canais de marketing · web viewa ampliação dos serviços de saúde ofertados à criança com a...

23
CONSULTA DE ENFEMAGEM À CRIANÇA: a percepção de enfermeiros quanto a implementação e o desenvolvimento NURSING CONSULTATION FOR CHILD: the perception of nurses regarding the implementation and development Jéssica Martins de Campos. – [email protected] Thaisa Prestes Ribeiro – [email protected] Graduandas em Enfermagem- Unisalesiano-Lins Profª. Orientadora: Patrícia Maria da Silva Crivelaro – Unisalesiano-Lins- patrí[email protected] RESUMO O presente estudo objetivou conhecer a percepção dos enfermeiros das Estratégias de Saúde da Família de um município do interior paulista sobre a implementação e desenvolvimento da Consulta de Enfermagem à Saúde da Criança. Trata-se de uma pesquisa descritiva, qualitativa, realizada com 06 (seis) enfermeiros responsáveis por Estratégias de Saúde da Família (ESF). Os dados foram colhidos por meio de entrevista áudio gravada, em seguida foram transcritos na íntegra e analisados segundo o referencial metodológico de BARDIN. Os resultados foram apresentados em três categorias: Ações desenvolvidas nas ESF´s em relação à saúde da criança; Dificuldades encontradas no processo de execução da consulta de enfermagem à criança; Importância da consulta de enfermagem para o crescimento e desenvolvimento da criança. Percebeu-se que as ações executadas ainda são restritas a procedimentos como mensuração do peso e altura, além da vacinação e pré- consulta médica, não sendo abordados com ênfase, atividades de educação em saúde e ou até mesmo a consulta de enfermagem. Dificuldades diárias impedem os enfermeiros de implementarem e executarem a consulta de enfermagem como preconizado nas legislações, deixando de executar as etapas do processo e até mesmo o registro adequado do mesmo, porém os enfermeiros pesquisados consideram a consulta como de extrema importância no contexto do crescimento e desenvolvimento da criança e 1

Upload: ngomien

Post on 06-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CONSULTA DE ENFEMAGEM À CRIANÇA: a percepção de enfermeiros quanto a implementação e o desenvolvimento

NURSING CONSULTATION FOR CHILD: the perception of nurses regarding the implementation and development

Jéssica Martins de Campos. – [email protected] Thaisa Prestes Ribeiro – [email protected]

Graduandas em Enfermagem- Unisalesiano-Lins Profª. Orientadora: Patrícia Maria da Silva Crivelaro –

Unisalesiano-Lins- patrí[email protected]

RESUMO

O presente estudo objetivou conhecer a percepção dos enfermeiros das Estratégias de Saúde da Família de um município do interior paulista sobre a implementação e desenvolvimento da Consulta de Enfermagem à Saúde da Criança. Trata-se de uma pesquisa descritiva, qualitativa, realizada com 06 (seis) enfermeiros responsáveis por Estratégias de Saúde da Família (ESF). Os dados foram colhidos por meio de entrevista áudio gravada, em seguida foram transcritos na íntegra e analisados segundo o referencial metodológico de BARDIN. Os resultados foram apresentados em três categorias: Ações desenvolvidas nas ESF´s em relação à saúde da criança; Dificuldades encontradas no processo de execução da consulta de enfermagem à criança; Importância da consulta de enfermagem para o crescimento e desenvolvimento da criança. Percebeu-se que as ações executadas ainda são restritas a procedimentos como mensuração do peso e altura, além da vacinação e pré-consulta médica, não sendo abordados com ênfase, atividades de educação em saúde e ou até mesmo a consulta de enfermagem. Dificuldades diárias impedem os enfermeiros de implementarem e executarem a consulta de enfermagem como preconizado nas legislações, deixando de executar as etapas do processo e até mesmo o registro adequado do mesmo, porém os enfermeiros pesquisados consideram a consulta como de extrema importância no contexto do crescimento e desenvolvimento da criança e relatam o interesse no cumprimento destas atividades. Assim, a consulta de enfermagem a criança na atenção primária de saúde, traz benefícios ao processo de trabalho dos enfermeiros, como a identificação precoce de problemas de saúde, esclarecimento de dúvidas aos responsáveis pelo cuidado, monitoramento de agravos, atividades de educação em saúde e respaldo legal. Apesar disso, ainda é pouco executada, sendo as ações desenvolvidas às crianças restritas muitas vezes às queixas apresentadas. Mesmo entendendo a importância deste acompanhamento, os enfermeiros ainda relatam a dificuldade de realização no cotidiano. Por isso sugere-se o treinamento destes profissionais sobre planejamento de atividades diárias, execução do processo de enfermagem e inserção da consulta de enfermagem nos agendamentos de rotina, além da criação de instrumentos facilitadores que sistematizem a assistência de enfermagem.

