câncer de mama: marcadores tumorais

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377 RESUMO A identificação de marcadores que possam predizer o comportamento dos tumores é especialmente importante em câncer de mama devido, sobretudo, à variabilidade na progressão clínica da doença. Alguns marcadores tumorais e suas relações com o prognóstico são discutidos, dando-se ênfase àqueles que utilizam, para sua detecção, o método imuno-histoquímico e onde possa ser empregado material fixado em formol e embebido em parafina (material de arquivo). Os receptores hormonais (RH) são os menos polêmicos e os tumores positivos para estes marcadores, geralmente, apresentam menor tamanho, menor grau histológico e nuclear, uma melhor resposta à terapia hormonal e um melhor prognóstico. Para os outros marcadores tumorais aqui apresentados (c- erbB-2, catepsina D, MIB-1, PCNA, p53) existem muitas controvérsias, mas parte da literatura associa sua presença com tumores de alto grau histológico e com um pior prognóstico. As divergências existentes na literatura são discutidas e chega-se a conclusão que mais estudos são necessários antes que os marcadores tumorais possam ser utilizados como fatores prognósticos do câncer de mama. Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: neoplasias mamárias; marcadores biológicos de tumor; receptores hormonais; c-erbB-2; PCNA; p53. )*564)+6 The identification of markers which could predict the behaviour of tumors, specially breast malignancies, is important mainly because of the variability of progression of the disease. Some tumour markers and their prognostic power are discussed mainly those that use immunohistochemical method and a specimen fixed in formaldehyde and imbedded in parafine. Hormonal receptors are less subject to doubt and those tomours which are positive for these markers are, generally, smaller, whith a lower histologic and nuclear grade, a better response to hormone therapy and a better prognosis. Other tumour markers present contro- versies about their efficacy, but many papers link their presence to high histological grade malignancies and a poor prognosis. Different oppinions found in the literature are discussed and it may be concluded that more studies are needed before tumour markers could be used as prognostic factors in breast cancer. Key words: Key words: Key words: Key words: Key words: breast neoplasms; tumor markers, biological; hormonal receptors; c-erbB-2; PCNA; p53. CÂNCER DE MAMA: MARCADORES T UMORAIS (REVISÃO DE L ITERATURA ) Breast Cancer: Tumor Markers (Literature Review) Ana Lucia Amaral Eisenberg 1 e Sérgio Koifman 2 1 Médica Patologista do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital do Câncer, Instituto Nacional de Câncer (INCA), Rio de Janeiro. Enviar correspondência para A.L.A.E. Rua das Acácias, 101/ 704, Gávea; 22451-060 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Médico Epidemiologista do Serviço de Epidemiologia Geral e Métodos Quantitativos da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Cancerologia, 2001, 47(4): 377-88 ARTIGO / ARTICLE

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Page 1: Câncer de Mama: Marcadores Tumorais

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especialmente importante em câncer de mama devido, sobretudo, à variabilidade na progressão

clínica da doença. Alguns marcadores tumorais e suas relações com o prognóstico são discutidos,

dando-se ênfase àqueles que utilizam, para sua detecção, o método imuno-histoquímico e

onde possa ser empregado material fixado em formol e embebido em parafina (material de

arquivo). Os receptores hormonais (RH) são os menos polêmicos e os tumores positivos para

estes marcadores, geralmente, apresentam menor tamanho, menor grau histológico e nuclear,

uma melhor resposta à terapia hormonal e um melhor prognóstico. Para os outros marcadores

tumorais aqui apresentados (c-erbB-2, catepsina D, MIB-1, PCNA, p53) existem muitas

controvérsias, mas parte da literatura associa sua presença com tumores de alto grau histológico

e com um pior prognóstico. As divergências existentes na literatura são discutidas e chega-se

a conclusão que mais estudos são necessários antes que os marcadores tumorais possam ser

utilizados como fatores prognósticos do câncer de mama.

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hormonais; c-erbB-2; PCNA; p53.

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The identification of markers which could predict the behaviour of tumors, specially

breast malignancies, is important mainly because of the variability of progression of the

disease. Some tumour markers and their prognostic power are discussed mainly those that

use immunohistochemical method and a specimen fixed in formaldehyde and imbedded in

parafine. Hormonal receptors are less subject to doubt and those tomours which are positive

for these markers are, generally, smaller, whith a lower histologic and nuclear grade, a better

response to hormone therapy and a better prognosis. Other tumour markers present contro-

versies about their efficacy, but many papers link their presence to high histological grade

malignancies and a poor prognosis. Different oppinions found in the literature are discussed

and it may be concluded that more studies are needed before tumour markers could be used

as prognostic factors in breast cancer.

