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Capítulo 2 A trajetória profissional de Eduardo Kneese de Mello

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Capítulo 2 A trajetória profissional de Eduardo Kneese de Mello

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Não houve arquiteto formado em São Paulo da mesma

geração dos pioneiros cariocas que tenha iniciado a

sua vida profissional com a linguagem moderna e sem

envolvimento com a construção. Todos os paulistas

praticaram uma arquitetura eclética antes de se

converterem ao modernismo; todos, também, adquiriram

grande prática de canteiro, portanto rara era a

encomenda de projeto sem a respectiva obra. A

introdução de componentes modernos na arquitetura

paulista não se iniciou mediante os recursos formais

que caracterizaram a linha carioca: foi no tratamento

racional e inovador das plantas que certa modernidade

emergiu em São Paulo. (SEGAWA, 1999, p. 140). Figura 47: Eduardo Augusto Kneese de Mello, 1930.Fonte: acervo EAQM e YMG.

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2.1 Arquitetura Eclética: 1932 – 1943

A trajetória profissional de Eduardo Augusto Kneese de Mello1 teve início no ano de 1932,

quando se graduou como Engenheiro-Arquiteto na Escola de Engenharia Mackenzie,

integrando uma turma com apenas cinco formandos, a maior do curso até então. Kneese,

assim como os principais arquitetos formados em São Paulo, ingressaram no curso de

Engenharia, da Politécnica ou do Mackenzie, freqüentando uma disciplina opcional no

último ano, intitulada Arquitetura2, este foi o caso de Oswaldo Bratke, Henrique Mindlin,

Vilanova Artigas, Luis Saia, Ícaro de Castro Mello, Galiano Ciampaglia, Miguel Forte,

Roberto Cerqueira César, Zenon Lotufo, entre outros.

1 Pode-se obter maiores informações sobre toda a trajetória (eclética e moderna) de Eduardo Kneese de Mellonos anexos 1 e 2 deste trabalho que contêm sua biografia e relação de projetos/obras, respectivamente.

2 O primeiro curso de Arquitetura foi criado pelo Mackenzie, na cidade de São Paulo, em 1947 através doDecreto Federal nº. 23.275, e no ano seguinte (1948), a Politécnica deu origem ao curso de Arquitetura daUniversidade de São Paulo através da Lei Estadual nº. 104.

Figura 48: Projeto-tese de uma policlínica para São Paulo elaborado por Eduardo Kneese deMello, 1932.Fonte: Revista de Engenharia – Centro Acadêmico Horacio Lane, 1932, nº. 57,p. 138.

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Eduardo Kneese de Mello foi autor de um grande número de projetos. No entanto, sua

produção arquitetônica é muito mais conhecida pela qualidade do que propriamente

pela quantidade. A quantidade marcou a primeira etapa de sua vida profissional: a fase

das construções ecléticas, das residências de catálogo, que a elite urbana tanto gostava

de reproduzir por ser sinônimo de progresso, extremamente vinculada à economia cafeeira.

Assim, podemos ver que a década de 30 apresentou certas peculiaridades: a

popularização do Art déco, depois de um intervalo de estagnação devido à crise de

1929, e o rápido esquecimento das manifestações do Neocolonial simplificado, até

então de grande aceitação popular. O Neocolonial, digamos, erudito perdurou, como já

vimos, como também permaneceram raras manifestações estéticas dos outros grupos

atrás descritos, pois sempre existem excêntricos ricos insistindo em soluções

personalistas. (LEMOS, 1987, p.98).

Apesar da divulgação dos princípios da Arquitetura Moderna desde meados da década

de 1920, ainda se vivia a era de ouro das construções ecléticas, com as residências em

estilo, a abertura de novos loteamentos para as camadas médias urbanas. Nessa década,

vivia-se em plena euforia desenvolvimentista, que teve ainda maior florescimento com a

industrialização da era Vargas (1930 – 1945), que em São Paulo assumiu contornos

específicos devido à acumulação gerada pela cafeicultura.

Eduardo Kneese de Mello iniciou sua carreira com o ecletismo tardio dos anos de 1930,

não por opção, mas em decorrência da própria formação escolar. A formação de

engenheiros-arquitetos do Mackenzie College3 era baseada na estrutura de ensino norte-

3 O primeiro curso de Arquitetura foi criado pelo Mackenzie, na cidade de São Paulo, em 1947 através doDecreto Federal nº. 23.275, e no ano seguinte (1948), a Politécnica deu origem ao curso de Arquitetura daUniversidade de São Paulo através da Lei Estadual nº. 104.

Figura 49: Formatura do engenheiro-arquiteto Eduardo Kneese de Mello, na escola deEngenharia do Mackenzie College. São Paulo, 1932.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 50: Auto-retrato de Kneese em seu primeiro escritório, 1932.Fonte: acervo Unicentro.

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americana, e o curso de arquitetura, apesar de vinculado ao de engenharia, era

influenciado pelos conceitos da École des Beaux Arts de Paris. Esta influência significou

um maior estudo das artes e se caracterizou por uma forte preocupação com uma

determinada estética arquitetônica.

Portanto, os futuros engenheiros-arquitetos, discípulos de Christiano Stockler das Neves,

crítico voraz das veleidades modernizadoras, aprendiam a ver, sobretudo, a arquitetura

como arte e utilizar elementos arquitetônicos buscando composições clássicas regidas

pelo princípio da harmonia, equilíbrio e perfeição, produzindo, dessa forma, uma arquitetura

eclética, composta por elementos de diversas origens, mas utilizando materiais

contemporâneos.

Kneese contava que os engenheiros-arquitetos formados pelo Mackenzie faziam “(...)

arquitetura de todos os tipos: neocolonial, normando, mexicano e até moderno ou outro

estilo qualquer, mas sem convicção nenhuma” (depoimento de Eduardo Kneese de Mello.

In: A CONSTRUÇÃO São Paulo 1976, nº. 1497, p. 40).

Seu primeiro trabalho como engenheiro-arquiteto foi na Construtora do Sr. Luiz Espinheira,

responsável por importantes projetos na cidade de São Paulo. Colaborou com os

engenheiros da firma construtora durante dois anos, como desenhista, em projetos de

estilos variados.

Após essa experiência, montou seu escritório, no Largo da Misericórdia, centro de São

Paulo. Nessa nova fase, deixou-se acalentar pelo desejo retrógrado da burguesia

paulistana, de mostrar no presente o que poderia ter sido no passado. O provincianismo

era retratado na paisagem urbana, onde predominavam fazendeiros e industriais, como

se a cidade ainda tivesse caráter intermitente e, a casa, o valor social por excelência paraFigura 51: Cartão do primeiro escritório de Kneese de Mello, 1932.

Fonte: acervo Unicentro.

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ser exibido nos dias de festa. A maior prova disso é o fato de que durante os primeiros anos

de sua vida profissional foi responsável pela construção de um grande número de

residências normandas, californianas, coloniais e até modernistas, atendendo o cliente

no estilo de sua preferência. O grande número de construções residenciais que

desenvolveu, localizadas nos Jardins América, Europa, Paulista e Paulistano, fez com que

ganhasse prestígio e se destacasse frente à sociedade paulistana.

Algumas das residências elaboradas entre os anos de 1932 e 1937 foram publicadas, no

ano de 1938, em um álbum impresso pela União Paulista de Imprensa – UPI, com o nome

de Construcções Residenciaes4. A única falha deste álbum é que as residências são

apresentadas somente através de fotografias, não contendo nenhum desenho técnico

(plantas, cortes, elevações) e, também, não possuindo data, dificultando assim, a

elaboração de uma listagem precisa.

A partir de 1938, com a criação da Revista Acrópole – a qual contou com a participação de

Kneese5 – essas residências passaram a ser publicadas, em sua maioria, nesta revista,

uma das únicas publicações paulistas especializada em arquitetura realizada nesta

época6. Em grande parte dessas residências de catálogo publicadas, tanto pela UPI

4 Existem exemplares desse álbum que podem ser consultados nas bibliotecas da Faculdade de Arquiteturae Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP) e do Centro Universitário Belas Artes de SãoPaulo.

5 Segundo Eduardo Corona, no edital do último número da revista Acrópole: “Vejamos a sua vida: emmeados de 1937 o arquiteto Eduardo Kneese de Mello foi procurado pelo Sr. Roberto Corrêa de Brito paraa confecção de um álbum impresso das obras daquele arquiteto e que foi realizado nesse mesmo ano. Nodecorrer das conversações o arquiteto Kneese de Mello, sempre entusiasta das coisas da arquitetura,aventou a possibilidade de ser montada uma revista de arquitetura em São Paulo. O senhor Corrêa de Britoimediatamente interessou no assunto os arquitetos Henrique Mindlin e Alfredo Ernesto Becker, que sepuseram à disposição da façanha. E o 1º número saiu em maio de 1938.” (ACRÓPOLE, 1971, nº. 390 e391, 6).

Figura 52: Álbum Construcções Residenciaes, União Paulista de Imprensa. São Paulo,1938. Fonte: acervo Unicentro.

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como pela revista Acrópole, a organização espacial tinha sempre como modelo o palacete

europeu, seguindo o estilo pré-escolhido pelo cliente.

O rigor no cumprimento destes cânones de ordenação formal correspondia à aparente

importância da família proprietária. O fachadismo era responsável por traduzir os

elementos decorativos numa noção exagerada e mentirosa da posição social do

proprietário.

Nas habitações de alto padrão dos chamados bairros jardins, as construções unifamiliares

se afastam obrigatoriamente dos limites do lote e sua volumetria se divide em dois

corpos: um principal que abriga a casa propriamente dita e um secundário no fundo do

lote onde se localizavam as dependências dos criados e a garagem (...). (SILVA, 2003,

p. 45).

Estas características estão presentes na primeira obra de Kneese publicada na Revista

Acrópole, a residência do Sr. Jean Lecoq à Rua Terra Nova, 8, no Jardim América, de

1938. Em estilo Missões, apresenta telhado em duas águas de empenas perpendiculares

à rua, com beirais reduzidos; proporções robustas; revestimentos rústicos; e, profusão de

elementos em madeira e ferro fundido, tanto externa como internamente.

Outro estilo muito presente nesta época foi o neocolonial. Seu maior exemplo dentro da

obra de Kneese é sua própria residência à Rua Antonio Bento, 399, no Jardim Paulista,

publicada na revista Acrópole em 1940.

6 Durante esta pesquisa, foram encontrados exemplares da revista Record – Arquitetura e Decorações,editada em São Paulo pela empresa Record, que datam dos anos de 1934 (exemplares nº. 7 e 9) e 1935(exemplar nº. 13), onde foram publicadas algumas residências ecléticas projetadas pelo arquiteto EduardoKneese de Mello. Não foi possível localizar maiores informações sobre a continuidade desta publicação.

