canto e fala corrigido

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Canto e Fala – Técnica Vocal 1 AGRADECIMENTOS Tenho observado que os sonhos não acontecem num estalar de dedos, mas são gerados. Se existem exceções eu não sei, contudo com esse projeto não foi diferente. A sua gestação durou bastante tempo e a sua concepção contou com a ajuda de alguns preciosos irmãos. Em primeiro lugar agradeço à minha esposa Luciana. Sempre, sempre, sempre... incentivou-me quanto ao sonhos que Deus me deu. Sua paciência, amor e observações ajudaram-me a fazer tudo com qualidade e compromisso. Agradeço ao pastor Pablo que em nenhum momento desacreditou desse projeto, pelo contrário, desde o início mostrou-se bastante interessado e em todo momento tive seu apoio. Agradeço também a irmã Jéssica que abraçou o projeto de treinamento dos backing vocals e com muita paciência corrigiu TODAS as partituras, nota por nota, fazendo observações importantes, além de fazer a gravação do soprano. Vocês são maravilhosos.

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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AGRADECIMENTOS

Tenho observado que os sonhos não acontecem num estalar de dedos, mas são gerados. Se existem exceções eu não sei, contudo com esse projeto não foi diferente. A sua gestação durou bastante tempo e a sua concepção contou com a ajuda de alguns preciosos irmãos.

Em primeiro lugar agradeço à minha esposa Luciana. Sempre, sempre, sempre... incentivou-me quanto ao sonhos que Deus me deu. Sua paciência, amor e observações ajudaram-me a fazer tudo com qualidade e compromisso.

Agradeço ao pastor Pablo que em nenhum momento desacreditou desse projeto, pelo contrário, desde o início mostrou-se bastante interessado e em todo momento tive seu apoio.

Agradeço também a irmã Jéssica que abraçou o projeto de treinamento dos backing vocals e com muita paciência corrigiu TODAS as partituras, nota por nota, fazendo observações importantes, além de fazer a gravação do soprano.

Vocês são maravilhosos.

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Índice INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 04 PARTE I – Canto e Fala – Técnica Vocal I – CONHEÇA SUA VOZ ........................................................................................................ 06 Mecanismo da Voz ...................................................................................................................... 06 Pregas Vocais .............................................................................................................................. 06 Ressonância ................................................................................................................................. 06 Atributos da Voz ......................................................................................................................... 07 Emissão Vocal ............................................................................................................................. 07 Registros Vocais .......................................................................................................................... 07 Trato Vocal .................................................................................................................................. 08 Vibrato ......................................................................................................................................... 08 Recomendações ........................................................................................................................... 08 Exercícios .................................................................................................................................... 09 II – POSTURA ........................................................................................................................... 10 Características de Uma Boa Postura ............................................................................................ 10 O Corpo ........................................................................................................................................ 10 III – RESPIRAÇÃO ................................................................................................................... 11 Características .............................................................................................................................. 11 Fases da Respiração ..................................................................................................................... 11 Tipos de Respiração ..................................................................................................................... 11 Sugestões Para Prevenir Respirações Rápidas ............................................................................. 12 Vantagens da Boa Respiração ...................................................................................................... 12 Recomendações ............................................................................................................................ 12 IV – EXERCÍCIOS DE RESPIRAÇÃO .................................................................................. 13 Exercícios Diversos ...................................................................................................................... 13 Exercício dos 4 Tempos .............................................................................................................. 13 Exercício de Sopro Longo ............................................................................................................ 14 Exercício de Sopro Interrompido ................................................................................................. 14 Exercício de Dinâmica ................................................................................................................. 14 Recomendações ............................................................................................................................ 15 V – DICÇÃO OU ARTICULAÇÃO ........................................................................................ 16 Órgãos da Articulação .................................................................................................................. 16 Sua Voz Reflete Sua Personalidade ............................................................................................. 16 Qualidades Básicas Para Uma Boa Dicção .................................................................................. 16 Recomendações ............................................................................................................................ 17 Exercícios de Dicção .................................................................................................................... 17 Variação de Intensidade ................................................................................................................ 18 A Palavra de Valor ....................................................................................................................... 18 Variação de Velocidade ............................................................................................................... 19 VI – EXPRESSÃO E INTERPRETAÇÃO .............................................................................. 20 Falando ou Atuando em Público .................................................................................................. 20 Uso do Microfone ......................................................................................................................... 21 Para Melhor Preparar Uma Obra Vocal ....................................................................................... 21 Recomendações ............................................................................................................................ 22 Exercícios ..................................................................................................................................... 22 VII – EXERCÍCIOS GERAIS .................................................................................................. 23 Relaxamento ................................................................................................................................. 23

- Relaxamento geral ........................................................................................................... 23 - Relaxamento específico ................................................................................................... 24

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Articulação .................................................................................................................................... 24 - Mandíbula ........................................................................................................................ 24 - Lábios .............................................................................................................................. 24 - Bochechas ........................................................................................................................ 25 - Língua ............................................................................................................................. 25 - Véu palatal ....................................................................................................................... 25

VIII – EXERCÍCIOS DE ARTICULAÇÃO ........................................................................... 26 Frases e Versinhos Com Palavras que Contém “rrr”.................................................................... 26 Relação de Frases em Ordem Alfabética ..................................................................................... 27 Mais Exercícios de Articulação ................................................................................................... 27 Grupos de Consoantes ................................................................................................................. 28 Brincando de “Trava-Língua”....................................................................................................... 28 IX –SAUDE VOCAL ................................................................................................................. 30 Cansaço ou “Stress Vocal” .......................................................................................................... 30 O Repouso Vocal ......................................................................................................................... 30 O Sono do Profissional da Voz .................................................................................................... 30 O Álcool e o Fumo ....................................................................................................................... 31 Os Hábitos Alimentares ................................................................................................................ 31 O Clima Extremado ..................................................................................................................... 31 A Prática de Esportes ................................................................................................................... 31 O Ar Condicionado ...................................................................................................................... 31 O Uso de Roupas Confortáveis .................................................................................................... 32 Alergias Nas Vias Aéreas ............................................................................................................ 32 O Médico Otorrinolaringologista ................................................................................................. 32 X – CURIOSIDADES ................................................................................................................ 33 Voz e o Tipo da Pessoa ................................................................................................................ 33 Amígdalas Só São Retiradas Em Último Caso ............................................................................. 33 Ar Condicionado Faz Mal ............................................................................................................ 33 O Nó da Garganta ........................................................................................................................ 33 Um Bom Remédio Para Resfriados e Rouquidão ......................................................................... 33 Perigos Das Soluções Caseiras ..................................................................................................... 34 XI – DESCUBRA SEU PERFIL DE COMPORTAMENTO VOCAL .................................. 35 XII – PROGRAMA DE AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAL.................... 38 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... ..................... 40 PARTE II – MÚSICAS 01 – TODA SORTE DE BÊNÇÃOS .......................................................................................... 42 02 – NOME SOBRE TODO NOME .......................................................................................... 45 03 – PODEROSO DEUS ............................................................................................................. 48 04 – TE LOUVAREI .................................................................................................................... 49 05 – AO ERGUERMOS AS MÃOS ........................................................................................... 51 06 – AGNUS DEI .......................................................................................................................... 53 07 – DEUS DE PROMESSAS ..................................................................................................... 54 08 – MILAGRES .......................................................................................................................... 56 09 – ÁGUAS PURIFICADORAS ............................................................................................... 59 10 – ME DERRAMAR ................................................................................................................. 61 11 – SONDA-ME .......................................................................................................................... 62 12 – DERRAMA TUA SHEKINAH ........................................................................................... 64 13 – REINA EM MIM ................................................................................................................. 65 14 – SANTO É O TEU NOME .................................................................................................... 67 15 – GRANDE É O SENHOR .................................................................................................... 68

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INTRODUÇÃO

Esse é o primeiro material destinado especificamente para back vocal tendo como objetivo oferecer a seus usuários uma fonte de estudo para praticar suas habilidades vocais. Na primeira parte temos a apostila de “Canto e Fala – Técnica Vocal” e na segunda o livro de música.

Tenho trabalhado com grupo de canto e com pessoas que falam a auditórios e percebido a falta de conhecimentos básicos para o cuidado da voz. Com isso surgem os problemas vocais trazendo um desconforto no canto e na fala, prejudicando o que deveria ser um prazer. Por esse motivo que em Outubro de 1997 lancei a apostila “Canto e Fala – Técnica Vocal”. Todo o conteúdo foi avaliado e aprovado por fonoaudiólogos e professores de canto e ao aplicá-lo em meus alunos pude perceber sua veracidade.

Entendo que para tudo o que vamos fazer é necessário uma reciclagem dos conhecimentos. Novas descobertas foram feitas, algumas importantes, outra irrelevantes, mas tudo visando aperfeiçoamento da técnica. Por isso tentei atualizar e fazer alguns acréscimos ao conteúdo da apostila com o fim de trazer aos meus alunos e àqueles que cantam o conhecimento básico do canto e da fala. Algo que seja de fácil compreensão e de grande utilidade.

Essa primeira apostila é um material de uso contínuo, onde está reunida uma coletânea de estudos sobre o uso da voz. Tentei colher o melhor material, ou seja, aquele que contêm estudos e exercícios práticos. Tenho certeza de que ela não substitui tudo o que uma pessoa precisa saber sobre o canto e a fala – pois o assunto é bastante vasto -, mas contempla o básico que uma pessoa necessita para o fim a que nos propusemos.

Espero que não se atenham a esses estudos, mas que procurem outros livros na área, e consultem um professor de canto ou fonoaudiólogo e avancem ainda mais no conhecimento de sua voz.

Quanto ao segundo material (livro de música), são partituras de músicas ministradas na Igreja Videira. Durante dez anos, trabalhando com equipes de música que tocam em igrejas evangélicas, foram feitas

diversas estratégias para que os grupos de cantores aprendessem os arranjos das músicas de forma rápida e divertida. Como os grupos eram compostos por pessoas com conhecimento musical debilitado surgiu então a necessidade de adaptar os arranjos e tornar o mais prático possível o aprendizado das músicas. O primeiro método prático encontrado foi a gravação dos arranjos cantados em fitas K-7. O resultado foi excelente e esse método durou por bastante tempo.

Pretendendo criar um material com qualidade surgiu a necessidade de fazer as partituras e melhorar as gravações. Adotar a escrita da música em partitura tornou-se um estímulo aos cantores quanto à necessidade de melhorar no conhecimento e aperfeiçoamento musical, valorizando ainda mais o dom artístico. As cifras também não ficaram para trás. Em cada uma foi colocada o desenho da tablatura do violão facilitando ainda mais o aprendizado no instrumento. Elas tentam aproximar-se ao original, no entanto, a transcrição não é a obra oficial do artista e representa apenas uma interpretação auditiva. Quanto às gravações, além do piano, acrescentamos um play-back com um instrumental mais completo e com uma qualidade melhor, feita em estúdio de gravação e CD. O resultado é o material que você tem em mãos.

No entanto, deixo bastante claro e enfatizo novamente que este método não ensina a cantar. É apenas uma ajuda ao canto. É necessário que cada cantor tenha um professor de canto habilitado e procure sempre melhorar o talento que possui.

Pedimos que não faça cópias deste material e qualquer observação ou sugestão entre em contato com o autor:

FABRÍCIO BRITO Email: [email protected] Que Deus o abençoe e divirta-se.

Fabrício J. S. Brito Goiânia (JAN/2007)

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PARTE I

CANTO E FALA Técnica Vocal

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I – CONHEÇA A SUA VOZ

Sua voz deve ser desenvolvida através da prática. Cantar bem não é por acaso e requer muito trabalho. Envolve o cometer erros e o remover dos mesmos e como qualquer instrumento exige disciplina. Achar que já sabemos tudo é um grande engano. Um bom cantor percebe que há sempre o que melhorar. Ele nunca está satisfeito com o nível em que está e sempre está aberto a aprender.

A voz é um atributo muito pessoal; cada indivíduo carrega consigo características vocais próprias, o que faz com que cada voz seja diferente de pessoa para pessoa. Por isso, o indivíduo quanto fala, de uma certa forma, está se revelando. Isso acontece porque a sua voz carrega sua personalidade, traços característicos de seu ser. Existe uma frase muito antiga que diz: “Fala para que eu te veja!"

Ouvindo as pessoas falarem podemos sentir e até mesmo deduzir seu estado de espírito, suas emoções. O Dr. Pedro Bloch, em seu livro “Sua voz e sua Fala”, nos diz: “Se alguém,... achar que estamos enfatizando demasiado o lado emocional eu diria que a voz é exatamente isso: a emoção sonorizada”.Portanto, podemos ainda dizer que a voz é a emoção sonorizada da personalidade.

