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Brasília - 25 a 28 de abril Campus da Universidade de Brasília 2011

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  • Braslia - 25 a 28 de abrilCampus da Universidade de Braslia

    2011

  • Sumrio

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    Conferncia de abertura do Colquio

    Changements et continuits structurelles du journalismeD. Ruellan

    O criador da assinatura coletiva ou dialogia socialCremilda Medina

    GT1 - Sociologia do JornalismoApprentissage et march du travail. Les premires expriences journalistiquescomme indicateurs de mutationsPierre Leroux e Marie-Christine Lipani Vaissade

    Jornalistas e Assessores de Imprensa: a tenso entre os cam-pos da comunicao e da informao a configurao do proces-so produtivo da notciaGiovandro Ferreira e Claudiane Carvalho

    Jornalistas Legislativos: uma nova categoria profissional?Francisco SantAnna e Rogrio Dy La Fuente Gonalves

    Interesse Pblico e Deontologia Profissional dos Jornalistas Bra-sileirosJos Ricardo da Silveira e Veruska Sayonara de Gis

    Des journalistes et des livres. Un tournant auctorial dans la pra-tique du journalisme?Roselyne Ringoot e Gilles Bastin

    Lugares das colunas de opinio: contornos de uma mudana no jornalismo atualAntnia Carmo Barriga

    GT2 - Mediao, mediatizao e prtica jornalsticaLa croise des voix dans lespace du journalmtamorphoses de la polyphonie dans les textes dinformationEmmanul Souchier e Adeline Wrona

    Uma via alternativa de reflexo sobre as prticas jornalsticasBeatriz Marocco

    Efeitos do processo de mediatizao (em curso) sobre o jorna-lismo impressoCarlos Alberto de Carvalho e Leandro Rodrigues Lage

    A opacidade do acontecimento e a misso emancipatria do jornalismo. Uma reflexo em torno de 3 casosLuiz Martins da Silva e Dione Oliveira Moura

    GT3 - Economia das empresas de comunicaoUtilisation discursive et ralit de la convergence au service dun repositionnement du mdiatiqueArnaud Anciaux

    2 Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo. Braslia: Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade de Braslia, 2011.

    Disponvel em: www.mejor.com.br

  • Hibridaes entre o jornalismo e a publicidade na regio central mexicanaSalvador de Leon

    Entre bits e dlares: desafios para o financiamento da produo fotojornalstica contemporneaJos Afonso da Silva Junior e Joo Guilherme Peixoto

    Mudanas estruturais no jornalismo: convergir preciso. Refle-xes sobre as empresas, a convergncia de redaes e o perfil dos profissionaisThas de Mendona Jorge e Zlia Leal Adghirni

    Nouvelle mode: convergence et hirarchie journalistiqueChantal Francoeur

    GT4 - Jornalismo DigitalDes sources aux contenus : La construction des nouvelles en ligneBenot Grevisse e Amandine Degand

    Mudanas no fazer jornalstico online? Aspectos das reporta-gens do portal de notcias G1Liana Vidigal Rocha

    A convergncia digital na produo da notcia: Dois modelos de integrao entre meio impresso e digitalKenia Beatriz Ferreira Maia e Luciane Fassarella Agnez

    Quando o jornalismo se aproveita da Web: rumo integrao do datajournalismOlivier Trdan

    Infografia Interativa na Amrica LatinaMarcilia Luzia Gomes da Costa Mendes e William Robson Cordeiro da Silva

    GT5 - Jornalismo alternativoJornais Plurais? A identidade dos veculos jornalsticos em tem-pos desafiadoresBruno Souza Leal

    Mudana discursiva no jornal O TrecheiroViviane Resende e Mara del Pilar Tobar Acosta

    Jornalismo feito em casa: a mdia informativa do terceiro setorElton Antunes e Ana Carolina Silveira

    Quando o Social entra em PautaMarta Maia, Hila Rodrigues e Ana Paola de Morais Amorim Valente

    GT6 - Novas relaes com a audinciaO papel dos receptores no ensino-aprendizagem do jornalismo onlineJanara Sousa e Mrcia Marques

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    Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo. Braslia: Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade de Braslia, 2011.

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  • Transformaes contemporneas no jornalismo: a prtica profis-sional do jornalista como um mobilizador de audincia da internetLeonel Azevedo de Aguiar e Adriana Barsotti

    Jornalismo e Mdias Sociais Digitais: transformaes no proces-so de legitimao institucional no servio de micromensagens TwitterEugenia Mariano da Rocha Barichello e Luciana Menezes Carvalho

    Perspectivas para repensar a comunicao: a dionisaca inteno entre a internet e o mito do Brasil como paraso terrestreMarcus Minuzzi

    GT7 - Tranformaes no telejornalismoHibridizao e interatividade: observaes em dois telejornais brasileirosElza Aparecida Oliveira Filha e Raphael Rodrigues Faerreira da Costa

    Televiso digital e mudanas no telejornalismo: potencialidades da multiprogramaoYvana Carla Fechine de Brito, Carlos Andr Guimares Ferraz, Lvia Cirne e Jorge Fonsca

    Telejornalismo e Ciberespao: a materialidade do virtual no jorna-lismo televisivoEdna de Mello Silva

    GT8 - Jornalismo e discursoHibridismos discursivos na Comunicao em SadeViviane Cristina Vieira Sebba Ramalho

    La retrica del silencio en el discurso informativoAraceli Son Soto

    Discours sur la presse crite nord-amricaine de la fin du 19e sicle et implantation du journalisme dinformationJean-Ren Philibert

    Conferncia de encerramento do Colquio

    Jornalismo em tempo de crise: ascenso, glria, agonia e ressur-reioJos Marques de Melo

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  • Conferncia de Abertura do Colquio

    Mudanas e continuidades estruturais do jornalismo

    Denis RuellanUniversit de Rennes 1

    Primeiramente, eu gostaria de agradecer Universidade de Braslia, Faculdade de Comuni-cao, a todas as pessoas que participaram da preparao deste evento, e especialmente, ao profes-sor Fbio Pereira e professora Zlia Leal-Adghirni. Eu gostaria de agradecer-lhes por ter organiza-do esse colquio to importante para nosso ramo de estudos, o jornalismo. Esses quatro dias sero ricos em conhecimentos e troca de informaes. Gostaria de agradecer tambm a esses professores por continuarem seguindo o caminho que comeamos a trilhar h doze anos, quando passamos a visitar uns aos outros, a fazer pesquisas jun-tos, a receber estudantes vindos do outro lado do oceano, publicar conjuntamente, a orientar dou-torandos. Este colquio segue e alarga o caminho desta colaborao por sua verdadeira dimenso internacional, acolhendo colegas do Brasil, do Chile, do Mxico, de Portugal e diversos francfonos (um total de quinze pessoas, vindas da Frana, do Canad e da Blgica). Este evento acadmico estabelece tambm um novo horizonte de nossas relaes, pois ele mostra que daqui em diante nosso intercmbio no mais bilateral, e sim multilateral. Como vocs viram no programa, o colquio ser seguido por um dia de estudos organizado pelos colegas em tor-no dos mtodos de pesquisa sobre o jornalismo. Esse dia ser destinado ao mtodo de entrevista, com a presena de cinco especialistas, entre brasileiros, canadenses e franceses, que foram especial-mente convidados para falar sobre o assunto. Este evento se enquadra originalmente em um ciclo de jornadas criado em 2007, chamado de Jornada Olhares Cruzados da Rede de estudos sobre o jornalismo, o REJ, disponvel no site www.surlejournalisme.com Esse site uma das manifestaes dessa trajetria multilateral que ns seguimos. Ele e pro-duzido em vrias lnguas e publica informaes sobre as pesquisas desenvolvidas em diversos es-paos lingusticos, principalmente brasileiros, canadenses e franceses. Essa iniciativa ser seguida por uma revista trinacional, trilingue SUR LE JOURNALISME ABOUT JOURNALISM SOBRE JORNALISMO, que ser lanada em breve.

    abertura do colquio, cujo tema envolve as mudanas estruturais do jornalismo. Muitos pesquisadores se perguntaram, nesses ltimos anos na Frana, sobre a capacidade de inveno e, portanto, de transformao do jornalismo (Ringoot & Utard, dir, 2006. Augey, Demers & Ttu, 2008), e particularmente sobre sua inovao nas margens, por meio da incorporao de no-vas prticas que apareceram na periferia ou fora da rea do jornalismo, como por exemplo, a inter-net. Esses questionamentos so muito interessantes porque eles permitem retirar a pesquisa de uma abordagem muito centrada nos meios de comunicao dominantes e nos jornalistas, uma abor-dagem impregnada pela viso de um jornalismo imvel. Eu creio, no entanto, que nossa prtica est marcada por dois limites:

    -cam a natureza, nem a constncia das prticas e suas identidades. A partir desse ponto de vista, ns

    -res? Por exemplo, normalmente ns falamos que a internet permite a circulao circular da informa-o (Bourdieu, 1996) favorecendo o fenmeno de cpia de contedos. Ns sabemos, no entanto, que os primeiros jornais copiavam contedos de outros jornais, muitas vezes as cpias eram publicadas

    a impressa da capital, principalmente porque ela tem acesso reduzido s agncias de notcias nacio-

    Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo. Braslia: Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade de Braslia, 2011.

