calendário julho 2010_rosely

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Calendário do mês de julho 2010 by Rosely Lira

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Page 1: Calendário julho 2010_rosely

Calendaacuterio do mecircs de julho

2010

by Rosely Lira

Suavidade

Pousa a tua cabeccedila doloridaTatildeo cheia de quimeras de idealSobre o regaccedilo brando e maternalDa tua doce Irmatilde compadecida

Haacutes-de contar-me nessa voz tatildeo quridaA tua dor que julgas sem igualE eu pra te consolar direi o malQue agrave minha alma profunda fez a Vida

E haacutes-de adormecer nos meus joelhosE os meus dedos enrugados velhosHatildeo-de fazer-se leves e suaves

Hatildeo-de pousar-se num fervor de crenteRosas brancas tombando docementeSobre o teu rosto como penas de aves

Florbela Espanca

01 de julho

Via Laacutectea

ldquoOra (direis) ouvir estrelas CertoPerdeste o senso E eu vos direi no entantoQue para ouvi-las muita vez despertoE abro as janelas paacutelido de espanto

E conversamos toda a noite enquantoA via laacutectea como um paacutelio abertoCintila E ao vir do sol saudoso e em prantoInda as procuro pelo ceacuteu deserto

Direis agora Tresloucado amigoQue conversas com elas Que sentidoTem o que dizem quando estatildeo contigo

E eu vos direi Amai para entendecirc-lasPois soacute quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas

Olavo Bilac

02 de julho

O eterno insatisfeito

Shantih percorria as cidades pregando a palavra de Deus quando um homem veio procuraacute-lo para que curasse seus males

ldquoTrabalhe Alimente-se E louve a Deusrdquo respondeu Shantih

ldquoAcontece que quando como minha barriga queima com azia Quando bebo minha garganta arde com a bebida Quando rezo sinto que Deus natildeo me escuta E quando trabalho sinto minhas costas que doem com o peso da lavourardquo disse o homem

ldquoEntatildeo busque outra pessoa para ensinaacute-lordquo

O homem foi embora revoltado Shantih comentou com os que ouviram a conversa

ldquoEle tinha duas formas de encarar cada coisa e escolheu sempre a pior Quando morrer eacute possiacutevel que tambeacutem reclame do frio dentro do tuacutemulordquo

03 de julho

De um lado cantava o sol

De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol

Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor

Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito

Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim

Ceciacutelia Meireles

04 de julho

Ensinamento

Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo

Adeacutelia Prado

05 de julho

Daacute-me a tua matildeo

Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia

Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio

Clarice Lispector

06 de julho

Ontem agrave noite

Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva

fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque

fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral

Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais

e depois disse para comigo

vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba

Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo

o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo

o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque

E depois comecei a escrever

Marguerite Duras

07 de julho

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 2: Calendário julho 2010_rosely

Suavidade

Pousa a tua cabeccedila doloridaTatildeo cheia de quimeras de idealSobre o regaccedilo brando e maternalDa tua doce Irmatilde compadecida

Haacutes-de contar-me nessa voz tatildeo quridaA tua dor que julgas sem igualE eu pra te consolar direi o malQue agrave minha alma profunda fez a Vida

E haacutes-de adormecer nos meus joelhosE os meus dedos enrugados velhosHatildeo-de fazer-se leves e suaves

Hatildeo-de pousar-se num fervor de crenteRosas brancas tombando docementeSobre o teu rosto como penas de aves

Florbela Espanca

01 de julho

Via Laacutectea

ldquoOra (direis) ouvir estrelas CertoPerdeste o senso E eu vos direi no entantoQue para ouvi-las muita vez despertoE abro as janelas paacutelido de espanto

E conversamos toda a noite enquantoA via laacutectea como um paacutelio abertoCintila E ao vir do sol saudoso e em prantoInda as procuro pelo ceacuteu deserto

Direis agora Tresloucado amigoQue conversas com elas Que sentidoTem o que dizem quando estatildeo contigo

E eu vos direi Amai para entendecirc-lasPois soacute quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas

Olavo Bilac

02 de julho

O eterno insatisfeito

Shantih percorria as cidades pregando a palavra de Deus quando um homem veio procuraacute-lo para que curasse seus males

ldquoTrabalhe Alimente-se E louve a Deusrdquo respondeu Shantih

ldquoAcontece que quando como minha barriga queima com azia Quando bebo minha garganta arde com a bebida Quando rezo sinto que Deus natildeo me escuta E quando trabalho sinto minhas costas que doem com o peso da lavourardquo disse o homem

ldquoEntatildeo busque outra pessoa para ensinaacute-lordquo

O homem foi embora revoltado Shantih comentou com os que ouviram a conversa

ldquoEle tinha duas formas de encarar cada coisa e escolheu sempre a pior Quando morrer eacute possiacutevel que tambeacutem reclame do frio dentro do tuacutemulordquo

03 de julho

De um lado cantava o sol

De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol

Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor

Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito

Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim

Ceciacutelia Meireles

04 de julho

Ensinamento

Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo

Adeacutelia Prado

05 de julho

Daacute-me a tua matildeo

Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia

Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio

Clarice Lispector

06 de julho

Ontem agrave noite

Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva

fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque

fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral

Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais

e depois disse para comigo

vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba

Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo

o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo

o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque

E depois comecei a escrever

Marguerite Duras

07 de julho

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 3: Calendário julho 2010_rosely

Via Laacutectea

ldquoOra (direis) ouvir estrelas CertoPerdeste o senso E eu vos direi no entantoQue para ouvi-las muita vez despertoE abro as janelas paacutelido de espanto

E conversamos toda a noite enquantoA via laacutectea como um paacutelio abertoCintila E ao vir do sol saudoso e em prantoInda as procuro pelo ceacuteu deserto

Direis agora Tresloucado amigoQue conversas com elas Que sentidoTem o que dizem quando estatildeo contigo

E eu vos direi Amai para entendecirc-lasPois soacute quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas

Olavo Bilac

02 de julho

O eterno insatisfeito

Shantih percorria as cidades pregando a palavra de Deus quando um homem veio procuraacute-lo para que curasse seus males

ldquoTrabalhe Alimente-se E louve a Deusrdquo respondeu Shantih

ldquoAcontece que quando como minha barriga queima com azia Quando bebo minha garganta arde com a bebida Quando rezo sinto que Deus natildeo me escuta E quando trabalho sinto minhas costas que doem com o peso da lavourardquo disse o homem

ldquoEntatildeo busque outra pessoa para ensinaacute-lordquo

O homem foi embora revoltado Shantih comentou com os que ouviram a conversa

ldquoEle tinha duas formas de encarar cada coisa e escolheu sempre a pior Quando morrer eacute possiacutevel que tambeacutem reclame do frio dentro do tuacutemulordquo

03 de julho

De um lado cantava o sol

De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol

Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor

Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito

Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim

Ceciacutelia Meireles

04 de julho

Ensinamento

Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo

Adeacutelia Prado

05 de julho

Daacute-me a tua matildeo

Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia

Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio

Clarice Lispector

06 de julho

Ontem agrave noite

Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva

fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque

fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral

Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais

e depois disse para comigo

vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba

Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo

o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo

o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque

E depois comecei a escrever

Marguerite Duras

07 de julho

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 4: Calendário julho 2010_rosely

O eterno insatisfeito

Shantih percorria as cidades pregando a palavra de Deus quando um homem veio procuraacute-lo para que curasse seus males

ldquoTrabalhe Alimente-se E louve a Deusrdquo respondeu Shantih

ldquoAcontece que quando como minha barriga queima com azia Quando bebo minha garganta arde com a bebida Quando rezo sinto que Deus natildeo me escuta E quando trabalho sinto minhas costas que doem com o peso da lavourardquo disse o homem

ldquoEntatildeo busque outra pessoa para ensinaacute-lordquo

O homem foi embora revoltado Shantih comentou com os que ouviram a conversa

ldquoEle tinha duas formas de encarar cada coisa e escolheu sempre a pior Quando morrer eacute possiacutevel que tambeacutem reclame do frio dentro do tuacutemulordquo

03 de julho

De um lado cantava o sol

De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol

Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor

Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito

Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim

Ceciacutelia Meireles

04 de julho

Ensinamento

Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo

Adeacutelia Prado

05 de julho

Daacute-me a tua matildeo

Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia

Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio

Clarice Lispector

06 de julho

Ontem agrave noite

Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva

fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque

fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral

Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais

e depois disse para comigo

vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba

Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo

o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo

o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque

E depois comecei a escrever

Marguerite Duras

07 de julho

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 5: Calendário julho 2010_rosely