Figura 53: Álbum Construcções Residenciaes, União Paulista de Imprensa. São Paulo,1938.Fonte: acervo Unicentro.

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A fachada, bastante erudita, transpõe a arcada típica da arquitetura religiosa do período

colonial para o programa residencial. O partido já se aproxima do volume prismático

característico dos solares coloniais; a planta insere-se num quadrado, com um puxado

a imitar o agenciamento em varanda. (PINHEIRO, 1997, s/p).

Embora esta sua primeira fase seja curta, com duração de aproximadamente onze anos,

foi a época em que Kneese de Mello mais construiu7. Em diversos depoimentos, ao falar

desta época se autodenomina construtor-eclético. E, em determinada época, orgulhava-

se de poder atender todos estes clientes, cada qual com seu gosto e estilo de preferência.

Saí da escola, comecei a trabalhar como construtor. Fiz algumas casinhas por aí, o

Jardim América está salpicado delas, e eu fazia a arquitetura à vontade do freguês.

Quando o sujeito entrava no meu escritório, eu perguntava imediatamente: qual o estilo

de sua preferência? E eu fazia o estilo do sujeito, nem que nunca tivesse ouvido falar

neste estilo. Eu ia estudar, ia me virar, ia perguntar e sapecava no sujeito o estilo que ele

tinha pedido. Assim fui um construtor eclético. (KNEESE DE MELLO, 1979[?], p. 13).

Apesar de manifestar esse orgulho, depois de sua conversão ao Movimento Moderno

passou a não reconhecer valor na produção das primeiras obras, nas residências para a

pequena burguesia e camadas médias urbanas paulistanas, onde contribuiu para a

construção da cidade com uma arquitetura de cenário, assim como Oswaldo Bratke e

tantos outros. Esse desprezo transparece em alguns depoimentos feitos pelo próprio

arquiteto:

7 Foram levantados ao longo da pesquisa 49 obras e projetos realizados e publicados, que se enquadram emsua fase eclética. Figura 54: Revista Acrópole. São Paulo, 1938.

Fonte: acervo FAU USP.

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Quando fazíamos Arquitetura eclética ou acadêmica, havia assim uma certa intenção

de exibição e que (...), e depois me pareceu que se chocava com a intenção social que

a Arquitetura tem que representar. (...) Hoje estou convencido, absolutamente, que a

Arquitetura é profundamente social. (...) Nós temos que esquecer a idéia de fazer

grandes palácios e partir para soluções mais simples, mais humanas e sociais.

(depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: SANTOS, 1985, p. 101).

Na segunda etapa de sua vida profissional, passou a criticar os arquitetos ecléticos com

voracidade, como se pode verificar em declarações do próprio arquiteto. O trecho abaixo,

presente em seu livro Arquitetura Brasileira – Palestras e Conferências, publicado pela

FAU USP, ratifica esta afirmação:

Com as convicções que adotei, passei a pregar, junto com outros colegas, a arquitetura

contemporânea, combatendo o ecletismo, a cópia, o receituário antigo e estrangeiro.

(...). Os copistas de estilos continuam agindo e é preciso combatê-los, mostrando a

nossa gente o que é a verdadeira arquitetura. (KNEESE DE MELLO, 1975 b, p. II).

Neste trecho pode-se observar que o arquiteto Eduardo Kneese de Mello começou a se

distanciar de sua formação acadêmica, condenando a cópia de estilos estrangeiros. No

entanto, como veremos a seguir, sua arquitetura, nos primeiros anos da década de 1940,

continuou limitada a um desenho de fachada, sem alterações significativas em sua

concepção espacial. Foi nessa mesma época que participou do V Congresso Pan-

americano de Arquitetos, em Montevidéu (1940), onde começou sua propalada conversão

em arquiteto moderno.

Figura 55: Residência Jean Lecoq, 1938.Fonte: Acrópole, 1938, nº. 1, p. 27.

Figura 56: Residência Eduardo Kneese de Mello, 1940.Fonte: acervo EAQM e YMG.

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Projetos e obras: documentação fotográfica

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Figura 57: Residência Antonio PintoCardoso de Mello. RuaCanadá, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES,1938.

Figura 58: Residência Eurico Guerrini. Rua EstadosUnidos, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 59: Residência Ismael Ribeiro deBarros. Rua Canadá, SãoPaulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES,1938.

Figura 64: Residência Francisco deAssis e Almeida. RuaMaestro Chiaffarelli, SãoPaulo. Fonte:CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 61: Residência RodolfoKromfeld. R. Cuba,São Paulo. Fonte:CONSTRUCÇÕES,1938.

Figura 62: Residência Jose MartinsBorges. Rua Inglaterra, SãoPaulo. Fonte:CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 63: Residência Altino de Castro Lima. RuaGuacatan, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 60: Residência Américo Floriano de Toledo. RuaTerra Nova, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 66: Residência Sebastião FerrazSalles. Rua Atibaia, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES,1938.

Figura 65: Residência Mario Diasda Costa. Rua do Chile,São Paulo. Fonte:C O N S T R U C Ç Õ E S ,1938.

Figura 67: Residência Marcos Lindenberg.Rua Antonio Bento, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 68: Residência Elias Fleury. Rua AntonioBento, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 69: Residência Francisco de PauloPinto Hartung. Avenida Brasil,São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES,1938.

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Figura 70: Residência Theodoro Braga.Rua Boituva, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES,1938.

Figura 74: Residência Joãode Souza. RuaRosa Silva, SãoPaulo. Fonte:CONSTRUCÇÕES,1938.

Figura 72: Residência Rudolf Bülau. Rua DavidCampista, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 73: Residência Maria JudithBernardino de Campos. RuaEstados Unidos, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 71: Residência Rodolpho Magalhães.Avenida Brasil, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 79: Residência OliverFerreira. R.Itapeva, SãoPaulo. Fonte:CONSTRUCÇÕES,1938.

Figura 75: Residência Paulina Muniz. RuaConselheiro Brotero, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 76: Residência Luiz AranhaJunior. Rua Bahia, SãoPaulo. Fonte:C O N S T R U C Ç Õ E S ,1938.

Figura 77: Residência Bianôr Figueirôa. RuaFonseca Telles, São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 78: Residência Manoel Borges. Rua Espanha,São Paulo.Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

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Figura 80: Residência Jean Lecoq. RuaTerra Nova, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1938, nº. 1,p. 27.

Figura 81: Residência Ismael Brandão.Rua Leôncio de Carvalho,São Paulo. Fonte: Acrópole,1938, nº. 6, p. 16.

Figura 82: Residência. Rua Dona Hypolita,São Paulo. Fonte: Acrópole,1938, nº. 8, p. 22.

Figura 83: Residência Sr. Alexandre TitoLabat, Rua Chile, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1938, nº. 10,p. 41

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Figura 84: Residência. AvenidaRebouças, São Paulo.fonte: Acrópole, 1938, nº. 11,p.32.

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Figura 85: Residência Cyro Costa Filho.Rua Maestro Elias Lobo, SãoPaulo.Fonte: Acrópole, 1939, nº. 13,p.46.

Figura 86: Residência George Stanley Smith.Rua Honduras, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1939, nº. 16,p.16.

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Figura 87: Residência Diogo Martins Ribeiro.Rua Leopoldo Bulhões, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1940, nº. 23, p.25.

Figura 88: Residência MatheusSantamaria. Rua Morro Verde,São Paulo.Fonte: Acrópole, 1940, nº. 25,p.24.

Figura 89: Residência Manoel Arantes Matheus.Rua Polônia, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1940, nº. 28, p. 125.

Figura 90: Residência Moacyr Moreira. Ruado Ouro, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1940, nº. 30,p.203.

Figura 91: Residência Sylvio Suplicy. RuaMaestro Elias Lobo, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1941, nº. 34,p.355.

Figura 92: Residência Eduardo Kneese deMello. Rua Antonio Bento, SãoPaulo.Fonte: Acrópole, 1941, nº. 37,p.9.

Figura 93: Residência Ernesto Soares.Avenida 9 de Julho, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1941, nº. 38, p.69.

Figura 94: Residência Edith de QueirozMattoso. Avenida Rebouças, SãoPaulo.Fonte: Acrópole, 1941, nº. 42,p.230.

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Figura 95: Residência Agenor Camargo,Rua Dr. Veiga Filho, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1942, nº. 46,p.393.

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Figura 99: Projeto e estudo de um Colonial, Jardim América,São Paulo.Fonte: Acrópole, 1943, nº. 61, p. 469.

Figura 98: Núcleo de 24residências térreas,BHLB. Rua Pedrosode Moraes esquinacom Galeano deAlmeida, São Paulo.Fonte: Acrópole,1942, nº. 52, p.159.

Figura 96: Residência Horácio VazGuimarães, Avenida Europa,São Paulo.Fonte: Acrópole, 1942, nº. 48,p.436.

Figura 97: Residência José Vaz Guimarães,Avenida Europa, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1942, nº. 48,p.439.

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2.2 Arquitetura Moderna: 1940 – 1994

Conversão abrupta ou transição conciliadora?

Eduardo Kneese de Mello costumava dizer que sua conversão ao Movimento Moderno,

no início de sua segunda fase profissional, foi marcado pelo corte abrupto, sem transições

conciliadoras. Em depoimentos e entrevistas deixava transparecer uma falsa impressão

de que:

Quase seria possível de determinar o dia e a hora em que [Kneese] abandonaria o

convencional para ser ‘moderno’. E o moderno aqui assume a importância que vai

muito além do repertório formal. Revela na prática a incorporação de um ideário que se

contrapõe à experiência anterior. (THOMAZ, 1992/1993, p. 81).

Falsa impressão pois, apesar de afirmar com veemência que sua conversão foi marcada

pelo corte abrupto, percebia-se, através de suas obras e projetos, ainda ecléticos,

Figura 100: Eduardo Kneese de Mello (da esquerda para direita, o primeiro sentado na 2ªfileira) durante a sessão inaugural do V Congresso Pan-americano de Arquitetos.Montevidéu, 1940.Fonte: acervo Unicentro.

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publicados no início da década de 19408, que sua conversão não ocorreu de forma tão

radical, foi muito mais branda do que o próprio arquiteto admitia. Como a arquiteta Maria

Lucia Bressan Pinheiro coloca em sua tese de Doutorado defendida na FAU USP:

Assim, percebe-se que a propalada “conversão” de Kneese de Mello à causa da

arquitetura moderna foi mais gradual do que o próprio arquiteto gostava de admitir, a

partir do crescente contato com a vanguarda carioca, e bastante relacionada à sua

participação ativa nos recém criados órgãos de classe. E nem poderia ser de outro

modo, pois a transformação intempestiva de Kneese de Mello em arquiteto radicalmente

moderno só poderia indicar sua incompreensão das novas propostas: a substituição de

um formalismo por outro, em suma. (PINHEIRO, 1997, p. 293).