1

Palavras-chave: Palavras-chave: Consulta de enfermagem, Saúde da criança, .

ABSTRACT

Child care in primary health care (PHC) encompasses a series of scientific and preventive technical actions directed from pre-birth to 10 years of age, aiming at health promotion and prevention of common diseases in this age group. In order to monitor the growth and development of the child, the Ministry of Health has instituted within the PHC childcare, which corresponds to periodic consultations from 0 to 2 years of age, which can be developed by the doctor and / or nurse. Despite the benefits of nursing consultation for children's health, studies show the difficulties faced by these professionals in the process of implementation and development. The present study aimed to know the perception of nurses of Family Health Strategies of a city in the interior of São Paulo on the implementation and development of the Child Health Nursing Consultation. It is a descriptive, qualitative research carried out with 06 (six) nurses responsible for Family Health Strategies (FHT). The data were collected by recorded audio interview, then transcribed in full and analyzed according to the BARDIN methodological framework. The results were presented in three categories: Actions developed in the FHS in relation to the child's health; Difficulties encountered in the process of executing the child's nursing consultation; Importance of nursing consultation for the growth and development of the child. It was noticed that the actions performed are still restricted to procedures such as weight and height measurement, besides vaccination and medical pre-consultation, not being addressed with emphasis, health education activities or even the nursing consultation. Daily difficulties prevent nurses from implementing and executing the nursing consultation as recommended in the legislations, failing to perform the process steps and even the adequate registration of the same, but the nurses surveyed consider the consultation as extremely important in the context of growth and development of the child and report the interest in accomplishing these activities. Thus, the nursing consultation of the child in primary health care brings benefits to the nurses' work process, such as the early identification of health problems, clarification of doubts to caregivers, the monitoring of injuries, health education activities and legal backing. Despite this, it is still little implemented, and the actions developed to restricted children are often the complaints presented. Even understanding the importance of this monitoring, the nurses still report the difficulty of accomplishment in daily life. Therefore, it is suggested that these professionals be trained in planning daily activities, performing the nursing process and inserting the nursing consultation in routine schedules, as well as creating facilitative instruments that systematize nursing care.

Keywords: Nursing consultation, child health, Primary Health Care.

2

INTRODUÇÃOO atendimento à criança na Atenção Primária de Saúde (APS) engloba uma

sequência de ações técnico-científicas e preventivas, direcionadas desde antes do

nascimento até os 10 anos de idade, objetivando promoção da saúde e prevenção

de agravos comuns nesta faixa etária (BRASIL, 2012).

A infância caracteriza-se como um importante período de desenvolvimento

físico mental, emocional e de personalidades. Assim, qualquer desajuste que ocorra

nesta fase pode ser responsável por prejuízos severos mais tardiamente,

desequilibrando a capacidade de enfrentamentos e até mesmo causando doenças.

O acompanhamento da criança em todo este período é a melhor estratégia de

diagnosticar problemas e proporcionar intervenções que promovam a qualidade de

vida e saúde (GUBERT et al., 2015).

Para acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança o

Ministério da Saúde instituiu dentro da APS a puericultura, que corresponde às

consultas periódicas, que podem ser desenvolvidas pelo médico e/ou enfermeiro,

além de outros profissionais que contribuem nas intervenções, como psicólogos,

nutricionistas, fonoaudiólogos entre outros.(CARNEIRO et al., 2015).

A ampliação dos serviços de saúde ofertados à criança com a criação do

Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC) em 1984, e da

Estratégia Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) em 1997,

foram ainda mais fortalecidos com a implantação do Programa de Saúde da Família

(PSF) em 1994/1998, hoje adaptado para Estratégia de Saúde da Família (ESF),

possibilitando maior acesso das populações aos serviços de saúde, aumentando o

vínculo profissional/usuário, favorecendo maior resolutividade (SOARES et al.,

2016);(BRASIL., 2017).

Neste contexto a atuação do profissional enfermeiro inserido na ESF no

atendimento à criança objetiva promover um crescimento e desenvolvimento

saudável, trabalhando ativamente nas orientações sobre aleitamento materno, na

alimentação saudável, no controle vacinal, controle de doenças transmissíveis e de

situações de risco à saúde (OLIVEIRA et al., 2012).

Todas estas ações são desenvolvidas por meio da consulta de enfermagem a

qual é uma atividade totalmente privativa do enfermeiro conforme a Lei do Exercício

Profissional nº 7.498/86 (BRASIL, 1986a). Além de ser obrigatória em qualquer

3

estabelecimento de saúde público ou privado que contenha equipe de enfermagem

de acordo com a Resolução COFEN nº 358/2009.

Sendo que de acordo com Machado (2013), no momento da consulta de

enfermagem ocorre a relação profissional-cliente, tornando o enfermeiro conhecedor

das necessidades que envolve a criança, as quais são importantes para nortear

ações e condutas durante seu crescimento e desenvolvimento, conduzindo ações

educativas efetivas e de sensibilização que atenda à criança e à família.

Na execução da consulta é desenvolvido o processo de enfermagem, que no

contexto da criança deve-se contemplar uma cuidadosa anamnese, mensuração do

crescimento, das fases de desenvolvimento pelo exame céfalo-podálico pela

inspeção, palpação percussão além das auscultas cardíaca, pulmonar e abdominal,

finalizando o processo com o levantamento de problemas, planejamento de ações e

intervenções que devem ser prescritas pelo enfermeiro e orientadas ao usuário e

equipe de enfermagem garantindo assim sua correta implementação, prosseguindo

com a avaliação da resolutividade das ações implementadas. (OLIVEIRA et al.,

2012; SOARES et al., 2016).

Além disso, considera-se de suma importância que todas as etapas do

atendimento à criança sejam realizadas de forma integral, sistematizada e

humanizada. (OLIVEIRA et al., 2012a).

O interesse pelo tema em questão se deu pela necessidade de explorar a

consulta de enfermagem à criança, pois na realidade vivenciada em campo de

estágio pôde-se observar que este atendimento ainda é pouco realizado, ou

realizado muito superficialmente.

Levantou-se a hipótese de que inúmeras funções são atribuídas aos

enfermeiros de Estratégia de Saúde da Família, os quais gerenciam as questões

administrativas da unidade, os programas de atenção em saúde, as equipes de

técnicos em enfermagem e de Agentes Comunitários de Saúde (ACS), bem como as

visitas domiciliarias e atividades de Educação em Saúde conforme determina a

Portaria 2436/2017. Acredita-se que estes profissionais enfrentam muitas

dificuldades tanto na implementação quanto na execução da consulta de

enfermagem às crianças.

4

Surgindo então a seguinte problemática: O acúmulo de funções dos

enfermeiros no gerenciamento das Estratégias de Saúde Família interferem na

implementação e desenvolvimento da consulta de enfermagem à Saúde da criança?

Conhecer a percepção dos enfermeiros das Estratégias de Saúde da Família

de um município do interior paulista sobre a implementação e desenvolvimento da

Consulta de Enfermagem à Saúde da Criança.

Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa dos dados.

Esse tipo de abordagem não se preocupa com representatividade numérica, mas

sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social ou de uma

organização sobre uma determinada temática (PORTELA, 2004). No tocante a

pesquisa descritiva, esta aponta as características de determinadas populações ou

fenômenos. (ALVES, 2008).

1. MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa dos dados.

Esse tipo de abordagem não se preocupa com representatividade numérica, mas

sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social ou de uma

organização sobre uma determinada temática (PORTELA, 2004). No tocante a

pesquisa descritiva, esta aponta as características de determinadas populações ou

fenômenos. (ALVES, 2008).

1.1 Cenário de pesquisa e população alvo

A pesquisa foi realizada com 06 (seis) enfermeiros responsáveis por

Estratégias de Saúde da Família (ESF) de um município do interior paulista.

Este município conta com aproximadamente 77.021 habitantes, de acordo

com a estimativa do IBGE para o ano de 2017. A atenção primária de saúde é

composta por cinco Unidades Básicas de Saúde, que contemplam o Programa de

agentes comunitários de Saúde (PACS) e seis Estratégias de Saúde da Família

(ESF).

5

A coleta de dados foi realizada nas ESF´s, sendo realizadas individualmente

com cada enfermeiro pelas autoras em datas e horários previamente agendados e

em local calmo e reservado na própria Unidade de Saúde.

1.2 Coleta de dados

Os dados foram colhidos por meio de entrevista áudio gravada, a qual foi

guiada por um roteiro semiestruturado composto por quatro questões norteadoras,

que envolviam os seguintes aspectos: as ações desenvolvidas na unidade referente

ao programa de saúde da criança; a implementação e execução da consulta de

enfermagem à criança na unidade; e a importância da consulta de enfermagem

durante as fases de desenvolvimento da criança.

Durante a coleta nem sempre eram necessárias utilização das quatro

questões, por vezes, com apenas a primeira questão as demais eram respondidas.

Após coleta de dados estes foram transcritos na íntegra e analisados segundo

o referencial metodológico de BARDIN.

Não foi necessário utilizar o critério de saturação de dados, uma vez que

foram julgados importantes as falas de todos os participantes para o resultado desta

pesquisa.

1.3 Referencial teórico de Bardin

O método de análise de conteúdo segundo BARDIN tem por objetivo

apresentar uma apreciação crítica do conteúdo como uma forma de tratamento em

pesquisas qualitativas e quantitativas (CÂMARA, 2013)

Segundo Bardin (2011) a análise de conteúdo é classificada em três fases:

a) A primeira fase é a fase de organização dos dados. Nesta fase será

realizada a leitura flutuante e a transcrição dos dados, obedecendo as

regras de exaustividade, representatividade, homogeneidade,

pertinência e exclusividade;

b) A segunda fase é a exploração do material através da escolha das

categorias a partir das questões norteadoras e/ou hipótese, sendo esta

fase composta pela Codificação, Classificação e Categorização;

6

c) A terceira fase é a análise de conteúdo que são denominados

tratamento dos resultados, onde os pesquisados procuram torná-los

significativos e válidos.

1.4 Procedimentos éticos

Esta pesquisa foi conduzida de acordo com as recomendações resolução

466, de 12 de dezembro de 2012 que dispões sobre os aspectos éticos de pesquisa.

O projeto foi encaminhado para autorização da Secretaria Municipal de Saúde e

posteriormente submetido na Plataforma Brasil para ser apreciado pelo Comitê de

Ética em Pesquisa do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium –

UniSALESIANO de Araçatuba-SP, obtendo parecer aprovado sob o nº 2.352.927

(ANEXO A).

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para apresentação dos resultados, foram atribuídos códigos à população

estudada, sendo “E1” a “E6”, que correspondem respectivamente aos seis

enfermeiros participantes. Para discussão foram utilizados referenciais do COFEN

que retratam a consulta e o processos de enfermagem.

2.1Categorização

Após a primeira fase da análise de conteúdo, composta pela leitura e

transcrição manual das entrevistas, prosseguiu-se com a categorização dos dados

para organização dos resultados e discussão. Nesta etapa, foram selecionadas três

categorias conforme consta abaixo:

a) Ações desenvolvidas nas ESF´s em relação a saúde da criança;

b) Dificuldades encontradas no processo de execução da consulta de

enfermagem à criança;

c) Importância da consulta de enfermagem no crescimento e desenvolvimento

da criança;

7

Quadro 2: Ações desenvolvidas nas ESF´s em relação a saúde da criança;

CATEGORIA 1 - Ações desenvolvidas nas ESF´s em relação a saúde da criança

E1 "...Aqui na unidade a gente tem na segunda-feira a tarde, só para o atendimento das crianças... puericultura, a gente pesa, mede, onde a doutora faz o gráfico..."E2...peso e altura, faz a menstruação para ver o desenvolvimento dessa criança né, assim junto geralmente tem o programa do bolsa família..."...agora tudo informatizado, então a gente sabe que ele tá faltoso, ai conseguimos identificar mas fácil..."E3...”Então, aqui na verdade a gente acompanha as crianças de 0 a 2 anos... que eu faço atividades no posto de saúde e na creche.E5”...gente tem nas escolas, a parte de odonto e algumas ações com educação continuada, dengue e prevenção, mas com criança a gente não trabalha muito, a população mais idosa aqui, então poucas ações, é mais prevenção..."

E6"...a gente faz junto com dentista que tem um projeto é nas escolas com a escovação então toda sexta-feira todos agentes comunitárias são divididas entre escolas e creches municipais para trabalhar ne a prevenção da cárie"...higiene pessoal, eu não tenho muita participação em relação a Puericultura ou a saúde da criança em acompanhamento, porque quando ela lá nasce eles já vão direto, geralmente já não gostam de fazer o pré-natal aqui, por ser médico da família... é clinico... e eles tem esses estigma de generalizar, fragmentar a medicina então eles vão ao Junqueira onde tem um obstetra e consequentemente já marcou a primeira consulta com o pediatra, então essa criança aparece pra mim quando tem uma emergência e não consegue o pediatra, uma dor de garganta, um febre, isso ai..."

Fonte: Elaborado pelos autores, 2018.

Como pôde ser observado a partir dos relatos dos enfermeiros, a assistência

que é prestada à criança foi principalmente voltada para o acompanhamento do

crescimento, por meio da mensuração do peso e altura, sendo relatado também a

imunização, exame do pezinho, ações educativas nas escolas e promoção de saúde

bucal.

Infelizmente, apesar da sua importância, o acompanhamento do

desenvolvimento não foi explicitamente relatado, visto que esta ação deve ser

realizada junto à avaliação do crescimento (peso e altura), durante a puericultura

(ALMEIDA, 2013)

As ações educativas deveriam ser mais difundidas e realizadas e a

identificação das demandas e necessidades temáticas de abordagens ocorrem

8

principalmente por meio do levantamento de problemas realizado na consulta de

enfermagem, que é imprescindível para conduzir o planejamento das ações em

saúde (OLIVEIRA et al., 2012).

A assistência à criança no Brasil tem-se baseado nas premissas da promoção

da saúde, prevenção, diagnóstico precoce e recuperação dos agravos na infância,

em conjunto ao acompanhamento programado do crescimento e desenvolvimento.

Essas ações são complementadas por atividades de controle das doenças

prevalentes, e pelas ações básicas, como o estímulo ao aleitamento materno,

orientação alimentar e imunizações. Elas contribuem também para a promoção da

qualidade de vida, tornando-se imprescindível o esforço conjunto da família, da

equipe e das diversas organizações, governamentais ou não. (GUBERT, 2015)

Quadro 3: Dificuldades encontradas no processo de execução da consulta de enfermagem à criança;

CATEGORIA 2- Dificuldades encontradas no processo de execução da consulta de enfermagem à criança;

E2"...Não existe a consulta de enfermagem, geralmente...(pensou)... assim...o que é feito é o que falei para vocês, a gente faz a avaliação dessa criança, na pré-consulta, não é feito a consulta de enfermagem, a gente na verdade, não consegue, infelizmente..."E3"...A consulta a gente marca, a criança já, desde o nascimento até um ano já marca de trinta e trinta dias, com o acompanhamento base, ai de um ano a dois anos, a gente marca de sessenta a sessenta dias... em caso de febre essas coisas, a minha consulta de enfermagem, é o que eu falei pra vocês, eu tenho dificuldade de fazer..."E4"...não, eu ainda não tenho essa implantação aqui na unidade eu vou tentar fazer ela agora esse semestre porque eu vou ter um grupo de estagio aqui agora e eu vou tentar fazer...""...mas você aprende a fazer ela de uma forma tão rápida e visual que você já vai , já pesa, já mede, já avalia, na hora você deita na maca pra medir a criança você já vai avaliando a criança de uma forma saudável, já vai vendo as alterações, visualizando a criança como um todo, ate mesmo você vai pra fazer uma vacina na criança, o teu olhar vai além da perninha da criança e isso é muito importante...""...É mais se você tem a puericultura implantada na sua unidade fica mais fácil de você fazer a consulta de enfermagem na criança...""...mas aqui implantado assim não, mas não significa que eu não faça o atendimento, entendeu, eu não tenho formulário preenchido. Mas ele é executado como procedimento..."E6"...É a consulta geralmente de enfermagem pra criança até tem... a gente tem uma SAE pra criança , mas como não tem um acompanhamento eu não

9

tenho uma constante dessa criança eu não acompanho...é, antes pra fazer a pré-consulta a gente, pesa, mede, pega os sintomas, as queixas principais e temperatura e só e fica bem pouco, bem pobre mesmo porque a gente não consegue tirar a cultura de especialista aqui..."

Fonte: Elaborado pelos autores, 2018.

Nota-se que a consulta de enfermagem à criança não é realizada como ação

prioritária pelos enfermeiros das ESF´s.

Porém, a Resolução 358/2009 revela obrigatoriedade da consulta de

enfermagem em lugares públicos ou privados, onde houver equipe de enfermagem

(COFEN, 2009).

Os enfermeiros entrevistados por vezes associam a consulta de enfermagem

a atendimentos como: mensuração do peso, altura e até mesmo a pré-consulta,

porém, frente a resolução do COFEN 358/2009, observa-se que não são

contempladas as etapas do processo de enfermagem como a anamnese/exame

físico, levantamento dos diagnósticos de enfermagem, prescrição e evolução. Estas

não foram relatadas em nenhum momento.

A consulta de puericultura deve ser desenvolvida de forma global e

individualizada. Além disso, o profissional de saúde deve ter a habilidade de

conhecer e compreender a criança no seu contexto familiar e social, além de saber

reconhecer as relações e interação da criança, com o meio socioeconômico,

histórico, político e cultural. (ROCHA et al., 2015)

Os resultados desta categoria corroboram o estudo realizado na Atenção

Básica do município de Juiz de Fora, Minas Gerais, onde foi observado dentre

outros aspectos as dificuldades para execução da consulta de enfermagem, sendo

observado nos relatos “espaço físico, descrença da população no profissional

enfermeiro, muitos papéis para preencher, áreas muito extensas com vários

moradores, equipe não resolutiva e com dificuldades de relacionamento”(SANTOS,

2008).

Podendo ser observado que a consulta de enfermagem à criança ainda não

foi implementada efetivamente nestas unidades, as intervenções de enfermagem se

tornam fragilizadas e muitas vezes sem embasamento científico, uma vez que se

não é realizada a consulta, não são executadas as classificações diagnósticas e por

consequência as intervenções passam a ser empíricas e por senso comum.

10

O acompanhamento sistemático e periódico da criança, por meio da consulta

de enfermagem, tem por finalidade a identificação de problemas de saúde-doença,

diminuindo a incidência de doenças, executando e avaliando cuidados específicos,

na promoção de seu bem estar físico, além da prevenção de agravos à saúde física

e mental (MACHADO, 2013); (SAMMYA et al., 2015)

Vale ressaltar aqui a tendência à fragmentação do atendimento em saúde,

observado nos relatos, os quais priorizam o atendimento das queixas apresentadas,

sendo que é necessário que a avaliação seja holística, conforme determina o

princípio do SUS de Integralidade (BRASIL., 2017)

O acompanhamento da criança por meio da consulta de enfermagem é

instrumento para a promoção da saúde, garantindo um crescimento e

desenvolvimento pautado em intervenções que garantam a integralidade do

atendimento, respeitando as individualidades, levando a qualidade de vida,

reduzindo vulnerabilidades e riscos à saúde (SOARES et al., 2016).

Além disso, o modelo de atuação da Unidade estudada, a Estratégia de

Saúde da família proporciona ao profissional a formação do vínculo com a família,

pela oportunidade de conhecer o meio em que essa criança está inserida, ampliando

o campo de abordagem da consulta de enfermagem, enriquecendo esta atividade, a

qual não pode ser apenas visualizada somente dentro de um consultório, mas

abrangendo outros ambientes e em especial o domiciliar(MACHADO, 2013).

Quadro 4: A importância da consulta de enfermagem

CATEGORIAS 3 – A importância da consulta de enfermagem

E1 "...Eu digo assim, a as sistematização, a palavra chave dela é organização, porque através dela, a gente conhece o paciente, a criança como um todo, você vai conhecer desde o probleminha que ela está apresentando, desde quando ela nasceu e apresentou alguma anormalidade, então através disso é aonde você consegue detectar, e solucionar problemas...""... Onde você consegue um planejamento e uma avaliação para o cuidado especifico e uma qualidade de assistência ..."E2 "...Eu acredito que é muito importante, porém, eu, aqui não é realizado, não é eficaz, só na hora da pré-consulta, na hora que essa criança vem tomar essa vacina, entendeu, é onde você consegue olhar aquela criança, vamos falar assim, por cima, a gente não faz uma avaliação física como deveria ser feito, então na minha unidade ela não é eficaz ..."

11

E3"...mas é o enfermeiro que consegue ver o desenvolvimento, se está abaixo peso, nas visitas “domiciliar”, a gente acaba identificando, as vezes eu identifico coisas na rua, eu vou fazer um visita a um paciente e identifico uma outra coisa errada...”E5".... no meu ponto de vista é fundamental, porque um enfermeiro que acompanha o médico acompanha a coisas agudas, mas o enfermeiro já está todo dia, o agente, o enfermeiro durante a consulta pode avaliar se está baixo peso, ver como está o desenvolvimento...”E6"...nossa em todas as fases da vida né, eu acho importantíssimo, principalmente porque a gente... a nossa parte de enfermagem tem uma visão bem mais ampla do que uma consulta médica , porque a gente não analisa só doença e remédio então a gente tem que ter o tato de fazer um bom exame físico e uma boa anamnese "...a boa enfermeira na unidade básica dentro da USF ela faz com o que a gente desafogue ate mesmo a santa casa pronto socorro, porque a gente pode resolver muita coisa aqui, e pra mim isso é importantíssimo..."

Fonte: Elaborado pelos autores, 2018.

Durante a entrevista os enfermeiros relatam que a consulta de enfermagem é

de extrema importância em todas as fases da vida e através dela é possível detectar

fatores prejudiciais à saúde da criança, pois através desta consulta, podemos

trabalhar com a promoção, prevenção, recuperação da saúde.

Segundo a resolução COFEN 358/2009 a consulta de enfermagem é

exclusivamente privativa do enfermeiro e insubstituível, pois através da integralidade

do atendimento prestado, do acolhimento e consequentemente do vínculo adquirido,

o qual instrumentaliza o processo de cuidar (SOARES et al., 2016).

Percebe-se que apesar do entendimento da consulta como importante esta

não é viabilizada no dia-a-dia de trabalho, devido às dificuldades já apresentadas.

Porém, faz-se necessário que o enfermeiro integre as consultas como rotina

como forma de reconhecimento e valorização dos aspectos da vida (ambiental,

social, cultural, econômico e comunitário) da família/criança, estreitados por uma

relação de vínculo e confiança, possibilitando que as orientações e condutas sejam

estabelecidas de acordo com as reais necessidades destes sujeitos (MOREIRA;

GAÍVA, 2017).Mesmo entendendo a importância da consulta de enfermagem à criança, os

enfermeiros ainda não a realizam no seu dia-a-dia e como justificativa para isso são

relatadas as barreiras que impedem esta ação, as quais na maioria das vezes são

estrutura, falta de conhecimento técnico científico devido a fragilidades na formação,

12

muitas atividades direcionadas ao enfermeiro e falta de instrumentos mais

simplificados que auxiliem em uma coleta de dados. Tudo isso corrobora com outros

estudos realizados em outras realidades no estado de São Paulo, bem como em

outros estados (OLIVEIRA et al., 2012), (SANTOS, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo provém do anseio de conhecer a percepção dos

enfermeiros das Estratégias de Saúde da Família de um município do interior

paulista sobre a implementação e desenvolvimento da Consulta de Enfermagem

(CE) à Saúde da Criança.

Sendo possível observar as fragilidades que envolvem este contexto, uma vez

que a maioria dos entrevistados relataram não desenvolver no seu cotidiano laboral

a consulta de enfermagem à criança. Ficando explícitas as dificuldades que

permeiam este processo, o qual é de extrema importância para cuidado integral ao

paciente, melhorando sua qualidade de vida.

No cenário estudado, os resultados mostraram que a CE não é realizada como

ação prioritária pelos enfermeiros, e além disso os participantes em alguns

momentos associaram a CE a atendimentos como: mensuração do peso, altura e

até mesmo a pré-consulta, relatam também a falta de tempo e escassez de

funcionários. Assim, pode-se se afirmar a necessidade dos órgãos públicos se

preocuparem com o treinamento de seus profissionais para esta demanda, uma vez

que é nítida sua importância para a saúde e qualidade de vida das crianças, bem

como para valorização e autonomia profissional.

Considera-se ainda que todos os participantes descrevem a importância da

consulta de enfermagem em todas fases da vida, porém, não a implementam no

cotidiano de trabalho pelas dificuldades enfrentadas no cotidiano, as quais se

resumem ao excesso de funções que são atribuídas a este profissional. Tais funções

fazem parte de suas competências e habilidades, sendo expressamente importante

o planejamento, organização e a busca por conhecimentos para que seja possível

um trabalho resolutivo.

Porém, não são apenas os profissionais que precisam de planejamento e

resolutividade, mas também a gestão dos serviços de saúde por meio do

13

dimensionamento adequado de profissionais, bem como a estruturação dos serviços

de saúde, além dos treinamentos e capacitações para toda a equipe.

A consulta de enfermagem é o método no qual o profissional enfermeiro

possui completa autonomia para desenvolver suas intervenções pautadas em

evidências científicas abrangendo a promoção da saúde do paciente, da família e

comunidade; é uma atividade independente e privativa do enfermeiro, que se realiza

de modo contextualizado e participativo, que conduz à integralidade do cuidado

prestado aos pacientes e autonomia da equipe.

A realização desta pesquisa subsidiou reflexões acerca dessa atividade

assistencial, a qual ainda é pouco discutida nos estudos que envolvem a atenção

primária de saúde. Por isso sugere-se a elaboração de pesquisas envolvendo esta

temática e principalmente envolvendo a formação e capacitação de enfermeiros para

este atendimento.

REFERÊNCIAS

ALVES, Elizete Lanzoni et al. Metodologia, Construção de uma Proposta Científica. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://www.professorapatriciaruiz.com.br/metodologia/proposta_científica.pdf>

ALMEIDA, Edmar. proposta de protocolo de puericultura para enfermeiros da atenção primária à saúde de taiobeiras/mg: universidade federal de minas gerais. curso de especialização em atenção básica em saúde da família. , [s. l.], v. 1, p. 16–18, 2013. Disponivel em : <https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/5074.pdf> acesso em: 02 nov. 2017

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. 2012. Disponivel em : < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvimento_1ed.pdf> acesso em: 01 dez. 2017

BRASIL. PORTARIA No 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017. [s. l.], 2017. Disponivel em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html > acesso em: 10 Abril. 2017

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. rede cegonha. portal da saúde - ministério da saúde, [s. l.], p. 1, 2012. Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_redecegonha.php> acesso em: 14 maio. 2018

14

CÂMARA, Rosana Hoffman. Análise de conteúdo : da teoria à prática em pesquisas sociais aplicadas às organizações. Revista Interinstitucional de Psicologia, [s. l.], v. 6, n. 2, p. 179–191, 2013. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/gerais/v6n2/v6n2a03.pdf> acesso em: 18 set. 2017

CARNEIRO, Grazielle Cavalcante de Souza et al. crescimento de lactentes atendidos na consulta de enfermagem em puericultura. Rev Gaucha Enferm, [s. l.], v. 36, n. 1, p. 35–42, 2015. Disponivel em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1983-14472015000100035&script=sci_arttext&tlpt> acesso em 10 maio. 2018

COFEN. Resolução Cofen-358 / 2009. Cofen, [s. l.], p. 1–3, 2009. Disponivel em: < http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html> acesso em: 14 março. 2017

GUBERT, Fabiane do Amaral et al. Development of a Nursing protocol for childcare consultations. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, [s. l.], v. 16, n. 1, p. 81–89, 2015. Disponivel em: <http://ucsj.redalyc.org/area.oa?id=40&tipo=coleccion&pal=enfermer%C3%ADa&year=2015&lan=2&cou=21&act=true&idp2=4> acesso em : 12 abril. 2018

MACHADO, MLP. Consulta de enfermagem ampliada: possibilidades de formação para a prática da integralidade em saúde. [s. l.], v. 34, n. 4, p. 53–60, 2013. Disponivel em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2015_2016_analise_zika.pdf> acesso em: 29 maio. 2018

MOREIRA, Mayrene Dias de Sousa; GAÍVA, Maria Aparecida Munhoz. Abordagem do contexto de vida da criança na consulta de enfermagem Approach of the child’s life context in the nursing appointment. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, [s. l.], v. 9, n. 2, p. 432, 2017. MS, Saúde. Portal do Departamento de Atenção Básica Estratégia Saúde da Família. [s. l.], p. 2018, 2018. Disponivel em: < http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/rt/captureCite/5433/pdf_1> acesso em: 10 out.2017

OLIVEIRA, Sherida Karanini Paz De et al. Temas abordados na consulta de enfermagem: revisão integrativa da literatura. Revista Brasileira de Enfermagem, [s. l.], v. 65, n. 1, p. 155–161, 2012. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=267022810023> acesso em: 28 dez. 2017

PORTELA, Gl. Pesquisa quantitativa ou qualitativa? Eis a questão. … pela Universidade Estadual de feira de …, [s. l.], n. 1999, 2004. Disponível em: <http://www.paulorosa.docente.ufms.br/metodologia/AbordagensTeoricoMetodologicas_Portela.pdf> acesso em: 10 abril. 2018

SAMMYA, Girzia et al. Educational practice nurses in nursing consultation child in perspective Madeleine Leininger. [s. l.], v. 4, n. 2, p. 124–129, 2015. Disponivel em: < https://education.afcna.org.au/lps/nursing-afcna-eu-p51-ce?token=c8d238a5c224c780208975c1fea08c29&gclid=Cj0KCQjwjN7YBRCOARIsAFC

15

b937cnh76bzf0CgYpdYvn7NEJk5mbGsSXZUJV-leN8spc7xzS-s2SxZEaAvyZEALw_wcB> acesso em: 10 out. 2017

SANTOS. a Consulta De Enfermagem No Contexto Da Atenção Básica De Saúde , Juiz De Fora , Minas Gerais. [s. l.], v. 17, n. 1, p. 124–130, 2008. Disponivel em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0104-07072008000100014&script=sci_abstract&tlng=pt> acesso em: 13 abril. 2018

SOARES, Delane Giffoni et al. Implantação Da Puericultura E Desafios Do Cuidado Na Estratégia Saúde Da Família Em Um Município Do Estado Do Ceará. Rev Bra Promoç Saúde, [s. l.], v. 29, n. 1, p. 132–138, 2016. Disponivel em: < http://periodicos.unifor.br/RBPS/article/view/3713> acesso 10 meio. 2018

16