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1 Caminhos da seda no Paraná: a convergência de diferentes processos migratórios na expansão da sericicultura de São Paulo até o Vale da Seda (PR) 1 Cláudia Siqueira Baltar 2 Ronaldo Baltar 3 Palavras-chave: Processos migratórios; municípios; sericicultura; Vale da Seda 1 Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación Latinoamericana de Población e XX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Foz de Iguaçu-PR Brasil, de 17 a 22 de outubro de 2016. 2 Doutora em Demografia, docente da Universidade Estadual de Londrina e coordenadora do Observatório das Migrações de Londrina. 3 Doutor em Sociologia, docente da Universidade Estadual de Londrina e pesquisador do Observatório das Migrações de Londrina.

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Caminhos da seda no Paraná: a convergência de diferentes processos migratórios na

expansão da sericicultura de São Paulo até o Vale da Seda (PR)1

Cláudia Siqueira Baltar2

Ronaldo Baltar3

Palavras-chave: Processos migratórios; municípios; sericicultura; Vale da Seda

1 Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación Latinoamericana de Población e XX Encontro

Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Foz de Iguaçu-PR – Brasil, de 17 a 22 de outubro

de 2016. 2 Doutora em Demografia, docente da Universidade Estadual de Londrina e coordenadora do Observatório

das Migrações de Londrina. 3 Doutor em Sociologia, docente da Universidade Estadual de Londrina e pesquisador do Observatório das

Migrações de Londrina.

Page 2: Caminhos da seda no Paraná: a convergência de diferentes ...abep.org.br/xxencontro/files/paper/1176-1047.pdfA atividade da produção do bicho-da-seda chegou ao Brasil em 1848, porem

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Caminhos da seda no Paraná: a convergência de diferentes processos migratórios na

expansão da sericicultura de São Paulo até o Vale da Seda (PR)

Cláudia Siqueira Baltar

Ronaldo Baltar

Introdução

O trabalho que se apresenta aqui insere-se numa agenda de pesquisa que vem

sendo desenvolvida pelo Observatório das Migrações de Londrina tem como principal

problema de investigação as configurações, conexões e significados, passados e atuais,

das migrações internas e internacionais que se realizaram e se realizam no território do

estado do Paraná.

Nesse sentido, com base numa perspectiva historiográfica voltada para o estado

do Paraná (Balhana et al., 1969; Nadalin, 2002; Wachowicz, 2002), que não como não

observar que a realidade concreta que, atualmente, reconhecemos como população,

território e suas respectivas idiossincrasias sociais, culturais e políticas paranaenses

resultam, por um lado, de um complexo processo de redistribuição populacional e

ocupação territorial, nem sempre uníssono e consensual, e, de outro, por um processo de

estabelecimento e redefiniçao de suas fronteiras, que perdurou até a primeira metade do

século XX, o qual foi marcado por conflitos e disputas, com dimensões sociais,

econômicas e políticas, tanto no âmbito nacional como no internacional.

Destaca-se, com isso, que uma das particularidades na história da ocupação do

Paraná refere-se à articulação entre um complexo processo de redefinição de fronteiras,

internas e internacionais, e a confluência de diferentes fluxos migratórios – indígenas,

nacionais e estrangeiros.

Por sua vez, essa articulação pode se constituir num pano-de-fundo para o estudo

do próprio processo de ocupação das diferentes regiões que compõem o território

paranaense, com destaque para o desenvolvimento das diferentes atividades econômicas,

para a redistribuição espacial da população, a partir das migrações interestaduais, intra-

estaduais e internacionais e para a atuação diferenciada de atores públicos e privados,

levada a cabo através de políticas econômicas e de desenvolvimento e empreendimentos

de imigração e colonização.

A partir de um balanço de estudos migratórios, propriamente ditos, especialmente

a literatura que aborda as diferentes fases/etapas das migrações internas, no Brasil, alo

longo do século XX, dentre a qual destaco Martine e Camargo (1984), Faria (1991),

Baeninger (2011) e Brito (2009), pode-se identificar dois momentos bem diferenciados

na dinâmica migratória vivenciada pelo estado do Paraná apresenta dinâmicas migratórias

diferenciadas.

O primeiro momento corresponderia ao período compreendido pelas décadas de

1940 a 1980, caracterizado, principalmente, pelos grandes deslocamentos populacionais

para as fronteiras agrícolas, que contribuíram para marcar a dinâmica migratória do

Paraná, pelos grandes fluxos migratórios em direção à porção Norte Paranaense,

acompanhando a expansão cafeeira no estado, a partir de São Paulo, promovida pela

atuação da empresa inglesa Companhia de Terras do Norte do Paraná.

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Vale destacar que, através desse grande projeto de desenvolvimento e

colonização, foram atraídos para o território paranaense migrantes interestaduais

(nacionais e estrangeiros) e migrantes internacionais, vindos de diversos países e

continentes. Considerando-se os censos demográficos do período, a população do Paraná

passou de 1,2 milhões de pessoas, em 1940, para, aproximadamente, 7,0 milhões de

pessoas, em 1970. Ou seja, em trinta anos, a população do Paraná cresceu mais de cinco

vezes, podendo-se afirmar que tal intensidade de incremento populacional esteve

relacionado, senão totalmente, pelo menos em grande parte, à expansão da fronteira

agrícola paranaense.