Essa nova fase de sua vida profissional teve um caráter mais humano e social do que a

primeira, deixou de representar o desejo retrógrado da burguesia de luxo e exuberância,

para atender à coletividade. Portanto, tornar-se moderno, foi, para Kneese, adquirir a

consciência de que a arquitetura até então havia sido monopolizada pela burguesia e era

necessário, nesse novo momento, questionar qual a função social do arquiteto e o real

significado da arquitetura.

Em muitos depoimentos sobre sua conversão ao Movimento Moderno, Kneese explicava,

sempre da mesma maneira, que foi o acaso que o colocou em contato direto com os

arquitetos cariocas, e dessa forma com o Movimento Moderno. O acaso foi um telefonema

de Zico, secretário do Instituto de Engenharia, em fevereiro de 1940, convidando-o para

um coquetel promovido para recepcionar o grupo de arquitetos cariocas, dentre eles

8 Na relação de projetos apresentada no item anterior, pode-se notar a publicação de projetos ecléticos nosanos de 1940, 1942 e 1943. Isso indica que a conversão de Eduardo Kneese de Mello ao MovimentoModerno, não ocorreu exatamente como o arquiteto dizia.

Figura 101: Durante o V Congresso, oarquiteto Julian Levi ofereceu aDon Horacio Acosta y Lara,prefeito de Montevidéu, emnome da delegação norte-americana, dois livros sobrearquitetura americana.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 102: Delegação brasileira, presente noV Congresso Pan-americano deArquitetos, após visita aoMonumento La Carreta. Junto aogrupo, o escultor José Belloni, autordo monumento.Montevidéu, 1940.Fonte:acervo Unicentro.

Figura 103: Museu de Arte Moderna de SãoPaulo. Da esquerda para direita:Alfredo Volpi, Menotti DelP i c c h i a , P o l a R e z e n d e ,Alexander Calder, Rino Levi,Lina Bo Bardi, Nonê de Andradee Kneese de Mello. São Paulo,início da década de 1940. Fonte:acervo EAQM e YMG.

Figura 104: Exposição “Brazil Builds” naGaleria Prestes Maia. São Paulo,1944. Fonte: acervo Unicentro.

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Nestor Figueiredo (presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil), Paulo Camargo, Marcelo

Roberto, Rafael Galvão, Wladimir Alves de Souza, Paulo Candiota e João Kahir, que se

dirigia a Montevidéu a fim de participar do V Congresso Pan-americano de Arquitetos.

Me entusiasmei e segui para lá. No Uruguai havia um fato curioso: o presidente da

República era arquiteto, dois ministros e o prefeito de Montevidéu também. E eu era

engenheiro-arquiteto. Os colegas estavam discutindo Arquitetura contemporânea,

porém, eu havia levado fotos de minhas obras em vários estilos para mostrar minha

versatilidade. Começou, então, em 1940, em Montevidéu, a minha conversão. Esse

contato foi muito importante para minha vida profissional porque, de repente, comecei

a perceber que a Arquitetura tem que ser o retrato de seu tempo, como diz Le Corbusier,

e eu estava fazendo retratos de outros tempos. Estava mentindo arquitetonicamente.

(depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: SABBAG, 1986, p. 30).

Durante o V Congresso Pan-americano de arquitetos, Eduardo Kneese de Mello recebeu

o Prêmio Honor y Diploma pelo conjunto de suas residências ecléticas paulistanas,

enquanto Marcelo e Milton Roberto receberam por suas residências modernas cariocas,

além do ‘Prêmio Medalha de Ouro e Diploma’ pelo projeto da Associação Brasileira de

Imprensa (1936). No mesmo evento, foi premiado um dos primeiros conjuntos

habitacionais promovidos pelo IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos

Industriários), o Conjunto Residencial de Realengo, projeto de Carlos Frederico Ferreira,

1937.

O contato com arquitetos de outros países e com a vanguarda carioca foi definitivo para

a reorientação da arquitetura praticada por Kneese de Mello. Não se tratava apenas de

uma reorientação estética, exclusivamente formal. Implicava antes de tudo, a adoção de

valores e de uma nova atitude profissional. Definiram-se, dessa forma, os traços que

Figura 105: Recepção a Richard Neutra. Da direita para a esquerda, sentados: Kneese deMello, Richard Neutra e, na outra extremidade, Vilanova Artigas. São Paulo,1945. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 106: Eduardo Kneese de Mello e o professor Charles Wright proferindo palestra sobrea Bahia na Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, 1946. Fonte: acervo Unicentro.

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Figura 108: Eduardo Kneese de Mello e Bernardo Saião. Brasília, 1959.Fonte: acervo EAQM e YMG.

Figura 107: Júri de premiação de Arquitetura da 1ª. Bienal do Museu de Arte Moderna de SãoPaulo. Da esquerda para direita: Junzo Sakakura, Kneese de Mello, FranciscoBeck, Sigfried Giedion e Mario Pani. São Paulo, 1951.Fonte: acervo Unicentro.

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marcariam sua atuação e a personalidade generosa com que ficou conhecido. Sua

prática profissional passou a ter um caráter humanista e uma forte preocupação social,

diferenciando-o totalmente de sua fase anterior, pois deixou de representar os desejos da

burguesia por ostentação, para buscar atender as necessidades da coletividade.

Kneese de Mello, após sua conversão ao Movimento Moderno, demonstrou em diversos

projetos sua luta pela democratização da arquitetura e da cidade. A consciência de que

seu trabalho, até então, era elitista e que agora conhecera os objetivos reais da arquitetura

e a função social do arquiteto, permitiu-lhe repensar o alcance social de sua obra

arquitetônica dentro de um conjunto de questões que emergiam da cidade.

Evidentemente, enfrentou muitas dificuldades, pois sua formação acadêmica era eclética.

Foi difícil adaptar-se à Arquitetura Moderna, principalmente por ser um renomado arquiteto

perante a elite paulistana. “Eu tive que lutar comigo mesmo para me adaptar, mas foi uma

virada muito feliz e eu tenho muito orgulho disso.”. (depoimento de Eduardo Kneese de

Mello. In: SANTOS, 1985, p. 92).

Quando voltei de Montevidéu, em 1940, decidi praticar a arquitetura moderna, com

todos os riscos inerentes à mudança, pois até então – como muitos outros – eu era

também um construtor e fazia projetos de acordo com as preferências do cliente. Mas

era uma questão de convicção. Passei momentos difíceis, perdi clientes, mas mantive

meus novos pontos de vista. (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: A

CONSTRUÇÃO São Paulo, 1976, nº. 1497, p. 41).

Em sua produção arquitetônica de projetos e obras modernos, observam-se algumas

características, tais como: simplificação das formas arquitetônicas e eliminação de

qualquer referência historicista; substituição do ornamento buscando, também, a

Figura 109: Almoço na casa de Romeu Mindlin para comemoração do 20º aniversário deformatura dos engenheiros-arquitetos, 1951. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 110: Visita à Brasília, da esquerda para direita: não identificado, Henry Russel Hitchcock,Eduardo Kneese de Mello, Kenzo Tange e Marcel Breuer, final da década de1950. Fonte: acervo Unicentro.

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substituição dos componentes artesanais; processo de interpretação de elementos

arquitetônicos relacionados à cultura luso brasileira, expressos na arquitetura tradicional;

conscientização de que o elitismo, que até então monopolizara os compromissos do

arquiteto, deveria ser repensado diante do alcance social da arquitetura no conjunto dos

problemas contemporâneos que envolvem a cidade; defesa da verticalização

(adensamento) para contemplar soluções criativas, viáveis em termos econômicos, de

impacto minimizado, providas de equipamentos complementares, com forte apelo social

e comunitário; preocupação com o conceito de habitar, diferenciando-o do simples espaço

da moradia, onde uma série de equipamentos complementares à moradia deveria ser

contemplada, como a educação, a saúde, o lazer, o trabalho e o transporte; e, dedicação

ao cliente coletivo, aos concursos para projetos de edifícios públicos, ao invés da perversa

relação direta com o cliente individual.

Pode-se observar, ainda, sua intensa militância ao difundir o ideário moderno e a profissão

do arquiteto e urbanista nos órgãos de imprensa e veículos de comunicação de massa

defendendo a importância e a particularidade da contribuição social do arquiteto; no

mesmo sentido em que sua participação em fóruns e entidades profissionais.

Fundação do IAB-SP: surgimento de uma classe

Durante o V Congresso Pan-americano de Arquitetos, realizado em Montevidéu, 1940,

verificou-se a necessidade de criar departamentos estaduais do Instituto de Arquitetos do

Brasil (IAB), que existia desde 1921 no Rio de Janeiro. A idéia surgiu da conversa de

Eduardo Kneese de Mello com outros arquitetos, entre eles Nestor Figueiredo, presidente

do IAB e Paulo Camargo de Almeida, futuro presidente.

Figura 111: Programa de televisãoArquitetos na TV. Da esq. paradir.: Oswaldo Gonçalves, nãoidentif., Fabio Penteado,Vilanova Artigas, não identif.,Ícaro de C. Mello, Kneese deMello e Laureano Fernandes Jr(produtor). São Paulo, 1961/1962. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 112: Noite de Arquitetura da VII Bienal.Da esq. para a dir.: Kneese deMello, Gregori Warchavchik,Oswaldo Gonçalves, SergioBernardes, Flavio de Carvalho eAlberto Botti. São Paulo, 1963.Fonte: FICHER, 2005, p. 254.

Figura 113: 1ª Bienal de Arquitetura. Estãopresentes na foto: EduardoKneese de Mello, Ícaro deCastro Mello, Ciccilo Matarazzo,Oswaldo Corrêa Gonçalves eFabio Penteado. São Paulo,1973. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 114: Entrega dos estudos do anexoda Bienal no escritório de OscarNiemeyer. Da esq. para dir.:Luiz F. Janot, Ciro Pirondi, FabioPenteado, Kneese de Mello,Oscar Niemeyer, Jeans Olesen,Edemar Cid Ferreira e NelsonAguilar. RJ, 1993. Fonte: acervoEAQM e YMG.

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Figura 115: Almoço do IAB-SP. Estão presentes na foto: Eduardo Kneese de Mello, Lina BoBardi, Vilanova Artigas e Pietro Maria Bardi. São Paulo, 1948.Fonte: acervo LB e PMB.

Figura 117: Sindicato dos arquitetos portugueses. Lisboa, 1954.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 116: IV Congresso de Arquitetos Brasileiros, evento realizado no IAB-SP durante visitade Walter Gropius. Em pé: Walter Gropius, à sua esquerda: Rino Levi e JorgeMachado Moreira, à sua direita: Henrique Lefrèvre, João Cacciola, GilbertoJunqueira Caldas, Ariosto Milla, Leo Ribeiro de Moraes, Eduardo Kneese deMello, Oswaldo Corrêa Gonçalves, Abelardo de Souza, Jorge Lodi, José LuizFleury de Oliveira e Roberto Burle Marx. São Paulo, 1954.Fonte: ANAIS IV CONGRESSO, 1954, s/p.

