capela de sÃo miguel arcanjo: histÓria local e ensino de histÓria na contemporaneidade

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3 CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO: HISTÓRIA LOCAL E ENSINO DE HISTÓRIA NA CONTEMPORANEIDADE Chiara Ferreira da Silva 1 Introdução: Neste estudo, buscou-se identificar as ações de educação patrimonial desenvolvidas na capela de São Miguel. Tendo como objetivo analisar essas ações, através de um viés voltado para o Ensino de História Local e como isso pode ser relacionado à educação ensinada na sala de aula. Descrevendo essas ações atentando-se a aspectos em que a Capela de São Miguel Arcanjo pode ser inserida e utilizada além de seu o fim religioso, criando assim ações e parcerias com a escola e com a população e o entorno da do bairro a Capela. Por meio de uma interação entre a Capela e a escola, contextualizando aspectos de sua fundação e de sua importância histórica na formação do bairro de São Miguel, pretendemos levar os alunos a um pensamento crítico sobre sua importância como um agente transformador na sociedade contemporânea. Percebendo-se inserido dentro da vida social do seu bairro poderá entender melhor a temporalidade histórica e conceitos de diferentes épocas, dando-lhe um sentido de identidade e pertencimento. Levando em consideração estes fatores, articulamos uma proposta metodológica de Ensino de História na sala de aula, fazendo uso da História Local tendo como base a Capela de São Miguel Arcanjo devido a sua relevância histórica para o bairro. 1. Construindo São Miguel O bairro de São Miguel, situado na zona leste de São Paulo, fundado no ano de 1622 (data oficial) formou-se no contexto de ocupação do planalto paulista, porém destacou-se pela importância do aldeamento de São Miguel de Ururaí em que está associado ao desenvolvimento da Vila de Piratininga. Embora a data oficial de fundação do bairro seja 1622, legitimada por uma inscrição na porta da capela, existe 1 Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação e Licenciatura em História pela Universidade Nove de Julho Uninove, sob a orientação da Prof.º Savério Lavorato, apresentado no segundo semestre do ano de 2013.

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Page 1: CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO: HISTÓRIA LOCAL E ENSINO DE HISTÓRIA NA CONTEMPORANEIDADE

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CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO: HISTÓRIA LOCAL E ENSINO DE

HISTÓRIA NA CONTEMPORANEIDADE

Chiara Ferreira da Silva

1

Introdução:

Neste estudo, buscou-se identificar as ações de educação patrimonial

desenvolvidas na capela de São Miguel. Tendo como objetivo analisar essas ações,

através de um viés voltado para o Ensino de História Local e como isso pode ser

relacionado à educação ensinada na sala de aula.

Descrevendo essas ações atentando-se a aspectos em que a Capela de São

Miguel Arcanjo pode ser inserida e utilizada além de seu o fim religioso, criando assim

ações e parcerias com a escola e com a população e o entorno da do bairro a Capela.

Por meio de uma interação entre a Capela e a escola, contextualizando aspectos

de sua fundação e de sua importância histórica na formação do bairro de São Miguel,

pretendemos levar os alunos a um pensamento crítico sobre sua importância como um

agente transformador na sociedade contemporânea. Percebendo-se inserido dentro da

vida social do seu bairro poderá entender melhor a temporalidade histórica e conceitos

de diferentes épocas, dando-lhe um sentido de identidade e pertencimento.

Levando em consideração estes fatores, articulamos uma proposta metodológica

de Ensino de História na sala de aula, fazendo uso da História Local tendo como base a

Capela de São Miguel Arcanjo devido a sua relevância histórica para o bairro.

1. Construindo São Miguel

O bairro de São Miguel, situado na zona leste de São Paulo, fundado no ano de

1622 (data oficial) formou-se no contexto de ocupação do planalto paulista, porém

destacou-se pela importância do aldeamento de São Miguel de Ururaí em que está

associado ao desenvolvimento da Vila de Piratininga. Embora a data oficial de

fundação do bairro seja 1622, legitimada por uma inscrição na porta da capela, existe

1 Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação e Licenciatura em História pela Universidade Nove de

Julho – Uninove, sob a orientação da Prof.º Savério Lavorato, apresentado no segundo semestre do ano de

2013.