Porém, na última década dessa primeira fase, a dinâmica migratória do Paraná

começa a passar por importantes mudanças, relacionadas, principalmente a desaceleração

do crescimento populacional do estado. Essa queda abrupta nas taxas de crescimento

populacional, por sua vez, estaria diretamente relacionada com o esgotamento da fronteira

agrícola do estado, já na metade da década de 1970, cujos determinantes causais possuem

dimensões climatológicas, econômicas, políticas e sociais, e com a consequente mudança

na estrutura produtiva do estado, que passou a concentrar investimentos em atividades

industriais na então recém-criada Região Metropolitana de Curitiba (Magalhães, 2001;

Wachowicz, 2002).

Por sua vez, o segundo momento da dinâmica migratória do estado do Paraná,

inicia-se nos anos de 1980, com as próprias transformações internas, a partir da mudança

no eixo produtivo do estado, e ganha força, especialmente, na década de 1990, com

reestruturação produtiva, a desconcentração das atividades industriais, a partir de São

Paulo, e o processo de descentralização político-administrativa e de reforma do Estado

(Pacheco, 1999; Lencione, 1994; Cano, 2008; Reis, 1994; Diniz, 1996).

Tais transformações no eixo de desenvolvimento econômico do estado vão

acarretar mudanças significativas na dinâmica migratória do Paraná, evidenciadas a partir

dos anos de 1980, primeiramente, pela intensa saída da população da zona rural, em

diferentes direções: as áreas urbanas imediatas e outras áreas de fronteira agrícola no

Centro-Oeste e Norte do país. Em segundo lugar, verifica-se uma redistribuição

populacional intra-estadual, entre as diferentes regiões paranaenses, com especial

destaque para o fluxo em direção à região metropolitana de Curitiba. Por fim, destaque-

se a emigração de população em direção ao estado de São Paulo (Magalhães, 2003;

IPARDES, 2006; Wachowicz, 2002).

O que há de comum entre os dois momentos da dinâmica migratório paranaense,

do ponto de vista analítico, é que essas duas fases/etapas do processo migratório e

demográfico foram tratadas por uma abordagem que tendeu a privilegiar o que se

denomina, segundo Brito (2009; 2000), por “trajetórias dominantes” – as quais são

representadas, especialmente, pelas migrações do tipo rural-urbana e as de longa

distância, como os fluxos migratórios do Nordeste para o Sudeste e, no caso do Paraná,

incluiria as migrações em direção à fronteira agrícola. Ou seja, tais estudos tenderam a

dar uma maior atenção aos processos migratórios que acabavam assumindo uma maior

visibilidade numérica.

Diante disso, o debate atual tem sido recorrente em apontar para a maior

complexidade colocada para os estudos dos processos migratórios, fruto de um contexto

histórico marcado por uma maior internacionalização e transnacionalismo de processos

econômicos, políticos, sociais e culturais, no contexto internacional, e maior

diversificação e heterogeneidade de processos migratórios e demográficos, no contexto

nacional.

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Nesse sentido, se, por um lado, destacam-se estudos, como os de Baeninger

(2013a; 2011) e Cunha (2011), que apontam para a importância de novos instrumentos

metodológicos e conceituais para uma melhor abordagem de processos migratórios

atuais, por outro, os trabalhos de Baeninger (2013b; 2011; 2000) contribuem para essa

agenda a partir, primeiramente, da consideração da emergência de “novas modalidades

migratórias” e de “espaços da migração” como aporte teórico-conceitual para se

investigar a heterogeneidade da dinâmica migratória no contexto nacional.

Em segundo lugar, essa contribuição vem se desenvolvendo no sentido de

enfatizar que as próprias migrações internacionais do século XXI vêm influenciando,

cada vez mais, as diferentes dimensões da vida cotidiana das pessoas, nas diferentes

escalas territoriais, de forma transversal – o que significa afirmar que diferentes processos

globais poderão ser percebidos de forma mais imediata e ter rebatimentos diferenciados

em diferentes contextos locais.

Com este estado atual do debate, torna-se oportuna a elaboração de um novo olhar

voltado para a configuração e significados de processos migratórios colocado em curso

em diferentes momentos históricos, buscando a articulação de diferentes modalidades

migratórias, diferentes tipos de migrantes e seus diversificados impactos econômicos,

sociais, políticos e culturais.

É nesse espaço aberto pelo debate contemporâneo que se insere o objeto central

deste trabalho: o processo de redistribuição populacional e reorganização espacial

vinculada à sericicultura – produção de casulos de bicho-da-seda – numa área localizada

na porção norte do estado do Paraná, conhecida como Vale da Seda4.

Conforme já falado anteriormente, o processo de ocupação e formação social do

estado do Paraná, desde o século XIX, tem sido marcado por diferentes processos

migratórios. Neste contexto, a sericicultura é um caso que permite discutir vários

elementos sobre a relação entre migração, atividade econômica e a reorganização espacial

da população.

A atividade da produção do bicho-da-seda chegou ao Brasil em 1848, porem

somente a partir da primeira metade do século XX, a produção do bicho-da-seda se

expande, seguindo, em grande parte, a dinâmica do café. Chegou ao estado do Paraná na

década de 1930, junto com o fluxo migratório que ocupou e delineou a porção Norte do

estado.

