canto da iracema

16
a cultura cearense pertinho de você! Nº 01 > JANEIRO 2011 UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURAL CANTO DA IRACEMA > ANO 12 > Nº 63 > FEVEREIRO 2011

Upload: joanice-sampaio

Post on 30-Mar-2016

223 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Revista cultural focando a cultura do Ceará.Nesta edição: As águas vão rolar, Audifax Rios; matéria sobre o Ponto de Cultura Casa AME, Joanice Sampaio; O último pau de arara, Fernando Neri; Formidável Batérico, Augusto Moita; Coletivo, Talles Lucena; Beira Mar, Nilze Costa, Página 13,Calé Alencar; O tesouro, Henrique Beltrão e Infogravura de Marildo Montenegro.

TRANSCRIPT

Page 1: Canto da Iracema

a cultura cearense pertinho de você!

Nº 01 > JANEIRO 2011

UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURALCANTO DA IRACEMA > ANO 12 > Nº 63 > FEVEREIRO 2011

Page 2: Canto da Iracema

Locais onde você encontra o canto

ED

ITO

RIA

L

> as matérias publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores! // TIR

AGEM

5 MI

L EXE

MPLA

RES

> q u e m s o m o s !

coordenação geral zeno falcão • coordenador adjunto pingo de fortaleza • editora e jornalista resp. joanice sampaio - jp 2492 - ce • produtor executivo arnóbio santiago • assistente de produção tieta pontes • revisão rodrigo de oliveira - tembiu.pro.br • colaborado-res audifax rios / nilze costa e silva / augusto moita / henrique beltrão / calé alencar / talles lucena / fernando neri / marildo montenegro / kazane • conselho editorial augusto moita / audifax rios / calé alencar / erivaldo casimiro • diagramação artzen • contatos > canto da iracema rua joaquim magalhães 331 / cep 60040-160 / centro / fortaleza / ceará / (85) 3032.0941 / [email protected] > solar av. da universidade 2333 / benfica / fortaleza / ceará (85) 3226.1189 / [email protected]

CENTRO DRAGÃO DO MAR DE ARTE E CULTURA / Praia de IracemaBIBLIOTECA PÚBLICA MENEZES PIMENTEL / Praia de Iracema

TEATRO DA PRAIA / Praia de IracemaLA HABANERA CHARUTARIA / Praia de Iracema

BAR DO MINCHARIA / Praia de IracemaLIVRARIA LIVRO TÉCNICO / Dragão do Mar - Praia de Iracema

AMICI´S RESTAURANTE / Dragão do Mar - Praia de IracemaCLUBE DO BODE / Monsehor Tabosa - Praia de Iracema

ESCOLA DE MÚSICA ALBERTO NEPONUCENO / BenficaRÁDIO UNIVERSITÁRIA FM / Benfica

CASA AMARELA - EUSÉLIO OLIVEIRA / BenficaSOLAR / Ass.Cultural Solidariedade e Arte / Benfica

MUSEU DO CEARÁ / CentroBNB CENTRO CULTURAL / Centro

SECRETARIA DE CULTURA DE FORTALEZA / CentroPREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA / Centro

CONFRARIA DO CHAPÉU DE COURO / CentroTHEATRO JOSÉ DE ALENCAR / CentroPRAÇA DO PASSEIO PÚBLICO / Centro

ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ / AldeotaBNB CLUBE / Aldeota

MUSEU DA IMAGEM E DO SOM / AldeotaMERCADO DOS PINHÕES / Aldeota

GOVERNO DO ESTADO - PALÁCIO IRACEMA / PapicúCÂMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA / Seis Bocas

SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO / Cambeba

A Revista CantodaIracema é feita com sua colaboração.Dê sua sugestão, critique, opine, xingue, faça a revista conosco.

[email protected]

Ano novo é tempo de mudanças. E assim como você, leitor, com o Canto da Iracema não foi diferente: perceberá ao percorrer nossas páginas que a máxima prevaleceu.

A revista mudou de nome? Podemos dizer que não. A partir desta edição, durante 12 meses, a revista passa a ser nominada como Canto da Iracema-Solar, fruto da parceria entre o Instituto Sociocultural Canto da Iracema e a Associação Cultural Solidariedade e Arte (So-lar), contemplada com o Prêmio Edigar de Alencar de Publicação de Revista Literária/Cultural, do Edital Prêmio Literário para Autor (a) Cearense, da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará 2010.

Ainda a respeito desta parceria, as respectivas instituições fortal-ecem suas ações nesta cooperação mútua, e agrega valores aos tra-balhos que ambas desempenham, fortalecendo nossa cena cultural.

O Canto da Iracema está presente na vida cultural de Fortaleza desde 1999, portanto, chega em 2011 para completar 12 anos de trabalho. Trabalho prazeroso e laureado de êxitos por documentar a arte e a cultura do Ceará. E para dinamizarmos nossa missão de bem informar, foi criado o Conselho Editorial, no qual as edições serão avaliadas, sugeridas matérias, discutirá rumos para a cada mês, fazermos a revista cada vez melhor.

