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CAO – Crim Boletim Criminal Comentado n° 078 Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais Mário Luiz Sarrubbo Coordenador do CAO Criminal Arthur Pinto Lemos Junior Assessores Fernanda Narezi Pimentel Rosa Marcelo Sorrentino Neira Paulo José de Palma Ricardo José Gasques de Almeida Silvares Rogério Sanches Cunha Analista Jurídica Ana Karenina Saura Rodrigues

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CAO – Crim Boletim Criminal Comentado n° 078

Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais

Mário Luiz Sarrubbo

Coordenador do CAO Criminal

Arthur Pinto Lemos Junior

Assessores

Fernanda Narezi Pimentel Rosa

Marcelo Sorrentino Neira

Paulo José de Palma

Ricardo José Gasques de Almeida Silvares

Rogério Sanches Cunha

Analista Jurídica

Ana Karenina Saura Rodrigues

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Boletim Criminal Comentado n° 078 – Dezembro 2019

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SUMÁRIO

SUMÁRIO --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2

PRESTAÇÃO DE CONTAS ........................................................................................................................ 3

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM ------------------------------ 5

DIREITO PROCESSUAL PENAL ------------------------------------------------------------------------------------------- 5

1- Tema: Para a 1ª Turma do STF, compete à Justiça Estadual julgar crime de homicídio praticado por

policial no deslocamento ao trabalho .................................................................................................... 5

2- Tema: 1ª Turma do STF decide que não cabe ao Judiciário rever decisão de arquivamento do

procurador-geral ................................................................................................................................... 7

3- Tema: Execução Penal- Indulto e comutação de pena nas decisões do STJ ...................................... 8

DIREITO PENAL -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 9

1- Tema: 1ª Turma do STF reconhece que acórdão condenatório que confirma sentença interrompe

prazo da prescrição ............................................................................................................................... 9

2- Tema: Perda do cargo como efeito da condenação só pode atingir aquele ocupado na época do

crime................................................................................................................................................... 11

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3

Pendente de julgamento pelo TJSP Provido Não provido Envio para Setor Recurso Especial/Extraord.

32%

27%

27% 14%

Acompanhamento de recursos em 2ª instância Ano 2019

PRESTAÇÃO DE CONTAS E O BALANÇO DE 2019

Este é o último Boletim de 2019. O boletim entrará em férias e retorna em fevereiro de 2020.

Aproveitamos a oportunidade para apresentar um resumo de nossa produção e da nossa gestão em

2019 no CAOCRIM. Para além de termos proposto à Procuradoria-Geral de Justiça a criação do GAESP

– Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial; e do

GECRADI – Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento aos Crimes Raciais e de Intolerância, ainda

realizamos:

ATENDIMENTOS AOS PROMOTORES E PROMOTORAS DE JUSTIÇA CRIMINAIS:

No ano de 2019 foram atendidos por telefone fixo 1960 colegas pelos Promotores de Justiça que

integram o CAOCRIM. Não foram considerados os atendimentos por meio de telefone celular e por

meio do aplicativo do whatsapp.

MONITORAMENTO DE RECURSOS:

O CAOCRIM recebeu das Promotorias de Justiça Criminais solicitações de acompanhamento de

recursos e monitorou 102 casos, que envolvem os diversos tipos de Recursos e sustentações orais:

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ENUNCIADOS:

Elaboramos 66 Enunciados: 1 sobre crimes de licitação; 2 da área ambiental; 23 sobre execução

criminal; 11 elaborados em conjunto com o Setor do “Artigo 28” e Conflitos Criminais; e os demais

sobre a nova lei de abuso de autoridade.

WORKSHOP:

Realizamos em 2019 6 (seis) WORKSHOP: 12/3/19, Aspectos práticos da persecução penal do crime

digital; em 25/04/2019 e 16/05/2019, Atualização Legislativa; em 15/10/2019, “Violência

Doméstica”; e sobre “Execução Penal - Enunciados e Teses do CAOCrim”, em 28/8/2019 e 9/11/2019.