Inicialmente, atividade de colonos japoneses e descendentes, a sericicultura

passou a ser atividade de produtores rurais familiares diversos. A produção da seda é uma

cadeia produtiva altamente integrada, combinando várias atividades econômicas e

diferentes formas de trabalho, desde o cultivo da amoreira, produção do bicho-da-seda,

preparação do fio, até a produção têxtil.

Embora seja uma atividade cujos impactos tenham uma dimensão regional/local,

conhecer melhor esses processos fornecerá subsídios para uma maior compreensão da

complexidade das transformações ocorridas nos espaços rurais e urbanos de uma

determinada região, no contexto paranaense, que tem a maior parte do seu processo

histórico de desenvolvimento demográfico, social, econômico, cultural e político

vinculada a uma das mais importantes fronteiras agrícolas, em curso no país, ao longo do

século XX.

4 Informações presentes no site: http://www.valedaseda.org.br

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Com o desenvolvimento desta pesquisa, busca-se acumular e organizar elementos

que subsidiem um maior conhecimento e entendimento sobre a heterogeneidade que

acredita-se estar presente no próprio processo de desenvolvimento econômico e

redistribuição populacional, relacionados à fronteira agrícola do Paraná, entre os anos de

1930 e 1980, como também enriquecer uma linha investigativa sobre a diversidade na

transformação da ruralidade do estado do Paraná, especialmente a partir do esvaziamento

da fronteira agrícola, a partir da segunda metade dos anos de 1970.

Para finalizar essas linhas introdutórias, destaca-se que, neste trabalho, pretende-

se apresentar dados de produção do bicho-da-seda nos estados de São Paulo e Paraná, de

1940 a 2010, e da presença da população japonesa. Com isso, sustenta-se a articulação

entre o peso da população japonesa e o caminho percorrido pela seda até o estado do

Paraná.

A sericultura no Brasil e no Paraná

A atividade sericícola, que compreende a criação do bicho-da-seda voltada para

fins têxteis para produção da seda, constitui uma arte milenar originária da China, há mais

de três mil anos. A partir do século VI, essa atividade se expande nos países europeus e

chega ao Brasil por volta de 1848, quando é criada, no Rio de Janeiro, por Dom Pedro II,

a Imperial Companhia Seropédica Fluminense, voltada para a sericicultura. Depois disso,

uma segunda iniciativa deu-se, em 1912, com a criação da 1ª. Estação Experimental de

Sericicultura, em Barbacena-MG (PORTO, 2014).

Apesar dessas duas primeiras iniciativas vinculadas à atividade sericícola no

Brasil, é somente a partir da década de 1930 que a produção de casulos de bicho-da-seda

ganha impulso no país, concentrada no estado de São Paulo. Segundo Porto (2014), dois

momentos importantes nessa expansão foi a inauguração, em 1923, da S/A Indústria de

Seda Nacional, em Campinas, e, em 1940, o estabelecimento da Fiação de Seda Bratac

S/A5, na cidade de Bastos, vinculada à colônia japonesa nesse município.

Posteriormente, um marco importante no avanço da sericicultura no estado do

Paraná é a instalação de uma filial da Bratac, na década de 1970, na cidade de Londrina,

também financiada e vinculada à comunidade japonesa que existente nas cidades do Norte

Paranaense6.

Para compreender o sucesso do desenvolvimento da sericicultura, em São Paulo,

entre 1940 e 1980, deve-se considerar dois aspectos. De acordo com Porto (2014), por

um lado, o contexto da Segunda Guerra Mundial foi um estímulo à produção fabril da

seda, devido ao fechamento dos portos asiáticos e europeus e o interesse dos Estados

Unidos na aquisição da produção brasileira.

Por outro lado, a sericicultura se desenvolveu, nas diferentes regiões paulistas, de

forma complementar à produção cafeeira, e acompanhando a expansão das estradas de

ferro, inicialmente no estado de São Paulo, principalmente nas regiões mais a oeste do

estado e, posteriormente, no estado do Paraná, concentrando-se na porção norte

paranaense.

5 O nome Bratac tem origem na Sociedade Colonizadora Brasileira, ou “Brazil Takushoku Kumiai” –

BRATAC (PORTO, 2014, pg.293). 6 Informações obtidas no site da empresa: http://www.bratac.com.br/bratac/pt/index.php.

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Reconhecido como o maior polo de sericicultura do Brasil e o maior do Ocidente,

o estado do Paraná concentra, atualmente, cerca de 86% da produção de casulos de bicho-

da-seda, congregando, no Vale da Seda7, 29 municípios das regiões Noroeste e Norte do

estado e envolvendo famílias vinculadas à pequena propriedade e à agricultura familiar,

destacando-se que, de acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal, de 2013, entre os

20 maiores municípios produtores de casulos, dezoito são paranaenses e quatro pertencem

ao Vale da Seda (IBGE, 2013).

O Brasil tornou-se um dos principais produtores mundiais de seda no século XX,

sendo o estado de São Paulo o principal produtor de casulos até 1980. Houve um

deslocamento da produção para o Paraná que, desde então, tem se mantido como principal

exportador brasileiro. Esse processo é marcado por dois momentos: a expansão da

produção, entre os anos 80 até 2010; e o período de 2010 em diante (SEAB/DERAL,

2015; 2014; 2008).

