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CAPITULO 1 ADEVA – ASSOCIAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS E AMIGOS Fundada em: 09/08/1978 Diretor - Presidente atual: Markiano Charan Filho Centro de Treinamento Mário Covas - Integrado à Escola Estadual Lasar Segall End: Rua São Samuel,174,Vila Clementino,CEP 04120-030 São Paulo (SP) Telefones: 11 5084-6693 / 5084-6695 E-mail: [email protected] Site: http://www.adeva.org.br MAPA DE LOCALIZAÇÃO 1

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CAPITULO 1

ADEVA – ASSOCIAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS E AMIGOS

Fundada em: 09/08/1978

Diretor - Presidente atual: Markiano Charan Filho

Centro de Treinamento Mário Covas - Integrado à Escola Estadual Lasar Segall

End: Rua São Samuel,174,Vila Clementino,CEP 04120-030 São Paulo (SP)

Telefones: 11 5084-6693 / 5084-6695

E-mail: [email protected]

Site: http://www.adeva.org.br

MAPA DE LOCALIZAÇÃO

1

CAPITULO 2

ADEVA: HISTÓRICO E DIAS ATUAIS

Adeva (Associação de Deficientes Visuais e Amigos) é uma organização da

sociedade civil de interesse público, sem partido político e não possui fins

lucrativos atuando em São Paulo e cidades próximas.

A Instituição conta com associados que tem deficiência ou não. Trabalha com

projetos por meio da colaboração dos associados, doações, patrocínios,

parcerias, receita de eventos e produção de impressos em Braille.

A Adeva surgiu através de um grupo de doze pessoas no ano de 1975

informalmente, e no ano de 1978 passou a se constituir como pessoa jurídica .

Tinha como objetivo a busca e implementação de ideais por meio da educação

e do trabalho como também a convivência dos deficientes visuais com pessoas

que não possuem deficiência no intuito da queda do preconceito.

Em 1980 realizou trabalhos como ampliação de livros, cartilhas, apostilas e

gravação em fita magnética por meio de materiais técnicos e didáticos para

alunos da Rede Pública.

No ano de 1981 participou de alguns movimentos reivindicatórios estaduais e

nacionais com relação às pessoas com deficiência visual.

Já em 1982 trabalhou no encaminhamento de profissionais deficientes visuais

ao mercado de trabalho.

Em 1984 houve a criação da primeira Gestão do Conselho Estadual para

Assuntos da Pessoa Portadora de Deficiência (CEAPDC), órgão consultivo

autônomo que possui suporte administrativo do Governo do Estado de São

Paulo onde a Adeva teve participação fundamental.

No ano de 1985 em parceria com a Coordenadoria de Estudos e Normas

Pedagógicas de Processamento de Dados (APPD), realizaram cursos de

informática para alunos do ensino público.

Já em 1987 a instituição apresentou para a Assembléia Nacional Constituinte

documento que continha sugestões relacionadas à garantia dos direitos dos

deficientes junto a Constituição de 1988. Também no mesmo ano trabalhou

fortemente na inserção de alunos formados pela Adeva como programadores

2

de computador na Prodam (Companhia de Processamento de Dados do

Município do Estado de São Paulo).

Em 1991 ministrou a palestra “A Integração do deficiente por meio do mercado

de trabalho” em seminário na Escola Especial da Lapa, comunidades

religiosas, faculdades, associações, escolas, dentre outras instituições.

Já em 1995 realizou o trabalho de integração de deficientes visuais e não

deficientes na Associação Cristã de Moços (ACM/SP). No mesmo ano em

parceria com o Banco de Olhos de São Paulo teve inicio o “Programa Dia da

Visão” que consistia no trabalho com a comunidade relacionado à exposição de

materiais e equipamentos de uso de deficientes visuais, realização de exames

de acuidade visual, recebimento de córnea para o Banco de Olhos, palestras

de prevenção a cegueira e integração do deficiente visual junto à família e a

sociedade.

Já em 1997 surgiu na Instituição o primeiro jornal bimestral impresso em Braille

e em tinta – “Conviva” que transmite a filosofia da entidade tendo como tiragem

3.000 exemplares. Realizou também o curso piloto de culinária. Houve a

ampliação de cursos relacionados à reciclagem de profissionais na área de

informática com a parceria da Companhia Energética de São Paulo (CESP).

Neste mesmo ano também foram ministradas palestras de orientação junto aos

funcionários do Poupa Tempo.

Atualmente a instituição oferece os seguintes serviços e cursos:

Ofertas de emprego

Cursos com parcerias de empresas

Impressão de textos em Braille ou caracteres ampliados

Jornal Conviva em Braille, ampliado e a tinta

Eventos em geral

Sites com informações variadas através de conteúdos ligados aos

deficientes em geral.

Cursos sobre a criação de projetos e propostas relacionados à inclusão

do deficiente visual cujo público alvo são educadores culturais, sociais,

formais, designers, produtores de eventos, produtores culturais e

interessados.

3

Palestras e treinamento para as empresas que vão receber deficientes

visuais em seu quadro de colaboradores.

Preparação de currículos e encaminhando para as empresas

Ensino fundamental nível 2 e ensino médio

Braille

Sorobã

Informática Básica e avançada (windows, word, internet, virtual vision,

jaws, excel, access, lógica de programação, cobol, HTML, javascript,

delphi, montagem e manutenção de micros, SQL-Banco de dados-

programando e administrando, formação de instrutores de informática e

rede de computadores).

Orientação e mobilidade

Educação para o trabalho

Relacionamento interpessoal

Qualidade no atendimento

Técnicas de atendimento telefônico

Vendas externas.

Liderança

Marketing Pessoal

Estenotipia

Matemática

Português

Inglês

Culinária

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CAPÍTULO 3

CONTEXTUALIZAÇÃO

O termo “deficiente” etimologicamente vem do Latim – “Efficcere” que significa

o ato de provocar resultados. O que não cabe dentro do histórico da deficiência

como um todo.

Deficiência visual compreende uma situação irreversível de diminuição da

visão, mesmo após tratamento clínico e ou cirúrgico e uso de óculos

convencionais. A pessoa com cegueira ou baixa visão tem restringida a sua

velocidade de trabalho, a orientação e a mobilidade. Essa deficiência é

classificada pela OMS em categorias que abrangem desde a perda visual leve

até a ausência total de visão. A adoção dessa classificação é recomendada

para que se possa ter uma maior uniformidade de dados estatísticos e estudos

epidemiológicos comparativos entre os diferentes países.