EVENTOS:

Foram promovidas 5 (cinco) grandes reuniões de trabalho: “Projeto Anticrime em Debate”, em 1°/4/2019; “Sistematização das melhores técnicas para a Plenário do Júri”, em 7/6/2019; “Criminalização da Homofobia e da Transfobia: questões penais e extrapenais”, em 2/8/2019; “A nova lei de abuso de autoridade”, em 7/10/2019; “A integração entre a Promotoria de Justiça do Júri da Capital e o DHPP”, em 6/12/2019. Foram promovidos dois importantes eventos com a Escola Superior do Ministério Público: “Gerenciamento de Crise no Sistema Prisional” e “Resolução Adequada de Conflitos”. Definimos roteiro de visita do Promotor de Justiça em Presídio.

Depois de realizadas diversas Reuniões de Trabalho com as Promotorias de Justiça Criminais da Capital - Barra Funda; bem como Reuniões de Trabalho no interior: Araçatuba, Araraquara, Bauru, Campinas, Marília, Mococa, Mogi das Cruzes, Mogi Mirim, Jundiai, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São Bernardo do Campo, São José do Rio Preto, Santo André, Ourinhos, Presidente Prudente e Taubaté; fizemos a difusão sobre a Política Criminal idealizada pelo CAOCrim, notadamente no que se refere ao “Acordo de Não Persecução Penal”.

Foram realizados até este momento: 810 Termos de Acordo de Não Persecução Penal, no período de 2018/2019.

BOLETIM CRIMINAL:

Elaboramos em 2019 45 boletins com diversos estudos e publicações sobre atualização de

jurisprudência e atualização legislativa.

NOTAS TÉCNICAS:

Produzimos no CAOCRIM 12 Notas Técnicas a respeitos dos seguintes assuntos: “Intimação do

Ministério Público com fixação em horas”; “Parecer sobre o Fornecimento de bebidas em estádios

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de futebol”; Projeto de Lei 10.732/18; Projeto de Lei sobre Infanticídio – n° 1258/15; Projeto de Lei

37/2013; Projeto de Lei 125/2018; Nota sobre “Planilha para Cálculo de Remição de Pena”; “Execução

Penal Provisória: Medida Constitucional, Convencional e Necessária”; “Nota de Repúdio às

Declarações do Ministro Gilmar Mendes”; “a Prisão em Segunda Instância”; “a Prisão Preventiva no

Pacote Anticrime”; “o Acordo de Não Persecução Penal no Pacote Anticrime”;

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM

DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1- Tema: Para a 1ª Turma do STF, compete à Justiça Estadual julgar crime de homicídio praticado

por policial no deslocamento ao trabalho

DECISÃO DO STF- Publicado em notícias do STF

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a Justiça Estadual é competente

para julgar crime de homicídio praticado por policial rodoviário federal em briga de trânsito no trajeto

entre a residência e o trabalho. Em decisão unânime tomada na tarde de terça-feira (10), os ministros

entenderam que o fato foi um incidente privado sem conexão com a função pública e indeferiram o

Habeas Corpus (HC) 157012, em que a defesa pedia que o policial respondesse no âmbito da Justiça

Federal.

O caso

Em 31/12/2016, o policial rodoviário federal saiu de casa em Campo Grande (MS) em veículo

particular na direção da rodoviária da cidade para pegar um ônibus até Corumbá (MS), onde está

localizada a delegacia em que trabalha. No trajeto, por volta das 5h40 da manhã, o motorista de uma

caminhonete, que, segundo os autos, dirigia em alta velocidade e com sinais de embriaguez,

desrespeitou a sinalização de um cruzamento e quase colidiu com o carro do policial. Após uma

discussão decorrente de outra manobra inadvertida do condutor da caminhonete, o policial atirou e

matou o motorista e feriu dois passageiros que também estavam no veículo. Em depoimento, ele

afirmou ter agido por receio do cometimento de eventual delito contra sua integridade física e seu

patrimônio (o carro).

Julgamento

A análise do HC pela Turma foi iniciada em abril deste ano, quando o relator, ministro Marco Aurélio,

votou pelo indeferimento do pedido. Segundo ele, o caso não envolve dever de ofício ou flagrante

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“1. Compete à Justiça Federal processar e julgar crime praticado por funcionário público

federal, no exercício de suas atribuições funcionais. Precedentes.

2. Tal entendimento deriva do fato de que, ao atuar na qualidade de preposto da empresa

pública federal, o acusado a representa e, por consequência, o cometimento de crime no

exercício da função pública atinge diretamente a imagem da instituição.