Em 2010, há uma redução da produção, afetada pela variação na demanda mundial

da seda, com redução no número de produtores de casulos, bem como do emprego na

indústria de fiação da seda. Contudo, há um aumento na produtividade, sobretudo na

região Noroeste paranaense, onde se localiza o Vale da Seda, mantendo o volume de

exportações (SEAB/DERAL, 2015; 2014; 2008).

Com isso, vale ressaltar que a dinâmica da atividade sericícola se encontra, desde

a sua fase inicial, influenciada pelo mercado internacional. A figura 1 ilustra a produção

mundial no período mais recente

Figura 1: Produção mundial de casulos de bicho-da-seda (em toneladas),

2007-20128

Destaca-se que, no ano de 2012, os principais produtores de casulos foram a

China, Índia, Uzbequistão, Brasil, Tailândia, Irã e Vietnã, sendo que a China e Índia

foram responsáveis, respectivamente, por 65% e 26% da produção mundial. Nesse

7 O Vale da Seda é uma entidade civil privada criada, em 2009, com a função de promover o

desenvolvimento da cadeia produtiva da sericicultura, envolvendo pequenos produtores familiares de 29

municípios localizados na Bacia Hidrográfica do Rio Pirapó. Informações disponíveis em: <

http://valedaseda.com.br/>. 8 SEAB/DERAL, 2015, pg.2.

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ranking, o Brasil ocupou a quarta posição, constituindo-se no único país ocidental entre

os principais produtores sericícola (SEAB/DERAL, 2015).

Considerando a produção nacional dos casulos, no período mais recente, observa-

se que, apesar da contínua diminuição da produção, entre 2007 e 2015, o estado do Paraná

mantém a posição de principal estado produtor, nos últimos 15 anos.

Figura 2: Participação do Paraná na produção nacional de casulos de bicho-da-

seda verdes (em toneladas), 2000-20159

Apresentado esse quadro geral da produção mundial e nacional de casulos de

bicho-da-seda, no período recente, na subseção seguinte, será abordada a evolução dessa

atividade econômica, entre os anos de 1940 e 2010, nos estados de São Paulo e do Paraná.

A expansão da sericicultura de 1940 a 2013

Primeiramente, vale apresentar algumas considerações sobre a fonte e os dados

sobre os casulos de bicho-da-seda apresentados nessa subseção. Nesse sentido, destaca-

se que as fontes de dados exploradas foram os Censos Agrícolas dos anos de 1940 a 2006

e as Pesquisas da Pecuária Municipal de 2010, 2013 e 2014.

Com relação aos censos agrícolas, observa-se, ainda, que, a sua primeira

realização ocorre conjuntamente com o censo demográfico de 1920. Porém, esse ano não

é contemplado neste trabalho porque é somente a partir do censo agrícola de 1940 que se

passa a inquerir sobre a produção de casulos de bicho-da-seda, quando a informação é

9 SEAB/DERAL, 2016, pg.9.

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apresentada para Grandes Regiões e Unidades da Federação. A partir do censo de 1950,

por sua vez, é possível levantar essa informação em nível municipal.

Tabela 1: Produção de casulos de bicho-da-seda (kg)

Estados de São Paulo e Paraná – 1940-2013

São Paulo,

Paraná e

Brasil

1940 1950 1960 1970 1980 1985 1995-1996 2006 2010 2013

BRASIL 499.000 544.303 770.657 2.454.390 12.083.000 9.989.000 17.651.000 7.054.206 3.651.000 2.709.000

São Paulo 360.000 430.297 757.928 2.395.973 9.042.000 4.980.000 4.385.000 329.423 334.000 242.000

Paraná 8.000 10.844 6.382 57.893 2.770.000 4.683.000 12.638.000 6.326.049 3.178.000 2.367.000

Fonte de dados: IBGE. Censos agrícolas de 1940 a 2006; Pesquisa da Pecuária Municipal de 2010 e 2013. [Elaboração própria]

De acordo com os dados da Tabela 1, observa-se que a produção nacional de

casulos de bicho-da-seda, com exceção do ano de 1985, cresce de forma contínua entre

1940 e 1995-96, saindo de um patamar de 499 mil quilos de casulos, em 1940, para uma

produção de mais de 17 mil toneladas, nos anos de 1990. A partir dessa data até os dias

atuais, vem registrando um decréscimo significativo, registrando, em 2013, um nível de

produção similar ao nível registrado em 1970, em torno de 2 mil toneladas.

Gráfico 1: Participação (%) dos estados selecionados na produção nacional de casulos de bicho-

da-seda (1940-2013)

Fonte de dados brutos: IBGES. Censos agrícolas de 1940 a 2006; PPM de 2010 e 2013. [Elaboração própria]

Considerando os dados do gráfico 1, observa-se que, entre 1940 e 1980, a

produção de casulos de bicho-da-seda concentrou-se no estado de São Paulo, com o auge

desse processo nos anos de 1960 e 197. Por sua vez, o estado do Paraná manteve-se num

72,179,1

98,3 97,6

74,8

49,9

24,8

4,79,1 8,9

1,6 2,0 0,8 2,4

22,9

46,9

71,6

89,7 87,0 87,4

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

São Paulo Paraná

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patamar de participação inferior a 2,5%, entre 1940 e 1970, passando a registrar saltos

consecutivos nessa participação a partir de 1980 em diante.

