calendário mensal: agosto 2010

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Calendário do mês de agosto 2010 by Rosely Lira

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Page 1: Calendário Mensal: Agosto 2010

Calendário do mês de agosto

2010

by Rosely Lira

Page 2: Calendário Mensal: Agosto 2010

Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.

George Orwell

01 de agosto

Page 3: Calendário Mensal: Agosto 2010

O tempo é uma invenção da morte:não o conhece a vida –

a verdadeira –em que basta um momento de poesia

para nos dar a eternidade inteira.

Mário Quintana

02 de agosto

Page 4: Calendário Mensal: Agosto 2010

Sê...

Se não puderes ser um pinheirono topo de uma colina,Sê um arbusto no vale, mas sê o melhor arbusto à margem do regato.Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva e dá alegria a algum caminho.Se não puderes ser uma estrada, sê apenas uma senda,Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Pablo Neruda

03 de agosto

Page 5: Calendário Mensal: Agosto 2010

Quando entrar setembroE a boa nova andar nos camposQuero ver brotar o perdãoOnde a gente plantouJuntos outra vez

Já sonhamos juntosSemeando as canções no ventoQuero ver crescer nossa vozNo que falta sonhar

Já choramos muitoMuitos se perderam no caminhoMesmo assim não custa inventarUma nova cançãoQue venha nos trazer

Sol de primaveraAbre as janelas do meu peitoA lição sabemos de cóSó nos resta aprender

Beto Guedes e Ronaldo Bastos

04 de agosto

Page 6: Calendário Mensal: Agosto 2010

Preciso ser um outropara ser eu mesmo

Sou grão de rochaSou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentandoo sexo das árvores

Existo onde me desconheçoaguardando pelo meu passadoansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morrono mundo por que luto nasço

Mia Couto

05 de agosto

Page 7: Calendário Mensal: Agosto 2010

Há um vilarejo aliOnde areja um vento bomNa varanda, quem descansaVê o horizonte deitar no chãoPra acalmar o coraçãoLá o mundo tem razãoTerra de heróis, lares de mãeParaíso se mudou para láPor cima das casas, calFrutas em qualquer quintalPeitos fartos, filhos fortesSonho semeando o mundo realToda gente cabe láPalestina, Shangri-láVem andar e voaVem andar e voaVem andar e voaLá o tempo esperaLá é primaveraPortas e janelas ficam sempre abertasPra sorte entrarEm todas as mesas, pãoFlores enfeitandoOs caminhos, os vestidos, os destinosE essa cançãoTem um verdadeiro amorPara quando você for

Marisa Monte/Pedro baby/Calinhos Brown/Arnaldo Antunes

06 de agosto

Page 8: Calendário Mensal: Agosto 2010

Quero apenas cinco coisas...Primeiro é o amor sem fimA segunda é ver o outonoA terceira é o grave invernoEm quarto lugar o verãoA quinta coisa são teus olhosNão quero dormir sem teus olhos.Não quero ser... sem que me olhes.Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

07 de agosto

Page 9: Calendário Mensal: Agosto 2010

Amo a liberdade, por isso, todas as coisas que amo deixo-as livres. Se voltarem é porque as conquistei.

Se não voltarem é porque nunca as possuí.

Bob Marley08 de agosto

Page 10: Calendário Mensal: Agosto 2010

A solidão é como uma chuva.Ergue-se do mar ao encontro das noites;de planícies distantes e remotassobe ao céu, que sempre a guarda.E do céu tomba sobre a cidade.

Cai como chuva nas horas ambíguas,quando todas as vielas se voltam para a manhãe quando os corpos, que nada encontraram,desiludidos e tristes se separam;e quando aqueles que se odeiamtêm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios...

Rainer Maria Rilke

09 de agosto

Page 11: Calendário Mensal: Agosto 2010

Perdi vinte em vinte e nove amizades Por conta de uma pedra em minhas mãosEmbriaguei morrendo vinte e nove vezes

Estou aprendendo a viver sem você Já que você não me quer mais

Passei vinte e nove meses num navio E vinte e nove dias na prisão

E aos vinte e nove com o retorno de saturno Decidi começar a viverQuando você deixou de me amar

Aprendi a perdoar e a pedir perdãoE vinte e nove anjos me saudaram

E tive vinte e nove amigos outra vez

Renato Russo 10 de agosto

Page 12: Calendário Mensal: Agosto 2010

O homem se torna muitas vezes o que ele próprio acredita que é. Se insisto em repetir para mim mesmo que não posso fazer uma determinada coisa,

é possível que acabe me tornando realmente incapaz de fazê-la. Ao contrário, se tenho a convicção de que posso fazê-la,

certamente adquirirei a capacidade de realizá-la, mesmo que não a tenha no começo.