3. Situação em que, em processo de renegociação de contratos bancários celebrados com

a Caixa Econômica Federal (financiamento de imóvel, limite de cheque especial em conta

corrente e empréstimo pessoal) e inadimplidos, o gerente de contratos da instituição

obrigatório, conforme dispõe o artigo 301 do Código de Processo Penal (CPP). O relator entendeu

que a mera condição de servidor público federal não basta para atrair a competência da Justiça

Federal, pois o interesse da União está relacionado às funções institucionais, e não ao acusado. Para

o ministro Marco Aurélio, a competência para julgar o caso é da Justiça Estadual.

Na sessão , o ministro Alexandre de Moraes apresentou voto-vista no mesmo sentido. Assim como o

relator, ele entende que o policial se envolveu num acidente de trânsito sem conexão com o exercício

da função. “Foi uma desavença pessoal que não tem relação com o serviço”, concluiu. No mesmo

sentido, votaram os ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

Compete à Justiça Federal, nos termos do art. 109, inc. IV, da Constituição Federal, julgar “os crimes

políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou

de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a

competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral”.

No geral, considera-se presente o interesse da União nos crimes cometidos por funcionários públicos

federais no exercício da função, ainda que o sujeito passivo imediato da ação criminosa não seja o

ente público. Como exemplo, podemos citar decisão recente do TRF da 1ª Região na qual se

estabeleceu a competência da Justiça Federal para julgar servidor público que, designado para

trabalhar em um programa promovido pelo governo federal que visava a fornecer atendimento

médico a comunidades indígenas, aproveitou-se das circunstâncias proporcionadas por seu cargo

para submeter uma adolescente indígena à humilhação de ser fotografada em conotação

pornográfica enquanto utilizava vestimentas culturais características (RESE 0001224-

85.2018.4.01.4200/RR, j. 25/06/2019).

É a mesma orientação seguida pelo STJ:

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É, no entanto, pressuposto que o agente esteja no exercício da função, pois, do contrário, sua

qualidade de funcionário se torna indiferente para o estabelecimento da competência, afastando-se

o interesse da União. Por isso, ao julgar o HC 157.012/MS (j. 10/12/2019), o STF denegou a ordem e

afastou a competência da Justiça Federal para julgar policial rodoviário federal que havia cometido

homicídio enquanto se dirigia ao trabalho.

De acordo com a impetração, no dia dos fatos o policial deixou sua residência num veículo particular

e se dirigiu à rodoviária de Campo Grande/MS, onde tomaria um ônibus até a cidade de Corumbá,

onde se localizava o posto da Polícia Rodoviária Federal em que trabalhava. No caminho, um

motorista de outro veículo, aparentemente embriagado, desrespeitou a sinalização de trânsito e

quase colidiu com o veículo do policial. Após uma discussão decorrente de outra manobra

imprudente daquele indivíduo, o policial disparou sua arma e o matou, ferindo também outras duas

pessoas.

O processo pelo homicídio foi iniciado na Justiça Estadual, mas o impetrante pretendia que, devido

à sua condição de policial federal, a competência fosse deslocada para a Justiça Federal.

A 1ª Turma do STF decidiu por unanimidade que não se trata de competência federal porque o

policial não se encontrava no exercício da função. Tratou-se de uma desavença pessoal, não

relacionada com nenhum dever de ofício, que afasta qualquer interesse da União.

2- Tema: 1ª Turma do STF decide que não cabe ao Judiciário rever decisão de arquivamento do

procurador-geral

DECISÃO DO STF- Publicado em notícias do STF

Por unanimidade, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou, nesta terça-feira (10),

determinação do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de submeter ao Tribunal de

Justiça do Maranhão (TJ-MA) decisão do procurador-geral de Justiça do estado de arquivar os autos

de um procedimento investigativo criminal (PIC). O ministro Luiz Fux, relator do Mandado de

financeira, no exercício de sua função na empresa, teria qualificado a querelante de “safada

sem vergonha”, “mal caráter” e “pilantra”, em contato telefônico.

4. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo Federal da 14ª Vara da Seção

Judiciária do Paraná, o Suscitante.” (CC 147.781/PR, j. 14/9/2016)

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Segurança (MS) 34730, observou que não há previsão legal para que a determinação do procurador-

geral seja submetida ao controle do Judiciário. “Se houver irresignação contra o arquivamento, a

última palavra é do procurador-geral de Justiça” afirmou.