Figura 118: O presidente Gonçalves Aparício entrega o diploma de Sócio Honorário daSociedade de Arquitetos Mexicanos a Eduardo Kneese de Mello. México, 1960.Fonte: acervo Unicentro.

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O objetivo dos departamentos estaduais era reunir, em uma única entidade, todos os

profissionais, concentrando assim todas as forças, evitando o surgimento de entidades

isoladas, o que fragmentaria ainda mais a categoria profissional e já acontecia em São

Paulo devido à criação do Instituto Paulista de Arquitetos, presidido por Christiano Stockler

das Neves.

De volta à São Paulo, Kneese de Mello continuou em contato com os arquitetos cariocas

e começou a divulgar a idéia entre os arquitetos paulistas. Reuniu vários colegas em seu

escritório, no Largo da Misericórdia, para estudar a criação do departamento paulista do

IAB.

Lembro-me que fui visitar o Artigas que eu não conhecia. Quando falei com ele,

entusiasmou-se imediatamente. O Bratke era meu colega, já o conhecia de antes,

fomos colegas do Mackenzie. Alguns outros eu também já conhecia, por exemplo, o Leo

Ribeiro Moraes, que era meu companheiro na escola de aviação. O Abelardo de

Souza, que lutava Jiu-Jitsu comigo. A idéia de nos unirmos foi espetacular. A todos os

lugares onde fui encontrei recepção entusiasmada. Rino Levi me disse: ‘Eu não acredito,

mas pode contar comigo que eu dou tudo de mim’. E foi um dos grandes colaboradores

do IAB durante toda a sua vida, a partir deste dia. (KNEESE DE MELLO, 1979[?], p.14.)

No dia 06 de novembro de 1943, o então presidente do IAB arquiteto Paulo Camargo de

Almeida, veio do Rio de Janeiro para presidir a sessão de instalação do IAB - São Paulo.

Em uma reunião na Biblioteca Municipal ele declarou fundado o departamento paulista,

nomeando Kneese como delegado no Estado. Dessa forma, tem início a transformação

do Instituto de entidade centrada no Rio de Janeiro em uma estrutura federativa.

Figura 119: 1ª Mesa redonda Pan-americanade Arquitetos. Lima, Peru, 1961.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 120: Eduardo Kneese de Mello recebeo diploma e a medalha de SócioHonorário do American Instituteof Architects. Washington,Estados Unidos, 1965.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 121: Assinatura do Convênio Culturalentre o IAB e o Colégio deArquitetos do Peru no Paláciodo Governo, com a presençado presidente FernandoBellaunde Terry, 1966.Fonte: acervo Unicentro.

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Kneese de Mello foi nomeado primeiro presidente do IAB-SP, exercendo três mandatos

consecutivos, entre 1943 e 1949. Foram gestões caracterizadas por campanhas

entusiásticas de divulgação da Arquitetura Moderna, que visavam, sobretudo, mudar a

imagem do arquiteto. Um dos fatos mais importantes deste período foi a construção da

sede para a entidade9.

Em seu primeiro mandato, embrenhado na luta pela profissão de arquiteto e na divulgação

da Arquitetura Moderna, juntou-se a outros arquitetos modernos para a organização, em

1945 na cidade de São Paulo, do I Congresso Brasileiro de Arquitetos, cujo tema foi

Construções de Casas Populares e Organização das Coletividades Humanas, um dos

princípios da Arquitetura Moderna Internacional. O documento de conclusão do congresso

definiu diretrizes marcantes para os arquitetos e, mais especificamente, para a produção

de habitação. As principais posições foram10: centralização pelo Estado de uma política

habitacional; habitação de aluguel para população de baixa renda; integração com

indústria de material de construção / industrialização da construção; habitação em

unidades coletivas, preferencialmente em bairros consolidados; e entendimento mais

amplo da habitação como questão, envolvendo urbanismo e planejamento.

Entre 1968 e 1970, Kneese de Mello presidiu o Instituto de Arquitetos do Brasil Nacional.

A partir deste momento, embrenhou-se nas diversas lutas da categoria profissional. Foi

membro da APA (Associação Profissional dos Arquitetos) entre 1967 e 1971; membro

fundador do SASP (Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo) em 1971; conselheiro

9 Para a construção do edifício-sede do departamento paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil foi realizadoum concurso em 1946. O projeto final foi realizado pelos arquitetos Rino Levi, Abelardo de Souza, GalianoCiampaglia, Hélio Duarte, Jacob Ruchti, Miguel Forte e Zenon Lotufo.

10 Cf. Acrópole, edição Comemorativa do I Congresso Brasileiro de Arquitetos, nº. 81/82, 1945.

Figura 122: Dr. Gabriel Serrano entrega aEduardo Kneese de Mello odiploma de Sócio Honorário daSociedade Colombiana deArquitetos. Bogotá, 1968. Fonte:acervo Unicentro.

Figura 123: Assinatura do Convênio Culturale de Amizade entre o IAB,representado pelo arquitetoEduardo Kneese de Mello, e oSindicato dos Arquitetos dePortugal, representado peloarquiteto Ignácio PeresFernandes, 1969. Fonte: acervoUnicentro.

Figura 124: Kneese de Mello entrega odiploma de Sócio Honorário doIAB ao Ministro das Construçõesde Porto Rico, Antonio MiroGontillo, durante o XIII CongressoPan-americano de Arquitetos.San Juan, Porto Rico, 1970.Fonte: acervo Unicentro.

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federal do Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) a partir de

1974; conselheiro efetivo do CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e

Agronomia) entre 1951-52, 1966-69, e 1982-84; e conselheiro da ABEA (Associação

Brasileira das Escolas de Arquitetura). Foi, também, sócio honorário de organizações

profissionais de Arquitetos em doze países, entre os quais os Estados Unidos e a antiga

União Soviética. Foi também considerado membro vitalício do conselho da Federação

Pan-americana de Arquitetos, em 1970.

Como incansável defensor das atribuições profissionais dos arquitetos, sua atuação não

se limitou ao Brasil. Na busca desse diálogo nacional e internacional, Eduardo Kneese

de Mello construiu uma história de participação que praticamente se confunde com a

própria fundação e existência do IAB em São Paulo.

O ensino de arquitetura

A contribuição do professor Eduardo Kneese de Mello à formação dos arquitetos

caracterizava-se, inicialmente, pelo entusiasmo que conseguia transmitir aos futuros

profissionais. Sempre lecionou, mesmo antes de obter seu diploma de engenheiro-

arquiteto, em 1932, na Escola de Engenharia do Mackenzie:

Aconteceu no dia em que o diretor do Mackenzie, onde era aluno, me pediu para dar

uma aula. Mas eu não tinha ainda capacidade nem o dom de ensinar e a matéria

também era sem graça: ‘Tema e detalhes da construção’. Lecionei um ou dois anos e

depois abandonei, mas gostei da experiência apesar de convencido de que fui um mau

professor. (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: SABBAG, 1986, p. 28).

Figura 125: XIV Congresso Pan-americanode Arquitetos realizadoprimeiramente em São Paulo,Brasil e na seqüência emAssunção, Paraguai, 1972.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 126: Evento no IAB-SP, da esq. paradir.: Eurico Prado, Kneese deMello, Oswaldo Bratke, PedroPaulo Saraiva, Paulo Mendesda Rocha, Oswaldo C.Gonçalves, Benno Perelmutter,Alberto Botti, Júlio Neves,Roberto C. César e Ícaro de C.Mello. São Paulo, 1976. Fonte:acervo Unicentro.

Figura 127: Congresso da UniãoInternacional dos Arquitetos (UIA)realizado no Cairo, Egito, 1985.Fonte: acervo EAQM e YMG.

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O início, de fato, de sua carreira como professor aconteceu cinco anos depois de formado,

em 1937, por meio de um convite feito pelo seu mestre Christiano Stockler das Neves,

para ministrar uma disciplina no curso de arquitetura do Mackenzie College. Ainda em

sua fase eclética Kneese era um respeitável engenheiro-arquiteto de residências

burguesas e tinha como forte em seu trabalho um caprichoso desenho de detalhes

técnicos e rebuscados adornos, o que fez com que o mestre Christiano o convidasse para

ser responsável pela disciplina Desenho de Sistema da Construção.

Lecionou durante todo o ano de 1937, porém não foi contratado no início de 1938.

Coincidentemente, neste ano, tornou-se consultor técnico da revista Acrópole e em poucos

meses passou a ter opiniões bastante opostas às do mestre Christiano das Neves, buscando

na arquitetura colonial a representatividade da arquitetura brasileira. Só voltou a lecionar

no Mackenzie depois de sua ruptura com o academicismo de estilos, em 1941, ministrando

a mesma disciplina e permanecendo novamente, por apenas um ano.

Após a criação do departamento paulista do IAB, em 1943, Kneese dedicou-se

integralmente a seu escritório e aos compromissos do Instituto, empenhando-se na

divulgação dos ideais do Movimento Moderno. Por esses motivos, passou um longo

período afastado das salas de aula.

Conhecido entre seus colegas de profissão por ser um pesquisador incansável, grande

estudioso da Arquitetura Colonial Brasileira, recebeu o convite, em 1955, do arquiteto e

professor Ícaro de Castro Mello para ocupar a cadeira de Arquitetura no Brasil na

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP). Pouco

antes, em 1953, havia lecionado na recém criada FAU USP (1948) como professor

substituto na disciplina de História da Arquitetura. A dedicação à docência foi incorporada

definitivamente à sua personalidade e ao seu modo de vida.

Figura 128: Almoço no Hotel Excelsior, mobilização pela criação da FAU USP. Estão presentesna foto: Oswaldo Corrêa Gonçalves, Flávio de Carvalho, Alfredo Ernesto Becker,João Serpa Albuquerque, Gregori Warchavchik, Aníbal Martins Clemente, Carlosda Silva Prado, Plínio Croce, João Batista Vilanova Artigas, Aldo Ferreira, LeoRibeiro de Moraes, Daniele Calabi, Rino Levi, Alfredo Giglio, Lauro da CostaLima, Ícaro de Castro Mello, Eduardo Kneese de Mello, João Kahir e LucjanKorngold. São Paulo, 1947.Fonte: FICHER, 2005, p. 252.

Figura 129: Cinqüentenário da Semana de Arte Moderna – curso de verão do Instituto deEstudos Brasileiro (IEB) sobre o Modernismo com Di Cavalcanti, João BatistaBorges Perin, Orlando Bastos e Kneese de Mello. São Paulo, 1972.Fonte: acervo Unicentro.

