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DAJUVENTUDEDIREITOS
SUBSDIOS PARA O DEBATE
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Este texto tem o objetivo de
estimular a discusso sobre o
tema da Diversidade no processo
de mobilizao da 3 Conferncia
Nacional de Juventude. As
abordagens escolhidas no
representam, necessariamente,
posio formal da Secretaria
Nacional de Juventude, do
Conselho Nacional de Juventude
ou de qualquer outra instncia,
mas um conjunto de apontamentos
e arrazoados que devem ser
debatidos e aprofundados para o
desenvolvimento de propostas s
etapas da Conferncia.
JUVENTUDE E DIVERSIDADE
INTRODUO
Diversidade significa variedade, pluralidade, diferena. um substantivo fe-
minino que caracteriza tudo que diverso, que tem multiplicidade. Falar em
diversidade apresentar mltiplos aspectos de uma mesma realidade que
expressa a vida humana em termos naturais, biolgicos e sociais. Fala-se, por
exemplo, em diversidade cultural, diversidade biolgica, diversidade ambien-
tal, diversidade sexual, diversidade tnica, lingustica, religiosa etc.
Nos dias de hoje, de maneira bastante heterognea (e, s vezes, at con-
traditria), o valor da diversidade tem sido evocado por grupos, coletivos
e movimentos juvenis. Evoca-se a diversidade para fortalecer denncias de
discriminao (sobretudo social, de raa, gnero, orientao sexual e religio)
e, tambm, para construir alianas (religiosas e polticas) com objetivos de
ampliar espaos democrticos, encaminhar demandas e de garantir polticas
pblicas que inibam e criminalizem preconceitos e discriminao.
A noo de diversidade est presente no Estatuto da Juventude, no Captulo
II, intitulado Dos direitos dos jovens, na Seo IV. A Seo Do direito di-
versidade e igualdade composta por dois artigos, como se observa a seguir:
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Art. 17 O jovem tem direito diversidade e igualdade de direitos e
oportunidades e no ser discriminado por motivo de:
I - etnia, raa, cor da pele, cultura, origem, idade e sexo;
II - orientao sexual, idioma ou religio;
III - opinio, deficincia e condio social e econmica.
J o Artigo 18 dedicado Ao do Poder Pblico, na efetivao do di-
reito diversidade e igualdade, seus itens contemplam medidas relacionadas
com: I) programas governamentais que garantam os direitos fundamentais aos
jovens de todas as raas e etnias; II) capacitao de professores do ensino m-
dio e fundamental para aplicao de diretrizes curriculares nacionais no que se
refere a todas as formas de discriminao; III) incluso dos temas da diversida-
de na formao dos profissionais de educao, de sade, de segurana pblica e
entre os operadores do direito; IV) observncia das diretrizes curriculares para
educao indgena; V) incluso nos contedos curriculares de informaes so-
bre discriminaes e direitos na sociedade brasileira; VI) incluso nos conte-
dos curriculares de temas relacionados sexualidade, respeitando a diversidade
de valores e crenas.
Como efetivar estas determinaes do Estatuto da Juventude? No campo
das polticas pblicas de juventude, questiona-se se o reconhecimento da di-
versidade entre os jovens de hoje enfraquece ou fortalece as demandas comuns
dos jovens da atual gerao juvenil. Um dos principais desafios ser o de arti-
cular e tornar complementares os direitos diversidade e igualdade.
Para contribuir com esta reflexo, inicia-se este texto apresentando um
rpido diagnstico sobre os preconceitos e discriminaes que retroalimen-
tam desigualdades sociais entre jovens brasileiros e, em seguida, apresen-
tam-se as demandas de grupos, coletivos e movimentos juvenis sobre estas
questes, expressas nas duas edies j realizadas da Conferncia Nacional
de Juventude.
CONSTRUINDO UMDIAGNSTICO
1. ASPECTOS HISTRICOS
Historicamente, nas sociedades patriarcais, relaes de poder determinaram
definies hierrquicas entre homens e mulheres. Valoriza-se o masculino e,
consequentemente, desvaloriza-se o feminino. Esta desvalorizao foi a prin-
cipal razo da diferena biolgica ser transformada em desigualdade social.
Quando se fala em identidade de gnero, faz-se referncia percepo sub-
jetiva de ser masculino ou feminino, conforme os atributos, os comporta-
mentos e os papis convencionalmente estabelecidos para homens e mulheres.
