cântido dos cânticos | tnsj

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Da Bíblia – o “livro dos livros” ou, como lhe chamou William Blake, “o grande código da arte ocidental” – faz parte um texto de recorte erótico e amoroso: o Cântico dos Cânticos, livro atribuído ao rei Salomão e suposto herdeiro da antiga poesia lírica egípcia ou da literatura ritual da Mesopotâmia...

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B

Page 3: Cântido dos Cânticos | TNSJ

CÂNTICO DOS CÂNTICOSencenação PeDrO eSTOrNINhO

direcção musical CarmINa rePaS GONçalveS

tradução

José Tolentino

mendonça

cenografia

Paulo Barrosa

figurinos

Inês mariana

moitas

vídeo

eduardo morais

desenho de luz

romeu

Guimarães

interpretação

antónio Durães,

José eduardo

Silva,

Inês leite,

Julieta

Guimarães,

helena Carneiro

(actores)

antony

Fernandes

(säckpipa, kaba

gaida, flauta de

harmónicos)

Carmina repas

Gonçalves

(viola da

gamba, voz)

rui Silva

(percussões)

o espectáculo integra a interpretação ao vivo dos seguintes temas musicais:

A Virgen, que de Deus madre este, filla e criada (cantigas de santa maria, n.° 322)

Si verias (canção da tradição sefardita, Bulgária)

Che ti zova nascondere (codex rossi)

A la una yo nací (canção da tradição sefardita, sarajevo)

Noumi, Noumi Yaldati (canção de embalar hebraica, israel)

Ondas do mar de Vigo (cantiga de amigo de martín codax, Galiza)

Pesar à Santa Maria (cantigas de santa maria, n.º 183)

Üsküdar’a Gider Iken (canção tradicional, Turquia)

Sen muito ben que nos face (cantigas de santa maria, n.º 248)

Quena Virgen ben servir nunca poderá falir (cantigas de santa maria, n.º 59)

Per tropo fede (codex rossi)

produção

Teatroensaio

qua+qui 21:30

dur. aprox. 1:30

m/6 anos

Mosteiro São Bentoda Vitória

23+24 Nov 2011

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Como parábola, a parábola do amor atravessa toda a Revelação. É a comparação incessantemente reiterada na palavra dos Profetas. Mas é preciso que ela seja mais do que uma parábola. Não basta pois que a relação de Deus com o homem seja apresentada por intermédio da parábola do amante e da amada; é preciso que a palavra de Deus contenha imediatamente a relação do amante com a amada, é preciso que ela encerre em si o significante sem a menor alusão ao significado. E é assim que a descobrimos no Cântico dos Cânticos. Aí já não é possível ver nessa parábola “unicamente uma parábola”. O leitor parece estar pois colocado perante a escolha entre admitir o sentido “puramente humano”, puramente carnal, perguntando ‑se de seguida por que aberração pasmosa essas páginas entraram na palavra de Deus, ou reconhecer que é precisamente aí, imediatamente aí, no sentido puramente carnal, e não “somente” sob a forma de parábola, que subjaz a significação mais profunda.

franz rosenzweigExcerto de L’Étoile de la rédemption. Paris: Seuil, 2003. p. 281.Trad. Regina Guimarães.

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Sobre o espectáculo gostaria de me reservar e de deixar opiniões e ilações a quem vai assistir. Prefiro falar ou escrever sobre afinidades com o texto. Irei referir ‑me a ele nestas linhas. Palavras para a tradução também serão difíceis de encontrar, pois é de uma sensibilidade e familiaridade tal, que percebemos de imediato o respeito pelo texto. E é de uma consideração poética a relação de José Tolentino Mendonça com o “Cantíssimo”, que dela emerge assim uma afectividade muito particular com estes oito cantos.

O Cântico dos Cânticos foi um texto que me acompanhou sempre. Primeiro, na minha educação religiosa; depois, mais tarde, na educação literária; e agora, nestes últimos tempos, na educação artística teatral. Admiro a frase de Saint‑‑Exupéry, escrita na sua Cidadela: “Para uma educação em forma de poema”. Aplica ‑se ‑me com o Cântico.

Pegar nele agora, e porquê somente agora? Por estar, talvez, no ponto em que, cada vez que o releio, menos certezas tenho sobre o meu conhecimento dele. O que me dá uma alegria imensa, pois tenho assim a oportunidade de visitá ‑lo, ouvi ‑lo, dialogar com e lê ‑lo mais fundo ainda. Esperar, acima de tudo, pelo que me venha a contar, como se se tratasse da primeira vez que o folheio. Penso que estou um pouco mais pronto a poder falhar, estando assim mais livre para o trazer, na sua intensa beleza, ao público.