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c-erbB-2; PCNA; p53.

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1Médica Patologista do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital do Câncer, Instituto Nacional de Câncer (INCA), Rio de Janeiro. Enviar correspondência para A.L.A.E.Rua das Acácias, 101/ 704, Gávea; 22451-060 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]

2Médico Epidemiologista do Serviço de Epidemiologia Geral e Métodos Quantitativos da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Rio de Janeiro, Brasil.

Revista Brasileira de Cancerologia, 2001, 47(4): 377-88

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Os avanços no conhecimento da BiologiaMolecular têm proporcionado melhorentendimento dos mecanismos fundamentaisque regulam a proliferação e diferenciaçãocelulares, bem como o desenvolvimento demetástases tumorais.1

Os marcadores tumorais (ou marcadoresbiológicos) são substâncias presentes no tu-mor, no sangue ou em outros líquidosbiológicos, produzidos primariamente por eleou, secundariamente pelo paciente, emresposta à presença do tumor. É importanteque esta substância possa ser utilizada paradiferenciar tecidos normais de neoplásicos eque possa ser caracterizada ou quantificadapor procedimentos relativamente práticos.1

A utilização dos marcadores tumorais naavaliação do prognóstico do câncer de mamatem crescido muito nos últimos anos. Muitosdesses marcadores, os quais foram inicial-mente identificados através de estudosmoleculares ou bioquímicos, podem agora serlocalizados em cortes de tecido pelo uso daimuno-histoquímica ou da hibridização insitu. Incluem-se nesta ampla categoria umavariedade de proteínas, algumas das quaisestão associadas aos oncogenes e medidoresda atividade proliferativa do tumor. 2

Os principais marcadores tumorais estãoagrupados na Tabela 1.

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Neste trabalho serão discutidos algunsmarcadores tumorais, que, segundo aliteratura, são importantes em predizer oprognóstico do câncer de mama: receptoreshormonais (receptores de estrogênio ereceptores de progesterona); c-erbB-2;catepsina D; MIB-1; PCNA e p53.

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��������Os receptores hormonais (RH) são

proteínas que se ligam aos hormônioscirculantes, mediando seus efeitos celulares.Os mais estudados em carcinomas de mamasão os receptores de estrogênio (RE) e osreceptores de progesterona (RP).2

A observação de que o crescimento de certostumores, principalmente aqueles derivados dosórgãos reprodutivos (mama, próstata, endo-métrio, ovário), é regulado pelos hormôniosesteróides (estrógenos e andrógenos) tem tidoum impacto fundamental na abordagemterapêutica desse grupo de tumores.3

Desde que foi demonstrado que ocrescimento dos carcinomas de mama éregulado por estrógenos, a presença dereceptores específicos para o estrogênio emtumores mamários e a terapia ablativa dessehormônio tem produzido remissão clínica empacientes com carcinoma de mama. Ostumores que respondem à terapia hormonalexpressam altos níveis de receptores deestrogênio, enquanto que os tumores que nãorespondem têm níveis baixos ou indetectáveis.3

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- ������#����������Dois métodos são mais comumente

usados para a determinação dos RH: a)método bioquímico (dextran-coated charcoal– DCC) em tecido a fresco e b) métodoimuno-histoquímico, através da utilização deanticorpos monoclonais, em cortes de tecidocongelado (sigla em inglês: ER-ICA e PR-ICA)2,4 ou em cortes obtidos de tecidoembebido em parafina.2,5

O método imuno-histoquímico utilizandomaterial parafinado oferece algumas vantagenssobre o bioquímico: a) a possibilidade de setrabalhar com material de arquivo; b) avantagem de se poder detectar RH emespécimes pequenos; c) por permitir umaanálise visual da célula positiva para o RH (seela é neoplásica ou não neoplásica ou se alesão é in situ ou invasora); d) é o métodomais econômico.1,5,6

Uma alta taxa de concordância tem sidorelatada entre as medidas obtidas pelos doismétodos. Os resultados discordantes sãogeralmente conseqüência da heterogeneidade naexpressão do receptor, da ausência de tumor naamostra analisada bioquimicamente ou dapouca preservação da amostra.2,7 Os RH sãolábeis ao calor e a reatividade é progressivamentedegradada em tecidos que não são corretamenterefrigerados ou prontamente fixados.2

Wilkens et al.4 e Masood et al.7 concluíramque o método imuno-histoquímico é o métodoideal para a análise de tumores de pequenotamanho, inclusive biopsias por agulha fina,quando não se dispõe de tecido a fresco.

