calendário julho 2010_rosely
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Calendaacuterio do mecircs de julho
2010
by Rosely Lira
Suavidade
Pousa a tua cabeccedila doloridaTatildeo cheia de quimeras de idealSobre o regaccedilo brando e maternalDa tua doce Irmatilde compadecida
Haacutes-de contar-me nessa voz tatildeo quridaA tua dor que julgas sem igualE eu pra te consolar direi o malQue agrave minha alma profunda fez a Vida
E haacutes-de adormecer nos meus joelhosE os meus dedos enrugados velhosHatildeo-de fazer-se leves e suaves
Hatildeo-de pousar-se num fervor de crenteRosas brancas tombando docementeSobre o teu rosto como penas de aves
Florbela Espanca
01 de julho
Via Laacutectea
ldquoOra (direis) ouvir estrelas CertoPerdeste o senso E eu vos direi no entantoQue para ouvi-las muita vez despertoE abro as janelas paacutelido de espanto
E conversamos toda a noite enquantoA via laacutectea como um paacutelio abertoCintila E ao vir do sol saudoso e em prantoInda as procuro pelo ceacuteu deserto
Direis agora Tresloucado amigoQue conversas com elas Que sentidoTem o que dizem quando estatildeo contigo
E eu vos direi Amai para entendecirc-lasPois soacute quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas
Olavo Bilac
02 de julho
O eterno insatisfeito
Shantih percorria as cidades pregando a palavra de Deus quando um homem veio procuraacute-lo para que curasse seus males
ldquoTrabalhe Alimente-se E louve a Deusrdquo respondeu Shantih
ldquoAcontece que quando como minha barriga queima com azia Quando bebo minha garganta arde com a bebida Quando rezo sinto que Deus natildeo me escuta E quando trabalho sinto minhas costas que doem com o peso da lavourardquo disse o homem
ldquoEntatildeo busque outra pessoa para ensinaacute-lordquo
O homem foi embora revoltado Shantih comentou com os que ouviram a conversa
ldquoEle tinha duas formas de encarar cada coisa e escolheu sempre a pior Quando morrer eacute possiacutevel que tambeacutem reclame do frio dentro do tuacutemulordquo
03 de julho
De um lado cantava o sol
De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol
Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor
Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito
Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim
Ceciacutelia Meireles
04 de julho
Ensinamento
Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo
Adeacutelia Prado
05 de julho
Daacute-me a tua matildeo
Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia
Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio
Clarice Lispector
06 de julho
Ontem agrave noite
Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva
fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque
fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral
Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais
e depois disse para comigo
vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba
Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo
o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo
o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque
E depois comecei a escrever
Marguerite Duras
07 de julho
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Suavidade
Pousa a tua cabeccedila doloridaTatildeo cheia de quimeras de idealSobre o regaccedilo brando e maternalDa tua doce Irmatilde compadecida
Haacutes-de contar-me nessa voz tatildeo quridaA tua dor que julgas sem igualE eu pra te consolar direi o malQue agrave minha alma profunda fez a Vida
E haacutes-de adormecer nos meus joelhosE os meus dedos enrugados velhosHatildeo-de fazer-se leves e suaves
Hatildeo-de pousar-se num fervor de crenteRosas brancas tombando docementeSobre o teu rosto como penas de aves
Florbela Espanca
01 de julho
Via Laacutectea
ldquoOra (direis) ouvir estrelas CertoPerdeste o senso E eu vos direi no entantoQue para ouvi-las muita vez despertoE abro as janelas paacutelido de espanto
E conversamos toda a noite enquantoA via laacutectea como um paacutelio abertoCintila E ao vir do sol saudoso e em prantoInda as procuro pelo ceacuteu deserto
Direis agora Tresloucado amigoQue conversas com elas Que sentidoTem o que dizem quando estatildeo contigo
E eu vos direi Amai para entendecirc-lasPois soacute quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas
Olavo Bilac
02 de julho
O eterno insatisfeito
Shantih percorria as cidades pregando a palavra de Deus quando um homem veio procuraacute-lo para que curasse seus males
ldquoTrabalhe Alimente-se E louve a Deusrdquo respondeu Shantih
ldquoAcontece que quando como minha barriga queima com azia Quando bebo minha garganta arde com a bebida Quando rezo sinto que Deus natildeo me escuta E quando trabalho sinto minhas costas que doem com o peso da lavourardquo disse o homem
ldquoEntatildeo busque outra pessoa para ensinaacute-lordquo
O homem foi embora revoltado Shantih comentou com os que ouviram a conversa
ldquoEle tinha duas formas de encarar cada coisa e escolheu sempre a pior Quando morrer eacute possiacutevel que tambeacutem reclame do frio dentro do tuacutemulordquo
03 de julho
De um lado cantava o sol
De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol
Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor
Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito
Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim
Ceciacutelia Meireles
04 de julho
Ensinamento
Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo
Adeacutelia Prado
05 de julho
Daacute-me a tua matildeo
Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia
Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio
Clarice Lispector
06 de julho
Ontem agrave noite
Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva
fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque
fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral
Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais
e depois disse para comigo
vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba
Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo
o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo
o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque
E depois comecei a escrever
Marguerite Duras
07 de julho
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Via Laacutectea
ldquoOra (direis) ouvir estrelas CertoPerdeste o senso E eu vos direi no entantoQue para ouvi-las muita vez despertoE abro as janelas paacutelido de espanto
E conversamos toda a noite enquantoA via laacutectea como um paacutelio abertoCintila E ao vir do sol saudoso e em prantoInda as procuro pelo ceacuteu deserto