De um lado cantava o sol

De um lado cantava o soldo outro suspirava a luaNo meio brilhava a tuaface de ouro girassol

Oacute montanha da saudadea que por acaso vimoutrora foste um jardime eacutes agora eternidadeDe longe recordo a corda grande manhatilde perdidaMorrem nos mares da vidatodos os rios do amor

Ai celebro-te em meu peitoem meu coraccedilatildeo de salOacute flor sobrenaturalgrande girassol perfeito

Acabou-se-me o jardimSoacute me resta do passadoeste reloacutegio douradoque ainda esperava por mim

Ceciacutelia Meireles

04 de julho

Ensinamento

Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo

Adeacutelia Prado

05 de julho

Daacute-me a tua matildeo

Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia

Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio

Clarice Lispector

06 de julho

Ontem agrave noite

Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva

fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque

fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral

Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais

e depois disse para comigo

vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba

Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo

o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo

o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque

E depois comecei a escrever

Marguerite Duras

07 de julho

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 6: Calendário julho 2010_rosely

Ensinamento

Minha matildee achava estudoa coisa mais fina do mundoNatildeo eacuteA coisa mais fina do mundo eacute o sentimentoAquele dia de noite o pai fazendo seratildeoela falou comigoCoitado ateacute essa hora no serviccedilo pesadoArrumou patildeo e cafeacute deixou tacho no fogo com aacutegua quenteNatildeo me falou em amorEssa palavra de luxo

Adeacutelia Prado

05 de julho

Daacute-me a tua matildeo

Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia

Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio

Clarice Lispector

06 de julho

Ontem agrave noite

Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva

fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque

fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral

Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais

e depois disse para comigo

vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba

Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo

o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo

o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque

E depois comecei a escrever

Marguerite Duras

07 de julho

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 7: Calendário julho 2010_rosely

Daacute-me a tua matildeo

Daacute-me a tua matildeoVou agora te contarcomo entrei no inexpressivoque sempre foi a minha busca cega e secretaDe como entreinaquilo que existe entre o nuacutemero um e o nuacutemero doisde como vi a linha de misteacuterio e fogoe que eacute linha sub-reptiacutecia

Entre duas notas de muacutesica existe uma notaentre dois fatos existe um fatoentre dois gratildeos de areia por mais juntos que estejamexiste um intervalo de espaccediloexiste um sentir que eacute entre o sentir- nos interstiacutecios da mateacuteria primordialestaacute a linha de misteacuterio e fogoque eacute a respiraccedilatildeo do mundoe a respiraccedilatildeo contiacutenua do mundoeacute aquilo que ouvimose chamamos de silecircncio

Clarice Lispector

06 de julho

Ontem agrave noite

Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva

fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque

fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral

Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais

e depois disse para comigo

vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba

Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo

o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo

o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque

E depois comecei a escrever

Marguerite Duras

07 de julho

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 8: Calendário julho 2010_rosely

Ontem agrave noite

Ontem agrave noite depois da sua partida definitiva

fui para aquela sala do reacutes-do-chatildeo que daacute para o parque

fui para ali onde fico sempre no mecircs de junho esse mecircs que inaugura o Inverno Tinha varrido a casa tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral

Estava tudo depurado de vida isento vazio de sinais

e depois disse para comigo

vou comeccedilar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba

Tinha lavado as minhas coisas quatro coisas estava tudo limpo o meu corpo

o meu cabelo a minha roupa e tambeacutem aquilo que encerrava o todo

o corpo e a roupa estes quartos esta casa este parque

E depois comecei a escrever

Marguerite Duras

07 de julho

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 9: Calendário julho 2010_rosely

08 de julho

O homem natildeo ama

Jamais o seu peito mais duro que o accediloPalpita a natildeo ser a louca ambiccedilatildeoSupotildee-se - orgulhoso - que eacute soberanoQue todas as belas vassalas lhe satildeoMais falso que a brisa que as flores bafejaSe mil forem belas a mil finge amarAssim um jaacute disse e assim fazem todosEmbora natildeo queiram jamais confessarCrueacuteis como Nero satildeo todos os homensAteiam as chamas de ardente paixatildeoDepois observam sorrindo os estragosE dizem covardes que tecircm coraccedilatildeo

Luiza Ameacutelia de Queiroz

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 10: Calendário julho 2010_rosely