Salvo erro, foi Steiner que confessou numa entrevista ao Literatour, essa fantástica publicação literária, que, quando lhe diziam que nunca tinham lido D. Quixote, respondia: “Você é um ser de uma sorte invejável, gostaria de lê ‑lo como o vai ler, pela primeira vez”. Também eu, neste momento, invejo deveras o público que nos visitar no Cântico.

O Cântico dos Cânticos estará certamente longe de ser esquecido; é impossível a quem o lê não regressar a ele e não o partilhar. Este é um dos mais belos poemas de amor já escritos. Espero que sintam o mesmo que eu ao lê ‑lo e ouvi ‑lo.

Bom espectáculo.

Pedro EstorninhoTEatroensaio

CaNTÍSSImO

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Na sua grande velhice, o rei David, triste como um perdigueiro, dormitava no seu grande leito vermelho. Digo vermelho porque é uma cor real e circundante dum trono antigo. Às vezes pedia para o levarem à tenda onde estava a Arca da Aliança, e ele chorava ao vê ‑la, como se fosse uma mulher amada. Como Orígenes diria, “não tinha forma nem beleza”, referindo ‑se à majestade divina.

Para dar algum calor ao velho rei David, procuraram ‑lhe uma jovem que se deitaria com ele como uma mulher parida com o seu filho. Era Abisag, de Sunan, terra ao norte de Jerusalém e habitada por gente nómada, fazedora de tapetes. Era tão formosa e encantadora que os olhos da corte não se arredavam dela noite e dia. Mas o rei David, pela sua extrema idade, não lhe tocou e deixou ‑a virgem. Quando ele morreu, verificou ‑se que a desposara. Ao ser repartida a herança de David, o seu filho Adonias, que pretendia reinar e por direito sucedia ao rei, intrigou para se rodear de gente influente, sendo um deles o sacerdote Abiatar. Porém, os valentes de David e o profeta Natan não o seguiam. Sendo despojado dos seus direitos pelo pai, pareceu conformado. Mas o despeito ardia no seu coração. Morto David e sepultado, Adonias disse a

Betsabé, a mãe de Salomão: “O reino não era meu, toda a gente o sabe. Pois bem: abdico do reino mas quero por mulher Abisag, a sunamita”. Isto enfureceu Salomão. Quem casasse com a viúva do rei podia pretender o reino. E mandou matar Adonias e praticou outros crimes de sangue, como ferir de morte Joab, partidário de Adonias. E feriu ‑o quando ele se refugiou no templo, o que era grave pecado.

Tomou para si Abisag, a sunamita, e decerto estava enamorado dela como não estaria da filha do faraó. Escreveu o poema Cântico dos Cânticos para ela e, por ser discreto e sábio, chamou ‑lhe Shulamita.1 Mas todos sabiam que era da sunamita que se tratava. Esse foi o tempo em que o coração do rei se compadecia com a beleza, coisa tão efémera como as ondas do mar, que logo se levantam e logo se perdem na vasta copa do oceano. Depois tornou ‑se ambicioso, ao crescer em sabedoria e porque Yavé lhe falava face a face. Passaram vinte anos desde o seu amor por Abisag, a sunamita, e ele casou com a filha do faraó e edificou para ela um palácio soberbo. Mas nada se comparava ao tempo da “humanidade assumida” que fora o do seu amor pela jovem Abisag.

1 Shulamita, palavra composta de shula, jovem rapariga (como shulo é rapaz novo e atraente, depois carregado da indignidade inerente à sedução), pode não significar sequer um nome.

* Excerto de “Um tijolo quente na cama”. In Cântico dos Cânticos. Lisboa: Três Sinais, 2001. p. 6 ‑7.

O TemPO Da “hUmaNIDaDe aSSUmIDa”

agustina bessa ‑luís*

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O Cântico dos Cânticos: dois amantes que se buscam, que se olham, se contemplam. Só se lembram do amor e se esquecem do amor. Em tudo procuram o amor e em tudo o evitam.

Têm receio de abrir a porta de casa ao amor e ousadia para enfrentar, em nome dele, as austeras sentinelas que vigiam a cidade, quando é noite. Têm receio dos mil lugares onde o amor assoma, mas em mil lugares o buscam, se, por uma hesitação ou um silêncio, dele se perdem.

Escondem ‑se e reencontram ‑se. Incessante deslocação de corpos. De desejos. Como num jogo. E dizem: “O meu amado é para mim como um ramo de mirra”; “és formosa amiga minha, os teus olhos são como os das pombas”; ou “grava ‑me como um selo em teu coração/ como um selo em teu braço;/ pois o amor é forte como a morte”.