Uma vez observada a dinâmica da produção em nível estadual, partiremos para a

consideração da produção intra-estadual, começando pelo estado de São Paulo. No

quadro 1, se observa que a atividade sericícola paulista se concentrou nas regiões situadas

na porção oeste do estado, onde a cafeicultura se desenvolveu acompanhando a expansão

das vias férreas. Além disso, trata-se da porção do território paulista que faz fronteira com

o estado do Paraná, o que vai facilitar a própria expansão das atividades, tanto cafeeira

quanto sericícola, para o território paranaense.

Quadro 1: Participação (%) das principais regiões na produção estadual de

casulo do bicho-da-seda. Estado de São Paulo. 1950-198510

Regiões paulistas selecionadas 1950 1960 1970 1980 1985

Bauru 45,9 47,6 28,5 41,4

Marília 70,3 44,2

Araçatuba 4,6

Alta Paulista 24,3 12,3 19,8

Nova Alta Paulista 42,2

Zona Pioneira 17,1

Sertão do Rio Paraná 5,8

Campinas 17,2

Divisor São J Dourados-Tietê 14,7

Fonte: IBGE. Censos agrícolas 1950-1985. [Elaboração própria]

Assim, observa-se que, em 1950, a sericicultura concentrava-se nas regiões de

Marília, Zona Pioneira e Sertão do Rio Paraná; em 1960, nas regiões de Bauru, Marília e

Araçatuba; em 1970, em Bauru e Alta Paulista, sendo a alta participação da região de

Campinas uma exceção; e nos anos de 1980 e 1985, a atividade mantém a sua

concentração nas regiões mais ocidentais do estado.

10 Optou-se por manter os nomes das regiões constantes nos respectivos censos agrícolas. Em 1950, a Zona

Pioneira incluía a cidade de Bastos, e o Sertão do Rio Paraná incluía a cidade de Pereira Barreto. Em 1970,

a Alta Paulista incluía os municípios de Bastos e Gália. Em 1980, a Nova Alta Paulista incluía o município

de Dracena e Parapuã. Em 1985, a região de Divisor de São José dos Dourados-Tietê inclui as cidades de

Monte Aprazível e José Bonifácio.

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Figura 3: Mapa do Estado de São Paulo11

Partindo-se para a avaliação dos dados da produção de casulos de bicho-da-seda,

no estado do Paraná, observa-se uma dinâmica diversa, a partir das informações contidas

no quadro 2.

Quadro 2: Participação (%) das principais regiões na produção estadual de

casulo do bicho-da-seda. Estado do Paraná. 1950-1985

Fonte: IBGE. Censos agrícolas 1950-1985. [Elaboração própria]

Em 1950, quando a participação do Paraná na produção dos casulos é bastante

baixa, a atividade concentrava-se em regiões mais ao sul, no território paranaense, como

é o caso de Irati, e também em regiões situadas na porção leste e central do estado, como

é o caso de Tibagi e Ivaí. Porém, em 1960, quando o Paraná ainda apresenta participação

11 Mapa disponível em: http://marioprof27.blogspot.com.br/2011/08/regioes-brasileira-e-suas.html.

Regiões paranaenses selecionadas

1950 1960 1970 1980 1985

Norte Novíssimo de Paranavaí 36,3 52,2 Norte Novo de Maringá 11,4 Norte Novo de Londrina 10,8 13,9 9,2 Norte Novíssimo de Umuarama 33,8 Norte Velho Venceslau Braz 11,9 Algodoeira de Assaí 32,0 Tomazina 92,4 Tibagi 14,3 Ivaí 19,9 Oeste 2,2 Irati 28,7 4,2

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bastante baixa na produção sericícola, surge uma mudança na participação regional, a

partir da concentração da produção de casulos em uma região localizada na porção norte

do estado, em Tomazina; em 1970, quando tem início, mesmo que pequeno, no aumento

da participação do estado na produção nacional, a produção no interior paranaense

concentrava-se em regiões da porção norte do estado, como é o caso das regiões de

Londrina, Assaí e Umuarama.

Por fim, nos anos de 1980 e 1985, quando o Paraná mantém seu ritmo de

crescimento na participação da produção de casulos do país, é reforçado internamente ao

estado a concentração da sua produção das regiões do norte do estado. Com isso, pode-se

afirmar que enquanto prevaleceu a fronteira agrícola do Paraná, cujo esgotamento se dá

durante a década de 1970, a expansão da sericicultura paranaense tendeu a se concentrar

na porção territorial onde estava em curso o avanço da fronteira agrícola, levada a cabo

através da expansão da cafeicultura e da convergência de diversificados processos

migratórios.

A partir dos anos de 1990 em diante, num outro contexto econômico, político e

social, e quando o Paraná assume a dianteira na produção de casulos, os principais

municípios produtores situam-se em regiões na porção norte do estado (IBGE, 2013).

Figura 4: Mapa do Estado do Paraná12

12 Mapa disponível em: http://marioprof27.blogspot.com.br/2011/08/regioes-brasileira-e-suas.html.

Page 12: Caminhos da seda no Paraná: a convergência de diferentes ...abep.org.br/xxencontro/files/paper/1176-1047.pdfA atividade da produção do bicho-da-seda chegou ao Brasil em 1848, porem

12

Caminhos da seda no Paraná: presença japonesa na sericicultura

A seção anterior foi dedicada à abordagem dos dados relativos ao

desenvolvimento da produção dos casulos de bicho-da-seda nos estados de São Paulo e

Paraná, ao longo de um determinado recorte temporal, procurando apontar as suas

vinculações com a própria expansão da cafeicultura e da rede ferroviária, primeiramente,

no território paulista e, na sequência, em território paranaense.

