candidatos reprovados psicoteste tem direito de continuar no curso de formação

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Identificar-se Bem-vindo > Consultas de Jurisprudência Consultas de Jurisprudência Apelação Cível n° 2011.003713-5. Origem: Vara da Fazenda Pública da Comarca de Mossoró. Apelante: Estado do Rio Grande do Norte. Procurador: Dr. Dario Paiva de Macedo. Apelados: Abraão Tiago Costa e Melo e outros. Advogado: Dr. Paulo Cesário Lucena Targino. Relator: Desembargador João Rebouças. EMENTA: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. CONCURSO PÚBLICO PARA DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO. CANDIDATO ELIMINADO EM EXAME PSICOTÉCNICO. CONSTITUCIONALIDADE DE SUA EXECUÇÃO QUANDO EXPRESSAMENTE PREVISTO EM LEI. CRITÉRIOS PREVISTOS NO EDITAL GENÉRICOS E QUE SE AFASTAM DA OBJETIVIDADE. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA. COMISSÃO QUE DEIXOU DE DISPONIBILIZAR AS RAZÕES PELAS QUAIS CONSIDEROU O CANDIDATO COMO "NÃO RECOMENDADO". CONHECIMENTO E IMPROVIMENTO DO RECURSO. PRECEDENTES DESTA CORTE. - Constatada a ausência de publicidade e de objetividade dos critérios do exame psicotécnico, tem-se como escorreita a sentença que assegurou ao candidato a realização de um novo exame, garantindo-lhe a continuidade no certame, na hipótese de resultado positivo. ACÓRDÃO Decisão http://esaj.tjrn.jus.br/cjosg/pcjoDecisao.jsp?OrdemCodigo=0&tpClasse=J 1 de 7 14/11/2011 15:24

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Page 1: Candidatos reprovados psicoteste tem direito de continuar no curso de formação

Identificar-se

Bem-vindo > Consultas de Jurisprudência

Consultas de Jurisprudência

Apelação Cível n° 2011.003713-5.Origem: Vara da Fazenda Pública da Comarca de Mossoró.Apelante: Estado do Rio Grande do Norte.Procurador: Dr. Dario Paiva de Macedo.Apelados: Abraão Tiago Costa e Melo e outros.Advogado: Dr. Paulo Cesário Lucena Targino.Relator: Desembargador João Rebouças.

EMENTA: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. CONCURSO PÚBLICO PARA DELEGADO DA POLÍCIACIVIL DO ESTADO. CANDIDATO ELIMINADO EM EXAME PSICOTÉCNICO. CONSTITUCIONALIDADE DE SUAEXECUÇÃO QUANDO EXPRESSAMENTE PREVISTO EM LEI. CRITÉRIOS PREVISTOS NO EDITALGENÉRICOS E QUE SE AFASTAM DA OBJETIVIDADE. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA.COMISSÃO QUE DEIXOU DE DISPONIBILIZAR AS RAZÕES PELAS QUAIS CONSIDEROU O CANDIDATOCOMO "NÃO RECOMENDADO". CONHECIMENTO E IMPROVIMENTO DO RECURSO. PRECEDENTES DESTACORTE.- Constatada a ausência de publicidade e de objetividade dos critérios do exame psicotécnico, tem-se como escorreita asentença que assegurou ao candidato a realização de um novo exame, garantindo-lhe a continuidade no certame, nahipótese de resultado positivo.

ACÓRDÃO

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Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima identificadas.Acordam os Desembargadores que integram a 2ª Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de Justiça, em turma, à

unanimidade de votos, em harmonia com o parecer da 15ª Procuradoria de Justiça, conhecer e negar provimento ao recurso, nos termos do voto dorelator, que fica fazendo parte integrante deste.

RELATÓRIO

Trata-se de Apelação Cível interposta pelo Estado do Rio Grande do Norte em face de sentença proferida pelo Juízo daVara da Fazenda Pública da Comarca de Mossoró, que julgou procedente o pedido inicial, para anular os efeitos do exame psicotécnico, determinandoao Estado do Rio Grande do Norte que proceda a convocação dos autores para participarem do Curso de Formação do Concurso Público da PolíciaCivil do Estado do Rio Grande do Norte.

Em suas razões, aduz o apelante, em síntese, que por se tratar de exame psicológico e psiquiátrico, não há como ser feitoum teste objetivo, pela própria natureza deste.

Assevera que o inconformismo dos candidatos com as normas do edital tem que ser apresentado após a publicação domesmo e antes da realização do exame, sob pena de precluir o direito a modificação das normas do concurso e, em consequência, anuindo com asregras do certame.

Sustenta que após a publicação do resultado os candidatos tiveram oportunidade de ter conhecimento dos motivos queensejaram a sua eliminação, para querendo impugnar o resultado e, por isso, defende a observância ao princípio da ampla defesa.