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  • nais e internacionais. Ns sabemos que hoje as equipe das redaes de rdio lem os jornais impres-sos para escolherem as informaes que sero apresentadas, isso porque normalmente as redaes de impresso tem mais reprteres. Essa prtica de cpia antiga. Estimamos que antes da revoluo francesa a metade das obras era resultado de plgio parcial ou integral (Darnton, 2011). A imprensa no inventou a cpia de informaes, muito menos a internet.

    rigor de anlise. Poucas vezes ouvimos que esses discursos no mudam muito com o tempo, que eles atraves-sam pocas e dizem a mesma coisa. Por exemplo, o discurso sobre a crise do jornalismo um dos mais permanentes, mais recorrentes. Ns devemos nos questionar sobre o lugar desse discurso na construo de identidade mais do que simplesmente repercutir os discursos de crise. Outro exem-

    seno na prtica.

    muda, das estruturas imveis. Esse mais uma das questes propostas por esse colquio sobre as mudanas estruturais. Eu gostaria de relembrar as trs questes centrais propostas pelos organiza-dores: - Quais so os indicadores (sociolgicos, econmicos, semiticos, histricos, polticos...) que permitem sustentar a tese dessa transformao da base do jornalismo, e como pode-se relacionar

    so postos em prtica, etc.) para compor um quadro geral que consiga argumentar que as mudan-as no so localizadas tampouco conjunturais, mas, sim, se situam num nvel global e estrutural. - Pode-se sustentar, ao contrrio, que o jornalismo uma prtica social, uma atividade eco-nmica, um espao de discurso poltico, que faz prova aps quatro sculos de grande estabilida-de de uma permanncia alm das mudanas conjunturais pelas quais tem passado? Quais sero, ento, os indicadores de uma continuidade para alm das mutaes profundas que afetaram as

    - Como, ento, deve-se levar em conta o discurso vindo dos meios acadmicos e apoiado por

    apresentam um quadro dessa transformao, chegando a mencionar uma crise do jornalismo? -

    ciedades democrticas eles apoiam? Tal pensamento poderia parecer essencialista porque consideraria o jornalismo como atem-poral. No, trata-se somente de proporcionar os meios para escapar de discursos que nos impem a ideia de uma mudana constante. E de perseguir os caminhos inteiramente heursticos que esses dscursos abrem involuntariamente. Por involuntariamente, quero dizer que a anlise desses dis-

    -vas e suas doutrinas, estruturas que no soubemos ver (Le Cam, 2009). Darei um exemplo. sobre o papel que as fontes e os pblicos tm no conjunto contnuo da produo de informao. Desde cerca de 2004, ouviu-se muito sobre a ideia de que a internet iria revolucionar o jor-nalismo porque ela permitiria a todo mundo se tornar jornalista para os outros e de ser seu prprio jornalista, isso graas relao reticular do meio; dentro dessa hiptese, a internet uma rede em malha que permite relaes entre todos e, no, apenas de um em direo a muitos. Os meios de massa que precedem a internet so vetores relevantes do modelo da difuso (de um para muitos) e, no, do modelo de rede (de todos para todos); tal modelo se aplica imprensa de massa, rdio e televiso. O modelo de rede, que se desenvolveu para as comunicaes interpessoais (o telefone, em particular, desde o incio do sculo 20) no se estendeu aos meios de informao.Esta hiptese no precisa. Por um lado, porque ela se aplica somente mdia de massa e, por outro, porque ela ignora uma parte da organizao dessa mdia : -Desde sempre, a imprensa cultural, poltica, associativa, religiosa uma imprensa que cir-

    Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo. Braslia: Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade de Braslia, 2011.

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  • mdia tradicional quis copiar para reforar sentimentos de pertencimento e identidade ; Esta forma de jornalismo tambm est presente no rdio, na televiso e na internet.

    -vada na produo ; os contedos destes veculos so, em parte ou no todo, produzidos por seus pr-prios membros, revelando assim a lgica coletiva da produo ; Tal lgica no exclusiva da mdia comunitria. Ela foi capitalizada pelos veculos de massa. Estes pedem, h muito tempo, que os lei-

    provado, na Frana, o sistema de correspondentes locais de imprensa que se apoia numa ampla rede de colaboradores. - No comeo, os blogs pareciam todos pertencer ao modelo da difuso, em que cada um esta-ria habilitado a falar a todos. Contudo, trabalhos recentes tm revelado que no h nada disso : os blogs so uma conversa coletiva que permite a seus autores se exprimir para e dentro de uma rede de pares (Trdan, 2010). Esta lgica no nova. A imprensa sempre possuiu esta funo de permitir a membros de uma comunidade se dirigirem a seus equivalentes, de se expressar no espao pblico aos olhos de todos, mas voltando-se a alguns poucos em particular.

    -sinuar que a internet invente uma nova realidade. Mas os discursos que descobrem a dimenso reticular da mdia so interessantes, pois eles revelam uma percepo do jornalismo, uma viso do

    cinco anos, entre 2005 e 2009, e me interessei pela evoluo da percepo dos mesmos sobre o que est em jogo neste meio e suas transformaes. Estes trs blogs so especializados na anlise das mutaes do jornalismo, como deixam claro seus nomes : Transnet (sobre a transformao da inter-net), Mdiacaf (sobre o aspecto Conversao das Mdias) e Amanh, todos jornalistas ? (o ttulo claro). Esses trs blogs estudados seguem a mesma trajetria : comeam muito entusiastas em re-lao s possibilidades de o internauta produzir contedo informativo. Eles propem que os jorna-listas, a partir de ento, vo descer de suas posies de superioridade e se transformar em anima-dores de debates entre os cidados, entre os jornalistas-cidados. Alm disso, eles insistem na ideia de que esses internautas contribuem fortemente produo de informao, e que os jornalistas so

    conduzem ao pensamento de que os jornalistas so indispensveis para organizar esse participao dos internautas e para validar as informaes : os jornalistas tm a tcnica, sabem como executar o trabalho e tm a moral. A trajetria desses discursos so muito simples : diante da profuso de discursos, os jornalis-tas primeiramente testaram essa pluralidade, para melhor constat-la, e para reluzi-la. Eles contes-

    deles mesmos (Foucault, 1971), a viso deles de um jornalismo que corresponde aos interesses cor-porativos dos prprios meios de comunicao.

    - O primeiro diz respeito ao interesse dos internautas em participar do processo - O segundo diz respeito ao trabalho dos internautas Os jornalistas responsveis por esses blogs consideram que a contribuio dos internautas

    econmicas. O trabalho do internauta valorizado como um interesse das empresas. Eles observam ainda que os internautas so voluntrios a participar do processo de fabricao da informao, e se convencem de maneira relativamente rpida de que essa atividade lhes prazerosa. Que prazer, que interesse? Os autores de blogs evocam, de maneira ainda muito imprecisa, um benefcio simblico,

    -nauta, de seu ego, em colaborar com o envio de uma foto de um evento, ou de um fato grave, ou de um comentrio, uma informao banal. No se trata de diverso, deve haver algum outro motivo. Os jornalistas reconhecem o valor econmico dessas contribuies, e destacam a o interesse da em-presa em manter a colaborao, mas no chegam a concluses sobre a motivao do internauta.

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    tores da informao, mas no que os receptores fazem com a mdia. E por o que se faz com a mdia entenda-se como o receptor incorporado nas relaes dos indivduos e dos grupos, como o conte-do por ele produzido circula e utilizado pelo atores sociais (de Certeau, 1983. Pasquier, 1999. Gou-let, 2010). A mdia fala, sim, mas podemos tambm dizer que ela falada, coletivamente, e que seu sentido construdo coletivamente. - O segundo aspecto interessante o valor do trabalho dos usurios da mdia. Entendo por usurio os pblicos e as fontes de informao. Desde o sculo XIX, temos o hbito de pensar que

    -res e a compra do espao pelos anunciantes. Ns negligenciamos uma varivel : o valor do trabalho produzido pelos que contribuem, direta ou indiretamente, para a informao. Um jornal no ja-mais feito sem fontes e ns sabemos que essas fontes so, agora muito ativas para propor contedos bastante organizados e estruturados. E essas fontes so, tambm, em parte, o pblico do jornal, ns lemos o jornal porque ele se parece conosco, porque ns nos vemos nele, porque ns o produzimos. O pblico , de fato, utilizado pela mdia, por meio dos comentrios e contribuies. Essa produo das fontes e pblicos usurios tem um verdadeiro valor para a mdia.Se conseguir organizar este tra-balho, a mdia pode tirar dele um grande proveito, que deve ser medido de duas formas : a) o valor do trabalho que no remunerado (Dujarier, 2008), que no pago pelo jornal, as-sim, no pago pelo receptor nem pelo anunciante b) o vnculo (Hennion, 2004) dos que contribuem gratuitamente para a produo da infor-mao da mdia. Gratuitamente no uma boa palavra, melhor dizer voluntariamente porque os usu-rios que trabalham para a mdia sem remunerao o fazem por um interesse. Qual esse interesse ? Acreditamos, com a internet, que os usurios desejam, agora, a desintermediao , o desapare-cimento da mediao do jornal e dos jornalistas. Eu acredito que, ao contrrio, eles esperam mais mediao do jornal. O que eles querem que o jornal seja, ainda e sempre, um espao pelo qual eles criem e construam relaes sociais, econmicas e polticas. Um jornal como lugar compartilhado, um lugar ao qual eles esto ligados porque ele os conecta aos outros, ao mundo e a seus mundos sociais. E isto, a mdia como bem comum, no centro da aldeia (Ringlet, 1980), no uma ideia nova, mas eu percebo que uma perspectiva a ser explorada para compreender as mudanas e as continuidades estruturais do jornalismo. Eu agradeo sua ateno e agradeo aos seis estudantes e diplomados da Faculdade de Co-municao da UnB, que foram, tambm, estudantes da Universidade de Rennes 1, porque foram intercambistas por um ano na IUT de Lannion, eu os agradeo por terem me ajudado a traduzir esta mensagem : Isabela Azevedo, Ana Rita Cunha, Dominique Lima, Rodrigo Magalhes Alves, Li-via Mota, e Johanna Nublat.

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  • Bibliographie

    AUGEY D., DEMERS F., TTU JF. (dir.) (2008), Figures du journalisme, Presse de luniversit La-val, Qubec.

    BOUDIEU P. (1996), Sur la tlvision, Liber-Raisons dagir, Paris.