Gnero uma categoria social usada para se referir a aspectos associados
feminilidade e masculinidade. Assim sendo, masculino e feminino so pro-
dutos da realidade social e no da anatomia humana, ou seja, no se limitam
a caractersticas biolgicas. O feminino , portanto, construdo em relao ao
masculino e vice e versa, de tal modo que nenhum deles possa ser pensado
em si mesmo.
Ao longo da histria, as hierarquias de gnero resultaram em desigualdades
de oportunidades, condies e direitos entre homens e mulheres. Ao mesmo
tempo, produziram preconceitos e discriminaes que atingem jovens de di-
ferentes orientaes sexuais, tais como homossexuais, transexuais, lsbicas,
travestis, entre outros.
Nas ltimas dcadas, multiplicaram-se redes, grupos e movimentos so-
ciais que buscam assegurar direitos das mulheres e de pessoas de diferentes
orientaes sexuais. Nos dias atuais, luta-se para a incorporao da perspecti-
va de gnero em legislaes, polticas pblicas e programas sociais.
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Ao mesmo tempo, para a valorizao da diversidade cultural brasileira,
importante o tema das relaes raciais. No Brasil, o Mito da Democracia
Racial atribudo ao socilogo Gilberto Freyre, que, entre as dcadas de
1930 e 1950, escreveu Casa Grande e Senzala. Partindo do princpio positivo
de romper com as abordagens racistas da sociedade e da histria brasileira
contra os negros, Freyre enfatizou as relaes de proximidade que existiam
entre senhores/sinhs e escravos/as, assim como os modos de vida da elite
e do povo. E este pensamento exerceu grande influncia sobre a literatura e
sobre a sociedade.
Ao realizar tais anlises, Freyre acabou por produzir a imagem de uma
sociedade harmnica e integrada afetiva e sexualmente, o que significava
encobrir relaes de poder econmico e social entre senhores e escravos. Por
muito tempo, acreditou-se ser o Brasil um pas onde no existia preconceito
ou discriminao de raa ou de cor e no qual as diferenas so absorvidas de
forma cordial e harmoniosa. O quadro das relaes sociais sugerido das infe-
rncias de Gilberto Freyre, no entanto, no inteiramente verdadeiro, tendo
servido, algumas vezes, para justificar e esconder o racismo como um elemen-
to estruturante da realidade brasileira. O racismo se manifesta no Brasil de
muitas formas. Vamos falar sobre isto?
O QUE RACISMO?
Racismo uma ideologia que se realiza nas relaes entre as pessoas e grupos
diferenciando-os segundo sua cor de pele e fazendo com que posies de pri-
vilgio e poder sejam hierarquizadas a partir desta diferena.izadas a partir
desta diferena.
Jovens negros e negras tm experimentado violao de direitos humanos nos
shoppings centers na condio de consumidores; como candidatos aos empregos;
nas operaes policiais. A discriminao racial tambm se manifesta em mortes
violentas de jovens negros. Como est escrito no documento da 3 Conferncia
Nacional de Promoo da Igualdade Racial (2013), preciso estar vivo para
desfrutar direitos. preciso ser livre para usufruir a democracia. preciso no
ser discriminado para ampliar habilidades e conhecimento como seres humanos.
Em reao a este mito da democracia racial, diferentes movimentos e
grupos sociais passaram a constituir o movimento negro e, neste contexto,
a despeito da definio biolgica, raa tornou-se uma categoria poltica
muito importante no enfrentamento das desigualdades sociais baseadas na
cor da pele. No mesmo cenrio, surgiram reaes contra discriminaes tni-
cas. Diante da situao vivida pelos distintos povos indgenas no Brasil, etnia
tambm se torna uma categoria poltica.
O QUE ETNIA?
Etnia se refere classificao de um povo ou de uma populao de acordo com
sua organizao social e cultural, caracterizadas por particulares modos de vida.
A violncia relacionada aos povos indgenas no Brasil um tema recorrente.
Violncia fsica, violncia psicolgica, espoliao patrimonial, dominao po-
ltica e violncia institucional so temas obrigatrios quando se fala sobre os
diversos povos indgenas no pas. Nos ltimos anos, o suicdio de indgenas
com destaque para os jovens tem chamado a ateno em diferentes regi-
es. Cabe lembrar, ainda, que, nos espaos de polticas pblicas de juventude,
jovens ciganos e ciganas tambm tm trazido suas reivindicaes de acesso a
oportunidades e direitos.
Diferenas e desigualdades sociais provocam discriminaes que implicam em