As novidades não param por aqui. Novos colaboradores e outros que estavam distantes retornam, e chegam para enriquecer nossa linha editorial. Contamos com a verve poética e literária de Nilze Costa e Silva e Henrique Beltrão. E como cearenses que somos, a nossa veia moleque tem seu lugar nas gaiatices, contos e causos de Augusto Moita, Fernando Neri e Kazane junto ao nosso companheiro sempre presente Audifax Rios. Calé Alencar nos traz um bom dedo de prosa e documenta as pérolas da Fulô do Lácio. Imperdível. O cineasta “subversivo”, Robério Araújo, nos conduz ao universo do cinema ideológico de Costa-Gravas. O videomaker e artista visual, Marildo Montenegro mostra sua arte em infogravura. Também vamos percorrer e explicitar em cada edição a experiência exitosa de um ponto de cultura do Ceará, mostrando suas ações e conquistas. Nesta edição, adentramos o ponto Casa AME (Arte Música e Espetáculo), no bairro Bom Jardim.

E estreitando os laços, promovendo ainda mais o diálogo, saber o que nossos leitores desejam, pensam, esperam... Enfim, as suas manifestações, reservamos um lugar especial: o Espaço do Leitor. Nele publicaremos suas críticas, opiniões, sugestões e toda con-tribuição positiva para continuarmos a trazer a cultura cearense para perto de vocês!

ca

pa f

oto >

kelly

ar

jo

Page 3: Canto da Iracema
Page 4: Canto da Iracema

NEM BEM O MÊS DE JANEIRO DECRETA SEU FINAL, OS AÇUDES DO INTERIOR JÁ ESTÃO NA TAMPA, EM VIAS DE SAN-GRAR, E OS ESGOTOS DA CAPITAL ESTOURAM. POR LÁ OS PEIXES PRATEIAM AO LUAR EM ALEGRES CAMBALHOTAS; POR AQUI, DETRITOS, SUJEIRA E A OBSTRUÇÃO DO TRÁFEGO DE VEÍCULOS QUE JÁ NÃO É LÁ ESSAS COISAS MESMO SEM AS ABUNDANTES CHUVAS. E SE NA ZONA URBANA, QUE SEMPRE É BEM MELHOR TRATADA QUE A PERIFERIA, O PANORAMA É ESTE, IMAGINE NAS ÁREAS DE RISCO. SOME-SE A ISTO O SURTO DE EPIDEMIAS QUE SEMPRE ACOMPA-NHA AS CALAMIDADES. O CERTO É QUE O CARNAVAL ESTÁ CHEGANDO, OS BLOCOS JÁ SE ASSANHAM, VÃO EMBARCAR NOUTRA, AFOGAR MÁGOAS E PROBLEMAS EM MENOS DESASTROSAS INUNDAÇÕES.

04

> [email protected] ÁGuAs VÃo RoLARAs ÁGuAs VÃo RoLAR

Page 5: Canto da Iracema

05

PRÉVIA FUZARCA – A cada ano fica mais patente: a folia momina de Fortaleza é mesmo o pré-carnaval. Uma charanga aqui, alguns sujos ali, mistura-se tudo, põe marchinha no caldeirão, fantasia-se entrudos e eis a receita de Momo. Blocos espalham-se pelos paralelepípedos da minha cidade com batismos irreverentes e criativos. Reina paz em toda essa quadra e o investimento é ínfimo. A Praça do Ferreira, como nos velhos carnavais, abriga o “Concentra mas não sai” que nasceu na Cidade 2000 e já trocou passos no Mercado dos Pinhões. O aterrinho da Praia de Iracema será o destino derradeiro do cortejo de pelo menos quinze blocos. E o restante balança o esqueleto nos alhures desta Fortalezamada. Em frente ao restaurante Flórida e a Livro Técnico, sedes a céu aberto do Clube do Bode, anima o “Sou brega, mas quem não é?”. E por aí vai: Unidos da Cachorra, Mió Kaí, Sanatório Geral, Mundiça Alegre, Luxo da Aldeia, Amantes da Iracema, Cheiro, Bloco da Baqueta e muito mais. E as águas vão rolar. Profetas virtuais acenam para um carnaval debaixo de chuva. Mas no tríduo momino, esquente não, você verá o Maracatu com toda o seu esplendor desfilando sua beleza afro-brasileira ante as arquibancadas da Domingos Olímpio. Quem não tem sambódromo caça com galinheiro.

LUZES NA RIBALTA – Ricardo Guilherme levanta silenciosa campanha, lá do seu canto de jornal, para uma merecida homenagem. Quer dar o nome do teatrólogo José Maria Bezerra de Paiva ao teatro do Dragão do Mar. Nada mais justo. Seus ex-alunos Emiliano Queiroz, Antonieta Noronha e Gracinha Soares já são patronos de casas de espetáculos nesta metrópole, por que não ele? E joga biografia para justificar o sonho. B. De Paiva nasce no teatro-escola de Nadir Papi Saboya e Maristela Gentil (1951); estuda com o lendário Waldemar Garcia; funda, com Haroldo Serra e Marcus Miranda, o Teatro Experimental de Arte (1952); Cria, em 1960, o Curso de Arte Dramática da UFC e a Comédia Cearense; no Rio, dirige o Conservatório de Teatro da Universidade (FEFIERJ) e ajuda a criar outro (UNIRIO); em Brasília conduz o Teatro Dulcina, ensina na UnB e é Secretário Adjunto de Cultura. Ator, escritor, diretor. Faz teatro, televisão e cinema. Não há currículo mais convincente para corroborar este pedido do Ricardo. Pouca gente sabe, mas o B. De Paiva foi quem inventou a Secretaria Estadual de Cultura, estruturando-a para passar às mãos de Raimundo Girão. Em tempo: O Bê é irmão do Carlos Paiva, também teatrólogo.