    CERTEAU (de) M., GIARD L. (1983), Lordinaire de la communication, Rapport au ministre de la Culture, Dalloz, Paris.

    DARNTON R., in Tlrama, 16 mars 2011, n 3193.

    FOUCAULT M. (1971), Lordre du discours, Gallimard.

    GOULET V. (2010), Mdias et classes populaires. Les usages ordinaires des informations (prface de Patrick Champagne), INA ditions, Paris.

    HENNION A. (2004), Une sociologie des attachements. Dune sociologie de la culture une prag-matique de lamateur , Socits, 85, pp. 9-24

    LE CAM F. (2009), Le journalisme imagin. Histoire dun projet professionnel au Qubec, Lamac, Montral.

    PASQUIER D. (1999), La culture des sentiments. Lexprience tlvisuelle des adolescents, Editions de la Maison des Sciences de lHomme, Paris.

    RINGLET G. (1980), Le mythe au milieu du village, EVO, Bruxelles.

    RINGOOT R. & UTARD JM. (dir.), (2005), Le journalisme en invention, nouvelles pratiques, nou-veaux acteurs, Presses Universitaires de Rennes, Rennes.

    TREDAN O (2010), La construction des modes sociaux par la pratique de lauto-publication , Communication & langages, 165, pp 73-86.

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  • Conferncia de abertura do Colquio

    O criador da assinatura coletiva ou dialogia social

    Cremilda MedinaUniversidade de So Paulo

    Na edio de O Estado de S. Paulo de 14 de abril de 2011, colhem-se trs exemplos de autoria na comunicao social e, em particular, no jornalismo: Jos Serra, o ex-governador de So Paulo e

    -o ao jornal iniciada nessa data. No mesmo dia, Demtrio Magnoli, articulista do Estado, analisa vrios diagnsticos sobre o assassino-suicida da tragdia na Escola Tasso da Silveira em Realengo. E uma nota da Amrica Latina d conta do racismo que se manifesta na internet contra o candida-

    contemporaneidade, os descendentes da livre expresso.

    Eu ainda acredito muito no poder da razo, das ideias, do conhecimento, na importncia da persuaso. (...) Meus artigos sero engajados: ideias, conhecimento, esforo de persuaso.Jos Serra

    De onde saiu este cara? (Indagao do motorista de nibus Grson da Silva, padrinho de uma das vtimas, Laryssa, a respeito do assassino das doze crianas em Realengo.) (...) A indagao de Grson da Silva no tem um resposta, mas muitas, que so conjeturas. Demtrio Magnoli

    Aps o primeiro turno das eleies peruanas, racismo - um dos maiores tabus do pas - ganhou espao na internet. Em redes sociais, como o Facebook e o Twitter, comentrios preconceituosos multiplicaram-se contra o nacionalista Ollanta Humala que enfrenta no segundo turno a deputada Keiko Fujimore, de origem japonesa. Em uma pgina do Facebook intitulada No a Ollanta Humala, internautas chamam o candidato de animal e analfabeto. No Twitter, usurios referem-se pejorativamente origem do candidato nacionalista. Notcia publicada no caderno Internacional, pg. 23, de O Estado, 14 de abril de 2011.

    No h dvida de que os dois articulistas representam a herana da opinio de assinatura individualizada nas mdias tradicionais. Representam tambm a liberdade de expresso vocalizada

    -tados autoritrios que se regem pelo direito absoluto da informao. J na internet, libera-se, prati-camente sem freios (que s persistem em sociedades extremamente controladas), o amplo circuito das vozes cujos juzos de valor no tm limites. H, no entanto, sutis diferenas no campo simblico destas opinies. Jos Serra se apresenta como um autor iluminista cujo conhecimento racional, em geral pro-veniente do saber acadmico, deve construir a argumentao. Em sua primeira colaborao ao jor-nal paulista descreve os negcios da China, aproveitando a visita da presidente Dilma a esse pas. Embora a opinio se proponha apartidria e o comentrio esteja amparado por fatos poltico-eco-nmicos, quer demonstrar a tese de um Brasil neoperifrico perante o gigantismo chins. Na entre-

    posio de magister dixit, ou seja, aquele que racionalmente persuade os alunos na transmisso de conhecimentos adquiridos. Sem dvida, uma autoria que divulga a cincia sobre os fatos contem-porneos. Demtrio Magnoli assume um estilo diferente ao percorrer alguns diagnsticos do massacre:

    -olgicos; traz discusso pblica a voz especializada de psiquiatras e outros analistas da Academia;

    Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo. Braslia: Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade de Braslia, 2011.

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  • um presente doloroso, no omite o choro e comoo coletiva. (Vale lembrar, de passagem, a brilhan-te manchete - do jornal Dirio de Pernambuco, a 8 de abril de 2011.) No conjunto de opinies orquestradas por Magnoli, porm, a voz do articulista no est oculta numa pseudo objetividade descritiva. Ao contrrio, ela emerge tanto na competncia da arti-culao de sentidos, quanto no prprio diagnstico que no se entrega monocausalidade. Prefere procurar, em meio s causalidades mltiplas, ambiguidades e contradies. H um constante vis interrogativo que tempera a persuaso ou a adeso a determinada verdade. O autor usa o espao de opinio para lanar dvidas. A notcia da internet sobre as eleies no Peru desnuda os descalabros da acessibilidade tec-nolgica, a ausncia de fronteiras da livre expresso no mundo digital. Que fazer com o monstro que habita a individualidade nas psicopatias ou nas sociopatias? Uma pergunta que perturba a euforia dos tribunos da comunicao e a platitude dos neopatas da tecnologia. As sociedades contempor-

    no que tange o Direito Social Informao, cujo eixo de legitimidade a mediao autoral respon-svel em que se inscreve o jornalista. justamente essa autoria que passo a defender. No mais a assinatura individual, mas o mediador-autor que se reporta aos acontecimentos do presente. Na internet, em que se exacerba a livre-expresso dos indivduos, estaria superada a assinatura coletiva da reportagem? O mundo das redes telemticas substitui pelo personalismo a cultura da comunicao annima, universo simbli-co inspirador para o garimpo do reprter? Os vasos comunicantes se auto-regulam, prescindem de

    - ticas, tcnicas, estticas - ou, em resumo, a linguagem dialgica? (Neste momento, no me eximo de confessar minha adeso: h cinco dcadas, optei por ser reprter, embora a formao acadmica e o contexto de poca me empurrassem para o articulismo, a resenha e a crtica literria ou, quem sabe, o editorialismo. Resisti, graas a misteriosas motiva-es e permaneci convicta no lcus da reportagem. Mesmo em funes diretivas em vrias etapas

    prtica da comunicao social. E ainda bem que posso citar 50 coletneas que organizei e 14 livros de minha autoria - todos atestam o ttulo desta interveno.) Feito o intervalo intimista, retome-se a fora da autoria na mediao coletiva. Se ela se tor-na explcita na opinio assinada no campo das idias, da persuaso, das interrogaes conceituais nas mdias tradicionais ou dos juzos de valor dos internautas, quero sublinhar a partir de agora a marca de criao do jornalista - diga-se, reprter - no processo de interao social. Nos estudos dos jovens pesquisadores da escrita digitaldo mediador-autor que, no importa os suportes tecnolgicos da comunicao, cria condies para

    Diria, como educadora, que no diverso o que acontece na relao professor-aluno, presencial ou distncia: o signo da relao s acontece se o mestre se desfaz do signo da divulgao.

    comunicador social ou educador. A prtica, no entanto, se realiza no modo dogmatizado de -raisna empresa de comunicao, na instituio pblica, nos grupos sociais organizados ou no organi-zados, ou na autonomia on-line, quase sempre vence a inrcia do vetor EU para o Outro objeto. Se formos semntica de comunicao, substitumos a mecnica da difuso pela dinmica dialgica, em que emerge um complexo EU-TU, para lembrar Martin Buber. Ento, a produo simblica se confronta com obstculos que exigem laboratrios epistemolgicos e de viso de mundo no dese-nhados nos tradicionais aprendizados tcnicos. Por isso se impe a pergunta: o autor de assinatura coletiva nasce feito? Pode ele se formar no espontaneismo da vivncia? Especialistas de reas como, por exemplo, medicina, qumica, fsica, matemtica, sociologia, histria ou antropologia podem ser recrutados para a reportagem? Quanto

    ao longo caminho da aprendizagem no Dilogo Social. Quanto aos autodidatas, a questo de fun-

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  • do a difcil ruptura entre a monologia reducionista e a complexidade multilgica. O reducionismo mobiliza as explicaes epidrmicas do acontecer humano; a sutileza da mente complexa cria estra-tgias da possvel compreenso dos fatos sociais. Tanto o autodidatismo como as tcnicas da origi-

    compreensiva de um reprter procura articular as contraditrias verdades do mundo volta. O comportamento egocntrico, inerente ao indivduo isolado do convvio ou at mesmo do que circula em sociedade, fechado em perguntas e respostas prontas, ergue naturalmente muros que impedem a dialogia. Da a necessria experincia de sensibilizao perante o coletivo. Ainda no in-

    -dividual no oferece a oportunidade de conscientizar a experincia social. Na universidade, em seu

    individual para se disponibilizar escuta dos outros. O laboratrio de ensino-aprendizagem con-templa assim a abertura ao dilogo.

    -nomin-lo de Gesto da Arte. Tanto na graduao disciplinar - formao de jornalistas - quanto na ps-graduao inter e transdisciplinar, o laboratrio de imerso na arte d linguagem dialgica uma motivao complementar ao trnsito social da reportagem. Os artistas nascem e se inserem permanentemente em um povo, a marca identitria intransfervel. Da que o aprendiz da dialogia, ao mergulhar na cultura, por meio do contato com a oratura, e na arte, por meio da literatura (lato senso), descobre o encantamento do coletivo. Resulta ento uma narrativa autoral, inspirada no fr-til cruzamento Povo e Personagem (ttulo da tese de livre-docncia que defendi em 1989).