Um bom cantor jamais pode perder a voz. Um estado de agitação mental ou uma forte gripe pode privar o cantor do uso de seus órgãos vocais ou prejudicá-los seriamente. Mas somente aqueles que cantam sem a plena consciência do uso correto desses órgãos podem sentir-se desanimados por isso; os que estão mais bem informados podem, com maior ou menor dificuldade, curar-se e, através do uso de ginástica vocal, colocar seus órgãos vocais novamente em boas condições. MECANISMO DA VOZ E DA FALA

A produção da voz e fala humana é um processo orgânico funcional e não somente a expressão de idéias

e de sentimentos. O mecanismo vocal se processa basicamente em quatro etapas: 1) Motor ou produtor – Os pulmões expelem o ar armazenado com ajuda dos músculos que atuam na

expiração. 2) Vibrador laríngeo – O ar passa pela laringe, fazendo vibrar as cordas ou pregas vocais, produzindo

um som fundamental. 3) Ressoadores nasobucofaríngeos – O som produzido na laringe, ao chegar nos ressoadores, ganha

qualidade, ampliação e timbre peculiar. 4) Articuladores – Os lábios, língua, dentes, palato duro e mole e a mandíbula são os responsáveis pela

articulação humana. A articulação é a parte mecânica da palavra. PREGAS VOCAIS

A laringe localiza-se no pescoço e é um tubo alongado, no interior do qual ficam as pregas vocais. As

pregas vocais são conhecidas popularmente como cordas vocais, mas esse nome é incorreto, pois não se tratam de cordinhas, como as do violão. As pregas vocais são duas dobras, formadas por músculo e mucosa, em posição horizontal dentro da laringe, ou seja, paralelas ao solo, como se estivessem deitadas. Sua localização fica acima da cartilagem tireóidea pouco antes da epiglote. RESSONÂNCIA

O som produzido pelo vibrador precisa sofrer um tratamento ressonancial, isto é, os ressoadores (boca,

faringe, nariz) vão tratar de maneira mais peculiar os harmônicos e eles, fortalecidos, são o que vão dar qualidade à característica vocal de cada indivíduo, correspondendo ao timbre específico.

A voz é semelhante a um equalizador em um sistema de som estéreo. Ela tem agudos, médios e graves. É importante que a voz tenha um som balanceado. Se sua voz tem excesso de agudos, ela soará muito nasal, fraca, sem volume ou profundidade. Se ela for grave em demasia, soará rouca, gutural, pesada e distorcida. Quando a voz é balanceada ela é cheia de expressão e fervor. Ela carregará consigo força e bom volume.

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ATRIBUTOS DA VOZ A voz possui, também alguns atributos: 1) Altura. A altura é o que o ouvido detecta em níveis de “grave” e “agudo”. Esse atributo vocal

depende da atuação dos músculos inter-costo-abdomino-diafragmáticos, como também da ação muscular da laringe. A voz é grave ou aguda dependendo da freqüência e do número de vibrações por segundo provocados pelo impulso do ar.

2) Intensidade. É o que o ouvido detecta de forte ou fraco. O que determina a intensidade é a força e a duração dos impulsos do ar, a força e a duração do fechamento glótico e fatores conjugados aos ressoadores. A voz é mais fraca ou mais forte dependendo da amplitude das vibrações, então, quanto mais amplas as vibrações, mais intenso é o som.

Geralmente há um equívoco por parte de oradores destreinados, que, ao invés de elevarem a intensidade de sua voz através de treino, elevam a altura. Este é um dos principais fatores causadores de problemas vocais.

3) Qualidade ou timbre. Os ressoadores são os maiores determinantes da qualidade vocal ou timbre (que é o atributo diferenciador da voz). Mas temos que levar em conta alguns outros fatores, como o tempo, a articulação e a inflexão da fala que também interferem na qualidade vocal.

EMISSÃO VOCAL

Segundo Mansion, a emissão vocal é o ato de produzir um som, ou seja, por em ação a respiração, o mecanismo dos órgãos da boca e da articulação.

Canuyt acrescenta que a boa emissão fisiológica é natural, fácil, cômoda e sem esforço, o que em linguagem técnica, se chama cantar com voz livre. Pode-se distinguir várias maneiras de emitir os sons. Mansion destaca três modos de emissão bem característicos:

1) Emissão branca. Aquela que se obtém com a boca aberta, em sentido vertical ou transversal, sem elevar o véu do paladar, e em que a voz se apresenta branca, isto é, sem colorido e não tem alcance.

2) Emissão redonda ou aberta. É produzida com a boca arredondada, elevando o véu do paladar. 3) Emissão sombria ou opaca. Semelhante à emissão redonda e é conseguida contraindo-se o fundo da

garganta. Canuyt, entretanto, não separa esses dois últimos tipos de emissão. Rotula-os de emissão sombria, isto é,

emissão para dentro, produzida pelo aumento do som devido à ressonância na faringe. Para o cantor a voz se mostra redonda, mas para quem ouve não tem alcance. Na opinião do professor Canuyt, a emissão sombria é prejudicial às pregas vocais porque exige esforço, sobretudo nos sons mais agudos, e, conseqüentemente, leva à fadiga vocal.

É, pois, através do exercício da emissão vocal e da prática da técnica vocal que o indivíduo consegue a homogeneidade e faz da própria voz um instrumento sensível e dócil, podendo servir à expressão vocal. REGISTROS VOCAIS

Chama-se registro vocal uma série de tons cantados de certa maneira, produzidos por um certo

posicionamento dos órgãos vocais – laringe, língua e palato. A voz humana pode possuir mais de um registro e identifica três tipos básicos de registro: 1) O registro “voz de peito”. Quando se produzem a tensão transversal e a vibração completa das

pregas vocais, com ressonância maior na caixa torácica. Este é o registro vocal mais grave, tanto para a voz feminina quanto para a voz masculina. Neste registro, o som é puro, forte, de vibração completa, porém espesso, denso e seco.

2) O registro médio ou “voz mista”. Quando se produz a mescla do som resultante da vibração completa com a elasticidade e clareza do som produzido pela vibração dos bordos das cordas vocais.

3) O registro “voz de cabeça” ou falcete. Corresponde preferentemente ao uso da tensão longitudinal (vibração dos bordos das cordas vocais) e da ressonância das cavidades da cabeça (crânio, boca fossas nasais). Neste registro o som torna-se mais claro e delgado.

Toda voz inclui os três registros (peito, meio e cabeça), mas nem todos são empregados em todo tipo de voz. Com exercícios, você notará que o registro da cabeça tem um som distinto de alta qualidade. O registro do meio tem um som mais anasalado, mas não muito, e o do peito, um som mais bravo e de qualidade bruta.

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É muito comum experimentar uma mudança abrupta ou quebra na voz quando se move de um registro para outro. A região onde há troca de registros, isto é, troca de predomínios musculares, é denominada zona de passagem (transição de registros). A combinação e mistura de registros podem ser aprendidas. Através do habilidoso ensinamento do professor e do talento e da aplicação do aluno, os órgãos devem habituar-se a assumir posições tais que um registro leve imperceptivelmente a outro.

De certa forma, dois deles são encontrados com freqüência em principiantes, nos quais o terceiro é geralmente muito mais fraco ou simplesmente não existe. É muito raro encontrar uma voz naturalmente equalizada em toda a sua extensão.

Se os músculos são empregados erradamente, ao falar toda a voz pode ter um som desagradável. Portanto, em qualquer voz, um ou outro registro pode ser mais forte ou mais fraco; de fato, é o que quase sempre acontece, pois as pessoas falam e cantam no timbre que lhes é mais fácil e mais habitual, sem pensar na correta posição dos órgãos em relação uns aos outros; depois de crescidas, raramente são advertidas no sentido de falarem com clareza e em tom agradável. TRATO VOCAL

É delimitado anteriormente por lábios e narinas e posteriormente pelas pregas vocais. Inclui: Cavidade nasal – Constituída por septo nasal, que separa as duas narinas; conchas e cornetos,

responsáveis pelo aquecimento, umidificação e filtragem do ar. Região de Rinofaringe (nasofaringe ou cavum) – Constituída por torus tubarius (cartilagem),

trompa de Eustáquio (controla a pressão aérea dentro do ouvido médio) e tonsila faríngea (adenóide). Cavidade oral – Constituída por lábios, língua, dentes e palato mole (véu palatino) e palato duro. Região de Orafaringe – Constituída de tonsilas palatinas (amígdalas), pilares anterior (músculo

palato grosso) e posterior (músculo palatofaríngeo), tonsilas linguais, valéculas, seios piriformes e faringe.

Laringe – Constituída por: osso hióide, membrana tireóidea, epiglote (cartilagem com inserção na língua, laringe e faringe) pregas ventriculares (ou pregas vestibulares, bandas ou falsas cordas vocais), pregas ariepiglóticas, ventrículos de Morgagni, cartilagens (tireóide, cricóide, aritenóides, cuneiformes e corniculadas) e pregas vocais.

VIBRATO

Vibrato é a leve, rápida e regular variação da afinação que adicionada ao cântico torna a voz mais expressiva. Ele adiciona à voz um som polido e profissional. É algo que deve ser desenvolvido em um ambiente adequado, de preferência quieto, onde você pode ouvir sua voz com clareza.

Um bom vibrato é suportado pelo diafragma e uma respiração apropriada ajuda muito. Você deve ser capaz de diminuir, apressar, suprimir ou adicionar vibrato no final dos tons.

Existem várias teorias sobre a vibração das cordas vocais. A teoria Mioelástica (a tradicional), a teoria Neurocronáxica de Husson (a vibração das cordas vocais provém de influxos nervosos, que partindo do sistema nervoso central, através do nervo recorrente, provoca a movimentação das mesmas), e a teoria Muco-ondulatória de Perello. RECOMENDAÇÕES

O capítulo “Saúde vocal” dará mais detalhadamente alguns cuidados para com a voz. No entanto,

adiantaremos alguns conselhos práticos: ☺ fortalecer os órgãos vocais por meio de ginásticas vocais diárias e uma vida saudável e regrada; ☺ evitar contrair resfriados após cantar; ☺ evitar gritar ou conversar alto; ☺ evitar conversar longamente em lugares públicos onde o barulho é alto; ☺ os que cantam em público devem praticar nas primeiras horas do dia, para que estejam em boa forma à noite; ☺ cantar somente durante certo tempo a cada dia, para que possam cantar novamente no dia seguinte, sem fadiga

e sentindo-se prontos para trabalho exigido pelo estudo regular. É preferível cantar uma hora por dia do que cantar dez hoje e não poder cantar amanhã.

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EXERCÍCIOS 1) Observe sua própria voz (se possível, grave-a e observe-a na gravação). Analise-a. ( ) Grave ( ) Aguda ( ) Forte ( ) Fraca ( ) Surda ( ) Sonora ( ) Suave ( ) Sonora ( ) Áspera ( ) Abafada ( ) Estridente ( ) Soprosa ( ) Outras observações: ________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ 2) Leia um texto e grave-o. Analise sua voz. ( ) Ataque nas consoantes (p, s, t) ( ) Respiração controlada ( ) Expressividade (emoção) ( ) Clareza ( ) Outras observações: ________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ 3) Procure analisar a voz e a fala de oradores, professores, conferencistas, locutores, apresentadores, artistas, sacerdotes. 4) Quais as características vocais que tornam a fala de uma pessoa diferente da sua? Observe e anote.

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II – POSTURA

A má postura afeta no cantar e pode levar a problemas na coluna, dores nos pés e até insônia. Também afeta nosso relacionamento com pessoas bem sucedidas no mundo. Por quê? Porque nossa postura revela o que somos. Ela fala à nossa audiência antes mesmo de abrirmos a boca.

Uma boa postura é extremamente importante, pois influência a respiração e a respiração é essencial para o canto, para a fala e para a vida. A boa postura permite que a inspiração e expiração sejam feitas com um mínimo de esforço. CARACTERÍSTICAS DE UMA BOA POSTURA ☺ Uma boa postura é aquela que é balanceada, onde o pescoço, peito, coluna e o ilíaco estão retos (alinhados). ☺ A cabeça deve estar paralela ao chão e balanceada sobre os ombros, sem pender para os lados, para baixo ou

para cima. ☺ Durante o cantar o peito deve manter-se confortavelmente alto. ☺ Um cantor nunca deve assumir a posição de um soldado; o relaxamento é a chave do seu bom desempenho. ☺ Uma postura própria é para ser praticada em todo tempo, se você estiver cantado ou não. É importante que isto

se torne um hábito inconsciente. O CORPO

O cantor deve desenvolver o seu corpo. Seu corpo não somente contém a laringe, que produz os seus sons vocais, mas é o seu instrumento. Ele deve imaginar seu corpo como tendo as mesmas possibilidades de sonoridade como a caixa de som do violino, e nunca como uma pedra. Deve o cantor desenvolver um senso de consciência do seu corpo e estar totalmente alerta fisicamente. Mais adiante serão dados alguns exercícios que poderão ser praticados para construir e preparar o seu corpo para o canto.

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III – RESPIRAÇÃO

A respiração (coluna de ar) tem a função de emissora da voz falada ou cantada tal como o arco para o violino. É o elemento gerador do som. Aqui se trata do fole pulmonar, acionado por uma série de elementos e fatores a que Pedro Bloch, grande foniatra, chama de Produto ou Ativador.