Em crianças, as causas oculares mais comuns de perda visual são as de

origem infecciosa congênita, como a rubéola e a toxoplasmose, ou as doenças

adquiridas durante os primeiros meses de vida e as de causa hereditária. As de

origem cerebral estão associadas à sequelas neurológicas causadas

principalmente pela prematuridade, síndromes e malformações congênitas

associadas a múltiplas deficiências que, muitas vezes, sobrepujam a

importância da deficiência visual. No adulto, com o aumento da expectativa de

vida e a prevalência das doenças crônico-degenerativas – as quais aumentam

com a idade, as principais causas de perda visual são a retinopatia diabética, o

glaucoma e a degeneração muscular senil. A catarata é uma das principais

causas de cegueira no Brasil com mais de 70% dos casos. Segundo a OMS,

cerca de 1% da população mundial apresenta algum grau de deficiência visual,

mais de 90% destes encontram-se nos países em desenvolvimento. Nos

países desenvolvidos, a população com deficiência visual é composta por

aproximadamente 5% de crianças, enquanto os idosos são 75% desse

contingente.

Falar de baixa visão é diferente de falar em cegueira. Na cegueira, existe um

padrão único de resposta, ou seja, a pessoa não enxerga nada.

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Para entender o que se chama de baixa visão, há três padrões diferentes:

Primeiro: a pessoa pode ter uma alteração da transparência dos meios

óticos, ou seja, as estruturas que são transparentes podem perder a

transparência. Por exemplo: a perda da transparência do cristalino por

causa de uma catarata não operada ou uma cicatriz na córnea.

Segundo: cicatriz na região central da retina, na mácula ou fóvea para

onde converge a imagem, pode provocar um defeito no campo visual

que obriga a pessoa a posicionar a cabeça e o olhar de tal modo que a

visão seja jogada na área da retina que permanece viável.

Terceiro: fechamento do campo visual por doenças oculares, como o

glaucoma ou a retinose pigmentar. Nesse caso, a pessoa vai perdendo o

campo periférico até que só lhe resta a visão em tubo. Como

conseqüência, perde a orientação espacial e precisa realizar uma

varredura maior no ambiente para reconhecê-lo e localizar-se.

O critério de baixa visão segue esses três padrões de reposta, que são

diferenciados, porque dependem da alteração da acuidade visual ou de outras

funções como sensibilidade ao contraste, percepção das cores e intolerância à

luminosidade.

1.1 O Deficiente Visual Na História

Desde a antiguidade a cegueira e a baixa visão sempre foram consideradas

como algo de difícil compreensão, as pessoas eram vistas como incapazes,

eram maltratadas e muitas vezes eliminadas. Somente a partir de 200 anos

atrás é que se começou a perceber que as pessoas com baixa visão e cegueira

poderiam ser educadas e participarem ativamente da sociedade como um todo.

Na antiguidade o Egito era conhecido como o país dos cegos por ter uma

grande quantidade de pessoas com baixa visão e cegueira devido ao clima

quente e a poeira, e os médicos que cuidavam dessas pessoas ficaram

famosos na região mediterrânea.

No Japão desde os tempos mais remotos mantinham uma atitude positiva com

relação às necessidades das pessoas com deficiência visual no que diz

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respeito à independência e a auto-ajuda. Muitos cegos tornavam-se contadores

de histórias e historiadores, gravando na memória os anais do império e os

feitos sendo encarregados de perpetuarem assim as tradições milenares.

Em Roma, por exemplo, alguns cegos tornaram-se pessoas letradas,

advogados, músicos e poetas. Cícero orador e escritor romano aprendeu

Filosofia e Geometria com seu tutor cego que chamava-se Diodotus. Entretanto

a maioria vivia na penúria recebendo alimentos e roupas como esmola. Os

meninos eram escravos e as meninas tornavam-se prostitutas.

No século XII no Reino Unido foi mencionado um refúgio para homens cegos,

perto de Londres que foi aberto por Willian Elsing, pois os cegos eram

mendigos e viviam da caridade alheia.

Já na Idade Média surgiu a Lei “ The Poor Law Act” no ano de 1601 que previa

abrigo e suporte aos pobres, incapazes e cegos. Por mais 200 anos desta data

em diante, viveram em suas casas e instituições chamadas de “Asylums” e

contavam com algum suporte dos governantes.

Na Bíblia a cegueira é mencionada como falta de fé, pecado, ignorância e um

castigo enviado por Deus. A cura dos cegos nela é mencionada como a

remissão dos pecados e reflete o pensamento cultural da antiguidade em

relação à cegueira, tendo grande influência sobre artistas e escritores da época

e também de certa forma colaborando para o circulo vicioso do preconceito.

A história, as lendas, a literatura e a bíblia contribuíram para que se fosse

perpetuada as idéias negativas e mitos sobre a falta de visão na vida das

pessoas e na sociedade.

Vale ressaltar de que essas barreiras em sua grande maioria eram e são

construídas pela própria sociedade, traduzidas em sua linguagem para

descrever a deficiência pela cultura da normalidade.

Houve uma mudança significativa no século XIX mais precisamente no ano de

1825 através de Louis Braille que possibilitou o acesso dos cegos de todo o

mundo à cultura e educação por meio do Sistema Braille de leitura. De lá para

cá muito progresso tem sido alcançado no estudo das pessoas com deficiência

visual, desde serem tratadas não mais como doentes (conceito médico), até a

possibilidade da inclusão.

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Atualmente, há uma legislação específica que ampara as pessoas com

deficiência procurando concretizar o ideal de uma sociedade para todos. A

possibilidade legal é um grande ganho, mas a lei em si não garante a inclusão.

No Brasil, a atenção aos deficientes surgiu com o caráter de atendimento

elementar, nas áreas de educação e de saúde, desenvolvida em instituições

filantrópicas, evoluindo depois para o atendimento de reabilitação, sem

assumir, contudo, uma abordagem integradora desse processo e preservando,

na maioria dos casos, uma postura assistencialista.