Nesta seção, busca-se evidenciar que os caminhos da seda em direção ao

território paranaense, a partir do estado de São Paulo, não foram delineados de forma

aleatória. Pelo contrário. Esse caminho foi construído como fruto de diferentes

influências, de diferentes ordens (econômica, política, social), tendo como influência de

natureza migratória e demográfica a forte presença dos estrangeiros de naturalidade

japonesa em determinadas regiões paulistas e paranaenses.

Gráfico 2: População total – Estados de São Paulo e Paraná

1872-2010

Fonte de dados: IBGE. Censos demográficos, 1872-2010

Os dados do gráfico 2 ilustram o aumento populacional vivenciado pelos estados

de São Paulo e Paraná, entre 1872 e 2010. Observa-se que, nesse período, os dois estados

registraram um processo crescente de aumento da sua população, principalmente a partir

de 1940, e de forma especial em São Paulo. No caso do Paraná, o desempenho da curva,

observado a partir de 1950, está diretamente relacionado com o impacto da fronteira

agrícola nas regiões situadas na porção norte do estado (IPARDES, 2006; MARTINE e

CAMARGO, 1984).

Por sua vez, o gráfico 2 ilustra o aumento da população estrangeira, em São Paulo

e no Paraná, ao longo do período considerado, a partir do qual é possível observar a

diferença na intensidade da presença dos estrangeiros, nos dois espaços analisados.

Embora a presença dos estrangeiros, em quase todos os anos censitários, quase dez maior

837.354

41.262.199

126.722

10.444.526

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

30.000.000

35.000.000

40.000.000

45.000.000

1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

São Paulo Paraná

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13

em São Paulo em relação ao Paraná, vale destacar que, em 2010, o estado do Paraná

concentrava a terceira maior população estrangeira do país, ficando atrás de São Paulo e

Rio de Janeiro.

Gráfico 2: População total – Estados de São Paulo e Paraná

1872-2010

Fonte de dados: IBGE. Censos demográficos, 1872-2010

Uma vez apresentado esse panorama populacional das duas Unidades da

Federação, voltaremos para o objeto central deste trabalho, que se refere à vinculação

entre a expansão da sericicultura e processos migratórios diferenciados. De acordo com

a literatura levantada, observou-se que a implantação e o desenvolvimento da atividade

sericícola foram bastante influenciados pela presença dos estrangeiros japoneses nas

diferentes regiões e municípios dos dois estados, especialmente aqueles mais

caracterizados com a atividade agrícola (PORTO, 2014; VIEIRA, 2014).

Nesse sentido, começaremos a abordagem pela presença de japoneses nas

diferentes regiões (zonas fisiográficas) do estado de São Paulo, no ano de 1940. Vale

destacar que o objetivo inicial era o de organizar a informação sobres esses estrangeiras

de forma compatível com a informação referente à produção agropecuária. Porém,

coloca-se, aqui, a primeira limitação, pois, para o período de 1940 a 1960, só foi possível

organizar a informação sobre estrangeiros a nível municipal para o censo demográfico de

1940. Para os censos demográficos de 1950 e 1960, essa informação não se encontra

desagregada para os municípios.

Com isso, optou-se por uma outra estratégia de seleção desses dados para o

presente trabalho: decidiu-se trabalhar, por um lado, com os dados sobre os estrangeiros

japoneses, para São Paulo e Paraná, a partir dos dados censitários de 1940, e, por outro

lado, com os dados de estrangeiros japoneses, do censo de 1970, somente para o estado

do Paraná, uma que esta Unidade da Federação é o nosso foco principal de análise.

Dito isso, podemos passar para as considerações sobre os dados apresentados da

tabela 2, que se referem à presença da população estrangeira nas diferentes regiões do

estado de São Paulo.

29.622205.505

2.899 28.601

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

900.000

1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

SÂO PAULO PARANÁ

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14

Tabela 2: Estrangeiros de nacionalidade japonesa

Zonas fisiográficas (municípios com mais de 500 estrangeiros japoneses)

Estado de São Paulo - 1940

Zonas Fisiográficas População

Total

Estrangeiros

Japoneses

% Pop

Japonesa Japoneses/Pop

Total (%)

MARÍLIA 691.406 48.725 37,8 7,0

PIONEIRA 258.365 17.839 13,8 6,9

INDUSTRIAL 1.475.844 13.422 10,4 0,9

SERTÃO RIO PARANÁ 76.635 7.406 5,7 9,7

SOROCABANA 118.849 6.153 4,8 5,2

RIO PRETO 135.751 3.467 2,7 2,6

BARRETOS 122.779 3.063 2,4 2,5

LITORAL SANTOS 176.446 2.406 1,9 1,4

LITORAL IGUAPE 20.889 1.068 0,8 5,1

BOTUCATU 22.352 897 0,7 4,0

CAMPINAS DO SUDESTE 20.424 637 0,5 3,1

PARANAPIACABA 14.304 589 0,5 4,1

ARARAQUARA 67.724 583 0,5 0,9

TOTAL - SELECIONADO 3.201.768 106.255 82,4 3,3

DEMAIS MUNICÍPIOS 3.978.548 22.702 17,6 0,6

TOTAL - ESTADO 7.180.316 128.957 100,0 1,8 Fonte de dados: IBGE. Censo demográfico de 1940. [Elaboração própria].