O estudo da respiração é, pois, a base da Técnica Vocal. A função principal da respiração é proporcionar oxigênio às células corporais e extrair o excesso de

bióxido de carbono das mesmas. Este aparelho abre-se ao exterior pela boca e narinas. Continua com a faringe, traquéia que se ramifica em dois brônquios, os quais, por sua vez, voltam a desdobrar-se em inumeráveis ramificações, os bronquíolos, até terminar nos Lobos Pulmonares, penetrando em seus lóbulos para desembarcar nos vesículos com seus alvéolos. Nos Lobos Pulmonares, é onde se verifica a troca de gases (hematoses) que coincidem com a do sangue venoso em arterial. Em resumo, o Aparelho Respiratório é integrado pelo nariz, traquéia, pulmões e o diafragma. CARACTERÍSTICAS

A respiração natural, no conceito de alguns autores é a que se pode observar nos animais e nas crianças recém-nascidas: os pulmões enchem-se de ar e provocam a pressão e o abaixamento do diafragma, o que se evidencia pela dilatação do ventre. Essa é a chamada respiração diafragmática ou abdomino-intercostal.

Portanto, quando você está respirando corretamente, experimentará o seguinte: ☺ deverá sentir o meio inteiro e costas, abaixo das costelas, expandir contra o seu cinto quando tomar ar; ☺ sentirá o peito estável ou tranqüilo, porque já estará erguido em conseqüência da postura correta; ☺ quando você está expirando, o peito não cai, mas permanece ereto; ☺ o abdômen ou diafragma começa a voltar quando você está cantando e deixando o ar sair. FASES DA RESPIRAÇÃO

A respiração tem quatro fases: 1) inalação – pelo nariz e/ou boca, profunda e lentamente; 2) suspenção – a coluna de ar que entra é interrompida para o apoio do som por parte dos músculos; 3) exalação – a emissão começa com o ataque. Deve haver uma resistência expansiva ao redor da

cintura (abdômen) e peito (caixa torácica) alto e quieto até o final da última nota; 4) recuperação – repouso e relaxamento dos músculos utilizados.

TIPOS DE RESPIRAÇÃO

Falaremos de três tipos de respiração que as pessoas usam deixando clara aquela que deve ser usada no canto e na fala.

1) Clavicular. Também chamada de respiração pulmonar ou superior. Nela se enche mais a parte superior dos pulmões, inadequada para o canto porque permite a entrada mínima de quantidade de ar, ou seja, de oxigênio. Desta maneira a capacidade respiratória se torna diminuída.

É muito freqüente nas mulheres e em indivíduos com estado de tensão, angustia e ansiedade. Quando tal respiração se realiza, podemos ver a elevação da região superior do tórax e ombros, com maior tensão do pescoço e ombros.

2) Costo-diafragmática. Também conhecida como respiração abdominal ou inferior. É a que se realiza através do preenchimento total dos pulmões. Devido ao movimento do diafragma (músculo que separa o tórax do abdômen), ao se contrair faz os pulmões se expandirem abrindo um pouco a parte inferior das costelas. Verifica-se a entrada de maior quantidade de ar e oxigenação de todo o pulmão.

No canto esta qualidade de respiração é indicada, pois evita tensão na parte superior do tórax, ombros e pescoço.

3) Mista. É aquela que apresenta tanto movimentação superior (tórax) como inferior (abdome). Embora seja melhor que o primeiro tipo, ainda não é a mais indicada. Ocorre geralmente em indivíduos que ainda não automatizaram o tipo predominantemente inferior, apesar de já terem iniciado o trabalho específico.

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SUGESTÕES PARA PREVENIR RESPIRAÇÕES RÁPIDAS

1) Ao inspirar, direcione sua atenção para o final da frase. Assim, terá noção da quantidade de ar que terá que economizar.

2) Não comece frase musical com uma dinâmica forte, a não ser que a interpretação o peça. 3) Controle o ar no início da frase. 4) Se a frase for longa, evite dar muito som às primeiras notas.

VANTAGENS DA BOA RESPIRAÇÃO ☺ Auxilia o coração, aliviando-lhe o trabalho e capacitando-o suportar maiores esforços. ☺ Favorece a eliminação do anidrido carbônico. ☺ Favorece uma melhor nutrição dos tecidos com sangue mais rico em oxigênio. ☺ Cria um volume pulmonar superior ao normalmente utilizado. ☺ Facilita o controle dos estados emotivos, dando estabilidade ao sistema nervoso. ☺ Após um esforço, permite que as freqüências cardíacas e respiratórias retornem mais rapidamente à

normalidade. ☺ Mantém treinados os grupos musculares envolvidos na ação respiratória, impedindo que se atrofiem. ☺ Oxigena o cérebro, favorecendo a memorização e aprendizagem. RECOMENDAÇÕES ☺ Nos exercícios de respiração, o cérebro receberá maior oxigenação e isto poderá causar um pouco de tontura no

início. ☺ Nunca respire no meio das palavras. Evite respirar depois de notas muito rápidas, preposições ou artigos. ☺ Os exercícios de respiração devem ser feitos todos os dias, pelo menos durante cinco minutos e com o

estômago vazio (de preferência pela manhã). Só por meio de uma respiração bem controlada se adquirirá a nitidez do ataque e no final os sons, assim como sua continuidade, estabilidade e flexibilidade.

☺ Para cantar não é necessário expirar muito ar, e sim, sabê-lo emitir com economia. ☺ Devemos tomar cuidado para que não nos ouçam nem nos vejam respirar ao cantar. ☺ O excesso de ar oprime e molesta quem está cantando. ☺ É necessário inspirar muito ar puro para ter sempre pulmões sadios. ☺ Prática do controle respiratório atua sobre os centros nervosos, equilibrando-os. ☺ Mantenha sempre uma boa postura: coluna reta e ombros caídos; nunca estufar o peito ou levantar os ombros.

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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IV – EXERCÍCIOS DE RESPIRAÇÃO

Estes exercícios devem ser feitos sistematicamente para obter resultado. Talvez seja muito fazê-los de

uma só vez; podem ser feitos em parte. Cuidado para não forçar a voz. O som correto é bonito, ressonante e muito livre. Não deve deixar

rouquidão, pelo contrário, deverá estimular a sonoridade correta. Projete o som para fora da boca. Respire sempre bem profundo e lento, e economize o seu ar. Mantenha a garganta bem livre e aberta, como um bocejo!

Não prossiga se você perceber que o ar não deu; isso gerará um esforço desnecessário. Podemos perceber o esforço:

pela própria sensação de falta de ar; pela mudança de timbre de voz; pelas falhas que ocorrem (a voz ora sai, ora não sai); pelo cansaço vocal.

EXERCÍCIOS DIVERSOS

1) Deitar de costas, relaxar, colocar a mão sobre o abdômen e sentir o movimento enquanto respira profundamente.

2) Inspirar, leve e rapidamente – fungando, narina dilatada, garganta bem aberta (a garganta, não a boca) como que aspira um perfume de flor, sentido que o movimento inspiratório se faz na parte baixa do tronco e no abdome.

3) Imagine estar apagando um incêndio com um só sopro vigoroso em algum ponto do chão e sinta a ação do diafragma e dos outros músculos.

4) Soprar, como quem apaga uma vela (bochechas, maxilar inferior e lábios relaxados). 5) Procurar imitar um cachorrinho cansado, ou com calor, com pequenas contrações do diafragma. Tomar o

mínimo de ar. Ritmar as contrações. 6) Fazer o exercício n° 5 soltando o ar em “s”. 7) Encher o diafragma em 5 segundos, segurar o ar em 5 seg. e soltá-lo em 5 seg. em “sss” (como um pneu

que furou). Aumente os segundos gradativamente. 8) Inspirar o máximo de ar; reter por um momento e soltá-lo em “sss” ou “zzz” compassadamente, baixinho,

economizando o máximo do ar. Verifique, no relógio, até quando agüentará. 9) Inspirar; reter o ar; expirar controladamente emitindo som de “sss”, “vvv”, “fff”, “zzz”, “jjj” e “xxx” –

coloque a mão na altura do diafragma para perceber sua ação controladora do ar. 10) Para o diafragma: movimente-o repetidas vezes, como quando se assopra uma vela (fu-fu ou ts-ts). 11) Inspirar; reter o ar; expirar controladamente dizendo o nome dos dias da semana: inspire na 4ª feira e no

domingo; depois, só aos domingos. 12) Faça o mesmo exercício anterior com os meses: inspire primeiro em abril, agosto e dezembro; depois, só

em junho e dezembro, até conseguir fazer todos os meses num só fôlego. EXERCÍCIO DOS 4 TEMPOS: I p S p 1-2-3-4 1-2-3-4 1-2-3-4 1-2-3-4 Código:

I – inspirar S – soprar (expirando) P – pausa (para, ao final de um movimento).

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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Orientações Este exercício deve ser executado com uma contagem rítmica (quatro tempos para cada uma das quatro

partes) progressivamente mais rigorosa: a pausa e a expiração não devem ser mais breves ou mais longas que a inspiração.

A expiração, neste caso, deve ser voluntária desde o início, para permitir esvaziamento rápido e total. A mais importante: não deixe o ar escapar, de boca frouxa, sem direção; coloque os lábios em posição

de /u/, mantenha-os na posição até o fim e sopre, visando um ponto à sua frente. EXERCÍCIO DE SOPRO LONGO I p S Orientações

Á guisa de preparação, faça um exercício dos quatro tempos, colocando a mão esquerda a cerca de um palmo de sua boca: sinta com nitidez a pressão do sopro em sua mão.

Em seguida, inspire, faça breve pausa e sempre com os lábios em /u/, sopre sobre a mão... mas com suavidade (você vai sentir a diferença de pressão na palma da mão).

Cuidado: tem que haver diferença de pressão; a pressão, no exercício dos quatro tempos é mais forte; no exercício de sopro longo é mais suave.

Atenção: graças à diminuição na rapidez do fluxo (e, em conseqüência, na pressão expiratória) o sopro alonga-se naturalmente.

Observação: isto não é um bicho de sete cabeças! Sabemos muito bem que quem mergulha sabe fazer render o sopro. A média comum a todos é soprar no mínimo em 15 seg. e no máximo 25 seg.

Muita atenção: mantenha estabilidade de pressão do começo ao fim da expiração; não deixe de executar as recomendações no final deste capítulo.

EXERCÍCIO DE SOPRO INTERROMPIDO a) Exercício de duas interrupções. Inspirando pelo nariz e soprando com os lábios em /u/. I p S p p Orientações

Faça um sopro longo, interrompendo-o ritmicamente. Cuidado para não fazer vários sopros, mas um só interrompido. Mantenha cuidadoso controle da musculatura expiratória, de forma que o movimento de retração

abdominal prossiga normalmente após cada interrupção. Cuidado para não o interromper nem com auxílio dos músculos costo-abdominais (no sentido de retê-

los com esforço), nem da glote (impedindo a passagem do ar com um esforço de “garganta”), nem da língua ou dos lábios; simplesmente interrompa-o.

Atente para não inspirar inadvertidamente na pausa. Cuidado para não desperdiçar ar, expirando involuntariamente durante as pausas. E não ceda à tentação de apenas diminuir o fluxo, em vez de fazer uma nítida interrupção.

b) Exercício de várias interrupções rítmicas. I p S p p p p Orientações

Inicie lentamente; depois vá aumentando aos poucos o número de interrupções e, paralelamente, diminuindo a duração do sopro entre as pausas.

Apesar dos sopros sucessivos, faça interrupções marcantes; mantenha o controle da musculatura expiratória; não permita que o ventre dance ao ritmo das interrupções, mas ceda paulatinamente, à medida do esvaziamento.

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EXERCÍCIO DE DINÂMICA (cresc. / dim.) I p S

Num sopro continuo execute a dinâmica suave – enérgica – suave. Faça o mesmo exercício invertendo a dinâmica para enérgica – suave – enérgica.

RECOMENDAÇÕES

Mesmo dando algumas orientações no início deste capítulo, convém reforçar alguns pontos importantes. ☺ Faça os exercícios respiratórios durante pouco tempo (aproximadamente 5 minutos), mas várias vezes por dia. ☺ Não os faça todos de uma só vez, mas vá variando no decorrer do dia. ☺ Não passe adiante antes de ter certeza de haver conquistado o exercício anterior. ☺ Algumas pessoas sentem, às vezes, tonturas; se for seu caso, pare, descanse um pouco e recomece até não

sentir mais tontura nenhuma. É só questão de hábito. ☺ Ao inspirar, relaxe a musculatura abdominal, a fim de que se expanda livremente. ☺ Ao expirar, libere a musculatura torácica e abdominal, a fim de que não ocorra qualquer rigidez, nem seja

dificultado o livre movimento de retração costo-abdominal, à medida do esvaziamento dos pulmões. ☺ Atente bem para o seguinte fato:

- o que se quer nos exercícios é manter constante a pressão do sopro na boca; - quando os pulmões estão cheios e se libera o ar, este sai com bastante pressão; - mas à medida que os pulmões se esvaziam a pressão decresce, logo; - para manter constante a pressão do sopro na boca deve-se aumentar progressivamente a energia de

retração abdominal.

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V – DICÇÃO OU ARTICULAÇÃO

Muitas pessoas têm dificuldade de articular alguns fonemas, o que, muitas vezes, prejudica a qualidade e

o entendimento de sua fala. Esse problema pode ser resolvido através da conscientização da realização articulatória e de um treino específico dos fonemas mais problemáticos.