Minha cor

Minha flor

Minha cara

Quarta estrela

Letras trecircs

Uma estrada

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E perguntou

Tem lugar pra mim

Espatoacutedea

Gineceu

Cor de poacutelen

Sol do dia

Nuvem branca

Sem sardas

Natildeo sei se o mundo eacute bom

Mas ele ficou melhor

Quando vocecirc chegou

E explicou

O mundo pra mim

Natildeo sei se esse mundo taacute satildeo

Mas pro mundo que eu vim jaacute natildeo era

Meu mundo natildeo teria razatildeo

Se natildeo fosse a Zoeacute

Nando Reis 09 de julho

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 11: Calendário julho 2010_rosely

ldquoAssim como a matildeo tem o poder de esconder o sol

a mediocridade tem o poder de esconder a luz interior

Natildeo culpe os outros por sua proacutepria incompetecircnciardquo

10 de julho

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 12: Calendário julho 2010_rosely

Algo existe

Algo existe num dia de veratildeoNo lento apagar de suas chamasQue me impele a ser solene

Algo num meio-dia de veratildeoUma fundura - um azul - uma fragracircnciaQue o ecircxtase transcende

Haacute tambeacutem numa noite de veratildeoAlgo tatildeo brilhante e arrebatadorQue soacute para ver aplaudo -

E escondo minha face inquiridoraReceando que um encanto assim tatildeo trecircmuloE sutil de mim se escape

Emily Dickinson

11 de julho

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 13: Calendário julho 2010_rosely

Vimos chegar as andorinhasconjugarem-se agraves estrelasimpacientarem-se os ventos

Agoraesperemos o veratildeo do teu nascimentotranquumlilos preguiccedilosos

Tatildeo inseparaacuteveis as nossas fomesTatildeo emaranhadas as nossas veiasTatildeo indestrutiacuteveis os nossos sonhos

Espera-te um nomebreve como um beijoe o reino ilimitadodos meus braccedilos

Viraacutescomo a luz maiorno solstiacutecio de junho

Rosa Lobato de Faria

12 de julho

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 14: Calendário julho 2010_rosely

ldquo Os meus passos no caminho

satildeo como os passos da lua

vou chegando vais fugindo

minha alma eacute a sombra da tuardquo

Ceciacutelia Meireles

13 de julho

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 15: Calendário julho 2010_rosely

14 de julho

ldquoNha terra eacute quel piquininoEacute Satildeo Vicente eacute que di meu Nas praiasDa minha infacircnciaMorrem barcosDesmantelados

Fantasmas De pescadoresContrabandistasDesaparecidosEm qualquer vagaNem eu sei onde

E eu sou a mesmaTenho dez anosBrinco na areiaEmpunho os remosCanto e sorrioA embarcaccedilatildeoPara o marEacute para o mar

E o pobre barcoO barco tristeCansado e frioNatildeo se moveu

Yolanda Morazzo

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 16: Calendário julho 2010_rosely

ldquoPorque o que natildeo se compreende eacute geralmente interpretado mal

distorcidamente

e aquilo que se vecirc sem pureza interior deixa em seu lugar um terriacutevel vazio para a alma

De que valeria a um profano contemplar os Misteacuterios

Somente geraria confusatildeo

um caminho seguro ateacute a loucura e ao cepticismo

Mais vale mostrar-lhes as coisas ao seu alcance pois natildeo sentiraacute o vazio

nem abraccedilaraacute o erro mas antes

aproveitaraacute ao maacuteximo as suas potencialidades espirituais

Daiacute a utilidade das religiotildees exoteacutericas

O gigante natildeo pode calccedilar a sandaacutelia do anatildeo nem a este lhe serve a daquele

Jorge Angel Livraga

15 de julho

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 17: Calendário julho 2010_rosely

JURA SECRETA

Soacute uma coisa me entristece O beijo de amor que natildeo roubei A jura secreta que natildeo fiz A briga de amor que eu natildeo causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que natildeo fiz Nada do que eu quero me suprime Do que por natildeo saber ainda natildeo quis Soacute uma palavra me devora Aquela que meu coraccedilatildeo natildeo diz Soacute o que me cega o que me faz infeliz Eacute o brilho do olhar que eu natildeo sofri

Sueli CostaAbel Silva

16 de julho

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 18: Calendário julho 2010_rosely