Dentro da atuação legislativa que foi aderida tanto internacionalmente como

nacionalmente adequando-se as particularidades do país, seguem abaixo:

Convenções Internacionais: Nosso país aderiu à Declaração dos

Direitos do Homem e subscreveu duas Convenções Internacionais

realizadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela

Organização dos Estados Americanos, cujo objetivo era coibir qualquer

discriminação, distinção, exclusão que tinha como efeito a destruição ou

alteração da igualdade de oportunidades com relação ao emprego e

profissão, a adoção de medidas relacionadas à readaptação profissional

e emprego de deficientes, posicionamento dos Estados a cerca das

políticas de readaptação profissional. No Brasil foi promulgada pelo

Decreto Legislativo do Congresso Nacional n.51, de 25.8.89 e

promulgada pelo Decreto n.129, de 22.5.91. Passou a viger em 18.5.91

(um ano após sua reatificação pelo Brasil).

Convenções Interamericanas: Declara assim que o termo deficiência

significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza

permanente ou transitória, toda diferenciação, exclusão ou restrição com

relação à deficiência será entendida como discriminação.

Legislação Nacional: A Previdência Social foi à pioneira na

preocupação com essas pessoas vinda dos compromissos

internacionais, especialmente assumidos com a OIT.

Prevê ela a habilitação e reabilitação profissional da pessoa com deficiência

(vale lembrar que a reabilitação profissional esteve presente na Consolidação

8

das Leis da Previdência Social - CLPS e em seu Decreto Regulamentar n.

83.080/79, que atualmente faz parte da Lei n. 213/91).

A lei n. 7.853/89 que dispõe sobre o Apoio às Pessoas Portadoras de

Deficiência, foi editado o Decreto n. 3.298/99 que a regulamentou prevê o

estabelecimento de diretrizes, planos e programas destinados aos deficientes

onde serão encaminhados e adotados pelo Conselho Nacional dos Direitos da

Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE).

Foi criada através dessa lei a Coordenadoria para Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência (CORDE).

O Decreto a partir daí conceituou a deficiência em cinco modalidades

diferentes, abriu oportunidade de apoio da Administração Púbica Federal,

promoção de ações preventivas de saúde e acidentes, garantia de acesso aos

estabelecimentos públicos e privados, bem como a educação e o mercado de

trabalho.

É importante salientar, que , com a promulgação da Lei n. 7.853/89 que deu

origem ao CORDE, criou também o CONADE, adotou propostas efetivas com

relação às providências em favor da pessoa com deficiência, outros órgãos da

Administração Pública foram envolvidos e coobrigados no apoio que a

legislação passou a exigir.

Foram envolvidos os seguintes Setores Públicos:

Ministério da Previdência e Assistência Social.

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Ministério da Justiça.

Secretária Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República,

da Saúde, da Educação, do Trabalho e Emprego.

A Constituição Federal de 1988 trouxe uma série de dispositivos cujo objetivo é

o de proporcionar uma maior e destacada proteção e foi além disso através de

garantias como:

Cuidar da saúde e assistência pública.

Proteção e integração social.

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Promoção da integração ao mercado de trabalho.

Habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e promoção de

sua integração a vida comunitária.

No Decreto n. 5.904/06 regulamenta a Lei n. 11.126/05 o direito da pessoa com

deficiência visual o ingresso e permanência em ambientes de uso coletivo

acompanhada de cão-guia.

Com relação ao art. 61 do Decreto n. 5.296/04 favorece a autonomia pessoal,

total ou assistida no que diz respeito a ajudas técnicas referentes a

equipamentos ou tecnologia adaptados e/ou projetados.

Segundo a Lei n. 12.363/97 é obrigatório a utilização de cardápios impressos

em Braille em todos os estabelecimentos que comercializam refeições e

lanches.

A crescente urbanização e industrialização, sem os devidos cuidados com a

preservação da vida e do meio ambiente, gera o aumento de incapacidades.

Segundo o censo 2000 do IBGE, 24,5 milhões de pessoas, cerca de 14,5% da

população brasileira. Foram incluídas na pesquisa todas as pessoas que

apresentem alguma dificuldade de enxergar, de ouvir, de locomover-se ou tem

alguma deficiência mental. O conceito utilizado no censo, de limitação de

atividades, seguiu recomendações recentes da Organização Mundial da Saúde

e da ONU (Organização das Nações Unidas).

O dimensionamento da problemática da deficiência no Brasil, tanto em termos

qualitativos quanto quantitativos, é muito difícil em razão da inexistência quase

total de dados e informações de abrangência nacional, produzidos

sistematicamente, que retratem de forma atualizada a realidade do País nesta

área.

A situação da assistência à pessoa com deficiência no Brasil ainda apresenta

Visual 16.573.937

Motora 7.879.601

Auditiva 5.750.809

Mental 2.848.684

Física 1.422.224

10

um perfil de fragilidade, desarticulação e descontinuidade de ações nas esferas

pública e privada. No âmbito assistencial, a maioria dos programas é bastante

centralizado e atende a um reduzido número de pessoas com deficiência, além

de não contemplar experiências comunitárias, e de seus resultados raramente

ser avaliados.

1.2 Preconceito

Além das influências dos fatores históricos, a forma como a mídia conduz a

figura do deficiente visual acaba infiltrando-se na vida das pessoas e

contribuindo na construção das imagens negativas e a manutenção do estigma.

O jornal britânico “The Guardian” que tem a preocupação com a justiça social e

a educação buscou 750 usos da palavra cegueira e classificou-os dentro do

significado literal e metafórico. O uso metafórico relacionava a cegueira à

ignorância, falta de sensibilidade, indiferença, violência e ausência de

inteligência crítica. Os poucos significados que não eram negativos se referiam

à justiça e ao amor.

A mídia contribuiu muito para alimentação do preconceito principalmente no

cinema e na televisão por meio de filmes que levam a figura das pessoas com

deficiência como defeituosos e monstros gerando o medo e a aversão. Estes

personagens em sua maioria aparecem com alguma deformidade física,

caracterizados como criminosos e também com uma grande deformidade na

alma. Destilam quase sempre ódio e rancor pelo destino que lhes foi traçado,

ou seja, trazem três preconceitos muito comuns na visão da maioria como

pessoas amargas devido ao seu destino, punição para o mal e pessoas que

sentem inveja das que não possuem deficiência e querem seu mal.