Esse processo se inicia com a percepção da articulação alterada e, portanto, o indivíduo estará vivenciando a fase do “detectar o problema”. Em seguida ele passará a controlar a dificuldade articulatória, para depois experimentar a fase da automatização, isto é, aquela em que o som articulado será corretamente pronunciado, sem que a atenção esteja voltada para a fala.

ÓRGÃOS DA ARTICULAÇÃO

Os órgãos da articulação são: lábios, dentes, palato duro, palato mole e mandíbula. Estes vão decompor

os sons da linguagem. São órgãos ativos e passivos encarregados da produção de todos os sons para a formação da palavra.

Todo este conjunto orgânico está dirigido pelo sistema nervoso central, controlado, pelo ouvido, e com características pessoais determinadas pela constituição do indivíduo: idade, sexo, e maior ou menor predominância do sistema endócrino. Qualquer modificação de ordem orgânica ou funcional terá repercussão sobre o seu funcionamento.

Procuramos, aqui, simplificar o máximo a explicação. SUA VOZ REFLETE SUA PERSONALIDADE

A sua voz é mais pessoal que suas impressões digitais. Ela revela sua personalidade, seus modos, suas

atitudes e emoções. Sempre que abre a boca para falar você está vendendo a si mesmo, suas déias, seus produtos, seus serviços.

A voz reflete o seu eu interior. O assunto pode ser fascinante; sua aparência, agradável; sua presença no palco, profissional – mas se você falar num tom monótono e com uma voz inaudível, ou gritar de forma tensa e rude, a platéia não irá prestar a mínima atenção em seu discurso. Quando uma platéia está inquieta, tensa, nervosa ou constrangida por um orador bombástico, ela simplesmente se desliga. Se isso acontecer, a culpa é sua. Se não se dirigir a eles da forma mais agradável possível, as palavras, tão cuidadosamente combinadas, encontrarão ouvidos surdos.

Pratique alterar variação, ritmo, força e expressão em sua voz. A maioria das pessoas não está ciente de como suas vozes soam e do quanto reveladora elas podem ser. Você pode fazer com que o que diz signifique mais, se o disser da melhor forma possível, com uma voz expressiva e atraente. QUALIDADES BÁSICAS PARA UMA BOA DICÇÃO I – Ser compreensível

Precisão e clareza na construção do pensamento podem melhorar, lendo-se bons autores, procurando compreender o que se leu, buscando oportunidades de expressar o próprio pensamento e certificando-se de que foi compreendido pelo interlocutor. II – Ser correta

A correção está em não distorcer a verdadeira pronúncia das palavras. Eis alguns pontos que deixam claro a maneira como cometemos erros:

- Usando timbres abertos em vez de fechados e vice-versa. - Acentuando erroneamente as palavras. - Deixando que uma sílaba contamine as outras. - Invertendo a posição das sílabas. - Omitindo ou acrescentando elementos nas sílabas ou palavras.

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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III – Ser convincente e cativante A dinâmica sonora manifesta-se pelas variações na altura, na intensidade, na velocidade e no timbre da

voz e é determinada pela motivação interior. Ela pode surgir espontaneamente ou ser usada voluntariamente como técnica de incentivação e de comunicação. Por isso procure ser empolgante em cada discurso que pronunciar. RECOMENDAÇÕES ☺ Um cantor deve familiarizar-se com vogais, consoantes e ditongos. ☺ As voais são sons que podem ser mantidos. Elas carregam som. É importante que o cantor cante com a

mandíbula relaxada e aberta. O cantor deve cantar com a garganta aberta, para um melhor volume e clareza no cantar. Todas as sílabas devem ser claras e audíveis.

☺ As consoantes não podem ser mantidas (problema que acontece com freqüência com os “s”). Elas devem ser

articuladas com rapidez e precisão. ☺ Um ditongo é encontro de uma vogal com uma semivogal (“i”/ “u”). Uma coisa importante a se lembrar é

manter o som da vogal e não de ambas. De outra forma os deslizamentos (glissandos) acontecerão com freqüência.

☺ Não seja preguiçoso na sua dicção. Fale ou cante as palavras nitidamente sem acréscimos ou cortes de letras.

Por isso, vão algumas dicas: a) Final de palavras – atenção nos “r” e “s”. b) Evite junção de palavras que dão o sentido de outras.

Exemplos: “Pois por Tuas mãos forão criados” (consagração) “Porque tudo o que há dentrú de mim” (Renova-me) “Totalmentí ligado” (Recebi um novo coração) “Sei que Deus tem pra ti um mânacial” (Não vou calar meus lábios) “Me envolver em tuá presença” (Eu quero desfrutar)

c) Erro de prosódia – a sílaba tônica deve coincidir com o tempo forte da música.

☺ Atenção nas concordâncias verbais e nominais e conjugações errôneas dos verbos. Exemplos:

“Tua graça e poder me sustentará por toda vida” (me sustentarão). “Rendemos-nos!” (Rendemo-nos). “Segura nas mãos de Deus, pois ela te sustentará” (te sustentarão).

☺ Se sua voz soa naturalmente nasal ou “estridente” procure corrigir a fala. Grave sua voz, lendo diferentes

textos, e faça uma auto-análise.

☺ Compare pessoas que falam bem e pessoas que falam mal; analise-as; procure saber a opinião de seus amigos sobre essas mesmas pessoas; tente estabelecer generalizações.

EXERCÍCIOS DE DICÇÃO Recomendações:

Só respire no sinal -/. Faça pausas nos sinais / sem respirar. Negrito = acentos frasais.

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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Variação de intensidade

Aprenda a variar a INTENSIDADE, praticando com o seguinte exercício:

CANÇÃO DO VENTO E DA MINHA VIDA

Manuel Bandeira O vento varria as folhas -/ O vento varria os frutos, -/ O vento varria as flores... -/

E a minha vida ficava / Cada vez mais cheia / De frutos, de flores, de folhas. -/

O vento varria as luzes -/ O vento varria as músicas, -/ O vento varria os aromas...-/

E a minha vida ficava / Cada vez mais cheia / De aromas, de estrelas,

de cánticos.-/ O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... -/ O vento varria tudo! -/

E a minha vida ficava / Cada vez mais cheia / De tudo. -/

1ª ESTROFE Nos três primeiros versos, voz grave e

forte, marcando bem as consoantes. Nos três versos finais, voz levemente mais

aguda, bem suave, numa expiração só.

2ª ESTROFE Toda ela com a voz dos três versos finais

da primeira estrofe.

3ª ESTROFE Primeiros três versos como na segunda

estrofe. Nos últimos três versos, numa expiração

só, a voz vai crescendo, cada vez mais forte, até o clímax na palavra “tudo”.

A Palavra de Valor

A palavra de valor é precisamente aquela que marca a emoção ou intenção da pessoa que fala ou lê. Neste último caso deve corresponder à intenção do autor.

Através de um só exemplo, demonstra-se o que é a palavra de valor. Aproveite e exercite-se:

DEUS FEZ O MUNDO EM SEIS DIAS E NO SÉTIMO DESCANSOU. Se o que se quer pôr em relevo é a idéia do criador, diremos: DEUS/ fez o mundo em seis dias e no sétimo descansou. Mas se o que se quer pôr em relevo é a idéia da criação, então diremos: O MUNDO/ Deus fez em seis dias e no sétimo descansou.

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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Pode ser, porém, que o que se queira salientar seja o fato de ter sido feito em apenas seis dias: SEIS DIAS/ Deus fez o mundo em e no sétimo descansou. Finalmente, talvez se queira assinalar que, em certo momento, também Deus descansou: SÉTIMO/ Deus fez o mundo em seis dias e no descansou. Variação de velocidade

Aprenda a variar a VELOCIDADE, praticando com o seguinte exercício:

OUTRO BELO BELO

Manuel Bandeira Belo belo minha bela -/ Tenho tudo que não quero -/ Não tenho nada que quero -/ Não quero óculos nem tosse Nem obrigação de voto -/ Quero quero -/ Quero a solidão dos píncaros -/ A água da fonte escondida -/ A rosa que floresceu Sobre a escarpa inacessível -/ A luz da primeira estrela Piscando no lusco-fusco -/ Quero quero Quero dar a volta ao mundo Só / num navio de vela -/ Quero rever Pernambuco Quero ver Bagdad e Cusco -/ Quero quero/ Quero o moreno de Estela / Quero a brancura de Elisa / Quero a saliva de Bela / Quero as sardas de Adalgisa -/ Quero quero tanta coisa Belo belo -/ Mas basta de lero-lero -/ Vida / noves fora / zero. -/

1ª estrofe: Voz natural; nem depressa,

nem devagar; acentuações marcantes. 2ª estrofe: Dizer essa estrofe como quem

sonha. Voz levemente mais aguda e mais suave

que na primeira estrofe. 3ª estrofe: A voz volta a ser natural, mas a

elocução se torna progressivamente mais rápida.

Inspire rápido e passe logo à estrofe seguinte.

4ª estrofe: Bem rápido, numa só

expiração. 5ª estrofe: A elocução volta, bruscamente,

a ser lenta e bem marcada nas acentuações principais.

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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VI – EXPRESSÃO E INTERPRETAÇÃO

A expressão é de fundamental importância no canto, pois ela não só ajuda na comunicação

como também na afinação. Ela pode ser aprendida através de exercícios como também é fruto daquilo que nós vivemos e amamos.

Ao cantar uma música devemos nos preocupar com o que ela está ensinando ou querendo dizer. É estranho ver alguém com as mãos no bolso cantando “levanto a minhas mãos pra Te adorar Senhor”, ou, então, ver alguém de braços cruzados cantando “nEle vivemos, andamos e nos movemos”. Por que isso acontece? A razão é que muitos de nós cantamos e nos envolvemos na música e não prestamos atenção nas palavras que estão saindo em forma de canção.

Se quando cantamos fazemo-lo com todo o nosso ser, atingiremos todo o ser daqueles que nos ouvem. Quando alguém de fato crê na mensagem que prega ou canta e a sente profundamente, isso se torna logo evidente. Ele usará gestos adequados. Todos os livros sobre oratória falam sobre uma boa gesticulação. Mas não há ninguém nesse mundo, nem mesmo a maior autoridade no assunto, que possa ensinar-nos a ter uma ótima expressão do que os gestos que usamos naturalmente, bem à vontade, quando realmente sentimos aquilo que estamos dizendo. E se não o sentirmos, todos os gestos que fizermos só servirão para tornar nosso desempenho mais artificial. Tudo não passará de fachada, e aqueles que nos ouvem o perceberão claramente.

Sorrir vez por outra também indica que sentimos profundamente a mensagem que transmitimos. É como disse um certo pastor: “sabemos que a vida é curta demais, e é melhor aprecia-la a fundo. Infelizmente, quando alguns de nós chegarmos ao céu, Deus irá dizer-nos: ‘Que pena que você não apreciou um pouco mais a vida! Minha intenção não era que ela fosse assim tão melancólica!’” FALANDO OU ATUANDO EM PÚBLICO

Sempre nos sentimos muito à vontade para falar no nosso dia-a-dia, seja entre amigos, em casa,

no trabalho, ou escola. A nossa fala, neste caso, é informal. Mas no primeiro momento que temos que tomar a palavra de um modo mais formal a situação muda: o receio toma conta de nós e traz conseqüências nefastas.

O medo de enfrentar o público ou de estar frente a frete com ele é terrível. Mas, console-se: ele não toma conta apenas das pessoas inexperientes. Cantores, atores, oradores experimentados também sofrem com o medo, porém sabem controlar-se ou pelo menos não demonstram que o temem.

A chave da questão está aí: o profissional da voz sabe que o medo existe, mas ele é consciente que deve se concentrar para controlá-lo e dominá-lo.

Aquele certo mal-estar que nos invade quando estamos diante do público e que nos provoca tremor, dor de barriga, secura e amargor na boca, etc, é um “mal necessário”. Artistas famosos dizem que suas melhores performances são aquelas em que o mal-estar é maior nos momentos que antecedem a apresentação. Segundo Edmée Brandi de Souza Mello “... esse medo faz parte do jogo... é até fonte das grandes “performances”, pois a adrenalina que, em conseqüência, as supra-renais descarregam no sangue, proporciona mais energia, mais vitalidade...”

Algumas sugestões para falar em público:

☺ encare o medo como coisa normal; ☺ pratique o relaxamento, principalmente enquanto você espera para falar. Exercícios respiratórios são

fundamentais para o relaxamento. Faça-os em posição sentada ou caminhando calmamente. Evite andar de um lado para outro, nervosamente. Relaxe a mandíbula; boceje bastante. Lembre-se: relaxe a tensão, mas mantenha a energia;

☺ não cultive atitudes negativas, como: considerar o público seu inimigo ou que ele é hostil a você; ou ficar pensando que você não vai dar conta do recado. Evite atitudes como cruzar os braços, roer unhas, etc, coisas que só aumentam seu nervosismo. Procure ocupar sua mente com pensamentos positivos, vitoriosos; imagine cenas tranqüilizantes e repousantes. Se tiver tempo antes de falar, observe o público, não com olhar inseguro ou desanimado, mas interessado e em espírito de oração;

☺ chegar adiantado ao local é adequado; você se ambienta e se sente mais à vontade;

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☺ evite ficar estudando, revendo notas ou lembrando até o último minuto aquilo que já foi memorizado, preparado e ensaiado;

☺ prepare-se bem: saiba o que você vai falar e porque vai falar. É aconselhável que saiba de cor o início e o final de sua fala, que tenha um roteiro do desenvolvimento (no caso de palestras) e tudo quanto o texto e a atuação exigirem. Nas falas improvisadas, pense primeiro no que falar, respire entre uma frase e outra. Não procure falar “difícil” para impressionar, mas use seu vocabulário simples, primando para que esteja correto. Seja breve. Não deixe que sua fala seja arrastada, monótona: demonstre vigor e entusiasmo. Evite, também, falar atropeladamente, muito depressa e até o fim do fôlego. Chame sempre a voz com a respiração.