    , realizada na USP, bem como em outros espaos sociais (Braslia, Salvador e Mococa, cidade do interior de So Paulo) rene, pela reportagem de 29 edies, aproximadamente 600 autores. Qualquer um desses media-dores-autores que esteja espalhado pelo mundo - em Barcelona, no interior do Par, em Manaus,

    esteja ele trabalhando como autnomo ou em empresas de comunicao tradicionais. Ao encontrar um desses jornalistas que conheci na primeira juventude, percebo o brilho de autor numa assinatu-ra coletiva. Uma parte deles volta universidade para, na ps-graduao, retomarem o laboratrio

    A permeabilidade ao outro enquanto projeto de vida implica, pois, na desconstruo dos pr-

    reducionista que, partida, pr-pauta o mundo. Difcil achar a mente complexa que viaja no pro-cesso de construo de pauta, por meio de uma interao criativa na experincia social. A curiosi-dade, ento, descarta as certezas apriorsticas, as travas ideolgicas e aciona a busca de mltiplas

    Em laboratrios epistemolgicos se trabalha com a racionalidade esquemtica que a vulgata positi-

    Saber Plural e a Crise de Paradigmas pe em relevo as neurocincias. Estas, por sua vez, nos ad-

    a mente consciente, sensibilizada pelos cinco sentidos, que nos faz abertos ao mundo e sua circunstncia. Por isso, na reportagem enquanto dilogo social, a observao vai frente da tcnica de entrevista. Se esta j mereceu revises crticas no jornalismo, pouco se presta ateno no aparato sensvel em que se d o contato com o outro e o mundo. Na captao plena, os sentidos se mobili-

    comunicao e da experincia de formao universitria de jornalistas, diria, de acordo com o psica-nalista colombiano Luis Carlos Restrepo que a observao do reprter entregue ao destino autodi-data padece de analfabetismo afetivo. Quando circulamos socialmente tendemos a olhar o que nos interessa e ouvir o queremos; no exercemos o faro, nem o paladar, muito menos o toque sensvel; disso resulta no uma observao rica e sutil, mas um enquadramento da realidade sem a dinmica das imagens mentais in-formadas pelos cinco sentidos. Restrepo alerta para a cultura reducionis-

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  • ta que se divorcia dos afetos. O neurocientista portugus Antnio Damsio descreve, na anatomia cerebral, como estar afeto a, o sentimento complexo do mundo, se funda nos sentidos e chega ao crebro do sapiens na trama neural que se completa na deciso consciente. O que o neurocientis-

    stio da mente como o agir responsvel, tico, resulta do pleno casamento entre o sentir e o pensar. E para permanecermos nas neurocincias, vale lembrar tambm Gill Taylor, a cientista que curou o prprio crebro. Se testemunho parte da ausncia de movimentos e do sofrimento do derrame para mostrar a misteriosa anatomia da viagem do silncio, da paralisia, ao retorno vida social. Entre as vrias e preciosas prescries que Gill Taylor faz a mdicos e paramdicos, seleciono apenas uma, a 14 de quarenta: Apresente-se ao mundo sinestesicamente. Deixe-me sentir tudo. (Sou uma criana novamente.) A experincia do reprter passa por a: estar afeto ao parceiro de Histria, aproximar-se dele e de seu contexto coletivo com os sentidos-radares capazes de motivar a interao humana no convvio dos diferentes, criar uma paisagem original de trabalho que passa pelos cdigos no-verbais e pelo silncio e chega ao dilogo possvel da verbalizao. O processo al-cana um nvel simblico muito mais abrangente do que uma simples entrevista pr-pautada. No h termos de comparao. A noo de interao social criadora vem da pedagogia dos afetos, no encontro entre edu-cador-educando. Verdadeiramente uma epifania que pode ou no ocorrer na escola. Mas ao nos deslocarmos para a tecitura das narrativas da contemporaneidade, a autoria de assinatura coletiva

    atualidade. Em qualquer circunstncia, a observao-experincia (com ressonncias na observa-o participante da antropologia) envolve as falas da entrevista de virtualidades criadoras que esto margem na tcnica Pergunta-Resposta (P-R) tradicional. Ainda que se recorra exclusivamente a conceitos, nmeros, declaraes polticas ou juzos de valores em porta-vozes de poderes constitu-dos, um mediador-autor no se satisfaz com as respostas fechadas a suas perguntas tambm fecha-

    apressada da entrevista desaparece a cena viva motivadora da troca criativa dos sentidos humanos. -

    tagonistas da linguagem dialgica se transformam. Assim o signo da educao acontece; assim o sig-no da comunicao pode acontecer. No se esquea que ainda h dois momentos culminantes: a narrativa de autor e a circulari-dade complexa emissor-meio/mensagem-recepo. Recepo, cus, cheia de mistrios. Por mais que se tente sistematizar os estudos da ao receptiva, sempre surgem surpresas com o leitor que se encontra aleatoriamente no caminho e lhe diga, na multido, leio seus textos. S transitando no mundo, na persona de reprter sensvel ao inusitado, possvel viver tal experincia, que culmina em um forte abrao presencial. Haveria aqui oportunidade para relatar achamentos surpreenden-tes de recepo que remetem mais para a arte da viagem do que para os conceitos de recepo. Me sinto alimentada pela experincia do reprter que, em sociedade, abraa a emisso e a recepo no esforo dialgico.

    importncia da esttica da narrativa, perceptvel na arte, na literatura em particular, e que se trans-pe para a autoria das narrativas da contemporaneidade. Outro captulo para laboratrios, para aprendizado contnuo e, ao mesmo tempo, intrinsecamente ligado dinmica da reportagem. Ou seja, no h narrativa da contemporaneidade sem reportagem, nem reportagem sem narrativa. claro que quando o articulista provm da literatura, a esttica se traduz numa narrativa sedutora,

    nas entrelinhas. O assassinato das crianas em Realengo deu margem para uma tipologia autoral inesgotvel, do editorial aos artigos, comentrios e crnicas de ocasio. Mas raros os textos que se valem da ao ou narram os movimentos da cena trgica como o do poeta Ferreira Gullar na Folha de S. Paulo de 17 de abril de 2011 (Ilustrada, E8). O casamento, porm, da arte com o jornalismo d reportagem as virtualidades poticas, quebrando os paradigmas da palavra opaca, burocrtica que

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  • adota as frmulas e no se permite as formas autorais.

    Rodap ou sumrio da estilstica de autor

    Embora no possa desenvolver neste texto a proposta da estilstica de autor, objeto de outros -

    ca Narrativas da contemporaneidade, faz-se necessria a articulao dos apontamentos anteriores

    -tiva. Uma das diferenas estilsticas da reportagem em relao assinatura do artigo, comentrio, editorial ou pitacos da livre expresso nas infovias se traduz no texto polifnico e polissmico. H uma competncia tcnica (racionalidade complexa), uma sensibilidade tica (cumplicidade afetiva) e originalidade esttica (marca de autor) ao orquestrar mltiplas e dissonantes vozes, bem como ao editar a leitor cultural dos acontecimentos contemporneos. O exerccio dessa virtualidade faz dele um pro-dutor de sentidos, um agente da produo simblica de seu tempo. Assim, ao se deslocar do EU autoral para a alteridade captada no contexto coletivo do pre-sente, a narrativa da reportagem se defronta com mltiplas vozes, mltiplos comportamentos, ml-

    criador da assinatura coletiva se perde e se acha na inquietude sem as ncoras engessadas nas fr-mulas da gramtica do jornalismo. Ou melhor, a esttica inovadora ensaia uma narrativa, ato cria-dor de autoria ou prazer esttico de escrever um cosmos. A se funda sua assinatura, cuja batuta rege, tal qual o maestro, a sinfonia social e o imaginrio coletivo. As foras simblicas que a se cru-zam diferem das ideologias reducionistas, das certezas e dogmas estabelecidos ou dos juzos de valor queima roupa. O signo da relao,tema de pesquisa recorrente, se alimenta, acima de tudo, na dinmica processu-al de trs foras simblicas, reinterpretao que desenvolvi h dcadas inspirada na teoria do belga Jean Lohisse. A polissemia se faz presente, em primeiro lugar, nos sentidos do poder (qualquer for-ma de poder) e se pretendem determinantes ou a imposio dos lidertipos; mas travam uma luta nem sempre vitoriosa nos embates das culturas - a dinmica dos osmotipos; e quer se queira ou no no mbito da conscincia, o processo simblico pressionado pelos valores universais do humano ser a subjetividade dos arqutipospara a osmose cultural e, muitas vezes, sem pauta explcita, se deixam tomar pela arquitipia huma-na, porque esta atravessa o corao como, por exemplo, o assassinato de crianas ou o ato patolgico de jogar um recm-nascido no lixo. O laboratrio da narrativa se reencanta nessas descobertas e gradualmente o pulso autoral se motiva no mergulho do complexo coletivo para da extrair uma assinatura polifnica e poliss-mica. A arte de tecer o presente se constri sob a regncia da autoria, uma textura compsita de va-

    um favor e outro contra uma caricatura que exige desmascaramento. O mundo no nem dicotmico nem monolgico. Mire-se, outra vez, o gesto da arte. Nessa experincia, encontra-se a sutileza que sacode reducionismos e revela ambiguidades do humano. Basta fruir (no analisar) o protagonismo das personagens literrias, a trama incerta e no

    embalar no imprevisvel da msica; ou se emocionar no teatro; ou deslizar nas metforas das artes plsticas. Cmplice no gesto da arte, o leitor cultural, o jornalista, se torna afeto ao povo que o circun-da, cena dramtica do cotidiano (como j escrevi, forma-se uma aliana entre povo e personagem).

    As fronteiras estilsticas se borram, apenas subsiste, no jornalismo, a concretude do acontecimento do presente e do protagonista social, com identidade registrada, diante da trama atemporal da lite-ratura e de suas personagens compsitas, como diria Marguerite Yourcenar ao apresentar o impe-rador romano em seu romance Memrias de Adriano.