Page 2: CAPELA DE SÃO MIGUEL ARCANJO: HISTÓRIA LOCAL E ENSINO DE HISTÓRIA NA CONTEMPORANEIDADE

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outra versão para a fundação, tomando como referência o ano de construção da primeira

Capela no Aldeamento dos Ururái, no ano de 1560. Situada no centro do bairro e

vinculada ao contexto indígena da época.

A visita do padre José de Anchieta aos índios guaianases, que haviam sido

expulsos da Vila de Santo André da Borda do Campo e refugiaram-se na Vila de

Piratininga. São Miguel Paulista situava-se em um local bastante estratégico para a

defesa da Vila de São Paulo de Piratininga, pois era possível visualizar quando os índios

Tamoios vinham do litoral Norte para atacar a Vila. Neste período, os Tamoios

possuíam uma aliança com os franceses, tornando-se assim uma ameaça constante para

os índios daquela região.2

José de Anchieta foi o mentor para agrupar em apenas um núcleo esses índios

que estavam dispersos, a fim de reconduzi-los ao cristianismo e fazê-los agirem em

defesa da Vila de Piratininga. Ele recebeu uma orientação dada pelo Padre Manuel da

Nóbrega para que fosse feita uma visita a esses índios em Junho do ano de 1560. Logo

no ano seguinte, em Janeiro de 1561, Anchieta mandou uma carta para Manoel da

Nóbrega, descrevendo a visita a esses grupos indígenas. Segundo Santaella, em suas

pesquisas no Arquivo dos Jesuítas situado na cidade do Vaticano, foram encontrados

documentos que datavam de 1583, com menções ao Aldeamento de São Miguel de

Ururaí, citado como um local de ensino da língua Tupi e de catequização dos grupos

indígenas. Possivelmente, para demonstração de catequização bem sucedida, em dois

aldeamentos próximos, os jesuítas decidiram construir duas capelas, uma dedicada a

São Miguel Arcanjo e a outra a Nossa Senhora da Conceição de Pinheiros.

A importância dada a São Miguel em seus primórdios era tanta, que o

aldeamento foi intitulado de Padroado Real.“ Dentro da concepção do

Estado Português, é uma aldeia de importância estratégica, porque ela

está subordinada diretamente ao estado Português. “Ela não é uma

aldeia que tem autonomia, deve um subordinação política direta ao

reino”, explica Roseli. Mais tarde essa relação direta com a Coroa vai

provocar problemas junto a Câmara de São Paulo, que vai interferir

diretamente nesse aldeamento, agravado pela defesa feita pelos

jesuítas aos índios, opondo-se à retirada dos índios do local pra seguir

a exploração ao sertão brasileiro. (LOPES, 2011:88).

2 Pesquisa de Roseli Santaella, doutora em História pela Universidade de São Paulo defende que a

fundação de São Miguel Paulista ocorreu em 1560, em decorrência da visita do padre José de Anchieta

aos índios guanases. In: LOPES, Rodrigo Herrero. Face Leste: revistando a cidade /org. Geraldo Antônio

Rodrigues; coord. Daniel Vicente Reis – São Paulo: Mitra Diocesana São Miguel Paulista, 2011.pp.87.

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O trabalho de catequização e a existência da Igreja, referida por José de

Anchieta são confirmados por Jerônimo Leitão, Capitão de São Vicente, em uma carta

de doação de terras, para os índios Ururaí. Através desta documentação, foi possível

reafirmar a existência de uma primeira Capela, da qual não restou vestígio algum,

apenas algumas informações documentadas. Logo foi construída uma segunda Capela

para substituir a anterior: a construção ficou a cargo do padre João Álvares, a mando do

sertanista Fernão Munhoz para valorizar ainda mais as terras indígenas da qual havia

tomado posse. Logo, as obras da nova Capela foram concluídas em Julho de 1622,

como consta na inscrição inicial que fica na verga da porta principal da Capela.