Falam do seu amor com uma intensidade tal que nos fazem ver, como escreve Paul Beauchamp, que “não existe sexualidade sem a palavra, como não existe desejo. A sexualidade humana é aquela que é dita”.

Os rabinos, no sínodo de Jabneh (90 d.C.), discutiram sobre a canonicidade do Cântico dos Cânticos. Alguns achavam ‑no demasiado cheio de paixão. E lamentavam ‑se, sobretudo, que fosse, frequentemente, repetido em tabernas.

Mas na Mishna está escrito: “O mundo inteiro não é digno do dia em que o Cântico dos Cânticos foi dado a Israel. Todos os livros são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o mais santo de todos”.

Santa Teresa de Ávila diz recordar ‑se de “ouvir a um religioso um sermão admirável em extremo, e o mais dele foi a declarar estes regalos de que a Esposa tratava com Deus. E houve tanto riso e foi tão mal tomado o que disse, porque falava de amor, que estava espantada”.

Contudo, a sua experiência de leitora deste livro é bem diversa: “O Senhor tem ‑me dado, desde há alguns anos para cá, um grande gosto cada vez que ouço ou leio algumas palavras do Cântico dos Cânticos, e isto em tanto extremo que, sem entender com clareza o latim, a minha alma mais se recolhia e movia então do que com os livros muito devotos que entendo”.

Um dos contributos mais originais que a modernidade inscreveu na história da interpretação deste singular livro tem sido o da sua intersecção com outros campos culturais, valorizando assim o fenómeno da intertextualidade. Os pólos que mais frequentemente recorrem neste confronto são o egípcio, o mesopotâmico e o da área sírio ‑palestina.

A dar confirmação a uma influência egípcia (sugerida, por exemplo, pelos perturbadores paralelos entre algumas passagens do nosso livro e textos contidos quer no Papyrus Harris 500, descoberto no Ramesseum de Tebas, quer nos Cantos da Grande Alegria do Coração do Papyrus Chester Beatty I), o Cântico dos Cânticos seria uma antologia de textos de diversão destinados, no Egipto, às ocasiões festivas.

Esta tese tem um aliado vigoroso e imprevisto em Teodoro de Mopsuéstia

“O hOmem Tal QUal ele É DIaNTe Da mUlher Tal QUal ela É”

josé tolentino mendonça*

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que, no séc. V, contestava a canonicidade do Cântico dos Cânticos dizendo que ele celebrava, “sem intenção suplementar, as núpcias de Salomão com uma princesa egípcia”.

Por sua vez, a relação com a literatura mesopotâmica far ‑se ‑ia através de textos de índole cultual, vinculados a um cenário de hierogamia, que colocavam em acção as rivalidades amorosas dos deuses Dummuzi e Enkimdu e da deusa Inanna. Enquanto que da área sírio‑‑palestina a influência viria sobretudo do folclore praticado no ciclo dos sete dias festivos que se sucedia à coroação matrimonial dos esposos, à maneira de um rei e de uma rainha.

Mas se é verdade que o confronto com estes modelos literários, próximos no tempo e no espaço ao escrito bíblico, fornece alguns contributos esclarecedores, ele não elide uma dificuldade essencial: o facto do estudo comparativo ser extremamente fragmentário, ignorando, como escreve Anne ‑Marie Pelletier, “a coerência global do texto” e a sua “inserção num contexto singular que o qualifica e o interpreta necessariamente”.

O Cântico dos Cânticos retoma vocabulário comum aos cultos e rituais de exercícios religiosos coevos, nomeadamente vocabulário hierogâmico, mas fá ‑lo para o reinscrever num contexto que nega a relação mitológica do homem e da mulher, formulada aqui em termos históricos e não enquanto participação mágica do horizonte humano no divino.

Este livro, do séc. V ou IV a.C., como defende Maillot, “é, portanto, uma desmitização, uma humanização e uma liberalização do amor. É a libertação em relação aos mitos da fecundidade. É a

afirmação que o amor de um homem e de uma mulher é em si mesmo justificado”.

Recordemos que nenhum outro livro bíblico dá a palavra à mulher numa tal proporção. Ela busca e é buscada. Pede e é pedida. A sua palavra abre o canto: “Beije ‑me ele com os beijos da sua boca”. A mulher olha para o homem e avizinha ‑se a ele com a mesma impaciência e a mesma alegria que ele a ela.

Este co ‑protagonismo é muito interessante. Porque tensões, paradoxos, desníveis (por exemplo, o facto de a mulher não ser tratada em paridade, não ser tomada como sujeito) que não conseguiam resolução em outros tipos de discurso, conseguem ‑na primeiramente no discurso amoroso.