Mahatma Gandhi

11 de agosto

Page 13: Calendário Mensal: Agosto 2010

12 de agosto

Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv.Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.

Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto.

Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece

para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos,

quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.

Amyr Klink

Page 14: Calendário Mensal: Agosto 2010

Toda forma de vício é ruim,não importa que seja droga, álcool ou idealismo.

Carl Gustav Jung

13 de agosto

Page 15: Calendário Mensal: Agosto 2010

O amor é uma companhia.Já não sei andar só pelos caminhos, Porque já não posso andar só.Um pensamento visível faz-me andar mais depressaE ver menos,e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.Todo eu sou qualquer força que me abandona.Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro

14 de agosto

Page 16: Calendário Mensal: Agosto 2010

A borboleta pousadaou é Deusou é nada.

Adélia Prado 15 de agosto

Page 17: Calendário Mensal: Agosto 2010

Quem - estando ausente - entra no quartoQuem deita ao lado meu, Quem passa no meu coração seus lábios quentes, Quem desperta em mim as feras todasQuem me rasga e curaQuem me atrai?

Quem murmura na treva e acende estrelasQuem me leva em marés de sono e risoQuem invade meu dia após a noiteQuem vem – estando ausente -E nunca vai?

Lya Luft

16 de agosto

Page 18: Calendário Mensal: Agosto 2010

Eu sou como eu souPronome pessoal intransferível do homem que inicieina medida do impossíveleu sou como eu souagorasem grandes segredos dantessem novos secretos dentesnesta horaeu sou como eu soupresentedesaferrolhado indecentefeito um pedaço de mimeu sou como eu souvidentee vivo tranquilamentetodas as horas do fim.

Torquato Neto

17 de agosto

Page 19: Calendário Mensal: Agosto 2010

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, E assim será possível; mas hoje não... Não, hoje nada; hoje não posso. A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, O sono da minha vida real, intercalado, O cansaço antecipado e infinito, Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... Esta espécie de alma... Só depois de amanhã...

Álvaro de Campos

18 de agosto

Page 20: Calendário Mensal: Agosto 2010

“Não, não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro,

sou definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto –se tomada com cuidado,

verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto mas, se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos,

me esfarelo em poeira dourada.

Caio F. 19 de agosto

Page 21: Calendário Mensal: Agosto 2010

“Se a realidade nos alimenta com lixo,a mente pode nos alimentar com flores.

Caio F.

20 de agosto

Page 22: Calendário Mensal: Agosto 2010

A liberdade não pode faltar a quem a deseja realmente,mas a quem deseja conquistá-la, ela indica o caminho dos perigos;

é prometida a quem por ela arrisca a vida,nunca é prêmio de um desejo indolente.

Giovanni Berchet21 de agosto

Page 23: Calendário Mensal: Agosto 2010

O meu olhar é nítido como um girassol.Tenho o costume de andar pelas estradasOlhando para a direita e para a esquerda,E de, vez em quando olhando para trás...E o que vejo a cada momentoÉ aquilo que nunca antes eu tinha visto,E eu sei dar por isso muito bem...Sei ter o pasmo essencialQue tem uma criança se, ao nascer,Reparasse que nascera deveras...Sinto-me nascido a cada momentoPara a eterna novidade do Mundo...Creio no mundo como num malmequer,Porque o vejo. Mas não penso nelePorque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele(Pensar é estar doente dos olhos)Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,Mas porque a amo, e amo-a por isso,Porque quem ama nunca sabe o que amaNem sabe por que ama, nem o que é amar ...Amar é a eterna inocência,E a única inocência não pensar...

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

22 de agosto

Page 24: Calendário Mensal: Agosto 2010

23 de agosto

Eu quero amor feinho.Amor feinho não olha um pro outro.Uma vez encontrado, é igual fé,não teologa mais.Duro de forte, o amor feinho é magro,doido por sexoe filhos tem os quantos haja.Tudo que não fala, faz.Planta beijo de três cores ao redor da casae saudade roxa e branca,da comum e da dobrada.Amor feinho é bom porque não fica velho.Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:eu sou homem você é mulher.Amor feinho não tem ilusão,o que ele tem é esperança:eu quero amor feinho.