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  • O jornalismo de autor, ou melhor, a reportagem da cena social, do real simbolicamente pre-

    algumas das habilidades a serem cultivadas no laboratrio das narrativas da contemporaneidade. A comear, a concepo de narrador que, diferentemente do autor, no est no domnio da realidade (pessoa concreta) e sim, constitui uma instncia literria. Na estilstica contempornea, cuja matriz terica provm da narratologia, este j um fato consumado. Autor, personalidade real; narrador, criao literria de quem conta uma histria, apresenta uma situao, fala pela voz dos protagonis-tas da cena. Tem sido muito rica, nos laboratrios de narrativas da contemporaneidade, a experi-mentao de mltiplos narradores. Tal descentralizao do Autor no corresponde a nfases forma-listas, mas responde ao esforo democrtico de sair do EU para se fundir no TU e nele apreender a sua fala, seu gesto, sua maneira de ser. A terceira pessoa da prtica jornalstica tradicional no ento uma camisa de fora, mesmo porque constitui a iluso do relato imparcial e objetivo. J o narrador mutante encontra sintonias,

    cartilha, os manuais, as gramticas no permitem essa atitude estilstica. Em dez anos no jornal O Estado de S. Paulo -mos mltiplos narradores e nunca houve qualquer cerceamento por parte de chefes conservadores que exigissem a terceira pessoa objetiva do jornalismo.) O narrador mutante, que assume vrias pessoas verbais, no exclusivamente a impessoalidade da terceira, leva o autor pesquisa das falas

    jornalista de fato um leitor cultural da contemporaneidade, como pode prescindir da vivacidade da oratura para se fechar em cdigos asspticos e estandartizados? O retorno da leitura dos primeiros exemplares da srie nas escolas pbli-cas de segundo grau da capital trouxe ao projeto de pesquisa, Dilogo Social, subsdios preciosos.

    cena viva, ou seja,

    como dizem os norte-americanos, a reportagem se traduz numa story. Mais um ponto de contato com a narrativa artstica da literatura, do cinema, do teatro - contar uma estria humana, meio ca-

    -tos abstratos no seduzem o leitor. Este se amarra na cumplicidade da ao, da aventura humana do real ao imaginrio, como diria Mlton Greco. Est certo, no sejamos radicais. Sinopses informativas so necessrias ao jornalismo como

    story representa o mundo vivo em que as pessoas se movi-

    palavra potica se impe perante a palavra conceitual. A narrativa d conta das lutas da vida, seja no vis trgico ou no vis cmico, enquanto os relatos ridos do realizou-se ontem congelam a ao da sobrevivncia. (No por acaso que tenho intercalado narrativas ou contado histrias no meio de meus trs livros mais recentes que discorrem sobre noes epistemolgicas.) Reportagens de guerra como as contemporneas na Lbia s fazem Histria no Jornalismo se trouxerem a marca narrativa de autor ao criar cenas e protagonistas da ao coletiva. A palavra potica traz pauta laboratorial uma agenda de pesquisa: para narrar o Outro e sua Circunstncia, preciso passar alm da dor, lembrando Pessoa. Neste caso, a metfora da dor seria o despojamento da segurana oferecida pela gramtica da enunciao jornalstica. O criador da as-sinatura polifnica e polissmica se lana, sem rede de proteo, escuta do modo de ser, modizer (ttulo de minha tese de doutorado, em 1986) dos que nos cercam nas suas diferentes identidades culturais. No h como se despir de dogmatismos e criar literariamente narradores descentraliza-dos, se no se pesquisam falares, comportamentos, vises de mundo, imaginrios que em muito ul-trapassam a impessoalidade declaratria da fonte de informao tradicional. Esta, quase sempre

    A insistncia se faz necessria: vamos literatura e a encontramos a assinatura cultural ex-plcita na potica da linguagem. Como pasteurizar o modo de dizer, que expressa o modo de ser, das

    -dvel da linguagem literria, inspirada na oratura do povo e transcriada na prpria sintaxe, na se-

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  • mntica, nas ousadias morfolgicas. (Observao margem: eles no cometem o equvoco de alte-

    histricos.) No jornalismo, sempre que se encontra um texto, no importa o cdigo predominante, iluminado pelo modo de ser e, portanto, modo de dizer brasileiro, guarda-se na memria das peas de autoria. Em qualquer mdia - impressa, eletrnica ou on line o criador dessa assinatura deixa o terreno do labor fugaz para irradiar a aura da estrela candente. Tais virtudes, acrescidas do rigor nas sinopses informativas e dos diagnsticos e prognsticos dos especialistas formam um mural do presente que d reportagem o estatuto de coluna vertebral da narrativa polifnica e polissmica. Sem menosprezar o quadro conceitual de fundo de artigos, comentrios, crticas, resenhas ou editoriais, no ato de reportar que se percebe a circunstncia presente, passvel de tratamentos analticos. Nunca esqueo de citar o ineditismo da atitude do so-cilogo Lcio Kowarick (USP), quando convidado a escrever um artigo sobre a periferia paulistana para compor livro margem do Ipiranga (n8 da srie ), pediu para ler antes as reportagens j realizadas. Com isso, ele alegou se impregnar do protagonismo e do contexto dos pontos extremos da cidade, para ento propor sua anlise, intitulada Periferias e subcidadanias. E mais: no corpo conceitual da anlise, o cientista social inseriu falas vivas retiradas das reportagens. Cabe tambm ao reprter cultivar a abrangncia da vivncia que capta na reportagem, reen-cenada na narrativa, e da conceituao dos analistas. Se possvel a interpretao jornalstica une a simbolizao da ao social e um mundo das idias ou das mensuraes estatsticas. A potica da interpretao se enriquece, ao compar-la com a opinio individualizada. O protagonismo humano e histrias de vida, contexto coletivo, razes histrico-culturais e diagnsticos/prognsticos dos es-pecialistas comparecem arte de tecer o presente ou a reportagem assinada por um vocalizador-ar-ticulador da voz coletiva. A narrativa da contemporaneidade se mostra ento frtil na racionalidade complexa, irrigada pela sensibilidade tica e a inovao esttica. H espao na montagem simblica, cuja luz central se irradia das histrias humanas, com nfase nos annimos e no cotidiano, para o contexto regido por foras de poder econmico, poltico, cultural e analisado pelos especialistas. No painel da assinatura coletiva, o autor da reportagem polifnica e polissmica traz tecitura de seu

    inter-pretao ensaiada no esforo de compreenso do acontecimento do presente. Tem sido fundamental neste laboratrio o convvio interdisciplinar da pesquisa Saber Plural e a Crise de Paradigmas, a partir de 1990. Constata-se, nos seminrios, que os dilemas de paradig-

    -micos ou dos educadores, s para citar alguns exemplos. Da ser oportuno que os estudiosos da co-municao coordenem linguagem dialgi-ca, com munio reforada. Das grandes questes debatidas com os pares do Saber Plural, extrai-se um aprendizado maisculo: a emergncia da relao sujeito-sujeito, no lugar da autoritria relao sujeito-objeto. Haver laboratrio epistemolgico mais contundente para atuar na dialogia social?

    -cientistas trazem mesa de negociaes simblicas, encenadas nesses seminrios, a epifania do mistrio e da incerteza. Ou

    Como resumir racionalmente o grande e movedio terreno do mistrio e da incerteza no imaginrio coletivo e sua representao na estilstica do Autor? Nenhuma segurana tcnica, nenhuma tecnologia avanada, nenhuma inteno poltica resguarda a busca eticamente solidria da

    dcadas tem sido altamente compensador.

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  • Referncias bibliogrficas(Por ordem de citao)

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    MEDINA, Cremilda (org.). (publicaes na Universidade de So Paulo): Virado

    -

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    . Salvador, Edio da Ps-Graduao das Faculdades Jorge Amado, 2007.

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  • Apprentissage et march du travail. Les premires expriences journalistiquescomme indicateurs de mutations

    Pierre Leroux CRAPE IEP de Rennes / UCO Angers

    Marie-Christine Lipani VaissadeMICA- Bordeaux III

    Institut de Journalisme Bordeaux Aquitaine

    Resumo

    -nalizao no percurso de formao em jornalismo. O grau de investimento dos estagirios no jorna-lismo impresso paradoxal: aqueles que teriam menos a aprender os melhores formados inte-

    -res, enquanto que os que no esto to bem (ou pouco) formados que necessitam de mais experi-ncia e acompanhamento so confrontados ao risco de marginalizao em uma experincia pouco formadora de observao no-participante. A pesquisa apresentada aqui fundamentada sobre o

    Introduo

    Les stages ont acquis en France de faon gnrale une place de plus en plus grande dans les formations quelles que soient par ailleurs leur nature. Leur nombre a presque doubl en moins de cinq ans, passant de 800 000 1,5 millions et concerne un tudiant sur deux dans les cursus de Master de Lettres, Sciences Humaines et Sociales1. Dans les cursus universitaires classiques et sp-cialiss, dans les formations secondaires, comme aux diffrentes tapes des tudes suprieures et professionnelles (coles spcialises et Masters), les temps amnags pour les stages ont pour fonc-

    supplment de professionnalisation qui manquerait aux formations. En nous intressant dans ce travail au stage comme possible indicateur des mutations du mtier journalistique, nous avons explor deux dimensions et trois axes. Les deux dimensions sont relatives la relation qui stablit pour un stage entre, dune part, une structure accueillante et le stagiaire dautre part. Procdant par entretien, nous avons rencontr des reprsentants de ces deux ples : des stagiaires et des journalistes en poste amens jouer un rle dans lencadrement des stagiaires.2 Trois axes ont par ailleurs t explors pour lensemble des entretiens. Le premier est temporel : quelle est lvolution des mises en situation professionnelle des stagiaires ? Quelles sont-elles actuellement et comment les professionnels en poste analysent les causes dventuelles trans-formations en rfrence leur propre apprentissage du mtier des poques plus ou moins loin-taines, comme leur exprience personnelle dencadrement de stagiaires ? Le deuxime concerne les possibles incidences des transformations de lorganisation du travail (gestion du temps), de la

    -ques dapprentissage offertes des jeunes peu expriments. Le troisime concerne les modalits dapprentissage : quelles sont-elles et quelles formes de savoirs et de savoirs faire condui-sent-elles ? Nous questionnons ici plus particulirement le degr dinvestissement des stagiaires (en le mettant en relation avec les exigences de formation attendues des stagiaires), ainsi que la pla-ce du compagnonnage dans lexprience de formation des stagiaires. Nous navons pas explor dans notre travail le troisime ple de la contractualisation : lorganisme formateur dont relve

    1 Source : Observatoire de la vie tudiante.

    2 Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo.