Para o ministro, o arquivamento de PIC determinado pelo procurador-geral de Justiça não necessita

de prévia submissão ao Judiciário, pois pode ser revisto caso apareçam novos meios de prova, ou

seja, não acarreta coisa julgada material. Ele observou que, como o procurador é a autoridade própria

para aferir a legitimidade do arquivamento desses procedimentos, não há motivo para que sua

decisão seja objeto de controle jurisdicional.

O ministro ressaltou ainda que a decisão de arquivamento de inquérito policial ou de peças de

informações determinada pelo procurador-geral nos casos que sejam de sua atribuição originária

pode ser revista pelo Colégio de Procuradores, mediante recurso dos legítimos interessados,

conforme prevê a Lei Orgânica do Ministério Público (Lei 8625/1993). Entretanto, nas hipóteses em

que não sejam de competência originária do procurador-geral, aplica-se a norma do Código de

Processo Penal (artigo 28) que desobriga o encaminhamento dos autos ao Judiciário.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

A titularidade da ação penal pública, incondicionada ou condicionada, pertence ao Ministério

Público.

Trata-se de função institucional que lhe foi conferida, com exclusividade, pela Constituição Federal

de 1988. É incontrastável o poder jurídico-processual do chefe do Ministério Público que requer, na

condição de ‘dominus litis’, o arquivamento judicial de qualquer inquérito ou peça de informação.

Inexistindo, a critério do procurador-geral elementos que justifiquem o oferecimento de denúncia,

não pode o Tribunal, ante a declarada ausência de formação da “opinio delicti’, contrariar o pedido

de arquivamento deduzido pelo chefe do Ministério Público. Nesse sentido temos precedentes vários

do Supremo Tribunal Federal, sendo o mais recente mandado de segurança em comento. Trata-se,

em verdade, mais uma vez, da consagração do sistema acusatório do processo penal brasileiro.

3- Tema: Execução Penal- Indulto e comutação de pena nas decisões do STJ

Jurisprudência em Teses - STJ

EDIÇÃO N. 139: DO INDULTO E DA COMUTAÇÃO DE PENA

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DIREITO PENAL:

1- Tema: 1ª Turma do STF reconhece que acórdão condenatório que confirma sentença interrompe

prazo da prescrição

DECISÃO DO STF- Publicado em notícias do STF

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão realizada no último dia 26, afastou

o reconhecimento da prescrição da pena imposta a um réu, ao entender que o acórdão que confirma

a sentença condenatória também interrompe o prazo prescricional. A maioria do colegiado

acompanhou o voto do ministro Alexandre de Moraes pelo provimento do agravo regimental

interposto pelo Ministério Público Federal (MPF) no Recurso Extraordinário (RE) 1237572.

No caso em questão, o MPF questionava decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que havia

reconhecido a extinção da punibilidade do réu em decorrência da prescrição da pretensão punitiva,

por entender que a decisão de segundo grau que apenas confirma a condenação imposta na instância

anterior, ainda que altere a pena, não interrompe o prazo prescricional, contado a partir da sentença

condenatória.

O ministro Marco Aurélio, relator, em decisão monocrática, havia negado seguimento ao recurso

extraordinário. O MPF então apresentou o agravo submetido ao julgamento da Primeira Turma.

Acórdão condenatório

Ao votar na sessão da Turma, o ministro Alexandre de Moraes observou que a prescrição é o

perecimento da pretensão punitiva em razão da inércia do próprio Estado. Assim, a confirmação da

condenação em segundo grau demonstra que o Estado não está inerte, muito pelo contrário. Para o

ministro, esse entendimento é reforçado pela alteração do inciso IV do artigo 117 do Código Penal

pela Lei 11.596/2007, que acrescentou a expressão “acórdão condenatório” como fator de

interrupção da prescrição. “Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz

distinção entre acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão”,

afirmou. “Não há, sistematicamente, justificativa para tratamentos díspares”

Citando precedente da Primeira Turma no mesmo sentido, o ministro Alexandre lembrou que a

prescrição é interrompida pela simples condenação em segundo grau, tanto no caso de confirmação

da sentença quanto da alteração da pena anteriormente imposta. Em tal situação, a sentença, como

título condenatório, é substituída pela decisão da segunda instância. “O que se executará será o

acórdão, e não a sentença”, explicou.

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No caso dos autos, o ministro ressaltou que a pena imposta foi de um ano e quatro meses. Por isso,

não ocorreu a prescrição da pretensão punitiva, uma vez que não houve o transcurso de quatro anos

entre os marcos interruptivos da publicação da sentença penal condenatória, que se deu em

25/6/2014, e do julgamento da apelação, em 18/6/2018.