☺ Procure agir com naturalidade, como se estivesse numa situação informal; procure ser verdadeiro, autêntico, simpático;

☺ Evite tossir e pigarrear. É desagradável e prejudicial à voz; ☺ Encare o auditório; evite fixar o olhar apenas em um ponto ou em algumas poucas pessoas. Todos

querem ser notados pelo orador e merecer sua atenção. Se algumas pessoas lhe parecem hostis, tente conquista-las com seu olhar firme, mas gentil, e com sua palavra firme e segura;

☺ Lembre-se: quanto mais experiência se tem ou quanto mais estudado estiver o assunto, mais à vontade você estará. A prática proporciona o reflexo, a despreocupação.

USO DO MICROFONE

Muitos se sentem inibidos ao usar o microfone pela primeira vez, principalmente quando vão falar ou cantar sozinhos. É estranho quando ouvimos nossa própria voz se espalhando em grande volume num auditório enquanto falamos calmamente. Esse é o momento onde muitos afastam o microfone de perto da boca e ninguém os ouve bem; isso quando não começam a tremer.

Esta é uma experiência onde, quem canta ou prega, terá que experimentar um dia. Abaixo estão algumas dicas que nos ajudarão a enfrentar essa situação com segurança e tirarão as “manias” que muitos de nós temos. ☺ Quando utilizar este recurso você deve ter o cuidado de se manter a uma distância de 5a 10m dos

microfones de baixa pedância (potencial de captação das ondas sonoras). Se o microfone for de alta pedância, fale a uma distância de 15 a 20 cm.

☺ Antes da apresentação teste o seu microfone. Faça os ajustes necessários para assegurar um bom timbre e volume da voz.

☺ Se o microfone for fixo diminua a quantidade de gestos que o afastem dele, ao passo que, se o microfone for móvel, cuide para não falar sem que ele esteja próximo de seus lábios.

☺ Não esconda o rosto ou a boca com o microfone. As pessoas precisam ver sua expressão. ☺ Se está tocando e cantando, ajuste o pedestal para que não seja preciso esticar o pescoço o que

estrangula a voz. ☺ Ao usar microfones mais modernos, os chamados “lapela” ou os “aurecular”, tenha o cuidado de não

cochichar com alguém, dado que eles são de baixa pedância; se estiver ligado no momento, é melhor abafa-lo com as mãos (microfone de lapela) ou desvia-lo dos lábios (microfone de cabeça).

PARA MELHOR PREPARAR UMA OBRA VOCAL

1) Leia o texto observando a pronúncia correta, marcando as acentuações tônicas das palavras, as respirações, os “r” e “s”.

2) Saber o que o autor quer dizer na música é importante e isso te ajudará na expressão. Estude o conteúdo da música e tente cita-lo, a você mesmo, com suas próprias palavras. Procure saber o significado das palavras que você não conhece.

3) Cante a canção usando a vogal “i”, observando sempre a afinação. 4) Cante a parte melódica com as vogais do texto, a fim de conseguir uma abertura constante e

regular do pavilhão faringo-bucal; observando a correta posição dos lábios e da língua e tentando manter o som sempre ligado.

5) Leia as palavras em voz alta, num tom que reflita as emoções apropriadas. 6) Cante a melodia sem palavras (na-na). 7) Junte tudo e cante.

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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RECOMENDAÇÕES ☺ Pense no som que quer alcançar antes de emiti-lo. ☺ Libere a emoção. A cor da voz é modificada de acordo com o sentimento que queremos expressar.

Cantar com uma expressão alegre ajuda na afinação. ☺ Use seu corpo para se expressar, mas não exagere nos gestos. ☺ A ponta da língua deve sempre estar no lugar de descanso, atrás dos dentes inferiores (ao cantar as

vogais) e só se levantar rapidamente para articular alguma consoante. ☺ Cante canções, dentro de sua tessitura (limite vocal), e mensagens com as quais você se identifica. ☺ A caixa de um instrumento não se contrai quando toca. O corpo deve estar solto e livre. EXERCÍCIOS 1) Procure reconhecer os instrumentos, de olhos fechados ou através de discos, durante a execução de

uma orquestra ou conjunto.

2) Procure observar as alterações na sua voz, conforme seu estado de saúde.

3) Procure anotar as variações de sua própria voz, conforme suas emoções e suas intenções.

4) Faça o mesmo que do n° 2 e n° 3 com seus familiares.

5) Procure interpretar o estado de ânimo de uma pessoa pela sua expressão corporal e pelos seus gestos.

6) Como se manifestam, nas pessoas que você conhece, as seguintes características: pressa – vagar – exasperação – tranqüilidade – nervosismo – calma – cólera – raiva – alegria – prazer – tensão emocional – relaxamento – autoritarismo – meiguice – bondade – crueldade – preocupação – inquietação – agitação – despreocupação – determinação – incerteza – insegurança – autoconfiança?

7) Procure identificar a situação social de uma pessoa pelo seu modo de falar.

8) Observe as pessoas conhecidas. Procure identificar seu estado de ânimo através de sua voz.

9) Procure perceber a emoção e a expressividade no modo de falar de seu interlocutor. Procure identificar por que forma se manifesta.

10) Observe as interpretações de cantores e vejam se seus gestos condizem com a letra da música.

11) Crie pequenas frases melódicas expressando diversos tipos de emoções e estados, como: alegria, sono, preguiça, raiva, medo, pressa, cinismo, desconfiança, amor, paz, confiança, criancice, fome, satisfação, etc.

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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VII – EXERCÍCIOS GERAIS Cuidado com o “stress” físico ou mental. O “stress” é a soma de todo o desgaste causado por

qualquer tipo de reação vital, através do corpo, a qualquer momento. Nele se incluem os distúrbios psicossomáticos, que são alterações do corpo produzidas por atitudes mentais.

O stress, como ensina Seley (1965), caracteriza-se por três fases: REAÇÃO DE ALARMA – em que os mecanismos de defesa são mobilizados (ex: a voz, volta e

meia, enrouquece, mas melhora com repouso). FASE DE RESISTÊNCIA – em que se dá uma adaptação, devida à ação dos mecanismos de

defesa (ex: a voz se agrava e enrouquece). FASE DE EXAUSTÃO – em que os mecanismos de defesa, sobrecarregados, deterioram-se (ex: a

voz torna-se rouca de vez e/ou com falhas ou você perde a voz). Procure conhecer-se, conhecer suas reações típicas quer orgânica, quer psicológicas. Lembre-se de que sua idade fisiológica vai depender diretamente do seu ritmo de autodesgaste. IMPORTANTE: não é natural ficar rouco. Por isso, é sempre aconselhável procurar um

otorrinolaringologista. E isto não poderá deixar de ser feito, se a rouquidão persistir por mais de 15 dias. RELAXAMENTO

Relaxar significa descansar, repousar, soltar. Na condição de relaxamento os nervos, os

músculos experimentam uma sensação de soltura. Isto não quer dizer que o relaxamento ocasione um completo torpor ou estado de sonolência, mas que é um estado “atentamente” descontraído, proporcionando um nível ótimo de ação dos músculos e nervos nas variadas atividades do ser humano.

A prática do relaxamento possibilita um maior conhecimento ao ser humano de si mesmo, pois estará preparando seu corpo e sua mente para desempenharem qualquer atividade física ou mental sem desperdício de energia. Relaxamento geral

Os exercícios de técnica vocal devem ser precedidos, de preferência, de um relaxamento. Este

pode ser feito em pé, deitado ou sentado. Eis alguns: Fase em pé.

a) Em pé, fila indiana, postura correta: dar pancadinhas leves, secas, alternadas, com lados das mãos nas costas do companheiro da frente, durante cerca de 15 segundos. Voltar de modo que o companheiro que estava em frente fique atrás e vice-versa e, recomeçar. Repetir várias vezes.

b) Deixar cair para frente o tronco, sentindo a cabeça e os braços bem pesados. Depois subir lentamente até ficar em postura reta. O último a levantar é o queixo.

c) Imaginar subindo uma escada. Estique todo o seu corpo ficando na ponta dos pés. Movimente os braços como se estivesse subindo uma escada. Após uns 7 segundos relaxe todo o corpo deixando cair pesadamente os braços.

Fase deitada. Estenda-se no chão ou numa cama resistente, de costas, com as mãos lateralmente com as

palmas para cima e pés afastados uns 15 cm. Realize a contração de todos os músculos, alcançando o máximo de contração e lentamente vá afrouxando-os até que o corpo adquira quase uma impressão de levitação. Mantenha esse relaxamento por alguns segundos.

Fase sentada. Estenda as pernas e solte-as molemente; deixe os braços pendentes ao lado do corpo. Feche os

olhos e vá relaxando uma após outra todas as partes do seu corpo. Comece pelos membros inferiores e

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Canto e Fala – Técnica Vocal

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acabe pelos superiores, não esquecendo a cabeça e os músculos da face. Dê atenção ao relaxamento da mandíbula. Permaneça assim aproximadamente 30 segundos. Relaxamento específico

Ombros

a) Eleve suavemente os ombros, sem participação ativa dos braços, bem alto, até quase as orelhas e mantenha assim por um momento. Depois solte-os pesadamente, deixando-os cair sem reter o movimento. Repita pelo menos duas vezes.

b) Faça movimentos, somente com os ombros, para trás como se estivesse remando. Pelo menos oito vezes. Depois faça os mesmos movimentos para frente.

Pescoço e Cabeça 1) Incline a cabeça lentamente para os lados, tentando encostar as orelhas nos ombros (estes

não devem se mover). Observe a contração lateral do pescoço. Em seguida, volte à posição inicial e perceba o “alívio” da descontração. Execute de ambos os lados.

2) Vire a cabeça, iniciando o movimento frente-lado, tentando leva-la o mais possível para trás; volte à posição inicial (medial) e execute o mesmo movimento do outro lado. Observe a sucessão de movimentos de contração e descontração.

3) Sem mover os ombros, deixar a cabeça cair para trás, para frente, lado esquerdo, lado direito, depois em círculo primeiro para a esquerda, e quando completar a circunferência, para a direita realizando a mesma circunferência. Tudo muito natural, sem forçar os músculos.

ARTICULAÇÃO

Exercícios articulatórios podem ajudar muito no que chamamos de “aquecimento vocal” antes

de falar em público. Os exercícios a seguir estarão divididos em duas fases: tonificação muscular e articulação em nível vocabular.

Mandíbula 1) Descerre os dentes e os lábios de forma que seu queixo caia para baixo e para trás

pesadamente. 2) Abrir a boca lentamente e fecha-la. 3) Abrir e fechar a boca lentamente dizendo: MAR, MAR, MAR. 4) Abrir a boca rapidamente e articular: ba-ba-ba. 5) Com a boca aberta, movimentar a mandíbula para um lado e para outro, lentamente.

Obs: Não permita que a boca se escancare com marcante estalo da articulação mandibular, pois pode ocorrer deslocamento. Coloque os dedos bem nos pontos de articulação e verifique se sua mandíbula está totalmente relaxada.

Lábios Os lábios são a parte mais móvel do rosto devido à grande quantidade de músculos faciais que

agem sobre eles. 1) Movimentar os lábios para frente e para trás. 2) Articular “iu” bem exagerado 6 vezes. 3) O mesmo exercício anterior, mas sem som. 4) O mesmo anterior, de dentes cerrados. 5) Movimentar os lábios fechados para a direita e para a esquerda. 6) Projetar os lábios unidos e voltar ao normal. 7) Articular o “p” bem exagerado. 8) Encher o lábio superior e inferior de ar. 9) De boca aberta: mostrar e esconder os dentes. 10) Vibrar os lábios. 11) Assoviar, soprar. 12) Jogar beijinhos bem fortes.