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    GT1 - Sociologia do jornalismo

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  • ltudiant stagiaire. Il semble que, des degrs variables cependant, les structures de formation (au sens large) laissent une grande libert aux entreprises accueillant des stagiaires pour traiter le vo-let formation , se contentant principalement dun contrle administratif de routine de la lgalit (temps de travail, dure du stage) et de ladquation entre le stage et la formation, Ces deux condi-tions tant au moins dans les conventions toujours remplies, les exigences de lorganisme de forma-tion vont rarement au del et semblent laisser toute latitude la structure accueillante pour ce qui concerne les modalits concrtes de la formation. Les conventions de stage, signes par lentreprise daccueil, ltablissement scolaire, et ltudiant concern, prcisent, sans trop de dtails, le contenu du stage. Malgr tout, une grande partie des tudiants, surtout ceux qui ne suivaient pas une forma-tion spcialise au moment de leur stage, ne savaient pas trop quelles seraient les missions (ven-tuelles) effectuer.

    Le march des stages: un premier march du travail

    Les parcours3 conduisant en France aux mtiers du journalisme sont varis. Profession ou-verte en thorie (pas de diplme exig), elle est aussi relativement ferme sous dautres aspects : re-crutement social, niveau dtude.4 Le stage tmoigne bien de ce paradoxe. Dune part, les stagiaires

    -plique un niveau gnral et une matrise technique minimale de lcrit qui apparat comme un pra-lable aux structures accueillantes. Et, dautre part, les stagiaires insistent sur le fait que la recherche de stage na pas t, dans lensemble5, une tape trop ardue. Sous certaines conditions, la profes-sion reste donc ouverte. Les professionnels de linformation sont trs attachs cette caractristi-que et, dans les structures daccueil les journalistes en poste, en rfrence leur propre pass soulig-nent limportance de conserver cette ouverture, notamment travers laccueil de stagiaires. De fait, laccs ce mtier passe encore par le terrain, malgr une profusion de formations en journalisme en France6 et les rdactions accueillent des stagiaires venant des horizons les plus divers mais avec un niveau scolaire moyen voire lev. Sur les douze rcits dexprience entendus, seulement deux tudiants ntaient pas en relation avec dautres jeunes collgues pendant leur stage7. Dans la plu-part des situations voques, les stagiaires taient entours au moins dun autre tudiant, parfois deux, voire davantage (France 3, par exemple, recevait en mme temps quatre stagiaires). La ma-

    beaucoup venaient dun institut dtudes politiques, dcoles de commerce, dEHESS.

    il sagissait, dune part, dun stage conventionn entre lentreprise de presse et ltablissement sco-laire, et, dautre part, parce que les recherches personnelles du candidat taient le plus souvent appuyes par le personnel enseignant. De nombreux tudiants mettent cependant en avant le poids dcisif des relations. Ainsi, en raison mme de la composition de la population enqute (ayant ob-

    doute affaiblies. Le point de vue des accueillants apporte cependant des nuances importantes quant louverture de la profession. Cest dabord limportance du nombre des postulants qui est frappan-te. Un responsable dune rdaction dpartementale dun quotidien rgional fait tat dun nombre important de demandes, valu en moyenne vingt par jour. Ds lors les critres de slec-

    3 Nous entendons ici par parcours les voies empruntes par les individus pour les conduire loccupation dun poste de journaliste tel

    4 Le pourcentage des individus nayant pas le baccalaurat parmi les nouveaux titulaires de la carte ont t divis par deux, passant de 12

    % en 1990 5,8 % en 1998. Sur le recrutement social, cf p. 131 et suivantes les tensions entre dsir douverture et fermeture travers des tudes

    slectives (Devenir journaliste, La documentation franaise, 2001).

    5

    6 Prs de soixante dix formations publiques et prives recenses.

    7 Il sagit de lagence de Draguignan et LEcho du Centre. Pour le premier exemple, cela sanalyse par le fait que les agences locales ont

    rarement la possibilit daccueillir plusieurs stagiaires en mme temps. Pour LEcho du Centre, la faible notorit de ce titre peut expliquer labsence

    de stagiaire en grand nombre. Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo.

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  • tion sont mcaniquement de plus en plus levs, et tendent valoriser tout ce qui peut de diverses faons simposer comme des moyens dvaluer a priori ladquation du stagiaire au poste quil pour-rait occuper, fermant de fait un peu plus la porte des postulants sans exprience. Ainsi, nombre

    de relations que ce soit simplement pour obtenir un stage ou pour que celui-ci corresponde leurs critres particuliers de choix. De la mme faon, ils considrent le stage comme un lieu de constitu-tion dun rseau pouvant leur permettre dans le futur dobtenir le stage quils souhaiteraient, assorti de meilleures conditions globales dexercice (possibilits de rmunration, pression moindre, tra-vail plus intressant, exprience plus riche). De faon similaire la hirarchie ascendante des postes dessins dans un idal de carrire, on trouverait chez la plupart des stagiaires une progression du mme ordre, aboutissant par exemple, dans le cadre des stages cole un remplacement dt

    grands mdias du secteur de laudiovisuel (privs et publics) alors que, linverse les quotidiens r-gionaux apparaissent aux stagiaires - et sont effectivement - plus accessibles. La premire exp-rience est donc dterminante pour le postulant la formation puisquelle joue un rle autorisant la constitution des premiers lments dun capital professionnel valorisable par la suite pour dautres stages, un emploi saisonnier et lentre dans une formation professionnelle. Une stagiaire dune co-le labellise souligne ainsi quil ny a quun seul tudiant navoir pas effectu de stage dans sa pro-motion (25 tudiants) navoir pas eu dexprience dans le journalisme auparavant.

    --

    lautre les tapes daccession un emploi stable sallongent de plus en plus et devient parfois inac-cessible. En ce sens, le stage, joue le rle dun premier sas de slection des postulants la profession, quand bien mme le tri reste encore peu slectif, il devient quasiment inimaginable denvisager dexercer le mtier sans passer par lexprience du stage. Le phnomne nest pas nouveau, mais il nen a pas toujours t ainsi. Un journaliste proche aujourdhui de la retraite voque ainsi le dmar-

    qui la fait choisir de dbuter dans le journalisme sans exprience pralable.

    De relles mises en situation

    Les propos des stagiaires rvlent assez souvent une reprsentation du travail journalisti-que trs loigne de la ralit. Les jeunes ont encore une certaine tendance idaliser la profession, le journaliste est souvent assimil limage du grand reporter qui parcourt le monde. Cependant, mme si pour certains, ce stage pratique comportait une part dinconnu, la majorit des stagiaires, y compris ceux les moins expriments, sattendaient (et souhaitaient) aller sur le terrain ; au-trement dit, partir en reportage. Cest une composante cl du mtier dans limaginaire des futurs journalistes et, bien que peu prpars et forms de telles pratiques, le stage constitue, de ce point de vue, une opportunit. Dans la pratique, les stagiaires taient, dans la majorit des situations, in-

    proposer des sujets. Ils sintgraient dans le quotidien de la rdaction, avec parfois, pour certains, une seule journe en compagnie dun journaliste professionnel, avant dtre lch dans la nature. Pour ces jeunes, la dcouverte du mtier passe invitablement par le faire , par une mise en si-tuation professionnelle directe mme si certains ne se sentent pas vraiment oprationnels limage de Marthe (21 ans) qui se trouva fort embarrasse lorsque le rdacteur en chef de LEcho du Centre lui proposa daller enquter sur la prostitution Limoges8. Tout se passe comme si, la valeur des sa-voirs techniques enseigns dans le cadre des tudes avait une valeur faible comparativement cel-le que les professionnels peuvent donner, quand bien mme les contenus seraient sensiblement les mmes. Cela peut sexpliquer par une rfrence dominante la technique dans le travail donn au

    papier le premier jour de stage (sur louverture dun magasin) et nayant pour seule recours face

    8 Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo.