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Cerca de dois terços dos cânceres de mamasão positivos para RH.8 Segundo a literaturaconsultada, a positividade dos tumores paraos RE varia de 60 a 81%, enquanto que paraos RP, de 44 a 61%.6,9-11

������������ ��,���Existe uma associação significativa entre

os RH e a histologia dos carcinomas de mama:geralmente, os carcinomas medulares sãonegativos para os RH, enquanto que os carci-nomas mucinosos e papilíferos tendem a serpositivos. A freqüência de positividade paraos RH em carcinoma ductal infiltrante (CDI)e carcinoma lobular (CL) infiltrante não é

significativamente diferente. Nos CDI existeuma relação inversa entre o grau histológico enuclear e a positividade para os RE e os RP.2,12

Os RE e os RP estão altamente associadoscom a idade da paciente no diagnóstico, sendosignificativamente mais positivos em tumoresde mulheres pós-menopausa. Os RH nãoestão relacionados com a história familiar,paridade ou idade da menarca. A maioria dostumores positivos para RP são tambémpositivos para RE.2

���������������+��&��A maioria dos autores mostra que existe

uma associação positiva entre a presença deRH e um prognóstico mais favorável.6,8,12-15

O impacto do estado dos RE do tumorprimário no prognóstico é maior em pacientescom metástases para linfonodos axilares,principalmente quando múltiplos linfonodossão afetados. Os resultados são semelhantespara os RP.2

Em alguns estudos a vantagem prognósticada positividade dos receptores hormonaisextinguiu-se após 4-5 anos de seguimento.16,17

Shimizu et al.17 encontraram positividade de50 e 60% para RE e RP, respectivamente, notumor primário e somente 25 e 30% naslesões recidivadas, respectivamente.

O valor prognóstico dos RH é maior nasmulheres pós-menopausa.14,18 As pacientes comtumores positivos para RP mostram ummaior intervalo de tempo livre da doença emaior sobrevida.14,18 Os tumores positivospara RE estão associados a uma maiorsobrevida livre de doença e também a umamaior probabilidade de resposta à terapiahormonal.19 Pacientes com negatividade paraambos os receptores (RE e RP) mostrarampior prognóstico do que aquelas pacientes comnegatividade para apenas um dos receptores.20

Stierer et al.11 mostraram uma associaçãosignificativa entre tumores positivos para RHe baixo grau histológico, baixo pleomorfismonuclear, baixa atividade mitótica e pacientespós-menopausa. O estado dos RH não estavaassociado significativamente com a condiçãodos linfonodos axilares. Stierer et al.21

encontraram que a determinação de RE, otamanho do tumor, o estado dos linfonodosaxilares, o grau histológico, a atividademitótica e o pleomorfismo nuclear foram devalor prognóstico para sobrevida livre de

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doença e também para sobrevida geral daspacientes. Na análise multivariada o estadodos linfonodos axilares, o tamanho do tumore a atividade mitótica, provaram ser fatoresprognósticos independentes, enquanto que adeterminação dos RE pelo método imuno-histoquímico mostrou significância apenas naanálise univariada.

MacGrogan et al.6 estudando 942 casosde CDI de mama, encontraram na análiseunivariada, associação significativa entretumores positivos para RP e outrosindicadores de bom prognóstico (tumoresmenores que 2 cm e de baixo grauhistológico). Os tumores positivos para RPtambém estavam significativamente asso-ciados, na análise univariada, com a sobrevidageral e com a sobrevida livre de recidiva e demetástase. Na análise multivariada com ogrupo inteiro de pacientes, o estado doslinfonodos axilares (positivos), o grauhistológico (grau III), o estado dos RP(fracamente positivo ou negativo) e o tamanhodos tumores (> 2 cm) foram fatoresprognósticos independentes (mau prognóstico).No grupo de pacientes com linfonodosaxilares negativos, o estado dos RP (fracamentepositivo ou negativo) foi o único fator preditor(mau prognóstico) independente para asobrevida geral. Para a sobrevida livre dedoença e de metástase, o estado dos RP(fracamente positivo ou negativo), juntamentecom o tamanho dos tumores (> 2 cm) e ograu histológico (grau III), foram fatoresprognósticos independentes (mau prognóstico).No grupo de pacientes com linfonodos axilarespositivos, o grau histológico (grau III), otamanho do tumor (> 2 cm) e o estado dos RP(fracamente positivo ou negativo), foram fatoresprognósticos independentes (mau prognóstico)para a sobrevida geral e para a sobrevida livrede recidiva e de metástase.