Nas décadas de 70 e 80 eram vistos como pessoas desajustadas e que não se

conformavam com a deficiência imposta pelas guerras e acidentes, isto é, a

culpa de seus males não era da sociedade e sim deles próprios e não no

ambiente restrito e nas atitudes preconceituosas que as pessoas tinham.

Hoje a mídia tem mostrado muito a questão da superação, onde essas pessoas

tornam-se profissionais bem sucedidos, mas não é a forma correta ainda

porque transmite a visão de um problema emocional de aceitação. Isto quer

dizer que o fracasso ou a superação é individual deixando de levar em

11

consideração os fatores sociais relacionados ao estigma, a limitação, a

discriminação e falta de oportunidades impostas pela sociedade.

1.3 Terminologia

Dentro deste contexto vale notar alguns termos muito utilizados por

profissionais, que contraria a verdadeira face da inclusão e que são

pronunciados frequentemente.

Classe normal: O termo correto é classe comum ou classe regular, pois

todos somos iguais perante a Constituição e os Diretos Humanos.

Inválido: Esta palavra possui o significado de pessoa sem valor sendo

utilizada desde a antiguidade até o final da segunda guerra mundial.

Pessoa normal: Termo correto é pessoa com deficiência; pessoa não

deficiente. A normalidade com relação às pessoas é um conceito

ultrapassado e questionável.

Portador de deficiência: O termo correto é pessoa com deficiência.

Entre 1986 e 1996 tornou-se um termo muito utilizado aqui no Brasil e

popular. A deficiência não é algo que se porta como algum objeto, ou

seja, não se pode carregar a deficiência e deixá-la quando bem

entender.

Visão Subnormal: O termo correto utilizado hoje é baixa visão.

Vale ressaltar de que não há um único termo correto e definitivo, ou seja, em

cada época se utiliza termos diferentes cujo significado tem haver com os

valores, evolução e relacionamento com as pessoas com deficiência.

Alguns princípios básicos relacionados aos movimentos históricos e atuais que

chegaram ao termo “pessoas com deficiência” seguem abaixo:

Não esconder ou tentar camuflar a deficiência.

Não aceitar o consolo ou a falsa idéia de que todo mundo possui alguma

deficiência.

Mostrar a realidade da deficiência dentro da dignidade de cada pessoa.

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Valorização das diferenças.

Combate ao neologismo.

Defesa da igualdade entre as pessoas.

Encontrar nas diferenças os direitos que lhes são pertinentes e tomar as

medidas especificas para com a sociedade e o Estado.

Percebemos aqui claramente que alguns termos ainda perpetuam com força

menor e tendem a desaparecer conforme a evolução abre portas para uma

nova condição de vida.

1.4 O Deficiente e o Mercado de Trabalho

No ano de 1991 foi criada a lei de cotas nº. 8213 que estabelece as empresas

com mais de 100 funcionários, uma cota que vai de 5% a 10% de

colaboradores com deficiência em seu quadro. Isso fez com que fosse gerada

uma grande polêmica em relação à cultura e adaptação das empresas e seus

funcionários a essa nova era.

Seguem os seguintes critérios:

Segundo a classificação da OMS das deficiências.

Comprovação da caracterização da deficiência por meio de laudo

médico que pode ser emitido por médico do trabalho da empresa ou

outro médico, atestando enquadramento legal do (a) empregado (a) para

integrar a cota, de acordo com as definições estabelecidas na

Convenção nº. 159 da OIT, Parte I, art. 1; Decreto nº. 3.298/99, arts. 3º e

4º, com as alterações dadas pelo art. 70 do Decreto nº. 5.296/04. O

laudo deverá especificar o tipo de deficiência e ter autorização expressa

do (a) empregado (a) para utilização do mesmo pela empresa, tornando

pública a sua condição.

Certificado de Reabilitação Profissional emitido pelo INSS.

Sendo desta maneira as empresas têm que se adaptarem com prazos

13

estabelecidos pelo Ministério do Trabalho onde a punição para o não

cumprimento da lei será uma multa que varia de R$5.000,00 à R$30.000,00 por

deficientes não admitidos.

Segundo a Delegacia Regional do Trabalho no ano de 2001 havia 73.760

pessoas com deficiência empregadas, já no ano de 2008 ocorreu um aumento

de 12% com a contratação de 6.842 profissionais. Em paralelo foi promulgado

pelo Governo do Estado a qualificação profissional, mais acessibilidade, dentre

outras ações, em parceria com o Município, Estado e Distrito.

No ano de 2008 a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS 2008) mostrou

que a inclusão de pessoas com deficiência ainda continua a ser um desafio

para a sociedade, pois mesmo com o programa de aprendiz estendido menos

de 1% das 130 mil pessoas que fazem parte das cidades estão empregadas.

A reserva do mercado de trabalho foi à opção encontrada para atender ao

preceito constitucional de proteção e garantia (Inciso II, do art. 23), e o de

proteção e integração das pessoas com deficiência (Inciso XIV do art. 24).

Em dezembro de 2004 é que se editou o Decreto n. 5.296/04 que regula o

direito à acessibilidade e as comunicações sociais para os deficientes,

revogando menções do Decreto n. 3.298/99 apesar da Lei n. 7.853/89.

Cabe ao Setor Público Federal a responsabilidade na manutenção desse

programa de integração e inclusão social, econômica e profissional da pessoa

com deficiência.

As grandes diretrizes e provisões devem vir diretamente do Poder Público

Central por meio de projetos e programas e os meios disponíveis para colocá-

los em prática.

Referente ao Decreto Regulamentar da Lei dos Deficientes dispõe que todas

as instituições públicas e privadas que ministram educação profissional

deverão obrigatoriamente oferecer cursos profissionalizantes as pessoas com

deficiência.

CAPÍTULO 4

14

DEPOIMENTOS

Depoimento da Vice - Presidente da Associação Brasileira de Deficientes Visuais e Amigos – Adeva

Nome: Sandra Maciel

Formação: Direito pela PUC de São Paulo

Ocupação: Programadora Analista, Prodesp

E-mail: [email protected]

Telefone: (11) 5084-6693

End: Rua São Samuel,174,Vila Clementino,CEP 04120-030 São Paulo (SP)

“Meu Nome é Sandra Maciel, minha deficiência é hereditária. Eu tenho o que

se chama Osiogenese Imperfecta, é uma má formação congênita dos ossos e

essa doença costuma atingir também a visão. Então eu tinha tanto problema

físico como problema visual desde a infância.