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Durante os anos em que lecionou na FAU USP teve alguns professores-assistentes tais

como os arquitetos Benedito Lima de Toledo e Nestor Goulart Reis Filho, que vieram a se

tornar importantes professores, historiadores e conhecedores da arquitetura.

Integrou, também, a organização do primeiro curso de pós-graduação da FAU USP,

trabalhando arduamente na mobilização de professores e profissionais de alto nível, em

diversos pontos do país, para a organização e direcionamento do curso. Foi “coordenador

da primeira disciplina oferecida que mobilizou professores e profissionais de alto nível em

diversos pontos do país” (TOLEDO, 1994, p. 103-104).

Destaca-se, ainda, o fato de que esteve entre os fundadores do Instituto de Estudos

Brasileiros (IEB), instituição ligada à Universidade de São Paulo, como titular da cadeira

Arquitetura no Brasil. Colaborou com as duas primeiras gestões, a de Sérgio Buarque de

Hollanda (1963-64) e a de Egon Schaden (1965-66). Devido o afastamento do terceiro

diretor, José Aderaldo Castello, Eduardo Kneese de Mello exerceu a direção do Instituto

de 1971 até meados de 1973. Após esta data, deixou a vice-direção. Entretanto, manteve-

se no Conselho Diretor até maio de 1976, quando se aposentou.

Na etapa de estruturação do IEB, deixou sua marca ao criar o símbolo e a capa da revista

do Instituto. Colaborou também com fotografias para as primeiras edições do periódico,

assim como havia feito na revista Acrópole. Em 1969, doou ao Instituto um anteprojeto

para sua sede, desenvolvido em parceria com seu sócio, Sidney de Oliveira. O projeto foi

publicado11 embora não tenha sido construído.

11 O anteprojeto para a sede do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) foi publicado em: BATISTA, MartaRossetti. Kneese de Mello no IEB. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: 1994, nº. 37,105-108.

Figura 130: Gregori Warchavchik, Mina Klabin e Eduardo Kneese de Mello no cinqüentenárioda Semana de Arte Moderna, curso de verão do IEB sobre o Modernismo. SãoPaulo, 1972.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 131: Eduardo Kneese de Mello preside a banca do concurso para o cargo de professortitular do Departamento de Projeto da FAU USP a qual foi submetido o arquitetoVilanova Artigas. São Paulo, 1984.Fonte: TENDÊNCIAS, 1985, p. 30.

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Em 1967, além das aulas ministradas na graduação da FAU USP, Kneese ofereceu os

primeiros cursos do IEB chamados: Cultura e civilização brasileira e Uma visão de Brasil.

Em sua gestão como diretor, em 1972, iniciou uma série de cursos interdisciplinares de

férias, denominados Brasil anos 20 e, em 1973, Brasil anos 30, baseados em depoimentos

de profissionais que se destacaram e participaram de experiências importantes dessas

duas décadas.

Ainda em 1972, durante as comemorações do cinqüentenário da Semana de Arte

Moderna, Kneese foi responsável pela exposição Brasil: 1º tempo modernista, montada

para o Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo

do Estado de São Paulo, em cópias que percorreram a Europa, as Américas e várias

cidades do Brasil. Durante a apresentação da mostra no IEB, Kneese de Mello organizou

um seminário interdisciplinar sobre o tema, onde ele e seus contemporâneos falaram

sobre o Movimento Moderno em diversas áreas.

É de se lembrar aqui o modo democrático e fidalgo com que Kneese de Mello acolhia,

incentivava e, com entusiasmo, procurava viabilizar as iniciativas dos pesquisadores.

Assim, tornou possível, além da Revista e das publicações programadas, a edição do

livro Brasil: 1º tempo modernista hoje obra de referência nos estudos sobre o modernismo

brasileiro. (BATISTA, 1994, p. 108).

Destaca-se ainda, em sua gestão, o fato de ter organizado a exposição Panorama daArquitetura Brasileira Contemporânea, que percorreu os Estados Unidos no início de1973.

Apesar de ter sido aposentado compulsoriamente em 1976, por ter atingindo a idade

limite de 70 anos, na Universidade de São Paulo, onde exerceu o magistério por 21 anos,

Figura 132: Composição da mesa de argüidores da banca de Vilanova Artigas no concursopara professor titular do Departamento de Projeto da FAU USP: Flávio Motta, JoséGianotti, Kneese de Mello, Carlos Guilherme Mota e Milton Vargas. São Paulo,1984.Fonte: TENDÊNCIAS, 1985, p. 30.

Figura 133: Professor Kneese de Mello e seus alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismoda UMC. Mogi das Cruzes, SP, década de 1980.Fonte: acervo Unicentro

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Figura 134: Eduardo Kneese de Mello e Lucio Bittencourt (escultor da obra O Guerreiro),homenagem dos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UniversidadeBraz Cubas. Mogi das Cruzes, SP, 1988.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 135: Homenagem dos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UniversidadeBraz Cubas ao professor Eduardo Kneese de Mello por seus 82 anos. Mogi dasCruzes, SP, 1988.Fonte: acervo Unicentro.

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Kneese de Mello não se afastou dos amigos, estudantes e da vida acadêmica mais

consistente.

Aposentado pela USP, continuou com suas aulas de História da Arquitetura no Brasil em

outras faculdades – como a de Guarulhos onde foi Diretor – mas não perdeu o contato

com o IEB, comparecendo às exposições e acontecimentos maiores da Instituição. Já

adoentado, com dificuldades de locomoção, esteve presente, em 1992 – 20 anos

depois daquelas que organizara no IEB – às comemorações dos 70 anos da Semana

de Arte Moderna. E, em setembro de 1993, na cerimônia de inauguração da nova sede

do Instituto de Estudos Brasileiros – sede especialmente adaptada, aproximando-se,

em tamanho e importância daquela que o arquiteto projetara e sonhara há 25 anos

para abrigar as atividades e os acervo do IEB. (BATISTA, 1994, p. 108).

Após sua aposentadoria na FAU USP, Kneese aceitou novos convites de instituições de

ensino que se comprometiam a implantar cursos de arquitetura e passou a contribuir

para a afirmação e qualificação desses cursos. O arquiteto já participava, tal como outros

professores da FAU USP, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Braz

Cubas desde 1971. Foi contratado para participar da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Farias Brito em Guarulhos (atual Universidade de Guarulhos), projetando inclusive, no

final da década de 1970, o edifício sede da escola. Além dessas instituições de ensino,

integrou o corpo docente da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), da Fundação

Armando Álvares Penteado (FAAP), e da Faculdade de Belas Artes de São Paulo.

Com dedicação quase que exclusiva ao ensino na década de 1980, sua experiência e

militância continuaram a contagiar os colegas arquitetos e, nessa época, os jovens que

lotavam as salas de aula dos cursos de arquitetura. À época de seu falecimento, era

professor na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Universidade de Mogi das Cruzes e

Figura 136: Aula proferida por Eduardo Kneese de Mello a convite do bisneto Roberto Montenegrona disciplina do professor Dacio Ottoni na FAU USP. São Paulo, 1993.Fonte: acervo EAQM e YMG.

Figura 137: Aula inaugural com os arquitetos Eduardo Kneese de Mello e Paulo Mendes daRocha, Universidade Braz Cubas. Mogi das Cruzes, SP, 1992.Fonte: acervo Unicentro.

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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Farias Brito, onde exercia também o cargo de

diretor, atividades que asseguravam sua subsistência.

As aulas e palestras de Eduardo Kneese de Mello eram antológicas pela veemência de

sua conversão ao Movimento Moderno de Le Corbusier, e fartamente ilustradas pela

documentação fotográfica que costumava realizar durante suas viagens pelo Brasil e

pelo mundo. Acabou constituindo, dessa forma, um dos maiores acervos fotográficos do

país.

Pode-se notar a dedicação de Kneese ao magistério através do relato do professor Benedito

Lima de Toledo: “Na fase terminal e à véspera de seu falecimento, acordou à noite no

hospital e exclamo: Ajudem-me a levantar, tenho que dar aula” (TOLEDO, 1994, p. 14).

Projetos e obras: um breve relato

A quantidade de projetos e obras que marcou a primeira etapa de sua vida profissional, a

fase de construções ecléticas, não foi a mesma como arquiteto moderno. A produção

arquitetônica do arquiteto Kneese de Mello não teve o mesmo ritmo de produção do

construtor eclético. Seu primeiro escritório de arquitetura permaneceu no edifício do

Largo da Misericórdia até ser inaugurado o edifício-sede do IAB-SP, quando se mudou

para uma das salas.

Nessa nova fase, a prática profissional de Eduardo Kneese de Mello transcorreu em outra

busca estética, de atuação na realidade. Em um primeiro momento, a Escola Carioca,

recheada de ensinamentos corbusierianos e temperada de cultura brasileira, pareceu

mais adequada ou quase inevitável.

Figura 138: Edifício MARA. Rua Brigadeiro Tobias, 247, São Paulo, 1942.Fonte: Acrópole, 1945, nº. 81/ 82, p. 282.

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Em sua primeira obra com conceitos e aspectos arquitetônicos modernos, o Edifício

MARA, projetado e construído em 1942, Kneese de Mello procurou utilizar elementos

fundamentais da Arquitetura Moderna, tais como os pilotis, as formas geométricas puras,

as janelas horizontais e o terraço-jardim; ou seja, claramente direcionada para uma

linguagem corbusieriana. Além das questões estéticas ligadas ao Movimento Moderno, o

arquiteto trabalhou os diversos elementos construtivos de maneira independente, dentro

de uma lógica construtiva que foi uma das principais características da arquitetura do

período. Também foi nesse edifício que se aproximou da habitação mínima – conceito

amplamente discutido pelos arquitetos modernos durante os Congressos Internacionais

de Arquitetura Moderna (CIAM), em suas primeiras edições.

O primeiro projeto moderno que eu fiz creio que foi o prédio na Rua Brigadeiro Tobias,

que foi projetado inicialmente para hotel e foi transformado em apartamentos; em que

eu procurei introduzir as coisas mais simples da arquitetura moderna que eu conhecia.

Eu tinha estado na Suíça, em Zurique, e vi no centro da cidade os prédios comerciais

com muitas flores e achei aquilo muito bonito. Então fiz um prédio nessa Brigadeiro

Tobias e toda fachada e toda extensão é de jardineiras. A minha idéia era que cada

morador pusesse flores coloridas, de cores diferentes na sua janela para gozar a

beleza das flores, mas infelizmente plantaram só verde lá, puseram um gramado lá

naquelas jardineiras, não tem nenhuma flor. Creio que esse foi o primeiro. (depoimento

de Eduardo Kneese de Mello. In: ARQUITETO, s/d. Cf. Anexo 4).