Quero escrever o borratildeo vermelho de sanguecom as gotas e coaacutegulos pingandode dentro para dentroQuero escrever amarelo-ourocom raios de translucidezQue natildeo me entendampouco-se-me-daacuteNada tenho a perderJogo tudo na violecircnciaque sempre me povoouo grito aacutespero e agudo e prolongadoo grito que eupor falso respeito humanonatildeo dei

Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde onde brota o estertor ambicionadoQuero abarcar o mundocom o terremoto causado pelo gritoO cliacutemax de minha vida seraacute a morte

Quero escrever noccedilotildeessem o uso abusivo da palavraSoacute me resta ficar nuanada tenho mais a perder

Clarice Lispector17 de julho

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 19: Calendário julho 2010_rosely

Esse olhar paradosem hoje nem passadoEsse olhar sem esperacomo canto presoem boca entreabertaEsse olhar cansadodesfeitosem jeitonatildeo grita natildeo choraEsse olhar desarmadocomo barco sem lemeExisteNatildeo posso ignoraacute-lo

Eugeacutenia Tabosa

18 de julho

19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

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19 de julho

Somos donos do que calamos e escravos do que

falamos

Jorge Angel Livraga

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 21: Calendário julho 2010_rosely

Passam no teu olhar nobres cortejosFrotas pendotildees ao vento sobranceirosLindos versos de antigos romanceirosCeacuteus do Oriente em brasa como beijos

Mares onde natildeo cabem teus desejosPassam no teu olhar mundos inteirosTodo um povo de heroacuteis e marinheirosLanccedilas nuas em ruacutetilos lampejos

Passam lendas e sonhos e milagresPassa a Iacutendia a visatildeo do Infante em SagresEm centelhas de crenccedila e de certeza

E ao sentir-se tatildeo grande ao ver-te assimAmor julgo trazer dentro de mimUm pedaccedilo da terra portuguesa

Florbela Espanca

20 de julho

21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

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21 de julho

Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniccedilo Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines viemos do outro lado da cidadecom nossos olhos espantadosnossas almas tranccediladas nossos corpos submissos e escancaradosDe matildeos aacutevidas e vazias de ancas bamboleantes lacircmpadas vermelhas se acendendode coraccedilotildees amarrados de repulsa descemos atraiacutedas pelas luzes da cidadeacenando convites aliciantescomo sinais luminosos na noite Viemos Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimbado sem sabor do caril de amendoim quotidianodo doer espaacuteduas todo o dia vergadassobre sedas que outras exibiratildeodos vestidos desbotados de chitada certeza terriacutevel do dia de amanhatilderetrato fiel do que passousem uma pincelada verde fortefalando de esperanccedila

Noeacutemia de Souza

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 23: Calendário julho 2010_rosely

Agraves seis da tarde as mulheres choravam no banheiroNatildeo choravam por isso ou por aquilochoravam porque o pranto subia garganta acimamesmo se os filhos cresciam com boa sauacutedese havia comida no fogoe se o marido lhes dava do bom e do melhorChoravam porque no ceacuteualeacutem do basculanteo dia se punhaporque uma acircnsia uma dor uma gasturaera soacute o que sobrava dos seus sonhosAgora agraves seis da tardeas mulheres regressam do trabalhoo dia se potildeeos filhos crescemo fogo esperae elas natildeo podem natildeo querem chorar na conduccedilatildeo

Marina Colasanti

22 de julho

Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

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Canccedilatildeo do Amor-Perfeito

O tempo seca a belezaseca o amor seca as palavrasDeixa tudo solto levedesunido para semprecomo as areias nas aacuteguas

O tempo seca a saudadeseca as lembranccedilas e as laacutegrimasDeixa algum retrato apenasvagando seco e vaziocomo estas conchas das praias

O tempo seca o desejoe suas velhas batalhasSeca o fraacutegil arabescovestiacutegio do musgo humanona densa turfa mortuaacuteria

Esperarei pelo tempocom suas conquistas aacuteridasEsperarei que te sequenatildeo na terra Amor-Perfeitonum tempo depois das almas

Ceciacutelia Meireles23 de julho

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 25: Calendário julho 2010_rosely

Ateacute quando teraacutes minha alma esta doccedilura este dom de sofrer este poder de amar

a forccedila de estar sempre ndash insegura ndash segura como a flecha que segue a trajetoacuteria obscura fiel ao seu movimento exata em seu lugar