A importância de São Miguel é reforçada através de alguns dados, que apontam

para uma condição de Padroado Real, ou seja, os índios estavam em plena jurisdição do

Rei. Sendo assim estava a serviço da Majestade. Com isso, os jesuítas tiveram cada vez

mais seus poderes limitados dentro do aldeamento de São Miguel, tendo em vista que os

espanhóis haviam perdido seu domínio no Brasil em 1640, o que acabou gerando um

retrocesso dentro do aldeamento. Ainda assim, São Miguel possuía um grande número

de “nativos” já doutrinados no cristianismo.

Isso gerou um grande interesse por parte dos bandeirantes, pois como os jesuítas

não detinham poder sobre o destino dos indígenas que pertenciam aos Padroados Reais,

logo alguns indígenas foram levados de São Miguel para fazer parte de uma expedição à

procura de esmeraldas, a comando de Matias de Albuquerque o então conde de Alegrete

(PE).

Os interesses entre os jesuítas, os colonos e os oficiais que comandavam São

Miguel, acabaram se chocando de forma que a relação entre ambos ficou insustentável.

Em 1640 os jesuítas foram afastados de São Paulo, até que, em 1759 foram expulsos do

Brasil por definitivo. Com isso, é presenciada a chegada dos franciscanos durante o

século XVIII, que transformaram a Capela de São Miguel Paulista em sua moradia fixa,

tornando efetiva a apropriação dos serviços dos indígenas.

Segundo Imamura3, já havia um grande predomínio de brancos no aldeamento, o

que de certa forma acabou influenciando na reconstrução da capela, porém em moldes

mais próximos da celebração católica, atendendo assim a maior parte da população do

vilarejo.

3 IMAMURA, op.cit.,p.4 apud LOPES, Rodrigo Herrero. Face Leste: revistando a cidade /org. Geraldo

Antônio Rodrigues; coord. Daniel Vicente Reis – São Paulo: Mitra Diocesana São Miguel Paulista,

2011.pp.88.

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A reforma acabou ampliando uma grande parte do espaço que já tinha da Igreja

que havia sido inaugurada em 1622. Percebia-se que o aldeamento indígena estava

perdendo forças, porém a Vila prosperava, ganhava mais firmeza devido à atividade

agrícola que se mantinha dentro do bairro.

A construção das paredes é de taipa, mas, a parte superior de algumas

delas é de adobe, tijolo manual que já se utilizava em Minas,

indicando o acréscimo realizado pelo frei Mariano. A altura da parede

(pé direito) da nave central foi elevada de quatro para seis metros, e

duas janelas foram abertas acima do telhado, e duas janelas foram

abertas acima do telhado fronteiro. Ainda ganhou altares laterais e

escoramento interno de madeira, além de certos elementos decorativos

em dourado no altar principal, na sacristia e na capela lateral que

também foi acrescida.4

Com o tempo a Capela passou por mais algumas reformas. Em 1691 ocorreram

alguns reparos promovidos pelo frei Mariano da Conceição Veloso. Contudo, o frei

mantivera a construção original, acrescentando apenas alguns elementos, que de alguma

forma acabaram por deixar a marca do frei na história da Capela, através das suas

escolhas feitas em torno da reforma.

1. Capela de São Miguel Arcanjo

4 Disponível em <http://capeladesaomiguelarcanjo.blogspot.com.br/p/historico.html> Acesso em

28/11/2013).

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1.1. Processo de tombamento

Segundo o IPHAN5 (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

“toda vez que pessoas se reúnem para dividir novos conhecimentos, investigam pra

conhecer melhor, entender e transformar a realidade que nos cerca, estamos falando de

uma ação educativa. Quando fazemos tudo isso levando em conta alguma coisa que

tenha relação ao nosso patrimônio cultural, então estamos falando de Educação

Patrimonial. O IPHAN concebe educação patrimonial como todos os processos

educativos que primem pela construção coletiva do conhecimento, pela dialogicidade

entre os agentes sociais e pela participação efetiva das comunidades detentoras das

referências culturais onde convivem noções de patrimônio cultural diversas.”

