento é <A Ausência>4 e do terceiro, <O Retorno>5.

E então, durante um certo intervalo no começo de julho, a porta dos fundos da nossa

classe abriu com tudo, de repente.

— Camarada Aihara, rápido, já está quase na hora de irmos! Jovem, se apresse você

também. Corre!

A voz da Kagurazaka-senpai surgiu atrás de mim e todos na sala voltaram sua atenção

para mim. Chiaki interrompeu sua mão, a meio caminho da minha marmita - sua cara era só

surpresa.

Olhei ao redor e notei que a Kagurazaka-senpai estava usando... roupas casuais na

escola? Ela estava com uma camiseta branca com uma foto em preto e branco do Jim

Morrison estampada e uma minissaia jeans... no que diabos ela está pensando?

— Senpai, você quer dizer que vamos para algum lugar?

— Para o aeroporto. O voo chega às 16h30, não vamos chegar a tempo se não formos

agora! Vamos logo!

— Para o aeroporto... pra quê?

4 https://www.youtube.com/watch?v=fvL_0hMUcJ8

5 https://www.youtube.com/watch?v=aWwl3oT0RBw

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Sayonara Piano Sonata

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— Pro que mais seria? A sentença da nossa camarada acabou e ela está prestes a

voltar. Obviamente, temos que montar uma operação de resgate para assim que ela tocar o

chão!

Chiaki e eu ficamos nos olhando por um tempo, e então, ao mesmo tempo, tentamos

entender o significado das palavras da Senpai.

— A Mafuyu... está voltando?

— Sim. Mas como seu pai está voltando com ela, eles provavelmente vão visitar

aqueles velhos chatos da Faculdade de Música assim que pousarem. O aeroporto é a única

chance que temos para agir!

— Hã? Espera, ainda temos duas aulas durante a tarde...

— Não temos tempo pra isso!

— Por que tanta pressa?

— Jovem, às vezes você me surpreende. Você não sabe o motivo? Na semana que vem,

o conselho estudantil vai determinar os fundos que serão entregues para os clubes no próximo

semestre. Vamos ficar sem nada se não entregarmos um formulário de inscrição com quatro

membros no clube!

— Quê...? — Quatro membros?

— Devido a um certo inútil que não conseguiu cumprir sua missão antes da Mafuyu ir

para os Estados Unidos, esta é a nossa última chance.

— V-vamos fazer ela preencher o formulário de inscrição agora?

Antes que eu pudesse terminar a frase, Chiaki e eu estávamos sendo empurrados por

alguém - ou melhor, por algumas pessoas - para fora da classe.

— Andem, andem!

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Capítulo 20

8 | Light Novel Project

— Tudo o que o Aposentado faz é falar do passado. Vocês não vão perder nada se

cabularem!

— Vocês não têm permissão pra terminar a comida que ela comprou pra gente!

Nós então fomos empurrados por nossos colegas.

Por favor, não usem horas como essa para mostrarem o quão unidos vocês são, falou?!

— A gente responde a chamada por vocês!

Com certeza você seria pego se fizesse isso no Ensino Médio, certo? Quando eu estava

prestes a retrucar com isso, as portas da sala se fecharam com um *bam*. Esse povo, viu...

— Vocês não vão tirar o uniforme? Ai ai, o que eu faço com vocês? Enfim, já que o

uniforme de verão nem parece uniforme, não deve ter problema se vocês tirarem a gravata,

né?

— Senpai, por favor, não decida por nós!

Quando eu estava prestes a continuar com meu protesto, Chiaki tirou sua gravata.

— Por que você não fica, então? Tem um monte de coisas que quero dizer pra Ebisawa,

por isso eu vou também.

— A operação que planejei só pode ser feita com três pessoas. O jovem precisa ser a

isca para enganarmos os guardas.

— Nem ferrando que eu vou fazer isso!

— Brincadeirinha. Vamos!

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Sayonara Piano Sonata

9 | Light Novel Project

Senpai me agarrou pelo braço e disparou em direção à saída.

Ah, bom, eu desisto. Deve ficar tudo bem se eu cabular, né? Provavelmente vou ganhar

outro tapa se a senhorita Maki souber disso...

Enquanto passávamos correndo pela entrada, o canto agudo de um pássaro ecoou

acima da minha cabeça. Levantei minha cabeça para olhar o céu e mal pude abrir meus olhos,

devido aos raios solares do verão - tudo que pude ver foi um pássaro preto voando no céu.

Claro, aquela espécie de pássaro não existe no Japão.

...Ou talvez exista mesmo. Ele continua no chão, arrastando suas asas esfarrapadas,

pensando em um jeito de abrir suas asas para voar pelo céu.

Por isso...

— Mais rápido, Nao! Ou você não vai conseguir alcançar a Senpai!

Chiaki estava parada no portão da escola, acenando para mim.

Disparei em direção a ela com passos largos. E mais uma vez, fui pego por ele - o canto

do pássaro, que havia surgido no céu acima de mim; o canto que retornou, depois de

sobrevoar os confins do céu.