Na opinião do teólogo Karl Barth, os textos de Génesis 2 e o do Cântico dos Cânticos são os que, no Antigo Testamento, perspectivam de modo mais original o amor humano.

A tendência predominante é a que situa a sexualidade do Ser Humano em função quase exclusiva da posteridade e, por conseguinte, no contexto da vocação deste povo e da expectativa messiânica (um dos nascidos, entre os descendentes de David, seria o Messias, por isso a instituição matrimonial era tão importante).

No Cântico dos Cânticos temos a afirmação de um outro aspecto (em verdade, mais complementar que opositor): “O enamoramento – escreve Barth – não já do pai ou do chefe de família potencial, mas simplesmente do homem tal qual ele é diante da mulher tal qual ela é”.

* Excerto de As Estratégias do Desejo. Lisboa: Cotovia, 2003. p. 28 ‑32.

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De repente, a rapariga surgiu ‑me como a virgem negra mas bela de que fala o Cântico. Ela trazia um pobre vestido coçado de tecido cru que se abria de modo bastante impudico sobre o peito, e tinha ao pescoço um colar feito de pedrinhas coloridas e, creio, de nenhum valor. Mas a cabeça erguia ‑se altivamente sobre um pescoço branco como torre de marfim, os seus olhos eram claros como as piscinas de Hesebon, o seu nariz era uma torre do Líbano, as madeixas da sua cabeça como púrpura. Sim, a sua cabeleira surgiu ‑me como um rebanho de cabras, os seus dentes como rebanhos de ovelhas que saem do banho, todas aos pares, de modo que nenhuma delas estava antes da companheira. “Como és bela, minha amada, como és bela”, pus ‑me a murmurar, “a tua cabeleira é como um rebanho de cabras que desce das montanhas de Galaad, como fitas de púrpura são os teus lábios, gomo de romã é a tua face, o teu pescoço é como a torre de David a que estão suspensos mil broquéis”. E perguntava ‑me, deslumbrado e aturdido, quem era aquela que se elevava diante de mim como a aurora, bela como a Lua, fúlgida como o Sol, terribilis ut castrorum acies ordinata.

“És terrível como as coisas grandiosas”

umberto eco*

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Então, a criatura aproximou ‑se de mim ainda mais, atirando para um canto o embrulho escuro que até aí tinha mantido apertado contra o peito, e levantou outra vez a mão para me acariciar o rosto, e repetiu mais uma vez as palavras que eu já tinha ouvido. E enquanto não sabia se fugir dela ou aproximar ‑me ainda mais, enquanto a minha cabeça pulsava como se as trombetas de Josué estivessem para derrubar as muralhas de Jericó, e ao mesmo tempo desejava e receava tocar ‑lhe, ela teve um sorriso de grande alegria, emitiu um gemido submisso de cabra enternecida, e desfez os laços que lhe apertavam o vestido sobre o peito, e fez deslizar o vestido do corpo como uma túnica, e ficou diante de mim como Eva devia ter aparecido a Adão no jardim do Éden. Pulchra sunt ubera quae paululum supereminente et tument modice, murmurei, repetindo a frase que tinha ouvido a Ubertino, porque os seus seios me surgiram como dois veados, gémeos de uma gazela que pastavam entre os lírios, o seu umbigo foi uma taça redonda onde nunca falta vinho drogado, o seu ventre um montão de trigo contornado de flores dos vales.

O sidus clarum puellarum, gritei ‑lhe, o porta clausa, fons hortorum, cella custos unguentorum, cella pigmentaria!, e achei ‑me sem querer encostado ao seu corpo, sentindo ‑lhe o calor e o perfume acre de unguentos jamais conhecidos. Lembrei ‑me: “Filhos, quando vem o amor louco, nada pode o homem!”, e compreendi que, fosse quanto sentia trama do inimigo ou dom celeste, já nada podia fazer para contrariar o impulso que me movia, e: Oh, langueo, gritei, e: Causam languoris video nec caveo!, também porque um odor róseo emanava

dos seus lábios e eram belos os seus pés nas sandálias, e as pernas eram colunas e como colunas as curvas dos seus flancos, obra de mão de artista. Ó amor, filha de delícias, um rei ficou preso à tua trança, murmurava dentro de mim, e fiquei entre os seus braços, e caímos juntos sobre o pavimento nu da cozinha e, não sei se por minha iniciativa ou por artes dela, achei ‑me livre do meu saio de noviço, e não tivemos vergonha dos nossos corpos et cuncta erant bona.