No julgamento, ficou o vencido o relator, ministro Marco Aurélio. O ministro Alexandre será o redator

do acórdão.

Leia a íntegra do voto do ministro Alexandre de Moraes.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

O art. 117, inciso IV, do Código Penal foi modificado pela Lei nº 11.596/07 para anunciar que, além

da sentença condenatória, também o acórdão condenatório interrompe o curso da prescrição. Antes,

tão somente a sentença condenatória recorrível era causa de interrupção.

De acordo com a nova redação legal, além da inclusão do acórdão como causa interruptiva

estabeleceu-se que a interrupção ocorre pela publicação da decisão, não pelo julgamento.

“Publicação” não deve ser confundida com divulgação na imprensa oficial, sendo compreendida nos

termos do artigo 389 do Código de Processo Penal. Desse modo, considera-se publicada a sentença

quando o escrivão procede à juntada desta aos autos – na sentença ou acórdão proferidos na própria

audiência ou sessão, a publicação ocorre neste ato.

Com a edição da lei, duas orientações passaram a debater qual espécie de acórdão condenatório

recorrível teria efeito interruptivo. Há quem sustente que a alteração, alinhando-se a decisões

judiciais recorrentes, contempla somente os acórdãos condenatórios em ações penais originárias e

os reformatórios da absolvição em primeira instância. Por isso, tendo havido condenação em

primeira instância, o acórdão que simplesmente a confirme, negando provimento ao recurso da

defesa, ou que somente majore a pena, não interrompe o prazo prescricional. Aqueles adeptos desta

orientação se alicerçam no fato de que a lei lança mão da partícula “ou” entre as expressões

“publicação de sentença” e “acórdão condenatório”; logo, exclui-se a possibilidade de que ambos

irradiem efeitos interruptivos do prazo fatal. Sintetizando este entendimento, temos o seguinte

aresto do Superior Tribunal de Justiça:

“1. O curso da prescrição interrompe-se pela publicação da sentença ou do acórdão condenatório

recorríveis, o que ocorrer em primeiro lugar (art. 117, IV, do Código Penal). 2. A Corte Especial deste

Tribunal Superior, no julgamento do AgRg no RE nos EDcl no REsp n. 1.301.820/RJ (relator Ministro

Humberto Martins, DJe 24/11/2016), pacificou o entendimento de que o acórdão confirmatório da

condenação não constitui novo marco interruptivo prescricional, ainda que modifique a pena fixada.”

(STJ – AgRg nos EDcl no AREsp 359.573/SP, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, j.

5/9/2019).

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Outra orientação sustenta que a interrupção do prazo prescricional se dá inclusive pelo acórdão que

se limita a confirmar a condenação de primeira instância ou a aumentar a pena, segundo, aliás,

deixou claro o relatório do projeto da lei que viria a alterar o Código Penal.

Esta é a orientação adotada pela 1ª Turma do STF. A prescrição é, como se sabe, o perecimento da

pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código

Penal, que deve ser interpretado de forma sistemática, todas as causas interruptivas da prescrição

demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte. Não obstante a posição de parte da

doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório

confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa para tratamentos díspares. A ideia

de prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação da condenação é a

atuação do Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se

interromper a prescrição para o cumprimento do devido processo legal.

2- Tema: Perda do cargo como efeito da condenação só pode atingir aquele ocupado na época do

crime

DECISÃO DO STJ- Publicado em notícias do STJ

Para a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o cargo público, a função ou o mandato

eletivo a ser perdido como efeito secundário da condenação – previsto no artigo 92, I, do Código

Penal – só pode ser aquele que o infrator ocupava à época do crime.

Com base nesse entendimento, o colegiado concedeu habeas corpus para reduzir as penas e afastar

a determinação de perda do cargo efetivo de duas servidoras públicas municipais condenadas pela

prática do crime previsto no artigo 90 da Lei de Licitações (Lei 8.666/1993), cometido quando

ocupavam cargo comissionado.