Ceciacutelia Meireles

24 de julho

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 26: Calendário julho 2010_rosely

Natildeo tem volta

Se vocecirc vai por muito tempovocecirc nunca voltaVocecirc retornaVocecirc contornamas natildeo tem voltaa estrada te sopra pro altopra outro ladoenquantoaquele tempovai mudandoAiacute de quandoem quando vocecirc lembraaquele beijoaquele medomas vocecirc sabeque tudo ficou antigoe vocecirc natildeo voltanem com escoltanem amarradoporque o passadojaacute te perdeue o perigomuda mesmo de endereccediloNatildeo existe pretextoO dia mudouo carteiro natildeo veioo principio eacute o meioe vocecirc retornamas natildeo tem volta

Zeacutelia Duncan 25 de julho

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 27: Calendário julho 2010_rosely

Canccedilatildeo do berccedilo vazio

Canccedilatildeo do berccedilo vazionunca a ningueacutem acalentanenhuma voz a cantou

Canccedilatildeo de laacutebios cerradosque estremeceu no silecircnciomuito antes de ter princiacutepio

Canccedilatildeo de peito oprimidoque natildeo encontra palavrasporque nem o berccedilo existe

Ah quem sonhara acalantosfontes escorrendo leitepara inconcebidos anjos

Num paiacutes irmatildeo da noitecanccedilatildeo da loucura mansapara ouvidos que natildeo ouvem

Canccedilatildeo do berccedilo vazioentrecortada de pratose de risos escondidos

Laacute do outro lado do mundo canccedilatildeo sem nenhum sentidopobre louca estaacute cantando

Henriqueta Lisboa

26 de julho

A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

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A laranjeira

Perfumada laranjeiraLinda assim dessa maneiraSorrindo agrave luz do arrebolToda em flores branca toda- Parece a noiva do SolPreparada para a boda

E esposa do Sol que a adoraCom que cuidados divinosCurva ela os ramos agoraE entre as folhas abrigadosSeus filhos frutos douradosParecem sois pequeninos

Juacutelia Lopes de Almeida

27 de julho

Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

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Sou de vidro

Meus amigos sou de vidroSou de vidro escurecidoEncubro a luz que me habitaNatildeo por ser feia ou bonitaMas por ter assim nascidoSou de vidro escurecidoMas por ter assim nascidoNatildeo me atinjam natildeo me toquemMeus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecidoTenho fumo por vestidoE um cinto de escuridatildeoMas trago a transparecircncia Envolvida no que digoMeus amigos sou de vidroPor isso natildeo me maltratemNatildeo me quebrem natildeo me partamSou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestidoMas por assim ter nascidoNatildeo por ser feia ou bonitaEnvolvida no que digoEncubro a luz que me habita

Liacutedia Jorge28 de julho

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 30: Calendário julho 2010_rosely

Frutos e flores

Meu amado me dizque sou como maccedilatildecortada ao meioAs sementes eu tenhoeacute bem verdadeE a simetria das curvasTive um certo ruborna pele lisaque natildeo seise ainda tenhoMas se em abril florescea macieiraeu maccedilatilde feitae pra laacute de maduraainda me desdobroem brancas florescada vez que sua facame traspassa

Marina Colasanti

29 de julho

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 31: Calendário julho 2010_rosely

30 de julho

Que este amor natildeo me cegue nem me siga

Que este amor natildeo me cegue nem me siga E de mim mesma nunca se aperceba Que me exclua de estar sendo perseguida E do tormento De soacute por ele me saber estar sendo Que o olhar natildeo se perca nas tulipas Pois formas tatildeo perfeitas de beleza Vecircm do fulgor das trevas E o meu Senhor habita o rutilante escuro De um suposto de heras em alto muro Que este amor soacute me faccedila descontente E farta de fadigas E de fragilidades tantas Eu me faccedila pequena E diminuta e tenra Como soacute soem ser aranhas e formigas Que este amor soacute me veja de partida

Hilda Hilst

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach

Page 32: Calendário julho 2010_rosely

31 de julho

Estou aqui natildeo porque deva estarnatildeo porque me sinto cativo nesta situaccedilatildeo

mas porque prefiro estar contigo a estar em qualquer outro lugar no mundo

Richard Bach