COPA SÓ NO BARALHO – Fortaleza corre o risco de perder a copa. Ou melhor, a cidade, pelo andar da carruagem, pode não sediar os previstos jogos da Copa do Mundo. Tudo por conta da morosidade das obras prometidas como contrapartida. Já foi até adiada a entrega da reforma do Castelão para 2013 quando o compromisso era para o ano anterior. E o restante do baralho, está sendo traçado? Hotéis, avenidas de acesso, viadutos, metrô, áreas de lazer, enfim, toda uma estrutura para um evento de tal envergadura. Lembramos que na copa de cinquenta houve jogos em Recife só pra atiçar a velha rivalidade. Será que vamos, de novo, ficar na saudade? Se tal acontecer o consolo já está escrito: Também, com esses times pernas-de-pau do Terceiro Mundo melhor é a gente ver Tiradentes x Icasa. O alferes lutando contra as forças milagrosas do Meu Padim. A farda contra a batina, mais uma vez. Mas sejamos otimistas, tudo vai dar certo.

SEU ZAIRTON – Os balneários populares que abundavam na Praia de Iracema duraram até meados da década de sessenta. Eram casas de famílias ou mercearias que alugavam calções de banho, guardavam pertences e ofereciam banho de água doce para os marmanjos banhistas, a troco de alguns mil réis. O mais famoso deles chamava-se Gruta da Praia e ficava na Almirante Barroso (hoje Historiador Raimundo Girão) e atravessava o quarteirão para sair na Rua dos Tabajaras. O comércio do Zairton era um verdadeiro bric-a-brac e aos domingos vendia mais cachaça e sabonete que outra mercadoria. Junto ao tanque havia uma barra de sabão coletiva, como também uma toalha, igualmente comunitária. Tanto asseio não evitava que os chatos passeassem pelos suportes dos indefectíveis sungas de nylon que iam até o joelho. Para combinar com os pudicos maiôs dos brotinhos em flor. Certa vez, traficantes de maconha em fuga entraram pela porta da frente da Gruta, saíram pela traseira, e lá esqueceram um pacote incriminador. Sobrou pro Seu Zairton. Nem adiantou a prefeita Maria Luiza ser solidária e promover ato público. O honesto cidadão, a partir daí, recolheu-se no seu tugúrio, trancafiou as portas e passou a despachar nossa cachaça por uma minúscula janelinha que mal comportava um copo de fundo grosso. E neste exílio voluntário varou, com a mulher, anos a fio. Mesmo assim sabia de tudo o que se passava na taba de Iracema e contava os fatos com clareza de testemunha ocular. Seu Zairton, barbas longas, olhar distante, parecia um profeta saído das figuras da História Sagrada.

Page 6: Canto da Iracema

06

de Ponto a Ponto

Ponto de Cultura promove o protagonismo e o efeito multiplicador no Grande Bom Jardim

Arte para promover o dom da vida>

Formado pelos bairros Siqueira, Canindez-inho, Granja Portugal, Granja Lisboa, Parque Santo Amaro e Bom Jardim, além de mais de 20 comunidades, o Grande Bom Jardim, geralmente povoa os noticiários pela incidência da violência. A localidade também carrega outras vulnerabilidades, como o desemprego, a falta de saneamento básico, crianças nas ruas.

Na contramão desta situação, iniciativas de in-stituições na região, como o Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim, que através da abordagem sistêmica com a prática da terapia comunitária e da arte-terapia, promove ações para resgatar a autoestima e mostrar aos participantes de que é possível criar novos caminhos.

Dentro desta perspectiva, uma das ações do Movimento, é a Casa AME. A Casa surgiu para abrigar as oficinas e cursos oferecidos aos par-ticipantes das atividades terapêuticas, como os de artesanato e teatro. Aliás, foi com a arte cênica que

de fato a Casa foi gerada. Em 1996, um grupo de mulheres atendidas na terapia comuni-tária, criou o grupo de teatro As Marias, então coordenado pelo teatrólogo Hélio Júnior.

A iniciativa rendeu fru-tos e hoje o grupo em sua

terceira geração – nomeado grupo Semearte de Teatro de Rua – é composto também por filhos e netos daquelas Marias, além de uma pioneira, a dona Maria da Silva Abreu, que atesta: “todas nós passamos por momentos difíceis e por isso estáva-mos na terapia comunitária. Formamos o grupo e foi muito bom. Na primeira peça eu fazia o papel

de um homem muito agressivo, cachaceiro. Era divertido, as pessoas riam muito. Na minha vida o teatro significou muita coisa. Hoje sou muito mel-hor”. Hoje, Maria Abreu, também facilitadora da oficina de fuxico (técnica de artesanato que utiliza pequenos cortes de tecido em forma de círculo para produzir peças ornamentais e roupas), é respon-sável pelos serviços gerais da Casa.