Descrição: Capela do aldeamento jesuíta de El-Rei de São Miguel de Ururaí,

datada de 1622, conforme inscrição na verga da porta principal. Reformada no final do

século XVIII pelo franciscano Frei Mariano da Conceição Veloso, que alterou o pé-

direito da nave, usando alvenaria de adobe, e construiu a capela lateral. Do interior

rústico, sobressaí-se a original bancada da comunhão - autêntica expressão da nascente

"arte brasileira". É o único exemplar de igreja alpendrada que restou das muitas que

existiam em São Paulo nos primeiros séculos de colonização. Foi restaurada em

1940/1941 e em 1959/1960. Recebeu a partir de 1959 obras de organização de seu

entorno, executadas pela Prefeitura Municipal de São Paulo. Livro Histórico,

Inscrição: 109 - Data: 21-10-1938. Livro de Belas Artes, Inscrição: 219 - Data: 21-

10-1938. Nº Processo: 0180-T-38. Observações: O tombamento inclui todo o seu

acervo, de acordo com a Resolução do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85,

referente ao Processo Administrativo nº 13/85/SPHAN.6

2. Ensino de História baseando-se na Capela de São Miguel Arcanjo e em suas

ações educativas para a comunidade.

O estudo histórico desempenha um papel importante, na medida em que

contempla pesquisa e reflexão da relação construída socialmente e da relação

5 Disponível em < (http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.> – Acesso em 04/dez/2013.

6 Disponível <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaInicial.do> Acesso em 04/dez/2013.

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estabelecida entre indivíduo, grupo e o mundo social. Nesse sentido, o ensino de

História poderá priorizar práticas que levem o aluno a refletir sobre seus valores e suas

práticas cotidianas, relacionando-os com a problemática histórica inerente ao seu grupo

de convívio, à sua localidade, à sua região e à sociedade nacional e mundial existe um

campo no estudo da História chamada de História Local, conhecida também como

História Regional.

A construção de um conhecimento histórico modifica a maneira como o aluno

compreende os processos históricos o e as relações que estabelecem entre si, na medida

em que o ensino de História lhe possibilita construir leituras críticas e pluralistas,

proporcionando mudanças no modo de entender a si mesmo, entender os outros, as

relações sociais e a própria História.

Tem sido comum em propostas curriculares e em algumas produções didáticas

introduzir a “História do Cotidiano”, opção esta que não é recente. A associação entre

cotidiano e história de vida dos alunos possibilita contextualizar essa vivência

individual a uma história coletiva.

É importante destacar que os Parâmetros Curriculares Nacionais de História,

demonstram alternativas que favorecem a compreensão dos alunos em relação ao estudo

da memória na construção do conhecimento histórico ao relacionar atividades com o

estudo do meio.

(...) como se pode observar nos Parâmetros Curriculares Nacionais

para o ensino fundamental (1997-1998) e para o ensino médio (1999),

nos quais as atividades relacionadas com o estudo do meio e da

localidade são, enfaticamente, indicadas como renovadoras para o

ensino de História e salutares para o desenvolvimento da

aprendizagem (...)7

Entre os conceitos presentes no PCN em relação ao ensino de História, destaca-

se a importância da construção da identidade individual e social, conceito este

fundamental, pois se baseando nos estudos de Pollak8 a identidade e a memória têm

uma estreita relação.

7 SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História/ Maria Auxiliadora Schimidt, Marlene Cainelli. – São

Paulo: Scipione, 2004. PP.112). 8 POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, v.5, n.10, Rio de Janeiro:

CP/DOC FGV, 1992.

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Para Gaddis (2003), “o estabelecimento da identidade requer o reconhecimento

de nossa relativa insignificância no grande esquema das coisas”.9 Esse seria, no seu

entender, um dos significados da maturidade nas relações humanas e mais, do próprio

valor do uso da consciência histórica.

A construção de identidades pessoais e sociais está relacionada à memória, já

que tanto no plano individual quanto no coletivo ela permite que cada geração

estabeleça vínculos com as gerações anteriores. Os indivíduos, assim como as

sociedades, procuram preservar o passado como um guia que serve de orientação para

enfrentar as incertezas do presente e do futuro.