���#�������#1'���O valor do estudo dos RE e dos RP na

previsão da resposta ao tratamento hormonaldo câncer de mama avançado tem forteembasamento: a taxa de resposta positiva éde 77% para os tumores positivos para am-bos; 46% para os tumores negativos para REe positivos para RP; 27% para os tumorespositivos para RE e negativos para RP e, 11%para os tumores negativos para ambos.22

Segundo Nicholson et al.23 a percentagem decélulas positivas para RE em uma série de 118casos de câncer de mama, relacionou-se com aresposta do paciente à terapia endócrina. A taxade resposta ao tratamento foi significativamentemais alta em mulheres com tumores positivospara RE, especialmente quando o tumorapresentava mais de 70% das células positivas.Nos tumores negativos para RE raramente houveresposta ao tratamento hormonal.

Os RE são também determinantesimportantes na resposta à terapia hormonal empacientes com doença recidivada. Se possível,a análise dos RH deve ser feita também nalesão recidivada, já que ocorrem variações daexpressão dos RE do tumor primário emetástases em 25% dos casos. A probabilidadede se encontrar uma diferença é menor quandoo tumor primário e as metástases ocorremsimultaneamente ou se o tumor primário énegativo para RE. A probabilidade de resultadosdiscrepantes aumenta com o aumento dointervalo entre os espécimes e se o tumorprimário é positivo para RE.2,10

F�1CCF/A literatura mostra para este marcador

vários nomes e também algumas grafiasdiferentes: c-erbB-2; cerbB-2; C-erbB-2; HER-2;HER-2/neu; ERBB2; erbB2; erbB-2; neu/c-erbB-2; oncogene neu; proteína neu; neu.Neste trabalho será adotado o termo “c-erbB-2”.

O c-erbB-2 tem sido extensamenteestudado em carcinomas de mama desde queSlamon et al. (1987)24 demonstraram umaassociação entre a sua amplificação e um mauprognóstico.25,26

- �����������������O método imuno-histoquímico é atualmente

o método mais empregado para a detecção dec-erbB-2, sendo mais conveniente que outrasanálises, não somente porque a técnica é maisfácil, mas também porque existem evidênciasde que a despeito da alta correlação entre aamplificação do gene e a expressão aumentadade c-erbB-2, esta última pode estar presente sema amplificação do gene.27

A imuno-histoquímica pode ser afetadapor uma variedade de fatores, incluindodiferentes métodos de fixação do tecido, ouso de diferentes métodos de recuperação

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(retrieval) de antígenos, o uso de diferentesanticorpos, e diferentes critérios para aavaliação da coloração nos cortes.28 Ao seinvestigar a expressão aumentada de c-erbB-2por imuno-histoquímica, a coloração da mem-brana deve ser considerada como um sinalconfiável dessa expressão aumentada.29

"����1������,������� A amplificação do gene tem sido descrita

em 10-40% dos carcinomas de mama. Aexpressão aumentada de c-erbB-2, detectadapor imuno-histoquímica, ocorre em cerca de20% de todos os cânceres de mama e em25% dos CDI. Nenhum aumento deexpressão tem sido descrito no CL in situ.29

Segundo Rosen et al.30 somente 10% dos car-cinomas medulares expressam o c-erbB-2(contra 49% dos CDI).

A associação da expressão aumentada dec-erbB-2 com a sobrevida geral e a sobrevidalivre de doença, segundo De Potter eSchelfhout,29 seria devida ao aumento daatividade metastática das células tumorais queo expressam. A molécula desempenharia umpapel chave na patogênese da doença de Pagetmamária. No carcinoma ductal in situ(CDIS), a expressão aumentada de c-erbB-2poderia ser um marcador preditivo para arecidiva da doença após a ressecção tumoral.29

Como se tem uma alta proporção dosCDIS, principalmente os do tipo comedocar-cinoma, com expressão aumentada de c-erbB-2,é sugerido que o c-erbB-2 desempenharia umpapel mais importante na iniciação do quena progressão do carcinoma ductal.31

����������A relação entre o c-erbB-2 e o prognóstico

do câncer de mama tem sido extensivamenteexaminado, com considerável atenção à recidivatumoral e à sobrevida das pacientes.15,30,32-35

Vários autores encontraram que a expressãoaumentada de c-erbB-2 é um indicador deprognóstico ruim.32,35 De acordo com algunsinvestigadores, as pacientes cujos tumoresexibem expressão aumentada de c-erbB-2apresentam uma sobrevida livre de doençamenor e também uma sobrevida geral menor.6,36-38

Entretanto, outros autores, na análisemultivariada falharam em encontrar umaassociação significativa entre a sobrevida geral,a sobrevida livre de doença e o c-erbB-2.39