No Edifício Leônidas Moreira, seu segundo edifício moderno, projetado também em

1942, Kneese procurou mostrar que era, realmente, um arquiteto moderno. O edifício,

localizado na rua do Carmo, centro de São Paulo, região valorizada naquela época,

revelava, através da peculiar composição de sua fachada frontal, o desejo de fazer uma

Figura 139: Edifício MARA, 1942. Detalhefachada principal composta, emtoda sua extensão, porjardineiras. Fonte: L´architectured´aujourd´hui – Brésil, 1952, nº.42-43, s/p.

Figura 140: Edifício Leônidas Moreira. Ruado Carmo, 147, São Paulo,1942. Fonte: Acrópole, 1942, nº53, p.169.

Figura 141: Edifício Leônidas Moreira, 1942.Fachada posterior. Fonte:Acrópole, 1942, nº 53, p.71.

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obra original, não pelo mero efeito plástico dos materiais da época, mas como produto

direto da sua utilização como elemento responsável pelas condições ideais de conforto

para as atividades a que se destinavam as salas.

A fachada principal acentuava claramente a estrutura modulada de concreto armado.

Cada módulo (correspondente a uma sala) foi vedado com tijolos de vidro, um acima e

outro abaixo de um painel de brises móveis. No piso térreo, foram locadas as instalações

da firma proprietária, a Casa Bancária Leônidas Moreira S.A. Era fartamente iluminado,

com pé direito duplo, uma sobreloja num piso intermediário e salas menores ao fundo.

Os quatro andares acima eram destinados às salas para escritórios. No subsolo,

localizavam-se a caixa forte, as instalações do zelador e a garagem.

Depois fiz um prédio na Rua do Carmo, pra um banco. E aí eu queria mostrar que eu

era arquiteto moderno: usei brise-soleil, usei tijolos de vidro e fiz a coisa, fazendo

questão de me modernizar, de me apresentar modernizado. (depoimento de Eduardo

Kneese de Mello. In: ARQUITETO, s/d. Cf. Anexo 4).

Kneese colocava, em seus artigos, conferências e palestras, que a habitação e a moradia

se diferem. Segundo o arquiteto, habitar pressupõe uma condição muito maior, de direito

à cidadania. Significa ter acesso aos bens fundamentais que garantem a formação de

uma consciência urbana, da vida do homem em sociedade. Os trechos abaixo explicitam

essa sua noção sobre habitação:

Entendemos por assentamento humano, a habitação.

Mas é necessário esclarecer o que entendemos por habitação.

É comum ouvir falar, entre nós, da construção de centenas ou milhares de novas casas,

para resolver o problema da habitação. Um grave erro. Casa não é habitação.

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Casa é um dos elementos que compõem a habitação – o elemento central,

evidentemente.

A expressão habitação está intimamente ligada ao habitat humano. E esse habitat

não se resume simplesmente em um abrigo ou um teto. (KNEESE DE MELLO, 1988 b,

p. 39).

Nem sempre casa é habitação.

Habitação é um complexo de que a casa é um dos elementos.

O conceito de habitação evolui no tempo. (KNEESE DE MELLO, 1975 b, p. 121).

Em seu próximo projeto, o Conjunto Residencial para o Instituto de Aposentadorias

e Pensões dos Comerciários (IAPC) Cidade Jardim, realizado em 1944, publicado

somente três anos depois, sua proposta sobre a habitação está plenamente colocada.

Nesse projeto, Kneese de Mello contou com a colaboração do arquiteto Hélio Duarte

para elaborar o projeto para a escola e maternidade. Esse conjunto, praticamente horizontal,

trata as circulações em separado, diferenciando o fluxo de pedestres e veículos, conforme

recomendação da Carta de Atenas12 do IV CIAM (1933), oferecendo opções de passeios

cobertos ao longo do conjunto. Escolas e alguns serviços mais imediatos são colocados

à disposição dos moradores como parte da proposta de fruição do espaço. O fato deste

projeto não ter sido executado sempre o incomodou muito: “Infelizmente, houve mudança

na direção do IAPC. O projeto foi considerado inexeqüível. Para receber meus honorários

12 O arquiteto Eduardo Kneese de Mello traduziu este documento para o Instituto de Arquitetos do Brasil –departamento de São Paulo. Essa tradução foi publicada na Revista Acrópole no ano de 1947, exemplar nº.109, p. 1-4.

Figura 142: Conjunto Residencial IAPC. Avenida Cidade Jardim x Marginal Pinheiros, SãoPaulo, 1944. Arquiteto: Eduardo Kneese de Mello. Colaboradores: arquiteto HélioDuarte (escola e maternidade), arquiteto Roberto Burle Marx (paisagismo).Fonte: Arquitetura Contemporânea no Brasil, 1947, nº. 1, s/p.

Figura 143: Conjunto Residencial IAPC Cidade Jardim, 1944. Estudo de circulação, onde seobserva a separação das vias de pedestres (verde) e automóveis (azul).Fonte: Acrópole, 1947, nº. 107, p. 274.

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tive que recorrer à Justiça, o que só consegui depois de dez anos, sem correção monetária”

(KNEESE DE MELLO, s/d, s/p. Cf. Anexo 6).

Outro conjunto residencial foi desenvolvido, desta vez para o Instituto de

Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), na Rua Japurá, em 1945. Neste,

estão presentes diversos ensinamentos corbusierianos, tais como pilotis, terraço-jardim

e, em especial, o conceito de unidade de habitação (unité d’habitation)13.

O prédio do INPS... eu fui convidado a projetar aquele prédio num lugar onde havia um

cortiço chamado Vaticano, era um cortiço enorme, Vaticano, era um buraco, numa rua

estreita, rua da abolição. E a intenção era fazer um prédio muito econômico, mas com

todo conforto para trabalhadores de pequenas indústrias em volta do centro da cidade.

Então eu procurei fazer com o máximo de economia que poderia imaginar sem prejudicar

no conforto.

(...), no alinhamento da rua onde eu podia fazer térreo mais dois andares eu pus lojas

para servir aos moradores, é um empório, um açougue, enfim, coisas que as famílias

que moram lá precisam comprar. E nos dois andares seguintes eu pus salas pequenas

que seriam, assim, para uma cabeleireira, um alfaiate, tudo com o objetivo de servir aos

moradores. Então o conceito de habitação estava bem próximo. Nós entendemos que

habitação não é casa, casa é um dos elementos da habitação. Se você não tem acesso

ao trabalho, à escola, à saúde, não é habitação, é apenas um abrigo, não é uma

habitação. Então lá eu procurei dar o sentido de habitação, o mais completo possível

13 O conceito unité d’habitation compreende um edifício habitacional concebido como uma unidade urbana,com moradias funcionais de qualidade, servidas por equipamentos e serviços coletivos (incluindo área delazer), que tinha entre outras características o terraço-jardim, pilotis e ruas internas.

Figura 144: Conjunto Residencial IAPI. Rua Japurá, 55 e 109, São Paulo, 1945. Arquiteto:Eduardo Kneese de Mello. Colaborador: arquiteto Roberto Burle Marx (paisagismo).Fonte: acervo FAU USP.

Figura 145: Conjunto Residencial IAPI Japurá, 1945. Estudos baseados no Código de ObrasArthur Saboya.Fonte: Acrópole, 1947, nº. 107, p. 274.

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dentro de uma cidade (...). (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: ARQUITETO,

s/d. Cf. Anexo 4).

Destaca-se, realmente, neste conjunto, a tentativa de aliar qualidade à economia em um

edifício vertical, oferecendo, segundo sua definição, habitação ao invés de uma simples

moradia aos usuários. Kneese teve como parceiro nesse edifício Roberto Burle Marx,

autor do projeto paisagístico.

A década de 1950 foi um período de realizações e envolvimentos que marcaram a atuação

profissional de Kneese de Mello, iniciando com o projeto, em parceria com o arquiteto

Luis Saia, para a I Bienal de São Paulo (1951). O edifício projetado para a esplanada do

Parque Trianon na Avenida Paulista aproveitava-se da declividade do terreno e utilizava o

subsolo como depósito, bar e serviços gerais, para que o nível de acesso direto da avenida

fossem distribuídos os salões de exposição, um auditório e uma área de recepção.

Com uma plástica de volumetria simples, o projeto se constitui de uma grande laje de

concreto configurando um generoso pé-direito e assegurando o aproveitamento dos

2400 metros lineares para exposição, sobre um volume opaco que avança sob a

cobertura e um plano de vidro. (SILVA, 2003, p. 73).

Uma experiência importante e até o momento pouco valorizada pela historiografia é o

Conjunto Residencial Jardim Ana Rosa14, de 1950. Trata-se de um empreendimento

privado de grandes proporções, promovido pelo Banco Hipotecário Lar Brasileiro, para a

pequena burguesia urbana paulistana, contendo moradia e comércio, diferentes tipologias,

14 Sobre o Conjunto Residencial Jardim Ana Rosa, ver: BARBARA, Fernanda. Duas tipologias habitacionais:o conjunto Ana Rosa e o Edifício Copan. Contexto e análise de dois projetos realizados em São Paulo nadécada de 1950. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.Dissertação de mestrado, 2004.

Figura 148: Implantação do Conjunto Residencial Jardim Ana Rosa, projeto final. Vila Mariana,São Paulo, 1954. Arquitetos: Abelardo de Souza, Plínio Croce, Roberto Aflalo,Eduardo Kneese de Mello, Salvador Candia, Walter Kneese e Nelson Pedalini.Fonte: BARBARA, 2004, p. 82.

Figura 146: Museu de Arte Moderna de São Paulo – I Bienal, Trianon, São Paulo, 1951.Arquitetos: Luis Saia e Kneese de Mello.Fonte: Acrópole, 1951, nº.157, p.3.

Figura 147: Museu de Arte Moderna de SãoPaulo – I Bienal, 1951. Fachadaprincipal. Fonte: THOMAZ, 1992/1993, p.82.

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sobrados e pequenos edifícios desenhados por renomados arquitetos, entre eles Abelardo

de Souza, Salvador Cândia, Plínio Croce, Roberto Aflalo e Walter Kneese.

Eduardo Kneese de Mello desenvolveu, em 1952, o projeto de uma quadra com seis

blocos de apartamentos (apenas dois foram construídos, edifícios Guapira e Hicatu,

com seis pavimentos cada), em um terreno com forte inclinação. Implantou os blocos

paralelos à linha norte/sul, procurando a melhor e mais intensa insolação das fachadas,

como havia feito com as casas geminadas do conjunto Residencial IAPC. Aproveitando

da declividade, criou acessos no térreo e no terceiro pavimento dos blocos, suprimindo o

uso de elevadores. A privacidade, a economia e a qualidade das soluções adotadas, uma

meta sempre perseguida em seus projetos, se expressam nesse caso de uma maneira

eloqüente.