O ensino de história local apresenta-se como um ponto de partida para a

aprendizagem histórica, pela possibilidade de trabalhar com a realidade mais próxima

das relações sociais que se estabelecem entre educador / educando / sociedade e o meio

em que vivem e atuam. Um exemplo disso é a própria monitoria que ocorre na Capela

de São Miguel Arcanjo, na qual se busca destacar aspectos que visam aproximar os

moradores da sua própria história, utilizando-se de elementos do cotidiano religioso e

arquitetônico de São Miguel e relacionando-os com a própria Capela. Com isso, a

Educação Patrimonial entra como uma das formas de se propagar essa História e assim

ajudar a construir uma “identidade” individual ou coletiva, pois segundo Le Goff (criar

nota de rodapé) “A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar

identidade individual e coletiva”, criando assim uma sensação de identidade e

pertencimento naquele individuo.

2.1. A Escola não vai até a Capela e a Capela não vai até a Escola: Uma

proposta metodológica de interação entre a Capela de São Miguel

Arcanjo e as escolas

Na Capela de São Miguel Arcanjo é oferecido um curso de Monitoria e

Educação Patrimonial que tem como objetivo formar monitores qualificados para

orientar visitas técnicas a equipamentos culturais de valor patrimonial. Por isso, o curso

tem como foco principal: sensibilizar os alunos do valor histórico, arquitetônico e

artístico dos bens patrimoniais; difundir instrumentos analíticos que permitam

identificar bens dotados de valor patrimonial; promover conhecimentos básicos sobre os

9 GADDIS, John Lewis. Paisagens da História. Como os Historiadores Mapeiam o Passado. Rio

de Janeiro: Campus, 2003. Disponível em <http://meuartigo.brasilescola.com/historia/ensino-historia-

memoria-historia-local.htm.> acesso em 12/dez/2013.

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contextos e objetivos simbólicos que conferem valor aos bens culturais materiais e

imateriais; gerar consciência preservacionista na comunidade local; contribuir com a

formação de profissionais para instituições museológicas. O curso é realizado pela

Associação Cultural Beato José de Anchieta, patrocinado pelo Banco Itaú e Instituto

Votorantim.10

Porém, observamos com visitas e conversas com os monitores que essas

monitorias não problematizam os aspectos relevantes da história social na local, desde

os jesuítas até os dias atuais. As monitorias focam muito na arquitetura e religião e não

contextualizam os aspectos históricos desde a criação do bairro com o cotidiano e a vida

atual de seus moradores.

Adorei conhecer São Miguel, morei em São Miguel toda minha

infância até 12 anos de idade, depois, mudei de endereço, voltei,

mudei de novo,mudei, mas sempre morei em torno de São Miguel,

inacreditavelmente não conhecia vários dos lugares dos quais

visitamos.Para mim foi uma descoberta admirável, fiquei apaixonada

por São Miguel, o bairro; não pensei, nunca ouvi falar se quer de

tantas preciosidades patrimoniais lá escondidas sutilmente entre tantas

casas e pessoas, vindas de tantas origens e aí me pergunto, e a vocês

também: Porque se fala tão pouco destas preciosidades? Será que isso

é comentado nas escolas locais? (...) Estudei meu primário na época,

no Grupo Escolar Carlos Gomes, acho que era este o nome que ele

recebia, mas a memória que tenho da Capela por exemplo, não foi

ensinada na escola não pelo menos até esta idade, minha memória se

faz da minha frequência nas missas da Igreja Matriz, que de longe eu

via a Capelinha (...).11

Em conversa com monitores e coordenadores da Capela de São Miguel Arcanjo,

perguntamos se esse curso era divulgado ou se havia alguma parceria com as escolas

para a inserção da Capela e sua relevância para a formação social na História Local.

Informaram-nos que não é possível essa ação por parte da administração da Capela,

pois, não existem recursos financeiros suficientes, e a Capela é sustentada com os

recursos da Paróquia.