Nota-se que as regiões que apresentavam, em 1940, as maiores presenças da

população japonesa são Marília, Pioneira, Industrial e Sertão do Rio Paraná, das quais,

somente a Industrial não era também a região entre as maiores produtoras de casulos de

bicho-da-seda. Embora sejam necessárias outras informações para uma maior

confirmação da vinculação direta entre a atividade sericícola e a presença da colônia

japonesa, como a informação sobre a situação de domicilio e a ocupação exercida por

esses estrangeiros, é possível afirmar a convergência entre esses dois processos

econômico e migratório.

Considerando, por sua vez, a presença da população japonesa no território

paranaense, pode-se apontar para a existência de “corredor” ligando a porção oeste

paulista e o norte paranaense, através do qual avançaram diferentes processos, como a

expansão cafeeira, a própria fronteira agrícola, vinculando diferentes processos

migratórios e diferentes migrantes, o desenvolvimento da policultura e o

desenvolvimento de diversificadas atividades econômicas, entre elas. a própria

sericicultura.

Antes de tratar das informações sobre a presença dos estrangeiros japoneses no

Paraná, a partir dos dados populacionais, apresentados na tabela 3, pode-se ter uma visão

da dinâmica populacional nas duas principais porções do território paranaense, nas

últimas seis décadas.

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Tabela 3: População residente total do estado Paraná, por Mesorregiões

1950-2010

Mesorregiões 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Norte Central 517.595 1.129.553 1.521.540 1.459.566 1.638.677 1.829.068 2.037.183

Norte Pioneiro 423.744 608.559 705.953 571.713 555.339 548.190 546.224

Noroeste 0 512.758 962.778 746.543 655.509 641.084 678.319

Centro Ocidental 32.948 230.971 528.734 406.734 387.451 346.648 334.125

Porção Norte 974.287 2.481.841 3.719.005 3.184.556 3.236.976 3.364.990 3.595.851

Metropolitana Curitiba 455.292 694.155 1.050.805 1.703.819 2.319.526 3.053.313 3.493.742

Centro Oriental 216.751 253.742 355.253 472.655 547.559 623.356 689.279

Oeste 16.421 135.036 752.432 960.775 1.016.481 1.138.582 1.219.558

Centro-Sul 245.458 242.638 338.136 484.245 501.428 533.317 544.190

Sudeste 207.338 222.908 267.830 302.530 348.617 377.274 404.779

Sudoeste 0 212.628 446.360 521.269 478.126 472.626 497.127

Porção Sul 1.141.260 1.761.107 3.210.816 4.445.293 5.211.737 6.198.468 6.848.675

PARANÁ 2.115.547 4.242.948 6.929.821 7.629.849 8.448.713 9.563.458 10.444.526

Fonte de dados: IBGE. Censos demográficos de 1950 a 2010.

A tabela 3 permite visualizar o dinamismo das duas porções territoriais, através

da observação do crescimento positivo constante da população, a partir de 1950. Destaca-

se que na porção norte – o espaço primordial do avanço da fronteira agrícola paranaense

o incremento populacional avoluma-se de forma que se mantém num ritmo positivo,

mesmo após o esgotamento da fronteira e a consequente mudança na estrutura produtiva

do estado.

Tabela 4: Estrangeiros de nacionalidade japonesa

Zonas fisiográficas – Estado do Paraná - 1940

Zonas População

Total

Estrangeiros

Japoneses

% Pop

Japonesa Japoneses/Pop

Total (%)

NORTE 271.307 7.226 93,8 2,7

TOMAZINA 56.688 211 2,7 0,4

PLANALTO CURITIBA 181.248 116 1,5 0,1

LITORAL 53.686 96 1,2 0,2

CAMPOS GERAIS 56.207 39 0,5 0,1

IRATI 52.710 6 0,1 0,0

GUARAPUAVA 96.235 1 0,0 0,0

IGUAÇU 17.240 1 0,0 0,0

TIBAGI 28.876 1 0,0 0,0

TOTAL - SELECIONADO 814.197 7.705 100,0 0,9

DEMAIS MUNICÍPIOS 422.079 0 0,0 0,0

TOTAL - ESTADO 1.236.276 7.705 100,0 0,6

Fonte de dados: IBGE. Censo demográfico de 1940 [Elaboração própria]

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16

Um dos processos migratórios que contribuem para o incremento populacional é

representado pelo próprio movimento migratório dos estrangeiros japoneses para o

estado. Nesse sentido, os dados da tabela 4 ilustram a distribuição regional dessa

população, no censo de 1940.

A partir desses dados, pode-se observar que a presença dos estrangeiros japoneses,

em 1940, já se concentrava na sua quase totalidade na porção norte do estado. Porém,

tomando os dados da concentração da sericicultura, em 1950, constata-se que não há uma

complementaridade, naquele momento, entre esses dois processos.