O papel do oncogene c-erbB-2 no câncerde mama tem sido extensamente investigado;

entretanto, os resultados permanecem contro-versos. A associação da expressão aumentadade c-erbB-2 ou sua amplificação com um piorprognóstico é muito mais forte em pacientescom linfonodos positivos do que em pacientecom linfonodos negativos.38

Alguns autores não encontraramassociação significativa entre o c-erbB-2 e oestado dos linfonodos axilares.34,40,41 Paraoutros investigadores esta associação foisignificativa.27,42,43

Mittra et al.,43 concluíram que a influênciaprognóstica da expressão aumentada do c-erbB-2aumentava aritmeticamente com o númerode linfonodos axilares envolvidos. Aryandonoet al.44 encontraram que a positividade parac-erbB-2 estava associada significativamentecom o número de linfonodos axilarescomprometidos.

Uma associação negativa e forte entre oc-erbB-2 e os RE e os RP também tem sidodescrita.27,31,40

A expressão aumentada dos oncogenes p53mutado e c-erbB-2 são as duas anormalidadesgenéticas mais associadas ao carcinoma demama. Os tumores que expressam essas duasproteínas teriam um pior prognóstico,possivelmente pela perda de um mecanismode controle inibidor da proliferação celular epelo ganho de um ativador de potencialmaligno.45 Uma coloração positiva para am-bos, p53 e c-erbB-2, indica uma anormalidadegenética subjacente: mutações localizadas nogene p53 e amplificação do c-erbB-2.33,37,38

2 #���,����� ��� ���A medida dos fatores prognósticos

desempenha um papel importante na terapiado câncer de mama, especialmente no manejode tumores com axila negativa. O c-erbB-2 éum dos marcadores que se mostra promissorneste sentido.26,29,33

O estudo do c-erbB-2 em pacientes comcâncer de mama, do ponto de vista clínico,pode tornar-se importante para uma poste-rior quimioterapia. Aparentemente aspacientes cujos tumores exibem umaexpressão aumentada de c-erbB-2 podem terum maior benefício com altas doses dequimioterapia. A expressão aumentada dec-erbB-2 poderia, portanto, ser um marcadorútil para identificar as pacientes que iriamprovavelmente mais se beneficiar de altasdoses de quimioterapia adjuvante.29

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Barnes26 relatou que os tumores c-erbB-2positivos falharam em responder à terapiaendócrina e à quimioterapia. Carlomagno etal.33 e Houston et al.,46 estudando carcinomasde mama, encontraram que a expressãoaumentada de c-erbB-2 define um subgrupoque, provavelmente, responde pouco à terapiaendócrina.

��3������������& ����Numerosos estudos têm examinado o

significado prognóstico da expressãoaumentada de c-erbB-2 em pacientes comcâncer de mama, tanto com axila positivaquanto com axila negativa.27,30,32,33,38,43 Emboramuitos investigadores sugiram que a presençada expressão de c-erbB-2 alterada seja um si-nal de prognóstico desfavorável, o assuntopermanece controverso.30

Segundo Press et al.47 a revisão dessesestudos revelou a presença de considerávelvariabilidade metodológica, incluindo:grandes diferenças no tamanho das amostras,diferentes tempos de seguimento daspacientes, utilização de diferentes técnicas,uso de diferentes reagentes e uma grandevariabilidade de anticorpos usados em imuno-histoquímica em material arquivado (a grandemaioria utilizou material arquivado). Essesautores em seu estudo com o c-erbB-2,utilizando material arquivado de 187 carci-nomas de mama, empregaram 4 diferentestécnicas: Southern blot, Northern blot; West-ern blot e imuno-histoquímica. Utilizaram,ainda, na imuno-histoquímica, 7 anticorpospoliclonais e 21 anticorpos monoclonais. Elesconcluíram que a habilidade desses anticorposem detectar a expressão aumentada de c-erbB-2foi extremamente variável e não comparável,dando uma explicação importante para avariabilidade da taxa de expressão aumentadareportada na literatura.47

As razões para as discrepâncias nosresultados, segundo Keshgegian seriam:

a) grande variação do número de casos;b) variação na metodologia;c) uso de diferentes anticorpos na deter-

minação da expressão aumentada de c-erbB-2por imuno-histoquímica;

d) diferentes critérios de positividade(desde qualquer coloração de membrana até

a fortemente corada, ou coloração docitoplasma de uma pequena percentagem decélulas até a maioria das células coradas).40