Outra experiência marcante para Kneese de Mello, ainda no início da década de 1950,

foi sua participação na Uniseco do Brasil S.A.15, empresa dedicada à habitação

industrializada. O sistema Uniseco combinava estrutura de madeira e painéis de

fibrocimento como vedação. Essa experiência representou para o arquiteto a

concretização de uma perspectiva para a modernização da arquitetura brasileira e solução

para a questão habitacional. Por outro lado, foi o seu fracasso financeiro impondo

dificuldades que perduraram até o fim da vida. “(...) a experiência daqui não era igual à da

Inglaterra, os materiais não eram iguais aos de lá, e no fim das coisas a fábrica deu com os

15 O arquiteto Roberto Alves de Lima Montenegro Filho, em seu mestrado, na FAU USP, estuda especificamentea tecnologia da Uniseco, podendo oferecer maiores informações a respeito da mesma. Um único exemplarde residência construído com esta tecnologia, a de Horácio Kneese de Mello em Cotia, foi publicado naRevista Casa & Jardim, nº. 15, p. 22-25, 1955. Esta residência permanece construída, embora tenha sofridosignificativas alterações.

Figura 150: Residência Horácio Kneese deMello, construída com tecnologiapré-fabricada Uniseco do BrasilS.A. Cotia, SP, 1955Fonte: Casa e Jardim, 1955, nº.15, p. 22.

Figura 149: Conjunto Residencial Jardim Ana Rosa. Rua José de Queiroz Aranha, SãoPaulo, 1952. Arquiteto: Eduardo Kneese de Mello.Fonte: Acrópole, 1953, nº. 182, p. 75.

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burros n’ água. Eu perdi o que tinha e o que não tinha. Só não perdi o entusiasmo”

(KNEESE DE MELLO, 1979 [?], p. 14).

A Uniseco do Brasil foi inviabilizada, principalmente, pelo alto custo para a época e pela

diferença entre os materiais ingleses e brasileiros. Havia problemas com os materiais

disponíveis e uma total falta de receptividade, gerando um final prematuro para esta

tentativa, talvez pioneira no país. Para Kneese o negócio havia desmoronado por dois

problemas principais. Primeiro, eles não tinham muito capital:

Era preciso bastante dinheiro para fazer uma grande promoção, pois é muito difícil

convencer a população mais simples a morar numa casa pré-fabricada, quando ela

está acostumada aos materiais tradicionais. (depoimento de Eduardo Kneese de Mello.

In: PINTO, 1991, p. 98).

O capital da firma era pequeno e não podia suportar todos os contratempos surgidos.

Era inadiável suspender toda sua atividade, com enorme prejuízo. (KNEESE DE MELLO,

1992, p. 42).

A segunda dificuldade foi o material: “Os painéis eram feitos com chapas de fibrocimento,

mas elas não tinham a flexibilidade das inglesas; quando o painel secava, começava a

trincar” (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: PINTO, 1991, p. 98). Tem-se a

impressão de que o principal motivo pela qual a Uniseco do Brasil fracassou foi a

inexperiência da equipe com os materiais e as técnicas necessárias para a fabricação

do produto, sendo que não se pode esquecer das barreiras culturais existentes na época.

No entanto, não se pode negar o aprendizado do arquiteto diante do conhecimento

adquirido com os pré-fabricados. Conhecimento este demonstrado nas obras projetadas

posteriormente como o Conjunto Residencial para os estudantes da Universidade de São Figura 152: Residência pré-fabricada Uniseco em fase de montagem.Fonte: Casa e Jardim, 1955, nº. 15, p. 23.

Figura 151: Planta da residência Horácio Kneese de Mello, 1955.Fonte: Casa e Jardim, 1955, nº. 15, p. 22.Redesenho: Aline Nassaralla Regino

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Paulo (CRUSP, 1961) e a Faculdade de Arquitetura Farias Brito (1981), assim como os

projetos para os Postos de Assistência Médica - INPS da Várzea do Carmo (1968) e

Tatuapé (1976).

Ainda na década de 1950, trabalhou com Oscar Niemeyer em duas grandes obras. Foi

seu parceiro, juntamente com Hélio Uchoa e Zenon Lotufo, contando com a colaboração

dos arquitetos Carlos Lemos e Gauss Estelita, na construção do Parque Ibirapuera

(1954). Participou, também, de sua equipe na construção de Brasília, sendo um dos

arquitetos da NovaCap (Nova Capital), entre 1957 e 1960.

Da sua atuação em Brasília destacam-se dois projetos: o Palácio do Comércio (1959)

e o Palácio da Agricultura (1959), duas sedes de entidades federativas, ambas no Setor

Bancário Norte. Tratam-se de obras que representam o contato direto com o apuro

tecnológico que significou a construção de Brasília para a arquitetura brasileira. Kneese

de Mello absorveu lições importantes do processo de edificação de uma cidade construída

para o futuro. Sua produção seguinte reflete tais preocupações. Percebe-se então que a

industrialização era um horizonte que, para Kneese, trazia em si os contornos de uma

nação futura e justa.

Devido às atividades que exercia no IAB-SP e aos inúmeros convites para proferir palestras,

muitas vezes em outras cidades, o arquiteto não conseguia ter uma presença assídua em

seu escritório, foi necessário associar-se a outro arquiteto que pudesse acompanhar os

projetos em construção e que continuasse a desenvolver em ritmo contínuo os projetos

em andamento. Portanto, por volta de 1959, Kneese convidou dois jovens arquitetos para

trabalharem com ele em seu escritório: Joel Ramalho Junior e Sidney de Oliveira.

Figura 155: Palácio da Agricultura. SetorBancário Norte, Brasília, 1959.Fonte: Módulo, 1959, nº.14,p.22.

Figura 154: Palácio do Comércio. SetorBancário Norte, Brasília, 1959.Arquitetos Eduardo Kneese deMello e Carlos Senna. Fonte:Módulo, 1959, nº. 13, p.10.

Figura 153: Parque Ibirapuera, AvenidaPedro Álvares Cabral, s/nº, SãoPaulo, 1951. Arquitetos OscarNiemeyer, Eduardo Kneese deMello, Helio Uchoa, ZenonLotufo. Colaboradores arquitetosGauss Estelita e Carlos Lemos.Fonte: ANTE – PROJETO,1952.

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Mais privilegiado ainda fui eu, que recebi o convite do Kneese para trabalhar, logo que

me formei, em seu atelier. Eduardo estava retomando suas atividades em seu escritório,

no último andar do edifício do IAB, na rua Bento Freitas em São Paulo, onde convivíamos

diariamente com os freqüentadores do Instituto de Arquitetos. (RAMALHO, s/d, s/p. Cf.

Anexo 5).

Um dos primeiros projetos realizados em parceria com esses jovens arquitetos, e talvez o

mais conhecido é o Conjunto Residencial para a Cidade Universitária da Universidade

de São Paulo, CRUSP, de 1961. O projeto apresentou uma linguagem que permitiu a

pré-fabricação e a industrialização de quase todos os seus componentes. Foi, talvez, a

primeira grande experiência com este tipo de construção realizada no país.

Essa era a nossa luta, e nós conseguimos. Meia dúzia de prédios foi inaugurada para

os jogos Pan-americanos de 63, seis meses antes chegou uma comitiva lá do exterior

para verificar os aposentos dos atletas, e eu me lembro que a gente teve uma reunião

lá na cidade universitária com as plantas na mão. O pessoal (técnicos estrangeiros)

olhava um para o outro e olhava o terreno vazio, onde iram ser construídos os prédios,

e diziam: ‘Mas vai dar tempo?’ E nós explicávamos que era tudo industrializado. E elas

falavam: ‘Bom, nós confiamos na palavra dos arquitetos brasileiros’. Estava eu o Kneese

e o Joel, e essa reunião é histórica. Seis meses depois estava tudo construído, foi uma

batalha. (OLIVEIRA apud SILVA, 2003, p. 64).

Kneese pôde explorar intensamente, a partir dos anos 1960, o uso da pré-fabricação e a

plasticidade do concreto armado, além do conceito de habitar e a questão da identidade

cultural – aspectos que valorizou nas décadas seguintes. Apesar de o período ser marcado

politicamente pelo traumático golpe de estado, a ditadura e o governo militar, que se

Figura 156: CRUSP. Cidade Universitária, São Paulo, 1961. Arquitetos Kneese de Mello,Joel Ramalho Jr. e Sidney de Oliveira.Fonte: Revista do Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura Mackenzie,s/d, nº. 1, p. 39.

Figura 157: Vista aérea dos seis primeiros blocos já construídos do conjunto residencial paraestudantes da Universidade de São Paulo, 1961.Fonte: XAVIER, LEMOS, CORONA, 1983, p. 61.

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estendeu até o ano de 1984, Kneese de Mello teve uma intensa atividade profissional,

como arquiteto, professor e representante dos arquitetos.

A verticalização paulistana continuou como uma fonte de encomendas importantes, mas

pouco desafiadoras para a conceituação e o ideário que o arquiteto construía e reconstruía

a cada projeto, a cada obra. Kneese de Mello projetou, ainda nos anos sessenta edifícios

para fins de saúde e residenciais, podendo, assim, aperfeiçoar a plasticidade e o

detalhamento de suas obras.

Em uma série de projetos para a cidade de São Paulo nos anos de 1960 a 1970, defrontou-

se com temas difíceis e respondeu com projetos marcados simultaneamente pela

racionalidade construtiva da pré-fabricação e pelo idealismo urbanístico, arrojados e

expressivos formalmente. Esses projetos são representados pelo Posto de Assistência

Médica do INPS na Várzea do Carmo de 1967 e pelo Cemitério da Vila Paulicéia, na

cidade de São Bernardo do Campo em 1969, desenvolvidos em parceria com o arquiteto

Sidney de Oliveira.

O Posto de Assistência Médica – Várzea do Carmo foi premiado pelo IAB na categoria

Edifícios para saúde, em 1967. Como a construção está localizada às margens do Rio

Tamanduateí, cujas águas de tempos em tempos transbordam inundando o local, foi

previsto pelos arquitetos um andar térreo estanque, com as entradas protegidas por rampas,

de modo que, em caso de inundação, esse piso ficasse protegido totalmente contra as

águas. A construção foi proposta pelos arquitetos em um sistema de elementos de concreto

armado pré-fabricados, sendo, portanto, uma estrutura independente. Os elemen-tos de

vedação, painéis tipo bandeja, foram colocados ora abertos para fora, fa-zendo a

movimentação da fachada e ora para dentro, permitindo instala-ção de armários

Figura 159: Cemitério da Vila Paulicéia,1969.Ossário construído conformeprojeto original, com a utilizaçãode tubos pré-fabricados.Fonte: acervo FAU USP.

Figura 160: Cemitério da Vila Paulicéia, 1969.Capela construída com tubos pré-fabricados.Fonte: acervo FAU USP.

Figura 158: Posto de Assistência Médica –INPS Várzea do Carmo, 1967.Detalhe das fachadas e acesso.Fonte: acervo FAU USP.