Por fim, requer o conhecimento e provimento da apelação, com a condenação dos apelados nos ônus sucumbenciais.

Contrarrazões pelo improvimento do recurso (fls. 429/437).A 15.ª Procuradoria de Justiça opinou pelo improvimento do recurso (fls. 443/450).É o relatório.

VOTO

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Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso.Conforme se depreende dos autos, os apelados participaram de concurso público, sendo aprovados em todas as suas fases,

exceto no exame psicotécnico, o qual houve especificação no Edital de quais critérios seriam utilizados para considerar um candidato como"recomendado" ou "não-recomendado", detendo-se apenas a menção de avaliação nas áreas da personalidade, aptidão específica, interesse emotivação.

Primeiramente, vale esclarecer que o Poder Público pode e deve condicionar o preenchimento de candidato à cargopúblico à prévia aprovação em exame psicotécnico. No entanto, a validade de tal exigência depende da previsibilidade na lei da carreira, objetividadedos critérios adotados, sendo todos eles de caráter científico e revisibilidade do resultado.

Em linhas gerais, tem-se no chamado exame psicotécnico o procedimento através do qual a Administração Pública podeverificar sobre os caracteres psíquicos dos candidatos aos cargos integrantes do sistema do funcionalismo público.

Não se reveste de requisito ilegítimo, ou mesmo de exigência excessiva, mas sim em verdadeiro critério técnico deaferição da capacidade do candidato em exercer com eficiência as atribuições do cargo para o qual se candidata.

Em relação ao tema em debate, José dos Santos Carvalho Filho[1]

discorre que:"Não obstante, há que considerar-se que a exigência relativa à aferição psíquica do candidato ao concurso deve serprevista em lei, como claramente estabelecido no art. 37, I, da CF. Se o exame psicotécnico é previsto apenas no ato daAdministração, como elemento de aferição psíquica, a exigência se configurará como inconstitucional. O STF já teveoportunidade de definir esse tema nesse exato sentido, vindo, inclusive, a consagrar tal orientação em verbetesumular.”

Neste aspecto, a matéria encontra-se devidamente sumulada pelo Supremo Tribunal Federal, senão vejamos:

"Súmula 686. Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público"

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A Lei Complementar nº 270, de 13 de fevereiro de 2004, que dispõe sobre a Lei Orgânica e o Estatuto da Polícia Civil doEstado do Rio Grande do Norte, prevê, em seu artigo 44, inciso II, a necessidade de exigência, em prova de concurso público para preenchimento decargos da Polícia Civil, do exame psicotécnico, sendo este de caráter eliminatório. Complementa a Lei, no art. 41, inciso X, mencionando que érequisito para o ingresso nas carreiras policiais, “possuir temperamento adequado ao exercício da função policial, apurado em exame psicotécnico, aser realizado com base em critérios técnico-científicos e objetivos”.

Saliente-se que o Edital do Concurso também previu a presença obrigatória e de caráter eliminatório, da aplicação eavaliação de técnicas psicológicas, consubstanciado no exame psicotécnico.

Com efeito, trata-se de exigência totalmente justificável pela natureza do cargo, que busca a análise da adequação doperfil profissional do candidato à uma idéia de conduta irrepreensível e idoneidade moral, fundamental para o satisfatório desempenho da função.

Contudo, da análise do edital de abertura do certame, verifica-se que este não previu de forma clara quais os requisitospsicológicos necessários ao exercício do cargo, mas tão somente estabeleceu, de forma genérica, que seria aplicado o psicoteste para averiguar aadequação do candidato ao perfil do cargo, não se dando ao trabalho de especificar, de modo objetivo, que perfil seria esse e que traço marcante dapersonalidade seria adequado a desempenhar o cargo de delegado de polícia.

Portanto, o teste psicológico aplicado ganhou contornos de subjetividade, o que não se coaduna com a finalidade doconcurso público, que visa cumprir com os princípios da impessoalidade e eficiência.

Destaque-se, ainda, que a imprecisão quanto ao estabelecimento do perfil psicológico adequado ao desempenho do cargonão está de acordo com o entendimento que vem sendo adotado por esta Corte:

"EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - DECISÃO SINGULAR QUEANTECIPOU OS EFEITOS DA TUTELA, DETERMINANDO QUE A CANDIDATA PARTICIPASSE DO CURSO DEFORMAÇÃO DE AGENTE DA POLÍCIA CIVIL - POSSIBILIDADE DE INTERFERÊNCIA DO JUDICIÁRIO NOMÉRITO ADMINISTRATIVO - ART. 5º, XXXV DA CF - EXAME PSICOTESTE - AUSÊNCIA DE ESPECIFICAÇÃO DOS