Com o fortalecimento das atividades, passaram a concorrer a editais e concursos. Em 2008, pas-sou a ser Ponto de Cultura quando a instituição foi contemplada no Edital Mais Cultura do Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult). “O ponto veio para potencializar as ações da Casa”, afirma Márcio Firmiano, coordenador do Ponto de Cul-tura, no qual as atividades são gratuitas e atende neste tempo de atuação, 250 pessoas diretamente e duas mil indiretamente.

No Ponto de Cultura Casa AME (Arte, Música e Espetáculo) além do teatro, bordado, pintura em tela e tecidos, há oficinas e cursos de construção de instrumentos de percussão, grupo de tambores e de teatro de rua, canto coral, violão, bateria, piano, teclado, confecção de cartão orgânico e farmácia viva com o cultivo de plantas medicinais. E ainda, o Ponto de Leitura.

Segundo o coordenador, as duas linguagens de maior procura são artesanato e música. Neste campo, o piano clássico representa uma marca pioneira.

“A gente trouxe o piano clássico para dentro do Bom Jardim. É a primeira experiência com o piano clássico dentro do Bom Jardim, então tem uma procura muito grande. É interessante que a gente tem desde criança até idoso fazendo este curso”, declara Márcio Firmiano.,

Ainda na música, as oficinas de percussão têm cunho profissionalizante, cuja proposta é a forma-ção de multiplicadores. Nelas, os alunos aprendem

Page 7: Canto da Iracema

07

SAIBA MAIS

EstE ano, o Ponto dE Cultura

dá ContinuidadE às atividadEs E aCrEsCEnta novas açõEs, Como o

audiovisual; a BodEga das artEs, gruPo Produtivo dE gEração dE rEnda Para os PartiCiPantEs do

Ponto, ondE são ExPostos matEriais fEitos nas ofiCinas ou Em Casa.

ganhador do viii Edital Prêmio CEará dE CinEma E vídEo – 2010da Cultura do Estado do CEará

(sECult) Com aProvação do ProjEto CinE CaPs Comunitário, o

CinECluBismo sErá traBalhado

junto aos PaCiEntEs assistidos

PElo movimEnto Em ParCEria Com

o CaPs (CEntro dE atEnção PsiCossoCial) E tamBém sErá aBErto

à ComunidadE.

outra iniCiativa sErá junto às

EsColas da ComunidadE divulgando

o traBalho do Ponto dE Cultura E lEvando artE Para EstEs

EquiPamEntos EduCaCionais.

> Joanice Sampaio E-mail: [email protected]

Blog: papocult3.blogspot.com

CASA MAIS ABERTA

Contato: CaSa aME (artE, MúSiCa E ESpEtáCulo)rua Dr. FErnanDo auguSto, 980 - parquE Santo aMaro

(85) 3497.2176 - [email protected]

> Ponto de Cultura é a ação prioritária do Programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura (MinC ). Nele, iniciativas da sociedade civil firmam convênio de colaboração com o Governo e tornam-se Ponto de Cultura. Sua responsabilidade é articular e impulsionar as ações culturais que já existem nas comunidades. Atualmente, existem mais de 800 Pontos de Cultura espalhados pelo país e, diante do desenvolvimento do Programa, o MinC decidiu criar mecanismos de articu-lação entre os diversos Pontos, as Redes de Pontos de Cultura e os Pontões de Cultura.

a prática musical e a construção de instrumentos para depois tornarem-se facilitadores assim como nas oficinas de teatro e artesanato.

O projeto estende sua atuação para a aldeia dos índios Pitaguary, em Maracanaú. Lá, os alunos aprendem a confeccionar instrumentos e tocam músicas tradicionais da cultura da tribo.

Na promoção de cultura além da Casa, realizam o Cortejo das Artes, espetáculos de música e teatro levados à comunidade. “Pra nós o importante é falar de vida, falar de arte, falar de cultura. A gente está levando para as praças arte e cultura na perspectiva da promoção da vida e da cidadania. O Ponto de Cultura influencia dessa forma, procurando falar do belo, da arte”, define Firmiano a respeito da relação entre o público e a Casa AME.

Page 8: Canto da Iracema

08

Não que fosse agradável, que merecesse elogios, que desse prazer. Pelo contrário. Mas esse fim assim agora de repente sem muitas explicações parece menos um alívio e mais uma mutilação. Bateu a sensação de terem arrancado de nós algo que já fazia parte de nosso corpo, de nossa identidade. Uma certa nostalgia, uma saudade um tanto quanto sadomasoquista que vai se eternizar em mil estórias, verdadeiras ou simplesmente inventadas pela criatividade moleque do cearense em seu jeito original de driblar os desencantos, as desgraças, as tragédias do seu cotidiano.

Nunca soube exatamente, se é que um dia quis saber, o que significava aquele nome. Mas bastava estar nele ou simplesmente a sua visão em certos momentos para entender perfeitamente o signifi-cado daquela estranha e sonora palavra tetrassil-ábica. Era mais que uma palavra, era um símbolo, era um signo, era tudo que a semiótica pudesse revelar de um vocábulo escrito ou pronunciado. Virou um ícone.