(...) Comecei a estudar por causa disso um pouco tarde demais, lá pelos onze,

doze anos e fui estudar numa classe na Fundação Dorina, numa classe

especializada em dupla deficiência, deficiência mental e deficiência física no

meio de adultos. Porque devido a minha deficiência física não sabiam como,

em que escola me colocar. Ficaram com medo de me colocarem em uma

classe normal e as crianças me derrubarem e tal (...), para minha assim

digamos desibinição, integração social não foi uma coisa interessante. Porque

além de tudo, eu era a única criança da sala. Isso me tornou uma criança muito

tímida, muito inibida e só uns anos mais tarde é que eu fui me integrando mais

e fui superando essas deficiências da comunicação, da sociabilização. Então

eu fiz alfabetização na Dorina, depois eu fui para uma classe normal no Grupo

Escolar Pedro Vos onde eu terminei o primário com a ajuda de uma classe de

recursos. Pra mim foi uma experiência muito válida. Eu acho que é a formação

ideal para o deficiente visual.

(...) Porque colocar o deficiente visual numa classe normal sem dar os recursos

necessários não é integração, embora hoje em dia se chame isso de

integração, mas isso não é integração.

15

O Ginásio e o Colegial eu fiz no Caetano de Campos, depois me formei em

Direito na PUC . Fiz também o curso de Programação de Computador e fui

trabalhar na Prodesp como programadora de computador. Depois trabalhei

também Citibank na mesma função e trabalhei também na Prodam e na Cesp

aonde eu sou funcionária até hoje na parte de análise de sistemas.

(...) Precisa ver a convivência dos dois lados e isso foi o que me faltou. Então

até os vinte e poucos anos como eu não convivi com os deficientes eu me

integrei socialmente eu acho que relativamente muito bem, mais eu não

percebia a minha superproteção pela minha família. Eu não percebia que eu

podia ser uma pessoa independente, eu que eu podia sair sozinha, que eu

podia estar podendo fazer as atividades de dentro de casa, da vida diária, que

eu podia trabalhar dentro de casa, eu não percebia que eu podia fazer porque

eu não via os outros deficientes fazer.

(...) comecei a conviver no próprio Caetano de Campos, eu comecei a fazer

amizades com os deficientes que freqüentavam lá e pude ir a casa deles, na

companhia deles eu pude ver tudo que eles tendo menos visão, porque tinha

uma visão parcial, tudo que eles faziam, se locomoviam, que eles andavam

sozinhos pela cidade, que faziam café (risos) e fui percebendo tudo isso, fui

querendo fazer isso também e isso assim foi pra mim uma coisa importante na

minha vida. Talvez eu encarasse isso na época como se eu tivesse nascendo

de novo.

Então coincidiu com a minha vida na faculdade, com meu curso de

programação e meu primeiro emprego. Mas senti nos primeiros tempos a falta

de credibilidade por parte do empresariado, por falta da chefia, fui colocada por

interferência política através da própria chefia da empresa, não pelos chefes

diretos que tinham que acreditar no meu trabalho.

(...) o chefe novo fez uma grande dispensa dos funcionários e aproveitou e

meteu na leva todos os deficientes juntos (risos), depois recebeu uma ordem

da presidência da empresa que mandassem os deficientes de volta na área.

Daí eu aproveitei para mostrar que o deficiente não trabalha só pelo salário

embora precise do salário, mas que ele quer realmente trabalhar, então lavei

minha alma (risos) dizendo que eu aproveitava pra ser realmente mandada

embora porque eles não acreditavam no meu serviço e que realmente eu tinha

sido dispensada e não iria aceitar voltar atrás.

16

Sai da empresa e fui para o mercado de trabalho batalhar. Não tinha noção de

como era realmente difícil, percorrendo São Paulo todo durante nove meses,

período pra nascer mesmo (risos). Fui a milhares de empresas mandei

currículo para várias empresas, cheguei a fazer testes em várias empresas e

recebendo recusas, e essas recusas as mais variadas possíveis...

Durante essa experiência toda eu e minha amiga jornalista, prima dos meus

amigos deficiente visuais, resolvemos escrever um artigo pra coluna “São

Paulo Pergunta” do Jornal Tarde, escrevemos uma carta bem irônica em que a

gente escrevia meu tipo físico, minha altura, meu peso, minha deficiência

visual, as visitas que eu tinha feito as empresas, as desculpas que eu tinha

ouvido e no fim eu perguntava, fechando a reportagem, que o direito ao

trabalho não era um direito de todo brasileiro reconhecido pela própria

Constituição.

Depois desse artigo eu passei a ser reconhecida na rua (risos), as pessoas me

paravam para me perguntar se eu era a pessoa que tinha escrito aquela carta

no Jornal da Tarde. Após essa reportagem as desculpas das empresas

começaram a variar...

Até que enfim consegui ser aceita no Citibank e soube conversando com

colegas que a minha carta estava fixada na sala do computador do grande

porte e que eu tinha realmente entrado numa seleção de quarenta pessoas, e

que dessa seleção só eu tinha entrado.

(...) descobri também que o que eu queria ter de independência era muito difícil

eu ter em casa depois de toda a superproteção que eu sempre tive.

Eu comprei uma pequenina Kit perto do Citibank fui morar sozinha, optei pelo

tratamento de choque (risos) e depois dessa reportagem comecei a me

interessar pelo problema do deficiente, da integração no mercado de trabalho

de ir atrás de leis que protegessem a colocação profissional do deficiente.

Começamos a fazer projetos de leis, na [época a gente mandava nosso

projeto para o senador Franco Montoro que apresentava no Congresso e

começamos a procurar empresas, a procurar jornais, começamos a trabalhar

nessa área um grupo em 1975...