Adélia Prado

Page 25: Calendário Mensal: Agosto 2010

Nas palmas de tuas mãosleio as linhas da minha vida.Linhas cruzadas, sinuosas,interferindo no teu destino.Não te procurei, não me procurastes –íamos sozinhos por estradas diferentes.Indiferentes, cruzamosPassavas com o fardo da vida...Corri ao teu encontro.Sorri. Falamos.Esse dia foi marcadocom a pedra brancada cabeça de um peixe.E, desde então, caminhamosjuntos pela vida...

Cora Coralina

24 de agosto

Page 26: Calendário Mensal: Agosto 2010

O que me tranqüilizaé que tudo o que existe,

existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinetenão transborda nem uma fração de milímetroalém do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.Pena é que a maior parte do que existe

com essa exatidãonos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nóscomo um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,a perfeição.

Clarice Lispector 25 de agosto

Page 27: Calendário Mensal: Agosto 2010

Chamo-te porque tudo está ainda no princípioE suportar é o tempo mais comprido.

Peço-te que venhas e me dês a liberdade,Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.Peço-Te que inundes tudo.E que o teu reino antes do tempo venha.E se derrame sobre a TerraEm primavera feroz precipitado.

Sophia de Mello Breyner Andresen

26 de agosto

Page 28: Calendário Mensal: Agosto 2010

Divaga em meio à noite a lua preguiçosa;Como uma bela, entre coxins e devaneios,Que afaga com a mão discreta e vaporosa,Antes de adormecer, o contorno dos seios.

No dorso de cetim das tenras avalanchas,Morrendo, ela se entrega a longos estertores,E os olhos vai pousando sobre as níveas manchasQue no azul desabrocham como estranhas flores.

Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer,Um poeta caridoso, ao sono pouco afeito,

No côncavo das mãos toma essa gota rala,De irisados reflexos como um grão de opala,E bem longe do sol a acolhe no seu peito.

Charles Baudelaire

27 de agosto

Page 29: Calendário Mensal: Agosto 2010

O susto em nós foi avançar muito pra dentro do proibido. Muito pra perto de uma zona perigosa. A boca da noite.O desconhecido.Vagos caminhos de uma via nebulosa.

Vários conceitos pra falar da mesma coisao susto em nós foi descobrir porteirasde territórios nunca antes percorridosno fundo de todos nós um visitanteno fundo a falta de sentido

Visitantes de nós mesmos cometeríamosa imprudência de quase enlouquecerpra chegar à compreensão.E uma coisa afiada nos conduziaatravés da trilha da poesiae do difícil trajeto da paixão.

Bruna Lombardi

28 de agosto

Page 30: Calendário Mensal: Agosto 2010

Não tenho mais os olhos de meninanem corpo adolescente, e a peletranslúcida há muito se manchou.Há rugas onde havia sedas, sou uma estruturaagrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins.(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudoo que perdi: dou-te os meus ganhos.A maturidade que consegue rirquando em outros tempos choraria,busca te agradarquando antigamente quereriaapenas ser amada.Posso dar-te muito mais do que belezae juventude agora: esses dourados anosme ensinaram a amar melhor, com mais paciênciae não menos ardor, a entender-tese precisas, a aguardar-te quando vais,a dar-te regaço de amante e colo de amiga,e sobretudo força — que vem do aprendizado.Isso posso te dar: um mar antigo e confiávelcujas marés — mesmo se fogem — retornam,cujas correntes ocultas não levam destroçosmas o sonho interminável das sereias.

Lya Luft

29 de agosto

Page 31: Calendário Mensal: Agosto 2010

"Há no fundo das almas um princípio inato de justiça e de virtude, com o qual nós julgávamos as nossas ações e as dos outros como boas ou más;

e é a este princípio que dou o nome de consciência.

Jean-Jacques Rousseau -

30 de agosto

Page 32: Calendário Mensal: Agosto 2010

A vida é para nós o que concebemos dela. Para o rústico cujo campo lhe é tudo,esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.

Fernando Pessoa

31 de agosto