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  • la banalit et au manque dintrt du sujet que dappliquer la lettre les consignes dcriture dun collgue en poste. A la diffrence des travaux donns en cours, valorisant souvent une dimension plus noble et plus ambitieuse du mtier par les sujets et lautonomie de traitement, les premiers exercices en vraie grandeur implique un retour aux fondamentaux et une certaine abngation. Ces mises en situation professionnelles sont assez frquentes dans la presse quotidienne r-gionale. Louise (20 ans) aux DNA insiste sur ce fait. Ds mon arrive, dit-elle, jai t mise con-tribution et je suis partie en reportage . Mme sentiment chez Annissa (24 ans) la NRCO. Je partais seule la journe la recherche de sujets et de reportagestous les jeunes entendus, voquent une implication trs concrte au sein de leur rdaction respecti-ve, lexception du stagiaire intgr au sein de France 39, ce qui nest pas tonnant. Les mdias au-diovisuels nationaux accueillent beaucoup de jeunes gens pour des stages dobservation, mme lors-que la dure prvue pour le stage est relativement longue. Les expriences pratiques sont rserves aux tudiants des coles reconnues. Aucun reportage sur le terrain non plus pour Nastasia (23 ans) en stage au sein du site telerama.fr. En revanche, Julien (19 ans) en stage (chaine de tlvision locale Bordeaux), est souvent parti en tournage sur le terrain, accomplissant la fois un travail de

    Du cot des structures accueillantes, il semble bien que la volont dune immersion rapide dans le quotidien du mtier varie en fonction des besoins plus gnraux en personnel. A lexception

    exigences de rsultat sont avances par les journalistes en poste comme des freins la mise en situ-ation professionnelle du stagiaire ; dans la plupart des cas, lapport des stagiaires apparat comme non ngligeable. Interrog sur cet apport, les journalistes et responsables de rdaction de PQR peu-

    -bre de titulaires que cest un plus et laisser au stagiaire linitiative de sinvestir ; alors que dans un titre ayant subi une rduction globale de ses moyens on ne sert pas le caf et les petits gte-aux (selon un journaliste en poste) pour accueillir le stagiaire, mais on lui donne immdiatement sa premire leon de journalisme (il doit avoir pris ldition du journal de la veille et la parcourir avant de rejoindre la salle de rdaction) avant de le prsenter aux collgues lors de la confrence

    -

    savoir-faire ce qui relve ct employeur dune ncessit et de procdures routinires. Ainsi, un ou deux postes de travail (parfois plus) sont rservs aux stagiaires, et les procdures daccueil du stagiaire sont routinires, puisquils se succdent tout au long de lanne10. Le confort du sta-giaire apparat galement comme un moyen dutiliser rapidement sa force de travail et de permet-

    le stagiaire est susceptible de sen servir pour ramener des images ou des vidos. Si on le compare des stages dans dautres milieux professionnels de lunivers de la communication, il ne sagit pas l

    -faisantes au regard des ncessits du travail ds lors quils prennent place dans des structures orga-nises, professionnalises et hirarchises comme cest le cas dans le journalisme. Lapprentissage technique apparat dailleurs comme un passage oblig de la plupart des sta-ges. La prise en main du matriel pour devenir rapidement productif donne lieu ce qui est bien souvent le seul moment formel dapprentissage. De ce point de vue, la tendance du journalisme

    mutation mais plutt dun processus qui trouve dans certains cas ses limites par la multiplicit des

    9 Ce stage France 3 consistait assister aux confrences de rdaction, la fabrication des sujets, passer dun service lautre ltudiant

    na pas t autoris partir sur le terrain avec un journaliste.

    10 Dune manire gnrale, les tudiants interrogs ont la perception davoir t bien accepts par lensemble des professionnels de la rdac- Dune manire gnrale, les tudiants interrogs ont la perception davoir t bien accepts par lensemble des professionnels de la rdac-

    prcises. Cependant, Julien (22 ans) en stage au sein de LHumanit remarque que les journalistes, surtout les plus jeunes, sont assez blass de

    voir circuler des stagiaires . Un ressenti quelque peu similaire chez Nastasia (23 ans) au sein du site telerama.fr. Signalons que le fait pour les

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  • pratiques techniques ainsi regroupes. Du temps lointain en presse crite de la saisie des textes par des clavistes celui plus rcent de leur mise en ligne par un salari ddi cette tche (en voie de disparition), de la disparition des quipes de tournage au JRI (qui peut aujourdhui cumuler le

    -

    a priori fa-vorable dans ce domaine, leur familiarit relle ou suppose avec les technologies nouvelles. Mais les journalistes en poste soulignent quil sagit l dune transformation importante du mtier sans pour autant la rejeter et quelle a connu une acclration ces dernires annes. Deux points sont relevs par les journalistes titulaires. Dune part les nouvelles tches sont venues sajouter aux anciennes, ce qui nest pas compens par le raccourcissement des formats pourtant soulign par la plupart de nos interlocuteurs. Dautre part, les ncessits dune production en continu ont trans-form lautonomie dorganisation de la journe de travail. En presse crite, le journaliste disposait dune libert damnagement du temps jusqu lheure du bouclage, les exigences dalimenter le site Internet, de mettre en ligne rapidement brves, photos et vidos laissent peu de marge de manu-vre. Dans laudiovisuel, sur une chane locale, le rythme soutenu, pouvant aller jusqu la produc-tion dune moyenne de trois sujets par jour, ce sont les ncessits de lorganisation du travail qui imposent de rpartir le travail sur la journe pour taler le montage des sujets. On voit bien chez les

    travail sous peine dallonger celle-ci. La ncessit de travailler rapidement fait partie intgrante du mtier, moins comme un idal de chasse aux nouvelles et aux derniers vnements que comme un

    Lcriture: une concrtisation professionnelle

    Tous les stagiaires en immersion sur le terrain, (soit en mission impose, soit la recherche dun sujet), ressentent cette exprience comme un apprentissage concret et palpable du mtier. Si

    une forme dautonomie. Jai beaucoup crit : ce sentiment est frquent chez les stagiaires. Ils -

    ptences quils pensaient possder au dbut de leur stage, que ce soit quelquefois par rapport au type

    -

    les petits sujets incontournables ds lors que les titulaires disposent du temps pour couvrir les

    stagiaire se fasse prcocement en raison du manque de personnel titulaire disponible. Reste que le

    du travail du stagiaire, tant ils ne semblent par requrir de comptences hors de portes dtudiants moyens. Cest le cas pour des stagiaires dans la grande majorit des sites sans quon puisse faire vritablement de grandes diffrences entre un titre reconnu ou non. De mme, les routines du tra-vail tudiant se trouve parfois importes dans lunivers du journalisme comme lorsque lutilisation dInternet et de Wikipdia pallie le manque de culture, ou lorsque quil sagit de boucler dans les d-lais un travail dcriture sans illusion sur la qualit du travail rendu. Certains pensent mme avoir normment produit comme Julien (23 ans) au sein de la r-daction de Midi Olympique qui dcrit plus de 20 articles raliss en 2 mois ou Mlanie Presse-Ocan qui, tous formats confondus, totalise 80 articles aprs quelques semaines de stage. Un ar-ticle publi (souvent sign) est le symbole, chez les jeunes, dune vraie concrtisation professionnel-le. Cest donc par lcriture (et la publication) que se matrialise la perception dune appartenance (en partie) une communaut professionnelle. La publication renforce galement, chez ces jeunes, lide que leur orientation professionnelle (devenir journaliste) est la bonne. A regarder plus en d-tail, les productions de ces apprentis journalistes, apparait une disproportion entre un article court

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  • de 1200 signes qui, pour un professionnel est une simple mouture ou un petit compte rendu, et qui est peru, (parfois) par le stagiaire, comme un papier de reportage ou un article de fond.

    Le travail en quipe: une dcouverte

    Bien que trs impliqus au sein de leur diffrente rdaction, ces jeunes journalistes ont affront

    sur lorganisation gnrale de la rdaction et les attentes de cette dernire vis--vis des stagiaires ; ce qui fut pour certains, dstabilisant, du moins au dbut du stage. Peu de relecture, jai d solliciter des conseils Var Matin. Mme son de cloche chez Julien (22 ans) en poste LHumanit. Il est prcis Peu de retour sur mon travail, mme si on me relisait. Je navais pas trop dinformation notamment sur les choix des sujets . Certains attendaient un ac-compagnement plus consquent, en particulier au niveau de lcriture. En effet, pour de nombreux

    Je ne savais pas ce qutait un angle, dclare Julie (21 ans) stagiaire Paris Normandie, jai un peu galr au dbut . Caroline (20 ans) employe Valeurs actuelles dclare : deux rdacteurs mont appris composer un article et mon criture a gagn en densit . Par ailleurs, de nombreux stagiaires ont

    prsenter et dfendre un sujet. Tous sont surpris par le caractre collectif du travail journalistique. Les stagiaires ont dcouvert le travail en quipe, mais aussi les contraintes relationnelles inhren-

    au sein du site telerama.fr, jai bien vu quil y avait des sujets rservs certains journalistes, chacun dfendait son territoire . Le stage est donc aussi vcu comme une occasion de dcouvrir les coulisses dune rdaction avec ses jeux de pouvoir et ses dysfonctionnements. Si lon peut travers de telles perceptions postuler que le mtier tait peru avant le stage comme essentiellement individualis et autonome, plus gnralement, on peut souligner que les stagiaires dcouvrent la nature des relations dans lunivers du travail qui sont

    Limportance du rseau

    Les stages pratiques au sein des rdactions professionnelles clairent- ils sur les ventuelles mutations du journalisme ? Lanalyse succincte de nos entretiens et documents, dvoile, selon nous, plusieurs lments, qui pour ntre pas interprtables comme les signes dun changement profond, sont les prmices de transformation des pratiques professionnelles en particulier celles contraintes par la situation conomique des titres, et par ailleurs, des attentes des jeunes journalistes, de nou-velles manires de penser et dapprhender leur futur mtier. Le march des stages est un march du travail qui a ses particularits mais dont les volu-tions nous renseignent sur des transformations du mtier. Les stagiaires, de plus en plus nombreux

    voire le besoin dans de nombreux mdias dun type de travail important en volume et ne ncessi-

    polyvalence des stagiaires nous renseignent aussi sur ce qui apparat comme un accroissement de la polyvalence allant de pair avec une technicit accrue dans beaucoup de secteur.

    fois le fait que les titulaires disposent de peu de temps y consacrer (bien que plusieurs journalistes partent du principe que quand on veut prendre le temps on le peut ) et/ou que le turn-over le-v des stagiaires donne peu dintrt cet investissement. Ce recours (systmatique) aux stagiaires, plutt quune volont dinstaurer un vrai compagnonnage entre les journalistes expriments et les dbutants, serait aussi le signe du manque de fonds propres des rdactions et dune prcarisation de la profession qui intgre plus volontiers des stagiaires, peu indemniss11, plutt que des pigistes.