Esse grupo acabou parando suas atividades durante u ano, depois voltou a se

reunir e chegamos à conclusão que realmente deveríamos fundar uma pessoa

jurídica para que nós pudéssemos ir atrás dos nossos ideais de integrar o

17

deficiente visual na sociedade, principalmente através da educação e do

trabalho e também da convivência entre deficientes e não deficientes para

derrubar os preconceitos. Então surgiu a Adeva – Associação de Deficientes

Visuais e Amigos em 1978 a Adeva nasceu pequena, era um grupo de doze

pessoas amigas deficientes visuais e não deficientes, pessoas inclusive que

trabalhavam comigo no Citibank. A primeira sede da Adeva foi na minha kit,

sem recursos financeiros nenhum, eram todos voluntários, todos dando

máximo de si, muitos empregados e outros não, mas colocamos inclusive

deficientes visuais no mercado de trabalho principalmente na área de

informática...

Depois com a época da microinformática podemos ampliar a Adeva com os

nossos cursos, podemos durante o governo de Mário Covas com sua ajuda

criar o Centro de Treinamento Mário Covas e que damos cursos principalmente

na área de informática, mas também na área de Marketing, atendimento ao

público, cursos de reabilitação, de comportamento, de educação para o

trabalho. Todos esses cursos são dados no Centro de Treinamento Mário

Covas que hoje está dentro do Colégio Lasar Cegal na rua São Samuel 174,

na Vila Clementino / Vila Mariana.

(...) A primeira coisa é lembrar que a lei de cotas tem quinze anos e só agora

que o Ministério do Trabalho começou a cobrar que as empresas estão

lembrado de abrir as portas e ainda com muita relutância, e com muita

descrença. Então nosso pedido as empresas é que acreditem, que capacitem,

que dêem oportunidade, que não queiram só cumprir a lei de cotas, mas

aproveitem a lei de cotas pra ter bons funcionários, pra realizar os eficientes

deixando que eles trabalhem, que façam carreira, que eles possam se

desenvolver, que eles possam fazer cursos, que eles possam aprender, subir

mais em suas careiras, como qualquer pessoa normal.

E que os deficientes se capacitem, que não se acomodem, que cada vez

queiram mais, que procurem os cargos mais altos pra subir em suas carreiras.

Mas para realização pessoal e não só por ambição financeira, sentir que pode

colaborar com essa sociedade, e que são parte da sociedade. Que o

desenvolvimento do nosso país também dependem deles, que eles se sintam

seres completos...

Porque só estando entre os melhores que poderão provar nosso valor”.

18

Depoimento do Presidente da Associação Brasileira de Deficientes Visuais e Amigos – Adeva

Nome: Markiano Charan Filho

Formação: Ocupação: E-mail: [email protected]

Telefone: (11) 5084-6693

End: Rua São Samuel,174,Vila Clementino,CEP 04120-030 São Paulo (SP)

“Atualmente sou Diretor Presidente e meu papel é fazer todas as funções de

presidente representando a entidade, ajudar a equipe de coordenação, ir em

busca de parceiros fazendo toda a parte externa de relacionamento, enfim,

esse é o papel que o presidente da entidade tem que fazer.

(...) Nem toda a empresa quer cumprir a legislação, tem empresas infelizmente

que não levam a sério e agora as dificuldades é fazer as pessoas acreditarem

no potencial da pessoa com deficiência visual.”

Depoimento do Diretor Suplente da Associação Brasileira de Deficientes Visuais e Amigos – Adeva

Nome: Edvando dos Santos Araújo

Formação: Cursando Direito pela Universidade Ibirapuera

Ocupação: E-mail: [email protected] /

Telefone: (11) 5084-6693

End: Rua São Samuel,174,Vila Clementino,CEP 04120-030 São Paulo (SP)

“Meu nome é Edvando da Silva Araujo. Contarei um pouco da minha história

aqui na Adeva.

Iniciei no ano, se não me falha a memória, em 2001 onde fui voluntário por

nove meses. Depois passei a fazer parte da equipe ativamente, ou seja, sendo

remunerado mas de forma, como a entidade depende de recursos, doações,

19

então quando entrava o recurso eu recebia.

(...) Até que surgiu oportunidade dos cursos de informática, fiquei como monitor

de Windows e em seguida surgiu a CPM Braxis a qual eu comecei a trabalhar

efetivamente com registro em carteira a empresa me cedeu para que eu

pudesse desenvolver o trabalho aqui na Adeva...

Comecei a participar dos departamentos, logística, cultura, são departamentos

no caso voltados para a Associação de Deficientes Visuais da Adeva. Também

ministrei curso de Windows e fui convidado para parte da Diretoria, isso desde

o ano passado. Atualmente sou Diretor Suplente e hoje participo também do

curso de Word, faço um pouco de tudo o que é possível.

Esse é um pouco do Edvando aqui na Adeva, só para registrar também sou

deficiente total, curso Direito na Universidade Ibirapuera, tenho vinte es sete

anos e agradeço pelo espaço que estão dando para a Adeva de fazer parte

desse trabalho e estamos sempre à disposição.

(...) Porque um dos meios de fazer parte da Sociedade é o trabalho e ser um

cidadão por completo. A Adeva foi tudo o que eu precisava porque estava em

busca do meu primeiro emprego. Busquei um pouco a minha estabilidade

profissional voltada a Adeva, porque no inicio não conhecia e depois passeia a

conhecer, a saber lidar com situações, como atender aos alunos, pessoas de

Universidades como está acontecendo agora no caso da Marcia, e hoje

consegui conquistar o meu sonho que era fazer parte da Adeva sendo

efetivado e ser de uma empresa que pudesse me direcionar para a Adeva

para eu desenvolver meu trabalho com registro.

Como toda a ONG a gente precisa de recursos e foi um meio que a gente

viabilizou naquela época para resolver esse necessidade,

(...) Em termos de futuro é poder cada vez mais crescer para poder direcionar

isso para a Adeva. Para melhorar a vida de cada pessoa que chega aqui sem

nenhum objetivo, sem um sonho, achando que naufragou com qualquer

expectativa, motivar à moçada, o idoso, a pessoa que está realmente

desiludida e que possam se desenvolver da melhor forma possível.”

CAPÍTULO 5

20

PARACER TÉCNICO

Para que possamos entender as ligações entre as Teorias Fordista e Taylorista

junto ao mercado de trabalho com relação ao deficiente visual devemos ter em

mente alguns conceitos históricos para que assim possamos compreender

seus efeitos na sociedade atual.

2.1 Fordismo na Sociedade

O fordismo é um sistema racional de produção em massa que acabou

transformando a indústria automobilística. Sua visão era de que a produção em

massa gerava automaticamente o consumo em massa.