Como percebemos que as escolas também não se utilizam da Capela para fins

educativos do Ensino de História Local.

10

Disponível em: <http://educacaopatrimonialcapelasaomiguel.blogspot.com.br/2009/06/roteiro-

conhecendo-sao-miguel-paulista.html> Acesso em 04/dez/2013. 11

Disponível em <http://www.saomiguelpaulista.com.br/portal/index.php?secao=historia_origem>

Acesso em: 04/dez/2013.

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Propomos que fosse desenvolvido o seguinte projeto com os alunos em sala de

aula (teórico) e posteriormente com a Capela (prático):

Primeiro passo: quando o tema for catequização indígena, utilizaremos textos

do currículo escolar junto a textos e documentos (revistas, mapas, imagens,

jornais, entre outros) que nos ajudem a contextualizar a História Local.

Utilizando desse material pretendemos desenvolver um sentimento de

pertencimento e de proximidade de sua história atual com a história do

bairro. Elaborar com os alunos um questionário levando em conta os textos e

documentos utilizados.

Segundo passo: Visita a Capela utilizando o questionário para entrevistas

com os administradores e monitores da Capela de São Miguel. Com isso,

consigam perceber e entender o que foi explicado em sala, ter noção sobre

temporalidade e conceitos históricos e preservação do Patrimônio Histórico.

Terceiro passo: Fazer uma pesquisa (previamente elaborada com questões

referente o que eles sabem sobre a Capela) com familiares e vizinhos

destacando qual o conhecimento que essas pessoas possuem sobre a Capela e

sobre a importância da mesma para o bairro.

Quarto passo: Solicitar aos alunos que formulem um pequeno texto com as

suas próprias impressões sobre a Capela, descrevendo quais foram às

dificuldades encontradas, além de descrever o que mudou na visão deles a

impressão que eles tinham da Capela, elaborarem propostas de lugares para

visitação no bairro relacionando-os aos textos que utilizamos em sala de aula

sobre a história de São Miguel Paulista.

Conclusão:

Através desta pesquisa, pretendemos colaborar com o desenvolvimento de uma

conscientização por parte da Capela, das Escolas, dos alunos e dos próprios moradores

do entorno da Capela.

Através da atividade desenvolvida é possível trazer os alunos, seus familiares e a

comunidade em geral um pouco mais próximo da História do Brasil, da História Local e

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de sua própria história, através de aspectos, objetos e o Patrimônio Histórico (Capela)

que fazem parte do cotidiano desses moradores, desenvolvendo assim um sentimento de

pertencimento e identidade, propiciando um olhar mais crítico e reflexivo perante seu

papel como agente ativo na história.

Bibliografia

BARROS, Clara Emilia Monteiro. Aldeamento de São Fidélis: o sentido do espaço

na iconografia / Clara Emilia Monteiro Barros - Rio de Janeiro, IPHAN 1995.

BOMTEMPI, Sylvio. O bairro de São Miguel Paulista / Sylvio Bomtempi – São

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/ Dora Shellard Corrêa – São Paulo: Estação Liberdade, 1999.

IMAMURA, op.cit.,p.4 apud LOPES, Rodrigo Herrero. Face Leste: revistando a cidade

/org. Geraldo Antônio Rodrigues; coord. Daniel Vicente Reis – São Paulo: Mitra

Diocesana São Miguel Paulista, 2011.pp.88.

LOPES, Rodrigo Herrero. Face Leste: revisitando a cidade / Rodrigo Herrero Lopes;

organizador Geraldo Antônio Rodrigues – São Paulo: Mitra Diocesana São Miguel

Paulista, 2011.

MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de

São Paulo/ John Manuel Monteiro – São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, v.5, n.10, Rio

de Janeiro: CP/DOC FGV, 1992.

SHIMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar história / Maria Auxiliadora Schimidt,

Marlene Cainelli – São Paulo: Scipione, 2004.

GADDIS, John Lewis. Paisagens da História. Como os Historiadores Mapeiam o

Passado. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Acessado em 12/12/2013

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04/dez/2013.

Disponível <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaInicial.do> Acesso em

04/dez/2013.