E ela beijou ‑me com os beijos da sua boca, e os seus amores foram mais deliciosos que o vinho e ao odor eram deliciosos os seus perfumes, e era belo o seu pescoço entre as pérolas e as suas faces entre os brincos, como és bela, minha amada, como és bela, os teus olhos são pombas (dizia), e deixa ‑me ver a tua face, deixa ‑me sentir a tua voz, que a tua voz é harmoniosa e a tua face encantadora, fiquei louco de amor, minha irmã, fiquei louco com um só olhar teu, com uma só gema do teu pescoço, favo que goteja são os teus lábios, mel e leite sob a tua língua, o perfume da tua respiração é como o dos pomos, os teus seios em cachos, os teus seios como cachos de uva, o teu palato um vinho delicioso que vai direito ao meu amor e flui sobre os lábios e sobre os dentes… Fonte de jardim, nardo e açafrão, canela e cinamomo, mirra e aloés, eu comia o meu favo e o meu mel, bebia o meu vinho e o meu leite, quem era, quem era final esta que se elevava como a aurora, bela como a Lua, fúlgida como o Sol, terrível como tropas em fileiras?

* Excerto de O Nome da Rosa. Trad. Maria Celeste Pinto. Barcelona: Bibliotex, 2002. p. 230 ‑232.

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A Sulamita

Ego dormio, et cor meum vigilat.Cântico dos Cânticos

Quem anda lá por fora, pela vinha,Na sombra do luar meio encoberto,Subtil nos passos e espreitando incerto,Com brando respirar de criancinha?

Um sonho me acordou… não sei que tinha…Pareceu ‑me senti ‑lo aqui tão perto…Seja alta noite, seja num deserto,Quem ama até em sonhos adivinha…

Moças da minha terra, ao meu amadoCorrei, dizei ‑lhe que eu dormia agora,Mas que pode ir contente e descansado,

Pois se tão cedo adormeci, conformeÉ meu costume, olhai, dormia embora,Porque o meu coração é que não dorme…

antero de quental

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FICHA TÉCNICA TEATROENSAIO

direcção artística

Pedro Estorninho

direcção de produção

Inês Leite

direcção técnica

Romeu Guimarães

edição e comunicação

Pedro Ferreira

execução de cenografia

Carla Rodrigues, Paulo Barrosa

operação de luz e som

Filipe Ribeiro

operação de vídeo

Eduardo Morais

apoio dramatúrgico

Gil Costa Santos

FICHA TÉCNICA TNSJ

coordenação de produção

Maria João Teixeira

assistência de produção

Daniela Simões*

direcção de palco

Rui Simão

direcção de cena

Pedro Guimarães

assistência de direcção de cena

Mónica Rodrigues*

luz

Filipe Pinheiro (coordenação),

Abílio Vinhas, Nuno Gonçalves,

José Rodrigues

maquinaria

Filipe Silva (coordenação),

Adélio Pêra, Joaquim Marques,

Jorge Silva, Lídio Pontes,

Paulo Ferreira

som

Joel Azevedo

* alunas da escola superior de Teatro e cinema

APOIOS TNSJ

APOIOS À DIVULGAÇÃO

AGRADECIMENTOS TNSJ

mr. Piano – Pianos rui macedo

Polícia de segurança Pública

APOIOS TEATROENSAIO

AGRADECIMENTOS TEATROENSAIO

ana da Palma

Jorge delmar

d. manuel clemente

Padre miguel Ângelo Pinheiro Gomes

nicolau ornelas (ornelas artigos

religiosos)

TEatroensaio – Teatreia

Associação Cultural

centro comercial de cedofeita,

loja 82

rua de cedofeita, 451

4050 ‑181 Porto

T 91 862 63 45

http://teatroensaio ‑teatreia.

blogspot.com

[email protected]

Teatro Nacional São João

Praça da Batalha

4000 ‑102 Porto

T 22 340 19 00

Teatro Carlos Alberto

rua das oliveiras, 43

4050 ‑449 Porto

T 22 340 19 00

Mosteiro de São Bento da Vitória

rua de são Bento da Vitória

4050 ‑543 Porto

T 22 340 19 00

www.tnsj.pt

[email protected]

EDIÇÃO

Departamento de Edições

do TNSJ

coordenação

Pedro Sobrado

capa e modelo gráfico

Joana Monteiro

paginação João Guedes

fotografia João Tuna

impressão Multitema – Soluções

de Impressão, S.A.

não é permitido filmar, gravar ou fotografar

durante o espectáculo. o uso de telemóveis ou

relógios com sinal sonoro é incómodo, tanto para

os intérpretes como para os espectadores.

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