"A perda do cargo público, por violação de dever inerente a ele, necessita ser por crime cometido no

exercício desse cargo, valendo-se o envolvido da função para a prática do delito. No caso, a

fundamentação utilizada na origem para impor a perda do cargo referiu-se apenas ao cargo em

comissão ocupado pelas pacientes na comissão de licitação quando da prática dos delitos, que não

guarda relação com o cargo efetivo, ao qual também foi, sem fundamento idôneo, determinada a

perda" – afirmou o relator, ministro Sebastião Reis Júnior.

Cargos comissionados

A controvérsia envolveu duas escriturárias efetivas que foram nomeadas para assumir o cargo de

membro em comissão de licitação da prefeitura onde trabalhavam.

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Nessa atividade, teriam participado de um processo fraudulento de licitação, pelo que foram

condenadas a dois anos e quatro meses de detenção, no regime aberto, além da perda do cargo

efetivo. O Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou a sentença sob o fundamento de que a

legislação impõe a perda do cargo público.

No habeas corpus apresentado ao STJ, as impetrantes alegaram que os efeitos da condenação sobre

o cargo público deveriam se restringir àquele exercido quando da prática criminosa, desde que

relacionado a ela – no seu caso, o cargo comissionado de membro da comissão de licitação.

Entendimento pacífico

Para o ministro Sebastião Reis Júnior, o acórdão do tribunal paulista contrariou entendimento

pacífico do STJ no sentido de que a perda de cargo, função ou mandato só abrange aquele em cujo

exercício o crime foi cometido, e não qualquer outro de que o réu seja detentor.

O relator reconheceu constrangimento ilegal na questão do cargo e também em relação à dosimetria

da pena.

"A jurisprudência desta corte tem consolidado entendimento na linha de que eventuais condenações

criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a reincidência somente

podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais, não se

admitindo a sua utilização também para desvalorar a personalidade ou a conduta social do agente",

destacou.

Além disso, o ministro observou que é vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em

curso para agravar a pena-base, como estabelecido na Súmula 444 do STJ.

Ao conceder o habeas corpus, a turma decidiu que, quanto ao crime do artigo 90 da Lei de Licitações,

a pena-base deve ser estabelecida no mínimo legal, afastada a perda do cargo público efetivo. Com

a redução da pena, foi alterado o prazo de prescrição – o que resultou na extinção da punibilidade.

Leia o acórdão.

Esta notícia refere-se ao(s) processo(s):HC 482458

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

A condenação criminal pode ter efeitos que ultrapassam a execução forçada da sanção penal

imposta. Há efeitos que decorrem automaticamente da sentença condenatória, como a obrigação

de indenizar o dano causado e o confisco dos instrumentos e produtos do crime, assim como há

outros que dependem da natureza do crime cometido e da devida fundamentação do juiz.

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Boletim Criminal Comentado n° 078 – Dezembro 2019

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“O cargo, função ou mandato a ser perdido pelo funcionário público como efeito secundário

da condenação, previsto no art. 92, I, do Código Penal, só pode ser aquele que o infrator

ocupava à época da conduta típica. Assim, a perda do cargo público, por violação de dever

inerente a ele, necessita ser por crime cometido no exercício desse cargo, valendo-se o

envolvido da função para a prática do delito. No caso, a fundamentação utilizada na origem

para impor a perda do cargo referiu-se apenas ao cargo em comissão ocupado pelas

pacientes na comissão de licitação quando da prática dos delitos, que não guarda relação

com o cargo efetivo, ao qual também foi, sem fundamento idôneo, determinada a perda”.

Dentre estes últimos se encontra a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, disposta no

art. 92, inc. I, do CP. Este efeito incide desde que:

a) aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados

com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a quatro anos nos demais casos.

Nas duas situações, cumpre ao magistrado sentenciante examinar a extensão da gravidade da

conduta para decidir se é absolutamente incompatível a permanência do agente nos quadros da

Administração Pública. Não se trata, portanto, de um efeito automático da condenação (parágrafo

único do art. 92).

Mas é possível que no momento da condenação o agente esteja ocupando cargo diferente daquele

exercido ao tempo do crime. Neste caso, segundo decidiu o STJ no HC 482.458/SP (j. 22/10/2019),

não é possível decretar a perda se o fato for relativo à violação dos deveres inerentes ao cargo, pois

a conduta criminosa deve ter relação direta com a atividade pública desempenhada.

No caso julgado, duas servidoras públicas haviam sido condenadas por crime licitatório cometido

quando ocupavam cargos comissionados, mas a condenação impôs a perda do cargo efetivo, que

não guardava relação nenhuma com o crime: