cana brava

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energia eletrica

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Page 1: Cana Brava

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usina de um novo Brasil

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2005

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.

Page 14: Cana Brava

Construir e operar usinas hidrelétricas de grande porte é um imenso desafio em todo o

mundo. São obras complexas e gigantescas sob todos os aspectos, desde as soluções de

engenharia e logística, passando pelas questões de preservação ambiental e pelo respeito

às comunidades envolvidas. E esse é um desafio que o Brasil pode se orgulhar por vencer

com suas próprias forças. O país tem, reconhecidamente, uma das melhores expertises

internacionais na implantação desse tipo de obra. A Usina Hidrelétrica Cana Brava foi o

primeiro empreendimento implantado integralmente pela SUEZ Energy International no Brasil,

incluindo a Tractebel Energia. E sua execução e operação ocorreram da maneira como sempre

nos posicionamos em relação aos países onde investimos, buscando parcerias com o Estado,

com as empresas, universidades e comunidades, respeitando e valorizando o saber e a cultura

locais. Cana Brava foi erguida por brasileiros em um tempo recorde para esse tipo de obra,

com as melhores tecnologias disponíveis nas áreas social, de meio ambiente e de engenharia.

Sua operação comercial, que teve início há pouco mais de três anos, contribuiu decisivamente

para amenizar os impactos que a falta de energia provocaria na economia do país no início

do século XXI. Contribuiu ainda para gerar renda, qualidade de vida e perspectivas para os

moradores de Minaçu, Cavalcante e Colinas do Sul, no norte de Goiás. E, principalmente,

contribuiu mais uma vez para que o Brasil demonstrasse sua imensa capacidade de vencer

desafios e gerar riquezas, respeitando o meio ambiente e as pessoas.

Manoel Arlindo Zaroni Torres

Diretor Presidente da Tractebel Energia

APRESENTAÇÃO

Page 15: Cana Brava

.

Page 16: Cana Brava

11C A P Í T U LOC A P Í T U LO

O desafio da construção

Cana Brava marcou uma nova forma de construir usinas

hidrelétricas no Brasil. Foi o primeiro project finance

e o primeiro contrato EPC (Engineering, Procurement

and Construction) do setor elétrico, o que viabilizou sua

construção em apenas 36 meses, um recorde no país.

44C A P Í T U LOC A P Í T U LO

O desafio do desenvolvimento

33C A P Í T U LOC A P Í T U LO

O desafio social

22C A P Í T U LOC A P Í T U LO

O desafio ambiental

p á g i n ap á g i n a 1818

Construída no cerrado brasileiro, um dos mais ricos

biomas do país, Cana Brava teve 14 programas com

foco em ações de conservação e de preservação do

meio ambiente, que garantiram e, em muitos casos,

superaram as exigências da legislação.

p á g i n ap á g i n a 6 06 0

Transparência das ações, responsabilidade e profundo

respeito pelos direitos das pessoas e das comunidades

envolvidas – superando as exigências da lei – marcaram

a implantação da usina Cana Brava.

p á g i n ap á g i n a 9 89 8

Os resultados ambientais, as melhorias nas condições

de vida dos atingidos e o desenvolvimento das

comunidades demonstram a correção das ações

tomadas pelos envolvidos no projeto Cana Brava.

p á g i n ap á g i n a 14 214 2

SUMÁRIO

Page 17: Cana Brava

18 19

1C A P Í T U LO

Page 18: Cana Brava

18 19

O desafio da construção

Cana Brava marcou uma nova forma de construir usinas hidrelétricas no Brasil. Foi o primeiro project finance e o primeiro contrato EPC (Engineering, Procurement and Construction) do

setor elétrico, o que viabilizou sua construção em apenas 36 meses, um recorde no país.

Page 19: Cana Brava

20 21

O B

rasi

l dos

ano

s 90

A última década do século

XX marcou o início de

grandes transformações

que moldaram o Brasil

do século XXI.

Após praticamente 60 anos de uma econo-

mia fechada, que priorizava o desenvol-

vimento endógeno, com poucos períodos de

abertura para uma efetiva inserção internacio-

nal, no começo dos anos 90 o Brasil seguia os

passos de vários países que aderiram às premis-

sas do chamado Consenso de Washington. A

nova política econômica, adotada por todos os

governos da década, estava assentada na estabi-

lização da economia, com o combate à inflação

e o ajuste fiscal das contas públicas, e na pers-

pectiva de crescimento a partir de uma ampla

abertura comercial e financeira, desregulamen-

tação e privatizações. O que se esperava com

esse conjunto de medidas era transformar o país

em investment grade perante a comunidade fi-

nanceira internacional, implicando em menor

risco e menores juros domésticos; obter maior

competição por preços no mercado interno,

além de dotar as empresas brasileiras de maior

competitividade no comércio internacional.

Os três presidentes da década – Fernan-

do Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique

Cardoso – mantiveram-se firmes nessas premis-

sas e, cada um a seu tempo, implantaram medi-

Page 20: Cana Brava

20 21

das macroeconômicas e setoriais que realmente

modificariam a estrutura e a dinâmica da eco-

nomia do país. Um dos setores prioritários da

transformação estrutural foi o setor elétrico, es-

tatizado a partir dos anos 60, quando da cria-

ção da Eletrobrás. Apesar de ter ampliado em

10 vezes a oferta de energia até 1996, com a con-

clusão de grandes usinas hidrelétricas, e ter prati-

camente universalizado o serviço no país, o mo-

delo mostrava-se sem capacidade para atender a

demanda futura, em um cenário de crescimento

econômico. A principal mudança era a transfor-

mação de um sistema de monopólio estatal para

um sistema que atraísse a iniciativa privada. Pre-

via-se para o futuro um cenário com novos ato-

res, entre eles produtores independentes, vare-

jistas de energia e consumidores livres.

Mas naquele momento, nos primeiros

anos da década de 90, enquanto tudo isso não

saísse do papel, o setor elétrico não tinha con-

dições de continuar diversas obras que estavam

paradas, como as hidrelétricas de Itá e Macha-

dinho, na bacia do rio Uruguai, e a de Serra da

Mesa, no rio Tocantins. Antes das privatizações,

que só aconteceriam na segunda metade da dé-

cada, uma das alternativas encontradas pelo go-

verno brasileiro logo no início dos anos 90 era de

que as empresas públicas, detentoras das con-

cessões, buscassem parceiros privados para re-

tomar as obras. A primeira oportunidade con-

templou Serra da Mesa, uma usina de grande

porte localizada no estado de Goiás. Ela estava

semiconstruída, e Furnas Centrais Elétricas S.A.,

sua concessionária, deveria encontrar um sócio

privado para terminá-la, pois a intenção do go-

verno brasileiro era ampliar a participação do se-

tor privado no segmento. O grupo privado que

se tornou parceiro de Furnas em Serra da Mesa

foi o Banco Nacional, por meio de sua subsidiá-

ria Nacional Energética.

Page 21: Cana Brava

22 23

A S

UEZ

in

vest

e n

o B

rasi

l

Na década de 90, a SUEZ

Energy iniciou um processo de

internacionalização. Em 1998,

ganhou o leilão de concessão

da usina Cana Brava e

adquiriu a Gerasul, lançando

as bases para se transformar

em um dos grandes players do

setor de energia no Brasil.

L ogo após a retomada das obras de Serra

da Mesa, a SUEZ Energy International (na

época chamada Tractebel EGI) chegou ao Bra-

sil para os primeiros contatos com a área in-

ternacional do Banco Nacional, que tinha re-

lações com o Banco Nacional de Paris (BNP),

que, por sua vez, também tinha fortes ligações

com a SUEZ Energy. Até o final dos anos 80,

a SUEZ Energy era um grupo que, a partir da

Bélgica, atuava nos setores de gás, geração e

distribuição de energia elétrica quase que ex-

clusivamente na área do Benelux, com pou-

cas outras atividades internacionais. Nesse

momento, entretanto, muitas empresas com

perfis semelhantes – espanholas, francesas,

norte-americanas, entre outras – estavam ini-

ciando um processo de internacionalização,

montando estruturas fortes de investimento

em outros países, aproveitando a janela de-

corrente da abertura comercial e financeira,

privatizações e desregulamentação de mer-

cados de diversas nações em todo o mundo.

Nesse mesmo momento, a SUEZ Energy ini-

ciava um processo de internacionalização,

analisando oportunidades em países como

Posse da nova diretoria da Gerasul: Manoel Arlindo Zaroni Torres (Diretor), Gil Maranhão (Diretor), Cláudio Ávila da Silva (Presidente da Eletrosul), Victor Frank R. Paranhos (Presidente), Laércio Dias (Diretor) e Luiz Zappelini (Diretor da Eletrosul).

Page 22: Cana Brava

22 23

o Brasil, a Argentina, a Tailândia e os Estados

Unidos. Para tal, constituiu uma subsidiária,

chamada SUEZ Energy International.

O mercado brasileiro tornou-se um dos

alvos da estratégia da empresa. Entrar só de-

pendia do momento e do negócio adequados.

O primeiro deles, de fato, ocorreu em 1994,

quando a empresa assinou um acordo opera-

cional com a Nacional Energética para estudar

projetos de eletricidade no Brasil. Embora um

negócio envolvendo a parceria na conclusão

de Serra da Mesa, que interessava à SUEZ Ener-

gy International, não tivesse acontecido, as

empresas assinaram um acordo para prospec-

tar e participar de investimentos no setor. Logo

depois, entretanto, o Banco Nacional passou

a ser administrado pelo Banco Central e ter-

minou vendido. Mas sua subsidiária, Nacional

Energética, por ser uma empresa não-financei-

ra, não podia ser diretamente administrada ou

liquidada pelo Banco Central, e o Banco Na-

cional de Desenvolvimento Econômico e So-

cial (BNDES), seu principal financiador, tinha

interesse que a construção de Serra da Mesa

continuasse. Em junho de 1996 houve uma pri-

meira tentativa de leilão da Nacional Energéti-

ca, que fracassou, pois não houve propostas.

Pouco depois, dois grupos

se credenciaram à aquisição:

a SUEZ Energy International

e o grupo VBC, formado por

Votorantim, Bradesco e Ca-

margo Corrêa, que acabou

arrematando a empresa.

Longe de se abater, a di-

reção da SUEZ Energy Inter-

national aproveitou-se da ex-

periência e das informações

acumuladas e, olhando pa-

ra a frente, viu um cenário

de novas e excelentes oportunidades que se

configurariam no setor elétrico com a tendên-

cia de leilões de concessões e privatizações. A

partir de um pequeno escritório no Rio de Ja-

neiro, a SUEZ Energy Brasil, na época Tracte-

bel Brasil, continuou a estudar especialmente

o potencial do chamado complexo São Felix,

nos estados de Goiás e Tocantins, formado

por várias usinas hidrelétricas ao longo do rio

Tocantins. Serra da Mesa, a mais a montan-

te, estava em construção. As demais estavam

no papel, em uma longa história que come-

çara em outubro de 1979, quando o governo

federal autorizou o estudo do aproveitamen-

to dos recursos hídricos do rio Tocantins e de

seus afluentes. No projeto de aproveitamen-

to para a bacia, desenvolvido posteriormente

por Furnas, estavam previstas ainda as usinas

de Cana Brava, São Salvador, Peixe, Lajeado e

Estreito, todas em direção ao norte.

Pouco tempo depois da decisão da SUEZ

Energy International de estudar essa bacia, o go-

verno brasileiro começou a licitar novas usinas

que abasteceriam o país nos próximos anos. Es-

sa era a hora. Por um lado, o novo modelo valori-

zava a participação da iniciativa privada no setor

e, por outro, a estabilidade econômica e as pers-

pectivas de crescimento do

mercado passavam a qualifi-

car o Brasil como um bom ris-

co de investimento. A SUEZ

Energy International, então,

ampliou sua equipe de análi-

se de projetos no Brasil, ava-

liando profundamente cada

uma das possíveis licitações

sob os seus mais diferentes

aspectos. Faziam parte desse

time profissionais de várias

áreas com experiência no se-

Page 23: Cana Brava

24 25

tor elétrico, a maioria deles vindos da própria Na-

cional Energética.

A primeira concessão leiloada seria Cana

Brava, uma usina com potência de 450MW a ser

construída no rio Tocantins, 50 quilômetros rio

abaixo da usina de Serra da Mesa. O local fica

entre os municípios de Minaçu e Cavalcante, no

norte do estado de Goiás, considerado uma das

regiões mais pobres do estado, aproximada-

mente 250 quilômetros ao norte de Brasília. Os

estudos de viabilidade do Projeto Cana Brava ti-

nham sido concluídos pelo governo ainda em

1983. Mas somente em 1997 o empreendimento

recebeu o licenciamento ambiental, emitido pe-

la Agência Goiana

de Meio Ambiente

e Recursos Natu-

rais e acatado pelo

Instituto Brasileiro

do Meio Ambien-

te e dos Recursos

Naturais Renová-

veis - IBAMA. Cana

Brava era alvo prio-

ritário da equipe da

SUEZ Energy International havia vários meses.

O profundo conhecimento das questões sociais

e ambientais, decorrente da sólida cultura em-

presarial do Grupo SUEZ, e a eficiente modela-

gem financeira e de engenharia desenvolvida se

mostrariam decisivos para a empresa manter-se

firme em sua proposta de adquirir a concessão.

O principal problema para todos os concorren-

tes ainda era a inconsistência do novo modelo

do setor elétrico.

Na verdade, a formatação da licitação de

Cana Brava era em si mesmo uma novidade no

mercado brasileiro. Para a época, o negócio re-

velava um risco relativamente elevado, consi-

derando-se o investimento de centenas de mi-

lhões de dólares em um momento de transição

do modelo regulatório de público para privado,

de negócio fechado para o aberto, entre tantas

outras modificações.

Na prática, a Agência Nacional de Energia

Elétrica (ANEEL) colocava a concessão para lici-

tação e disponibilizava apenas uma série de es-

tudos básicos que o interessado, por sua conta

e risco, deveria aperfeiçoar. O contrato de con-

cessão determinava o pagamento à União de um

valor fixo anual de Uso do Bem Público (UBP),

entre o sétimo ano após a assinatura do contrato

e o trigésimo quinto ano. Ganharia a concessão

quem oferecesse mais ágio sobre o UBP fixado,

responsabilizando-

se não apenas pela

construção da obra,

mas também em

agir em conformida-

de com os termos e

condições da legis-

lação ambiental, as-

sumir responsabili-

dade por eventuais

acidentes ambien-

tais, pela desapropriação e o reassentamento da

população nas áreas afetadas e, principalmente,

assumir o risco de vender energia no mercado.

Pelo modelo, o detentor da concessão teria o di-

reito de vender a energia gerada no mercado li-

vre a ser criado, a partir do início da extinção dos

contratos iniciais entre geradores e distribuido-

res de energia firmados em 1997. Assim, em abril

de 1998, a SUEZ Energy International ganhou o

leilão de concessão da usina Cana Brava, e a em-

presa estava definitivamente no Brasil.

Nos meses seguintes ao leilão, a equipe da

SUEZ Energy Brasil atualizou as informações so-

cioeconômicas do Estudo de Impacto Ambien-

tal (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental

Page 24: Cana Brava

24 25

(RIMA) e preparou o Projeto Básico Ambien-

tal (PBA) de Cana Brava, além de rever o Proje-

to Básico de Engenharia. Três meses depois, em

agosto, o contrato de concessão foi assinado. O

desafio que se colocava à frente seria imenso: a

pequena equipe havia superado a primeira etapa

e vencido o leilão. Mas construir uma usina gre-

enfield, ou seja, a partir do zero, sem ter uma es-

trutura de suporte técnico, era um desafio imen-

samente maior. A solução veio em decorrência

das demais investidas da SUEZ Energy Interna-

tional no Brasil. Paralelamente ao processo de

Cana Brava, a empresa continuou a estudar vá-

rias oportunidades no processo de privatização

do setor. Uma das

prioridades era a

Centrais Gerado-

ras do Sul do Bra-

sil – Gerasul (hoje

chamada Tracte-

bel Energia), em-

presa que ficou

com o parque

gerador resultan-

te da cisão da estatal federal Eletrosul. Era um alvo

interessante. A Gerasul tinha 1.228 funcionários,

instalações no Rio Grande do Sul, em Santa Cata-

rina, e no Paraná, um parque com capacidade de

3.719MW, entre usinas térmicas e hidráulicas, mais

outras duas usinas em construção, e contratos fir-

mes de venda de energia – os contratos iniciais.

O processo de privatização da Gera-

sul foi muito disputado. Inicialmente, 42 pro-

ponentes adquiriram o edital, dentre eles a

SUEZ Energy International, que já havia tenta-

do, mas com exceção do leilão de Cana Brava,

nunca havia vencido um leilão desse tipo en-

tre os realizados no Brasil. No dia do leilão, 15

de setembro de 1998, na sede da Bolsa de Va-

lores do Rio de Janeiro, estavam presentes os

governadores do estados do Sul, o presiden-

te da ANEEL, ministros, e a imprensa. Surpre-

endentemente, apenas os representantes da

SUEZ Energy International e de um concor-

rente estavam presentes. A crise econômica

recentemente ocorrida na Rússia, que criara

problemas de financiamento internacional,

afugentara os demais interessados. E apenas a

SUEZ Energy International entregou o envelo-

pe, com uma proposta de R$ 945,7 milhões, a

segundos do fim da contagem do leiloeiro.

Assim, em poucos meses a SUEZ Energy In-

ternational se transformou de um escritório em

um dos grandes players de energia do Brasil. A

pequena equi-

pe montada para

disputar conces-

sões e privatiza-

ções tinha ago-

ra um jogo de

verdade. Eram

muitas frentes a

atacar, todas si-

multaneamente:

reestruturar a Gerasul com a missão de torná-la

líder no setor de geração e comercialização de

energia, participar dos consórcios de construção

das usinas hidrelétricas de Itá e Machadinho, so-

lucionar o problema de fornecimento de energia

da cidade de Campo Grande (o que aconteceria

com a construção da usina térmica William Arjo-

na) e construir Cana Brava.

Em 1998, a SUEZ Energy International co-

lhia os primeiros resultados dos esforços de dois

anos de investimentos em conhecer o Brasil, num

momento em que o marco regulatório era pouco

mais que uma promessa. Foi uma colheita gene-

rosa, em que todas as sementes destinaram-se ao

replantio, pois as grandes safras viriam mesmo

nos anos seguintes.

Page 25: Cana Brava

26 27

Can

a B

rava

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pro

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ova

do

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Ao assumir um projeto

greenfield, que deveria ter

respostas seguras sobre a

construção, a tecnologia, o

financiamento e soluções

para as questões sociais e

ambientais, a SUEZ Energy

International elaborou o

primeiro project finance do

setor elétrico nacional.

A aquisição da Gerasul, a partir de feverei-

ro de 2002 chamada Tractebel S.A., e to-

dos os desafios de assumir sua administração

não colocaram em segundo plano o projeto da

usina Cana Brava. Ao contrário, os dois proces-

sos se mostraram complementares. A estrutura

da Tractebel, aliada à experiência internacional

da SUEZ Energy International em grandes con-

tratos de construção, deu mais segurança para a

decisão de assumir um projeto greenfield, que

deveria ter respostas seguras sobre o contrato

e o custo de construção, a tecnologia escolhi-

da, um financiamento compatível com diversas

moedas, prazos e índices; a alocação correta de

riscos, e soluções adequadas para as questões

sociais e ambientais, além, é claro, de oferecer

uma estrutura de comercialização da energia

que seria gerada.

Nesse desafio, a equipe da Tractebel foi

muito importante. Alguns funcionários deixa-

ram a companhia e se juntaram à equipe da Le-

me Engenharia, que havia sido adquirida pela

Tractebel Engineering, e juntamente com outra

empresa do Grupo SUEZ, a francesa Coyne Et

Bellier, haviam sido contratadas para owner’s

engineers do projeto, isto é, auditores técnicos

do proprietário.

A questão da comercialização da energia

futura mostrou-se crucial. Isso porque qualquer

que fosse o financiador, haveria a exigência de

se garantir a venda. A solução foi firmar um con-

trato com a própria Tractebel Energia. A energia

gerada por Cana Brava a partir do ano 2002 seria

incorporada ao mix da empresa, que começava

a montar uma pioneira estrutura de comerciali-

zação capacitada para operar em um mercado

aberto, com clientes livres.

Essa opção foi decisiva para o projeto de

Cana Brava tornar-se inovador sob vários as-

pectos na história da implantação de usinas

Page 26: Cana Brava

26 27

Page 27: Cana Brava

28 29

hidrelétricas no Brasil. Possibilitou que ele se

tornasse o primeiro project finance do setor elé-

trico nacional, aproveitando-se principalmente

da expertise da SUEZ Energy International nes-

se modelo de empreendimento no mercado in-

ternacional. O project finance era um modelo

de financiamento muito utilizado por bancos

multilaterais e privados em diversos países

desde o início dos anos 90, mas ainda uma no-

vidade no Brasil. Nele, todas as garantias estão

inseridas no próprio escopo do projeto. Cria-

se uma empresa, chamada project company,

uma corporação de propósito específico para

construir e ser dona do projeto, da concessão,

do financiamento, da construção, das licenças

e dos contratos de venda de energia. Ela tem

um fluxo de capitais próprio e deve pagar so-

zinha a dívida contraída.

A empresa criada pela SUEZ Energy In-

ternational para desenvolver, projetar, finan-

ciar, construir, operar e manter Cana Brava foi

batizada de Companhia Energética Mercosul.

Mas como nenhuma empresa pode ter o no-

me de Mercosul, que é de uso exclusivo pa-

ra o acordo internacional dos países do Cone

Sul, nos meses seguintes a empresa mudou de

nome, para Companhia Energética Meridional

(CEM). Com a CEM, a SUEZ Energy Internatio-

nal viabilizava uma das exigências do contrato

de financiamento que estava sendo negociado

desde 1998 com o BNDES. Esse contrato foi fe-

chado em março de 1999.

Page 28: Cana Brava

28 29

Desde que iniciaram as negociações, a

SUEZ Energy International e o BNDES haviam

deixado espaço para a participação futura do

Banco Interamericano de Desenvolvimen-

to (BID), que utilizaria o tempo adicional pa-

ra efetuar um due diligence ambiental. O go-

verno brasileiro havia sinalizado em diversas

oportunidades seu interesse em convidar o

BID a participar de projetos de infra-estrutura

no Brasil. Isso era importante em um momen-

to em que a demanda pela ampliação e reno-

vação dos investimentos na área era crescen-

te, e em que o próprio BID procurava retomar

seus investimentos no país. O projeto de Ca-

na Brava encaixava-se perfeitamente na no-

va política da instituição multilateral: era um

project finance, com empreendedor interna-

cional e adequada estrutura de comercializa-

ção de energia. A SUEZ Energy International

aceitou a modelagem, sendo um dos pionei-

ros nos anos 90 dessa estratégia. Pelo novo

formato, o BNDES assumiu a participação de

financiamento de 40% na parcela em moeda

nacional, e a parcela em moeda estrangeira

de 30% seria aportada pelo BID. Os 30% res-

tantes seriam capital próprio da SUEZ Energy

International.

O financiamento do BID veio de du-

as fontes: uma de US$ 75 milhões de linhas

de longo prazo do próprio banco, e outra, de

US$ 90 milhões, de uma linha de financiamen-

to privado de longo prazo fornecida por um

consórcio formado pelos bancos comerciais

Dresdner Kleinwort Wasserstein (DrKW), For-

tis, e Australia & New Zealand Banking Group

(ANZ). A participação dos bancos multilate-

rais significou a redução dos riscos político,

de expropriação, conversibilidade, transferên-

cia e ações discriminatórias. A participação do

BID, em particular, teve um efeito positivo na

redução do capital de investimento necessário

e pela utilização de práticas internacionais, re-

sultando também na redução dos riscos políti-

co e regulatório.

Em desdobramento ao Projeto Básico Am-

biental (PBA), foi criado o Plano de Gerencia-

mento Social e Ambiental, programa aplicado

integralmente a um custo de aproximadamen-

te US$ 45 milhões e que passou a incorporar o

contrato de financiamento do BID. No PBA, a

SUEZ Energy International já trabalhava com

parâmetros socioambientais muito superiores

aos requisitos brasileiros, superando o escopo

das recentes experiências de construção de usi-

nas no Brasil. Um exemplo: desde o início do

projeto, a SUEZ Energy International decidira

que, caso vencesse a licitação, os posseiros de

terras na área afetada teriam os mesmos direitos

que os proprietários.

A CEM cumpriu todos os requisitos esta-

belecidos contratualmente com o BID no Pla-

no de Gerenciamento Social e Ambiental. O

BID acompanhou todas as etapas do empreen-

dimento, abrangendo a obra de construção da

usina e os programas socioambientais associa-

dos, e logo ficou claro que, para a população

da área de abrangência do reservatório da usi-

na, o conjunto de compensações legais e be-

nefícios adicionais tornava, na prática, a vida

de todos muito melhor. (A descrição de todos os projetos

e benefícios sociais e ambientais implantados durante a construção

e os mantidos após a operação da usina Cana Brava estão descritos

nos capítulos seguintes).

Outro fato inédito envolvendo a implan-

tação de Cana Brava foi a opção da SUEZ Ener-

gy International de tocar a obra com um tipo

específico de contrato de construção. Até en-

tão, era usual no Brasil o concessionário con-

tratar empresas de projeto, construção civil e

equipamentos, entre outras, em contratos di-

Page 29: Cana Brava

30 31

versos, e administrar o negócio com grandes

equipes próprias, assumindo também todo o

risco da implantação.

No caso de Cana Brava, por ter sido o pri-

meiro projeto e o primeiro investimento da

SUEZ Energy International no Brasil, a opção

de administrar por conta própria diversos con-

tratos de fornecimento e construção seria pro-

vavelmente a solução mais barata, porém, mui-

to mais arriscada. Para uma empresa dando os

primeiros passos no país, a estratégia mais se-

gura para diminuir os riscos de construção foi

optar por um contrato EPC – Engineering, Pro-

curement and Construction, por empreitada

integral, abrangendo projeto, fornecimento de

materiais e equipamentos, construção e mon-

tagem. Nessa modalidade de contrato, um gru-

po de fornecedores assumiria integralmente a

responsabilidade de entregar à CEM uma usina

pronta, funcionando, conforme as especifica-

ções técnicas e o preço final acordados. Cana

Brava se tornaria, então, o primeiro EPC turn

key, ou seja, com a chave na mão, para a cons-

trução de uma usina hidrelétrica no Brasil. O

contrato EPC foi assinado às vésperas do Na-

tal de 1998, às 3 horas da manhã, em Florianó-

polis, e marcava o fim de uma complexa nego-

ciação com o consórcio vencedor, que passou

a se chamar Consórcio Cana Brava (CCB), for-

mado pelas empresas Construtora Norber-

to Odebrecht e Construtora Andrade Gutier-

rez, para a construção civil, e Voith Máquinas e

Equipamentos e Siemens para fornecimento e

montagem eletromecânica, tendo a Intertech-

ne como subcontratada para o projeto execu-

tivo de engenharia. Posteriormente, a Voith e

a Siemens formaram a joint-venture Voith-Sie-

mens Hydro Power Generation.

Ao longo da obra, seriam contratadas ou-

tras empresas e instituições, entre elas várias

Page 30: Cana Brava

30 31

universidades brasileiras, para implantar as

ações sociais e ambientais previstas para a área

do reservatório. A avaliação e a negociação de

terras e a parte técnica de remanejamento e re-

assentamento ficaram a cargo da Geotec En-

genharia e Planejamento Ambiental. A coorde-

nação de programas sociais coube à Vida Ser

Planejamento e Gestão Socioambiental. A lim-

peza da área do reservatório e a retirada de ma-

deira e lenha foram responsabilidade da Enge-

flor, sob supervisão da Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (Embrapa-Cenargem),

que também realizou o resgate da flora. Já o

resgate da fauna silvestre e o monitoramento

da ictiofauna foram feitos pela Naturae Proje-

tos e Consultoria Ambiental. Participaram ain-

da o Instituto Geabrasil, a Universidade Fede-

ral de Goiás (UFG), a Universidade de Brasília

(UnB), a ECSA – Engenharia Ambiental, a CGR

– Meio Ambiente, a GN Consult e a Universida-

de Católica de Goiás (UCG), entre outras em-

presas e instituições.

O primeiro desafio do CCB foi otimizar

o projeto básico da usina. Com vasta expe-

riência internacional em geração de ener-

gia, a SUEZ Energy International acreditava

que o projeto disponibilizado no leilão não

era o mais econômico nem o mais eficiente.

A idéia era refazê-lo a partir de paradigmas

técnicos mais atuais, apoiados por novos

estudos hidrológicos e sondagens, para re-

duzir o risco da construção. Durante alguns

meses, o projeto básico de engenharia foi

otimizado pela empresa Intertechne, sub-

contratada do CCB.

As diretrizes das mudanças do projeto ex-

ploravam duas frentes: reduções do custo e do

prazo de construção. O projeto básico original

previa um prazo entre 50 e 60 meses e uma usi-

na com quatro máquinas. A meta era viabilizar

a obra em apenas 42 meses e instalar não qua-

tro, mas três máquinas mais potentes e efi-

cientes. A mudança decisiva para a redução

global dos prazos foi a opção de deslocar os

trabalhos de desvio do rio por meio de adu-

fas integradas à base do vertedouro. As adu-

fas são espécies de galerias de concreto que

permitem, temporariamente, durante a cons-

trução, a passagem da água desviada do lei-

to original do rio, enquanto as demais partes

da obra são executadas. Posteriormente, elas

são fechadas por comportas ou concreto, sen-

do incorporadas à própria barragem. Mas o

projeto original de Cana Brava exigia que to-

do o vertedouro estivesse pronto para desviar

o rio. Com essa nova opção, seria possível ini-

ciar a construção da barragem no leito do rio

e na margem esquerda com mais de sete me-

ses de antecipação.

Os resultados dos novos estudos foram

então apresentados e aprovados pelo gover-

no federal, por intermédio da ANEEL. O perfil

da nova usina Cana Brava estava definido. Se-

ria uma usina hidrelétrica do tipo fio d’água,

operada em sintonia com o reservatório da usi-

na Serra da Mesa, situado a montante, com um

reservatório de apenas 139 km2, inundando

parcialmente áreas dos municípios de Mina-

çu, Cavalcante e Colinas do Sul. Teria 450MW

de potência instalada, três unidades geradoras

de 150MW cada, conectadas por uma linha de

transmissão de energia com tensão de 230 kV e

extensão de 58,5 quilômetros até a usina Serra

da Mesa, de onde a energia entraria no Sistema

Nacional Interligado.

Enfim, no final de 1998 tudo estava pron-

to. No papel, mas tudo pronto. Logo nos pri-

meiros meses de 1999 o Planalto Central e o

Brasil inteiro começariam a ver a usina hidrelé-

trica Cana Brava se tornar uma realidade.

Page 31: Cana Brava

32 33

Page 32: Cana Brava

32 33

Arranjo geral da obra.

Page 33: Cana Brava

34 35

As

ob

ras

civi

s d

e C

ana

Bra

va

Com a missão de domar o

rio Tocantins, durante a fase

mais intensa da construção

cerca de três mil pessoas

trabalharam na obra.

O início da geração de Cana Brava estava

previsto contratualmente com a ANE-

EL para fevereiro de 2004, limite imposto pe-

lo contrato de concessão. Mas ao implantar

o canteiro de obras no final de maio de 1999,

a SUEZ Energy International definiu que iria

gerar bem antes disso, estabelecendo a entra-

da em operação para outubro de 2002. Por is-

so, a primeira equipe do Consórcio CCB que

fincou pé na margem esquerda do rio Tocan-

tins, a cerca de 25 quilômetros de Minaçu, sa-

bia que ninguém tinha tempo a perder. Essa

equipe, as outras que chegaram depois – das

empresas do Consórcio CCB e suas contrata-

das – e todas as quase 3 mil pessoas que tra-

balharam nas diversas etapas da obra tinham

consciência que estavam assumindo um gran-

de desafio: construir em tempo recorde uma

usina hidrelétrica de 450MW.

Cerimônia de lançamento de Cana Brava.

Page 34: Cana Brava

34 35

tral de concreto, o lançamento da balsa no rio

Tocantins para travessia de equipamentos pe-

sados para a margem direita e a montagem

dos equipamentos para a construção de uma

ponte de concreto. Simultaneamente, come-

çaram os programas de segurança no traba-

lho e meio ambiente, além do Programa de

Gerenciamento da Qualidade do Complexo,

que, uma vez implantados, definiram todas

as diretrizes e políticas de gestão durante a

construção. Enquanto isso, na margem direi-

ta, prosseguia a instalação do canteiro defini-

tivo, com a construção dos escritórios da CEM

e do CCB, dos almoxarifados e dos equipa-

mentos de serviços de apoio, entre eles o am-

bulatório, o refeitório, os alojamentos e a ter-

raplenagem da malha rodoviária interna do

canteiro. Nos meses seguintes, aproveitan-

do o período de seca na região, que costuma

durar até outubro, as escavações comuns e

em rocha para abrigar as instalações da usina

continuaram a todo vapor.

Durante as construções, os técnicos das

empresas do CCB constataram que o reser-

vatório da usina Serra da Mesa, localizado 50

quilômetros rio acima, se encontrava bastante

baixo, com probabilidades extremamente redu-

zidas de grandes descargas pelo vertedouro, já

que registros históricos de enchentes mostram

que as mesmas poderiam ser encaixadas no vo-

lume útil do reservatório. Isso possibilitou uma

mudança significativa dos planos, permitindo

trabalhar com mais folga no esquema de des-

vio do rio, a construção de ensecadeiras mais

baixas, com o mesmo nível de segurança exigi-

do no projeto, e reduzir os prazos de constru-

ção das obras nas áreas ensecadas e da exten-

são total da barragem de concreto compactado

a rolo no leito do rio, substituindo-a por barra-

gem de terra e enrocamento.

Logo o cenário foi rapidamente muda-

do: no lugar da típica paisagem de cerrado, co-

meçou a crescer um grande canteiro de obras,

com centrais de concreto, pátios de máquinas

e equipamentos, depósitos de cascalhos e ou-

tros materiais, refeitório e alojamento. Era o

início de um vai-e-vem sem fim que duraria dia

após dia durante 36 meses.

Naquele primeiro mês já surgiram as ins-

talações pioneiras do canteiro de obras: o alo-

jamento da margem esquerda, a melhoria da

estrada até Minaçu, as bases da primeira cen-

Page 35: Cana Brava

36 37

Aparentemente simples, esse fato serve

de exemplo para uma importante característi-

ca da implantação do projeto Cana Brava. To-

da a construção foi conduzida sob um controle

bastante rigoroso do programa de implemen-

tação das obras e montagens dos equipamen-

tos eletromecânicos, com estreita interação en-

tre a SUEZ Energy International e o CCB, mas

com espaço para discussão e implementação

de ajustes durante a própria construção. Além

da redução da altura das ensecadeiras, outro

fator que contribuiu para reduzir os prazos de

construção foi o uso intensivo de formas desli-

zantes para concretagem, contemplando mais

de 60% do volume total de concreto lançado

na obra por esse processo, e de concreto bom-

beado, reduzindo o emprego de guindastes na

obra e os prazos de concretagens.

Os olhos da SUEZ Energy International

em todas essas decisões nas obras relativas ao

EPC eram os das empresas Coyne et Bellier e

Coyne e Bellier Engenharia, companhia fran-

cesa e sua subsidiária brasileira, com longa

tradição em empreendimentos dessa nature-

za. A elas cabia auditar o controle da qualida-

de da construção, bem como avaliar e avalizar

as eventuais mudanças sugeridas pelo Consór-

cio Cana Brava. Posteriormente, em maio de

2000, a Tractebel Engineering adquiriu a Leme

Engenharia, incorporando a Coyne e Bellier

Engenharia à nova empresa do grupo em de-

zembro de 2001, dando continuidade aos tra-

balhos de auditoria do controle da qualidade

em Cana Brava.

Com o ritmo das obras acelerado, em

dezembro de 1999 estavam prontas as insta-

lações do canteiro na margem direita, tais co-

mo as obras civis dos alojamentos, escritórios

do Consórcio Cana Brava e da CEM, ambula-

tório, almoxarifados, refeitório e a terra-

plenagem do pátio da subestação. Então,

toda a infra-estrutura administrativa e téc-

nica do Consórcio Cana Brava e da Coyne

e Bellier/Leme Engenharia foi transferida

Page 36: Cana Brava

36 37

Ponto do rio Tocantins onde seria construída a usina.

Page 37: Cana Brava

38 39

para as instalações do canteiro de obras de

Cana Brava. Dali até março de 2000, as chuvas

castigaram muito a região e não foram realiza-

das escavações comuns. Apesar do clima, foi

concluída nesse período a montagem da Cen-

tral de Concreto Compactado a Rolo, funda-

mental para o cumprimento do terceiro mar-

co contratual do cronograma, dez meses após

o início das obras.

Com ou sem chuvas, toda a logística da-

quele primeiro ano de obra não tinha sido das

mais fáceis: a estrada de ligação a Minaçu, a

cidade mais próxima, estava sendo restau-

rada, com a construção de vários pontilhões

novos. Chegava-se ao rio Tocantins pela mar-

gem esquerda, mas o canteiro principal e a

maior parte da obra estavam se desenvolven-

do na margem direita. Durante 11 meses, a

travessia dependeu de uma balsa de 120 tone-

ladas, movida por rebocadores, em um pon-

to onde o rio tinha mais de 200 metros de lar-

gura. Isso só foi melhorar em julho de 2000,

com a conclusão da ponte de serviço de 240

metros de extensão. A balsa seria aposentada

pela CEM e doada à Agência Goiana de Trans-

portes e Obras Públicas – AGETOP, para uso

Page 38: Cana Brava

38 39

Page 39: Cana Brava

40 41

público em outro local de Goiás, e as car-

retas de até 45 toneladas de carga, que le-

vavam 30 minutos para atravessar de uma

margem a outra, perderiam agora menos de

um minuto na travessia. A ponte foi inau-

gurada por autoridades e pela população

de Goiás, pois após a conclusão da obra ela

seria incorporada ao patrimônio do estado,

servindo como ligação entre os municípios

de Minaçu e Cavalcante.

A inauguração da ponte agilizaria o tra-

balho, mas, entre os barrageiros, os homens

que levam a vida construindo barragens, cor-

re o ditado de que somente com o rio desvia-

do pode haver descanso. E em toda barragem

o desvio do rio é o momento mais crítico da

construção. Só que em Cana Brava o desvio

do rio foi muito tranqüilo, especialmente pe-

la segurança de estabilidade do regime hi-

drológico proporcionada pela usina Serra da

Mesa. Assim, em 22 de outubro de 2000, seis

meses antes do prazo previsto, o rio Tocan-

tins seria desviado naquele ponto. Em uma

cerimônia marcante, autoridades de Goiás e

de toda a região, além de diretores da SUEZ

Energy International e da Tractebel Energia

observaram a fumaça liberada pela detona-

ção de duas toneladas de explosivos na en-

secadeira, enquanto a água do Tocantins saía

do leito original e escorria para um canal es-

cavado em rocha com cerca de 500 metros de

extensão, que cruzava as adufas construídas

na base da futura barragem de concreto com-

pactado a rolo. Até o final da obra, nesse pe-

queno trecho o rio correria em paralelo ao

leito original. Três dias depois, a ensecadeira

transversal de montante foi concluída e o lei-

to original do rio ficou completamente seco,

permitindo a arrancada das obras finais da

barragem da margem esquerda.

Page 40: Cana Brava

40 41

Ponte sobre o rio Tocantins construída para implantação da usina.

Page 41: Cana Brava

42 43

Durante a fase mais intensa dos traba-

lhos, entre maio de 2000 e outubro de 2001,

a obra de Cana Brava reuniu simultaneamen-

te mais de dois mil trabalhadores em regime

de dois turnos, com pico de 2.928 pessoas em

julho de 2001. Tinha gente de todo lugar, mas

sobretudo de Minaçu, Cavalcante e outros mu-

nicípios da região, pois uma das premissas do

projeto era valorizar e aproveitar a mão-de-

obra local, assolada pelo desemprego. Mil e

duzentos homens moravam no alojamento,

um local confortável, com dependências ade-

quadas, centro de convivência, opções de la-

zer como quadra de esportes, sala de televisão

Page 42: Cana Brava

42 43

e vídeo e refeitório climatizado para atender

400 pessoas simultaneamente. Eles e todos

os demais trabalhadores recebiam treinamen-

to na admissão sobre segurança no trabalho

e educação ambiental, além de disporem de

uma escola de alfabetização e ensino médio.

Outros benefícios importantes eram seguro de

vida em grupo, vale-transporte, convênio com

dentistas e farmácia do SESI. Outro grupo de

pessoas, sobretudo engenheiros e técnicos li-

gados ao CCB e à Coyne e Bellier/Leme ocupa-

va 150 casas da Vila de Furnas, em Minaçu, que

havia sido construída para a implantação da

usina Serra da Mesa.

Page 43: Cana Brava

44 45

Page 44: Cana Brava

44 45

Operação final de desvio do rio Tocantins.

Page 45: Cana Brava

46 47

Condutos forçados para passagem da água que alimenta as turbinas.

Page 46: Cana Brava

46 47

Page 47: Cana Brava

48 49

Page 48: Cana Brava

48 49

Page 49: Cana Brava

50 51

Cana Brava, grandes númerosQuantidade de materiais movimentados e utilizados para a construção.

1.659.000 m3

de escavação comum

1.425.000 m3

de escavação em rocha

2.851.000 m3

de rochas, solos e areia dispostos para as barragens

Page 50: Cana Brava

50 51

721.000 m3

de rochas e solos dispostos para as ensecadeiras

445.000 m3

de concreto compactado a rolo, utilizado nas barragens

310.000 m3

de concreto convencional

15.404 toneladas de ferro

Cana Brava, grandes números

Page 51: Cana Brava

52 53

Um

a o

bra

, mu

itas

fre

nte

s

O grande esforço de todas as

empresas envolvidas permitiu

a conclusão da obra em

apenas 36 meses, um recorde

para empreendimentos desse

porte no país.

De nada adiantaria tanto esforço de toda

essa gente para acelerar a construção

civil se as outras partes da usina não pudes-

sem acompanhar o mesmo ritmo. A implan-

tação de uma usina hidrelétrica implica em

várias frentes, todas muito complexas e, às ve-

zes, interdependentes, constituindo o chama-

do caminho crítico, aquele que, se parar, atra-

sa todo o cronograma. De um lado estão as

obras civis, que envolvem fundamentalmen-

te a construção da barragem e das estruturas

que abrigam os equipamentos eletromecâni-

cos. Depois vêm as obras eletromecânicas, ou

seja, todos os equipamentos do vertedouro,

tomada d’água e casa de força, como compor-

tas, turbinas e geradores. Do lado de fora da

usina, mas ainda na área eletromecânica, fi-

cam a subestação, responsável pela adequa-

ção da tensão gerada, e a linha de transmissão

de energia, que interliga a usina ao sistema

elétrico nacional. Além dessas, existem ain-

da as obras e os programas da área do reser-

vatório – a área efetivamente alagada –, que

implicam na reconstrução de toda a infra-es-

trutura afetada, mais os programas sociais e

ambientais, conforme se verá nos capítulos a

seguir. Em Cana Brava, além dos programas

socioambientais, as principais obras na área

do reservatório eram a construção da ponte e

dos acessos ao rio Bonito, da ponte Lajeado e

bueiro celular do Ginho, do sistema viário do

Carmo, do Matadouro Municipal de Minaçu e,

a maior de todas, orçada em cerca de R$ 8 mi-

lhões, o sistema de tratamento de esgoto e re-

de de captação, incluindo as estações de bom-

beamento, da cidade de Minaçu.

Toda a parte eletromecânica da usina Ca-

na Brava ficou a cargo da Voith-Siemens Hydro-

power Generation, membro do Consórcio Ca-

na Brava. O desafio da empresa era fabricar em

Page 52: Cana Brava

52 53

São Paulo e montar no local milhares de com-

ponentes mecânicos, elétricos e eletrônicos, em

prazos bem menores que os praticados no Bra-

sil e no exterior. Era muita coisa. E muita coisa

pesada. Cada conjunto turbina-gerador pesa-

va cerca de 610 toneladas. E a casa de força de

Cana Brava receberia três desses conjuntos. As

seis comportas metálicas do vertedouro tinham

15 metros de largura e 20 de altura cada, tomada

d’água com três vãos e condutos forçados com

nove metros de diâmetro.

Durante todo o processo, a fabricação e

a montagem foram inspecionadas e auditadas

por técnicos da Leme Engenharia, que acom-

panharam até os testes de bancada do mode-

lo reduzido da turbina no laboratório da Voi-

th, na Alemanha.

Testes de bancada do modelo reduzido da turbina, na Alemanha.

Page 53: Cana Brava

54 55

Conjunto turbina-gerador.

Page 54: Cana Brava

54 55

Page 55: Cana Brava

56 57

Montagem do gerador.

Page 56: Cana Brava

56 57

Mas um dos pontos mais críticos dessa

área era o domínio e implantação de tecno-

logias digitais, novas no setor elétrico brasi-

leiro, que permitiriam que Cana Brava tivesse

operação remota, a partir da usina hidrelétri-

ca de Salto Santiago, localizada a aproxima-

damente dois mil quilômetros de distância,

no Paraná. Para avaliar o melhor sistema di-

gital disponível, engenheiros da Leme Enge-

nharia e da Tractebel Energia visitaram insta-

lações semelhantes na Europa, conhecendo

tecnologias de desassistência de plantas hi-

dráulicas, onde a operação remota e o nível

de intervenção pudessem servir de referência

para o projeto Cana Brava. Outro desafio esta-

va do lado de fora da usina: construir uma su-

bestação para elevar a tensão de 13,8 kV pa-

ra 230 kV e uma linha de transmissão de alta

tensão de 58,5 quilômetros até Serra da Mesa,

com 141 torres metálicas, com altura média de

41,5 metros, tudo em prazos bem justos.

No início de 2001, com as obras civis

adiantadas, começaram as primeiras montagens

eletromecânicas. Em março, iniciaram os testes

de pressão e a montagem do estator da primeira

das três máquinas geradoras.

Em 31 de agosto daquele ano, o rotor des-

ceu no compartimento sobre o eixo da turbi-

na, marcando a conclusão da primeira unida-

de geradora. Foi um fato muito comemorado,

pois ela entraria em fase de testes. Como o rit-

mo de todas as frentes se encontrava adianta-

do em relação ao previsto, em novembro de

2001 uma revisão do cronograma demonstrou

a possibilidade de antecipar em quatro meses o

início da geração comercial. Era a coroação de

um grande esforço de todas as empresas envol-

vidas e que, na prática, permitiria a antecipa-

ção da venda de energia de aproximadamente

1.200.000 MWh.

Page 57: Cana Brava

58 59

Licitação

Março de 1998

Assinatura do Contrato de Concessão

7 de agostode 1998

Assinatura do contrato EPC

22 de dezembro de 1998

Notificação de prosseguimento e fechamento financeiro com o BNDES

Maio de 1999

Início das obras

31 de maio de 1999

Montagem da central de concreto

Setembro de 1999

Contrato com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)

Dezembro de 2000

Início da concretagem da casa de força

Março de 2000

Cana Brava, tempos e movimentos

Assim, em janeiro de 2002, seis meses antes

do prazo previsto, as adufas de desvio do rio, por

onde as águas do Tocantins haviam passado no pé

da barragem durante meses, foram fechadas, ini-

ciando o enchimento do reservatório. Agora até

o tempo colaborava. Em 45 dias, graças às chuvas

abundantes dessa época do ano, o reservatório es-

tava formado. As montagens, testes e o comissiona-

mento dos equipamentos se aceleraram. Não havia

mais tempo a perder. A data que todos sonhavam

se aproximava. No início de maio, a primeira das

três turbinas estava pronta para gerar energia. To-

dos os testes feitos e tudo certo. Faltava só entre-

gar os convites, chamar a comunidade e as autori-

dades para cortar a fita. No dia 24 de maio de 2002,

apenas 36 meses após aquela primeira equipe de

trabalho fincar pé às margens do Tocantins, a Usina

Hidrelétrica Cana Brava seria inaugurada.

Page 58: Cana Brava

58 59

Início da concretagem do vertedouro

Abril de 2000

Início da concretagem da tomada d’água

Outubro de 2000

Desvio do rio

22 de outubro de 2000

Fechamento do reservatório

Janeiro de 2002

Inauguração oficial da usina

24 de maio de 2002

Início da operação comercial -Unidade 1

22 de maio de 2002

Início da operação comercial -Unidade 2

14 de agosto de 2002

Início da operação comercial -Unidade 3

25 de setembro de 2002

Cana Brava, tempos e movimentos

Page 59: Cana Brava

60 61

2C A P Í T U LO

Page 60: Cana Brava

60 61

O desafio ambiental

Construída no cerrado brasileiro, um dos mais ricos biomas do país, Cana Brava teve 14 programas com foco em ações de conservação e de preservação do meio

ambiente, que garantiram e, em muitos casos, superaram as exigências da legislação.

Page 61: Cana Brava

62 63

Teso

uro

de á

guas

e b

iodi

vers

idad

e

A disponibilidade de água em Goiás chega

à vazão de 14 litros/segundo por quilômetro

quadrado e o cerrado abriga uma das mais

ricas biodiversidades do país.

Page 62: Cana Brava

62 63

A água é um tesouro do estado de Goi-

ás e de boa parte do cerrado brasileiro.

Há muita, de qualidade, em rios e em reservas

no subsolo, resultado de bruscas mudanças de

temperatura enfrentadas pela região há cerca de

10 milhões de anos. Em Goiás, onde fica Cana

Brava, a disponibilidade de água chega à vazão

de 14 litros/segundo por quilômetro quadrado,

o que significa mais de 39 mil metros cúbicos

por ano por habitante. É muito mais que a mé-

dia necessária – cerca de 2.500 metros cúbicos

– para regiões que não desenvolvam atividades

econômicas que demandem grandes quantida-

des de água.

Goiás está sobre três bacias hidrográfi-

cas, mas a maior é formada pelos rios Tocantins

e Araguaia, tomando todo o norte e o oeste do

estado. O rio Tocantins nasce na junção do rio

das Almas e do rio Maranhão e corre cerca de

2.400 quilômetros até desaguar próximo a Be-

lém do Pará. Seu principal afluente é justamen-

te o rio Araguaia, já no estado de Tocantins. Mas

enquanto o Araguaia é, em grande parte do seu

curso, um rio de planície, alagando as regiões

que o margeiam e contribuindo fortemente pa-

ra o enriquecimento desses solos, o Tocantins é

encaixado, como um rio de planalto, correndo

por entre 70 municípios goianos, onde cerca de

785 mil pessoas vivem basicamente da agricul-

tura e da mineração.

Page 63: Cana Brava

64 65

Page 64: Cana Brava

64 65

Page 65: Cana Brava

66 67

Sendo um rio que perde altitude rapida-

mente, logo ficou evidente que o Tocantins se

prestaria bem para a geração de energia, em

empreendimentos de bom rendimento, com

impactos ambientais e sociais reduzidos quan-

do comparados aos de usinas de outras regiões

do país. Quando se chega ao trecho do Tocan-

tins onde a usina de Cana Brava seria construí-

da, olhando-se até onde a vista alcança, há ca-

deias de montanhas e, nas planícies, uma mata

não muito fechada, formada por árvores de mé-

dio porte e arbustos, que douram conforme

avança o tempo de seca e esverdeiam a cada

gota que o tempo de chuva traz. Visto de cima,

voando, parece um terreno pobre em biodiver-

sidade. Mas o engano é grave: o bioma daque-

la região norte de Goiás e de uma vasta região

do centro do Brasil – o cerrado – abriga uma das

mais ricas biodiversidades do país. Em número

de espécies, perde apenas para a mítica floresta

amazônica. De flora, são 280 espécies lenhosas e

mais de 430 arbustivas e arbóreas. A fauna soma

195 espécies de mamíferos, 840 de aves, 115 de

anfíbios, 180 de répteis e uma fauna de peixes ri-

ca e bastante peculiar, inclusive com espécies en-

dêmicas, exclusivas daquele local.

Page 66: Cana Brava

66 67

Tanto é assim que há grande possibilida-

de de o cerrado ter sido o próprio berço do mais

rico bioma do planeta, o ecossistema amazôni-

co. É o que defende o cientista Assis Ab’Saber,

um dos maiores estudiosos do cerrado. Nos 20

mil primeiros anos dos prováveis 45 milhões de

história do cerrado, ele provavelmente se espa-

lhava pelas regiões em que agora se encontram

os ecossistemas da Amazônia e da mata atlântica,

que só surgiram depois, com as drásticas mudan-

ças climáticas do último período pós-glacial.

No entanto, os vestígios encontrados em

sua formação geológica são ainda mais anti-

gos, da época em que o continente americano

estava unido com a África, no período pré-cam-

briano, formando o continente Gondwana. Is-

so há cerca de dois bilhões de anos. Nos últi-

mos 1,8 milhão de anos, o clima semi-árido da

região central do Brasil teria sido alvo de chu-

vas torrenciais que lapidaram o relevo e de-

positaram nas planícies vizinhas sedimentos

arenosos e argilosos. Além das chuvas, a esta-

bilização da crosta terrestre na região moldou

a paisagem, desenvolveu a riqueza geológica e

o substrato para sucessões de animais e plan-

tas existentes hoje.

Page 67: Cana Brava

68 69

A r

espo

nsab

ilida

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e co

nstr

uir

Cana

Bra

va

O Plano de Gerenciamento

Social e Ambiental foi

submetido aos rigorosos

parâmetros ambientais da

SUEZ Energy International,

que em muitos quesitos

superam o próprio escopo

legal brasileiro.

Ao entrar em uma região com tamanha ri-

queza ambiental para construir uma usi-

na hidrelétrica, em um ponto definido pelo go-

verno brasileiro, a SUEZ Energy International

tinha plena consciência de que suas ativida-

des iriam interagir com o meio ambiente, sen-

do seu compromisso permanente conduzi-las

com base nos princípios do desenvolvimento

sustentável, premissa de sua filosofia empre-

Page 68: Cana Brava

68 69

sarial. Antes mesmo de participar do leilão da

usina, os empreendedores desenvolveram es-

tudos e planejamento sobre as questões am-

bientais. Vencido o leilão, a cada passo, as fu-

turas ações eram cuidadosamente planejadas,

sendo avaliadas e fiscalizadas pelos órgãos am-

bientais competentes e pelos próprios finan-

ciadores. Seguindo um rito definido pela legis-

lação, o primeiro documento elaborado para o

empreendimento foi o Estudo de Impacto Am-

biental (EIA), uma peça técnica que avaliava

todas as possíveis conseqüências ambientais

da construção. Em seguida, veio o Relatório de

Impacto Ambiental (RIMA), uma tradução do

EIA em linguagem mais simples e acessível ao

público em geral. Depois saiu o Estudo de Via-

bilidade da Obra, que em Cana Brava foi ava-

liado pela Agência Goiana de Meio Ambiente e

Page 69: Cana Brava

70 71

Recursos Naturais. Após aprová-lo, a Agência

Goiana concedeu a Licença Prévia Ambiental

do empreendimento à SUEZ Energy Interna-

tional, definindo em detalhes quais programas

e áreas seriam contemplados nas ações de mi-

tigação e minimização dos impactos ambien-

tais. Tudo ficou documentado no Projeto Bá-

sico Ambiental (PBA), uma espécie de roteiro

final das ações, que deveria ser seguido à risca.

Além da aprovação dos técnicos da Agên-

cia Ambiental, o PBA de Cana Brava foi submeti-

do ainda aos rigorosos parâmetros ambientais in-

ternacionais da SUEZ Energy International, que

em muitos quesitos superam o próprio escopo

legal brasileiro. Depois, com a entrada do Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID) no

financiamento da obra, novos pontos foram in-

corporados ao Projeto Básico Ambiental (PBA),

resultando em uma peça mais complexa ainda,

chamada de Plano de Gerenciamento Social e

Ambiental (em inglês, Environmental and So-

cial Management Plan – ESMP).

O ESMP detalhava os 23 programas socio-

ambientais que deveriam ser executados, todos

cumpridos integralmente pela SUEZ Energy In-

ternational ao longo da implantação e após a

operação, a um custo total de aproximadamen-

te US$ 45 milhões .

Embora a filosofia do Plano de Gerencia-

mento Social e Ambiental (ESMP) buscasse a inte-

gração das dimensões socioambientais em todos

os programas, pode-se dizer que 14 deles tinham

mais foco em ações de conservação e preservação

do meio ambiente. Cada um com objetivos, me-

todologias, equipes e estruturas próprias, sendo

muitas vezes desdobrados em subprogramas para

otimizar os resultados. Alguns terminariam antes

mesmo da inauguração da usina. Outros, como se

verá no capítulo final, ainda estão em andamento.

Page 70: Cana Brava

70 71

Programas ambientais implantados durante a construção

Programa Objetivos

Acompanhamento da exploração mineral Acompanhar pedidos de exploração mineral nas áreas da construção, do reservatório e das áreas adjacentes.

Conservação da flora Realizar estudos e levantamentos na fase de pré-enchimento e o resgate da flora durante a formação do reservatório, para preservar material genético.

Fauna silvestre Inventariar as espécies animais, fornecendo subsídios para o planejamento da operação de resgate durante o enchimento do reservatório, prevendo rotas de fuga, captura, soltura e envio de animais para centros de pesquisa.

Gestão socioambiental do canteiro de obras Conjunto de ações de mitigação e monitoramento para contornar os impactos da construção no ar, na água, no solo, na flora e na fauna na área do canteiro.

Levantamento espeleológico Análise da ecologia e da biologia das cavernas, além de explorações espeleológicas e produção de mapas na região do empreendimento.

Limpeza do reservatório Retirar madeiras e materiais lenhosos e efetuar a descontaminação da área do reservatório, visando melhorar a qualidade da água.

Monitoramento limnológico e da qualidade da água Avaliar as condições da água antes, durante e após o enchimento do reservatório.

Monitoramento climatológico Avaliar eventuais mudanças microclimáticas em função do aumento da evaporação na área de influência do empreendimento. O banco de dados resultante do estudo foi publicado na internet, fornecendo importantes estudos para verificação dos impactos.

Monitoramento da ictiofauna Estudar a fauna de peixes do rio Tocantins e seu ciclo de vida. As ações também envolveram o resgate de animais durante o desvio do rio e na fase de enchimento.

Monitoramento geológico Descrever o processo evolutivo e de formação geológica na área do reservatório e de influência, verificando o comportamento das placas tectônicas e fissuras, e a preparação de mapas.

Monitoramento hidrológico Verificar as áreas de alagamentos, na influência direta ou indireta do reservatório, e produzir trabalhos de análise da vazão e do acúmulo de sedimentos.

Monitoramento sismológico Acompanhar a atividade sismológica na região do reservatório para verificar a possibilidade de ocorrerem danos à barragem e à comunidade próxima à usina. Os levantamentos realizados em Cana Brava não detectaram nenhum tipo de variação dos dados sismológicos.

Plano de uso e ocupação do reservatório Orientar o uso das terras no entorno do reservatório, de acordo com as potencialidades das regiões atingidas.

Salvamento arqueológico Localizar e estudar sítios arqueológicos na região em que o reservatório seria formado e na área de influência indireta do mesmo, de acordo com programa aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.

Implantação e consolidação de unidades de conservação

Destinar 0,5% dos recursos do empreendimento, conforme determinado pela Resolução 002/96 da CONAMA, para a implantação do Parque Estadual Terra Ronca, em Goiás.

Page 71: Cana Brava

72 73

Pesq

uisa

s ci

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fica

s

Os conhecimentos

decorrentes dos programas

ambientais contribuíram

muito para o levantamento

de informações e a

disseminação do conhecimento

científico sobre a região.

A implantação dos programas ambientais

previstos para Cana Brava teria que ata-

car um problema inicial: o grau de endemismo

de muitas espécies – o fato de só existirem ali –,

que demandou cuidados na maneira de reali-

zar intervenções, mesmo que de conservação.

Essa característica também torna as espécies e

seu comportamento mais difíceis de entender, o

que é ampliado pela falta de informações cien-

tíficas, que não podem ser buscadas em estudos

realizados em outros locais. No Brasil, ainda há

pouca informação sobre a distribuição das es-

pécies dentro do cerrado e poucos inventários

biológicos, limitados ainda a algumas áreas de

conservação. Por isso, os conhecimentos decor-

rentes dos programas ambientais da usina Cana

Brava, e também os feitos durante a construção

da usina Serra da Mesa, contribuíram muito para

o levantamento de informações e a disseminação

do conhecimento científico sobre a região.

Por conta dessa característica, a primeira

ordem foi pesquisar, estudar. Simultaneamen-

Didelphis albiventis – gambá.

Page 72: Cana Brava

72 73

te à chegada das primeiras máquinas no cantei-

ro de obras, em junho de 1999, uma equipe da

Naturae, empresa especializada em consulto-

ria ambiental, já havia montado uma estação de

pesquisa em Cana Brava. O ponto escolhido era

próximo ao Porto do Garimpo, pouco acima da

Barra de São Félix. Ali foram armadas diversas

barracas, formando o alojamento, a cozinha, o

almoxarifado e duas áreas de trabalho.

O trabalho correu de maio a dezembro de

1999, quando foi feito todo o levantamento das

espécies animais encontradas na região, numa

área entre a grota do Doutor, o córrego Curral e

o rio do Carmo, em ambas as margens do rio To-

cantins. Também foram colocadas, no canteiro

e nas estradas que conduziam a Minaçu, placas

avisando sobre a existência e proximidade de

animais silvestres. A intenção era reduzir os ris-

cos de atropelamento, pois o fluxo de animais

na região é bastante intenso.

A legislação ambiental prevê que durante a

implantação do canteiro de obras ocorra o inven-

tário da fauna da região, mas em Cana Brava o tra-

balho começou em uma etapa anterior. O desma-

tamento realizado para a instalação do canteiro, as

detonações e todo o trabalho dos operários sem-

pre foram acompanhados pela equipe da Naturae.

Esse monitoramento preventivo era uma garantia

de salvamento, caso algum animal fosse machuca-

do ou ficasse preso, pois os biólogos estariam ali.

Essa fase também foi uma prévia do inventá-

rio dos animais e auxiliou no planejamento da fase

de resgate, que viria em seguida. Enquanto faziam

o trabalho no canteiro de obras, os biólogos co-

meçaram a estudar as prováveis rotas de fuga dos

animais durante a obra e o enchimento do reser-

vatório. E, paralelamente ao trabalho desenvol-

vido com os animais, a equipe responsável pela

conservação da flora participava dos desmata-

mentos, selecionando espécies ameaçadas de

extinção e angariando informações para a etapa

da conservação de mudas nativas.

A partir desse material prévio, o monito-

ramento da fauna, até o enchimento da área do

reservatório, se concentrou na análise das rotas

e variações populacionais e em organizar o pla-

nejamento logístico do resgate durante o enchi-

mento do reservatório. Nessa fase, o mais im-

portante era conhecer as espécies, observar e

investir em aquisição de informações, como so-

bre a relação entre os animais e a flora da região.

Os anfíbios e répteis, encontrados em

grandes quantidades no cerrado e observados

em maior número durante o enchimento do re-

servatório, foram acompanhados durante a noi-

te, em brejos, trilhas e lagos. Além da captura de

cerca de dez exemplares por espécie, foram co-

lhidos dados de observação e zoofonia, os sons

emitidos pelos animais. Com as aves, a priori-

dade de vê-las e ouvi-las foi ainda maior, não

havendo sequer número mínimo de captura, o

que é altamente satisfatório.

Page 73: Cana Brava

74 75

Ara ararauna – canindé. Milvago chimachima – gavião-carrapateiro.

Page 74: Cana Brava

74 75

Ramphastos toco – tucano-açu. Aratinga aurea – periquito-estrela.

Page 75: Cana Brava

76 77

Iguana iguana – iguana.

Page 76: Cana Brava

76 77

Cnemidophorus ocellifer – calango.

Scinax fuscovarius – perereca.

Page 77: Cana Brava

78 79

As investidas em capturas se restringiram

o máximo possível. A estratégia era suprir toda

a necessidade de conhecimento durante o res-

gate que viria a seguir, quando então os animais

teriam que ser capturados. Por isso, os técnicos

investiam na captura de espécies pouco estuda-

das ou de grande interesse. Algumas eram mais

visadas, como os marsupiais, os mamíferos de

grande porte e os morcegos.

Na verdade, desde o início dos programas

de fauna estava previsto que algumas espécies

deveriam receber atenção especial por serem

consideradas perigosas ou estarem ameaçadas.

O grupo dos aracnídeos é um desses casos. Pa-

ra capturá-los, foram organizadas coletas por

vasculhamento em lajes de pedras, sob folhas e

troncos de árvores caídos, constatando a exis-

tência de espécies peçonhentas na região.

Também os pequenos mamíferos roedores

foram especificamente monitorados por esta-

rem relacionados à transmissão de doenças.

Um dos fatos que precisava ser verificado era a

existência de espécies exóticas, que geralmen-

te desequilibram as populações silvestres e de-

sencadeiam a contaminação.

Com os dados levantados pelos biólo-

gos, foi possível desenhar uma clara relação

entre as espécies animais e determinadas for-

mações da flora. Entre as aves, coletadas em

pouca quantidade, as semi-aquáticas eram

prioridade, por habitarem as matas ciliares,

bem como as de rapina, pelo comportamento

único que adotam em caso de mudanças co-

mo inundações e desmatamentos.

Os botos, que tinham maior chance de es-

tarem em locais de difícil acesso durante o en-

Monodelphis domestica – mucura.

Page 78: Cana Brava

78 79

chimento do reservatório e ameaçados de ex-

tinção, foram alvo do acompanhamento. Da

mesma forma ocorreu com os mamíferos de

grande porte, observados indiretamente, a par-

tir de pegadas, fezes e rastros, devido à dificul-

dade de deslocamento. Neste último caso, as

expedições noturnas acabaram revelando a

presença de caçadores.

Os macacos se destacam como impor-

tantes indicadores ambientais das forma-

ções florestais. Muito sensíveis ao barulho e

à agitação, eles foram os primeiros a acionar

o alarme das fugas, já com a chegada das má-

quinas e o início das obras. Além disso, mui-

tas espécies encontradas no cerrado têm há-

bitos arborícolas – se alimentam de folhas –,

demandando mais cuidado por estarem en-

volvidas as questões de perda de alimento e

mudança de habitat.

A dos marsupiais foi outra espécie que de-

mandou mais pesquisas, pelo importante papel

que os mesmos desempenham como disper-

sores de sementes, principalmente no cerrado

denso, ou cerradão, e nas matas ciliares. A rela-

ção é tão estreita, que eles servem como indica-

dores das boas condições dessas formações. No

entanto, eles também podem se tornar impor-

tantes transmissores de doenças, outro motivo

para serem monitorados.

Os morcegos tiveram um programa de

acompanhamento específico e que seria reali-

zado ainda um bom tempo após o enchimento

do reservatório, pois são potenciais propagado-

res de doenças e o seu acompanhamento garan-

te à população a inexistência de doenças trans-

missíveis por eles, como a raiva.Gracilinanus emiliae – mucura.

Page 79: Cana Brava

80 81

Cons

erva

ção

da f

lora

Estudos e levantamentos

na fase de pré-enchimento

e o resgate da flora

durante a formação do

reservatório garantiram

a preservação do

material genético.

O programa de conservação da flora visava

essencialmente identificar e preservar os

recursos genéticos da área que seria inundada.

A exigência legal é que a variabilidade genética

da flora seja conhecida e protegida, pois não se

sabe de antemão quanto da riqueza existente é

exclusiva dali. No entanto, as áreas de floresta

do cerrado já estavam restritas ao norte de Goi-

ás, com o agravante de mesmo ali serem alvo de

desmatamento. Nas últimas décadas, a destrui-

ção dos “jardins naturais orquestrados”, como

a flora do cerrado era chamada pelo naturalista

Page 80: Cana Brava

80 81

Saint-Hilaire, tem se dado a taxas maiores que

as da Amazônia e da mata atlântica, devido ao

desenvolvimento das pastagens e plantações

de grãos. Segundo o Instituto Nacional de Pes-

quisas Espaciais (INPE), em 1988 mais de 60%

da vegetação nativa dos cerrados havia sido re-

movida para a exploração econômica.

Justamente por isso, durante o seminário

“Ações prioritárias para a conservação da bio-

diversidade do cerrado e do Pantanal”, realiza-

do pela Funatra, Conservation International do

Brasil, Fundação Biodiversitas e Universidade de

Page 81: Cana Brava

82 83

Brasília, definiram-se algumas áreas prioritárias

para a conservação do bioma do cerrado. No to-

tal, são 87 regiões que devem conservar a diversi-

dade, sendo 12 delas no estado de Goiás. A regu-

larização e ampliação do Parque Estadual Terra

Ronca, no município de São Domingos, uma das

unidades definidas pelo órgão ambiental compe-

tente, recebeu parte dos recursos de Cana Brava,

dentro do programa de Implantação e Consoli-

dação de Unidades de Conservação.

O cerrado, apesar de toda a diversidade

apresentada, tem apenas 0,8% do seu território

convertido em unidades de conservação. Em

2000, essa porcentagem estava dividida em 51 re-

giões, entre parques nacionais, estaduais e muni-

cipais, áreas de preservação ambiental e Reservas

Particulares do Patrimônio Natural. Além de Terra

Ronca, a SUEZ Energy International contribui pa-

ra o aumento desse número com a destinação das

verbas de compensação para Unidades de Con-

servação do projeto de espeleologia, desenvolvi-

do pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

O programa de conservação da flora tam-

bém tem grande importância porque, para se

construir uma usina, é preciso desmatar gran-

des áreas. Além da área do canteiro da barragem

em si, para o funcionamento adequado da usina

em longo prazo é fundamental que as águas do

reservatório tenham boa qualidade. Isso prote-

ge os equipamentos, preserva os peixes e garan-

te a navegabilidade e a segurança dos banhistas.

Por isso, em Cana Brava as operações de limpeza

do reservatório tiveram um programa ambiental

específico. A primeira tarefa foi retirar o máximo

de madeira e material lenhoso da área que seria

alagada. A exigência legal fixava, no mínimo, mil

hectares, porém a SUEZ Energy International via-

bilizou a retirada de material de 1,6 mil hectares.

Todo o volume retirado foi doado aos proprietá-

Page 82: Cana Brava

82 83

rios das áreas, que também receberam, por inter-

médio da SUEZ Energy International, as guias de

transporte, os selos de controle e as notas fiscais

para venda da madeira. Além de facilitar o pro-

cesso, isso evitou a devastação desnecessária de

áreas que não seriam atingidas. O trabalho tam-

bém contribuiria para criar uma mata ciliar para

o futuro reservatório e para o embelezamento

paisagístico. Durante a execução do programa,

280 palmeiras foram transplantadas do local pa-

ra o Parque da Criança, em Goiânia. Outra me-

dida na área do futuro reservatório foi demolir

e esterilizar construções e áreas que poderiam

contaminar a água. A maior ação se deu no an-

tigo matadouro municipal de Minaçu, demolido

e reconstruído pela SUEZ Energy International

em outra área da cidade, com maior capacidade

de abate de bovinos e certificado pelo Serviço de

Inspeção Federal - SIF.

Desde o início dos trabalhos ambientais,

os técnicos do IBAMA passaram a acompanhar,

no campo, o trabalho realizado por técnicos da

SUEZ Energy International, ao mesmo tempo

em que desenvolviam um trabalho de conscien-

tização com a população. A política da empre-

sa, nesse caso, foi fornecer estrutura para os ór-

gãos ambientais daquela região, como veículos

para os deslocamentos. Com o monitoramento

e todo o processo de estudo dessa área, os téc-

nicos governamentais conseguiram determinar

por exemplo os possíveis pontos de refúgio dos

primatas após o enchimento, locais que deve-

riam receber intensa fiscalização porque, certa-

mente, seriam alvo dos caçadores.

Page 83: Cana Brava

84 85

Açõ

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e ob

ras

Além de ser alvo dos

programas de conservação

da flora e de fauna, um

programa de gestão

ambiental específico

acompanhou o tratamento

e a destinação de resíduos

desde o início das obras.

As ações ambientais intensificaram-se no

canteiro à medida que as obras avança-

vam. Com tanta gente, máquinas e movimen-

tação de material, o local recebeu um Progra-

ma de Gestão Ambiental específico, além de ser

alvo dos programas de conservação da flora e

de fauna, como relatado. O alvo prioritário era

o acompanhamento, o tratamento e a destina-

ção de resíduos, executados desde o início das

obras. A coleta seletiva encaminhava à recicla-

gem todo o lixo produzido. Pneus, papelão,

sucata de metal, óleo queimado, pilhas, bate-

rias e cartuchos para impressoras tiveram essa

destinação, gerando emprego e renda e contri-

buindo para o aumento da qualidade de vida

no local. O que não era reciclado, ia para um

aterro sanitário controlado, como lixo urbano

da obra, que recebeu mais de 500 toneladas de

rejeitos. Resíduos ambulatoriais e contamina-

dos com derivados de petróleo eram incinera-

dos. O sistema de coleta e tratamento de esgo-

to tinha fossas sépticas, filtros anaeróbicos e

duas lagoas de estabilização.

Mais do que cumprir a legislação, a meta

sempre foi aperfeiçoar as normas e processos.

Com a instalação de caixas separadoras de óleo

lubrificante, cerca de 18 mil litros do produto

foram recuperados, evitando sua dispersão no

ambiente. A separação de efluentes de concre-

to, durante o período de construção, também

impediu que no período de atividades mais in-

tensas da obra dez metros cúbicos de lama de

concreto fossem despejados diariamente no rio,

o que evitou o seu assoreamento.

A recuperação das áreas degradadas, ja-

zidas e áreas de estoque, no canteiro de obras,

foi feita de forma paralela à construção da usi-

na, o que diminuiu o impacto e os custos, pois

tornava mais fácil e rápido o tratamento. A ve-

getação e o solo nativos não foram retirados to-

Page 84: Cana Brava

84 85

talmente, mas deixados em ilhas de vegetação

para facilitar o trabalho de reconformação do

solo e do relevo. Na rearborização dessas áre-

as, foram utilizadas apenas espécies nativas,

como aroeira, jatobá, cedro e sucupira, culti-

vadas num viveiro de mudas no próprio can-

teiro de obras – ao todo, foram utilizadas 180

mil mudas. Tudo isso facilitaria o retorno natu-

ral dos animais, pois essas medidas aceleram o

processo de recuperação no momento em que

eles voltam a habitar o local. No viveiro, cinco

jovens portadores de necessidades especiais

produziam mudas sob a orientação de técni-

cos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-

cuária (EMBRAPA).

Page 85: Cana Brava

86 87

A O

pera

ção

Muc

ura

A Operação Mucura planejou

e executou com segurança

o resgate, a proteção e a

relocação dos animais durante

e imediatamente após o

enchimento do reservatório.

Com os dados sobre as rotas dos animais e

maior conhecimento do seu ciclo de vida,

além do levantamento das espécies mais encon-

tradas na região, a equipe ambiental começou a

preparar a Operação Mucura – que deveria fa-

zer o resgate, a proteção e a relocação dos ani-

mais durante e imediatamente após o enchi-

mento do reservatório.

Um grande galpão foi transformado para

atender uma operação de guerra: sala de coor-

denação, de reuniões, de exposições, cozinha,

sala de triagem de animais, laboratório, sala de

veterinária, de preparação de alimentos, almo-

xarifado, recinto de animais, a área de limpeza

e a oficina de barcos. A estrutura estava prepa-

rada para receber grande número de anfíbios e

répteis, além de mamíferos e aves. Cada grupo

em local apropriado.

Quando a barragem foi fechada, em ja-

neiro de 2002, e o reservatório começou a en-

cher, os técnicos receberam ordens de pro-

curar os caminhos de fuga mapeados – e os

desconhecidos – e salvar o maior número pos-

sível de exemplares. Nas rondas, que começa-

vam às 8 horas da manhã, os biólogos acompa-

nhavam os animais, anotavam as regiões em

que eles poderiam ter problemas e determina-

vam pontos de monitoramento. E somente em

situações críticas, em que os animais não es-

tivessem mais em condições de se libertarem

sozinhos, é que a equipe interferia. As equipes

permaneciam nos barcos durante todo o dia,

até as cinco horas da tarde, inclusive almoçan-

do no rio. À noite, quando chegavam à base de

resgate, decidiam em reunião quais pontos se-

riam priorizados no dia seguinte.

A chamada soltura branda foi a estraté-

gia mais utilizada para os mamíferos de médio

e grande portes e os répteis cursoriais de médio

porte, como as iguanas e teiús. Com ela, evita-se

Page 86: Cana Brava

86 87

Page 87: Cana Brava

88 89

levar os animais para a base, apenas colocando-

os em segurança, à margem adjacente e acima

do nível de enchimento. A explicação é que, em

certas espécies, como os macacos, a captura ge-

ra um processo de estresse tão forte no animal

que muitas vezes o impede de se adaptar quan-

do volta ao ambiente, ou leva à morte antes

mesmo de isso ocorrer. E se indivíduos de um

bando forem separados de seu grupo, as chan-

ces de que sobrevivam isolados, de volta à natu-

reza, são mínimas.

Os outros animais eram levados para a

base de resgate, onde passavam pelo proces-

so de triagem, identificação e marcação. Dali,

o caminho poderia ser a volta à região do re-

servatório ou seguir para instituições de pes-

quisa. Por priorizar a devolução dos animais e

a manutenção do bioma o mais natural possí-

vel, o resgate restringiu ao máximo a segunda

opção. Por solicitação do IBAMA, receberam

animais o Museu de Zoologia da Universida-

de de São Paulo (MZUSP), o Museu de Ciên-

cias e Tecnologia da Pontifícia Universidade

Católica do Rio Grande do Sul (MCT-PUCRS),

o Departamento de Zoologia da Universidade

de Brasília (UnB) e o Centro de Estudos e Pes-

quisas Biológicas da Universidade Católica de

Goiás (CEPB/UCG).

O monitoramento a jusante da barragem,

entre ela e o rio Cana Brava, foi realizado a cada

dois dias por meio de sobrevôos de ultraleve. O

objetivo era monitorar a presença de botos e tar-

tarugas e a ação de caçadores e pescadores clan-

destinos, em uma ação conjunta com o Batalhão

Florestal. Ao final do trabalho, quase 25 mil ani-

mais haviam passado pelos barcos da equipe da

Operação Mucura. Como definido no início dos

trabalhos, 73,5% deles foram devolvidos ao cer-

rado, seja diretamente, através da soltura branda,

ou passando pela estação, recebendo marcas e

só depois retornando. As instituições receberam

cerca de 25% dos animais coletados.

Captura de animais e tratamento no hospital veterinário.

Page 88: Cana Brava

88 89

Animais encontrados na Operação Mucura

Classe Número de espécies

Percentagem dos capturados

Principais destaques Conclusões

Aracnídeos 227 1,1% Aranhas caranguejeiras, verdadeiras e escorpiões

A espécie de aranha venenosa que poderia causar problemas ao homem (Phoneuutria cf. nigriventer) foi encontrada em proporções baixas, assim como o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus).

Anfíbios 41 26,6% Espécies fossoriais como o Gymnophiona foram encontradas em função do enchimento do lago.

Dos 6.623 espécimes resgatados, 71,9% foram soltos, 25% foram enviados para instituições de pesquisa e 3,1% foram descartados.

Répteis 77 68,4% As três subordens presentes foram Sauria, Serpentes e Amphisbaenia.

São sempre os que mais aparecem em resgates no cerrado por terem dificuldade de locomoção e serem muito diversos.

Aves 20 0,3% As mais presentes foram a Tinamiformes e Passeriformes

O baixo número se explica pela facilidade de locomoção. As aves resgatadas apresentavam alguma restrição, tal como a idade.

Mamíferos 35 3,3% Os mais encontrados foram da ordem Xenarthra e Didelphimorphia

Os resgatados fazem parte de grupos com maior dificuldade de locomoção, de três ou quatro ordens.

Animais ameaçados de extinção resgatados

Classe Espécies coletadas

Anfíbios Sapo-venenoso (Epipedobates flavopictus)

Répteis Tracajá (Podocnemis unifilis)

Aves Papagaio-galego (Amazona xanthops)Jacu (Penelope superciliaris)

Mamíferos Gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi) Gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrina)Sussuarana, puma (Puma concolor)Onça-pintada (Panthera onca)Lontra (Lontra longicaudis)Veado-catingueiro (Ozotoceros bezoarticus)Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)Cutia (Dasyprocta azarae)Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis)Irara (Eira barbara)

Durante a Operação Mucura, algumas es-

pécies ameaçadas de extinção na região foram

capturadas e a maioria conseguiu ser salva. To-

dos os tracajás (Podocnemis unifilis) foram re-

locados, o único jacu (Penelope superciliaris)

morreu logo após o resgate, os tamanduás-mi-

rim (Tamandua tetradactyla) e os primatas fo-

ram relocados.

Page 89: Cana Brava

90 91

Ações de vigilância e resgate durante a Operação Mucura.

Page 90: Cana Brava

90 91

Ainda que o planejamento e a estrutura da

Operação Mucura fossem adequados, resgatar

25 mil animais teve momentos inesperados. O

mais inusitado ficou por conta de um bando de

macacos, na verdade 22 macacos-prego, en-

contrados em situação de risco durante o en-

chimento do reservatório. Capturados, eles

foram conduzidos até a estação, em caixas de

madeira individuais, pois ao serem retirados do

ambiente natural tornam-se agressivos a ponto

de matar outros membros do bando. Como não

havia jaulas para todos passarem a noite, isola-

dos, alguns foram mantidos nas caixas enquan-

to se recuperavam da anestesia que receberam

na hora da marcação.

Por volta das quatro horas da manhã, o te-

lefone do alojamento tocou: o guarda do gal-

pão, esbaforido, informava que a sala dos ani-

mais estava uma bagunça, com macacos, ratos,

tatus, tamanduás e outros bichos perambulan-

do para lá e para cá. Como somente um dos bió-

logos e a veterinária da equipe tinham a chave,

e ambos dormiam no alojamento, não havia dú-

vidas: a culpa recaiu sobre os macacos-prego,

os únicos que teriam habilidade para libertar os

30 ou 40 animais que pernoitavam no galpão.

O que se seguiu foi um mutirão de trabalho pa-

ra acomodar todos os animais de volta, dando

prioridade para os maiores e mais agressivos,

e acalmá-los. O episódio não rendeu prejuízos

porque a sala tinha uma estrutura segura, telas e

grades protegendo do chão ao teto.

Page 91: Cana Brava

92 93

Cuid

ados

com

a ic

tiof

auna

O programa de proteção

dos peixes não envolveu

qualquer tipo de intervenção,

repeixamento ou

remanejamento de espécies

existentes na região.

A premissa era conhecer

bem a questão para depois

definir a melhor estratégia.

Na implantação de uma usina hidrelétri-

ca, um grupo específico de animais pre-

cisa receber atenção especial: os peixes. Dife-

rentemente das demais espécies de fauna, no

Brasil grande parte da ictiofauna de cada ba-

cia hidrográfica é em geral endêmica, ou se-

ja, formada por espécies que não são encon-

tradas em outras bacias. A bacia do Tocantins

tem uma iciofauna muito rica, possivelmen-

te em conseqüência da ligação com a região

central amazônica, a mais rica em diversidade

Cichla sp – tucunaré.

Oxydoras niger – abotoado.

Page 92: Cana Brava

92 93

em todo o mundo. Justamente por isso, o Pro-

grama de Resgate de Ictiofauna e seu poste-

rior acompanhamento em Cana Brava se de-

senvolveu em paralelo a todas as atividades

antes do início do enchimento do reservató-

rio e durante a Operação Mucura. E ela não

envolveu qualquer tipo de intervenção, re-

peixamento ou remanejamento de espécies

existentes na região. A premissa era: primeiro

conhecer bem a questão para depois definir a

melhor estratégia.

A equipe responsável pelo Programa de

Iciofauna, da consultoria ambiental Naturae,

também acompanhou a construção do cantei-

ro de obras, utilizando essa fase para fazer o

inventário das espécies e locais mais habita-

dos por elas. Navegando pelos córregos e rios

tributários próximos à barragem e também

pelo rio Tocantins, a equipe coletava exem-

plares para dar suporte aos estudos em anda-

mento. A operação de resgate dos peixes co-

meçou mesmo a partir do desvio do rio para

a construção da barragem, quando poços se

formaram no leito original. A ação mais tra-

balhosa ocorreu durante o resgate da ense-

cadeira de jusante, por representar um pon-

to profundo e com grande volume de água.

O processo se iniciou com o fechamento dos

túneis de desvio, o que criou um grande po-

ço à frente, denominado ensecadeira de ju-

sante. Depois disso, um conjunto de bombas

foi utilizado para o esgotamento e o trabalho

de resgate seguiu todas as etapas dessa ativi-

dade. O reconhecimento aéreo localizou oito

áreas de poços, que passaram a ser monitora-

das constantemente, com o resgate sendo fei-

to somente quando o nível da água não ofere-

cia mais condições aeróbicas ou restringia a

área de movimentação. Vôos a cada dois dias

avaliavam essas áreas e serviam também para

a localização de pontos restritos a botos, ira-

ras, lontras e capivaras.

Com o início do enchimento do reser-

vatório e a redução do volume de água que

passava pela barragem, a operação de resga-

te migrou para um trecho de três quilôme-

tros rio abaixo, retirando os peixes dos poços

que se formaram e levando-os para o leito do

rio. Assim como no resgate da fauna, a priori-

dade era manter os peixes coletados em seu

ambiente natural, devolvendo-os em regi-

ões que favorecessem sua sobrevivência.

Quase 93% dos peixes capturados foram sol-

tos e pouco mais de 5% morreram em decor-

rência do manejo, sendo então destinados a

museus. Durante os trabalhos, dez espécies

representaram cerca de 70% dos peixes cole-

tados. As mais significativas são a Myleus sp.,

a Auchenipterus nuchalis, a Psectrogaster

amazônica, a Pimelodus blochii, a Brycon

sp., a Hemiodus microlepis e a Myleus mi-

cans. Entre as que mais aparecem, pouco

mais de 26% são herbívoras, 31% são onívo-

ras, 12% são detritívoras, 3% são carnívoras e

3% são piscívoras. Essa constatação revela a

importância da manutenção das matas cilia-

res, garantindo abrigo e alimento para gran-

de parte dos animais. Além disso, foram en-

contradas algumas espécies de alto potencial

comercial, como grandes quantidades de pa-

cus de porte médio e até mesmo jaús de gran-

de porte, porém com menor peso. Ao final,

os estudos executados pela Naturae conclu-

íram que antes mesmo do impacto da usina,

os ciclos agrícolas, o desmatamento em lar-

ga escala, inclusive nas matas ciliares, bem

como a poluição urbana na região já haviam

provocado sucessivas agressões que culmi-

naram com a diminuição dos estoques e da

diversidade de espécies.

Page 93: Cana Brava

94 95

Serrasalmus rhombeus – piranha-preta. Plagioscion squamosissimus – corvina.

Page 94: Cana Brava

94 95

Hypostomus sp – cascudo. Hydrolycus scomberoides – cachorra.

Page 95: Cana Brava

96 97

O m

elho

r ha

via

sido

fei

to

Os programas ambientais

previstos foram debatidos com

a sociedade e, ao final da obra,

todos estavam concluídos e as

metas acordadas, cumpridas.

Page 96: Cana Brava

96 97

O êxito no resgate da Operação Mucura

deve-se a fatores naturais, geográficos

do reservatório e a todo planejamento realiza-

do. O terreno, bastante acidentado, provocan-

do uma contenção considerável do reservató-

rio, foi um dos pontos importantes na facilitação

do resgate. Outro foi a existência de canais de

escape natural nos vales dos rios e córregos.

Também contaram a extensão do conhecimen-

to da fauna terrestre, predominante na região,

graças aos estudos realizados durante a cons-

trução do canteiro de obras e pré-enchimento.

Contrariando uma corrente científica que

defende que a fauna de uma região alagada deve

ser considerada como morta, a equipe que traba-

lhou no resgate da fauna da usina Cana Brava sol-

tou todos os animais que tinham condições – por

não estarem machucados – de volta na natureza,

onde enfrentariam o desafio de se readaptar e so-

breviver. Por isso, o acompanhamento pós-en-

chimento continuaria a ser realizado, justamente

para verificar se os animais estavam encontrando

condições de sobrevivência.

Na verdade, durante toda a construção de

Cana Brava a SUEZ Energy International pro-

curou criar mecanismos para ampliar o debate

público, disseminar e incentivar a geração de

conhecimento a partir dos programas sociais e

ambientais (detalhados no próximo capítulo)

que estava desenvolvendo. Entre eles, desta-

cam-se seminários socioambientais, realizados

em duas oportunidades, em Goiânia, reunindo

pesquisadores e especialistas dos programas

sociais e ambientais desenvolvidos, de modo

que as propostas fossem conhecidas e, se fosse

o caso, debatidas publicamente. Nas duas edi-

ções, em novembro de 2000 e agosto de 2001,

representantes de entidades científicas, comu-

nidade, governo, imprensa, institutos de pes-

quisas, universidades, Departamento Nacional

de Produção Mineral, IBAMA, Agência Ambien-

tal, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional, Ministérios Públicos, BID, BNDES,

entre outros, analisaram questões técnicas e

científicas relativas aos projetos e os resultados

das ações socioambientais. Além de possibili-

tar a intervenção da comunidade local habili-

tada para a avaliação, a iniciativa procurou de-

monstrar que ao executar o empreendimento,

a SUEZ Energy International também promovia

o desenvolvimento científico em uma região de

grande diversidade ambiental como o cerrado.

Por esse conjunto de fatores, o sucesso da

Operação Mucura tornava-se um símbolo para

os envolvidos no projeto. Significava que todos

os programas ambientais previstos no Plano

de Gerenciamento Social e Ambiental (ESMP),

após intensos debates e exigências de todos

os envolvidos, estavam concluídos e as metas

acordadas, cumpridas. Significava, portanto,

que sob a ótica ambiental, a usina Cana Brava

estava pronta para ser inaugurada.

Page 97: Cana Brava

98 99

3C A P Í T U LO

Page 98: Cana Brava

98 99

O desafio social

Transparência das ações, responsabilidade e profundo respeito pelos direitos das pessoas e das comunidades envolvidas – superando as exigências da lei – marcaram a implantação da usina Cana Brava.

Page 99: Cana Brava

100 101

Terr

a de

mui

tas

min

as

A história do estado de Goiás

e da região de Cana Brava

está ligada às entradas e

bandeiras, que percorreram

e desbravaram o interior

brasileiro nos séculos XVII e

XVIII à procura

de metais preciosos.

A descoberta de minas de ouro no início do

século XVIII impulsionou a formação dos

primeiros povoados próximos ao rio Tocantins,

entre eles os arraiais do Carmo, o de São Félix

e o de Cavalcante. Cavalcante fica na margem

direita do rio Tocantins, a cerca de 120 quilô-

metros de onde seria construída a usina Cana

Brava. O surgimento, apogeu e decadência da

comunidade ocorreram num curto período de

50 anos, em decorrência da exploração do ou-

ro de aluvião, garimpos realizados junto aos

depósitos sedimentares às margens dos rios. O

pequeno arraial minerador data do início do sé-

culo XVIII, mas foi em 1740 que Cavalcante – o

nome foi dado em homenagem ao seu primeiro

explorador, Francisco de Albuquerque Caval-

cante – teve sua fundação oficial. Nove anos de-

pois, era criada a Capitania de Goiás – região an-

tes vinculada à Capitania de São Paulo – e uma

das primeiras medidas de seu governador geral,

Dom Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos,

foi a abertura de duas casas de fundição, uma

Cavalcante

Minaçu

Page 100: Cana Brava

100 101

delas no arraial de Cavalcante.

Quase cem anos depois, em 1831, Caval-

cante tornava-se município. Desde então, vi-

vencia um processo de estagnação econômi-

ca, especialmente em virtude da diminuição

da atividade de exploração do ouro e de ou-

tros minérios. Cavalcante, na virada do século

XXI, era um dos municípios com maior índice

de analfabetismo do estado, chegando a 50,5%

entre os adultos, segundo o Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística - IBGE, e também um

dos com o menor Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) do estado de Goiás. A exten-

são do município, cerca de sete mil quilômetros

quadrados, contrasta com a população peque-

na, de cerca de 9.500 habitantes, a maior parte

(75%) vivendo em áreas rurais.

Na outra margem do Tocantins, a cerca de

25 quilômetros da futura usina, estava a cidade

de Minaçu, que serviria de base para a constru-

ção e absorveria os maiores impactos e benefí-

cios do empreendimento. A história da comuni-

dade começou a ser escrita no final dos anos 50,

quando fazendeiros do Tocantins rumaram ao

sul em busca de novas terras. Mas foi em 1962,

quando a empresa Mineração de Amianto Ltda.

– SAMA chegou à região, que tudo mudou. A

prospecção confirmou a existência de amianto

crisotila, e, cinco anos depois, foi iniciada a ex-

ploração da mina que deu ao Brasil autonomia

na produção desse minério. Ao lado da jazida

surgiu o distrito de Minaçu (mina grande, em tu-

pi-guarani), que em 14 de maio de 1976 eman-

cipou-se de Porangatu. Na década de 1980, a

perspectiva de geração de energia, com o apro-

veitamento das águas da bacia do rio Tocantins,

deu novo impulso ao local com a construção da

Usina Hidrelétrica Serra da Mesa, obra que só

terminaria nos anos 90. Com uma área de 1,9

mil quilômetros quadrados, em 1999, quando

começou a obra de Cana Brava, Minaçu tinha

pouco mais de 33 mil habitantes e mais de 85%

da população na área urbana.

A construção de um empreendimento

do porte de uma usina hidrelétrica como Ca-

na Brava certamente provocaria uma série de

impactos sociais nessas comunidades, embora

nenhum município tivesse que ser relocado e

a densidade demográfica na área do futuro re-

servatório fosse extremamente baixa. Mas algu-

mas pessoas precisariam sair de suas casas, das

terras onde trabalhavam, muitas vezes deixando

para trás o lugar onde cresceram e viram seus fi-

lhos nascer. Toda uma história seria submersa

pelas águas, em nome do progresso necessá-

rio para o desenvolvimento econômico e – por

conseqüência – social do país. É importante fri-

sar que cabe ao governo federal definir os locais

onde são instaladas as usinas, mediante estudos

de viabilidade e de impactos. A partir dessa defi-

nição, são feitas licitações públicas e concessões

para empresas que as constroem e operam.

Por princípio, assim como os requisitos

ambientais, os empreendedores da usina Cana

Brava jamais se eximiram da responsabilidade

de amenizar os impactos sociais da obra e, ao

contrário, desenvolveram uma série de progra-

mas com o objetivo de minimizá-los o máximo

possível. A rapidez com que se pretendia erguer

a construção exigia velocidade igual ou supe-

rior na implantação de medidas compensató-

rias e dos programas socioambientais. A legis-

lação brasileira exigia que uma série de ações

preventivas e compensatórias fosse colocada

em prática. Mas a meta era sempre que possí-

vel ir além do legalmente determinado. Mais do

que respeitar as normas, todas as empresas e

profissionais envolvidos no projeto Cana Brava

procuraram aperfeiçoar os métodos e proces-

sos empregados ao longo de sua execução.

Page 101: Cana Brava

102 103

Aquisição e IndenizaçõesDefiniu e acordou critérios para as aquisições de bens atingidos pelo empreendimento nas áreas urbana e rural, além de definir indenizações pa-ra não-proprietários, como posseiros, e pessoas que mantinham comprovadamente vínculo fixo com a terra.

Remanejamento e Monitoramento da PopulaçãoGarantiu infra-estrutura, suporte técnico e jurídi-co e assistência social e educacional adequados para o remanejamento da população atingida.

Gerenciamento Socioambiental de MinaçuContribuiu para a adequada exploração dos be-nefícios e a minimização dos impactos da obra na cidade de Minaçu. Envolveu diversas compen-sações realizadas na área urbana.

Educação e CulturaResgatou, valorizou e disseminou as tradições e a cultura da região.

Educação AmbientalAumentou o conhecimento da população das áreas atingidas sobre o meio ambiente e os impactos que a construção da usina Cana Brava poderia acarretar.

Levantamento Socioeconômico e CensitárioEstudou as condições de vida da população da região e, principalmente, das famílias atingidas, para definir os programas sociais prioritários em torno do empreendimento.

Programas sociais desenvolvidos durante a construção da usina

Dos 23 programas socioambientais previstos no Plano de Gerenciamento Social e Ambiental (ESMP), nove

tinham mais foco em demandas da área social. Desde o início do processo, a estratégia adotada em cada progra-

ma foi a de sempre deixar claro para a população envolvida o que se pretendia, apresentando critérios justos e

bem definidos; ser transparente em toda e qualquer ação e, sobretudo, deixar sempre aberto o canal para suges-

tões que levassem à melhoria dos projetos. Uma das grandes vantagens de Cana Brava em relação a outras usinas

hidrelétricas foi a escolha do ponto de construção da barragem – longe de cidades –, que permitia a formação de

um reservatório pequeno e com grande capacidade de geração, e que atingiria apenas 258 famílias proprietárias

e 128 famílias não-proprietárias, que viviam, plantavam ou criavam gado à beira do rio Tocantins.

Page 102: Cana Brava

102 103

Levantamento Aerofotogramétrico e FundiárioLevantou, através de geoprocessamento, infor-mações para calcular o valor dos bens a serem adquiridos, garantindo critérios idênticos no cál-culo das indenizações.

Comunicação SocialInformou permanentemente a população direta e indiretamente envolvida com o empreendimento sobre a construção e as ações socioambientais desenvolvidas. Ao mesmo tempo, possibilitou maior participação da comunidade nessas ações e estabeleceu parcerias com os governos dos mu-nicípios atingidos.

Gestão Socioambiental da Linha de TransmissãoGeriu os aspectos ambientais e sociais decorren-tes da implantação da linha de transmissão entre a usina Cana Brava e a usina Serra da Mesa.

Programas sociais desenvolvidos durante a construção da usina

Page 103: Cana Brava

104 105

Crit

ério

s pa

ra a

quis

içõe

s e

inde

niza

ções

Um sistema de avaliação

inovador, elaborado pela

Universidade Federal do Rio

de Janeiro (UFRJ), classificou

as propriedades entre si,

sempre com os mesmos

parâmetros e critérios.

Uma das maiores preocupações das pesso-

as atingidas em empreendimentos dessa

natureza é saber como serão indenizadas pela

perda de suas casas, terras e, às vezes, trabalho.

A legislação brasileira prevê normas e formas pa-

ra avaliar os imóveis, mas geralmente elas geram

dúvidas e questionamentos. Outro problema é

o tempo de execução do trabalho de campo, em

geral muito longo. Para atenuar essa situação, a

SUEZ Energy International implantou em Cana

Brava um sistema de avaliação inovador, a partir

de técnicas de geoprocessamento de imagens e a

utilização do software SAGA, desenvolvido pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O sistema permitiu incluir todas as informações

geoambientais exigidas pela lei e classificou as

propriedades entre si, sempre com os mesmos

parâmetros e critérios. Essa técnica era bastante

utilizada na agricultura, para informar as condi-

ções do solo, pois permite o cruzamento de da-

dos, e foi adaptada para obter índices objetivos

na avaliação de um terreno para indenização.

Apesar de complexo, tudo isso foi expli-

cado detalhadamente em várias reuniões para

Reunião com atingidos pela usina e vistoria de propriedades.

Page 104: Cana Brava

104 105

a comunidade atingida, ainda antes de se co-

meçar a pensar em preços. Nas reuniões havia

espaço para mudanças e logo os proprietários

alertaram para a redução do valor das terras ca-

so se levasse em conta as características de to-

da a propriedade, e não apenas a área que seria

inundada, em geral as mais férteis, pela proxi-

midade ao rio Tocantins. O pedido foi pron-

tamente acatado e os índices refeitos, consi-

derando-se para efeito dos cálculos só o que

seria inundado, o que resultou em indenizações

maiores. Outra decisão em favor dos indeniza-

dos foi usar como base o valor de mercado das

terras de Minaçu para todos os terrenos, por se-

rem cerca de 40% mais valorizadas que as da

margem direita, em Cavalcante. O entendimen-

to da empresa foi que logo após a construção da

usina e das benfeitorias que viriam em contra-

partida, a região ficaria automaticamente mais

valorizada por ter mais infra-estrutura.

Depois das conversas e mudanças, o cha-

mado índice da terra foi definido entre as par-

tes. Os fatores ambientais, como solo, decli-

vidade e altitude compuseram 85% do valor da

terra. Os outros 15% vieram de fatores geográfi-

cos, como a proximidade de áreas urbanas, sis-

tema de água e esgoto e condições das rodovias.

A SUEZ Energy International também decidiu in-

denizar todo o terreno dos proprietários que ti-

vessem mais de 70% das terras alagadas.

Posteriormente, a transparência e objetivi-

dade do método atraíram a atenção da Agência

Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que re-

gula todo o setor elétrico no Brasil, e teve reco-

nhecimento da comunidade científica interna-

cional, com a publicação de um artigo em uma

das principais revistas especializadas em enge-

nharia e sua apresentação para estudiosos da

área nos Estados Unidos.

Somada à transparência do processo, veio

a disposição da SUEZ Energy International de

sempre negociar com os atingidos, tanto que

proprietários e não-proprietários incluídos en-

tre os indenizados puderam formular propostas,

defender posições e procurar a empresa para se

informar sobre todas as etapas do processo. Es-

tima-se que o Centro de Informação, instalado

na zona urbana de Minaçu para prestar esclare-

cimentos à população atingida, tenha recebido

mais de 2.500 pessoas em cada ano da constru-

ção. Esse rigor e clareza de posições seriam de-

cisivos para o sucesso do processo de indeniza-

ções, que aconteceria no momento seguinte.

Em novembro de 1999 começavam real-

mente as negociações das propriedades neces-

sárias para colocar a usina em funcionamento.

As áreas de terras para instalação do canteiro de

obras tinham sido compradas e era preciso ad-

quirir as terras da área do futuro reservatório.

Com o geoprocessamento concluído e os pro-

prietários a par da metodologia, acelerou-se o

levantamento da população atingida. O traba-

lho era complexo, pois nesse grupo, por pre-

missa da SUEZ Energy International, seriam in-

Page 105: Cana Brava

106 107

cluídos não apenas proprietários, mas todos os

que dependiam das terras que seriam alagadas

para moradia e/ou obtenção de renda, com efe-

tivo vínculo com as terras atingidas para forma-

ção da barragem.

O primeiro passo para dimensionar a ex-

tensão das ações e verificar quem eram e em

que condições viviam os futuros atingidos foi

realizar o Censo para Cadastramento Socioe-

conômico do empreendimento. A abertura do

cadastramento foi amplamente divulgada na

região. Além disso, equipes especializadas pal-

milhavam toda a área do futuro reservatório, de-

limitada por marcos topográficos, à procura de

pessoas que vivessem ou trabalhassem ali. Era

um trabalho de casa em casa, às vezes por cami-

nhos que somente se percorria a pé. A meta era

simples: cadastrar todas as famílias e as condi-

ções materiais de que dispunham, pois o cadas-

tramento seria a referência-base para as futuras

indenizações. Quando o Cadastro Fundiário e

o Levantamento Censitário foram fechados, em

29 de novembro de 1999, estavam relacionadas

258 famílias proprietárias de terras e que resi-

diam na área diretamente afetada, 32 famílias na

área urbana de Minaçu e 226 famílias na área ru-

ral dos três municípios atingidos. De acordo com

os critérios adotados, eram elegíveis ao reassen-

tamento 175 famílias residentes na área rural e 32

famílias residentes na área urbana. O censo iden-

tificou 115 famílias de não-proprietários rurais.

Até julho de 2002, outras 13 famílias de não-pro-

prietários rurais haviam sido incluídas na lista de

famílias elegíveis para o reassentamento. Desse

total de 128 famílias, 39 optaram pelo reassenta-

mento rural coletivo, 24 por reassentamento ru-

ral individual, 51 por cartas de crédito urbano, e

14 por residências na Vila de Furnas. Eram pes-

soas que não tinham escritura de comprovação

da posse das terras, mas que nelas viviam como

Page 106: Cana Brava

106 107

posseiros, arrendatários ou meeiros e, por isso,

seriam indenizadas. O critério adotado para a

concessão das indenizações também envolveu

vínculo fixo com as terras que foram alagadas.

Poderia ser um terreno, o local de trabalho, co-

mo foi o caso dos balseiros, ou um pedaço de ter-

ra que não lhes pertencesse, mas do qual depen-

dessem para a sobrevivência.

O tratamento dispensado aos não-pro-

prietários atingidos pela barragem comprovava

a preocupação social da empreendedora. Pos-

seiros, meeiros, agregados e usufrutuários tam-

bém teriam direito à indenização e à assistência

técnica e social. No caso de posses em litígio, os

trabalhadores rurais e posseiros ainda recebe-

riam suporte jurídico, com a SUEZ Energy Inter-

national assumindo os riscos e indenizando os

posseiros na íntegra. A única diferença é que os

proprietários seriam indenizados em dinheiro e

os não-proprietários por remanejamento.

Na verdade, a SUEZ Energy International

desenvolveu um conjunto de opções para cada

grupo de atingidos escolher por conta própria

o que considerava melhor para o seu futuro. Os

não-proprietários podiam optar por uma das qua-

tro alternativas de remanejamento: reassentamen-

to urbano na Vila de Furnas, auto-reassentamento

urbano, com a concessão de carta de crédito para

a compra de moradia na cidade; auto-reassenta-

mento rural, carta de crédito para compra de uma

propriedade na área rural, com suporte jurídico e

técnico-financeiro, sendo que nesse caso os atin-

gidos ainda receberam crédito para a compra de

materiais de construção e de insumos agrícolas, e,

finalmente, o reassentamento rural coletivo.

Os benefícios também se estenderam a fa-

mílias que viviam em terras de outras, mas de-

pendiam da região que seria alagada. Gente

que morava em casas de pau-a-pique, a quilô-

metros da terra em que plantava, o que tornava

Page 107: Cana Brava

108 109

Page 108: Cana Brava

108 109

impossível, mesmo que conseguissem plan-

tar mais que o necessário para comer, ir a feiras

vender o que sobrava. Histórias como a da do-

na Luzia Gonçalves Nunes são comuns na zona

rural da região de Cana Brava. Mãe de 15 filhos,

ela plantou em um pedaço de terra emprestado

por pelo menos 20 anos, na área onde ficaria o

futuro reservatório.

Todos os dias iam ela, o marido, seu João

Macedo Lima, e os filhos para a roça. Os bebês

ficavam em barracos montados por perto e os

que já tinham tamanho suficiente pegavam na

enxada. O almoço era uma parada breve ali

mesmo, onde ficavam todos até o anoitecer. Só

eram liberados os filhos que estavam em idade

de ir para a escola, se revezando entre as cartei-

ras e a plantação. Como o caminho de volta era

longo, chegavam em casa à noite. E o resultado

desse esforço ainda era dividido com o dono da

terra que ela usava para ter o que comer.

Era assim que, como tantas outras, a famí-

lia de dona Luzia vivia enquanto alimentava o so-

nho de um dia ter sua terra, quando a SUEZ Ener-

gy International chegou no norte de Goiás. Ela

recebeu a equipe da empresa e foi informada

da indenização. Mas, no final de 2000, ela estava

voltando da roça quando encontrou o dono da

terra, que simplesmente a avisou que não queria

mais ver sua família ali. Dona Luzia e a família ti-

nham que sair da propriedade imediatamente.

Na casa com paredes de barro, coberta de

palha, o mesmo material de que são feitos as ca-

mas e colchões, ela encontrou o marido e deu a

notícia, desolada. O reassentamento rural só fi-

caria pronto em um ano e se não estivessem nas

terras atingidas, a família perderia o direito de

ser indenizada.

Procurando o escritório da SUEZ Energy In-

ternational, a meeira foi orientada a ficar em uma

terrinha temporária. Dona Luzia acreditou na pro-

messa. “Esperei pela minha terra por vinte anos,

agüento mais um ou mais dez”, repetia. Em pouco

tempo, a família conseguiu outro pedaço de terra

para fazer sua roça, bem mais longe de onde mo-

rava, mas com a certeza de que os tempos ruins es-

tavam próximos do fim. Depois, com a conclusão

da implantação, dona Luzia e sua família muda-

ram-se para o Reassentamento Rural Coletivo.

Muitos em condição semelhante à de

dona Luzia moravam em terras que nem sa-

biam a quem pertenciam, usavam um pedaço

de terra para plantar o que era necessário pa-

ra comer. A possibilidade de o real proprietá-

rio aparecer para brigar por uma indenização

que outra família recebeu era real, tanto que

ocorreu. Mas a SUEZ Energy International ti-

nha como premissa do projeto dar um futuro

para as pessoas que estavam tendo seu pas-

sado, ainda que muitas vezes sofrido, afetado

pela construção de Cana Brava.

Processo resultou em indenizações amigáveis

A participação da comunidade e a clareza sobre como a in-

denização seria realizada fizeram com que 94% das terras fossem

adquiridas amigavelmente. Os 6% restantes, por não terem sido

aceitos os valores propostos, foram negociados por via judicial.

Depois dos cálculos feitos, proprietários pagos e grande

parte do trabalho resolvido, exceto as poucas pendências judi-

ciais, um fato imprevisto demonstraria mais uma vez a postura

da SUEZ Energy International no processo. Por conta de altera-

ções nos marcos de referência disponíveis, a SUEZ Energy Inter-

national constatou uma diferença de 67 centímetros da cota do

reservatório. O resultado dessa mudança foi que o reservatório

atingiu a cota máxima de 333,67 metros. Imediatamente, a dire-

ção da empresa determinou uma ampla revisão do processo in-

denizatório, optando, por segurança, em utilizar, na região rural,

em propriedades sem benfeitorias, a marca da cota 335,00 para

efeito dos novos cálculos e, na região urbana, como nas proprie-

dades rurais atingidas com benfeitorias, a realização de novos

levantamentos topográficos. Dessa forma, terrenos que não

haviam sido 100% indenizados tiveram seus cálculos refeitos e

foram pagos pelas novas referências.

Page 109: Cana Brava

110 111

A vida antes da usinaMoradias de atingidos na área do reservatório

Page 110: Cana Brava

110 111

Page 111: Cana Brava

112 113

Rea

ssen

tam

ento

Rur

al C

olet

ivo

Uma das premissas da

relocação da população

atingida era estimular a

permanência na área rural.

O Reassentamento Rural

Coletivo foi um programa

que ofereceu toda a infra-

estrutura necessária para

as pessoas recomeçarem

a vida no campo.

Page 112: Cana Brava

112 113

Diante da tendência de inúmeras famílias

em deixar o campo à procura de melho-

res oportunidades na cidade, com resultados

sociais muitas vezes negativos, durante o rema-

nejamento houve uma preocupação de estimu-

lar a permanência dos atingidos na área rural,

especialmente em função do que estava acon-

tecendo em Goiás. Comparando os dados de

1970 e 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), percebeu-se uma mudan-

ça de perfil populacional em Goiás. Os cerca de

1,7 milhão de habitantes do campo, em 1970,

estavam reduzidos, 30 anos depois, a cerca de

605 mil. No mesmo período, só as cidades au-

mentaram de tamanho, passando de 1,2 milhão

para mais de 4,3 milhões de habitantes.

Muito dessa fuga se devia às dificuldades

encontradas no campo, como a pouca infra-es-

trutura, acesso reduzido à tecnologia e, em re-

giões afastadas como a zona rural de Minaçu,

as sérias dificuldades em comercializar a pro-

dução. Pensando nisso, a SUEZ Energy Interna-

tional oferecia aos não-proprietários atingidos

a possibilidade de se transferir para o Reassen-

tamento Rural Coletivo Cana Brava, um progra-

ma com toda a infra-estrutura necessária para as

pessoas recomeçarem a vida no campo.

Para definir o que seria importante levar

em conta na hora da construção do reassen-

tamento, a equipe responsável pela compra

das terras, pelo planejamento e pela constru-

ção realizou pesquisas e entrevistas em ou-

tros reassentamentos. A intenção era detectar

problemas e verificar o que o agricultor con-

siderava importante. Para complementar essa

última parte, logicamente os futuros reassen-

tados de Cana Brava também foram consulta-

dos diversas vezes.

O local escolhido foi uma fazenda na zona

rural de Minaçu, a 20 quilômetros da cidade e a

500 metros do distrito de Santo Antônio de Ca-

na Brava, que tinha infra-estrutura básica, como

posto de saúde, escola, telefones públicos, igre-

jas e mercearias. Ainda que, para a equipe da

SUEZ Energy International, tudo isso parecesse

garantir bom plantio e qualidade de vida, as 26

famílias que optaram pelo reassentamento rural

coletivo foram levadas ao local para ver a terra e

aprovar a escolha da empresa.

Quando isso aconteceu, os assistentes so-

ciais da SUEZ Energy International ajudaram os

atingidos a se inserir de maneira mais fácil na

nova comunidade. Eles providenciaram do-

cumentos de identidade para quem não tinha,

verificaram a existência de vagas para os filhos

dos novos moradores na Escola Municipal San-

Page 113: Cana Brava

114 115

to Antônio de Cana Brava e entraram em conta-

to com os agentes de saúde para incluir as famí-

lias no Plano Municipal de Saúde da Família.

O terreno de 400 hectares destinado ao re-

assentamento, às margens do rio Cana Brava,

era fértil para a agricultura, e ficaria ainda mais

produtivo com o sistema de irrigação que iria

receber. E não ficaria só nisso. Quem acreditou

que essa era a melhor opção, recebeu escritura

pública de um terreno de dois a cinco alqueires,

com sistema de irrigação, casa de alvenaria com

três quartos, galpão para abrigo de sementes e

insumos, sistema de esgoto e luz elétrica.

A definição dos terrenos que ficariam

com cada família foi feita em uma cerimônia

que se transformou em festa. Toda a equipe da

SUEZ Energy International, bastante envolvida

com as famílias por ter acompanhado as difi-

culdades enfrentadas até a chegada desse dia,

estava reunida, e as famílias, apreensivas. Iam

descobrir onde seria seu terreno, uma terra

que ia lhes pertencer muito em breve. Buscan-

do isenção, a decisão ocorreu por meio de sor-

teio. Crianças da comunidade foram escolhi-

das para retirar o número do lote de cada um.

Depois da festa, a mudança. No dia da

chegada ao reassentamento, em outubro de

2001, as famílias encontraram mais do que esta-

Alfabetização de adultos no Projeto Vaga-Lume

Page 114: Cana Brava

114 115

va previsto. Além da irrigação, tinham um hec-

tare de terra praticamente pronto para a colhei-

ta. Receberam também um kit de ferramentas,

as primeiras sementes de milho e 60 mudas fru-

tíferas. Para não ficar faltando nada, a casa esta-

va toda mobiliada: camas com colchões, guar-

da-roupas, sofás, estantes, mesa, armários de

cozinha, fogão e até um aparelho de som.

Para quem sequer tinha terra, pode-se

imaginar a satisfação dos reassentados, mas

também a dificuldade em se adaptar às mu-

danças que vieram. Justamente por isso, a

SUEZ Energy International montou uma re-

de de assistência formada por agrônomos,

assistentes sociais e outros profissionais, que

acompanhariam de perto as famílias.

O mesmo engenheiro agrônomo que au-

xiliou na escolha das terras ensinou as famí-

lias a usar o sistema de irrigação e técnicas de

plantio mais eficientes. No entanto, foi pre-

ciso assistência para a utilização de recursos

muito mais elementares que a irrigação, pois

a maioria das pessoas não conhecia luz elétri-

ca e fogões. Tudo teve que ser ensinado, des-

de a utilização e limpeza dos banheiros até o

pagamento das contas de luz e água. Também

noções básicas de higiene pessoal e limpeza

da casa foram passadas e cada um dos eletro-

domésticos que ganharam lhes foi devida-

mente apresentado.

Dona Luzia, a meeira que há mais de 20

anos sonhava com seu pedaço de terra, ficou

maravilhada com tantas coisas que sequer pen-

sava precisar. E ela só queria um lugar para

plantar, uma terra que fosse sua. “Nem precisa-

va de casa, eu disse para eles, era me dar a terra

que eu fazia tudo”.

Mas nem por isso ela acha ruim o que ga-

nhou, muito pelo contrário. “Eu aperto um bo-

tão e ilumina toda a casa, arrumo tudo quando

chego da roça, posso trabalhar até quando que-

ro”. Dona Luzia é uma prova de que o trabalho

de orientação foi bem feito. Entende as coisas

novas que a cercam, percebe as possibilida-

des de melhoria que vieram junto com a terra e

aprendeu a viver com novos recursos. “A conta

chegou, a gente já paga. Nunca deixei uma con-

ta de luz vencer.” Não que a falta de luz elétrica

algum dia tenha sido impedimento. Nos tempos

de meeira, ela voltava da lida à noite, acendia a

lamparina e ia arrumar sua casa.

Mas para ela, uma das coisas mais impor-

tantes que recebeu foi aquele aparelho de som,

que nem estava previsto na indenização. Mais

de 14 anos antes de a SUEZ Energy International

aparecer na região de Minaçu, dona Luzia ga-

nhou uma fita K-7, gravada por uma das filhas,

como presente de dia das mães. Sem ter onde

ouvir, ela guardou e uma das primeiras coisas

que fez foi finalmente escutar o que a filha esta-

va querendo lhe dizer por todo aquele tempo.

Na fita, a moça falava da vida sofrida que

a família teve, mais pesada ainda para a mãe e

o pai, e de todas as dificuldades que enfrenta-

ram juntos para sobreviver. E não só sobrevi-

veram, conseguiram terra para plantar, alimen-

Primeiro grupo de reassentados

Page 115: Cana Brava

116 117

taram todos os filhos e ainda deram estudo a

eles. A filha de dona Luzia conta à mãe o exem-

plo que ela representa, a força que lhe dá e o

orgulho que sente.

Desde o período do cadastramento, as as-

sistentes sociais estiveram junto às famílias, in-

formando e orientando sobre as escolhas que

haviam feito e conhecendo melhor cada um dos

reassentados. Justamente por isso foi possível

desenvolver programas específicos para aten-

der às necessidades especiais. Como havia pes-

soas com problema de alcoolismo, foram orga-

nizadas palestras de orientação com o Centro

de Recuperação dos Alcoólatras (CEREA). A

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

– APAE também foi chamada para prestar assis-

tência a duas famílias.

Além disso, houve ajuda para a adapta-

ção dos moradores às casas, pois muitos deles

nunca haviam morado em casas de alvenaria.

No lote de Afonso Rodrigues, por exemplo, ao

lado da casa de alvenaria construída pela SUEZ

Energy International, outra, de madeira, com

teto de palha e fogão caipira, teve que ser er-

guida. Acostumada com o local onde morava

há anos, dona Julia Rodrigues, sua mãe, passa-

va praticamente todo o dia no chão de barro e

só usava a casa nova para dormir.

Em outra frente, a mudança na vida dos re-

assentados passou pela educação formal, com

a possibilidade de voltar a estudar no reassen-

tamento. As famílias participaram de um pro-

grama de alfabetização de adultos, o Projeto

Vaga-Lume, em parceria com o governo de Goi-

ás. Enquanto aprendiam a ler e escrever, muitas

pessoas descobriram ter problemas de visão. Os

alunos ganharam então consultas com um oftal-

mologista e em seguida os óculos de que neces-

sitavam para continuar as aulas.

As mulheres passaram a freqüentar tam-

bém cursos de culinária e corte e costura, uma

iniciativa para aproximar os moradores do Reas-

sentamento Rural Coletivo Cana Brava e dar mais

condições e conhecimento para que estruturas-

sem o lar que a partir de então tinham. Foram or-

ganizadas reuniões informativas sobre técnicas

de plantio e de conscientização ambiental.

Enfim, naquele reassentamento cheio de

esperança, um povo acostumado a esperar pelo

futuro tinha, pela primeira vez, a certeza de que

haveria futuro, pois o presente se mostrava me-

lhor a cada dia.

Doação de óculos aos reassentados Reunião com o agrônomo do reassentamento

Page 116: Cana Brava

116 117

Opção pela carta de crédito ruralMesmo desejando ficar na zona rural, algumas famílias atin-

gidas buscaram outras formas de indenização. Treze famílias op-

taram pelo Reassentamento Rural Pecuário, um terreno grande

e escolhido em conjunto entre os reassentados e os técnicos da

SUEZ Energy International para a criação de gado. Nessa modali-

dade, definida em uma fase posterior das negociações para aten-

der à reivindicação de alguns atingidos, as famílias receberiam um

lote no reassentamento e uma carta de crédito para a compra do

material para a construção da casa.

Outras 24 famílias de agricultores preferiam continuar

plantando, mas não tinham interesse em fazer parte do Reas-

sentamento Coletivo Cana Brava e escolheram um terreno e

uma casa na zona rural. Para elas foi dada a opção de utilizar uma

carta de crédito rural e, da mesma forma como foi feita a escolha

do terreno do reassentamento, a aquisição de cada propriedade

individual também teve a participação de um agrônomo, que ava-

liou as condições do solo, a infra-estrutura próxima e os recursos

hídricos disponíveis. No entanto, para evitar que os indenizados

pudessem usar o dinheiro com outros fins, optou-se por condi-

cionar a liberação da compra com cheque nominal ao vendedor,

após negociação com a empresa.

Page 117: Cana Brava

118 119

A v

ida

na c

idad

e

Muitas famílias atingidas

preferiram morar na cidade,

optando entre casas na Vila

de Furnas, oferecidas pela

SUEZ Energy International, ou

comprar um imóvel por conta

própria, mas sempre com

total assessoria da empresa.

Apesar da tentativa de manter os indenizados

na zona rural, 65 famílias atingidas viram na

indenização a chance que esperavam para ir para

a cidade e construir uma vida diferente. Dessas, 14

famílias escolheram como forma de indenização

receber uma casa na Vila de Furnas como sua no-

va moradia. Apesar de a vila existir desde a cons-

trução da usina Serra da Mesa, e ser conhecida por

boa parte da população, todos que consideraram

essa possibilidade foram levados ao local para co-

nhecer as casas, que seriam reformadas antes da

chegada das famílias.

Para adaptar à vida urbana as pessoas

Page 118: Cana Brava

118 119

nascidas e criadas no campo, foram desenvol-

vidos programas sociais específicos, na mes-

ma linha do que foi feito no reassentamento

coletivo rural, privilegiando a higiene pessoal

e a saúde. As mulheres receberam capacitação

para adaptar-se às novas condições de vida e

aproveitar oportunidades de geração de ren-

da, por meio de cursos de cozinha alternativa,

costura e artesanato. Uma versão urbana do

Projeto Vaga-Lume levou a alfabetização para

os adultos moradores da vila, com professores

e livros pagos pela SUEZ Energy International.

Houve ainda 51 famílias de não-proprietá-

rios e pequenos proprietários que optaram por

adquirir a casa em outros locais da cidade, sem-

pre com o acompanhamento da equipe social

da SUEZ Energy International. Escolhida a ca-

sa, o imóvel tinha que ser aprovado pela empre-

sa para que a compra fosse autorizada. Longe de

ser autoritária, a medida protegia famílias desabi-

tuadas a negociar e a contar com infra-estrutura

mínima escolhessem imóveis sem condições de

habitação. E muitas das casas que despertaram

interesse nos indenizados foram descartadas por

não estarem dentro das condições necessárias,

pois algumas sequer tinham banheiro.

Casas na cidade de Minaçu escolhidas pelos atingidos

Page 119: Cana Brava

120 121

Entrega das casas na Vila de Furnas, em Minaçu

Page 120: Cana Brava

120 121

Page 121: Cana Brava

122 123

Rád

io, j

orna

l e m

uita

con

vers

a

O programa de

comunicação social

forneceu todas as

informações sobre

o empreendimento

aos atingidos e às

populações envolvidas.

Para manter a comunidade informada sobre

o andamento da obra e dos programas so-

ciais e ambientais, a SUEZ Energy International

desenvolveu um programa de comunicação so-

cial durante todo o período de construção. Um

dos principais veículos era o jornal mensal In-

formativo Cana Brava, publicado durante dez

meses e distribuído nos municípios de Minaçu,

Cavalcante e Colinas do Sul. Nesse período, in-

formações e convites para os eventos relaciona-

dos à usina também eram veiculados em um pro-

grama semanal da Rádio Serra da Mesa FM, com

cobertura em toda a área do empreendimento.

Foram desenvolvidas publicações mais espe-

cíficas, como calendários com fotos da usina e

Page 122: Cana Brava

122 123

guias distribuídos para as pessoas que visitavam

a obra. Em várias ocasiões, a SUEZ Energy Inter-

national montou estandes em feiras e exposições

na região, nos quais técnicos ficavam à disposi-

ção da população para responder perguntas e

distribuir material informativo.

Em outra mão, a comunicação direta com

os atingidos era prioridade. Além do diálogo

sempre aberto durante toda a fase de negocia-

ção das indenizações dos proprietários e da

cuidadosa apresentação de cada uma das op-

ções disponíveis aos não-proprietários, hou-

ve um intenso contato com lideranças e repre-

sentantes da população dos três municípios

atingidos pela usina. O programa de visita-

ção da construção da usina Cana Brava, outro

dos projetos fundamentais para a informação

e educação ambiental da comunidade, foi um

dos canais mais usados nesse contato. Cada

grupo de visitantes recebia informações sobre

os programas de minimização dos impactos,

tanto na área ambiental, para a conservação

dos recursos naturais do cerrado, quanto sobre

as indenizações e outros projetos envolvendo

os atingidos. Ao longo da obra, centenas de

pessoas, entre professores, educadores, técni-

cos, estudantes, atingidos pelo reservatório e

moradores da região passaram por lá. E conti-

nuam passando, pois o programa de visitação

à usina permanece em plena atividade.

Page 123: Cana Brava

124 125

O C

entr

o de

Vis

itaç

ão

O Centro de Visitação (CEVI)

promoveu a integração

da comunidade com

o ambiente e com as

mudanças decorrentes da

construção da usina.

Paralelamente ao trabalho ambiental que

acompanhou a construção da usina, des-

crito no capítulo anterior, vários projetos de

educação ambiental foram desenvolvidos pa-

ra informar a população sobre o significado do

empreendimento e conscientizá-la da rica bio-

diversidade do cerrado. As linhas de ação iam

de palestras com as equipes de Conservação de

Flora e dos Programas de Fauna e Ictiofauna até

o desenvolvimento de material didático especí-

fico para a comunidade e a formação de multi-

plicadores ambientais, aliando informações so-

bre a usina e preservação ambiental.

O palco era o Centro de Visitação (CEVI),

uma casa da Vila de Furnas que se tornou um lu-

gar de informação e educação, construído pa-

ra promover a integração da comunidade com

o ambiente e com as mudanças decorrentes da

construção da usina. Em média, o Centro de Vi-

sitação recebia em torno de 400 a 500 pessoas

por mês. Ali a população se reunia para enten-

der o trabalho realizado em Cana Brava, conhe-

cer os programas ambientais desenvolvidos e o

meio ambiente que a cerca.

A casa ficava aberta diariamente durante a

construção, levando informação, cultura e lazer

à comunidade da região e organizando even-

Page 124: Cana Brava

124 125

tos, como o que inaugurou o

Centro. Foi no Dia Internacio-

nal da Água, 22 de março de

2001, quando uma festa reuniu

mais de 130 pessoas e apresen-

tou a estrutura do local, com sa-

las de aula, de vídeo, biblioteca,

área de recreação, além de uma

cozinha-escola. As prateleiras

eram preenchidas com fotos,

livros para várias idades, inclu-

sive técnicos, CDs com sons da

natureza, e um material didático

variado, com enfoque no meio

ambiente e específico da região.

O CEVI era um pólo de ir-

radiação de informações que

ia muito além das paredes da

construção. Inúmeras ações foram concebidas,

pesquisadas e planejadas ali, mas executadas

bem pertinho do povo. O desenvolvimento de

cartilhas com temática ambiental, uma para o

ensino fundamental e outra para o médio, é um

bom exemplo. Os trabalhos começaram com

os Encontros de Idéias, realizados em Minaçu e

Cavalcante, reunindo educadores e estudantes

para elaborar um material que tratasse as ques-

tões ambientais, mas de uma maneira que inte-

ressasse aos alunos.

Participaram escolas públicas e particu-

lares dos dois municípios, em um trabalho mi-

nucioso, envolvendo tanto alunos quanto pro-

fessores, que foram estimulados a pensar sobre

o meio ambiente a partir de visitas ao rio e ao

cerrado, palestras e conversas sobre o tema. Na

fase seguinte, os estudantes falaram, desenha-

ram e escreveram textos sobre o que gostariam

de aprender com o material e sobre como o co-

nhecimento deveria ser tratado. A cartilha daria

apoio ao material didático, trazendo informações

básicas como a composição do

cerrado e sua biodiversidade,

mas também falando sobre as

conseqüências que a vinda da

usina traria para a região.

Tudo foi construído de ma-

neira democrática com os alunos.

Para divulgar ainda mais o pro-

jeto e estimular o interesse pelo

tema, houve um concurso entre

os estudantes do ensino funda-

mental para a escolha do dese-

nho que melhor traduzisse a idéia

“família e meio ambiente”. O tra-

balho escolhido foi o do estudan-

te Pablo Henrique do N. Negrão,

que se tornou capa da cartilha. Fi-

nalizado, o material foi entregue

às escolas públicas e particulares e professores de

geografia e ciências das cidades atingidas foram

capacitados para utilizar o material. Com uma di-

nâmica semelhante, também foi editada uma re-

vista voltada aos alunos de 5ª a 8ª séries. Para os

adultos, o CEVI produziu e publicou o livro “Mina-

çu – Sua História, Sua Gente”, contando a história

da colonização da região norte de Goiás e do de-

senvolvimento do município.

O trabalho desenvolvido no CEVI também

percorreu feiras de artes e ciências das escolas

da região atingida, onde temas como a recicla-

gem e a utilização do lixo foram levados aos es-

tudantes. A preparação dos trabalhos apresen-

tados e os temas tratados utilizavam o material

didático da biblioteca do Centro, que assim che-

gava de maneira mais fácil à comunidade. Dia

da Árvore e Semana do Meio Ambiente eram

datas comemoradas com eventos de conscien-

tização ambiental em que a comunidade recebia

mudas de árvores e palestras sobre temas espe-

cíficos. Na Semana do Meio Ambiente do ano de

Page 125: Cana Brava

126 127

2001, uma unidade móvel levou as mensagens

das crianças por toda a Minaçu.

Um dos eventos mais esperados do CEVI

era o Dia do Livro, quando a casa verde da Vi-

la de Furnas preparava almofadas e livros para

receber estudantes de todas as idades, que pas-

savam a tarde conhecendo os prazeres da leitu-

ra. O Livro-vivo abria o encontro, falando sobre

sua própria magia e o caminho que poderia le-

var a outros mundos. Depois, cada aluno esco-

lhia o livro que mais lhe interessava e ia conhe-

cer uma nova história. O fim da tarde ocorria

com conversas sobre a leitura e a produção dos

minilivros produzidos pelos estudantes.

No CEVI trabalhavam assistentes sociais,

pedagogas e jornalistas, que marcavam e acom-

panhavam as visitas à usina, explicando os im-

pactos, a importância do empreendimento e até

sugerindo atividades que pudessem ser realiza-

das em sala de aula. O roteiro começava com um

vídeo institucional, passava pelo Centro de Visi-

tação e Comunitário da usina e incluía visitas ao

horto, que guardava as plantas nativas resgata-

das durante a construção, e ao depósito de lixo,

que dava destinos diferentes aos resíduos.

A partir de 2002, as visitas passaram a fa-

zer parte da formação de um grupo de 20 jovens

participantes do projeto Construindo a Cidada-

nia Ambiental. Esses jovens, conhecidos como

“Agentes Ambientais”, eram estudantes secun-

daristas e até hoje encontram-se organizados,

atuando em atividades educativas. Eles apren-

deram sobre conservação e preservação, como

desenvolver projetos na comunidade, atuar co-

mo disseminadores da conscientização ambien-

tal e ainda ganharam uma bolsa de estudo.

Foi através de um convite, distribuído em

algumas escolas de Minaçu, que a estudante

Paulicéia Barbosa Lustosa se interessou em co-

nhecer o projeto. Ela foi à primeira reunião e

Page 126: Cana Brava

126 127

nos seis meses seguintes freqüentou aulas, pa-

lestras e discutiu muito sobre a preservação am-

biental, aprendendo como transmitir o conhe-

cimento, as técnicas de reciclagem do lixo e as

regras na orla do reservatório.

Os alunos passaram a freqüentar escolas,

a distribuir panfletos à população nas ruas e a

falar sobre ações que podiam melhorar as con-

dições do meio ambiente. Nas visitas às casas,

eles chegavam ainda mais perto da comunida-

de, inspecionando a forma de destinar o lixo, a

poluição dos rios e orientando os moradores so-

bre a forma correta de agir caso quisessem con-

servar os recursos naturais. A conscientização

era feita também por meio de apresentações de

teatro e performances, além das músicas com-

postas pelo grupo. A principal é o “Rap Ecológi-

co”, que deu a eles a certeza de que a mensagem

podia ser melhor recebida se fosse cantada. De-

pois vieram inúmeras outras, de outros estilos e

retratando a realidade em que eles e sua comu-

nidade estavam inseridos.

E eles agiam e agem mesmo como multi-

plicadores, falando sobre o potencial turístico

do reservatório, as conseqüências que o despe-

jo de esgoto traria para a cidade e a necessidade

de cada um cuidar de sua propriedade. Como

eram bem recebidos pelos jovens, também con-

quistavam novos agentes.

A educação ambiental formal ficou por

conta dos professores, que receberam mini-

cursos e cursos de extensão sobre o meio am-

biente para tratar o tema em sala de forma atual.

Somente em 2001, 46 professores e coordena-

dores de escolas de Cavalcante participaram da

formação e saíram do Centro de Visitação pron-

tos para organizar a semana do Meio Ambiente

no município. Naquele ano, o projeto alcançou

cerca de duas mil pessoas, a maioria delas disse-

minadores de informação.

Valorização da cultura regionalOs programas sociais focaram também a valorização das

tradições e da cultura da região. O CEVI mantinha um acervo de

vídeos e livros sobre festas típicas do norte de Goiás. No Dia do

Folclore, 22 de agosto, eram organizadas sessões de vídeo segui-

das de discussões sobre as lendas regionais e a apresentação de

teatro de marionetes. Entre os vídeos estavam alguns produzidos

no local, sobre as danças e folclore típicos de Minaçu e Cavalcante.

Uma das manifestações folclóricas mais conhecidas em Minaçu é

a folia-de-reis, tradição que mistura fé e religiosidade com música

e dança locais. Em Cavalcante, a festa típica é a caçada à rainha,

folclore da região combinado com dança africana e realizado em

comemoração ao Dia de Nossa Senhora de Santana.

São três dias de orações e preparações em danças como a

suca, uma mistura de batuque e congo que era tradição entre os

escravos. No primeiro dia, o grupo chega à área urbana de Caval-

cante, depois do giro pela zona rural, onde arrecadam dinheiro

para a comemoração. No domingo é dia de ir para a casa do Im-

perador rezar. Enquanto isso, a cidade espera ansiosa a chegada

da guarda real montada em seus cavalos selados e dos foliões

vestidos de palhaço.

A espera é compensada com a corte, quando o rei e a rai-

nha são levados para a saroba. O príncipe, o general e o escrivão

acompanham o rei, enquanto outro general e as princesas vão

com a rainha. Perto da cidade, os fogos avisam que há caçadores

esperando. Começa o batuque e o povo sai em busca dos nobres.

A marcha volta para a cidade, mulheres de um lado, com a rainha,

e homens de outro, com o rei. Os generais vêm à frente até o cal-

çadão principal da cidade. Na igreja, são todos abençoados e se

reúnem na tenda, onde vão para o batuque.

Page 127: Cana Brava

128 129

Page 128: Cana Brava

128 129

Page 129: Cana Brava

130 131

Res

gate

arq

ueo

lógi

co

Feito pela Universidade

Federal de Goiás, o

resgate arqueológico

foi divulgado nos

municípios atingidos

pela obra.

A legislação ambiental exige que na cons-

trução de hidrelétricas seja feito o resga-

te arqueológico, porque a formação do reser-

vatório pode danificar sítios na superfície ou na

subsuperfície do solo, e a conservação desse

material está prevista inclusive na Constituição

Federal, por ser a única forma de preservar o pa-

trimônio cultural.

O projeto de Cana Brava envolveu estudos

preliminares da região, que determinaram a lo-

calização e potencialidade dos sítios e culmina-

ram com o projeto de prospecção e resgate.

Somente depois da análise em laborató-

rio de todo o material recolhido foi possível ob-

ter informações sobre a formação arqueológica.

As conclusões se tornaram artigos acadêmicos

e foram organizadas para compor o acervo do

Museu da Universidade Federal de Goiás. O

material tornou-se itinerante, sendo divulgado

em exposições na região e levado a escolas pú-

blicas e particulares dos municípios atingidos

pela obra, como Minaçu, Cavalcante, Colinas

do Sul, Niquelândia e Uruaçu.

Exposições das ações e resultados do pro-

grama de Resgate Arqueológico também faziam

parte das atividades educativas desenvolvidas

no CEVI. Além de disseminar esse tipo de conhe-

cimento para a comunidade local, a SUEZ Ener-

gy International priorizou que o trabalho de res-

gate fosse feito com instituições de pesquisa e

universidades. Com isso, garantiu-se a qualida-

de e seriedade dos programas desenvolvidos pe-

la empresa, promovendo a política de geração e

disseminação de conhecimento. Ao todo, os co-

nhecimentos obtidos em Cana Brava geraram

seis relatórios científicos.

Em um dos sítios descobertos foram encon-

tradas flechas com mais de 20 mil anos, o que o

coloca como um dos mais antigos de Goiás e da

América Latina. Mas na região da usina Cana Bra-

Page 130: Cana Brava

130 131

va também há sítios arqueológico-históricos, lu-

gares que as pessoas escolheram para morar em

função de atividades extrativistas, como a lavra de

garimpo de metais raros (ouro e diamante, entre

outros). Nesses locais, chamados de arraiais, fo-

ram praticadas também a agricultura e a pecuária.

As pesquisas realizadas na região permiti-

ram um refinamento teórico-metodológico, ini-

ciado em Serra da Mesa; aumentar a qualidade

dos projetos de salvamento em Goiás e difundi-

los para a comunidade arqueológica brasileira e

o público em geral. Um exemplo é o artigo “Ges-

tão e tratamento do acervo arqueológico”, pu-

blicado na Revista de Arqueologia da Sociedade

de Arqueologia Brasileira, em 2003, que trata da

conservação de materiais resgatados, com base

no trabalho desenvolvido em Cana Brava.

Para o início das atividades em Cana Bra-

va, foi montada uma base de campo na cidade de

Minaçu, ocupando duas casas situadas na Vila de

Furnas. As saídas começaram em abril de 1999,

na área do canteiro de obras, priorizada em vir-

tude dos impactos a que estava sujeita com a ins-

talação da infra-estrutura básica da obra civil. Em

seguida, o trabalho foi ampliado para toda a área

que seria atingida pelo reservatório.

Em 24 meses de estudos, quando ocor-

reram 16 saídas de campo, 20 profissionais, 13

alunos da graduação da UFG e uma média de

seis auxiliares de apoio realizaram uma varre-

dura numa extensão de 138,7 km2 na área da

usina Cana Brava. Os resultados foram o mape-

amento de 29 sítios, o registro de 43 ocorrências

arqueológicas, três pontos prospectados e po-

sicionados e 1.225 pontos percorridos por vias

fluvial e terrestre.

Depois do trabalho de campo, era chega-

da a hora de classificar os achados. Para isso, foi

elaborado um quadro geral dos tipos de sítios

arqueológicos, classificados a partir de critérios

Page 131: Cana Brava

132 133

de natureza, classe de conservação e inserção

ambiental. Os 29 sítios encontrados eram de

quatro tipos: lítico, lito-cerâmico, sítio abrigado

e sítio arqueológico-histórico.

Os três primeiros são antigos e o que os di-

fere é basicamente o tipo de indício encontrado.

O lítico fica em regiões planas – terraços e coli-

nas – ou áreas de corredeiras, em que a busca

de peixes e o acesso a vegetais eram facilitados.

Nesses sítios, localizados em rochas adequadas

ao lascamento, foram encontrados 1.659 obje-

tos, entre lascas, raspadores, seixos com marcas

de uso e de fogo, lâminas de machados e pon-

tas de projéteis. O lito-cerâmico apresenta mais

vestígios de material cerâmico, como potes, pa-

nelas e pratos, e poucos de rochas, e se concen-

tra em áreas com menor possibilidade de sofrer

alagamentos. No total, foram encontradas 5.192

peças. O sítio abrigado apresenta os dois tipos

de material, além de restos de esqueletos, e apa-

rece em ambientes bastante diversos.

Já os sítios arqueológico-históricos são

mais recentes. Na área de Cana Brava, os ar-

raiais foram construídos no século XVIII, a par-

tir de 1736. Desse período, foram encontrados

969 artigos, entre açudes, fornos, currais, pe-

dras-de-mó, cisternas, fornalhas, casas de fun-

dição, cemitérios, igrejas, louças, lajotas, porce-

lanas e telhas.

Os estudos desenvolvidos em Cana Brava

foram a segunda etapa de um trabalho arqueo-

lógico que se iniciou em 1995, com a constru-

ção da usina Serra da Mesa, também localiza-

da no município de Minaçu. Essa continuidade

permitiu estender a análise de sítios no curso

do Tocantins, contribuindo para a compreen-

são do processo de ocupação humana da região,

da pré-história aos dias atuais. Ao mesmo tempo,

o conhecimento gerado ali incorporou novas in-

formações à arqueologia brasileira.

Page 132: Cana Brava

132 133

Dentre os 29 sítios encontrados, alguns se

destacaram pelo estado de conservação dos re-

gistros arqueológicos, qualidade das informa-

ções resgatadas ou particularidade dos objetos

arqueológicos neles contidos. Um deles, cha-

mado GO-Ni.224 Sítio Arraial São Félix, se di-

ferenciou pela rica caracterização do período

colonial. Outro, o GO-Ni.243 Sítio Jequitibá, é

um dos mais antigos de Goiás e da América La-

tina. De natureza lítica, o registro arqueológico

do Jequitibá apresentou farto material de perí-

odos mais longínquos, com pelo menos duas

camadas de sedimentos de períodos diferentes

da ocupação. A mais antiga, de cerca de 20 mil

anos, corresponde a acampamentos de caçado-

res-coletores do Pleistoceno Superior ribeirinhos

do Tocantins. A datação mais recente é posterior

a quatro mil anos e corresponde a acampamento

de agricultores-ceramistas. Hoje a área onde o Sí-

tio Jequitibá se insere compreende a reserva indí-

gena do grupo avá-canoeiro.

Os sítios revelaram a presença de grupos ca-

çadores-coletores que, apesar de utilizarem obje-

tos semelhantes tanto em forma quanto em maté-

ria-prima, se diferenciaram em função dos locais

em que foram encontrados. Os grupos ocuparam

regiões aplainadas, planícies, interflúvios, maci-

ços calcários, terraços e colinas, geralmente áreas

de corredeiras, apropriadas para a captura de pei-

xes, com produtos vegetais em abundância e ma-

téria-prima adequada ao lascamento. Essas des-

cobertas atestam que a trajetória desses grupos

envolveu raspadores, algumas vezes seixos fatia-

dos e pontas de projéteis, raras na arqueologia, as

quais tipificam períodos recuados no tempo, com

ausência de produção cerâmica.

O processo migratório da ocupação da re-

gião também pôde ser revelado por meio dos

estudos desenvolvidos em Cana Brava. Segun-

do os estudos, o fato de terem sido encontrados

registros de agricultores ceramistas comprova

que o processo migratório ocorrido no Alto Rio

Tocantins tomou a direção norte-sul. A partir da

análise das idades das amostras, foram obtidas

várias datações, o que mostra que os grupos hu-

manos alastraram-se pela bacia hidrográfica do

Tocantins, rio acima e em diferentes momentos.

Também foi possível perceber que a ocu-

pação de terrenos obedeceu a um cronogra-

ma de continuidade por se tratar de uma região

com recursos naturais abundantes e constante-

mente explorados. A partir da análise da cerâmi-

ca percebeu-se que a região foi habitada desde

a pré-história por grupos de caçadores-coleto-

res e agricultores ceramistas, e, em seguida, por

populações indígenas. A equipe de resgate ar-

queológico encontrou vestígios de pelo menos

dois desses grupos, os tupi-guaranis e os urus.

Mas também os avá-canoeiros foram potenciais

moradores da região.

Mais recentemente, a área passou a ser

ocupada por populações de escravos e outros

grupos, que desenvolveram predominante-

mente atividades mineratórias, principalmen-

te a extração de ouro. As populações atuais,

de baixa densidade demográfica, estiveram

representadas por grupos flutuantes e rema-

nescentes de escravos trazidos para a região

no período colonial, que continuaram acredi-

tando no mito do ouro enquanto possibilida-

de de mudança social.

Page 133: Cana Brava

134 135

Obr

as p

ara

a co

mun

idad

e

Vários investimentos e

ações na área social

atenderam demandas da

comunidade e do poder

público para melhorar a

infra-estrutura básica dos

municípios e a qualidade

de vida da população.

Antes do início das negociações para a

construção e a obtenção da licença am-

biental para a implantação da usina Cana Bra-

va, foram realizadas audiências públicas para

determinar as exigências mínimas a serem cum-

pridas quando o empreendimento fosse apro-

vado. A primeira aconteceu em 1997 e deu o

tom de como as negociações na região teriam

que ser conduzidas e com o que a população

estava preocupada.

Os termos dos documentos desse primei-

ro encontro, assim como de tantos outros ocor-

ridos depois, foram considerados e incorpo-

rados aos programas sociais e ambientais que

envolveram a construção de Cana Brava. De

antemão, encontros como esse possibilitaram

à comunidade entender melhor o que viria pe-

la frente com a construção e as obrigações que a

companhia teria. No início, as reivindicações vi-

nham principalmente de órgãos públicos como

o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a Fun-

dação Estadual do Meio Ambiente de Goiás (FE-

MAGO), a Procuradoria Geral da República e o

Ministério Público Estadual. Mas gradualmente

Ônibus escolar e delegacia doados ao município de Cavalcante.

Page 134: Cana Brava

134 135

a população foi tomando conhecimento e sen-

do estimulada, inclusive pela SUEZ Energy In-

ternational, a fazer propostas e exigências, co-

mo aconteceria na discussão das indenizações.

Mais do que possibilitar à comunidade se

informar sobre as alterações que fauna, flora,

encostas e, de maneira mais direta, os peixes so-

freriam, e tomar conhecimento da necessidade

da realização de levantamentos sociais, reuni-

ões como essas acabaram norteando as exigên-

cias para a obtenção da licença. As principais

reivindicações diziam respeito à participação

Pavimentação da rodovia Minaçu-rio Tocantins.

Page 135: Cana Brava

136 137

Doce Arte gera rendaProgramas de geração de renda e capacitação da comuni-

dade, como a Associação Doce Arte, certamente se situam entre

as iniciativas de responsabilidade social que vão além das exigên-

cias legais ao empreendimento. Apesar de restrita às famílias que

foram remanejadas para a construção de Cana Brava, a iniciativa

não se relaciona diretamente a programas de mitigação ou mini-

mização de impactos, principalmente por resolver um problema

anterior à vinda da empresa, um problema social da região.

A concepção da Doce Arte é fortalecer as condições da

população buscar seu próprio sustento, melhorar a vida e enxer-

gar o próprio potencial – às vezes literalmente, como foi o caso

do Projeto Vaga-Lume, de alfabetização dos adultos, que detec-

tou problemas de visão de muitos moradores.

A SUEZ Energy International instalou em uma casa na Vila

de Furnas sete máquinas de costura, cozinha equipada e mate-

rial para o início da produção de diversos produtos. A primeira

investida capacitou cerca de 20 mulheres a produzir geléias,

bolachas caseiras e a confeccionar caixinhas para presentes,

bordados e roupas. O lote inicial foi adquirido pela própria SUEZ

Energy International, para presentear seus funcionários no final

do ano. Com esse impulso, o grupo fez outro e mais outro lote e

logo estava no Salão de Negócios do Banco do Povo, expondo e

vendendo seus produtos.

Os cursos ministrados eram definidos pelas próprias

mulheres, a partir do que elas julgavam mais atrativo para o

mercado local. Dona Terezinha de Jesus, 43 anos, uma das

mulheres que participou da criação da Doce Arte, na época

sustentava 11 pessoas. Na sede, elas expunham os traba-

lhos, estimulando as compras e aumentando as perspectivas

de comércio. Os campeões de venda eram kits de banho e

jogos de cozinha.

da população durante o processo de instalação

e na definição das compensações, e exigiam

programas ambientais adequados para a reali-

dade do ecossistema do cerrado.

Além dos programas previstos no Pla-

no de Gerenciamento Social e Ambiental, du-

rante a obra a SUEZ Energy International fez

diversos investimentos na área social, aten-

dendo demandas da comunidade e do poder

público, com a intenção de contribuir para

melhorar a infra-estrutura básica dos municí-

pios e a qualidade de vida da população. Vá-

rias doações contemplaram serviços básicos,

figurando entre as obras de compensação

dos impactos gerados pelo empreendimento

nos municípios atingidos pela construção da

usina Cana Brava. Cavalcante recebeu a ca-

deia pública e a delegacia de polícia, além de

um ônibus escolar e uma escola de informáti-

ca. Em Minaçu, foi construída uma escola de

natação para abrigar o Projeto Golfinho, que

ensinou as crianças moradoras das proximi-

dades do reservatório a nadar, e o Centro de

Recuperação de Menores, em parceria com a

Polícia Militar, além do sistema de tratamento

de esgoto, implantado em todo o município,

e da construção da Praia do Sol. A empresa

também doou uma escola à comunidade de

Vila Vermelho, em Cavalcante, além de uma

outra, no centro daquele município. Em Vila

Vermelho, o acesso a Minaçu foi restabeleci-

do por conta da empresa, que também criou

um quiosque de pesca comunitária, incluin-

do a doação de dois barcos, criando novas

alternativas de renda, alimentação e lazer.

Além disso, uma série de programas de capa-

citação das 46 famílias residentes na Vila Ver-

melho foi implantada, propiciando formas

de auto-sustentabilidade e superação do as-

sistencialismo.

Page 136: Cana Brava

136 137

Mais segurança na cidadeUm fato marcante na história de Cana Brava é que sua

construção derrubou por terra um senso comum: o de que ao

ser implantada uma obra de grande porte, como uma usina

hidrelétrica, crescem na região os índices de violência e crimina-

lidade. Entre 1998 e 1999, foram registradas 1,1 mil ocorrências

policiais em Minaçu. Nos dois anos seguintes, justamente quan-

do a obra empregou o maior número de pessoas, o número

caiu para 438 ocorrências, uma queda de 60%. Desses casos,

apenas três foram homicídios. O fato pode ser explicado pela

geração de empregos, pela existência de alojamento no cantei-

ro de obras e pela injeção de recursos e oportunidades que a

cidade recebeu. Afinal, o empreendimento teve um papel muito

importante para a região, principalmente para o município de

Minaçu. As obras de Cana Brava supriram as carências deixadas

pelo final da construção de Serra da Mesa, absorvendo boa parte

da mão-de-obra e movimentando a economia. Apenas a com-

pra de quase 14 mil hectares de terra na área do reservatório e

do canteiro de obras colocou no mercado local cerca de R$ 12

milhões, a preços da época. Mas o mais importante é que a che-

gada da SUEZ Energy International a Minaçu valorizou as terras

e movimentou o comércio local. Em dia de pagamento, todo

mundo sabia: o comércio ficava cheio.

Outra ação da SUEZ Energy International na área de

segurança pública foi a parceria com a Prefeitura de Minaçu

no Centro de Reabilitação de Jovens da Polícia Militar local. O

projeto tem alcançado o índice de recuperação de 80% dos

casos. Um convênio específico, assinado com o Conselho de

Segurança de Minaçu, repassou uma doação para o órgão, que

investiu em uma Kombi e na doação de móveis para o Con-

selho Tutelar. O município de Cavalcante também recebeu a

doação de uma delegacia.

Projeto ensina a nadarAlguns programas sociais desenvolvidos na região da

usina Cana Brava buscaram resolver prováveis conseqüên-

cias imediatas que a construção da usina poderia trazer no

cotidiano da população, como é o caso do Projeto Golfinho.

Com a construção, as crianças repentinamente conviveriam

com o reservatório bem próximo à cidade e era importante que

soubessem nadar, caso algum incidente ocorresse ou mesmo

para poderem aproveitar o reservatório.

O trabalho, realizado em parceria com a Secretaria de

Educação e Promoção Social de Minaçu, começou com a di-

vulgação do projeto na rádio local e nas escolas para estimular

a participação. Três clubes foram alugados e entraram em cena

os três professores de natação e o coordenador. Os primeiros

alunos foram 23 crianças de famílias atingidas e 37 estudantes

da rede pública.

Depois o projeto se estendeu às crianças da comuni-

dade, como as da creche Lar Menino Jesus, filhas de famílias

carentes que brincam e aprendem ali e que também passaram

a ter aulas de natação. Só no primeiro ano, 844 crianças parti-

ciparam das aulas e 602 aprenderam a nadar os estilos crowl

(nado livre) e peito. Uma competição entre todas as escolas

da cidade, reunindo 153 atletas em 54 disputas, encerrou as

atividades daquele ano.

Page 137: Cana Brava

138 139

Outra linha de ação foi contribuir com ins-

tituições sem fins lucrativos voltadas ao aten-

dimento de pessoas carentes. Nesse enfoque,

destacam-se a reforma do abrigo de idosos São

Francisco de Assis, que possibilitou a abertura

de oito novas vagas; a nova sede da Pastoral da

Criança e a construção de uma casa paroquial

na Igreja Vila de Furnas. E também a realiza-

ção do sonho que Tia Léia cultivou durante no-

ve anos: conseguir uma nova sede para a Cre-

che-Escola Lar Menino Jesus. Esse era o tipo de

carência que não necessitava especialista para

ser detectada, mas tinha a relevância de grandes

projetos. “Foi uma ajuda de Deus, pois são pou-

cas as empresas que têm disposição para inves-

tir em obras desse nível”, diz Tia Léia.

A SUEZ Energy International financiou

a edificação de uma nova sede para a creche,

que custou R$ 180 mil, entre a construção do

prédio, em terreno doado pela prefeitura do

município de Minaçu, e a mobília. Trabalhan-

do em dois turnos, Tia Léia quer atender 400

crianças na nova estrutura, com seis salas de

aula, cozinha, berçário, refeitório e espaço ad-

ministrativo, possibilitando maior desenvolvi-

mento educacional e cultural. Com a conver-

gência de forças com outras empresas, seja

doando cestas básicas ou ajudando na cons-

trução e manutenção, Tia Léia e as crianças

ganharam também área de lazer e quadra es-

portiva. A prefeitura também contribui com os

salários de seis dos 33 funcionários e disponi-

biliza pedagogas e psicólogas de rede munici-

pal para atenderam as crianças.

Hoje sediada em uma pequena casa, com

os móveis quebrados e a estrutura bastante cas-

tigada pelas brincadeiras e o tempo, o Lar se

prepara para escrever a nova história. Com a

nova sede mais retirada da cidade, no Setor Ser-

rinha, o Lar vai perder em facilidade, mas para

Tia Léia o importante é que estará mais próximo

de quem mais precisa, já que está em uma re-

gião mais pobre, de onde vem a maioria de seus

pequenos freqüentadores.

Entre todas essas ações, entretanto, era

inegável que a implantação de um sistema de

coleta e tratamento de esgotos em Minaçu e a

Page 138: Cana Brava

138 139

Obras do sistema de coleta e tratamento de esgotos de Minaçu.

Page 139: Cana Brava

140 141

construção da Praia do Sol, uma praia artificial

na orla do reservatório, teriam grande impac-

to em longo prazo, cristalizando toda a preocu-

pação da empresa com a qualidade de vida da

população e a conservação dos recursos natu-

rais. O sistema de coleta e tratamento de esgotos

de Minaçu foi projetado e construído pela SUEZ

Energy International, servindo cerca de 80% da

população do município, o que torna a cidade a

primeira de Goiás e uma das primeiras do Brasil

a ter um serviço dessa amplitude. A implantação

foi negociada com a comunidade, que poderia

ter problemas de alteração dos lençóis freáticos

da cidade com a construção da usina. Geralmen-

te eles aumentam de nível e inviabilizam a cons-

trução de fossas. Com investimento da ordem de

R$ 8 milhões, toda a comunidade passou a ter

água e esgoto tratados.

A construção da Praia do Sul, doada à

prefeitura de Minaçu, viabilizou a criação de

um verdadeiro cartão-postal, com atrativos in-

comuns em uma extensa região. À medida que

o reservatório enchia – e como suas águas pra-

ticamente não variam –, a praia deixava de ser

um projeto, e uma imensa área de lazer pública

começou a aparecer aos olhos da comunidade.

Quando o reservatório encheu, a poucos dias

da inauguração da usina, uma península artifi-

cial de 16 mil m2, localizada a poucos minutos

do centro da cidade, tornou-se uma atração,

com infra-estrutura completa para os visitan-

tes, áreas para banho, esportes náuticos, qua-

tro quiosques, quadras poliesportivas, de tê-

nis, futebol de areia, campo de futebol com

medidas oficiais e até quadras de peteca. A fes-

ta de inauguração da usina, marcada para 24

de maio de 2002, seria a 25 quilômetros dali.

Mas as outras grandes festas que a cidade vive-

ria nos próximos anos certamente tinham en-

dereço certo para acontecer.

Obras de implantação da Praia do Sol.

Page 140: Cana Brava

140 141

Page 141: Cana Brava

142 143

4C A P Í T U LO O desafio do desenvolvimento

Page 142: Cana Brava

142 143

O desafio do desenvolvimento

Os resultados ambientais, as melhorias nas condições de vida dos atingidos e o desenvolvimento das comunidades demonstram a

correção das ações tomadas pelos envolvidos no projeto Cana Brava.

Page 143: Cana Brava

144 145

A in

augu

raçã

o de

Can

a B

rava

A energia da usina deu

uma grande contribuição

para sustentar o ciclo de

desenvolvimento do país no

início do século XXI.

O céu do norte de Goiás é de um azul in-

tenso, um dia após o outro, sobretudo

entre março e novembro, período em que pra-

ticamente não chove. Era um dia assim o 24 de

maio de 2002, mas também um dia completa-

mente especial para todas as pessoas que traba-

lharam no projeto de implantação de Cana Bra-

va e das comunidades próximas. Trinta e seis

meses haviam voado e a usina seria inaugura-

da. Desde cedo, aviões se revezavam na pista

do aeroporto de Minaçu, helicópteros pousa-

vam no campo ao lado do canteiro, carros lota-

vam todos os estacionamentos. O canteiro es-

tava um brinco para a grande festa, que contou

com a presença do então presidente da repúbli-

ca, Fernando Henrique Cardoso.

Inauguração de Cana Brava em 24 de maio de 2002: da esquerda para a direita, Siqueira Campos (Governador de Tocantins), Marconi Perillo (Governador de Goiás), Jean-Pierre Hansen (Grupo SUEZ), Fernando Henrique Cardoso (Presidente do Brasil), Maurício Bähr (SUEZ Energy Brasil) e Gérard Mestrallet (Presidente do Grupo SUEZ).

Page 144: Cana Brava

144 145

Em seu discurso, Fernando Henrique res-

saltou a importância da nova usina para dar sus-

tentação ao ciclo de desenvolvimento do país.

Falaram ainda o governador de Goiás, Marco-

ni Perillo, e o presidente da SUEZ Energy Brasil,

Maurício Bähr , destacando a importância do em-

preendimento para o estado e a forma como to-

do o processo havia sido desenvolvido dos pon-

tos de vista ambiental e social. Após os discursos,

o momento aguardado por todos: autoridades e

empreendedores acionaram o botão que movi-

mentou a usina. Foi um ato simbólico, pois na

verdade quem abriu parcialmente o vertedouro,

formando uma gigantesca cascata de água, fo-

ram os operadores da sala de controle. Curiosa-

mente, a água que passa pelo vertedouro de uma

hidrelétrica não gera energia. Mas esse é um pro-

cedimento padrão para marcar as inaugurações

das hidrelétricas. De qualquer modo, ver aquela

imensidão de água realmente emociona a todos.

Fim da festa, havia muito a fazer e em mui-

tas frentes. Na área da construção, era preci-

so finalizar a montagem e realizar os testes das

unidades geradoras 2 e 3, além de preparar ca-

da uma delas, mais a unidade 1, para entrar em

operação comercial. Nas áreas ambiental e so-

cial, embora a maior parte dos programas pre-

vistos no Plano de Gerenciamento Social e Am-

biental (ESMP) estivesse concluída, conforme

previa o cronograma e o acordo com os órgãos

ambientais e financiadores, alguns projetos de-

veriam seguir por mais tempo, e outros acom-

panhariam a usina por toda sua vida útil. E, mais

ainda, embora muitos empregos tivessem sido

desativados pelo fim da construção, o fato de a

usina funcionar significaria um aporte significa-

tivo de recursos para os municípios, na forma de

royalties, e novas possibilidades de desenvolvi-

mento, sobretudo pela potencialidade turística

que o reservatório proporcionava.

Na usina propriamente dita, o desafio era

cumprir o cronograma de entrada em operação

comercial. À sombra de um colapso do forneci-

mento de energia elétrica, o país necessitava – e

muito – dos novos megawatts gerados por Cana

Brava. Por isso, as mangas sequer foram aboto-

adas. Apenas tiveram abaixados os punhos pa-

ra a inauguração e no dia seguinte já estavam

novamente arregaçadas. Entre maio e dezem-

bro, centenas de itens foram montados, testa-

dos sob as mais distintas condições, checados e

submetidos a rígido controle de qualidade. Ao

final desse período, na área de construção ci-

vil, as frentes de escavação comum e em rocha,

os aterros, a disposição de concreto convencio-

nal e compactado a rolo, as sondagens, os tra-

tamentos e instrumentação, a estrada ligando a

usina a Minaçu, assim como as chamadas obras

do reservatório, tudo estava concluído. Na fren-

te de fabricação e de montagem eletromecâni-

ca, as turbinas e os geradores das unidades 1,

2 e 3 estavam em operação normal, assim co-

mo a tomada d’água, o vertedouro, os serviços

auxiliares mecânicos, a subestação e a linha de

transmissão de 230 kV até Serra da Mesa, tudo

também estava concluído.

Cada um desses itens, que compunham o

check-list do cronograma desde o início do pro-

jeto, havia passado pelo controle de qualidade

e a aferição da Leme Engenharia, os olhos da

SUEZ Energy International na obra. Na verdade,

só faltava mesmo Cana Brava entrar integral-

mente em operação comercial, pois um conjun-

to gerador já funcionava sem pompa nem fes-

ta pública desde 22 de maio de 2002, marcando

ainda a passagem da operação para a Tractebel

Energia, empresa operacional da SUEZ Ener-

gy International no Brasil. Da sala de controle,

a poucos metros da casa de força, à medida em

que o sistema mostrava a estabilidade e a per-

Page 145: Cana Brava

146 147

formance desejadas, a tensão deu lugar a cum-

primentos calorosos. Primeiro dos operadores

da Tractebel Energia que estavam no local, de-

pois aos colegas da sala de controle da usina Sal-

to Santiago, no Paraná, responsável pela opera-

ção remota. E assim, lentamente, uma corrente

virtual começou a ser formada, passando pelo

comando da CEM e da SUEZ Energy Brasil, no

Rio de Janeiro, escoando por todos os depar-

tamentos da Tractebel Energia envolvidos com

o projeto, as empresas do Consórcio Cana Bra-

va e seus parceiros e os órgãos governamentais

de vários pontos do Brasil, até cruzar o Atlânti-

co e chegar à Bélgica, onde está a sede da SUEZ

Energy International. Foi, de fato, um momento

íntimo e sublime para engenheiros, administra-

dores, economistas, assistentes sociais, biólo-

gos e tantos especialistas que trabalharam muito

para realizar o empreendimento. Um momen-

to de certo modo incompreensível para quem

não imagina o que significa fazer erguer do nada

um empreendimento desse porte e complexida-

de no Brasil. Todos estavam felizes pelo êxito

da empreitada e certos da contribuição que ha-

viam prestado para o crescimento do país.

A usina que o sistema elétrico nacional es-

tava recebendo era inovadora sob muitos as-

pectos, principalmente quanto a seu desempe-

nho, confiabilidade e segurança. Além de usar a

melhor tecnologia disponível em todo o mundo

para geração e transmissão de energia, toda a

operação de Cana Brava é digital, o que permite

monitorar em tempo real as principais variáveis

de uma hidrelétrica, como nível do reservatório,

condições da tomada de água, turbinas, gerado-

res, subestação e linhas de transmissão. Mais, o

sistema é totalmente operado à distância, a par-

tir da central que a Tractebel Energia mantém na

usina de Salto Santiago, no Paraná. Para garan-

tir a confiabilidade das comunicações, foram

montados diversos sistemas de transmissão de

informações, todos independentes e com tec-

nologias diferentes. Além disso, em caso de ne-

cessidade, a usina pode ser operada no local pe-

la equipe da Tractebel Energia.

A operação de Cana Brava também mar-

cava o novo perfil da Tractebel Energia no

mercado brasileiro. Desde o processo de pri-

vatização, em 1998, a Tractebel Energia se con-

solidava como a maior geradora privada de

energia do país, respondendo por 9% da ener-

gia total. Entre 2000 e 2005, a empresa aumen-

tou sua oferta em 67%, alcançando 6.201MW, a

Page 146: Cana Brava

146 147

Perfil da Usina Cana BravaRESERVATÓRIO

Área inundada 139 km²

Volume total 2,36 x 109 m²

Nível d’água a montante máximo normal

330 m

CASA DE MÁQUINAS

Queda líquida nominal 43,1 m

Energia assegurada 273,5MW médios

Capacidade instalada 465MW

Turbinas Francis 3 de 155MW cada

Tipo da casa de máquinas Abrigada

VERTEDOURO

Vazão máxima excepcional 17.761 m³/s

Nº e dimensões das comportas tipo segmento

6 comportas de 15 m x 20 m

TOMADA D’ÁGUA

Vazão máxima por comporta 415 m³/s

Nº e dimensões das comportas tipo vagão

3 vãos de 7,2 m x 10 m

BARRAGEM

Barragem central Gravidade em concreto CCR

Barragem margens direita e esquerda Enrocamento com núcleo de argila

Comprimento total 1.150 m

ENTRADA EM OPERAÇÃO

Unidade 1 Maio/2002

Unidade 2 Agosto/2002

Unidade 3 Setembro/2002

LICENÇA AMBIENTAL DE OPERAÇÃO

Validade Janeiro/2008

partir de 13 usinas, localizadas nos estados de

Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Ma-

to Grosso do Sul e Goiás. Seus principais clien-

tes são empresas distribuidoras de energia e

indústrias de todo o país, nos setores de papel

e celulose, fertilizantes, gases industriais, pe-

troquímico, automobilístico e alimentício.

Page 147: Cana Brava

148 149

Mon

itor

amen

to e

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ação

am

bien

tal

Com a conclusão da obra,

o desafio ambiental mudou

de foco. É permanente e

vai adaptando-se às novas

condições que a barragem

trouxe para o meio ambiente.

Usina pronta, peixes salvos, fauna resgata-

da e já de volta ao cerrado. Todo o acom-

panhamento ambiental que envolveu a cons-

trução de Cana Brava tinha vencido uma etapa

importante. E começava assim a fase de acom-

panhamento, que será estendida pelo tempo da

concessão da usina (35 anos), seguindo o ritmo

de adaptação dos recursos naturais da região.

Além de entender o que acontecerá com a fau-

na e a flora, é preciso cuidado por parte de to-

dos para que o reservatório não se torne uma

abertura para problemas ambientais paralelos.

A pressão pós-enchimento gera impactos sobre

a vegetação remanescente do entorno, princi-

palmente com as práticas agrícolas e a maior pro-

ximidade das águas. A isso se somam as pressões

da própria expansão urbana, com loteamentos e

desmatamento de áreas marginais do reservató-

rio para atividades ligadas ao lazer.

Por isso, muitos programas ambientais

continuaram – alguns são permanentes –, con-

forme demonstra a tabela a seguir.

Page 148: Cana Brava

148 149

Programa Situação

Conservação da Flora Após a entrada em operação, o programa passou a realizar o levantamento das ocupações irregulares nas áreas de preservação permanente no entorno do reservatório. Esse trabalho visa o cumprimento do Plano de Uso das Águas e do Entorno do Reservatório e do Programa de Gerenciamento Socioambiental de Minaçu. Além disso, forneceu subsídios e permitiu o trabalho em conjunto com órgãos de fiscalização ambiental.

Monitoramento da Fauna Silvestre Nessa fase de pós-enchimento, além dos estudos preliminares sobre os impactos do empreendimento na fauna silvestre da região, está sendo realizado também o acompanhamento da população de morcegos hematófagos. O objetivo é detectar e prevenir eventuais desequilíbrios nessas populações em função da formação do reservatório.

Monitoramento da Ictiofauna Durante o período, os trabalhos de monitoramento da ictiofauna prosseguiram com o acompanhamento dos peixes, analisando as condições de sobrevivência e a sucessão ecológica por conta da formação do reservatório. Os trabalhos acompanham a caracterização taxonômica e estimativa de freqüência, abundância, representatividade trófica e todas as análises pertinentes de biologia reprodutiva no processo de sucessão ecológica, bem como coleta de tecidos de peixes para o monitoramento de metais pesados.

Limnologia e Qualidade da Água O monitoramento da qualidade da água continua durante a operação da usina, mas agregou alguns elementos específicos nas análises. Os caramujos transmissores da esquistossomose fazem parte de um programa próprio, que pretende garantir a saúde da população.

Controle de Macrófitas Aquáticas As inspeções periódicas no reservatório visando a identificação de possíveis focos de macrófitas aquáticas foram agregadas no escopo dos trabalhos de Vigilância Ambiental e Patrimonial do Reservatório. Por se tratarem de importantes indicadores ambientais, a empresa julga fundamental manter o controle e prevenir possíveis focos de doenças.

Monitoramento Hidrológico Continuam sendo realizados os controles de níveis do rio e vazões dos pontos de controle pelo setor de Hidrologia da Operação da Usina. Os resultados do programa de monitoramento demonstram que, após a formação do reservatório, houve elevação da transparência da água, principalmente no corpo central do reservatório.

Monitoramento Climatológico A equipe responsável pelas análises microclimáticas continua trabalhando após a entrada em operação. O Programa de Monitoramento Climatológico prevê o registro e análise dos parâmetros climáticos na região onde está inserida a Usina Hidrelétrica Cana Brava, nos períodos anterior e posterior ao enchimento do reservatório, mas para conclusões sobre as possíveis mudanças são necessárias séries históricas maiores.

Monitoramento Sismológico Continuam sendo realizados estudos sobre a atividade sismológica na área do empreendimento. Não têm sido detectadas atividades sísmicas fora da normalidade desde o início dos trabalhos, que ocorreram juntamente com a construção.

Monitoramento Geológico Prosseguem as atividades de monitoramento geológico em áreas consideradas potencialmente instáveis. O acompanhamento dos taludes, apesar de estarem em situação normal, continuará a ser realizado. Não tem sido observados casos de instabilidade que ofereçam riscos.

Plano de Uso e Ocupação das Águas e do Entorno do Reservatório

Estão sendo realizadas ações de monitoramento da área ambiental e patrimonial, por terra e água. O trabalho está sendo realizado em conjunto com órgãos ambientais de fiscalização, para onde se encaminham as denúncias, garantindo a preservação do reservatório e do entorno.

Gerenciamento Socioambiental de Minaçu – Vigilância Epidemiológica

Após a entrada em operação, continuam os trabalhos de avaliação da presença de vetores da esquistossomose no reservatório, através do Programa de Monitoramento Limnológico e da Qualidade da Água, e o acompanhamento da população dos morcegos hematófagos, pelo Programa de Monitoramento da Fauna Silvestre.

Gestão Ambiental na Área do Canteiro de Obras

Continuam os trabalhos de inspeção e manutenção das áreas recuperadas que estão contempladas nas atividades de manutenção ambiental periódica.

Programas ambientais após a construção (em andamento/2005)

Page 149: Cana Brava

150 151

As mudanças já observadas na área am-

biental são resultados de intensos monitora-

mentos em diversas áreas. Os dados do moni-

toramento da fauna silvestre realizado após a

construção do reservatório mostraram que a

diversidade ambiental na região continua alta,

com destaque para as aves. Porém, o número

encontrado no primeiro monitoramento pós-

enchimento foi um pouco inferior que as 441

listadas nas primeiras etapas do projeto. No

entanto, essa pequena redução, que resultou

em 326 espécimes, não é motivo de apreen-

são por se tratar de uma fase de estabilização,

que envolve intensa movimentação da fauna e

posterior acomodação.

Com outras espécies ocorreu o inverso.

Uma das coletas dessa fase foi a que revelou a

maior diversidade de sapos. Também foram en-

contradas mais espécies de répteis, chegando a

32, com maior freqüência do Cnemidophorus

ocellifer (calango). Mais importante que a ime-

diata análise desses números é constatar que a

região mantém o alto grau de eqüitabilidade,

ou seja, com espécies variadas em número con-

siderável e em várias regiões. Isso revela que

poucas espécies se apresentaram dominantes,

tomando o lugar de outras e gerando impactos

na cadeia já nessa fase.

Além disso, a partir dos cálculos realiza-

dos com as amostras coletadas, foi demonstra-

do que os animais que caracterizam ambientes

também permanecem em grandes quantidades.

Em princípio, isso mostra que os diferentes ha-

bitats a que eles estão relacionados permane-

cem preservados, garantindo as condições para

a sua sobrevivência. A viuvinha (Arundinicola

leucocephala) é a representante da vereda, o

curiango (Caprimulgus rufus) é indicador dos

campos sujos, o quero-quero (Vanellus chilen-

sis) indica ambientes antropizados, o martim-

pescador (Ceryle torquata) aparece nos am-

bientes aquáticos e a mariquita (Basileuterus

culicivorus) em matas de galeria.

Após a construção da usina também foram

concluídos os repasses às Unidades de Conser-

vação, no equivalente a 0,5% dos recursos utili-

zados no empreendimento. A usina Cana Brava

rendeu convênios com a Associação Pró-caver-

na, a Associação Brasileira de Conservação das

Tartarugas (Pró-tartaruga) e a Agência Goiana

de Meio Ambiente, que realizou a ampliação do

Parque Estadual Terra Ronca, localizado no mu-

nicípio de São Domingos.

O monitoramento e fiscalização das áre-

as no entorno do reservatório, que precisam

de maiores cuidados por influírem diretamen-

te na qualidade da água, passaram a ser o foco

do trabalho da equipe de Conservação de Flo-

ra depois do resgate na fase da construção e a

conservação de espécies ameaçadas de extin-

ção. Finalizada a construção e recuperadas as

margens do reservatório, iniciou-se uma nova

etapa, em que o trabalho visa reduzir a pressão

antrópica e garantir a sucessão vegetal na faixa

ciliar. A Fiscalização Ambiental e Patrimonial na

Área do Reservatório da Usina Hidrelétrica Cana

Page 150: Cana Brava

150 151

Brava é realizada por terra e água, em conjunto

com os órgãos oficiais de fiscalização ambiental

e polícias estaduais, e seguindo tanto documen-

tos relativos à usina, como o Plano de Gestão

Ambiental e Social e o Plano de Uso e Ocupa-

ção das Águas e Entorno do Reservatório, quan-

to a legislação ambiental vigente.

A manutenção da faixa de preservação

permanente de 30 metros na borda do reser-

vatório é uma medida de extrema importância

para o controle da qualidade do mesmo. É uma

faixa que legalmente não deve ser utilizada, jus-

tamente pela facilidade com que permite a de-

gradação e o uso indevido do rio. Mas há casos,

definidos pelo Plano de Uso e Ocupação do Re-

servatório, em que ela pode ser utilizada. As

principais situações tratam do interesse públi-

co, caso da Praia do Sol, em Minaçu, e da cons-

trução de acessos para barcos ou para o gado.

O trabalho da equipe de segurança da

Tractebel Energia também contribui para me-

lhorar a fiscalização por parte dos órgãos am-

bientais. Nas rondas periódicas, ela verifica a

existência de invasões nos 30 metros de prote-

ção permanente, construções irregulares e as

condições das encostas, passando muitas in-

formações para os órgãos competentes. Não

há convênio firmado, tampouco documento

assinado, mas um comprometimento da em-

presa em preservar a região e guardar o meio

ambiente que cerca o reservatório de Cana

Brava e sua população. Quando algo errado

é constatado, como uma construção irregular,

um desmatamento ou uma queimada, a em-

presa faz uma denúncia, acionando os fiscais

para que atuem no local. Um exemplo práti-

co é o envio de relatórios para o Ministério Pú-

blico e outros órgãos ambientais competentes

informando sobre irregularidades no entorno

do reservatório.

Nova espécie para a ciênciaO desenvolvimento de pesquisas científicas a partir das

demandas dos programas sociais e ambientais da Usina Cana

Brava contribuiu para a geração de conhecimento e incentivo a

novos estudos e ações que permitam o maior desenvolvimento

da região Centro-Oeste do Brasil.

As pesquisas desenvolvidas durante a construção e após

a entrada em operação resultaram em diversos trabalhos cientí-

ficos, sobretudo nas áreas de biologia e arqueologia. Entre eles

pode-se destacar a descoberta de uma nova espécie animal para

a ciência, no caso uma cobra do gênero atractus wagler, pela

equipe do Centro de Estudos e Pesquisas Biológicas da Univer-

sidade Católica de Goiás. Batizada de Atractus edioi sp., a cobra

se distingue das outras espécies de Atractus por características

morfológicas específicas e por um padrão de coloração dorsal de

manchas escuras sobre um fundo marrom-claro.

Page 151: Cana Brava

152 153

Cuid

ados

com

o r

eser

vató

rio

Programas ambientais

visam garantir a qualidade

das águas, entender o novo

ciclo de vida das espécies e

acompanhar a relação que a

comunidade está construindo

com o reservatório.

O termômetro mais evidente da saúde do

reservatório de uma usina hidrelétrica,

tanto para os cientistas quanto para as pessoas

comuns, é a quantidade e a diversidade de pei-

xes em relação ao tempo em que a usina não

existia. Como era previsto nos estudos, antes

mesmo de se construir a usina, após um breve

período de formação do reservatório, os peixes

com maior afinidade às novas características do

novo ambiente não apenas permaneceram, mas

apresentaram uma tendência de aumento de es-

toques. Também o local de reprodução, depen-

dente de águas agitadas na maioria dos casos,

foi modificado. Por isso, as espécies passaram

a depender de rios tributários, como o rio Preto

e o rio São Félix, ou a se deslocar a montante do

reservatório. Outra alteração registrada em Ca-

na Brava, comum após o enchimento dos reser-

vatórios, foi a proliferação de peixes carnívoros,

Page 152: Cana Brava

152 153

devido ao aumento de matéria orgânica.

De acordo com estudos conduzidos em

outros reservatórios e com base nas mudanças

de condições da água, há previsão de que al-

gumas espécies de bastante interesse pesquei-

ro como o papa-terra, a piracanjuba, o barba-

do, o pintado, a jurupoca e o piau-cabeça-gorda

tenham seus estoques sensivelmente afetados

na área do reservatório. Por dependerem da

correnteza do rio para migrar e se reproduzir,

a tendência é que se desloquem para os rios tri-

butários. Esse tipo de acomodação, parte da su-

cessão ecológica, está diretamente ligada aos

dois principais fatores de sobrevivência das es-

pécies, a reprodução e a alimentação.

O tucunaré, justamente um dos peixes

mais apreciados na região é, neste momento,

uma das espécies que se beneficiaram do no-

vo ambiente, pois aproveita bem o acúmulo de

Page 153: Cana Brava

154 155

matéria orgânica e se adapta com facilidade às

águas paradas. Diante de mudanças como essa,

relacionadas ao potencial pesqueiro do reser-

vatório, o programa de monitoramento de ictio-

fauna contemplou um amplo levantamento da

atividade pesqueira da região. O resultado foi,

além de uma dissertação de mestrado defendi-

da na Pontifícia Universidade Católica de Goiás,

maior conhecimento sobre a finalidade da ati-

vidade, permitindo determinar quais as espé-

cies de maior valor para a comunidade local. No

reservatório de Cana Brava, constatou-se que

pouco mais de 3% da atividade pesqueira se

destina à alimentação e quase 90% está relacio-

nada ao turismo.

Mas apesar das boas notícias com o au-

mento de populações de peixes com alto poten-

cial turístico e comercial, essa expansão deve

ser tratada com muita cautela e ações de preser-

vação e conservação têm que acompanhar os

estudos nos reservatórios. Em Cana Brava, além

de todo o levantamento inicial, durante o enchi-

mento, e saídas a campo periódicas para acom-

panhar a estabilização das águas e das espécies

animais, a equipe responsável pelos programas

de ictiofauna, a exemplo das ações de conser-

vação da flora, atua conjuntamente com órgãos

da fiscalização.

Uma das ações mais importante é desen-

volvida na época da piracema, quando ativi-

dades de apoio aos órgãos de fiscalização am-

biental são realizadas. A Tractebel Energia

disponibiliza barcos, combustível e alojamen-

to e ainda participa das discussões e orienta-

ção à população com a Polícia Ambiental e o

Ministério Público. Mas o trabalho em conjun-

to não se restringe a essa época. Em diversas

outras ações, a exemplo do que era feito na fa-

se de construção, a equipe ambiental da Trac-

tebel Energia costuma informar os órgãos fis-

calizadores sobre irregularidades ou realizar

saídas em conjunto.

Também foi desenvolvido um intenso tra-

balho de conscientização, já durante a fase de

enchimento, e, logo após, também de fiscali-

zação, nas inúmeras ilhas que existem no re-

servatório de Cana Brava, algumas com até 40

hectares. Se por um lado elas não trazem con-

seqüência alguma para o funcionamento do

empreendimento e para a qualidade da água,

fazem diferença na hora de se impedir a depre-

dação e de se promover o acompanhamento

das atividades próximas ao reservatório.

Juntamente com a Polícia Ambiental, a

Tractebel Energia desenvolveu um programa de

fiscalização e conscientização nas ilhas, ótimos

locais para pescar e acampar e que devem ser

usados para isso. O problema é a conseqüên-

cia dessas atividades quando não são realizadas

de forma consciente, preocupada com a nature-

za, exatamente o que vinha acontecendo. As vi-

sitas encontraram não apenas poluição, restos

de festas e piqueniques, mas também constata-

ram que até de extensão das propriedades as

ilhas estavam servindo, com a criação de algu-

mas cabeças de gado.

Os principais representantes do traba-

lho de conscientização continuam sendo os

agentes ambientais, que visitam a comunida-

de combinando entretenimento e informação.

Eles falam sobre os cuidados com o meio am-

biente, sempre de forma a relacioná-los com

o dia-a-dia da população atingida ou que vi-

ve próxima ao reservatório. As visitas à usina

Cana Brava são outra dessas fontes. Como du-

rante a fase de construção, o empreendimen-

to continua aberto à comunidade para explicar

qual o papel da usina, as conseqüências que

ela gera e os cuidados que se deve ter com o

reservatório de Cana Brava.

Page 154: Cana Brava

154 155

Page 155: Cana Brava

156 157

Apesar de ter construído a Praia do Sol

por uma demanda da prefeitura e não ter mais

responsabilidade sobre sua gerência, a Tracte-

bel Energia ainda segue auxiliando na cons-

cientização da população para que seja man-

tida a balneabilidade do reservatório. É o

trabalho de conscientização realizado pelos

agentes, em parceria com a fiscalização am-

biental ou nas visitas que levam as informa-

ções à comunidade, que constrói o respeito ao

meio ambiente.

A proximidade da zona urbana e a maior

influência do reservatório na vida dos morado-

res também podem trazer problemas. Por isso,

monitoramentos em outras frentes são neces-

sários. A análise da qualidade das águas do re-

servatório para verificar a existência e possível

contaminação dos caramujos transmissores da

esquistossomose é um desses exemplos. Boa

parte da população que hoje vive à margem

do reservatório de Cana Brava não estava habi-

tuada a viver próximo aos rios nem dentro de

condições que reduzam o impacto da concen-

tração urbana, e, mesmo com a implantação da

rede de coleta e tratamento de esgoto no mu-

nicípio, parte da população continua jogando

seus detritos no rio. Com esse trabalho preven-

tivo, pode-se monitorar o caramujo, que só tra-

Page 156: Cana Brava

156 157

rá problemas se entrar em contato com as fe-

zes de um portador da doença. A partir daí é

que ele se torna um transmissor efetivo. Ain-

da que o monitoramento viesse sendo realiza-

do durante toda a construção da usina e nada

tivesse sido encontrado, a Tractebel Energia

optou por manter o programa, uma garantia

importante para os que convivem com o indi-

cador da doença.

Outro monitoramento constante é o com-

portamento dos taludes, as margens do reser-

vatório. Com a subida do rio a um nível muito

acima do máximo alcançado nas enchentes, as

encostas ficam sujeitas à pressão, à umidade e

ao fluxo da água, por exemplo. Por se tratar de

uma área originalmente coberta por vegetação

e que não costumava ser alagada, podem ha-

ver desmoronamento e outras complicações. E

a maneira de evitar isso é acompanhando cons-

tantemente as condições dos taludes, permitin-

do o desenvolvimento de ações que revertam

qualquer sinal de deslizamento.

A necessidade de monitoramento per-

manente da qualidade de água é demonstrada

mais visivelmente pela presença das macrófi-

tas, plantas aquáticas consideradas indicado-

res da qualidade da água. O fato de estarem

presentes no reservatório de Cana Brava in-

dica que há algum tipo de poluição na região.

Ou seja, motivo para ficar atento. Atualmente,

além do acompanhamento da qualidade da

água, a Tractebel Energia tem realizado cer-

ca de duas retiradas de macrófitas por ano.

Grande quantidade dessas plantas é doada

a agricultores ou mesmo moradores da re-

gião urbana para serem utilizadas como adu-

bo. Além disso, um trabalho de conscientiza-

ção sobre a destinação de esgoto ou lixo nos

córregos tem sido feito paralelamente pelos

agentes ambientais.

Page 157: Cana Brava

158 159

O d

espe

rtar

da

cons

ciên

cia

ambi

enta

l

O acompanhamento dos

impactos ambientais e a

relação da comunidade com

o meio ambiente contribuíram

para modificar a interação

das pessoas com a natureza.

Toda a movimentação durante o período

de construção, o número de ações reali-

zadas para conscientizar a população e levar

informação sobre a construção da usina, os im-

pactos ambientais e a relação da comunidade

com o meio ambiente contribuíram para mo-

dificar a interação das pessoas com a natureza.

Esse novo comportamento já é fruto das ações

de conscientização ambiental e do trabalho

educativo realizado no período. A comunida-

de está entendendo melhor as implicações das

ações que agridem o meio ambiente e a neces-

sidade da existência da usina, e também a im-

portância de preservar o meio ambiente que

cerca a todos.

Além de estreita parceria com as prefei-

turas, um dos principais vetores desse fenô-

meno são os agentes ambientais, que agora

seguem uma linha de profissionalização. Eles

continuam sendo os educadores ambientais

oficiais de Cana Brava, mas hoje, mais ma-

duros e com conhecimento do trabalho de

Page 158: Cana Brava

158 159

conscientização, passaram a propor projetos

e a buscar parcerias para a continuidade das

ações que querem realizar. As apresentações

de teatro e shows em festas e eventos da cida-

de continuam sendo o que eles mais gostam

de fazer e onde sentem que a informação está

chegando à comunidade.

Sempre estimulados e lembrados da

importância do trabalho que desenvolvem,

mesmo em número menor eles não desani-

maram de continuar trabalhando. As reuni-

ões matutinas durante as férias e até aos do-

mingos mostram a disposição incontestável

dos adolescentes em colocar em prática da

melhor forma possível os projetos e ativida-

des. Os que estão desde o começo do proje-

to perceberam que educação é um processo

contínuo: ou acontece a mudança de atitu-

de ou não está na hora de parar. A agente

Paulicéia Barbosa Lustosa, que está no pro-

jeto desde o seu início, dá o tom. “Na hora,

o que falamos dá resultado, mas depois de

um tempo as pessoas voltam a agir da mes-

ma maneira e precisam ouvir novamente

como fazer”.

É esse entendimento que dá energia para

alguns terem continuado trabalhando mesmo

num período em que não havia sequer agen-

tes suficientes para atuar nas apresentações te-

atrais. Sem se intimidar, ele não hesitaram em

convidar amigos que sabiam ter afinidade com

o trabalho. Primeiro como uma equipe reserva,

mas que logo se tornou oficial.

Eles também criaram uma associação,

o que lhes permite propor projetos e bus-

car parcerias com empresas. Hoje estão sen-

do capacitados e orientados para continuar

os trabalhos de forma independente, e mais

uma vez percebem as dificuldades, mas es-

tão enfrentando tudo com disposição. O

apoio dos pais dos participantes foi funda-

mental nessa parte do processo, ou não te-

ria sido possível constituir a associação. A

tesoureira, mãe da agente Aline Benício dos

Santos, assiste com gosto às reuniões que

são realizadas em sua sala. “Faço questão

que se reúnam na minha casa, até dou idéias

quando estou por perto e me orgulho muito

do trabalho que fazem”.

Paralelamente aos trabalhos pontuais

que desenvolvem em escolas e aos projetos

em que estão envolvidos, os agentes são pe-

ças-chave de um projeto social que está sendo

desenvolvido em Vila Vermelho, uma comuni-

dade do município de Cavalcante. A Revitali-

zação da Vila Vermelho é uma extensão dos

projetos socioambientais da época da cons-

trução e, da mesma forma, pretende fornecer

subsídios e capacitar a população a buscar es-

tratégias para melhorar sua vida.

Os agentes ambientais fazem parte do

projeto como conscientizadores, trabalhan-

do para a melhoria do meio ambiente ao re-

dor da vila. Há muitos terrenos com córre-

gos no fundo e é prática comum descartar

lixo, quando não esgoto, nesses canais. Os

jovens entram em cena para orientar os mo-

radores, percorrendo as ruas distribuindo

folhetos informativos, realizando gincanas

para a coleta de lixo e também palestras nas

escolas. Com a mesma fórmula de trabalho

dos anos iniciais, eles aliam diversão e in-

tervenção e ainda levam informações so-

bre compostagem, reciclagem e respeito

ao meio ambiente. Em outra frente, as as-

sistentes sociais falam sobre noções básicas

de higiene, reúnem a população para tratar

da importância em trabalhar em conjunto e

organizam projetos que têm como objetivo

a geração de renda.

Page 159: Cana Brava

160 161

A v

ida

de q

uem

mud

ou d

e vi

da

Após a construção da usina,

a Tractebel Energia manteve

diversos programas sociais

voltados aos atingidos e à

população da região.

A chegada da usina Cana Brava modifi-

cou o meio ambiente e a infra-estrutura

da região atingida, e as famílias que tiveram

que ser remanejadas por conta da formação

do reservatório sentiram as conseqüências

de forma mais direta. Proprietários e não-

proprietários deixaram o local atingido ain-

da durante a fase de construção e passaram a

viver nos locais que escolheram, após todo o

processo de negociação.

Todos continuaram a receber assistên-

cia social, de maneira mais freqüente du-

rante o período de adaptação. Mas mesmo

depois do início da operação da usina essas

famílias continuaram a ser visitadas e mui-

tas delas foram novamente auxiliadas. No

entanto, o foco dos programas sociais, da

mesma forma que dos ambientais, mudou.

O investimento passou a ser em autonomia

para os participantes dos trabalhos da fase

da construção.

Page 160: Cana Brava

160 161

Programas sociais após a construção (em andamento – 2005)

Remanejamento e Monitoramento da População

Além da assistência ao plantio, à organização da Associação do Reassentamento Cana Brava e à organização da Festa do Milho, está sendo desenvolvido o Projeto de Revitalização Econômica e Social da Comunidade de Vila Vermelho. As assistentes sociais estão informando a população sobre higiene e a importância do trabalho em conjunto, com a formação da Associação dos Moradores da Vila Vermelho. Além disso, outros programas são desenvolvidos para capacitação e auto-geração de renda.

Comunicação Social Prioridade ao contato entre as assistentes sociais e a comunidade Vila Vermelho, bem como ao envolvimento do poder público e dos integrantes de outros projetos sociais implantados pela SUEZ Energy International, como os agentes ambientais. Numa das reuniões com a Prefeitura Municipal de Cavalcante promoveu-se a negociação do fornecimento da merenda escolar para a escola daquela comunidade por parte da própria associação.

Educação Ambiental Os agentes ambientais continuam desenvolvendo o mesmo tipo de trabalho anterior à operação, mas estão sendo orientados a propor projetos e ter mais autonomia. Foi constituída uma associação para permitir a busca de recursos entre as empresas e eles têm recebido estímulo a buscar comunidades e formas de trabalhar com elas. Atuam também na comunidade da Vila Vermelho orientando a população.

Gerenciamento Socioambiental de Minaçu – Ordenamento do Uso e Ocupação da Orla Urbana

Neste programa estão sendo realizadas ações socioambientais voltadas à comunidade de Minaçu e que muitas vezes não têm relação direta com minimização dos impactos produzidos pela construção do reservatório. Houve a construção da Praia do Sol, na orla do reservatório, como ação de estruturação do turismo na região. Estão ocorrendo as retiradas das macrófitas no reservatório e a realização do diagnóstico da saúde pública no município.

A usina está funcionando e o mesmo se

espera do projeto social originalmente traçado.

Na Associação Doce Arte, constituída por pa-

rentes de reassentados na fase da construção,

as próprias artesãs agora determinam os cur-

sos importantes para sua capacitação, além dos

produtos vendidos nos eventos de que partici-

pam. O acompanhamento no Reassentamento

Rural Coletivo Cana Brava também vem sendo

mais pontual, com a ajuda para constituição da

Associação dos Reassentados do Filó e assistên-

cia agrícola mais restrita à época de plantio e à

organização da Festa do Milho.

Mas na Vila Vermelho o trabalho come-

çou agora e é intenso no auxílio à estrutura-

ção da comunidade, passando informações

para que ela alcance uma autonomia seme-

lhante à do Reassentamento Filó. A comuni-

cação passou a ser realizada a partir da publi-

cação dos resultados das ações realizadas na

fase de construção.

Page 161: Cana Brava

162 163

Rea

ssen

tam

ento

Can

a B

rava

Após três anos de

acompanhamento quase

diário, as 26 famílias do

Reassentamento Cana Brava

estão em condições de tocar

suas vidas por conta própria.

Depois do período de adaptação, da aju-

da das assistentes sociais e do aprendiza-

do de técnicas de agricultura, o Reassentamen-

to Cana Brava entrou em uma nova fase após o

fim da construção da usina. Foram três anos de

acompanhamento quase diário, construindo

uma ligação afetiva com os agricultores daque-

les lotes. Mas a principal motivação da SUEZ

Energy International e da Tractebel Energia,

desde o início do processo, era dar as condições

para que as 26 famílias construíssem o futuro

com as próprias mãos.

E há bons exemplos disso: a produção

chegou a um milhão de pés de abacaxi, a man-

dioca vem sendo beneficiada para a venda nas

feiras itinerantes e a pecuária leiteira gera ren-

da para famílias inteiras. É o caso do seu Jose-

fino e da dona Ruth, casal que chegou ao reas-

sentamento com duas cabeças de gado e hoje

tem mais de 50. Eles já venderam muito quei-

jo e outros produtos coloniais, feitos a partir

do leite, e hoje comercializam a produção, que

em tempos de alta produtividade alcançou 80

litros de leite por dia, com uma empresa de la-

ticínios da cidade.

Page 162: Cana Brava

162 163

Mostrando que a determinação de traba-

lhar é o que diferencia os capazes de construir,

seu Josefino trata das vacas, tira o leite, cuida

da propriedade. Só ele e a esposa. Dona Ru-

th ajuda com os animais, mas também cuida da

casa e lembra com orgulho os cursos de culiná-

ria que fez quando chegou ao reassentamen-

to. Neles, aprendeu a fazer os queijos e outros

produtos que diversificaram a renda do casal e

também a receita do empadão com talos de le-

gumes que sua filha pede até hoje como prato

especial aos domingos.

As histórias de sucesso depois de rece-

bidas as indenizações – a maioria – podem ser

ofuscadas pelas de poucas pessoas que acaba-

ram não se adaptando a essa nova vida. Mas gra-

ças ao bom trabalho, também houve inúmeras

demonstrações de satisfação e agradecimento

pelas chances que se abriram com a chegada da

usina, a construção do reservatório, da praia e

da infra-estrutura que a região recebeu.

No reassentamento o trabalho vem dando

resultado, com a organização dos produtores

para trabalhar coletivamente. Um dos passos

para que isso fosse possível foi a estruturação da

Page 163: Cana Brava

164 165

Associação dos Reassentados do Filó. Através

dela, os agricultores organizaram duas festas do

milho e trabalham para consolidar o evento.

Na festa, o milho e seus produtos, como

a pamonha cozida e frita, o curau, tortas salga-

das, bolos e pães são vendidos em um evento

que reúne música, conscientização ambiental e

lazer, e mostra o desenvolvimento do reassen-

tamento. A capacitação das doceiras é resulta-

do daqueles primeiros cursos recebidos quan-

do chegaram ao reassentamento e nos quais

aprenderam a aproveitar melhor os alimentos.

O trabalho começa meses antes, com a colheita

do milho e o preparo dos doces, o que já é uma

comemoração à parte, pois envolve o maior nú-

mero possível de agricultores.

A busca por um bom local, a negocia-

ção para a aquisição do material da estrutura

do evento, a montagem das barracas, a divul-

gação, a venda e, por fim, a contabilidade, tu-

do é feito em grupo pelos integrantes da asso-

ciação. Da festa vêm recursos para investir nas

propriedades e na plantação do ano seguinte e

a venda de produtos das feiras locais rende pa-

ra a compra de insumos.

Em 2002, cada família entrou com um pou-

co de milho e trabalho para fazer os quitutes que

seriam vendidos na 1ª Festa do Milho, além de

organizar e divulgar o evento. O início de uma

nova história foi sendo traçado aí, com a contra-

tação dos serviços de máquinas para o plantio da

lavoura e uma melhor colheita no ano seguinte.

A força da associação também gera inicia-

tivas de melhoria da infra-estrutura local, como a

negociação com a prefeitura do município para a

instalação de iluminação e reparos nas estradas

que levam ao reassentamento. O desafio agora é

a construção de uma sede para a associação.

A cada ano a Tractebel Energia intervém

menos na organização da festa, trabalhando

para consolidar a autonomia dos produtores.

Depois das duas edições com a assistência, em

que a equipe da empresa ajudava no planeja-

mento, na definição dos produtos a serem pre-

parados e até na confecção de ofícios e proje-

tos para a busca de recursos, a Festa do Milho

é cada vez mais dos próprios agricultores, com

uma interferência muito mais tímida e caráter

de assessoria. A equipe que hoje os acompa-

nha não está ali para dizer como fazer, mas pa-

ra lembrá-los de caminhos mais fáceis e auxi-

liá-los no planejamento.

Da mesma forma, nas épocas do plantio e

da colheita de vários produtos, eles recebem as-

sistência de um técnico agrícola, mas a estrutura

dos trabalhos vem sendo construída da mesma

forma, para permitir o desenvolvimento autô-

nomo. Ao final de cada atividade é feito um ba-

lanço, para que os produtores percebam que

sempre há como melhorar e quais outras alter-

nativas têm para a próxima vez em que realiza-

rem um trabalho semelhante. Depois da fase de

fazer junto, veio a de ensinar a fazer. Agora o es-

forço é para que eles construam sozinhos o que

já foi feito recebendo ajuda.

Outro projeto que está em curso no reas-

sentamento é o desenvolvimento de uma la-

voura de sementes em convênio da Tractebel

Energia com a Embrapa e a Agência Rural. As

pesquisas vão gerar sementes selecionadas,

mais produtivas, certificadas pela Embrapa e a

baixo custo para os agricultores. Os técnicos en-

sinam como devem ser feitos o preparo da terra e

o plantio para que a nova variedade se desenvol-

va. E a presença do especialista tem ajudado os

produtores a otimizar a plantação, alcançando

melhores resultados. Eles aprendem técnicas bá-

sicas que não conheciam, como o distanciamen-

to entre as lavouras, o alinhamento de sementes

e o tempo necessário para a colheita.

Page 164: Cana Brava

164 165

Page 165: Cana Brava

166 167

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Com ações sociais voltadas

para educação, saúde,

alimentação e geração de

renda, a população da Vila

Vermelho ganha qualidade de

vida e novas perspectivas.

A comunidade de Vila Vermelho, onde

vivem 46 famílias, vem recebendo es-

pecial atenção da Tractebel Energia. Entre a

série de projetos envolvendo os agentes am-

bientais, a educação e a cultura da região, o

exemplo mais emblemático do trabalho em

conjunto com as comunidades é a Merenda

Saudável, que será produzida pelos agriculto-

res da comunidade e vendida para a prefeitura

como a merenda da escola do povoado. A dis-

tância entre a Vila Vermelho e a zona urbana

de Cavalcante faz com que o acesso seja bas-

tante difícil, obrigando a prefeitura a fornecer

produtos industrializados e o menos perecí-

veis possível, para permitir a alimentação das

crianças pelo tempo necessário. Outro bene-

fício da iniciativa foi ampliar as perspectivas

para os agricultores, que não conseguiam ir à

cidade vender por causa da distância e não ti-

nham incentivos para produzir.

Um passo importante para o início desse

projeto e para que a comunidade passe a buscar

formas de gerar renda e racionalizar o trabalho,

realizando-o em conjunto, foi a criação da Asso-

ciação de Vila Vermelho, que reúne os produto-

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166 167

res. A merenda vendida vem de uma horta comu-

nitária mantida pelos agricultores interessados e

os recursos são revertidos para a associação.

Orientados sobre a produção e as vendas

em conjunto nas feiras, eles têm recebido cursos

de técnicas de plantio e culturas alternativas, em

parceria com o Serviço de Aprendizagem Rural

(Senar). A intenção é incentivar os agricultores

a diversificarem a produção em suas proprieda-

des, o que pode aumentar a produtividade e a

comercialização. As mulheres também estão re-

cebendo capacitação para ajudar na renda da

família, com cursos de artesanato, tapeçaria e

de produtos derivados do leite.

O trabalho começou com as Reuniões de

Multifamílias, visitas das assistentes para detec-

tar o que era necessário para desenvolver a co-

munidade. Assim foi determinada a construção

de mais uma escola, com 346 m2 e duas salas de

aula para o ensino fundamental. As famílias do

povoado receberam módulos com pia, vaso sa-

nitário, tanque, fossa séptica e caixa d’água, in-

fra-estrutura importante para a redução dos ín-

dices de doenças infecto-contagiosas.

Outra melhoria importante foi a reforma

das balsas para a travessia do reservatório de Ca-

na Brava. As existentes, de propriedade da Agên-

cia Goiana de Transporte e Obras Públicas (AGE-

TOP), apresentavam freqüentes problemas de

manutenção, dificultando o acesso da popula-

ção de Vila Vermelho à outra margem, onde fi-

ca Minaçu. Para garantir que não haveria proble-

mas, a Tractebel Energia ainda colaborou com a

doação de combustível durante seis meses.

As obras foram feitas com mão-de-obra

local. Também houve a doação de dois barcos

para locação e a construção de um abrigo de

pesca, inclusive para a visitação de turistas. A

exploração dessa estrutura e o gerenciamento

das balsas são feitos pela associação, garantin-

do o cuidado da infra-estrutura e a distribuição

e geração de renda na comunidade.

Na área de educação, estão sendo im-

plementados o Garimpo de Histórias e o Con-

te um Conto, projetos que pretendem resgatar

as tradições locais a partir da história do povo

dali. O Garimpo será feito em conversas com

os moradores mais idosos e vai resultar em

um livro sobre a comunidade de Vila Verme-

lho, que deve ser um retrato dos moradores.

O Conte um Conto vai promover encontros

entre a comunidade para que as pessoas vol-

tem a entrar em contato com a história oral,

preservando a cultural local.

A participação da Doce ArteO trabalho das mulheres da Doce Arte continua e as ati-

vidades permanecem constantes e à procura de novas parce-

rias e iniciativas que permitam aumentar a renda das famílias.

A diretriz agora é investir em itens com maior demanda, como

doces, produtos coloniais e camisetas estilizadas. A Doce Arte

também participa do projeto da Vila Vermelho, beneficiando

tanto as artesãs, que assim puderam garantir a produção sob

demanda para a Prefeitura Municipal de Cavalcante, como

também a comunidade da Vila, que passou a receber os uni-

formes gratuitamente.

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168 169

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Além de fornecer bens

e obras públicas como

medidas compensatórias

durante a construção, a

SUEZ Energy International

e a Tractebel Energia

continuam impulsionando o

desenvolvimento econômico e

social da região.

A construção da usina Cana Brava iniciou um

novo ciclo na vida das comunidades vizi-

nhas ao empreendimento. Durante a obra, a SUEZ

Energy International auxiliou os municípios da re-

gião a implantar uma infra-estrutura básica, com

ações em diversos setores. Além do sistema de co-

leta e tratamento de esgotos e da praia artificial, a

empresa participou da ampliação do aeroporto de

Minaçu e das construções da cadeia pública e da

delegacia de polícia de Cavalcante. Equipamentos

de informática e móveis foram doados para a Pro-

motoria Pública, para o Fórum, para a creche e pa-

ra a prefeitura de Cavalcante. O Conselho Tutelar

da Criança e do Adolescente de Minaçu recebeu

uma Kombi e o Batalhão de Polícia Florestal, duas

motos. Minaçu ganhou ainda um novo matadou-

ro, com capacidade de abate de 60 animais por

dia, completamente de acordo com todas as exi-

gências de condições sanitárias e apto a receber o

Selo de Inspeção Federal (SIF). Outra benfeitoria

foi a ponte de serviços que atendeu a construção

da usina, sobre o rio Tocantins. Com o término da

construção, a ponte foi liberada para o tráfego lo-

cal, o que deixou os moradores da região livres da

obrigação de utilização de balsa para a travessia

entre os municípios de Minaçu e Cavalcante.

Minaçu.

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168 169

Principais medidas compensatórias

Nas comunidades

Construção do sistema de esgoto de Minaçu

Recursos para Unidades de Conservação Ambiental

Construção da Praia de Minaçu

Construção da escola municipal da Vila Vermelho

Construção da cadeia pública de Cavalcante

Construção da delegacia de polícia de Cavalcante

Indenização aos mineradores de areia

Doação de ônibus escolar para o município de Cavalcante

Doação de Kombi ao Conselho Tutelar de Minaçu

Construção da escola de natação de Minaçu

Na área do reservatório

Ponte sobre o rio Tocantins

Estrada Minaçu–rio Tocantins

Estrada de contorno da MD do rio Maranhão

Matadouro Municipal de Minaçu

Ponte sobre o córrego Lajeado

Ponte sobre o rio Bonito

Transposição do córrego do Ginho

Mesmo após a conclusão da obra, a

Tractebel Energia continua impulsionan-

do o desenvolvimento econômico e social e

participando da vida da comunidade, proce-

dendo as compensações financeiras (royal-

ties) proporcionais às áreas afetadas de ca-

da município. O processo é absolutamente

transparente e todos os valores repassados

são públicos e estão disponíveis no site da

ANEEL e no da própria Tractebel Energia.

Esses recursos são utilizados pelas prefei-

turas, conforme as prioridades definidas pe-

las comunidades. Além disso e dos progra-

mas sociais específicos para os atingidos, a

Tractebel Energia realiza ações sociais que

beneficiam toda a comunidade.

No conjunto, todas essas obras e ações

contribuíram para propiciar uma nova realida-

de para a região, com a abertura de novas vo-

cações econômicas e perspectivas de melho-

ria de vida. A visão da Tractebel Energia é a de

participar desse processo de maneira proativa,

procurando sempre, de forma sustentável, au-

xiliar na construção de um futuro melhor para

toda a população.

Royalties pagos aos municípiosCompensação pelo uso de recursos hídricos de Cana Brava (em R$)

MUNICÍPIO % 2002 2003 2004 TOTAL

CAVALCANTE 50,42% 1.094.576 2.923.019 3.471.542 7.489.137

MINAÇU 43,75% 949.776 2.536.336 3.012.296 6.498.408

COLINAS DO SUL 5,83% 126.564 337.985 401.410 865.959

TOTAL 100,00% 2.170.916 5.797.340 6.885.248 14.853.504

Mais saúde para MinaçuDepois de construídas as casas para os indenizados, o

acompanhamento com assistência social e a realização de

programas sociais e educativos, a Tractebel Energia continua

assistindo a população de Minaçu em geral, implementando

projetos que procuram atender as necessidades de toda a co-

munidade. Uma dessas iniciativas é o estudo sobre a situação

da saúde no município.

Em convênio com a Prefeitura Municipal de Minaçu, es-

tão sendo analisadas as condições de vida e higiene e o acesso

à saúde. A idéia é desenvolver de programas que realmente

atinjam os cidadãos, a um custo mais baixo, porque poderão

ser bem planejados e com isso mais eficazes.

O projeto também gera conhecimento, já que é re-

alizado em parceria com a Universidade Federal de Minas

Gerais. Um grupo de consultores da instituição trabalha na

coleta e análise dos dados, com metodologia adequada

para auxiliar na tomada de decisões e conhecimento da

realidade local.

Page 169: Cana Brava

170 171

Turi

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A região de Cana Brava tem

atrações e potencial para

os turismos de aventura,

rural e religioso. Agora as

comunidades se organizam

para construir e divulgar

essa identidade turística em

Goiás e em todo o Brasil.

A Usina Hidrelétrica Cana Brava está mu-

dando o cenário da região, especial-

mente na cidade de Minaçu. Com o enchi-

mento do reservatório, o município ganhou

um lago, com direito a orla urbana e praia ar-

tificial. Aliado ao reservatório de Serra da Me-

sa, o empreendimento propicia a Minaçu um

potencial turístico antes inimaginável, o que

abre uma perspectiva de diversificação da

economia – hoje ainda fortemente atrelada à

mineração de amianto – e de geração de em-

pregos e de renda.

O município conta com outros atrativos

naturais, como cachoeiras, grutas e águas ter-

mais. As atrações mais conhecidas são as ca-

Page 170: Cana Brava

170 171

choeiras do Lageado e das Pedras, no córre-

go do Lageado, e as cachoeiras do Rajado e da

Fumaça, no córrego do Rajado. Todas ficam a

cerca de 30 minutos do centro da cidade. Des-

tacam-se ainda as grutas de Nossa Senhora

Aparecida e da fazenda do Waldemar. Mas é o

reservatório de Cana Brava que promete ser a

grande vedete de Minaçu. Por manter um ní-

vel constante, com pouquíssima variação, o

reservatório pode ser perfeitamente explora-

do como balneário e para a prática de pesca

esportiva e de esportes náuticos.

Por isso, todos esses programas ambien-

tais têm relação direta com o desenvolvimento

do turismo, apontado como a mais promisso-

ra fonte de renda futura da região. A Praia do

Sol, praia artificial construída no reservatório

de Cana Brava como uma área de lazer, é um

ícone desse fenômeno. Ela fortalece a infra-

estrutura do município e abre caminho para

investimentos. No entanto, a consolidação do

turismo passa necessariamente pela constru-

ção de um projeto e demanda investimentos.

Minaçu traça estratégias nesse sentido, come-

ça a desenvolver os recursos trazendo eventos

como campeonatos de jet-ski e se prepara pa-

ra épocas-chave, como o carnaval.

A Praia do Sol já faz parte do dia-a-dia da

cidade. Fica cheia nos finais de semana e cada

vez mais é palco de festas. Uma das caracterís-

ticas que tornam a praia um lugar tão atrativo

para a realização dos eventos, além da beleza

do reservatório, é a segurança do local.

Em 2004, a festa de 31 de dezembro reu-

niu cerca de 20 mil pessoas na Praia do Sol e

o carnaval do ano também bateu recorde de

público. A rede hoteleira da cidade dependia,

durante a maior parte do ano, dos emprega-

dos e prestadores de serviços ligados à extra-

ção do amianto ou às usinas. No entanto, des-

de 2002 isso começou a mudar. A prefeitura

municipal investiu em divulgação e conseguiu

Page 171: Cana Brava

172 173

atrair mais os turistas. Há muito a ser explora-

do no campo do ecoturismo, como as cachoei-

ras e formações geológicas. A cidade também

faz parte da Reserva da Biosfera do Cerrado,

uma rota turística definida pela Agência Goia-

na de Turismo (AGETUR) que compreende re-

giões com rica biodiversidade.

Mas embora boa parte da infra-estrutu-

ra turística esteja pronta, há ainda muito inves-

timento a ser feito, especialmente nos acessos

à cidade, na organização do setor, na capacita-

ção das pessoas e até mesmo nas placas de indi-

cação dos principais pontos turísticos da cida-

de. Um dos primeiros passos nesse sentido foi

a realização do diagnóstico turístico da região

e do cadastramento dos hotéis, uma exigência

do Ministério do Turismo, EMBRATUR e AGE-

TUR. Agora o trabalho é de divulgação e cons-

trução de uma identidade turística. O inventá-

rio realizado para levantar o potencial turístico

da cidade detectou rotas a serem exploradas em

Minaçu: o turismo de aventura, aproveitando os

recursos naturais que circundam a cidade; o ru-

ral, para o qual ainda seria preciso montar uma

estrutura para receber o turista e capacitar os

agricultores a resgatarem a produção colonial.

Algumas datas estão consolidadas no ca-

lendário turístico de Minaçu: o carnaval, o ano

novo, as férias, a vaquejada e a festa em come-

moração ao aniversário do município, quando

são expostos produtos típicos da cidade, como

os doces de milho produzidos pelos agriculto-

res do Reassentamento Cana Brava, além de se-

rem apresentadas atrações da cultura local.

Também tradições locais como a folia-de-

reis e a catira devem receber estímulos à parti-

cipação e vão entrar no catálogo de atrações da

cidade. A rica e saborosa culinária típica da re-

gião, com grande variedade de pratos e peixes

de água doce, os doces de milho, o piqui – fru-

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ta que não se pode morder sob custo de ganhar

espinhos na língua – e a pamonha também são

atrativos que podem trazer mais turistas. Entram

aí as feiras de produtos agrícolas, como a Feira

das Cinco, anunciada pelo sino da igreja e que

só fecha quando o último cliente deixa a praça.

Uma das iniciativas para reunir esforços

do setores público e privado é o Conselho do

Turismo (Contur), um canal de convergência

das ações na área, no qual prefeitura, empre-

sários do setor e diversos segmentos da socie-

dade vão trabalhar para construir iniciativas

em conjunto para desenvolver Minaçu. Além

disso, vêm sendo feitos investimentos na di-

vulgação das épocas-chave, como as férias de

verão e inverno.

A consolidação da rota turística Brasília-

Minaçu é outro dos pontos que traz boas pers-

pectivas. A rota inclui a visita ao reservatório

da usina Serra da Mesa e uma viagem mais in-

trospectiva ao município de Alto Paraíso, na

Chapada dos Veadeiros.

Page 173: Cana Brava

174 175

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A usina Cana Brava faz

parte da vida dessas

comunidades e do Brasil. A

SUEZ Energy International

e a Tractebel Energia têm

consciência disso e sempre

contribuirão para promover

o desenvolvimento

sustentável.

Page 174: Cana Brava

174 175

Passados os primeiros anos do início da

operação da usina Cana Brava, os resulta-

dos dos monitoramentos ambientais, as eviden-

tes melhorias nas condições de vida dos atingi-

dos, o desenvolvimento e a potencialidade das

comunidades demonstram que as decisões e

ações tomadas pela SUEZ Energy Internatio-

nal, pela Tractebel Energia e por todos os envol-

vidos no projeto foram corretas.

Exceto em poucos casos de insatisfação,

que continuam sendo tratados de maneira aber-

ta e transparente, em busca de uma solução

adequada para todas as partes, a percepção na

região de Minaçu, Cavalcante e Colinas do Sul é

que a usina Cana Brava e a forma como ela foi

feita contribuíram para melhorar a qualidade de

vida de todos. Uma percepção que se materiali-

za pela forma calorosa com que os funcionários

da empresa e dezenas de profissionais que atu-

am nos programas sociais e ambientais são sem-

pre recebidos em todos os locais.

A trajetória de um empreendimento des-

se porte tem começo, marcos importantes, mas

não tem fim. Cana Brava sempre estará na vida

dessas comunidades e do Brasil. A SUEZ Energy

International e a Tractebel Energia têm consci-

ência disso e sempre contribuirão para promo-

ver o desenvolvimento sustentável da região e

do país, gerando energia com responsabilidade

social e ambiental.

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Cana Bravausina de um novo Brasil

Supervisão SUEZ Energy Brasil e Tractebel Energia Produção Editora Expressão Projeto editorial, coordenação e edição Carlos Locatelli – Núcleo de Projetos Editoriais/Jornalismo/UFSC Direção de arte Luiz Acácio de Souza Textos Simone Cunha e Carlos Locatelli Edição de arte João Henrique Moço Revisão Sérgio Ribeiro e Leonil Martinez Versão para o inglês Roy Silva – Anglolusa Fotografias Arquivo Tractebel Energia (Sem identificação de autor: páginas 22, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46A, 50, 51, 52, 53, 55A, 55B, 58, 104, 105 e 137A – Macrofoto: páginas 19, 48 e 49 – Tempo Editorial: contracapa, páginas 46B, 47, 48, 55C, 56, 57, 60, 62, 66, 67, 70, 76, 78A, 82A, 85, 86, 87, 88, 90, 98, 100, 103B, 112, 113, 114, 128A, 128B, 134, 135, 139 B, 139C, 141, 144, 148, 150, 155, 156, 157, 160A, 160B, 168B, 172A e 173B – Fotomundo Fotografias: páginas 63, 64, 68, 69, 80, 81, 82 B, 83, 142, 146, 147, 152, 153, 158B, 170, 171, 174, 176) – Arquivo Naturae: páginas 72, 73, 74, 75, 77, 79, 92, 93, 94 e 95 – Arquivo VidaSer: páginas 84, 102, 110, 111, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 127, 128C, 136, 137B, 137C, 139A, 163A – Arquivo Expressão: páginas 20 e 21 - Arquivo Museu da Universidade Federal de Goiás: páginas 130, 131 e 132 – Simone Cunha: páginas 138, 162A, 163B, 167, 168A, 172B e 173A – Thamy Soligo: páginas 158A, 161, 162B, 165 e 166.

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usina de um novo Brasil