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13) Bigode com o lápis. 14) Repouso. 15) Comprimir e relaxar os lábios. 16) Com água: bochechar – gargarejar, passar água do lábio superior para o inferior. 17) Morder o lábio superior e o inferior. 18) Massagem labial: sugar o lábio superior, usando o lábio inferior. 19) Lábios unidos para fora (em protusão) e para dentro (comprimidos), lentamente. 20) Comprimir fortemente os lábios dizendo; P – P – P – P – P – P, primeiro sem som, depois

dizendo: PA – PE – PI – PO – PU. Bochechas 1) Encher de ar e esvaziar um lado e depois o outro. 2) Encher de ar e esvaziar os dois lados simultaneamente. 3) Encher de ar um lado e passar para o outro, várias vezes. Língua 1) Língua para dentro e para fora. 2) Língua para cima e para baixo dentro da boca (o elevador). 3) Língua nos cantos da boca (o reloginho). 4) Empurrar as bochechas com a língua (a bala grande). 5) Língua ao redor dos dentes (escovar os dentes). 6) Língua ao redor dos lábios (limpar a boca suja de sorvete). 7) Empurrar com força o palato com língua. 8) Estalar a língua com a ponta, o meio e a base. 9) Colocar o elástico na língua e retira-lo sem ajuda dos dentes. 10) Imitar campainha do telefone: TRRRIMMM – TRRRIMMM – ou Sino: BELELÉM –

BELELÉM – BELELÉM. Véu Palatal 1) Boceje com a boca aberta. 2) Boceje com a boca fechada. 3) Emitir e alternar a vogal oral com a nasal: a ã- e e – i i – o õ – u u. 4) Articular: kkk. 5) Articular: nk – nk – nk – ng – ng – ng – tk – tk – tk. 6) Articular todas as vogais de boca aberta.

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VIII – EXERCÍCIOS DE ARTICULAÇÃO

Ao fazer estes exercícios coloque uma rolha entre os dentes, nem pequena, nem grande demais. Tenha o cuidado de deixa-la mais para fora do que para dentro. Prenda-a firme entre os dentes e pronuncie as palavras dos exercícios.

Em vez da rolha, o meio do dedo polegar dobrado também funciona. Atenção: esforce-se por enuncia-las com a mais absoluta nitidez, a despeito da rolha. Só assim

o exercício terá valor. FRASES E VERSINHOS COM PALAVRAS QUE CONTÉM: RRRRRRRRRR

A raivosa e irritante romana residia na rua das Rosas Rubras, rente à residência do ruivo

risonho rei Renato.

O rato guerreiro da guerra tocou guitarra em Araraquara.

O cricri do grilo clamou para o frade, as freiras e o padre que queimou o braço.

Pedro Padro Poderoso tropeçou em Caio e quase caiu.

O livro raro traz histórias de trechos ilustrados.

É rara a barra de prata com pêras, cerejas e laranjas em jarras.

O rato roeu a rede rubi da roseira da rua das Rosas Rubras.

O rei de Roma ruma rápido a Madri.

O remador amarrou rente o remo.

O urubu ficou jururu na parede de fora.

O barítono brejeiro Berto do Barreto do Brito E brada a Belmira: Bravo! Beleza! Bonita blusa! Para Sara Calderaro Toda arara rara é cara, Pois o sarará do Amaro Comprara uma arara rara E mandara para Vara Comprei na feira do rato No largo das Amoreiras Arroz de peru num prato Arranjado pelas freiras

Flávio Valfrido Ferreira, Fã de Fifina Valfor, Vem ver flor na quinta-feira E fez-lhe um fino favor. Sem fitas nem fa-fa-fãs, Frita filhões de fubá. . A aranha arranha a rã A rã arranha a aranha Arranha a aranha a rã? A rã arranha a aranha?

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RELAÇÃO DE FRASES EM ORDEM ALFABÉTICA a) A gata amarrada arranha a aranha. b) Bondosa beldade balzaquiana beneficiava Belgas. c) O capenga cangaceiro capengava na capoeira do cangaço. d) O dente de dentro dói e dá doença. e) Em Erechim endereçam esse bilhete a Henrique que tem de exercer a eleição. f) Na fornalha flamejante fulge o fogo com furor; o fole frenético faz fumaça e fagulhas fulgurantes que

ofuscam. gj) O Genovês, jovem gigante, gira e geme no ginásio, na ginástica. i) Dificílimo dividir mililitros de mirífico jiripiti. l) No laranjal abelhas laboriosas em tumulto coletam o pólem para o inigualável mel de suas colméias. m) O mameluco melancólico meditava e a megera megalocéfala, macabra e maquiavélica, mastigava

mostarda na maloca miasmática. n) Não nada ninguém no Nilo. o) O promotor comprou o horóscopo do Ostrogado. p) Pedro Paulo Pacífico de Paixão, pacato e pachorrento procurador do meu pranteado pai, depois de

provar uma pinga, tomou um pileque e promoveu uma pagodeira com a população do porto. q) O liquidificador quadridentado liquidifica qualquer coisa liqüidificável, e quebra as liqüidificáveis. r) O rato, ratazanas e o ratinho, roeram as ricas roupas e rasgaram rútilas rendas da rainha D. Urraca de

Rombarral. s) Se 66 serras serram 66 cerejeiras – 666 serras serrarão 666 cerejeiras. t) Tito trocou o troco todo, tentando tudo tirar. u) O butucum do Bururu com os murucututus do burudum. v) O vento veloz varre a várzea com violência. x) O xaveco do Xavier chegou com o Xalavar cheio de peixes: Xaréus, Xereletes, Xiros, Xixarros e

Xundaraias. z) A zebra zurrando ziguezagueava, sobando o zoófobo, zaranza que a zurzia zangado, com zaguncha

do zuavo. MAIS EXERCÍCIOS DE ARTICULAÇÃO a) O prestidigitador, prestativo e prestatário, está prestes a prestar a prestidigitação prodigiosa e

prestigiosa. b) A prataria da padaria está na pradaria prateando prados prateados. c) Brito britou de brilhantes, brincando de britador. d) Branca branqueia as cabras brabas nas barbas das bruacas e bruxas branquejantes. e) Trovas e trovões trovejam trocando quadros trocados entre os trovadores esquadrinhados nos quatro

cantos. f) O dromedário destruiu as drogas de drogaria Andrômeda, porque foi drogado com a droga quadrada. g) As pedras pretas da pedreira de Pedro Pedreiras são os pedregulhos com que Pedro apedrejou três

pretas prenhes. h) No quarto do Crato eu cato quatro cravos cravados no crânio da caveira do Craveiro. i) O grude da gruta gruda a grua da gringa que grita e, gritando, grimpa a grade da grota grandiosa. j) Franqueia-se o frango frito frio, frigorificado à francesa, no frigorífico do frade. k) O lavrador é livre na palavra e na lavra, mas não pode ler o livro que o livreiro quer vender. l) Plana o planador em pleno céu e, planando por cima do platô, contempla as plantas plantadas na

plataforma do plantador. m) A laca aplacadora aplaca a dor da placa que a laca aplacou. n) O blusão blasona para a blusa e a luva com blandícia aplaude a blasonada. o) Um atleta atravessa o Atlântico em busca da Atlântica que viu num Atlas. p) Quero que o clero preclaro aclarece o caso de Clara e declare que Tecla se engana no que clama e

reclama. q) Aglae lava a gleba do globo que havia levado à galáxia do glabro e galante gigante. r) Flamengo inflama

Fluminense influi

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Quem a flama inflama Flui e reflui.

s) Fraga deflagra um drible, Franco franqueia o campo, o povo se inflama e enfrenta o preclaro júri, que declara grave o problema.

t) O cricrilar do grilo é devido ao atrito de seus élitros. u) Um cara encarou a minha cara e eu disse: Cara desencara a minha cara, pois minha cara não é cara de

encarar não. Encarou cara? v) Se liga-liga me ligasse eu também ligava liga, como liga-liga não me liga eu também não ligo liga. x) Você sabia que eu sabia que o sabiá sabia assoviar? GRUPOS DE CONSOANTES br) As bruzundungas do bricabraque do Brandão abrangem broqueis de bronze brunidos, brocados

bruxuleantes, brochuras, breviários, abraxas brasonadas, abrigos e brinquedos. cr) O acróstico, cravado na cruz de crisálidas da criança acreana criada na creche é o credo cristão. dr) A hidra, a dríade e o dragão, ladrões do dromedário do Druida foram apedrejadas. fr) A frota de frágeis fragatas fretadas por frustrados franco-atiradores, enfreadas de trio, naufragou na

refrega com frementes frecheiros africanos. gr) O grumete desgrenhado gritava na gruta de griso, gracejando com grupo grotesco de grilheiros. tr) A entrada triunfal da tropa de trezentos truculentos troianos em trajes tricolores, com seus trabucos,

trombones e triângulos, transtornou o tráfego, tranqüilo. pr) O prato de prata premiado é preciso e sem prego; foi presente do preceptor da princesa primogênita,

Prabo Primas, procurador da Prússia. vr) O lavrador lavrense estudou os livrinhos e as lavrascas no livro do livreiro de Lavras. bl) No tablado oblongo os emblemas das blusas das oblatas estavam obliterados pela neblina oblíqua. cl) O clangor dos clarins dos ciclistas do clube eclético eclodiu no claustro. fl) A flâmula flexível na floresta do flibusteiro, flutuava fluorescente na floresta de Flandres. gl) A aglomeração na gleba glacial glosava a inglesa glamorosa que glisava com o gladiador glutão. pl) Na réplica, a plebe pleiteia planos de pluralidade plausíveis na plataforma do diplomata

plenipotenciário. BRINCANDO DE “TRAVA-LÍNGUA”

Diga rápido, sem tropeçar na letra nem errar a palavra!

É crocogrilo? É cocodrilo? É cocrodilo? É cocodilho?

É corcodilho? É crocrodilo? É crocodilho? É corcrodilo?

É cocordilo? É jacaré? Será que ninguém acerta

O nome do crocodilo mane?

Maria-mole é molenga. Se não é molenga, Não é Maria-mole.

É coisa malemolente, Nem mala, nem mola, Nem Maria, nem mole.

O tempo perguntou pro tempo

Qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo

Que não tem tempo Pra dizer pro tempo

Que o tempo do tempo É o tempo que o tempo tem.

Olha o sapo dentro do saco, O saco com o sapo dentro,

O sapo batendo papo E o papo soltando o vento.

É um dedo, é um dado, é um dia. É um dia, é um dado, é um dedo. É um dedo, é um dia, é um dado. É um dado, em dedo, é um dia.

É um dia, é um dedo, é um dado. É um dado, é um dia, é um dedo.

Um ninho de mafagafas Tinha seis mafagafinhos.

Tinha também magafaças, Maçagafas, maçafinhos, Mafafagos, magaçafas,

Maçafagas, magafinhos. Isso além dos magafafos E dos magafagafinhos.

O desinquivincavacador Das caravelarias

Desinquivincavacaria As cavidades

Que deveriam ser Desinquivincavacadas.

Tinha tanta tia tantã. Tinha tanta anta antiga.

Tinha tanta anta que era tia. Tinha tanta tia que era anta.

A sábia não sabia Que o sábio sabia Que o sabiá sabia

Que o sábio não sabia Que o sabiá não sabia Que a sábia não sabia

Que o sabiá sabia assobiar.

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Feijão, melão, pinhão, mamão. Meijão, malão, feinhão, pimão. Pijão, feilão, manhão, memão. Majão, pilão, menhão, feimão.

O doce perguntou pro doce Qual é o doce mais doce

Que o doce de batata-doce? O doce respondeu pro doce

Que o de mais doce que O doce de batata-doce

É o doce de doce de batata-doce.

Três pratos de trigo Para três tigres tristes

A lontra prendeu a Tromba do monstro de pedra

E a prenda de prata De Pedro, o pedreiro.

Paga o pato, dorme o gato, Foge o rato, paga o gato,

Dorme o rato, foge o pato, Paga o rato, dorme o pato,

Foge o gato.

Sabendo o que sei E sabendo o que sabes

E o que não sabes E o que não sabemos,

Ambos saberemos Se somos sábios, sabidos

Ou simplesmente saberemos Se somos sabedores.

Disseram que na minha rua Tem paralelepípedo feito

De paralelogramos. Seis paralelogramos

Tem um paralelepípedo. Mil paralelepípedos

Tem uma paralelepipedovia. Uma paralelepipedovia

Tem mil paralelogramos. Então uma paralelepipedovia É uma paralelogramolêndia?

Lalá, Lelé e Lili E suas filhas

Lalalá, Lelelé e Lilili E suas netas

Lalelá, Lelalé e Lileli E suas bisnetas

Lilelá, Lalilé e Lelali E suas tataranetas

Laleli, Lilalé e Lelilá Cantavam em coro

LaLaLaLaLaLaLaLaLa

Mefistófeles Felestofisme Fez com que Tomelesfisse os

Lesfemefistos e os Fisfemetoles com os

Femetofisles e os Tolesmefifes. Foi daí que nasceu um

Metofisfeles Felestofismezinho.

Não confunda

Ornitorrinco com Otorrinolaringologista,

Ornitorrinco com ornitologista, Ornitologista com

Otorrinolaringologista, Porque ornitorrinco

É ornitorrinco, Ornitologista é ornitologista E otorrinolaringologista é

Otorrinolaringologista.

Um grego é gago, Outro grogue é gagá. Tem um grego gagá E um grogue gago.

Tem também Um grego grogue E um gago gagá.

Pedro tem o peito preto. O peito de Pedro é preto.

Se o peito de Pedro é preto O peito do pé de Pedro é

preto?

Larga a tia, largatixa! Lagartixa, larga a tia!

Só no dia em que sua tia Chamar, largatixa

De lagartixa!

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IX – SAÚDE VOCAL

Os profissionais da voz, por ignorarem, muitas vezes, a preciosidade e a fragilidade de seu aparelho fonador, desrespeitam os limites funcionais do mesmo. Ou, ainda, tratam sua voz como uma propriedade isolada, desconhecendo ou não reconhecendo a importância de uma interação e integração entre corpo, mente, voz e meio exterior.