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A catepsina D é uma endoproteaselisossomal ácida, encontrada em praticamentetodas as células dos mamíferos e é ummarcador tumoral muito estudado em câncerde mama.48-54 Embora a catepsina D apresenteampla distribuição nos vários tipos de célulashumanas, existem diferenças quantitativas nasua distribuição tecidual.51 A funçãofisiológica da catepsina D é desconhecida,mas parece estar envolvida na degradação dasproteínas teciduais, tanto em condiçõesnormais quanto patológicas.51 O papel dacatepsina D na carcinogênese acredita-se estarassociado à estimulação da síntese de ADN emitose durante a regeneração tecidual e devidoao seu poder proteolítico, facilitaria adisseminação tumoral, por digestão deproteoglicanos da matriz intersticial e membranabasal.50,52 Estas evidências levaram à elaboraçãoda hipótese de que a secreção da catepsina Dpelas células tumorais facilitaria a iniciação eprogressão do processo metastático.50 SegundoNakopoulou et al.51 a catepsina D é umaproteína claramente associada com a invasi-vidade tumoral e a presença de metástases paralinfonodos axilares.

Os dois métodos mais empregados para adetecção da catepsina D são o bioquímico eo imuno-histoquímico. Göhring et al.,52

Stonelake et al.55 e Itoh et al.,56 encontraramboa correlação entre esses dois métodos dedetecção da catepsina D. Göhring et al.52

encontraram, na literatura, taxas de concor-dância de aproximadamente 70%.

Segundo Göhring et al.52 o método imuno-histoquímico é superior ao bioquímico,porque, além de ser um método mais simples,fornece dados mais preditivos em relação aoprognóstico. Além disto, para o métodobioquímico há necessidade de uma boaquantidade de o tecido a fresco ou congeladoà -70ºC. Para o método imuno-histoquímiconecessita-se de quantidades mínimas de ma-terial e este pode ser fixado em formol eembebido em parafina (material de arquivo).

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Alguns estudos têm demonstrado que al-tos níveis de catepsina D, detectada atravésdo método bioquímico, associa-se com piorprognóstico do câncer de mama.52,57 Utilizando-se a técnica por imuno-histoquímica, asdiscrepâncias nos resultados são grandes:enquanto que alguns estudos não têmconfirmado a associação entre imunorrea-tividade da catepsina D e maior agressividadedo carcinoma de mama,50,55,56 outros têmrevelado maior agressividade biológica.48,52,53

Quando se compara a expressão dacatepsina D, através de estudo imuno-histoquímico, com outros fatores prognósticosdo câncer de mama, como o grau histológico,por exemplo, parece haver resultadoscontroversos, sendo que a maioria dos autorespesquisados não encontrou associação entrealto grau histológico e a positividade para acatepsina D.48-51,55

A produção da catepsina D parece serinfluenciada pelo estrogênio, embora estaafirmação seja ainda debatida na literatura.50

Eng Tan et al.58 relataram uma associação en-tre a positividade para os receptores deestrogênio e a imunocoloração positiva paraa catepsina D. Outros autores não têmconfirmado esses achados.48-52,55,56

A associação entre a expressão aumentadada catepsina D e a sobrevida livre de doençaé controversa. Para esta associação, Aaltonenet al.,49 Iwaya et al.54 e Eng Tan et al.58

encontraram significância estatística.Na literatura estudada, o único estudo

onde a catepsina D foi um fator prognósticoindependente para a sobrevida geral, empacientes com linfonodos positivos enegativos, foi o de Isola et al.48 No estudo deGöhring et al.,52 a catepsina D foi tambémum fator prognóstico independente para asobrevida geral, mas somente nas pacientescom linfonodos negativos. Vários autores49,56,58

não confirmaram esses achados.

��CF��: ��A atividade mitótica, vista em histo-

patologia, é um indicador do ciclo celular,mas a contagem de mitoses requerpadronização e envolve algum grau desubjetividade.16 Atualmente existem técnicasque permitem a avaliação, por imuno-

histoquímica, da proliferação celular peladetecção e quantificação de proteínas celularesque somente existem durante a proliferaçãocelular. Vários antígenos têm sido identificados,incluindo o MIB-1 (para material parafinado),o Ki-67 (para material congelado) e o antígenonuclear de proliferação celular (PCNA).16,59

O PCNA é uma proteína de 36 kD eaparece no núcleo da célula da fase G1 tardia àfase S do ciclo celular. O MIB-1 é um anticorpodireto contra partes do antígeno Ki-67. Umaalta proporção de células tumorais coradas peloMIB-1 ou pelo Ki-67 e pelo PCNA associa-secom alto grau de diferenciação tumoral e in-dica um pior prognóstico.16,59