Contraditava-se ali cotidianamente, por exemplo, o que aprendêramos nos bancos escolares sobre a impenetrabilidade da matéria: era possível sim, dois ou mais corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço, mesmo quando não havia mais espaço.

Que melhor laboratório para uma aula prática sobre as propriedades organolépticas dos ma-teriais? Todos os cheiros, cores, texturas, sons, conviviam, ainda que a contragosto, naquela mistura heterogênea de hálitos, suores, roupas, acessórios, conversas havia para todos os gostos!

oúltimo paudeararaPor: Fernando Neri

Compositor

A íntima relação entre temperatura, pressão e vol-ume era sentida na pele principalmente quando aumentava o número de “moléculas” no recipiente.

O conceito de entropia tinha naquele espaço itinerante o seu anti-modelo macroscópico mais didático: um total estado de desorganização que acabava em baixa entropia pela exiguidade de es-paço livre e excesso de matéria. Não se era mais o mesmo depois de experimentar tamanha carga sinestésica.

Às primeiras horas da manhã ou da noite chamaria àquilo um psiquiatra de sanatório geral. Sim, era uma loucura mesmo, mas por incrível que pareça sair ou ser expulso dele (o que era mais comum) nos dava uma sensação de bem-estar que nos acompanhava pelo resto do dia.

Minha última viagem nesse dantesco barco foi imaginando como seria fazer de novo o percurso matinal entre o Antônio Bezerra e a Cidade dos Funcionários sem aquele bafo de cachaça do boê-mio que volta para casa, o cheiro ainda fresco do perfume Avon da jovem caixa de supermercado, o papo dos amigos sobre as aventuras amorosas nos motéis da Barra, o estudante da UECE lendo Bordieu para a prova de sociologia ... o ....a .... enfim ... eu mesmo, um pouco de tudo isso.

Em uma Fortaleza que renega e apaga o seu pas-sado com sua avidez por modismos e novidades e com um futuro que a Deus pertence; parece que mais um pedaço da cidade se foi!

Agora é apenas uma fotografia na memória e ... vai entender, dói um pouco em nós. Paranjana ... nunca mais!!!

> KAZANE

Page 9: Canto da Iracema

Formidável Batérico

09

Certa feita estávamos a passear, eu e meu amigo João Fortes, pelo que outrora foi o centro residencial da nossa Loura desonrada pelo sol, quando nos deparamos com a casa onde morou o Dr. Batérico. Ali, na Meton de Alencar, entre Senador Pompeu e Barão do Rio Branco. Tratava-se o ilustre artífice, de homem extremamente inteligente, memória formidavelmente privilegiada. Além de exímio técnico em velocímetro, profissão que lhe auto-concedeu o título doutoral, con-sertava, afinava e tocava piano. Tinha, na fachada da primeira sala de sua residência, a orgulhosa placa branca com letras azuis, (como havia nas dos médicos, advogados, dentistas), dizendo: “Dr. Batérico – Cirurgião Mecânico”.

Como nada no mundo é perfeito, Dr. Batérico tinha um pequeno problema: contava umas suas façanhas que eram um pouco arredias da verdade. Mas, o mais interessante é que sua credibilidade profissional jamais era abalada. Foi no começo da década de 70, a camisa da moda era a legítima “volta ao mundo” e a camisinha se chamava “Camisa de Vênus”, e funcionava mais como fetiche erótico que como preservativo venéreo. A chibata corria solta nesse Brasilzão de meu Deus, qualquer deslize era motivo pra ser conduzido ao quartel mais próximo. Pois bem, surgiu um boato na cidade que o Dr. Batérico teria consertado uma nave espacial caída em terras alencarinas. Como todo mundo queria saber dessa nova aventura bateriquiana, logo uma emissora de rádio local convidou-o a uma entrevista para esclarecer o assunto.

- Dr. Batérico, é verdade que o senhor consertou uma nave espacial?– indaga- lhe o incrédulo entrevistador.- Lógico que sim.- O senhor poderia nos relatar o que realmente ocorreu?- Pois não! Eu estava dormindo na minha residência, quando por volta das 2 horas da madrugada, pararam quatro jipes da Base Aérea cheio de soldados armados de metralhadoras comandados por um capitão. Quase botaram a porta abaixo. “Que foi que houve? O senhor. é o Dr. Batérico? Ao seu dispor! Nos acompanhe. Aguarde um momento que eu vou me arrumar. Não vai arrumar nada, vai agora”. E me pegaram à força, jogaram dentro do jipe, tocaram pra base.

Chegando lá o comandante: “É o Dr. Batérico? Sou, coronel, mas eu não fiz nada, é que o povo aumenta muito as coisas que eu digo. Não se trata disso, o negócio é o seguinte: tem um disco voador encalhado lá naPraia do Futuro, com um defeito que os nossos melhores mecânicos não conseguiram solucionar. O pessoal da nave é gente boa, diz que não quer fazer mal a ninguém, mas mesmo assim, você vai ter que tirar aquele pessoal de lá. Conserte a nave pra eles saírem daqui o mais rápido possível, pois, se amanhece o dia com aquele troço ali, vai ser um Deus nos acuda. A imprensa do mundo todo, um burburinho dos infernos, os comunistas se amigando com os caras, eu acabo é perdendo a minha promoção pra brigadeiro”.