Direis agora Tresloucado amigoQue conversas com elas Que sentidoTem o que dizem quando estatildeo contigo
E eu vos direi Amai para entendecirc-lasPois soacute quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas
Olavo Bilac
02 de julho
O eterno insatisfeito
Shantih percorria as cidades pregando a palavra de Deus quando um homem veio procuraacute-lo para que curasse seus males
ldquoTrabalhe Alimente-se E louve a Deusrdquo respondeu Shantih
ldquoAcontece que quando como minha barriga queima com azia Quando bebo minha garganta arde com a bebida Quando rezo sinto que Deus natildeo me escuta E quando trabalho sinto minhas costas que doem com o peso da lavourardquo disse o homem
ldquoEntatildeo busque outra pessoa para ensinaacute-lordquo
O homem foi embora revoltado Shantih comentou com os que ouviram a conversa
ldquoEle tinha duas formas de encarar cada coisa e escolheu sempre a pior Quando morrer eacute possiacutevel que tambeacutem reclame do frio dentro do tuacutemulordquo
03 de julho
De um lado cantava o sol
De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol
Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor
Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito
Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim
Ceciacutelia Meireles
04 de julho
Ensinamento
Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo
Adeacutelia Prado
05 de julho
Daacute-me a tua matildeo
Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia
Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio
Clarice Lispector
06 de julho
Ontem agrave noite
Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva
fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque
fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral
Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais
e depois disse para comigo
vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba
Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo
o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo
o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque
E depois comecei a escrever
Marguerite Duras
07 de julho
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
O eterno insatisfeito
Shantih percorria as cidades pregando a palavra de Deus quando um homem veio procuraacute-lo para que curasse seus males
ldquoTrabalhe Alimente-se E louve a Deusrdquo respondeu Shantih
ldquoAcontece que quando como minha barriga queima com azia Quando bebo minha garganta arde com a bebida Quando rezo sinto que Deus natildeo me escuta E quando trabalho sinto minhas costas que doem com o peso da lavourardquo disse o homem
ldquoEntatildeo busque outra pessoa para ensinaacute-lordquo
O homem foi embora revoltado Shantih comentou com os que ouviram a conversa
ldquoEle tinha duas formas de encarar cada coisa e escolheu sempre a pior Quando morrer eacute possiacutevel que tambeacutem reclame do frio dentro do tuacutemulordquo
03 de julho
De um lado cantava o sol
De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol
Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor
Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito
Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim
Ceciacutelia Meireles
04 de julho
Ensinamento
Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo
Adeacutelia Prado
05 de julho
Daacute-me a tua matildeo
Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia
Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio
Clarice Lispector
06 de julho
Ontem agrave noite
Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva
fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque
fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral
Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais
e depois disse para comigo
vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba
Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo
o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo
o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque
E depois comecei a escrever
Marguerite Duras
07 de julho
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
De um lado cantava o sol
De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol
Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor
Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito
Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim
Ceciacutelia Meireles
04 de julho
Ensinamento
Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo
Adeacutelia Prado
05 de julho
Daacute-me a tua matildeo
Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia
Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio
Clarice Lispector
06 de julho
Ontem agrave noite
Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva
fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque
fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral
Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais
e depois disse para comigo
vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba
Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo
o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo
o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque
E depois comecei a escrever
Marguerite Duras
07 de julho
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Ensinamento
Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo
Adeacutelia Prado
05 de julho
Daacute-me a tua matildeo
Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia
Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio
Clarice Lispector
06 de julho
Ontem agrave noite
Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva
fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque
fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral
Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais
e depois disse para comigo
vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba
Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo
o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo
o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque
E depois comecei a escrever
Marguerite Duras
07 de julho
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Daacute-me a tua matildeo
Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia
Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio
Clarice Lispector
06 de julho
Ontem agrave noite
Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva
fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque
fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral
Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais
e depois disse para comigo
vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba
Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo
o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo
o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque
E depois comecei a escrever
Marguerite Duras
07 de julho
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Ontem agrave noite
Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva
fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque
fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral
Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais
e depois disse para comigo
vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba
Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo
o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo
o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque
E depois comecei a escrever
Marguerite Duras
07 de julho
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
08 de julho
O homem natildeo ama
Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo
Luiza Ameacutelia de Queiroz
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras trecircs
Uma estrada
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E perguntou
Tem lugar pra mim
Espatoacutedea
Gineceu
Cor de poacutelen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Natildeo sei se o mundo eacute bom
Mas ele ficou melhor
Quando vocecirc chegou
E explicou
O mundo pra mim
Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo
Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era
Meu mundo natildeo teria razatildeo
Se natildeo fosse a Zoeacute
Nando Reis 09 de julho
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol
a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior
Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo
10 de julho
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Algo existe
Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene
Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende
Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -
E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape
Emily Dickinson
11 de julho
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos
Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos
Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos
Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos
Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho
Rosa Lobato de Faria
12 de julho
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
ldquo Os meus passos no caminho
satildeo como os passos da lua
vou chegando vais fugindo
minha alma eacute a sombra da tuardquo
Ceciacutelia Meireles
13 de julho
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
14 de julho
ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados
Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde
E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar
E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu
Yolanda Morazzo
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal
distorcidamente
e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma
De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios
Somente geraria confusatildeo
um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo
Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio
nem abraccedilaraacute o erro mas antes
aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais
Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas
O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele
Jorge Angel Livraga
15 de julho
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
JURA SECRETA
Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri
Sueli CostaAbel Silva
16 de julho
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei
Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte
Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder
Clarice Lispector17 de julho
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo
Eugeacutenia Tabosa
18 de julho
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
19 de julho
Somos donos do que calamos e escravos do que
falamos
Jorge Angel Livraga
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos
Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos
Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza
E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa
Florbela Espanca
20 de julho
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
21 de julho
Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila
Noeacutemia de Souza
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo
Marina Colasanti
22 de julho
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Canccedilatildeo do Amor-Perfeito
O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas
O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias
O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria
Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas
Ceciacutelia Meireles23 de julho
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar
a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar
Ceciacutelia Meireles
24 de julho
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Natildeo tem volta
Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta
Zeacutelia Duncan 25 de julho
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Canccedilatildeo do berccedilo vazio
Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou
Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio
Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe
Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos
Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem
Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos
Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando
Henriqueta Lisboa
26 de julho
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
A laranjeira
Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda
E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos
Juacutelia Lopes de Almeida
27 de julho
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Sou de vidro
Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita
Liacutedia Jorge28 de julho
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
Frutos e flores
Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa
Marina Colasanti
29 de julho
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
30 de julho
Que este amor natildeo me cegue nem me siga
Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida
Hilda Hilst
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach
31 de julho
Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo
mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo
Richard Bach