O MIB-1 e o Ki-67 são proteínas nuclearesnão-histona encontradas em todas as fases dociclo celular, menos na G0. Uma alta proporçãode células tumorais corando para MIB-1 ouKi-67 associa-se positivamente a um tumor depouca diferenciação e inversamente ao númerode receptores estrogênicos, indicando umprognóstico ruim.16,59 O PCNA é também umaproteina nuclear não-histona que funcionacomo uma proteína acessória à ADNpolimerase delta. Seus níveis correlacionam-se à proliferação celular e, especificamente, àsíntese de ADN. Sua medição feita numa sériede tumores mostrou associações com aatividade mitótica e o grau tumoral.60

Tumores bem diferenciados tendem a terbaixo índice de proliferação, enquanto queos de alto grau tendem a ter alto índice deproliferação, tanto do MIB-1 ou Ki-67, quantodo PCNA. Os tumores que apresentam altastaxas de proliferação celular, na grande maioriadas vezes, são tumores de alto grau demalignidade e também são mais sensíveis aotratamento, pois a maioria das drogas anti-neoplásicas são mais eficazes contra célulasmais rapidamente proliferativas.16

Crosier et al.61 comparando cânceres demama detectados por mamografia (screening)e aqueles que surgem no intervalo entre duasmamografias (dois screenings) evidenciaramque os últimos, na análise univariada,apresentavam maiores dimensões, alto grauhistológico e eram RE negativos, p53 positivos,Ki-67 positivos e c-erbB-2 positivos. Naregressão logística, as variáveis de maior pesoforam o Ki-67 e o c-erbB-2. Estes tumoresapresentaram níveis muito aumentados deproliferação celular.

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*���$�����O gene supressor de tumor TP53 (ou

p53), localizado no cromossomo 17p13.1,codifica uma fosfoproteína de 53 kDa quedesempenha um importante papel no controledo ciclo celular e previne o aparecimento docâncer. A proteína p53 tem o papel debloquear a divisão celular em células quesofreram injúrias no seu ADN, dando tempopara a sua reparação; se esta falha, a expressãomantida do p53 dispara a cascata da apoptose.A perda da função desse gene pode estarrelacionada tanto à iniciação quanto àprogressão tumoral.45,62

Mutações em regiões diferentes da proteínap53 podem resultar em diferentes efeitosbiológicos. A imunorreatividade nuclear dop53 tem sido considerada um indicadorindireto de mutação do gene p53. Suasmutações constituem a anormalidade molecu-lar mais comumente encontrada nos tumoressólidos do homem e são achadas numa altaproporção dos tumores de mama, onde estãoassociadas a tumores mais agressivos e a umpior prognóstico. 63,64

As mutações no gene p53 em câncer demama foram identificadas em cerca de 15 a40% dos tumores esporádicos e na linhagemgerminativa de pacientes com Síndrome deLi-Fraumeni, uma síndrome de câncerhereditário associada ao câncer de mama.Essas mutações em carcinomas de mamaesporádicos têm sido associadas com alto grauhistológico e baixos níveis de receptores deestrogênio e progesterona.62

Um fato que deve sempre ser consideradoquando se lida com o p53 imuno-histoqui-micamente é que a sua expressão aumentada podeocasionalmente não estar relacionada à mutaçãodo gene p53 e, inversamente, a mutação do genep53 pode ocorrer sem a expressão aumentadado p53.45

Em muitos tumores humanos, aexpressão aumentada do p53 está associadaa parâmetros biológicos e histológicos deagressividade. Vários investigadores têmsugerido um possível valor prognóstico paraa expressão imuno-histoquímica do p53 emcarcinomas de mama. Entretanto, os resul-tados desses estudos em carcinomas de

mama são, pelo menos em parte, conflitantes,e é difícil de se comparar os resultadosobtidos, devido às diversas metodologias etécnicas utilizadas.45,62,65,66

Uma boa correlação entre os resultadosde imuno-histoquímica, e a ocorrência demutação, detectada por métodos moleculares,tem sido observada quando se consideramtumores com pelo menos 25% de célulaspositivamente coradas. Alguns estudos têmrelatado a existência de uma associação entrea amplificação do oncogene c-erbB-2 e oacúmulo da proteína p53.62

�4$������$�����'�Para comparar os resultados dos artigos

publicados sobre a expressão aumentada dop53 na sobrevida dos carcinomas de mama,Barbareschi,45 analisou alguns dos maisrelevantes aspectos de 37 estudos envol-vendo uma população total de 9.860pacientes. Os artigos foram subdivididosem três grupos:

a) 12 artigos (4.510 pacientes) encontraramque a expressão aumentada do p53 teve valorprognóstico independente na sobrevida doscarcinomas de mama;

b) 11 artigos (2.331 pacientes) encontraramassociação entre a expressão aumentada do p53e uma pior sobrevida nos carcinomas de mamasomente na análise univariada ou somente empequenos subgrupos dos pacientesinvestigados;

c) 12 artigos (3.021 pacientes) não mostraramqualquer valor da expressão aumentada dop53 na sobrevida dos pacientes.