Para a conservação de uma voz pura e clara é de fundamental importância a saúde do aparelho fonador e saúde psicofísica. Sabemos que os grandes atores, cantores e oradores dos nossos dias adotam hábitos rigorosos de higiene vocal para poderem desempenhar com saúde seus dons artísticos.

As normas de higiene vocal são simples de serem seguidas devendo, portanto, ser respeitadas, para que se evite o estabelecimento ou pira de problemas de voz, as chamadas disfonias.

Caso se observe voz alterada, persistente por mais de 15 dias, dor ao falar, sensação de esforço, aperto, ardor, queimação ou cansaço vocal, procure um fonoaudiólogo ou um médico otorrinolaringologista. Problemas de voz podem colocar sua profissão e, até mesmo, sua vida em risco, mas são facilmente tratados quando correta e precocemente identificados.

Um câncer de laringe pode começar com uma rouquidão semelhante a de um resfriado. Infelizmente, a cidade de São Paulo apresenta uma das maiores estatísticas mundiais de câncer de laringe. Se o sintoma de rouquidão fosse levado a sério, teríamos condição de realizar um diagnóstico precoce e de oferecer um tratamento menos agressivo, como a retirada total da laringe. Portanto, qualquer rouquidão persistente por mais de duas semanas deve ser avaliada adequadamente.

A seguir vamos sugerir algumas dicas que podem contribuir grandemente para a conservação da saúde vocal; ☺ Mesmo uma voz treinada está sujeita ao cansaço ou “stress vocal”. A voz tem seu período ótimo ou

“tempo racional” de trabalho. Se neste período é bem utilizada não haverá sacrifícios para a mesma. - Utilizar bem a voz é conservar o volume moderado durante a fonação diária; evitar falar

em lugares ruidosos (automóveis, avião, festas e reuniões com aparelhos de som em funcionamento).

- Evitar formas de agressões às pregas vocais como tosse, rouquidão, espirros violentos e gargalhadas muito exageradas.

- Evitar falar demasiadamente ao telefone. - Evitar cantar ou falar muito, quando rouco ou com presença de catarros, resfriados, pois

pode gerar fadiga vocal que traz conseqüências desastrosas às pregas vocais. Lembre-se em caso de uma fadiga vocal maior, o repouso vocal deve ser sempre mais prolongado.

- Deve-se evitar, também, o pigarrear. Pigarro persistente e muco viscoso são sinais de hidratação insuficiente, para a qual nada melhor do que fazer uma reposição natural, ou seja, tomar muita água.

☺ O repouso vocal pode ser escasso, mas é essencial que exista.

- O repouso vocal absoluto é indicado nos casos pós-operatórios ou em quadros agudos onde os problemas vocais colocam em grande risco a carreira profissional.

- Geralmente o repouso vocal recomendado após uma cirurgia de laringe é de 3 a 5 dias. - O repouso modificado ou relativo é indicado na redução da demanda vocal e no controle

dos abusos vocais; visando o controle do uso não profissional da voz, orientando-se evitar o uso prolongado do telefone, a conversação sob competição sonora, falar em forte intensidade e, principalmente, utilizar a impostação vocal profissional no cotidiano.

- É bom lembrar que repouso vocal não é tratamento de voz. Embora o repouso seja indicado como auxiliar em algumas situações pós-abuso, e seja realmente muito efetivo, o tratamento das desordens vocais inclui todo um processo de mudança de comportamento vocal e de aprendizado das técnicas corretas de emissão.

☺ O sono do profissional da voz deve ser o “sono dos justos”, tranqüilo, sem interrupções.

- Deve-se cultivar o hábito de dormir regularmente oito horas, no mínimo. - Exercícios de relaxamento ao deitar podem ajudar a dissipar as tensões e trazer o sono

tranqüilo de volta. - A voz depois de uma noite agitada apresenta-se, geralmente, velada, cansada e pesada.

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☺ O álcool e o fumo são venenos para a voz.

- O álcool pode ser excitante por algum tempo e ajudar o orador a enfrentar o público, mas tem efeitos nefastos na mucosa laríngea e outros órgãos do corpo, além de poder se transformar num vício perigoso.

- O fumo, além de prejudicar a mucosa laríngea, compromete o funcionamento dos pulmões, diminuindo a elasticidade dos mesmos devido ao acúmulo das substâncias tóxicas do tabaco ocasionando uma baixa na resistência respiratória.

☺ Os hábitos alimentares também são muito importantes. A alimentação deve ser equilibrada quanto

mais frescos e mais naturais forem os alimentos, melhor. Uma refeição equilibrada consta de: - frutas não cítricas. É bom saber que maça e mamão são considerados anti-sépticos que

ajudam na limpeza da cavidade bucal; - evite frutas cítricas, pois elas ressecam as pregas vocais; - coma verduras, legumes, carnes magras de preferência cozidas ou assadas; - os laticínios devem ser evitados nas refeições do dia de apresentações porque aumentam

a produção de muco no trato vocal; - os líquidos ingeridos devem, de preferência, ser em temperatura natural. Evite as bebidas

geladas e tome no mínimo 8 copos de água por dia (2 litros); - evite agredir suas pregas vocais com alimentos muito gelados ou muito quente. Se você

não resistir a um delicioso sorvete, tome um copo d’água natural o mais rápido possível para que as pregas vocais voltem à sua temperatura normal.

Obs: Não tome água logo após falar muito ou cantar.

☺ O clima extremado é o grande inimigo do orador. - O calor forte provoca tal indisposição e cansaço que nos parece impossível usar a voz por

muito tempo. Daí a importância de mantermos uma boa saúde geral para não sofrermos tanto.

- O frio é o causador dos resfriados que tanto comprometem as vias aéreas, com produção de secreções abundantes, que atrapalham a emissão sonora. O que pode ajudar nesse caso é a dessensibilização ao frio com a prática de exercícios respiratórios todas as manhãs ao levantar, de frente a uma janela aberta, durante alguns minutos. A inspiração deve ser feita pelo nariz, profunda e calmamente, seguindo-se a expiração pela boca, também calmamente. Após este período de ginástica respiratória, um banho em temperatura o mais natural possível é muito aconselhável.

- O banho frio é ótimo preventivo dos catarros ou secreções abundantes anormais, além do que o jato de água, que atinge as costas, ocasiona a liberação de hormônios das glândulas supra-renais que caem na corrente sangüínea e agem como anticorpos, isto é, protegem o organismo contra a ação de agentes estranhos e nocivos. Os resfriados tornam-se muito raros.

Obs: A dessensibilização através do banho deve ser iniciada nos meses mais quentes para que a pessoa se acostume aos poucos com o processo.

☺ A prática de esportes principalmente nos dias de hoje, de tanta correria, é item relevante para a saúde vocal.

- A caminhada ao ar livre é o meio mais simples, natural e saudável de exercício. - Outro esporte muito completo é a natação, que desenvolve muito a musculatura torácica e

abdominal ajudando na obtenção de uma maior expansão e sustentação da respiração, tão necessária no trabalho vocal.

☺ O ar condicionado é muito prejudicial à voz porque resseca a mucosa das vias aéreas gerando

problemas de lubrificação laríngea, e desta forma, trazendo uma sensação de secura no nariz, boca e garganta; pigarro e tosse constantes, mudanças súbitas na qualidade vocal, redução da resistência e extensão vocais, com quebras eventuais de sonoridades.

- Recomenda-se que se use recipientes com água para umedecer ambientes com ventilação artificial e a ingestão de muito líquido, não gelado.

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- É indicado o consumo de 2,5 a 3,0 litros de água/dia, aumentando para um copo de água a cada 40 min.

- É necessários também, a redução do consumo de cafeína, leite e derivados, álcool, fumo e medicamentos que causam ressecamento à mucosa.

☺ O uso de roupas confortáveis, que não apertem a região do pescoço, do tórax e abdômen e que

permitam uma boa respiração, é recomendável. - Evite roupas de nylon ou plástico que impedem a evaporação da transpiração. - Evite adornos apertados como cintos, colares, lenços que impeçam uma boa respiração

ou uma emissão vocal. - Use sapatos folgados.

☺ Pessoas que apresentam alergias nas vias aéreas superiores ou inferiores costumam possuir maior tendência a apresentar alterações vocais. Bronquites, asma, rinite, sinusite, laringite e faringite podem provocar edemas nas mucosas do trato respiratório, incluindo as pregas vocais. O indivíduo pode ser alérgico a vários fatores: poeira, perfumes, inseticidas, flores, dedetizadores, produtos de beleza, pólen ou determinados tipos de alimentos. Em alguns casos fica difícil precisar exatamente qual o produto que desencadeia a crise alérgica, até porque existem, por exemplo, as rinites vasomotoras, que ocorrem em decorrência da variação brusca de temperatura no trato vocal. Alterações psíquicas podem desencadear uma crise alérgica, à medida que aumentam a sensibilidade do organismo causada por diminuição das defesas.

- O alérgico precisa cuidar do ambiente onde dorme, evitando tapetes e carpetes, cortinas de pano, livros e bichos de pelúcia.

- O pó do quarto deve ser removido diariamente com um pano úmido. - Os tratamentos alopáticos muitas vezes apresentam melhora imediata, mas não

solucionam totalmente o problema. - Os tratamentos homeopáticos vêm mostrando melhores resultados no caso de alergias

crônicas.

☺ O médico otorrinolaringologista é um médico especialista nas afecções do ouvido, nariz e garganta, cujo título de especialista é conferido pela Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia (SBORL), após concurso de título. Quando existe um sintoma ou uma queixa de voz, o médico realiza uma avaliação completa, que além do exame de rotina do ouvido, do nariz e da garganta, inclui a visualização da laringe e a análise da movimentação das pregas vocais. Hoje, com o avanço tecnológico e com o uso das fibras ópticas na rotina clínica, há dois métodos básicos de se realizar esse exame: a nasolaringoscopia e a telelaringoscopia.

Obs: Um dos melhores lugares para aquecer sua voz é no banheiro! A umidade ajuda a lubrificar a voz.

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X - CURIOSIDADES VOZ E O TIPO DA PESSOA

Você não é daqueles que falam com a voz “fffrooouxxxa”, “aarraaassstaada”, “nasalada”, é? Isto tudo pode ocorrer, porque sua voz sofre as repercussões de sua vida afetiva, do clima

emocional em que você vive, da influência das pessoas com quem você convive, e de sua atividade mental também. O seu estado de agressividade interior, seu ajuste ou desajuste com o meio, as agressões morais que você sofre, suas preocupações e alegrias, tudo isso vai refletir-se na sua voz. O seu próprio tipo psicossomático também influi.

Por exemplo, as pessoas do tipo mesomorfo, isto é, de estatura mediana, atarracadas e extrovertidas, costumam ter um tom de voz irrefreado. Já as do tipo ectomorfo, isto é, altas, magras, cerebrais e introvertidas, costumam ter um tom de voz contido. AMÍGDALAS SÓ SÃO RETIRADAS EM ÚLTIMO CASO

Como são cobertas por mucosa, também estão sujeitas a infecções, as chamadas amidalites e adenoidites.

As tonsilas formam um anel de proteção fundamental, sobretudo na infância, quando o organismo precisa reconhecer os agentes invasores e produzir anticorpos, desenvolvendo o sistema imunológico que ainda está imaturo. Por esse motivo, amígdalas e adenóides costumam ficar aumentadas até os quatro ou cinco anos de idade.

Há casos, porém, em que não diminuem naturalmente e chegam a obstruir a passagem de ar. Em outros, viram reservatórios de bactérias que se alojam entre suas células, provocando repetidas infecções. “Só essas duas situações justificam a retirada cirúrgica dessas estruturas”, enfatiza o otorrinolaringologista Luiz Ubirajara Sennes, professor da Faculdade de Medicina da USP. AR CONDICIONADO FAZ MAL

Ao contrário do que se imagina, não é a mudança brusca da temperatura que afeta as vias

aéreas. O problema é que a maioria desses aparelhos resseca o ar quando o refrigera. E ar seco faz evaporar mais rapidamente o muco do nariz e da garganta, prejudicando a defesa que ele proporciona. Muitos aparelhos também se limitam a resfriar sempre o mesmo ar, sem renova-lo, aumentando a possibilidade de transmissão de doenças. O NÓ DA GARGANTA

Essa sensação incômoda existe e é, na maioria das vezes, um sintoma de ansiedade nervosa.

Está ligada a nervos cranianos e músculos da garganta que entram em espasmo, ou seja, uma contração súbita, dificultando a deglutição e a articulação das palavras. É um fenômeno passageiro, que também pode ser conseqüência de irritação por secreção nasal ou refluxo de suco gástrico.

UM BOM REMÉDIO PARA RESFRIADOS E ROUQUIDÃO (Lilli Lehmann)

Se você não pode freqüentar uma sauna aqui está um conselho prático. Derrame água quente num pires e absorva-a com uma esponja de bom tamanho. Em seguida,

esprema a esponja para retirar a água. Leve a esponja ao nariz e à boca e respire alternadamente pelo nariz e pela boca, inalando e exalando.