Tabela 5: Estrangeiros de nacionalidade japonesa

Estado do Paraná, por Regiões, 1970

Regiões

População

Total

Estrangeiros

Japoneses

% Pop

Japonesa Japoneses/Pop

Total (%)

Norte Velho Venc Braz 201.605 609 3,1 0,3

Norte Velho Jacarezinho 391.417 1.407 7,1 0,4

Algodoeira Assaí 116.820 713 3,6 0,6

Norte Novo Londrina 690.764 5.396 27,2 0,8

Norte Novo Maringá 322.726 2.559 12,9 0,8

Norte Novís. de Paranavaí 338.571 1.609 8,1 0,5

Norte Novo de Apucarana 464.990 1.137 5,7 0,2

Norte Novís. de Umuarama 652.800 2.060 10,4 0,3

Campo Mourão 534.750 895 4,5 0,2

REGIÕES - NORTE 3.714.443 16.385 82,5 0,4

Curitiba 838.735 1.580 8,0 0,2

Litoral Paranaense 116.809 463 2,3 0,4

Alto Ribeira 30.011 0 0,0 0,0

Alto Rio Negro 29.615 9 0,0 0,0

Lapa 78.814 12 0,1 0,0

Ponta Grossa 240.654 249 1,3 0,1

Jaguariaíva 41.255 12 0,1 0,0

São Mateus do Sul 41.266 4 0,0 0,0

Colonial Irati 136.005 4 0,0 0,0

Alto Ivaí 92.373 20 0,1 0,0

Pitanga 106.867 4 0,0 0,0

Extremo Oeste 756.649 1.041 5,2 0,1

Sudoeste 450.028 24 0,1 0,0

Guarapuava 191.133 31 0,2 0,0

Médio Iguaçu 128.308 18 0,1 0,0

TOTAL - ESTADO 6.992.965 19.856 100,0 0,3

Fonte de dados: IBGE. Censo demográfico de 1970 [Elaboração própria]

A partir dos dados censitários de 1970, tem-se outro cenário, no qual pode-se

afirmar sobre a convergência entre a concentração das atividades sericícolas e a

concentração da população japonesa nas regiões da porção norte do estado do Paraná,

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17

reforçando a influência da presença desse grupo de estrangeiro e de suas comunidades no

desenvolvimento das diferentes atividades relacionadas à produção de seda no Paraná.

Com os dados da Pesquisa da Pecuária Municipal, de 2013 (IBGE, 2013), pode-

se observar que os maiores municípios produtores de casulos de bicho-da-seda no estado

do Paraná situam-se na porção norte do estado, onde também se situam as principais

“raízes históricas” da imigração japonesa no Paraná.

No entanto, deve-se acrescentar que, se nos anos de 1940 e 1950 e, posteriormente,

em 1970, a presença dos estrangeiros japoneses podem ter exercido influência direta no

crescimento da produção sericícola, atualmente, deve-se considerar que essa influência

pode não se dar da mesma forma.

De acordo com Porto (2014) e Vieira (2014), desde o início da expansão cafeeira

em São Paulo e no Paraná, a produção dos casulos de bicho-da-seda, já era considerada

como importante atividade complementar ao café, para fornecer sustento aos pequenos

produtores nas entressafras da cafeicultura e, com isso, amortecer a tendência desse

produtor de sair do campo.

Pode-se afirmar que, atualmente, a sericicultura ainda apresentaria a influência da

imigração japonesa no seu desenvolvimento, porém não mais associado diretamente aos

casulos, mas como proprietários das duas principais empresas de fiação da seda e também

como detentores do conhecimento técnico atualizado sobre a produção da matéria-prima

das fiações, o qual é fornecido aos pequenos produtores rurais, não mais necessariamente

de origem japonesa, inseridos na cadeia produtiva da seda e têxtil, do estado.

Algumas considerações finais

Longe de confirmar as questões que nortearam a realização desse trabalho, o que

foi exposto aqui contribuiu para ampliar as frentes de investigação sobre a convergência

de processos sociais, econômicos, políticos e culturais na expansão da sericicultura

paranaense e a sua articulação com processos migratórios específicos, como a dos

japoneses em São Paulo e no Paraná.

Reconhece-se que a vinculação entre a expansão da sericicultura e a presença de

estrangeiros japoneses em determinados espaços deve ser melhor investigada a partir da

exploração de outras informações, tais como a situação de domicilio desses estrangeiros

e a sua ocupação profissional – uma agenda de pesquisa bastante complexa, tendo em

vista a diversidade nos tipos de informações levantadas nos diferentes censos

demográficos, e considerando tratar-se de um processo migratório de “pequena escala”,

quando se compara com o desenvolvimento de atividades econômicas que envolveram

uma maior dimensão populacional e uma maior expansão territorial.

No entanto, com os dados trabalhados até aqui, parece que estamos na direção

correta.

Diante desse cenário, as investigações terão continuidade nas frentes abertas por

essa primeira investida nesse plano de pesquisa, procurando complementar esse trabalho

tanto num plano micro, sistematizando dados e informações que emergirem como

necessários para a confrontação das questões encaminhadas aqu.

Para finalizar, no plano macro, busca-se articular esse trabalho de investigação

com o debate que se colocado por essa agenda de pesquisa, de caráter geral, sobre a

heterogeneidade dos processos migratórios e a sua complexa vinculação com processos

de outras naturezas, como econômicos, sociais, políticos, demográficos e culturais e, de

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caráter mais específico, o de considerar a heterogeneidade das transformações rurais num

determinado território, tanto na fase auge, de adensamento rural, com na fase de

esgotamento, de esvaziamento do rural.

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