Barbareschi45 encontrou, ainda, naliteratura, algumas associações entre o p53 eoutros fatores prognósticos do câncer demama (número de estudos onde se pesquisou/número de estudos onde se encontrou aassociação): associações do p53 com:

a) alto grau nuclear e/ou alto grauhistológico (6/7);

b) receptores de estrogênio negativos (8/11);c) grande tamanho de tumor (1/12);d) linfonodos positivos (1/8);e) receptores de progesterona negativos (7/9);f ) alto número de mitoses (0/1);g) expressão aumentada de c-erbB-2 (2/4);h) Ki-67 (1/1).

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Os grandes avanços na Biologia Molecular,ocorridos na última década, contribuírambastante para o desenvolvimento dos marcadorestumorais. A sua utilização, sempre crescente,na avaliação do prognóstico do câncer de mamase dá em decorrência de que o uso de fatoresprognósticos convencionais pode identificarapenas as pacientes que têm um excelente ouum péssimo prognóstico. Para as remanescentes,os indicadores prognósticos atuais não sãosuficientemente sensíveis para determinardecisões terapêuticas. Um dos caminhos parase diminuir a mortalidade por câncer de mamaseria a procura de marcadores que poderiamajudar o clínico a identificar pacientes comtumores potencialmente agressivos, para ainstituição de terapia que poderia alterar o cursoda doença. Alguns marcadores tumorais e suasrelações com o prognóstico são discutidos:

Cerca de dois terços dos carcinomas demama são RH positivos (RE e/ou RP) e estapositividade está altamente associada com aidade da paciente e existe uma relação inversacom o tamanho do tumor, o grau histológicoe o grau nuclear. Os tumores RH positivostêm um prognóstico mais favorável erespondem melhor à terapia hormonal.

O c-erbB-2 é um proto-oncogene queocorre em cerca de 20% de todos os cânceresde mama e os tumores que exibem amplificaçãodeste proto-oncogene, geralmente, apresentamum pior prognóstico. A maioria dos tumores c-erbB-2 positivos respondem melhor àquimioterapia não hormonal.

A catepsina D é um outro marcador tu-moral que, segundo alguns autores, estáassociado a um pior prognóstico.

Existe uma associação positiva entre ograu histológico e o índice de proliferaçãocelular, sendo o MIB-1 e o PCNA doismarcadores que medem essa proliferação(atividade mitótica). Os tumores que exibemum alto índice de proliferação celular são, namaioria das vezes, mais sensíveis às drogasanti-neoplásicas.

A mutação do gene p53 é um fenômenocomum em numerosos tumores humanos,especialmente nos carcinomas de mama. Aexpressão aumentada do p53 está associada,segundo alguns autores, a tumores maisagressivos e a um pior prognóstico.

Não existe consenso, na literatura, sobreos resultados aqui apresentados e estascontrovérsias podem ser explicadas, em parte,pela falta de homogeneidade nos diferentesestudos. Algumas das razões para as discre-pâncias são as que se seguem:

a) grande variação do número de casosnas diferentes séries;

b) diferentes métodos de fixação dos tecidos;c) variação de técnicas e de metodologias

utilizadas nos diferentes trabalhos;d) o uso de diferentes métodos de recuperação

de antígenos (em imuno-histoquímica);e) o uso de diferentes anticorpos em imuno-

histoquímica (mono ou policlonais);f ) diferentes critérios da avaliação da

positividade para os diferentes antígenos.28,40

Deve-se ter muito cuidado ao se lidar comos marcadores tumorais como fatoresprognósticos do câncer de mama, pois ainda setem muito a aprender sobre eles. São necessáriosmais estudos prospectivos para seremconfirmadas as associações entre os marcadorestumorais e outros fatores prognósticosimportantes para o câncer de mama. Paraalcançar a resposta precisa, há necessidade degrandes estudos cooperativos que possamavaliar a sobrevida das pacientes em relação aestes marcadores, utilizando métodosuniformes, em grandes séries de pacientes,tratadas de uma maneira homogênea e comseguimentos superiores a 10 anos.40,45,62

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