Quando chegamos à Praia do Futuro, constatei visualmente, pelo bom

Formidável Batérico

estado de conservação da nave, não seria um problema muito sério.- Doutor, como era a nave? Interrompe o deslumbrado radialista.- Ora rapaz, como qualquer outra: em forma de disco, prateada, cheia de luzes coloridas por baixo, as janelinhas todas alinhadas...- E qual era o defeito?- Depois que entrei nela e examinei os instrumentos todos, vi que, realmente, o problema era no velocímetro.- E como era o velocímetro dela?- Igual a qualquer um, só que marcava em milhões de quilômetros por hora: 10 milhões de quilômetros, 20 milhões, 30 e assim vai até escangotar do outro lado.

- Desculpe-me, doutor, pode prosseguir o relato.- Pois bem. Perguntei pela mala de ferramentas (rapaz, as chavezinhas tudo bem novinhas) e passei a exercer o meu ofício. Quando terminei, disse: “pode dar na chave e se mandar!”. Nem eles nem o pessoal da base acreditaram que eu tinha feito um serviço tão rápido. E exigiram que eu fosse com eles fazer um teste.

Aceleramos a “bicha” e fomos a Vênus em 3 minutos.- Dr. Batérico, o senhor foi a Vênus?- Fui e voltei, logicamente.- Diga-nos, doutor, não é querendo duvidar, nem pedir provas, maso senhor não se lembrou de trazer nada de lá?- Como não? Trouxe.- O quê, doutor?

O agora intergalático Batérico leva a mão à gola da “volta ao mundo” que vestia e conclui com imponência.- Essa camisa, a autêntica Camisa de Vênus!

Por: Augusto Moita

> KAZANE

Cois

as

que

Con

to...

>

Page 10: Canto da Iracema

10

Participar de um coletivo é ser hype.O que 90% da galera não entende, ou não

quer entender, ou, não faz questão nenhuma de entender, é que atividades coletivas, sejam elas em música ou quaisquer outros seguimentos, são tão velhas quanto a posição de cagar, ou o movimento de andar pra frente.

Mas concentrando apenas na música: o que o movimento punk, ou os headbangers, faziam nos anos 80 por todo o mundo senão exercícios de co-letividade? Alguns o fazem ainda muito bem hoje.

É importante que tenhamos em mente que muito do que consumimos e que sobreviveu ao tempo em música são frutos de atividades coletivas.

Aqui no Brasil, a celebração da coletividade em música veio como uma bomba de novidades por cima da cabeça da molecada enquanto os mesmos trocavam e-mails ou mensagens rápidas no msn.

De uma hora pra outra, qualquer um deveria fazer parte de um coletivo. E a coisa foi crescendo e se pasteurizando, como uma legítima onda pop.

O que essas pessoas têm que entender é que o coletivo, como verbete bruto, só se realiza em plenitude, assim como se justifica, a partir da fundamentação do valor individual.

O “do it yourself” dos punks é a maior pro-va disso. Faça VOCÊ mesmo, eu farei também, deixemos, pois, as linhas que conduzem nossas ações individuais se cruzarem e nessa intersecção teremos nossas ações e interesses em comum, nesse momento celebraremos a força da união de nossas atividades, em COLETIVIDADE.

Digo isso por que acho que as pessoas, mesmo dentro do processo coletivo, têm que ser únicas, tem que respeitar a sua própria individualidade.

Muito se fala hoje em dia sobre coletividade, e todo mundo de certa maneira, tratando-sede música independente, quer ser ou participar de uma atividade coletiva.

O leque de opções é bem maior, as possibilidades intelectuais e de ação também aumentam.

Ser ou não ser coletivo?É o que menos importa na verdade; talvez

você já o seja. Talvez você só esteja esperando o momento de intersecção com outras linhas (pes-soas) por ae.

Reforço aqui a necessidade de se entender: coletividade deve ser a realização em comum de potencialidades individuais. Qualquer coisa fora disso é criação de gado.

Se não pudermos exercer individualidades dentro do processo coletivo, o mesmo não tem fundamento, é o que penso. E não confundam exercícios de coletividade com a institucionalização do mesmo.

O PANELA DISCOS é uma atividade cole-tiva, e se caminha mais ou menos rápido que o necessário é por conta disso. As intersecções nossas talvez sejam mais demoradas. Não tecemos teias de sustentação da idéia de coletividade por qualquer outro motivo. O “do it yourself” tem que reinar. Seja no Rota 66, ou em Maranguape, as intersecções foram muito fortes e por isso estamos fazendo ambas as programações.

Obrigado à ACR, parceiro de sempre, e tam-bém à Prefeitura de Maranguape, via secretaria de cultura de lá. Obrigado a você também que lê, se identifica dentro do texto e que ajudará, dentro da sua possibilidade, e da melhor maneira possível, nossas atividades a atingirem mais e mais pessoas.