    11 Les stages trs courts sont rarement indemniss, seuls les stages de plus de deux mois doivent tre en gnral rmunrs. Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo.

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  • Alors quils sont en situation dapprentissage, et pas toujours oprationnels, les futurs journalistes revendiquent une certaine indpendance qui semble une composante importante des reprsenta-tions du mtier et participe de son attrait. Les jeunes veulent tout de suite tre dans laction. Le stage est le passage oblig pour accder au mtier. En outre, les jeunes ont trs vite, ds leur premier stage, ce qui est relativement nouveau, la perception immdiate de limportance du rseau social. Les jeu-nes ont compris que le stage nest pas seulement un lieu dapprentissage mais le sas incontournable de leur insertion professionnelle. Le stage est aussi utilis pour construire un rseau, pour crer des contacts, des passerelles, du coup il nest plus automatiquement inscrit dans un parcours profes-sionnel cohrent (comme par exemple, un stage au sein dun titre spcialis en sport pour un jeune soucieux de devenir journaliste sportif) mais il est pens comme une opportunit, une porte ouverte,

    -

    Peu voquent la ligne ditoriale, les questionnements thiques, tous ou presque recherchent avant tout de pouvoir exercer, faire du journalisme.

    Pour notre enqute sur lanalyse des expriences de stages de jeunes candidats la profession, nous avons travaill dune part sur environ 70 rapports de stage (de 4 6 semaines) dtudiants de Licence 2 et 3 en information et communication. Nous avons aussi ralis des entretiens semi-directifs pour dgager les indices dune ventuelle transformation des pratiques journalistiques travers, le rcit dexprience et les perceptions de jeunes gens, dsireux de devenir journaliste ; ayant effectu un stage court (de 2 8 semaines) dans une rdaction de presse crite locale, rgionale ou nationale (ou dans un site dinformations en ligne)12. Toutes ces personnes interroges sont (ou taient au moment de lentretien) titulaires dune licence ou en voie de lobtenir. La plupart se prparaient au concours dentre des coles de journalisme reconnues par la Commission Paritaire Nationale de lEmploi de Journaliste (CPNEJ)13. Certains

    communication ou certaines licences professionnelles de journalisme non labellises). Dautres encore (trs peu), se destinaient rejoindre cette profession uniquement par le terrain, cest--dire par le biais de stages pratiques. Notre dmarche, se situe dans une optique dune interview intensive (Morin 1984) et nous avons entendu douze tudiants (14) sur la base du volontariat (15) et souvent dune faon intuitive, lide tant de maintenir une sorte dquilibre entre les ges et les sexes. Les stages obtenus sont les suivants : un mois au sein du quotidien rgional Var Matin, agence de Draguignan, Trois semaines au sein du quotidien national LHumanit, deux mois au sein du bi hebdomadaire Midi Olympique Toulouse, un mois au sein du quotidien rgional La Nouvelle Rpublique du Centre Ouest (NRCO) Tours, deux semaines au sein de la rdaction nationale de , Paris, deux mois au sein de la chaine locale Bordeaux, deux mois au sein du quotidien rgional Paris-Normandie, Rouen, un mois au sein du quotidien rgional Sud Ouest Prigueux, un mois au sein de lhebdomadaire Valeurs Actuelles Paris, trois semaines au sein du site dinformations en ligne tlrama.fr Paris, un mois au sein du quotidien rgional Les Dernires Nouvelles dAlsace (DNA) Strasbourg, et un mois au sein du quotidien rgional LEcho du Centre, Limoges16. Nous avons donc construit une sorte dchantillon probabiliste (De Singly, 2001), tabli sur les lois du hasard dans une population tudie. Nous disposions dune grille de questions prcises. La premire priode de lentretien tait descriptive (dernier stage effectu,

    ralisation de productions.). La seconde tait plus axe sur le ressenti des stagiaires et la faon dont ils intgraient

    entretiens appartiennent des rdactions accueillant rgulirement des stagiaires, et nous avons rencontr aussi bien des responsables de rdaction que des journalistes nayant pas de responsabilits particulires. Pour linstant le travail tant actuellement en cours une vingtaine de ces journalistes ont t rencontrs.

    Ouvrages cits

    De Singly Franois, 2001, Lenqute et ses mthodes : le questionnaire, Paris, Nathan (Coll. 128).

    12 Nous avons aussi entendu deux tudiants ayant effectu leur premier stage dans un mdia audiovisuel.

    13 Les coles reconnues sont : Le CELSA (Paris), le CPJ (Paris), LIPJ (Paris), Sciences Po-Paris-Ecole de Journalisme, Le CUEJ (Stras- Les coles reconnues sont : Le CELSA (Paris), le CPJ (Paris), LIPJ (Paris), Sciences Po-Paris-Ecole de Journalisme, Le CUEJ (Stras-

    bourg), LEJCM (Marseille), LEJT (Toulouse), LESJ (Lille), LICM (Grenoble), lIUT de Lannion, lIUT de Tours, lIJBA (Bordeaux), LIFP (Paris).

    14 Trois tudiants titulaires dune licence dhistoire, deux de droit, deux dune licence information communication, un dune licence de web

    15 Aucune personne sollicite na refus de r

    16 Tous les tudiants effectuaient leur stage comme rdacteur, lexception de la personne employe Paris Normandie qui a altern une

    priode en secrtariat de rdaction et une autre en rdaction. Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo.

    Braslia: Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade de Braslia, 2011.Disponvel em: www.mejor.com.br

    Morin, Edgar, 1984, Sociologie, Paris, Fayard.

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  • Jornalistas Assessores de Imprensa: a tenso entre os campos da comunicao e da informao e a configurao do processo produtivo da notcia

    Giovandro Ferreira Claudiane Carvalho

    Universidade Federal da Bahia, UFBA

    Resumo

    Este trabalho, fruto de uma pesquisa em andamento, busca compreender o processo produtivo da notcia, a partir da perspectiva de um embaralhamento entre os campos do jornalismo e da comu-nicao. Nossos investimentos so com a proposta de entender que posio e tomadas de posio (Bourdieu, 1996) o jornalista, no cargo de assessor de imprensa, assume para garantir um lugar (de pauteiro) no processo de produo da notcia nas mdias convencionais. Alm disso, indicar pistas para uma discusso sobre uma possvel mudana identitria do jornalista.

    O embaralhamento dos campos

    as demarcaes mais tradicionais (ou os referenciais europeus) que os localizam como esferas dis-tintas. Enquanto o primeiro concerne ao contexto da comunicao em instituies pblicas, priva-das, terceiro setor etc, o segundo abarca o jornalismo - o processo de produo, circulao e consu-mo de notcias no campo das mdias (Adghirni, 2004). E , exatamente, no processo produtivo e distributivo da notcia que os limites so borrados e os campos se misturam e se confundem. E essa viso embaada no pode ser atribuda apenas ao trnsito livre do jornalista entre os dois campos,

    -lores do fazer jornalstico. A discusso mais ampla e contempla o processo produtivo da notcia na perspectiva de um encolhimento do campo do jornalismo em detrimento do campo da comunicao (Adghirni, 2004). Alm do trabalho de relacionamento com a imprensa, as instituies das mais diferentes naturezas produzem seus prprios veculos de comunicao (jornais, TV, rdio, internet), denominados, por Sant`Anna(2005), em oposio s mdias convencionais, como mdias das fontes1. Para o pesqui-sador, estas diluem as barreiras entre as funes de fonte e redator e legitimam ao jornalismo insti-

    pblica. Aqui, nossos investimentos so com a proposta de entender que posio e tomadas de posi-o (Bourdieu, 1996) o jornalista, no cargo de assessor de imprensa, assume para garantir um lugar (de pauteiro) no processo de produo da notcia nas mdias convencionais. Alm disso, indicar algumas conquistas que determinaram o reconhecimento e consagrao da rea de assessoria de

    1 Para SantAnna, a imprensa tradicional, progressivamente, vem perdendo a totalidade do domnio da cena informativa, uma

    vez que a opinio pblica passa a ser construda tambm a partir do acesso s informaes pautadas, coletadas, tratadas editorialmente e publiciza-

    das por organizaes de diferentes setores. Ele destaca ainda que essa mdia (que tambm pode ser denominada de mdia corporativa) busca ocupar

    um lugar de fala na agenda miditica. Ver mais em: SANTANNA, Francisco. Mdia das fontes: o difusor do jornalismo corporativo. Braslia : Casa

    das Musas, 2005

    Anais do I Colquio Internacional Mudanas Estruturais no Jornalismo. Braslia: Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade de Braslia, 2011.

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  • imprensa. a) Da consagrao mediao entre fonte e imprensa e a participao no agenciamento da notcia

    Em 1922, quando escreveu a obra Opinio Pblica, Walter Lippmann j levantava uma ques-to que, hoje, dispensa explicaes exaustivas. A complexidade da sociedade contempornea coloca s redaes tradicionais de jornalismo a irrefutvel impossibilidade de cobrir todos os acontecimen-tos sociais. Uma rotina padronizada garante, sim, a produo e distribuio de notcia. Mas,para alm disso, o jornalismo tem observadores estacionados em certos lugares(Lippmann, 2008, 289).

    registro deste obiturio. O fenmeno processual, mas o seu registro que legitima o acontecimen-to noticioso. Onde for que exista uma boa maquinaria de registro, o moderno servio de notcias trabalhar com grande preciso(Lippmann, 2008, 292). O fato do jornalismo trabalhar, na maioria das vezes, com uma matria-prima de segun-da mo (o registro do acontecimento, e no o acontecimento em processo) parece denotar que a prpria natureza da notcia estimula e sustenta um processo produtivo que, hoje, depende das as-sessorias. Lippmann refora: Os eventos que no so pontuados so reportados ou como assunto pessoal e opinies convencionais, ou ento no so notcias. No tomam a forma at que algum proteste, investigue, ou algum publicamente, no sentido etimolgico da palavra, faa uma polmi-c