O método de trabalho baseia-se na familiarização da tarefa rotinizada e que

não exigia muito das habilidades manuais tradicionais, isto é, quase não se

tinha o controle do projeto, ritmo e organização do processo produtivo do

operariado.

O paradoxo que reinava sobre o método no que diz respeito as relações de

trabalho era o controle do poder da classe operária através dos sindicatos. Vale

ressaltar que o poder adquirido pelo sindicato giravam em torno das questões

meramente sociais e não políticas.

Nas décadas de 70 e 80 houve uma reestruturação econômica social e política

que proporcionou novas experiências nos campos da organização industrial,

vida social e política. Inicia-se a partir daí a transição do fordismo para o pós-

fordismo ou acumulação flexível.

A principal característica do pós-fordismo ou acumulação flexível foi a

contraposição do paradigma fordista, ou seja, a rigidez foi substituída pela

flexibilidade.

Deu-se a criação dos trabalhos temporários, parciais e subcontratos, alterando

o antigo modo de regulação do trabalho.

A diferença principal é que no fordismo o trabalhador não participava de todo o

21

processo de fabricação, já no pós-fordismo ocorre o contrário ( junção dos

aspectos manuais e intelectuais do trabalho).

2.2Taylorismo na Sociedade

Taylorismo é um método de produção onde o trabalhador perde a autonomia e

a criatividade. Consiste no planejamento e controle do tempo e movimento em

que os trabalhadores executam suas atividades.

A finalidade desse método baseado em experimentações sistemáticas de

tempo e movimento que sendo descobertos seriam somente repassados aos

trabalhadores que só executariam as tarefas que já se encontravam definidas.

Outro fator de extrema importância dentro do método taylorista é a quebra da

tradição do processo produtivo e dos conhecimentos adquiridos pelos

trabalhadores que é substituído pelas políticas gerenciais, ou seja, a separação

da concepção (cérebro / patrão) da execução (produção / operariado).

Justamente por esta razão que as tarefas não podem ser conduzidas pela

tradição do trabalhador e sim estudadas, classificadas e sistematizadas por

cientistas do trabalho (gerência científica).

Os princípios básicos da administração cientifica taylorista são:

Redução do saber operário complexo para o estudo do tempo de cada

tarefa e assim chegando ao tempo necessário de cada operação;

Deve-se então juntar o conhecimento tradicional e classificá-lo, tabular e

reduzir os mesmos através de regras e assim formular as leis e as regras a

serem seguidas pelo operariado.

O objetivo deste princípio é a separação das especialidades do trabalhador do

processo de trabalho dependendo apenas das políticas gerenciais.

Selecionar cientificamente, treinar, ensinar e aperfeiçoar cada

trabalhador (antigamente era o operário que escolhia a função que ia

exercer);

O trabalho intelectual dirigi-se ao departamento de planejamento sendo

22

assim tirado do operariado, ou seja, a ciência do trabalho nunca deve estar

em posse do funcionário.

É demonstrado claramente neste principio o domínio do capital sobre o

trabalhador com uma imposição padronizada.

Cooperar gentilmente com cada operário para que assim possa articulá-

lo junto as ciências de trabalho aplicada, ou seja, obter o controle de

todos os detalhes da execução da tarefa;

Deve-se ressaltar que só será aceita a opinião do trabalhador caso venha a

acrescentar algo depois de ser testado o método de trabalho;

O objetivo desse principio é que não haja uma luta de classes dentro de

todo o processo de trabalho.

Manter a separação das atividades e responsabilidades entre direção e

operariado;

Taylor propõe que para cada três operários, um membro da direção divida

as tarefas e as responsabilidades, instruindo a todos da equipe de como

fazer e o tempo de execução da tarefa, isto é, a divisão eqüitativa do

trabalho.

O metodologia taylorista mostra que o controle e a administração do tempo

dentro da sociedade é eficaz em todos os sentidos.

2.3Liberalismo / Neoliberalismo

O liberalismo defini-se como uma corrente de pensamento político que tem

como objetivo defender a liberdade individual através do exercício dos direitos

e das leis.

Os princípios que fundamentavam o liberalismo é a transparência, os direitos

individuais e civis (especialmente o direito à vida), à liberdade, à propriedade,

eleições livres e a igualdade de leis e de direitos para todos da sociedade.

Já o neoliberalismo tinha uma proposta feita por economistas franceses,

alemães e norte-americanos que se voltava para a adaptação dos princípios do

liberalismo clássico junto às exigências de um Estado regulador e

assistencialista.

23

2.4Keynesianismo

É uma teoria econômica elaborada pelo inglês John Maynard Keynes que

consiste em uma organização político-econômica que se opõe as concepções

neoliberalistas que se fundamentam na afirmação do estado como agente do

controle da economia, e que tem por objetivo a condução do emprego. Ambas

tiveram uma influência significativa na renovação das teorias clássicas e na

reformulação política do livre mercado.

2.5 Criação dos Sindicatos

Na Revolução Industrial do século XVIII a tecnologia deu um salto mundial,

criou-se muitos instrumentos industriais e com ela como conseqüência o capital

substituiu o homem. Isto quer dizer que onde vários trabalhadores

desenvolviam a mesma tarefa, diminuíam-se os números dos mesmos e com

isso ocasionavam a demissão de muitos deles.

Aumentando o número de trabalhadores desempregados, começou a se

baratear a força de trabalho e acabou surgindo a medicância, aumentou a

prostituição, a marginalização e a miséria. A partir daí iniciou-se o processo de

associativismo, ou seja, cooperação entre os trabalhadores.

Foi através desse processo que surgiu o sindicato com o objetivo de reivindicar

os direitos trabalhistas e as condições de trabalho. Foi com a formação dos

sindicatos que os trabalhadores passaram a compreender seus direitos, ou

seja, passaram a tomar consciência da exploração do homem e da luta de

classes existentes no mundo capitalista.

2.5 Deficiente Visual X Mercado de Trabalho

A empresa é uma instituição que tem por objetivo gerenciar o capital e trabalho

na produção dos bens e serviços que vão gerar as mercadorias. É através

24

desse processo que ela assegura a valorização do capital, o acumulo e sua

reprodução tendo então na mais-valia um instrumento de lucros.