Descubra o que os bichosescrotos estão fazendo na cidade:

Por: Talles Lucena - Produtor Musical

[email protected]

COLETIVO: SER,NÃO SER, OU JÁ SOU?

Para Pensar

Page 11: Canto da Iracema

11

Panela Discos: cultura inDePenDente em Fortaleza

1) Lançamentos Panela DiscosNós do selo cearense PANELA DISCOS, orgulho-samente apresentamos vários lançamentos musi-cais pra nossa cidade. São artistas variados,de di-ferentes estilos e regiões, pra vocês ficarem mais por dentro da música independente do Nordeste.

Em janeiro, fizemos o lançamento do rock irreve-rente do THE GOOD GARDEM, banda oriunda do bairro do mesmo nome (feita a devida correção na versão em inglês “errada” propositadamente). A música “Dayse” continua sendo executada em nosso site, e os caras fizeram uma extensa pro-gramação de atividades em nosso estúdio, com a gravação de 4 músicas ao vivo e entrevista para nosso PODCAST e também um vídeo da música Dayse ao vivo. Tudo pode ser ainda conferido

// FO

TOS

DIVU

LGAÇ

ÃO

Da Bahia, trouxemos para uma série de shows, mês passado, a galera do CLUBE DE PATIFES e o PASTEL DE MIOLOS, a primeira vinda diretamente de Feira de Santana, a outra de Lauro de Freitas. A primeira de blues, a outra de punk rock. Ambas são ícones na música independente bahiana e fazem parte do nosso cast. O Clube de Patifes já está com 12 anos de carreira, e voltaram à Fortaleza para apresentar o disco “Com um pouco mais de alma”, lançado em 2010.

O Pastel de miolos, também, já uma banda reconhecida como uma das mais pró ativas da cena bahiana, e seu punk rock está destilado no excelente “Da escravidão ao salário mínimo”,

2) Programação “Bomja Rocks”O Panela discos orgulhosamente apresenta a programação do primeiro BOMJA ROCKS: uma série de shows de rock no Centro Cultural Bom Jardim, bairro com uma grande força na cena autoral do rock cearense. Confiram a programação completa:

FEVEREIRO05 – The Good Gardem + Full Time Rockers

12 – Inerve + Atomic Bomb Watcher19 – Facada + Obskure

26 – Calibre 39 + Sátiros

todos os shows ComEçando às 19hs.

A programação do Bomja Rocks também inclui uma mostra chamada “Rock de Sempre” com exi-bição de DVDs de grandes nomes do rock mundial. Toda nossa programação poderá ser conferida diretamente em nosso site! www.paneladiscos.com

Page 12: Canto da Iracema

// FO

TO ZE

NO FA

LCÃO

As vezes fujo e vou me esconder na Beira- Mar. Sinto meu corpo leve diante da brisa forte que tenta me levar. A paisagem não é só bonita, “entre luzes que se escondem”. Talvez não exista no país orla mais linda! Ainda mais se for lua cheia e esta se insinuar por entre os prédios que contornam a orla. Desço na Praia do Ideal e saio caminhando, junto com turistas, cupistas, poetas e sonhadores, até a Volta da Jurema. A estátua de pernas longas e gordas me diz que Iracema (a virgem dos lá-bios de mel) foi a mais linda história de José de Alencar. Ela está lá, com seu guerreiro, trocando olhares pétreos.

Num outro trecho da Beira Mar, outra estátua de Iracema. A obra foi inaugurada em 1996 e é de autoria do escultor cearense Zenon Barreto. Possui seis metros de altura, sendo dois de pedestal, toda esculpida em ferro e revestida de fibra de vidro. A estátua apresenta-se ajoelhada e curvada em arco. Segundo o autor, ela deixa transparecer a dor que assolou o coração de Iracema com a perda de seu amado Martim, na obra de José de Alencar.

Anoitece na Beira-Mar. Ao longe, no escuro mar, um navio caminha lento. Os turistas exami-nam produtos artesanais na conhecida feirinha que se expõe no calçadão. Ao longo deste, impossível

Por:

Nilze

Cos

ta e

Silva

- Es

crito

ra.

não ver os meninos desvalidos que desenham na calçada, a carvão, a imagem de seus heróis. Nem sabem quem foi Iracema. Seus heróis são urbanos, praianos e negros de carvão. Desenham rápido depois pedem um auxílio, dizendo bai-xinho que mais tem Deus para a nos dar. E o que nós temos para dar é apenas uma esmola aos nossos pequenos desenhistas, filhos órfãos de uma Pátria que não os reconhece como artistas nem como cidadãos.

Não há como não enxergar as meninas da Beira-Mar. Elas sentam no colo de rapazes louros, sem entender o que falam. É uma linguagem estranha que só pede sexo. Bebem, fumam e se drogam. As meninas freqüentam motéis, às vezes hotéis de luxo, ganham uns trocados e vão se esconder entre os coqueiros, quase desnudos.

Crianças à vista. Crianças perdidas à beira-mar. Chego ao fim da Avenida. Dou meia volta e vou me envolver novamente com toda a paisagem do retorno.