Figura 161: Cemitério da Vila Paulicéia Rua Julio de Mesquita, São Bernardo do Campo, SP,1969. Arquitetos Eduardo Kneese de Mello e Sidney de Oliveira.Fonte:Acrópole, 1969, nº. 365, p. 25.

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embutidos ou ban-cos para descanso dos doentes. As quatro fachadas são fechadas,

sem aberturas.

O Cemitério da Vila Paulicéia, 1969, foi um dos projetos em que Kneese demonstrou

sua luta pela democratização da arquitetura. Para os arquitetos deste projeto, o cemitério

tradicional apresenta um aspecto errôneo. As sepulturas retratam as condições financeiras

das pessoas, variando entre covas rasas e construções monumentais de mármore ou

bronze. Para que isto fosse evitado neste projeto, foi proposto que todas as sepulturas

fossem rigorosamente iguais. Os vasos para flores de cada sepultura foram também

projetados e uniformizados, pois desta forma não haveria uma distinção entre as pessoas

ali sepultadas.

No final dessa sua segunda fase profissional, o arquiteto encontrava-se em pleno processo

de exploração formal, como sempre, fortemente vinculada à funcionalidade e ao ideário

que dava alma ao programa.

O Mercado Distrital da Vila Clementino, projeto publicado em 1970, encomendado

pelo Secretário de Abastecimentos da Prefeitura Municipal de São Paulo, Fabio Iassuda,

visava melhorar os serviços de abastecimentos dos munícipes paulistanos, substituindo

as feiras livres por mercados, bem construídos, higiênicos e que oferecessem condições

e conforto aos compradores. De planta circular, com oitenta metros de diâmetro, a estrutura

era formada por um anel de vinte metros de espessura, coberta por uma casca plissada

formando pórticos transversais espaciais de vãos de dezessete metros entre os eixos das

arestas de apoio. Este anel forma uma praça interna, também circular, de quarenta metros,

onde foi projetado um playground e a caixa d’água em elemento vertical.

Figura 162: Mercado Distrital – PrefeituraMunicipal de São Paulo. VilaClementino, São Paulo, 1970.Arquitetos Eduardo Kneese deMello e Sidney de Oliveira.Fonte: Acrópole, 1970, nº. 371,p.14.

Figura 163: Mercado Distrital VilaClementino, 1970. Vista aéreada maquete.Fonte: Acrópole, 1970, nº. 371,p. 14.

Figura 164: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Farias Brito. Guarulhos, SP, 1981. ArquitetosEduardo Kneese de Mello e Sidney de Oliveira.Fonte: Projeto, 1981, nº. 31, p. 22.

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A última obra publicada do arquiteto, de 1981, foi o edifício da Faculdade de Arquitetura

Farias Brito, localizada em Guarulhos, São Paulo. O arquiteto pertencia ao corpo docente

inaugural do curso e participou ativamente de sua estruturação, ao lado de Eduardo

Corona. Coube, no entanto, a Kneese de Mello projetar o edifício para o curso de Arquitetura,

um privilégio desfrutado por poucos. A identificação gerada pelo edifício terminou por

conferir-lhe a condição de símbolo da atual Universidade de Guarulhos, que ostenta uma

imagem baseada no detalhe de fechamento que compõe as fachadas do edifício em sua

logomarca.

À medida que avançava em direção aos anos 1990, o arquiteto Eduardo Kneese de Mello

dedicou-se cada vez mais ao ensino, restringindo suas atividades de projeto a poucas

encomendas. Sua militância, entretanto, a favor da verdade na arquitetura continuou

dentro das salas de aula. Batalhou para que as novas gerações de arquitetos não

cometessem o mesmo erro, não mentissem arquitetonicamente, e retratassem a

arquitetura de seu tempo.

Além desta luta pela verdade arquitetônica, Kneese travou batalhas com o Conselho

Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) em defesa das atribuições

profissionais dos arquitetos. Apregoava uma máxima: ARQUITETURA ATRIBUIÇÃO DO

ARQUITETO. Frase esta que acabou se transformando em sua marca, traduzindo em

poucas palavras sua luta de décadas.

Figura 166: Panfleto distribuído por EduardoKneese de Mello em defesa dasatribuições profissionais dosarquitetos.Fonte: acervo Unicentro.

Figura 165: Depoimento de Eduardo Kneese de Mello em evento realizado pelo IAB-SP:Arquitetura e Desenvolvimento Nacional – depoimentos de arquitetos paulistas.São Paulo, 1979.Fonte: IAB-SP, 1979[?], p. 13.

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Projetos e obras: documentação fotográfica

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Figura 167: Edifício MARA. Rua BrigadeiroTobias, 247, São Paulo.Fonte: L´architectured´aujourd´hui – Brésil, 1952, nº.42-43, s/p.

Figura 168: Leônidas Moreira.Rua Carmo, 147.Fonte: ArquiteturaContemporânea noBrasil,1947 nº.1.

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Figura 169: Conjunto Residencial IAPC. AvenidaCidade Jardim. Arquiteto Kneese deMello. Col: Hélio Duarte e BurleMarx. Fonte: The ArchitecturalForum, 1947, v. 87, nº. 5, s/p.

Figura 170: Conjunto Residencial IAPI. Rua Japurá, 55 e 109,São Paulo. Arquitetos Eduardo Kneese de Mello eRoberto Burle Marx (paisagismo).Fonte: acervo FAU USP.

Figura 171: Edifício Cavaru.Rua Maria Paula,64, São Paulo.Fonte: Acrópole,1949, nº. 138, p.172

Figura 172: Residência Marcos Lindenberg.Santo Amaro, São Paulo.Fonte: acervo EAQM e YMG.

Figura 173: Museu de Arte Moderna de São Paulo – I Bienal de São Paulo. Trianon, São Paulo. Arquitetos Luis Saia e EduardoKneese de Mello.Fonte: Acrópole, 1951, nº 157, p. 4.

Figura 174: Residência. Rua Itália, São Paulo.Fonte: Acrópole, 1951, nº. 157, p. 8.

Figura 175: Parque Ibirapuera. Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n°, SãoPaulo. Arquitetos Oscar Niemeyer, Eduardo Kneese de Mello,Helio Uchoa, Zenon Lotufo. Colaboradores arquitetos GaussEstelita e Carlos Lemos.Fonte: Acrópole, 1954, nº. 185, p. 216.

Figura 176: Residência de fim desemana. Cotia, SP.Fonte: acervo RALMF.

Figura 177: Conjunto Residencial Jardim AnaRosa – Edifícios Guapira e Hicatu.Rua José de Queiroz Aranha, 155e 185, São Paulo.Fonte: acervo FAU USP.

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Figura 178: Edifício Juruá. RuaBento Freitas, 341,São Paulo. Fonte: AD,1956, nº. 17, s/p.

Figura 179: Residência Horácio Kneese de Mello. Casapré-fabricada por meio da tecnologiaUniseco. Cotia, SP.Fonte: Casa e Jardim, 1955, nº. 5, p. 25.

Figura 180: Edifício Demoiselle. RuaRocha, 23, São Paulo.Fonte: AD Arquitetura eDecoração, 1956, nº. 18,s£p.

Figura 181: Palácio do Comércio. SetorBancário Norte, Brasília.Arquitetos Eduardo Kneese deMello e Carlos Senna. Fonte:Módulo, 1959, nº. 3, p. 10.

Figura 182: Palácio daAgricultura. SetorBancário Norte,Brasília. Fonte:Módulo, 1959, nº.14, p. 22.

Figura 183: Edifícios de Apartamentos. Rua Iguatemi,São Paulo.Fonte: Acrópole, 1960, nº. 266, p. 62.

Figura 184: Edifício Renato da Fonseca.Rua Antônio Carlos, 180, SãoPaulo. Arquitetos Kneese deMello e Joel Ramalho Jr.Fonte:Módulo,1961,nº.24,p.34.

Figura 186: Conjunto Residencial para estudantes daUniversidade de São Paulo (CRUSP). Butantã, SãoPaulo. Arquitetos Eduardo Kneese de Mello, JoelRamalho Jr. e Sidney de Oliveira.Fonte: Acrópole, 1964, nº. 303, p. 100.

Figura 185: Anteprojeto para a Assembléia Legislativa de São Paulo. Avenida Ibirapuera, São Paulo.Arquitetos Eduardo Kneese de Mello, José Maria Gandolfi, Joel Ramalho Jr., Luiz Forte Nettoe Francisco Petracco. Colaboradores Sidney de Oliveira, Roberto Gandolfi, Luiz Gobeth Filhoe Raymond.Fonte: Acrópole, 1961, nº. 273, p. 311.

Figura 187: Anteprojeto para a Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG. Arquitetos Eduardo Kneese de Mello,Joel Ramalho Jr, Sidney de Oliveira, Fabio Canteiro. Colaoradores: José M. de Moura Pessoa, João Mollo e Sergiode Feo. Consultor estrutural: Arthur L. Pitta.Fonte: Acrópole, 1962, nº. 283, p. 222.

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Figura 188: Posto de Assistência Médica – INPS. Várzea do Carmo, São Paulo. Arquitetos Eduardo Kneese de Melloe Sidney de Oliveira.Fonte: Acrópole, 1968, nº. 349, p. 18.

Figura 189: Edifício de Consultórios Médicos. Rua CincinatoBraga, 59, São Paulo. Arquitetos EduardoKneese de Mello e Sidney de Oliveira. Fonte:Acrópole, 1968, nº. 351, p. 26.

Figura 190: Cemitério Vila Paulicéia. Rua Julio de Mesquita, São Bernardodo Campo, SP. Arquitetos Eduardo Kneese de Mello e Sidneyde Oliveira.Fonte: Acrópole, 1969, nº. 365, p. 24.

Figura 191: Mercado Distrital – Prefeitura Municipal de São Paulo. Vila Clementino, SãoPaulo. Arquitetos Eduardo Kneese de Mello e Sidney de Oliveira.Fonte: Acrópole, 1970, nº. 371, p. 14.

Figura 192: Residência Arno Hering.Chácara Flora, São Paulo.Fonte: Revista DirigenteConstrutor, agosto 1974, p. 47.

Figura 193: Secretaria Negócios Jurídicos eServiços Complementares.Avenida 23 de Maio, São Paulo.Arquitetos Kneese de Mello e Sidneyde Oliveira. Fonte: Jornal da FAUFarias Brito, 1976, nº. 1,s/p.

Figura 194: Posto INPS - Vila Maria Zélia. Tatuapé, São Paulo. ArquitetosEduardo Kneese de Mello e Sidney de Oliveira.Fonte: C& J Arquitetura, 1977, nº. 15, p. 74.

Figura 195: FAU Farias Brito.Guarulhos, SP. ArquitetosKneese de Mello e Sidneyde Oliveira. Fonte:Projeto, 1981, nº. 31,p. 25.