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MÉTODOS DE AVALIAÇÃO - EDITAL DE CONVOCAÇÃO QUE NÃO ESTABELECEU, DE FORMA OBJETIVA, CLARAE PRECISA, OS PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO QUE IRIAM NORTEAR A REALIZAÇÃO DO EXAME - LIMITAÇÃOAO DIREITO DE IMPUGNAÇÃO DO EXAME PSICOLÓGICO - PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA VIOLADO -CONHECIMENTO E PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO, TÃO-SOMENTE PARA QUE A CANDIDATA SEJASUBMETIDA A NOVO PSICOTESTE." (Agravo de Instrumento com Suspensividade n.º 2010.003572-9, 2ª Câmara Cível,Relator: Desembargador Aderson Silvino. Julgado em 14/10/2010).

"EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA. CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO.REGULARIDADE DA EXIGÊNCIA EDITALÍCIA. FUNDAMENTO EM LEGISLAÇÃO PRÓPRIA. AVALIAÇÃO QUENÃO GUARDA OBJETIVIDADE QUANTO AOS CRITÉRIOS DO EXAME. JUSTIFICATIVA APRESENTADA SEMPRECISÃO PARA DETERMINAR A INAPTIDÃO DOS CANDIDATOS. EXAME REALIZADO POR VIA DE PADRÕESQUE REVELAM SUBJETIVIDADE. ATO ADMINISTRATIVO SEM MOTIVAÇÃO. CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINARPLEITEADA PELOS CANDIDATOS QUE SE IMPÕE. REFORMA DA DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUE SEIMPÕE. PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA. PRECEDENTES DESTA CORTE.RECURSO CONHECIDO E PROVIDO." (Agravo de Instrumento com Suspensividade n.º 2010.003134-3. 1ª CâmaraCível. Relator: Desembargador Amílcar Maia. Julgado em 21/09/2010)

"EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO PÚBLICO.DECISÃO QUE INDEFERIU A TUTELA ANTECIPADA. EXAME PSICOTÉCNICO PARA INGRESSO NA CARREIRADE SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO. AUSÊNCIA DE DIVULGAÇÃO DOS MOTIVOS ENSEJADORESDA INAPTIDÃO. EDITAL OMISSO QUANTO AOS CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA.ILEGALIDADE. IMPOSSIBILIDADE DO PLENO EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA. PRECEDENTESJURISPRUDENCIAIS. REFORMA DO DECISUM. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO RECURSO" (AI nº2009.008877-1 - 3ª Câmara Cível, Relatora: Juíza Maria Neíze de A. Fernandes (Convocada). Julgamento: 19/11/2009).

Destaque-se, também, os precedentes do Superior Tribunal de Justiça nesse sentido:"DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.

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CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO. CARÁTER SUBJETIVO. ANULAÇÃO. EXAME DE MATÉRIAFÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO IMPROVIDO.1. É inadmissível a realização de exame psicotécnico revestido de caráter subjetivo e irrecorrível. Precedente do STJ.2. Reconhecido pelo Tribunal de origem a existência de subjetivismo no exame psicotécnico ao qual submetido oagravado, no concurso público para o preenchimento de vagas de Delegado da Polícia Federal, rever tal entendimentoencontra óbice na Súmula 7/STJ. 3. Agravo regimental improvido." (STJ. AgRg no Ag 1174910/DF, Rel. MinistroARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 02/03/2010, DJe 29/03/2010)

"DIREITO ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO. DIVULGAÇÃO DOS CRITÉRIOSDE AVALIAÇÃO UTILIZADOS NA PROVA. AUSÊNCIA. 1. O edital de concurso deve conter de forma clara e precisa oscritérios utilizados na avaliação dos candidatos convocados para realização de exame psicotécnico. 2. A mera remissãoà Resolução do Conselho Federal de Psicologia não foi capaz de informar aos candidatos o perfil esperado para oexercício do cargo de Policial Militar, demonstrando o caráter subjetivo do processo de seleção. 3. Comprovado odireito líquido e certo do impetrante à realização de exame psicotécnico com critérios previamente estabelecidos edefinidos objetivamente, com resultado motivado, público e transparente. 4. Recurso ordinário provido." (STJ. RMS25.596/RO, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 21/05/2009, DJe 03/08/2009).

Face ao exposto, em harmonia com o parecer ministerial, conheço e nego provimento ao recurso.

É como voto.

Natal, 04 de outubro de 2011

DESEMBARGADOR OSVALDO CRUZPresidente

DESEMBARGADOR JOÃO REBOUÇAS

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Relator

Dr. ARLY DE BRITO MAIA16º Procurador de Justiça

[1]Manual de Direito Administrativo. 16 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 547.

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