A lua já vai alta, a noite escureceu mais ainda o mar e eu sigo com um verso do Brecht da ponta da língua “Nós pedimos com insistência: nunca digam isso é natural”.

beira-marbeira-mar

12

Page 13: Canto da Iracema

13

Por:

Calé

Ale

ncar

- Pr

odut

or C

ultu

ral

Mestre Raimundo volta da roça e o sol ainda está brilhando no céu do Cariri. Pelo caminho vem assobiando melodias de outro tempo. Tempo de seu José Aniceto, pai dos irmãos tocadores da bandinha cabaçal.

Esta bandinha, gente, é a cultura do milho, do feijão, do arroz, do amendoim, cultura herdada do povo da Nação Cariri, igual degustação de pequi, aluá e bolo de carimã.

Na casa do Mestre Raimundo tem fogão de alvena-ria, fogão à lenha tocado com precisão de maestro por dona Raimunda, mulher de Raimundo, mãe e avó de uma penca, incluindo Côca, Penha e Uégila, a de cabelos mais belos. O fogo do cabelo da menina o sol do cabelo de fogo o fogão e sua boca de fogo o vermelho do fogo vermelho.

Pé de pau vira lenha vira fogo e fogão. Vai o fogo crepitando, vento soprando, chão batido, mesa posta, banquete sertanejo. Um café quente pelando

os beiços. Cadeiras postas nos tijolos da calçada, povo passa, povo fica, vai e vem mais uma vez.

A roda cresce, chega João, chega Cirilo, vem Britinho mais Vicente, Chico chega e chega Elói. Vem Muriçoca, vem Azul, José Lourenço, vem Valquíria, Mariana, vem Chichica e Aldenir. Vem Adriano, vem Joval, Cícero vem, vem Antônio, Edite, Bola, o mundo, querendo, vem. Vem dona Munda, vem Batonha, vem Tudinha, vem Nena mais Nêgo Sales, Cego Oiveira e Zé Guarda.

O povo passa, passa boi, passa boiada, também passa a caminhada, tudo passa sobre a Terra. Lá na cozinha da casa de seu Raimundo um fogão guarda lembranças das conversas no quintal. Guar-da também o converseiro da cozinha, guarda fogo, guarda lenha, guarda sol e tudo guarda.

Ainda mais guarda a luz do raio e do trovão, guarda vida, coração, um fogão, um fogareiro, feito brasa coração, o motor do mundo inteiro.

prosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosa

paginatreze pagina//

FOTO

S DI

VULG

AÇÃO

prosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosapoesiaprosa

Page 14: Canto da Iracema

SOLAR - Associação Cultural Solidariedade e ArteEndereço / Address: Av. Universidade, 2333 - Benfica - CEP: 60020-180 - Fortaleza - CE - Brazil

Fone/phone: +55 ( 85 ) 3226 1189 - Email: [email protected]

a associação cultural solidariedade e arte - solar é uma organização não governamental - ong, que desenvolve pro-gramas e projetos na área da cultura, tendo como missão democratizar e heterogeneizar os meios de produção cultural e artísticos e seus acessos, oportunizando o ex-ercício pleno da cidadania a todos os agentes envolvidos nestes processos. nestes 5 anos e meio de existência vem desenvolvendo inúmeros trabalhos e produtos concret-izados através de suas ações temáticas:

programas e projetos de solidariedade;

programas e projetos de formação cultural;

programas e projetos de produção cultural;

programas e projetos de difusão cultural;

programas e projetos de assessoria cultural.

programas e projetos de solidariedade;

programas e projetos de formação cultural;

programas e projetos de produção cultural;

programas e projetos de difusão cultural;

programas e projetos de assessoria cultural.

// FO

TOS

DIVU

LGAÇ

ÃO

Page 15: Canto da Iracema

15

FEITOarte

há uma herança em mim, que deus me disse.silenciosa, eu nem sabia.sentia, talvez, mas sentir é incerto.são valores inolvidáveis.são riquezas indeléveis.são segredos inefáveis.eu os ganhei faz tempo

– me foi dado cultivá-los.é um tesouro tão raro!depois da partida de meus pais

será como antes da minha chegada.há uma herança em mim, que deus me disse.musical, eu nem ouvia.escutava, às vezes, mas sozinho é deserto.são compassos indescontáveis.são tons transpronunciáveis.são melodias incantáveis.eu recebi tudo faz tempo

– me foi dado cultivar-me.é um tesouro tão raro!depois da vida de meus pais

será como antes da minha chegada.há uma herança em mim, que deus me disse.poética, isso eu sabia.sentia, muitas vezes, grávido de mim decerto.são palavras descontroláveis.são rimas desrimáveis.são ritmos inimagináveis.eu vivo isso desde outras eras

– era uma vez a vez de vocês.a todos é dada a palavra.desde as vidas de meus pais,se encontram nossas partidas e chegadas…

Henrique BeltrãoEscritor, Poeta, Professor e Radialista

o tesouro

Para meus pais Dirlene Marly Beltrão de Castro, a sanfoneira e pianista que fez a melodia da minha vida, e José Franácio de Castro, o poliglota silencioso que fez a letra.

>

marildo montenegroTécnica: Infogravura

>

Page 16: Canto da Iracema