Pouca coisa foi mudada quando o assunto é o modelo de administração, pois

muitos comportamentos empresariais estão arraigados na cultura brasileira que

seguem os modelos fordista e taylorista que são acima de tudo autoritários.

Todas essas teorias do trabalho estão voltadas para o planejamento,

organização, comando, coordenação das atividades e o controle da

performance.

Como conseqüência há uma exploração do trabalho e aumento da mais-valia.

Isso ocorre devido as seguintes condições:

Linha de comando formal.

Colaboradores e materiais com lugares definidos.

Equidade no que diz respeito ao tratamento, mas que não seja

necessariamente idêntico.

Manutenção do emprego somente para colaboradores muito bons.

A empresa acima de tudo.

Com isso ocorre a divisão do trabalho, a hierarquia, uniformização do controle

e competência profissional baseada na ascensão da carreira.

De conformidade com a Constituição de 1988 estão assegurados os direitos da

pessoa com deficiência em campos e aspectos diferentes. Este conceito tem

evoluído com o passar dos tempos acompanhando as mudanças ocorridas na

sociedade junto as conquistas dessa população.

Posteriormente outros programas a nível mundial e nacional foram sendo

integrados e somados para que viesse a ser cumprido o que consta na

Constituição de 1988 e em outros documentos internacionais.

Com o passar dos tempos a prática da inclusão vem sendo substituída pela

prática da integração que nada mais é do que inserir todas as pessoas na

sociedade conforme suas necessidades. Neste conceito não se admite uma

25

sociedade em meio a preconceitos, discriminações, barreiras sociais, culturais

ou pessoais. Tudo isso leva então a possibilidade de se ter acesso dentro de

suas necessidades aos serviços públicos, bens culturais e produtos

provenientes do avanço social, político, econômico e tecnológico da sociedade.

Neste contexto é que a diversidade cultural vem a adotar um enfoque que

consiste na criação de um ambiente organizacional que permita o

desenvolvimento do potencial da pessoa com deficiência junto a realização dos

objetivos da empresa. Não é um pacote fechado para a resolução de todos os

problemas até porque lidar com o diferente causa impacto nas pessoas e no

ambiente, ou seja, esta inserção necessita ainda de muitos ajustes entre

empresa e colaborador. Justamente para isso é que são criadas práticas dentro

das políticas empresarias que consequentemente trabalham os valores

culturais tornando assim o diálogo mais produtivo.

A dificuldade de colocação profissional com relação ao deficiente visual é pela

crença de uma maioria ao se considerar que uma deficiência afeta todas as

funções do indivíduo. O que agrava mais a situação é fato de não conhecerem

as diversas atividades que podem ser realizadas dentro de suas limitações e

receiam assim automaticamente as dificuldades de integração com o grupo de

trabalho, teme a ocorrência de acidentes e o que mais assombra é a

preocupação com o custo das adaptações e aquisições de equipamentos

especiais.

Outro fator que merece ser mencionado é o fato da acessibilidade aos espaços

tanto privados como públicos e urbanos que em sua maioria não é respeita a

Lei de Acessibilidade nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 que menciona

aspectos abaixo:

Estabelece normas e critérios básicos para a promoção da

acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade

reduzida.

Utilização com segurança e autonomia dos espaços e equipamentos

urbanos no que diz respeito as edificações e transportes, sistemas e

meio de comunicação.

26

Em contrapartida a maioria das empresas respondem com os seguintes fatores

como um muro para conter o que consideram como invasão aos seus

preceitos:

Liberdade de escolha de seus funcionários.

Gastos que poderiam ser evitados com relação a capacitação ou

adaptação de seus sites e colaboradores.

Reestruturação dos conceitos das relações humanas.

Isso quer dizer que a tomada de qualquer decisão de certa forma forçada

gera uma invasão em sua cultura empresarial, mexe com a liderança, que

gera uma comunicação fragmentada criando assim o conflito. Vale

ressaltar que o conflito só aparece quando os interesses se colidem ou há

alguma mudança que mexe com a zona de conforto de cada um.

O mercado de trabalho segue atualmente uma linha de exigência muito

grande que visa somente o ganho de lucro através da mão-de-obra barata

e menor investimento possível para sua qualificação, ou seja, profissionais

já especializados. Isso claro que não beneficia a maior parte dos

deficientes visuais devido aos seus históricos que levaram a paralisação de

suas atividades sociais e consequentemente sua qualificação profissional e

estudos.

Tudo isso afeta de forma negativa a sua entrada ou permanência no

mercado de trabalho, pois a cultura que permeia as empresas seguem uma

linha ultrapassada no que diz respeito as relações humanas e os efeitos

que elas sendo utilizadas de forma inteligente e competente produzem um

resultado positivo seja nas pessoas com deficiência ou pessoas que não a

possuem.

Outro fator considerável é muitas vezes posterior a sua entrada na

empresa, ou seja, são as chamadas barreiras invisíveis que dificultam o

contato natural com os deficientes de forma geral sendo reguladas pelos

27

estereótipos, tabus, idéias míticas e preconcebidas generalizando assim

comportamentos e condutas pessoais que acaba criando figuras

imaginárias que não comportam a individualidade de cada um.

No modelo capitalista que estamos vivendo atualmente o mercado de

trabalho luta de todas as formas para que sejam eliminados ou amenizados

os impactos que as leis que favorecem as pessoas com deficiência sejam

cada vez menos “opressoras” e mais fáceis de serem dribladas ou

atendidas segundo suas próprias necessidades e interesses.

É justamente por isso que a Lei ao mesmo tempo em que beneficia

também dificulta a entrada no mercado de trabalho para os deficientes

visuais, pois acaba que dando vazão de certa forma para que a as

empresas tenham a possibilidade de escolha que mais lhe for favorável.

Mas é dentro desta perspectiva que o deficiente visual deve buscar dentro

do sistema uma forma de capacitação profissional e ampliação de seus

estudos para que assim possa concorrer de forma igualitária no mercado

de trabalho.

CAPÍTLO 6

28

FOTOS E GRAVURAS

Cartazes colados pela Instituição enfatizando sua missão e o que

saiu mídia.

FOTOS E GRAVURAS

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Holl de entrada da Adeva.

FOTOS E GRAVURAS

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FOTOS E GRAVURAS

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FOTOS E GRAVURAS

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