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Faça isto cantando exercícios de vocalize, músicas, etc, com a boca e de encontro à esponja, forçando assim o calor a atuar sobre os seus pulmões, brônquios e, especialmente, mucosas, enquanto respira e exala através da esponja.

Depois de fazer isso durante dez a quinze minutos, lave o rosto em água fria. O tratamento pode ser repetido de quatro a seis vezes por dia. A esponja não deve conter água

e, sim, ser bem espremida. Trata-se de um método que me tem sido muito útil, e recomendo-o sinceramente. Por ser natural, não pode causar dano algum. Mas, depois de ter aspirado o vapor quente, não se deve sair imediatamente e aspirar ar frio.

PERIGOS DAS SOLUÇÕES CASEIRAS

Todos conhecemos pelo menos uma receita de solução caseira para aliviar dor de garganta ou

voz, rouca. As soluções vão desde chá de alho, passando por gengibre moído, pastilhas várias, como balas de própolis, mel com limão, vinagre com sal, gema de ovo com conhaque, chá de romã ou de cravo, refrigerante com azeite e até gargarejos com uísque ou água quente com aspirina. Nenhuma dessas combinações apresenta ação direta sobre a laringe, pois os alimentos e líquidos ingeridos não passam pela árvore respiratória e sim pelo esôfago, que faz parte do sistema digestivo.

É importante ressaltar que não existe nenhum estudo controlado e científico da eficácia dessas substâncias sobre a voz, embora haja indícios de que o mel seja lubrificante das caixas de ressonância superiores e que o própolis ofereça ação antiinflamatória e lubrificante da boca e faringe. Se você gosta de experimentar as receitas caseiras, seja crítico e analise os efeitos produzidos em sua voz; porém, evite tais testes antes de situações de uso importante da voz, para não ter surpresas desagradáveis.

Muitas dessas substâncias podem até mesmo irritar a boca e a faringe, dificultando a emissão vocal! Crenças populares e soluções caseiras na prevenção e no tratamento das alterações vocais foram estudadas por VIOLA (1988), que concluiu que as principais mudanças observadas devem-se à crença no procedimento sugerido, aos rituais envolvidos em seu uso e ao desejo de o indivíduo controlar a própria saúde.

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XI – DESCUBRA SEU PERFIL DE COMPORTAMENTO VOCAL

O uso correto da voz, sem abusos freqüentes, é a melhor garantia para sua saúde vocal. As situações de abuso vocal ocorrem quando o uso da voz ultrapassa os limites saudáveis, mesmo com a utilização de uma boa técnica.

Quando um indivíduo realiza atos de abuso vocal, deve-se analisar os motivos envolvidos nesses comportamentos, o que geralmente encontra explicação na esfera psicológica. Assim, pessoas que falam forte demais (muito alto) podem estar necessitando demonstrar autoridade, comando ou simplesmente revelam uma tendência exibicionista. Já nos atos de mau uso vocal, geralmente a questão é mais fisiológica e o indivíduo usa a voz de forma errada por desconhecimento da técnica vocal correta, como, por exemplo, quando uma pessoa fala ou canta com muita tensão.

Apesar dessa diferenciação, os conceitos de abuso e mau uso vocal se entrelaçam e, muitas vezes, é impossível separar onde termina um e começa o outro. De qualquer forma, o fato importante é reconhecermos os comportamentos inadequados e modifica-los. Apresentamos, a seguir, uma lista de comportamentos que incluem situações de abuso e mau uso vocal e condições adversas à saúde vocal, como o tabagismo, o consumo de álcool e o refluxo gastresofágico.

Assinale os itens que representam respostas positivas para você e marque também a freqüência de ocorrência dessas situações. Marque zero, se o item é de rara ocorrência ou nenhuma; marque 1 pontos, se for de baixa freqüência; marque 2 pontos, se a ocorrência for elevada; e, finalmente, marque 3 pontos, se a ocorrência for constante. Some os pontos obtidos e busque seu tipo vocal na classificação apresentada: o comportado, o candidato a problemas vocais, o risco sério ou o campeão de abusos. Na dúvida, consulte um especialista!

LISTA DE SITUAÇÕES DE ABUSO E MAU USO VOCAL E

CONDIÇÕES ADVERSAS À SAÚDE VOCAL

_____ Fala em grande intensidade (voz forte) _____ Fala durante muito tempo _____ Fala agudo demais (muito fino) _____ Fala grave demais (muito grosso) _____ Fala sussurrando _____ Fala com os dentes travados _____ Fala com esforço _____ Fala sem respirar _____ Fala enquanto inspira o ar _____ Usa o ar até o final _____ Fala rápido demais _____ Fala junto com os outros _____ Fala durante muito tempo sem se hidratar _____ Fala sem descansar _____ Articula exageradamente as palavras _____ Fala muito ao telefone com o pescoço contraído _____ Fala muito ao ar livre _____ Fala muito no carro, metrô ou ônibus. _____ Pigarreia constantemente _____ Tosse demais, principalmente para limpar a garganta. _____ Ri demais _____ Chora demais _____ Grita demais _____ Trabalha em ambiente ruidoso _____ Vive em ambiente familiar ruidoso _____ Vive com pessoas com problema de audição _____ Mantém rádio, som ou TV ligados enquanto fala muito.

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_____ Imita vozes dos outros _____ Imita vários sons _____ Usa a voz em posturas corporais inadequadas _____ Pratica esportes que usam a voz _____ Freqüenta competições esportivas _____ Participa de grupos religiosos com grande uso de voz _____ Tem alergias _____ Usa a voz normalmente quando resfriado _____ Toma pouca água _____ Permanece em ambiente empoeirado, com mofo ou pouca ventilação. _____ Expõe-se a mudanças bruscas de temperatura _____ Toma café ou chá em excesso _____ Come alimentos achocolatados em excesso _____ Fuma _____ Vive em ambiente de fumantes _____ Toma bebidas alcoólicas destiladas _____ Usa drogas _____ Faz automedicação quando tem problemas de voz _____ Canta demais _____ Canta fora de sua extensão vocal _____ Canta em várias vozes _____ Usa roupas apertadas no pescoço, tórax ou cintura. _____ Apresenta azia _____ Apresenta má digestão _____ Tem refluxo gastresofágico _____Tem vida social intensa _____ Tem estresse

(adaptado de: VILLELA & BEHLAU, 1998). CLASSIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO VOCAL Tipo 1. Até 15 pontos – O comportado vocal

Você não tem propensão para desenvolver um problema de voz. Parabéns, pois você respeita os

limites do organismo! Siga assim que estará contribuindo para a sua longevidade vocal. Contudo, se apesar dessa classificação você estiver apresentando um problema de voz, tal como voz rouca ou esforço para falar, consulte rapidamente um especialista, pois provavelmente trata-se de um quadro orgânico, ou seja, independente do comportamento vocal, e necessita de uma avaliação detalhada. Tipo 2. De 15 a 30 pontos – O candidato a problemas de voz

Você tem tendência para desenvolver um problema de voz e, talvez, já apresente alguns sinais e sintomas de alteração vocal – a chamada disfonia. Você está em uma situação onde um acontecimento estressante adicional ou um simples aumento do uso da voz, na atividade profissional, pode levá-lo a um sério risco vocal. Você precisa ser avaliado por um especialista! Procure verificar em seu ambiente de trabalho, familiar e social quais as modificações que podem ser introduzidas para reunir melhores condições de comunicação. Conscientize-se da importância de sua voz e reduza a prática dos comportamentos negativos. Tipo 3. De 31 a 50 pontos – O risco sério

Você tem se arriscado demais e pode vir a perder um dos maiores bens que possui – sua voz!

Talvez você já apresente uma disfonia e já tenha recorrido a um especialista. Siga corretamente a orientação e o tratamento indicados. Procure refletir sobre o modo com que você se comunica com as pessoas, em diferentes situações, caracterizando os principais focos de tensão e estresse de seu dia-a-dia,

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procurando reunir condições para reverter esse quadro. Pense o quanto sua vida irá se tornar difícil se você tiver que viver com uma limitação vocal definitiva. Reaja! Tipo 4. Acima de 51 pontos – O campeão de abusos vocais

De duas uma: ou você sofre de um problema de voz crônico ou apresenta uma resistência vocal

excepcional, acima do normal! Se você tem um problema de voz, sabe o quanto esta situação interfere negativamente em sua vida, e como este fato representa uma sobrecarga adicional em casa e no trabalho. Conscientize-se da necessidade imediata de desenvolver comportamentos vocais adequados e saudáveis. Melhore seu ambiente de comunicação! Se você ainda não consultou um especialista, é melhor não adiar. Busque orientação! Por outro lado, se apesar dessa quantidade de desvios no uso da voz ela ainda se apresenta saudável, você pertence a esse raro tipo de indivíduo com resistência vocal a toda prova. Contudo, cuide-se, pois a voz não é eterna e os limites do organismo mudam constantemente com a idade e com as condições gerais de saúde. Além disse, seu comportamento vocal pode estar sendo invasivo para seus interlocutores, representando também um modelo vocal inadequado, principalmente para as crianças. Que tal mudar?

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XII – PROGRAMA DE AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAL

Mais denominado como PAD, o qual visa a saúde vocal do profissional da voz, em especial o cantor, e indiretamente oferece melhores condições para uma maior longevidade da voz.

Do ponto de vista técnico-musical, o PAD tem melhorado o desempenho dos corais nos aspectos: percepção auditiva, consciência vocal, afinação, projeção e homogeneidade do som.

Do ponto de vista fonoaudiológico, tem resultados na melhora dos parâmetros vocais dos participantes, especialmente nos disfônicos, quanto ao grau de severidade das alterações encontradas. 01 – AQUECIMENTO VOCAL

Objetivos:

Possibilitar adequada coaptação da mucosa, para qualidade vocal eficiente, com mais harmônicos.

Diminuir o fluxo transglótico por meio de uma inspiração rápida e curta e uma expiração controlada, produzindo uma voz com menor quantidade de ar não-modulada.

Permitir às pregas vocais maior flexibilidade, alongando e encurtando durante as variações de freqüências.

Deixar a mucosa mais solta, proporcionando maior habilidade ondulatória. Dar maior intensidade e projeção à voz. Proporcionar uma melhor articulação dos sons. Reunir melhores condições gerais de produção vocal para prevenir a disfonia e aumentar a

longevidade da voz. Programa mínimo de aquecimento:

É importante quebrar padrões de tensão corporal, exercícios corporais podem ser realizados

concomitantemente com exercícios vocais:

Ficar em pé com os pés separados, oscilar levemente o corpo e perceber o deslocamento do peso.

Alongamentos (estender braços para cima segurando-os por um tempo e soltando-os bruscamente em seguida; inclinar o tronco para frente, deixando a cabeça e os braços pendurados, emitindo um som nasal, subindo aos poucos, levantando a cabeça por último; contrair os ombros elevando-os por um tempo, para em seguida relaxar, soltando-os rapidamente).

Rotação de ombros, juntos e separadamente. Rotação de cabeça Massagem facial.

Os exercícios vocais podem ser realizados isolados ou conjuntamente:

Sons nasais – “m”, “n” – associados à rotação de língua no vestíbulo, mastigação sonorizada, estalo de língua, mastigação “selvagem”, som de sirene.

Sons vibrantes – vibração de lábios e língua. Sons hiperagudos –0 produção vocal no registro elevado de falsete sopro e “mini-mini-

mini...”. Vocalizações com seqüência de vogais – i, ê, é, a, ô, ó, u. Exercícios articulatórios – trava-línguas. Jogos musicais – dramatização de histórias que explorem a respiração em situações diversas;

sonorização de histórias.

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Para trabalhar-se a extensão vocal, deve-se associar variações de freqüência aos sons nasais e vibrantes:

Sons de freqüências médias para agudas e depois para as graves. Sons de freqüências graves para as agudas. Sons de freqüências agudas para as graves. Sons ondulatórios em freqüências agudas ou graves. Glissandos ascendentes em forma espiral.

O controle de intensidade deve ser trabalhado em exercícios com sons nasais, vibrantes e

vocalizações, por meio de variações tipo:

Aumentar lentamente a intensidade. Diminuir lentamente a intensidade. Iniciar com intensidade fraca, aumentá-la e diminuí-la sem variar a freqüência. O aquecimento vocal tem duração média de 15 minutos.

02 – DESAQUECIMENTO VOCAL

Objetivos:

Retornar ao ajuste fono-respiratório da voz coloquial, evitando o abuso decorrente da utilização prolongada dos ajustes do canto ou da voz profissional em geral.

Programa mínimo de desaquecimento:

Os exercícios podem ou não estar associados aos corporais já citados:

Técnica do bocejo. Rotação de cabeça com vogais escuras – a, o, u. Sons nasais e/ou sons vibrantes associados a Glissandos descendentes. Voz salmodiada com estrofes de trava-línguas, frases ou seqüências automáticas. Fala espontânea com depoimento dos participantes para a discriminação dos dois ajustes

fonatórios – canto e fala. O desaquecimento vocal tem duração média de 5 minutos.

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Bibliografia

ÁLVARES, Marília; ZORZETTI, Hugo. Voz e Comunicação Oral (apostila)

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PARTE II

MÚSICAS